domingo, 3 de junho de 2018

Antologia Literária Uma Flor que se Chama Poesia (Inscrições até 29 de Junho)

INSCRIÇÕES APENAS PELA INTERNET

Realização:
Editora Brasil Casual
www.editorabrasilcasual.com

A Coordenação de eventos da Editora Brasil Casual lança nesta data o Edital da Antologia Literária UMA FLOR QUE SE CHAMA POESIA, que selecionará textos para publicação, observadas as especificações constantes deste Edital.

O prazo de inscrição para a participação na Antologia é até 29 de Junho de 2018, mediante o encaminhamento dos textos à Coordenação de Evento POR E-MAIL, conforme disposto no item 2 deste Edital.

1 DO OBJETO

1.1. O presente Edital tem como objeto a publicação de obras literárias, na modalidade Poesia, observadas as especificações abaixo, objetivando selecionar e destacar trabalhos com qualidades literárias.

Não haverá seleção. Os trabalhados que atenderem aos dispostos neste Edital serão aceitos e publicados.

1.2. R$ 100,00 (Cem reais) = Participação com duas poesias + Página para biografia e fotografia.

Tendo direito a 5 Exemplares da Antologia + Envio gratuito via correios para o endereço indicado no ato da inscrição + Participação no lançamento com Jantar/Sarau Poético que ocorrerá em 15 de Dezembro em Aracaju, conforme o item 6 deste edital.

PARA ADQUIRIR EXEMPLARES EXTRAS BASTA ADICIONAR + 10,00 (PREÇO DE CAPA, PROMOCIONAL) POR CADA EXEMPLAR.

1.3. Os trabalhos terão TEMA LIVRE, não havendo necessidade de serem inéditos.

2 DAS INSCRIÇÕES

2.1 A inscrição para participar da Antologia dar-se-á mediante encaminhamento das obras literárias + biografia, foto e comprovante de taxa de inscrição para o e-mail: editorabrasilcasual@gmail.com

2.2 No ato da inscrição, o candidato deverá apresentar, além do comprovante de pagamento da taxa de inscrição (depósito na Caixa Econômica Federal (ou Casas Lotéricas) – ag. 2186 conta 1332-3 poupança, em nome de Emerson Maciel Santos), duas poesias com até 25 versos (cada) + biografia e foto.

2.3. As poesias deverão ser enviadas digitadas em Word, fonte Ariel, tamanho 12. Uma poesia por página. Em outra página devem constar biografia e fotografia. Não esquecer de informar, no corpo do e-mail, o endereço para o qual os livros deverão ser enviados.

3 DA PARTICIPAÇÃO

3.1 A ANTOLOGIA UMA FLOR QUE SE CHAMA POESIA da Editora Brasil Casual - Edição 2018 é de abrangência internacional e aberto a todo escritor que produza em língua portuguesa.

3.2. Os autores deverão ser maiores de 18 anos de idade, QUANDO NÃO, precisará enviar autorização de um responsável.

4 DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES

4.1 Aos Autores será assegurado o reconhecimento dos direitos autorais dos trabalhos publicados, atendendo às especificações contidas neste Edital, permanecendo proprietário (a) de seus direitos para quaisquer outros usos que não os aqui especificados;

4.2 Os autores, ao se inscreverem na presente antologia, concordam com a cedência de nome e imagem à Editora Brasil Casual para fins promocionais deste certame.

4.3 À Comissão Organizadora compete promover a divulgação deste Edital nos meios de comunicação e nos endereços eletrônicos www.emersonmaciel.com.br ewww.editorabrasilcasual.com e publicar os textos selecionados, de acordo com as especificações constantes neste Edital.

5. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

5.1 O ato de inscrição implica no conhecimento e concordância com os termos estabelecidos no presente Edital, sendo que os casos omissos serão decididos pela Comissão Organizadora.

5.2. Eventuais pedidos de esclarecimento deverão ser encaminhados ao endereço eletrônico editorabrasilcasual@gmail.com ou por telefone: (79)9 9900-1218 (vivo), 9 9148-0461 (TIM).

5.3 O descumprimento das obrigações e regras constantes do presente Edital, pelos participantes, implicará na eliminação imediata desses do certame.

6. DO LANÇAMENTO

6.1. O lançamento da Antologia será em Aracaju no dia 15 de Dezembro 2018 e contará com a presença de representantes de várias academias literárias. Será servido um jantar e terá a realização de um SARAU POÉTICO. A previsão é que a tiragem mínima seja de 500 exemplares.

6.2. Cada autor poderá comparecer ao local do evento (a ser confirmado) com até 3 acompanhantes.

Havendo necessidade de mais acompanhantes, o autor poderá solicitar à organização um número maior de acompanhantes.

Aracaju, SE 23 de Março de 2018
Emerson Maciel Santos
Editor-chefe

Fonte: email da Editora Brasil Casual

sábado, 2 de junho de 2018

José Feldman (Álbum de Trovas) 17


Clarice da Costa (Crônicas) 1

Resumo da vida

Tudo se resume à "você mora longe". Queria saber o que fariam as pessoas se estivessem num período em que o meio de transportes eram as charretes. Se bem que sem internet teriam de qualquer forma sair da comodidade de suas casas. Sem falar que teriam que pedir perdão ao padre por terem beijado na boca. Só fico pensando como seriam os nudes daquela época. Na verdade nem haveria devido o fato do pudor. A cena que mais imagino é a senhorita ouvir ela ser chamada de "delícia". 

Ela tira sua luva e bate na cara do cavalheiro por desrespeito a sua honra. Também pudera comparar mulher a comida? Porque pra ser delícia ela deveria ter algum sabor! Estamos na era tecnológica e muitas coisas parecem decair. Cadê o romantismo? Cadê a coragem de se arriscar por amor? Cadê a atitude? Cadê o olhar e o gesto respeito? E há quem reclame do fato de se estar sozinho. 

O celular tem sido mais importante que o contato físico! Que gosto tem de beijar pelo celular? Dá para abraçar um amigo ou um familiar? O absurdo disso tudo é as pessoas acreditarem que Deus tem celular e vai ficar incomodado em você não enviar aquelas mensagens fofas de compartilhamento. Nossa, a minha sorte não está no trevo de quatro folhas! Eu não compartilhei a última mensagem para as 20 pessoas que eu conheço. Será que é por isso que eu não arrumo namorado? 

Deficiente No Supermercado

- O que esta garota faz aqui? 

- Quem é ela? 

- Será que ela consegue? 

- Ela vai é derrubar tudo. 

Pensamentos de quem acha que todo deficiente é incapaz. Temos as nossas limitações, mas não somos diferentes de qualquer pessoa. Eu me chamo Clarisse Da Costa, sou poetisa e artesã em Biguaçu, no estado de Santa Catarina, recentemente estudante de designer gráfico. 

Aprendi hoje que eu não sou deficiente, tenho minhas limitações, mas deficiente é aquele que olha torto e acha que sou incapaz. Peguei a cesta, coloquei as coisas que eu queria e fui até o caixa sem deixar alguma coisa cair. Pode parecer bobo, mas isso me deixou com a certeza de que eu posso muito mais que penso. 

Quando eu escrevo, eu viajo pelos cenários de cada história e de certa forma esses pequenos detalhes da vida me fazem viajar. Crer que sou capaz é fundamental para eu sempre seguir em frente. E vamos pensar desse jeito... É um soco na cara de quem não tem consideração pelo deficiente físico. 

Eu passava no corredor do supermercado e as pessoas pareciam perdidas enquanto eu estava no lugar certo. Elas não sabiam se davam passagem pra mim ou se esperavam eu pedir. Chego em casa, tomo o meu café. E aposto que aquelas pessoas ainda estão se perguntando. 

Fonte: Samuel da Costa

Fernando Namora (Livro D'Ouro da Poesia Portuguesa vol.7) I


PILOTAGEM

E os meus olhos rasgarão a noite;
E a chuva que vier ferir-me nas vidraças
Compreenderá, então, a sua inutilidade;
E todos os sinos que alimentavam insônias
hão-de repetir as horas mortas
só para os ouvidos da torre;
E os outros ruídos abafar-se-ão no manto negro da noite;
E a mão alva que me apontava os nortes
e ficou debruçada no postigo
amortalhada pela neve
reviverá de novo;
E os meus braços se erguerão transfigurados
para o abraço virgem dos teus braços
que andava perdido, sem dar fé deste seu reino;
E todas as luzes que tresnoitaram os homens
apagar-se-ão;
E o silêncio virá cheio de promessas
que não se cansaram na viagem;
E todos os povos de Babel
com as riquezas que há no mundo
virão festejar a paz em minha honra;
E os caminhos se abrirão
para os homens que seguirem de mãos dadas:
O sangue derramado de Cristo
terá finalmente significação,
e da inútil cruz do martírio
se erguerá o pendão da vitória;
E assim terão começo
os sonhados dias dos meus dias!

TODOS OS CAMINHOS ME SERVEM

Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o ébrio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro.

Ó mar que me sacode os cabelos
que mulher alguma beijou,
lágrimas que os meus olhos vertem
no suor dos lagares,
que uma onda vos misture
e vos leve a morrer
numa praia ignorada.

POR TODOS OS CAMINHOS DO MUNDO

A minha poesia é assim como uma vida que vagueia
pelo mundo,

por todos os caminhos do mundo,
desencontrados como os ponteiros de um relógio velho,
que ora tem um mar de espuma, calmo, como o luar
num jardim noturno,

ora um deserto que o simum veio modificar,
ora a miragem de se estar perto do oásis,
ora os pés cansados, sem forças para além.

Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe
o rumo e a hora de o atingir,
a tranquilidade de quem tem na mão o profetizado
de que a tempestade não lhe abalará o palácio,
a doçura de quem nada tem a regatear,
o clamor dos que nasceram com o sangue a crepitar.

Na minha vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo
norte.
Que ninguém me peça nada. Nada.
Deixai-me com o meu dia que nem sempre é dia,
com a minha noite que nem sempre é noite
como a alma quer.

Não sei caminhos de cor.

TERRA

Onde ficava o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.

Para lá da serra, o azul de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os Rios?
Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois e há poças de chuva.
Onde ficava o mundo?
Nem a alma sabia julgar.

Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
Em cada dia o povo abraçava outro povo.
E hoje a terra é livre e fácil como o céu das aves:
a estrada branca e menina é uma serpente ondulada
e dela nasce a sede da fuga como as águas dum rio.

POEMA PARA ILUDIR A VIDA

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.

O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.

FOI HOJE UM DOMINGO BONITO

Foi hoje um domingo bonito, Cacilda!
A sanfona correu o lugar de lés a lés.
– Quem deu pelas histórias dos velhos?
Ninguém.
Quem ouviu a fome do gado, preso no curral?
Ninguém.
Quem espantou as galinhas, debicando nos cachos?
Ninguém.
Na venda, houve surra, abriram cabeças.
E farnéis na charneca e dança
no sobrado da tua avó.
O brasileiro trouxe aquela caixa que tem música
e modas de lá.
Tudo foi bonito, Cacilda!
Vem banhar-te na alegria
das penas adormecidas.
Deixa o amanhã.

UM SEGREDO

Meu pai tinha sandálias de vento
só agora o sei.
Tinha sandálias de vento
e isto nem sequer é uma maneira de dizer
andava por longe os olhos fugidos a expressão em nenhures
com as miraculosas instantaneidades que nos fazem
[estar em todos os sítios.

Andava por longe meu pai sonhando errando vadiando
mas toda a sua ausência era
o malogro de o ser
só agora o sei.
Andava por longe ou sentamo-lo longe
vem dar no mesmo
e no entanto víamos-lo sempre
ali plantado de imobilidade absorta
no cepo de carvalho raiado de negro
a que o caruncho comera o miolo
como as lagartas esvaziam as maçãs
estranhamente quieto murcho resignado
no seu estranho vadiar
os olhos aguados numa tristeza que hoje me dói
como um apelo perdido uma coragem abortada.
Ausência era tão de mágoa urdida tão de fracasso
tingida ausência era
altiva e desolada altiva e triste sobretudo triste
tristeza sim tristeza solene e irremediada
só agora o sei.

Às vezes parecia-me uma águia que atravessa os ares
sulco azul
que nada distingue do azul onde foi sulcado
e por isso nem é águia nem ao menos
o que do seu voo resta para que
o sonho se faça real.
Meu pai era um homem com as nostalgias
do que nunca acontecera e isso minava-o víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs
e então sei-o agora calçava as ágeis sandálias
miraculosamente leves soltas imaginosas
indo de acaso em acaso de astro em astro
eram de vento as suas sandálias fabulosas
levando-o aonde mais ninguém poderia chegar.

Os outros não o sabiam nem eu o sabia
só o víamos sentado no cepo velho
raiado de negro como uma estrela fossilizada
por isso tudo era para ele mais irremediável e triste
sei-o agora tarde de mais
tarde de mais é uma dor de remorso
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas esfarelam as maçãs.
Mas de qualquer maneira existe um segredo
de que ambos partilhamos
ciosamente avaramente indecifradamente
como os astutos conspiradores
que fazem do seu segredo
um mágico tesouro inviolado.

Um segredo simples:
o que sentiste pai
sinto-o eu agora por ambos
sinto-o por ti
sinto-o por mim.

Fonte:
Fernando Namora. Mar de Sargaços. 
Coimbra: Atlântida, 1940.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

José Feldman (Álbum de Trovas) 16


Leandro Gomes de Barros (As Proezas de um Namorado Mofino)


Sempre adotei a doutrina
Ditada pelo rifão,
De ver-se a cara do homem
Mas não ver-se o coração,
Entre a palavra e a obra
Há enorme distinção.

Zé-pitada era um rapaz
Que em tempos idos havia
Amava muito uma moça
O pai dela não queria...
O desastre é um diabo
Que persegue a simpatia.

Vivia o rapaz sofrendo
Grande contrariedade
Chorava ao romper da aurora
Gemia ao virar da tarde
A moça era como um pássaro
Privado da liberdade.

Porque João-mole, o pai dela
era um velho perigoso,
Embora que Zé-pitada
Dizia ser revoltoso,
Adiante o leitor verá
Qual era o mais valoroso.

Marocas vivia triste
Pitada vivia em ânsia,
Ele como rapaz moço
No vigo de sua infância,
Falar depende de fôlego
Porém obrar é sustância.

Disse pitada a Marocas,
Eu preciso lhe falar
Já tenho toda certeza,
Que é necessário a raptar,
À noite espere por mim
Que havemos de contratar.

Disse Marocas a Zezinho:
Papai não é de brincadeira,
Diz Zé-pitada, ora esta!
Deixe de falar besteira,
Você pode ver-me as tripas,
Porém não verá carreira.

Diga a que hora hei de ir,
Eu dou conta do recado
Inda seu pai sendo fogo,
Por mim será apagado,
Eu juro contra minh’alma
Que seu pai corre assombrado.

Disse Marocas, meu pai
Tem tanta disposição
Que uma vez tomou um preso
Do poder de um batalhão,
Balas choviam nos ares,
O sangue ensopava o chão.

Disse ele, eu uma vez
Fui de encontro a mil guerreiros,
Entrei pela retaguarda,
Matei logo os artilheiros,
Em menos de dez minutos
O sangue encheu os barreiros.

Disse Marocas, pois bem
Eu espero e pode ir,
Porém encare a desgraça,
Se acaso meu pai nos vir,
Meu pai é de ferro e fogo,
É duro de resistir.

Marocas não confiando
Querendo experimentar,
Olhou para Zé-pitada
Fingindo querer chorar,
Disse meu pai acordou,
E nos ouviu conversar.

Valha-me Nossa Senhora!
Respondeu ele gemendo,
Que diabo eu faço agora?!...
E caiu no chão tremendo,
Oh! Minha Nossa Senhora!
A vós eu me recomendo

Nisso um gato derrubou
Uma lata na dispensa,
Ele pensou que era o velho,
Gritou, oh!, que dor imensa!.
Parece qu’stou ouvindo
Jesus lavrar-me a sentença.

A febre já me atacou,
Sinto frio horrivelmente.
Com muita dor de cabeça,
Uma enorme dor de dente,
Esta me dando a erisipela,
Já sinto o corpo dormente.

Antes eu hoje estivesse
Encerrado na cadeia,
De que morrer na desgraça,
E d’uma morte tão feia,
Veja se pode arrastar-me,
Que minha calça está cheia.

Por alma de sua mãe,
E pela sagrada paixão,
Me arraste por uma perna
E me bote no portão,
A moça quis arrastá-lo,
Não teve onde pôr a mão.

Ela tirou-lhe a botina,
Para ver se o arrastava,
Mas era uma fedentina,
Que a moça não suportava,
Aquela matéria fina
Já todo o chão alagava.

Disse a moça: quer um beijo?
Para ver se tem melhora?
Ele com cara de choro,
Respondeu-lhe, não, senhora,
Beijo não me salva a vida,
Eu só desejo ir-me embora.

Então lhe disse Marocas,
Desgraçado!... eu bem sabia,
Que um ente de teu calibre,
Não pode ter serventia.
Creio que fostes nascido
Em fundo de padaria.

Meu pai ainda não veio
Eu hoje estou sozinha,
Zé-pitada aí se ergueu,
E disse, oh minha santinha!
A moça meteu-lhe o pé,
Dizendo: vai-te murrinha!

E deu-lhe ali uma lata,
Dizendo: está aí o poço,
Você ou lava o quintal
Ou come um cachorro ensosso,
Se não eu meto-lhe os pés
Não lhe deixo inteiro um osso.

Disse ele, oh! meu amor!
O corpo todo me treme,
Minha cabecinha está,
Que só um barco sem leme,
Parece-me faltar o pulso,
O Anjo da Guarda geme.

Então a moça lhe disse:
O senhor lava o quintal
Olhe uma tabica aqui!...
Lava por bem ou por mal,
Covardia para mim,
É crime descomunal.

E lá foi nosso rapaz
Se arrastando com a lata,
A moça ali ao pé dele,
Lhe ameaçando a chibata,
Ele exclama chorando
Por amor de Deus não bata.

Vai miserável de porta
Quero já limpo isso tudo,
Um homem de sua marca
Pequeno, feio e pançudo,
Só tendo sido criado
Onde se vende miúdo.

Disse o Zé quando saiu:
Eu juro por Deus agora,
Ainda uma moça sendo
Filha de Nossa Senhora,
E olhar para mim, eu digo:
Desgraçada, vá embora.

Leandro Gomes de Barros (1865 - 1918)

É considerado como o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito aproximadamente 240 obras. No seu tempo, era cognominado "O Primeiro sem Segundo", e ainda é considerado o maior poeta popular do Brasil de todos os tempos, autor de vários clássicos e campeão absoluto de vendas, com muitos folhetos que ultrapassam a casa dos milhões de exemplares vendidos. 

Leandro Gomes de Barros, paraibano nascido em 1865, na Fazenda da Melancia, no Município de Pombal, é considerado o rei dos poetas populares do seu tempo. Foi educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias, (1823-1907), proprietários da fazenda, e dos quais era sobrinho por parte de mãe. Em companhia da família "adotiva" mudou-se para a Vila do Teixeira, que se tornaria o berço da Literatura Popular nordestina, onde permaneceu até os 15 anos de idade tendo conhecido vários cantadores e poetas ilustres.

Do Teixeira vai para Pernambuco e fixa residência primeiramente em Jaboatão, onde morou até 1906, depois em Vitória de Santo Antão e a partir de 1907 no Recife onde viveu de aluguel em vários endereços, imprimindo a maior parte de sua obra poética no próprio prelo ou em diversas tipografias. Vale a pena transcrever o aviso no final de um poema, A Cura da Quebradeira, que demonstra suas constantes mudanças e o grande tino comercial:
"Leandro Gomes de Barros, avisa que está morando em Areias, Recife, e que remeterá pelo correio todos os folhetos de suas produções que lhe sejam pedidos”.

Sua atividade poética o obriga a viajar bastante por aqueles sertões para divulgar e vender seus poemas e tal fato é comentado por seus contemporâneos, João Martins de Ataíde e Francisco das Chagas Baptista:

"Voltando João Athayde
De Vitoria a Jaboatão
Quando chegou em Tapéra
Que saltou na estação
Encontrou Leandro Gomes
Entraram em conversação"

"Estava em Lagoa dos Carros,
O grande Chagas Batista,
Quando trouxeram-lhe à vista
Leandro Gomes de Barros,
que para comprar cigarros
tinha descido do trem (...)"

Foi um dos poucos poetas populares a viver unicamente de suas histórias rimadas, que foram centenas. Leandro versejou sobre todos os temas, sempre com muito senso de humor. Começou a escrever seus folhetos em 1889, conforme ele mesmo conta nesta sextilha de A Mulher Roubada, publicada no Recife em 1907:

Leitores peço-lhes desculpa
se a obra não for de agrado
Sou um poeta sem força
o tempo me tem estragado,
escrevo há 18 anos
Tenho razão de estar cansado.

Caboclo entroncado, de bigode espesso, alegre, bom contador de anedotas: este é o retrato que dele faz Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores. Casou-se com Venustiniana Eulália de Barros antes de 1889 e teve quatro filhos: Rachel Aleixo de Barros Lima, Erodildes (Didi), Julieta e Esaú Eloy, que seguiu a carreira militar tendo participado da Coluna Prestes e da Revolução de 1924. De Leandro só possuímos fotos de meio-busto e uma de corpo inteiro, que colocava em seus folhetos para provar a autoria de seus versos; de sua família, o que ficou para a história foram os folhetos assinados com caligrafia caprichada, sobretudo os de Rachel.

Na crônica intitulada Leandro, O Poeta, publicada no Jornal do Brasil em 9 de setembro de 1976, Carlos Drummond de Andrade o chamou de "Príncipe dos Poetas" e assinala:

"Não foi príncipe dos poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro". E diz mais: "Leandro foi o grande consolador e animador de seus compatrícios, aos quais servia sonho e sátira, passando em revista acontecimentos fabulosos e cenas do dia-a-dia, falando-lhes tanto do boi misterioso, filho da vaca feiticeira, que não era outro senão o demo, como do real e presente Antônio Silvino, êmulo de Lampião". 

Mas não foi só Drummond, nosso poeta maior, que reconheceria em Leandro a majestade dos versos. Em vida era tratado por seus colegas como o poeta do povo, o primeiro sem segundo (Athayde) e verdadeiro Catulo da Paixão cearense daqueles ásperos rincões (Gustavo Barroso).

Após o seu falecimento, em 4 de março de 1918, no Recife, de gripe espanhola, o poeta e editor João Martins de Ataíde, em seu folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros, escreveu:

Poeta como Leandro
Inda o Brasil não criou
Por ser um dos escritores
Que mais livros registrou
Canções não se sabe quantas
Foram seiscentas e tanta
As obras que publicou.

Fonte:

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Trova 302 - Matusalém Dias de Moura (Vitória/ES)

Fonte: Facebook do Trovador

Gislaine Canales (Glosas Diversas) 4


MODO DE SER FELIZ

MOTE:
– A gente nem sempre alcança,
o que a esperança prediz,
porém... viver de esperança
é um modo de ser feliz…
João Freire Filho

GLOSA:
– A gente nem sempre alcança,
tudo aquilo que sonhou,
mas a vida é uma criança
que recém desabrochou.

Queremos realizar
o que a esperança prediz,
e na vida colocar
um novo e lindo matiz.

Todos querem segurança,
querem ter os pés no chão,
porém...viver de esperança
faz feliz o coração.

O coração satisfeito,
realizado nos diz:
ter esperança no peito,
é um modo de ser feliz...
________________________

PARA QUE ME RECORDES

MOTE: (Quadra)
Para que tu me recordes
e, à recordação, sorrias,
eu te deixo com meus versos
minhas tristes alegrias...
Maria Elena

GLOSA:
Para que tu me recordes,
para que nunca me olvides,
deixo, em meus versos, acordes
de amor, pra que não revides!

Para que fiques feliz
e, à recordação, sorrias
foi que esses versos eu fiz,
esquecendo as nostalgias!

Meus anseios de universos,
como uma linda canção,
eu te deixo com meus versos
e mais o meu coração!

Para sempre eu viverei
feliz, em minhas poesias,
e com elas lembrarei
minhas tristes alegrias...
________________________

SAUDADES DE NINGUÉM...

MOTE:
Toda tristeza é dorida,
dói mais, no entanto, a de quem
enfrenta a tarde da vida
sem saudades de ninguém...
José Tavares de Lima

GLOSA:
Toda tristeza é dorida,
e a dor, provocando o pranto,
canta, como em despedida,
o mais cruel acalanto!

Toda a dor, nos faz sofrer,
dói mais, no entanto, a de quem
não encontra em seu querer,
o querer de um outro alguém.

É triste ser esquecida...
Pobre da alma que, sozinha,
enfrenta a tarde da vida
e só, na noite se aninha!

Machuca o sentir saudade,
mas a dor vai mais além
se vivermos na verdade
sem saudades de ninguém…
_______________

CADÊNCIA DA ESPERANÇA

MOTE:
Acalanto é som que invade,
voz suave que descansa,
no compasso da saudade,
na cadência da esperança!
Leda Costa Lima

GLOSA:
Acalanto é som que invade,
e que entra na alma da gente,
é ilusão... realidade...
é tão lindo... É diferente...

Belo, como a voz do vento,
voz suave que descansa,
partindo do firmamento
as folhas, então, balança!

Ele vem sem ansiedade,
vem chegando de mansinho
no compasso da saudade,
num bailado de carinho!

E tendo a força do verso
e o ritmo de nova dança
coloca todo o universo
na cadência da esperança!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas VI. 
In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. 
http://www.portalcen.org. abril de 2003.