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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Fábio Reynol (O Vendedor de Palavras)

Ele ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que quase não se iam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grave, "indigência lexical".

Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica: pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado para cavar espaço entre os camelôs. Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia:

"Histriônico — apenas R$ 0,50!".

Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse:

— O que o senhor está vendendo?

— Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos, como diz a placa.

— O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos.

— O senhor sabe o significado de histriônico?

— Não.

— Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas de que elas não precisem.

— Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.

— O senhor tem dicionário em casa?

— Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.

— O senhor estava indo à biblioteca?

— Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.

— Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a alface, pode muito bem levar para casa uma palavra

por apenas cinqüenta centavos de real!

— Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?

— Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá de jogá-la fora e o feijão caruncha.

— O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?

— O senhor conhece Nélida Piñon?

— Não.

— É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com a falta de palavras, pois os livros são muito

pouco lidos por aqui.

— E por que o senhor não vende livros?

— Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado, portanto eu as vendo no varejo.

— E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não enchem barriga.

— A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento. Se temos poucas palavras, pensamos

pouco. Se eu vender uma palavra por dia, trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos cem por cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto. São como trombadinhas que saem correndo com os
relógios do meu colega aqui do lado. Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a esquina. Com aquela carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou. Passou por aqui sorrateira. Olhou minha placa e deu um sorrisinho

maroto se mordendo de curiosidade. Mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza de que ela tem um dicionário em casa. Assim que chegar lá, vai abri-lo e me roubar a carga. Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar uma palavra, pelo menos cinco a roubarão. Então eu provocarei mil pensamentos novos em um ano de trabalho.

— O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...

— Jactância.

— Pegar um livro velho...

— Alfarrábio.

— O senhor me interrompe!

— Profaço.

— Está me enrolando, não é?

— Tergiversando.

— Quanta lenga-lenga...

— Ambages.

— Ambages?

— Pode ser também evasivas.

— Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!

— Pusilânime.

— O senhor é engraçadinho, não?

— Finalmente chegamos: histriônico!

— Adeus.

— Ei! Vai embora sem pagar?

— Tome seus cinqüenta centavos.

— São três reais e cinqüenta.

— Como é?

— Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar para o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se mostrou interessado, faço todas pelo mesmo preço.

— Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?

— É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?

— Tem troco para cinco?
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Significado das palavras

Jactância.
1.Vaidade, ostentação. ; 2.Arrogância, orgulho.

Alfarrábio.
Livro antigo ou velho; cartapácio.

Profaço.
Estorvar, dificultar, impedir.

Tergiversando.
do verbo tergiversar
1. Procurar rodeios, evasivas. 2. Fugir do assunto principal. Enrolar.

Ambages
lenga-lenga

Pusilânime.
1.Fraco de ânimo, de energia.; 2.Falto de coragem; covarde.

Histriônico
1. Vil comediante, palhaço. 2. Fig. Charlatão. 3. Homem abjeto pelo seu procedimento.

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Fábio Reynol (Campinas/SP, 1973), é jornalista e cronista. Publica parte de sua produção literária em seu blogue, o Diário da Tribo (www.diariodatribo.com.br), e é autor da coletânea O vendedor de palavras — crônicas de um país de tanga na mão e corda no pescoço (São Paulo: Baraúna, 2008). Especialista em Ciência e Tecnologia, trabalha como repórter de revistas científicas e é mestrando em Divulgação Científica e Cultural na Universidade Estadual de Campinas.

Fontes:
Texto enviado por Francisco Pessoa Reis
Biografia obtida em Germinal Literatura
Significado das palavras obtido no Dicionário Aurélio e Dicionário Informal

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Carlos Nascimento Silva (Desconcerto)


— Papai Noel não existe — disse Ninico, baixinho, concentrado no fundo do copo de conhaque Napoleão.

Já eram onze horas da noite e os quatro, em volta da pequena mesa de tampo de mármore mal polido, terminavam a quinta rodada, um pouco sonolentos, meio nostálgicos pelo passamento da data, o bar vazio de fregueses, o Joaquim da Maria a cabecear cochilos sobre o alto banco de madeira, por trás do balcão.

— O quê que você disse? — assustou-se Feliciano, levantando a cabeça para olhar o amigo — Que Papai Noel não existe? O que você quer dizer com isso?

— Ele quer dizer que Papai Noel não existe — confirmou Mariano, tautológico, os olhos vidrados, mirando de esguelha a luz amarelada do poste, no outro lado da rua — Ora, você não sabe que o Ninico adora afirmações controvertidas? Ele sabe muito bem que não pode provar isso. E só provocação.

— Não... eu acho mesmo que não existe. Não é polêmica, não, só que ele não existe — confirmou Ninico mansamente, ainda olhando o fundo do copo.

— Deixa de bobagem, isso você sabe desde os cinco anos! Feliciano, terra a terra, evitando a armadilha da filosofia barata de Mariano.

— Tá bom, se vocês querem passar a noite de Natal dizendo coisas sem sentido, por que não? — Mariano, cansado. — Eu não tenho ninguém me esperando em casa; nem vocês. Só o João. Mas vocês têm que concordar comigo que não se pode provar isso: nem afirmar, nem negar. Não de forma consistente — concluiu exato, taxativo.

— Como você coloca, em termos puramente lógicos, é claro que não. Mas você também vai ter que concordar que, nesses termos, o que se pode discutir é muita pouca coisa. Afinal, se você descarta o que não é passível de prova, o que se pode discutir? O que está provado? Mas isso, por definição, não dá margem à opinião, portanto, à discussão — Feliciano, perdendo a paciência com Mariano. — De mais a mais, isso é uma conversa, só isso, uma discordância entre duas pessoas que têm diferentes opiniões.

Mariano ia responder à aporia absurda, mas emburrou, e caiu um silêncio incômodo sobre a mesa. Amigos antigos, aquilo não era anormal em sua convivência diária. Cada qual conhecia, demasiadamente bem, o pensamento do outro, havia mais de vinte anos, o que permitia um entendimento rápido entre eles. Os desacordos eram conhecidos, paredes intransponíveis de há muito reconhecidas, respeitadas, ou talvez, apenas toleradas, meras impossibilidades interpessoais: convicções vivenciais, definiria Feliciano.

E foi, com surpresa, que os três ouviram João Pedroso dizer:

— Não, Ninico, você está errado. Todos vocês estão errados. Não só ele existe como pode ser provado. Quero dizer, eu posso provar, e outros, talvez, também.

Ninico tirou os olhos do copo, lentamente, discordante, suspeitoso. Os dois outros olharam o amigo sorrindo, suspicazes. Não era discordância, mas incredulidade ou, talvez, a expectativa de uma brincadeira do João. Mas o rosto do amigo estava sério, vincado.

— Ah! Pára com isso, João! Você também? — exclamaram ambos, rindo, com pequenas variações de palavras, mas a mesma significação.

João Pedroso olhou cada um dos amigos com o rosto tenso, amargurado, e não se deu ao trabalho de responder a qualquer deles, o pensamento vagueando por um mundo antigo, perdido, passado.

— Eu nunca contei isso a vocês. Nunca falei disso a ninguém, aliás. Só de pensar, já me faz sentir mal, como uma nuvem escura de tempestade, um certo mal-estar, algo maligno.

O ambiente da mesa mudara. A descontração da conversa se fora, deixando uma tensão progressiva nos corpos, no ar. A própria iluminação no bar, na rua, mudara, como que enfraquecida por uma queda de voltagem tão comum naquela cidadezinha. Ninico contraiu os músculos dos ombros, os intercostais, sem se dar conta. Os demais, mexeram-se nas cadeiras, incomodados, sem saber com o quê.

— Eu devia ter uns sete anos, por aí, e o colégio já se tinha encarregado de tirar algumas ilusões que minha mãe alimentara por toda a meninice. Esta não foi, certamente — disse João Pedroso com o ar sonhador de quem relembra a primeira infância — a última delas.

Ele já não se lembrava mais das circunstâncias exatas, das causas ou do motivo que o levara a fazer o comentário com a mãe, mostrando a sabedoria que adquirira longe do ninho que, afinal, o enganara com aquela mentirinha.

— Eu estava me mostrando, para minha mãe, orgulhoso de como eu já estava crescido, virando homenzinho. Não era uma recriminação a meus pais, nem nada parecido, e fiquei muito assustado com sua reação violenta, seus gritos que só terminaram com minhas lágrimas, abraços, beijos e pedidos de desculpa.

João Pedroso virou o resto do conhaque e olhou os amigos buscando encorajamento.

— Em resumo, minha mãe disse que o Natal só existia para quem acreditava nele. Era pegar ou largar, simples assim. Quem era bom, obedecia aos mais velhos e acreditava no que o Natal significava era recompensado com os presentes, mimos e doces que eu sempre conhecera. Em caso contrário, nada feito: a escolha era de cada um. E esse era o motivo pelo qual muitos meninos não acreditavam em Papai Noel, ou o inverso, como queiram.

João Pedroso pediu mais uma rodada de bebida, nesta altura muito bem-vinda, e contou que relatara aos colegas de colégio o que ouvira da mãe.

— Vocês podem imaginar como fui alvo das mais cruéis caçoadas no grupo escolar. Foi uma experiência bastante dura, dada minha idade. Não só riam de mim, me apontavam, no pátio da escola, como aquele que acreditava em Papai Noel e isso resultou num forte isolamento dentro do grupo.

É claro que o menino havia procurado diminuir o atrito insuportável. Naquela altura, a apostasia de suas crenças era o que menos o preocupava, mesmo que ele desconhecesse a palavra. Além disso, sua confiança na mãe estava abalada.

— Vocês entendem? Não era apenas uma questão de coragem moral, o que já é bem difícil para adultos quanto mais para uma criança pequena. Mas uma ruptura entre meu mundo primeiro, materno, e minhas crenças grupais, etárias, se vocês quiserem, enfim, do meu mundo, ou do mundo que se armava, não só à minha volta mas com minha participação, já que eu era parte integrante, ativa, dele.

A divisão era profunda, não pela questão em si, apenas, mas por tudo que significava. Afinal, aos sete anos não se tem senso crítico, e a cisão se tornou funda, sem termo médio que a diminuísse.

— De mais a mais — continuou João Pedroso — a forma como minha mãe colocara a questão, ou seja, em termos de crença, tornou impossível uma decisão. Claro, hoje eu posso ver isto com algum distanciamento. Mas naquela idade, eram pontos irreconciliáveis, um abismo de incerteza e indecisão que não podia ser aproximado. Enfim, uma polaridade insuportável que se estendia a toda matéria ética, estética, religiosa, abrangendo, mais tarde, todas minhas convicções sociais, políticas, econômicas. Em resumo, o mundo das idéias e das ações, como vocês mesmos colocavam o assunto, ainda há pouco.

— E então — perguntou Ninico, com seu jeito manso — como você saiu dessa?

— Não saí. Não havia como sair, e do meu ponto de vista infantil não só a questão não era nítida como seria a causa do mais completo desastre, dada a importância que o Natal tinha para mim, naquela época. Acho que minha aversão à data vem daí. Reparem nas implicações: ou me tornava um pária social, isto é, dentro da minha sociedade, a escola, meus amigos, ou minha mãe saberia de minha descrença, já que o Natal nada me reservaria, se ela tivesse razão. Mas o pior ainda não estava aí: não importava o que eu declarasse a uns e outros, a divisão permaneceria, interna, dentro de mim, mesmo que eu “quisesse” aceitar uma ou outra opinião, uma ou outra crença, já que era disto que se tratava. E então, a angústia foi excessiva e adoeci.

— Meu Deus, João, por que você não falou com sua mãe?

Obviamente não tinha sido esta a intenção dela — apartou Feliciano. — Ou mesmo seu pai, um tio, avô.

— A criança tem sua lógica própria. A reação dos dois lados, minha mãe e os amigos, foi tão oposta que o assunto se tornou, tabu, proibido, para mim. João Pedroso contou, então, como sua doença veio diminuir o conflito. Chegavam os primeiros dias de novembro e o médico o proibira de qualquer esforço, o que incluía sua ida à escola. Em casa, filho único, acamado nos primeiros dias pela febre nervosa, João Pedroso teve que enfrentar muitas horas de solidão e decorrente ensimesmamento. Filho obediente, ele queria muito acreditar no que a mãe lhe dissera, o que foi facilitado pela ausência dos colegas e amigos. Outra vez no ninho materno, a adequação ao movimento da casa, seus tempos, suas práticas, permitiram finalmente ao menino o retorno à cultura materna, matriarcal? E a doença se evaporou, como se jamais se houvesse instalado. A seqüência das férias consolidou seu melhor estado de saúde, e mesmo a aproximação do Natal não lhe trouxe maiores sobressaltos, uma vez que sua divisão interior quase desaparecera.
***
Cerca de meio século depois, João Pedroso saiu para o alpendre elevado, aonde raramente ia, tanto pelo vento cortante dos dias frios, como pela inclemência da luz, que galgava os céus, fronteira à fachada do sobrado nos dias de verão, e dirigiu-se à terceira coluna de tijolos ingleses envernizados. Contou sete blocos, de baixo para cima e, lentamente, sacou o pequeno tijolo, no silêncio da casa ainda adormecida. Apanhou algo que meteu no bolso da calça e voltou a encaixar o bloco em seu lugar, bem justo, sem deixar qualquer irregularidade que o diferenciasse dos demais.

A construção esquinada cavalgava um outeiro que lhe permitia sobrever, da rua em cotovelo que subia à esquerda, as casas menores, pouco acima do peitoril de suas janelas, enquanto à direita, telhados e beirais acompanhavam a íngreme descida. A quem passava, na rua, pouco mais lhe era permitido notar que a alta estante de livros, quase a atingir o teto de um dos cômodos, quando as pesadas cortinas não estavam corridas.

João Pedroso herdara do pai, na década de sessenta, o que a cidadezinha preguiçosa gostava de considerar sua mais bela construção, produto da corretora de café, então localizada no rés-do-chão do prédio, amanhada com proficiência e algum descortino comercial, desde os anos trinta.

Diferentemente do pai, João Pedroso nunca tivera a mesma capacidade, ou sua habilidade no jogo do comércio atacadista. Compras infelizes e vendas precipitadas tinham dilapidado o capital diligentemente acumulado, e a década de setenta viu a ruína do rendoso negócio paterno. Não que João Pedroso trabalhasse pouco ou mal. Ao contrário, a época adulta fora um nunca findar de trabalhos, esforços e preocupações cujos resultados, sempre negativos, haviam aportado no naufrágio mais completo.

“Quase como uma maldição”, repetia ao correr da vida, como um refrão ominoso, um dobre de finados. E então seu pensamento voltava ao pequeno pedaço de papel, cuidadosamente dobrado, metido sob o tijolo da sétima fileira da terceira coluna do alpendre.

Foi quando João Pedroso começou a jogar, na esperança de equilibrar o orçamento da casa, já que ao da firma não restava qualquer esperança. Da loteria estadual ao bingo, e deste ao bookmaker da cidade mais próxima, foi uma evolução tão rápida quanto danosa, desastrosa. A tentativa de sonegação fiscal da corretora de café, por um desses acasos improváveis, redundou numa multa que montava a quase dez vezes o valor do imposto, como uma pá de cal sobre a firma paterna.

A venda da parte inferior do prédio e suas instalações evitou mal maior, permitindo a João Pedroso manter a moradia no sobrado, embora o passadio fosse escasso e fortemente controlado. Móveis, roupas, enfim, qualquer despesa era eternamente, ou quase, protelada, ao custo de muito cuidado no uso de cada objeto, sentindo-se mesmo, na casa, a falta de qualquer comodidade que não viesse dos bons tempos. Ternos, gravatas, camisas sociais de colarinho engomado, o vinco das calças de tropical, os sapatos engraxados, tudo era alvo do trabalho cotidiano da mulher e duas pretas, retaguarda doméstica raramente entrevista entre o corredor e as áreas de serviço, partes da casa sem forro, construídas em telha-vã. O João Pedroso dos amigos era, por assim dizer uma ponta de iceberg, mostruário, vitrina da vida do sobrado e, por ele, a cidadezinha jamais saberia do real estado das finanças familiares. E assim ele arrastara os últimos anos, vivendo de pequenos expedientes, de despesas inexistentes.

Mas naquela manhã da véspera de Natal João Pedroso não estava preocupado com isto. Não dormira bem, rolando na vasta cama de casal que fora dos pais, ora puxando as cobertas até o pescoço, com arrepios de frio, ora empurrando-as para longe do corpo, em calores inusitados. E tão logo a luz cinzenta da manhã se filtrou pelas venezianas de madeira azul-claras, saltou do leito e, de camisolão e chinelas, dirigiu-se ao alpendre em silentes passos de gato. De posse do objeto demandado e, talvez porque o não tivesse tocado por mais de cinqüenta anos, meteu-o no vasto bolso sem lançar-lhe uma única mirada, dirigindo-se ao banheiro, para as abluções matinais.

Durante o café, enquanto passava uma vista ao jornal, João Pedroso sentia o pequeno papel — um bilhete? — como um objeto morno, no bolso do paletó, a pesar-lhe incomodamente o peito, e perguntou-se por que o pegara, após tantos anos, e com que finalidade.
***
— Bem, foi então que Alberto chegou — disse João Pedroso, baixinho, dando uma bicada no conhaque, sem mesmo se aperceber.

— Que Alberto, o Gaguinho da Maria Preta? — interrompeu Feliciano, mal contendo a curiosidade.

— Não, não é do tempo de vocês. O Alberto Monteiro era meu primo, por parte de pai. Moleque traquinas e malcriado, o Alberto era o terror de minha mãe e das criadas. Um ano mais velho que eu, era sempre quem inventava os malfeitos, as travessuras, quem começava as brigas e brincadeiras brutas, maldosas. Vocês sabem, cuspir, do sobrado, na cabeça dos passantes, prender barata viva entre a xícara e o pires da mamãe ou amarrar os cadarços dos sapatos da negrinha, por baixo da mesa. Toda a casa ficava em polvorosa, entre os malfeitos e as zangas e castigos. E, como não podia deixar de ser, em muitos eu embarcava, mesmo a contragosto.

Enfim, mesmo assustado com sua ousadia, eu admirava o Alberto e me divertia, como qualquer criança, com as traquinadas que ele inventava. Quando a Maria Preta correu como alma penada pelo meio da casa, embrulhada no lençol, por causa do calango que o Alberto colocara debaixo de seu travesseiro, a mamãe perdeu a paciência e nos decretou três dias de castigo, presos no quarto grande, sem revistas ou brinquedos. Saíamos só para as refeições, na sala de jantar, com papai e mamãe de cara feia e voltávamos para o “retiro espiritual”, como ela dizia, a fim de que “puséssemos a mão na consciência”, como “meninos de família” e não “bugres do mato”.

Faltavam poucos dias para o Natal, mas não foram dias muito amargos, mesmo com a liberdade perdida, já que Alberto não sossegava, nem mesmo preso num quarto. Arremedava a mamãe, imitava a Maria Preta, tecia planos mirabolantes para quando saíssemos da “prisão”, jurava vingança contra a negrinha que, segundo ele, fora a delatora, no episódio do lagarto.

— Enfim, apartou Mariano — uma criança normal.

— É claro, normal — sorriu João Pedroso pela primeira vez, desanuviado pela lembrança do primo — mas duvido que você ainda o classificasse dessa forma, caso ele passasse um dia em sua casa. Enfim, contei isso para vocês terem idéia de como era o Alberto, naquela época. E assim, ao final do segundo dia de castigo e como minha mãe mencionasse manhosamente o Natal a meu pai durante a refeição, quando voltamos ao nosso castigo contei ao Alberto o que ela me dissera sobre assunto tão palpitante. Alberto quase engasgou de tanto rir, de minha credulidade.

— Ô, João, Papai Noel são nossos pais! Ela te contou essa história pra você ser um bom menino, ficar quietinho e não encher a paciência dela. Ela me acha um bom menino? Eu acredito em Papai Noel? Então como você explica que eu ganhe presentes de Natal todo ano? A bola de futebol, a bicicleta, como você explica isso?

— Bem, é inútil dizer o quanto essa terceira guinada nas minhas crenças, em tão curto período de tempo, mexeu com a minha cabeça. Então ela tinha mesmo me enganado Pensei na vergonha que eu passara na escola, nas caçoadas, nos meus esforços para acreditar nela, nas minhas boas intenções e prometi, a mim mesmo, nunca mais ser tão crédulo, nem mesmo com meus pais. Prometi, também de mim para mim, sem nada dizer ao Alberto que, quando saíssemos do maldito quarto, ele não seria o único a inventar maldades. Só que eu teria mais cuidado, muito mais cuidado do que ele. Além de fazer as travessuras, eu cuidaria para não ser implicado nelas. E então meu prazer seria duplo, já que o castigo cairia sempre sobre outra pessoa. E por que não a negrinha que me fizera ficar trancado por três dias?

Assim, o último dia de castigo foi o mais prazeroso deles. Alberto, cansado de não fazer nada, se calara, emburrado, num canto, enquanto eu aproveitava para imaginar um monte de pequenas maldades com todos da casa mas, principalmente, como evitar que se pudesse saber a autoria do malfeito.

Aquela semana de Natal foi muito atribulada, lá em casa, para eles e para nós, e mamãe acabou telefonando ao tio para que fosse buscar o Alberto, pois que, com dois, ela já não estava agüentando. O primo se foi e, livre dele, eu pude armar meus álibis com mais facilidade. Ninguém entendeu como tanta coisa saía errado sem causa aparente. E foi um Natal realmente atabalhoado.

— E nunca te pegaram? — perguntou mansamente Ninico.

— Você quer dizer alguém lá de casa? Mamãe, papai, as empregadas? Não. Segundo eu pensava, eu já tinha sido apanhado, não é mesmo? E só podia me vingar não pagando pelo malfeito que viesse a cometer; esse era meu primeiro e último cuidado, ou não haveria vingança. Alguém mais, qualquer um, devia pagar o preço, desde que não fosse eu, ou as contas não seriam acertadas. Lembrem-se, eu me sentia credor de um mau pagador. O equilíbrio só viria no caso de, tendo sido mau, eu receber meu presente de Natal, como Alberto dissera que receberia.

— Em resumo, através de ações, não de palavras, você discutia ética com sua mãe — definiu Mariano.

— Não creio que tenha sido apenas isso — retrucou Feliciano. — Já não se tratava apenas de “provar” a existência ou não de Papai Noel, ou do espírito de Natal, como querem alguns, mas o valor prático do comportamento ético como fonte de justiça. A vingança, que equilibraria a balança, nos força a entrar no terreno da justiça, como compensação ao bem e ao mal, se entendi bem a sua reação infantil. E agora já não mais estamos no terreno da filosofia, mas da religião ou, como você disse no início da história, da crença.

— Mas eu creio que se tratou sempre disto, não? Quero dizer, a história de João. A discussão ética foi sempre uma ferramenta, não um fim em si mesmo — raciocinou Ninico em sua voz mansa — desde que eu disse que Papai Noel não existia. Só não entendo como você pretende provar aexistência dele.

— Bem, me deixem terminar a história e vocês vão entender — retrucou João Pedroso, com rosto amargurado.

As lembranças infantis das traquinadas já estavam longe, como ficou claro para todos, e o ambiente tenso voltou a tomar conta dos amigos, do bar, da noite.

— A noite de Natal chegou e eu fui me deitar cedo, cheio de expectativa, como vocês podem imaginar. Não sem antes, no entanto, realizar todos os ritos anuais ensinados por minha mãe. E deles fazia parte uma grande meia pendurada, símbolo da gratidão, a mão aberta à oferenda. Escolhi a maior de todas, a meia de futebol de que eu tanto gostava e prendi-a em um prego na parede da sala. Custei muito a pegar no sono em meio a tanta excitação. Afinal, tratava-se mais do que de um simples Natal.

Por trás daquilo, houvera muito sofrimento. Aos sete anos, porém, não há insônia que dure mais de cinco minutos, e eu dormi como um anjo até manhã alta, o sol entrando pelas venezianas, zangado por ter que se espremer tanto, como minha mãe dizia, me chamando de preguiçoso. Já acordei pulando da cama, desinsofrido, e corri descalço, de pijama, à sala, onde ficava a árvore de Natal. Não havia nada para mim sob a árvore enfeitada. Eu não pude acreditar e olhei, então, para onde deixara a minha meia de futebol. Mas tampouco ela estava lá. Ficou apenas um pedaço de papel, espetado no prego da parede, com um poema cujo texto é o seguinte:

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.

— O Desconcerto do Mundo — gritou Ninico — a mensagem de Camões é clara: não há justiça no mundo, exceto para ele. Como vocês vêem, eu estava certo. Papai Noel não existe — gargalhou triunfante.

— Neste caso — gritou Feliciano, acima da risada de Ninico — quem espetou o bilhete no prego e levou a meia? Você se ateve ao significado do bilhete, não à sua existência! Sua análise foi parcial, então Papai Noel existe! — concluiu vitorioso.

— Pronto, voltamos à discussão maluca! — Mariano, cada vez mais cético. — Que importa quem colocou o bilhete no prego? E se foi a mãe ou o pai de João, como castigo por seus atos? Ou seja quem for? Como deduzir daí a existência de Papai Noel?

— Pelo próprio bilhete, meu amigo. Ele está escrito num dialeto esquimó oriental que, segundo o lingüista da universidade, só é falado em determinada região do Pólo Norte — disse João Pedroso cansado, o rosto tenso, colocando o papel amarelado pelo tempo sobre o mal polido mármore do tampo da mesa do café.

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Carlos Nascimento Silva, 64 anos, nasceu em Varginha — MG, e foi criado no Rio de Janeiro. É mestre em Literatura Brasileira e professor universitário aposentado. Começou a escrever — poemas, pequenos contos, crônicas — aos 14 anos. Admirador de Leon Tolstoi, Thomas Mann, Guimarães Rosa e Machado de Assis, chegou a perder um ano escolar porque, em vez de ir para o colégio, devorava livros, escondido, na biblioteca de sua avó.

A Casa da Palma (Relume Dumará, 1995), seu primeiro romance publicado, foi premiado pela União Brasileira de Escritores e pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Publicado na Alemanha (Das Palmenhaus, Europaverlag, 1998), obteve grande sucesso de crítica e de público. Em 2006, o escritor lançou novo romance, “Desengano”, pela Editora Agir.

Fonte:
Contos para um Natal brasileiro. RJ:Relume Dumará / Ibase, 1996.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Marcial Salaverry (Regresso à Casa do Lago)

Fotografia por Diana Pereira (Casa do Lago)
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Marcial Salaverry é de Santos/SP. Poeta, viveu três anos na África, o que originou a publicação de seu livro "Um Brasileiro Na África" , uma narrativa de 3 anos que passou, viajando a serviço pelo interior do Congo, entre 1969 a 1972. São lembranças de episódios realmente vividos nesses 3 anos de Congo.
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As recordações da infância sempre nos assaltam a memória.

Buscamos as origens, procurando explicações para os fatos que nos levaram a tomar determinados rumos em nossa vida.

Depois de longos anos afastado de minhas origens, ao saber que meu pai havia falecido, resolvi voltar ao passado, rever os fantasmas que me haviam afastado do convívio familiar.

Ao entrar no trem que me levaria àquela pequena cidade onde vivera na minha infância,

as imagens começaram a chegar à minha memória... aquela casa enorme, imponente, às margens do lago era o ponto marcante de tudo.

A obsessão com que meu pai fazia questão de marcar as origens de nossa família, sempre entrava em choque com minha maneira de pensar.

A mansão familiar ocupava um amplo terreno, dominando o lago. Considerava o ponto ideal para um hotel de luxo, aproveitando o visual, a topografia do terreno. Seria realmente um grande sucesso. Poderia fazer fortuna com esse empreendimento. Já havia uma incorporadora que desejava executar a obra.

Tentei convencer meu pai a fazê-lo. Negou-se peremptoriamente. Disse que jamais macularia as tradições familiares por causa de dinheiro.

Jamais me esquecerei da última discussão... Trocamos palavras amargas demais. Chamei-o de velho teimoso e retrógrado e coisas mais pesadas. Terminei dizendo que iria viver minha vida, e que não queria mais vê-lo... Mal sabia que não o veria mesmo.

Consegui relativo êxito em minhas tentativas, sempre tropeçando no que meu pai sempre me dizia... minha precipitação, minha urgência em querer conseguir tudo.

Muitas vezes me vi tentado a voltar, e reconhecer que ele estava certo. Mas a teimosia era hereditária. Recusava-me a admitir minha incapacidade para o enriquecimento que prometera a ele. Dissera que só voltaria após fazer fortuna. Rira quando ele disse que a fortuna estava ali, nas origens da família.

Ao desembarcar na estação, e pegar o táxi que me levaria à mansão, que agora poderia vender e fazer o hotel de meus sonhos, era só nisso que pensava.

Mas agora... sentado onde costumava ficar com meu pai... em um outeiro um pouco afastado da mansão, local que propicia uma visão fantástica da mansão, refletindo-a inteiramente nas mansas águas do lago.

Fiquei absorto contemplando aquela imagem que me levava à infância, às conversas que sempre tivera com ele... e que tanta falta me fizeram depois, nos tropeços que dei pela vida afora.

O casarão, imponente, lembrava as tradições que meu pai tão ferrenhamente defendera. Acontece que sua imagem, curiosamente refletia-se nas mansas águas do lago, como se estivesse de cabeça para baixo, ou seja, ao contrário.

Naquele instante, as águas como que pararam, ficaram totalmente imóveis... Vi então, o que fizera de minha vida... a deixara de pernas para o ar, tentando provar alguma coisa, que agora me parecia totalmente irrelevante.

Por causa disso, dessas minhas idéias, tinha perdido anos de convivência com minha família.

Essa imagem da mansão refletida no lago, fez-me ver o que fizera de minha vida, movido por uma ambição sem limites.

Tomei então a decisão. Iria voltar àquele vetusto casarão, trazer minha família e ensinar aos meus filhos toda a história familiar, procurando fazer com eles possam sentir o orgulho que eu sentia quando era criança, e que depois desprezei.

Espero que não tenham que sentir sua vida, como senti a minha, vendo a imagem da mansão refletida nas plácidas águas do lago…

Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=696
http://marcialsalaverryemversoseprosas.blogspot.com/

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Francisco de Morais Mendes (O Homem que Recolhia o Tempo)


Numa velha sacola de feira, ele recolhia o tempo deixado pelos outros. Como fazia isso, não se sabe. Para ele, homem solitário, que vivia entre a casa e o serviço, a palavra “repartição” não designava apenas o local de trabalho. Cabia-lhe, como servidor público, cuidar das horas, repartir o tempo entre os colegas. Havia quinze anos executava com diligência a mesma tarefa: zelar pelo ponto, abonar as faltas justificadas, converter o excedente de horas em pagamento. O tempo era público.

Contudo, sofria de um mal sem remédio. Pressentia o correr dos dias, dos meses, dos anos, como uma subtração da vida. O tempo escapava-lhe enquanto acumulavam-se coisas por fazer. A perda do tempo é individual, lamentava.

À noite, em casa, recostado à velha poltrona de couro, sentia o peso de dois mil livros não lidos. E lia metodicamente. Olhando à esquerda, um infatigável atlas oferecia-lhe países por visitar. E ele mal saíra da cidade. À direita, centenas de obras aguardavam releitura.

Pensando constantemente no tempo, observava que boa parte do que se fala contém essa palavra vaga, sem peso, sem consistência. Certo dia, num corredor da repartição, ouviu de uma grávida que faltavam quatro meses para o bebê nascer. Então ocorreu-lhe que, durante a gravidez, ela deixava sem uso um outro tempo. O que primeiro pareceu-lhe uma brincadeira, uma anedota, tomou a forma de idéia. Depois de algumas noites em que se pegava pensando na grávida, supondo que estivesse assaltado por uma paixão em todos os sentidos inoportuna, o assunto passou de idéia a teoria. Não era a grávida que o atormentava. Era o tempo.

Formulou, então, a teoria dos tempos laterais, que correm simultaneamente na vida das pessoas. Pela última vez voltou a pensar na grávida, para explicar a si mesmo sua teoria. A vida segue num tempo que ele, como todo mundo, chamava de normal, mas qualquer alteração ou acidente põe em funcionamento um tempo dos que correm lateralmente àquele, que ele chamava de tempo outro. Durante o período da gravidez, tomado como uma alteração, o tempo normal continua a passar, mas em desuso, um cão sem dono vagando por aí.

Durante alguns dias, observou o que classificou de amostras da sua teoria. Há um tempo largado aqui fora pelas pessoas que baixam ao hospital. Há um tempo de ócio enquanto trabalham. Esse tempo ocioso fica com unhas e engrenagens à espreita, aguardando que a pessoa deixe o trabalho; acompanha-a até o ponto do ônibus, e enquanto, após um banho quente, a pessoa decide se liga a tevê ou coloca um disco para tocar, ele está pronto para seguir. Em outra circunstância, enquanto a pessoa mergulha a atenção no noticiário do rádio, fica desocupado o tempo da distração. Nenhum deles deixa de correr.

Certa noite, acomodado na poltrona, voltou a refletir. Era preciso recolher o cão sem dono. A outro, não iria fazer falta. A ele, o livraria da aflição.

Na manhã seguinte, mexendo no quarto de coisas abandonadas, encontrou a sacola que passou a carregar. Das grávidas, subtraía o tempo da não gravidez. Dos colegiais em algazarra à saída da escola, recolhia variadas espécies de tempo. Do sujeito que lia no ônibus, tomava o tempo de olhar pela janela. O mais surpreendente eram aquelas pessoas que parecem pensar em coisa alguma, absolutamente desligadas. Dessas, fluíam, ou melhor, jorravam tempos em profusão. E recolhia, recolhia, recolhia.

Voltara a ler sem ansiedade, sabendo que acumulava considerável reserva de tempo. Em pelo menos um momento, levantou os olhos do livro e pensou na imortalidade. Deu um breve sorriso, sem precisar recorrer ao espelho para encontrar o que supunha um rosto rejuvenescido. Voltou a concentrar-se na leitura. O tempo, agora, não passava; vinha até ele. O cão encontrara o dono.

Certa manhã, depois de ler no jornal sobre um sujeito condenado a muitos anos de prisão, foi tomado de grande ansiedade. Ocupado em juntar os tempos dispersos no presente, não lhe ocorrera tocar num tempo futuro. Nem sequer havia pensado nisso. No entanto, vislumbrava que aquele tempo podia ser recolhido de uma única vez. Tenho que capturar o tempo que ele deixa aqui fora, mas onde estará?, pensou, quase faltando-lhe o ar. Saindo às pressas com a sacola, sem saber exatamente onde buscar aquela fatia esplêndida de tempo, distraiu-se numa travessia e, atropelado por um caminhão de mudanças, teve morte instantânea.

Corroída pelo tempo e pelo uso, ficou a sacola jogada num canto da rua. Os que olhavam em seu interior, de algum modo sabiam que vazia não estava; era um engano dos olhos. Afastavam-se ao sentir uma espécie de sufocação. A que não sabiam nomear.
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Francisco de Morais Mendes é jornalista e escritor. Publicou os livros de contos “Escreva, querida” (Mazza Edições, 1996) e “A razão selvagem” (Ciência do Acidente, 2003). Vencedor dos prêmios “Guimarães Rosa”, do governo do Estado de Minas Gerais, “Cidade de Belo Horizonte”, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, e “Luiz Vilela”, da Fundação Cultural de Ituiutaba.

Fonte:
Letras e Ponto!

sábado, 12 de novembro de 2011

Pedro Gontijo (Poesias Avulsas)


QUISERA EU ESTAR AO TEU LADO, DONA DE PALAVRAS

Quisera eu estar ao teu lado, dona de palavras
brincando com elas como se fizesse prosa
como se fizesse garoa
sobremesa de goiabada, vôo de pipa
passeio de metrô.

Dona? antes mestra
e serva das que não se deixam domar
só apreciar, poéticas
como é próprio de todas as palavras.

Palavras? antes musas
a suave mística de estar sem ser
fingir sem que seja preciso
errar sem ter ao menos necessidade
senão a de errar.

Errar? antes amar
que não é senão errar sem medo
servir sem senhorio
andar pela cidade (ou pelas minas, planaltos)
apenas pelo prazer de andar.

E nisso és mestra, poetisa
das palavras, das minas e das gentes
da liberdade, ainda que tardia
do que vês, do que pensas, do que sentes
da prosa fina, poesia arredia
e da vontade sem receio de aprender.

Brinca comigo, simples servo
das palavras, musas, erros, amores
todos pomposos, impávidos senhores
do meu escrever e prosear
com goiabada com queijo, garoa fina
passeio de metrô, vôo de pipa.

OXI, DIRÁ, CONTAR MUTRETAS

Oxi, dirá, contar mutretas
só de olhar do parapeito
da rodoviária.

Lá elas passam
feito formiga
de formigueiro pisado.

Andam de lado
sem disfarçar
a sem-vergonhice

E impressionado
contará as peias
pesteando o ar.

Calma, velho
não é só de arrombo
que se faz o dia.

AINDA QUE QUEIRA PERDER-ME

Ainda que queira perder-me
Faça com a clareza dum beijo
que não mente, atrasa ou faz-de-conta
e só compraz a que apronta a alma

Perca-me baixinho, melhor, em silêncio
De beijo calado
Não faça lampejo, não dê volta e meia
Tome o ensejo firme e perene
obstinada

A nada permita que não me faça perder
Decidida, fatalmente perca-me
Invariável, eternamente perca-me
Faça-me perder, num repente, sem que eu perceba
e me arrependa.

EU, RETIRO DOS QUE AMO

Eu, retiro dos que amo
De íntimo ansioso por acolher
Alma abrigo de almas.

Espero, se já não esperasse
A porta a bater, o suspiro a sussurrar
Os olhos, sinceros, a deitarem-se aos meus

Não movo contudo
e não busco e não penso
A mente distante, o coração alhures
e os olhos agora sem terem onde pousar

Eu, recanto de minha alma
pastor relapso e leviano.

SOLTEI O AMOR PARA CORRER LIVRE E ELE LARGOU-ME

Soltei o amor para correr livre e ele largou-me
Entretido com as sementes emplumadas que suspendiam no ar
Esqueceu-se de meus dedos entrelaçados, minha barba meio deixada
Da minha música de ninar
Dormir era a última coisa que se passava na cabeça do amor.

O amor rolava na grama, e molhava os tornozelos no regato
E subia na árvore, e comia jabuticaba
Feliz da vida
As pedras ele quicava no lago, com os caroços dava cusparadas
E mais cantava e mais ria sozinho

E eu, eu vi as plumas no céu qual estrelas
Constelação dançante, sem lua
E lembrei-me do amor

E cansei-me sem valer a pena
E compus melodias só aos meus ouvidos
E molhei os tornozelos na água.

PENSANDO BEM, SOZINHO

Pensando bem, sozinho
era tenramente livre
como se estivesse de braços abertos
sem fechar os olhos.

Liberdade tenra e pesada
como uma chuva a cair esquisito
lastro descompassado com cheiro de terra.

Dos braços soltava-se
como se solta dos livros ao fechá-los
da prosa ao contá-la
dos amigos ao abraçá-los
solto, sorvido em besteiras
feliz de tudo.

Via, e olhava, e via outra vez
a carranca da cidade
com os olhos de dentro
Porque não podia fechá-los
porque não conseguia fechá-los
de tanto que havia de ser visto.
Pensava bem, e mal se via
por todo lado, numa vontade imensa
de correr, docemente livre
abrindo arregaçadamente
os olhos do mundo.
–––––––––––––-
Pedro Gontijo Menezes nasceu em Brasília, em 1982. Desde pequeno é apaixonado pela história e geografia, e também pela música. As duas paixões, juntas em sua poesia, ainda o acompanham: formou-se em Relações Internacionais na Universidade de Brasília, em 2005, e toca clarineta.

Conquistou o 1º lugar no Concurso Laís Aderne de Literatura, gênero poesia, em novembro de 2007, com a obra "O pastor leviano".

Fonte:
Antonio Miranda

domingo, 6 de novembro de 2011

Denise Stucchi (No Caderno de Contar a Vida)


19 de setembro de 1999, Domingo, 11h00.

Acho que gosto dos domingos. Pode-se dormir até tarde, ler um jornal que não acrescenta nada à existência de ninguém, olhar com mais cuidado o grande cachorro negro que dorme sobre o tapete, beber devagar o café. Fumar um cigarro sinceramente. Depois, é o vazio. O telefone não toca, o banco não abre, o carteiro não vem, caminha-se pela casa, sem expectativas. Inventam-se problemas que não podem ser resolvidos, hoje é Domingo, afinal. Chove muito — o sol na cidade é para os dias úteis, como se sabe — e não existe perspectiva nenhuma do lado de fora desta janela.

Então, vem a inevitável introspecção, depois da madrugada com os amigos, muitos passaram pela casa hoje silenciosa. O cão, exausto de tanto movimento, fareja a marca dos pés sobre o assoalho antes encerado. Depois de tanta expansão, o corpo quer de novo a sua concha, conteúdo, não mais continente.

Deve ter sido a leitura do poema de Yeats, o fascínio daquilo que é difícil, chama-se. Perseguem-me os versos finais, juro que puxo a tranca da porteira antes que novo dia tenha início.

E nesse Domingo ainda com resíduos do inverno, o supermercado da semana já feito, nenhum ruído humano em volta — com a chuva nem a pelada dos meninos na rua aconteceu — fica-se assim, pensando em si mesmo sem a costumeira condescendência, aquela que na Sexta-feira nos embriagava absolutamente.

20 de setembro de 1999, Segunda-feira, 23h20.

Dia da consulta com F., o homeopata. Sentei-me à sua frente, escolhendo pela primeira vez a cadeira da esquerda. Como para lhe mostrar, com o meu corpo, que agora eu estava em outro lugar, diferente. Que daquela vez não vinha para me lamentar ou brigar, que ali estava porque dolorosamente as ilusões todas estavam me abandonando. Sentia-me como aquele homem que, no fim de semana, me falara tão triste e docemente sobre a sua finitude. A indignação, companheira de toda uma vida, fora substituída pelo sentimento que tão obstinadamente me recusou até que, sem mais propósito, se foi a indignação, deixando em seu lugar a verdade. Que acabou me colocando neste lugar diferente, num encontro quase insuportável com esse meu eu tão triste, impotente. Débil, dissera sobre mim o homem doce.

Hoje o médico e eu começamos a inventar uma nova língua, criando palavras que conectam reciprocamente o meu mundo ao mundo dele e os dois a uma imagem só: Staphygaria CH30, para celebrar a comunhão das almas que naquele momento se fez.

21 de setembro de 1999, Terça-feira, 0h00.

Veio o meu amigo músico, S.: pontualmente, para o café da hora do Ângelus.

Veio naquele seu carro muito velho, onde tudo é barulho, senti antes sua presença, escutando na rua o tremor do escapamento temerariamente suspenso.

No banco traseiro, o violino embrulhado em uma capa rota e suja e o saxofone — impressionante relíquia — fazendo companhia a uma edição bolsillo de Cortázar. El Perseguidor é a sua história predileta. Meu amigo in blue.

Mais tarde, sozinha, descubro repentinamente que estou pobre. Dentro de mim não repercute saudade por ninguém. Ou vai ver a pobreza se fez pela ausência prolongada de tantos queridos. Não sei mais quem sou gostando dessa que ainda não conheço. Não é tão ruim, afinal. Estando pobre, sempre posso enriquecer.

O poeta estava dizendo das coisas poderosas e permanentes, mas o poeta não falava de gente, falava da água e do vento.

22 de setembro de 1999, Quarta-feira, 16h00.

Dia de folga, hoje, de tomar café toda hora, só comer fruta, ligar e desligar a TV — um horror, uma delícia — conversar com o cão. Larguei num canto o tapete, não agüentava mais tecer tanto azul. Acabei, até que enfim, aquele mural enorme para a parede do escritório, forrei de preto. Coloquei fotos das crianças, afilhados e agregados, escolhendo aquelas de uma época em que não sofriam tanto como sofrem hoje. Tem reprodução do Portinari — O menino morto.

Tem um símbolo quântico que o meu filho leão fez no computador. Tem Clarice, Adélia Prado, Hilda Hilst, Cortázar, Otavio Paz, Calvino, Scorsese, Coppola...Tem Betinho, que nunca morre. Uma reprodução do Kieffer sobre o Holocausto — belíssima alegoria. Cenas no metrô. Um mapa do mundo segundo Carlos Magno e uma paisagem do Hopper. Um recorte do navegador, "o pior tipo de naufrágio é não partir". Família, por Egon Schiele. "Un rifugio nascosto dove il tempo sembra essersi fermato", inscrição gravada sobre uma casa de pedras no interior da Itália. Tem o meu amor na praia usando chapéu panamá...

23 de setembro de 1999, Quinta-feira, 7h00.

Jantei com M., ontem. Já faz quase meio século que nos conhecemos, primas-irmãs, com poucos meses de diferença de idade. Toda vez que nos encontramos — depois de tantos anos de separação — fico nostálgica. Se ela tivesse sido a irmã que nunca tive, talvez, talvez...teríamos ajudado a melhorar um pouco este mundo de merda...ou mandado de volta para o inferno esse ódio ancestral que escurece os corações das mulheres de nossa família...faríamos de nossas mães duas velhinhas orgulhosas de suas filhas, colos imensos e insaciáveis para os seus netos, nossos filhos...teríamos cuidado da imensa dor — esse legado que destruiu a alma da L. — convencendo-a de que, ao contrário do que ela imagina, essa dor veio para fazer dela uma deusa e não uma bruxa...teríamos trocado receitas, confidências sobre amantes e maridos, nos consolaríamos uma a outra pela nossa orfandade paterna...compartilharíamos amigos...eu ensinaria a ela o amor pelo conhecimento, a beleza de um museu, a devoção aos orixás...ela me ensinaria a rir, a beber, a dançar, a confiar sem medo. Quem foi mesmo que disse que a vida é uma série de tentativas fracassadas?

24 de setembro de 1999, Sexta-feira, 8h00.

Já é primavera, mas o dia amanheceu iluminado e frio, como "um perfeito dia de maio". Não sei se tomo banho antes de começar, passo um sal grosso, acendo um incenso, sei lá.

14h30.

A tarde está cinza, de vento gelado, prometendo madrugada de insônia agasalhada por meias e cobertores. Vem a lembrança de um amigo aqui nesta sala lendo em voz alta Virginia Woolf e da palavra OBLÍQUA saindo de sua boca.

20h00.

Estava meio — bem, bastante — reticente, mas aí comecei a escavar, segura de que sobrou para mim um pouco da matéria imaginante, poética, da cota destinada à humanidade. Está tudo indo bem.

A água para o café começa a chiar sobre a chaleira do fogão: hoje, vou bebê-lo sozinha.

25 de setembro, Sábado, 23h20.

Cadê a alegria que estava aqui Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta? Cadê o amorosamente tocar a flor amarela, o rosto magro do homem, as cobertas sobre a cama, o corpo amaciado pelo creme? Quero dizer que o amor nunca acabou, não preciso, ele já sabe. Quero dizer que dói, ele sabe, mas não entende. É que ele o amor veio como uma onda imensa e quase me afogou e me deixou exausta. Ontem foi que eu senti a exaustão e perdi o controle sobre aquela coisa mansa e harmoniosa que construímos para viver a semana. Vai ver eu pensei que ele o amor fosse imenso demais para esse homem, vai ver eu me senti desnecessária como diz a Felipa, "mulher é desdobrável, eu sou.". De tanto desdobrar fiquei um lixo, pedaço de papel sem serventia, mulher estranha e incomunicável, eu, a mulher de tantas palavras. Não desisto. Vou acender velas e mais velas, debaixo do chuveiro cantarei todos os mantras, o perfume do incenso entrando nas narinas sândalo jasmim canela derretendo as couraças de uma vida inteira?

26 de setembro, Domingo, 18h00.

Os pássaros já se recolheram. Os cachorros estão alimentados. Alguma coisa acaba para sempre aos domingos. Não sei o quê.
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Denise Stucchi
Paulista da Capital, hoje morando em Florianópolis, Santa Catarina. Escrevendo desde sempre, somente a partir da metade da sua vida veio a decisão de compartilhar seus manuscritos. Tem poema — "Memorial" — publicado no primeiro número da revista carioca POESIAS.
Recebeu a primeira colocação no concurso Escritores do Cone Sul da Editora Litteris, em 2000 com este "No caderno de contar a vida".
Escreveu "De conversa com Felipa", livro onde troca impressões com a personagem central da obra de Adélia Prado, "Manuscritos de Felipa".

Fonte:
http://nocadernodecontarvida.blogspot.com/

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Raquel Amélia dos Santos (Experimente o Dia e seus Sabores - "CARPE DIEM!)


Raquel é nova colaboradora do blog.
Raquel Amélia dos Santos
Pedagoga e professora no municipio de Ribeirão das Neves em Minas Gerais. Produz textos, artigos sobre temas filosóficos, do viver diário, educacionais e outros.
Blog http://amolercomaalma.blogspot.com/

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Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.” Rubem Alves

Maravilhoso pensar o dia como um tempo a ser vivido, que traz consigo acontecimentos que se forem comparados à uma fruta, podem ter sabores variados.

"Colha o dia, confia o mínimo no amanhã. Não pergunte, saber é proibido (...) É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho (...) seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo reescale suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciúmento está fugindo de nós. Colha o dia, confia o mínimo no amanhã." É o que diz Horácio, poeta romano que viveu antes de Cristo.

Não se trata de um simples aproveitar o dia. É preciso vivenciar cada evento no decorrer do dia, percebendo seus cheiros, contemplando suas cores, sentindo seus sabores.

Os sabores!? Podem ser variados. Doces como o mel, amargos, azedos ou levemente adocicados.

Entre as situações que experimentamos diariamente há uma mistura de sabores. Esta mistura pode causar uma confusão no paladar, mas ao mesmo tempo proporcionar um prazer incomum e indefinido.

Nem sempre a indefinição é de todo ruim. O sabor que vai prevalecer vai depender a importância que se dá a cada um deles.

Concentrar-se no doce pode ser uma boa opção. No entanto, nem sempre é possível encontrar apenas o doce. "É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho (...)"

É preciso sentir cada momento do dia como se fosse um fruto que nos é oferecido, que nos é dado.

Diariamente cada pessoa precisa exercer o poder da escolha. Vivenciar e sentir as emoções provocadas a cada instante, requer coragem, sabedoria e sensibilidade.

Sensibilidade e habilidade para utilizar os meios de sentir o ambiente e o mundo. Isso é possível, quando usamos não apenas os orgãos dos sentidos, mas as nossas emoções sem medo.

A cada novo dia que nos é ofertado, temos o privilégio de vivencia-lo, ganhamos uma nova chance para sermos diferentes ou melhores. E ao mesmo tempo, recebemos a incumbência de assumir a responsabilidade de escolher o como lidar com as novidades que se apresentam a cada minuto. Somos assim, convocados à exercer o poder da escolha diariamente.

Ser sábio nesse exercício não é tarefa fácil. Nem sempre o fazemos acertadamente.

Pode-se colher uma fruta qualquer após avaliar seu aspecto exterior, sua cor, seu tamanho ou até a altura em que ela se encontra na árvore. Pode ser que esteja em um galho bem acessível ou no galho mais alto.

O desejável é que ela esteja ao alcance da mão. Podemos nos deparar com o indesejavel, com o imprevisto e até com o abominável.

Pensar o dia, sabendo que nele moram a novidade e os limites do tempo, ajuda a entender que podemos encontrar o desejável, o indesejável, o previsto, o imprevisto e até o abominável.

"Para curto prazo, reescale a suas esperanças"... diz Horácio.

"Reescalar as esperanças" pressupoem uma escala inicial.

Reescalar a curto prazo, requer de nós assumir a responsabilidade do poder da escolha, conscientes de que o tempo não é confiável, pois "(...) o tempo ciúmento está fugindo de nós (...)".

O dia a ser vivido, impõe que sejamos quase tão ageis como o tempo.

A esperança só ajuda quando compreendida como objetivo a ser alcançado. Nunca como algo pronto, dado por alguém. Esse tipo de esperança paralisa o ser.

O hoje é valioso demais para ser desperdiçado. Nele mora o que Fernando Pessoa afirma ser "o nascer para a eterna novidade do mundo".

"Carpe Diem"! não significa simplesmente gastar ou aproveitar o dia. É preciso exprerimentar cada uma das emoções ofertadas por ele, sabendo discernir seus sabores.

Viver o dia confiando o mínimo nas horas vindouras ou no amanhã, lembrando que no hoje moram a novidade e o eterno. Realidades das quais não temos nenhum controle.

Neste caso, resta buscar o equilíbrio para eleger nossas ações no presente, de forma conscientes de que cada escolha tem suas consequências e que somos responsáveis por nós mesmos.

"Carpe Diem"!

Fonte:
Texto enviado pela autora

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amosse Mucavele (Poegrafia o Ledo Ivo)*


Amosse Eugénio Mucavele é de Maputo, Moçambique e é o novo colaborador do blog. Hoje ele inicia com esta homenagem ao poeta alagoano Lêdo Ivo (foto ao lado)
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Um homem vindo de um lugar pobre e distante das metrópoles, sonhou em um dia alavancar o nome da sua terra natal (Maceió – Alagoas).

Como os sonhos não envelhecem (R.Riso) continuou firme a trilhar o caminho dos seus sonhos, mas nunca compartilhou com alguém, guardava-os na gaveta da sua cachola.

Procurou tantos ofícios e aperfeiçoou-se no oficio de ourives da palavra, lapidou os seus sonhos e lançou-os em forma de IMAGINAÇÕES, e dai percebeu que ter uma ourivesaria precisa de mão-de-obra e material e a título individual não iria conseguir levar avante o projeto, o coletivismo veio à tona (nasceu a Geração 45).

Os sonhos deste homem continuaram fortes como a rocha, altos como o Everest

Colocou um desafio a si mesmo – de deliciar o mundo e mostrar o quão grande e a LINGUAGEM da palavra que ele fabrica.

Este homem nunca teve inspiração pois a poesia e o sol que brilha no seu dia – a – dia e os SONETOS acontecem A NOITE.

O Brasil tornou-se pequeno, atravessou os céus e foi a PARIS graças as MAGIAS das suas mãos REI da EUROPA reconheceu a grandeza da sua obra.

Neste momento eu estou aqui na ESTAÇÃO CENTRAL a espera do trem que traz O UNIVERSO POÉTICO deste homem.

*Ledo Ivo é natural de Maceió-Alagoas expoente da Geração 45, publicou numerosos livros de poesia- As Imaginações(1944), A linguagem(1951), Acontecimento do soneto e ode a noite(1951), um Brasileiro em Paris e o Rei da Europa(1955), Estação central(1964). Também é novelista, contista, cronista e critico literário autor do ensaio- O universo poético de Raul Pompeia (1963)
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Amosse Eugenio Mucavel nasceu em Maputo aos 8 de julho de 1987,e fez o curso agropecuário Instituto Agrário Boane. É membro do Movimento Literário Kuphaluxa, onde coordena o projeto literatura na escola. O blog é http://kuphaluxa.blogspot.com/.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Edna Gallo (O Recado)


O expediente terminara. Os funcionários já haviam ido embora e João estava sozinho na sua empresa. Dirigiu-se à escrivaninha, apanhou uma pasta e começou a examinar alguns papéis importantes, referentes à parte que teria de pagar à esposa de seu sócio Felipe, falecido recentemente.

Maquinava uma maneira de trapacear com o dinheiro da viúva. Ela era completamente alheia aos negócios do marido. Sempre vivera para o lar, atenta as tarefas de dona de casa. Mulher simples, confiava totalmente na honestidade desse homem que fora companheiro de trabalho de seu esposo e, posteriormente, sócio nesse bem sucedido empreendimento.

Com a morte de Felipe, João ficara só na administração da firma e, sentindo-se senhor da situação pensou logo em ficar com tudo, propondo então à viúva a compra da parte dela. Sem ter condições ou prática para gerir os negócios e ainda com filhos adolescentes para educar, ela concordou com a venda. Empregaria o dinheiro na compra de imóveis e viveria da renda dos mesmos.

Já era tarde e ele permanecia ainda no escritório. Formado em contabilidade, ele estudava uma forma de pagar um valor bem menor que o real. Tinha que fazer tudo direito, usar a cabeça, de modo que ela jamais desconfiasse que a importância a receber era maior que aquela que ele ia lhe pagar. A viúva confiava nele a ponto de dispensar a assessoria de um bom advogado.

Começou a subtrair dados, escondeu documentos, e quando estava adulterando algumas somas ouviu um barulho no trinco da porta, como se alguém a estivesse abrindo...

De repente, sentiu um cheiro de perfume ao seu redor. Arrepiou-se todo. Aquela era a fragância que Felipe usava.

Largou tudo o que estava fazendo e saiu correndo com o coração descompassado.

Esperou passar alguns dias e voltou a fazer a contabilidade. Desta vez, porém, não ficou só. Aproveitou o horário de expediente e, cercado de pessoas à sua volta, na certa aquele fato estranho, talvez até fruto de sua imaginação, não aconteceria outra vez.

Sentou-se e começou a rever a papelada. A idéia de trapaça não fora afastada. As intenções eram as mesmas. De repente o barulho na porta e o perfume exala no ar.

Não era possível! Chamou a secretária. Ela entrou e foi logo dizendo: “Nossa, que sala perfumada.”João ficou ainda mais nervoso com o comentário. Então, não era impressão sua. Ela também sentira o perfume. Resolveu, então, ficar algum tempo sem tocar naquela documentação.

Um dia, resolveu levar os tais papéis para casa.

Quem sabe longe do ambiente de trabalho aquilo não voltasse a se manifestar, porém, mais uma vez escutou ruídos na porta, e sentiu aquele aroma tão seu conhecido. Chamou a esposa e contou-lhe o que estava acontecendo. Decidiu rasgar todas as anotações que fizera e jogou-as no lixo. Fez a contabilidade novamente. Não omitiu um centavo. As contas foram feitas com a maior honestidade.

A viúva recebeu a parte dela. Tudo o que lhe pertencia estava ali, tostão por tostão. João compreendera o recado.
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Sobre a autora
Edna Gallo é poetisa, trovadora, cronista e contista. Nasceu em Santos/SP - pertence ao grupo Encontro de Poetas e a União Brasileira de Trovadores (U.B.T) Seção Santos. Alguns de seus poemas foram musicados pela musicista Glorinha Veloso regente do coral " Vozes da Esperança
"Livros publicados: “Alvoradas e Crepúsculos” e “Brisa de Outono”

Fonte:
CÁPUA, Cláudio de (editor). Revista Santos – Arte e Cultura. ano IV. vol.21 - maio de 2010.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Jesy Barbosa (1902 – 1987)


(por Zálkind Piatigórsky)

Jesy de Oliveira Barbosa
15/11/1902, Campos RJ - 30/12/1987, Rio de Janeiro RJ

JESY BARBOSA, filha do jornalista e poeta Luiz Barbosa (ambos campistas), nasceu em Campos, Estado do Rio, em 15 de novembro de 1902. Espírito versátil e sensível, desde cêdo deixou patenteado seu temperamento artístico, tendo iniciado sua atuação em 1930, na Cidade Maravilhosa, onde também estudou. Dona de excepcional talento e de uma voz “diferente”, sua primeira expressão foi através do canto, tendo estreiado, sob os auspícios do saudoso Roquete Pinto, na Rádio Sociedade, no Rio, gravando a seguir inúmeros discos com canções brasileiras na R.C.A. Victor.

Paralelamente, iniciava-se na arte de escrever, fazendo-se presente em jornais e revistas de então.

Deixando mais tarde o canto, onde tanto se destacou, foi durante nove anos redatora e apresentadora de programas na Rádio Globo, da Guanabara; tendo sido uma das sócias fundadoras da Associação Brasileira de Rádio (A.B.R.).

Mas a plenitude de seu espírito criador só veio a amadurecer um pouco mais tarde, quando Jesy Barbosa, participando do movimento trovadoresco nacional, encontrou, nas quatro linhas da trova, o seu verdadeiro veículo de comunicação.

Mesmo assim, faltava-lhe um estímulo. Mas, predestinada para as cumieiras da arte do coração, êste não se fêz tardar. Apareceu sob a forma de um concurso de trovas. De um grande concurso de trovas – Os Primeiros Jogos Florais de Nova Friburgo – genial idéia de Luiz Otávio que os introduziu no Brasil, para isto contando coma cooperação e o dinamismo do consagrado poeta J. G. de Araújo Jorge. E Jesy apareceu. E apareceu ganhando, conseguindo, entre mais de 2.500 trovas concorrentes, o 4.° e 6.° lugares, pondo seu nome com letras de ouro entre os vinte vencedores. Era uma grande estrêla, luzindo no meio de uma constelação.

“Duvidas que numa trova
eu encerre o nosso amor?
Na hóstia tu tens a prova:
Não cabe Nosso Senhor?”

“Teu orgulho me parece
estranha contradição:
Nosso amor, que te engrandece,
é a minha humilhação.”

Excepcional em tudo que se refira ao que é de dentro, o seu amor filial conseguiu a ventura desta constatação:

“Surpreendente maravilha
A que agora me acontece!
­- Minha mãe é minha filha
a medida que envelhece!”

Nestas “Cantigas de Quem Perdoa” descobrimos que a meiga Jesy não perdoou o mundo. Na verdade, ama-o demais. E quem ama, não chegando a sentir a ofensa, desconhece a necessidade do perdão.

Rio, março de 1963.

Era o milagre da sensibilidade, o triunfo do talento, a consagração da beleza. Era fôrça do coração atingindo alturas sublimes nesta composição.

“És rico... Mas que tristeza!
Tens vazio o coração...
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.”

Era a poetisa Jesy que se descobria. Uma fonte límpida e incontrolável de água pura que corria sob o sol, sorrindo à libertação.

Suave flor em festa em alto cume, em breve Jesy superou-se e repetiu-se. E, em 1962, nestes mesmos Jogos Florais de Nova Friburgo que evoluíram como a própria escritora, entre mais de 5.000 concorrentes, alcançou o 1.° lugar com magnifica trova sobre ciúme:

“Quanto mais teu corpo enlaço.
mais padeço o meu tormento
por saber que o meu abraço
não prende o teu pensamento.”

Não só por êsses triunfos em competições públicas, mas por todo o conjunto de sua obra, hoje, é indubitável ser Jesy Barbosa um dos mais admirados e autênticos nomes representativos da poesia trovadoresca da língua portuguêsa.

Extremamente feminina – a mais feminina de quantas poetisas exercitam-se no idioma – suas trovas são bem o claro-escuro incompreensível e meigo e doce da alma da mulher:

“A maior impiedade
daquele que me magoa
é mostrar que, em realidade,
não vale a pena ser boa.”

É uma queixa. Mas sua queixa é suave como pétalas que tombam. E na saudade, a saudade do vulto amado é mais que um milagre do coração:

“Tenho tua imagem tão viva
e tão dentro do meu ser
que, quando que rever-te,
fecho os olhos para ver”.

Poesia-conformação, poesia-ternura, Jesy Barbosa é sentimento, E, sobretudo, poesia-verdade, verdade clara e profunda, simples, sem contradição:

Fontes:
http://ubtsp.com.br/page3.aspx
Foto : acervo Rádio Club do Brasil.

domingo, 19 de junho de 2011

II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea! (Finalistas da Fase I)


Sai a lista de finalistas da fase 1 do II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea!

Após 1 mês de competição, com 622 obras inscritas – 50% a mais do que na primeira edição – e 5.147 votos confirmados, chega ao fim a primeira fase do II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea!

Nesta fase, totalmente baseada em voto popular, 10 livros foram selecionados como finalistas e passarão agora para avaliação de um corpo de jurados do Clube de Autores, que deliberará sobre aspectos como capacidade de prender atenção, facilidade de entendimento, encadeamento de ideias e frases e originalidade.

Os finalistas são (em ordem alfabética):


- A Força das Tradições e Outras Histórias, de Sergílio da Uspecéia
Livro premiado- menção honrosa - no 16° Programa Nascente - USP em 2007. "A força das tradições e outras histórias reúne contos dispostos sob a ótica do humor. Diálogos ao telefone, os não-heróis da periferia, o bate-boca entre um escritor e seu texto, a visita de Deus a uma agência da previdência social, compõem o cardápio oferecido ao leitor... Em alguns momentos, o título desproporcional amplifica o sentido do conto diminuto. O autor já publicou poesia e contos em coletâneas e livretos de concursos literários É também blogueiro (http://trovasecia.blogspot.com) e trovador premiado em vários concursos nacionais.

Sergílio da Uspecéia
Sérgio Ferreira da Silva Bacharel em Direito - Graduando em Letras na USP.

Prêmios mais importantes:
Revelação em 1997 UBT/SP
- 1° lugar no Confr. de Trovadores Paulistas 2000 UBT-Santos/SP
– Magnífico Trovador (Título Honorífico) nas categorias Lír./Filos. e Humor 2002 Nova Friburgo/RJ
- 1° Lugar Concurso Intersedes (Trovas) R. de Janeiro/RJ 2003
- 1º lugar Conc. Nac. de Contos do SESC Santo Amaro/SP Adulto Jovem em 2003
- 1° lugar Concurso Ribeirão das Letras Rib. Preto/SP Trova (2004)

– PUBLICAÇÕES:
Coletânea
“RIO GRANDE TROVADOR” (Trovador convidado) em 2003 - Ame Nova Friburgo –
CELEBRIDADES – com Sérgio Madureira e Girlan Guilland (Convidado) Edições 2005 a 2008 –
Evangelho de Trovas 2, Segundo Trovadores da UBT em 2005 Coletânea (20 Trovadores do Brasil) –
Livretos de trovas publicados em todo o Brasil, desde 1997 –
Revista "Originais Reprovados" USP em 2006 –
Revista Áporo nºs. 1, 2 e 3 (2007 a 2009) Poema, Hist. em Quadrinhos e Conto –
Livro da Tribo Edições 2008/2009 e 2009/2010 (Trovas e Texto) –
Menção Honrosa no 16º Programa Nascente USP 2007 com "A força das tradições e Outras Histórias" –
Pão e Poesia 2009/2010 Minas Gerais (Trova e Soneto)


- Cabra Cega, de Sheila Ribeiro Mendonça
Clara e Gustavo se conhecem, em um Clube de Curitiba, quando ela estava pensando em viajar, antes de começar a fazer faculdade, e então se apaixonam e casam, assim, a vida de Clara muda rapidamente. E literalmente a mudança é radical, pois Gustavo se revela um homem agressivo, ciumento, possessivo, violento, ardiloso e perspicaz, com isso transformando a vida dela numa constante surpresa e esconde-esconde. Não somente de comportamentos como também de cidades. Com o intuito de não criar laços com ninguém e, principalmente, de não deixar que a família de Clara saiba onde ela está, você vai acompanhar Cabra Cega sem ter a certeza de até quando aquela cidade fará parte dos planos de Gustavo. Em Cabra Cega acompanhamos os escondidos.

Sheila Ribeiro Mendonça

Sou jornalista e escolhi esta profissão por conta da minha enorme paixão pela escrita. Tudo, desde pequena, me inspira, claro que com o passar dos anos fui evoluindo com as palavras e sensações.

E foi assim que no início da idade adulta escrevi o meu primeiro romance.

Cabra Cega é pura ficção, embora, algumas pessoas possam se ver na história, mas a intenção da obra é somente fictícia.

A escrita, definitivamente, é o ar que eu respiro. Algo que me move, e muitas vezes é até maior do que eu mesma, assim fazendo com que, em qualquer lugar e situação que eu me encontre, pegue um papel e caneta, e deixe a inspiração que chega fluir em palavras, e sem a pretensão de transformar num texto perfeito, apenas escrevo e sinto um enorme prazer com isso.

Escrevo simplesmente com o coração, e com a inspiração que Deus me dá, e é assim que escrevi este romance na certeza de que sigo no caminho da arte de escrever.

Cabra Cega ficou guardado na gaveta por muitos anos, mas será o primeiro de muitos outros que virão.


- Catholica Poetica, de Jessica Bittencourt

Presente para a humanidade

Seus olhos acinzentados
Com expressões variadas e fora do vulgar
Por ti ficamos encantados
Jesus, como é bom te amar
Cabelos cor de avelã, rosto rosado.
E alegre na seriedade
Tu és belo e iluminado
Presente de Deus para a humanidade
Toda honra e toda glória
É para ti Jesus
Contigo sempre alcançamos a vitória
Salvou-nos do mal para descobrirmos a luz
Queria te abraçar
Quando o coração doer
E quiser chorar
Sei que as lágrimas não iriam mais escorrer
Jesus, presente para a humanidade.
Possui grande sabedoria insubstituível amor
Pois através de ti Deus mostra a verdade
O remédio de toda dor

Jessica Bittencourt nasceu no dia 27 de setembro de 1991. Desde de pequena ama o teatro, mas começou em 2008 numa peça chamada Rei Ubu de Alfredy Jerry. Com 16 anos descobriu o amor pela poesia e com 18 anos terminou seu primeiro romance: Romance sob Poesias. Já participou de duas antologias: Antologia Páginas Vázias e Declaração de amor á poesia.

Acredita que para escrever é necessário aproveitar todos os sentimentos, fases e momentos, mas sua inspiração maior é nos moemntos de angústias e tristezas. "É necessário deixar as lágrimas caírem no papel como um desabafo poético".


- Contoscionismo, de Osvaldo Magalhães
O livro, Contoscionismo: Contos, Crônicas e Poesias é uma coletânea de textos que vão de contos sobre um policial enfrentando traficantes na fronteira entre Brasil e Bolívia, passando por crônicas sobre um velório e poesias cômicas. A leitura é fácil e gostosa, sendo uma ótima opção para quem gosta de textos diversificados.

Osvaldo Magalhães nasceu e mora no Gama (DF) e é autor de contos, crônicas e poesias, com temas históricos e contemporâneos, sarcásticos, críticos e cômicos.



- Fogo Vermelho, de Drica Bitarello
Normandia, 1190

Um anjo do Senhor estendera a mão a al-Ahmar, o Demônio Vermelho. Curara suas feridas e agora, ameaçava roubar de vez seu coração.

Voltar para casa nem sempre é um bom negócio...

Radegund amaldiçoou o dia em que se deixou ser convencida por Mark a voltar para sua terra natal. Principalmente no momento em que teve uma flecha cravada em suas costas. Mas, ao acordar numa abadia e dar de cara com um anjo de olhos azuis da cor do céu, ela começou a pensar que realmente estivesse ficando louca. Afinal, mesmo que já tivesse uma extensa lista de pecados pesando sobre suas costas, se juntasse a eles a sedução de um monge cisterciense, nem mesmo o inferno a aceitaria.

É sempre difícil deixar o passado para trás...

Quando uma estranha dupla passou pelos portões da abadia, em busca de socorro, todas as convicções de frei Luc foram lançadas por terra. Seu olhar se perdeu nos olhos mais tristes que ele já vira, e seu coração foi definitivamente roubado pelo Demônio Vermelho.

Lar era algo perdido para sempre...

Para Mark, a vida fora mais do que generosa ao lhe dar a amizade de Radegund. E agora, por causa dela, a mesma vida lhe dava a chance de desvendar seu passado. Mas, para isso, ele teria que abrir mão de algo que jamais tivera. Amor.

Drica Bitarello
Escritora compulsiva, leitora voraz, geek, antenada, descolada, viciada em café extra-forte-extra-quente-extra-grande. Tem um fraco por Absolut Vanilla, é groupie do Marco Hietala, padece de uma estranha compulsão por sapatos (que provavelmente se deve a algum tipo de transmigração temporária de personalidade entre ela e Imelda Marcos) e sofre de crises de abstinência quando passa muito tempo sem entrar numa livraria. Seu maior desejo é de que a cirurgia que emagrece continuamente o Faustão um dia o faça sumir de vez.


- Memórias do Inferno Brasileiro, de Valdeck Almeida de Jesus
“Na casa de Dona Dete e seu Chico a gente morria de rir. A dona da casa e o marido, toda vez que viam os atores Tony Ramos e Elisabete Savala ficavam falando: “André Cajarana e Carina estão tão diferentes...”, se reportando aos personagens vividos na novela Pai Herói por aqueles atores. Dona Dete e Seu Chico não conseguiam separar a realidade da ficção e faziam a maior confusão entre a vida dos atores e os vários personagens vividos por eles durante as novelas”.
(Trecho do livro)

Biografia em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/valdeck-almeida-de-jesus-1966.html


- O Pastor, de Fernando de Abreu
O bem e o mal habitando o mesmo corpo. O pecador e o santo, a mesma pessoa. O líder espiritual de uma grande organização religiosa se vê envolvido em um escândalo sexual que pode afastá-lo do controle da sua congregação, precisamente no momento em que descobre uma gigantesca fraude nas contas da Igreja. Buscando manter-se no controle da situação acaba suspeito de uma série de assassinatos que vai eliminando, um a um, todos os envolvidos no desfalque milionário. Um policial obstinado, no entanto, resolve investigar a fundo não apenas aquelas mortes violentas e misteriosas, mas todo o passado daqueles homens santos e pecadores, descobrindo mais do que deveria, numa trama surpreendente. Quem tiver pecado leia a primeira página!

Fernando de Abreu Barreto

Advogado e escritor, nascido no Rio de Janeiro em 1976. Divide seu tempo entre os Tribunais e as páginas dos livros em que derrama suas expectativas e frustrações com o mundo do Direito, criando um universo particular de leis, crimes, investigações e Justiça onde tudo funciona mais ou menos da forma como não deveria ser. Publicou pelo Clube de Autores dois romances policiais.

Possui dois blogs: um para divulgação do seu primeiro romance, outro com dicas e críticas literárias.


- Princesa de Gelo, de Thayane Gaspar Jorge
Eu não tenho coração. Acredite, é verdade. Até mesmo em momentos em que a adrenalina prevaleceu em meu sangue fazendo com que ele trabalhasse mais rápido. Eu deveria ouvi-lo bater ou ao menos senti-lo, mas é como se ele não fizesse mais nada além de pulsar. Não pulsar vida, mas apenas sangue para que o meu corpo , ligado a minha alma sempre mórbida, continue respirando. Feitiço. Magia.Encanto. Poções. Bruxaria. Não, apenas meu coração e sua simplória e podre maldição.






- Rastreabilidade Aspectual, de Ivan Claus Magalhães Weudes de Lima
Esse livro aborda várias questões que se apresentam para a realização da rastreabilidade dos requisitos de software. É detalhado um modelo de rastreabilidade de requisitos de software que incorpora elementos de rastreabilidade aspectuais baseado na técnica de casos de uso. São apresentados o modelo e a estratégia de rastreamento dos requisitos de software em ambientes de desenvolvimento orientado a aspectos. Ainda são discutidas as transformações necessárias para a elaboração de um modelo de rastreabilidade aspectual, além da concepção de um modelo conceitual preliminar de um repositório dos elementos de rastreabilidade. Apresenta-se, também, como ilustração, um exemplo de uso do modelo proposto.


- Versos ao Vento, de Jessica Bittencourt
Uma coletânea de poesias, divididas em dois capítulos: Amor e sentimentos e Cotidiano com sentimentos, na qual retrata o cotidiano, pessoas, seus sentimentos, sociedade, exemplo disso é a poesia Compulsão Maligna envolvendo o assunto da bulimia:

(...) O organismo com o tempo é desgastado
Órgãos internos parando de funcionar
O que é consumido não é aproveitado
O corpo já não consegue se alimentar (...)

Sociedade opressora também diz sobre a situação do homem na sociedade moderna:

(...) Ainda há lágrimas escorrendo
Lágrimas de sangue e medo do mal
Da carne que está se desfazendo
Substituindo por parafusos e metal (...)

Sobre a questão dos transgênicos, na época em que algumas pessoas foram contra e outros não. O título Amizade é referente á participação de sua amiga Juliana Suguimoto com algumas poesias.
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Todos as obras da lista acima permanecerão no site com um selo nos seus livros, apontando-os como finalistas do Prêmio, mesmo após o seu término.

Gostaríamos de dar os mais sinceros parabéns tanto às 10 obras selecionadas quanto a todos os participantes – afinal, estar presente em prêmios literários como esse é um passo fundamental na carreira de todos os escritores independentes.

Quem quiser saber a sua colocação exata, basta entrar em contato com atendimento@clubedeautores.com.br

Agora, é esperar o resultado no dia 24 de junho!

Fontes:
Pedro Ornellas
http://clubedeautores.com.br/