domingo, 24 de fevereiro de 2008

Richard Wagner (O Anel do Nibelungo: Parte 1: O Ouro do Reno)

Dando início a série "Literatura na Música", discorreremos sobre algumas óperas famosas.

O ciclo de óperas O Anel do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen) é uma das obras mais importantes de Richard Wagner. É baseado na mitologia nórdica, semelhante à germânica e mais documentada. Música e libretto foram escrito por Wagner entre 1848 e 1874.
A obra é constituída das óperas:

Das Rheingold (O ouro do Reno) - prólogo
Die Walküre (A Valquíria)
Siegfried
Götterdämmerung ou Ragnarök (O Crepúsculo dos Deuses)

1 - O OURO DO RENO

Ato Único - Cena 1.

Nas Águas do Reno, três ninfas, as irmãs “ondinas” - uma espécie de “sereias de água doce” (sem cauda de peixe), jovens guardiãs do “Ouro do Reno” - nadam, em ágeis movimentos. As mais afoitas, Wellgunde e Woglinde, brincam de correr atrás uma da outra, como crianças travessas. A terceira, Floßhilde, mais ajuizada, repreende as irmãs por sua brincadeira excessiva e seu descuido na vigilância do “Ouro”. Sem ser visto pelas três, um gnomo, o “nibelungo” Alberich, sobe a um rochedo e as observa, encantado. Dirigindo-se às jovens, elogia-lhes a graça, manifestando o desejo de tê-las para si. Elas, a princípio, assustam-se, mas logo passam ao gracejo, ante a investida apaixonada do feio e repulsivo gnomo. Maliciosamente - na típica malícia da implicância infantil - elas fingem ceder a suas tentativas, mas logo fogem, e caçoam dele. As três alternam-se, uma a uma, nessa maldosa brincadeira, despertando a raiva de Alberich, que, por fim, pára, exausto e furioso, erguendo, impotente, o punho cerrado.

Neste momento, começa algo a brilhar, de dentro das águas, num fulgor dourado que intensifica-se até ocupar todo o ambiente. As três ninfas param de brincar e divertir-se à custa do nibelungo, e passam a reverenciar aquela irradiação esplêndida, a que chamam “Ouro do Reno”: “Ouro do Reno! Ouro do Reno! Luminoso júbilo!”- Intrigado e curioso, o gnomo pergunta às meninas “o que é aquilo que tanto brilha”. Elas demonstram incredulidade perante o fato de alguém desconhecer “a esplêndida luz do fundo do rio, que reluz, sublime, através das águas”. Convidam o gnomo a participar de sua alegria, banhando-se, com elas, na luminosidade que se faz. Alberich não compreende o devoção das ninfas àquele “ouro”, que para ele nada significa. Woglinde e Wellgunde, empolgadas, deixam escapar comentários sobre o poder do ouro, “de cuja beleza o gnomo não faria pouco caso, se conhecesse a sua magia: aquele que do Ouro do Reno forjar um anel tornar-se-á senhor do mundo.”

Floßhilde, na prudência que lhe é peculiar, adverte as irmãs, que falam demais, pondo em risco a segurança do Ouro. As outras riem-se de seus cuidados, uma vez que “só aquele que renunciar ao amor” poderá apossar-se do Ouro, e o gnomo, lascivo que é, jamais se disporia a tal privação. Floßhilde concorda e despreocupa-se. As três voltam a convidar Alberich a participar do seu júbilo. Ele, porém, numa atitude totalmente mudada, olha fixamente para o Ouro e manifesta um resto de dúvida - talvez simulada - quanto ao poder mágico mencionado pelas jovens: “Estais brincando! Vou entrar no vosso jogo!” E salta ao rochedo onde está o Ouro. As meninas movimentam-se em algazarra, e, ainda sem perceber a intenção de Alberich, voltam a caçoar do nibelungo. Mas ele conclui seu objetivo: chega ao cume do rochedo, leva a mão ao Ouro e, após proferir: “Assim eu amaldiçôo o Amor!”, foge com sua prenda. As águas baixam, imergindo consigo as ondinas, que escutam, vinda do subsolo, a terrível gargalhada de Alberich, e gritam por socorro pelo Ouro roubado. A luminosidade anterior dá lugar a densa escuridão; as águas continuam baixando.

Ato Único - Cena 2.

A cena altera-se ante nossa vista, à medida em que as águas assumem o aspecto de nuvens, que transformam-se gradualmente numa névoa diáfana, sob uma claridade matinal, e vemo-nos diante de um espaço amplo nas montanhas. A luz solar, cada vez mais viva, torna visível um imponente castelo, sobre um cume rochoso. Num ponto da cena, sobre um terreno florido, dormem Wotan, o Rei dos Deuses, e sua mulher, Fricka, a Deusa do Matrimônio.

Esta acorda e tenta despertar o marido, que não acorda de imediato, e põe-se a falar, em sonho, sobre seu contentamento pelo castelo, cuja construção acaba e ser concluída: “A beatífica mansão do fausto, cujas portas e ameias hão de guardar-me; a honra do homem e o poder eterno, que elevam-se à glória imperecível!” Fricka, irritada, sacode-lhe o corpo, forçando-o a despertar: “Deixa de devaneios! Acorda e pensa!

Ao despertar e erguer-se, Wotan manifesta a mesma disposição de ânimo, e contempla, extasiado, “o mais augusto, o mais magnífico edifício!” Fricka o repreende por sua fixação na imponência da fortaleza, pois há um porém: “Esqueces, acaso, o preço que prometeste pagar?” O pagamento combinado é justamente Freia, a Deusa da Juventude, irmã de Fricka, e os construtores do castelo, a quem foi prometida a cunhada de Wotan, são os gigantes Fasolt e Fafner.

Wotan, displicente e sereno, responde a Fricka, como dando a entender que ela não deve imiscuir-se neste assunto: “eis a fortaleza, erguida, graças aos fortes gigantes; quanto ao pagamento, não te preocupes”. A deusa, revoltada, reprova a atitude do marido, “leviano, irônico”; diz que, fosse ela avisada a tempo, teria impedido aquele acerto, “mas vós, homens, tudo ocultam às mulheres, para que possam cometer sossegados os vossos desatinos; assim pusestes à venda minha querida irmã, tudo por causa da avidez que vós, os varões, têm pelo poder!

Sempre fleumático, Wotan argumenta, perguntando à mulher se ela é mesmo tão isenta de “semelhante avidez”, já que fôra ela própria que sugerira a construção do castelo. A resposta de Fricka - cujas palavras e a bela temática musical expressam nitidamente seu caráter caseiro e familiar - esclarece que “desejando a fidelidade de meu esposo, fui tola e julguei que um lar aconchegante e belo poderia sossegá-lo dentro de casa; mas a casa para ti nada mais significou que soberania e poder; o castelo só serviu para aumentar o tormento.” Seguindo a mesma linha melódica, um tanto alterada, Wotan - que é dado a freqüentes e longas ausências, e nada tem de marido fiel - replica, em tom de riso, que seria inútil aos intentos da mulher mantê-lo dentro da fortaleza, pois, mesmo apartado do mundo, ele disporia dele, à distância. Fricka volta a repreendê-lo com veemência, acusando-o de não respeitar nem valorizar as mulheres. Ele, agora sério, responde com severidade à acusação da esposa: “Para obter-te como mulher, perdi um de meus olhos;” - pois, de fato, lhe falta um olho - “que tola censura acabas de fazer!” E acrescenta que, quanto a Freia, não a dará em pagamento aos gigantes: jamais levara a sério aquele acordo. Fricka, então, exige-lhe atitude: “Trata, pois, de protegê-la agora!” A própria Freia então surge, a correr aflita, pedindo socorro à irmã e ao cunhado, pois “Fasolt já se aproxima, e vem buscar-me!

Wotan, na sua costumeira e irritante calma, dá a entender que não importa; pergunta a Freia se ela não viu Loge (o Deus do Fogo). Ao ouvir o nome de Loge, Fricka fica ainda mais aflita e furiosa, pois não entende a confiança que Wotan vota “àquele ardiloso”; Wotan argumenta que pode agir sozinho, sempre que bastam força e coragem; mas precisa do esperto Loge quando é necessária a astúcia, para vencer o inimigo. “Ele me estimulou a este acordo, e tudo agora depende dele.” Fricka reage: “É! E ele te deixa sozinho! Lá vêm os gigantes, e onde anda o teu experto auxiliar?” Freia grita pelos irmãos - Donner e Froh, Deuses do Trovão e do Sol - , e Fricka diz-lhe, soturnamente: “Primeiro te traem com um pacto imoral, e agora se escondem todos.

No exato momento, ao som, pela orquestra, de um tema estrondoso, repetitivo e pesado, entram Fasolt e Fafner, os dois irmãos gigantes, vestidos de peles cruas e portando rústicas e pesadas clavas. Fasolt, mais dado ao diálogo que Fafner, cujo temperamento é mais bruto e taciturno, dirige-se a Wotan: “Enquanto dormias serenamente, nós erguíamos o castelo, em árduo trabalho, jamais relaxando; e ei-lo de pé, levantado por nós. Faz agora a tua parte: paga-nos!

Hipocritamente, Wotan pergunta: “Sim, meu povo, dizei vosso preço.” Fasolt replica, ingenuamente: “Ora, já temos um preço; não te lembras? Freia, a bela; Holda, a livre;” (Holda é outro nome de Freia; os dois termos estão associados aos vocábulos “Frei”, livre, e “Holde”, bela) “tal foi o pagamento contratado; levá-la-emos, pois, para nossa terra.” Wotan responde, com brusquidão: “Estais loucos?! Solicitai outra paga! Freia não está à venda!” Fasolt, então, emudece, sem poder acreditar no que ouve, mas, por fim, reage: “O que? Tu, o próprio Wotan, estás pensando em trair um contrato?!”, e seu irmão, Fafner, escarnece dele, chamando-o de “imbecil”, por ter acreditado na trapaça de Wotan.

(Um dos atributos de Wotan é a condição de legislador, que ele exerce por meio de pactos de honra, ou seja, os tratados ou contratos, aos quais ele próprio deve rija fidelidade; sobre o cabo de sua inseparável lança, um arquétipo de seu poder, estão gravadas as Runas, caracteres teutônicos com os quais são selados os pactos. É, pois, indiscutivelmente cabível a indignação de Fasolt, ante esta atitude recalcitrante do “Deus dos Tratados”.) Com sua peculiar dignidade, Fasolt reprova o comportamento de Wotan, dizendo que é seu dever “guardar fidelidade aos tratados”, e que, ainda que Wotan seja sábio “mais do que os gigantes possam ser apenas astutos”, é exatamente um tolo gigante que lhe dá esta lição de moral, e que “maldito seja aquele que, sendo o guardião dos tratados, ainda assim é capaz de ser infiel aos mesmos.” Wotan, em crescente descaso aos argumentos do ogro, retruca: “Como pudeste levar a sério um contrato feito por pura brincadeira? De que pode valer a vós, brutos que sois, os encantos da bela e radiosa deusa?”

Fasolt, ofendido com a alusão à inferioridade que Wotan atribui aos gigantes, expressa-se, agora, em tom de mágoa: “Zombas de nós, não é? Que injustiça! Os luminosos deuses servem-se do trabalho dos rudes, prometendo-lhes uma bela e terna mulher, e agora invalidas o contrato?” Fafner, irritado com as simplórias instâncias do irmão, interrompe-o rispidamente: “Para com isso! Não vai adiantar! E a posse de Freia é de pouca valia para nós!” E, em tom mais baixo: “O único interesse que podemos ter com ela é o enfraquecimento dos deuses, que nutrem-se das maçãs douradas, que só ela sabe cultivar.” (Freia, a Deusa da Juventude, cultiva maçãs mágicas, douradas, que fornece aos seus parentes, os quais, ingerindo-as, são dotados de juventude eterna.

A falta dessas frutas causaria o envelhecimento e a fraqueza dos deuses, o que interessa aos gigantes, pois, de tal sorte, ficariam livres de seu jugo.) Wotan demonstra impaciência com a demora de Loge, do qual ele espera uma alternativa para o pagamento dos construtores. Fasolt exige uma pronta resolução, e só aceita Freia, nada mais! Os dois gigantes fazem menção de levar a deusa à força, quando irrompem Donner e Froh, os dois irmãos de Freia e Fricka. Ambos intentam impedir a investida dos gigantes, e Donner os ameaça com seu martelo (um martelo de grande porte, atributo do Deus do Trovão). Wotan reprime sua agressividade, interpondo, imperiosamente, a lança entre os inimigos: “Nada pela força! Minha lança guarda os pactos.

Todos estão desolados, quando, finalmente, aparece Loge. Em seus típicos movimentos “flamejantes” e ágeis, ele chega, e, irônico, parece zombar das aflições dos outros deuses. Ao ser argüido por Wotan sobre a solução “que fora buscar para corrigir o mau negócio”, ele torna: “De que negócio falas? Acaso te referes ao pacto que acertaste com os gigantes?” Começa, então, a tagarelar a respeito de suas características pessoais. Ele é um andarilho, que movimenta-se como bem entende; não é como os outros deuses, que desejam casar-se e gostam de “casa e lareira”. A eles, certamente, aquele castelo vem a calhar: uma imponente construção, como quer Wotan, agora pronta e sólida. Ele próprio fora fiscalizar as estruturas, e estavam perfeitas: “Fasolt e Fafner estão de parabéns!”

Wotan interrompe sua sarcástica eloqüência, e lembra-lhe a promessa que ele fizera de conseguir livrar Freia, promessa esta que fôra a única razão de ter ele, Wotan, aceito o seu conselho de firmar aquele contrato com os construtores da fortaleza. Loge, com ironia, diz que não: “O que eu prometi foi tentar achar um modo de livrá-la. Uma tentativa, sim, eu prometi. Mas como posso prometer encontrar, de fato, uma coisa que não existe?” Todos os deuses revoltam-se contra Loge, e ameaçam-no. Wotan ordena calma e defende “seu amigo”. Os gigantes tornam a exigir a solução, e Wotan dirige-se energicamente a Loge: “Vamos, seu cabeça-dura, cumpre o que prometeste.”

Loge, num simulacro de mágoa, diz que todos lhe são ingratos, e que só para resolver o problema de Wotan correu mundo atrás de um substituto para Freia que bem satisfizesse aos gigantes. Mas tudo em vão. Ninguém soube apontar nada mais interessante ao homem que “o amor e o prazer que a mulher pode proporcionar”. Loge prolonga-se nesse discurso desanimador, até que insinua que “há um, apenas um que renunciou ao amor e à mulher, optando pelo poder que lhe proporcionara o ‘ouro reluzente’”; este era Alberich, o nibelungo que roubara das “cristalinas crianças do Reno“ seu amado Ouro. Todos, sobretudo Wotan, ficam interessados; até os gigantes tendem a admitir uma mudança de idéia, caso lhes seja possível obter o ouro mágico. Inclusive o fato de estar em poder do traiçoeiro Alberich é mais uma razão para o cobiçarem, pois o gnomo, com ele, poderá escravizar e arruinar a todos. Fafner, por fim, sugere autoritariamente ao irmão que aceite o Ouro em lugar de Freia.

Fasolt concorda, a contragosto. (Diferentemente de Fafner, que é prático e objetivo, Fasolt, menos rude que o irmão, é um tanto romântico e está apaixonado por Freia. Seu único interesse para com ela é, realmente, tê-la como mulher.) Fafner, decidido, dirige-se a Wotan e declara que os gigantes abrirão mão de Freia, se, em lugar dela, lhes for entregue o tesouro do nibelungo. Wotan exaspera-se: “Como posso dar-vos aquilo que não tenho?” Fafner diz que, se o castelo foi construído a duras penas, nada custará a Wotan conseguir, pela astúcia, subjugar o gnomo, coisa que eles, os gigantes, jamais conseguiriam pela força.

Como Wotan tenta ainda recusar o que eles pedem, Fasolt e Fafner decidem levar Freia como garantia, dizendo que “voltaremos ao anoitecer, e se lá não estiver o tesouro, pronto para nós, Freia nos pertencerá para sempre”. Freia é levada, aos gritos. Donner e Froh querem reagir, olham para Wotan, como a pedir consentimento, mas o patriarca não dá ordem alguma. Eles ficam. Loge põe-se a observar, à distância, a grotesca marcha dos gigantes, que carregam Freia. Comenta, zombeteiro, cada etapa do percurso, conforme observa. Depois, olhando para os deuses, nota como eles envelhecem rapidamente. Escapa-lhes o vigor.

O coração de Froh baqueia, o martelo de Donner pende-lhe da mão, Wotan está encanecido, todos sentem-se fracos e desencorajados. Todos, menos Loge. Ele compreende o que está ocorrendo. Privados das maçãs de Freia, os deuses perdem o vigor da juventude; eles são dependentes das maçãs. Ele não. Loge é um “meio-deus”, sua natureza é outra, e Freia sempre lhe fôra avara, concedendo-lhe menos maçãs que aos outros. “Debilitada e submetida ao sarcasmo do mundo” - escarnece ele - “a estirpe dos deuses perecerá.” Fricka lamenta-se, repreendendo Wotan por sua irresponsabilidade. Wotan, tomando uma decisão súbita, ordena a Loge que o conduza ao “País dos Nibelungos” (Nibelheim), para que juntos apossem-se do Ouro do Nibelungo. Loge, ironicamente, pergunta-lhe se pretende devolvê-lo às ninfas do Reno. Wotan esbraveja com ele, e diz que o Ouro é para a libertação de Freia. Ordena aos outros que esperem até à noite.

Enquanto Donner, Froh e Fricka expressam votos de boa sorte, Loge e Wotan imergem numa fenda sulfurosa, rumo às cavernas onde vivem os nibelungos, sob a tirania de Alberich.

Ato Único - Cena 3.

Vemos uma passagem rochosa interna, movendo-se verticalmente, o que dá a entender uma descida ao subterrâneo. Surge o interior de uma furna. Saindo de uma estreita abertura, vem Alberich, arrastando brutalmente pelas orelhas um outro nibelungo, Mime, seu irmão. Alberich cobra do outro um artefato cuja confecção lhe ordenara. Mime tenta ludibriar Alberich, dizendo não estar certo da boa compleição da peça, mas, ante a atitude ameaçadora do irmão, acaba cedendo, por medo, e lhe entrega um objeto metálico. Alberich, constatando a perfeição do trabalho, castiga Mime, por perceber que ele tentava enganá-lo, no intuito de ficar com o artefato para si. (O artefato é o “Tarnhelm”, um elmo mágico que dá a quem o use o poder de invisibilidade ou de qualquer transformação desejada).

Para testar a eficiência mágica da peça, Alberich experimenta tornar-se invisível, o que dá certo, e, sem ser visto, surra Mime com uma chibata, rindo e escarnecendo do irmão: “Obrigado, estúpido! Fizeste um bom trabalho!” Ele vocifera, impondo sua tirania a todo o seu povo: “Nibelungos todos! Curvai-vos ante Alberich!” (Desde que do Ouro do Reno, obtido por roubo, forjara um anel mágico, Alberich tem a todos os nibelungos como seus escravos, que agora trabalham para ele na mineração do ouro, cujo acúmulo aumenta a cada dia.) Chegam, finalmente, Loge e Wotan, vindos das alturas das montanhas.

Loge percebe Mime, que, caído ao chão, está gemendo e se lamentando pelos golpes que recebera de Alberich. Cinicamente, Loge o cumprimenta, e pergunta o motivo de seus lamentos. O gnomo desventurado reage: “Deixa-me em paz!” Loge diz que pretende ajudá-lo, ao que Mime demonstra incredulidade, comentando a situação em que se encontra, sob a senhoria cruel do próprio irmão. Loge, então, dá início a uma série de perguntas sobre tal estado de coisas, às quais Mime vai respondendo, até que, intrigado, pergunta quem são os dois forasteiros. Loge responde: “Amigos teus. Aqui viemos para libertar-te, e aos demais nibelungos, deste jugo.” Mas, como percebe a aproximação de Alberich, Mime recomenda-lhes cuidados. Os dois forasteiros postam-se à espera do tirano, que chega, mais uma vez impondo terror e submissão a seu povo.

Reparando na presença dos dois estranhos, dirige a Mime interrogações ameaçadoras, mas, sem esperar resposta, fustiga-o a chicote, forçando-o a juntar-se aos outros servos. Por fim, exibindo ameaçadoramente o anel, profere, mais uma vez, sua expressão de déspota: “Tremei e obedecei prontamente ao senhor do anel!” Todos os nibelungos dispersam-se, apavorados, dirigindo-se aos diversos fossos, onde trabalham. Ficando a sós com os forasteiros, Alberich os interroga, com desconfiança: “O que quereis aqui.” É Wotan que responde, citando uma série de rumores que ouvira falar sobre “as maravilhas que estariam sendo operadas por Alberich, em Nibelheim.”

Envaidecido, o gnomo diz que “a inveja é que os atrai a seus domínios.” Loge intervém, reprovando a falta de hospitalidade e a ingratidão de Alberich, que “deve a ele o fogo do qual precisa para iluminação e aquecimento das frias cavernas onde vive, e para alimentação de suas forjas”; Alberich alude à “falsa amizade de Loge”. Este procura conduzir a conversa de modo a fazer com que Alberich revele detalhes sobre seu poderio e riqueza. Envaidecido e seguro de si, o nibelungo nada oculta; afirma que, tão logo o tesouro atinja um grande acúmulo, ele poderá assenhorar-se do mundo inteiro. Fingindo indiferença, Wotan pergunta-lhe de que modo começará seu empreendimento dominador. Alberich responde que será justamente lá nas alturas onde eles, os deuses, vivem. Entra em detalhes a respeito de seus planos que despertam a fúria do temperamental Wotan, que ameaça golpeá-lo mortalmente.

Alberich parece não perceber sua investida, prontamente bloqueada pelo astuto Loge. Este dá prosseguimento a seus estratagemas, tecendo efusivos elogios às conquistas de Alberich, cuja vaidade, cada vez mais inflada, leva-o a fazer mais e mais revelações. Fala sobre o “Tarnhelm”, que lhe confere a possibilidade de “vigiar tudo sem ser visto”. Loge manifesta incredulidade quanto a esse poder. Alberich desdenha: “Achas que sou fanfarrão como tu?” Loge exige uma prova, ao que o vaidoso Alberich assente. Colocando o Tarhelm sobre a cabeça, profere a fórmula mágica, e logo transforma-se numa serpente monstruosa. Loge simula pavor, suplicando à serpente que “não o devore”. Wotan, por sua vez, ri-se e faz um elogio hipócrita à façanha de Alberich, que, voltando à sua forma original, pergunta desafiadoramente aos “sábios” se acreditam nele agora. Ainda fingindo medo e admiração, Loge se dá por convencido, mas interpela-lo novamente, perguntando-lhe se “assim como pudeste crescer, podes também diminuir?” Refere-se Loge a uma eventual necessidade de escapulir, o que faria necessário tornar-se pequeno, de modo a que pudesse escapar por qualquer mínimo espaço. “Mas creio que isto seja muito difícil”, conclui Loge, despertando ainda mais o exibicionismo de Alberich, que ri-se de tamanha “estupidez”, e pede-lhe que ordene a que proporção quer que ele encolha. Loge insinua a dimensão do corpo de um sapo.

Usando novamente o elmo, e proferindo a invocação, Alberich assume justamente a forma de um sapo. Pronto: Loge alcançou seu intento. Com o pé, Wotan imobiliza o metamorfoseado Alberich; Loge retira-lhe o elmo mágico. Alberich volta ao normal, esbravejando, e, sendo amarrado com uma corda, é carregado por Wotan e Loge, pelo mesmo caminho que os trouxera à caverna.

Ato Único - Cena 4.

De volta à mesma região montanhosa onde ocorreram os incidentes com os gigantes, os triunfantes Wotan e Loge trazem Alberich, aprisionado. Loge zomba dele, que responde com impotentes ameaças. Wotan declara que sua libertação tem um preço. Ao que Alberich continua a ameaçar, Loge lembra-lhe que “só pagando o preço exigido, poderá ficar livre e vingar-se”.

Sem alternativa, o nibelungo pergunta o que lhe cobram. Wotan exige o tesouro. Contrafeito, Alberich cede, lembrando que, se o anel continua em seu poder, poderá recuperar tudo depois. Conclama seus escravos para que tragam para cima todo o ouro acumulado. À medida em que eles obedecem, Alberich manifesta a vergonha que sente ao ver-se naquele estado (atado em cordas) diante de seus servos. Estes concluem o transporte do tesouro, e Alberich ordena-lhes, com sua usual arrogância, que voltem ao trabalho, que ele logo regressará para vigiá-los. Julgando ter cumprido a exigência de seus carcereiros, o nibelungo exige que o deixem ir, e que lhe devolvam o Tarnhelm. Loge diz que o elmo também faz parte do preço, e junta-o ao tesouro. Mais uma vez indignado, Alberich, no entanto, torna a ponderar, supondo que o mesmo que lhe confeccionara o artefato (Mime) far-lhe-á outro igual.

Alberich exige novamente que o libertem. Loge pergunta a Wotan se pode soltá-lo, ao que o outro responde que ainda falta o anel, que o gnomo também deve entregar. Ante a alusão de perder o anel, fonte de todo o seu poder, Alberich sobressalta-se: “A vida, mas não o anel!” Wotan replica, autoritário: “Eu quero o anel; quanto à tua vida, faz dela o que quiseres!” Desesperado, Alberich grita que o anel é tão próprio dele o quanto o são as partes do seu corpo.

Com iracunda veemência, Wotan acusa: “Chamas o anel de ‘tua propriedade’. Estás variando, desprezível gnomo? Pergunta às Filhas do Reno se elas de bom grado te ofereceram o ouro!” Alberich vocifera, ocultando uma interna súplica, pelo que tenta manter seu tom de exigência, expondo argumentos que não comovem nem convencem Wotan, que, por fim, arranca-lhe o anel da mão, à força. Alberich emite um grito de desespero, após o que profere um lamento arrasado, ao passo que Wotan exprime seu triunfo. Loge torna a perguntar a Wotan se pode libertá-lo. Wotan consente. Após ser desamarrado por Loge, que, ironicamente, o declara livre, o nibelungo, no auge do ódio, exclama: “Estou livre agora?” - emite um riso curto e furioso - “Realmente livre? Pois eis a vós minha primeira saudação de homem livre: Assim como por maldição me foi útil, amaldiçoado esteja este anel!” Profere, então, a famosa e longa praga, pela qual determina a desgraça a todo aquele que venha a possuir o anel, até que o mesmo “volte à sua mão”. Vai-se embora, a correr. Dirigindo-se a Wotan, Loge faz uma lacônica referência à maldição de Alberich. Wotan responde com indiferença. Olhando à distância, Loge informa que os gigantes estão chegando, com Freia.

À medida em que a névoa se dispersa, aparecem Froh, Donner e Fricka, que vêm ao encontro dos recém chegados, ansiosos por saber como se haviam saído. Wotan tranqüiliza-os, mostrando o tesouro que libertará Freia. Donner comenta a aproximação dos esperados, e Froh, num belíssimo andamento melódico, exprime seu contentamento: “Que adorável ar volta a soprar sobre nós! Deleitosa sensação que invade os sentidos! Trágico seria a todos nós ficarmos para sempre apartados da juventude eterna e isenta de infortúnios, que nos concede o prazer jubiloso.” Clareia-se, aos poucos, o ambiente.

Chegam Fasolt e Fafner, trazendo Freia. Fricka tenta aproximar-se da irmã, mas é detida por Fasolt, que adverte-a sobre a condição ainda cativa da jovem deusa, pois ainda não foi pago o resgate. Wotan esclarece os gigantes, indicando o tesouro: “Eis aí o resgate. Seja, pois, devolvida Freia.” Fasolt, que, como sabemos, é apaixonado por ela, dirige-se a Wotan e, com tristeza, lembra ao deus o quanto lhe será penoso renunciá-la. Diz que, para esquecê-la, será preciso que o tesouro - isto é, a prenda que a substitui - seja empilhado ante a jovem, até que ele, Fasolt, não mais a veja. Wotan ordena que assim se faça.

Os dois gigantes fincam suas respectivas clavas ao solo, a cada lado de Freia. Wotan ordena aos outros que façam o trabalho, “demasiado repugnante para ele próprio”. Começa a deposição do tesouro, por Loge, que pede ajuda a Froh, passando ambos à desagradável tarefa, acompanhada de incômodas intervenções de Fafner, o qual acha que “aqui e ali” o acúmulo está mal compactado. Loge o repele, com impaciência, mas o gigante continua a exigir mais coesão. O trabalho é entremeado de comentários indignados de Wotam, Fricka e Donner. Este último quase provoca Fafner a uma briga, mas Wotan intervém, observando que, segundo parece, o acúmulo já perfaz a altura de Freia. Fafner diz que os cabelos da deusa “ainda brilham”, e exige o Tarnhelm para ocultá-los. Loge tenta argumentar, porém Wotan ordena a entrega do artefato. Após arremessar o elmo sobre o tesouro, Loge diz aos gigantes que o trabalho está feito. Fasolt, em seu peculiar sentimentalismo, lamenta-se ainda pela perda de Freia. “Tenho mesmo que deixá-la?” E, num súbito arroubo de paixão, percebe que ainda vê “o raiar dos olhos” de sua amada. Afirma que não a deixará enquanto ainda o veja. Fafner exige o fechamento da lacuna pela qual seu irmão enxerga aquele brilho. Loge argumenta que “já foi tudo entregue”. Fafner discorda: “Não, meu caro! Na mão de Wotan reluz ainda um dourado anel!”

Ante a hipótese de privar-se do anel, Wotan, reage, indignado. Loge tenta contemporizar, dizendo aos gigantes que o anel pertence às Filhas do Reno, a quem Wotan o devolveria. Num misto de indignação e sarcasmo, Wotan ridiculariza o argumento de Loge, dizendo que o anel lhe pertence, uma vez que o obtivera com dificuldade. Todos tentam, em súplicas, convencê-lo a abrir mão do anel, sem o que Freia permanecerá em poder dos gigantes. Wotan é categórico: “Deixai-me! Não cederei o anel!” De repente, ouvimos um forte, grave e profundo acento da orquestra, anunciando o que segue: após novo escurecimento da cena, emerge, de uma fenda na rocha, uma luz azulada, em meio à qual surge, a meio corpo, Erda, uma forma feminina de aspecto nobre, envolta em sua basta cabeleira negra. (Esta misteriosa personagem é - como veremos a seguir, e em próximas passagens da Tetralogia - a “mulher original”, uma espécie de “mãe universal”, detentora de todo o conhecimento e sabedoria, chamada às vezes de “Deusa da Terra”, pois vive nas profundezas, num eterno sono, em cujos sonhos acumula conhecimento. Sua existência “subterrânea” talvez seja uma representação simbólica do inconsciente, que tudo absorve e guarda; ou, mais amplamente, um símbolo do contexto espiritual do homem, ou mesmo do Universo, ao(s) qual(is) o inconsciente está ligado.

O despertar de Erda, isto é, o momento em que ela acorda e emerge à superfície, parece uma alusão aos raros momentos em que, altamente inspirada, nossa consciência percebe elementos profundos, que ordinariamente ignoramos, embora sejam inerentes a nosso espírito.) Num lento e sugestivo andamento melódico, Erda dirige-se a Wotan, numa firme e zelosa advertência: “Cede, Wotan, cede! Foge à maldição do anel!” A “mulher primeva”, sempre no mesmo tom profundo, avisa a Wotan que o anel lhe levaria à ruína “tenebrosa e irremissível”. Impressionado, Wotan dirige-se a ela: “Quem és tu, admoestadora mulher?” Em resposta, Erda expõe a grandeza de seus atributos: “Enxergo tudo o que foi, o que é e o que está para ser".

A mulher primordial do Eterno Mundo é quem adverte o teu espírito. Três filhas primevas que meu ventre gerou, as Nornas, costumam dizer-te à noite o que eu vejo. Porém, hoje, um grande perigo obrigou-me a vir-te em pessoa. Ouve! Ouve! Ouve! Tudo o que existe acaba. Um dia sombrio se abaterá sobre os deuses: eu te aconselho: renuncia ao anel!” Enquanto ela imerge lentamente, de volta ao subterrâneo, Wotan, tocado pelas profundas palavras de Erda, pede-lhe que fique e lhe conceda mais ensinamentos. Erda, concluindo sua imersão, responde que basta a Wotan o aviso que ela acaba de lhe dar, e que ele reflita “com ânsia e temor”. Acaba de imergir completamente, e Wotan tenta ainda segui-la, ao que é contido por Fricka e Froh. Donner, por sua vez, percebendo que a decisão está consumada, dirige-se aos gigantes, avisando-lhes que o anel lhes será entregue. Todos fitam Wotan, que, após ficar pensativo por momentos, chama Freia para junto de si, e, aos gigantes: “Eis vosso anel!” E lança a jóia sobre o tesouro. Fasolt e Fafner libertam Freia, que corre a abraçar os outros deuses. Fafner, tomando a iniciativa, abre um enorme saco, no qual começa a introduzir as peças do tesouro. Fasolt, percebendo que o irmão está armazenando para si uma parcela exagerada, o que resultaria numa partilha desigual, e que ele, Fasolt, ficaria em prejuízo, reclama com Fafner, dizendo que aquilo não está direito.

Fafner, arrogante, responde com um argumento absurdo: “És um janota, a quem me foi difícil convencer a aceitar o ouro em lugar da garota. Se ficasses com ela, não a dividirias com ninguém; é justo, portanto, que seja minha a maior parte do tesouro.” Indignado, Fasolt pede aos deuses que atuem como árbitros daquela questão. Wotan dá-lhe as costas, com desprezo, e Loge tem a idéia de sugerir a Fasolt que fique com o anel e deixe o resto todo para Fafner. Fasolt, então, exige o anel, alegando que a jóia corresponde aos olhos de Freia. Fafner, no entanto, não quer ceder o anel, e os dois irmãos passam da discussão à luta corporal; Fasolt toma o anel à força, mas Fafner dá-lhe um golpe mortal com a clava.

Fasolt cai por terra, e, enquanto ainda agoniza, Fafner retira-lhe do dedo o anel, e diz, com desprezo: “Agora sonha com a tua Freia; no anel nunca mais porás a mão”. Fasolt morre, e enquanto Fafner conclui o ensacamento do tesouro, ocorre uma forte comoção entre os deuses, após a cena de fraticídio que acabaram e presenciar. Wotan entende, então, a força da maldição de Alberich, que acabara de apresentar seu primeiro efeito. Fricka procura acalmar Wotan, e Donner, também abalado, decide convocar suas servas, as nuvens, para provocar uma tempestade que purifique o céu e o ambiente. Após subir a uma rocha, brande seu martelo e profere a célebre invocação: “He da! He da! He do! A mim, nevoeiro! Vapores, a mim! Donner, vosso amo, convoca-vos!” .

Donner conclui suas ordens, e, com um sonoro golpe do martelo sobre a rocha, brada a Froh: “Aqui, irmão! Mostra o caminho da ponte!” Faz-se o arco-íris, ao qual Froh convida os demais a passar, rumo ao castelo, agora pronto para ser ocupado. Wotan pronuncia uma longa saudação à fortaleza, e fala a Fricka, como um cônjuge cordial: “Vem, mulher, viver comigo no ‘Walhall’” (ou “Walhalla”, nome que Wotan acaba de dar a seu castelo). Fricka indaga-lhe pelo significado de tal nome. Wotan responde que o sentido daquele termo “será dado a ela pela coragem de Wotan, que soube inspirá-lo, vitoriosa sobre o medo” (é, sem dúvida, uma explicação enigmática). Entrementes, Loge os acompanha e observa à distância, fazendo um comentário crítico. (Por ser mais realista que seus companheiros, Loge não incide no erro deles, que tendem a ocultar de si mesmos a série de fatores e eventos negativos ou indignos, pelos quais tornara-se possível a conjuntura desse momento, que tranqüiliza e alegra a todos.) Diz o Deus do Fogo: “Envergonha-me cooperar com eles. Sinto o belo desejo de transformar-me de novo na chama tremulante, para consumir estes que um dia puseram-me entre cegos para que eu acabasse como um parvo. Assim os deuses seriam mais divinos!

Entretanto, faz-se ouvir, das profundezas, o lamento das Filhas do Reno, por seu Ouro perdido. Wotan pergunta a Loge o que é aquilo. Loge esclarece, e Wotan, irritado, ordena-lhe que as repreenda. O outro obedece, sugerindo às jovens um ridícula compensação: “Se vosso Ouro não mais brilha, Wotan quer que, a partir de agora, fiqueis felizes com o novo esplendor dos deuses!” Os deuses riem. As ondinas reiteram seu lamento, ao passo que os deuses continuam a caminhar sobre a ponte. Cai o pano.

Fontes:

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Rodrigo Volponi Leal (1979)

Nome: Rodrigo Volponi Leal
Apelido: Volponi, Volps, Volpa e variantes
Idade: 28 (05/09/79)
Time: Timão (é que nem gonorréia: passa de pai pra filho) e Linense (o Elefante da Noroeste)
Formação: 4-4-2 (e Publicidade na ECA)
Ocupação, por obrigação: webdesigner/webmaster/webslave
Ocupação, por interesse: testador de bugs do SimCity, pseudo-tocador de violão, mas prefiro ocupar mesmo é a rede (não a web, a de dormir).
Livro de cabeceira: Pequeno Príncipe. Veríssimo, Veríssimo, Veríssimo. Guimarães. Rubem Fonseca, Mário Prata, João Ubaldo. Saramago, Cortázar, Calvino.
Influências: Veríssimo, Jorge Ben, BB King, Natural Born Killers, O Mistério do Cinco Estrelas, Papai Papudo, Corra Lola, Corra, There’s Something About Mary. South Park, Picapau. Doce de abóbora da vovó.
Se você fosse Presidente da República, qual seria sua primeira medida?
90 de busto, 60 de cintura e 90 de quadril.
Se você fosse chefe do Comando Vermelho, qual seria sua primeira medida?
Dar uma variada nas cores do Comando. Monocromatismo dá sono. Poderíamos montar uma bela paleta de cores, mesclando a impetuosidade do vermelho, a força do preto, a leveza do…

Volponi por Rafael da Paixão Uyeda:
Esse é o cara. Se tudo vai mal, ele vai bem. Se tá triste, fica alegre. O coisa ruim é pra frentex (e no cabelo só gourmex). Incomunmente inteligente. Às vezes a inteligência para em um copo americano de cerveja, mas ninguém é de ferro! Sorriso largo, jeito bonachão (sempre quis dizer isso de alguém), é um cara alegre, um rapaz alegre (sem versões em inglês). Volponi, inteligente alegria que vai por aí ….

Volponi por Paulo Coelho:
O Volpa é o nosso candidato a integrante do STOMP. Às vezes, tenho certeza que batucar é para ele tão necessário quanto o ar para nós. E como em qualquer batuqueiro que se preze, sobra agitação e empolgação. Mesmo a tristeza, quando aparece, fica menos séria. Esse nosso amigo é um batuque animado e inquieto, muito mais interessante do que samba enredo e… Ô… Ei…. Especialmente amarrado na cadeira! Quer parar de batucar e me deixar escrever?

Volponi por Volponi
Que coisa ! Sei lá como eu sou. A gente é a gente e pronto, certo? Então… só conseguimos saber como é uma pessoa (e nós mesmos!) por partes. Sempre em pedacinhos, sempre de uma forma fragmentada. Não tente reunir esses cacos: o mosaico é sempre mais belo que o vidro plano, transparente e sem graça. Eu também sou vários pedacinhos ao mesmo tempo: às vezes, um cara que corre pro interior (Lins) pra curtir um sossego, os amigos e um churrasco. Outras vezes, um cara ansioso que não pára de se mexer (e de batucar, e de falar, e de escrever, e etcéteras…). Outras vezes ainda, um cara que quer só ficar no seu cantinho, curtindo um Guimarães na buena. Ou South Park. Ou discutindo a força da mídia. Ou querendo ser radical contra conformismos e hipocrisias. Outras vezes sendo conformado e hipócrita. Mas o que importa é ir tocando o barco pra frente, de uma maneira leve e aproveitando o que a vida tem de bom ou ruim. Tá, tudo isso é um papo meio chato, meio babaca, mas pôxa! Vamos rir e chorar (principalmente rir) à vontade…

Fonte:
http://www.cronistasreunidos.com.br/quemsomos/volponi/

Rodrigo Volponi Leal (Confecções Saxofone)

Esta é uma história verídica, sobre uma loja que realmente existe, chamada “Confecções Saxofone Ltda”. Só o resto é que é fictício, claro. Ou você consegue imaginar como esse nome ridículo foi escolhido para uma lojinha? Pura obra de ficção.

Digamos que o nosso personagem se chame Carlos. Não, Lucas. Melhor: Lálio. Isso, Lálio é sonoro, aliterante, perfeito. Vejamos. Ele tem mulher, dois filhos, talvez um cachorro. E é desempregado. Por que desempregado? Bom, já que estamos imaginando uma história do dono das “Confecções Saxofone”, nada mais óbvio de que esse cara tem que ser um desempregado para escolher um nome desses. Portanto, desempregado. Ou artista. Melhor: desempregado e aspirante a artista. Aspirante a artista é quase o mesmo que desempregado, mas você entende a diferença semântica entre o que ele acha que é e o que a mulher acha dele.

Ótimo, agora já temos até um começo de trama: a mulher o chama de desempregado. E ele sempre retruca dizendo que é um aspirante a artista, que ela não entende, que ele um dia vai fazer sucesso. “Não existe tocador de timba melhor do que eu num raio de 2 quilômetros!”, dizia ele. Temos que explicar a você, leitor, para que esta história faça um pouco de sentido, que Lálio não é apenas o tocador de timba do grupo, que se chama, vejamos, Ótica do Samba. Lálio é um aspirante a músico. Por isso, além de timba, ele toca cavaquinho, pandeiro e até bateria, quando os vizinhos estão viajando. Sua casa respira música. Bom, pelo menos o Lálio respira música, porque sua mulher respira o cheiro de cachaça e cigarro da roupa dele.

— Lálio, seu vagabundo! Estava de novo no Knex’s Bar com “aqueles” amigos ?
— Calma, querida, estava só ensaiando para o novo sucesso do Ótica do Samba.
— Sucesso, Ótica do Samba, cachaça… você pensa que eu sou idiota? Precisamos de sustento, e a grana que veio do falecido ja-já acaba. Quando é que vai começar a trabalhar, hein?
— Vai dar certo, desta vez vai dar certo.
— Sei, sei… como aquela vez, daquele coral idiota, como é que se chamava?
— Cobra Coral.
— E olha o nome, meu Deus, olha o nome!
— Você queria o quê? Era o coral de ex-recrutas do Batalhão! E a gente até cantava afinadinho…

Um dia, o grupo se desfez. O Carlinhos, que comandava o bumbão, desistiu. Foi vender Bíblia no centro. Espírita. Justo ele, que era primo do dono do Knex’s, o boteco dos ensaios. Agora não haveria novos ensaios. E o bairro da Suprema Caixeta não tinha mais o Ótica do Samba como grupo oficial.

Lálio sentia-se desolado. Como poderia sair dessa? Agora ele se via sem trabalho, sem grupo de pagode, sem desconto no bar e sem o maço de cigarros, que ele perdeu. Tomou uma atitude inesperada. “Vou comprar cigarros”. E foi. Depois do décimo-terceiro cigarro, veio-lhe a idéia: comprar um saxofone. Um saxofone dourado, reluzente, o som dos céus. Era o instrumento que sempre desejara tocar. Um saxofone seria o símbolo do prestígio que coroaria sua carreira de aspirante a artista. E pensar que ele tinha começado lá no Knex’s, batucando caixa de fósforo recheada de pedrinhas. Primeiro o pessoal do grupo tentou agredi-lo, mas viram que não adiantaria e deixou Lálio fazer parte, contanto que ele dançasse no ritmo. Foi difícil, mas ele conseguiu. E o saxofone deixaria todo mundo morrendo de inveja do seu talento.

Correu até a mulher para contar a brilhante idéia. Ela o esperava carinhosamente, de braços cruzados e com um enorme martelo de amaciar bife na mão esquerda. Por uma estranha razão que Lálio não compreendeu, a mulher não gostou da proposta. Para ela, um saxofone seria um absurdo, e essa “palhaçada” só faria sentido na cabeça de alguém que era, numa tradução livre de sua fala, um “bêbado desempregado que chega em casa cheirando a cigarro e que não quer nada da vida, seu vagabundo”. Ela tinha uma idéia muito, muito melhor, mais pé no chão. Abriria uma lojinha de roupas para gatos, copiando a madame da revista “Excêntricos Per Si” que tinha um siamês vestido de marinheiro. E eles ficariam ricos, e Lálio poderia ajudar na loja como um vendedor atencioso, limpo e cheiroso, bem diferente desse músico de “um quarto de tigela”.

— Mas Martifestana - era esse o nome da mulher -, meu amor !!! Que idéia absurda é essa? Roupa pra gato?
— Melhor que gastar o dinheiro com um saxofone, pra nada!
— E quem é que quer vestir gato?
— Ué, não comida pra gato? Não tem cama pra gato? Não tem médico pra gato? Só falta roupa e cabeleireiro…

No fim, não foi uma coisa nem outra. Martifestana viu que os únicos possíveis clientes roubavam o bife da cozinha, e esses não tinham dono algum para vesti-los. Ainda mais com a última tendência da moda. A “Miau Confecções” não saiu do papel. Mas o saxofone saiu, graças ao empenho de Lálio. Está lá, na plaquinha na frente da garagem da casa. “Confecções Saxofone”, onde Lálio finalmente aprendeu as diferenças entre “robe” e “bustiê”.

Fonte:
publicado em 17/07/2001 em
http://www.cronistasreunidos.com.br/volponi/2001/07/confeccoes-saxofone/

Paulo Coelho (Como Andar de Bicicleta)

- Numa boa, eu já te falei o que é isso.
- O que?
- Estamos ficando velhos.
- Isso é bobagem. Temos só 30 anos. Não é o suficiente para causar todo esse estrago. Ou é?
- É isso sim. Para sobrevivermos aos 40 temos que nos mexer já.
- E vamos fazer o que?
- Exercício. Chega de ser sedentário.
- Putz, não tem outro jeito não?
- Que outro jeito?
- Sei lá. Um comprimido, uma massagem, ou uma injeção que seja.
- Caramba. Você prefere tomar uma injeção do que fazer exercício?
- Claro. Todo mundo. Você vê, de graça, até injeção na testa, mas nada de correr na esteira…
- Faz sentido.
- Todo.
- Mas não tem jeito não. Nosso problema só se resolve com exercício. Escolhe um aí.
- Ah, sei lá. Qual que tem?
- Como qual que tem? Você quer o que? Um cardápio de exercícios?
- É assim que entendo o mundo. Cardápios ou catálogos.
- Bem, então vai ter que aprender uma coisa ou outra agora. Não se precisa de cardápio para fazer exercício, está em nossa natureza.
- Cara, numa boa, minha ligação mais próxima com a natureza é o tabaco do meu charuto.
- Ok. Vou facilitar pra você. Você pode correr.
- Correr de que? Pra onde?
- Só correr.
- Mas por qual motivo?
- Pra fazer exercício.
- Não faz sentido. Se for correr tem que ser para algum lugar.
- Não precisa. Você pode correr na esteira.
- Ah sim, agora faz sentido. Vou ficar me matando de correr para não sair do lugar.
- Ta bom , ta bom. Então nada.
- Nada? Ótimo, isso eu sei fazer bem.
- Palhaço. Natação. É o exercício mais completo que existe.
- Ah, eu não acredito em natação. Acho que não é exercício.
- Como assim?
- Não acredito num exercício que não te faz suar.
- Mas você está dentro da água, como poderia suar.
- Não me importa. Só é exercício quando sua. Isso eu sei. Vi na ESPN.
- Falaram isso na ESPN?
- Não. Mas é a única fonte que lembrei.
- Numa boa. Chega.
- Ótimo, paramos com essa besteira então.
- Paramos vírgula. Você parou. Eu vou fazer exercício.
- Pó.
- Pó o que?
- Achei que estávamos juntos nessa.
- Nessa o quê?
- Ah, nessa. De morrer com 40.
- Não, eu tenho muito o que fazer ainda depois dos 40.
- O que por exemplo?
- Escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho…
- Blé. Bando de coisa sem graça.
- Pagar mais barato por ser idoso.
- Hummm. Verdade.
- É.
- Me convenceu. Me ajuda aí. Eu faço exercício. Faço o que você fizer. É só falar.
- Vou andar de bicicleta.
- Ah, isso eu não posso. Já faz muito tempo que não ando. Esqueci como faz. Melhor deixar pra lá.

Fonte:
Disponível em http://www.cronistasreunidos.com.br/paulocoelho/arquivo.htm
acesso em 23 de fevereiro de 2008.

Larissa Evelyn de Oliveira (Nossas Lendas, Nossos Medos)


Nasceu no dia 01/10/94 em Taquarituba, SP. Gosta muito de ler e é “freguesa de carteirinha” da Biblioteca Municipal. Seu gosto pela leitura começou desde cedo e aos 10 anos já tinha lido diversos livros de Richard Bach. Ela adora Hemingway, porém, lê também escritores nacionais. Já fez alguns cursos de teatro e de pintura em telas. Gosta de ler e escrever poesias. Parece que em suas veias corre um sangue literário, pois ela é irmã da jovem escritora Ana Paula de Cássia, também colunista no Sorocult.com. Seu passatempo predileto é desenhar, o que ela faz com grande desenvoltura e prazer.
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Nossas Lendas, Nossos Medos

Eu não deveria mas vou te contá
Pois com toda certeza
Nessa história você não vai acreditá
Foi numa noite de rara de beleza
Depois de um barulho algo fui avistá
O bicho era feio, assustei-me com sua braveza
E de tanto medo comecei a gaguejá
Foi então que percebi que aquela criatura era o famoso boi-tá-tá

Sai dali desesperada
E o que aconteceu vou contá para você
Ao passar por uma encruzilhada
Minhas pernas bambearam e eu não consegui corrê
Seitei-me e o que vi deixou-me mais apavorada
Minha voz se calou, nada eu consegui dizê
Pois ali do meu lado estava o danado do Saci-pererê

Depois disso acho até que desmaiei
E já era madrugada quando eu acordei
Tentei andá, pois dali eu teria que ir embora
O perigo era grande, tinha que sair dali agora
Pois atrás de uma árvore, olhando para mim, eu vi uma Caipora

Fiquei chorando e nem imaginei que o meu susto derradeiro
Fosse um susto tão bom, pois avistei aquele cavaleiro
Que ao passar por mim disse: vamos, pois eu não sou um menino arteiro
Eu sou apenas um garoto do bem,
sou conhecido como o Negrinho do Pastoreiro

Fonte:
Sorocultinho. Disponível em
http://www.sorocult.com/

Joaquim Evónio (1938)

Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos nasceu na Freguesia de Santa Maria Maior, Funchal, Madeira, a 3 de Setembro de 1938.

- Licenciado em Ciências Militares - Coronel de Infantaria na situação de Reforma Extraordinária. -Licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina pela UT de Lisboa.
- Auditor do Curso de Defesa Nacional - CDN 83
- Certificado de "Proficiency in English" - British Institute - Lisboa.
- Aposentado como Assessor Principal do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC).
- Condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma
- Grau de Comendador da Ordem Heráldica da Paz Universal (Brasil).
- Medalha de Ouro Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Melo, do Parlamento Mundial para Segurança e Paz, Palermo.
- Honorary Knight of the Royal Order of the Lion of Rwanda (atribuída pelo Rei KIGEL V).

- Gera, desde Fev 04, a "Varanda das Estrelícias - Uma Ponte sobre o Atlântico" seu site - www.joaquimevonio.com - onde promove a difusão da língua e cultura lusófonas, (artes plásticas, poesia e prosa).

• Associações a que pertence:
- Associação Portuguesa de Escritores (APE)
- Associação Cultural SOL XXI (extinta recentemente)
- Instituto Açoriano de Cultura (IAC)
- Sócio honorário da Ordem Nacional de Escritores do Brasil (ONE)
- Associação Escadote Cultural
- Associação de Música e Artes dos Arquipélagos (A.M.i.M.A.R)
- Associação de ex-Auditores dos Cursos de Defesa Nacional
- Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA)
- Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES)
- Núcleo de Apoio ao Centro Desportivo Universitário de Lisboa (NACDUL)

• Publicações:
POEMAS

ESBOÇOS PESSOANOS - Poemas sobre desenhos de José Jorge Soares - Ceres Editora, Lda., Ponte de Lima, 1994.
• Poesia:

CONTOS:
SOMBRA EM CLAVE DE SOL , Universitária Editora Lda., Lisboa, 1999. Desenhos de José Jorge Soares.

PREFÁCIOS:
MARCELLO E SPÍNOLA - A RUPTURA (1.ª edição), Manuel Bernardo, Edições Margem, Lisboa, 1994.

MATA-COUROS OU AS "GUERRAS" DO CAPITÃO AGOSTINHO, Carlos Gueifão, Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

A ÚLTIMA ESTAÇÃO - Simone Maia, Gráfica Expressão, S. Paulo, Brasil - Copyright 2004 by Simone Maia, Fundação Biblioteca Nacional sob o n.º 332 218

MARGENS DO ATLÂNTICO - (Antologia internacional) - PROJECTO ABRALI - Curitiba, Brasil, Março 2006

ENSAIOS:
A FUNÇÃO UNIFICADORA DO CONFLITO Trabalho apresentado no âmbito do Curso de Sociologia (1.º ano, pós-graduação, 1.º Semestre) na disciplina "História dos Conflitos Sociais", Universidade Livre de Lisboa - 1981

A AZENHA E AS TECNOLOGIAS TRADICIONAIS Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "Tecnologias Tradicionais Peninsulares", regida pelo Prof. Doutor João Pereira Neto, 1983/84

DIÁRIO DE CAMPO - As Azenhas do Rio Boição Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "Planeamento de Trabalhos de Campo em Antropologia" regida pelo Prof. Manuel Alfredo Morais Martins, 1983/84

O SISTEMA DE PARENTESCO COMO FACTOR DE SOBREVIVÊNCIA Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, " Sistemas de Parentesco " regida pelo Prof. Manuel Alfredo Morais Martins, 1983/84 A

SOCIOBIOLOGIA E O SISTEMA DE CRENÇAS Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "O modelo biológico", regida pelo Prof. Dr. Luís E. Franco Ré, 1983/84

LIVROS COLETIVOS:
-INDIVIDUALISMO E SOLIDARIEDADE HOJE - compilação dos trabalhos premiados nos VI Jogos Florais, edição da Junta de Freguesia de Amora, 1994.

-CÂNTICO EM HONRA DE MIGUEL TORGA - Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra - Coimbra, 1996.

-ANTOLOGIA DE CONTOS, Edição SOL XXI, Carcavelos, 1997.

-FLORILÉGIO DE NATAL, pelos poetas da Tertúlia "Rio de Prata", Universitária Editora Lda., edições de 1997, 1998 e 1999.

100 ANOS - FEDERICO GARCÍA LORCA - Antologia, Homenagem dos Poetas portugueses, Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

-RIMBAUD - Révue Semestriel Internacional de Création Littéraire, Editeur John Donne & Cie., France, 1998.

-Homenagem a FERREIRA DE CASTRO, pelos escritores da Tertúlia "Rio de Prata", Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

-GABRAVO - colectânea - ARTDOMUS, S. Pedro de Sintra, 2002

-NA LIBERDADE - Antologia Poética - 30 anos - 25 Abril - Coordenadores: Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho - Garça editores.

-Homenagem a TEIXEIRA de PASCOAES - pelos escritores da Tertúlia "Rio de Prata" e convidados - Execução Gráfica: E. Santos - Artes Gráficas, Lda.

Antologia de Escritas 2, Organização de José Félix, Impressão Quilate, Lda.

Antologia de Escritas 3, (Homenagem ao Poeta José António Gonçalves), Organização de José Félix, Impressão Quilate, Lda.

-CASANOVA Ferreira - A Marecida Homenagem - Uma filha convida uma vintena de Amigos a depor sobre o Homem. O Livro surge de surpresa no almoço do seu 75.º. aniversário.

-CANTOS DO MUNDO - Antologia Literária Internacional - Versos e Prosa - -PROJECTO ABRALI, Curitiba, Brasil, Março 2006

-POETÂNEA 5, Coordenação de Julião Bernardes, 1.ª edição, Setembro de 2006)

COLABORAÇÃO:
em poesia e/ou prosa nas revistas:
SOL XXI, VIOLA DELTA, ATLÂNTIDA, GAZETA DE POESIA, ARTES & ARTES e LÍMIA.

Recensões e apresentações de obras literárias:

Diversas Revisões tipográficas:

Diversas obras literárias e textos avulsos em poesia e prosa

Fonte:
www.sorocult.com

Joaquim Evónio (Carta-Poema do Amor Universal)

foto de Martos Ribeiro

Não invoque meus poderes soberanos... depois não os poderá controlar... nem a eles, nem aos efeitos que provocam sobre nós!

Deixe-os descansar na concha em que dormem desde épocas remotas...

Vamos brindar aos tempos antigos em que nossas almas desnudas passeavam por entre as flores do paraíso... e os corações revoltos ansiavam asas para ganharem eternidades...

Momentos em que o mais ligeiro e efêmero afago epidérmico era um vulcão de primavera florida, transpondo almas e corações para o apex do universo...; numa transmutação que já não se sabia onde começava ou acabava, exatamente porque não tinha princípio nem fim...

Também não tinha morada, era mudança em andamento perpétuo, órbita estelar em movimento, beijos caídos do espaço e recolhidos nas taças quentes dos seios sequiosos...

Vôos sem pássaros ou borboletas dentro, apenas harmonia ou música sem pauta ou instrumento, melodia ou som flutuante sem apoio material, beijo sem lábios ondulantes caído nas mãos seduzidas duma amante amada para sempre abraçada ao seu amor...

Sem braços, sem corpo, só alma... chuva na ausência de tempestade sobre o sensível orvalho brotante em gotas de gineceu... à espera do fecundo néctar vindo do sidério, puro e filtrado pelas nuvens caprichosas de todos os céus, para descansar finalmente naquelas pétalas abertas, quase receosas mas abertas, altar iluminado à espera do amor...

Aproveita o silêncio da campina e faz dele o sino desta noite, bebamos o maná que brota de nós e trocamos de forma só nossa e profunda, transforma toda a canção em emblema de amor... E voa... Voemos como prosélitos que somos, por entre as nuvens de flocos brancos ou cinzentos, qualquer côr serve à limpidez dos sentimentos que nos enlevam e transportam por esse espaço etéreo...

Não fales, deixa selar de beijos esses lábios cansados da vida de mágoas, guardá-los num recôndito espaço do meu coração grande e forte, ali ficarão para sempre como recordação de toda a ternura da vida, até que a vida dure...

E enquanto formos capazes de voar, haverá juventude nestes corações ágeis e turbulentos, criadores e aventureiros, navios nos desertos dos ares ou gigantes contra todas as agruras que se lhes deparem....

Navegadores somos para sempre, objetivos temos e os buscamos com ardor, havemos de descobrir todas as terras por descobrir, e os céus também, e os espaços... e o que para além deles porventura ficar...

Somos os argonautas da amanhã porque já de ontem viemos e construímos um ninho de amor donde nasceram estes pássaros viandantes capazes de descortinar futuros inesperados e de lançar olhares de fogo sobre as madrugadas receosas de amanhecer para os corações apaixonados...

Viajaremos à vela ou apenas impulsionados pelo vento do amor... chegaremos ao nosso Shangri-lá e aí repousaremos e meditaremos para continuar a viagem eterna a que nos propusemos a bem da humanidade que acreditou em nós!...

Lá em baixo, aquela aldeiazinha é cada vez mais pequena, liliputiana, quase tão ridícula como as disputas dos homens, e aqui vamos nós, supernos e viajantes, nautas de hoje e de sempre, espargindo pelo universo o que somos e o que queremos...

A missão é grande mas ao nosso alcance, precisa de força, de muita força, daquela que só as sinergias do amor podem recolher para distribuir por todos quantos dela precisam para nos acompanharem nesta navegação de rumo certo e decidido!

Deram-se as mãos, entrelaçaram-se os corações, a humanidade ficou mais forte! Que poderá recear? Está mais do que nunca pronta para enfrentar o futuro. Este é o desconhecido e o desconhecido é o amanhã. Para lá chegar é indispensável ter aprendido o ontem e dissecado o hoje... Temos a certeza, porque não estamos sós, de que lá chegaremos....

O nosso objetivo, qualquer forma que revista do ponto de vista formal, só pode ter um nome, pois foi prosseguido e consolidado por nós. Esse nome só pode ser VITÓRIA!
Março de 2006

Fonte:
Site Varanda das Estrelícias
http://www.joaquimevonio.com/

Douglas Lara (Uma Reserva no Meio da Noite)

Acordei recordando claramente de um sonho que tive. Nele, recebi um telefonema de uma mulher desejando reservar uma mesa. Seria a primeira vez que ela iria a um de nossos bailes e sempre que isto acontece damos atendimento especial. Este atendimento poderá resultar num novo/a sócio/a. Cuidadosamente, disse a ela que não sabia se ainda tínhamos mesas disponíveis, mas que, com certeza, daríamos um jeito. Na realidade, eu estava preocupadíssimo porque não saberia se poderíamos acomodar uma mulher na festa. Sendo assim, procurei saber um pouco mais daquela senhora, fazendo algumas perguntas para obter mais detalhes.

Neste sábado especial do mês – afinal é dia do baile mensal do Clube da Amizade de Sorocaba – acordei recordando claramente de um sonho que tive. Nele, recebi um telefonema de uma mulher desejando reservar uma mesa. Seria a primeira vez que ela iria a um de nossos bailes e sempre que isto acontece damos atendimento especial. Este atendimento poderá resultar num novo/a sócio/a.

Cuidadosamente, disse a ela que não sabia se ainda tínhamos mesas disponíveis, mas que, com certeza, daríamos um jeito. Na realidade, eu estava preocupadíssimo porque não saberia se poderíamos acomodar uma mulher na festa. Sendo assim, procurei saber um pouco mais daquela senhora, fazendo algumas perguntas para obter mais detalhes.

- Você vem só ou acompanhada?

Ela, sem me dizer seu nome, respondeu:

- Gostaria de ir acompanhada do meu amor, só que ele é casado e num sábado não pode deixar a família para sair só à noite...

Pensei: aí tem treta. Então arrisquei:

- Se não tem a possibilidade de dançar com seu amor, venha com seu marido mesmo!

Sabia que estava sendo abusado, só que o diálogo no sonho era tão amigável que achei que poderia continuar sendo mais atrevido nas minhas perguntas, e, repentinamente, tentar lhe proporcionar um bom divertimento, mesmo que fosse com o marido. Então continuei:

- Senhora, caso não venha com o marido, pode dançar com um 'free-dancer'.

- Moço, chamou-me perguntando, o que é este tal de 'free-dancer'?

Expliquei-lhe que como existem alguns cavalheiros disponíveis para mulheres desacompanhadas no baile, para que estas não fiquem sem dançar.

- Moço, com jeito dúbio indagou-me, e isto não custa nada a mais?

Era óbvio ela perguntar sobre isso. Tudo se paga hoje em dia! Se bobear, daqui um tempo estará pagando para respirar. E ela precisava saber o que estava comprando, senão depois agüenta o Código de Defesa do Consumidor! E ela tinha o direito de saber. Mas o que mais me intrigava era tudo isso num sonho! Deve ser o subconsciente. Disse a ela que no preço do convite já estava incluído o 'free-dancer', aproveitando para informar que ela podia dançar a vontade sem limite de contra-danças.

Mas minha curiosidade era forte e resolvi sair da passividade e perguntar, afinal telefone sempre nos dá mais coragem, não estamos olhando para o rosto da pessoa mesmo!

- Quando a senhora beija, costuma beijar de olhos fechados ou abertos?

Ela mudou o tom de voz na mesma hora e voltou à formalidade. Parou de chamar de moço. Deve ter pensado “respeito é bom e eu gosto, não acha que tais perguntas devem ser feitas apenas quando temos intimidade?”. Fiquei sem graça e pedi que esquecesse esta questão, apenas perguntei por perguntar.

Decidi ser um pouco mais objetivo e menos abusado nas perguntas.

- Senhora, por gentileza, a mesa e convites são para quantas pessoas?

Ela, que deveria estar perdida até mesmo em saber o que queria, respondeu “ainda não sei”.

Esta venda dura de fazer!!! Parti para outra pergunta, tentando direcionar a conversa e resolver o problema da dançarina.

- E a senhora costuma dançar de rosto colado?

- Lá vem o senhor novamente com perguntas inconvenientes!! Por quê? Neste baile não se pode dançar de rosto colado?

- Pode sim, desde que seja com respeito! – retruquei.

- Senhor, perguntou-me finalmente, por que tantas perguntas?

- A senhora está desde o início dizendo que gostaria de vir ao baile e dançar com seu amor, só que ele é casado! Estou apenas tentando acomodar uma situação que a maioria das pessoas que vem ao baile tem. Desculpe. Não vejo problema em a senhora beijar e dançar com olhos fechados. Não importa que seu parceiro não seja seu amor. Dance e beije de olhos fechados, imaginando estar dançando e beijando seu amado. Dá no mesmo!

Precisava terminar aquela conversa e desligar o telefone, então disse:

- Senhora, preciso desligar, pois tenho outro interessado esperando na outra linha. Pense e telefone mais tarde e diga qual foi a decisão. Terei o maior prazer em fazer a reserva.

Acordei com o telefone tocando. Atendi, ainda meio dormindo, pensando que seria a mulher novamente. Não era, não. Era um dos diretores: “Douglas, acorde e venha ajudar a preparar o clube para o baile de hoje à noite, estamos precisando de você”.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

O êxito do Código da Vinci (Umberto Eco)

Todos os dias vem parar em minhas mãos um novo comentário sobre O Código da Vinci, de Dan Brown. Se quiserem uma informação atualizada sobre todos os artigos a respeito do tema, basta visitar o site da Opus Dei. Podem confiar, mesmo se forem ateus. Quando muito - como veremos - a questão talvez seja por que o mundo católico se azafama tanto para arrasar o livro de Dan Brown; mas quando a parte católica explica que todas as informações que o livro contém são falsas, podem acreditar.

Que fique claro. O Código da Vinci é um romance, e como tal, teria direito de inventar o que quisesse. Além disso é escrito com habilidade e o lemos de um só fôlego. Nem é grave que o autor de início diga que o que nos conta é verdade histórica. Só faltava essa! O leitor profissional está acostumado a esses apelos narrativos à verdade, fazem parte do jogo ficcional. A encrenca começa quando percebemos que um grande número de leitores ocasionais acredita realmente nessa afirmação, da mesma forma que no teatro de marionetes siciliano os espectadores insultavam Gano de Maganza, o traidor.

Para desmontar a suposta veracidade histórica do livro, bastaria um artigo razoavelmente breve (e já andaram escrevendo uns ótimos) que diga duas coisas: a primeira é que todo o episódio de Jesus que se casa com Maria Madalena, de sua viagem à França, da fundação da dinastia merovíngia e do Priorado de Sion é tudo quinquilharia que já circulava há décadas numa pletora de livros e livrinhos para os devotos das ciências ocultas, desde aqueles de Gérard de Sède sobre Rennes- le-Chateau ao O Santo Graal e a linhagem sagrada de Baigent, Leigh e Lincoln.

Ora, que tudo isso contivesse uma longa série de lorotas já foi dito e demonstrado há um bom tempo. Além disso, parece que Baigent, Lincoln e Leigh ameaçaram (ou realmente iniciaram) uma ação judicial contra Brown, por plágio. Como assim? Se eu escrever uma biografia de Napoleão (narrando eventos reais), depois não posso processar por plágio alguém que tenha escrito outra biografia de Napoleão, ainda que romanceada, narrando os mesmos eventos históricos? Se eu fizer isso, então me queixo do roubo de uma originalíssima invenção minha (ou seja fantasia, ou lorota, como preferirem). Brown dissemina seu livro de inúmeros erros históricos, como aquele de ir buscar informações sobre Jesus (que a igreja teria censurado) nos pergaminhos do Mar Morto - os quais não falam nunca de Jesus, mas de assuntos hebraicos como os Essenes. É que Brown confunde os manuscritos do Mar Morto com aqueles de Nag Hammadi. Ora, acontece que a maioria dos livros que aparecem sobre o caso Brown, mesmo e especialmente aqueles bem feitos, para poder alcançar o número de páginas suficiente para fazer um livro, contam tudo o que Brown saqueou, tintim por tintim. Esses livros, em alguma medida perversa, embora sejam escritos para denunciar falsidades, contribuem para fazer circular e recircular todo aquele material oculto. Assim (assumindo a interessante hipótese que O Código seja um complô satânico), toda refutação que se lhe faz reproduz as insinuações, e com isso acabam se tornando seu megafone.

Por que, mesmo quando é contestado, O Código se autoreproduz? Porque as pessoas têm sede de mistérios (e de complôs) e basta que se lhes ofereça a possibilidade de pensar sobre mais um mistério (e até no momento em que você lhe diz que era a invenção de alguns espertinhos) e pronto, todos começam a acreditar naquilo.

Acho que seja isso o que preocupa a igreja. A crença no Código (e em outro Jesus) é um sintoma de descristianização. Quando as pessoas não acreditam mais em Deus, dizia Chesterton, não é que não acreditem em mais nada, mas acreditam em tudo. Até nos meios de comunicação de massa.

Fiquei impressionado com a figura de um jovem imbecil que, na praça São Pedro, enquanto uma multidão imensa aguardava a notícia da morte do Papa, ele, de celular no ouvido, dava tchauzinho para a câmara de TV. Por que é que estava ali (e por que estavam ali tantos outros como ele, enquanto talvez milhões de verdadeiros crentes estavam em suas casas, e orando)? Em sua espera de um sobrenatural midiático, não estaria ele pronto a acreditar que Jesus tenha se casado com Madalena e estivesse mística e dinasticamente ligado pelo Priorado de Sion a Jean Cocteau?

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 6 - Outubro 2005
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Entrevista com Gonçalo M. Tavares (Joca Terron)

Gonçalo M. Tavares é um abalo sísmico no panorama da literatura portuguesa atual. Após estrear em 2001 com Livro da dança, publicaria no ano seguinte nada menos do que outros quatro títulos de poesia, teatro e ficção. Na época, foi recebido pelo decano ensaísta Eduardo Prado Coelho como já “um dos maiores poetas para o século XXI”. O escritor português nascido em Angola tem cumprido a sina: em tão pouco tempo, lançou 21 livros em 12 países e é bem recebido pela crítica.

No Brasil sua fulminante trajetória não é diferente: apenas nos últimos meses saíram Um homem: Klaus Klump (Companhia das Letras), seu primeiro romance, além de O senhor Juarroz, O senhor Kraus e O senhor Calvino, habitantes da série O Bairro (Casa da Palavra) que vieram se juntar a O senhor Brecht, publicado em 2005. Tamanha proficiência é coroada agora com a seleção deste último e do romance Jerusalém ao prêmio Portugal Telecom, ao qual ambos concorrem como finalistas.

Autor de obra caracterizada não somente pela exuberância criativa, mas também por rigorosos jogos de lógica que misturam poesia e filosofia sem nunca deixar de divertir o leitor, Gonçalo M.Tavares revela alguns de seus enigmas. Livros, para ele, têm principalmente a missão de aumentar a lucidez.

ENTRELIVROS – Qual era a sua disciplina para escrever no período que antecedeu a publicação de seus primeiros 14 livros, vindos à luz incrivelmente em apenas três anos?

GONÇALO M. TAVARES – Escrevo desde muito cedo, mas as coisas ficaram sérias a partir, talvez, dos 20 anos. E publiquei o meu primeiro livro só aos 31. Sempre foi meu desejo não publicar antes dos 30; uma fixação como qualquer outra. Queria ter um percurso anterior que me desse grande confiança. Bem, nesses dez, 11 anos – entre os 20 e os 30 – levantava-me muito cedo, uma obsessão, e normalmente às 6h30 da manhã já estava a ler e a escrever. Esses dois atos estavam e estão ainda muito ligados: lia-escrevia. Fazia isto todas as manhãs, com uma ou outra exceção, mas rara. E o que aprecio mais no meu percurso é mesmo este período; foi necessário muita disciplina, autodomínio. Às vezes pergunto-me como fui capaz de seguir essa disciplina. Agora é bem mais difícil.

EL – E havia tempo para viver? Como você concilia o mergulho na escrita com o convívio com os seus?

TAVARES – Sim, havia e há muito tempo para viver. Mas antes de continuar, deixe-me dizer-lhe que a pergunta pressupõe que ler-escrever não é viver; mas acho que é viver sim, e muito, de uma forma muito intensa. Ler e viver são experiências de vida claramente, e experiências humanas. Não são experiências de extraterrestre ou exteriores à vida. Não saímos da vida para ir ler, e depois voltamos. Não sei por exemplo se é possível hierarquizar a experiência de fazer uma viagem importante e a experiência de ler um livro como O homem sem qualidades, de Musil, ou Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski. São coisas diferentes, mas ambas fortes. Voltando à sua pergunta: como me levantava muito cedo, às 11 h, 11h30 estava no resto da vida, por assim dizer, e mergulhava nela por completo. Fiz o que tinha a fazer nessa idade, viajei bastante, sofri o suficiente – não quero mais disso, tenho a minha dose.

EL – Você era um ávido leitor na infância? Ainda é na mesma proporção?

TAVARES – Sempre li bastante, mas na infância não era daqueles meninos que ficam de lado a olhar para os outros. Passei a minha infância, parte dela, na rua a jogar a bola com amigos, ao soco por vezes, nos namoricos, vivi muito no exterior. Comecei a ler cada vez mais e a certa altura percebi que a leitura era um eixo central na minha vida. Li e leio constantemente, e sinto, tal como para a escrita, falta de alguma coisa quando não leio um único dia. Tornou-se uma coisa muito biológica, orgânica. Preciso de ler. Tal como necessito de escrever. Por vezes, quando não escrevo fico irritado como se não tivesse ainda almoçado e já tivesse passado a hora para isso. É algo muito fisiológico. Mas não se deve romantizar a coisa: claro que posso passar sem escrever ou ler; mas se o fizer sinto falta.

EL – Há um poema de Juan José Saer que diz “Bem-aventurados os que estão na realidade/e não confundem suas fronteiras”. Há, na sua opinião, alguma distinção drástica entre a vida que escritores e leitores vivem nos livros e a vida supostamente real?

TAVARES – Bem, como lhe disse, considero-me um bom leitor – estou atento, tento ler o que é bom, se alguém que eu respeito me fala de um autor que eu não conheço no dia seguinte estou a ler esse autor, mas, apesar disso, estou bem metido no real. Dou aulas numa universidade, o que me faz estar em contato com alunos, com gerações de rapazes e raparigas de 20 e poucos anos e isso é muito bom – obriga-me a não estar fechado. Por outro lado, tenho uma robusta família: tenho três filhos: conhece maior chamamento à realidade do que esse? Aí, não há que inventar, e a imaginação não resolve problemas: é a vida real no seu sentido mais urgente. Os filhos exigem de nós tudo e dependem de nós, desde a comida, às frases que lhes dizemos, aos contatos corporais; tudo é importante e muito real. Felizmente, tenho filhos porque realmente o perigo era ficar como Dom Quixote, louco dos livros e da escrita. Eles são o real, que está mesmo ao pé de mim. Se estão com fome, preciso agir.

EL – Há algo de verdadeiramente novo no panorama da literatura portuguesa, além da pouca idade de alguns de seus praticantes mais recentes? Há ainda a possibilidade do novo em literatura?

TAVARES – Bem, em primeiro lugar só se pode fazer o novo se se conhecer o velho. Como posso saber se estou a fazer algo de novo se não sei o que os outros fizeram? Daí que um escritor, para mim, tenha de ser, primeiro, um leitor. Há escritores que escrevem sem ler nada e depois pensam que fizeram coisas muito novas. Como leram pouco não podem saber que milhares de escritores já fizeram aquilo. Os chineses têm um ditado que é ao mesmo tempo uma maldição: “Não te atrevas a escrever um livro antes de ler mil”, parece-me sensato. Quanto a fazer o novo, acho que é isso: temos de saber o que já se fez e o que se faz, tal como um investigador em física conhece as investigações de física dos séculos passados e também as actuais. Depois, sim, pode-se investigar a sério, tentar algo novo.

EL – Parece surgir uma voga de autores cujas imaginações não se limitam aos limites geográficos de seus países. Você se sente um autor português?

TAVARES – Julgo que o mais importante quando se escreve é a língua e por isso é evidente que me sinto um autor português e, mais importante que isso, um autor de língua portuguesa. Penso que a língua deve ser o mínimo denominador comum. O que julgo não fazer sentido é falar-se em “temas portugueses”. Os temas que me interessam pertencem ao homem, não ao homem português. Interessa-me perceber o medo, o mal, a violência, mas também os gestos surpreendentemente bondosos; interessa-me ainda a lógica da linguagem etc. Não são temas portugueses, são temas humanos. Mas, de qualquer maneira, um escritor ao utilizar a língua portuguesa tem logo uma ligação inatacável à sua origem. Repare que um artista plástico, português ou brasileiro, aí, sim, pode fazer, no limite, obras de que não saibamos identificar a origem ou a nacionalidade. Eu escrevo em língua portuguesa, portanto é fácil identificar a minha origem. E tenho orgulho em escrever nesta língua.

EL – Da mesma forma, seguindo a derrocada das linhas geográficas, o hibridismo de gêneros literários é uma constante em sua obra. A que isso se deve e como se configura?

TAVARES – Os gêneros literários são quase sempre definidos pelo receptor e não pelo emissor, digamos assim. O que me parece preocupante é que o emissor, o escritor, antes de escrever já se submeta às lógicas de recepção, e portanto se sente na cadeira a pensar: agora vou escrever um romance, agora um poema, agora um conto. Penso que o ponto de partida de um escritor não é um gênero literário qualquer, o ponto de partida é o alfabeto. Há letras e com elas formo palavras, mas posso escrever o que quiser, ir por qualquer caminho. O alfabeto não tem gênero literário. Por isso, por mim, tento sentar-me e escrever, simplesmente. E às vezes sai de uma maneira, outras vezes sai de outra e realmente há livros que eu não sei classificar: são
ensaio, um romance? Por exemplo, eu designo alguns livros que fiz como “bloom books”, outros como “investigações”. Enfim, tento por vezes dar-lhes o nome que me parece mais próprio. Mas alguns textos não sei mesmo o que são. O importante é que façam pensar, aumentem a lucidez do leitor, provoquem se possível reações, outras criações etc.

EL – Suas ficções fazem uso de uma linguagem poética. Gonçalo M. Tavares é essencialmente um poeta?

TAVARES – Não, eu acho que sou um escritor. Escrevo. Depois saem livros muito diferentes entre si. Julgo é que tudo pertence a uma mesma massa de instinto, racionalidade, angústias, ironia etc.

EL – Da mesma forma, sua poesia trava intenso diálogo com a filosofia. É possível filosofar em português? Quando surgirá um livro seu de filosofia pura?

TAVARES – Tenho muito respeito pela filosofia e pelos filósofos. Sou um leitor atento de ensaios. Mas precisamente por esse respeito tenho de dizer que é evidente que não sou um filósofo. Penso que a filosofia e as idéias são muito importantes para a escrita, não gosto de livros que não pensam e não nos fazem pensar. Acho sinceramente que isso é um desperdício. Se neste século a literatura não nos fizer pensar, o que é que nos vai fazer pensar? A televisão, o teatro, o cinema, as artes? Bem, eu acho que tudo isto pode ajudar-nos a pensar, mas, apesar de tudo, penso que a literatura ainda é, e deve ser cada vez mais o espaço por excelência do pensamento, da reflexão, enfim, da lucidez. E não precisa de ser pensamento filosófico, nada disso. Através de uma história podemos fazer pensar. Mas claro que não é uma historieta qualquer, não pode ser novela porque aí a televisão faz melhor. A literatura é outro mundo, é o mundo em que alguém está a ler um livro e pára, se necessário, numa linha, numa frase e interrompe a leitura e a partir dessa frase, se necessário, reflete ou põe em causa toda a sua vida. A literatura tem um tempo que dá ao leitor; na literatura o tempo é do leitor, acho isso muito importante. O mesmo livro de 100 páginas pode ser lido em duas horas, em dois meses, ou em dois anos. E nenhum tempo de leitura é melhor do
que outro. É o leitor que o define.

EL – É raro um autor ter tão organizada sua produção na forma de séries. Sua forma de conceber a literatura é tão racional como essa idéia de serialização sugere?

TAVARES – Não, não sou assim tão racional. Aliás, acho que a organização dos meus livros por linhas e séries é uma maneira de eu tentar colocar alguma ordem na desordem do que vou fazendo. Interesso-me por muitas coisas de várias maneiras e depois de fazer algo tento organizar, até para facilitar a vida do leitor.

EL – Qual a importância dos exercícios lógicos em sua obra? Gonçalo M. Tavares seria um leitor de Lewis Carroll e Georges Pérec?

TAVARES – Sou leitor desses autores,como de autores completamente diferentes, Jünger ou Musil ou Thomas Mann. Acho que o que me caracteriza como leitor é partir para um livro para receber o que ele me quer dar e não para exigir que ele me dê o que eu quero receber. Se eu ler Borges, por exemplo, é evidente que ele não me dá coisas que me dá Dostoiévski. Da mesma forma,se eu ler Dostoiévski à espera que ele me dê coisas que Borges ou Calvino dão, vou sair frustrado. Nenhum autor dá tudo o que precisamos na nossa vida, em todos os momentos. O maior dos autores não nos dá tudo, e ainda bem. Por isso, tento receber o que o livro quer dar. Mas em relação à lógica e aos paradoxos, julgo que isso é uma das linhas que me interessam, apenas uma das linhas. A esse nível, é um pouco como se investigássemos os limites do mundo e da linguagem. E, por exemplo, os paradoxos lógicos são muito importantes a esse nível: mostram-nos as limitações da nossa forma de ver o mundo.

EL – Há em Um homem: Klaus Klump uma cena de violação sexual (no capítulo 11) de extrema violência e ao mesmo tempo narrada de forma poética. A poesia pode ser violenta? Quais são os poetas contemporâneos que o agradam?

TAVARES – O que eu julgo importante é não ver o mundo como se fosse claro/escuro. O mal e o bem são coisas que estão misturadas e muitas vezes se confundem. Tal como a beleza e o horror. Julgo que a lucidez passa muito por chamar a atenção de que a beleza esconde por vezes coisas terríveis e que no terrível há por vezes coisas que merecem ser olhados com atenção e que nos ensinam muito.

EL – Não há nos senhores de O Bairro uma relação direta de seus nomes (o senhor Brecht, o senhor Kraus, o senhor Juarroz, o senhor Valéry) com suas biografias. São as idéias que conformam esses personagens ou eles seriam apenas homônimos?

TAVARES – O Bairro, no seu conjunto, e quando estiver todo pronto, é um projeto enorme. Vai durar toda a minha vida. Acho que no final vai ficar algo como se fosse uma história da literatura, mas em ficção. É, se calhar, a minha forma de fazer ensaios. São personagens que, embora guardando um pouco o espírito do nome que levam – quer seja pelo tema, pela lógica de pensamento, escrita etc. –, são ficcionais, autônomas, personagens que fazem o seu caminho.

EL – A recepção crítica ao seu trabalho tem sido formidável, apesar dos matizes inegavelmente experimentais nele presentes. Como se dá isso? E a recepção do público, acompanha a da crítica?

TAVARES – É bem agradável ser bem recebido por críticos; é fundamental para um escritor ser acompanhado no que vai fazendo e críticas inteligentes permitem que o escritor por vezes esclareça na sua cabeça coisas do seu próprio trabalho. Uma crítica de qualidade é fundamental; considero, no geral, não falando no meu caso pessoal, que os críticos são muito, muito importantes. E é assim com muita pena que vejo em Portugal a diminuição drástica do espaço que os jornais dão à crítica literária. Cada vez há menos espaço, os críticos, agora, têm dois parágrafos para escrever sobre um livro. Isso é terrível. Não sei se está a acontecer o mesmo no Brasil, espero que não, mas em Portugal os suplementos literários dos grandes jornais estão a desaparecer e o espaço para a reflexão pensada está também a evaporar-se. Quanto à recepção do público é também bastante simpática, mas tenho a consciência absoluta de que os meus livros não são best-sellers, nada disso. Mas o relevante é que entre os leitores há belos leitores e há ainda outros criadores. Das coisas mais agradáveis é ver artistas plásticos, pessoas do teatro, do cinema etc. fazerem obras a partir dos meus livros. Isso é muito bom. É a sensação de que há uma corrente eléctrica que me ligou antes a outros autores e continua agora ligando outros autores aos meus livros.

EL – Jerusalém recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura portuguesa e agora é finalista do Portugal Telecom no Brasil. Devemos nos fiar no atestado de excelência que os prêmios dão? E qual seria esse atestado?

TAVARES – A qualidade dos prêmios depende, antes de tudo o mais, da qualidade dos que dão o prêmio, dos jurados. Se pessoas de qualidade me dão prêmios fico contente. Quanto ao resto, eu considero- me muito filho de Sêneca. As Cartas a Lucílio, de Sêneca, é talvez o livro que mais marcou a minha vida. Tenho uma parte estóica: guardo alguma distância em relação ao que vai acontecendo. O importante é fazer o meu caminho. Prêmios são agradáveis, claro, mas apesar de tudo são coisas laterais ao nosso trabalho.

EL – Em certa ocasião, Paulo Leminski disse que, dada a pouca representatividade no mundo de hoje, escrever em português ou não escrever é a mesma coisa. Como você espera ultrapassar as barreiras impostas por uma língua não majoritária?

TAVARES – Bem, apesar de tudo o português é falado por muitos, muitos milhões de pessoas. Não é assim tão minoritário. Há dias estive com escritores eslovenos, e aí a coisa é mais dura. A língua eslovena é falada por 2 milhões em todo o mundo. Isso é mesmo minoritário. Mas é evidente que faz sentido o que Paulo Leminski diz, pois todas as línguas são de certo modo provincianas face à língua inglesa, que é mesmo o centro. De qualquer maneira, felizmente, os meus livros estão a começar a ser muito traduzidos, a uma velocidade pouco comum. Estão a sair, em 12 países, 17 livros diferentes – é bom. Mas, claro, escrever diretamente em inglês é ganhar 50 anos em relação a quem escreve noutra língua.

EL – Você tem sofrido alguma “pressão” para que haja algum habitante lusitano em O Bairro?

TAVARES – Tenho sofrido pressões para várias entradas (risos). Mas em relação ao habitante lusitano ele já lá está, no desenho do projeto do bairro. É o sr. Pessoa, mora no prédio do sr. Pirandello.

EL – Da mesma forma, os leitores brasileiros podem ter esperança de terem um compatriota vivendo em lugar tão ilustre? Um senhor Machado ou uma senhora Clarice, por exemplo? Por falar nisto, os habitantes de O Bairro não sentem falta de mulheres por lá?

TAVARES –O meu Bairro de senhores é um bairro como outro qualquer: há pessoas que se podem mudar para lá, e há outras que podem sair. O senhor Machado era muito bem-vindo ao Bairro, e daria uma grande personagem, tenho a certeza, tal como a senhora Clarice. Aliás, a senhora Clarice tenho a sensação de que se vai mesmo mudar para lá... e, sim, senhoras fazem sempre falta, mas já vivem lá a sra. Wolf e a sra. Bausch. Inédito: O país ingênuo `A tristeza era tanta que os sorrisos passaram a ser pagos. Alguns funcionários do Estado, disfarçados, diluídos na multidão das cidades, observavam os poucos cidadãos sorridentes que passavam, e, discretamente, mandavam-nos parar.

Apresentavam-se: Funcionários do Estado!, diziam, e pediam depois a identificação do sorridente. Registavam nome e morada.

Ao fim do mês, os referidos cidadãos recebiam o cheque. Durante o mês de fevereiro foi visto três vezes a sorrir na rua – estava escrito – com data e hora - no pequeno documento que acompanhava o dinheiro.

A quantia dada por cada sorriso não era uma fortuna, mas digamos que ser visto pelo Estado a sorrir nove vezes durante um mês dava perfeitamente para viver sem dificuldades.

Pois bem, em pouco tempo o clima emocional do país alterou- se por completo. Seja por avidez ou pela própria natureza das coisas o país em dois anos tornou-se conhecido pelo “permanente e impressionante optimismo dos seus cidadãos”, como se dizia numa agência de notícias internacional.

Os subsídios do Estado aos sorrisos terminaram pouco tempo depois; mas como ninguém informou os cidadãos eles mantiveram aquele sorriso estúpido, repugnante, desadequado, inútil, sem razão de ser.´

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 29 - Setembro 2007
Gonçalo M. Tavares: “Ler para ter lucidez”.
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Em Tempo [Lançamento de Livro de Alexandre Castanheira]

No próximo dia 28 do corrente mês (fevereiro), quinta-feira, às 21h 30m, no Salão de Festas da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, haverá o lançamento do livro de poesia Tempo Meu, de Alexandre Castanheira, um dos mais conceituados escritores, comendador da Ordem da Liberdade (uma forma de reconhecimento público e institucional pelo seu empenho na conquista dos valores da Democracia). Mas esta é, também, a data do 80.º aniversário deste "poeta da liberdade".

Passe um serão poético e musical que, decerto, não esquecerá. E traga um amigo consigo (ou vários).

Fonte:

Alexandre Castanheira (1928)

Alexandre Castanheira nasceu em 1928.
Licenciou-se no curso Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa.
Poeta, desde sempre se interessou pela divulgação da poesia, fazendo recitais em escolas, colectividades, festas em todo o País.
Perseguido pela PIDE, devido às suas actividades políticas, partiu para o exílio em França, onde casou com Madeleine Nennig, uma jovem comunista francesa que o acompanhou na clandestinidade. Ao longo da sua vida esteve sempre ligado ao Partido Comunista Português.
Exilado em França, licenciou-se em Literatura Moderna e alarga a divulgação da poesia moderna e contemporânea aos círculos de portugueses imigrados em França. Regressado a Portugal, começa finalmente a publicar a sua obra, em que se destacam, em poesia, os volumes Poesia... sem Distanciação e Desilusão Optimista a par de outros livros como teatro, crônicas, ensaio e contos. Com o ensaio "Camões, Nosso Contemporâneo" ganha o Concurso Literário do IV Centenário de Camões, promovido pela Câmara Municipal de Almada. Multiplicam-se em seguida os recitais de poesia não só em Portugal como na Galiza (Vigo, Baiona, Universidade de Santiago de Compostela) e as conferências-recital dedicadas a Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Mário Sá-Carneiro, Manuel da Fonseca, Sidónio Muralha, Fernando Pessoa, entre outros.
Professor na Escola Superior de Educação Jean Piaget, de Almada, cidade de onde é natural, nos vários cursos do Básico 2.º Ciclo e no de Animadores Socioculturais, participou com comunicações em quase todos os encontros e congressos organizados pelo Instituto Piaget.
ALEXANDRE CASTANHEIRA é professor efetivo do Instituto Piaget, tendo lecionado na Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada, onde continua ligado ao cancioneiro e à Unidade de Investigação em Antropologia.

Fontes:
http://www.ipiageteditora.com.br/
http://naoapaguemamemoria2.blogspot.com/

Rodamundinho 2008 (Coletânea Infanto-Juvenil até 15 anos de idade)

Quem quer ser escritor?

O Rodamundinho 2008 é uma coletânea infanto-juvenil que reunirá 25 autores (textos de crianças e adolescentes) de até 15 anos de idade. Será uma antologia (seleção de textos) reunindo poesias, contos e crônicas com o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens sem que eles precisem pagar nada por isso. Cada autor terá quatro páginas para mostrar seu talento que será publicado num belíssimo livro de 100 páginas.

Para participar é preciso ter até 15 anos de idade completos até o dia 31 de julho de 2008 e ter textos de sua autoria que sejam inéditos e digitados. Podem participar jovens de todas as localidades.

Os textos (crônicas e/ou contos) devem conter 100 linhas para preencher três páginas do livro. As poesias podem ter o número menor de linhas porque cada poesia receberá uma página do livro. Lembrando que, as somas de todos os textos não devem ultrapassar a quantidade de linhas discriminada acima.

Junto aos textos, deverá ser entregue um currículo do autor contendo nome completo e assinatura, nome e assinatura do responsável, endereço, telefone, e-mail (se possuir), escolaridade e outras informações que sejam complementares para a sua biografia que será publicada na primeira página antecedendo os textos do autor.

A seleção dos textos para a coletânea será feita por experientes escritores.

Os textos e os currículos deverão ser entregues das 09 às 12h e das 13 às 16h dos dias 03, 04, 05, 06, 07 e 08 de março de 2008 na Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural, na Rua Brigadeiro Tobias, nº 73 - Sorocaba/SP.

No momento da entrega, os participantes receberão um recibo contendo o mesmo número do envelope onde ficarão guardados em sigilo os seus textos.

O recebimento e os envelopes estarão sob a responsabilidade da jornalista Cintian Moraes.

Até o dia da entrega dos textos pode-se obter mais informações no horário comercial pelo telefone (15) 3226.4178.

O Rodamundinho 2008 é um projeto do escritor Douglas Lara e do editor Mylton Ottoni, tem o apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete Sorocabano de Leitura e da Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural. (Página 9 do Cruzeirinho de 10 de fevereiro de 2007)

Contatos:
Cintian Moraes
cintian.moraes@yahoo.com.br

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=31&id=58388