quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Baú de Trovas LXXIX


Ah, belos tempos dourados,
que os sonhos não trazem mais...
Bailavam, corpos colados,
olho no olho, os casais!
A. A. de Assis
Maringá/PR
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Não amar nem ser amado,
é o mesmo que não ser nada,
é pisar no chão eivado
de acúleos pela estrada.
Abel B. Pereira
Florianópolis/SC
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Esse é o trem de minha vida!
Passou rápido e fugaz
na tresloucada corrida
dos meus tempos de rapaz.
Adamo Pasquarelli
São José dos Campos/SP
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A trova é gemido brando,
breve cantiga inocente,
que dizemos suspirando,
pensando na amada ausente.
Adaucto Soares Gondim +
Fortaleza/CE
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Peço a Noel que ele faça
com toda bondade sua,
um grande Natal na praça
para as crianças de rua.
Ademar Macedo +
Natal/RN
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Come de tudo o João,
carne de porco, jamais:
- Que me chamem comilão,
mas canibal é demais!
Adolpho Boiça Moinho
Cornélio Procópio/PR
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Quando, então, do céu descer
um brilho no seu olhar,
é porque no entardecer 
meus sonhos vão te buscar.
André Ricardo Rogério
Arapongas/PR
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A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.
Anônimo
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O homem sofre ante os impulsos
das religiões e das ciências
pois pior que algemar pulsos,
é agrilhoar consciências!...
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA
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Procura longa e constante,
num sempre querer achar…
Um sonho louco e distante,
impossível de alcançar…
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ
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Sou mineiro...E das entranhas
trago o dom de ressurgir...
Quem vive junto às montanhas
sabe descer e subir!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
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A casinha é sem riqueza,
mas nela a paixão é tanta,
que não floresce a tristeza.
Solidão… a gente espanta!
Arthur Thomaz
Campinas/SP
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Teu texto, agora chegado,
escrito com tanto amor,
traz com ele, anexado,
o abraço do próprio autor!
Carolina Ramos
Santos/SP
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A magia azul do mar,
seus mistérios e beleza,
nos convencem a cuidar
da nossa mãe natureza.
Clair Fernandes Malty
Itapema/SC
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Os braços vindos de guetos,
sob o sol ou sob a lua,
amarelos, brancos, pretos,
clamam justiça na rua.
Cláudio de Cápua +
Santos/SP
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Felicidade, afinal,
eu creio que nem existes...
- Não passas de um ideal
no desespero dos tristes...
David José Passerino
Joinville/SC
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A bonita escadaria
que parece não ter fim,
é um convite à poesia
que existe dentro de mim!
Delcy Rodrigues Canalles +
Porto Alegre/RS
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Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez! 
Dorothy Jansson Moretti +
Sorocaba/SP
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Estrondo, coisa danada,
será trem ou avião?
- Barulho na madrugada
é o ronco do maridão…
Eliana Luiz Jimenez
Balneário Camboriú/SC
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Por sobre as águas do mar,
ou sobre as terras da Terra,
um avião vem lançar
bombas de Amor contra a guerra.
Elisabete Aguiar
Mangualde/Portugal
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Minha alma toda estremece,
quando te vejo a meu lado;
murmuro logo uma prece,
mas não resisto ao pecado...
Eugênio Martins de Freitas +
São Luís/MA
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Eu sinto grande emoção
ao ver o mar, e então, canto
com amor no coração
o mais suave acalanto!
Fabiana Gonçalves da Veiga
Balneário Camboriú/SC
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Em certos beijos se esconde
um demônio singular
que nos conduz não sei aonde,
donde é difícil recuar. 
Fausto Paranhos +
Rio de Janeiro/RJ
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Cai a chuva na vidraça
e eu fico triste, porque
não há beleza nem graça
nesta casa sem você.
Filemon Francisco Martins
São Paulo/SP
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Quando a seca nos acossa
e o rio mostra seu leito,
a tristeza que há na roça
roça com força em meu peito
Francisco José Pessoa +
Fortaleza/CE
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O tempo vem desfazendo
a família dia a dia;
hoje vivemos fazendo
sala pra tecnologia.
Geraldo Trombin
Americana/SP
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Vejo a tua silhueta
na sombra, bem definida,
e abro, em meu peito, a gaveta 
de uma saudade escondida!
Gislaine Canales +
Porto Alegre/RS
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Se és veloz no pensamento,
no trânsito sê prudente.
Usa o cinto, fica atento...
Mostra que és inteligente!
Gledis Tissot +
Camboriú/SC
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Num recanto abandonado,
tecendo rede e lembrando,
pescador aposentado
afaga o barco, chorando.
Glícia Murara Neidert
Rio Negrinho/SC
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A paz nem sempre é perfeita,
esconde-se em descaminhos,
entre dores, fica à espreita,
como rosa entre os espinhos.
Henriette Effenberger
Bragança Paulista/SP
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A paixão enlouquecida
pelo ardor da mocidade
se transforma ao fim da vida
em carinhosa amizade.
Heribaldo Gerbasi
São Paulo/SP
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No boteco está sobrando
comida... boa... e... barata:
-  Pastel: "Jesus tá chamando"!
-  Coxinha: "Adeus vida ingrata"!...
Izo Goldman +
São Paulo/SP
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À mesa, família unida;
passou o tempo e, afinal,
cada um no lar, na vida,
vive em mundo digital...
Jessé Nascimento
Angra dos Reis/RJ
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A vida é um trem nos levando
com destino à eternidade,
que segue, sacolejando,
pelos trilhos da saudade...
João Paulo Ouverney
Pindamonhangaba/SP
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Se para agora há mais tempo, 
qual tempo que você tem? 
Pois se é apenas passatempo, 
muitos o tempo estão sem. 
José Feldman
Campo Mourão/PR
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No instante em que o sol se enfada
de tanto aquecer a terra
deita a cabeça dourada
no travesseiro da serra.
José Lucas de Barros +
Natal/RN
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O chão trincado e careca
e o céu vazio e distante…
- Tudo seco!… Só não seca
o pranto do retirante…
José Messias Braz
Juiz de Fora/MG
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Ajuda os de mãos vazias,
porque colheita não temos
igual à das alegrias
que vêm do bem que fazemos!…
José Tavares de Lima
Juiz de Fora/MG
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Sua boca tem segredos,
e assim, você me seduz,
revelo então, os meus medos
que nem a noite reluz!
Juliana Appel
Brusque/SC
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Há sorriso de ironia,
há sorriso imerso em dor,
há também de simpatia...
mas o melhor é o de amor!
Lóla Prata
Bragança Paulista/SP
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Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
Lucilia Alzira Trindade Decarli
Bandeirantes/PR
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Eu te agrado, tu me agradas,
e, no doce cativeiro,
sem algemas, sem ciladas,
tu me prendes por inteiro!
Luiz Carlos Abritta +
Belo Horizonte/MG
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Por vingança o centro-avante,
que há muito tempo vai mal,
fez gol contra fulminante
a um segundo do final.
Maria Helena Calazans Duarte
São Paulo/SP
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Volte agora com vontade,
ser o amor que me encantou,
traga consigo a saudade,
que ao partir, você deixou!
Maria Luiza Walendowsky
Brusque/SC
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Vuelan los versos al cielo,
los recogen querubines.
La poesía alza el vuelo
soñando con los violines.
María Rosa Rzepka
Argentina
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Enquanto a nau Esperança
singrar os mares da vida,
minha Quimera não cansa
e nem se dá por vencida.
Miguel Russowsky +
Joaçaba/SC
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Com textos, fotos ou mapas,
o bom livro é uma estrutura
onde o leitor, entre as capas,
mata a sede da cultura.
Milton S. Souza +
Porto Alegre/RS 
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É muito triste de ver
a juventude perdida;
e, à Internet se render,
perdendo a essência da vida...
Myrthes Masiero
São José dos Campos/SP
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Foi por falta de carinho 
que errei e perdi meus passos, 
mas bendigo o “mau caminho” 
que me levou aos teus braços… 
Nádia Huguenin +
Nova Friburgo/RJ
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Dando salva de Poesia
enalteço o Trovador
pela Trova que eu queria
ser, da mesma, o seu Autor.
Nei Garcez
Curitiba/PR
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Selva: bela e exuberante;
cria, de rara beleza,
de Deus que, naquele instante,
nominou-a... Natureza!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE
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Creio que quem olha a Terra
sob o azul e branco manto
não acredita que a guerra
possa tingi-la de pranto.
Olympio Coutinho
Belo Horizonte/MG
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A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
Professor Garcia
Caicó/RN
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Aunque te quiero derecho
mi amor por ti es herejía, 
porque yo llevo en el pecho
mi otro amor! la poesía !
Rafael Ramos Nápoles
Venezuela
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É tempo de liberdade,
vamos partir os grilhões,
numa só cumplicidade
que se fundam corações.
Raymundo de Salles Brasil
Salvador/BA
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Aproveita, criançada,
o tempo, alegre, ligeiro,
que da a uma simples calçada
dimensões do mundo inteiro!
Rodolpho Abbud +
Nova Friburgo/RJ
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A vida é um mar de rosas
legando beleza e olor,
às criaturas bondosas,
que sabem semear o amor.
Sara Furquim +
Rio Branco do Sul/PR
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Foi galantear, o Pérsio,
e o otário se deu mal:
"Tu és de fechar o comércio!”
E a morena era fiscal!
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP
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Das lágrimas de um poeta
renasce uma inspiração,
um poema se completa…
Leva alento ao coração.
Solange Colombara
São Paulo/SP
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Sem ódio... sem armamento...
sem heróis, que a guerra faz,
será, o mundo, um monumento
erguido em nome da PAZ! 
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP
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Buscando quimeras vãs
e redentoras auroras,
fui vivendo de "amanhãs"
e não vivi meus "agoras"…
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG
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Há um relógio em cada esquina
marcando o tempo atual;
mas não marca quem destina,
nosso destino final.
Wellington Freitas
Caicó/RN
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A esperar que regressasse,
postei-me à porta, rezando...
E, se ele nunca voltasse
continuaria esperando...
Yedda Ramos Patrício
São Paulo/SP
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Mitos Indígenas (Thaina Khan, a estrela da manhã)

Imaeru, uma linda e vaidosa jovem Karajá, tinha como maior desejo possuir a estrela Thaina Khan (estrela Dalva), a mais brilhante da manhã. 

Seu pai, o velho pajé, vendo a angústia da filha, pediu ao Deus Tupã que lhe satisfizesse o desejo. Tupã concordou, mas avisou-lhe que a estrela só poderia descer à Terra na forma de um homem. 

Imaeru ficou radiante e numa noite de luar, elevando seus olhos em direção aos astros, pediu à almejada estrela que descesse para desposá-la. Neste instante, desceu do céu uma luz, surgindo à sua frente um velho: era Thaina Khan, que de lá viera para casar-se com ela. 

A índia, decepcionada, respondeu-lhe rudemente, alegando que, tão jovem e bela, não poderia desejá-lo. O velho entristeceu-se profundamente, lamentando seu destino, pois da mais brilhante estrela que houvera sido, transformara-se em homem, não podendo mais regressar à sua condição original. 

Danace, irmã de Imaeru, que os ouvira, resolveu aproximar-se e, sensibilizando-se com a situação do bondoso ancião, ofereceu-se para ser sua esposa. Era menos bela que a irmã, mas muito meiga e generosa, passou a cuidar com muito carinho do esposo idoso. Ambos viviam felizes. 

Certo dia, Thaina Khan não voltou da roça na hora de costume. Preocupada, Danace saiu à sua procura. Encontrou somente um jovem, todo iluminado. Era Thaina Khan, que Tupã havia rejuvenescido, tornando-o belo e forte, em reconhecimento à bondade da índia. 

Radiantes, regressaram abraçados à aldeia. Imaeru, ao saber do ocorrido, desejou ardentemente o jovem, mas Danace o havia conquistado para sempre. 

Desesperada, Imaeru desapareceu na floresta, sendo transformada por Tupã no pássaro Urutau, que, em noites de luar, entoa um triste canto, lamentando haver perdido o amor de sua almejada estrela da manhã.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Formas de Escrever Diálogos) – 1


O diálogo é parte essencial de uma história; os escritores empenham-se para assegurar que as conversas em histórias, livros, peças e filmes soem tão naturais e autênticas quanto as da vida real. Os escritores geralmente usam diálogos para dar informações aos leitores de um modo interessante e engajado emocionalmente. Para escrever diálogos, entenda seus personagens, seja simples e honesto e leia em voz alta para certificar-se de que soa genuíno.


MÉTODO 1: PESQUISANDO DIÁLOGOS

1 – Preste atenção em conversas de verdade. 

Ouça o modo como as pessoas falam umas com as outras, veja como é diferente o jeito de falar de acordo com cada interlocutor e use essas conversas e padrões no seu diálogo para que ele soe autêntico.

Desconsidere as partes da conversa que não ficam bem transcritas. Por exemplo, nem todos os "olás" e "tchaus" precisam ser escritos. Alguns dos seus diálogos podem começar no meio de uma conversa, como "E aí, fez tal coisa?" ou "Mas por que você fez isso?".

Carregue um caderno na pasta para anotar todas as conversas interessantes que ouvir.

2 – Leia bons diálogos. 

Para ter uma boa ideia do equilíbrio necessário entre discurso realista e discurso literário, você precisará ler bons diálogos em livros e roteiros de cinema e teatro. Veja o que funciona ou não e tente descobrir o porquê.

Alguns escritores que renderam ótimos diálogos são Nelson Rodrigues e João Guimarães Rosa (para citar somente dois, existem muitos!) 

Ler e praticar a escrita de diálogos para filmes e peças de rádio é de grande ajuda para aprimorá-los.

3 – Desenvolva completamente seus personagens. 

Você vai precisar  entendê-los completamente antes de conseguir fazê-los falar. Saiba de antemão se o personagem é taciturno, monossilábico etc.

Aspectos como idade, gênero, grau de escolaridade, origem e tom de voz farão a maior diferença no modo de falar de um personagem.

Uma  senhora de Santa Catarina certamente não falará igual a um rapaz do Rio de Janeiro.

Dê a cada personagem uma voz distinta. Nem todos os personagens vão usar o mesmo vocabulário, tom ou modo de falar. 

Certifique-se de que cada personagem soe de modo diferente.

4 – Aprenda a evitar diálogos excessivamente formais. 

Eles podem não arruinar uma história completamente, mas com certeza podem desanimar o leitor a continuá-la e, como escritor, você quer evitar isso a todo custo. 

Diálogos formais funcionam ocasionalmente, mas apenas com tipos mais específicos de histórias.

Diálogos formais só funcionam em níveis óbvios e em um linguajar que ninguém use. Por exemplo: "Olá Joana, você parece triste hoje", disse Carlos. "Sim, Carlos, estou triste hoje. Você gostaria de saber por quê?"; "Sim Joana, eu gostaria de saber porque você está triste hoje"; "Eu estou triste porque meu cachorro está doente e isso me lembra da morte de meu pai, dois anos atrás, sob circunstâncias desconhecidas para mim."

Como o diálogo acima deveria ser: "Joana, tem alguma coisa errada?" perguntou Carlos. Joana deu de ombros, com o olhar fixo em algo fora da janela. "Meu cachorro tá doente. Eles não sabem qual é o problema." "Isso é péssimo, mas... ele é velho. Talvez seja esse o problema."; As mãos dela se agarraram ao batente da janela — "Mas... é que... eu esperava que pelo menos o médico soubesse de algo."; "Você quer dizer o veterinário?" Carlos estranhou. "É. Tanto faz."

A razão para o segundo diálogo funcionar melhor é o fato de Joana não mencionar em nenhum momento que está pensando na morte do pai, mas há palavras que dão a dica sobre os pensamentos dela. O fato de ela trocar a palavra "veterinário" por "médico" é um indício bom o suficiente, além do ritmo fluir melhor.

Um exemplo de diálogo formal que funciona é "O Senhor dos Anéis"; eles não são sempre assim, especialmente quando os hobbits estão falando, mas podem se tornar bastante eloquentes e grandiosos (e nada realistas).

Isso só funciona (e muita gente discorda disso) porque a história se passa em um ambiente medieval, como em "Beowulf".
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continua...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Daniel Maurício (Poética) 64

 

J. G. de Araújo Jorge (A Poesia Popular)

Somos felizmente um povo inteligente e de grande sensibilidade. Se querem um exemplo da inteligência do povo brasileiro, de sua filosofia, do seu senso de humor, procurem observar as frases que comumente se encontram escritas nos para-choques ou na própria carroceria dos caminhões que trafegam pelas estradas. 

São de uma graça e de uma acuidade, às vezes profundas, em sua simplicidade. Sozinhos, viajando durante dias, longe do lar e de seus amores, os motoristas de caminhões são como os marinheiros. Mas a permanente presença da terra, tira-lhes á saudade aquele tom de grande lirismo do homem do mar, realmente desligado de tudo, cercado de silêncios e horizontes. E espouca em seus espíritos a sátira, a alegria boêmia dos que fazem a vida de aventuras, em prazeres de cada momento.

Já pensei em comprar um caderninho para anotar as frases que leio nos para-choques dos caminhões. Tenho a convicção de que acabaria por ter um verdadeiro retrato do espírito popular, um verdadeiro “compêndio” dessa filosofia de vida, tão interessante e cheia de sutilezas, do homem da rua.

Uma das trovas que compõem o meu “Cantigas de Menino Grande” eu a fiz, aproveitando um pensamento de uma dessas frases que vi num caminhão, quando dirigia meu carro rumo a Friburgo. Dizia o seguinte

“Eu dirijo, Deus conduz”.

Nada mais, simples e profundo. E pensando no que acabara de ler fui arrumando mentalmente os outros versos, já que o pensamento vinha num verso de sete sílabas. No meio da serra a quadrinha estava pronta:

No meu carro vou tranquilo
tenha a estrada sombra ou luz,
pois bem sei que ao dirigi-lo:
- Eu dirijo, Deus conduz."

Numa crônica que preparei para volumes anteriores desta coleção, afirmei:

“Do mesmo modo que os provérbios e adágios representam o pensamento do povo que se vai cristalizando através do tempo, as trovas, são a sua alma. E os poetas, tocados pela “graça” das trovas, os intérpretes dessa alma.” 

O povo fala em versos, sem sentir e, instintivamente, nos seus provérbios e sentenças, procura a rima, que é um elemento oral de enfeite e de memorização mais fácil. Observem os provérbios. este, por exemplo, bem conhecido:

“Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura.”

Dois. versos de sete sílabas, rimando.

E este outro:

“Ha sempre um chinelo velho
Pra um pé doente e cansado.”

Glosei, também, numa trova:

O tal ditado é um conselho,
não te mostres desolado…
“Há sempre um chinelo velho
Pra um pé doente e cansado…”

Nem tal fato é de se estranhar, quando sabemos que as línguas neolatinas esgalharam-se do tronco secular do velho latim, na língua poética, dos trovadores medievais, nas suas cantigas.

Sobre trovas populares e anônimas, escrevi, na crônica citada :

“Uma trova, (ou como a chamam também, uma quadrinha) é tanto mais expressiva quanto maior o grau de fidelidade ou de identidade do poeta com o sentimento popular. Cai então, pode-se dizer, no gosto do povo, que a recolhe, decora e divulga, e sua expansão se faz de modo permanente, extenso e profundo.

Seu processo de popularização é tamanho, que ela acaba desgarrada de quem a criou, filha de ninguém. Ou melhor: lhe arranjam um pai, lhe atribuem uma paternidade, ou várias, o que vem a ser a mesma coisa. É uma trova anônima.

Glória efêmero e paradoxal. No momento mesmo em que a atinge, o trovador a perde. E são quase sempre, as maiores trovas, aquelas que acabam no anonimato, emaranhadas em meio a dúvidas e suposições. Tratando-se de pequenas composições poéticas, facilmente reproduzíveis, acontece com as publicações o mesmo que se dá com a difusão oral. Jornais e revistas de toda a parte, álbuns e cadernos de poesia as divulgam com autores diversos, tornando cada vez mais difícil a identificação, e mais penosa a pesquisa.”

“A Ilíada” e a “Odisseia”, memorizadas durante séculos pelo povo grego, e mandadas escrever por Psístrato, guardaram a glória de Homero, ainda que lendária, intacta. Eram grandes poemas. Mas as pequeninas trovas, estilhaçam qualquer glória, e torna-se impossível identificar através dos tempos, os nomes dos seus verdadeiros autores, quando elas caem “na boca do povo”
* * *

Mas, trovas populares e anônimas, não são apenas as trovas “eruditas” dos grandes poetas, as trovas literárias, que um dia se perdem no rio da grande popularidade, afogando seus autores. São também as trovas rústicas e imperfeitas que nascem da alma do povo, na boca dos cantadores, dos violeiros, dos sanfoneiros, dos poetas populares anônimos que enxameiam pelo interior do Brasil e de Portugal. Verdadeiros filões de ouro de nossa sensibilidade e de nosso espírito.

Na sua obra, farto acervo de folclore e poesia, “Mil quadras brasileiras”, ( “Mil quadras populares brasileiras” (Contribuição ao folclore). Recolhidas e prefaciadas por Carlos Góis. (Catedrático do Ginásio Mineiro, membro da Academia mineira de Letras). F. Briguet & Cia., Editora. Rio de Janeiro. 1916).

Carlos Góis observa: 
“É no interior do país, longe do bulício convencional e cerimonioso das grandes cidades, onde mais intensamente floresce a poesia popular. Quem se internar no sertão do Brasil, verá, na razão direta da distância dos grandes centros populosos, a expandir-se a alma do povo em expressões rítmicas de um cunho espontâneo, subitâneo, flagrante. Só quem como nós já assistiu de viso, aos descantes ao som da viola e do violão, poderá aquilatar do grau de fluência e espontaneidade que jorra da musa popular”.

Ainda recentemente, aqui no Rio, tive a oportunidade de conhecer os irmãos Batista, (Otacílio e Dimas), exímios cantadores e improvisadores do Nordeste (de Campina Grande), e outros violeiros e repentistas, alagoanos e baianos. Durante horas, com seus violões ao peito, lançam-se reciprocamente desafios, e os versos vão brotando em catadupas, com uma espantosa facilidade, ricos de verve e imaginação.

Rodolfo Cavalcanti, que é, na Bahia, o Presidente do Grêmio Brasileiro de Trovadores, é um poeta popular típico do Norte. Homens simples, emotivos, sem quase instrução, com uma poesia fácil e “bem falante”, compõe longos poemas a propósito de tudo. Publica-os em folhetos que ele mesmo vende nas ruas de Salvador. E vive disto, como verdadeiro trovador de seu tempo.

Já se começa a dar valor também a essa manifestação literária do povo brasileiro. Os próprios críticos de gabinete, desligados até agora das raízes de nossa formação literária voltam-se para o estudo e a observação de extraordinário manancial de riquezas. O atual surto de trovadores, verdadeiro movimento ,de incentivo à poesia popular, obriga-os a reconsiderarem suas atitudes puramente intelectuais, e a perceberem o que há de autêntico e real nessa manifestação -de nossa sensibilidade e de nossa cultura.
Não foi sem razão, que defini:

Ó trovador: professor
de poesia popular!
Com suas trovas de amor
o povo aprende a cantar!

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Cem trovas populares. Coleção Trovadores Brasileiros.

Arthur Thomaz (A pulguinha discreta)

O fato de meu avô e meu pai serem fanáticos torcedores do Barcelona mostra o porquê de meu nome ser Messi. Mamãe afirma até hoje que fui a mais linda pupa. Disputei como todos de minha idade o quesito salto em altura.

Meu avô, já com muita idade, sempre me aconselhou a ser discreto e não fazer como meu pai, que assistindo a um jogo do Barcelona, irritou-se com um gol do Real Madrid e picou a pessoa/hospedeiro, e que incomodada, desferiu-lhe um tapa fatal.

- Seja discreto, saiba a hora de molestar o hospedeiro, era a sua frase preferida.

Seguindo esta máxima, cresci, desenvolvi e tornei-me uma pulga forte, destacando-me nos esportes e na vida social.

Por essas coincidências do destino, estava eu sugando tranquilamente o sangue de um cachorrinho em um parque da cidade, quando um famoso jogador de futebol aproximou-se, gostou do cãozinho, levou-o para casa e o adotou.

Cheguei assim à Catalunha sem nem precisar pagar a passagem. Passei inúmeras vezes pela linda Barcelona e arredores. Mas já estava começando a me cansar desta monotonia, quando em um churrasco, troquei a cabeleira oxigenada do meu hospedeiro pela barba ruiva de outro jogador.

Vovô, quando me viu na televisão durante um jogo, telefonou-me e disse que era o tal Messi, meu xará. Ficou empolgado e pediu que eu tirasse uma selfie. Depois, publicou no PulgaNews, um famoso tablóide.

Fiquei muito famoso e pulei da barba portenha para a gaforinha de um zagueiro, que havia sido dispensado pelo clube e que retornaria ao país. Com o lema “se é bom para o Messi, é bom para todos”, ganhei fama. Recebi altos cachês das TV’s para entrevistas e participações em talk shows.

Transei com todas as PP (Pulguinhas Periguetes) que queriam aproveitar da minha fama para ascender nas carreiras. Mas quando estava prestes a ceder à tentação de entrar na política, veio um enérgico convite de meu avô para visitá-lo.

Recebeu-me com um cartaz no colo, com a palavra DISCRIÇÃO. Conversamos longamente e ele me fez ver que a exposição demasiada me levaria à desgraça e logo seria esmagado por um tapa do sistema.

Hoje, gozo da tranquilidade de um canil que adquiri, em um pacato bairro, onde todos os cães têm apetitosos sangues do tipo “O-”.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

Caldeirão Poético LXXX


Augusto dos Anjos
Cruz do Espírito Santo/PB, 1884 – 1914, Leopoldina/MG

ASA DE CORVO

Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

É com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

É ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte — a costureira funerária —
Cose para o homem a última camisa!
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Cláudio Manoel da Costa
Mariana/MG, 1729 – 1789, Ouro Preto/MG

ONDE ESTOU?

Onde estou? Este sítio desconheço:
quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
e em contemplá-lo, tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
de estar a ela um dia reclinado;
ali em vale um monte está mudado:
quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
que faziam perpétua a primavera:
nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
mas que venho a estranhar, se estão presentes
meus males, com que tudo degenera!
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Jorge de Lima
(Jorge Mateus de Lima)
União dos Palmares/AL, 1895 – 1953, Rio de Janeiro/RJ

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

 Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

 Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

 Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

 Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
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Lêdo Ivo
Maceió/AL, 1924 – 2012, Sevilha/Espanha

ACONTECIMENTO DO SONETO

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
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Luís Vaz de Camões
Coimbra/Portugal, c. 1524 – 1580

SONETO 5

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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Miguel Russowsky
(Miguel Kopstein Russowsky)
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

A VIDA É URGENTE

Se sabes que te quero e sou por ti bem quisto,
o “depois” não importa. O tempo nos dirá.
Viver!... Sentir o amor, é urgentíssimo já!
Não somes ao anseio uma descrença, insisto!

Felicidade... Instante azul!... Apenas isto.
Deixa então, o porvir, às leis do “Deus dará”.
Não penses que o amanhã necessite alvará
para dar luz ao sol, se tudo está previsto.

Aproveitemos agora os encantos da vida,
antes que o fado hostil os sonhos desarrume,
ou às desilusões os teus enganos somes!

A existência esvai-se em célere corrida...
Um dia eu serei pó e tu serás perfume
e o vento soprará sem lembrar nossos nomes.
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Neide Rocha Portugal
Bandeirantes/PR

ÊXODO MENTAL

Ficou distante a roça… E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.
.
Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim… E, na empreitada,
.
tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.
.
Do que é capaz um som?… Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Olegário Mariano
(Olegário Mariano Carneiro da Cunha)
Recife/PE, 1889 – 1858, Rio de Janeiro/RJ

O MEU RETRATO

Sou magro, sou comprido, sou bizarro,
Tendo muito de orgulho e de altivez.
Trago a pender dos lábios um cigarro,
Misto de fumo turco e fumo inglês.

Tenho a cara raspada e cor de barro.
Sou talvez meio excêntrico, talvez.
De quando em quando da memória varro
A saudade de alguém que assim me fez.

Amo os cães, amo os pássaros e as flores.
Cultivo a tradição da minha raça
Golpeada de aventuras e de amores.

E assim vivo, desatinado e a esmo.
As poucas sensações da vida escassa
São sensações que nascem de mim mesmo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Tomás Antônio Gonzaga
Porto/Portugal, 1744 – 1810, Moçambique

MARÍLIA DE DIRCEU: SONETO II

Num fértil campo de soberbo Douro,
dormindo sobre a relva descansava,
quando vi que a Fortuna me mostrava
com alegre semblante o seu Tesouro.

De uma parte, um montão de prata e ouro
com pedras de valor o chão curvava;
aqui um cetro, ali um trono estava,
pendiam coroas mil de grama e louro.

Acabou (diz-me então) a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
pois benigna os concedo, vai, procura.

Escolhi, acordei, e não vi nada:
comigo assentei logo que a ventura
nunca chega a passar de ser sonhada.

Mitos Indígenas (Mumuru - a estrela dos lagos)

Maraí, uma jovem e bela índia, muito amava a natureza. Passava seus dias a brincar perto do lago, tornando-se a companheira e melhor amiga dos peixes, das aves e dos outros animais. 

À noite, ficava a contemplar a chegada da Lua e das estrelas. 

Nasceu-lhe então um forte desejo de tornar-se também uma estrela. Perguntou ao pai, como surgiam aqueles pontinhos brilhantes no céu e, com grande alegria, veio a saber que Jacy, era um dos nomes indígena da Lua, ouvia os desejos das moças e, ao se esconder atrás das montanhas, transformava-se em estrelas. 

A partir deste instante, todas as noites Maraí esperava pela Lua, suplicando que a levasse para o céu, bem no alto. 

Muitos dias se passaram sem que a jovem realizassem seu sonho. 

Resolveu então aguardar a chegada da Lua junto aos peixes do lago. Assim que esta apareceu, Maraí encantou-se com sua imagem refletida na água, sendo atraída para dentro do lago, de onde não mais voltou. 

A pedido dos peixes, pássaros e outros animais, Maraí não foi levada para o céu. Jacy transformou-a numa bela planta, ganhando o nome de Mumuru, a Vitória-régia. 

Ela vive nos lagos e rios da Amazônia. Sua flor se abre sempre à meia-noite e tem o formato de uma estrela. 

Assim a linda jovem tomou-se a rainha da noite, a estrela dos lagos, a enfeitar ainda mais a Natureza com sua beleza e seu perfume.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Como Escrever uma Boa História Descritiva)

Escrever é uma forma de arte muito popular. Na escrita, qualquer um é capaz de se expressar através de diferentes paixões, sentimentos e expressões. Ser descritivo é uma característica importante para qualquer escritor, mas como escrever de maneira descritiva?

COMEÇANDO

1. Certifique-se de ter uma boa introdução.

É isso que atrairá o leitor para a história. Por exemplo: “Eu permaneci lá, na fortaleza da montanha, esperando e observando. Não sabia pelo que esperava, mas tinha certeza de que deveria estar ali. É como se tudo já estivesse determinado para acontecer."

2. Utilize linguagem descritiva!

Adjetivos são belos exemplos de palavras descritivas, tais como vermelho, macio, pegajoso, magnífico, horrendo, escamoso, entre outros. Com isso, o leitor poderá ter uma ideia clara do que está acontecendo na história. 

Por exemplo: “A cobra vermelha e escorregadia deslizou por entre as duas moitas espessas e repletas de folhas verdes.”

3. Crie sua conclusão.

Um final emocionante. NÃO use apenas o tradicional “Fim”, isso seria muito maçante! Termine de maneira inesperada, algo que ninguém nunca havia usado antes.

Por exemplo: “Ao perceber que minha jornada havia acabado, voltei meu olhar para o céu tão azul que parecia encoberto por um tecido. As nuvens eram negras como a noite. Embora tenha vencido, não realizei meu último desejo, que era encontrar minha mãe há muito perdida.”

USANDO A LINGUAGEM DESCRITIVA

1. Comece sua história de maneira que prenda a atenção do leitor.

A menos que esteja escrevendo um conto de fadas, você provavelmente não começará seu texto com “Era uma vez...”. Ao invés disso, use alguma coisa que desperte imediatamente o interesse do leitor, por exemplo:

“Mary foi ao chão ao que uma grande explosão atravessava a floresta como uma faca cortando um tecido.”. 

Com isso, o leitor será imediatamente apresentado ao personagem e ação principal. Não comece com uma cena de ação empolgante para depois seguir com várias páginas de exposição sobre o passado dos personagens e os bastidores de todas as ações. 

O leitor ficará irritado ao perceber que se interessou por uma parte apenas para ser forçado a passar por todas as partes entediantes.

Por exemplo: se você começar a história apresentando a personagem Mary e o contexto da explosão na qual está envolvida, dê sequência a esse segmento evitando seguir para páginas de descrição sobre como a floresta era antes e como passara por diversas transformações até se tornar o cenário atual, além de como era a aparência de Mary e sua história completa, etc. 

Ao invés disso, continue a ação principal contando o que Mary estava fazendo na floresta e o que causou a explosão.

2. Desperte os cinco sentidos do leitor.

Descreva como as coisas são, que cheiro elas têm, que sons podem ser ouvidos e que sensações podem ser sentidas. Dessa forma o leitor poderá sentir-se como parte integrante da ação e visualizar facilmente tudo o que está acontecendo.

Por exemplo, descreva como Mary sentiu o calor da explosão percorrendo seu corpo, faça com que o cabelo tenha ficado chamuscado para que ela possa sentir o cheiro de queimado.

Crie uma sequência em que ela quase sufoca com a fumaça acre e começa a tossir desesperadamente. E, por fim, faça com que seus ouvidos fiquem zunindo devido ao barulho da explosão (ao que esse pode ser um dos pontos-chave, onde Mary é capturada por não ouvir seus agressores se aproximando).

Obviamente, descreva apenas o que seja importante para sua história. Tente montar o cenário para dar ao leitor uma noção de como é a área onde está ocorrendo a ação, mas não sobrecarregue o leitor com cada ínfimo detalhe. Confie na imaginação do público.

3. Descreva os pensamentos e emoções de seu(s) personagem(ns).

Permitir que o público tenha esse conhecimento fará com que o leitor se sinta mais próximo e conectado a eles. Disserte sobre como os eventos da história influenciam a maneira como os personagens se sentem, como passam por mudanças emocionais devido aos eventos que experienciaram e que tipo de ação ou acontecimentos são criados a partir desses momentos.

Por exemplo: Mary pode estar se sentindo aterrorizada pela explosão na floresta, visto que ela havia dedicado sua vida a preservar esse habitat natural, ou talvez por que um de seus amigos estava próximo do ponto de impacto. Ela pode estar arrasada por causa da explosão, ou simplesmente nervosa. Talvez até esteja se sentindo arrasada, nervosa e aterrorizada, tudo ao mesmo tempo.

Reflita sobre como os pensamentos e emoções mudam conforme o rumo da história. Você não desejaria criar um personagem estático que não passa por nenhuma mudança, ao mesmo tempo que um personagem que passa por uma transformação drástica e sem sentido também poderia não agradar ao leitor. 

Por exemplo: no início da história, Mary pode estar se sentindo envergonhada por não ter ido contra as pessoas que criaram a explosão e, no decorrer da trama, desenvolve força e coragem impressionantes que a permitem derrotar os vilões.

4. Mostre, mas não conte.

Esta é a principal regra utilizada pelos mais criativos autores e escritores descritivos pelo mundo. 

Você não pode entregar toda a história pronta para o leitor, ao invés disso, utilize elementos de linguagem que passem pelo que você está querendo dizer, mas que não revelem o sentido literal de cada passagem construída.

Por exemplo: ao invés de dizer “Mary estava nervosa por causa da explosão”, você pode optar por uma passagem mais elaborada, tal como: “Mary cerrou os punhos ao ver as chamas e a fumaça devastando aquilo que um dia fora sua linda floresta. Ela mal sentia as pontas das unhas perfurando a carne de suas palmas. Tudo que ela havia trabalhado tanto para proteger agora estava destruído. Nesse momento, não era apenas a fumaça ardente que fazia seus olhos lacrimejarem.”.

DICAS

Não seja descritivo demais. 

Por exemplo, “Peguei com a mão esquerda a faca que estava guardada em sua devida posição dentro da gaveta localizada ao lado da geladeira com o imã vermelho de Papai Noel.” 

Isso é descritivo demais e facilmente incomodaria qualquer leitor. No entanto, evite fazer apenas descrições curtas e simples demais, tais como: “Seu cabelo era preto.”. Isso seria maçante demais!

Uma boa maneira de escrever uma história é pensar no que toca os personagens, o que escutam, cheiram, etc. Por exemplo: “Quanto mais ela andava floresta adentro, mais sentia o ar carregado”, ou algo parecido.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Varal de Trovas n. 595

 

Mitos Indígenas (Iguaçu - as cataratas que surgiram do amor)

Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno Rio Iguaçu, a tribo dos Caingangues formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham como Deus Tupã, o Deus do Bem e M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era este o causador das doenças, tempestades, das pragas nas plantações, além dos ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas. 

A fim de se protegerem do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caingangues a ele ofereciam uma bela jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar alguém. Apesar do sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e orgulho. 

Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza, foi desta vez a eleita. Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se esposa do temido Deus. 

Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa. Convidados chegavam de todas as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava Tarobá, valente guerreiro, famoso e respeitado por suas vitórias. 

Ocorreu que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá e Naípi vieram a se apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio. Sem ser notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada dia. 

Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do rio. Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos adormeciam, fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas fermentadas. 

Iniciaram a fuga e, já à boa distância do local, M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranquilas águas e abrindo uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que tragaram a frágil canoa. 

Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. 

Do alto, o jovem apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Resta-lhe apenas murmurar seu amor quando a brisa lhe sacode a fronde. 

Tarobá lança suas flores para Naípi, através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um véu de águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos. 

Ainda hoje, M'Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados. Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, pode-se vislumbrar uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir murmúrios de amor e lamento.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.