quinta-feira, 26 de abril de 2018

P. de Petrus (59 Trovas Seletas)


1
A aurora, calma e silente,
áurea luz no céu espraia...
- Vitória do sol nascente
sobre a noite que desmaia…
2
Amiga, eu venho lembrar-te
o que mais nos mortifica:
é a saudade de quem parte,
na saudade de quem fica...
3
A mulher do meu vizinho,
que em amores não se aperta,
mesmo errando no caminho,
chega em casa na hora certa.
4
Ao mar, que as ondas balança,
meu viver se iguala tanto:
tem o verde da esperança
e o salgado do meu pranto!
5
As estrelinhas silentes,
compondo um painel bonito,
são ilhas fosforescentes
no mar azul do infinito.
6
As nossas vidas frustradas,
sem ter amor, sem carinhos,
são rios de águas passadas
que não movem mais moinhos.
7
A traça, ao macho grilado,
diz com censura e ironia:
– deixa esse livro, ó tarado,
que só tem pornografia!...
8
A vida humana é distância
em que há poente e arrebol:
a aurora é o clarão da infância,
e a velhice, - o pôr do sol.
9
Chuva não vem! O sertão
ressequido e na pobreza,
é a própria desolação
na paisagem da Tristeza.
10
Com teu beijo, que extasia,
nossos momentos repartes:
– chegas trazendo alegria,
e tristeza, quando partes!
11
Com todo o amor que requer,
sempre a alegrar corações,
o poeta em seu mister,
é um semeador de ilusões.
12
Cuidado com os que apregoam,
– hipocritamente - o Bem:
mãos amigas que abençoam,
nos apedrejam, também!
13
Dai-me perdão, ó Senhor,
porque eu tive, no passado,
em cada festa - um amor,
em cada amor - um pecado!
14
Deixa, o rio, a cabeceira,
penetrando em meio à bruma,
e ao tombar, em cachoeira,
chora lágrimas de espuma...
15
De modo infame e covarde,
quem roubar a coisa alheia,
encontrará, cedo ou tarde,
caminho certo - a Cadeia.
16
Desce à campa a sogra má,
e explica um verme sereno:
- Hoje, irmãos, jantar não há,
porque este prato é veneno!
17
Desde o nascer, doce amada,
une, o pranto, nossas vidas:
– Nós choramos na chegada,
choram por nós na partida...
18
Diz o frango, acabrunhado,
para a sua irmã franguinha:
– Eu me sinto envergonhado;
nossa mãe é uma  “galinha” ...
19
Diz o porcão à porquinha,
com malícia em sua trama:
– Vem comigo, gorduchinha,
repousar na mesma lama...
20
Do amor, em triste momento,
fomos nós dois à falência,
- não por falta de talento -
faltou a luz da experiência.
21
Do Calvário veio a glória,
cheia de paz e de luz,
onde a divina vitória
nasceu em forma de cruz.
22
Ergue a fronte! Olha adiante,
depois, enfrenta a subida...
Quem foge a luta constante,
não vence, nunca, na vida.
23
Eu busquei dias risonhos
num vendaval de paixões,
mas envolvi os meus sonhos
só de falsas ilusões...
24
Ilha triste é a minha vida,
depois que o amor feneceu:
ilha distante, esquecida,
onde o náufrago sou eu...
25
Lembrança! Creio que digo
o que ela seja, de fato:
– é rever um rosto amigo
na saudade de um retrato!
26
"Meu bem, se foste enganado,
que Deus me cegue sem dó...”
- E ele agora está casado
com mulher de um olho só!
27
Morre a sogra do coveiro!...
Este, vingando a agressão
e as chatices do ano inteiro,
com a pá, espanca o caixão.
28
Na espera mais angustiante,
sem teu amor, teus carinhos,
eu sou humilde integrante
da procissão dos sozinhos...
29
Não mostre, em sua jornada,
dinheiro, anéis e grandeza:
– vi muita gente afogada
no mar da própria riqueza!
30
Nas jornadas mais serenas,
ou mesmo em horas incalmas,
são as renúncias pequenas
que elevam mais nossas almas.
31
Nas noites doces e quietas,
em teu ninho, acolhedor,
nossos beijos de poetas
são acalantos de amor...
32
Nas pernas a "cola" é escrita!
E o professor, espreitando,
fica feliz quando a Rita
ergue a saia e vai “colando"!
33
Na tua boca ao pousar
a minha, com suavidade,
tive a impressão de beijar
a própria felicidade...
34
Na vida, de andanças loucas,
eu formulei meus conceitos:
– minhas virtudes são poucas,
e, sem conta, meus defeitos...
35
Neste mundo de chicanas,
podem, maldosos e ateus,
burlar sentenças humanas,
nunca as sentenças de Deus.
36
Neste mundo em turbulências,
onde é penosa a subida,
são as sofridas vivências
que valorizam a vida...
37
No cinema o filme estreia...
Bem juntinhos, ele e ela,
dão reprises, na plateia,
dos beijos vistos na tela!
38
"O ar da serra eu lhe receito",
- disse o doutor ao Santana.
E este, em casa, satisfeito,
pega um serrote e se abana!
39
Para um 'nu" de fino gosto,
ao posar, sem medo, a nora,
com vergonha cobre o rosto,
mas deixa o resto de fora…
40
Passo os dias em lamento,
meu amor, longe de ti,
lembrando, a todo momento,
os momentos que eu perdi.
41
Penso em ti! E na miragem
desse amor-encantamento,
vejo, feliz, tua imagem
nas ondas do pensamento.
42
Peregrino das jornadas,
nos meus caminhos risonhos,
conduzo, nas madrugadas,
a caravana dos sonhos...
43
Quando a Verdade descerra
o falso véu que a rodeia,
cai a Mentira por terra,
qual um castelo de areia.
44
Quando eu partir desta vida,
ninguém lamente o meu fim...
Mais triste do que a partida
é alguém chorando por mim.
45
Quantas horas de inquietude,
quanta esperança, também,
de alcançar o que não pude
e de esperar quem não vem!
46
Quanto bem o amor me faz!
Nunca vi saudade assim;
por mais longe que te vás,
mais perto ficas de mim!
47
Quase louco, sem carinho,
tão longe dos olhos teus,
vivo, no exílio, sozinho,
amargando os sonhos meus.
48
Que amarga e doce ventura
vive a flor nos dias seus:
– ela enfeita a sepultura
e, também, o altar de Deus.
49
Que me adianta a fibra estoica,
o estridor de tantas queixas,
a insistência quase heroica,
se quero amar-te, e não deixas?!
50
Saudade é doce fragrância
que aprisiona de paixão,
e marca a exata distância
do meu ao teu coração...
51
Sejam brotos ou coroas,
isto dispensa argumento,
são sempre as mulheres boas
que inspiram maus pensamentos!
52
Sem pudores, sem ressábios,
na mais terna das paixões,
quando unimos nossos lábios,
vão se unindo os corações...
53
Se uma pedra arremessada
chega a ferir fortemente,
fere menos a pedrada
que a língua de muita gente!
54
Tem calma, bom carreteiro,
não forces tanto a chegada:
– nem sempre chega primeiro,
quem muito corre na estrada.
55
Tem dez filhos o ceguinho...
E a cada filho que nasce,
explode sempre o vizinho:
- Calculem se ele enxergasse!
56
Toda criança é uma aurora,
– primavera e renascer!...
É a sementinha de agora
que amanhã vai florescer.
57
Torturei-me no abandono,
mas, vencendo a soledade,
meu coração já tem dono:
o dono dele é a saudade.
58
Vendo o edil baixar à lousa,
diz o verme em tom funesto:
– daqui não sai muita cousa,
e, além de tudo, é indigesto!
59
Viajando, triste e pacato,
pela estrada incerta e louca,
levo, em mãos, o teu retrato,
levo os teus beijos na boca.
_______________

P. de Petrus, nome literário de Pedro Bandettini, nasceu na capital de São Paulo em 1920, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1999. Diplomou-se pela Escola Técnica de Comércio de São Paulo em 1948. Em 1962, já no Rio de Janeiro, foi apresentado a Luiz Otávio por Zálkind Piatigorsky ingressando, assim nas lides trovadorescas. No Grêmio Brasileiro de Trovadores exerceu o cargo de Tesoureiro. Com a cisão do GBT em 1966, foi Bibliotecário da Diretoria Provisória da UBT até 31 de dezembro daquele ano.
A partir de janeiro de 1967, já consolidada a criação da União Brasileira de Trovadores, exerceu o cargo de Vice-Presidente de Finanças da UBT do Estado da Guanabara. Em 1981, a pedido da Tecnoprint – Edições de Ouro, junto com a colaboração do poeta e trovador Noel Bergamini preparou uma coletânea de trovas intitulada “1000 TROVAS DE AMOR E SAUDADE”. Colaborou semanalmente com uma coluna de trovas, durante três anos, no jornal Última Hora. 
P. de Petrus publicou três livros: “PAISAGENS POÉTICAS”, em 1970, “PENSAMENTOS POÉTICOS”, em 1975 e “MEU CANTEIRO DE TROVAS, em 1984.
Fontes:
– União Brasileira de Trovadores de Porto Alegre. Milton S. De Souza (editor). Livro de Trovas de Jessé Nascimento e P. de Petrus. Coleção Terra e Céu vol. XCV. Porto Alegre/RS: Textocerto, 2016.
- Boletins e Revistas de Trovas diversas 

Nenhum comentário: