quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Orígenes Lessa (As Cores)

 Maria Alice abandonou o livro onde seus dedos longos liam uma história de amor. Em seu pequeno mundo de volumes, de cheiros, de sons, todas aquelas palavras eram a perpétua renovação dos mistérios em cujo seio sua imaginação se perdia. Esboçou um sorriso... Sabia estar só na casa que conhecia tão bem, em seus mínimos detalhes, casa grande de vários quartos e salas onde se movia livremente, as mãos olhando por ela, o passo calmo, firme e silencioso, casa cheia de ecos de um mundo não seu, mundo em que a imagem e a cor pareciam a nota mais viva das outras vidas de ilimitados horizontes.

Como seria cor e o que seria? Conhecia todas pelos nomes, dava com elas a cada passo nos seus livros, soavam aos seus ouvidos a todo momento, verdadeira constante de todas as palestras. Era, com certeza, a nota marcante de todas as coisas para aqueles cujos olhos viam, aqueles olhos que tantas vezes palpara com inveja calada e que se fechavam, quando os tocava, sensíveis como pássaros assustados, palpitantes de vida, sob seus dedos trêmulos, que diziam ser claros. Que seria o claro, afinal?
 
Algo que aprendera, de há muito, ser igual ao branco. Branco, o mesmo que alvo, característica de todos os seus, marca dos amigos da casa, de todos os amigos, algo que os distinguia dos humildes serviçais da copa e da cozinha, às vezes das entregas do armazém. Conhecia o negro pela voz, o branco pela maneira de agir ou falar. Seria uma condição social? Seguramente. Nos primeiros tempos, perguntava. É preto? É branco? Raramente se enganava agora. Já sabia... Nas pessoas, sabia... Às vezes, pelo olfato, outras, pelo tom de voz, quase sempre pela condição. Embora algumas vezes - e aquilo a perturbava - encontrasse também a cor social mais nobre no trato das panelas e na limpeza da casa. Nas paredes, porém, nos objetos, já não sentia aquelas cores. E se ouvia geralmente um tom de desprezo ou de superioridade, quando se falava no negro das pessoas, que envolvia sempre a abstração deprimente da fealdade, o mesmo negro nos gatos, nos cavalos, nas estatuetas, vinha sempre conjugado à idéia de beleza, que ela sabia haver numa sonata de Beethoven, numa fuga de Bach, numa polonaise de Chopin, na voz de uma cantora, num gesto de ternura humana.

Que seria a cor, detalhe que fugia aos seus dedos, escapava ao seu olfato conhecedor das almas e dos corpos, que o seu ouvido apurado não aprendia, e que era vermelho nas cerejas, nos morangos e em certas gelatinas, mas nada tinha em comum com o adocicado de outras frutas e se encontrava também nos vestidos, nos lábios (seriam os seus vermelhos também e convidariam ao beijo, como nos anúncios de rádio?), em certas cortinas, naquele cinzeiro áspero da mesinha do centro, em determinadas rosas (e havia brancas e amarelas), na pesada poltrona que ficava à direita e onde se afundava feliz para ouvir novelas? Que seria a cor, que definia as coisas e marcava os contrastes, e ora agradava, ora desagradava? E como seria o amarelo, para alguns padrão de mau gosto, mas que tantas vezes provocava entusiasmo nos comentários do mundo onde os olhos viam? E que seria ver? Era o sentido certamente que permitia evitar as pancadas, os tropeções, sair à rua sozinho, sem apoio de bengala, e aquela inquieta procura de mãos divinatórias que tantas vezes falhavam. Era o sentido que permitia encontrar o bonito, sem tocar, nos vestidos, nos corpos, nas feições, o bonito, variedade do belo e de outras palavras sempre ouvidas e empregadas e que bem compreendia, porque o podia sentir na voz e no caráter das pessoas, nas atitudes e nos gestos humanos, no /“Rêve d'Amour”/, que executava ao piano, e em muita coisa mais...

Ver era saber que um quadro não constava apenas de uma superfície estranha, áspera e desigual, sem nenhum sentido para o seu mundo interior, por vezes bonita, ao seu tato, nas molduras, mas que para os outros figurava casas, ruas, objetos, frutas, peixes, panelas de cobre (tão gratas aos seus dedos), velhos mendigos, mulheres nuas e, em certos casos, mesmo para os outros, não dizia nada...

Claro que via muito pelos olhos dos outros. Sabia onde ficavam as coisas e seria capaz de descrevê-las nos menores detalhes. Conhecia-lhes até a cor... Se lhe pedissem o cinzeiro vermelho, iria buscá-lo sem receio. E sabia dizer, quando tocava em Ana Beatriz, se estava com o vestido bege ou com a blusa lilás. E de tal maneira a cor flutuava em seus lábios, nas palestras diárias, que para todos os familiares era como se a visse também.

- Ponha hoje o vestido verde, Ana Beatriz...

Dizia aquilo um pouco para que não dessem conta da sua inferioridade, mais ainda para não inspirar compaixão. Porque a piedade alheia a cada passo a torturava e Maria Alice tinha pudor de seu estado. Seria mais feliz se pudesse estar sempre sozinha como agora, movendo-se como sombra muda pela casa, certa de não provocar exclamações repentinas de pena, quando se contundia ou tropeçava nas idas e vindas do cotidiano labor.

- Machucou, meu bem?

Doía mais a pergunta. Certa vez a testa sangrava diante da família assustada e do remorso de Jorge, que deixara um móvel fora do lugar, mas teimava em dizer que não fora nada.

E quando insistiam, com visita presente, para que tocasse piano, era sistemática a recusa.

- Maria Alice é modesta, odeia exibições...

Outro era o motivo. Ela muita vez bem que ardia em desejos de se refugiar no mundo dos sons, para escapar aos mexericos de toda a gente... Mas como a remordia a admiração piedosa dos amigos... As palmas e os louvores vinham sempre cheios de pena e havia grosserias trágicas em certos entusiasmos, desde o espanto infantil por vê-la acertar direitinho com as teclas à exclamação maravilhada de alguns:

- Muita gente que enxerga se orgulharia de tocar assim...

Nunca Maria Alice o dissera, mas seu coração tinha ternuras apenas para os que não a avisavam de haver uma cadeira na frente ou não a preveniam contra a posição do abajur.

- Eu sei... eu já sei...

E como tinha os outros sentidos mais apurados, sempre se antecipava na descrição das pessoas e coisas. Sabia se era homem ou mulher o recém-chegado, antes que se pusesse a falar. Pela maneira de pisar, por mil e uma sutilezas. Sem que lhe dissessem, já sabia se era gordo ou magro, bonito ou feio. E antes que qualquer outro, lia-lhe o caráter e o temperamento. Aqueles pequeninos milagres de sua intuição e de sua capacidade de observar, todos estavam habituados em casa. Por isso lhe falavam sempre em termos de quem via para quem via. E nesses termos lhes falava também.

O livro abandonado sobre a mesa, o pensamento de Maria Alice caminhava liberto. Recordava agora o largo tempo que passara no Instituto, onde a família julgara que lhe seria mais fácil aprender a ler. Detestava o ambiente de humildade, raramente de revolta, que lá encontrara. Vivendo em comunidade, sabia facilmente quais os que enxergavam, sem que nenhum destes se desse conta disso ou dissesse que enxergava. Pela simples linguagem, pela maneira de agir o sabia. E ali começara a odiar os dois mundos diferentes. O seu, de humildes e resignados, cônscios de sua inferioridade humana, o outro, o da piedade e da cor.

Ninguém conseguia entender como sabia ela indicar qual o sapato ou a bolsa que ia melhor com este ou aquele vestido. Quase sempre acertava. Assim como ninguém sabia que, com o tempo, Maria Alice fora identificando as cores com sentimentos e coisas. O branco era como
barulho de água de torneira aberta. Cor-de-rosa se confundia com valsa. Verde, aprendera a identificá-lo com cheiro de árvore. Cinza, com maciez de veludo. Azul, com serenidade. Diziam que o céu era azul. Que seria o céu? Um lugar, com certeza. Tinha mil e uma idéias sobre o céu. Deus, anjos, glória divina, bem-aventurança, hinos e salmos. Hendel. Bach. Mas sabia haver um outro, material, sobre as pessoas e casas, feito de nuvens, que associava à idéia do veludo, mais própria do cinza, apesar de insistirem em que o céu era azul.

Aquelas associações materiais, porém, não a satisfaziam. A cor realmente era o grande mistério. Sentira muitas vezes que o cinza pertencia a substâncias ásperas ou duras. Que o branco estava no mármore duro e na folha de papel, leve e flexível. E que o negro estava num cavalo que relinchava inquieto, com um sopro vigoroso de vida, e na suavidade e leveza de um vestido de baile, mas era ao mesmo tempo a cor do ódio e da negação, a marca inexplicável da inferioridade.

E agora Maria Alice voltava outra vez ao Instituto. E ao grande amigo que lá conhecera. Voltavam as longas horas em que falavam de Bach, de Beethoven, dos mistérios para eles tão claros da música eterna. Lembrava-se da ternura daquela voz, da beleza daquela voz. De como se adivinhavam entre dezenas de outros e suas mãos se encontravam. De como as palavras de amor tinham irrompido e suas bocas se encontrado... De como um dia seus pais haviam surgido inesperadamente no Instituto e a haviam levado à sala do diretor e se haviam queixado da falta de vigilância e moralidade no estabelecimento. E de como, no momento em que a retiravam e quando ela disse que pretendia se despedir de um amigo pelo qual tinha grande afeição e com quem se queria casar, o pai exclamara horrorizado:

- Você não tem juízo, criatura? Casar-se com um mulato? Nunca! - Mulato era cor.

Estava longe aquele dia. Estava longe o Instituto, ao qual não saberia voltar, do qual nunca mais tivera notícia, e do qual somente restara o privilégio de caminhar sozinha pelo reino dos livros, tão parecido com a vida dos outros, tão cheio de cores... Um rumor familiar ouviu-se à porta. Era a volta do cinema. Ana Beatriz ia contar-lhe o filme todo, com certeza. O rumor - passos e vozes - encheu a casa.

- Tudo azul? - perguntou Ana Beatriz, entrando na sala.

- Tudo azul - respondeu Maria Alice.

 Fonte:
Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século.

Hernando Feitosa Bezerra Chagall (Cantares) VI

SERTANEJO

Pés de alpercatas
Marcam a terra vermelha
Desdenhoso o vento apaga
Cada passo a seu tempo
Seguindo andarilho
Caminhos de lugar
Nenhum.

PÍER

Todos atracados
Neste imenso porto
Por um fio amarrados
Caminhamos soltos
Olhando pra quem sabe
Na vastidão do céu
Do ser poder achando
Que a verdade encontra se aqui.

SUTIL
 

A palavra é um empecilho
Diante do que você quer tocar:
O sentimento.
Use-a
De maneira suave.
Algo como
Mergulhar olhos n’água
Ver o peixe
E sentir-se pescador.

CANTO ZEN

Gosto do cantinho
Das escadas estradas clareiras
Gosto do cantinho
De mim mesmo
E gosto muito
Deste planeta
Cantinho do universo.

ANDARILHO

Lá vinha ele
Lento sujo sebento
Pés no chão...
Aos que fingiam não vê-lo
Dançava o balé
Do ser humano.

PARTO


O poeta pare
Com imenso prazer
A dor que sugere vida
E nessa tentativa de alegria
Gera poesia.

JARDIM DOS POETAS

No jardim dos poetas
As flores são azuis e amarelas
Pequeninas libélulas
flutuando sobre a relva
Sob uma fina chuva de sol
Onde o dia alegre explode
Perenemente
Van Gogh.

OUTONO

Na amarelada
Árvore da vida
Colho alguns frutos
Do outono que chegou
De mansinho
Provando neles
Um enjoado sabor de mim.

SIMPLES ASSIM

Sou passo
O mundo espaço
A vida caminho.

O objetivo que traço
Cabe num simples abraço
Num olhar ou num carinho.

FLOR DE LÓTUS

Lá fora brilha o sol
Enquanto me escondo
Nas sombras e sobras do ego
Tentando colher
Do lodo que envolve minh’alma
A mais bela pura e alva
Flor de mim.

FENIX
 

O mundo explode à minha volta
Entre os escombros
Procuro-me
No que brota.

SONS DO SILÊNCIO

A palavra às vezes encanta
Quando embargada na garganta

A palavra às vezes enternece
No silêncio de uma prece

A palavra às vezes extrapola
Num doce acalanto de viola

A palavra às vezes atrapalha
Uma atitude ou coisa que o valha

A palavra calada ou escrita
Quando fala à alma, grita.

CAMPO SANTO

Oh, Babilônia cinzenta!
Teus caminhos violentos nos conduzem
A este jardim suspenso
Cujas flores de plástico
Regamos anualmente
Com meia dúzia
De lágrimas sinceras.

FRÁGIL LIBERDADE

Para cada pobre preso
Um verso livre
Para cada liberdade
Uma rosa
Ainda que frágil
E despretensiosa.

SUNSHINE
 

A cada manhã
Sem pressa palavra ou esquema
Nasce no horizonte
O mais belo quente e espetacular
Poema.

SILÊNCIO

Sabendo que o olhar é mira
Que a boca é cano
Que a língua é gatilho
E as palavras, balas...
Escolhi o silêncio e o sonho
Como armas.

P.A.L.A.V.R.A
 

Minhas palavras
São tijolos
Que edificam pessoas
E tijoladas
Que derrubam máscaras.

SCHOOL

Muitas vezes
Andando por seus corredores silenciosos
Sinto-me como quem caminha
Por uma catedral vazia
Entretanto
É na algazarra de suas crianças
Que ouço os mais belos hinos
Da esperança.

LIVRE DOCENTE
 

Sou um livre pensador
Que caminha por aí
Disfarçando a própria dor
Ensinando o que não aprendi
Pois o que aprendi
A escola não ensina
Vida se apreende
De esquina em esquina.

CAMINHANDO CONTRA O VENTO

Não tenho pressa pra nada
Caminho mais lento a estrada
Correndo não curto a paisagem
Parado atrapalho a passagem
Tranquilo consigo galgar
Um lance a mais dessa escada.

CREPÚSCULO

Guardou a lua no bolso
Caminhou sob uma fina garoa de sombras
Chegou em casa tranquilo...
Pendurou o cabelo no prego
Jogou os olhos sobre a cômoda
Colocou o sorriso no copo
E perenemente
Adormeceu.

Fonte:
Hernando Feitosa Bezerra. Cantares.  Universidade da Amazônia – NEAD.

Irmãos Grimm (O Alfaiate no Céu)

Um lindo dia veio a acontecer que o bom Deus queria descansar um pouquinho do jardim do paraíso, e levou com ele todos os apóstolos e santos, de modo que não ficou ninguém no céu com exceção de São Pedro. O Senhor então lhe ordenou, que na sua ausência, não deixasse ninguém entrar, então, Pedro ficou perto da porta e ficou de vigia o dia todo.
 
Não passou muito tempo e alguém bateu na porta. Pedro perguntou quem era, e o que ele queria? "Eu sou um alfaiate pobre e honesto que implora para entrar," respondeu alguém
de voz suave.
 
"Honesto de verdade," disse Pedro, "como o ladrão que foge da forca! Foste sim um mão leve atrevido a surrupiar as roupas das pessoas. Não poderá entrar no céu. O Senhor me proibiu de deixar qualquer um entrar enquanto ele estiver fora." 

"Deixa disso, seja misericordioso," exclamou o alfaiate. " Migalhas que caem
da mesa por conta própria não são roubadas, e nem vale a pena ficar falando sobre essas coisas. Veja, eu sou manco, estou com bolhas nos pés de tanto caminhar até aqui, possivelmente não conseguirei voltar. Apenas me deixe entrar, e eu farei todo trabalho duro. Carregarei as crianças, lavarei as roupas delas, lavarei e limparei os bancos onde elas ficaram brincando, e remendarei todas as roupas rasgadas delas.
 
Ele foi obrigado a se sentar num cantinho atrás da porta, e teve de ficar quieto e sossegado ali, para que o Senhor, quando Ele retornasse, não o visse e ficasse bravo. O alfaiate obedeceu, mas assim que São Pedro saiu de perto da porta, ele se levantou, e cheio de curiosidade, começou a passear por todos os cantos do céu, bisbilhotando tudo em todos os lugares. Até que ele chegou num lugar onde havia muitas cadeiras lindas e confortáveis, e no centro havia uma cadeira de ouro toda decorada com joias brilhantes, e também ficava num plano mais alto que as outras cadeiras, e na frente dela havia um escabelo[1] de ouro.
 
Ela era, no entanto, o assento onde o Senhor se sentava quando ele estava em casa, e da qual ele podia ver tudo o que acontecia na Terra. O alfaiate permaneceu parado diante dela, e ficou olhando para a cadeira durante um longo tempo, e finalmente subiu e se sentou na cadeira. 

Dali ele via tudo o que acontecia na Terra, e viu uma velhinha muito feia que estava lavando roupas nas margens de um rio, e sem que ninguém percebessem pegou para ela dois véus que estavam de lado.
 
Quando viu isto, o alfaiate ficou tão nervoso que ele pegou o escabelo de ouro, e o jogou do céu lá embaixo na Terra, sobre a cabeça da velha safada. No entanto, como ele não conseguia trazer de volta o escabelo, ele saiu furtivamente da cadeira, se voltou a sentar no lugar atrás da porta, e se comportou como se nunca tivesse saído dali. 

Quando o Senhor e mestre retornou junto com seu séquito celestial, ele não viu o alfaiate atrás da porta, mas quando ele foi se sentar na sua cadeira, percebeu que o escabelo não estava mais lá. Ele perguntou a São Pedro o que tinha acontecido com o seu escabelo, mas São Pedro não sabia o que tinha acontecido. Então, Ele perguntou se alguém havia entrado ali enquanto Ele estava fora.

 "Não estou sabendo de ninguém que tivesse estado aqui," respondeu São Pedro, "com exceção de um alfaiate manco, que ainda está atrás da porta." 

Então, o Senhor mandou que trouxessem o alfaiate diante dele, e lhe perguntou se ele tinha atirado fora o escabelo, e onde ele o tinha colocado? 

"Oh, Senhor," respondeu o alfaiate alegremente, "Eu o atirei lá embaixo na terra, num momento de raiva, sobre uma velhinha que estava roubando dois véus enquanto lavava roupa." 

"Oh, seu velhaco," disse o Senhor, "se eu fosse julgá-lo como você julga, como acha que você teria escapado durante tão tempo?"
 
"Eu não teria mais cadeiras, bancos, assentos, nada aqui, nem mesmo o garfo de usar no forno, mas teria atirado tudo nos pecadores." 

"De agora em diante, não poderás mais ficar no céu, mas deves sair por aquela porta novamente. E vás para onde quiseres. Ninguém aplica punição aqui, com exceção de mim, que sou o Senhor. 

Pedro foi obrigado a expulsar o alfaiate do céu novamente, mas como os sapatos dele estavam furados e os seus pés estavam cobertos de bolhas, ele se apoiou num bastão com a mão, e foi embora bem devagarinho, dizendo "Esperem um pouco", enquanto os bons soldados se sentavam de tanto rir.
=======================
Notas e Referências do Tradutor
[1] Escabelo: banquinho para descanso dos pés.

Fonte:
Wikipedia

Aluízio Azevedo (Vida Literária) I – A Giovani

Ilustração por William Medeiros
(Particular)

Querido desconhecido. - A tua carta é a primeira carta anônima que respondo, das muitíssimas que até hoje tenho recebido. E a razão disso está simplesmente no modo asseado por que me falas. Deitaste um pequenino dominó de seda, mas mo descalçaste as meias e não arregaçaste as mangas da camisa.

Para dizer tudo - creio até que em ti percebi uma banda de luva amarrotada na mão esquerda.

Entra, pois, assenta-te, toma um charuto, e conversemos. Não precisas tirar a máscara; pediste que te não procurasse reconhecer, e eu, apesar de minha curiosidade, estou resolvido a fazer-te a vontade.

Antes de entrarmos no assunto verdadeiro de tua carta, convém declarar-te uma cousa: - Estou reconhecido pelas palavras lisonjeiras que me dedicas e mais ainda pelo interesse que mostras pelas minhas produções.

Nada é tão agradável para quem escreve, como saber que seus escritos preocupam de qualquer forma a atenção de quem quer que seja.

Ofereceste-me obsequiosamente para anotar o meu romance O Mulato e eu aceito e agradeço o oferecimento, sentindo apenas não possuir um exemplar para pô-lo à tua disposição.

Hoje é muito difícil encontrar um volume d'O Mulato.

Quanto ao que dizes a respeito das Memórias do condenado, pesa-me confessar-te uma cousa: - Tu tomaste muito a sério essa obra.

Que não nos ouçam os leitores do rodapé, mas impõe-me a franqueza declarar-te que as Memórias, enquanto não aparecerem em volume, não merecerão desvelos de ninguém.

Romance de au jour le jour, escrito para acudir às exigências de uma folha diária, está, como facilmente se pode julgar, eivado de erros e descuidos, que só na revisão para o volume poderão desaparecer.

Além disso, os erros tipográficos são tantos e tão constantes, que constituem uma verdadeira calamidade. Ainda no último folhetim, eu escrevi - belos brilhantes, e os tipógrafos disseram - velhos brilhantes; em outro lugar falo de pedras limpas, e eles emendaram para límpidas. Isto sem querer citar as repetidas transposições que alteram completamente o sentido do que está escrito; as palavras incompletas, os saltos e mil outros inimigos do estilo e da boa lógica gramatical.

Entretanto, manda-me as tuas notas - elas me poderão ser de grande utilidade. Quando fores razoável, seguirei o teu conselho e quando não fores não seguirei; em todo caso nada perderemos com isso.

Mas vejamos as tuas três primeiras emendas:

1.o) Queima como pus.

Se bem que isto não seja unia frase completamente verdadeira, tem todavia algum fundo de verdade. Há certo pus venenoso, que possui propriedades de cáustico, e queima a epiderme. Podes facilmente verificar esse fato nas feridas venéreas. Contudo não disputo a frase, porque não reconheço nela valor algum.

2.o) O abuso das frases - Que diabo! com os diabos! etc., etc.

Não me pareces nisso muito razoável, mas enfim pode ser que tenhas razão.

3.o) Pedes a supressão de certo adjetivo, porque ele pode lembrar desgostos a uma senhora, que ambos nós respeitamos.

Quanto a isso, só me resta declarar-te uma cousa: - Para poupar um desgosto a uma senhora de minha estima, eu seria capaz de sacrificar um dedo, quanto mais um adjetivo.

Creio que te fiz a vontade; espero por conseguinte que sejas mais severo nas tuas notas. Vê se dizes alguma cousa sobre a concepção artística de meus trabalhos.

Pena é que as Memórias estejam a expirar.

E com esta - adeus, fico-te obrigado e à espera de mais.

ALUÍZIO AZEVEDO

Gazetinha, Rio,

Fonte:
Biblioteca Virtual de Literatura

Loreta Valadares (Poemas Avulsos)

Fonte: Espaço Das (facebook)
Não te esqueças
de mim
minha memória...
a vida que levei
as lutas que ganhei
e as sem vitória.

Não te esqueças
de meu sonho
a gargalhada
e de minh’alma
apaixonada
que te fique
a lembrança
enlouquecida
de viver
intensamente
aos arrancos
sem prantos
totalmente
sem fôlego
Paixão
descabida
de revirar tudo
tudo
tudo...

Não te esqueças
de mim
minha angústia
o tempo
que perdi
as portas
que bati
a tormenta
o fracasso...
Que de mim
te recordes
a ânsia
de ultrapassar
limites
e arrancar
raízes

Maldita
teimosia
de não desistir
nunca
nunca...
==========================================

Vértices
conexos
ângulos
inversos
caminhos
díspares
delicada
flor
(recém)
desabrochada
em terreno
árido.
Para onde vai
o que não foi feito?
Ah! Se eu soubesse...
Ah! Se eu soubesse...

Sei tudo
e não sei nada.
Vida transpassada
alma inquieta
sonho sem limite
estreita passagem
perfeita miragem...

E
não sei nada
de tudo.

Não posso ter perdido
o que nunca tive
nem ter vivido
onde não estive
não posso ter chorado
a lágrima não vertida
e sequer ter aplacado
essa paixão ensandecida
de revolver a vida
tão completamente
e me tornar cativa
dos caminhos
sinuosos
da liberdade
(re)nascente.
================================

Mar
maresia
maremoto
mar morto
marulhar
maravilha.
Mar de rosas
mar alto
encapelado.
Mar aberto
maré cheia
longe mar
beira-mar
Marejar
Lacrimar
.................
Navegar...
navegar
onde-mais
em-que-mar....
========================

Coração,
para quê?
Eixo
do corpo
qual
eixo
do mundo
a executar
a rota
da esfera celeste.

Coração,
para quê?
Viver?
Sentir?
Ou, simplesmente,
com Fernando Pessoa,
“sentir com a imaginação
e não usar o coração”?

Coração,
para quê?
===============================

Tento
não ficar
triste
mas a dor
existe
e a espera
fere
como faca
em ponta
apontando
o instante
que pisca,
pisca
e não brilha...

(e onde é
que está
meu livro
de inglês?)
Não achei...
Não achei...

(enquanto esperava na fila do banco)
=================================

Sono
esquisito
infinito
sonho
espera
de tempos
encantados
de desejos
impossíveis
de trilhas
invisíveis.

Abro
os olhos
e espio
pela janela:
nenhum sinal
da noite.
==================================

Flor
Floreio
Florada
Flor-de-lis
Flor-da-noite
Floral
Floresta

Florete.
Ferino
Corte
============================

Humanas vozes
em gritos
de silêncio
clamam
da vida
uma resposta


Vazados olhos
em visões
sinistras
espreitam
no mundo
a loucura

Paira
sobre ondas
revoltas
(a) tormenta
do tempo
presente

Feixe
de luz
e sombras
atravessado.
Punhal
cravado
no peito
da humanidade

Fonte:
Goulart Gomes (organizador). Antologia do Pórtico.

José Amauri do Nascimento (O Assassinato da Esperança)

O alarme soou quando os ponteiros cruzaram cinco horas em ponto e o pequeno cômodo logo foi tomado pela estridente sonoridade do despertador do relógio comprado no camelódromo do Centro do Rio de Janeiro, fazendo com que Luiz Carlos, num sobressalto, o desligasse para que seus irmãos menores não acordassem. Cansadamente abriu os olhos e esticou o corpo ainda sonolento sobre o colchonete estendido no meio do quarto, de joelhos o dobrou e o empurrou com cuidado pra debaixo do beliche onde dormiam os dois mais novos dos quatro irmãos, levantou cambaleante dando longos bocejos e, a custo, pé ante pé, na penumbra embaçada do dia que começava, tateou as duas redes onde os outros dois se remexiam em leve incômodo.

— Ui! Desculpem-me, voltem a dormir... Shhh...

No único banheiro da casa, onde dispunha apenas de água fria, o coração do garoto que acabara de completar 16 anos, experimentava um misto de sensações que fazia seus batimentos acelerarem descompassadamente.

Seu pai já não mais se encontrava em casa, levantara ainda mais cedo, sua labuta diária beirava doze horas. Sua mãe se encontrava na humilde cozinha fervendo água na única boca que funcionava do fogão velho.

Luiz Carlos tomou um banho apressado, em parte pela baixa temperatura da água, mas principalmente, pela ansiedade que o assolava. Aquele haveria de ser um dia muito importante, não queria se atrasar. Na verdade, sabia: a fila a esperá-lo seria enorme e desejava ser, senão o primeiro, um dos primeiros.

Mesmo não tendo muitas opções, vestiu a melhor roupa, pois lera numa matéria de uma revista velha, que uma boa apresentação contaria pontos. Na cozinha, açodadamente, comeu meio pão dormido sem margarina e tomou um gole de café meio amargo que a mãe acabara de preparar. Já na porta, a mulher, pouco vigorosa, lançou-lhe um olhar pesaroso, mais pela dureza dos dias do que propriamente pelo que, de fato, sentia.

Tentando, o máximo que podia passar-lhes as esperanças que somente o âmago das mães pode acumular, abraçou-o com as poucas forças de braços magros e desejou-lhe, amorosamente, boa sorte.

— A sua bênção mãe! (...)

Em meio aos anseios daquele dia que o tomavam de assalto, o jovem sonhador e esperançoso por dias melhores, viu a porta fechar-se às suas costas. Escadaria abaixo seguiu atalhando as bifurcações dos becos da comunidade.

Em cada esquina um sorriso nervoso desenhava-lhe o rosto e um calafrio fazia cócegas na barriga, porém, o pensamento era um só: o de que a sua vida e de toda a família estavam prestes a mudar, e pra melhor...

Já na última esquina, acesso a avenida principal, onde pegaria a condução que o levaria ao seu destino, num gesto inocente, levou a mão ao bolso da calça por baixo da camisa. Nesse momento um estrondoso estampido ecoou e um forte impacto o atingiu no peito jogando-o para trás de encontro ao muro. Escorregou lentamente parecendo apenas sentar-se, enquanto uma mancha escorria às suas costas pintando de vermelho a parede descascada.

Policiais que se preparavam para uma incursão surpresa, aproximavam-se:

— Você viu tudo! Ele estava armado, ia atirar...

— Não parceiro, esse daí não faz parte da facção, ele só tinha um papel no bolso!

Abaixando-se, retira da mão do jovem, de olhar estático e sem vida, um panfleto onde se lia: Primeiro emprego! Entrevista: A partir das 08:00h.
==========================
*Suboficial da Marinha do Brasil, reside no Rio de Janeiro/RJ, é membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Fonte:
Revista Literária Café-com-Letras – Ano 11 n.11. Teófilo Otoni: Academia de Letras de Teófilo Otoni, 2013.

Machado de Assis (Gazeta de Holanda) N.° 13 – 24 de fevereiro de 1887.

Há tanto tempo calado...
E sabem por quê? Por isto:
Pelo número fadado
Da ceia de Jesus Cristo.

Número treze. Com esta
São treze as minhas Gazetas.
Numeração mui funesta,
Cheira a cova e a calças pretas.

Há, porém, quem afiance
Que treze é dúzia de frade.
É opinião de alcance,
Que anima e que persuade.

Contudo, em uma pessoa
Sendo supersticiosa,
Antes que na cousa boa,
Crê na cousa perigosa.

Daí veio esta comprida
Vadiação; era medo,
Medo de perder a vida
Cedo, mais que nunca cedo.

Lembra-me inda certo dia,
Quando eu tinha treze anos;
Jantamos em companhia
Treze rapazes maganos.

Um acabou reprovado
Na Escola de medicina;
Outro está bem mal casado;
Outro teve pior sina.

Pior, digo, e em muitos pontos;
Geria a casa dos Bentos;
Fugiu, levando dez contos,
Em vez de levar quinhentos.

Outro é político, e anda,
Ora triste, ora sinistro;
Dizem-me que ele tresanda
Vontade de ser ministro.

Em dia de crise, voa
A meter-se em casa, à espera
De alguma notícia boa;
Espera que desespera.

Só sai quando o gabinete
Fica de todo formado,
E jura pelo cacete
Que há de pô-lo derreado.

Bufa, espuma. Abrem-se as câmaras,
E o meu companheiro e amigo
Aguarda o tempo das tâmaras,
E torna ao seu voto antigo.

Outro daqueles rapazes
Procura sinceramente
Entre os meios mais capazes
De encher a barriga à gente.

Um que seja imediato
E de graúdas prebendas,
Ou testamento, ou barato...
Já não há pr'as encomendas!

Cá por mim, tive um inchaço
Na perna esquerda; diziam
Que essa doença era andaço,
E até que muitos morriam.

Sarei; mas foi sobre queda
Couce. A morte tão sombria.
Que tantas casas depreda,
Poupou-me para este dia.

Pois, minha dona, aqui fico,
Já daqui me não arranco,
Achei um recurso rico:
Deixo este número em branco.

Não dou Gazeta nem nada;
Não falo em cousa nenhuma,
Gouvea, moção, espada;
Em suma, de nada, em suma.

E tanto mais ganho nisto
Que, como se fala em rolo,
Podia um lance imprevisto
Tirar-me o melhor consolo.

Que é este: olhar para a rua
Cheia de cousas chibantes,
E dizer — Feliz a lua...
Se é que não tem habitantes.

Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.

Nilto Maciel (Os Urubus e Deus)

– Qual a diferença entre a alma e um passarinho?
O que é a alma,
Isaac L. Peretz

 (...) formavit igitur Dominus Deus hominem de limo terrae et inspiravit in faciem eius spiraculum vitae et factus est homo in animam viventem (...)
Vulgate, Genesis, 2:7

O urubu avistou o corpo do menino, empinou-se e bateu as asas. Não pude fazer nada. Aliás, nunca posso fazer nada. Não devo fazer nada. Não posso estorvar os impulsos instintivos dos urubus, nem dos leões, nem dos sapos. Todos eles precisam sobreviver. Os olhos da alma do menino pareciam horrorizados. Então ele, um ser humano, pequenino ser humano, recém-nascido, indefeso, deveria morrer para que urubus sobrevivessem? Não entendia a lógica da morte.

Maria, coitada, mãe tão jovem, sem forças, sem amparo, desorientada, machucada, ferida, agiu por impulso, por loucura, desespero de não ter como criar o filho, de não ter lar, marido, nada. Quem seria o pai? José, João, Marcos, Mateus, Lucas? Pobre Maria, apaixonada, usada, objeto. Grávida, procurou amigas. Não podia ser mãe, abortaria. Ou criava o filho com o pão amassado pelo diabo? Não encontrou quem lhe tirasse as dúvidas. Se me buscou, não lembro. Se rezou a mim, pouco importa. Há o livre arbítrio.           

Chegado o momento de parir, Maria se acocorou, pôs-se a gemer, chorar, praguejar. Um corpo mole e ensanguentado escorria de suas entranhas. Quase a desmaiar, puxou com as mãos o fruto de seu ventre. Sentou-se e chorou mais. Urgia cortar o cordão umbilical, livrar-se daquilo. Apalpou a faca, agarrou-a e fez o corte. Estrangulava a criança? Não, ia lavar-se, descansar, dormir. Ou morrer. Cochilou, recostada à parede do banheiro. Uma barata passeava pelo chão. Apanhou o lençol e jogou-o sobre o corpo do filho. Ajoelhou-se, suada. Enrolou o pano no menino. Colheu o pacote e ergueu-se. Abriu a porta do banheiro e, pé ante pé, dirigiu-se à rua. Talvez fosse madrugada. Caminhou pela calçada. Latas de lixo recostadas a postes e muros. Olhou para os lados, as portas e janelas fechadas. Um carro passou longe, em disparada. Depositou o pacote numa das latas e correu para casa.

A alminha não parava de fazer perguntas. Por que não impedi a fecundação de Maria? Porque não posso impedir a procriação. A vida é necessária, imperiosa. A alma infantil não aceitava as minhas ponderações. Tudo, para ela, parecia injusto, errado, torto, feio, cruel. Fui insultado: chamou-me de tudo, menos de deus. Chamou-me de caos, confusão, desordem, diabo.

De manhã garis passaram pela rua, aos gritos e correrias. Pegavam as latas e despejavam o lixo no interior do caminhão. Levado para o monturo junto ao lixo, o menino foi lançado fora. Urubus, impacientes, espiavam de longe a movimentação dos trabalhadores. Ao virem afastar-se o caminhão, voaram sobre o repasto.

O capitão dos urubus se aproximou do pequeno ser. Olhos arregalados para o mundo, a criança chorava. A ave deu a primeira bicada. Faminta, passou a bicar a barriga, as pernas, o peito. O sangue tingia as penas negras do bicho.

Outros urubus se acercaram do pequeno corpo ainda vivo. E logo o banquete virou disputa, guerra. Com pouco tempo restavam apenas ossos. No entanto, a alma do menino evaporou-se e subiu ao céu. Os urubus se lamentaram, crocitando feito aves malditas. A fome não se resolve nunca, menino. Sim, todos são alimento, tudo é alimento. Nunca viste leão caçando veado? Se é justo ou injusto? Justiça e injustiça são apenas palavras.

O menino quis saber se os causadores de sua tragédia foram os urubus, sua mãe, seu pai, os garis ou o prefeito. Não posso acusar ninguém. Não devemos julgar os personagens das tragédias. Nem qualificá-los, adjetivá-los. Nada de lobo mau, mãe santa, pai-nosso. Compete-nos apenas ver e contar. Não nos cabe desenhar nada, nem dar lições de moral. Os seres existem, os fatos se dão, a vida se faz. E é só.
 
Fonte:
MACIEL, Nilto. A leste da morte. Editora Bestiário, 2006.

Concurso de Contos Águas do Tijuco (Resultado Final)

A Fundação Cultural de Ituiutaba promotora do Concurso de Contos Águas do Tijuco, o mais importante concurso de contos do país, tanto pela qualidade dos contistas participantes, da comissão julgadora e pela premiação paga ao vencedor, considerado o maior prêmio literário do Brasil. Esse ano em sua segunda edição tivemos a participação de centenas de contistas, numa disputa que proporcionou a comissão julgadora muita dificuldade para se chegar ao vencedor, devido à qualidade dos contos inscritos. Tivemos a participação de contos vindos do Japão, Alemanha, Portugal e Estados Unidos, de brasileiros radicados nesses países.

Ao final do julgamento, o grande vencedor do 2° Concurso de Contos Águas do Tijuco de Ituiutaba, é Eder Rodrigues de Belo Horizonte, com o conto: “Orquestra de enxadas”. Segue abaixo a relação dos dez (10) contos selecionados pela comissão julgadora, que irá fazer parte do livro editado pela promotora, Fundação Cultural, onde serão publicados os dez contos selecionados, porém, sem ordem de classificação, destaque apenas para o conto vencedor, “Orquestra de enxadas”, que irá receber, além da publicação, R$ 3.000,00.

1º lugar: Orquestra de enxadas – Eder Rodrigues – Belo Horizonte – Minas Gerais

- Anjo Velho – Marina Tschernyschew – Guarujá – SP

- Assimétricos – Lúcio Emílio do Espírito Santo – Bom Despacho – Minas Gerais

- As areias de antes – Helder Luiz Rodrigues – Curitiba – PR

- Movimento das Marés – Osvaldo Vasconcelos Vilela – Rio de Janeiro – RJ

- O último medo – Márcia Maria Carini – Saõ Paulo – SP

- O vento – Tanussi Cardoso – Rio de Janeiro – RJ

- Perfeição – Fábio Dobashi Furuzato

- Réquiem para um escritor anônimo – Diego Trindade Hahn – Santa Maria - RS

- Vento na janela – Elicos Araujo – Brasília – DF

Fonte:
http://fundacaoituiutaba.com.br/?p=1226

Concurso Nacional de Poesias de Ponta Grossa/PR (Resultado Final)

Mais de 400 trabalhos foram inscritos nas categorias local e nacional do Concurso de Poesias 2013, que conheceu os vencedores esta semana. O edital foi promovido pela Fundação Municipal de Cultura (FMC) e Conselho Municipal de Política Cultural (CPMC). A homenageada deste ano é a poeta ponta-grossense Sônia Ditzel Martelo. Os demais concursos literários ainda não divulgaram os resultados.

A Comissão Avaliadora, composta por Sônia Ditzel Martelo, Diego Gomes do Valle e Ubirajara Araújo Moreira, escolheu vencedores locais e nacionais. Cada premiado recebe um prêmio no valor de R$ 1 mil.

O concurso, que acontece desde 2008, visa incentivar a produção literária local e o intercâmbio com brasileiros que gostam das letras. Nesta edição, o edital recebeu centenas de inscrições, dificultando o trabalho da comissão, como explica a professora Sônia Ditzel Martelo. Ela e os demais avaliadores leram 362 poemas nacionais e 63 de Ponta Grossa. “Foi muito intenso e gratificante participar de um concurso nacional dentro da maior seriedade como são os trabalhos desenvolvidos pela Fundação”, reforça Sônia.

O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Paulo Eduardo Goulart Netto, lembra que os interessados com residência em Ponta Grossa puderam se inscrever nos dois níveis, bastando enviar trabalhos diferentes e inéditos. “O grande número de inscrições mostra que Ponta Grossa se firma no cenário nacional como uma grande incentivadora e aglutinadora da produção literária, além de mostrar a seriedade do trabalho desenvolvido pelo órgão gestor de Cultura ao longo dos últimos anos”, revela.

Por iniciativa da Comissão Avaliadora, foram conferidas ainda 12 menções honrosas (quatro para poetas ponta-grossenses e oito para outras cidades brasileiras), devido à alta qualidade das produções apresentadas. As obras premiadas e as menções honrosas serão publicadas em antologia, numa edição especial dos concursos de Contos, Poesias e Crônicas de 2013, com 1.500 exemplares, editada pela Fundação Municipal de Cultura no 1º semestre de 2014.

Vencedores

Categoria Nacional:


1º Lugar – Vó e Vô – André Telucazu Kondo, Jundiaí/SP

2º Lugar – Ananás – Rei! – José Jair Batista Filho, de Arujá/SP

3º Lugar – A Vertigem - Adriano Apocalypse de Almeida Cirino, Belo Horizonte/MG

Categoria Local

1º Lugar – Cheiro de Sítio – Elioenai Padilha Ferreira, de Ponta Grossa/PR

2º Lugar – Fugas Caseiras – Kleber Bordinhão, de Ponta Grossa/PR

3º Lugar – Conexão Virtual – Cássia Letícia Miranda Rodrigues, de Ponta Grossa/PR

Menções Honrosas - Local


Escape – Hellen Andréia da Silva Bizerra, de Ponta Grossa/PR

Dez para as Sete – a.m. – Ana Carolina Gilgen, de Ponta Grossa/PR

Testamento - Rosana de Hollebem, de Ponta Grossa/PR

Marés – Samuel Antunes dos Santos, de Ponta Grossa/PR

Menções Honrosas - Nacional

Acróstico – Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, de Arcoverde/PE

Poeta Analfabeto – Rômulo César L. Rodrigues de Melo, de Recife/PE

O Milagre dos Corpos - Odenir Paim Peres Júnior (Odemir Tex Jr), de Santa Maria/RS

Poema de Insetos - Marcelo Melo Soriano, de Santa Maria/RS

Porque os Amavam... - Maria Apparecida S. Coquemala, de Itararé/SP

Ilusionismo – Carlos Henrique Costa, de Rio de Janeiro/RJ

Insônia – Rodrigo Ladeira, de Itanhaém/SP

Falado! – Geraldo Trombin, de Americana/SP

Fonte:
http://www.culturaplural.com.br/concurso-de-poesias-revela-resultado/

Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional 2013 (Resultado Final)

1– Prêmio Alphonsus de Guimaraens

Categoria: Poesia

Vencedor: Armando Freitas Filho – "Dever"
Editora: Companhia das Letras
Comissão julgadora: Celina Portocarrero, Afonso Henriques de Guimarães Neto e Alberto Vasconcelos da Costa e Silva

2 – Prêmio Aloísio Magalhães

Categoria: Projeto Gráfico

Vencedor: Flávia Castanheira – "Contos maravilhosos infantis e domésticos"
Editora: Cosac Naify
Comissão julgadora: Ana Camara Soter da Silveira, Sérgio Liuzzi Guimarães e Victor Alexis Burton

3 – Prêmio Sérgio Buarque de Holanda

Categoria: Ensaio Social

Vencedor: Joel Birman – "O sujeito na contemporaneidade"
Editora: Civilização Brasileira
Comissão julgadora: Ricardo Augusto Benzaquen de Araújo, Dulce Chaves Pandolfi e Maria Alice Rezende de Carvalho

4 – Prêmio Mario de Andrade

Categoria: Ensaio Literário

Vencedor: Paulo Henriques Brito – "A tradução literária"
Editora: Civilização Brasileira
Comissão julgadora: Maria Flora Sussekind, José Almino de Alencar e Silva Neto e Luiz de França Costa Lima Filho

5 – Prêmio Paulo Rónai

Categoria: Tradução

Vencedor: Denise Bottmann – "Mrs.Dalloway"
Editora: L&PM Editores
Comissão Julgadora:
Berilo Vilaça Vargas, Leonardo Fróes da Silva e Tomaz Adour da Camara

6 – Prêmio Machado de Assis

Categoria: Romance

Vencedor: Verônica Stigger – "Opsianie Swiata"
Editora: Cosac Naify
Comissão julgadora: Sérgio Ferreira Rodrigues Pereira, Marcelo Francisco Batista Moutinho e Tatiana Oliveira Siciliano

7 – Prêmio Clarice Lispector

Categoria: Conto

Vencedor: Cintia Moscovich – "Essa coisa brilhante que é a chuva"
Editora: Record
Comissão julgadora: Jorge Antonio Marques, Luísa Chaves de Melo e André Luis Mansur Baptista

8 – Prêmio Sylvia Orthof

Categoria: Literatura Infantil

Vencedor: Leo Cunha – "Haicais para pais e filhos"
Editora: Record
Comissão julgadora: Elizabeth D’Angelo Serra, Ana Maria Martins Machado e Laura Constância Austregésilo Athayde Sandroni

9 – Prêmio Glória Pondé

Categoria: Literatura Juvenil

Vencedor: Marcos Bagno – "Marcéu"
Editora: Positivo
Comissão julgadora: Rona Hanning, Marisa de Almeida Borba e Ninfa de Freitas Parreira

Fonte:
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2013/12/premio-biblioteca-nacional-anuncia-livros-vencedores-da-edicao-2013.html

24º Concurso de Contos Paulo Leminski 2013 (Resultado Final)

Vencedores

1º Lugar - "A estranha", de Robson Rosário Curvêlo, de Praia Grande (SP);

2º Lugar - "Lalena, os sapatos e os ovos", de José Humberto da Silva Henriques, de Uberaba (MG);

3º Lugar - "O atirador de facas", de Carlos Bruni Fernandes, de São Paulo (SP);

Melhor Conto Toledano –
 
"Aquele sorriso", de Valdinei José Arboleya.

Menções Honrosas:
(por ordem alfabética)

Celso Cláudio Carneiro, de Goiânia (GO). Conto: “ Ânfora, âncora e Minâncora”;

Márcia Maria Carini, de São Paulo (SP). Conto: “O Barbeiro”;

Euler Lopes Teles, de Barra dos Coqueiros (SE). Conto: “Cauê”;

Edileuza Bezerra de Lima Longo, de São Paulo (SP). Conto: “Com as mãos vazias”;

Bethânia Pires Amaro, de Salvador (BA). Conto: “Leões e gazelas”;

Amarildo de Sousa, de Divinópolis (MG). Conto: “A mulher que fabricava anjos”.

Jangada de Versos do Ceará (1)

LEONTINO FILHO
(Aracati,1961)
DENTRO DA NOITE, PENSO EM TI

-
Volta e meia
sigo rumo à ilha do amor
coisas antigas que ficaram
nau perdida no porto abandonado
barco sem vela
que persiste no desenho
formado pelas águas dos rios.

Volta e meia
o fluxo de imagens paira sobre as águas
e sigo devorando
a cauda dos sonhos
retornando ao chão descontínuo da ilusória
estrada do bem querer:
uma outra história.

Volta e meia
o amor perturba o sono descontente das estrelas
e o luar embaraçado
por tantos murmúrios
arma a provisória tenda da paixão:
o meu olhar de neblina
costurado na memória
tece a infância medieval
do teu corpo.
=============================

JOSÉ LINHARES FILHO
(Lavras da Mangabeira , 1939)
A MINHA MAE, HABITANTE DA MORTE

-
Tua branca rede já não se arma
para a sesta. Todavia guardo,
com o ranger longínquo dos armadores,
a placidez do teu sono
a entreter o meu sonho.
No teu aposento, mansa e invisível, dorme uma ave.
A mesa posta, entre o apetite e a lembrança,
há uma cadeira sem dono.
Falta ao alimento o tempero
que de tuas mãos ninguém pode aprender.
Mas junto a mim esta um cântaro
que se encheu de lágrimas que libertam.
As dálias do jardim continuam a florescer,
cada ano, tão brancas, tão viçosas! Contudo
parecem reclamar a sutileza
de um carinho que o meu sono não esquece...
Teus pincéis dormem
com a resignação de pincéis.
Minha alma imperfeita, a despeito de teres sido
artista perfeita, pede, todo dia,
os últimos retoques.
Santa e elmo,
no navio em que eu encontrar borrasca,
os teus olhos serão santelmo...
No silêncio noturno não se ouvem mais
os passos cautelosos com que fechavas
a janela que dá para a rua,
no entanto percebo,
na lã escura da noite,
o abrigo do teu xale.
=====================================

MYRIA DO EGITO
(Fortaleza)
PINCELADAS TORTURADAS

-
esparramando cores
na tela apática,
embebe-se e nasce,
da mão torturada
do pintor.

Feridas jorrando tons,
amarelos desesperados,
vermelhos sangrantes.
E azuis
todas as nuances
mar, noite, água, céu.

Angústia borbulhante
em criação incansável
como se soubesse
que o tempo esvaía-se
como os que partiam
como os que morriam.

Desespero explode
vulcão em erupção.
Alma atormentada
amputando-se.
Faca, orelha, dor,
tela, campo, cor.
Olhar perdido,
sem saber de si.

Perdendo-se
no torturante
pesadelo de criar.

Carente
de um olhar por dentro
da carcaça infame.

Banido.
Tingido de cores
em tela de sombras.

 Teu legado.
que o mundo rejeitou.
espraia-se por
galerias e museus.
Inatingível
e eterno.
Impassível
como as cabeças de cervos
em paredes anónimas,
Conheço tua tortura,
parceiro na loucura,
na busca do ponto final.
==================================

EDUARDO PRAGMACIO DE LAVOR TELLES FILHO
(Foratleza, 1969)
INVASÃO

-
Essas imagens perdidas na noite
antes me despertavam encanto,
agora me trazem tormento.

E quando me tocam,
a rosa arranca o espinho,
a taça rejeita o vinho
e o tempo se cobre,
rapidamente,
com um lençol branco de linho.

A imagem
escorrega até a ponta
dos meus dedos,
no íntimo da palavra,
invade o papel.
==============================
HORÁCIO DÍDIMO PEREIRA BARBOSA VIEIRA
(Fortaleza, 1935)
A PALAVRA CHAVE

-
 a palavra chave
 já não fecha
 nem abre

 a palavra amor
 muda de cor

 a palavra verde
amadurece

a palavra ave
voa no papel
==========================

CARLYLE DE FIGUEIREDO MARTINS
(Fortaleza, 1899 – 1986)

E S T Ó I C O     

-
 Pelo caminho estreito em que ora sigo,
Pisando em cardos, sob um céu escuro,
Não vejo a paz serena de um abrigo,
Nem sol que aclare as trevas do futuro.

Encontrar leve alfombra não consigo,
Em toda parte o solo é áspero e duro,
Mas, no árduo impulso do vigor antigo,
Em seguir a jornada me aventuro.

Viva eu a dores infernais sujeito,
Pedradas rudes batam no meu peito,
Pervague à toa, esquálido e sozinho,

Sei que a mágoa da vida é transitória,
E hei de um dia cantar, de amor e glória,
Vendo estrelas e sóis no meu caminho.

Clevane Pessoa (Trovas)

A arte é a essência plástica
a cada coisa do mundo
— a criatividade é elástica
faz o que é raso, profundo

A empregada, despedida,
Sai triste, trouxa na mão...
Leva no ventre, uma vida
Que é do filho do patrão...

A gestante, carinhosa,
"leva" o bebê, comovida...
Sensação maravilhosa:
Guarda, no ventre, UMA VIDA...

A honestidade aprendi
com meu pai, honrado e forte
— igual a ele, nunca vi
ser sua filha, é uma sorte...

Ajudando a toda gente
amando sem distinção
é que ganha o presente
de ter céu com pés no chão...

Ajudar a cada irmão
Fazer tudo o que pudermos
— Pois essa é a nossa missão,
Se o crescimento quisermos...

A minha alma, em plenitude,
Cheia de luminosidade
Faz-se bela, na quietude
Do amor que se faz saudade...

Amo com tal amplitude
Que nem tempo, nem espaço
Reduzem a completude
Transmitida quando abraço

Ao bom Deus, Mariazinha
Pede para devolver
Sua Santa mamãezinha
Que morreu pr’a ela nascer...

Ao ver as meias, coitado
o vovô pensa:-"Já sei!
Essas, dei no ano passado
no retrasado, as ganhei..."

Apesar das tempestades
Meu espírito cansado
Tem reservas de amizade
Pra cada momento errado.

A primeira vez da gente
É gravada por demais!
Mas é como estrela cadente
Que ao céu não volta jamais...

As duas rosas do teu rosto
De róseas, brancas ficaram,
Para mostrar teu desgosto
— Já que os olhos não choraram...

As notas interpretando
Com os pés, pernas, mãos, braços,
A moça que está bailando
Vai "escrevendo" com seus passos...

A solidão que me embala
Canta-me tristes cantigas...
Será que o silêncio fala?
Serão as sombras, amigas?

Às vezes, o Amor, querida
Pode matar a ilusão...
O sol, que dá luz e vida
Traz desgraças ao sertão...

Às vezes, te trato mal
Por coisas tolas, banais
— E até zangada, afinal
Te quero cada vez mais...

A verdade é mole ou dura
dependendo da impressão
— ou é Bem que assim perdura
ou demonstra a escuridão

Ciúme é flor que não se cheira
Por mera premonição,
— Ainda assim, erva traiçoeira
envenena o coração

Com lucidez peculiar
Quantos "doidos" são mais certos
Que os que pensam acertar
Julgando-se muito espertos...

Com uma luz interior
que os "normais" não podem ver,
o cego tem um pendor
para "enxergar" o prazer...

Deixe o orgulho, minha gente...
Abandonem tal pecado!
— No acerto, é ficar contente!
No erro, entender o recado!...

Dentro de mim, choro tanto
— E sorri tanto, o meu rosto!
— Em riso, torno meu pranto,
Para ocultar meu desgosto...

Deus, que escuta toda prece
Atende meu jardineiro
A roseira floresce
E há gerânios, o ano inteiro...

Deve-se amar aos doidinhos
São filhos de Deus, também
Agem como os passarinhos
Não fazem mal a ninguém...

É minha mãe quem me inspira
Os versos do coração:
De seu amor, sonora lira,
Eu tiro qualquer canção...

Em vão espera um brinquedo
um menininho de rua...
Risca no chão, com um dedo,
um foguete e vai prá lua…

Eu fico presa, extasiada,
Nas folhas daquele galho,
Pois amo o que é quase nada
Como o cristal do orvalho...

Eu sou sempre adolescente
Recriando quase tudo
— Inquieta, mas resiliente:
Aço puro, com veludo...

Eu vivo há uns tantos anos
— De angústia, seculares –
Sofri tantos desenganos
Que fiquei imune aos pesares...

Fui "bruxa", ou fada, sabendo
Com as ervas curar doentes,
Bebês à luz, vim trazendo
Fiz brotar muitas sementes...

Gato pardo e belicoso
Arqueia o corpo robusto,
Projeta as unhas, raivoso
Vira um puma no seu susto

Gatos à noite são bardos
E miam versos para a lua
Dizem que então ficam pardos
Parecem da cor da rua…

Há gente que vale nada
— Rouba ideias, trai amigos
Fazendo os outros de escada,
Ocupando seus abrigos...

Há muito "louco" no hospício
Fazendo tanto escarcéu
Por ter passe vitalício
Nos auditórios do Céu...

Há no mistério da fome
este mistério profundo:
É Cristo quem se consome
Em cada pobre do mundo...

Impossível conhecer
Mesmo o presente obscuro:
Tudo pode acontecer
Sem fantasiar o futuro

Jamais terei um presente
qual o que desejo mesmo:
a presença que está ausente
porque no céu caminha a esmo…

Jardineiro os segredos
Das rosas, tem o ceguinho
— "Eu tenho olhos nos dedos
Sei contornar cada espinho"...

Mentiste sempre, é verdade
— Nunca me amaste, afinal!...
Mas não quero a realidade
Mente mais, que não faz mal!...

Meia dúzia de gatinhos,
uns nos outros, enroscados,
são novelos bem quentinhos
parecem interligados

Meu canto é de Amor e Paz
— Sou humilde passarinho
Que trovas, num leva-e-traz
Sai espalhando, de mansinho...

Meu coração galopante
Deixa-me às vezes, sem ar
Por tudo que é discrepante
Do meu jeitinho de amar...

Meu Deus, por que sofro assim,
Pardal em boca de gato?
Se não tens pena de mim,
Como ser intimorato?...

Meu mar de amor é abissal
Insondável, pois profundo:
— Esconde-me assim do Mal
E das invejas do mundo...

Meu mar de amor se renova...
— Será que vou conseguir
Na gota de orvalho — A TROVA —
Pôr meu jeito de o sentir?...

Meu pai, menino crescido
Brinca mais que meus irmãos
— Meu coração, comovido
Vê os calos em suas mãos...

Meu pai tem vista apurada
excelente pontaria...
mas jamais matava nada,
pela sua filosofia...

Meu sobrenome é pessoa
— Uma luz a me nortear:
Ser leal, ser muito boa,
a ninguém prejudicar...

Minha mãe!... Quanta saudade
Da passagem, pela Terra,
De quem me ensinou a bondade
E o perdão – que a paz encerra...

Minha rua, que se aclara
Com a luz do sol, nascente,
À tardinha se prepara
E vai dormir com o poente...

Nada é somente difícil
Tudo, mesmo, pode ser.
— O impossível só é incrível
Até quando acontecer...

Nada pode contestar
O poder da natureza
— Nem o homem a reinventar
O que Deus fez com certeza!

Não desejo nunca o Mal,
mesmo a quem mal me trouxe
A bondade é bambuzal
de mil folhas e som doce...

Não fiquei gorda, nem chata
Ao passar para a meia-idade
Sonho sempre — e intimorata
Sigo, sem indignidade…

Não há mulher que não minta
Nos diz um velho refrão...
— Tem gordura sob a cinta
E diz "sim" quando diz "não"...

Não me atingem as palavras
De calúnia ou de desdém...
Infâmia, tu não me cravas
As invejas de ninguém...

Não tendo, medo de nada,
Vivo porém escondida,
Ocultando essa espada
Que faz-me sangrar a vida...

Na tristeza da saudade,
O coração faz queixume:
Fugiu-me a felicidade
Vai-me chegando o ciúme...

Nenhum carnaval da Terra
traz de volta os que se vão
-a saudade nos encerra
em um fechado salão…

Nesse muros, tão pixados,
Vejo os conflitos do povo
— E sinto que os desgraçados
Querem ser "homens"... De novo!

No mistério dos vitrais
Há captação da energia
Que o Cosmos, às catedrais
Manda em plena luz do dia...

Nos opostos, a atração
Forma, às vezes, completude
Mas noutras, há combustão
Ou barulho em plenitude...

Nossas máscaras do dia
nem sempre nos fazem mal
a esconder dor ou alegria
de um eterno carnaval...

Nossos erros nos apontam
Novas trilhas nos caminhos
E os acertos só despontam
Se afastamos os espinhos

Nos teus olhos, a luz que arde
Faz meu espírito brilhar...
Fui entendê-los tão tarde!
Agora não posso voltar...

No verão, canta a cigarra.
Hino à vida, sem razão,
Pois a vida a que se agarra
Finda em meio da canção

Num mundo de faz-de-conta
O insano, bem contente
Parece dançar na ponta
De uma lança incandescente

O amor materno é meu ninho
— É fogo que não se acaba
— É canto de passarinho
Mesmo se a chuva desaba...

MAIS TROVAS, POEMAS, HAICAIS, BIOGRAFIA,ENTREVISTA DE CLEVANE PODE SER OBTIDO NO E-BOOK. FAÇA O DOWNLOAD EM:

http://issuu.com/wichaska/docs/trova_brasil_15_-_clevane_pessoa

Clevane Pessoa (Outros Versos)

HAICAIS
( em Haicais, Clevane utiliza o pseudônimo Hana Haruko)

Os risos das crianças:
No cristal, bolas de gude
— luzes trepidantes ­

Pássaros canoros
Energia em expansão
Almas projetadas...

Gestação do arco-íris
Leveza atestando o efêmero
— Bolha de sabão.

Reflexo de prata:
Luar despeja-se no mar
— Espelho do céu

Leve borboleta
Vitória sobre a crisálida:
Pétalas aladas…

Sons de flauta doce:
Murmúrios edulcorantes
- Vento no bambual...

Órgãos musicais
De sonata progressiva:
Cigarra insistente

Armadilha bela:
Luz atraindo mariposa
- Destinação cruel

Força dos opostos
Espirais de eternidade
Yin e yang: você e eu

Pescoços de cisne
Transformam em corações
O espaço vazio…

Mini-borboletas
Orquídeas papilonáceas
- Só não podem voar

Violinista freme
Libélula com o arco
Vibrações no espaço...

Pássaros nos fios
Como notas musicais:
Celestiais canções...

A chuva pingando
Devassa o botão da flor
De / flora antes da hora...

Pele contra pele
Proximidade de cheiros:
Mistura de humores

POESIAS

De Anjos e de Pássaros

-
Ergo olhar deslumbramento
vejo anjos sobre cabeças humanas
dentro da catedral;
Anjos de ferro negro,
esculturas na arquitetura
de formas quase profanas
a romper tradição.

Não desabe ó figura
milenar, tu que estás
bem sobre mim ,
que não rezo orações prontas
e somente sei usar
o verbo molhado em pranto
ou a metáfora cheia de luar.

(...)
Que desabem
sobre as cabeças dos poetas
os passarinhos em alarido
dentro de um mercado,
a parecer kamikaze,
suicida em massa,
ao jogar-se do teto ao chão
apenas para bicar migalhas.

São nosso retrato:
livres, sem sermos canalhas,
videntes com olhos cheios de palhas
a pre/dizer os tempos,
cada fato envolvido
no pacote dos tesouros,
crianças e sábios a um mesmo tempo,
a chamar atenção pelos voos inusitados.

(...)

Prefiro os pássaros vagabundos
das ruas e das igrejas,
mercados e sinais.
Não são artes singulares e belas
nem enfeites de catedrais:
os anjos passarinhos
de Brasília
estão presos a cabos
e suspensos
sobre nossas cabeças
a lembrar talvez pecados ,
talento, criatividade embora.
Já os pássaros – anjos
desde o Egito antigo
têm a missão de carregar almas
entre a vida terrena
e a morada dos deuses.
-
ALEGORIA DAS PALAVRAS SOLTAS
-
Que as mãos dos poetas
libertem as palavras de conceitos e preconceitos antigos.
Que a voz dos poetas entoe cantos inusitados
e muitas vezes inaudíveis aos demais.
Mas que sejam sempre palavras oloROSAS,
a perfumar os poros dos amados e dos amigos.
O que vier a mais, será benesse e lucro, e dividendo
mais importante que a glória
e a libertação do proprio menestrel.
Que os versos sejam livres, com palavras soltas,
a resignificar todas as im/possíveis metáforas!
-
PALMEIRA SOLITÁRIA
para Luiz Lyrio, in memoriam
-
Do alto, para onde cresce
em busca do azul absoluto,
a palmeira (quase) antiga,
bela e conformada,
vê passar o tempo.
Suporta intempéries e poeira
rebrilha rocio ao sol,
na terra das gemas.
Um dia, voltará ao pó
e renascerá no ciclo da vida.
-
A ESSÊNCIA DOS POETAS
-
De metáforas alimenta-se o poeta
mas também dos olores mais fragrantes.
faz das eternidades,
meros instantes,
quando voa nas asas das alegorias...

Mas de denúncia também vivem os seus versos
pois sensível qual bolha de murano
destinada á beleza singular,
aquecido pelo fogo da justiça,
consome-se em seu próprio Gilbratar,
divino e humano,
mero e avatar.

O poeta tem nas mãos,
os segredos da sacra escrita,
consagrada aos deuses da Beleza,
mas também ergue o dedo acusatório:
brilha de indignação seu anular,
pois é humanista, artista, esteta
e sabe colocar-se no lugar
de seu semelhante...

O poeta escreve sobre seus sentires
e sobre os sentimentos alheios.
Sussurra ou brada, conforme a acontecência,
mas é sempre emissário da quintessência
que muitas vezes
nessa Terra não encontra lugar...
-
IMPRESSÃO
-
A terra é mais que amante-amada:
sem ela o tudo cotidiano
vira um quase nada...
Com ela, um mínimo amplia-se
parecendo a maior riqueza do universo
na transmutação dos ciclos...
-
DE UM SONHO
-
Do sonho entressonhado
entreaberta flor
de mil pétalas
holopetalar
traduz-me as sutilezas
e multiplicações
da Palavra...
Cheiro os cheiros,
coloro as cores,
abro o entreaberto
e chego ao self
das revelação.
Ao poeta é permitido sonhar
e sonhando desvendar
o segredo
-
CANÇÃO PARA ELIANE POTIGUARA
-
Sinringe canora,
avis rara,
Eliane Potiguara.

Maracá e pena,
"mejopotara"
cocar e urucum
caneta e papel
diploma e renome:
Eliane Potiguara.

Aluá,beiju,
mani-oca
ocara,
dança e canta
voz baixa e clara,
Eliane Portiguara.

Peixe boi e boto.
uirapuru e boitatá,
igarapé, igara,
o avô rio
peixes oferece,
no livro a letra
aparece, imagina/ação
floresce,
Eliane Potiguara.

Pacifista e guerreira,
um pé no atavismo,
outro no modernismo,
mas sempre fiel às raízes.
Defenda úteros
sagrados à terra
e ás lições de continuidade.
Quer a mata, mora na cidade,
no asfalto não de ara,
mas sua sabedoria dispara
lendas e crenças,
cerimoniais,
fitoterapia ancestral,
sempre atual.
Eliane Potiguara.

Mulher
que sabe o quer
e busca, sobe montanhas
ou busca clareiras
para ela nada ocorre à toa
tudo é vestido
de muito sentido.
Atenta, ouve, fala,
cheira, sente
vê.

Na natureza,
a verdade é muito simples,
nada no mundo para,
tudo é beleza e partilha.
Eliane Poti, Potiguara,
da floresta filha,
da cidade adotada,
adapta-se, jamais é uma ilha
defende as outras mulheres...

Eli, Eliane, Eliane Potiguara,
potiguar, potiguara, poti:
chama a deusa o sol e chama a deusa lua
essa Nação é mesmo tua,
por direito ancestral.
Descendente dos úteros sadios
das mães da Terra brasilis,
você é
andiroba, seringueira,
guaraná e açaí.
roçado e igara,
peneira,
tipi-tipi,paná -paná, ati-ati,
voa, ave,
voa borboleta,
o caldo da mandioca
coa, você é tudo isso e muito mais,
Eliane Potiguara,
mesmo se vestir vestidos citadinos
e aparecer em salões nas festas...
Mas os olhos de castanhas,
os cabelos lisos e escuros,
a cor da pele bonita,
sempre apontam que você
é onça nativa, arara.
Eliane Potiguara,

Pega o microfone, tecla e fala,
defende a mulher ,a criança, a idosa,
pede proteção á iara.
você é forte e poderosa,
Eliane Potiguara,
"Metade Máscara,
Metade Cara"...

Clevane Pessoa (1947)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes, nasceu em São José do Mipibu, Rio Grande do Norte, em 1947, filha de Lourival Pessoa da Silva e Terezinha do Menino Jesus da Silva.

Trabalhou ativamente na imprensa de Juiz de Fora-Mg, nos Anos de Chumbo, mantendo a página Gente, Letras & Artes e a coluna diária Clevane Comenta, entre outras- na Gazeta Comercial.

Aos dezesseis/dezessete anos, foi a redatora chefe de Voz das Mil, jornal Literário do Colégio Sagrado Coração de Jesus. Sua  primeira resenha foi publicada na Revista da Presidência, em 1964. Depois, escreveu em jornais por onde passou.

Radicou-se em Belo Horizonte ao se casar com o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva, que então trabalhava na Via Expressa em viadutos e passarelas.

Tendo iniciado Psicologia no CES (Centro de Ensino Superior) de Juiz de Fora, então formou-se na FUMEC desta capital (Belo Horizonte).

Acompanhou o marido a S. Luiz/MA, São Paulo/SP, depois a Belém/PA.

Retornou a Belo Horizonte em 1990.

Foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente, entre outros, como A Voz de Rio Branco, de Visconde de Rio Branco, MG, onde mantinha “A Voz da Mulher”.

Escreveu na revista "o Lince" e em outras. Atualmente, é psicóloga, ilustradora, palestrista e oficineira de Poesia e Conto.

Até aposentar-se, trabalhou na Casa da Crinaça e do Adolescente do HJK, que fundou e coordenou (SAISCA-Serviço de Atendimento Integral ao Adolescente, seu projeto criado em S.Luiz Maranhão , encampado pelo Ministério da Saúde, tornado OS a posteriori) e levado a Belém , Pará, de 1996 a 1990, quando retornou a BH/MG).Esse projeto, alcança Poesia e Artes, crianças, adolescentes e família, além de atendimento à saúde.

Em 1993, participa intensamente, pelo HJK, com a seção de Psicologia, da organização do Congresso Internacional L’espoir sem Frontiers(Esperança Sem Fronteiras).No evento, desenvolveu uma oficina sobre família e participou de mesas.

Tem livros de poemas publicados:
Sombras Feitas de Luz ;
"Asas de Água"( pela Plurarts),
"A Indiazinha e o Natal"( Edições Haruko) ;
"Partes de Mim"( R & S Gráfica e Editora) ;
"Olhares teares,saberes",(Edit.Popular, S,Luiz-MA);
Erotíssima (selo Catitu);

Seu livro Mulheres de Sal, Água e Afins, publicado pela Urbana Editora, RJ/Libergráfica BH.), reúne contos com protagonismo feminino.

Seu livro "O Sono das Fadas" (selo Catitu-BH) foi lançado na Bienal do Rio em 2009 e em vários espaços e cidades. Em 2011, foi relançado na Livraria Leitura do BH Shopping. Nesse ano, pela Pragmatha, do RS, publicou CENTAURA-poemas .

É verbete no Dicionário de Afrânio Coutinho e no Dicionário de Mulheres de Hilda Huber Flores(RS)

Possui capítulos em co-autoria (Homossexualidade e sexualidade do Adolescente,no compêndio "Adolescência, Aspectos Clínicos e Psicossociais", Edit Arte Med(RS).

Em novembro de 2011, nos III Juegos Florales do aBrace, lança "Lírios sem Delírios", com poemas e desenhos, alguma poesia em espanhol, a maioria em Português, Editora aBrace.

É consultora de teatro, revisora de textos, roteirista de peças teatrais.

No ano de 2007, completou 50 anos de Poesia, pois começou a escrever, publicar e fazer saraus aos dez .

Foi, pela” excelência da obra”, agraciada com o título de” Poeta Honoris Causa", do Clube Brasileiro de Língua Portuguesa, para oito países lusófonos. O título foi concedido por sua Presidenta, a poeta Silvia de Araújo Motta e entregue por Conceição Piló (curadora do Palácio da Liberdade, nesta capital e diretora, em MG, da IWA), no evento “Poesia é Ouro”, em sua homenagem, que aconteceu no Centro de Cultura Belo Horizonte Março/2007), organizado por Karina Campos.

Em maio de 2009, recebe o título de Doutora Honoris Causa em Filosofia (Ph.I.), em sua posse na ALB/Mariana.

Pertence à REBRA, Rede Brasileira de Escritoras, tendo sido convidada por Joyce Cavalccante, sua presidente, para representar a REBRA em MG.

É patronesa da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores, pertence à Academia Virtual Brasileira de Letras à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, do virARTE.

Membro da IWA (Estados Unidos) .

Pertence à Rede Catitu de Cultura, é colaboradora da ONG Alô Vida. Por premiações em concursos, pertence ao CLESI(Clube dos escritores de Ipatinga);

Chanceler da Arcádia Litterária de Aracaju. , Membro Honorário de Mulheres Emergentes, Conselheira do Instituto Imersão Latina.

Estudou na SBAAT – Sociedade de Belas Artes Antonio Parreiras, aluna de Clério de Souza, o presidente da entidade. Ilustrava seus textos e de outros autores, em sua página na Gazeta Comercial (Juiz de Fora, MG).

Ilustrou, a bico de pena, "100 Trovas de Juiz de Fora" – Programa Contraponto.

Participou da primeira mostra de arte da FUMEC, quando concluía a faculdade de Psicologia.

Em eventos na Semana da Mulher e da criança, expôs no HJK, em Belo Horizonte, posteres e poemas ilustrados.

Fez 30 capas de pano para a edição artesanal de "Maldita Perfeição", de Jairo Rodrigues.

Ilustrou, revisou e fez a divulgação de "Estalo, a revista", onde escrevia .Ilustrou ainda o espetáculo “Completa Ceia", de poesia erótica, "Brincando de representar', de Virgilene Araújo e outros.

Fez 25 desenhos para a III Edição do "Original-Livro de Artistas", no tema "A Forma do Pote vazio, tendo um dos desenhos apresentado no Palácio Galveias, em Lisboa, em maio de 2010.

Ilustrou seus livros "Asas de Água", Poesias-Edit.Plurart e "Mulheres de Sal, Água e Afins"(contos-Edit.Urbana , Rio de Janeiro/Libergráfica.).

Em 2011, lançou, pela Editora aBrace – da qual é representante em Belo Horioznte-MG- "Lírios sem Delírios, de Poemas, que também traz suas ilustrações.

Desde março de 2009, a mostra Graal Feminino Plural, com seus desenhos e poemas, sobre questões do gênero feminino, circula, a partir da Galeria da Árvore (MUNAP_Parque Municipal Américo Renê Gianetti) , para os Centros Culturais de Belo Horizonte(Pref.Munic.) e Regional Oeste.

A mesma também faz parte, em 2010, do festival Internacional de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, no largo das Forras-Espaço Cultural. Banco do Brasil.

Participa de recitais, saraus com leituras e performances de textos.

Humanista, sempre lutou pela criança, família, mulher e adolescentes, sendo pioneira nas ações brasileiras pelo atendimento integral, multidisciplinar à criança e à adolescência (desde os Anos 80).

Pelo Ministério da Saúde, ministrou oficinas em vários Estados brasileiros, quando trabalhava no Hospital Júlia Kubitscheck, no Barreiro de Cima, onde coordenou e criou a Casa da Criança e do Adolescente, com equipe multidisciplinar. A pedido do MS, organizou no HJK, o I Seminário Brasileiro de Saúde Reprodutiva e Sexualidade na Adolescência, no qual foi ainda palestrista, mediadora, debatedora e oficineira de sexualidade humana..

Possui vinte e dois e-books, quatro dos quais infantis, um de memórias, um ensaio, os demais de poesias, gêneros vários ( os e-books podem ser baixados gratuitamente no Recanto das Letras, no site da AVBL e na Vila das Artes, além de Cá estamos Nós e recentemente, no ISSUUM, disponibilizou , pela Catitu, seus livros Erotissima e O sangue das Fadas.

Participa ocasionalmente ou com frequencia dos jornais e revistas virtuais zaP (São Paulo) , DESTAQUE,Revista Nota Independente, Guatá, Gaceta Literália, Isla Negra (Argentina) , aBrace, Varanda das Estrelícias (Portugal) ,Caderno Literário (Pragmatha/RS) ,entre outros.

Possui uma antologia poética em www.direitoepoesia.com e participa de várias coletâneas virtuais , inclusive várias de BLOCOS ON LINE, entre as quais, por três vezes, da SACIEDADE DOS POETAS VIVOS.

Seus textos e poesias estão hospedados em revistas e jornais brasileiros e no Exterior. As páginas mais recentes foram o mini-conto "O Gato", na revista internacional ABRACE (Uruguay- Brasil), artigo sobre Cecília Meirelles ; ensaio A Casta da Dança ,entre outros.

A convite, seu artigo "A Casta da Dança", foi publicado no no Caderno de Dança 2, da Companhia de Dança Contemporânea de Évora,em Portugal.

Colabora e é colunista virtual , inclusive possui uma escrivaninha em www.recantodasletras.com, onde disponibiliza seus textos. Seu site pessoal é http://www.clevanepessoa.net.blog.php

Luta pelos Direitos Autorais, pela propriedade imaterial, pelas minorias carentes, pela ecologia, e, sobretudo, pela PAZ em todos os níveis.

É Dama da Sereníssima Ordem da Lyra de Bronze, delegada de “A palavra do Século XXI, membro da SPVA(Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, do RN) , do virArte, acadêmica correspondente de várias academias e outras instituições.

Gravou 48 horas de vídeos para o Projeto Educativo” Saúde, Vida , Alegria, CECIP /Kellog”, sendo responsável por Metodologia Participativa e pelas oficinas com adolescentes de várias classes sociais, institucionalizados, feirantes, mães –meninas, moradores de favelas, classe A etc.

Participa de mais de cem antologias, por mérito em concursos , convite ou por cooperativismo entre escritores e editoras.

No início de 2007, duas mais recentes são Letras de Babel e CuentoGotas, da editora ABRACE, lançadas no VIII ENCONTRO INTERNACIONAL ABRACE (março 2007), em Montevidéu (UY), onde esteve com Ricardo Evangelista e Sueli Silva com o espetáculo “Poetas Quae será Tamen", no qual apresentou, com os artistas, a performance “Predição”. Depois , em Roda ao Mundo 2007, Poetas do Brasil,– Antologia do Proyecto Sur (RS) – neste ano de 2009,participa das antologias aBrace, inclusive a comemorativa dos dez anos desse Movimento Cultural, tendo recebido o troféu aBrace ( pelo ano de 2008), por sua atuação pela cultura e modus vivendi.

Em 2007, comparece com vinte e cinco desenhos no "Livro dos Artistas", projeto de Regina Mello, chamado ORIGINAL . Em 2009, realiza a mostra "Graal Feminino Plural", de desenhos e poemas, atualmente em circuito pelos Centros Culturais de Belo Horizonte.

Em 2011 participa de coletiva do SIAPEMG_Sindicato dos Artistas Plásticos de MG, a convite da organizadora, Iara Abreu, com poemas e desenhos a bico de pena.

Premiada no Brasil e no Exterior em versos e prosa.

Entre os muitos prêmios, destacam-se:
primeiro lugar de Crônica, Troféu Dormevilly Nóbrega ;
Primeiro Lugar de Conto Livre, prêmio Ex-Aeqüo, no ALGARVE, em Portugal, XXIII Jogos Florais.
Recebeu em 2009 o Prêmio mais importante do aBrace, pelo seu trabalho cultural .
Em 2009, teve o poema "O Chão da Nossa terra" classificado em primeiro lugar no FESTINVERNO (Ouro Preto, Mariana).

Em 2010, foi a escritora convidada para o I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa em Nartal/RN e recebeu uma placa pela sua contribuição à Língua Portuguesa (UCCLA e Capitania das Artes). A seguir, foi homenageada na Câmara Municipal de São José de Mipibu, sua cidade natal.

Em 2009, tomou posse na ALB, Mariana, na qualidade de acadêmica fundadora, Cadeira 11, Laís Corrêa de Araújo, quando recebeu o título de Filósofa Imortal, Doutora Honoris Causa, PH.I, pela ALB/CONALB. E, no mesmo ano, também tomou posse na cadeira n.5, Cecília Meirelles, na AFEMIL, (Academia Feminina de Letras-Belo Horizonte, MG), para a qual foi votada em novembro de 2008.

Integra a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, de Natal/RN e tem acervo no Memorial da Mulher, da mesma capital, tendo sido convidada para em breve tomar posse na Academia Feminina de Letras do RN.

Em 2010 tomou posse como Acadêmica Correspondente na ALTO-Teófilo Otoni-MG.

Em 2011, tomou posse nas Academias Menotti del Picchia (membro correspondente), no PEN Clube de Itapira, na academia Pré Andina de Artes, Cultura y Heráldica .

Em novembro, tomou posse na AILA, Academia Itapirense de Letras e Artes, na qualidade de Membro Correspondente Titular, cadeira 05, patronímica de Luiza da Silva Rocha Rafael

Em 2009, lançou Olhares, Teares Saberes, pela Edit.Popular, de S.Luiz, Maranhão, que foi apresentado na Bienal do Livro-Rio de Haneiro/2009.

Também lançou O Sono das Fadas (já em e-book), nesse evento, para crianças de todas as idades e Erotíssima, ambos pelo selo Catitu.

Representa a Rede Catitu, o Alô Vida, Mulheres Emergentes.

Em 2010/abril recebeu placa da UCCLA/Capitania das artes, em Natal, RN, no I Encontro de escritores de Língua Portuguesa, sendo a única mulher dos quatro autores homenageados.

Em junho 2010, foi personalidade do Ano-Taubaté/SP e em novembro, Destaque Brasil 2010.

Em novembro de 2010, recebeu a Medalha Tiradentes/FALASP/JF.

Faz parte dos Poetas pela Paz e Pela Poesia e é Consultora de Arte da AMI (Associação Mineira de Imprensa).

Em 2011, recebe a Medalha de Recompensa à Mulher-GOB-RJ, através da ALB/Mariana;

Vem participando de Poetas do Brasil do Proyecto Sur, nos números pares.Por premiação, seletiva ou cooperativismo, participa de mais de noventa antologias.

Cônsul Poeta Del Mundo,
Embaixadora Universal da Paz (Cercle Univ.de Les Ambassadeurs de la Paix-Genebra, Suiça) ;
Poeta Honoris Causa pelo CBLP,para oito países Lusófonos , Patroness da AVSPE ;
Diretora regional do inBrasCi (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais) em Belo Horizonte ,integra a rede Catitu” na “Núcleo de Entrevistas Clevane Pessoa entre Pessoas,
Representante do Movimento Cultural aBrace (Uruguai Brasil), na capital mineira
Delegada da ALPAS XXI por MG e Bahia.
Presidiu, a convite do fundador da UBT , Luiz Otávio, a seção de Juiz de fora, MG, nos Anos 60, onde também foi empossada no NUME, Núcleo Mineiro de Escritores, após receber seu primeiro prêmio Literário (primeiro lugar de crônica, Troféu Domervilly Nóbrega, )
Pertence à Academia de Trovas do RN desde 1968
e a outras Academias Literárias , na qualidade de Membro Correspondente.

Mantém dez blogs de divulgação culturais, alguns específicos(por ex, para indígenas, para crianças, entrevistas,e tc)

Alguns Livros publicados:

Poesia:
Sombras Feitas de Luz (editora Plurarts);
Asas de Água (Editora Plurarts);
A Indiazinha e o Natal (Ed.Haruko);
Partes de Mim ( RGD Ed.)

Prosa:
Mulheres de sal, Água e Afins – de Contos, em editora do Rio de Janeiro (Urbana) e Libergráfica Editora em Belo Horizonte.
Olhares, Teares, Saberes (selo edit.Popular-S.Luiz-MA)- lançado na Bienal do Livro/Rio
Erotíssima (Selo Catitu) -lançado na Bienal do do Livro /Rio
O Sono das Fadas (Selo Catitu), para crianças até 100 anos-Lançado na Bienal do Livro do Rio.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Trova 266 - Roberto Pinheiro Acruche (São Francisco de Itabapoama/RJ)

Formatação da Imagem com Trova obtida no facebook do autor

Ailton Maciel (Ó Meu Deus!)

I
Ó meu Deus! Ó meu Deus! Destrói a noite.
Eu não suporto o seu cruel açoite
No vento a repicar!...
Eu quero a luz; a noite o ser destrói,
Sua algidez o corpo me corrói
De vício e de pesar!
 
II
Eu sou filho da luz, filho da aurora.
O meu ser purpureja e triste chora
Quando a luz frouxa apaga...
Não me deixes sofrer tanta desgraça,
Senhor, destrói a noite e a traspassa
Pra bem longe... outra plaga!
 
III
Quando à noite me inclino no meu leito,
Me contorço a gemer de todo jeito
A sentir muitas dores;
Depois, quando adormeço - e já bem tarde
O coração fervilha e o peito arde
A sonhar mil horrores!
 
IV
Lembranças muitas tenho do meu bem;
Uma saudade infinda logo vem
Depois... quando desperto!
E sofro angústia... dor... saudade e tédio;
E só os versos de amor são meu remédio.
O meu remédio certo!
 
V
Desprezo o breu e amo o lírio agreste,
Que de alvura a natura lhe reveste,
E transborda de luz.
O branco augusto é a luz que diviniza.
E a luz, pudor e graça simboliza;
E aos bardos seduz!
 
VI
Bendita seja a luz - bendito o dia,
Que transborda de viço e de alegria
Na madrugada em flor!
Te bendigo, ó luz - direção dos mastros
Perdidos em mar - néctar dos astros;
Madona do esplendor!
 
VII
Surgi, luz: - ilumina o meu pensar.
Quero vê-lo divino ao sol brilhar,
Amor reverberando!
Quero subir ao ápice - à fronteira
Onde só brilha luz a vida inteira
O verso alumiando!
 
VIII
Quero subir ao panteon sagrado,
Olhar bem perto o gênio imaculado
Do Deus da inspiração.
Quero ver Vênus - deusa da beleza,
Do formoso, do belo - singeleza;
Dona do coração!
 
IX
Inspira, ó musa, ao poeta um só instante
O viço do pensar inebriante
Que diviniza o verso!
Dai-me luz, ó musa, o verso ilumina-me,
E para o Éden sagrado encaminha-me;
Para a luz do universo!
 
X
Eu sou filho da luz - amo as alturas;
O perfume da flor - das formosuras,
Das candentes donzelas.
Amo o vicejo agreste, a brisa, o vento;
Odeio o mal - o seio purpurino
Das fétidas querelas!
_____________
Ailton Maciel deixou alguns inéditos. Ailton Alves Maciel (nome completo) nasceu em Baturité, Ceará, em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.
-
Fonte:
Nilto Maciel. In http://literaturasemfronteiras.blogspot.com.br/2008/11/meu-deus-ailton-maciel.html