domingo, 13 de outubro de 2013

Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 2)

Libreria Fogola Pisa
A CASA E O POETA

A casa do poeta tem por via
a fala dos irmãos com outro irmão;
de uma vida coberta de paixão,
as confissões: tristeza ou alegria.

É um menino pequeno (como não?)
no que quis e jamais pôde alcançar,
que sofre tantas vezes por amar,
quantas vezes num choro sem razão.

De medo, treme à vista do vizinho,
pois no quintal dos fundos grita e freme
um diabo nu, barrando o seu caminho.

Diante de Deus e de Nossa Senhora,
pede conformação para quem geme...
E não terá sua casa onde não mora.
-
AMOR, SEMPRE AMOR (1)
-
Eras tu a mais linda da cidade.
E eu cheguei, um matuto impertinente,
apelidado até de inteligente
por colegas, amigos na verdade.

Teus sorrisos me enchiam de vaidade
e àqueles que te tinham de inocente,
e a mim me enfeitiçaram de repente,
como ninguém calcula. Ninguém há de

saber o que lutei para ganhar-te,
para querer-me ali, e em qualquer parte,
e, enfim, nos enlaçarmos com ardor.

Fogo em que conservamos, te asseguro,
a minha felicidade e o teu futuro
para viver tão puro e santo amor.
-
AMOR, SEMPRE AMOR (2)
-
Mudam-se tempos, vidas e pesares,
mas, como outrora, a amar continuaremos.
Amo-te mais, não queiras nem saber,
amas-me mais agora e como sempre.

Se outrora caminhamos de mãos dadas,
era o medo do mundo e suas garras.
Já hoje nos soltamos pra andar juntos,
pra mais amar, que o nossa amor se aclara.

Teu corpo de menina e de mulher
Que tanto outrora já me deu ciúmes,
Hoje é prazer e graça como nunca.

Sendo eu feio, invulgar, e tu, tão bela
formamos lindo par por toda a vida
e abraçaremos outras se inda houver.
-
DEUSA
-
Era uma deusa humanamente bela,
de olhos molhados a deitarem luz,
sobre perdidos corações sem cores.
Desprendia paixões nos seus encantos.

Da carne, o cheiro, a tepidez, o orvalho
eram pingos da tarde... E a noite vinha.
Mas o brilho dos olhos tão intenso
iluminava todos os caminhos.

E eu disse - “tolo”! - à blusa desdobrada
à brisa, que assanhava as mentes frias,
cheia da graça dos recantos da alma.

De repente, nas asas dos seus braços
levado vi-me e, pelos céus abertos,
caírem penas pelos meus pecados.
-
DESCIDA
-
Quantos anos que gente sobe a vida
pensando que subiu, cresceu, mudou,
a enganar-se na festa e na bebida,
pra ignorar o mundo – este robô!

Vive-se o tempo. E as horas consumidas
em vãos gozos e gulas, sem fronteiras,
desconhecem as dores pressentidas,
e o fumo das batalhas derradeiras.

Ninguém espreita a onda dos mistérios,
da velhice, da doença e o conteúdo
de mascarados e sutis impérios.

A lei da morte apaga amor, carinhos,
porque o tempo de Deus ficou desnudo
na cruel desesperança dos caminhos.
-
A DEUSA NUA
-
Vi uma deusa solitária e nua,
a correr pelas praias. Seu segredo
era o silêncio. Eu quase senti medo
daquela cor de prata, cor de lua.

Corri para apanhá-la, ainda era cedo!
Com vergonha de mim, vindo da rua
tão faminto e cansado. E ela recua...
“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.

E ela correu de novo... E, atrás, perdido,
desesperado, eu, louco e comovido,
queria o mel dos lábios cor de beijos.

Cego e surdo, ante aquela formosura,
seio pulsante, o’ estranha criatura!...
Caí morrendo a morte dos desejos.
-
A PARTIDA
-
Na partida os adeuses, gume e corte
dos prazeres do amor, quanto tormento!
Cada qual que demonstre quanto é forte,
lábios secos mordendo o sentimento.

Do ser brotam soluços a toda hora,
as faces no calor do perdimento,
olhos no chão, no ar, por dentro e fora,
pedem aos céus a força e o alimento.

Ninguém vai, ninguém fica. Oh! se reparte
no transporte que liga e que desliga!
Confusão de saber quem fica ou parte.

Não se explica tamanha intensidade
Amarga, e doce, e errante, que interliga
os corações perdidos de saudade.

EX-ANIMAL

Impossível falar à alma de um
dos viventes de Deus sobre esta lida,
sobretudo o que vai na alma ferida,
ou na lembrança que não é comum.

Somos ilhas cercadas por nenhum
outro ser dito irmão. Nada o convida
a um mínimo de esforço que dê vida
ou assunção de problemas, seja algum

conselho, bate-papo ou sofrimento
sobre ações, pensamentos e palavras,
salvo se se tratar do testamento.

O desumano egoísmo é sem limite,
do prazer de si só faz suas lavras,
e o mundo inteiro que se dinamite.
-
AS COISAS QUE...
-
Passo a limpo os guardados, vejo a capa
de um livro de poemas que me roeu
por ter nele o meu rosto!... Olho-o, à socapa,
tentando deslembrar quem era eu.

O mundo é diferente em cada etapa,
e a gente nem percebe que sofreu.
Já não quero sequer buscar, no mapa,
a alma, o sonho onde ela se perdeu.

Como senti-me mal naquele dia!
Mas me guardei daquela coisa fria
pra me esquecer, enfim, que fui um jovem.

Por que perder meu tempo em desmazelo?
Se o passado morreu já não é belo,
quero o presente e as coisas que nos movem.
-
CAMINHANTE
-
No início, para trás eram meus passos,
mesmo assim alcancei quem se atrasou
mais do que eu, quem nada me escutou.
Meus pés doíam presos a alguns laços...

De rosto, a olhar em volta do ocidente,
jamais ouvi um som de voz alheia,
sem ver minhas pegadas pela areia,
a curtir um passado inconseqüente.

Fiz pecados tão poucos, rezei tudo.
Cansado de falar me tornei mudo,
de tanto acreditar fiquei descrente.

Atrasei-me de amor pelo vizinho,
mas descobri, agora, que sozinho
ainda posso dar passos para frente.
-
DA VIDA E DA MORTE
-
Há quem busque esta vida noutra vida,
e são felizes recriação da morte.
E quem encontre a vida na antemorte,
e são felizes plenamente em vida.

Por que preocupar-se com a tal morte,
se ela vem no seu tempo como a vida,
ou depois. E se o ente está sem vida,
logo o engana e faz dele vida e morte?

Há quem, afadigado pela vida,
transforme a vida-vida em vida-morte
e passe uma existência sem ter vida.

E os que só vivem dissecando a morte
pra saber se depois da vida há vida,
ou se depois da morte tudo é morte.

Fonte:
O Autor

Francisco Miguel de Moura (1933)

Chico Miguel nasceu na cidade de Francisco Santos-PI (outrora povoado “Jenipapeiro”, município de Picos), aos 16/06/1933. Estudos primários com seu pai; ginasial e contabilidade, em Picos, onde casou e residiu alguns anos. Formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduado na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde residiu cerca de 3 anos. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Mestre-escola como seu pai, funcionário público municipal (escrivão de Polícia), radialista, professor de língua e literatura, cujas atividades não mais exerce. Dedica-se exclusivamente a ler, escrever, fazer palestras e brincar com os netos. Já ganhou prêmios em todos os gêneros que pratica, até em trovas no Ano do Sesquicentenário.

Colabora nos diversos jornais de seu Estado, entre os quais “O Dia”, “Diário do Povo” e “Meio Norte”; nas revistas “Literatura”, de Brasília (hoje editada em Fortaleza), “Poesia para todos”, do Rio; “LB - revista da literatura brasileira”, São Paulo; “Almanaque da Parnaíba”, “Cirandinha”, “De Repente”, “Revista da Academia Piauiense de Letras”, “Cadernos de Teresina” e “Presença”, de Teresina. É também colaborador permanente dos jornais “Correio do Sul”, Varginha, MG; “Diário dos Açores”, das Ilhas dos Açores e “O Primeiro de Janeiro” (Suplemento Cultural “das Artes das Letras”), de Porto, Portugal. Ultimamente, vem sendo editado pelas revistas “Lea” e “Clarín”, editadas na Espanha; “Pomezia-Notizie”, Itália; e “Jalons”, na França.

É sócio efetivo da União Brasileira dos Escritores e da Academia Piauiense de Letras, e membro-correspondente da Academia Mineira de Letras e da Academia Catarinense de Letras.

Por força de sua atividade como funcionário do Banco do Brasil, além de na cidade de Picos, morou na Bahia (Capital e interior) e no Rio, e por último em Teresina, onde concebeu e publicou a maioria de suas obras.

A obra de Francisco Miguel de Moura recebeu enorme manifestação da crítica, vinda de escritores de todo o país, inclusive críticos literários como João Felício dos Santos, Fábio Lucas, Nelly Novaes Coelho, Rejane Machado, Olga Savary, cujo material quase todo foi reunido em dois volumes já publicados: “Um Canto de Amor à Terra e ao Homem” (Editora da Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007) e “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura” (Edições Cirandinha, Teresina-PI, 2008).

Chico Miguel ama as artes, a poesia (literatura) especialmente – pelo trabalho que realiza com a palavra; ama o ser humano (o “eu” e o “outro”) e a natureza, quase como se fosse uma religião sem dogmas. Enquanto as religiões e a ciência são, de certa forma, indiscutíveis, incontestáveis, despóticas, portanto, a arte é humilde e trabalha em torno da humanização do homem, que ainda está bem longe. Talvez essas sejam as razões do seu agnosticismo.

POESIA:

“Areias”, editora Correio de Timon Ltda. Timon - MA, 1966. “Pedra em Sobressalto”, Pongetti, Rio, 1972;
“Universo das Águas”, Grupo Cirandinha,Teresina, 1979;
“Bar Carnaúba”, Universidade Federal do Piauí,Teresina, 1983;
“Quinteto em mi(m)”, Editora do Escritor, Rio, 1986;
“Sonetos da Paixão”, Ed. Ciradinha,Teresina, 1988;
“Poemas Ou/tonais”, Ed. e Gráfica Júnior Ltda.,Teresina, 1991; “Poemas Traduzidos”,Gráfica e Ed. Júnior Ltda., Teresina, 1993; “Poesia in Completa”, Ed. Fundação “Mons. Chaves”,Teresina, 1998 (comemorando os 30 anos de poesia);
“Vir@gens”, Editora Galo Branco, Rio, 2001:
“Sonetos Escolhidos”, Editora Galo Branco, Rio Rio, 2003;
“Porta Folio: 40 Sonetos”, Editora Guararapes, Recife-PE, 2003;
“Antologia”, Edições Cirandinha, Teresina, 2006;
“Tempo contra Tempo”, Edições Cirandinha, Teresina, 2007 (este em co-autoria com Hardi Filho);
“A®fogo – Romance da Revolução”, Paco Editorial, São Paulo, 2010;
“Cinquenta Sonetos” – Editora Guararapes – EGM, Recife - PE
Inéditos:
“Itinerário de Passar a Tarde”, “O Coração do Instante”, “A Casa do Poeta”, “Lindes do Caminho”, “As Cores a Cor”, “A Sombra do Silêncio, “A Jóia Rara” , “50 Poemas Escolhidos pelo Autor”, “Testemunho” e “Novos Poemas”.

ROMANCES:

“Os Estigmas” Ed. do Escritor, SP, (1984), reeditado em 2004, Ed. Cirandinha);
“Laços de Poder”, Projeto Petrônio Portela, Teresina (1991); premiado, 1º lugar (prêmio Fontes Ibiapina, da Fundação Cultural do Piauí;
“Ternura”, Ed Univ. Federal do Piauí, 1993 - reeditado em 2011-Ed. Livro Pronto – SP),
“D. Xicote”, Ed. do Governo do Estado do Piauí, 2005, em conj.com outros. Com este ganhou 2º lugar do prêmio Fontes Ibiapina em 2003;

Inédito:
“O Crime Perfeito”- terminado de escrever em julho de 1991, na praia da Atalaia,Luís Correia – PI.

CONTOS:

“Eu e meu Amigo Charles Brown”, Fundação Petrônio Portela, 1986,
“Por que Petrônio não Ganhou o Céu”, Companhia Editora do Piauí, 1999;
“Rebelião das Almas”, Academia Piauiense de Letras/Banco do Nordeste, Teresina, 2001.

CRÔNICAS:

“Eu e meu Amigo Charles Brown”, Projeto Petrônio Portela, Gráfica e Editora Júnior, Teresina, 1996;
“A Graça de cada Dia”, Edições do Autor/SIEC, Teresina, 2009;
“O Menino quase Perdido” - que não se enquadra bem na categoria de crônicas, assim chamei-o de “memorial” – Projeto A. Tito Filho/Fundação Culural Mons. Chaves, Teresina, 2009.

CRÍTICA LITERÁRIA:

“Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, 1972/1997, 1ª e 2ª edições, respectivamente, a primeira pela Editora Artenova, Rio; a segunda pela Universidade Federal do Piauí;
“A Poesia Social de Castro Alves”, Editora do Escritor, São Paulo, 1979;
“Um Depoimento Pós-Moderno” , Ed. Cirandinha, Teresina, PI, 1989; (este depoimento teve ma 2ª ed. em Goiânia – GO);
“Assis Brasil” (em conjunto com Edmilson Caminha), Projeto Petrônio Portela, Teresina, PI, 1989;
“Castro Aves e a Poesia Dramática”, Academia Piauiense de Letras, Teresina, 1998;
“Moura Lima: Do Romance ao Conto”, Ed. da Universidade de Tocantis, Araguaina-TO, 2002.

NOTA: - Além disto, devem ser considerados na mesma área:
“Piauí: Terra, História e Literatura” (cr[itica e antologia), Ed.do Escritor, São Paulo, 1980;
“Literatura do Piauí”, Academia Piauiense de Letras, Teresina, 2001;
“Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”(biografia), Edições Cirandinha/FUNCOR, Teresina, 2005.
________________
site: www.usinadeletras.com.br
blogs: http://franciscomigueldemoura.blogspot.com
http:// cirandinhapiaui.blogspot.com
http://abodegadocamelo.blogspot.com

Fonte:
O Autor

Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 2

ARLETE PIEDADE
 Amazónia - Pulmão verde e rubro

-
 És verde e rubro, o pulmão deste planeta azul e branco!
 - Verde das florestas em extensão, rubro das queimadas,
 estendendo longos dedos negros em direção ao flanco,
 da mãe ignorada pelos filhos, de quem devia ser amada!

 Noutros tempos eras verde, azul, claro, limpo e puro,
 no teu seio criavas belos seres, de alma transparente!
 um belo e imponente rio atravessava teu corpo e juro...
 eras a mais preciosa jóia, deste planeta de alma doente!

 Mas os homens de distantes terras, foram chegando,
 de teu sadio, fértil, bravio e belo corpo se apossando,
 para seu deleite, prazer, sendo a riqueza fácil, o tema...

 teus tesouros foram furtando, teus rios conspurcando,
 teus habitantes foram corrompendo, mulheres violando,
 ainda será tempo de te salvar, sendo esse nosso lema?
====================

ARMANDO SOUZA
As cores da Amazônia


 Verde de mil e um verdes, vida a subir.
 Agarrando o sol
 Planície do verde olhando o céu, a florir.
 Casa e mesa das mariposas de mil cores a casar
 Beleza de diferentes pássaros a voar
 Subindo às alturas, para do verde sair.
 Amazônia, pulmão que a natureza nos deu.
 Folhas são ventoinhas purificando o ar do céu
 Dentro de seu verde tanta vida
 Beleza para nós desconhecida
 Tantos sonhos selvagens, frutos esquisitos.
 Podem ser de amor ou de morte da Amazônia gritos
 Numa certa clareira, moças deitadas.
 Cobrindo suas vergonhas
 São cores, muitas cores, tom garridas, pintadas.
 Cabanas construídas de folhas de bananeira
 Quando chove, é ali que se realiza toda a brincadeira.
 Macacos voam fugidios
 Mil qualidade de peixes e piranhas nos rios
 Debaixo de tanta frescura, vive gente primitiva sorrindo.
 Mas a civilização vai seu lar destruindo
 Com enormes queimadas
 Deixando as cores da Amazônia desbotadas
 Debaixo dos mil verdes, nossa saúde nas flores.
 As raízes são venenos da nossa doença
 Tudo isto pode fazer passar nossas dores
 Aumentar no viver nossa Crença
 Debaixo do verde repuxos ou lanças de pau
 Dão vida a vida com o cacau
 Névoa respiram chuva torrencial
 Não queiras conhecer os segredos dos fluviais
 Formam oceanos de espuma amarela
 Deixado os verdes aveludados
 Em linda aquarela
 O sol raia, grande alegria.
 Ouve-se o batuque, musica de poesia.
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BEATRIZ KAPPKE
Amazônia e a responsabilidade ambiental.

-
 Assunto da atualidade
 Que enfronha religiosos
 E pessoas de qualquer idade
 De todas as profissões e também os ociosos.

 Denunciados todo os dias com tristeza
 Abusos de toda sorte
 Crimes contra a frágil natureza
 Prevendo para o nosso planeta a morte!

 Tímidas porém são
 O vislumbrar de saídas eficazes
 Para resolver a tal questão
 Com ações realmente pertinazes.

 Leis editar, acordos firmar
 A Amazônia proteger
 A humanidade amedrontar
 Irá da imprudência humana os desmandos resolver?

 Sobre utilização dos recursos naturais
 São louváveis as campanhas
 Os diferentes e respeitáveis pontos de vista
 Denotam uma preocupação tamanha.

 Mas a atual situação, melhorar ou piorar
 O ser humano tem em suas mãos
 Porém urge a consciência mudar
 E ao comportamento dar outra direção.

 Meio ambiente exige atitude, visão e percepção
 Respeito à vida pessoal, à vida do outro e da natureza
 Não só na Amazônia mas em todo este torrão
 De tanta grandeza e singular beleza!

 Só então teremos neste mundo
 De seis bilhões de indivíduos
 Menos miseráveis num submundo
 Clamando para viverem mais dignos!

 Será o grande passo
 Que a humanidade precisa dar
 Enlaçar-se num grande abraço
 E a paz social alcançar!
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BILL SHALDERS
Pegar-te no colo

-
 Minha Amazônia Querida
 Pulmão do meu lar Terra
 Grandeza verde do planeta Azul
 Dói meu espírito ver sua devastação
 Dói minha alma ver sua agonia

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até te curares
 Da maldade da serra
 Da maldade do homem
 Da maldade do ignorante

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E sonhar com uma nova Terra
 E sonhar com um novo planeta
 Que entenda e acolha a tua formosura

 Ah, que vontade de te pegar no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E acordar somente no despertar da humanidade
 Pois se morreres, morreremos junto
 Morreremos todos, queiramos ou não

 Cada ser que vive em tuas entranhas
 Cada pedacinho do teu chão
 Cada pedacinho de tua copa
 Representa um pedacinho do meu coração
 Representa um pedacinho do meu Ser

 Cada ser teu que morre, morro junto
 Cada ser teu que parte, parto junto
 Cada gota a menos de orvalho
 Uma lágrima minha a mais
 Ah, que vontade de pegar-te no colo

 Embalar-te até podermos fugir desta sanha
 Pois se um dia morreres
 Morrerei por ti, morrerei junto a ti
 Somos ligados pelo amor
 Ah, que vontade de pegar-te no colo.
====================

DENISE SEVERGNINI
Floresta Amazônica

-
 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Desmatamento e erosão...
 Demanda de carvão...
 Animais em extinção...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Assoreamento e erosão...
 Garimpo e contaminação...
 Culturas em destruição...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Paisagem em degradação...
 Provocada pela mineração...
 E a droga da poluição...

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Abenaki: Estória do Tambor)

Diz-se que, quando Tunkashila (o Avô Universo), estava a dar um lugar a todos os espíritos que habitam e tomam parte da habitabilidade da Mãe Terra, se escutou um som, uma forte explosão à distância.

Tunkashila escutou o som a aproximar-se cada vez mais até estar mesmo à sua frente.

-Quem és tu?- perguntou o Criador

-Eu sou o Espírito do Tambor- foi a resposta- e venho pedir-te que me permitas
participar nestas coisas maravilhosa que estás a criar.

- E como queres tu participar?

-Gostava de acompanhar o canto das gentes, quando se cante desde o coração eu próprio vou cantar como se fosse o bater do grande coração da Mãe Terra. Desta maneira toda a criação cantará em harmonia!

Tunkashila atendeu ao pedido e a partir de então o tambor tem acompanhado as vozes que cantam desde o coração. Para todos os primeiros povos do mundo (indígenas), o tambor constitui o centro das canções e é o catalisador para o espírito destas se elevar até ao Criador de modo a que as orações cheguem aonde estão destinadas a ir. O som do tambor traz integridade, respeito, entusiasmo, solenidade, força, coragem e cumprimento das próprias canções. Trata-se do bater do grande coração da Mãe Terra concedendo aprovação a todos os que nela habitam. A águia abraça esta medicina e conduz a sua mensagem ao Criador e aí se transforma a vida das gentes.

Para os índios, (Pajés e Xamãs), o tambor é o 'cavalo ou canoa' que os transporta para outras dimensões da realidade. Sua vibração é extremamente forte, capaz de propiciar a cura e a ampliação da consciência por ressonância vibratória. Quando o tambor é tocado, sua vibração é sentida dentro do corpo, criando um efeito purificante. Através das ondas sonoras, entramos em ressonância e ativamos a memória ancestral do homem como espécie e indivíduo.

Instrumento de cura e manifestação.

As vibrações do tambor mudam as ondas cerebrais de beta para ALFA, as ondas cerebrais alfa são as ondas do estado de meditação, as ondas que abrem o portal da genialidade, o lado direito do cérebro, o lado direito do cérebro é a nossa parte feminina, é a energia criativa individual e ao mesmo tempo a energia criativa de 'Tudo que Existe", o eu quântico onde não há mais a noção do ego linear que diz (Como a energia criativa pode ser minha e do Universo inteiro ao mesmo tempo?) essa noção diz respeito apenas as leis dessa dimensão linear, egóica, ao transcender essa dimensão Tu é Individual e TUDO QUE EXISTE ao mesmo tempo, sentir o que É ISSO é meditação, é a iluminação, é dizer "É ISSO" é dizer ao Universo "EU SOU" e assim perceber a irmandade de todas as coisas, portando, as vibrações do tambor são um instrumento quântico de cura interior, de autoconhecimento, de magia, a real magia..

Fonte:
Grupo Xamanismo

Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XIII

foi mantida a grafia original.
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A MÃE

Eu canto-vos, mulher, porque vos tenho visto
Na pálpebra vermelha a lágrima de amor,
Que vem de Eva a Maria — a doce mãe de Cristo -
Formando a estalactite imensa duma dor!

Oh, quantas vezes já na aldeia miserável
Nas tristezas do campo, às portas dos casais,
Vos tenho surpreendido, em êxtase adorável,
Enquanto os filhos nus ao peito conchegais!

A fria noite chega. Os maus, de boca cheia,
Rebolam-se na terra: ainda pedem pão!
Com eles repartis a vossa parca ceia;
E vendo-os a dormir podeis sorrir então.

De inverno quase sempre as noites são mordentes.
Uivam lobos na serra: o vento uiva também:
Mas eles vão dormindo os longos sonos quentes,
Enquanto a vil insónia oprime a pobre mãe!

Tendes sustos cruéis. Temendo que lhes caia
A roupa que os abafa, aos pobres acudis;
E aninhando-os melhor nas vossas velhas saias
Podeis então dormir um tanto mais feliz.

Mulher quanto é suave e longo esse poema
Quanto é preciso ó mãe, no trânsito cruel,
Que vossa alma estremeça e o vosso peito gema
A fim de que em vós brilhe o mais alto laurel!

Quem é que nunca viu, na rua, a cada passo,
A pálida mulher que rompe a multidão,
Trazendo agasalhado, um filho no regaço,
E aos tombos, muita vez, um outro pela mão?!

Nos frios do lajedo, às vezes, pede esmola
Às portas dos cafés: ninguém a quer ouvir:
E a ela qualquer côdea a farta e a consola
Contanto que sem fome os filhos vão dormir!

E enquanto à luz do gás a turba prazenteira
No fumo dos festins revoa em turbilhão,
Quantos dramas cruéis nas húmidas trapeiras;
Nos campos quantas mães sem roupas e sem pão?!

E sempre a mesma lenda, a mesma história antiga:
Do palácio à cabana o vosso doce olhar,
Nas insónias cruéis, na fome ou na fadiga,
Dum raio criador o berço a iluminar!

No entanto à doce mãe, se aquele amor sem termo,
Da moda traja agora os novos ouropéis,
E o vosso coração já gasto e um pouco enfermo,
Sofrendo se dilui nos ideais cruéis;

Nas vagas pulsações dumas recentes ânsias,
Se aquela santa flor das grandes comoções,
Apenas tem lugar nas vossas elegâncias,
Como um enfeite de mimo amado nos salões;

Na corrente fatal que ao longe arrasta os povos,
Se o vosso grande afeto intenta erguer-se mais,
Sonhando a sagração dos heroísmos novos,
Resplendente de luz; vistosa de metais:

Aos reflexos do gás, ó mãe, abri passagem
Por entre a saudação das alas cortesãs,
Levando as seduções da vossa doce imagem
Aos delírios da noite, às ceias das manhãs!

Surgi do canto obscuro aonde o casto seio
Palpita ingénuo e bom na paz da solidão,
E o vosso amor levai à ópera e ao passeio
A fim de que ele arranque um bravo à multidão!

E eu hei de rir ao ver que o peito onde um tesouro
Maior do que nenhum podemos encontrar,
Intenta seduzir pela medalha de ouro
Que aos pequenos heróis os reis costumam dar!

Arcanjo vai-te embora: é tarde: em nossas casas
Talvez alguém se aflija; é tão deserta a rua!...
Tu deves sentir frio! Embuça-te nas asas:
Dá saudades à lua.

Um beijo em cada estrela! ... Espera que eu sou louco!
Sonhei devo pagar: perdão anjo dos céus!
Agora tem cuidado; o céu escorrega um pouco:
Boas noites adeus!

SANTA SIMPLICIDADE

Na serena missão de paz que tu cumpriste
Ó suave Jesus, ó doce galileu,
Que santa singeleza e que perfume triste
Do Teu casto perfil no mundo rescendeu!

Havia no Teu verbo aquela unção divina
Que a velha harpa de Job soltou nas solidões,
E o belo, o puro sol da antiga Palestina
Suave contornou, de luz, Tuas feições!

Compunham-Te o cortejo uns pobres pescadores
Almas retas e sãs; marchavas por Teu pé,
E sorrias falando aos rudes e aos pastores,
Sentado nos portais da pobre Nazaré.

Da Tua Galileia os vales percorrias
Levando um bom quinhão de afeto a cada lar,
E o grande olhar suave e terno das judias
Turbaste muita vez, decerto, sem pensar!

E mais simples na morte, apenas a Tua alma
Transpunha as regiões puríssimas do sol,
Tu que havias colhido a imorredoura palma
Não tinhas para o corpo as galas dum lençol!

Consola-te ó Jesus! Tu deves já ter visto
Que sobre a Terra, agora, ao Teu nome fiéis,
Os que se dizem ser apóstolos de Cristo
Não precisam trajar os ínfimos buréis.

Não maceram seus pés! Não vão pobres e rotos
Envoltos na estamenha, apedrejados, sós,
Nos desertos viver de mel e gafanhotos,
Convertendo o gentio ao som da sua voz.

Ante eles, ao contrário, alargam-se os batentes
Dos palácios reais, nas grandes receções,
E formam-lhes cortejo os coches reluzentes
Atrás dos quais se bate um trote de esquadrões!

Cobrindo-lhes, depois, de insígnias as roupetas,
A fim de honrar melhor a primitiva fé,
Redobram-se ainda mais as velhas etiquetas;
Polvilham-se melhor os homens da libré!

E dão-se-lhes festins onde há grandes baixelas,
Fatais cintilações de vinhos e rubins,
Gargantas ideais, grandes espáduas belas,
Lampejo de cristais, insídias de cetins!

Oh! Temo bem Jesus que tantas pedrarias
Façam peso de mais na barca do Senhor,
Quando é certo que as mãos de Pedro um pouco frias
Mal podem segurar o leme salvador!

Por isso quando avisto o espaço que negreja
E o mar que se encapela, eu temo que amanhã
Do fendido baixel da Tua velha Igreja
Apenas reste, à proa, uma ficção pagã!

O velho Olimpo dorme o bom sono comprido
Que prostra o lutador no fim duma batalha,
E os Deuses doutro tempo, em lívida mortalha,
Descansam no torpor dum mundo corrompido.

No puro céu cristão, de estrelas revestido,
No entanto há muito já que chora e que trabalha,
Por nós o Cristo bom sem que seu Pai lhe valha,
A fim de ver, de todo, o mundo redimido!

Justiça, traça o manto alvíssimo e estrelado
E senta-te, mulher, no trono abandonado
Pelos vultos gentis de tantos deuses velhos!

Depois inda maior, mais pura e mais serena,
No sangue de Jesus molhando a tua pena
Explica a nova lei no fim dos evangelhos!

Monteiro Lobato (A Reforma da Natureza) Capítulo 9 - O livro comestível

A maior parte das ideias da Rã eram desse tipo. Pareciam brincadeiras, e isso irritava Emília, que estava tomando muito a sério o seu programa de reforma do mundo. Emília sempre foi uma criaturinha muito séria e convencida. Não fazia nada de brincadeira.

- Parece incrível, Rã! - disse ela. - Chamei você para me ajudar com ideia na reforma, mas até agora não saiu dessa cabecinha uma só coisa aproveitável - só "desmoralizações ..."

- Isso não! A idéia das tetas com torneiras na Mocha foi minha e você gostou muito. A da pulga também.

- Só essas. Todas as outras eu tive de jogar no lixo. Vamos ver mais uma coisa. Que acha que devemos fazer para a reforma dos livros?

A Rãzinha pensou, pensou e não se lembrou de nada.

- Não sei. Parecem-me bem como estão.

- Pois eu tenho uma ideia muito boa - disse Emília. - Fazer o livro comestível.

- Que história é essa?

- Muito simples. Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. A tinta será estudada pêlos químicos - uma tinta que não faça mal para o estômago. Q leitor vai lendo o livro e comendo as
folhas; lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura está almoçado ou jantado. Que tal?

A Rãzinha gostou tanto da idéia que até lambeu os beiços.

- Ótimo, Emília! Isto é mais que uma ideia-mãe. E cada capítulo do livro será feito com papel de um certo gosto. As primeiras páginas terão gosto de sopa; as seguintes terão gosto de salada, de assado, de arroz, de tutu de feijão com torresmos. As últimas serão as da sobremesa - gosto de manjar branco, de pudim de laranja, de doce de batata.

- E as folhas do índice - disse Emília - terão gosto de café - serão o cafezinho final do leitor. Dizem que o livro é o pão do espírito. Por que não ser também pão do corpo? As vantagens seriam imensas. Poderiam ser vendidos nas padarias e confeitarias, ou entregues de manhã pelas carrocinhas, juntamente com o pão e o leite.

- Nem precisaria mais pão, Emília! O velho pão viraria livro. O Livro-Pão, o Pão-Livro. Quem soube ler, lê o livro e depois come; quem não souber ler come-o só, sem ler. Desse modo o livro pode ter entrada em todas as casas, seja dos sábios, seja dos analfabetos. Otimíssima ideia , Emília!

- Sim - disse esta muito satisfeita com o entusiasmo da Rã. - Porque, afinal de contas, isso de fazer os livros só comíveis para o caruncho é bobagem - podemos fazê-los comíveis para nós também.

- E quem deu a você essa ideia , Emília?

- Foi o raciocínio. O livro existe para ser lido, não é? Mas depois que o lemos e ficamos com toda a história na cabeça, o livro se torna uma inutilidade na casa. Ora, tornando se comestível, diminuímos uma inutilidade.

- E quando a gente quiser reler um livro?

- Compra outro, do mesmo modo que compramos outro pão todos os dias.

A ideia, depois de discutida em todos os seus aspectos, foi aprovada, e Emília reformou toda a biblioteca de Dona Benta. Fez um papel gostosíssimo e de muito fácil digestão, com sabor e cheiro bastante variados, de modo que todos os paladares se satisfizessem. Só não reformou os dicionários e outros livros de consulta. Emília pensava em tudo.

Também reformou muita coisa na casa. Por meio de cordas e carretilhas as camas subiam para o forro de manhã, depois de desocupadas, a fim de aumentar o espaço dos cômodos. As fechaduras não precisavam de chaves; bastava que as pessoas pusessem a boca no buraco e dissessem: "Sésamo, abre-te" e elas se abriam por si mesmas.

- E os mudos? - perguntou a Rãzinha. - Como vão arrumar-se? Só se eles andarem com uma vitrola no bolso, que pronuncie por eles a palavra Sésamo.

Emília atrapalhou-se com o caso dos mudos e deixou-o para resolver depois. O leite a ferver ao fogo dava um assobio quando chegava no ponto, de modo a avisar ao fogo, o qual imediatamente parava de agir. Q mesmo com todas as comidas - e dessa maneira acabou-se a desagradável história do "feijão com bispo."

E tanta e tanta coisa as duas fizeram, que se fôssemos contar metade teríamos de encher dois volumes. Lá pelo fim da semana o Sítio do Pica-pau estava totalmente transformado, não dando a menor idéia do antigo. Foi por essa ocasião que chegou carta de Dona Benta anunciando a volta.

- "Já concluímos o nosso serviço na Europa" - dizia ela. - "Deixamos o continente transformado num perfeito sítio - com tudo direitinho e todos contentes e felizes. A Comissão que nos trouxe vai reconduzir-nos para aí novamente. Devemos chegar na próxima segunda-feira e espero encontrar tudo em ordem."

Emília leu a carta para a Rãzinha, dizendo:

"É uma danada, esta velha! Foi lá e fez o que todos aqueles ditadores e reis não conseguiram. Temos agora de preparar a casa para recebê-la."
================
continua

Ana Maria Zanini e Ruth Ceccon Barreiros (Ler como e o que – Ler para quê?)

RESUMO: A queixa de professores de que os estudantes não sabem ler e escrever, e de que não se mostram capazes de produzir textos de acordo com as exigências necessárias para caracterizá-lo, é relativamente antiga e tem suscitado inúmeras pesquisas na busca de encontrar quais os entraves na formação proficiente de leitura e, consequentemente, de escrita. Dentre os caminhos indicados nas práticas de leitura, dois se destacam: ou reproduzem modelos já ultrapassados ou se inspiram nas propostas de promoção de leitura em que se valoriza o espontaneísmo. Contudo, é preciso reconhecer que a questão do domínio lingüístico e da capacidade de ler e escrever transcende as formas de ensino e de formação individual, residindo, em grande parte, nos modos como se distribuem e se transmitem os bens culturais na sociedade contemporânea. Em outras palavras, o problema se relaciona com os processos de produção e circulação da cultura escrita, isto é, com as formas de letramento.

1 - Introdução

Com o desenvolvimento da escrita e da leitura o homem tornou-se capaz de transmitir conhecimentos e fatos. A leitura, como ação de decifrar signos e descobrir sentidos, pode ser empreendida como um ato de fruição e enlevo ou para estudo, com a intenção de agregar e difundir saberes. Para tanto, o hábito de leitura deve ser desenvolvido de forma que o leitor possa apreender os sentidos do texto, deixando de ser um mero decifrador de signos, e que possa a partir dessas experiências tornar-se também um produtor de novos textos.

A leitura é uma característica da sociedade urbano-industrial moderna. Saber e poder ler e escrever é uma condição tão básica de participação na vida econômica, cultural e política que a educação escolar tornou-se um dos direitos fundamentais do ser humano, assim como a saúde. Os índices de alfabetização da população é um dos critérios para a avaliação do desenvolvimento e da qualidade de vida.

Entretanto, os estudos e debates sobre leitura têm privilegiado as formas de ler em que prevalece o investimento subjetivo, livre e autônomo. Daí porque se fala e se escreve tanto sobre o prazer de ler, a formação do gosto pela leitura, valorizando-se as motivações de ordem pessoal, para que haja leitores efetivos e não apenas sujeitos que decoraram signos linguísticos. Ainda que não se afirme categoricamente, acredita-se nesse movimento espontâneo de formação pessoal, do qual a leitura seria um fundamento básico.

Porém, é preciso reconhecer que a questão do domínio linguístico e da capacidade de ler e escrever transcende às formas de ensino e de formação individual, residindo, em grande parte, nos modos como se distribuem e se transmitem os bens culturais na sociedade contemporânea. Em outras palavras, o problema relaciona-se com os processos de produção e circulação da cultura escrita, isto é, com a maneira que é feito o letramento.

De acordo com Barros, “assim concebido, o texto encontra seu lugar entre os objetos culturais, inserido numa sociedade (de classes) e determinado por formações ideológicas específicas.” (2007, p. 7). Dentro dessa concepção, além dos expressos linguísticamente (oral ou escrito), os textos também pode ser visuais - gestos, dança, fotografia, placas sinalizadoras ou o modo de se vestir - ou apresentar um sincretismo de expressões: história em quadrinhos, filmes, peça publicitária ou música.

Diante da imensa gama de textos a serem lidos, presentes no cotidiano de qualquer indivíduo podemos afirmar, portanto, que há leituras diferentes e que uma política de formação do leitor não pode se limitar à premissa única de que “ler é bom”. O fato é que o uso da escrita passou a ser de tal modo imperativo que o indivíduo que não lê e não escreve torna-se um pesado ônus para o sistema. Pois, como disse Castello-Pereira (2003, p. 13), “precisamos formar cidadãos que possam ler bem, porque o sujeito que não tem um bom domínio da leitura tem em grande parte a sua possibilidade de participação social limitada”.

Há certamente uma dimensão pragmática, em que saber ler importa para a produção de valores hegemônicos e para a organização da vida diária. É fato também que a leitura é uma forma de consumo, em torno do qual se constitui, em grande parte, a indústria da informação e a indústria editorial.

Trazer à tona esse debate é imprescindível no atual momento da educação brasileira, que vem incorporando em ritmo acelerado novos segmentos sociais, cujas experiências culturais e vivência com os discursos escolares parecem não corresponder às expectativas da sociedade.

2 - Desenvolvimento

É inegável a importância da leitura na formação dos indivíduos, no seu aperfeiçoamento e no exercício pleno da cidadania. Mas o que é leitura?

2.1 - O que é leitura

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss, leitura é, entre outras acepções

s.f. (1382 cf. SintHist) ação ou efeito de ler 1 ato de decifrar signos gráficos que traduzem a linguagem oral; arte de ler 2 ato de ler em voz alta 3 ação de tomar conhecimento do conteúdo de um texto escrito, para se distrair ou se informar 4 o hábito, o gosto de ler 5 o que se lê; material a ser lido; texto, livro 5.1 LITUR.CAT texto lido ou cantado por uma só pessoa, ger. extraído da Bíblia <é tradicional a l. nos refeitórios dos conventos e colégios religiosos> 6 conjunto de obras já lidas 7 fig. maneira de compreender, de interpretar um texto, uma mensagem, um acontecimento 8 matéria de ensino elementar . (HOUAISS, 2002)

Indo além da simples definição de interpretação mecânica de sinais gráficos, a leitura pode ser definida, dentro de uma visão mais ampla, como “um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem.” (MARTINS, 1991, p. 30).

Desse modo, compreende-se que ler significa perceber a intenção de uma peça publicitária, captar a expressão corporal do interlocutor ou assimilar a história de um filme. A leitura é um processo de construção de sentidos realizado entre o emissor e o receptor. Pode-se dizer que ocorre um diálogo entre aquele que lê e aquilo que é lido. Consequentemente, desenvolver a leitura “significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios.” (MARTINS, 1991, p.34).

A leitura, de acordo com Sole (1998, p. 92-99), deve seguir alguns objetivos. São eles que determinam a postura do leitor diante do texto, a forma como esse leitor vai compreender o que foi lido. Em uma situação de ensino, o professor deve ter em mente esses objetivos antes de aplicar um texto em sala de aula.

A autora enumera, entre outros, os objetivos de ler para obter informação precisa, para seguir instruções, para obter uma informação de caráter geral, para aprender, para revisar um texto próprio, por prazer, para comunicar um texto a um auditório, para praticar leitura em voz alta, para verificar o que se compreendeu. Esses não são os únicos propósitos de um leitor diante de um texto, mas são alguns dos que podem ser trabalhados dentro do contexto escolar. Assim, sob essa perspectiva esses objetivos podem ser assim descritos:

a) Ler para obter uma informação precisa é uma leitura seletiva, em que o leitor procura apenas uma informação, rejeitando outras. É o caso de consultas em dicionários ou enciclopédias ou em uma lista telefônica.

b) Ler para seguir instruções nos permite fazer algo concreto. É uma leitura completamente funcional, como no caso anterior ocorre durante a leitura uma seleção de informações, ou seja, o leitor escolhe o que é importante ou não, deixando de lado tópicos que não interessam ao objetivo. São exemplos textos de receitas culinárias, regras de um jogo ou editais de concursos.

c) Ler para obter uma informação geral é quando a leitura é feita para se obter uma visão ampla do assunto do texto, não há pressão para encontrar qualquer informação mais detalhada. É o caso do leitor que navega aleatoriamente na internet.

d) Ler para revisar um texto próprio ocorre normalmente com as pessoas que utilizam a escrita como instrumento de trabalho, jornalistas, por exemplo. É uma leitura crítica, em que o autor procura colocar-se no lugar do leitor. No ambiente escolar é um importante instrumento para o desenvolvimento da produção textual.

e) Ler para aprender. É uma leitura mais focada. Nela o objetivo é ampliar conhecimentos, para tanto o leitor aprofunda-se mais no texto, anota dúvidas, registra termos desconhecidos, relaciona as novas informações com as já adquiridas.

f) Ler por prazer. A leitura nesse caso é uma questão pessoal, depende de como cada leitor frui o texto. Normalmente é um objetivo relacionado com textos literários. O discurso poético não precisa seguir as normas da língua, é de teor subjetivo e, portanto, plurissignificativo. Como o texto literário é basicamente ficção, o leitor pode fugir da lógica sistemática e do pensamento analítico, da realidade, e participar de um mundo imaginário. “Através de uma história inventada e de personagens que nunca existiram, é
possível levantar e discutir [...] assuntos humanos relevantes [...] evitados pelo discurso
didático-informativo [...] por serem considerados subjetivos, ambíguos e imensuráveis.”
(AZEVEDO, in SOUZA, 2004, p. 40). A afirmação do autor reitera a importância do processo de introdução à leitura e de apreciação do texto literário em sala de aula.

g) Ler para comunicar um texto a um auditório produz uma leitura em que o leitor necessita utilizar vários recursos para que a mensagem chegue corretamente a seu destinatário: entoação, pausas, ênfase, etc. Como essa é uma leitura em que os aspectos formais são importantes, o leitor deve ter contato prévio com o texto antes de ser apresentado ao público.

h) A leitura em voz alta é uma prática tipicamente escolar, em que se exerce a dicção, entonação e normas de pontuação. É precedida, normalmente, de uma leitura silenciosa.

i) Ler para verificar o que se compreendeu. Após a leitura de um texto, faz-se a recapitulação    ou responde-se a um questionário para se constatar o que foi compreendido.

Solé também afirma que partindo do objetivo determinado para a leitura, e tendo em mente que leitura é um processo de interação, é que o leitor constrói os significados do texto lido. E não apenas isso, para ler necessitamos, simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de decodificação e aportar ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias; precisamos nos envolver em um processo de previsão e inferência contínua, que se apoia na informação proporcionada pelo texto e na sua própria bagagem, e em um processo que permita encontrar evidência ou rejeitar as previsões e inferências antes mencionadas. (SOLÉ, 1998, p.23).

Assim, segundo Solé, ao ser apresentado a um texto, o leitor deve ser capaz de decodificar seus signos e, indo além, de formular hipóteses que levem à construção da compreensão do texto.

2.2 - Os parâmetros curriculares

A educação é um direito garantido pela Constituição de 1988 a todo cidadão brasileiro e é dever do Estado promover o acesso ao ensino básico, pois somente a educação preserva a democracia. Além da Carta Magna, o direito à educação é garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990; e pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), de 1996.

O ensino de língua e literatura percorreu um longo caminho antes de chegar a esse ponto. Inicialmente, logo após o descobrimento, o ensino não era institucionalizado e visava tão somente à alfabetização pura simples. Mais tarde, nas últimas décadas do século 19, a disciplina de língua portuguesa passou a integrar os currículos escolares brasileiros. Mas foi somente em meados do século 20 que o ensino de língua portuguesa
perdeu seu status elitista.

Dentro desse contexto de expansão da escolarização, em que aumentou expressivamente o número de alunos, surgiu a necessidade de estabelecer propostas pedagógicas adequadas aos novos tempos e necessidades. No caso específico do ensino de língua materna e literatura brasileira, dever-se-ia levar em conta “a presença de registros linguísticos e padrões culturais diferentes dos até então admitidos na escola.”
(GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 43).

Com o estabelecimento da LDB, em 1996, técnicos do Ministério de Educação elaboraram os Parâmetros Curriculares Nacionais que passariam a servir de referenciais
às propostas curriculares dos sistemas de ensino. A partir dessa premissa foram criadas as Diretrizes Curriculares Estaduais a fim de estabelecer novas atitudes frente às práticas de ensino, “numa proposta que dá ênfase à língua viva, dialógica, em constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva.” (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 48).

2.2.1 - As Diretrizes Curriculares

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, elaboradas pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, compreendem a leitura como “um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas    sociais, históricas,  políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento.” (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 56). Sob esse aspecto, o processo de ensino da prática leitora leva o aluno a desenvolver aptidões não apenas linguísticas, mas também cognitivas e de cidadania, em uma dimensão mais ampla, que o encaminha à construção
de significados.

As diretrizes curriculares direcionam um olhar mais específico ao estudo da literatura, propondo que o ensino da literatura procure formar um leitor que seja capaz de sentir e expressar o que sentiu, com condições de reconhecer, nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se expressam pela tríade obra/autor/leitor, por meio de uma interação que está presente na prática de leitura. (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p.58).

Assim sendo, cabe ao professor utilizar textos variados, de diferentes gêneros, em linguagem verbal e    não–verbal,    incluindo-se    também o    meio    digital. Essa diversidade familiariza os alunos com todos os suportes de leitura, permitindo-lhes que reflitam sobre o que foi lido e desenvolvam o senso crítico. Além disso, o professor  deve “propiciar ao educando a prática, a discussão, a leitura de textos de diferentes esferas sociais...” (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p.50).

2.2.2 - As Diretrizes e Bakhtin

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná indicam que o professor deve propiciar aos seus alunos a oportunidade de leitura de textos de diferentes linhas – jornalísticos, literários, publicitários, digitais, etc.

O texto visto como uma articulação de discursos, já que não é um objeto fixo em um determinado momento – há a produção do texto e sua recepção por parte do leitor – decorre do fato que “a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana”. (Bakhtin, 1997, p. 280).

Esses enunciados, ainda segundo Bakhtin, em cada esfera de utilização, são elaborados de forma estável. Dentro dessa concepção são denominados gêneros do discurso. O autor afirma que a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. (Bakhtin, 1997, p. 280).

Bakhtin divide os gêneros discursivos em primários, usuais em situações do cotidiano, e secundários, que contemplam situações de enunciação mais complexas, caso de    textos acadêmicos,    literários ou científicos. Os enunciados refletem a individualidade de quem os propõe e o gênero mais adequado a apresentar o estilo individual é o literário, nele o estilo individual faz parte do empreendimento enunciativo enquanto tal e constitui uma das suas linhas diretrizes -; se bem que, no âmbito da literatura, a diversidade dos gêneros ofereça uma ampla gama de possibilidades variadas de expressão à individualidade, provendo à diversidade de suas necessidades. (BAKHTIN, 1997, p. 284).

Tomando por base esse pressuposto, “o aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas suas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros discursivos”. (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008. p. 53). Assim, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná defende a posição de que “o trabalho com os gêneros [...] deverá levar em conta que a língua é um instrumento de poder e que o acesso ao poder, ou sua crítica, é legítimo e é direito para todos os cidadãos”. (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 53).

2.3 - Prática de leitura

As diretrizes curriculares, dentro da concepção bakhtiniana adotada, referem-se à leitura como a familiarização do aluno com “diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais”. (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2008, p. 71). O professor deve atuar como um mediador, visando ao desenvolvimento de seres críticos, e programar estratégias de acordo com o tipo de texto escolhido para a reflexão. Ainda segundo orientação das diretrizes, o professor ao selecionar textos para a prática de leitura em sala de aula deve levar em conta o contexto escolar, a experiência anterior dos alunos bem como suas expectativas.

2.4 - Texto literário

Para além do texto didático encontrado nos livros escolares, que transmitem conhecimento e informações, é imprescindível também que os alunos entrem em contato com narrativas de cunho literário. Em contraponto a um discurso objetivo impessoal e sistemático do livro didático, o texto literário

pode e deve ser subjetivo; pode inventar palavras; pode transgredir as normas oficiais da língua; pode criar ritmos inesperados e explorar sonoridades entre as palavras; pode brincar com trocadilhos e duplos sentidos, pode recorrer a metáforas, metonímias, sinédoques e ironias; pode ser simbólico; pode ser propositalmente ambíguo e até mesmo obscuro. (AZEVEDO, in SOUZA, 2004, p. 40).

Essas características do discurso poético provocam e estimulam os leitores, que acabam por elaborar múltiplas leituras a partir de um mesmo texto dado, enriquecendo e ampliando a visão de mundo. Assim, a leitura de textos literários “permite a identificação emocional entre a pessoa que lê e o texto e [..] pode representar [...] um precioso espaço para que certas especulações vitais [...] possam florescer.” (AZEVEDO, in SOUZA, 2004, p. 40).

Assim, para a prática de leitura em sala de aula, o professor deve nortear-se pela escolha de textos autênticos. Como autênticos, Antunes compreende os textos “em que há claramente uma função comunicativa, um objeto interativo qualquer”. (ANTUNES, 2003, p. 79). São textos reais, autorais, com data de publicação e que foram divulgados em algum suporte de comunicação social (jornal, revista, livro, etc.). Dentro dessa concepção, e também pensando no contexto em sala de aula, os gêneros selecionados devem estar adaptados aos propósitos almejados.

3 - Considerações finais

Ao focar a atenção nos procedimentos de estudos presentes no ato de ler, enfatiza-se    uma dimensão fundamental do processo de formação intelectual do estudante, exatamente aquela que supõe que certas leituras implicam procedimentos cognitivos específicos que não se adquirem necessariamente com a leitura espontânea.

A leitura de estudo, em livros didáticos, por exemplo, é um modo de ler que implica procedimentos metacognitivos e linguísticos distintos    daqueles que    se constituem em torno das atividades da vida diária. Nos procedimentos metacognitivos “o leitor reflete sobre o seu próprio conhecimento, o seu modo de saber”. (CALIXTO, Benedito José, 2001, p. 70). Já os procedimentos linguísticos refletem a decodificação dos sinais que representam a linguagem.

A leitura, portanto, demanda diversos tipos de tarefas cognitivas, nas quais regras e princípios de classificação, análise e síntese, inferências, são mais relevantes do que critérios contextualizados mais diretamente relacionados à experiência vivida. De acordo com Castello-Pereira (2003, p. 17), “aprender a estudar um texto não é apenas uma questão de aprender uma técnica, implica aprender a operar com referenciais culturais, sociais e políticas.”

Dentro dessa perspectiva, o leitor passa a ser um sujeito ativo no processo de leitura, seja de um romance ou notícia de jornal, uma música ou de um comercial de televisão, pois toda sua bagagem de conhecimentos – linguístico, enciclopédico ou de mundo – interfere na interpretação do que está codificado no texto. Segundo Ingedore Villaça Koch, a concepção de um leitor predeterminado pelo sistema, um ente passivo, que seja apenas um mero decodificador de signos, passou a ser a de um leitor interativo, um sujeito produtor de sentidos.

Apesar da grande quantidade de pesquisa sobre o tema, ainda não se desvendou completamente os mistérios da leitura e a diversidade de fatores que nela interferem. Porém, o presente estudo    sobre    leitura    possibilitou o    enriquecimento e instrumentalizou um possível debate pelos professores de Língua Portuguesa sobre o assunto. Tal estudo constitui-se ainda uma necessidade e um desafio, se o objetivo for desenvolver comportamentos leitores nos alunos.

Ler é uma atividade complexa que exige reconhecer, identificar, unir, associar, relacionar, abstrair, comparar, generalizar, deduzir, inferir, hierarquizar. Não significa apenas decodificar símbolos, mas apreender informações explícitas e implícitas e demais sentidos. Construir sentidos que depende de conhecimentos prévios a respeito da língua, das práticas sociais de interação, dos gêneros, dos estilos, das formas variadas de organização textual.

Mas é preciso garantir o acesso à diversidade textual, proporcionando atividades que possibilitem elaborar a leitura em suas variadas funções, gêneros e estilos, conhecendo e explorando seus diversos suportes.

São os usos sociais da leitura que devem balizar o trabalho da escola e cabe aos professores formar leitores, antes discutindo propostas de pensadores, suas concepções, definindo seu conceito, sistematizando e ampliando os conhecimentos necessários ao domínio da execução de uma prática pedagógica ampliada e dinamizada, favorecendo o seu ensino.

Lidamos com leitura o tempo todo, pois a escrita é parte constitutiva das mais diversas atividades do cotidiano. Assim, é relevante ressaltar, também, que a leitura é fundamental para o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento e para o consequente exercício da cidadania

Entre livros e leitores há um importante mediador: o professor. Mas é necessário que a leitura seja para este a ferramenta essencial para a prática do seu trabalho, revelando-se um leitor dedicado e uma forte referência para seus alunos. Cabe a ele, também, o papel de desenvolver nos alunos o gosto pela leitura a partir de uma aproximação significativa com textos, efetivando uma leitura estimulante, reflexiva, diversificada, crítica, ensinando-os a usarem-na para viverem melhor.

É preciso que o professor recupere em sua vida a leitura como uma atividade de múltiplas funções para poder partilhar com as pessoas o prazer e a necessidade de ler.

Referências

ANTUNES, Irandé. Aula de português encontro & interação. 3. imp. São Paulo: Parábola, 2003. (Série Aula).

AZEVEDO, Ricardo. Formação de leitores e razões para a literatura. In: SOUZA, Renata Junqueira. Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 2007.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacional. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2010.

CALIXTO, Benedito José. Aspectos cognitivos da leitura. In: DAMKE, Ciro (Org.). Anais da 3ª Jell - jornada de estudos linguísticos e literários: língua, sociedade e identidade. Cascavel: Edunioste, 2001.

CASTELLO-PEREIRA, Leda Tessari. Leitura de estudo: ler para aprender a estudar e estudar para aprender a ler. Campinas: Alínea, 2003.

HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. Versão 1.0.5ª. 1 CD-ROM.

INSTITUTO PRÓ-LIVRO; OBSERVATÓRIO DO LIVRO E DA LEITURA. Retratos da Leitura no Brasil. 2. ed. 2008. Disponível em:
. Acesso em: 14 abr. 2010.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. 2. ed. 1 reimp. São Paulo: Contexto, 2007.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros passos).

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Paraná, 2008.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Tradução Cláudia Schilling. 6. ed. São Paulo: Artmed. 1998.

Fonte:
II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: Diversidade, Ensino e Linguagem. UNIOESTE - Cascavel / PR, 2010.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Adriana Falcão (Ramsés Terceiro)

O nome dele era Ramsés Terceiro Gonçalves de Souza, mas quando o povo chamava “Zé”, ele vinha na hora. É que lá em São Miguel dos Milagres não havia quem decorasse nome tão qualificado,”Ramsés de quê, menino?”.

Cresceu subindo no coqueiro e escutando conversa de turista: isso aqui sim é o paraíso. Achava uma grande besteira. Qualquer lugar é o paraíso com essa lourinha ao lado, moço, me desculpe.

Parou de estudar na quinta, ou foi na sexta, mesmo assim ainda lembrava o nome das capitais de cada estado brasileiro, de Mato Grosso do Sul inclusive.

Um belo dia irritou-se, saiu de São Miguel e foi pra Maceió, ele mais seu primo Neílson. Desse, nunca mais ouviu falar, se não morreu, esqueceu-se dele. Vai ver foi isso.

O problema de Maceió é que lá era grande mas era pequeno, portanto veio morar no Rio de Janeiro.

Foi em 1994, não havia de esquecer, no dia em que o Brasil ganhou o título. O italiano lá errou o gol, ele tomou mais uma, comprou a passagem e quando acordou já estava naquele Itapemirim amarelo assim, “Maceió — Rio de Janeiro”.

No que chegou, ligou logo para a mãe, “adivinha onde é que eu tou?”, ela não havia de adivinhar era nunca. “Só não me diga que é no manicômio”, ô mulher pessimista, dona Maria do Socorro.

Arranjou um bico aqui, outro ali, acabou ajudante de pedreiro num prédio enorme de tão grande, emprego certo que durou vários meses. De lá pra cá não parou mais. Foi porteiro, eletricista, camelô, ladrão de carro, motoboy, evangélico e balconista de loja, só não lembra em que ordem exatamente. Mandava dinheiro para casa, quando dava, e ainda conseguiu juntar novecentos e cinquenta.

Quando ia completar vinte e nove anos, tempos atrás, resolveu passar o aniversário em casa. Era saudade da família. Foi pra São Miguel sem avisar, mas quem levou o susto foi ele.

Descobriu que não tinha vinte e nove, tinha trinta e quatro, e que seu aniversário não era aquele dia.

Dona Socorro contou tudinho com a maior sinceridade. Esqueceu de registrar o menino, passaram-se anos, mais cinco nasceram, e ela acabou perdendo a lembrança do dia exato do seu nascimento.

— Acho que foi lá pro fim do mês, só não me lembro de qual mês — disse. — Se não me engano, você é filho de Seu Tabosa da venda, e como eu fiquei com ele por três anos, de 64 a 67, portanto você nasceu em 65.

— Em 70 não era melhor não, mãe? — pelo menos era o ano da Copa, mas como dona Socorro já tinha tomado oito cervejas, não adiantava perguntar mais nada. Conformou-se.

Desde então procura seu horóscopo em todos os signos e aquele que parecer mais, ele acredita. Muitas vezes dá Sagitário, geralmente. No dia que leu “clima propício para o amor”, conheceu uma moreninha na Central-Rodoviária que despertou seu interesse, parece até mentira.

Montaram casa, compraram colchão, mesa, cadeira, e até almoço ela fazia. Era amor pra duzentos anos, ele dizia. Engano seu. Oito meses depois ela foi-se.

Rodou foi tudo procurando a peste, de casa em casa, de bar em bar, não é que ela já estava com outro? Encontrou os dois na parada de ônibus.

Não tinha a intenção de agredir ninguém, o miserável é que veio pra cima dele.

Fugiu com a ideia concentrada apenas em não ficar louco, coisa que se tornava cada vez mais difícil com aquele inferno na lembrança, a cabeça do miserável na pedra, o sangue correndo e uma velha gritando: “Meu Pai, Nosso Senhor!”. Pra que tanta gritaria?

Esse negócio de complexo de culpa é complicado mesmo, realmente. Ela é que arranjou outro, o outro é que partiu pra cima dele, e quem se arrependeu foi ele próprio, vê se pode, porque o tal do miserável ficou um pouco abaixo do juízo depois de todo o acontecido.

Desse dia pra cá não encontrou mais nenhum dos dois, graças a Deus. Parece que depois ela conheceu um gringo e hoje está pros lados da Alemanha, ou coisa parecida, isso é problema lá dela.

Nunca mais ligou pra mãe, nem arrumou emprego certo, nem quis saber de mulher fixa. Em compensação passou a comemorar seu aniversário todos os dias do ano, de segunda a domingo.

Tomava conta de um carro aqui, arranjava uma coisa ali, vendia lá, deixou o cabelo crescer, voltou a fumar e a beber, tinha um batimento cardíaco triste, até que deu pra conversar com cachorro vira-lata, conversa besta. Não é que o infeliz do cachorro era tão sem esperança que chegou a lhe convencer que a vida não prestava?

Atualmente, Zé tem a impressão de que está com trinta e sete anos completos. Desde abril está no manicômio. Toda noite reza pra São Miguel dos Milagres. Está só esperando.

Quando fala que seu nome é Ramsés Terceiro, comentam que ele é doido.

Fonte:
Adriana Falcão. O Doido da garrafa.

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Ojibwa: Como o Morcego Veio a Ser o Que É)

Nota:
Os ojibwas foram um povo indígena da América do Norte, igualmente divididos entre os Estados Unidos e o Canadá. Habitavam a região a oeste e em volta do lago Superior.
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Há muito tempo atrás, enquanto o sol se levantava pela manhã, ele chegou perto demais da Terra e ficou preso nos galhos mais altos de uma grande árvore.

Quanto mais o Sol tentava escapar mais ele ficava preso. Então, chegou a noite.

Logo, logo, todos as aves e animais notaram. Alguns acordaram, então voltaram a dormir pensando que tinham se enganado e não era hora de levantar.

Outros animais, que amavam a noite, como a pantera e a coruja, estavam realmente contentes porque permanecia escuro, assim ele podiam continuar a caçar.

Mas após um certo período, tanto tempo havia se passado que as aves e animais souberam que havia algo errado.

Ele se reuniram em Conselho na escuridão.

“O Sol se perdeu,” disse a águia.

“Devemos procurar por ele” disse o urso.

Assim, todos os pássaros e animais foram procurar pelo Sol.

Eles olharam em cavernas e nas profundezas da floresta e no topo das montanhas e nos pântanos.

Mas, o Sol não estava lá. Nenhum dos pássaros ou animais pôde encontrá-lo.

Então, um dos animais, um pequeno esquilo marrom teve uma idéia. “Talvez o Sol esteja preso em uma árvore alta,” ele disse.

Então, o pequeno esquilo marrom começou a pular de árvore em árvore, indo cada vez mais para o leste. Enfim, no topo de uma árvore muito alta, ele viu um raio de luz.

Ele escalou e viu que era o Sol. A luz do Sol estava pálida e ele parecia fraco.

“Ajude-me Pequeno Irmão!,” disse o Sol.

O pequeno esquilo marrom chegou mais perto e começou a mastigar os ramos que prendiam o Sol. Quanto mais perto ele chegava, mais quente ficava. Quanto mais galhos ele mastigava, mais brilhante o Sol se tornava.

“Eu tenho de parar agora!” disse o pequeno esquilo marrom. “Meu pelo está queimando. Ele estava ficando todo preto!”

“Ajude-me!,” implorou o Sol. “Não pare agora”

O pequeno esquilo continuou o trabalho, mas o calor do Sol estava muito quente e ele estava muito mais brilhante. “Minha cauda está se queimando!” disse o pequeno esquilo marrom. “Não posso fazer mais que isso!”

“Ajude-me!,” disse o Sol. “Logo eu vou estar livre!”

Assim, o pequeno esquilo marrom continuou a mastigar. Mas a luz do Sol estava brilhante demais agora.

“Estou ficando cego!,” disse o esquilinho. “Preciso parar!”

“Só um pouquinho mais!,” disse o Sol. “Eu estou quase livre!”

Finalmente, o pequeno esquilo marrom soltou o último dos ramos.

Logo que ele fez isso, o Sol se libertou e subiu para o céu.

A escuridão desapareceu sobre a Terra e era dia novamente. Por todo o mundo pássaros e animais ficaram felizes.

Mas, o pequeno esquilo marrom não estava feliz. Ele foi cegado pela claridade do Sol. Sua longa cauda tinha sido queimada até o fim e o que ele tinha de pêlo agora estava preto.

Sua pele tinha se esticado por causa do calor e ele estava suspenso no topo da árvore, incapaz de se mover…

Lá em cima no céu, o Sol olhou e sentiu pena do pequeno esquilo marrom. Ele tinha sofrido muito para salvá-lo.

“Pequeno Irmão,” disse o Sol. “Você me ajudou. Agora, eu vou de dar algo. Há algo que você sempre tenha desejado?”

“Eu sempre quis voar,” disse o pequeno esquilo. “Mas eu estou cego agora, e minha cauda se queimou.”

O Sol sorriu “Pequeno Irmão,” ele disse, “de agora em diante você voará melhor que as aves. Porque você veio tão perto de mim, minha luz sempre estará brilhando para você, e além disso você enxergará no escuro e ouvirá tudo ao seu redor enquanto voa.

“De agora em diante, você dormirá quando eu levantar nos céus e quando eu disser adeus para o mundo, você acordará.”

Então o pequeno animal que uma vez foi um esquilo caiu do galho, esticou suas asas de pele e começou a voar.

Ele não mais sentiu falta de sua cauda e de seu pêlo marrom e ele sabia que quando a noite chegasse novamente, seria sua hora. Ele não mais poderia olhar para o Sol, mas ele reteve a alegria do Sol dentro de seu pequeno coração.

E assim foi, há muito tempo atrás, o Sol mostrou sua gratidão para o pequeno esquilo marrom, que  não era mais um esquilo, mas o primeiro de todos os morcegos.

fonte:
http://www.firstpeople.us/FP-Html-Legends/HowTheBatCameToBe-Ojibwa.html
Texto em português http://casadecha.wordpress.com

Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 1

SIMONE BORBA PINHEIRO
Vamos salvar a Amazônia


No coração do mundo,
 nas profundezas do centro da terra,
 emerge o mais precioso dos tesouros:
 Uma Floresta Encantada!...

 Os espíritos da floresta, à noite,
 entoam hinos de louvor á sua existência.
 A mata verdejante e misteriosa,
 derrama lágrimas peroladas quando ceifada.

 Aves assustadas tingem o céu de negro.
 Jacarés e vitórias-régias formam lindos tapetes aquáticos.
 E o povo que ali habita, pede socorro,
 bordando anéis de fumaça no céu da mata.

 Pois a floresta, aos poucos, vai desencantando,
 perdendo o brilho, a cor, a vida...
 O homem mau abriu caminho floresta adentro
 empunhando nas mãos a mortal arma
 de lâminas frias e afiadas,
 matando a vida na Floresta Encantada.

 Os seres da floresta pedem socorro.
 Vamos salvar a Amazônia
 da derrubada indiscriminada da mata,
 da matança descabida e gananciosa
 dos animais que ali habitam,
 das doenças do povo da floresta
 que indefesos tombam sem auxílio.

 Rios e igarapés choram lágrimas poluídas.
 É a morte chegando lentamente
 ao coração verde do planeta...
 Uni-vos com braços fortes,
 em brados retumbantes...
 Vamos salvar a Amazônia,
 a Floresta Encantada.
=====================

O Grito da Amazônia
ALBERTO PEYRANO


 Amazônia, mãe amada!
 Grito vital da terra
 Que clama sua grande dor.
 Hoje a onça agonizante
 O rosto do índio lambeu
 E se abraçaram as árvores
 Chorando por teu martírio.
 De Manaus a Porto Velho,
 De Macapá ao Xacurí
 Surge uma voz entre sombras
 Que alerta a Humanidade:
 "Filho, estou dolorida"!
 "Filho meu, cuida de mim"!
 Só a metade consciente
 Dos teus filhos, escutou.
 Só a metade que sente
 Tua tristeza e teu penar.
 A outra metade, arrasa
 Tua riqueza natural.
 A outra metade só escuta
 A música material.
 A noite traz a Lua
 O rio se põe a dormir,
 A selva vela em silêncio
 Esperando o que há por vir...
 Enquanto o índio e a onça,
 Irmãos no sofrer,
 Secam suas lágrimas vãs,
 Abrindo as veias da alma
 E regam teu velho solo
 Com dor, sangue e amor.
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O Sabiá Chorou
ANTONIO CÍCERO DA SILVA


 O sábia tristemente chorou
 A árvore com o seu ninho caiu
 O homem a árvore cerrou
 E contente ainda sorriu.

 O sabiá se entristeceu
 No ninho estavam seus filhos
 Da região se locomoveu
 Emudeceu-se, perdeu seu brilho.

 Lá longe triste a cantar
 Queixava-se muito do homem
 Que a natureza veio a danificar
 Ao que não é dele, o humano consome.

 O sabiá clamava por ajuda
 À mãe natureza
 Que também sofria, quase desnuda
 Ela também, o homem perseguia.

 O sabiá da natureza era membro
 E não prejudicavas a ninguém
 Viviam alegres a contento
 Até serem prejudicadas por alguém...
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Amazônia
ANTÓNIO ZUMAIA


 Um Paraíso verde na terra…
 De múltiplas cores é destino
 e Deus sabe a riqueza que encerra;
 Loucura dos homens… é desatino.

 Mas destruir o que Deus plantou,
 é pecado contra a humanidade;
 As cores lindas que ELE pintou.
 Devastar assim é crueldade.

 Brasil de pérolas carregado;
 Mil cores e amores é tua terra.
 Por isso és dos teus filhos amado,
 na alegria que teu povo encerra.

 O povo que é maravilha a cantar;
 Alegre e corajoso vai lutar.
 Amazônia terra para sonhar,
 foi uma prenda, que Deus lhe quis dar.

 É por isso que o povo Brasileiro,
 o sonho de encantar… Vai preservar!
 Porque o Paraíso, é do mundo inteiro
 e o Brasil… cioso o vai guardar.

 Paraíso de mil ilhas… Encanto!
 São mil caminhos de água a percorrer.
 Contraste de cores, que são o espanto,
 dos felizes… que o podem conhecer.
 Povos que o habitam são felicidade,
 porque a natureza… é a VERDADE.
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Chamas
ARLETE PIEDADE


 Línguas de fogo serpenteantes e gigantescas.
 sobem lambendo copas de árvores impotentes,
 rastejantes se insinuam, titânicas e dantescas,
 consumindo vorazmente, em todas as frentes.

 O descuido criminoso do homem pelo ambiente,
 cruel ganância de ganhos, imediatos e lucrativos,
 o desprezo pelas gerações futuras, são somente,
 alguns dos evidentes e mais falados dos motivos!

 Mas não esqueçam esses covardes incendiários,
 que ainda, mesmo neste mundo, são necessários,
 tempo, oportunidade e do castigo não escaparão...

 pois que se a justiça dos homens é ineficaz e lenta,
 da de Deus, não se livrarão, e na sua alma a tormenta,
 diáriamente, lhe fará desejar a morte, como expiação!

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm