sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Carolina Ramos (O Valor da Palavra)


Dizer que o silêncio é ouro é lugar comum. Máxima aceita sem restrições, embora não totalmente correta. Em muitos casos, nem sempre o silencio substitui a palavra sem os deméritos que apontem para a fuga, para  o subterfúgio, para a dissimulação, não passando de  cômoda abstenção que não define e nem compromete a quem lança mão deste artifício.

Nada substitui o valor de uma palavra em situações em que ela  assume a postura de marco entre o tudo e o nada. Entre a verdade e a mentira. Entre aquele o Sim e aquele Não, quando sequer é admitida a intrusão indecisa de um débil Talvez.

Um Sim  define duas vidas ante um altar. Um Não separa dois corpos e arrasta duas almas rumo a destinos divergentes, à mercê dos tropeços que a vida trama ao reescrever o incógnito roteiro de seus novos passos.

Há palavras frias, ferinas, afiadas como lâminas cruéis! Palavras que ferem, que castigam que matam! Amargas e cheias de veneno, tais como – raiva, ódio, medo, corrupção, vingança, guerra etc.!

Em compensação, outras palavras há, belíssimas, de aura luminosa, de conteúdo imenso e transcendental! Amor é a maior delas!

 Amor! Palavra que deveria ser sempre escrita com maiúscula e que,  urdida dentro de suas reais dimensões, não caberia numa página, pois tem valor de imensidão!

 Una, sem sinônimos, a palavra Amor é de uma riqueza impar, embora continuamente desgastada e ultrajada sempre que, com vileza,  for dimensionada fora do critério divino com que foi criada.

Amor...é o começo dos começos! Palavra ilimitada em cuja dimensão infinita cabe um Deus!

O Amor não tem preço - Ele é o Tudo!

No entanto, sem que se entenda o porquê, Amor é a palavra menos usada e também a mais desgastada pelo desprezo da humanidade que, em sua constante rebelião interior, a ignora, trocando-a pelo apego às mazelas que paradoxalmente a conduzem ao Nada!

Vão-se os tempos, vão-se as gerações enoveladas nas teias que elas mesmas tecem, sem que consigam encontrar o fio condutor que as liberte do labirinto criado por suas próprias mãos, movidas por paixões dominantes que as arrastam, quando tinham tudo para conduzir, sem serem conduzidas. Dominar sem serem dominadas e, vencer, ao invés de serem vencidas.

Entretanto, assim como não há causa sem efeito, assim como um veneno fatal pode ainda ter um antídoto, há também uma palavra terna, que parece fraca, frágil... mas absolutamente, não é nada disto.

A palavra é Esperança - que tem força desmedida e se abastece na alma de cada ser a ajuda-lo a sonhar... e sonhar... sempre uma vez mais!   

E essa palavra, verde como um tenro broto que viceja, cresce e  rasga nuvens densas  do horizonte azul da Terra do Sonho a apontar confiante outra palavra soberana, tão pequenina,  três letras apenas que traduzem o coletivo anseio, acenando, de longe, num fraterno apelo: - PAZ!

 Há, entretanto, uma última palavra a ser anexada. Pequenina e tão grande que é capaz de envolver todas as palavras do mundo, porque abraça o Amor, abraça a Esperança e abraça, também, a Paz! Essa palavra poderosa tem apenas duas letras que a tornam dona do Universo, essa palavra é - FÉ!

Fonte:
A Autora

domingo, 23 de dezembro de 2018

Pausa

Estarei dando uma pausa nas postagens, para as festas de fim de ano, mas retorno em seguida. 

Então deixo para você:



Hilda Persiani (Poemas Avulsos)



AH, O AMOR!

Ah, o Amor! Misterioso Amor!
Nunca está onde o procuramos...
Quando menos se espera, o encontramos
E da nossa vontade, torna-se senhor.

Tem seus caprichos, acontece,
O Amor não tem definição, 
Toma de arroubo nosso coração
E do nosso ser, a mente entorpece.

O Amor é lindo quando é verdadeiro!
Também fui jovem e também amei,
Troquei juras de amor e também sonhei ...

Hoje vivo a recordar meu companheiro,
“Até que a morte nos separe”: - juramos,
Ela chegou ... Então, nos separamos!…

BISBILHOTANDO

O moço que vejo parado na esquina,
Está apaixonado por alguém da minha rua,
Estou desconfiada que é por uma menina
Muito bonita, de olhos claros cor da lua.

Mas a jovenzinha, não toma conhecimento
E o pobre moço insiste em conquistá-la...
Entretanto, ela, talvez por acanhamento,
Ao vê-lo, sai da janela e bate ao fechá-la.

Sou idosa, mas não sou bisbilhoteira...
Foi por acaso que percebi o que se passa,
Tenho pena do moço, que perde a estribeira

Toda vez que a menina aparece.
Para ajudá-lo vou rezar e pedir Graça,
Talvez Deus me ouça e o romance comece!...

DOÇURAS DE RECORDAR

Eu me lembro, eu ainda era bem pequena,
A cozinha, fogão à lenha crepitando,
Minha mãe ao lado, sua face serena,
Como sempre sorrindo, cantarolando,

Na sala de jantar a mesa era oval,
A toalha, de linho branco, engomada,
Vejo meu pai na poltrona, lendo jornal,
Meus irmãos brincando, dando risada;

 Revejo o bibelô na cristaleira,
Sinto o aroma de alfazema pelo ar,
Certamente das flores da cantoneira,

 Quanta harmonia havia naquele lar!
São lembranças que guardei a vida inteira...
Quem me dera ter feito o tempo parar!?

EU E VOCÊ

Os anos tão depressa se passaram
Mas eu ainda me lembro...
Foi num mês de dezembro
Que nossos olhares se cruzaram.

Suas mãos as minhas segurando,
Você me disse : “Quer ser minha namorada?”
E há meio século com você estou casada
E continuamos sempre namorando.

Pela vida seguimos de mãos dadas,
Colhemos flores nas beiras dos caminhos,
Sempre juntos afastamos os espinhos.

Nosso pôr do sol já vem se aproximando,
Que importa? Se além da caminhada,
Com certeza continuaremos nos amando?!

LÁGRIMA

Quem nunca uma lágrima verteu,
Seja de tristeza ou seja de alegria,
Em qual face uma lágrima não correu?
Todas as faces ela umedeceu um dia...

Quantas rolaram por amor desfeito,
Outras rolaram por amor traído,
Quantas ficaram retidas dentro do peito,
Outras tantas tremularam sem ter caído.

Incolor, límpida, transparente,
Às vezes até mesmo sem razão,
Escorrem pela face docemente
Ou rolam em suspiro pelo coração.

Mas quando se chega na terceira idade,
As lágrimas que banham nosso rosto
Ou são causadas por algum desgosto
Ou rolam como carícia, de saudade!…

MOÇA 

Você que é moça e formosa
Que só conhece da vida
Sua vereda florida
E seu perfume de rosa.

Seus olhos são tão brilhantes,
Tem nuances de veludo,
Quais estrelas fulgurantes
Vivem sorrindo de tudo...

O tempo que corre sempre,
No seu compasso apressado,
Vê seu sorriso atraente
Vai caminhando ao seu lado.

Um dia, ao seu despertar
E no espelho se olhar,
Verá o que o tempo fizera...

Da moça que ali estava,
Que o tempo acompanhava:
– A juventude... Já era!…

NAMORO NO MEU TEMPO

No meado do século passado
A donzela ficava na janela
Esperando o namorado...
E ele surgia, sorrindo para ela.

Vinha apressado, elegante, garboso,
De terno e gravata, cabelo impecável,
Barba bem feita, sapato lustroso...
E ela sorria, terna e amável.

Descia correndo ao portão,
Feliz por receber o amado...
Que trazia uma rosa na mão
Para lhe fazer um agrado.

Depois... o vai e vem na calçada,
Era permitido andar de mão dada 
Se o namoro era para noivar.

Na hora marcada, de volta ao portão,
Um olhar, um sorriso, um aperto de mão...
Casar primeiro... Depois " Ficar" !

NOSTALGIA

Muitas vezes, em certas tardes de estio,
Dá uma vontade irresistível de chorar,
O pranto vem aos olhos, coração vazio,
Vago perfume de saudade inunda o ar...

É a saudade daquela velha história
Que a gente sabe que não mais existe,
Mas está sempre voltando na memória,
Trazendo com ela uma alegria triste,

Parece ás vezes uma mera nostalgia,
Lembrando antigas palpitações de amor,
Uma vaga sensação de melancolia,

Saudade, anseio vão, felicidade fugidia
Do passado, quando a vida nos sorria
 E deixamos a alma sofrer...Bendita dor!

RECEITA

O tempo passou depressa, envelheci,
Os sonhos foram ficando para trás,
Sinto-me feliz porque ainda estou aqui,
Vou prosseguindo com meu sorriso audaz...

Minha receita é prática: “ Muita alegria,
Uma chávena bem cheia de esperança,
Não coloque na receita, nostalgia;
Não esqueça de colocar perseverança;

Pra compensar, coloque sonho e doçura,
Um pouco de saudade, não em demasia.
Essa receita não leva amargura...

Cozinhe tudo com fé e confiança.”
A maneira de servir essa iguaria
É sorrindo...Que vida longa, alcança ...

RETRATO

Hoje, revendo seu retrato
Que o tempo impiedoso desbotou,
Constatei, com tristeza, que de fato,
Da mocidade só saudade me restou.

Por um momento tive a ilusão
Que o seu retrato criou vida,
Sorriu, chamou-me de querida
E fez acelerar meu coração...

De repente o sonho se desfez...
Ele novamente foi descorando
Voltando a ser só um retrato outra vez.

Mas, nesse breve sonho de momento,
Eu me senti feliz e então chorando
O seu retrato beijei com sentimento!...

SONHAR

Sonhar dormindo ou acordada,
Sonhar com um velho desejo,
Sonhar com a  pessoa amada,
Não é motivo de pejo.

Quem não sabe sonhar
Ou de sonhar não é capaz
Deve se encorajar
E verá que sonhar lhe apraz.

Discordo de quem disser
que sonhar é divagar...
Deixo aqui o meu pensar:

– Seja homem ou mulher,
Independente da idade,
Sonhe! Sonhar traz felicidade!

Arthur de Azevedo (A Doença de Fabrício)



O Fabrício era amanuense numa repartição pública, e gostava muito da Zizinha, filha única do Major Sepúlveda.

O seu desejo era casar-se com ela, mas para isso era preciso ser promovido porque os vencimentos de amanuense não davam para sustentar família. Portanto, o Fabrício limitava-se à posição de namorado, esperando ansioso o momento em que pudesse ter a de noivo. Um dia, o rapaz recebeu uma carta de Zizinha, participando-lhe que o pai, o Major Sepúlveda, resolvera passar um mês em Caxambu, com a família, e pedindo-lhe que também fosse, pois ela não teria forças para viver tão longe dele. Sorriu ao amanuense a ideia de ficar uma temporada em Caxambu, hospedado no mesmo hotel que Zizinha. Sendo como era, moço econômico, tinha de parte os recursos necessários para as despesas da viagem; faltava-lhe apenas a licença, mas com certeza o ministro não lha negaria. Enganava-se o pobre namorado. O ministro, a quem ele se dirigiu pessoalmente, perguntou-lhe de carão fechado:

– Para que quer o senhor dois meses de licença?

– Para tratar-me.

– Mas o senhor não está doente!

– Estou, sim, senhor; não parece, mas estou. 

– Nesse caso submeta-se à inspeção de saúde e traga-me o laudo. Só lhe darei a licença sob essa condição. 

Três dias depois o Fabrício, metido numa capa, com lenço de seda atado em volta do pescoço, a barba por fazer, algodão nos ouvidos, foi à Diretoria Geral de Saúde. O seu aspecto era tão doentio que o doutor encarregado de examiná-lo disse logo que o viu:

– Aqui está um que não engana: vê-se que está realmente enfermo! E dirigindo-se ao Fabrício: 

– Que sente o senhor?

O Fabrício respondeu com uma voz arrastada e chorosa:

– Sinto muitas coisas, doutor; dores pelo corpo, cansaço, ferroadas no estômago, opressão no peito.

– Vamos lá ver isso! Dispa o casaco! O Fabrício pôs-se em mangas de camisa, e o médico auscultou-o.

– Não tem tosse? 

– Tenho, mas só à noite; não me deixa dormir.

– Bom. Pode vestir o casaco. 

E o doutor foi escrever o laudo, que entregou ao amanuense. Este na rua desdobrou o papel, para ver que espécie de doença lhe arranjara o médico e leu: 

"Cardialgia sintomática da diátese artrítica." 

Não imaginem o efeito que lhe produziram essas palavras enigmáticas para ele.

– E não é que eu estou mesmo doente? – pensou o pobre rapaz.

Ao chegar a casa, tinha as fontes a estalar. Vieram depois arrepios de frio, a que sucedeu uma febre violenta e febre foi ela, que durou vinte dias. O enfermo teve alta justamente quando Zizinha voltava de Caxambu com um noivo arranjado lá. 

Maldita cardialgia sintomática da diátese artrítica.

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos.

Contos e Lendas do Mundo (Nigéria: O Desafio e o Mensageiro)


Segundo os mitos de alguns povos nigerianos, Olodumare é o deus supremo. O seu nome significa «majestade poderosa e eterna». Mas, segundo reza um mito dos Iorubas, houve tempos em que Olokum, o deus da água, quis esse título para si.

- Estou farto de fazer a vontade a Olodumare - queixou-se

Olokum um dia, enquanto passeava ao longo das margens do rio que tinha o seu nome, na companhia do seu servo humano. 

- Não serei eu um dos deuses mais amados e venerados? Não é o meu rio que enche os oceanos do mundo e mata a sede a todas as plantas, animais e humanos?

- Oh, sem dúvida, poderoso Olokum - respondeu o servo.

O deus e o seu servo detiveram-se e olharam para o outro lado do rio - também conhecido por Etíope - onde ficava a terra das almas. Era ali que as almas dos mortos iam repousar e as dos bebês por nascer iniciavam a sua jornada até ao mundo.

- Não serei eu o dador da vida? - perguntou Olokum.

Nesse momento, a alma de uma criança prestes a nascer numa aldeia próxima atravessou o rio e parou em frente do deus da água. Este abençoou a alma com palavras secretas e sagradas e fez-la seguir viagem cheia de esperança pela nova vida que estava prestes a iniciar.

 - Vós sois o deus mais amado e respeitado de todos - declarou o servo, fazendo-lhe uma vênia. - Os vossos templos são os mais coloridos. Enchem-nos os tecidos mais ricos e as estátuas mais belas. Muitas casas têm santuários dedicados a vós e todos os dias vos rezam.

- Basta! - exclamou Olokum. - Tudo o que dizes é verdade, mas Olodumare é o mais venerado. Continua a ser o deus supremo... dono e senhor de todos nós!

Olokum regressou ao seu palácio sob as águas, pensando numa maneira de retirar a supremacia a Olodumare. Olokum era um deus bom e compreensivo. Normalmente mostrava-se sábio e generoso e recorria aos seus poderes sem prejudicar os humanos, mas a única coisa que alterava o seu belo rosto com uma expressão de raiva era a posição respeitada que Olodumare ocupava.

O palácio submerso em que Olokum vivia era verdadeiramente espetacular: enchiam-no objetos de regalar a vista e que proporcionavam muito prazer. Era um lugar mágico e tinha no seu interior um cofre de tesouros cheio de oferendas para dar à humanidade. O cofre já não estava tão cheio como em tempos, pois Olokum já dera muitos presentes às pessoas.

- O que foi que Olodumare alguma vez fez pela humanidade além de controlar a vida das pessoas? - perguntou Olokum com um suspiro. Vidas que eu ajudo a tornar suportáveis e até bonitas. Não sou eu quem torna as mulheres belas? Não sou eu quem dá aos humanos os filhos por que anseiam e a boa sorte que merecem?

Nesse instante, o som de belos cânticos encheu os corredores e uma fila de bailarinas apareceu diante do deus.

- O que é que Olodumare pode oferecer e eu não?

- Que eu me lembre, pouca coisa - retorquiu o servo.

- Pouca coisa? - admirou-se Olokum.

- Quero dizer, nada - apressou-se o servo a acrescentar. - Não me lembro de nada.

- Nesse caso, desafiarei Olodumare a provar a sua supremacia perante mim. Veremos quem tem mais direito a ser o deus dos deuses! - exclamou Olokum que, tomada a decisão, se recostou, para desfrutar do resto da dança.

Assim, Olokum mandou o seu servo entregar uma mensagem ao deus supremo Olodumare, ordem à qual ele obedeceu, temeroso. Ao chegar diante do deus, o servo de Olokum tremeu.

- O que te fez vir até aqui? - perguntou Olodumare. - Porque mostras tanto medo de mim?

- Sabeis porquê, poderoso Senhor dos Céus - respondeu o servo.

- Sei? - admirou-se Olodumare, inclinando-se no seu enorme trono.

 - Vós tudo sabeis e tudo escutais - adiantou o servo.

- Mesmo assim, diz-me ao que vieste - disse o deus supremo.

- Olokum, meu senhor, desafia-vos a disputar o lugar de majestade poderosa e eterna - respondeu o servo, sentindo a boca secar-se-lhe de pavor.

- Achas que ele será bem sucedido no seu repto? - quis saber Olodumare, sorrindo.

- Não me compete dizer - respondeu o servo, de olhos fixos no chão.

- Aí está uma resposta sábia - observou o deus. - Admiro a tua lealdade a Olokum, mas será que não vês que o teu senhor está condenado ao fracasso?

- Deve achar que não será assim - retorquiu o servo.

- Quanta falta de modéstia da parte dele - riu-se Olodumare. Normalmente, Olokum é um deus ponderado. Deve realmente desejar o meu lugar... Diz-lhe que aceito o seu desafio.

- Aceitais, Criador? - gaguejou o servo de Olokum, espantado. Olokum pode vir aqui desafiar-vos?

Olodumare pôs-se, lentamente, de pé.

- Será que foi isso o que eu disse? - Sorriu. - Apenas respondi que aceitava o seu desafio, nada mais. Como é evidente, ando demasiado ocupado para aceitar o desafio de Olokum pessoalmente. Tenho assuntos mais importantes com que ocupar o tempo do que meter deuses invejosos no seu devido lugar... Diz ao teu senhor que mandarei um emissário responder ao seu desafio. - «Não lhe vai agradar nada», pensou o servo. - Terá de se contentar com isso - observou o deus supremo, lendo os pensamentos do servo. - Olokum deverá tratar o emissário com o mesmo respeito que eu próprio receberia. Agora vai e diz ao teu senhor que se prepare para receber a chegada do meu emissário.

- Um emissário! - indignou-se Olokum ao saber da resposta. - Então eu desafio Olodumare pelo direito a ocupar o seu lugar, e ele, em vez de vir pessoalmente, manda um emissário?

- Um emissário importante - esclareceu o servo. - Tão importante que vos pede que o trateis com o mesmo respeito como se fosse ele.

- Muito bem - declarou Olokum. - Olodumare envelheceu. Como sabe que o venceria em qualquer desafio, não tem coragem de me enfrentar. O servo achou mais cauteloso não fazer qualquer observação.

- Só me resta aguardar - disse Olokum. Bateu as palmas. - Quero música e dança! - ordenou.

De repente, gerou-se grande movimentação no palácio subaquático e foram informar Olokum de que o emissário chegara.

- Já cá está? - admirou-se Olokum perante o seu servo. - Primeiro vou mudar de roupa e depois recebê-lo-ei.

O servo pediu então ao emissário que se sentasse e esperasse por Olokum.

O seu senhor fez uma entrada triunfal, com as suas vestes a rodopiarem e a rasgarem o ar em seu torno como se fossem ondas do mar que ficava por cima. Quem poderia ficar indiferente a vestimentas tão suntuosas?

Ao ver o emissário que, delicadamente, se levantara quando da sua entrada, Olokum ficou de boca aberta. Então não era que ele envergava as mesmas vestes que ele próprio! E Olokum, que pusera vestes suntuosas para mostrar como era importante, reparava que, afinal, aquele humilde emissário trajava da mesma maneira!

- Perdoai-me, pois devo ir tirar estes andrajos miseráveis - disse Olokum. Saiu da sala e correu ao seu quarto em busca de roupa ainda mais rica.

Trajando vestes de tecidos requintados e coloridos, Olokum voltou para junto do emissário. Ao caminhar, garboso, pelo palácio, não houve servo, dançarino ou cantor que não ficasse pasmado diante da beleza do seu vestuário. Nunca tinham visto o seu senhor tão magnífico... Mas, ainda outra vez, a roupa do emissário era igual à dele!

Olokum, a espumar de raiva mas sem querer dar o braço a torcer, dirigiu-se ao emissário de Olodumare pela segunda vez.

- Perdoai-me - disse. - Pareceu-me detectar uma nódoa nesta minha modesta veste. Irei mudar-me mais uma vez, para depois vir para junto de vós.

Mal controlando a sua cólera, regressou apressadamente aos seus aposentos, onde envergou os trajos mais belos que possuía, os mesmos que tencionara vestir quando derrotasse Olodumare e assumisse o título de deus supremo.

Emissário algum poderia, sequer, sonhar com a existência de trajos tão belos. O de Olodumare ficaria, sem dúvida, assombrado...

Olokum, porém, enganava-se. Quando voltou à sala, as roupas do emissário igualavam a suntuosidade das de Olokum. Este sentiu-se desanimado e derrotado. Que esperança poderia ter em derrotar o próprio Olodumare quando o seu emissário era capaz de se antecipar a qualquer jogada sua?

De repente, Olokum deu-se conta de quão tolo fora. Porque não contentar-se em ser o mais amado e respeitado dos deuses? Ele trazia crianças e beleza ao mundo. Não precisava de ser o deus mais venerado, nem o mais poderoso.

Pousou a sua mão sobre o ombro do emissário.

- Ide e dizei a Olodumare que aprendi a lição - declarou calmamente. Contai-lhe que me haveis derrotado ainda antes de o desafio ser iniciado.

O emissário de Olodumare, sem proferir uma palavra sequer, abandonou o palácio debaixo do mar e regressou aos céus.

Olokum nunca o soube, mas foi enganado pela própria Natureza. O emissário era um camaleão - um animal capaz de mudar a cor e a aparência da sua pele de acordo com o que o rodeia. Matizara-se de acordo com as vestes de Olokum, igualando cada um dos trajos com que este aparecia.

Fonte:

sábado, 22 de dezembro de 2018

Trova 338 - Cícero Acayaba


Euclides da Cunha (Poemas Escolhidos) III



A CRUZ DA ESTRADA
A meu amigo E. Jary Monteiro

Se vagares um dia nos sertões,
Como hei vagado — pálido, dolente,
Em procura de Deus — da fé ardente
Em meio das soidões...

Se fores, como eu fui, lá onde a flor
Tem do perfume a alma inebriante,
Lá onde brilha mais que o diamante
A lágrima da dor...

Se sondares da selva e entranha fria
Aonde dos cipós na relva extensa
Noss'alma embala a crença.

Se nos sertões vagares algum dia...
Companheiro! Hás de vê-la.
Hás de sentir a dor que ela derrama
Tendo um mistério, aos pés, de um negro drama,
Tendo na fronte o raio de uma estrela!...

Que vezes a encontrei!... Medrando calma
A Deus, entre os espaços
No desgraçado, ali tombado, a alma
Que tirita, quem sabe? Entre os seus braços.

Se a onça vê, lhe oculta a asp'ra, ferrenha
Garra, estremece, pára, fita-a, roja-se,
Recua trêmula, e fascinada arroja-se,
Entre as sombras da brenha!...

E a noite, a treva, quando aos céus ascende
E acorda lá a luz,
Sobre os seus braços frios, frios, nus,
— Tecido de astros em brial estende...

Nos gélidos lugares
Em que ela se ergue, nunca o raio estala,
Nem pragueja o tufão... Hás de encontrá-la
Se acaso um dia nos sertões vagares...

A FLOR DO CÁRCERE 

Nascera ali — no limo viridente
Dos muros da prisão — como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola —
Aquela flor imaculada e olente...

E 'ele' que fora um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvíssima e silente!...

E — ele — que sofre e para a dor existe —
Quantas vezes no peito o pranto estanca!...
Quantas vezes na veia a febre acalma,

Fitando aquela flor tão pura e triste!...
— Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma...

AMOR ALGÉBRICO 
(Título anterior: "Álgebra lírica")

Acabo de estudar — da ciência fria e vã,
O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,
Acabo de arrancar a fronte minha ardente
Das páginas cruéis de um livro de Bertrand.

Bem triste e bem cruel decerto foi o ente
Que este Saara atroz — sem aura, sem manhã,
A Álgebra criou — a mente, a alma mais sã
Nela vacila e cai, sem um sonho virente.

Acabo de estudar e pálido, cansado,
Dumas dez equações os véus hei arrancado,
Estou cheio de 'spleen', cheio de tédio e giz.

É tempo, é tempo pois de, trêmulo e amoroso,
Ir dela descansar no seio venturoso
E achar do seu olhar o luminoso X

SONETO
Dedicado a Anna da Cunha

"Ontem, quanto, soberba, escarnecias
Dessa minha paixão, louca, suprema,
E no teu lábio, essa rosa da algema,
A minha vida, gélida prendias...

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema...
— Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quando tu te rias...

Hoje, que vives desse amor ansioso
E és minha, só minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste, sendo tão ditoso!

E tremo e choro, pressentindo, forte
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida, que é a morte..."

D. QUIXOTE

Assim à aldeia volta o da "triste figura"
Ao tardo caminhar do Rocinante lento:
No arcabouço dobrado — um grande desalento,
No entristecido olhar — uns laivos de loucura...

Sonhos, a glória, o amor, a alcantilada altura
Do ideal e da Fé, tudo isto num momento
A rolar, a rolar, num desmoronamento,
Entre os risos boçais do Bacharel e o Cura.

Mas, certo, ó D. Quixote, ainda foi clemente
Contigo a sorte, ao pôr nesse teu cérebro oco
O brilho da Ilusão do espírito doente;

Porque há coisa pior: é o ir-se a pouco e pouco
Perdendo, qual perdeste, um ideal ardente
E ardentes ilusões — e não se ficar louco!

Fonte:
Euclides da Cunha. Onda e outros poemas esparsos. RJ, 1883.

Herman Hesse (O Jovem Apaixonado: Uma Lenda)


Esta história aconteceu no tempo de Santo Hilário. Na terra natal deste santo, em Gaza, vivia um casal humilde e crente, a quem o Senhor abençoara com uma linda e esperta menina. Para alegria de todos, a menina cresceu em recato, modéstia e temor a Deus, guiada pelos pais para a prática do Bem. Tanta pudicícia e suavidade de modos eram comparáveis às de um anjo do Senhor. Os cabelos escuros e sedosos esvoaçando em torno dos ombros, os olhos modestamente baixos, que longas pestanas sombreavam, caminhava ela sob as palmeiras com movimentos graciosos, esbelta e leve como uma gazela. Não tinha olhos para homem algum, pois aos catorze anos de idade, após grave doença, foi prometida por seus pais, no caso de salvar-se, como noiva de Deus. E Deus aceitara a oferenda.

Foi por essa moça pura que um jovem da mesma terra se apaixonou. Também ele era formoso e  esbelto, filho de pais abastados que o haviam criado e educado com esmero. Mas desde que se apaixonara pela linda donzela não pensava em outra coisa senão buscar oportunidades para vê-la e dirigir-lhe olhares ansiosos. Mas nos dias em que não lograva encontrá-la ficava triste e pálido, recusando alimentos e passando horas a fio entre suspiros e lamentos.

O jovem recebera uma boa educação cristã, era de índole delicada e religiosa, mas essa paixão avassaladora tornara-se dona absoluta de sua alma. Já não conseguia rezar e, em vez de elevar o pensamento para as coisas santas, recordava apenas, obsessivamente, os longos cabelos pretos da donzela, seus belos e tranquilos olhos pestanudos, a cor e os contornos delicados de seu rosto e lábios, o alvo e fino colo, os pequenos e ágeis pés. Temia, porém, comunicar seu grande amor, pois bem sabia que ela não tencionava aceitar homem algum e pretendia devotar seu amor somente aos pais e a Deus.

Por fim, consumindo-se de desejo dirigiu-lhe extensa e fervorosa carta, na qual falava de seu grande amor e lhe implorava encarecidamente que o aceitasse para que, num futuro não muito distante, pudessem gozar uma vida conjugai feliz e abençoada por Deus. Perfumara essa missiva com finos pós da Pérsia, enrolara-a com um cordão de seda e ordenara que a entregassem à donzela, em segredo, por intermédio de uma velha criada.

Quando ela leu a carta, seu rosto fez-se escarlate, como se tivesse sofrido um ataque de rubéola. Em sua confusão inicial, inclinara-se a rasgar a carta ou mostrá-la imediatamente à mãe. Não o fez, porém, não só por conhecer o jovem desde criança e gostar dele mas também por notar que suas palavras eram repassadas de delicadeza e bondade. Decidiu então devolver a carta à velha, com as seguintes palavras:

— Devolve esta carta àquele que a escreveu e diz-lhe que nunca mais me dirija semelhantes palavras. Diz-lhe também que fui prometida a Deus por meus pais, não podendo jamais dar minha mão a um homem, e que devo e quero permanecer em meu estado virginal para servir e honrar a Deus, cujo amor é infinitamente superior e mais valioso do que qualquer afeto humano. E diz-lhe ainda que, enquanto eu não encontrar alguém cujo amor seja superior e mais valioso do que o amor a Deus, permanecerei fiel aos meus votos de castidade. A ele, porém, que escreveu esta carta, desejo que viva na paz do Senhor. E agora vai, e faz-lhe saber que nunca mais aceitarei mensagem alguma.

A criada, surpreendida por tanta firmeza, voltou a seu amo com a carta e lhe pôs a par de tudo o que a donzela lhe dissera. Apesar das palavras de consolo da velha, o moço apaixonado entregou-se a ruidosas lamentações, rasgando as roupas e espalhando cinza e terra sobre a cabeça. Não se atrevia mais a procurar a donzela, em seus passeios, limitando-se a segui-la com olhares à distância. À noite, em sua alcova, não conciliava o sono, murmurava o nome da amada e dirigia-lhe milhares de carinhosas e doces palavras, chamando-a de sua luz, sua estrela, sua gazela, sua palmeira, sua pérola e seu consolo... e quando despertava de tais fantasias, e via-se só em sua alcova, tinha acessos de raiva, maldizia o nome de Deus, rangia os dentes e batia com a cabeça nas paredes.

Por causa dessa paixão terrena, o temor a Deus toldara-se e acabara por se extinguir de seu coração, onde apenas o demônio tinha agora acesso, dominando o jovem ao sabor de seus desígnios tenebrosos. Foi assim que, certo dia, o tresloucado rapaz jurou que possuiria a donzela, nem que para tanto tivesse que recorrer à força. Viajou para Mênfis e ingressou na escola do sacerdote pagão Asclépio, tomando com ele lições de feitiçaria. Dedicou-se com afinco, durante um ano, a tais estudos e voltou em seguida a Gaza.

Começou então a gravar signos mágicos e palavras de sortilégio em placas de cobre com infalíveis poderes de feitiço. Durante a noite, ia furtivamente colocar essas placas sob a soleira da porta onde morava a donzela. Já no dia seguinte à aparição da primeira placa a donzela parecia mudada: seu recatado olhar cabisbaixo tornou-se mais franco, mais animado; soltou os cabelos, deixando-os ondear ao vento; desleixou as orações e serviços religiosos; e ouviram-na cantar uma serenata de amor que ninguém lhe ensinara. Esta conduta tornava-se mais escandalosa com o passar dos dias, e de noite, remexia-se nas almofadas do leito, gritando o nome do jovem, chamando-o de seu bem-amado e confessando desejos carnais.

Essa mudança na donzela enfeitiçada não podia, evidentemente, passar despercebida a seus pais. Cientes de tão estranhos modos e palavras, ficaram vigilantes, espiavam-na discretamente e tanto se apavoraram com o que ouviram uma noite que o indignado pai logo quis expulsar de casa a depravada filha. A mãe, contudo, implorou paciência; era preciso examinar bem o caso e reconhecer que a filha fora levada a tão estranho comportamento certamente por algum feitiço.

Como a donzela continuasse possessa, proferindo até blasfêmias e gritando cm altas vozes que desejava seu amado, lembraram-se os pais de um santo eremita, Hilário, que vivia há longos anos fora da cidade, em pleno deserto, e tão perto de Deus que todas suas preces eram ouvidas. Curara tantos enfermos e exorcizara tantos demônios que bem podia ser tido na conta — ao lado de Santo Antônio — do mais poderoso agente de Deus daqueles recuados tempos. 

A donzela foi então  levada por seus pais a Hilário, a quem contaram tudo o que estava acontecendo e imploraram ajuda. Hilário acercou-se da donzela e assim falou:

— Quem fez de ti , serva de Deus, um receptáculo de maus desejos?

A moça, encarando aquele que tinha o corpo esquálido e a pele queimada, começou ridicularizando-o, chamando-o de espantalho sarnento e entoando em voz dolente:

— Vede minha pele branca e macia, meu corpo liso, meus apetitosos seios!

Aterrorizados, os pais caíram de joelhos e esconderam a cabeça entre as mãos, tomados de vergonha. Mas Hilário sorriu, e reconhecendo o Diabo que se apossara da donzela, fustigou-o tanto que, sentindo-se acossado por uma força superior à sua, acabou dizendo seu nome e confessando todas as suas artimanhas. O santo expulsou violentamente o demônio, que opunha a maior resistência na alma da donzela, e esta acabou tombando sem sentidos. Quando acordou, como de um sono febril, reconheceu e saudou os pais, que choravam, pediu a Hilário sua bênção e, dessa hora em diante, voltou a ser a boa serva de Deus.

Entrementes, o jovem esperava que os feitiços de amor fizessem efeito na donzela e a levassem a seus braços ávidos. Passava os dias acalentando essa esperança, certo de um desfecho propicio, ao mesmo tempo ern que a donzela, depois das provações acima narradas, reencontrava o caminho da virtude e, curada, voltava à cidade. O jovem, ao passar por uma rua, viu-a surgir ao longe e encaminhar-se na sua direção. Quando já estavam perto um do outro, ele viu que no rosto da donzela refulgia a antiga pureza e que toda ela irradiava uma beleza tranquila, como se tivesse acabado de descer do Paraíso. Surpreendido, o jovem estacou e, envergonhado de sua malfeitoria, teve um súbito impulso de afastar-se. Mas dominou-se e, como ela se acercasse bastante, presumiu que o feitiço tivera algum efeito. Chegou perto da donzela e, tomando-lhe as mãos, disse:

— É certo, pois, que me tendes amor?

A donzela, sem enrubescer, ergueu os olhos para que ele pudesse contemplá-los como se contempla uma estrela pura e distante. Uma indescritível bondade resplandecia em seu rosto suave. Reteve entre as suas mãos a mão do jovem e respondeu:

— Sim, meu irmão, eu vos amo. Amo a vossa pobre alma e vos rogo que a liberteis do Mal. Entregai-a a Deus para que readquira a pureza e a formosura de outrora.

Uma mão invisível tocou o coração do jovem. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ele exclamou:

— Ah, devo então renunciar ao vosso amor para sempre? Pois ordenai-me que o faça. Quero unicamente fazer aquilo que for de vosso agrado.

Ela sorriu como um anjo e disse:

— Não deveis renunciar a mim para sempre. Chegará o dia em que todos estaremos irmanados diante do trono de Deus. Tratemos pois de proceder de modo a que possamos olhá-lo sem temor e passar em Seu Juízo. Quero ser vossa amiga. Será por pouco tempo que vivereis separado de mim.

Soltou lentamente suas mãos e, sorrindo, prosseguiu em seu caminho. O jovem ficou imóvel, como que fascinado. Depois dirigiu-se para casa, fechou-a e foi para o deserto servir a Deus. Sua formosura dissipou-se, emagreceu, a pele escureceu; dividia seu tugúrio com os animais do campo. Quando se sentia exausto e dúvidas o assaltavam, seu único consolo era repetir centenas de vezes as palavras da donzela: "Será por pouco tempo..."

Embora o tempo se alongasse, os cabelos encanecessem e ele ficasse neste mundo até à idade de oitenta anos, o eremita pensava: Que são oitenta anos? Os anos vêm e morrem como se tivessem as asas de um pássaro. A Eternidade me espera, após este voo breve pelo mundo. 

Desde os recuados tempos em que viveu esse jovem, muitas centenas de anos já transcorreram e com que rapidez serão também esquecidos os nossos atos e os nossos nomes, e não ficará outro vestígio de nossa vida senão, talvez, uma pequena e incerta lenda...

Fonte:
Herman Hesse. O Livro das Fábulas.