domingo, 24 de novembro de 2013

Nilto Maciel (O Livro Infinito)

MENSAGEM

            Como costumava fazer durante as manhãs de sábado, Antônio Sollos, em pé, folheava livros desde cedo, numa livraria. Nada de praias, bares, visitas a parentes. Buscava novidades e antiguidades. O novo contista, o romancista esquecido, o escritor de sua predileção. Agarrou com unhas e dentes um volume de contos de Kafka. Queria conhecer “Durante a Construção da Grande Muralha da China”. Cheirou o livro, como se fosse um charuto, admirou a capa e se pôs a ler um trecho: “O imperador – assim consta – enviou-te, a ti, a ti que estás só, tu, o súdito lastimável, a minúscula sombra refugiada na mais remota distância diante do sol imperial, exatamente a ti o imperador enviou do leito de morte uma mensagem.” Desde a chegada, não via freguês. Apenas vendedores. Alguma novidade? Muitas, muitas, Seu Sollos. Ouviu vozes de quem entrava na loja. Voltou ao livro: “Aqui ninguém penetra; muito menos com a mensagem de um morto”. As vozes e o arrastar de pés calçados o fizeram levantar a vista. Não conseguiu distinguir de quem eram. Vozes de mulher e homem. Um casal, certamente. Gostou da voz dela. Até lhe lembrava uma voz doce de uns tempos passados. O som dos passos se aproximaram dele. Sondou os arredores. O casal só podia estar do outro lado da estante. Ergueu-se nas pontas dos pés. Viu uma testa robusta, corada, de homem, e uns fios de cabelos quase louros, lindos. Abaixou-se e, pela brecha da prateleira, viu uns lábios rubros que parecia sorrirem para ele. Descontrolado, largou o livro e se pôs a caminhar lentamente pelo estreito corredor. Ao fim dele, virou para a esquerda e parou. A dois ou três metros, avistou o homem de lado, mãos erguidas na direção da prateleira. Só podia ser o marido de Ana. A mulher ao lado dele seria, então, Ana. Não queria revê-la. E se voltou, para atravessar a sala pelo corredor perpendicular àquele em que o casal se achava. Saiu apressado, disposto a fugir. No entanto, antes de alcançar a porta, se viu frente a frente com Ana. Quis sorrir, olhou para os lados, cumprimentou-a com duas palavras, contemplou os olhos dela e saiu da loja.

Fontes:
MACIEL, Nilto. A leste da morte. Editora Bestiário, 2006.
Imagem : Londres/1940 = http://menosumnaestante.com

Folclore da Guatemala (A Lenda de Vanushka, a cigana de Xela)

Se você não foi capaz de dizer, eu realmente gosto de andar em cemitérios de todo o mundo . Eu acho que eles dão-lhe um "in" à cultura que é muito frequentemente negligenciado.

El Calvario Cemitério em Xela, na Guatemala é definitivamente um passeio, se você tiver o tempo. A coisa toda é incrivelmente exuberante e verde com coloridos empilhados, túmulos espalhados pela encosta. Isso tudo é esquecido pelo grande vulcão de Santa Maria e nuvens preguiçosas que pairam em torno dos lados. Um pouco surreal, mas se eu já estivesse colocado no chão, este seria o lugar para estar.

Num sinuoso caminho se depara em uma enseada escondida com um túmulo muito bizarro, velho com centenas de flores espalhadas e mensagens de todos os tipos rabiscadas no concreto. Ou era um novo tipo de vandalismo ou estávamos perdendo algo muito importante aqui. Andando em torno dos lados da tumba esculpida só para encontrar muito pouco. Nenhuma data. Nenhum sobrenome. Não havia nada além de mensagens pedindo amantes devastados e um nome muito diferente: Vanushka.

Na década de 1920 uma família cigana do Leste Europeu imigrou para a Guatemala e percorreu o campo no circo da família. Uma verdadeira moda de Romeu e Julieta, Vanushka ficou encantada com um senhor na platéia durante uma de suas performances. O jovem cavalheiro, Javier, era de uma família proeminente na área e seguiram com Vanushka e sua bela atuação.

Após o show Javier se encontrou com Vanushka e passaram a noite conversando e andando em volta do terreno do circo. Isto continuou durante o resto da semana e no final, eles confessaram seu amor eterno um ao outro. Não era nenhum segredo em volta do circo que isto estava acontecendo.A família de Javier rapidamente percebeu o que estava acontecendo. Javier recusou-se a sair do lado do Vanushka. Eles estavam apaixonados e ele estava determinado. Num acesso de raiva, seu pai o enviou para a Espanha para terminar de 4 anos de universidade. Com pouca autoridade, Javier teve que sair.

Quando Vanushka na manhã de sua partida se despediu, ela teve de ser arrancada dos braços dele pois seu chaparone se recusou a deixá-lo ficar mais tempo. Ele olhou pela janela e pensou como os próximos 4 anos de sua vida iam ser mais difíceis. Ele não podia esperar para voltar para os braços de Vanushka.

Ao longo das próximas semanas Vanushka definhou. Ela se recusou a dormir ou comer. Uma noite, com uma última lágrima, ela silenciosamente faleceu de um coração despedaçado.

Sua família a enterrou no Cemitério El Calvario, onde seu túmulo pode ser encontrado até hoje.

Diz a lenda que muitos anos depois, uma mulher em uma situação semelhante veio à tumba Vanushka para chorar e desabafar sua tristeza. Pouco depois de sua "conversa" com Vanushka ela estava unida com seu verdadeiro amor. Diz-se que se você deixar flores e uma mensagem de sua tristeza para Vanushka que ela vai reconciliar você com o amor de sua vida.

Há centenas de mensagens escritas em todo o seu túmulo (em vários idiomas) e em cada um você pode sentir uma pontaa de tristeza.

A história de Vanushka tornou-se entrelaçada com a cultura local.

Se você quiser ver o túmulo é um pouquinho escondido. Ao entrar no cemitério, se deve ser a sua primeira à esquerda para um pequeno beco. É um pouco difícil de encontrar, mas eu tenho certeza que se você perguntar a alguém que será capaz de apontar na direção certa.

Fontes:
http://overyonderlust.com/the-legend-of-vanushka/
http://www.caravanacigana.com/2013/03/a-lenda-de-vanushka-cigana-de-xela-na.html

Braga Montenegro (Suspeita)

vedi, caro, che si guadagna a chieder certi prechè? Ti bagni i piedi.
Pirandello (Mattia Pascal)

                 O olhar da doente percorreu em volta o quarto e fixou-se, por fim, cansado e cheio de angústia, sobre um rosto amarrotado de vigílias e de cuidados, que ao lado do leito velava infatigavelmente.

                – Estou suando... Que horas são?

                – É tarde. Madrugada... bem três horas. Acalme-se.

                – Preciso mudar de roupa. Estou suada, com frio... (Não seria o delírio?!)

                João Vieira palpou o braço que a mulher lhe estendia. A pele mirrada por tantos dias de doença estava umedecida de suor. Depois lhe passou a mão pela fronte, levantando o cabelo aparado sob o capacete de borracha. Há dezoito dias consecutivos que a febre queimava aquele corpo dolorido, a despeito dos sacos de gelo, das injeções e dos médicos. Os médicos! Cada um que chegava receitava novos remédios: “Vamos ver.” Ao cabo de alguns dias, a uma sua interrogação mais aflita, respondiam com evasivas: “Pode ser... o caso é grave...” E maior lhe ficava no peito o desespero, a sensação tremenda do irremediável.

                – É. Está molhada de suor. Quer trocar a camisa?... Vou chamar alguém. – Marchou para a porta e logo voltou-se, mudando de resolução. Abriu o camiseiro e tirou, dentre o desalinho de uma gaveta atulhada, algumas peças de roupa.

                Suspendeu com cuidado o corpo desfalecido, amparou a cabeça e as costas doentes com o braço esquerdo e foi de leve despindo-a. “Coitadinha; pele e ossos!” Sentiu lágrimas nos olhos. “Coitadinha!” Mudou todos os panos da cama, devagarinho, com muito jeito para não magoá-la, entre os gemidos dela e as suas lágrimas de piedade. “Coitadinha... os médicos já não têm mais esperança!...”

                – Está melhor? – Não esperou resposta. – Vamos tomar a temperatura... – Houve um silêncio repleto de ansiedade. – Que?! 36 graus e dois décimos! A febre cedera; ficaria boa... Retirou o gelo. Ah! Se não fosse mais preciso! Inquietava-o, todavia, aquela prostração, aquele acabamento. Estava muito fraca. Até que ficasse restabelecida demandava tempo... Felizmente a febre passara. Chegou-se muito a ela e falou carinhosamente, os lábios bem próximos às suas faces muito brancas e enceradas – a caveira desenhando-se-lhe sob a pele encolhida:

                – Meu bem, agora você vai ficar boa... Como você se sente? Está melhorzinha? Procure dormir; a febre já passou.

                Ela nada respondeu, de pálpebras cerradas, como numa vertigem. O suor escorria-lhe nas frontes, no pescoço, no corpo todo, molhando mais roupas que ele não se cansava de mudar. De repente, ela estremeceu como num arrepio de frio, abriu muito os olhos e, brando, tocou com os dedos vacilantes no rosto dele, que se lhe inclinava por cima do busto.

                – Querido... eu vou morrer. Estou gelada... os pés... É melhor, João. Tanto tempo... e depois!... Mas eu te amo, querido... Muito! Perdoa a tua mulherzinha, meu bem. (Estaria delirando?!) – Chegou mais o ouvido à boca que pronunciava aquelas palavras confusas e dolorosas. – Eu te enganei, João. Adoeci, vou morrer... É para nosso bem. De que servia eu viver dessa maneira?... Perdoa... Amo-te muito! Muito!

                Num gesto rápido, deixou as mãos se abaterem sobre os lençóis, repuxando-os com os dedos crispados. Abriu a boca duas vezes, e na sua fisionomia passou como que um retalho levíssimo de gaze...

                – Fale, fale... Diga mais alguma cousa!... Ande, diga mais alguma cousa!... Diga que está mentindo, meu bem!...

                A manhã se insinuava, fria e triste, através das vidraças e por entre as frestas dos postigos, enchendo o quarto, vinha do jardim o cheiro ativo dos bogaris e resedás.
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                 Do enterro se encarregara um cunhado de João Vieira. – Cousa que não ficasse muito cara, que não podia; segunda ou mesmo terceira classe.

                Logo às primeiras horas da tarde, a casa começou a se encher de gente; vizinhos, parentes da morta, amigos, curiosos. Vagava por todos os aposentos um cheiro horroroso de flores, de mistura com desinfetantes e fumaça de velas. João observava todo aquele movimento, aquela verdadeira balbúrdia, com ar distante. Cousa esquisita: a presença da esposa, ali, emudecida para sempre, pouca sensação de desgosto lhe trazia. Estava atordoado, quase insensível. As palavras dela pouco antes de morrer (seria o delírio?!) e a morte afinal, que nos primeiros momentos tanta amargura e tantas lágrimas lhe custaram, eram para ele, agora, como um entorpecimento: uma sensação muito desagradável porém não dolorosa. E o seu espírito divagava, fixava-se em cousas indistintas, abstraindo-se, quase completamente, da tragédia que o vitimava.

                A imaginação o levava ao sertão distante onde nascera, à fazenda dos pais já velhos e cada vez mais apegados à terra onde sempre viveram. Lembrava-se dos irmãos, homens broncos e generosos como crianças, que por lá se casaram e se encheram de filhos. Ele, nem filhos tivera! Sentia-se como uma ovelha desgarrada. Logo em pequeno, botaram-no num colégio de religiosos de sua cidade sertaneja; depois viera para a capital estudar e arranjar emprego... Por que não ficara com os seus, a viver suavemente como eles, sem grandes alegrias nem grandes tristezas? Mas era assim... diferente, como se nunca tivesse família.

                Um automóvel, parando à porta, tirou-o de seus devaneios. Logo mais chegaram outros carros e deles saltaram indivíduos circunspectos metidos em roupas escuras; gente, talvez, da amizade do sogro, gente que ele nem conhecia. Via sujeitos de caras compungidas – caras de profissionais de solenidades – chegarem-se a ele, tocarem-lhe o ombro e murmurarem palavras titubeantes de sentimento e tristeza. Via-os, depois, formarem grupos pelos cantos e na calçada, em conversações amistosas, alegres...

                Afinal, o enterro saiu. Em breve a casa estava vazia.

                Quando ficou só, tomou-o uma piedade imensa por si mesmo e chorou perdidamente.
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                 Ao voltar para o trabalho já se havia celebrado a missa de sétimo dia. Tinha ido à igreja; não porque fosse religioso... Fora. O que diria a família da finada se ele não comparecesse àquele “ato de caridade cristã”, como diziam os avisos fúnebres dos jornais? Seria uma indelicadeza... Embora tivesse de suportar as mesmas caras compungidas e falsas do dia do enterro. Era preferível à censura (“eu não esperava isto de sua parte!”) dos parentes afins, às perguntas capciosas dos colegas: – “Vieira, você nem foi à missa... Estava doente? Eu estive lá. Por que você não foi?...” Sabiam que ele não frequentava a igreja, que não estivera doente, mas gozavam a sádica maldadezinha dissimulada nas dobras de falso interesse.

                Fora. Isto o fizera sofrer. Desejara cuspir na face de toda aquela gente ridícula que pretendia fazer dele um instrumento para a sua piedade de circunstância e de mentira. Estúpidos que não percebiam sequer a dor que o magoava!...

                Entrou no escritório mais cedo do que a hora regulamentar. Lá estavam apenas o Gerente, os contínuos e um ou outro funcionário mais zeloso. Sentia-se verdadeiramente desambientado. Tinha de esperar o colega que o substituíra na ausência. Aquilo não devia estar muito em ordem. Derreou o paletó pelos ombros fatigados e pendurou-o no cabide ao lado da carteira. Pensou na maçada que iria sofrer do Subgerente quando tivesse de acertar com ele as suas faltas: parte deveria ser convertida em férias e do restante que iriam fazer? Ele bem precisava que elas fossem abonadas. Seria um ótimo auxílio. Qual! Não pensasse ele nisso. Bando de somíticos!... – “Não podemos, seu Vieira; os lucros têm sido poucos; o senhor é um bom auxiliar; creia que temos boa vontade...” Ele que se lixasse! Que iria fazer sem dinheiro para tanta despesa? As contas das farmácias e dos médicos eram grandes, sem dúvida. Não cogitara ainda de nada. Sabia que não tomaria pé. Era um desgosto ver as dívidas enormes e ele sem ter donde tirar. – Doutor, faça um abatimento. E o médico, afetando generosidade: – “Está bem, vinte pro cento, é preço que não faço para ninguém. Sai a visita a menos de quinze mil réis. Acho que não é muito sacrifício; o senhor é bem colocado...”

                Bem colocado! Um conto de réis mensal de nada vale. As contas eram grandes... Possuía os móveis, mas desses pouco conseguiria apurar porque ainda não fizera um ano de comprados e havia a liquidar algumas prestações. Sobrariam, talvez, uns dois contos. Isto num cálculo otimista. Que valia em comparação ao que tinha de pagar? O aluguel da casa estava atrasado de dois meses. Só aí quinhentos mil réis! E a mercearia? E a luz? Até à lavadeira devia. Estava inteiramente descontrolado.

                Soaram oito horas no velho relógio que se prendia à parede, lisa e manchada de bolor, entre dois retratos de sujeitos graves abotoados até o queixo. Já por todo o escritório se fazia ouvir o matraquear enervante das máquinas de escrever, e o Subgerente, passeando de um lado para o outro, exercia rigorosa fiscalização pelas carteiras e sobre os empregados. Recebia o serviço que o colega lhe passava com muitas explicações e algumas desculpas. Em breve, a atenção presa à tarefa, esquecia as suas infelicidades.
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                À noite, só no quarto (alugara um quarto num sexto andar, onde morava desde que enviuvara), assaltavam-no pensamentos cruéis, dúvidas terríveis. Voltavam-lhe à ideia as palavras da morta. Há quantos dias aquilo o atormentava! Por que não deixar ficar no rol das cousas extintas, desaparecidas para sempre, já que o motivo de tudo cessara? Embalde procurava dar freio à imaginação exacerbada. A quem ela teria se referido? Desesperava ao imaginar-se ridículo, alguém a considerá-lo um pobre diabo enganado. Evitava os amigos; todo homem que pudesse ter tido qualquer conhecimento com ela... Pensou no Gerente. Abalaram-se-lhe os nervos numa comoção mais forte. Lembrava-se de um dia em que a mulher o fora procurar no trabalho, e o Gerente, muito risonho, pondo à mostra a dentadura magnífica, a atendera solícito, recostando-se ao balcão e palestrando enquanto o contínuo ia chamar o “seu Vieira”. De logo, achava absurdo o que imaginara: não, não podia ser... Um rapaz distinto, muito delicado com os auxiliares, de hábitos morigerados... O Subgerente, sim, era um peste; mesquinho até com o que não lhe pertencia. Mas não se tratava deste, certamente, que já era velhusco e de aspecto bastante ridículo e singular, sempre metido numa vestimenta de pano e feitio de segunda ordem. Não se trataria certamente de nenhum dos seus colegas... De quem?

                Esforçava-se para afastar de si essa obsessão que lhe ia consumindo aos poucos as energias, envolvendo-o irremissivelmente. “Talvez não tenha havido cousa alguma, racionava, tenha sido apenas uma tentação, um desejo como tantos que se nos apresentam na vida mas que repelimos imediatamente. É assim... A consciência reprova a intenção desonesta, sobrevindo o remorso de uma falta que não cometemos, pelo simples fato de nos julgarmos capazes de cometê-la. Subconscientemente, o delírio traiu-a. foi, foi só isto mesmo... muito complicado, mas assim...”

                Estes solilóquios tomavam-lhe horas inteiras. Pesava os prós e os contras, procurava reconstituir fatos, circunstâncias, contradições. O passado lhe aparecia como numa névoa, através da exaltação que o possuía. Só lhe vinham à memória os momentos felizes de enleio amoroso. Encontrara na companheira o amigo único que constantemente desejara. Era um tímido e um orgulhoso, por isso nunca fizera, jamais faria amigos. Criara em torno de sua pessoa um círculo refratário onde se apagavam todas as expansões, todas as simpatias. A mulher compreendera isto muito bem. Suprira toda a sua necessidade de afeto. Como poderia supor-se enganado por ela?... Amara-a com uma paixão tão sadia que se, como acontecera algumas vezes, a procurava à noite, sob a excitação de um sonho erótico, sofria depois remorsos como se tivesse cometido uma prevaricação.

                A essa evocação sensual e íntima, sofria até ao desespero. Doía-lhe pensar que alguém, quando ele se ausentava para o trabalho, entrasse ocultamente em sua casa ou que a mulher frequentasse lugares suspeitos, para consentir a outrem a posse, mesmo que fosse o espetáculo, do seu corpo branco e perfeito. Rememorava com tal veemência os encantos da companheira, que era como se a tivesse ali, bem junto, numa presença querida e desejada. “Via”-lhe os seios redondos e acentuadamente convexos, a pele morna e perfumada, o rosto bonito onde os olhos se enlanguesciam grandes e negros; “ouvia” a sua fala, o rumor dos seus beijos; “sentia” a carícia violenta dos seus abraços... e chorava de despeito, infeliz como uma criança batida.

                João Vieira atravessou a rua e, ao subir o passeio, de distraído que ia, abalroou com um sujeito de óculos que, à beira da calçada, lia um jornal. O choque, nas circunstâncias por que se deu, foi mais desastroso que violento. Os óculos do homenzinho se lhe despregaram do rosto e, antes que os tivesse salvos entre os dedos, houve uma série de gestos rápidos e atabalhoados, de que lhe resultou a queda do chapéu, do jornal e de alguns níqueis que se espalharam pelo calçamento.

                – O senhor vem cego?... – berrou furioso.

                – Desculpe, cavalheiro – fez João Vieira, um tanto vexado ao perceber a irritação, os cabelos revoltos, a gravata amarrotada de seu interlocutor.

                – Desculpe, cousa nenhuma... seu estúpido!

                – Já lhe pedi desculpas, meu amigo e já lhe disse que não foi por gosto... Então, entenda como quiser!... – respondeu energicamente.

                – Parece que vem doido! – ainda disse o outro, batendo na palma da mão o feltro empoeirado do chapéu.

                João Vieira, percebendo que o incidente degenerava numa discussão inútil e ridícula, afastou-se com o coração batendo de excitação. “Só a mim isto acontece; que cousa irritante!...” disse consigo.

                Procurou um banco no jardim para descansar e ler um pouco. Mas não pôde fixar a atenção na leitura. Contemplou, através da reduzida iluminação, o céu enluarado e macio. Lá estavam as constelações de que ele nada sabia quando era pequeno e dava-lhes nomes poéticos: Sete-estrelo, as Três-Marias, os Três-Reis, o Cruzeiro, o Rosário, como toda a gente da sua terra sertaneja. Assim ficou muito tempo, gozando a frescura do vento noturno que lhe afagava as faces e apaziguava o espírito. Uma doçura imensa lhe penetrou os nervos, encheu-lhe a alma.

                No relógio da praça bateram nove badaladas. Tinha de ir ao quarto. Decidira fazer uma arrumação em regra nas suas cousas, que ainda não haviam tomado lugares definitivos. Levantou-se e saiu assobiando, baixinho, uma melodia predileta.

                Entre os móveis que trouxera de casa para o quarto havia uma pequena escrivaninha encimada de uma estante, e que era de uso da esposa. Esse móvel tinha duas gavetas e uma delas estava trancada, cousa que somente agora notava. Procurou nos escaninhos, dentro da outra gaveta, por toda a parte, nas outras peças, a chave que desse ali.

                Nada.

                Ocorreu-lhe, então, uma suspeita cruel: quem diria se aí não estava a prova de tudo? Febrilmente, com o auxílio de uma espátula de metal, machucando os dedos, forçou a tábua. Abriu. Percebeu, de logo, um maço de cartas amarrado com um torçal de seda. Rompeu o amarrilho e uma onda de perfume o envolveu. Quanta recordação! O perfume que sempre usara quando noivo e de que as suas cartas estavam impregnadas. Curioso até à agonia e um tanto ressabiado de nada ter encontrado que lhe confirmasse as suspeitas, prosseguiu na busca, mais nervoso, com o coração a esmurrar-lhe o peito, dolorosamente. Procurava uma prova, queria a certeza, mas quanto horror sentia de encontrar essa prova, de ter essa certeza! Tinha, agora, um livro entre as mãos. Lia-se-lhe na capa, em letras douradas: “Diário de A...”

                Folheou algumas páginas escritas com letra miúda e vulgar, numa linguagem ingênua, às vezes preciosa. “O bom gosto não era o seu forte...” – pensou. Premiu o livro entre o polegar e o índex e as folhas escorregaram céleres, até que viu o seu nome e parou recomeçando a leitura:

                “3 de março – Papai nem mamãe querem que eu me case com João, mas que hei de fazer, se o amo?” A nota era longa. Enterneceu-se. Umedeceram-se-lhe os olhos e reprimiu um soluço que se lhe quebrou na garganta. Passou adiante:

                “24 de dezembro – Afinal, casei-me. Hoje, véspera de Natal – parece um sonho! – estou a sós com o homem que amo...” Este registro seguia; sóbrio às vezes, piegas quase sempre, todavia de uma grande sinceridade e pleno de recordações agradáveis.

                Leu outras páginas. Todas revelavam a história de sua ternura, de seu pobre amor interrompido... continuou lendo:

                “6 de julho – ... quem me dera um filho!”

                “12 de julho – O dia está muito quente. Sinto-me fatigada e só. Aborreço-me. A leitura me enfada e o tédio me possui... Não tenho um filho. Por que João não está a meu lado? O movimento da rua me enerva, provoca-me gritos que reprimo com receio de enlouquecer. Para qualquer lado que me volte encontro o vazio. Vou chorar. Estou me tornando tola...”

                “25 de julho – ... e ele me persegue por toda a parte onde vou... Sinto os seus olhares lúbricos sobre mim, às vezes com tal persistência que me imagino nua. Já não sei com que força estou resistindo. Que será de mim?!”

                “26 de julho – Só a meu marido amo. Disto estou certa... Contudo sei que não posso fugir à opressiva sensualidade que dele me vem... Tenho medo, mas me aproximo desejosa... As minhas resistências diminuem... diminuem...”

                “30 de julho – Estou como se fora a mariposa em torno da luz. Por que João não me salva?... Mas como poderia ele fazer alguma cousa em meu benefício, se não percebe a miséria em que estou envolvida, se eu sou pusilânime e nada lhe confesso para que ele me salve, para que ele me guarde?”
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                “29 de agosto – Estou doente; tenho febre. Ah! Se eu morresse!”

                Rasgou, uma por uma, as folhas do Diário e, riscando um fósforo, queimou-as todas. Tirou o paletó do cabide, vestiu-o, aprumou o chapéu na cabeça. Ao sair, encontrou o zelador do prédio, metido numa camisa de listras horizontais, a se balançar no seu andar compassado de símio.

                – Boa noite, meu patrão; para onde ainda vai assim a estas horas? – fez o moleque piscando um olho, malicioso.

 (Braga Montenegro, Uma Chama ao Vento, 2ª ed. Fortaleza, Edições UFC, 1980)

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) O Grupo Clã – Braga Montenegro

Na opinião de Sânzio, “o conto moderno só irá consolidar-se definitivamente em nossa terra com o chamado Grupo Clã, já na década de 40”.

O surgimento do Grupo Clã e sua revista (as Edições Clã se iniciam em 1943) traz a lume uma plêiade de novos contistas, entre eles Braga Montenegro, Moreira Campos, Fran Martins, Eduardo Campos, Artur Eduardo Benevides e outros. Em fevereiro de 1948, sob a direção de Fran Martins, saiu o número 1 da Revista Clã. Primeiramente patrocinada pelos próprios autores, passou a ser publicada pela Imprensa Universitária. Teve trinta números (do zero ao 29).

O termo Clã vem, a priori, de Clube de Literatura e Arte – Cla. Posteriormente, a agremiação passou a se chamar Clube de Literatura e Arte Moderna – com sigla Clam que passou a se grifar como Clã. Assim o grupo ficou conhecido até a sua extinção, no final da década de 80. “Procurando recuperar a funcionalidade da arte e empreendendo um constante esforço para sua reintegração com a vida, o Grupo Clã veio trazer a definitiva implantação do Modernismo no Ceará. A agremiação surgiu, portanto, quando já havia passado a fase primitiva do Modernismo e entravam os escritores em outra fase, chamada por alguns de construtivista. Despontava, portanto, a geração de 45, quando o Grupo Clã, já com alguns livros publicados, começou a projetar-se”, explica a professora Vera Moraes, autora do livro Clã: trajetórias do modernismo em revista.

Observa Sânzio de Azevedo em Literatura Cearense (p. 428): “A nosso ver, o Grupo vai adquirir maior coesão por volta de 1946. Além de nesse ano serem editados nada menos de quatro importantes livros de seus componentes (Noite Feliz, Fran Martins, Face Iluminada, Eduardo Campos, Roteiro  de Eça de Queirós, Stênio Lopes, Os Hóspedes, Aluízio Medeiros, Antônio Girão Barroso, Artur Eduardo Benevides e Otacílio Colares), ocorre o lançamento, em dezembro, do número zero da revista Clã, sob a direção de Antônio Girão Barroso, Aluízio Medeiros e João Clímaco Bezerra.”

Poetas e romancistas desse período que também escreveram composições ficcionais curtas são Alba Valdez, Aluízio Medeiros, Angélica Coelho, Antônio Girão Barroso, Assis Memória, Cândida Galeno (Nenzinha Galeno), Carlos Cavalcante (Caio Cid), Carlyle Martins, Edigar de Alencar, Elizabeth Barbosa Monteiro, Florival Seraine, F. Magalhães Martins, Geraldina do Amaral, Hilda Gouveia de Oliveira, Jáder de Carvalho, Jandira Carvalho, João Clímaco Bezerra, João Jacques, João Otávio Lobo, José Maia, José Stênio Lopes, Lauro Ruiz de Andrade, Margarida Saboia de Carvalho, Martins d’Alvarez, Miguel Newton Arraes, Milton Dias, Mozart Firmeza, Nívea Leite, Nonato de Brito, Otília Franklin, Paulo Aragão, Raimundo Amora Maciel, Sinval Sá e Yaco Fernandes.

E ainda Antônio Marrocos de Araújo, Elcias Lopes, Hélder de Queirós Lima, Jairo Martins Bastos, Maria Luísa de Queirós, Mário Alcântara, Melo Lima, Miguel Newton de Alencar e Nieddy Frederick.

                De todos os nomes deste período, somente um pode ser chamado de contista por excelência ou por natureza – Moreira Campos. Outros foram mais poetas ou mais romancistas. E isto não é apenas uma opinião, é uma constatação. Vejam-se os estudos, as teses, as monografias, os ensaios de história da literatura, as enciclopédias – em todos eles, quando o assunto é conto, o primeiro nome cearense é o de Moreira Campos.

Braga Montenegro

Joaquim Braga Montenegro (Maranguape, 1907- Buenos Aires, Argentina, 1979), mais conhecido como “crítico de primeira plana, ensaísta agudo e sensível”, no dizer de Herman Lima, estreou com Uma Chama ao Vento (contos, 1946), reeditado em 1980 pelas Edições UFC, seguindo-se, em 1976, As Viagens e Outras Ficções, (novelas e contos), mais uma seleção dos Contos Derradeiros, até então inéditos em livro. Em Uma Antologia do Conto Cearense esteve presente com “Os Demônios”, editado pela primeira vez em 1959, na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras.

Francisco Carvalho estuda a obra de Braga em “A Inquieta Modernidade de Braga Montenegro”, incluído na 2a. edição de Uma Chama ao Vento e em Exercícios de Literatura. E elucida: “um dos aspectos a destacar em Braga Montenegro é o permanente sentido de universalidade que caracteriza os seus trabalhos de ficção. Universalidade nascida da convicção de que o homem é tudo o que importa. Não o têm seduzido, por isso mesmo, os regionalismos tipificadores, com o seu conhecido cortejo de deformações. Muito embora as raízes espirituais do ficcionista mergulhem fundo nas fontes da literatura europeia, importa assinalar que isso em nada lhe compromete a originalidade, nem lhe desfigura as matrizes do impulso criador. Não menos digna de nota é a verticalidade com que o ficcionista engendra situações no contexto das suas narrativas e com que tece a teia do acaso em que se envolvem os seus personagens. Em nenhuma das novelas e contos do presente volume a atmosfera ficcional vem a ser comprometida pelo simples devaneio formal ou pelo discurso literário inconsequente”. Ao se referir às histórias curtas, o crítico vê nelas “peças de extraordinária expressividade e de considerável beleza literária. A austera poesia dessas páginas como que nos fere a sensibilidade com a sua pungência avassaladora. ‘Os Demônios’, ‘O Hóspede’, ‘O Potrinho Pampa’, ‘Agonia’ e ‘Ansiedade’ são, inquestionavelmente, documentos que se impõem pela autenticidade e grande beleza literária com que foram realizados”. Destaca também “O Tesouro”.

Os dramas em Braga Montenegro são dos mais variados matizes, sempre relacionados aos “conflitos da alma humana”, como afirma Francisco Carvalho, em “A Inquieta Modernidade de Braga Montenegro”, apresentação da 2a edição de Uma Chama ao Vento. No conto “Uma chama ao vento” se distingue com clareza um conflito amoroso. Tudo gira em torno de três personagens: o narrador, Gertrudes e Maria Luísa. O protagonista ama a prima Gertrudes, desde quando esta tinha apenas treze anos. No entanto, casa-se com Maria Luíza, de quem se separa mais tarde. E este é o núcleo básico do conto. Em “A mulher de Putifar” também se pode ver a psicologia do amor no desenrolar da trama.

Em “O vento, o desejo e o rio”, classificado como novela, reaparece o drama amoroso, embora apenas na cabeça do protagonista, o imediato do navio onde o conflito se desenrola. Na verdade a trama não se realiza em relação aos demais personagens. Pode-se dizer até que o embate amoroso é secundário. O episódio central seria a tempestade: o vento e o rio do título. A narrativa é dividida em diversas ações e todas elas compostas de narrações e falas. Na primeira se veem a cabina do comandante, a proa, o convés, os balaústres da amurada, a casa de leme, etc. No primeiro bloco (“passados momentos”) o comandante aparece à frente da ação, como se fosse o protagonista. Segue-se breve descrição da paisagem amazônica e logo se narram ações dos seres do rio, da natureza e dos homens: “uma piraíba saltou”, “o sol coloria de rubro”, “se abria em leque”, “sacudindo as canaranas”, “reboando nas ravinas”, “inundando as praias”. Sucedem-se diversas pequenas ações com algumas falas e diálogos. Surge a personagem que irá impressionar o protagonista, madame Muñoz. O início da tempestade se dá na segunda metade da narrativa. As falas demonstram nervosismo dos personagens mais para o final da história, quando a ventania “desatava-se aos borbotões”, (…) “uma vaga imensa assomou pela proa” (…), “o navio embicou” (…), “sacudindo todo”. E a novela chega ao final sem desfecho.

O ponto de vista de primeira pessoa, sempre protagonista, nos contos de Braga Montenegro, está presente em “Uma chama ao vento”. O narrador não se nomeia e ao longo na narração ora faz evocações, ora se volta para o presente. Nas evocações se serve de verbos como “evoco”, “recordo”, “rememoro”, “lembro-me”. Esse passado é o do cabriolé, do engenho de açúcar, dos bondes, dos cafés da Praça do Ferreira, da coluna da hora.

As falas em Braga Montenegro já não trazem os tradicionais: “disse”, “perguntou”, “respondeu”, embora ainda apresente travessões. Em algumas falas há explicações, em continuação à narração: “respondeu com voz trêmula”, “E num esforço, corando da minha fraqueza, acrescentei:”, como se pode ver em “Uma chama ao vento”.

Em “A mulher de Putifar” o ponto de vista é onisciente. O narrador é também onipresente. Os diálogos são curtos, seguidos de narrações mais longas. As falas são literárias, distantes da linguagem oral: “– Advirto-o, não obstante, de que o momento não está para filosofia.” Segundo Francisco Carvalho, “algumas vezes, a estruturação dos diálogos” assume “configurações despropositadamente eruditas”. No entanto, isto releva “um autor extremamente preocupado em preservar a autenticidade e a autonomia psicológica de seus personagens.”

Em “Agonia”, também na terceira pessoa, Braga se vale exclusivamente da narração, com uma ou outra descrição. Cartas dos personagens aparecem em algumas histórias. A narração de um delírio do personagem, no final, é primorosa. Um homem solitário e seu desespero – eis a trama. O desfecho é trágico. Em “Do limiar às fronteiras”, como no primeiro conto, o narrador é o protagonista. Isaías narra pensando, rememorando. Espécie de confissão: “hoje estou só e doente” (…), “não tenho ainda quarenta anos e estou velho”).

O uso do flashback, muitas vezes em monólogo interior, é frequente em Braga, como em “Do limiar às fronteiras” e “O carneirinho de feltro”. A trama da primeira se desenvolve no sertão, numa fazenda, embora nada de sertanejo (linguagem, descrição de ambiente) seja visível. O narrador Isaías ora se volta para o presente, ora para o passado. Para este muito mais. São poucos os momentos em que o narrador se refere ao presente: “estendido na rede armada, no alpendre da fazenda, lanço o olhar pelo pátio” (…), “no oitão, o curral derrama-se pela encosta” (…). O narrador constantemente volta ao passado e só no final regressa ao presente, para o arremate: “vou-me deixando ficar por aqui mesmo”.

As narrativas de Braga Montenegro se localizam ora em Fortaleza, ora no sertão, ora na Amazônia (“O vento, o desejo e o rio”). As cinco novelas de As Viagens apresentam situações relativas àquela região. No primeiro conto a capital do Ceará do início do século XX é o palco maior do embate: “na Praça do Ferreira, um ou outro grupo palestravam nos cafés e, nos bancos dos passeios, boêmios cochilavam. Cotejei o meu relógio com a coluna da hora.” É o tempo dos bondes: “os últimos bondes passavam vazios e apressados”.

As ações dramáticas nas narrativas de Braga se imbricam, embora separadas às vezes por dias. Em “Um conto por cem mil réis” o embate se desenrola em três dias. As ações são narradas com lentidão. Alberto Seixas lia um romance, sentado ao pé da janela: “Há pouco e pouco ia-se tornando escuro”. O narrador amplia o foco de visão: “parou um ônibus na esquina”. Narra o movimento de pessoas na rua, volta-se para a casa onde o conflito se desenrola: no jardim, Venância, a empregada, aguava as roseiras. Mais adiante um diálogo. Motivo: sumiço de cem mil réis. Só então aparece o personagem principal, o menino Paulino. A última ação do sábado é o jantar. Outro bloco de ações se dá no domingo, com mais narrações e diálogos. O drama central toma corpo: Rosinha, a dona da casa, chama Venância para um interrogatório.  No último bloco, na segunda-feira, com o aprisionamento da empregada, o conflito chega ao final, com a confissão do furto praticado pelo garoto.

As histórias de Braga são longas, se comparadas às de outros contistas modernos. Uma de suas características é a ação narrada em seus mínimos detalhes e o diálogo entre uma narração e outra. No mais das vezes seus contos se aproximam da novela. A mais longa narrativa do livro, com 28 páginas, é “O carneirinho de feltro”. Dividido em quatro partes, se inclui no rol das histórias voltadas para os dramas familiares ou domésticos. São apenas três personagens: Manuel, Júlia e o filho pequeno. Como nas demais narrativas, às narrações seguem-se diálogos e às vezes monólogos ou solilóquios. Fortaleza, mais uma vez é o palco maior do conflito, ao tempo do bonde. O narrador se queixa: “cidade tão pequena”. Diferentemente dos outros contos, em “O carneirinho de feltro” há o final feliz, a reconciliação do casal.

Descrições também se veem com frequência na obra de Braga, como quando Manuel se posta diante do casarão do padrinho rico: “duas amplas varandas com soleiras e boiais de mármore; as platibandas altíssimas, encimadas por uma ordem de balaústres vulgares, sob a cornija moldada em alvenaria”. A descrição faz com que o leitor perceba muito mais a angústia do personagem, tão pobre, tão frágil diante de tanta riqueza.

“Suspeita” é um dos menores contos do livro: João Vieira e a esposa moribunda no primeiro ato. No segundo ato, o velório e o enterro. O terceiro ato se dá sete dias depois. No quarto ato o protagonista, só no quarto, se deixa conduzir por solilóquios. No quinto ato, o personagem, agitado, “abalroou com um sujeito de óculos”. Sucede-se diálogo de insultos. O protagonista volta para o quarto, vasculha as gavetas e encontra um diário escrito por sua mulher. Trechos são transcritos na narrativa. O desfecho é enigmático: João Vieira rasga e queima as folhas do diário. E se retira para a rua. Teria a mulher se relacionado com outro homem? É a “suspeita” do título.

Pelas epígrafes dos contos e novelas, quase todas no original, extraídas de Goethe, James Joyce, Stendhal, Aldous Huxley, Dante, Pirandello, Machado de Assis, livros bíblicos, se pode avaliar o conhecimento literário de Braga Montenegro, que exerceu com mestria a análise crítica de escritores importantes, em obras como Correio Retardado. Essa bagagem terá propiciado a ele a elaboração de narrativas com a preocupação do novo, do essencial, do mais importante no conto e na novela.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

Convite do Clube Literário Marconi Montoli (Sessão Solene)

Data: 07/12/2013

Local: Emart
Pça. Rubens Dalariva c/ Rua Treze de Maio - centro - Formiga - MG

Programação:

Solenidade de Premiação aos classificados no Concurso Literário 2º Troféu Formiga de Letras;

Pré-Lançamento do Concurso Literário 3º Troféu Formiga de Letras; Lançamento do 5º Ípsis Lítteris Revista Literária Jovem do CLMM;

Sarau Poético Luna Prata

Confraternização de Fim de Ano.

Contamos com sua especial presença!

Fonte:
Paulo José (Pajo)
Presidente do Clube Literário Marconi Montoli - CLMM

Carolina Ramos (Caderno de Trovas)


Adeus, filho, segue a vida...
Volta um dia, sem promessa...
que a primeira despedida
no ventre da mãe começa!

A grande, a maior vitória
que até hoje consegui,
foi remover da memória
as batalhas que perdi.

Alforriada, ela passa
gingando frente ao feitor
e o dengo de sua raça
faz dele escravo do amor!

Alforria... e a voz dos bravos
se erga, potente, entre as massas,
negando criar escravos
de um ódio cruel entre raças.

Alforria... ela desperta
tendo ao rosto um novo brilho,
não lhe importa estar liberta,
mas, ver liberto o seu filho!

Alforria... que mentira!
pensa o negro velho a rir...
- seu braço tanto servira,
que apenas crê no servir...

A liberdade germina
quando um povo pulsa e anseia,
qual semente pequenina
que rasga o solo e se alteia!

A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...

Angústia, imensa, dorida,
pior que a dor de morrer,
é não ter apego à vida
e ser forçado a viver…

Ante a força intransigente,
para o caos a paz resvala...
- Deus, deste alma a tanta gente
que nem sabe como usá-la!

Ante a lua, o mar se alteia,
tenta alcança-la na altura,
mas é nos braços da areia,
que encontra a paz que procura!...

Ante os dilemas da vida,
embora ilusões destrua,
à mentira bem vestida,
prefiro a verdade nua!

A pele negra retrata
a dor de uma triste saga,
pois o estigma d chibata
nem mesmo a alforria apaga!

A penumbra da saudade
torna os meus dias tristonhos
e eu bendigo a claridade
das estrelas dos meus sonhos!

As bandeiras desfraldadas..,
O povo em vai-vem nas ruas...
e as esperanças sonhadas
são  minhas... e também  tuas!

A sós, na penumbra doce...
Neste agora sem depois,
é como se o mundo fosse
um mundo só de nós dois!...

A verdadeira alforria
é aquela que estende as mãos,
unindo em plena harmonia
branco e negro, como irmãos.

Bendigo o dom da poesia:
- num mundo de tais perigos,
deu-me a serena alegria
de achar um mundo de amigos!

Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
- É gato? - Não... é mulher!

Boneca sem cor, partida...
uma bola abandonada...
- Saudade mostrando à vida
quanto vale um quase nada!

Buscá-la cansa, é verdade...
mas a vida nos ensina:
- Se queres felicidade,
olha a seta...só lá em cima!

Choram as mães... Alforria!
e os negrinhos, assustados,
não sabem que uma alegria
também faz olhos molhados!

Como é fútil e tamanha
a soberba dos ateus...
Seixos ao pé da montanha,
negando a montanha – Deus!

Como pode haver poesia
nos rumos da humanidade,
se tarda tanto esse dia
da paz ser PAZ de verdade?

Creio num Ser superior,
num Deus-Pai e creio, sim,
na eternidade do Amor
que nem a morte põe fim!

Das cores, qual a mais bela?
- "A negra" - diz o ceguinho...
"pois, dentre todas, é aquela
que eu vejo no meu caminho."

Dessa cruel liberdade
de ofender, há quem abuse
a esquecer de que a verdade
um dia talvez o acuse!

Deu a tantos seu carinho
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!

Ele chega de mansinho,
velho cão ressabiado...
mas, se conquista um carinho,
nos dá carinho dobrado!

Ele mente e se arrebata
com tal veemência e desplante,
que, se um besouro ele mata,
vira o besouro elefante!

Embora sozinha eu siga
e sigas também a sós,
dentro do amor que nos liga
não há distância entre nós!

Enquanto a vida nos cansa,
o poeta, fugindo ao chão,
vai procurar a esperança
entre as nuvens de algodão!

É possível que aconteça:
Seja folclore ou novela,
tanta gente sem cabeça...
por que não mula... sem ela?

Esse que vive algemado
às paixões, odiando a esmo,
mesmo sendo alforriado,
segue escravo de si mesmo!

Esta penumbra... Este frio,
este agora sem porquê...
Este silêncio vazio
é o meu mundo sem você!

Filho, a montanha da vida,
escala devagarinho,
que há muita flor escondida
entre as pedras do caminho!

Foi Mestre. Sábio! Hoje em dia,
na humildade e de olhos baços,
esquece a sabedoria
e um tolo lhe guia os passos!

Guarda sempre esta mensagem
da própria vida que diz:
- é feliz, quem tem coragem
de acreditar que é feliz!

Há contraste em nossas vidas
mas, perfeito é o desempenho:
luz e sombra, quando unidas,
dão força e vida ao desenho…

Há vidas que se parecem
com as roseiras viçosas:
quando podadas, mais crescem
e mais se cobrem de rosas!

Já velhinho, sonha ainda,
mantendo o brilho no olhar,
que a juventude só finda,
quando é impossível sonhar!

Lembrando a ternura antiga,
minha saudade se exalta...
- Bendigo a penumbra amiga
que me esconde a tua falta!

Liberdade de calar
todos têm, mas, cuida, pois,
ser livre é poder falar
e seguir livre depois!

Liberdade, em termos sãos,
vale mais se, humildemente,
podendo retê-la em mãos,
nós a damos de presente!

Liberdade é o grande anelo!
Na mansão, casebre ou ninho,
é o cobiçado castelo
quer do rico ou pobrezinho!

Mente com tal propriedade,
que ao mentir jamais hesita
e quando diz a verdade,
nem ele mesmo acredita.

Mesmo descendo a montanha,
não temo abismos do mundo;
- quando a Fé nos acompanha,
pode haver flores no fundo!

Não prolongues a partida...
Vai... não olhes para atrás,
dói bem mais a despedida,
quão mais longa ela se faz!

Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas,
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.

Na penumbra, o berço é um templo,
ajoelho e em ternura enorme,
entre rendas eu contemplo
meu pequeno deus que dorme!

Não se queixa de ser pobre,
quem, no seu modesto lar,
trabalha e feliz descobre
que é livre para sonhar!

Na vida, a luta não cessa
em prol do sonho e do pão
e a liberdade começa
onde acaba a servidão!

Na vida, quanta maldade
não punida, se repete!
E, em nome da liberdade,
quantos crimes se comete!

No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
se estás longe, ele se arrasta;
se perto, corre demais!

No claro-escuro da vida,
fusão de alegria e dor,
a penumbra é colorida
se for penumbra de amor!

No Livro da Eternidade,
o herói a expirar, exangue,
a História da Liberdade
escreve com o próprio sangue!

Nosso amor, quadras desfeitas,
de um poema sem achados...
Rimas tristes, imperfeitas,
fechando versos quebrados!...

Nós somos duas tipóias,
somando forças escassas:
- quando eu fracasso, me apóias,
te apoio, quando fracassas!...

O mar da vida parece
que, às vezes, quer me afogar,
mas, Deus, que nunca me esquece,
atira a boia no mar!...

O mar, raivoso, se alteia,
como todos, quer a altura,
mas, é nos braços da areia
que encontra a paz que procura.

O mundo é paisagem triste,
chora o rico e o pobre chora...
- Meu Deus, se a ventura existe,
onde será que ela mora?!

Os ponteiros marcham lento,
mais um ano que se acaba
- pede PAZ meu pensamento,
para um mundo que desaba!

Ouço teus passos serenos
e o meu abraço se expande,
mas sinto os braços pequenos,
para ternura tão grande!

Para os que entregam ao nada
os sonhos que ontem sonharam,
o orgulho é terra pisada
moldando os pés que a pisaram…

Passa o tempo... bem depressa...
a roubar o que nos deu,
e, uma dúvida se expressa:
- passa o tempo... ou passo eu?!

Paz e Amor - eram Seus planos
e por eles deu a vida.
- Mensagem que há dois mil anos
não foi ainda entendida!

Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.

Pobre pássaro!... é de crer
que a prisão não mais suporta
- e vale a pena viver
se a liberdade está morta?!

Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
- Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!

Preso ao tronco, em ais tristonhos,
geme o negro, sem alarde...
- para quem não tem mais sonhos,
a alforria chegou tarde...

Quando a penumbra descia,
a nossa emoção vibrava,
sonhando o que não dizia,
dizendo o que nem sonhava!...

Quem se agarra a uma quimera,
quem persegue uma utopia,
age como se soubera
que sem sonhos... morreria!

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro?

Que o presente se reparta
com o passado, sem queixa...
- A memória não descarta
o que a saudade não deixa!

Queres vencer? - Pensa bem
e não dês passos a esmo,
ninguém pode ser alguém
sem conquistar a si mesmo.

Saltando apenas num pé,
negrinho, maroto e arteiro,
o saci, nada mais é,
que o capeta brasileiro...

Se amigo é o que escuta a queixa,
seca o pranto e ajuda a rir,
mais amigo é o que não deixa
sequer o pranto cair!

Se a ternura nos aquece
e um grande amor nos ampara,
é quando a penumbra desce
que a vida fica mais clara!

Se eu sinto fugir a calma
e até viver me angustia,
eu abro as janelas da alma
e deixo entrar a Poesia!

Segue em frente, com cuidados
que a prudência mal não faz
e os bons passos, ontem dados,
dão mais força aos que hoje dás!..

Sempre acolho de mãos postas
e, humilde, tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar!

Ser livre é também saber
que a liberdade alcançada
faz parte do próprio ser
e não se troca por nada!

Ser mau é fácil...insiste
em ser bom, sempre a lembrar:
- bondade, às vezes, consiste
em ver, ouvir... e calar!...

Sofre e perdoa sem grito,
o mal que de alguém se emana,
que há outro Alguém no Infinito,
maior que a maldade humana!

Sorrindo ao branco menino,
que o negro seio mordia,
mãe preta cumpre o destino,
alheia à própria alforria.

Sussurrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta.

Teu amor... tal força tinha,
que a saudade me conduz
e esta penumbra só minha
ainda é cheia de luz!

Vai-se um dia... Vai-se um mês...
E eu te imploro, sem revolta,
se não regressas de vez,
esta noite, ao menos, volta!

Fonte:
Trova Brasil n. 7- março 2013.

Carolina Ramos (Outros Versos)

Biblioteca Manuel Antonio Pina
RETORNANDO...
DE UMA FESTA POÉTICA


 Obrigada, Senhor, eu Te agradeço
 os dias de emoção que me ofertaste;
 este sol, esta luz, que não tem preço
 e faz do céu azul o seu engaste;

 estes campos viçosos que se estendem
 numa carícia aos olhos que, cansados,
 buscam repouso e o brilho reacendem
 na veludosa ondulação dos prados.

 Obrigada, Senhor, pela ternura
 colhida em cada gesto, em cada olhar...
 ficou mais bela a minha noite escura
 depois do beijo suave do luar.

 Obrigada, Senhor, muito obrigada,
 pela doce esperança que acarinho
 de que a Poesia, que me abriu a estrada,
 me ajude a reencontrar este caminho!

ANSEIO

 Por mais que em convulsões o mundo trema,
 rumo ao caos que implacável nos atinge...
 Por mais, seja negado o suave lema,
 Paz e Amor, que de sangue hoje se tinge...

 Por mais que o desencanto fel esprema
 nas almas secas de quem já nem finge,
 creio, ainda, num Deus que é Luz suprema,
 e é Sol que aclara o Bem e o Mal restringe!

 Mesmo envolta nas sombras da amargura,
 mesmo que os dias sigam mais tristonhos
 e a vida, cada vez menos segura,

 fujo à incerteza que o momento traz
 e, sempre vivo, a incrementar meu sonho,
 eu guardo o anseio de encontrar a Paz!

 A GRANDE MESTRA

 Não temas que o Destino te atraiçoe
 pondo pedras demais no teu caminho.
 Usa as pedras que acaso ele te doe,
 e, ao construir, não estarás sozinho!

 Se Deus te deu a luz da inteligência
 e o poder de ir e vir em liberdade,
 tens o solo, a semente e, com paciência,
 um dia hás de colher felicidade!

 Não creias, por temor e covardia,
 que só o Destino teu porvir decida!
 - Destino tu constróis, a cada dia!
 E a Gran Mestra da Obra é a própria Vida!

 ENCANTAMENTO

 Como se a luz de um palco se abrandasse
 velada pelas nuances da cortina,
 assim o fim-do-dia inteiro dá-se,
 num cenário de encanto que fascina!

 O sol, como se o leito procurasse,
 reduz o ardor da audácia matutina.
 Um toque de rubor colore a face
 das nuvens com recatos de menina.

 Volta em bando ruidoso o passaredo,
 não é mais dia e não é noite ainda,
 ganham mais vida os galhos do arvoredo!

 A tarde se desfaz... o céu deslumbra...
 e a natureza, cada vez mais linda,
 mergulha, pouco a pouco, na penumbra!

 CONSELHOS DE MÃE

 Meu filho, a vida é dura e fere... e nos magoa...
 mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
 Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
 não permitas que o mal altere o que é verdade!

 Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho,
 sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
 Cada dia que passa é um dia mais risonho,
 quando o amanhã promete as glórias da conquista!

 “Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
 Os caminhos, verás, se abrirão à medida
 que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
 revelar o sentido e o Ideal da tua vida!

 Não temas opressões nem quedas. Persevera!
 Se achares que ao final o saldo não convence,
 reage, continua... a vida tens à espera!
 Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!

ALMA LIBERTA

Ser livre é poder falar e seguir livre depois...

 A paisagem é rude! E triste pobre é o mundo
 onde o sonho fenece à míngua de lugar!
 Onde a Fé e a Esperança habitam caos profundo,
 onde o Amor estertora, exangue a agonizar!

 Olho o ventre da terra, ubérrimo, fecundo,
 a pedir que a semente o venha despertar.
 E vejo a fome rir... levando ao colo imundo
 as vidas que roubou da indigência ou de um lar!

 Clamo! Fechem-me a boca e hei de gritar! Que importa,
 seja selado o vão de minha humilde porta,
 ninguém há de abafar meu grito, meu lamento!

 Clamo! Quebro o silêncio... o vil silêncio imposto!
 - De que serve o mutismo a mascarar meu rosto,
 se tenho a alma liberta e livre o pensamento!?

CÂNTICO DE FÉ

 Manhã de sol, fragrante a maresia!
 A vida a pedir vida, de asa ao vento...
 Cada suspiro alenta o novo dia
 e cada instante vale o novo alento!

 O sonho espera na amplidão vazia...
 E o vazio recua no momento
 em que o Amor se antecipa, na alegria
 de recompor os sonhos em fragmento!

 Ouro jorra do azul. Rebrilha o sol.
 Desdobram-se as alvuras do arrebol
 e em taça cristalina a aurora dá-se!

 O céu é fonte a transbordar de luz!
 E, enquanto a Deus entrego a minha cruz,
 eu bebo Fé nesta manhã que nasce!

SILÊNCIO

 O silêncio sucede à voz da tempestade.
 No silêncio do aroma, inteira dá-se a rosa,
 a oferecer à vida a sua amenidade
 e em silêncio a desfolha a insensatez maldosa!

 Há silêncio no espaço. E densa nebulosa
 guarda estrelas sem conta! A penumbra persuade
 de que se oculta em véus, talvez, porque invejosa
 desses sonhos de luz, de brilho e de verdade!

 Se o silêncio de um beijo, ou tantos que colhemos,
 em transportes de amor, em anseios supremos,
 a vida transformar em pedras contra nós,

 silenciemos, calando a mesquinhez do mundo,
 que não entende a voz do nosso amor profundo,
 nem o amargo e infeliz cansaço de dois sós!

BENDITO SEJA...

 As palavras o tempo apaga e arrasta
 - pétalas soltas, ao sabor do vento...
 O livro é escrínio que resguarda e engasta
 as jóias perenais do pensamento!

 O livro é amigo silencioso. E basta
 que traga em si o gérmen do talento,
 para, banindo a dúvida nefasta,
 mentes clarear e aos sonhos dar alento!

 Bendito o livro que mantém o lume
 do saber, a ajudar a erguer-se um povo
 que na cultura o seu lugar assume!

 Bendito seja quem imita os astros,
 valorizado, a cada instante novo,
 à luz de um livro, que lhe doura os rastros!

SAUDADE

 Roubando idéias sensatas,
 tu queimas, corróis, causticas!...
 Saudade - torturas, matas!
 Mando-te embora mas... ficas!

 Que esta mão, que o verso escreve,
 de minha alma te retire!
 Saudade, a vida é tão breve,
 deixa que eu, livre, respire!

 VI NOS TEUS OLHOS:

 A negação de tudo o que eu sonhara!
 A saciedade, o tédio, a indiferença.
 o desencanto, consequência clara
 da estafa emocional, que o amor dispensa!

 Mentiras, decepções, vi nos teus olhos,
 neles tentando achar sinceridade.
 Vi muita coisa boa entre os escolhos,
 porém, não pude ver felicidade!

PRESENÇA

 Tão feminina e triste, minha amiga,
 não queiras com teu jeito amargo e doce,
 instilar-nos no sangue o fel da intriga:
 - basta o suplício que este adeus nos trouxe!

 Nosso amor é tão grande... não periga!
 Ao teste da distância, confirmou-se.
 Deixa que a vida sua estrada siga...
 Nossa estrada, por ora, bifurcou-se.

 Terna, dizes que beijas seus cabelos...
 Eu asseguro que não tenho zelos
 por estares, fiel, sempre ao seu lado:

 - Ora, saudade, não me fazes ciúmes!
 - Ao lado dele, minha forma assumes
 e, junto a mim, tens o seu rosto amado!

CÉU DE AMOR

Bastava o manto azul da fantasia
a oferecer à vida luz e cor...
Bastava uma semente de Poesia
para, de sonhos, um jardim compor!

Bastava acreditar que ainda viria
nos meus braços pulsar um grande amor.
O que nunca, meu Deus, pressentiria,
é que a vida guardasse tanta dor!

E se a angústia aceitei por companheira,
sinto, agora, feliz, por vez primeira,
a doçura de obter, sem pedir nada!

Que importam rumos que o destino assume,
se, sobre mim, há um céu que se resume
nesta glória de amar e ser amada!
1976
(in: Destino, p.64)

SÚPLICA

Dá-me, Senhor, a benção que resume
a certeza de que, crescendo aos poucos,
hei de chegar a ver o excelso lume
- privilégio dos bons, quiçá bem poucos!

Dá-me a graça de olhar, sem ter ciúme,
namorados aos pares, de amor loucos,
da saudade a esquecer o frio gume
e o coração no peito a dar-me socos!

Dá-me ver rosas, mesmo em vaso alheio,
a enfeitar este mundo, às vezes feio
- feio porque o egoísmo assim o quis!

Dá-me um punhado tenro de esperanças...
Dá-me o riso espontâneo das crianças...
- Mais nada eu peço, para ser feliz!
(in: Destino, p.98)

NOVA FRIBURGO

Loira "Princesa da Serra",
das nuvens rasgando o véu!
Indago, serás da terra
ou doce visão do céu?!

Tens glórias de velho burgo,
cobrem-te rendas e galas,
mas, sempre nova, Friburgo,
vive a beijar-te o Bengalas!

Pelas nuvens resguardada,
meio aos penhascos da Serra,
Friburgo és concha encantada,
onde a Poesia se encerra!

Tua chave, hoje, me ofertas!
Isto me faz tua irmã...
e vejo portas abertas,
nesta festiva manhã!

Em troca deste presente
que me dás, Friburgo bela,
minha alma te abro e, contente,
verás que estás dentro dela!

E quando meus olhos ponho
no céu azul, sobre ti...
Não sei, Friburgo, se é sonho...
só sei que o teu céu sorri!!!
(in: Destino, p.186-187)

Fontes:
http://www.avspe.eti.br/avspe2012/CarolinaRamos.htm
RAMOS, Carolina. Destino: poesias. SP: EditorAção, 2011

Carolina Ramos (1929)

Nasceu em Santos, em 1929. Estudou no Colégio São José, onde, além do curso primário e ginasial, fez, também, Secretariado e a Escola Normal. Completou seus estudos formando-se em música e enfermagem.

Trovadora, contista, poeta, santista ilustre, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos por oito anos (2001 a 2007) e é a atual Presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção de Santos.

Carolina pertence a diversas entidades culturais, como

Academia Santista de Letras,
Academia Feminina de Letras
Centro de Expansão Cultural.

Foi agraciada com diversas medalhas de mérito cultural, entre as quais a de "Magnífica Trovadora", em 1973, em Nova Friburgo-RJ, e em Santos, com a Medalha do Sesquicentenário e a Medalha dos Andradas.

Também recebeu diversos títulos, homenagens e prêmios em Portugal e Angola.

Um dos mais importantes foi o Prêmio Rui Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores de São Paulo.

Bibliografia:
"Sempre" (poesias, 1968);
"Cantigas feitas de sonhos" (trovas, 1969);
"Espanha" (poema épico, 1970);
"Rui Ribeiro Couto - Vida e Obra" (bibliografia, 1989);
"Trovas que cantam por mim" (trovas, 1989);
"Espanha" e outros poemas (1992);
"Interlúdio" (contos, 1993);
"Paulo Setúbal - Uma vida/Uma obra" (1994, em co-autoria com Cláudio de Cápua),
Evocação (História da Associação das Ex-Alunas do Colégio São José) em co-autoria com Maria Edith Prata Real;
Feliz Natal (Contos natalinos);
Principe da Trova (biografia);
Saga de uma vida (biografia) e
Um amigo Especial (Conto-ficção), 2003.

Obras inéditas:
"Rosas de sangue" (sonetos);
"Trovas de amor e ternura";
"Canta Sabiá" (poesias sobre o Brasil, lendas e temas do folclore);
"Júlia Lopes de Almeida" (biografia);
"Contos";
"Contos Infantis" e
"Trovas".
–––––––––––––––-


Entrevista de Carolina concedida a José Feldman, em janeiro de 2011 para o Blog http://singrandohorizontes.blogspot.com.br, em A Escritora Atrás da Mulher, A Mulher Atrás da Escritora.

1 - Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.

CR – Nasci em Santos, SP Brasil, no dia 19 de março, dia de São José no ano... que importa o ano?! Importante mesmo é o dia que vivemos. Depois dos sessenta, cada um deles é um troféu. Nasci, cresci e vivo, até hoje, em Santos, onde espero morrer num dia escolhido por Deus. Fiz meus estudos no Colégio “São José”, do “Jardim da Infância”, ginásio de cinco anos, Secretariado, e Escola Normal.

Não podendo cursar Medicina, porque Santos ainda não possuía Faculdade, contentei-me em seguir o Magistério. Por sinal, o curso de normalista, embora hoje abolido, era da maior significado para a formação da mulher, abraçando, para tanto, matérias de essencial importância, como: Psicologia, Puericultura, Pedagogia, Fisiologia, Sociologia, Trabalhos manuais, Desenho pedagógico etc. Os conhecimentos adquiridos nesse curso, embora me dedicasse ao magistério por pouco tempo, muito me ajudaram na criação de meus filhos.

Fiz ainda o curso completo de Música, nove anos de piano e matérias concomitantes, Teoria Musical, Harmonia, Pedagogia, História da Música etc.

Vários cursos de Literatura, de Folclore, Linguas e um pequeno Curso de Enfermagem, para compensar a minha frustração de não ter podido seguir Medicina.

2 – Como era a formação de uma jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?

CR - Bem poucas jovens, residentes em cidades não dotadas de Faculdades, conseguiam, chegar a elas, naquele tempo. A disciplina era muito mais rígida e os pais, com raríssimas exceções, não abriam mão da autoridade. Meu pai, não era uma dessas exceções. A Serra do Mar era gigantesco obstáculo, erguido entre Santos e São Paulo, que me impediu, definitivamente, de concretizar o sonho de ser médica.

Mesmo depois de Secretária bilíngue, boa datilógrafa e estenógrafa, portanto, com ótimas chances de conseguir um bom emprego, o pulso de meu pai, não me liberou: “Minha filha não vai ser Secretária de ninguém!” “Punto e basta!”, diria ele se fosse italiano. Mas, o seu NÃO, espanhol, não demonstrou menor força! Esquecia-me de dizer que sou filha única. Talvez isso explique os excessos de zelo. Nunca, entretanto, me prevaleci dessa situação. Nunca fui mimada! E, absurdamente, era incapaz de pedir algo a meus pais. Claro, que tinha tudo o que precisava, mas, mesmo assim, sempre havia algo a desejar e mesmo sabendo que me seria dado com gosto, eu não pedia! Detesto pedir algo até hoje! Falta de humildade? Claro que não, o oposto, talvez. Respeitava meus pais e não me insurgia contra a severidade que me reprimia - possível semente da timidez que dificultou muito meus passos, ao correr dos tempos. Timidez contra qual luto, quem sabe, até hoje. Só ao escrever, não sou tímida, porque escrevo para mim mesma.

Foram as circunstâncias, citadas, que fizeram com que me tornasse professora, dedicada, a ponto de, pós-aulas, levar para casa os alunos mais fracos, para ajudá-los na recuperação. Embora não fosse essa nobre profissão a minha eleita. Era querida por meus alunos e, de um deles, tive a surpresa de ouvir emocionada: “Quando eu crescer, vou me casar com a senhora!” Onde estará aquele pequenino José, que me fez a primeira declaração de amor?!

3 - Recebeu estímulo na casa da sua infância?

CR – Na casa onde nasci, na Vila dos Andradas, onde se ergue, hoje, a Rodoviária de Santos, morei apenas 5 anos. Na primeira casa dessa vila, morava dona Rosinha grande paixão de Martins Fontes. Assim, volta e meia, as crianças corriam, eu entre elas, para saudar a chegada daquele homem bom, que abria os braços para recebê-las. Lembro-me um a um, dos nomes dessas crianças, que perdi de vista. Muitas vezes, esse “Homem Bom” (tenho um soneto com esse título) pegava-me ao colo e beijava meu rosto. Soube, mais tarde, por minha mãe, que aquela pessoa que eu conhecia apenas como “o homem bom” era o queridíssimo vate santista, José Martins Fontes! O que muito me emocionou!

Numa dessas casas, morava uma garota de nome Odila, uns sete anos mais velha que eu. Odila era filha de um livreiro. E tinha em sua casa, um gavetão que, para mim, era uma rica e misteriosa arca de tesouro! O conteúdo... livros, só livros! Um tesouro de livros infantis! Lembro-me ainda do encantamento que eu sentia, sentada no chão, com o gavetão aberto, dadivosamente colocando à minha disposição, aqueles preciosos livros que eu folheava, ainda sem saber ler, maravilhada com as ilustrações! Mesmo quando minha amiga não estava em casa, sua mãe, dona Caridade, carinhosamente, me conduzia até o tal gavetão, e me esquecia por lá. (e era tudo o que eu queria!)

Foi essa “arca do tesouro” que, nos meus deslumbrados cinco anos, me apresentou Narizinho, Pedrinho, Anastácia, Emília, Visconde de Sabugosa ou seja, aquelas personagens que passei a amar, e que, mais tarde, me fizeram devorar toda a obra de Monteiro Lobato - hoje, lamentavelmente expulsa das escolas, sem que as alegações me convençam!

4 – Quais os livros foram marcantes antes de começar a escrever?


CR – Aprendi muito com os livros de Lobato. Desde respeitar a natureza, conversar com as bonecas, subir em árvores e amar a vida do campo, através do Sítio do Picapau Amarelo. Aprendi muito, ainda, de modo deliciosamente lúdico, sobre Gramática, Aritmética, Geografia, História, Astronomia, Folclore e tanta coisa mais que era absorvido pelos meus sentidos, com espontaneidade e verdadeiro interesse, sem agruras das imposições curriculares. E acho inconcebível que tudo isto seja negado agora, a troco de más interpretações e possíveis influências malignas, às nossas crianças! Lobato sofreu por ousar dizer que “O petróleo era nosso”! Deveria, hoje, ser louvado e, no entanto, sofre através de sua opulenta obra, mais uma nova injustiça! Não só defendo o escritor, mas parte da minha infância que ele tanto enriqueceu!

Depois de Lobato, e de toda a literatura clássica infantil universal, a partir dos Contos da Carochinha, de fadas, de príncipes e princesas etc, li, na minha adolescência, tudo o que me caiu nas mãos! Li quase toda a obra de Machado de Assis, José de Alencar, e outros escritores nacionais. Li muita poesia de Bilac, no mesmo livro que vi nas mãos de meu pai, algumas vezes, quando lia, à meia voz, poemas, passeando pela casa. Li, poetas clássicos e românticos e particularmente, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, para citar os mais próximos, e com os quais minha alma se identificava bem mais do que com os modernistas, embora, Guilherme, tivesse integrado a Semana de 22. Enfim, li de tudo, sem esquema, autores nacionais e estrangeiros. Cheguei a ler

“ Os Miseráveis, de Victor Hugo e começava a ler O Corcunda de Notre Dame, quando levei um “puxão de orelhas”, no confessionário. Outra obra importantíssima, que comecei a ler cedo demais, e talvez por isso não fui até o final, foi “Os Sertões” , de Euclides da Cunha. Mais madura, tentei novamente, e, envergonho-me de dizer, que também não cheguei até o fim. Talvez hoje, com outros valores, eu conseguisse ir adiante, mas, e o tempo?! E o fôlego?! Que Euclides me perdoe, perdi no tempo a chance de conhecê-lo melhor. “O Pequeno Príncipe” também li com muito gosto. De Cronin, praticamente li, a obra inteira, com raras exceções.

Agora, o livro que me influenciou, mais objetivamente a escrever poesia, foi sem dúvida, “Cartas a um jovem Poeta” de Rilke. Escrevi um artigo a respeito desse livro e nele afirmo o que digo acima. Li-o, como se Rilke o tivesse escrito especialmente para mim!

5 – Fale um pouco sobre a sua trajetória literária. Como começou a sua vida de escritora?

CR - Sempre me senti atraída pelas artes em geral. Desde pequenina, vivia desenhando tudo o que via, até retratos de artistas de cinema, famosos. Vivia moldando bichinhos de barro, e sempre cercada de música! O que, às vezes desgostava minha mãe, que me via estudar com o rádio ligado e não se conformava com isso! A poesia veio mais tarde. Ainda no ginásio, costumava fazer algumas quadrinhas de pé quebrado, sem saber que me iniciava na trova. Fiz meu primeiro poema quando minha filha, Márcia, nasceu. A menina tinha intolerância láctea e, nos cinco primeiros meses, não me deixava dormir direito, nem durante o dia e muito menos à noite.Tive medo de perde-la! Com vinte dias, eu era um perfeito zumbi! Numa das inúmeras idas e vindas, da minha cama ao berço e vice-versa, dormi andando e fui de encontro à parede. Conto isto, porque em virtude desta insônia forçada, é que o meu primeiro poema nasceu. Chamei-o, “Se eu soubesse esquecer”. Bem... o que eu queria esquecer, esqueci! Porque não sei do que se tratava! E perdi também o poema, que justificava o nome. Talvez intimamente o condenasse, julgando-o fruto de um resquício de saudade do primeiro namoradinho - só seis meses de namoro, num tempo em que nem de mãos dadas se andava! Mas... fora o primeiro! Com o segundo, casei-me (união desastrosa que durou 21 anos!)

Minha primeira aparição pública, que marcou o início de minha carreira poética, se é que assim posso dizer, aconteceu em 1961. A Comissão Municipal de Cultura lançara um Concurso de Poesias, tendo como tema, SANTOS. Como quem não quer nada, resolvi abraçar o tema, compondo um poema a que dei o nome de “Gosto de ti, minha terra”. Fechando os olhos e procurando vencer a timidez, mandei-o. Dias depois de expirado o prazo, recebi um telefonema de alguém que não se identificava. Queria falar com Carolina, dizendo que tomara conhecimento de que eu compusera uns versos muito bonitos para Santos. Insisti para que se identificasse. Dizia-se “um poeta do outro mundo”. Achando que tudo não passava de um trote, desculpando-me, desliguei o telefone. Dias depois, vim a saber pelos jornais que o meu poema conquistara o 3º lugar no referido Concurso, e que o grande poeta, Cesídio Ambrogi, de Taubaté, era o 2º colocado. O conhecido Poeta e Jornalista, Corrêa Junior, de São Paulo, conquistara o 1º lugar. Uma surpresa enorme! E uma emoção sem tamanho!Eu começava a sair da gaveta! Só vinte e tantos anos mais tarde, vim a saber, por ele mesmo, que o tal “poeta do outro mundo”, do telefonema anônimo, era, simplesmente, dr Archimedes Bava, um dos mestres do Direito, em Santos e Presidente do IHGS, instituição que eu, bem mais adiante, viria a presidir, por sete anos consecutivos, de 2000 a 2007. Aturdida, desculpei-me perante ele, já então velho amigo, censurando-o por não ter se identificado me forçando à indelicadeza, de desligar o telefone! Fora a surpresa, explicou-me ele, que o fizera ligar para mim, para sondar quem seria aquela Carolina, que ninguém conhecia, e que conseguira abocanhar um 3º lugar, situando-se ao lado de dois poetas consagrados vindos e fora!

Daí para frente, comecei a publicar versos num Suplemento de Arte, do Jornal local, A Tribuna, o que estimulou muito minha produção. Ainda em 61, concorri a um Concurso de Trovas do Centro Português de Santos. Tema: A Amizade entre Brasil e Portugal. Compus um pequeno poema com versos de sete sílabas e não cheguei a mandá-lo, porque alguém teve a caridade de me avisar que aquilo não era uma trova! Melhor informada, retirei do poema uma das estrofes com sentido completo e rima simples e encaminhei-a para o Concurso. Conquistei, mais um terceiro lugar. Na noite da premiação, conheci o caro e grande poeta Orlando Brito (recém falecido) também classificado, que me falou de Nova Friburgo e do Movimento Trovadoresco que alvorecia, induzindo-me a participar. Foi o gancho! Aos poucos, deixei-me levar por essa enxurrada maravilhosa de talentos, que me arrastou por este Brasil afora, mediante classificações em Concursos e Jogos Florais.

Em 1964, alcancei meu primeiro prêmio de relevância na Trova. Foi em Petrópolis. Na ocasião, tive a feliz oportunidade de conhecer a nata dos trovadores. Chefiados por Luiz Otávio, eles aguardavam, na Rodoviária do Rio de Janeiro, o ônibus que os levaria a Petrópolis. Sem conhecê-lo pessoalmente, dirigi-me a quem supunha ser Luiz Otávio. Quando me identifiquei, o Príncipe, dirigindo-se ao grupo, indagou: “Pessoal, qual foi a trova que eu disse, ainda há pouco, que era a melhor do Concurso?” A resposta veio em coro: “ A segunda colocada”. E Luiz Otávio, indicando-me, completou: -“Eis a autora!” Foi assim, que me integrei ao Movimento Trovadoresco e comecei a colecionar prêmios. O tema daquele Concurso era Vitória. E minhas vitórias, na área literária, começavam a intensificar-se.

6- Como foi dar esse salto de leitora para escritora?


CR - Aconteceu normalmente, sem um momento que eu possa determinar. Esta frase escrevi na noite de ontem. Um dia depois, reconsidero-a. Acho, sim, que sei exatamente o instante em que me senti “escritora”. E então terei de contar um caso. Eu tinha precisamente 11 anos e acabara de entrar no ginásio. Pré-adolescente, era aquela menina muito sensível e tímida ao extremo! A professora, única, que nos ensinava tudo nas aulas do ensino básico, fora substituída por vários professores que ministravam, cada um deles, uma única matéria.

A professora de português, das mais competentes de Santos, tinha fama de severa, de brava, mesmo! Uma das primeiras tarefas que nos passou como dever de casa, foi a narração “A morte do sabiá”, que ainda guardo com carinho, até hoje, porque me marcou muito e, pensando bem, foi minha primeira demonstração de que tinha alguma tendência para escrever. E foi com muito carinho que derramei toda a minha sensibilidade, sempre contida, na descrição da morte daquele sabiá! Entreguei a narração, confiante de que mereceria boa nota! Alguns dias depois, recebíamos de volta nossos trabalhos, com as correções necessárias e a nota. - A máxima era o ambicionado 100. Quando ouvi meu nome, fui até a mesa da mestra, acalentando a esperança de ter conseguido boa nota. Decepção absoluta!

A mestra entregou-me o trabalho. A nota 60, em vermelho, feriu-me os olhos e as palavras ríspidas da professora: “Isto foi feito com a mão do gato!” atingiram em cheio meu coração e acabaram com minhas primeiras e ainda inconscientes pretensões literárias.

Dali em diante, numa reação puramente infantil, ao escrever meus trabalhos, eu economizava palavras, na tentativa de que os textos não deixassem dúvidas de terem sido feitos por mim, uma criança ainda! Isto, de certa forma, prejudicou bastante essa minha fase estudantil. Nunca fui reprovada, mas não fui boa aluna, pois, a mesma coisa veio a acontecer com o Desenho, outra de minhas atividades preferidas. Descobri que não ganhava boa nota, porque meu professor pensava que eu “colava” meus desenhos. Esse dois casos me desestruturaram, bastante, embora, no segundo, a minha reação já se mostrasse mais madura. Eu teria então uns 14 anos. Quando notei a desconfiança do professor, passei a entregar meus desenhos no tamanho exigido, segundo o modelo (caderno Fachini) e, por minha conta, fazia outro, ampliado. Comprei outros cadernos Fachini com modelos de mãos e rosto, que não faziam parte do currículo, por serem mais difíceis. E, mostrando-os ao mestre, consegui que o meu querido professor, enfim, valorizasse a sua aluna! Esses dois episódios, entretanto, influenciaram negativamente na minha auto-estima. Fui uma aluna sem brilho no meu tempo de ginásio.

A professora brava, que não acreditara em mim, tornou-se, posteriormente, muito minha amiga e grande incentivadora de minha poesia. Devo a ela, indiscutivelmente, o que sei da língua portuguesa. E o fato de ter julgado que aquela narração não poderia ter sido feita por uma criança da minha idade, pensando bem, foi um elogio e tanto!

Hoje, considero esse incidente, como o primeiro prêmio literário que, nos meus tenros onze anos, conquistei, embora, na época, muito me fizesse sofrer! Já no Secretariado, sem censuras, passei a escrever com muito mais desenvoltura, conquistando sempre as melhores notas, o mesmo acontecendo na Escola Normal, o que desenvolveu em definitivo, meu gosto pela linguagem escrita.

7 – Teve a influência de alguém, para começar a escrever?


CR - Acredito que, na adolescência, meu primeiro e único namoradinho, que gostava muito de poesia e, de vez em quando, enquanto passeávamos pelos jardins da praia, declamava versos de Bilac, Menotti, e outros, com certeza, deve ter despertado meu interesse pelas rimas. Daí em diante, foi por minha conta.

8 – Tem Home Page própria? ( não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)

CR – Já tive Home Page, com foto, poesias, um conto premiado em Portugal, Trovas etc. Mas, como dependia de outros para alimentá-la, acabei por perdê-la.

9 – Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura , em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

CR – Bem, não encontro essa dificuldade, porque nunca pensei em “viver de literatura”.

Creio que a habilidade para escrever, prosa ou poesia, é quase um dom. Um dom que Deus oferece gratuitamente e que pode permanecer enrustido e morrer embrionário, ou sendo cultivado, vir a florescer em qualquer fase da vida. Poesia pode ser fuga, sublimação, passatempo, mas nunca profissão. Claro, que em tudo há exceções, neste caso, raríssimas! O poeta, simplesmente, nasce Poeta! O instante em que a Poesia passa a ser o seu meio de expressão, exigindo constante aprimoramento, pode acontecer em qualquer tempo. O mesmo se dá com o escritor e os artistas em geral. Entretanto, viver de literatura é muito difícil. Mas há uma “remuneração”, polpuda, que o artista aspira e, quando chega, o gratifica plenamente! È quando sente que a sua mensagem foi entendida e encontrou ressonância na sensibilidade de alguém. Uma glória!

SEUS TEXTOS E PRÊMIOS

10 – Como começou a tomar gosto pela escrita?


CR – Sempre lutando contra meu natural retraimento, que me levava mais a ouvir do que falar, fui me abrindo para a poesia e acumulando versos em cadernos, fechados em gavetas. O primeiro prêmio conquistado me obrigou a dar um passo a frente. Ao ver meu primeiro poema publicado na imprensa, enviado, sem que eu soubesse, por um amigo que me pedira um poema para suas filhas, quase morri de vergonha, pois me senti como que se minha alma fora desnudada em público! Mas essa primeira reação foi sendo substituída pela sensação gostosa de saber que meus versos eram bem acolhidos por gente que eu nem conhecia e ganhavam elogios que me surpreendiam! Em consequência, fui saindo aos poucos do casulo. Quando me voltei para os Concursos, foi como que um desafio à minha insegurança. Mais uma tentativa de auto-afirmação! As vitórias, de certa forma, provavam-me que eu realmente estava apta a fazer o que fazia! Então, promovi um encontro comigo mesma e decidi: Se este é o caminho que eu quero seguir, só há uma solução – ou me venço, ou serei vencida! E foi assim que, aos poucos, deixei de corar como uma adolescente, cada vez que via uma poesia minha publicada num jornal ou revista. E, o que era melhor, agora enviada por mim! Tomei gosto!

11 – Você possui livros? Se sim, em que você se inspirou em seus livros?

CR – Publiquei meus primeiros livros em 1969. “ Sempre”, chamou-se o primeiro e reunia as poesias feitas até ali. ( antes de vir a público, foi agraciado com o “Prêmio de Melhor Obra Inédita”, outorgado pela UBE.) “Espanha”, foi o segundo. Uma verdadeira ousadia, pois escrevi um poema épico em que viajei pela terra de meu pai, descrevendo muito de sua história e geografia, de ponta a ponta, sem ter saído de minha casa e sem conhecer o país de Cervantes. Fui convidada a ler meu Poema no Instituto de Estudos Hispânicos e, como de início eu me desculpara, pedindo que me perdoassem erros e omissões, já que eu não conhecia a Espanha, ao final da minha leitura, um senhor veio cumprimentar-me dizendo: “Não acredito que a senhora não tenha estado na Espanha! Eu cheguei de lá agora, e descreveu minha viagem inteirinha!”

Este livro, escrito apenas com estudo e coração, foi um presente a meu pai, que de lá veio com nove anos de idade e morreu sem lá voltar, apesar de minha insistência. Anos depois do falecimento dele, estive na Espanha, quase que com remorsos, por estar vendo o que ele nunca vira. O livro já está com a 2ª edição esgotada, se tiver tempo, tentarei uma 3ª.

O terceiro livro, foi de trovas, “Cantigas feitas de Sonho”.

Vieram a seguir, algumas Biografias. Falarei sobre elas quando der resposta à pergunta de nº 14. “Trovas que Cantam por Mim” foi lançado em 1968. Pretendo fazer um livro de trovas juntando este dois primeiros livros e anexando mais umas 300. Não é muito, devo ter em estoque pelo menos umas três mil trovas que poderiam ser aproveitáveis! É a minha contribuição ao Movimento.

“Interlúdio”, meu primeiro livro de contos. Gosto de escrever contos. Dá asas à imaginação e não atrapalha minhas tarefas domésticas. Planejo-os, trabalhando. Depois é só correr para o computador deixar que fluam sem rascunhos. Tenho material para mais uns dois livros de contos. Assim aconteceu com “Feliz Natal”. Escrevi, por algum tempo um ou dois contos natalinos, a cada fim de ano. O livro está esgotado, como os demais, e, se partir para uma segunda edição, será ela acrescida de, pelo menos, oito contos inéditos.

“Evocação”- livro escrito de parceria com Maria Edith Prata Real. É o levantamento histórico da “Associação das Ex-Alunas do Colégio “São José”. O meu querido Colégio São José!

“Um Amigo Especial” é livro de ficção. Era para ser leitura para crianças, tanto que, nele, passo alguns conceitos de maneira bem accessível ao alcance da gente miúda. Mas, o livro evoluiu em conteúdo, na linguagem também, e os adultos é que mais o aplaudem. Assim, achei melhor endereça-lo com as palavras que deixei na primeira página: ...” para jovens de qualquer idade.”

Neste findo 2010, veio à luz “Liberdade...Sonho de Todos!”, que nasceu da necessidade, urgente, de conquistar um pouco mais de tempo e liberdade para fazer, dentro da morosidade desejada, a revisão do meu próximo, e, quem sabe, derradeiro livro, “Destino”. Separei tudo o que tinha à mão e que falasse de liberdade, em prosa, verso ou trova e disse ao meu editor, (marido): - “ Pronto! Edita este. Mas, agora, quero liberdade para cuidar do meu “Destino”! (que até hoje, por conta da tal reforma ortográfica, ainda não saiu de minha mão!!)

12 – Como definiria seu estilo literário?

CR – Na poesia, meu estilo é, preferencialmente, acadêmico. Faço, com menos frequência, poesia sem métrica e rima. Evito dizer poesia livre, porque me sinto perfeitamente liberta, dentro dos cânones acadêmicos, tradicionais, ou clássicos. A rima e a métrica, longe de me prenderem, me ajudam a voar.

Na prosa, procuro escrever certo o que quero dizer. E ser clara. E ser simples. Será isto um estilo?

13 – Dentre os livros escritos por você, qual lhe chamou mais atenção? E por quê?

CR – Aquele que mais me preocupou, digamos assim, foi, sem dúvida, “Príncipe da Trova”. Levei quase vinte anos para terminá-lo! Comecei-o e parei por circunstâncias que explico nas primeiras páginas. Foi um livro difícil de ser escrito, em tudo e por tudo, mas era um livro que precisava ser escrito.

14 – Você publicou algumas biografias. Separadamente, como pessoa e como poeta, qual a importância para si de Ribeiro Couto? E Paulo Setúbal? E Luiz Otávio?

CR – Rui Ribeiro Couto, é nome internacional, consagrado, de poeta, escritor, embaixador etc e que, além de tudo, de um santista. Como se não bastasse, Ribeiro Couto é o Patrono da Cadeira nº 30, que tenho a honra de ocupar na Academia Santista de Letras. Logo, biografá-lo era para mim um dever, por sinal, agradabilíssimo!

“Paulo Setúbal – Uma Vida –Uma Obra” - co-autoria de Cláudio de Cápua e Carolina Ramos, aconteceu em virtude de um Concurso. O tempo era escasso. O livro ficou pronto em praticamente quinze dias. Faço questão de dizer que o mérito da pesquisa deve-se inteiramente a meu marido. Havia um prêmio polpudo em dinheiro, e também a promessa de publicação da obra vencedora. Conquistamos o 2º lugar e fomos cumprimentados pelo primeiro colocado. Editamos o livro por nossa conta.

Escrevi mais duas biografias.”Saga de uma Vida” – biografia de um médico amigo, Presidente de Honra do IHGS, dr. Raul Ribeiro Flórido, que, depois de lê-la, me disse: “Obrigado, Carolina, agora posso morrer tranquilo.”

Esta é a tal “remuneração” que tanto gratifica a quem escreve!

Dr. Florido faleceu um ano depois, aos 91 anos de idade. Foi ele que, quando presidente, cedeu uma sala no IHGS, para instalação da sede da UBT/Santos.

Quanto à pergunta sobre nosso saudoso Luiz Otávio, que mais poderei dizer? Não fujo à pergunta: Qual a importância de Luiz Otávio para mim? Mesmo porque, todos os interessados no assunto, conhecem a resposta. E ela está inteira e detalhada no meu livro “Príncipe da Trova”, que precisava ser escrito, porque a verdade estava sendo maldosamente explorada e deturpada.

Respondo à pergunta com outra, embora não seja isto elegante.

Quem poderá avaliar que importância poderá ter para alguém, um outro alguém que, na última década de sua vida, lhe ensinou o que é viver, o que é ternura e com quem descobriu o grande e verdadeiro Amor?! Ninguém! A menos que tenha vivido uma situação semelhante!

Digo isto, sem constrangimentos, porque, hoje, tenho ao meu lado, alguém, também muito amado e com compreensão suficiente para não coibir a minha sinceridade. Mesmo porque, foi ele, Cláudio, hoje meu marido, quem, com aquela magnanimidade que talvez eu não tivesse, me incentivou a levar a cabo a biografia de Luiz Otávio, que, após o nosso casamento, por respeito a ele, eu interrompera. E foi ele, também, quem me estimulou e não embargou minha decisão de só recomeçar a escrever, se pudesse ignorar a sua presença em minha vida, para poder escrever com transparência e absoluta sinceridade o que tinha a dizer. Não fosse assim, eu estaria completamente tolhida e não poderia ter escrito com a abertura de alma, com que escrevi aquela biografia do nosso Príncipe, da qual sempre me orgulharei de ter participado.

15 – Que acha dos seus textos: O que representam para si? E para os seus leitores?


CR – Pergunta difícil! Meus textos... são meus textos! Gosto deles, ou os rasgaria! Sou exigente. Leio, releio, corrijo e, não raro, volto atrás. Faço por eles, tudo o que se faz para tentar educar um filho. Toda mãe quer chegar à perfeição. Busca mas, nem sempre consegue. Afinal, perfeito, só Deus! O que posso dizer, é que as opiniões dos meus leitores e amigos têm sido sempre bastante magnânimas e estimulantes. Creio na sinceridade deles, tanto como gosto que creiam na minha. E entre essas avaliações tenho palavras preciosas e bastante alentadoras de vozes muito importantes para nossas letras, como: Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo, Câmara Cascudo, Fernando Jorge, Menotti Del Picchia, Moacyr Scliar, Salomão Jorge, Paulo Bomfim, e muitos outros. Palavras que me dão confiança e me incitam a continuar.

16 – Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

CR – A Internet é um meio fantástico de comunicação quase que instantânea! A troca de pps fascina! Mas, apesar do seu poder encantador de fazer novos amigos, ela também nos coloca frente a um sério problema!

Se não nos disciplinarmos (o que ainda não consegui), ela nos engole! Engole o nosso tempo, compete com os nossos horários, interfere nos compromissos, furta horas de sono e também os momentos reservados à leitura. E chega a perturbar nossas atividades literárias! Enfim, separa interesses e até casais! Estou chegando ao limite, preciso me reorganizar.

A Internet poderia me ajudar muito na divulgação de meus trabalhos, mas ainda sou bastante inábil e, às vezes, preguiçosa.

17 – Tem prêmios literários?

CR – Dessa pergunta me esquivo sempre. Mas, como esta entrevista já virou autobiografia não posso deixar de ser sincera, embora possa parecer vaidosa, o que realmente não sou. Tenho prêmios, vários prêmios, no Brasil e alguns no Exterior, de Contos, Poesias, Trovas e Crônicas. Não digo quantos, porque é mais fácil ver um prêmio valorizado do que um número maior deles. Não posso deixar de dizer que, neste ano, por meu poema, Paz, fui agraciada com Diploma e Medalha de Mérito Internacional, em Nocera - Salerno, Itália. E em dezembro, deveria estar em Mérida, já que estou entre os Vencedores dos Jogos Florais da Venezuela, mas, infelizmente, não pude ir.

18 – Participa de Concursos Literários? Qual sua visão sobre eles? Acha que eles têm “marmelada”?

CR – Concorrer é, para mim, um verdadeiro vício! Concorro como um desafio a mim mesma. Seria hipocrisia dizer que não gosto de ganhar, mas, ganho e perco, sem questionamentos. Festejo uma vitória como se fora a primeira e a última! E consigo alegrar-me com a vitória dos meus irmãos! Não gosto é de preparar tudo e, afinal, deixar passar o prazo, sem postar o envelope. E como isso acontece!

Quanto à pergunta se há “marmelada” em Concursos, digo, e espero estar certa, que não há! O que se ouve com relação a Concursos em que nomes dos Vencedores são repetidos, seria tão fácil de entender e aceitar quando não predominam despeitos nem vaidades feridas! Comparemos: Num campo de futebol, quem são os que marcam mais gols? O mesmo desempenho repete-se nos mais diferentes jogos. Logo, é de se esperar que os nomes de tais campeões estejam mais em evidência que os demais! Qual a solução para virar o jogo? Só há uma: - Jogar com mais eficiência para suplantar os demais concorrentes! Enquanto isto não for conseguido, o certo é aplaudir, fraternalmente, a vitória dos ganhadores, sem críticas mesquinhas! Aí está o verdadeiro prazer de concorrer! É preciso querer ganhar, quando se pode! Não apenas, quando se quer.

CRIAÇÃO LITERÁRIA

19 – Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa/ou muso pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial?


CR – É muito bom que haja uma situação psicologicamente definida quando alguém se decida a escrever. Então, é só derramar a alma sobre a folha de papel, ou tela de computador, sem comprometimento algum. É fazer um “clic” e deixar que os dedos captem o que o cérebro, a alma e o coração transmitem, numa espécie de coral afinado. Depois, é só burilar. Contudo, há os momentos de escrita, exigida, menos intimista sujeita a cargos ou Concursos, que pedem maior concentração.

Quando escrevo por diletantismo, não preciso, não, de um ambiente especial para escrever. Sempre desejei um cantinho todo meu, privativo, mas nunca consegui tê-lo! Habituei-me a “escrever” em ônibus, na direção de um carro, ou com crianças correndo em volta de mim, quando meus filhos eram ainda pequeninos. Escrevi sempre com a televisão ao meu lado, seguindo novela, e até só mentalmente, durante as tarefas domésticas. E, se não tenho papel para anotar, acabo perdendo muita coisa que poderia aproveitar. Esta é a sina da mulher! Mulher tem que criar tempo para tudo! Porque, antes de ser escritora, artista ou lá o que for, é apenas mulher e esse termo tem subdivisões prioritárias infinitas! Gosto de escrever com música! Ela nunca me perturba, até me ajuda! Não sei viver distante dela!

20 – Você projeta os seus textos? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema narrativo antes? Como é que você concebe os textos?

CR – O único livro que projetei foi o Príncipe da Trova. Fui coletando dados, agregando-os cronologicamente e desenvolvendo-os. Aliás, corrijo, as demais biografias também passaram por esse mesmo sistema. Quanto aos contos, poesias e trovas, obras de ficção, simplesmente acontecem. Já fiz um conto a partir de uma frase, a maioria dos sonetos, baseados num fecho, e a maioria das trovas, sob temas dados, ou seja, estipulados por Concursos.

21 – Você acredita que para ser poeta ou trovadora basta somente exercitar a escrita ou vocação? Isto é essencial?

CR – Tudo na vida precisa ser exercitado. Poesia é o que se pode chamar de dom, acho que já me referi a isto, mas a predisposição, para qualquer coisa, não é o bastante. Quem pretenda escrever e ser bem sucedido, precisa conhecer muito bem a língua que vai usar. E aprimora-la sempre! È o seu instrumento de trabalho. É preciso saber manipulá-la bem, estuda-la sempre, para que a inspiração possa ganhar asas e voar alto! Mas é preciso que se diga, que o poeta é poeta nato! Ao nascer, sua alma já vem carimbada! Se será bom ou mau poeta, é o que se saberá depois. Independe de cultura. Ser poeta é um estado de alma, é um dom! Vemos coisas lindas, cheias de conteúdo poético, expressas em linguagem precária, por artistas praticamente sem estudo, mas que têm a poesia dentro da alma e são poetas de fato! Como vemos, também, poesias elaboradas por gente que notoriamente esbanja cultura e que gostaria de ser poeta mas, infelizmente, não o é!

22 – No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

CR – Porcaria nunca fez bem a ninguém! Mas, eu, quando jovem, lia tudo o que me caia nas mãos, menos coisas pornográficas que, automaticamente meu íntimo repelia. Acho que é por isso que até hoje não gosto das trovas licenciosas, que andam por aí. E que sempre repudiei, em particular, as “escabrosas”, que nunca cheguei a ler e com as quais tentaram macular o Movimento Trovadoresco Brasileiro, canalizando um rio de águas turvas para que desaguasse no nosso meio. O bom, mesmo, é ler boa literatura, vinda de onde vier, o que sempre ajuda a evoluir.

O ESCRITOR E A LITERATURA

23 – Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?


CR – Não gosto de citar nomes. Digo apenas que os autores que deveriam ser descobertos são aqueles que escrevem porque sentem prazer de escrever, sabendo dizer o que pretendem dizer. Esse ato de enxugar a alma numa folha de papel, realiza o anseio, incontido, de comunicação que nasceu com eles e que com eles morrerá, quer lhes dê, ou não, notoriedade ou sequer acolhimento público. Infelizmente, estes poetas ou escritores, são os que mais dificuldade têm de sair da gaveta, das rodinhas de amigos, das tertúlias íntimas e nem sempre chegam à mídia! O que lhes importa, mesmo, é exteriorizar as coisas que a alma dita e que morreriam sem vez, se a palavra escrita não lhes servisse de veículo para trazê-las à luz. Basta-lhes satisfazer a necessidade íntima de comunicação com seu próprio ego. E quanto talento se perde! E. em todas as áreas, quantos ensinamentos úteis vão morrendo embutidos, sem jamais chegar até aqueles a quem, talvez, pudessem ajudar ou tão-somente deleitar!

24 – Na sua opinião, que livro ou livros da literatura portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

CR - Ainda uma vez, evito citar nomes. Acho que, para quem quer ter uma visão o quanto possível ampla, da literatura luso-brasileira, deve começar lendo os clássicos da literatura tanto portuguesa como brasileira, tanto na prosa como na poesia Daí para a frente, o seu passeio pelas estantes vai se impondo de acordo com a evolução das fases que se sucedem, através de diferentes autores, até chegar aos ditos tempos modernos, com seus voos e quedas, com seu realismo, suas extravagâncias, hermetismos e crueza de linguagem que, não raro, nos impelem a procurar matar saudades das leituras mais amenas, que deleitaram nossa juventude, principalmente na área da poesia.

25 – Qual o papel do escritor na sociedade?

CR – A obra do escritor não tem fronteiras. Não há limites que cerceiem a sua criação, e, muito menos, cronológicos. Mas o escritor não é imune às influências do meio e da época em que vive. Seus escritos bebem a água da inspiração, na fonte que corre perto de seus pés. A voz do escritor incorpora a voz do seu tempo e, automaticamente, através do que escreve, passa a interagir, de acordo, ou não, com a vida que rola à sua volta, e até mesmo contra suas próprias convicções, segundo as exigências da personagem criada. Note-se, que há, sempre, escritores e poetas envolvidos nas grandes causas que o cercam e que acabam por marcar suas existências. É por isso, que podemos afirmar que poetas e escritores, em qualquer tempo ou lugar, são quase sempre ativistas sociais e arautos dos grandes acontecimentos que marcam o seu tempo.

26 – Há lugar para a poesia em nossos tempos?


CR – Logo que me iniciei na poesia, recebi um artigo de um poeta de São Paulo intitulado “A Poesia morreu!...” Arrepiei-me e dei-lhe resposta, escrevendo um outro artigo provando que a poesia ainda estava viva e que nunca morreria, porque o mundo precisava dela! Perdi esse artigo, que também foi para os jornais. Mas a minha opinião continua a mesma! Hoje, os tempos são outros, mais agressivos mais duros, mais frios...simplesmente mais, em tudo o que é mau! E, por isso mesmo, também mais do que nunca, o mundo precisa de ternura, de amor, de congraçamento, de fraternidade, de suavidade e de beleza – em suma, cada vez mais, o mundo precisa de Poesia! E há lugar para ela em nossos tempos?! Há sim... é empurrar o materialismo daqui, os excessos de vaidades dali, as prepotências, os ódios e outros tantos defeitos inerentes ao homem e então veremos que sempre há de sobrar um lugarzinho discreto para que a rosa da poesia se instale, desabroche e esparja seu inefável perfume. Perfume que atrai corações e une as almas! E estejamos certos, de que, quanto mais rudes e maus os tempos se tornarem, mais a poesia há de se manter indispensável!

UBT

27 – Pertencer à UBT muda o que em sua vida?


CR – Tudo! A UBT (União Brasileira de Trovadores) promoveu uma verdadeira revolução em minha vida! Filha única, eu tinha uma enorme carência de irmãos! Canalizei todo esse amor para meus filhos. Mas faltava ainda aquele afeto diferente, fraterno, da palavra amiga e dos sonhos divididos com igualdade. E, de uma hora para outra, ou seja, de 1960 em diante, quando entrei no turbilhão da Trova, através do GBT, (Grêmio Brasileiro de Trovadores) logo transformado em UBT, ganhei uma enxurrada de Irmãos e Irmãs, acolhidos por meu coração com um carinho deslumbrado, que talvez nenhum deles consiga jamais aquilatar! Foi uma glória para mim, encontrar gente amiga, que sonhava, pensava, sentia e se expressava poeticamente, da mesma forma que eu! E esse fascinante diletantismo de concorrer a concursos e conquistar prêmios,( ou não), passou a ser meu hobby predileto, porque me facultava a proximidade desses Irmãos e Irmãs que as artérias da Trova canalizaram para mim.

28 – O que é para a mulher atrás da trovadora pertencer à UBT?


CR – Quem indaga bem sabe que a pergunta é delicada. Não a contorno. A mulher atrás da trovadora, era a mulher sofrida que ninguém desconfiava que fosse. O casamento, à beira de um despenhadeiro! Incompatibilidade total! Dizer que a Poesia, em particular a Trova, foram uma fuga é quase ofendê-las, mas, ninguém pode fugir à verdade! Busco imagem melhor. Tanto a Poesia como a Trova foram aquela janela que consegui abrir para que o sol chegasse a mim e afastasse o inverno prematuro, que avançava e me envolvia cada vez mais! A UBT foi a mão amiga que destravou essa janela!

29 - Comente sobre algum fato curioso ou engraçado que tenha ocorrido em algum Concurso de Trovas.

CR - Há muitos fatos curiosos! Vejamos um, acontecido em Cambuquira, creio que em 1969. O tema do Concurso era Fonte. Eu tinha uma trova premiada, esta:

Sussurrando, com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta!


Mas, ao ser-me entregue o livreto do Concurso, vi que meu nome não aparecia e minha trova fora publicada com o nome de outro autor. O promotor do Concurso desculpou-se muito, prometendo-me corrigir o erro em sua Coluna de Trovas, num jornal local. Tranquilizei-o, dizendo-lhe que não se preocupasse, essas coisas aconteciam com frequência. Uma semana depois, recebo, em minha casa, o referido jornal e o desconsolo do promotor que me dizia consternado: - “ Veja só, Carolina, o que fizeram com sua Trova!” E lá estava minha pobre trova, com o verbo sussurrando completamente deturpado, ou seja:

Surrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta... etc


“ – Mas, eu vou corrigir, Carolina, pode deixar”, completava o articulista.

Passa-se mais uma semana, e chega novo exemplar do jornal de Cambuquira, com esta calamidade:

Urrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta etc


Vinha junto, um recadinho desconsolado, escrito de próprio punho, que me fez rir um bocado:

“- Mil perdões, Carolina! Desisto!”

Daí em diante, prometi a mim mesma, que nunca mais usaria esse perigoso verbo, sussurrar, em trabalho algum!

30 – O que é a Trova para você como trovadora?

CR – Eu vinha dos sonetos e dos poemas de muitas estrofes.. Meu primeiro livro de poesias, de nome, “Sempre”, é uma prova disto. A Trova me disciplinou, impondo-me a síntese. Tenho um ou outro soneto cuja base é uma trova e tenho trovas que desenvolvi em sonetos.

E percebo que, tudo o que há de mais substancial, está nos quatro versos de sete sílabas da trova. O mais, que tece a trama ampla do soneto, mesmo sem ser supérfluo, é rendilhado decorativo.

A PESSOA POR TRÁS DA ESCRITORA

31 - O que a choca hoje em dia?


CR - Muita coisa me choca, hoje em dia! A insinceridade, as injustiças, os desmandos políticos, a corrupção, a falta de caráter; o poder dissociado da responsabilidade, os rumos da educação e da saúde, a paternidade irresponsável, a exploração das crianças, o descalabro e propagação do poder nocivo das drogas, a falta de respeito para com os idosos; a sexualidade exacerbada e precoce dos jovens e consequente banalização do amor; a ausência de uma religião, a falta de fé e do amor a Deus, o desamor à vida e a facilidade com que se trama uma guerra! Mas, é melhor parar por aqui, ou a lista ficará por demais extensa!

32 – O que mais lê hoje?

CR – Para ser bastante sincera, devo dizer que hoje mais escrevo do que leio. Mesmo assim, leio tudo o que me cai em mãos, ou dois ou três livros ao mesmo tempo, sem mais aquele estoicismo, inicial, de ir até a última página, mesmo não sendo a leitura do meu total agrado. Recebo muitos livros e não lhes dou resposta sem lê-los. Isto toma tempo! Assim, tenho que dividir minhas horas, inclusive de sono, entre encargos domésticos e sociais, o fascínio do computador e os momentos repousantes que um livro, de livre escolha, possa me oferecer.

33 – Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

CR - Nunca deixei de escrever, mesmo ocupada com outros afazeres, cargos etc, mas, dormi no tempo, trabalhando para entidades e acumulando trabalhos meus que poderiam estar publicados. Assim, minha meta atual é colocar em dia os livros que praticamente estão prontos, dependentes de seleção e revisão. Quanto a projetos, gostaria, se Deus me desse algum tempo mais, de terminar e levar a público meu livro, “Canta, sabiá!” de prosa e poesias baseadas em temas folclóricos. E gostaria também de voltar a pintar e frequentar algumas aulas de teclado, já que dei meu piano à minha neta e sinto falta dele, pois não sei viver sem música! Penso, também de voltar a dedicar-me a obras sociais. Mas, a saúde e a vontade de Deus decidirão. Tudo está no terreno das veleidades, que nem chegam a ser sonho!

34 – De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?


CR – Precária! Só aquele que ainda é capaz de sonhar, se interessa pela cultura. Nosso povo é ingenuamente criativo, é sonhador por natureza, gosta de arte, mas a luta entre o “feijão e o sonho” continua cada vez mais árdua! E qualquer ajuda oficial, na hora do aperto, os primeiros cortes vão para a área da cultura. Isto poda as asas dos artistas e os seus voos só podem ser rasteiros. Mesmo assim, o brasileiro canta, toca, compõe, modela, cria e o quanto possível sonha, porque aquele que nasce artista sempre encontra um meio de dar vaza às suas tendências, buscando inspiração mesmo dentro da rústica precariedade que o cerca. E é assim que vão se multiplicando gerações de cantadores, cordelistas, violeiros, artesãos e pintores, que enfeitam, com a ingenuidade da sua arte, a cultura popular deste nosso Brasil.

CONSELHOS PARA OS ESCRITORES

35 – Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever?


CR - Quem sou eu para dar conselhos?! Tentarei. Quando alguém pretenda começar a escrever, deve preocupar-se, a priori, com o manejo da língua pátria. Estudar, estudar muito! Estudar a vida inteira, para errar o quanto menos possível! Quem quer tocar um instrumento estuda o seu manejo. Pratica! E assim acontece em qualquer área.

O computador, a máquina de escrever, a caneta, o lápis, são meios utilizados na grafia das palavras, mas, o instrumento propriamente dito do escritor, é o seu idioma.

Antes de dedicar-se à escrita, portanto estude e leia. A leitura ajuda muito! Deve ser uma espécie de hábito compulsivo. A receita é ler, ler e ler sempre, autores nacionais e também, estrangeiros. Quando se sentir seguro, então escreva. A princípio, para si mesmo, com sinceridade, fluência como se só você fosse ler o que deixar no papel. Aceite, com humildade as ponderações dos que procurarem ajuda-lo e não se deixe abater por possíveis críticas acerbas e não construtivas, capazes de desestimula-lo.

E acredite que, se escrever lhe agrada de fato, o texto concebido há de ser sempre o seu maior prêmio! Isto é o que eu diria, com toda a sinceridade aos que se iniciam no caminho das Letras.

36 – O que é preciso para ser um bom poeta ou trovador?

CR – 1) - Ter alma e coração, ou seja sensibilidade. E também certa predisposição poética, que já nasce com ele e com ele deverá crescer.
2) – Amar a Trova, conhecer e estudar, a fundo, a sua técnica e requisitos principais.
3) – No que se refere a atitudes: - Quem pretenda tornar-se um “bom” trovador, deve entrar no Universo da Trova, para somar e não para dividir! Para respeitar, e ser respeitado! Enfim, para fazer amigos, evitando ferir e criar opositores. Indispensáveis, também, trazer consigo alguma humildade, espírito fraterno e isenção de vaidades excessivas. Ninguém poderá vencer sempre, mesmo sendo um bom trovador! E como é feliz quem, sem maledicências, consegue alegrar-se com a vitória dos demais! Aquele que é capaz de crescer e evoluir graças aos seus esforços e principalmente do seu talento inato, tarde ou cedo, há de ser um autêntico trovador, de valor reconhecido e querido por todos! Sua atuação só poderá engrandecer o tão bonito e atuante Movimento Trovadoresco, que avança a passos largos e tantos momentos felizes proporciona aos seus seguidores!

37 - Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? Outros trabalhos culturais, opiniões, críticas etc...

CR - Já me alonguei demasiado. Abusaria um pouco mais, citando os meus livros publicados. São eles: Sempre (Poesia); Cantigas feitas de Sonho (trovas); Espanha (poema épico 2ª ed.); Rui Ribeiro Couto- Vida e Obra (biog); Trovas que Cantam por Mim; Interlúdio (Contos); Paulo Setúbal –Uma Vida/Uma Obra (biog. parceria com Cláudio de Cápua); Feliz Natal ( contos natalinos); Evocação (parc. c/ Edith Prata Real); Príncipe da Trova (biog); Saga de uma Vida (biog.); Um Amigo Especial (ficção para juventude) Liberdade - Sonho de todos (prosa e poesia), Destino (poesias)

Livros Inéditos: Contos ; Mosaicos (trovas); Canta , Sabiá! (folclore)

38 – Se Deus parasse na sua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?
CR- Em termos globais: - PAZ, JUSTIÇA E AMOR. Urgentemente!!!

Fontes:
http://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult016.htm
Instituto Histórico e Geográfico de Santos. http://www.ihgs.com.br/
Pavilhao Literario Singrando Horizontes
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2011/01/carolina-ramos-escritora-atras-da.html