domingo, 10 de março de 2013

Antonio Brás Constante (Tá Com Pressa? Então Se Vira e Come Cru)

A pressa move o mundo moderno. Move tão rápido que as vinte e quatro horas do dia já não são suficientes para que possamos cumprir com todas as nossas obrigações. Logo teremos um projeto no senado propondo que os dias passem a ter trinta horas. Afinal, se políticos já quiseram mudar o curso dos rios, porque não alterar o tempo também?

Claro que para mudar o calendário dessa forma haveria a necessidade de se suprimir o sábado. Em compensação o domingo passaria a ter trinta horas, e com um pouco de ajuda do marketing moderno (e com muita maionese) a população acabaria acreditando e engolindo que isso seria algo bom. Os dias ficariam estranhos, a noite invadiria o dia e vice-versa, mas o poder de adaptação do brasileiro (quem sabe se a ideia pega, vire até algo mundial) é incrível e deve se ajustar a este inconveniente fuso horário caótico.

Mas a pressa não mexe apenas com a criatividade de nossos políticos e escritores. Cada vez mais vivemos envolvidos em uma correria louca, e é por causa dessa correria que se criaram os lanches rápidos, as fotos instantâneas, as comidas prontas, as vias de trânsito rápido e (principalmente entre os famosos) os tais casamentos rápidos.

Fulano, astro do futebol, contrai núpcias com Beltrana (expressão estranha, parecida com “contrai doenças”). Passam a compartilhar de todas as alegrias e dissabores da vida de casados (com um mundo voyeur a observá-los). Ao final de poucos meses se separam (em determinados casos, em apenas poucos dias), sem maiores explicações.

Alguns podem achar que isto acontece porque as raízes religiosas dos noivos lhes impedem de simplesmente ficarem juntos sem um cerimonial milionário para sacramentar e divulgar essa união, pois eles encarariam a união sem o ato de se casar como uma obra pecaminosa, pesando em suas consciências. Após o casamento e toda superexposição ocasionada por ele, percebem então o erro que cometeram e resolvem desfazer a união. Isso em alguns casos acontece repetidas e repetidas vezes, em um eterno ciclo de tentativas e erros matrimoniais, que já há muito tempo alimentam a indústria de fuxicos e suas incontáveis mídias e revistas caras.

Para outros, o que existe é a necessidade do casamento como um compromisso, que mesmo não sendo muito duradouro, ao menos servirá para que no momento da perda, haja também os “ganhos”, oriundos da aquisição de parte do patrimônio de seu “ex” cônjuge, e assim os patos de nosso mundo são feitos de patos e acabam pagando o pato, fazendo-nos pensar que para alguns o matrimônio pode fortalecer o patrimônio.

O que assistimos com cada vez mais frequência, são “casamentos” alardeados aos quatro ventos por celebridades, que juram terem encontrado suas almas gêmeas. Dizem que sua união é fruto de um amor lindo como cristal e forte como uma rocha.

Na realidade essas metáforas acabam sendo divulgadas de forma errônea (talvez pela embriaguez causada pela paixão e toda aquela bebida servida nas festas de casamento). O certo seria dizer que essas relações são lindas como uma pedra e fortes como cristal. Ao primeiro choque se quebram em mil pedaços, restando apenas cacos, varridos para baixo da tal pedra que é colocada sobre o assunto.

Realmente estamos em uma época de pessoas apressadas. Mas principalmente agora, uma frase antiga se faz valer como verdade (com um pequeno adendo): “O apressado come cru... Mas paga o preço do assado”.

Fonte:
O Autor

Ditados Populares do Brasil (Letra D)

DÁ com a mão direita, que a esquerda não saiba.
DÁ o dito por não dito.
DAR a César o que é de César..
DAR A MÃO à palmatória.
DAR A VOLTA por cima.
DAR COM LUVA de pelica.
DAR NÓ em pingo de água.
DAR O GOLPE do baú.
DAR TRATOS à bola.
DAR UM BOI pra não entrar na briga, e uma boiada para não sair.
DE CAVALO dado, não se olham os dentes.
DE DENTE no coradouro.
DE GRÃO em grão a galinha enche o papo.
DE HORA em hora, Deus melhora.
DE NOITE todos os gatos são pardos.
DE ONDE se tira e não bota, um dia fica com nada.
DE PENSAR, morreu um burro.
DEITAR nos louros da vitória.
DEIXE como estar para ver como é que fica.
DEPOIS da tempestade, vem a bonança.
DEPOIS de mim virá quem bem me fará.
DESGRAÇA pouca é tiquinho.
DESMANCHAR o nó.
DEUS criou, o vento espalhou e o diabo ajuntou.
DEUS dá a canga conforme o pescoço.
DEUS dá o frio conforme a roupa.
DEUS escreve certo por linhas tortas.
DEUS proteja este carro.
DIRIGIDO por mim e guiado por Deus.
DEUS é a luz do meu caminho.
DAQUI até onde Deus quiser.
DEUS proteja este carro.
DESCULPE a poeira.
DE LONGE também se ama.
DENTRE elas prefiro todas.
DE MULHER de burguês ninguém queira ser freguês.
DEPOIS da batalha, aparecem os valentes.
DESANIMAR, nunca. O desengano deve ser o começo de outra esperança.
DETESTADO pelos homens, querido pelas mulheres.
DEUS guia e eu dirijo.
DEUS lhe dê o dobro do que voce me deseja.
DEVAGAR chego depressa.
DEVAGAR se vai ao longe.
DINHEIRO de trouxa é farra de sabido.
DINHEIRO e mulher bonita é que governam o mundo.
DINHEIRO não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris.
DIRIGIDO por mim e guiado por Deus.
DIVÓRCIO é o sacramento do adultério.
DUAS coisas que gosto: cerveja gelada e mulher quente.
DURMA no volante e acorde no céu.
DEUS querendo, água fria é remédio.
DEVAGAR com o andor que o santo é de barro.
DEVAGAR se vai ao longe.
DEVO, não nego, pagar, não posso.
DIA de muito, véspera de pouco.
DINHEIRO, na mão, escorrega que nem sabão.
DIZE-ME com quem andas, e te direi quem és.
DIZER o que sente, fazer o que não sente.
DO BOLSO que enfia a mão, o pobre só tira dedos.
DO PASSADO, não remexer na ferida.
DOIS narigudos não se beijam.
DORMIR na estação e perder o trem.
DOS MALES o menor.
DURMA com um barulho desse, e acorde da boa cara.
DURO com duro não faz bom muro.
DURO, como boca de sino.

Soares de Passos (Desalento)

Cansado, ai! já cansado, quando a vida
Em flor nascente desabrocha ao mundo!
Quando a esperança, d'ilusões vestida,
Sorri a todos num porvir jucundo!

Alma que gemes em letal quebranto,
Desprende as asas nos vergéis celestes!
Amor, glória, prazer, dai-me inda o encanto
Que nos dias passados já me destes!

Mas que é o amor da terra? luz divina
Que mal desce do céu logo se apaga;
Cândida rosa que o tufão inclina,
Que o tempo e a morte desfolhando esmaga.

Doces imagens que em ditoso enleio
Cerquei outrora d'ilusão infinda,
D que é feito de vós? ai! neste seio
Viveis apenas, se viveis ainda.

E tu, que és tu, ó glória? um som que passa,
E de século em século retumba,
Mas que a frígida lousa não traspassa
De quem já dorme na calada tumba.

Astro que brilha e queima, espectro ovante
Que a desgraça acompanha, e o génio ilude:
Vós o sabeis, Camões, e Tasso, e Dante,
Vós que gemeis ainda no ataúde.

Que é o gozo, o prazer? fumo d'incenso
Que embriaga um momento, e se evapora;
Que é o saber, a ciência? espaço imenso
Em que a verdade mal reluz na aurora.

Que é este mundo, que eu sonhei tão belo?
Profundo abismo de tormenta escura;
Que é pois a vida? um fadigoso anelo
Que levamos do berço à sepultura.

A morte! oh! se além dela o porto amigo
Nos surgisse afinal ledo e formoso!
Se nesses mundos da esperança abrigo
Despontasse outro sol mais bonançoso!

Mas quem sabe da morte? o ouvido atento
No silêncio das campas nada escuta;
E Sócrates não diz se um novo alento
Achou, bebendo a gélida cicuta.

Senhor, Senhor, por que vim eu ao mundo,
E qual é sobre a terra o meu destino,
De mim que homem geraste, e que fundo
Deste vale d'angústia erro sem tino?

Infeliz de quem nasce! a ave que gira,
A fera, o tronco, o verme que rasteja
Também nasceu, mas esse nada aspira,
Ou se aspirou alcança o que deseja.

E o homem nasce, pensa, e aspira ansioso
Às ilusões que a mente lhe depara,
E a cada passo lhe esmorece o gozo,
E acha só trevas onde luz sonhara.

E caminha, e caminha, e sem alento
Cai abismado no seu térreo leito,
Onde após a fadiga e o sofrimento
A lousa sepulcral lhe esmaga o peito.

Aqui, de dor um pélago profundo;
Além, os vermes da feral jazida;
Senhor, Senhor, por que vim eu ao mundo?
Por que do nada me chamaste à vida?

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Amadeu Amaral (Memorial de Um Passageiro de Bonde) 18. Sanfona

Tivemos hoje concerto de sanfona durante a viagem da tarde. O homem tocava bem, e tocava de tudo.

Amo de coração estes artistas humildes, que têm a paixão da arte, com o mínimo possível de cálculo, ou sem nenhum. São, na sua imperfeição, mais artistas do que muitos outros mais hábeis, mais cultos, mais refinados: não procuram na arte senão o seu prazer -sem pensar em proveitos; e exercem-na com a simplicidade e a inocência de quem pratica os atos mais ordinários da vida. Dão generosamente e anonimamente o que têm, o bom e o mau, o certo e o errado, sem presunção e sem torturas, e vão seguindo o seu caminho. Quem gostar, goste à vontade; quem não gostar, perdoe; e, se não quiser perdoar, é o mesmo. Que boa, alegre e higiênica maneira de ser artista! Durante vinte minutos, o homenzinho da sanfona foi o único que veio deitar um pouco de alegria purificadora na alma fechada e amarrotada de quarenta e tantos passageiros.

Pela minha parte, Deus lhe pague, frater desconhecido!

Fonte:
Domínio Público

Aluísio Azevedo (O Esqueleto) Parte VII – D. Bias Carcereiro

Feitas as revelações e escorropichado o primeiro pichel ali na bodega do Trancoso, d. Bias pôs-se a refletir sobre o caso.

- O Satanás tinha partido na direção da rua do Conde. Lá chegando ele deveria necessariamente intrometer-se naquele drama tenebroso, cujos pormenores, ele, d. Bias, não conhecia, e cujo desenlace ficava para além, misterioso e vago como uma ameaça constante. E o Satanás, que não devia morrer, porque os homens daquela têmpera nunca morrem a botes de espada, o Satanás viria tomar-lhe contas, pedir-lhe satisfações do auxílio que prestara ao príncipe para que este lhe roubasse sua amante. E d. Bias esbugalhou os olhos em derredor, assustado e trêmulo. Sentiu a espada do escultor prancheando-lhe o costado manejada pelo pulso valente de Pallingrini. Supôs até o aço frio e cortante a entrar-lhe pelas carnes adentro. Teve medo, muito medo. E apalpou os ossos para saber se eles ainda estavam inteiros e bons, se não se tinham já esmigalhado com esta perspectiva infalível de uma vindita do Satanás.

- Também, quem lhe encomendara o sermão? quem lhe mandara meter-se nessas cousas e intrigas amorosas do príncipe? Já quando promovera a entrevista com Zabanila, a esperança dos lucros fabulosos que fizera, empanara-se com a expectativa da rivalidade com o mestre d'armas. Este pespegara-lhe uns cachações. E bastava. Pela primeira vez não tinha apetite de repetir.

E d. Bias reconheceu a necessidade de fugir; de esconder-se, fosse lá onde fosse.

Saiu.

Na rua teve uma idéia, idéia luminosa, dessas que só aparecem uma vez na vida de um homem.

Mau grado a sua nenhuma vocação para semelhantes empresas, atravessou o campo da Alampadosa todo inteiro, enveredou pela rua da Cadeia, e veio andando, pé aqui, pé ali, evitando as poças de água, aproveitando as pedras mais altas, às vezes esgueirando-se rente às paredes.

Chegou ao convento do Carmo e bateu, de espaços em espaços, compassadamente, numa porta baixa e estreita que dava para o largo. Abriram-na. Ele entrou.

- Então?

- Novidades.

- Mas ela está dormindo.

- Bem. Eu durmo aqui para esperar. Mas que ninguém saiba de minha presença nestes lugares.

E dormiu por sobre um caixote oblongo, desses que então serviam para guardar roupas de mulher.

No dia seguinte, pelo meio-dia, mandaram-no chamar.

D. Bias foi introduzido num vasto aposento luxuoso, onde morava ostensivamente a amante ostensiva de d. Pedro. Aposento de amores, onde a fantasia da mulher pusera alguma cousa de asiático, ele era suntuoso de comodidades, cheio de coxins forrado a pano da Pérsia com tachas de ouro e prata.

Ela, a quase rainha, esperava-o, molemente reclinada sobre o leito, com as grandes carnações leitosas e fortes de mulher sadia, apenas envoltas em uma vasta túnica de cachemira branca, bordada a ouro. Uma dama penteava-lhe com pente de ouro os longos cabelos castanhos e sedosos. E a Domitila sorria, triunfalmente bela.

D. Bias ajoelhou-se.

- Senhora! disse. - Senhora, eu tenho vigiado.

- E já descobriste porventura alguma cousa, oh! tu! meu belo fidalgo das Espanhas.

- Já, minha senhora.

- Pois conta-me lá a tua espionagem, fez a régia amante com um grande sossego de indiferenças.

Ela estava agora tranqüila de sua vida. Tinha conseguido do príncipe a promessa de um título, cuja coroa, reluzente de ouro e pedrarias, viesse lhe adornar os altos penteados à Maria Antonieta, de que tanto gostava. E essa viagem a Santos, que acabava de se efetuar naquela madrugada, fora ela quem a exigira, desejosa de converter esta cidade no feudo de seus amores.

Já não lhe vinham mais os ciúmes primitivos, que tanto acidentaram o primeiro período de suas ligações. Sentia-se feliz, forte e soberana, dominando o coração de d. Pedro e podendo permitir-lhe as pequenas escapadas das aventuras noturnas. E esquecia-se até de que encarregara d. Bias de vigiar os passos do seu régio amante.

D. Bias, porém, perorou longamente, espanholamente.

Contou o caso da rua do Conde, fazendo-o tenebroso, cavalgando a rédeas soltas no Rocinante das suas fantasias - d. Quixote dos ideais, ele mesmo, magro e esgalgado, lutador impertérrito de longa durindana para a batalha solene dos moinhos de vento.

- Fora o Satanás que fizera tudo. O Satanás! - a negra alma vagabunda da perversão e maldade! Fora ele quem, sem mais barregãs nem rameiras para oferecer ao seu régio discípulo de esgrima, quisera dar-lhe até a própria amante. Bem lhe conhecia os planos. Satanás queria dominar inteiramente o príncipe, dominá-lo pela amizade e dominá-lo pelo coração, para ficar o senhor absoluto dessa terra dos Brasis. Conspirava. Conspirava até contra ela - a bela nina formosa!

- É preciso matá-lo! Consiga ao menos que o deportem! Nada vos é impossível, a vós que fizestes deportar o conde d'Arcos.

A Domitila fez-se apreensiva. Ela não gostava do Satanás. E vinham-lhe agora receios de ver a fortuna esboroar-se-lhe no momento mesmo que supunha alcançá-la.

- Em todo caso, disse como que meditando, em todo caso agora não pode ser, porque o príncipe e o Satanás partiram esta madrugada para Santos.

- Caramba! resfolegou d. Bias com a notícia de estar longe o homem de quem tinha medo. - Caramba! porque se aqui estivesse, era eu quem o ia matar!

Ela nem sorriu dessa fanfarronada. Mas gritou-lhe imperiosamente:

- Quero essa mulher! Quero a amante de Satanás! Dou-te mil cruzados, se a trouxeres!

E, de pé, ofegante, com um gesto de rainha:

- Vá!

D. Bias saiu.

Caminhou pelas ruas, altivo e malcriado, retinindo a durindana pelas pedras, cofiando o bigode provocadoramente.

Estava longe o Satanás, e ele não tinha medo.

Por isso andou e correu a cidade inteira. Soube logo notícias do drama da rua do Conde. Vieram-lhe calafrios com a noção completa do perigo que correra. Mas dominava-lhe dentro da cabeça a idéia dos mil cruzados que lhe haviam sido prometidos, para o caso de descobrir a amante do escultor-espadachim. E tratou de encontrá-la.

Poucas esperanças tinha a este respeito. Não a conhecia. E as informações dos alguazis amigos, que andavam empenhados em desvendar o mistério da morte de Paulo de Andrade, falavam apenas em suspeitas de que naquela casa residisse uma moça, que devia ter fugido.

Fugido com quem?

Levá-la-ia d. Pedro para algum misterioso antro de amores?

Ou o Satanás tê-la-ia posto a seguro, em algum esconderijo desses que só ele conhecia?

D. Bias estava na incerteza. Não sabia que partido tomar. E pensava até em aproveitar a filha do carpinteiro Custódio, que lhe residia em casa, para fazê-la passar como amante do italiano.

O ponto para ele era receber o dinheiro da Domitila e passar-se imediatamente para qualquer terra longínqua, onde não chegasse o braço vingativo do seu ex-companheiro das bodegas do Mansanares.

Quando seguia, porém, já quase ao anoitecer, pela rua da Vala, chamaram-no de dentro da prisão provisória que ai havia, e onde eram recolhidos os vagabundos notívagos.

Era um alguazil, que ele pusera em meia confidência do negócio, e que lhe mostrou Branca, seminua, com as roupas sangrentas.

A filha de Pallingrini, logo após a brusca partida do pai, precipitara-se sobre o cadáver de Paulo de Andrade. Abraçara-o, beijara-o sofregamente, loucamente, na febre amorosa dessa loucura, que para sempre lhe entenebrecera o cérebro, triturando-lhe o coração.

Depois tivera medo, sentindo rijo e frio, sem aconchegos de abraços e quenturas de beijos, o pálido capitão formoso dos seus amores juvenis.

Teve medo e fugiu.

Perambulou pelas ruas, inconscientemente de si murmurando carícias e meiguices e gritando de repente um grito de horrores.

Prenderam-na.

D. Bias adivinhou-a. Não podia ser outra. Aquele sangue, as palavras incertas que pronunciava, e que podiam todas articular-se ao drama indecifrável da rua do Conde, revelavam-na, garantiam-lhe a autenticidade da descoberta.

E o fidalgo espanhol, aproveitando o alguazil seu amigo, e mais ainda o segredo da noite, que tem sempre um manto escuro para esconder esses mistérios, levou-a para os fundos do convento do Carmo, onde já estavam dadas ordens de recebê-la.

A Domitila nem quis ver a rival que o Satanás lhe pretendia impor. Mas não quis também contar logo o dinheiro que prometera, e ordenou que d. Bias ficasse de guarda a prisioneira.

E a porta pesada de um quarto térreo e sem janelas aferrolhou-se sobre Branca - a pobre criança louca, para quem a sorte se mostrava tão áspera, e que cantava entretanto um alegre bolero espanhol saltitante e amoroso como o pé das sevilhanas.
–––––––––––-
continua

Aleilton Fonseca (Francisco Mangabeira e o Lirismo Trágico de Canudos)

Por que só é profunda e ilimitada
A noite que há no coração dos homens?
(Francisco Mangabeira)

O poema Tragédia épica (Guerra de Canudos), do poeta baiano Francisco Mangabeira, editado pela primeira vez em 1900, reaparece em 2010, na prestigiosa Coleção Austregésilo de Athayde da Academia Brasileira de Letras, como uma verdadeira relíquia literária. Nada justifica ter permanecido essa obra em inexplicável ostracismo durante tantas décadas. Trata-se de uma obra que, dada a sua singularidade, ocupa lugar de relevo no ciclo literário de Canudos, em cujo centro impera até hoje o livro Os sertões, de Euclides da Cunha, publicado em 1902.

O poema de Mangabeira não é uma simples curiosidade literária. Seus versos narrativos e eloquentes certamente despertarão o interesse dos leitores e estudiosos contemporâneos, uma vez que emanam de uma voz lírica, piedosa e indignada, para denunciar o trágico episódio da história brasileira. O poeta pensou em dedicar o livro à memória das vítimas ou aos companheiros de expedição, registrando que esta seria: “uma boa maneira de exprimir a minha repulsa àquele monstruoso pesadelo da Pátria”. Publicado no calor das reverberações da fatídica campanha militar de Canudos, seus relatos da guerra, convertidos em vinte cantos marcados por um lirismo de acento trágico, surpreendem e instigam o leitor a refletir e a fazer comparações acerca do tema do consagrado livro de Euclides da Cunha e de tantas outras obras.

O médico Francisco Cavalcanti Mangabeira nasceu em Salvador, em 8 de fevereiro de 1879, filho de uma ilustre família baiana, irmão do político e acadêmico da ABL e da Academia de Letras da Bahia, Octavio Mangabeira, que foi inclusive governador do estado.[1] Como poeta, Francisco Mangabeira estreou com o livro de poemas simbolistas Hostiário (Salvador, 1898) ao qual se seguiram Tragédia épica (Salvador, 1900), Visões de Santa Teresa, em Prosa, (Porto, Portugal, 1896), e, já em edições póstumas, Últimas poesias (Salvador, 1906) e Poesias (Rio de Janeiro, 1928), reunindo seus três livros do gênero.

Mangabeira, ainda estudante da famosa Faculdade de Medicina da Bahia, contava18 anos quando se alistou como voluntário e seguiu viagem, em 27 de julho de 1897, para prestar serviços médicos, nas fileiras da Quarta Expedição militar contra Canudos. Após a penosa jornada da guerra, o poeta retorna a Salvador, em 23 de outubro, e conclui os seus estudos, diplomando-se em 18 de dezembro do mesmo ano. Três meses depois seguiu para o Maranhão, para trabalhar como médico na Companhia Maranhense, daí seguindo para o Amazonas em missão oficial. Fez breve retorno a Salvador em 1902, voltando ao Norte 4 meses depois, para outra jornada na selva. Idealista, engaja-se em novas ações patrióticas viajando ao Acre, onde participa da revolução de Plácido de Castro, que teve o objetivo de incorporar aquele território ao Brasil. De saúde frágil, acaba contraindo a malária e uma rara enfermidade de pele. Debilitado pelas doenças, é levado para Manaus em busca de tratamento. Ao sentir a extrema gravidade de seu estado, resolve retornar à terra natal. Entretanto, em 27 de janeiro de 1904, o poeta falece, a bordo do vapor S. Salvador, na rota situada entre Belém e S. Luis, sendo sepultado no cemitério da capital maranhense.

Ao desaparecer, com apenas 25 anos de idade, longe dos centros literários, Mangabeira foi imediata e injustamente esquecido. Sua obra não teve voga suficiente para afirmar seu nome de forma mais ampla. De fato, ele não poderia tornar-se um simbolista de referência, porque, embora essencialmente lírico, era de certa forma um poeta híbrido. Convertido aos protocolos correntes do Simbolismo de então, era ainda assente aos fortes resquícios românticos, tão caros aos poetas baianos surgidos após Castro Alves, a grande referência dos novos. 

 O poeta teve, no entanto, uma boa acolhida por parte de críticos importantes. Brito Broca[2] registra-o como um dos poetas simbolistas da revista baiana Nova Cruzada, ao lado de Pedro Kilkerry e Carlos Chiachio, este último figura de proa do modernismo baiano e mentor da revista Arco & Flexa (1928/29). De acordo com Raimundo de Menezes, “sua poesia revela nitidamente influência simbolista”, mais precisamente em Hostiário. Já em Tragédia épica o acento íntimo é romântico, no tom de um romantismo às vezes devoto e, sobretudo, social, ao estilo castroalvino, quando se lança a descrever e a lamentar os sofrimentos dantescos dos soldados e dos canudenses, em versos retóricos e altissonantes.

O crítico Andrade Muricy destaca-o no Panorama do movimento simbolista brasileiro[3], considerando-o, em sua época, “o poeta do Norte de mais alevantado e vigoroso estro, depois de Castro Alves”. Segundo Muricy, “nenhum dos poetas simbolistas brasileiros teve existência tão agitada e heróica. Aos 25 anos já vivera intensa e gloriosamente”, o que faz lembrar a curta e agitada trajetória do autor de “Vozes d’África” e “Navio negreiro”. Aponta ainda Muricy, nos versos de Hostiário, a “fulgurante virtuosidade e uma movimentação brilhante, saudável, um pouco exterior, pouco frequente em nosso simbolismo.” O crítico destaca alguns poemas memoráveis do autor baiano, confirmando “o mérito desse notável poeta, de expressão clara, luminosa e viril”.

O historiador e acadêmico da ABL, Pedro Calmon, registra em sua História da literatura baiana que o poeta era detentor de “poderoso talento trabalhado por duas profundas emoções cívicas, a guerra de Canudos, a que assistiu como estudante de medicina, e a campanha do Acre, seu derradeiro sacrifício”. O historiador destaca ainda a sua “esplêndida espontaneidade”, que o tornava comparável aos maiores poetas. E assim conclui Calmon: “Sacudia-lhe o verso uma surpreendente energia, entre pessimista e heróica, num conjunto impressionante de amargura e força que lembravam as decepções da juventude tocada pelo infortúnio, das cenas e das almas do seu convívio, e o destino adverso, com que lutava.[4] Nesse aspecto, Mangabeira, jovem poeta e acadêmico, de curta e agitada trajetória de vida, também guarda certa semelhança com Castro Alves, uma forte influência quanto ao acento retórico de uma poesia afeita à declamação e à tribuna.

Numa avaliação recente, Massaud Moisés afirma que o poeta baiano “perfilhou o Simbolismo movido por uma espécie de identificação substancial. Soube, contudo, enriquecer os impulsos de temperamento com um caráter heróico, que a sua existência testemunha criando uma poesia vigorosa, de imagens surpreendentes, insólitas, onde repercute o exemplo baudelairiano e se notam traços antecipadores de Augusto dos Anjos”. Considera ainda que “a Tragédia épica, sua obra-prima em torno da guerra de Canudos, parece simbolizar, a partir do título, a dicotomia lírico-épica que lhe sustentava a cosmovisão.”[5]

Com efeito, são apreciações críticas muito positivas, que demonstram a necessidade de se fazer emergir a obra do poeta para que seja avaliada em seu conjunto, de modo a se definir melhor o seu lugar no panorama geral da poesia brasileira.

Ao engajar-se nas fileiras do Exército republicano, Francisco Mangabeira marchou para Canudos, numa missão paradoxal aos objetivos das tropas. Ele tinha consciência dessa condição, ao registrar, na abertura do seu livro, que o grupo de jovens voluntários cumpria, segundo suas palavras, uma “missão da Paz, da Caridade e do Amor”. Ao prestar serviço médico nos hospitais de sangue improvisados, estava empenhado em salvar vidas e minorar os sofrimentos dos homens grave ou mortalmente feridos. Como tal, foi um espectador angustiado das batalhas, vendo de perto a agonia dos moribundos. De longe, era um observador consternado com o massacre que se abatia sobre o arraial de Belo Monte. Seus poemas incorporam situações, vivências e sentimentos semelhantes aos que se observam na escrita de outros autores da época, como Manuel Benício e o próprio Euclides da Cunha. De olhos sensíveis, eles testemunharam os fatos e reagiram conforme suas convicções e percepções particulares, mas sempre com a consciência de que estavam diante de uma grande tragédia.

Em sua missão voluntária, Mangabeira seguiu sertão adentro, ao lado de seus colegas acadêmicos de medicina, entre os quais o seu grande amigo Joaquim Pedreira. Acometido de enfermidades, Pedreira veio a falecer antes do final do conflito, aos 18 anos de idade. Esse fato marcou profundamente o poeta, motivando-o a escrever uma espécie de nênia ao amigo, que constitui o canto IX, intitulado “Dolor”. Pelo mesmo motivo, Mangabeira resolveu iniciar o livro com a “Carta a um morto”. A carta registra, em tom elegíaco, sua comoção diante da morte de Joaquim Pedreira, durante aquela “assombrosa epopeia de valor que se desenrolou no sertão de nossa terra”. O seu enternecimento permeia todo o texto, acentuando-se, com uma ironia doída, em algumas das passagens em que dialoga com o amigo desaparecido, lamentando sua má sorte e o rápido esquecimento que então já recobria a carnificina de Canudos. O poeta declara, irônico e angustiado: “Se converso com um morto sobre uma desgraça da nossa Pátria, é porque os vivos parecem não ligar importância a essas futilidades”.

Os vinte cantos que compõem a Tragédia épica se seguem num movimento de contraponto, em que ora os soldados ora os sertanejos assomam à ribalta da arena poética, numa espécie de concerto de vozes e perspectivas díspares, – desiguais, em luta encarniçada –, mas consoantes, na partitura da trama – como se fossem atores de uma peça trágica.  No poema de abertura, intitulado “Adeus”, o poeta realça o sentimento e o moral dos soldados, no momento do embarque para o sertão, quando deixam a cidade, os lares, os amores e as famílias, despedindo-se “...desta querida terra/ para onde talvez não voltem nunca mais”. O canto delineia-se como um ritual de despedida, à vista da luta sangrenta que iam travar contra os canudenses. A exaltação ao heroísmo dos soldados reverbera nos versos. Eles são vistos de forma idealizada, não como um exército armado, mas como homens destemidos que desafiam a morte por força do destino. Afirma o poeta que: Vão em busca da glória ou, então, da sepultura / Este bando de herois, homens feitos leões”. Trata-se de um lamento perpassado de langor, pois não é o triunfo, mas sobretudo a morte que os espreita no sertão inóspito. Na partida, a bandeira, ao tremular: “Parece abençoar os bravos e ir lançando / Um adeus prolongado à triste multidão”.

Todos os vinte cantos suscitam interesse para um estudo de composição, pois podem ser analisados como partes que constituem o poema como um todo, fixando sua unidade de tema e de tonalidade. Os cantos obedecem a uma lógica narrativa que seleciona os pontos cruciais do assunto, confrontando posições, circunstâncias, diferenças e vicissitudes da guerra, ao tempo em que vai revelando os sentimentos e as angústias dos atores em luta. Há um canto que encerra uma curiosidade, aliás, revelada pelo próprio Mangabeira, em nota explicativa, ao final do livro. Trata-se do poema “Assalto à artilharia”, que o poeta define como “uma espécie de tradução de uma belíssima carta que o Dr. Euclides da Cunha escreveu de Canudos para o Estado de S. Paulo, onde este meu saudoso amigo derramou tanta luz em belíssimas e magistrais correspondências, que, publicadas em livro, lhe garantiriam um triunfo literário”. Dessa forma, Mangabeira já vaticinava a glória do livro vingador que Euclides lançaria dois anos mais tarde.

Ao longo da Tragédia épica, a maior focalização recai nos soldados, atores às vezes individualizados, como se observa nos cantos “Os três oficiais”, “A carta do soldado” e “A agonia do ferido”, por exemplo. A perspectiva do eu lírico narrador, como não poderia deixar de ser, traduz um ângulo de visão litorâneo, ponto de onde Mangabeira parte, engajado na campanha, à retaguarda das fileiras militares. Por outro lado, o olhar que lança sobre os canudenses é agudo ao demonstrar as dimensões desumanas da tragédia. Os sertanejos são vistos sempre como o outro, o adversário “sempre raivoso, impávido e insubmisso”. Eram eles “aquela gente bruta” que assombra o poeta pela capacidade de resistência e pelos horrores que sofre e enfrenta a cada ataque das tropas. Assim, o que mais aproxima o eu lírico dos sertanejos é a compaixão de seu olhar, ao descrever e lamentar a desgraça de crianças, mulheres e homens cruelmente dizimados pelos ataques dos soldados.

No canto IV, “A reza”, o eu lírico realça o contraste entre a paz do reduto, no momento da prece, em que “casa-se a voz dos sinos à voz das ladainhas”, em face do fogo da artilharia contra a igreja do arraial. Neste momento, os sertanejos: “Recordam os cristãos das mais antigas eras / Que, ao fogo sideral de crença verdadeira, / Afrontavam com calma os ímpetos das feras / Ou morriam a rir dentro de uma fogueira”.  Nesse diapasão, o canto XII, “O combate”, descreve os horrores da batalha final, em que dor e morte se tornam imagens dominantes. O poeta alinha os lances da luta sangrenta e desigual, em proveito de sua retórica descritiva, cujo efeito é a visão infernal da crueldade. O termo da luta é um quadro da natureza desolada: “O combate acabou, quando na imensidade / A lua apareceu triste como a orfandade”. Seguem-se não menos comiserativos os cantos intitulados “Os prisioneiros”, O incêndio, “Crianças prisioneiras” e “A caravana maldita”, acentuando o drama dos sertanejos vencidos, nos seus derradeiros estertores, e, finalmente, como séquito de prisioneiros que: “Sofrem penas, que só o inferno há de contê-las / Atravessam o céu, claro como um sorriso, / Era um cortejo louro, / Demandando o caminho azul do paraíso...”.

Os leitores e estudiosos acostumaram-se a ler e a sentir a tragédia canudense, encenada às margens do rio Vaza-Barris, através do admirável estilo euclidiano, com sua retórica retumbante, sua precisão de detalhes, sua análise incisiva, sua denúncia mordaz. Os sertões, em sua feição de documento, análise e monumento literário, ocupa o centro das atenções há mais de um século, deixando à sombra as demais obras que percorreram, cada qual à sua maneira, as mesmas trilhas esturricadas do sertão baiano. De fato, ao longo de quase onze décadas, o tratado euclidiano é o grande marco, em torno do qual continuam emergindo livros antigos e novos, para orbitar em sua auréola, como partes do grande arquitexto da Guerra de Canudos, que se compõe e recompõe, a cada texto novo que se escreve e a cada obra antiga que se reedita.

O livro de Mangabeira faz parte dessa enciclopédia canudense, ocupando um lugar relevante na coleção de registros e representações dos dramas pessoais e coletivos, das circunstâncias e vicissitudes da guerra. No seu poema, manifesta-se a voz enternecida de um homem que testemunhou a guerra e viveu na pele as motivações que o levaram a escrever sua denúncia. Sua poesia é vazada numa linguagem peculiar, viva e acessível, que demonstra seus traços de época e inscreve-se também como um estilo híbrido, entre o simbolismo da concepção formal e o desenho retórico dos quadros, de feição romântica. Capta-se na leitura a voz embargada do jovem poeta marcado pela vida, que empunha a pena para um acerto de contas com a história na qual se envolveu. Do alto das fileiras do Exército, o médico Mangabeira não enxergou simplesmente o inimigo a aniquilar, mas teve mira mais ampla, assinalando uma percepção lírica e agônica da condição humana dos sertanejos, vistos como sujeitos de uma saga, em defesa da sobrevivência, em sua espantosa resistência à destruição militar.

Em alguns pontos, a trajetória de Francisco Mangabeira se assemelha muito à de Euclides da Cunha. Ambos viveram intensamente o drama de Canudos, pisando no solo ensaguentado dos sertões baianos. Ali estiveram, em missões diferentes, porém intrínsecas à guerra. Perplexos, em meio aos tiroteios, um médico e o outro jornalista, ambos testemunharam diversos lances da tragédia. E logo assumiram o espírito de um dever social a cumprir, denunciando a guerra como um crime. Idealistas, mais tarde rumaram para as regiões inóspitas do Norte do país, engajados em ações de interesse político e social. Ambos caíram gravemente enfermos. E faleceram precocemente. Mangabeira, em plena juventude, aos 25 anos; Euclides, aos 43 anos, mal transposto o portal da maturidade. Morreram em circunstâncias diferentes, é certo; mas igualmente trágicas.

De certa maneira, pode-se considerar que a Tragédia épica representa na poesia aquilo que Os sertões representam na prosa brasileira. O poeta baiano, tal como Euclides da Cunha, caracteriza os sertanejos como jagunços ferozes, fanáticos, em situação de atraso e pobreza. Em contrapartida, também como o ensaísta fluminense, faz em seu poema elegíaco uma denúncia veemente contra a guerra, que considera fruto da inépcia do governo republicano, “onde todos, soldados e fanáticos, foram igualmente vítimas do mais lamentável erro político”.

Francisco Mangabeira teve o destino dos grandes. Como Gregório de Mattos, cantou sua terra e morreu longe dela, acometido de febre terçã. Como Castro Alves, extraiu o lirismo das próprias vivências e feneceu na flor da idade. Como Euclides da Cunha, percorreu os sertões e o Norte do país em missões de interesse público. Tal como eles, Mangabeira marcou sua escrita com uma profunda sensibilidade social, fazendo-a instrumento de ideias, sem com isso perder a grandeza. Como o autor de Os sertões, horrorizou-se e encantou-se com a epopeia de Canudos, legando à posteridade um protesto sincero, em vinte cantos líricos que ecoam a forte impressão de uma experiência real. Que os leitores de hoje, oxalá despojados de incertos ismos e preconceitos do passado, reabilitem e apreciem sua poesia, devolvendo-a à luz dos dias atuais.

(Apresentação do livro Tragédia épica (Guerra de Canudos), de Francisco Mangabeira.
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2010.
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Aleilton Fonseca é escritor, Doutor em Letras (USP), professor titular pleno da Universidade Estadual de Feira de Santana, membro da Academia de Letras da Bahia, da UBE-SP e do PEN Clube do Brasil.

Notas
[1] BRASIL, Assis (org., int.e no.). A poesia baiana no século XX - Antologia. Rio de Janeiro: Imago, 1999, p. 41.
[2] BROCA, Brito. A vida literária no Brasil. 1900. 3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
[3] MURICY, Andrade. Panorama do movimento simbolista brasileiro. 3.ed. ver e au. São Paulo: Perspectiva, 1987. p. 769-777.
[4] CALMON, Pedro. História da literatura baiana. Coleção Documentos Brasileiros, v. 62. São Paulo: José Olympio, 1949, p.212.
[5] MOISÉS, Massaud.  História da literatura brasileira. 3 v., vol. II-Realismo e Simbolismo. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 307.

Fonte:
http://www.academiadeletrasdabahia.org.br/Artigos/mangabeira.html

Tertúlia Literária Instituto Memória (26 de Março, em Curitiba)

O Instituto Memória Editora, a Juruá Editora e o BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul convidam para mais um evento cultural que visa dar vez e voz à cultura nacional. Serão mais 12 obras literárias que teremos a honra e o orgulho de entregar à sociedade. Esta cumplicidade autor-editora que materializou este projeto em forma de livro tem como destino único o LEITOR.

Durante o evento serão sorteados DVDs do filme “O PREÇO DA PAZ”, livros PEDAÇOS DE MUITA VIDA – HISTÓRIA DOS 122 ANOS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PARANÁ, livros ACERVO ARTÍSTICO DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PARANÁ, ivros CURITIBA NAS CURVAS DO TEMPO e livros O RÁDIO DO PARANÁ – FRAGMENTOS DE SUA HISTÓRIA.

Lançamento Nacional e Noite de Autógrafos das Obras:
E AGORA? – CRÔNICAS DE VIAGEM – COLEÇÃO RUMOS

Álvaro Dias (Senador) - Lígia Guerra (Psicologa, Escritora e Consultora da RPC/Rede Globo) - Marcos Meier (Educador, Escritor e Consultor da RPC/Rede Globo) - Marcos Cordiolli (Escritor, Presidente da Fundação Cultural de Curitiba) - Anthony Leahy (Escritor, Palestrante e Editor) - Eloi Zanetti (Escritor e Publicitário) – Helio de Freitas Puglielli (Jornalista e Professor UFPR) - Jocelino Freitas (Escritor e Advogado) - Neyd Montingelli (Escritora e Palestrante) - Willy Schumann (Escritor, Jornalista e Cineasta) - Carlos Fernando Mazza (Ator e Jornalista) – Adauto Suannes (Escritor e Desembargador/SP) – Sérgio Luiz Sottomaior Arzua Pereira (Escritor e Palestrante) – Inara Francisco (Psicológa e Palestrante).

A DOR DE JOANA
de Carolina Vila Nova

NOSSO ENCONTRO COM UBIRATAN LUSTOSA
Crônicas selecionadas de Ubiratan Lustosa

CRIANÇAS ROUBADAS
de Neyd Montingelli

VISLUMBRE: A HISTÓRIA DE ELIZABETH
de Rosalina Cândida Carvalho

CIDADE DOS MONGES
de Willy Schumann

VERDADE DIREITO E PODER SOB A ÓTICA DE NIETZSCHE
de RUI CARLOS SLOBODA BITTENCOURT

DANO MORAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS
de Luiz Eduardo Gunther e Maria Francisca Carneiro

CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHO
de Maria Cecilia W.L. de Freitas Ahrens

ECONOMIA SOLIDÁRIA
de Marilene Zazula Beatriz

ADOÇÃO: O AMOR FAZ O MUNDO GIRAR MAIS RÁPIDO
de Hália Pauliv de Souza e Renata Pauliv de Souza Casanova

UMA ODISSEIA NO PANTANAL
de Miguel Teixeira de Oliveira


SERVIÇO:

I TERTÚLIA LITERÁRIA INSTITUTO MEMÓRIA

Data: 26 de Março de 2013

Horário: das 19h às 22h

Local: Palacete dos Leões - Av. João Gualberto, 530, Alto da Glória.

# Estacionamento interno gratuito #

Anthony Leahy – Editor
Conselheiro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História - SP
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e da Academia de Cultura de Curitiba

Site e Livraria Virtual:
http://www.institutomemoria.com.br/

Blog do Editor
http://teiadehistorias.blogspot.com.br/

Fonte:
Anthony Leahy

Revista Machado de Assis (Selecionados para a 3a. Edição)

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN), que edita a Revista Machado de Assis – Literatura Brasileira em Tradução, em co-edição com o Itaú Cultural, e parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e o Itamaraty, anuncia os 20 autores selecionados – com 10 ilustradores cujos trabalhos acompanham nove dos textos (veja relação abaixo). Esta é uma edição especial dedicada à literatura infanto-juvenil de autores brasileiros. Os seus trabalhos serão divulgados internacionalmente com a apresentação da revista, entre os dias 25 e 28 de março, na Feira do Livro para Crianças de Bolonha, que em 2014 prestará homenagem o Brasil.

A publicação será lançada e disponibilizada em PDF no seu site no dia 24 de março.

Relevância e qualidade foram os pré-requisitos do Conselho Especial (veja abaixo), designado pela FBN, com o aval do Conselho Editorial da Machado de Assis, para selecionar os autores entre 183 inscrições recebidas de trechos de obras brasileiras para crianças e jovens. Os textos, como nas edições anteriores, são traduzidos para o inglês ou para o espanhol. Do conjunto de 20 textos, quatro são em espanhol, correspondendo ao percentual de inscrições nessa língua – 85% foram realizadas na língua inglesa.

O número de inscrições cresceu 80% em relação ao primeiro número, lançado em outubro do ano passado na Feira do Livro de Frankfurt e para a qual houve 103 inscritos. A segunda edição, que entrou no ar em fevereiro – com trechos em alemão, além desses dois idiomas, e versão em PDF – também já havia subido para 147.

Diante da alta qualidade e do grande número de material recebido, optou-se por não aprovar autores contemplados em edições anteriores da revista e trechos de obras que já receberam bolsa do Programa de Apoio à Tradução da FBN ou lançadas na língua do trecho inscrito na seleção. Também não foram considerados textos com tamanho acima do limite estipulado na convocatória. As traduções aprovadas pelo Conselho foram analisadas por tradutores literários contratados pelo Itaú Cultural para garantir a qualidade mínima dos textos selecionados.

Autores e ilustradores selecionados:
(divulgamos somente os ilustradores que enviaram liberação de direito autoral à FBN):

1- Ana Maria Machado: Jabuti Sabido e Macaco Metido. Tradução para o inglês de Ana Maria Machado.

2- Carolina Moreyra, ilustrações de Odilon Moraes: O guarda-chuva do vovô. Tradução para o inglês de Carolina Moreyra.

3- Cecília Meireles: poemas de Ou isto ou aquilo. Tradução para o inglês de Telma Franco e Sarah Rebecca Kersley.

4- Celso Sisto: A compoteira. Tradução para o inglês de Fal Azevedo.

5- Gláucia Souza, ilustrações de Cristina Biazetto: Tecelina. Tradução para o espanhol de Leila Mathias Costa.

6- Ivan Jaf: As outras pessoas. Tradução para o inglês de Gilsandro Vieira Sales.

7- Jorge Miguel Marinho, ilustrações e projeto gráfico da Casa Rex: Lis no peito – Um livro que pede perdão. Tradução para o inglês de Robert Brian Taylor.

8- Luis Dill, ilustrações de Rogério Coelho: O estalo. Tradução para o espanhol de Girassol Sant´Anna.

9- Luiz Antonio Aguiar: Sonhos em amarelo – O garoto que não conheceu Van Gogh. Tradução para o inglês de Anthony James Waug.

10- Marcos Bagno: Memórias de Eugenia. Tradução para o espanhol de Girassol Sant´Anna.

11- Nelson Cruz, ilustrações do autor: No longe dos Gerais. Tradução para o inglês de Flora Thomson-Deveaux.

12- Nilma Lacerda: Sortes de Villamor. Tradução para o inglês de Tonia Leigh Wind.

13- Paulo Venturelli: Visita à Baleia. Tradução para o espanhol de Girassol Sant´Anna.

14- Reginaldo Prandi, com ilustrações de Rafael Pedro: Xangô, O trovão. Tradução para o inglês de Laurie Anne Carpenter.

15- Ricardo Azevedo: Uma velhinha de óculos, chinelos e vestido azul de bolinhas brancas. Tradução para o inglês de Laurie Anne Carpenter.

16- Roger Mello, ilustrações de Graça Lima e Mariana Massarani: Vizinho, vizinha. Tradução para o inglês de Laurie Anne Carpenter.

17- Rogério Andrade Barbosa: Histórias Africanas Para Contar e Recontar. Tradução para o inglês de Gilsandro Vieira Sales.

18- Silvana Tavano, ilustrações de Daniel Kondo: Psssssssssssssiu!, Tradução para o inglês de Jay Augusto Silva.

19- Socorro Accioli: O peixinho de Pedra. Tradução para o inglês de Silvia Dussel Schiros.

20- Stella Maris Rezende, ilustrações de Laurent Cardon: A mocinha do mercado central. Tradução para o inglês de Mark David Ridd.

Fonte:
http://www.bn.br/portal/index.jsp?nu_padrao_apresentacao=25&nu_item_conteudo=2410&nu_pagina=1

Ana Pato (Lançamento do livro "Literatura Expandida - arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster”)

No mês de março, o Sesc (Serviço Social do Comércio) em parceria com a Associação Cultural Videobrasil convidam para o lançamento do livro de Ana Pato: "Literatura Expandida - arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster”.

Neste encontro, Dominique Gonzalez Foerster, Ana Maria Pato e a curadora Daniela Castro conversam sobre a produção da artística francesa e a pesquisa que resultou no livro. Também será exibido o trabalho “De Novo” (2009, vídeo 20'').

A obra inaugura uma iniciativa do Videobrasil em associação com Edições Sesc SP de construir uma biblioteca brasileira de arte contemporânea, contemplando especialmente a produção acadêmica inédita.

O lançamento será no dia 07 de março às 20hs no Sesc Bom Retiro.

Os ingressos podem ser retirados com 1 h de antecedência na Central de Atendimento do Sesc Bom Retiro.

Comunicação: ( 11 5080-3049 )

Fonte:
Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo

III Festival Nacional do Conto (Desde 19 a 23 de Março, em Florianópolis)

O Festival Nacional do Conto, único evento dedicado ao gênero na América, acontecerá pela primeira vez em Florianópolis, a partir de 19 de março, no Teatro do Sesc Florianópolis Prainha. Serão cinco dias dedicados ao tema, neste projeto de difusão, discussão e fomento, que traz para Santa Catarina o debate sobre um dos gêneros literários mais populares do globo.

O evento, idealizado pelo escritor Carlos Henrique Schroeder, que assina a curadoria, é uma realização do Sesc e da Design Editora, com apoio da Editora UFSC, e pretende revitalizar o gênero e aquecer o debate. Para isso, aposta na nova geração de escritores brasileiros, também premiada e reconhecida no exterior.

Para esta terceira edição, os nomes confirmados são Luiz Vilela (MG), Ronaldo Bressane (SP), Luci Collin (PR), Marcelo Moutinho (RJ), Antônio Xerxenesky (SP), Leandro Sarmatz (SP), Julián Fuks (SP), Luiz Felipe Leprevost (PR) e Silveira de Souza (SC).

O Festival

Livremente inspirado no Festival Europeu do Conto (realizado em Zagreb, na Croácia), o Festival Nacional do Conto é um projeto de difusão, discussão e fomento, e traz para Santa Catarina o debate sobre um dos gêneros literários mais populares do globo. Realizado desde 2011, o evento chega à terceira edição para revitalizar o gênero e aquecer o debate.

O festival aposta na nova geração de escritores brasileiros, também premiada e reconhecida no exterior, para promover um novo olhar sobre o conto.

Autores como  Veronica Stigger, Santiago Nazarian, Ivana Arruda Leite, Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Joca Reiners Terron, Daniel Galera, Tony Monti, Marne Guedes, Diogo Henriques, Elvira Vigna, João Anzanello Carrascoza, Paulo Scott, Luiz Felipe Leprevost, André de Leones,  Luís Henrique Pellanda, Ricardo Lísias e Luiz Ruffato já passaram pelo evento.

“Apostamos nas novas gerações e também na diversidade dos narradores, são autores de grande qualidade que nem sempre são conhecidos do grande público, e é para isso que serve um festival, mediar conhecimento e difundir novas ideias” afirma Carlos Henrique Schroeder, o curador do evento. O Festival é uma realização do SESC SC e da Design Editora e conta com o apoio da Editora UFSC.

Programação

Todas as mesas do evento ocorrem no Teatro SESC Prainha (Travessa Syriaco Atherino, 100, Centro, Florianópolis), com entrada franca.

19 de março de 2013, terça-feira

20h – O tremor da terra:  abertura oficial com o convidado de honra Luiz Vilela
Leitura de um conto inédito do livro “Era Aqui”, de contos, a sair pela Editora

Record ainda no primeiro semestre deste ano, seguida de um bate-papo com Luiz Vilela. Autor de vários livros de contos, entre os quais A Cabeça, Vilela é, inegavelmente, um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos. Escreveu também novelas, como “Bóris e Dóris”, e romances, como “Perdição”, este seu mais recente livro, publicado em 2011 e que recebeu o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2012.

20h40min – A estranheza do conto, com Luci Collin

As fronteiras do conto e o espaço que o gênero ocupa na produção de Luci Collin. A  curitibana Luci Collin conquistou seu espaço como uma das grandes vozes do conto com “Precioso impreciso”, “Inescritos”, “Vozes num divertimento”  e “Acasos pensados”. A curitibana é pós-doutora em literatura irlandesa pela USP e já traduziu Gary Snyder, Gertrude Stein, E. E. Cummings, Eiléan Ní Chuilleanáin e Jerome Rothenberg, entre outros.

20 de março de 2013, quarta-feira

20h – A diversidade no conto brasileiro contemporâneo, com Marcelo Moutinho (RJ), Antônio Xerxenesky (SP) e Ronaldo Bressane (SP)


Três contistas absolutamente diferentes numa conversa franca sobre os caminhos da prosa brasileira contemporânea. Autor dos livros de contos “A palavra ausente”, “Somos todos iguais nesta noite” e “Memórias do barco”, o carioca Marcelo Moutinho conversa com o gaúcho radicado em São Paulo, Antônio Xerxenesky, autor de “A página assombrada por fantasmas” e “Areia nos dentes”, e com o paulista Ronaldo Bressane, autor da trilogia de contos A Outra Comédia, composta por “Os infernos possíveis”, “10 presídios de bolso” e “Céu de Lúcifer”. Organizou a coletânea de contos “Esta História Está Diferente”, pela  Cia das Letras e é roteirista da novela gráfica V.I.S.H.N.U. (Cia das Letras).

21 de março de 2013, quinta-feira

20h – Tradição e contemporâneidade, com Leandro Sarmatz e Julián Fuks

Os fantasmas que rondam a escrita e o peso da tradição na produção contemporânea. Gáucho radicadoem São Paulo, o descendente de imigrantes judeus Leandro Sarmatz, autor de “Logocausto” e “Uma fome”, debate com o paulista e filho de argentinos Julián Fuks, autor de “Fragmentos de Alberto,Ulisses, Carolina e eu”, “Histórias de literatura e cegueira” e “Procura do romance”.

22 de março de 2013, sexta-feira

20h – Ecos: uma conversa com Silveira de Souza


Uma homenagem para um dos grandes contistas catarinenses, autor de “Ecos no porão – Volumes I e II”, “Relatos escolhidos” e “Janela de varrer”. A conversa será mediada pelo poeta e diretor da  Editora da UFSC, Sérgio Medeiros.

23 de março de 2013, sábado

20h – Show “Já tive uns ataques, vou ter mais uma síncope” e lançamento do EP homônimo, com Luiz Felipe Leprevost

O curitibano Luiz Felipe Leprevost é poeta, dramaturgo, contista, músico, ator e diretor teatral.  É autor do livro/CD “Fôlego”e dos livros “Tornozelos Deitados”, “Cecília Roendo as Unhas”, “Ode Mundana”, “Pífio, monólogos dos psicotrópicos que não fazem mais efeito”  e “Inverno dentro dos Tímpanos”.

Oficina de criação literária com João Silvério Trevisan

João Silvério Trevisan é autor de “Ana em Veneza”, “Troços & Destroços”, “O Livro do Avesso” (os três vencedores do Prêmio Jabuti) e de “O rei do cheiro” (Prêmio APCA).

Sexta-feira, 22 de março de 2012: 19h até 22h

Sábado, 23 de março: 16h até 19h

Inscrições até 19 de março com Patrícia Galeli: patriciagaleli@sesc-sc.com.br

Fonte:
http://festivalnacionaldoconto.com.br/

sexta-feira, 8 de março de 2013

Francisco José Pessoa (Trova: A Mulher)


A Mulher em Trovas


Deus, demonstrando poder,
quando a mulher engravida,
transforma a dor em prazer
na celebração da vida!
Ademar Macedo

Num devaneio qualquer,
feito de sonho e de imagem,
no seu corpo de mulher
fiz a mais linda viagem.
Ademar Macedo

Da criação, a mulher,
deveras é obra prima.
Melhor é aquiescer
sem ela, a vida não rima...
Ana Maria Gazzaneo

Ah! trova com que me enleio...
Tens um gingado qualquer
que lembra esse bamboleio
do corpo de uma mulher…
Anis Murad

Uma trova… um belo tema,
Pra dizer o que se quer;
Quando o poeta é bom, da gema,
Inspira-se…na mulher!
Apollo Taborda França

Mulher... Visão colorida
que no mundo a gente tem...
Só perfuma sua vida
se floresce para alguém.
Daniela Estanislau

Mãe, mulher, sempre presente
no cuidado e educação;
fértil terra onde a semente
frutifica em cidadão.
Eliana Ruiz Jimenez

A família é sinfonia
e a mulher, sua regente,
que com amor e harmonia
orquestra a vida da gente.
Eliana Ruiz Jimenez

Ficou pronta a criação,
sem um defeito sequer,
e atingiu a perfeição
quando Deus fez a mulher.
Eva Reis

A mulher – pura beleza –,
de tez alva, igual à lua,
no universo é a riqueza
da minha alma que flutua.
Fábio Siqueira do Amaral

A mulher que a gente ama,
para nós sempre é a mais bela,
pois o coração conclama
não ver os defeitos dela!…
Harley Clóvis Stocchero

Ser guia da Humanidade,
que busca os rumos da paz,
do amor, da felicidade;
só a Mulher será capaz.
Hélica Cruz de O. Souza

À mulher foi concedido
o dom da maternidade,
e no filho concebido,
recria a humanidade.
Henriette Effenberger

Minha saudade é defeito
que outra saudade requer,
pois, sempre que abro o meu peito,
encontro a mesma mulher…
Héron Patrício

Mulher empreendedora,
mulher que não desanima,
é mulher batalhadora.
Bem merece nossa estima!
Joarez de Oliveira Preto

Mulher é sempre um mistério,
não se sabe o seu segredo;
brincando ela fala sério,
falando sério, dá medo.
José Barros Vasconcelos

Sabendo que o homem criado
teria, aqui, muito espinho,
Deus por tanto preocupado,
pôs-lhe a Mulher no caminho!
José de Vasconcelos Padrão

Amor! És como uma rosa,
cuja corola ao se abrir,
exibe a mulher formosa
que é o meu mais doce elixir!
José Feldman

Minha mulher reza tanto
aos pés de Nosso Senhor,
que eu vou precisar ser santo
pra merecer seu amor.
José Lucas de Barros

Mulher-Mãe, mais bela trova
que o mundo pôde compor!
Nela, o Senhor nos comprova
como é grande o seu Amor!
José Jacinto M. Godoy

Diz-se que em uma mulher
não se bate nem com flor.
Mate-a porém, se puder,
com muitos beijos de amor....
José Solha

Eu queria em tua vida,
não ser "bom" ou "mal-me-quer"
ser somente a flor querida
que me faz sentir Mulher.
Josefa Moraes Rodrigues

Ninguém por certo imagina,
por um momento sequer,
a beleza que há na sina
da arte de ser Mulher!
Josefa Moraes Rodrigues

Ser Mulher é ser divina,
é ter perfume de flor ;
ser adulta e ser menina,
é ser mãe e ser amor.
Josefa Moraes Rodrigues

Alma o mundo não teria
nem teria amor sequer ;
mas Deus criou a poesia
e concebeu a Mulher.
Judith Coelho Maciel

Para a mulher, só um dia?
Àquela que traz no ventre,
sempre com tanta alegria,
dando ao futuro, a semente?
Leda Montanari Leme

- Formem coroa de glória,
estrelas do Pavilhão,
sobre a Mulher que, na História,
aboliu a escravidão!
Lúcia V. Avelar

Mulher, "Imagem de Deus",
graças e dons aplicando,
para os Céus e para os seus,
o Mundo está elevando!
Lúcia Vitória Avelar

Ao teu prazer eu me entrego
- seja lá o que quiseres –
pois te escolhi, eu não nego,
entre todas as mulheres.
Luiz Carlos Abritta

- Uma mulher de verdade,
Traduz sentido profundo:
- No coração tem bondade,
- Nas mãos, as rédeas do mundo!
Lyra Fernandino

Papel da Mulher no mundo,
é ser forte, verdadeira! ...
Amar com amor profundo,
ser do homem companheira!
Lyra Fernandino

Entre os sexos, igualdade
não existe, pensem bem.
O dom da maternidade
somente as mulheres têm.
Lyrss Cabral Buoso

A mulher traduz ternura,
doação, vida e amor;
colabora com doçura
com a obra do Criador.
Marina Valente

Ele mudou a estrutura
no amor que o Mundo requer;
sendo Deus, se fez criatura,
no ventre de uma Mulher!
Mariza da C. Pereira

"Feministas não diria...
Mais femininas não há:
Irmã Dulce - da Bahia,
Thereza - de Calcutá! ...
Mariza da C. Pereira

A mulher apaixonada,
quando recebe uma flor,
fica logo deslumbrada,
achando que é amor.
Myrthes Neusali Spina de Moraes

No Céu, a monotonia
de um Adão sem "bem-me-quer"
era preciso alegria...
e assim surgiu a Mulher!
Nanci R. Zurmely

Da fêmea o maior tributo,
sublime e grande mister,
é gerar em si o fruto
que a torna Mãe e Mulher.
Nanci R. Zurmely

Como se faz a Mulher?
- Muita pimenta com mel
e tudo de bem que houver,
mais um pedaço do Céu!
Nanci R. Zurmely

Ó Mulher, celebridade
- filha, mãe, mulher, madrinha -
já nasceste Majestade
para ser nossa Rainha!
Nei Garcez

A mulher é um ser sublime,
a fonte de inspiração,
sopro de luz que exprime
o auge da criação.
Norberto de Moraes Alves

Sobre mulher não discutam,
seus impulsos não se medem:
- As mais fracas também lutam...
- As mais fortes também cedem...!
Nydia Yaggi Martins

Mulher de recursos fartos!
Como é que está impenitente,
tendo no corpo dois quartos,
dá pousada a tanta gente?
Olavo Bilac

Se não sou mulher rendeira,
sou eleita mulher forte,
sempre chamada guerreira
que luta para ter sorte.
Sílvia de Araújo Motta

Quando Deus fez a mulher,
de “presente” ao homem deu.
Acredite quem quiser:
o homem não mereceu!
Volpone de Souza

Englobando a criação
do que Deus aqui deixou,
é a mulher confirmação
de quanto ele caprichou.
Wadad Naief Kattar

Angela Togeiro (Mulher-Orquídea)


Machado de Assis (As Ventoinhas)

Pintura de Richard Johnson
Brasil, 1839-1908

 A mulher é um catavento,
          Vai ao vento,
Vai ao vento que soprar;
Como vai também ao vento
          Turbulento,
Turbulento e incerto o mar.

Sopra o sul: a ventoinha
          Volta azinha,
Volta azinha para o sul;
Vem taful; a cabecinha
          Volta azinha,
Volta azinha ao meu taful.

Quem lhe puser confiança,
          De esperança,
De esperança mal está;
Nem desta sorte a esperança
          Confiança,
Confiança nos dará.

Valera o mesmo na areia
          Rija ameia,
Rija ameia construir;
Chega o mar a vai a ameia
          Com a areia,
Com a areia confundir.

Ouço dizer de umas fadas
          Que abraçadas,
Que abraçadas como irmãs
Caçam almas descuidadas...
          Ah que fadas!
Ah que fadas tão vilãs!

Pois, como essas das baladas,
          Umas fadas,
Umas fadas dentre nós,
Caçam, como nas baladas;
          E são fadas,
E são fadas de alma e voz.

É que — como o catavento,
          Vão ao vento,
Vão ao vento que lhes der;
Cedem três coisas ao vento:
          Catavento,
Catavento, água e mulher.

Miguel Torga (Poema Melancólico a Não Sei que Mulher)

Portugal (1907-1995)

 Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...

Cesário Verde (Cabelos)

Pintura de Richard Johnson
Portugal 1955 – 1986

Ó vagas de cabelo esparsas longamente,
Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar,
E tendes o cristal dum lago refulgente
E a rude escuridão dum largo e negro mar;

Cabelos torrenciais daquela que me enleva,
Deixai-me mergulhar as mãos e os braços nus
No báratro febril da vossa grande treva,
Que tem cintilações e meigos céus de luz.

Deixai-me navegar, morosamente, a remos,
Quando ele estiver brando e livre de tufões,
E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos
E enchamos de harmonia as amplas solidões.

Deixai-me naufragar no cimo dos cachopos
Ocultos nesse abismo ebânico e tão bom
Como um licor renano a fermentar nos copos,
Abismo que se espraia em rendas de Alençon!

E, ó mágica mulher, ó minha Inigualável,
Que tens o imenso bem de ter cabelos tais,
E os pisas desdenhosa, altiva, imperturbável,
Entre o rumor banal dos hinos triunfais;

Consente que eu aspire esse perfume raro,
Que exalas da cabeça erguida com fulgor,
Perfume que estonteia um milionário avaro
E faz morrer de febre um louco sonhador.

Eu sei que tu possuis balsâmicos desejos,
E vais na direção constante do querer,
Mas ouço, ao ver-te andar, melódicos harpejos,
Que fazem mansamente amar e enlanguescer.

E a tua cabeleira, errante pelas costas,
Suponho que te serve, em noites de verão,
De flácido espaldar aonde te recostas
Se sentes o abandono e a morna prostração.

E ela há-de, ela há-de, um dia, em turbilhões insanos
Nos rolos envolver-me e armar-me do vigor
Que antigamente deu, nos circos dos Romanos,
Um óleo para ungir o corpo ao gladiador.
...............................................................................

Ó mantos de veludo esplêndido e sombrio,
Na vossa vastidão posso talvez morrer!
Mas vinde-me aquecer, que eu tenho muito frio
E quero asfixiar-me em ondas de prazer.

Lídia Vasconcelos (Flor do Mundo)


José Lucas de Barros (O Dia das Mulheres)

Hoje cumpro o mais justo dos misteres,
Como poeta e amigo da beleza:
Dou parabéns a todas as mulheres,
Vendo nelas, do amor, a realeza!

Às rainhas do lar e deste mundo,
Que, sem elas, pra nada serviria,
Eu desejo, com o apreço mais profundo,
Um reinado de paz e de alegria!

Que haja flores na rota da existência
De toda mãe, que é nosso amor primeiro,
E nunca mais a mão da violência
Baixe sobre a mulher, no mundo inteiro!

Pirangi, 8 de março de 2013.

Fonte:
O Autor

António Barroso [“Tiago”] (Ser Mulher)

Pintura de Mirthes Crespo
Parede – Portugal

Ser mulher, é ser anjo protector,
Asas brancas que tapam, com brandura,
É beber muitas gotas de amargura,
Consolar, em palavras, com amor.

Ser mulher, é dar força e confiança,
Alicerçar a fé num Deus supremo,
É dar-se, por completo, até ao extremo,
E tentar transmitir uma esperança.

Ser mulher, é ser filha e, com carinho,
Tratar, dos ascendentes, com meiguice,
Saber encaminhá-los, na velhice,
E dar-lhes o seu lar, o seu cantinho.

Ser mulher, é também ser companheira,
Amiga do marido, em toda a vida,
E, com ele, vencer qualquer subida,
Ou descer, em conjunto, uma ladeira.

Ser mulher, é ter alma e ser amante,
Afogar os anseios e os desejos
Num caudal de carícias e de beijos
Que podem repetir-se a cada instante.

Ser mulher, é ser a mãe carinhosa
Que aperta seus filhinhos contra o peito,
Lhes mostrando o caminho que é direito,
E ampara numa queda desastrosa.

Ser mulher, é ser fonte de energia,
Moldada em puros versos de beleza,
Uma força que vem da natureza,
Que espalha, à sua volta, a poesia.

Fonte:
Libia Beatriz Carciofetti. Grupo TROVAMAR: União Brasileira de Trovadores – Balneário Camboriú -SC/ Facebook

António Ramos Rosa ( A Mulher)

Portugal,1924

 Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

William Shakespeare (Soneto 17)

Pintura de Mirthes Crespo
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

Mauro Gouvêa (Poema para a Mulher Amada)


Sonia Nogueira (Trovas para a Mulher)

Pintura de Richard Johnson
Do seu ventre o fruto
Que multiplica na terra
A criação cria o culto
Para a mão que descerra

Cada dia sem a guerra
Levando a paz como lema
Da família quando encerra
Da labuta faz seu tema

Para reservar seu espaço
Subiu no degrau sucesso
Conquistou, soltou o laço
Da profissão fez progresso

Continua mãe dedicada
Amante e companheira
Na profissão destacada
Fez-se mulher sem fronteira

Parabéns pelo progresso
Pelas conquistas capazes
Até no espaço é sucesso
Louvo-as. Rainhas audazes

Fonte:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=31344

Socorrinha Castro (Mulher!)

Pintura de Richard Johnson
Mulher, semente divina que faz brotar a vida,
fonte e manancial de puro amor,
teu coração, é como flor de pétalas coloridas
orvalhando bálsamo que alivia toda dor.

Mulher, semeadora de esperança,
és feita de paz e bondade,
da tua eterna alma de criança,
emanas a alegria, a felicidade.

No teu meigo olhar, irradias
reflexos da imagem Divina,
mulher, és a mais bela poesia,
mulher, és luz que o mundo ilumina.

Símbolo de renúncia e doação,
mulher, abnegação e generosidade,
teu corpo é templo de oração
e tua alma, é juventude, é eternidade!!!

Fonte:
http://metadedemim.mforos.com/1699995/9042100-mulher-em-trovas/

Antero de Quental (A Uma Mulher)

Pintura de Richard Johnson
Portugal, 1842-1891

 Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pôr-te o berço estreito
N'algum palácio e ao pé de régio leito,
Em vez d'este areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n'esse peito:
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,
Que não são d'este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!

João Batista Xavier Oliveira (Mulher)

Pintura de Richard Johnson
As forças que dão coragem
Não agem a um ser qualquer:
São virtudes com imagem
estampada na mulher.
................................

A mulher é igual aos lírios
pela sua natureza:
Aos olhos, ternos colírios
a clarear a beleza.

Uma mulher de verdade
simplesmente é poderosa:
Vence os espinhos da idade,
ganha os encantos da rosa.

Era uma vez uma flor
que em mulher se transformou.
O jardim ganhou amor
e a mulher mais flor ficou.

Quem gera a vida tem alma
para o que der e vier.
É o mundo a girar na palma
da mão forte de mulher.

A flor beija a natureza
com sua espontaneidade.
Mulher exala beleza
Na sua simplicidade.

Venceu muitos preconceitos:
Não foram lutas quaisquer.
E se hoje ela tem direitos
é porque é forte e mulher.

Do poeta ao general
a sua figura encanta.
Mulher, a musa imortal
que a natureza acalanta.

O tempo abriu a cortina
e o passado emudeceu.
Cresceu a mulher-menina...
e o mundo também cresceu.

Mulher, não és diferente;
não és deusa, nem escrava...
mas tens um ar competente
que mil corações desbrava.

A vida tem seus abrolhos...
Não é uma força qualquer
que ilumina nossos olhos
a não ser os da mulher.

Fonte:
Grupo TROVAMAR: União Brasileira de Trovadores – Balneário Camboriú -SC/ Facebook

Jacqueline Aisenman (Tantas Anas)

Jacqueline é de Genebra/Suiça 
(Do livro Coracional)

Ana
Não és a estátua
Calada e altiva
Que vigia as noites
Da praça.
Nem és tanto assim
Somente
A heroína contada
Nas longas histórias
Dos livros.
Ana
Te conheci vulto.
Te aprendi mulher.
Aninha filha,
Ana aventura,
Anita do Garibaldi.

Fonte:
Jacqueline Aisenman (org.). Mulher: Um Universo. Revista Varal do Brasil. No. 20. Genebra, inverno de 2013.

Paul Verlaine (A Uma Mulher)

Pintura de Richard Johnson
França, 1844-1896

Pra vós são estes versos, pra consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pra vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora.

Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento,
Multiplica-se como um cortejo de lobos
E enforca-se com o meu destino que ensanguenta!

Ah! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido
Desse primeiro homem expulso do Paraíso
Não passar de uma écloga à vista do meu!

E os cuidados que vós podeis ter são apenas
Andorinhas voando à tarde pelo céu
— Querida — num belo dia de um Setembro ameno.

Fonte:
http://www.citador.pt/poemas/a-uma-mulher-paul-verlaine

Charles Baudelaire (Perfume Exótico)

Pintura de Richard Johnson
França, 1821-1867

Quando eu a dormitar, num íntimo abandono,
Respiro o doce olor do teu colo abrasante,
Vejo desenrolar paisagem deslumbrante
Na auréola de luz d'um triste sol de outono;

Um éden terreal, uma indolente ilha
Com plantas tropicais e frutos saborosos;
Onde há homens gentis, fortes e vigorosos,
E mulheres cujo olhar honesto maravilha.

Conduz-me o teu perfume às paragens mais belas;
Vejo um porto ideal cheio de caravelas
Vindas de percorrer países estrangeiros;

E o perfume sutil do verde tamarindo,
Que circula no ar e que eu vou exaurindo,
Vem juntar-se em minh'alma à voz dos marinheiros.