quarta-feira, 25 de junho de 2008

Al Mutamid (1040 – 1095)

Al Mutamid, poeta do "Al Andaluz" (parte da Península Ibérica ocupada pelos Árabes), nasceu em Beja em 1040 (sul de Portugal e antes da formação da nacionalidade portuguesa que se deu em 1145).Morreu em Marrocos em 1095. Considerado um dos maiores poetas árabes. A poesia árabe canta o amor, os feitos da guerra, os prazeres. A civilização árabe na Península Ibérica atingiu um desenvolvimento brilhante, nomeadamente na poesia e na arquitetura, sendo os habitantes de cada um dos reinos da Península completamente bárbaros, incluindo o que hoje é Portugal. Al Mutamid foi rei de Sevilha, depois e ter sido califa de Silves.

I

Quando será que estarei
Livre de desdém tão fero
Cujos fortes esquadrões
Me dão guerra que não quero.
Desvio assim é injusto.
Juro pela luz altaneira
Que em suas tranças se divisa:
Não sou cobra traiçoeira
Das que mudam de camisa

II

De negras madeixas
Amo uma gazela
Um sol é seu rosto
E palmeira é ela
De ancas opulentas.
Há entre seus lábios
Do néctar o gosto.
Ó sede, se intentas
Sua boca beijar
Não o vais lograr

III

Em encanto não tem
Rival tal senhora,
E fora do sonho,
Quem bela assim fora?
Qual espadas seus olhos
Lhe brilham; e rosas
Lhe enfeitam a face
Na sombra vistosas.

IV

Dá paz ao ardor
De quem te deseja.
Contenta o amor
E faz dom de ti,
amos, sorri,
Quando a boca beija.
Me disse na hora:
«Pecar me refreia.»
Respondi-lhe:
«Ora! Não é coisa feia.»

V

Uma vez era noite
De bem longa festa.
Adormeci. Me disse
Me acordando com esta:
«Teu sono vai longo
Toca a levantar!»
Então me beijou
E eu pus-me a cantar:
«Fazem reviver
Teus lábios a arder!»

VI

Guerra vil e obscena
E que inspira a cantilena
De quem se morre de pena:
«Eu assim não estou bem,
Me sinto desesperar,
Que farei? Vem minha mãe,
Que não paro de chorar.»

VII

SOLTA A alegria! Que fique desatada!
Esquece a ânsia que rói o coração.
Tanta doença foi assim curada!
A vida é uma presa, vai-te a ela!
Pois é bem curta a sua duração.

E mesmo que tua vida acaso fosse
De mil anos plenos já composta
Mal se poderia dizer que fora longa.
Que seres triste não seja a tua aposta
Pois que o alaúde e fresco vinho
Te aguardam na beira do caminho.

Que os cuidados não sejam de ti donos
Se a taça for espada brilhante em tua mão.
Da sabedoria só colherás a turbação
Cravada no mais fundo do teu ser
É que, de entre todos, o mais sábio
É aquele que não cuida de saber.

EVOCAÇÃO DE SILVES

Saúda, por mim, Abg Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava..
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.
SIM,
Bebi o vinho derramando luz
Enquanto a noite despia o seu sombrio manto.

Finalmente,
Veio a Lua Cheia, surgida de Gêmeos
Rainha, no cume do esplendor e fausto.
Estrelas brilhantes à compita a rodearam
Para acrescentarem também o seu fulgor.
Depois caminhou até ao Ocidente
E sobre ela flutuou Oríon, feita docel
Um exército de estrelas abriu alas
Sendo então as Pléiades o estandarte.

Assim,
Na terra eu me mostro
No meio de esquadrões e mulheres formosas
Competindo no brilho e na estirpe.
Se as lorigas dos meus bravos espalham a treva
O vinho por donzelas dado traz a claridade.
E se as escravas cantam com a citara
Também meus homens fazem cantar
As espadas nos cascos do inimigo.
=========
A PROPÓSITO DE UMA CARTA

Horto, de fulgentes estrelas faladas,
Iluminador do negríssimo fosso das trevas!
Chegou-me o teu poema em hora de tristeza:
Fê-la minguar, depois desaparecer.
Aqui fica um puro poço de amor
Que te convida a beber de novo
Como se fosse agora a vez primeira.
Ó ALMA, não te desesperes!
Peleja com coragem
Ou às mãos do amor acabarás.

A amada tratou-te cruelmente,
Teu coração já não te obedece?
Alguém te injuriou?
Ninguém te dá conforto?

A mágoa, essa,
Negou repouso às pálpebras
E só lhes deu em troca
As lágrimas de sangue.
Ao PASSAR junto da vide
Ela arrebatou-me o manto,
E logo lhe perguntei:
Porque me detestas tanto?
Ao que ela me respondeu:
Porque é que passas, ó rei,(*)
Sem me dares saudação,
Não basta beberes-me o sangue
Que te aquece o coração?

Fonte:
http://escritas.paginas.sapo.pt/al_mutamid.htm

Silas Corrêa Leite (RODA MUNDO - A Antologia Que Pode Dizer o Nome)

Sempre fui a favor das Antologias literárias em geral, eu mesmo um participante de várias delas, em regime de cooperativas ou até mesmo como simples convidado, inclusive no exterior, como as do Instituto Piaget (Portugal), Cristhmas Anthology (Estados Unidos), Antologia Multilingue de Letteratura Contemporanea (Itália) e Poesia Sempre (Edição 500 Anos do Brasil) MEC-Fundação Biblioteca Nacional, entre outras tantas, oficiais ou marginálias, desses brasis gerais e os seus plangentes criares periféricos por atacado.

Toda abelha-rainha sonhadora, ou abelhudo-rei, digamos assim, que se propõe a juntar poetas inéditos e - ou neomalditos (ah essa safra contemporânea brasileiríssima) merece respeito, carinho e admiração, porque formar uma colméia de elos a partir de um verdadeiro clube de egos (e núcleos de abandonos editoriais) não é fácil. É preciso cara limpa e muita coragem, além do conhecimento de área.

E só gente nobre topa a empreita, a toleima, o desafio desse quilate, garimpando em tantas jazidas novas, puras e valiosíssimas letras livres.

Acho que, juntando poetas, contistas, cronistas, memorialistas, contadores de causos, você vai dando um acervo histórico de lastro ao que sabiamente já apregoou o francês Rimbaud, de que todo artista deve ser antena da sua época. É por aí.

Eu mesmo já fui sondado por editoras de fanzines e mesmo fora do eixo Rio-SP para ser coordenador de uma ou outra antologia de minorias, e só recusei às vezes por absoluta falta de tempo – ah a sobrevivência - mas, de presto, ao meu jeito e com o meu modus operandi, dei o fermento de minha contribuição, divulguei em nichos, indiquei nomes preciosos, criei títulos interessantes, sugeri eventual desenho de capa, tal o amor por essa resistência literária, a verdadeira vox do povo, o brado retumbante dos que escrevem com talento, e ainda a magna coragem de nadar contra a corrente do falso mercado editorial, sempre com seus suspeitos livrecos pseudo-popularescos trazidos do exterior a preço de banana, mas que não acrescentam nadica de nada a historicidade crítico-criativa nacional, culturalmente falando também.

Como um mambembe produtor lítero-cultural no reino da web, ainda inédito em livro solo de ficção, atrás de um mecenas (ou anjo-da-guarda) com um projeto inédito aprovado( e empacado) pela Comissão 450 de São Paulo, apesar de vários prêmios, com bom currículo e até um livro pioneiro, inédito e de vanguarda que fez até algum sucesso ocasional na mídia como e-book (livro virtual) no site www.hotbook.com.br/int01scl.htm (O Rinoceronte de Clarice), fico chateado quando vejo parte da mídia veicular edições impressas de livros inócuos do Hosmanny Ramos, do Ratinho, da Simonny, do Derico, enquanto muita gente talentosa cria à míngua, pois as editoras, em geral, na verdade não têm pessoal capacitado para bem julgar, com competência avaliar, até porque vários escritores mundiais de renome tardio só foram lançados depois de mortos; muitos foram recusados por editoras convencionais, ficando a prova peremptória de que tentar sempre, correr atrás o tempo inteiro, sonhar com dinamismo, ser determinado e com estilo, faz parte do cultivo das hortênsias poéticas ou das groselhas pretas das prosas humanizadas.

Assim, penso que cada Antologia, seja ela como for, caseira, sazonal, multinacional ou mesmo bancada por eventual Ong ou órgão público, é sempre uma bendita janela para o céu, um respiradouro de almas, um solário de líricas que fundam a sensibilidade, a magia do tear poético em proveito social, o curtume ainda sensorial desses tempos insanos de muito ouro e pouco pão.

Cada antologia é uma porta que se abre, um cofre aberto para Deus; banca um tijolo na própria construção da busca individual que seja por méritos próprios, faz-se andaime para arquiteturas maiores, a obra perfeita, a edição, o sucesso que, claro, não acontece por acaso. Há um Deus.

Foi mais ou menos isso o que eu captei quando recebi via e-mail o release do Editor Douglas Lara, da Manchester Sorocaba, sondando-me para estar na Antologia Roda Mundo, Roda-Gigante (Editora Ottoni), que acabou – sorte nossa – internacional, com gente criativa de quatro continentes, o que nos envaidece, e premia o talento e a visão do editor e o produto final da editora enquanto mercadoria-livro.

Honra e orgulho de quem abriu essa estrada de tijolos amarelos, para nosotros que queremos o palco iluminado para mostrar nosso chão de estrelas em infames tempos de neoliberalismo globalizador inumano e aético, com suas riquezas injustas (São Lucas) e lucros impunes (Millôr Fernandes). Aleluia.

Faz escuro mas eu canto, disse um poeta.

É preciso que a emoção sobreviva, disse outro.

Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena, frisou um outro ousado lusonauta da península ibérica que, pra mim, sendo o maior poeta do mundo, só foi lançado depois que faleceu (de cirrose, por causa do diário vinho do Porto), e ainda assim, cem anos depois é estudado com cautela acadêmica, admirado como referencial, completo por inteireza de lucidez, a persona do Fernando Pessoa e seus heterônimos-ele-mesmo.

Se houvesse tempo e espaço para uma, vá lá, antologia desse naipe na terrinha-mãe, talvez Fernando Pessoa tivesse o reconhecimento antecipado, o jeito todo especial de ser valorado, além de ser salutar e importante em sua usina de criames com espiritualidade lírica fora de série.

Está feito: esse é o papel da Antologia. Trazer à tona o filão rico de nossos criadores que teimam, cismam, reinam e fecundam idéias e ideais pelai. Não é a primeira Antologia do Mestre Douglas Lara (como respeitosamente o chamo), certamente não será a última, outros canais virão, novos tempos trarão outras visões, novas lutas nos engrandecerão enquanto trupes, pois lá estaremos com a sua soma, juntando elos em versos e prosas, porque, afinal, como bem cantou Caetano Veloso – Caetanear, por que não? – Gente é Para brilhar...

E a Antologia Roda Mundo, Roda-Gigante, fundou esse propósito, ornou-se dessa gala, e assim somos vitoriosos todos nós que acreditamos que o sonho não acabou como disse John Lennon, mas que, verdadeiramente o estamos tecendo dia após dia; página após página de rosto, de coração para coração, como se um mosaico de tributo à vida; de inteligência criativa, pois, afinal, escrever é a nossa mais doce transgressão, a nossa mais valiosa rebeldia, em contribuição à causa de ler para ser, ler para ter, ler para também estarmos com o arco-da-promessa dentro do pote de ouro, quando for o leitor interessado em prosopopéia & aventuras líricas, buscar seu arco-iris.

E depois, falando sério, como digo num poemeto “Deus deve amar os loucos/Pois criou tão poucos...".

E o poeta é sim, como a cana: mesmo pisado, ralado, posto nas moendas das vicissitudes, ainda assim resiste e dá açúcar-poesia.

Habemus Douglas Lara. Ave Douglas Lara. Os poetas-saúvas te saúdam.

Fonte
http://escritas.paginas.sapo.pt/rodamundo.htm

Sônia Bettencourt (Mar Vazio)

Prêmio Conto (Categoria Sênior) no Certame da Macaronésia de Jovens Artistas, Lanzarote, Canárias, 2005

À memória de todos os jovens que perderam a vida no mar
Há dois dias e duas noites que estive a olhar o mar. Sim, a olhar o mar através da janela da sala da minha casa. Não era uma casa muito grande, nem uma sala muito grande, mas tinha janelas largas, daquelas que deslizavam em vez de abrir ao meio. Através dela via uma praia onde o mar parecia querer abraçar-me. Às vezes estava manso e quieto, outras vezes sentia-se irado e batia violentamente contra as rochas.

Outro dia foi mesmo assim, a sua revolta era tão grande que as marés galgavam a orla costeira por completo. E o vento assobiava na janela como se fosse uma voz de alguém que já se fora. Para sempre. O irmão falecido: o olhar dele cheio de medo de morrer quando as forças lhe faltaram. Imaginava.

Mas uma semana depois, quando as casas se afundavam numa luz frágil, já o mar estava relaxado e adormecido como que a descansar da fúria dos dias anteriores. As gaivotas protegiam-no, ou não fossem os anjos das suas águas salgadas.

Naqueles dias de calmaria imaginava que um barco iria passar junto à janela e que alguém me levantaria a mão a acenar para me levar numa viagem, para longe; uma viagem que eu não queria fazer. Seria um daqueles barcos pequenos, pintados de branco com o rebordo de cor garrida e identificado por um nome de peixe ou de mulher.

Há dois dias e duas noites que estive a olhar o mar. Sim, a olhar o mar através da janela da sala da minha casa. Ainda nenhum barco passou e os que supostamente iriam passar jamais se lembrariam de olhar para a minha janela. Estariam ocupados a seguir o peixe pelo seu rumo certo. E naquele exato momento eu estaria fora de rumo. Pelo menos era este o meu desejo.

Ao tentar perceber o medo tão profundo de estar longe dali, o alvoroço no peito de me encontrar em todo o lado e em lado nenhum que não fosse aquela casa e aquela janela, decidi ficar dois dias e duas noites a olhar o mar. Sem tirar os olhos uma única vez.

No primeiro dia senti um orvalho gelado nas palmas das mãos. Fechei a janela sem nunca desistir do meu propósito. O meu corpo não vacilava, ou não tivesse eu vinte anos, contudo o meu espírito sentia-se fraco e perdido naquele vai e vem da ondulação.

Um grito na garganta nasceu-me no segundo dia. Queria ter a certeza que estava ali. Apetecia-me gritar de alegria ou de medo, não sei bem, como se tivesse acabado de ver o mar pela primeira vez. Abri a janela e no exato momento em que o grito se preparava para soltar, uma náusea tomou conta de mim tal verdadeira viagem de barco em alto mar.

Lembrei-me da infância, viva e fresca: A Luisa, a mais nova do grupo, que brincava com bicicletas usadas que o pai consertava na sua garagem de mecânico; o Bruno e o irmão Bernardo, que todos pensavam ser gêmeos verdadeiros, mas não eram; A Ritinha de olhos verde-azeitona que tinha bonecas sem conta, o Jorge, o herói de histórias de aventura que só ele conhecia e só ele protagonizava a qualquer hora e a qualquer momento e, por fim, o Miguel traquinas e irrequieto, que me perseguia por todo o lado, a imitar o zorro com uma espada em punho.

No Verão eram as brincadeiras na rua à macaquinha do chinês e os jogos do apanha e do esconde... Tudo passado naquela rua, defronte do mar. E quando os dias começavam a ficar pequenos e frios, juntávamo-nos umas vezes na garagem da Luisa, outras no sótão da Ritinha ou ali, naquela sala, a jogar às cartas e a brincar à janela, que ao contrário de todas as outras janelas não abria nem para os lados, nem para cima, simplesmente deslizava.

Se não fosse o vento a sacudir ao de leve a memória infantil, teria desmaiado, com certeza.

Olhei à volta a sala, a minha casa e sabia que tinha que partir. Estava cansado como se já tivesse feito mil viagens. Mas, a verdade, era que nem tinha feito a primeira, aquela que parecia ser a mais longa de todas e que doía como nenhuma outra. Sempre vivi sem pressa e sem ruído com os meus dias flexíveis fechados em livros de estudo e em brincadeiras com os vizinhos, amigos e companheiros de escola. Cheio de princípios e frases colhidas da Literatura e da Filosofia.

Depois a vida naquela casa, os pais e eu, passou a ser apenas um eco das coisas acontecidas; uma lembrança a recompor um tempo findo- por entre os cheiros do quarto de cama, do vestuário, dos lençóis; o desarrumo da secretária e do guarda-roupa; as prateleiras a abarrotar de Cds de música, livros escolares e jogos de computador; o pôster do Eminem... Os pesados cortinados de riscas coloridas cerrados sem deixar escapar uma lâmina de luz.

- Miguel!

Mas ninguém respondia. Nenhuma voz humana. Nenhuma presença de gente.

Ele continuava ali no retrato do canto. Sorridente e cheio de vida. Como na noite em que decidira brincar junto ao mar. De repente, do riso fizera-se o pranto, e o jogo entre amigos tornou aquela noite a mais longa das nossas vidas.

- Vem para aqui falar com a gente! – chamaram-me o Jorge, o Bruno, o Bernardo e a Luisa numa tentativa de me distrair e relaxar o vácuo que tinha no cérebro. A Ritinha de olhos verde-azeitona, não estava presente, pois já não morava naquela cidade, tão pouco naquele bairro. Mas mesmo assim não deixou de prestar os seus pêsames e condolências.

Deixei a janela e fui para junto deles. Sentei-me no sofá da sala, mas os meus olhos estavam pregados àquela vidraça onde o vento assobiava com uma força estranha.

Lembrei-me que àquela hora havia um resto de noite e uma neblina junto ao rés-do-mar. A cidade, ainda mal acordada, começava a lavar-se, a vestir-se e a aquecer o café da manhã com os olhos pregados no relógio. E eu ali, no sofá da sala com o dia suspenso, sem vontade de querer e de saber aonde me levava o rasgar das horas.

Entretanto adormeci. Mas por pouco tempo. Umas vozes distantes a flutuar pela sala fizeram-me abrir os olhos fatigados.

- O mar castiga!- exclamou a minha mãe a olhar através da janela com uma voz que parecia ter vindo do outro lado do abismo.

- Vamos sair daqui, Nuno.- informava o meu pai.- Temos que ir viver para outro lado.

Para aonde?, pensei eu. Para onde não há mar e as crianças não brincam, e as árvores são de cimento, e os homens são mortos em vez de morrerem?

Fez-se um diálogo de surdos. A voz dos meus pais vinha do outro lado do tempo numa língua diferente carregada de dor.

O medo de partir colocou-me à janela da sala durante muitos dias. Os momentos de alegria cada vez mais no fundo do tempo, espiando-me. Já não era só os meus dias que estavam suspensos, era todo o meu futuro.

O automóvel buzinou impaciente pela segunda vez. Vesti o casaco e peguei nas duas malas de viagem caminhando com cerimônia até à porta de saída.

Antes de sair pousei as malas e voltei atrás. Abri a janela deslizando-a devagarinho. Quase chorei de alegria quando um ruído distante de um barco a passar me fez levantar a mão e acenar num gesto lento.

Fonte:
http://escritas.paginas.sapo.pt/marvazio.htm

Poesias Soltas ao Vento III

Walt Whitman (EUA, 1819-1892)
DO INQUIETO OCEANO DA MULTIDÃO

Do inquieto oceano da multidão
veio a mim uma gota gentilmente
suspirando:

- Eu te amo, há longo tempo
fiz uma extensa caminhada apenas
para te olhar, tocar-te,
pois não podia morrer
sem te olhar uma vez antes,
com o meu temor de perder-te depois.

- Agora nos encontramos e olhamos,
estamos salvos,
retorne em paz ao oceano, meu amor,
também sou parte do oceano, meu amor,
não estamos assim tão separados,
olhe a imensa curvatura,
a coesão de tudo tão perfeito!
Quanto a mim e a você,
separa-nos o mar irresistível
levando-nos algum tempo afastados,
embora não possa afastar-nos sempre:
não fique impaciente - um breve espaço –
e fique certa de que eu saúdo o ar,
a terra e o oceano,
todos os dias ao pôr-do-sol
por sua amada causa, meu amor.

Jean Richepin (Argélia, 1849-1926)
TUAS PALAVRAS

Tuas palavras têm melodias divinas,
Acordes de cristal, pianíssimo, vibrando!
De olhos cerrados fico, imerso em gozo, quando,
Dizendo-me um segredo o alvo pescoço inclinas.....
Então não me inebria o olor de balsaminas
De tua boca, é, mais o tom límpido e brando,
Que dás a uma palavra, a um simples "sim", falando....
Tuas palavras têm meiguices peregrinas!
Eis, pois, o que me faz dormentes os sentidos;
Ouço-te, sem saber o que estás a dizer-me,
Qual numa língua estranha e suave aos meus ouvidos!
E em pleno arrebatar duns êxtases radiosos
Sinto invisível mão percorrer-me a epiderme...
Tuas palavras, flor! Têm dedos cariciosos....

Elisabeth Barrett Browning (Inglaterra, 1806 – 1861)
QUATRO SONETOS


I
Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minhalma alcança quando, transportada
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do ser, a graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do Sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não podem nada.

Amo-te com o doer da velhas pernas,
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te nas coisas mais pequenas
Por toda a vida. E assim Deus o quisesse.
Ainda mais te amarei depois da morte.

II
As minhas cartas! Todas elas frio,
Mundo e morto papel! No entanto agora
Lendo-as, entre as mãos trêmulas o fio
Da vida eis que retomo hora por hora.

Nesta queria ver-me-era no estio-
Como amiga ao seu lado...Nesta implora
Vir e as mãos me tomar...tão simples!Li-o
E chorei. Nesta diz quanto me adora.

Nesta confiou:sou teu e empalidece
A tinta no papel, tanto o apertara
Ao meu peito, que todo inda estremece!

Mas uma...Ó meu amor, o que me disse
Não digo. Que bem mal me aproveitara
Se o que então me disseste eu repetisse...

III
Parte: Não te separas! Que jamais
Sairei de tua sombra. Por distante
Que te vás, em meu peito, a cada instante,
Juntos dois corações batem iguais.

Não ficarei mais só. Nem nunca mais
Dona de mim, a mão, quando a levante,
Deixarei de sentir o toque amante
Da tua-ao que fugi. Parte: não sais!

Como vinho, que às uvas donde flui
Deve saber, é quanto faça e, quanto
Sonho, que assim também todo te inclui.

A ti, amor! Minha outra vida, pois
Quando oro a Deus, teu nome ele ouve e o pranto
Em meus olhos são lágrimas de dois.

IV
Ama-me por amor do amor somente
Não digas: Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh’alma em comunhão constantemente
Com a sua. Por que pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Alexandre O'Neil (Portugal, 1924 – 1986)
Poema Pouco Original do Medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos

Alexandre O'Neil (Portugal, 1924 – 1986)
HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Yolanda Morazzo (Cabo Verde, 1926)
BARCOS

-
"Nha terra é quel piquinino
É Sao Vicente é que di meu"

Nas praias
Da minha infância
Morrem barcos
Desmantelados.
Fantasmas
De pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer vaga
Nem eu sei onde.
E eu sou a mesma
Tenho dez anos
Brinco na areia
Empunho os remos...
Canto e sorrio...
A embarcac,ão:
Para o mar!
É para o mar!...
E o pobre barco
O barco triste
Cansado e frio
Não se moveu...


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Alda Lara (Angola, 1930 - 1962)
Presença Africana

E apesar de tudo
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe - África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou
a irmã - mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!
- A dos coqueiros,
de cabelos verdes,
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...
Sim! Ainda sou a mesma
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...
Sem dores nem alegrias,
de tronco nú e corpo musculoso
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...
E eu, revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa história inconsequente...
Terra!
Minha, eternamente!
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios, baloiçando
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...

Euclides Cavaco
AMOR...FEITO POESIA


.
AMOR
É um conceito divino
É dimensão sem medida
É viagem sem destino
É melodia da vida...

AMOR
É um caminho sem fim
É não ter que perdoar
É não querer e dizer sim
É dar tudo o que há p'ra dar !…

AMOR
É voz da razão que cala
É ter dôr e não sentir
É o silêncio que fala
É ver o mundo sorrir...

AMOR
É sopro de nostalgia
É canção leve e suave
É das trevas fazer dia
É saber de quem não sabe.

AMOR
É bem mais que sentimento
É sussurro de magia
É da alma o alimento...

AMOR
É hoje aqui...Feito poesia !…

Euclides Cavaco
PALAVRAS AO VENTO

.
Sou companheiro do vento
E conto ao vento que passa
Deste mundo o meu lamento
No tempo que se esvoaça ...
Conto-lhe da injustiça
Neste mundo praticada
Da maldade e da cobiça
O vento não me diz nada.

Falo da fome e da guerra
Da miséria que se esconde
E dos crimes que há na terra
O vento não me responde...
Quero que leve um recado
De quem ajuda implora
E de quem sofre calado
O vento tudo ignora ...

Peço ao vento que se agite
Em prol da humanidade
E que com direito grite
Para os homens liberdade.
Se o vento não me ouvir
Nesta minha petição
Então eu irei pedir
Para o vento maldição !...

Fontes:
http://www.euclidescavaco.com/
http://escritas.paginas.sapo.pt/

terça-feira, 24 de junho de 2008

Palavras estrangeiras (aportuguesadas )

Abajur (do francês) – quebra-luz
Álibi (do latim) - noutro lugar.
Ateliê (do fr.) – oficina
Baguete (do fr.) – tipo de pão
Bangalô (do inglês) - casa residencial com arquitetura do bangalô indiano.
Basquetebol (do inglês) – jogo ao cesto.
Batom (do fr.) – lápis para pintar os lábios
Bege (do fr.) – cor parda
Bibelô (do fr.) – adorno
Bidê (do fr.) – aparelho sanitário de banheiro
Bifê (do fr.) - mesa com refeição para reuniões
Bife (do inglês) – fatia de carne
Bijuteria (do fr.) – adorno
Biquíni (ilhota do Pacífico, Bikini) - veste para banho
Birô (do fr.) - mesa de escrever
Bistrô (do fr.) – restaurante pequeno e aconchegante
Blecaute (do inglês) – escurecimento
Boate (do fr.) – casa noturna
Bói (do inglês) – garoto de recado, contínuo
Boxe (do inglês) – pugilismo
Brevê (do fr.) - diploma, certificado de aviador.
Bulevar (do fr.) - rua larga, avenida
Buquê (do fr.) – ramalhete
Capô (do fr.) – capuz de motor de veículo
Carrossel (do fr.) – rodízio em cavalos, cadeiras, etc.
Cassetete (do fr.) – cacete curto de madeira ou borracha usado por policiais.
CD (do inglês) – compact disc – coletânea de músicas gravadas num disco.
Champanha (do fr.) – vinho branco espumante. Gênero masculino.
Chassi (do fr.) – carroceria de veículo
Chiclete/ Chicle – (do inglês) – goma de mascar
Chique (do fr.) – elegante
Chofer (do fr.) - motorista
Clichê (do fr.) - fotogravura
Clipe (do inglês) – grampo para prender papéis
Comitê (do fr.) – comissão, delegação
Complô (do fr.) – conspiração
Conhaque (do fr.) – aguardente de vinho
Coquetel (do fr.) – mistura de várias bebidas alcoólicas
Croquete (do fr.) – bolinho de carne
Croqui (do fr.) – esboço
Cupom (do fr.) – obrigação ao portador
Debênture (do inglês) – título de dívida amortizável
Debutar (do fr.) – estrear
Debute (do fr.) – estréia
Decolagem (do fr.) – levantamento do avião
Escore (do inglês) – resultado de uma partida esportiva
Esporte (do inglês) – conjunto de exercícios físicos
Esqui (do dinamarquês) – Tábua que serve para deslizar sobre a neve
Estêncil (do inglês) – papel multiplicador de cópias
Estresse (do inglês) – cansaço
Flerte (do inglês) – namoro ligeiro.
Folclore (do inglês) – costumes e artes conservadas pelo povo
Fórceps (do inglês) - boticão usado para retirar crianças do útero da mãe
Guichê (do fr.) – pequena janela por onde se atende o público
Habituê (do fr.) – freqüentador certo
Jérsei (do inglês) – tecido de malha de algodão, seda ou lã
Locaute (do inglês) – greve de empregadores
Maiô (do fr.) – traje de banho
Manicura (do fr.) - profissional do tratamento de unhas. A forma francesa manicure é mais usada por populares.
Manicuro (do fr.) – masculino de manicura. A forma francesa manicure é mais usada por populares.
Menu (do fr.) – cardápio.
Metrô (do fr.) – abreviatura de metropolitano. Estrada de ferro subterrânea e urbana
Náilon (do inglês) – fibra têxtil sintética
Nocaute (do inglês) – termo usado em luta de boxe.
Omelete (do fr.) – fritada de ovos. Palavra do gênero feminino
Piquenique (do inglês) – pequena excursão
Piquete (do fr.) – pequeno grupo promotor de greve
Pulôver (do inglês) – agasalho de malha, sem mangas.
Purê (do fr.) – preparado de batatas
Rali (do inglês) – competição automobilística
Recorde (do inglês) – a melhor atuação esportiva. Pronúncia: palavra paroxítona, sílaba forte é COR.
Repórter (do inglês) – jornalista, profissional da notícia
Relé (do fr.) – dispositivo que liga determinados circuitos automaticamente
Réveillon (do fr.) – festa de véspera do Ano Novo. Não foi aportuguesada
Socaite (do inglês) – grã-finagem
Suéter (do inglês) - agasalho fechado
Sutiã (do fr.) – peça feminina para apoiar os seios
Teste (do inglês) – exame, prova
Time (do inglês) – conjunto de jogadores
Tique (do fr.) – trejeito
Toalete (do fr.) – vestuário
Treiler (do inglês) – carro rebocado por veículo motorizado
Turnê (do fr.) – viagem programada, com roteiro certo
Voleibol (do inglês) – esporte no qual se usa a mão. Forma abreviada: vôlei.

Fonte:
O português nosso de cada dia – Vicente de Paulo Sampaio e Rosimir Espíndola Sampaio – Editora LTR, São Paulo, 2003.
http://www.portrasdasletras.com.br/

João Dias de Souza Filho (A importância da biblioteca)

Notícia publicada na edição de 23/06/2008 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A

Sorocaba tem atualmente excelente acervo reunido em bibliotecas que se espalham pela cidade

Uma biblioteca, sempre é importante. Muito importante. E, é muito importante, na medida em que é circulante e em que é freqüentada. Ou na medida em que seus livros são consultados. Essa importância atinge seu clímax, quando quem cuida do setor é alguém que gosta de ler. Alguém que orienta e sugere leituras. Os bibliotecários das escolas estão sempre disponíveis para o empréstimo de livros e, inclusive para apresentar sugestões, em consonância com interesses de pesquisas, que complementam as informações de salas de aulas.

Ao longo de minha vida profissional, no exercício da missão de professor, trabalhei em unidade escolar do Sesi, onde, entre minhas obrigações, cuidava da biblioteca, dentro de uma missão, muito específica: Curso de Orientação de Leitura. Esse Curso tinha uma missão peculiar, ou seja: os alunos retiravam livros e, depois, ao devolvê-los participavam de reunião, para comentar o livro e tirar dúvidas. Ao lado dessa tarefa, discutia-se muito. Havia, também, tratativa do noticiário da Imprensa.

Anteriormente a essa fase, fui aluno do Estadão. Estive entre os que foram alunos do Professor João Tortelo e, com ele tive uma ampla visão da importância do livro. E, mais. A biblioteca do Estadão era dirigida pelo bibliotecário Adail Odin de Arruda. Ia com freqüência à biblioteca e, com ele, Adail, trocava idéias sobre livros e, muitos dos quais li, sugeridos por ele. Ele era elétrico, rápido no raciocínio. Posteriormente, bem posteriormente, vim, a saber, também, que ele foi um grande maçom, com o mesmo perfil de energia e liderança. É um exemplo e referencial nos meios maçônicos até hoje.

Em Sorocaba não se pode falar de livros, sem que se faça menção ao histórico Gabinete de Leitura Sorocabano, fundado em 13 de janeiro de 1867, por alemães e pelo húngaro Luiz Matheus Maylasky. Interessante o espírito prático do estatuto redigido por ele: poderiam ser sócias, todas as pessoas sem distinção de nacionalidade, de profissão honrada, de bons costumes, maiores de 18 anos. Os menores poderiam ser apresentados pelos pais ou tutores. Estatutariamente observa-se que jornais e dicionários não poderiam sair da sede. Seus fundadores, além de Maylasky, foram: Joaquim Pereira de Castro Vasconcellos, Virgílio Augusto de Aguiar e Manoel F. Lallemant.

O maior historiador de Sorocaba (exemplo consumado de humildade cristã) Aluísio de Almeida, diz em seu livro Sorocaba: três Séculos de História que com a formação dessa primeira diretoria, desaparecia o caráter alemão da sociedade que se tornava nitidamente sorocabana e, é hoje uma das glórias de Sorocaba. Uma das melhores bibliotecas do interior do Estado. Tive honra de ser diretor de biblioteca dessa instituição, quando a mesma foi presidida pelo saudoso mestre e saudoso amigo, Dr. José Pereira Cardoso.

Sorocaba tem atualmente excelente acervo reunido em bibliotecas que se espalham pela cidade, a partir de unidades escolares, além de se dar, também, destaque e referencial em relação àquelas que integram.

Bibliotecas das Universidades e de outras instituições, inclusive, Lojas Maçônicas. Um outro aspecto interessante e de oportunidade, é que no terminal de ônibus da Avenida Afonso Vergueiro, também há um serviço de biblioteca, destinado ao atendimento dos que ali tomam condução. Uma experiência corajosa. Seu êxito depende, e muito, da própria maturidade de seus consultantes. Como modesto observador do cotidiano de Sorocaba, almejamos que o corajoso projeto dê certo.

Esse rápido bosquejo traduz a importância que as bibliotecas têm dentro da comunidade.

Bem a propósito desse tema, há algum tempo, um companheiro de ideal, Paulo Maurício Guimarães de Andrade, escreveu para O Esquadro, afirmando que a Biblioteca antecedeu o próprio livro, através de papiros. A mais antiga data de 2000 anos a.C. Já imaginaram os leitores, o que significa isto, em termos de cultura? Posto isto, consta que essa Biblioteca foi organizada em Mênfis, fundada pelo Rei Osimandias, em 2000, antes do nascimento de Cristo.

A biblioteca tem uma importância histórica. Importância incrível, fantástica e extraordinária. Não obstante a referência à biblioteca de Mênfis, ainda registra-se que a História destaca como a de grande importância, também, a que foi instituída em Alexandria, por Ptolomeu Sóter (General de Alexandre, O Grande). Essa Biblioteca chegou a reunir 700.000 volumes e sofreu três incêndios, um dos quais quando a cidade foi atacada pelas tropas de Júlio César, em 46 antes de Cristo.

No rol deste tema registra-se dentro da modernidade, que a Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos, foi criada em 24 de abril de 1800 e, conta com mais de 110 milhões de itens, dispondo de um quadro de 5.000 funcionários.

Fonte:
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=44&id=97114
http://www.jpergrafando.it/ (imagem)

Orientações Metodológicas para o Estudo

HÁBITOS DE ESTUDO

É verdade que não aprendemos todos da mesma maneira, mas não é menos verdade que nem sempre a nossa forma de estudar é a mais adequada. O tempo dedicado ao estudo é importante, mas nem sempre o resultado é proporcional ao número de horas de trabalho. É que estudar muito não é o mesmo que estudar bem.

Para ser eficaz, o estudo deve ser feito de forma metódica. O modo como se estuda, o local e as condições em que se estuda, o tipo de registros que se faz (ou não se faz!) determina a quantidade e a qualidade da informação retida, bem como o modo como ela se organiza na nossa mente.

Apesar de não haver receitas universalmente eficazes para bem estudar, visto que aquilo que funciona com algumas pessoas não funciona tão bem com outras, vejamos rapidamente algumas regras básicas.

LER DE FORMA ATIVA
Comece por uma leitura rápida

A leitura eficaz de um texto ou de um conjunto de textos processa-se em duas etapas distintas.

Numa primeira etapa, lê-se "por alto", faz-se uma leitura rápida, dando particular atenção a títulos, esquemas, anotações e frases em destaque. O objetivo é saber de que assunto se trata e identificar os elementos mais importantes ou mais interessantes do texto.

Depois de obter uma visão geral do assunto, chega o momento de ler "em profundidade". Nesta segunda etapa, o leitor aproxima-se do texto, de forma cuidadosa e crítica, para compreender melhor o que se diz e como se diz. A compreensão do texto é fundamental para elaborar corretamente esquemas ou resumos e para fazer bons comentários.

Consulte o dicionário (geral e/ou especializado)

A ignorância das palavras constitui o primeiro obstáculo à compreensão de um texto. Por isso, deve consultar o dicionário, sempre que encontre palavras desconhecidas cujo significado não pode descobrir pelo contexto.

Divida o texto em blocos

A não ser que se trate de um texto muito pequeno, é sempre possível distinguir nele várias partes, cada uma delas com certa unidade de sentido. Convém reler cada uma dessas unidades separadamente, procurando destacar a(s) idéia(s) principal(ais). Por vezes o próprio livro já explicita essa divisão; nesse caso, é só respeitá-la.

Faça sublinhados e anotações

Fazer sublinhados e anotações é um processo de leitura ativa que desperta a atenção e facilita a captação das idéias. Além disso, sublinhados e anotações são auxiliares preciosos para tirar bons apontamentos e rever matéria.

Os sublinhados são muito úteis: obrigam-nos a uma leitura mais atenta e permitem pôr em destaque os aspectos fundamentais de um texto. Com eles as revisões tornam-se mais rápidas e produtivas.

A arte de sublinhar está na capacidade de selecionar o essencial. Sublinhar tudo é tão inútil como não sublinhar nada. Aconselha-se ao leitor que sublinhe, de preferência, definições, fórmulas, esquemas, termos técnicos ou outras expressões que sejam a chave da idéia principal.

Erros a evitar:
-Excesso de sublinhados (mais uma vez, sublinhar tudo é não sublinhar nada);
-Sublinhado por impulso (assinalar a primeira frase que nos desperta a atenção pode ser um erro).

Procedimentos:
-Fazer uma primeira leitura, para apreender a idéia geral do texto;
-Numa segunda leitura, sublinhar as idéias que consideramos fundamentais;
-Se necessário, usar dois tipos de sublinhado (reto e ondulado, por exemplo), um para as idéias mais importantes, outro para aspectos secundários.

As anotações são reações do leitor, escritas à margem dos textos. Essas anotações podem expressar-se através de palavras ou pequenas frases que resumam a idéia central de um parágrafo. As anotações devem constituir uma espécie de sumário do fragmento e podem chamar a atenção para outra parte do livro, relacionada com o assunto que está a ser tratado. Não se esqueça que o uso de abreviaturas facilmente compreensíveis facilita a redação de notas.

Os sublinhados e anotações completam-se mutuamente.

Elabore esquemas e resumos
Os bons estudantes conhecem as vantagens de elaborar esquemas e resumos das suas leituras. Esquemas e resumos facilitam a aprendizagem e permitem revisões rápidas antes das provas.

Os esquemas permitem visualizar facilmente o conteúdo de um texto. São ideais como "auxiliares de memória", mas podem perder o sentido com o decorrer do tempo. Daí que os resumos se tornem mais aconselháveis, uma vez que neles se condensam as idéias essenciais, usando frases bem articuladas.

Um bom resumo é a reconstrução abreviada do texto original, por palavras próprias, seguindo o plano e o pensamento do autor. Isto exige a identificação e o registro das idéias de cada parágrafo.

Resumir não é comentar. Um bom resumo diz apenas, com brevidade, clareza e rigor, o que disse o autor do texto. O comentário vai além do resumo, na medida em que implica:
-compreender a idéia central do texto e os argumentos utilizados pelo autor para defesa dos seus pontos de vista;
-situar o texto na obra do autor e no seu contexto histórico, cultural ou filosófico;
-apreciar o valor das idéias apresentadas, comparando-as, por exemplo, com as idéias defendidas por outros autores a respeito do mesmo assunto.

PREPARAR PROVAS DE AVALIAÇÃO

Tire apontamentos das aulas
Um texto pode sempre ser relido, mas as exposições orais normalmente são únicas. Por isso é importante tirar notas durante as aulas.

O estudante deve registrar sempre os esquemas, as sínteses, os comentários e as indicações bibliográficas que o professor apresenta na aula. Não vale a pena tentar escrever todas as palavras do professor. É mais eficaz anotar as idéias, por palavras próprias.

Procedimentos:
-Ficar atento e distinguir o essencial do acessório;
-Usar uma escrita sintética (telegráfica) para poupar tempo;
-Sempre que possível recorrer a abreviaturas;
-Registrar com cuidado os esquemas e sínteses, se os houver;

Muitas vezes, o estudante precisa completar ou esclarecer o que escreveu nas aulas. Esse trabalho de reescrita deve ser feito o mais cedo possível, quando a matéria ainda está fresca, para que os apontamentos fiquem prontos a usar, no momento das revisões finais.

Estude com regularidade

Estudar à última da hora, sob pressão, não é um método seguro. É uma prática traiçoeira que, em vez de facilitar a aprendizagem, favorece as confusões. Quando surgem dúvidas, não há hipótese de esclarecê-las. Além disso, o aluno que estuda na véspera horas seguidas, sem intervalos, vai cansado para os testes, correndo o risco de interpretar mal as perguntas e embaralhar as respostas.

Os alunos responsáveis estabelecem prioridades e preparam-se com tempo. Na véspera dos testes, limitam-se a fazer uma revisão final.

Verifique se sabe a matéria
Antes de realizar uma prova, o estudante deve proceder a uma cuidadosa auto-avaliação para verificar se sabe, de fato, a matéria. Uma coisa é julgar que sabe e outra é saber mesmo. Importa que ele confirme se compreendeu e sabe explicar, por palavras próprias (oralmente ou por escrito), as idéias essenciais.

Ao tomar consciência dos seus pontos fracos, está a tempo de dar uma nova passagem pela matéria e evitar surpresas desagradáveis. Ao verificar que domina os assuntos, o estudante reforça a sua autoconfiança, encarando assim os testes com maior tranqüilidade.

Preste atenção às perguntas
Quando se enfrenta uma prova escrita, a primeira coisa a fazer é ler todo o enunciado e respectivas instruções. Com uma visão global do teste, é mais fácil tomar decisões sobre a forma de organizar as respostas e distribuir o tempo.

Cada pergunta merece uma leitura atenta para que não haja dúvidas sobre o que se pede. Questões complexas exigem ainda maior cuidado. É essencial responder concretamente ao que é pedido.

Perante perguntas que exigem desenvolvimento, convém fazer uma lista de tópicos orientadores da resposta. O estudante que estrutura as suas respostas, com base em tópicos, não se perde em repetições ou divagações.

Verbos utilizados com maior freqüência nas provas de avaliação:
Avaliar ; Caracterizar ; Comentar ; Comparar ; Criticar ; Definir ; Demonstrar ; Discutir ; Distinguir ; Enunciar ; Explicar ; Fundamentar ; Identificar ; Interpretar ; Justificar ; Relacionar
Mostrar o valor ou validade.
Pôr em evidência os elementos principais ou distintivos.
Explicar, tomando posição fundamentada.
Apresentar semelhanças e diferenças.
Dar opinião pessoal. Tomar posição, a favor ou contra
Dar o significado exato.
Apresentar provas.
Defender ou atacar. Criticar.
Mostrar as diferenças
Dizer qual é ou quais são, de forma breve. Indicar.
Clarificar o sentido. Desenvolver, para tornar inteligível.
Mostrar as bases.
Dizer quem é ou o que é.
Esclarecer o sentido. Fazer um comentário crítico.
Dizer porquê. Apresentar provas.
Estabelecer ligações.

Fundamente as opiniões pessoais

Os professores apreciam mais os testes que revelam originalidade na forma de transmitir os conhecimentos.

Ser original não significa necessariamente dar opiniões pessoais. A experiência aconselha mesmo a que o estudante não expresse opiniões, desde que não lhe sejam pedidas. Se tiver de expressá-las, é importante que as fundamente com fatos ou argumentos convincentes.

Argumentações pobres e afirmações levianas desvalorizam os testes. O estudante terá vantagem em defender os seus pontos de vista numa linguagem moderada, baseando-se, sempre que possível, em autoridades reconhecidas na matéria: "Tendo em conta a opinião de... Parece-me que..."

Um comentário é tanto mais apreciado quanto mais fundamentado e menos dogmático for.

Respeite as regras da escrita
Muitas vezes, os testes mostram que os alunos não trabalharam o suficiente ou estudaram sem método. Outras vezes, há confusões, porque os alunos não respeitam as regras da escrita. Usam palavras cujo sentido não dominam ou constroem frases demasiado longas, sem a adequada pontuação.

Um caminho seguro para construir textos inteligíveis e agradáveis é optar por palavras bem conhecidas. Também as frases curtas se tornam preferíveis, na medida em que são menos traiçoeiras para quem escreve e menos fatigantes para quem lê.

Não basta ter idéias. É preciso ser capaz de transmiti-las com clareza e rigor.

Fonte
A. Antunes, A. Estanqueiro, M. Vidigal (adaptado)
Ser em Português - 10º B, Areal Editores (adaptado)
http://pwp.netcabo.pt/0511134301/docum.htm

David Pontes (Como se Ensina o Prazer da Leitura)

Baciadas de livrinhos coloridos e dúzias de CD-ROM educativos não fazem a criançada gostar de ler. Quase sempre é por aí que vão os pais quando percebem o baixo rendimento dos filhos nas aulas de Português, sua dificuldade de compreender um texto, a inapetência para as letras e - portanto - a pobreza na comunicação com o mundo, mas chapá-los ou diverti-los com sopinhas alfabéticas não resolve a parada. No máximo, os pequenos acabam se acostumando a mais esta atividade. Ter prazer na leitura é que funciona como vitamina, e o segredo para aplicá-la é: escolher um bom conto de fadas, empostar a voz e ler para eles.

Parece pouco, mas é um acontecimento grandioso. Ouvir uma história contada ao vivo, pelos pais ou por alguém conhecido, é uma experiência que marca para sempre. Aí se juntam elementos fundamentais no desenvolvimento. A presença e a dedicação do adulto naquele instante, sua entonação e semblante, seu estado de espírito e o conteúdo da narrativa, tudo isso se junta e se mistura aos sentimentos e à imaginação das crianças. É um raro momento de integração profunda, que gera energia de crescimento. E o prazer desta hora se liga ao texto. Assim se inscreve a leitura na memória das coisas boas, e assim se abrem as portas para uma criativa busca do conhecimento.

Bastam 10 minutos por dia, ou a cada dois dias, três ou só no fim-de-semana... Não precisa - e nem pode - ser nada penoso ou complicado. Apenas um momento reservado regularmente para um adulto afetivo se sentar, abrir um bom livro e ler em voz alta. Para os pequenos, é um momento para ouvir, sentir e fantasiar, como quiserem e puderem. Por isso, não vale cobrar nada deles. Sem essa de "vamos ler, agora fique quietinho". Crianças ouvem historinhas cantarolando, andando, falando, mexendo e se mexendo, e às vezes até vão para outros cômodos da casa sem pedir pausa na leitura. Não importa. Sua maneira de prestar atenção, seu ritmo, tudo é diferente. O que importa é a voz que conta o conto, que repete infinitas vezes um trecho a pedido do ouvinte, que responde às perguntas sem reclamar da "interrupção".

Quando "atrapalham" a leitura dos grandes, os pequenos estão apenas se aproximando do texto. Não é este o objetivo? Então é indispensável deixar que toquem o livro, virem a página para ver a ilustração seguinte, sintam a textura do papel e a harmonia das letras... Vale até atiçar a curiosidade e sua vontade de ver a história escrita. É bom lembrar: esta é uma experiência que os adultos oferecem às crianças, de graça, sem exigir nada em troca, sem policiar nem chatear. Quem não tem disposição e paciência para isso, melhor fazer só cinco minutinhos, ou dois, para que não se torne uma experiência desagradável - e acabe produzindo o efeito contrário. É necessário, aliás, que estes momentos não estorvem a rotina. A leitura não pode ocupar o tempo de brincar, de fazer lição ou de comer. Já o tempo da TV e do videogame...

Desligar as telinhas para contar histórias seria um grande presente. Trocar o estímulo unidirecional, com imagens chocantes que cavam espaços estáticos na memória, pela integração afetiva, que fortalece e desenvolve, é um negócio irrecusável. Claro que o conteúdo do texto é fundamental. O que potencializa esta grande usina criativa são as narrativas que têm situações do imaginário da criança, repleto de antíteses: bom-mau, bem-mal, certo-errado, bonito-feio, grande-pequeno, alegre-triste... Ou seja, são os contos de fadas mais antigos, com personagens maus e cruéis, que valem como combustível na ebulição dos sentimentos. Não servem as versões moderninhas, açucaradas e politicamente corretas. Sentindo que a leitura alimenta e fortifica o coração, a molecada pode então gostar dela.

Mais ainda se estes momentos forem marcados pela presença dos pais - que é sempre especial - e pela sua própria satisfação em ler. Ensinar o prazer da leitura é também se apresentar às crianças como alguém que gosta de ler, e que ganha com isso. Quem se sente bem com um livro nas mãos deve se exibir orgulhosamente aos pequenos. Aos menos habituados cabe um esforço, que não é tão grande assim. Afinal, quem não pôde se apaixonar pela literatura na infância tem agora a chance de mergulhar na fantasia por alguns minutos, enquanto a filharada escuta, se encanta e começa a preparar sua própria história.

Fonte:
http://www.moderna.com.br

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Nilton Tuller (Pai, Desculpe a Franqueza)

PAI .Puxa ! Faz tempo que não pronuncio esse nome. Sabe papai, eu era um menino cheio de vida. Tinha sonhos febris como os meus colegas de escola. Sim eu sonhei em ser tantas coisas lindas!!! Só não sonhei em ser o que sou hoje. Eu pensava: vou crescer, estudar, trabalhar, etc., etc.

O senhor era meu herói. Sim meu Pai Herói. Para mim não existia ninguém com mais autoridade que o senhor. É certo que eu estranhava quando o senhor chegava, meio alcoolizado em casa, abetumado macambúzio e jururu. Mas papai, eu quero dizer aqui de longe algo que trago no meu peito há muito tempo. O senhor não me preparou para enfrentar a vida. Lembra papai, o senhor não tinha tempo para mim. É verdade que o senhor me dava presentes, eu creio que o senhor nunca se esqueceu de um presente de natal, aniversário e tantas outras vezes. Só se esqueceu da minha pessoa. Lembrou-se do que eu precisava, e até do supérfluo, mas não se lembrou do que eu era. Eu era, na verdade um órfão de pai vivo! Pai, eu não queria os seus presentes apenas, eu queria mesmo era você. Queria e ansiava seu calor, o seu abraço, o seu beijo a sua atenção. Abraço . Nem me lembro de ter recebido um! O senhor nunca elogiou um boletim escolar que trazia para casa. Um dia a minha bicicleta descentralizou as rodas. Lembro-me como se fosse hoje. O senhor ia saindo para o escritório. Eu lhe pedi para me ajudar. Lembra papai o que me respondeu . Eu não tenho tempo. Meus clientes estão me esperando. Puxa vida, eu senti tanto ciúmes do senhor. Afinal seus clientes eram mais importantes do que eu. Você e mamãe estavam tão ocupados que mal me viram crescer. Vocês tinham que satisfazer os compromissos com a sociedade. Eu me sentia só, e isto me revoltava. Nasceu dentro de mim um conflito. Eu não sabia bem se o odiava ou tentava chamar a sua atenção para o meu dilema. Eu queria tanto que o senhor soubesse que apesar de tudo eu o amava. Hoje estou confuso, e nem sei mais o que é amor. Eu sei papai, que o senhor não é de tudo culpado. O senhor é fruto de uma sociedade consumista. Comunista e humanista. O senhor nunca me ensinou nada sobre religião, fé, Deus. Nas refeições vocês só falavam em negócios, dinheiro, ações, investimentos etc... Eu quase não via você chegar. Ah! Se você tivesse adivinhado que as poucas vezes que eu estava acordado, esperava que a porta do meu quarto abrisse e você fosse assentar na minha cama e pudesse me desejar uma boa noite. Mas... você passava direto para o seu aposento. Por causa disso papai, eu por curiosidade, por auto-afirmação ou aventura, não sei, entrei para as drogas. Como o senhor não me ajudou, os traficantes me adotaram.

E então os meus sonhos se desmoronaram. Eu que o admirava tanto, passei a chamá-lo de quadrado, velho, coroa e outros adjetivos.

Hoje estou aqui atrás das grades. Sim papai, estou preso nas garras do vício, na malha da lei. Pior,que isto. Estou preso nas minhas esperanças.

Mas... pensando melhor pai, eu olhei agora pelas grades da prisão e vi lá fora bem alto e longe uma nesga de céu azul. Creio que há esperança. Eu quero sair daqui papai. Quero ser livre. Liberte-se também de tudo aquilo que lhe prende, e vamos começar de novo. Vamos fazer um convênio. EU VOLTO A SER CRIANÇA, E O SENHOR VOLTA A SER PAI.
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Sobre o Autor:
NILTON TULLER
Cadeira Nº.17 – Patrono: Gonçalves Dias
Pastor evangélico. Foi vereador. Presidente fundador do MOLIVI (Movimento para Libertação de Vidas). Nasceu em Martinópolis-SP, no dia 30 de maio de 1939. Autor de “Por que um jovem entra nas drogas?” e “Vencendo no poder da fé”.
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Fonte:
Academia de Letras de Maringá
http://www.afacci.com.br/
Fotomontagem: José Feldman

Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI)


A Associação dos Literatos de Ubiratã - ALIUBI, há vinte anos difundindo as Artes Literárias pelo Brasil e exterior, estende a oportunidade de edição a todos os amantes da poesia.

2.007 com certeza foi mais um ano de festa no palco da literatura brasileira pois, expandir as artes literárias tornou-se para a ALIUBI,tarefa de máxima importância e responsábilidade, já que no decorrer destes anos, retrataram com muito sucesso o trabalho de inúmeros talentos do Brasil e exterior.

No decorrer desta jornada, a Aliubi tornou-se não apenas uma associação, mas sim, um lar de poetas, " uma familia", onde a união de idéias, ideais e sonhos de todos os participantes, fez o " Seu Sucesso!!!".

A voce que participa conosco há tempos, "muito obrigado", e a voce que vem participar pela primeira vez, "muitíssimo obrigado pelo apoio e, sejam bem vindos à família Aliubi!". (Joacir Zen Ranieri - presidente)

Antoine de Saint-Exupéry (1900 - 1944)

“Vou confiar-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”

Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe veio ao mundo em Lyon, França, em 29 de Junho de 1900, e desapareceu em 31 de Julho de 1944, no Mediterrâneo.

Com a prematura morte de seu pai, monsieur Jean de Saint-Exupéry, Antoine foi ter uma infância feliz ao lado da mãe, dos três irmãos e da tutora austríaca Paula no velho castelo da tia avó materna, Madame de Tricaud, em Saint-Maurice de Rémens.

Neste tempo, o melhor amigo de Antoine era um velho fogão... aos 12 anos já escrevia versos como este em louvor das máquinas de voar "Les ailes frémissaint sous le souffle du soir" (Asas fremiam à brisa do crepúsculo).

Apaixonado desde a infância pela mecânica, estudou a princípio no colégio jesuíta de Notre-Dame de Saint-Corix, em Mans, de 1909 a 1914. Neste ano da Primeira Guerra Mundial, juntamente com seu irmão François, transfere-se para o colégio dos Maristas, em Friburgo, na Suíça, onde permanece até 1917. Quatro anos mais tarde, em abril de 1921, Antoine inicia o serviço militar no 2º Regimento de Aviação de Estrasburgo, tinha dificuldades de se ajustar à disciplina da realidade; entregando-se a devaneios, fazia poesias, sonhava acordado, foi reprovado nos exames para admissão da Escola Naval.

Após a doce infância, a dura realidade de sua juventude contrastaria com o conto de fadas vivido em Saint-Maurice.

Nessa época, seus colegas de juventude descreviam Antoine como um “jovem tímido e introspectivo, e com tendência a súbitas mudanças de humor, transformando-se, rapidamente, de uma pessoa cheia de vida a uma atitude calada; pouco sociável e indócil, sofria, porque queria ser amado.”

Falhara irremediavelmente no concurso para ingresso na escola naval, porque ultrapassara a idade limite; então, foi estudar arquitetura. Foi um período “sociável” de Antoine, mas uma época insípida, porque, embora gostasse de desenhar, não estava feliz com os estudos de arquitetura. Quando Antoine foi convocado para servir no Segundo Regimento da Força Aérea, em 02 de Abril de 1921, ele sentiu a chance de encontrar o seu verdadeiro caminho: A aviação.

A paixão de Antoine por aviação era antiga; nos tempos de infância, próximo ao castelo de Saint-Maurice, havia uma pista de aviação, na qual ele sempre espionava o vem-e-vai de pilotos e mecânicos, admirando-lhes a dedicação ao novel meio de transporte e o clima de camaradagem entre eles.

Em um dia do ano de 1912, um famoso piloto, Vedrines, levou Antoine para um passeio de avião. Este dia tornou-se inesquecível para Antoine, que descobriu que tinha alma de piloto de avião; sua bicicleta, ele transformou em um “avião”, fixando nela um par de asas...

Mas, no Segundo Regimento da Força Aérea de Strasbourg, Antoine logo se desiludiu: Eles não o haviam convocado para o pessoal de vôo, e sim como assistente de serviços de terra. Nesta ocasião, deprimido, como de costume, ele revelou sua tristeza a sua mãe, em uma carta:

À noite, sinto-me um pouco triste. Venha algum dia a Strasbourg. Sinto-me um tanto sufocado neste lugar. Eu estou sem perspectivas. Eu preciso me dedicar a algo que eu goste. Mãe, se você soubesse o quanto é irresistível o meu desejo de voar! Se eu não conseguir meu objetivo, eu serei muito infeliz... Mas eu vou conseguir” (1921)

A 17 de junho, obtém em Rabat,para onde fora mandado, o brevê de piloto civil. No ano seguinte, 1922, já é piloto militar brevetado, com o posto de subtenente da reserva. Em 1926, recomendado por amigo, o Abade Sudour,é admitido na Sociedade Latécoère de Aviação, onde começa então sua carreira como piloto de linha, voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar, na mesma equipe dos pioneiros Vacher, Mermoz, Guillaumet e outros.

A falta de recursos para estudar aviação, tendo de se socorrer, constantemente, da generosidade da mãe, talvez, explique a ansiedade de Antoine, a impaciência e os conseqüentes acidentes em que se envolvia.

Definitivamente, Antoine não era um homem de sorte: Sem dinheiro, sem trabalho e moralmente abatido pelo último acidente que o fez perder tudo... Então, longos meses de amargura vieram.

Durante um tempo, quando recuperou-se dos ossos quebrados, foi trabalhar contando telhas; sentia-se prisioneiro entre as quatro paredes do escritório de quatro metros quadrado, atrás das barras de intermináveis colunas de números.

Em 1923, Antoine se descrevia, em cartas a sua mãe, como um patético, vivendo uma situação desprezível e desalentadora. Sua vida era dividida entre o escritório e o quarto de hotel onde vivia. Sua alegria era pilotar, aos finais de semana, quando tinha dinheiro para tanto... Então, seu entusiasmo não tinha limites:

Mãe, Domingo eu fui dar uma volta de avião. Tive um bom vôo. Eu adoro voar. Você não pode imaginar a calma e a solidão que se encontra a 4.000 metros de altitude, sozinho com o motor.”

Em 1924, um novo emprego: Representante de vendas de caminhão; então, viajava o tempo todo para muitos lugares, mas, em quinze meses, vendeu apenas um caminhão... Através de uma parente distante, Antoine conheceu Jean Prevost, o qual publicou alguns de seus escritos na edição de Abril (1926) da revista “Navire d’argent”. O Piloto, era a estória de um instrutor de vôo que, como ele, tinha depressão quando abandonava seu avião. O Piloto foi um sucesso. Nesta ocasião, conheceu Beppo de Massimi, um dos idealizadores da Companhia Aérea Latdcoe’re, que o apresentou ao inflexível e perspicaz Didier Daurant.

Antoine queria ser piloto da empresa e teve sucesso na entrevista com Daurant que, no entanto, mandou Antoine para o galpão de mecânica primeiro, como fazia com todos que queriam ser pilotos.

Alguns meses mais tarde, Antoine já voava entre Toulouse-Rabat; depois, Dakar-Casablanca, num perigosíssimo percurso de 2.765 quilômetros sobre território africano. Realizado, escreveu a sua mãe, em 1926: “Estou bem e feliz”.

Em 1927, Didier Daurant designou Antoine para assumir uma base da empresa em Cape Juby, entre Casablanca e Dakar, cuja missão seria a de resgatar pilotos franceses civis que caíssem no deserto, os quais não podiam contar com o auxílio das forças espanholas em território dissidente; muitos pilotos tinham tido suas gargantas cortadas no deserto e Daurant precisava de alguém que tivesse diplomacia para lidar com os militares espanhóis, a fim de obter permissão para construção de uma pista de pouso no deserto; ainda, tinha que ser um homem corajoso e disposto a voar, a qualquer hora, para resgatar seus companheiros que caíssem no deserto do Saara. De fato, ninguém mais apropriado para tal missão que “Saint-Ex”.

Porém, Antoine viveu ali um fim de mundo, solidão, silêncio e isolamento, cercado pelo mar de um lado e pelo deserto do outro, precariamente instalado em uma barraca que repartia com o mecânico “Toto”, dormindo em um colchão fino, com uma jarra de água e bacia de lavar o rosto, com sua máquina de escrever e alguns papéis timbrados da empresa. Antoine conquistou a confiança dos militares espanhóis e, ainda, através das crianças, a amizade dos árabes, com os quais podia contar para resgatar pilotos que caíam no deserto. Nestes tempos, escreveu seu primeiro livro, Southern Mail, sobre uma tábua apoiada em dois barris. Depois de dezoito meses em Cape July, a missão de Antoine fora ali mais do que cumprida e, como resultado de seu esforço, foi condecorado. Quando chefiou o posto de Cap Juby,que os mouros lhe deram o cognome de senhor das areias.

Em seguida, Didier designou Antoine, em Outubro de 1929, como gerente chefe da companhia Aeroposta-Argentina, com a missão de abrir novos caminhos para a companhia na costa da América Latina; mesmo ganhando 225 mil francos por ano, Antoine não se sentia completamente feliz.

Todavia, foi neste período em que escreveu seu segundo livro, Night Flight, que fez um sucesso fabuloso entre o público. Mas, seus amigos o reprovaram, acusando Antoine de haver distorcido a verdadeira realidade existente na vida dramática dos pilotos que faziam os vôos noturnos.

Em 1931, Antoine casou-se com Consuelo Suncin. A Aeroposta Argentina entrou em declínio e Antoine foi demitido, voltou ao posto de simples piloto, fazendo os vôos noturnos entre Casablanca e Dakar. Porém, o governo francês transformou todas as empresas aéreas em apenas uma, a Air France, e Antoine voltou a estaca zero, com um trabalho apático de piloto de teste na companhia Latecoere, em 1932. Antoine é um péssimo piloto de testes e é obrigado a desistir deste trabalho. Em 1935, passa a viajar pela França e no exterior pelo departamento de propaganda da Air France. Então, começa a escrever artigos para o jornal “Paris Soir”; seus artigos fazem sucesso, sua situação financeira melhora e ele compra seu avião, o “Simoun”.

Ao comprar o “Simoun”, um de seus projetos era bater o recorde de velocidade entre Paris e Saigon. Em 29 Dezembro de 1935, Antoine e seu mecânico Prevot caíram no deserto, onde passaram cinco dias morrendo de sede, tendo miragens e quase morreram, quando, então, foram resgatados por beduínos. Esta experiência serviu de pano de fundo para o Pequeno Príncipe.

Apesar de ter quase morrido no deserto, Antoine não perdera a coragem, nem a fascinação pelo perigo. Ia levando a vida exercendo o jornalismo. Pelo jornal “O Intransigente”, foi enviado à Barcelona para acompanhar a guerra civil, onde Antoine passou pela amarga experiência de presenciar atrocidades.

Passados já alguns anos da fracassada aventura Paris-Saigon, Antoine estava pronto para outra: Uma corrida aérea entre Nova Ioque e Tierra del Fuego; ao decolar de uma pista na Guatemala, houve um sério acidente: Antoine teve traumatismo craniano, quase perdeu o ombro esquerdo e permaneceu em coma por vários dias em Nova Iorque. Demorou muitos meses para que Antoine se recuperasse e, durante este período, ele escreveu um novo livro, Wind, Sand and Stars, um livro de memórias sobre seus dez anos de pilotagem e velhos amigos dos tempos da rota Toulouse-Dakar, os pilotos Mermoz e Guillaumet. Em Maio de 1939, recebe o Grande Prêmio da Academia francesa. Quatro meses depois, eclodia a Segunda Grande Guerra.

Neste tempo, Antoine é capitão da reserva da Força Aérea de Toulouse. Mas, sua idade (39 anos) e seu estado de saúde (ombro semi-paralítico) o impedem de realizar missões aéreas. Porém, Antoine não se conformou com a idéia de ficar na reserva, e passou a envidar todos os esforços para poder participar de missões aéreas durante a guerra. Tanto se esforçou que convenceu o General Davet que, por sua vez, convenceu seus superiores de que, na força aérea, o que importa “não é a condição física do coração, mas sua dedicação.”

Assim, em 03 de Novembro de 1939, foi designado para o esquadrão de reconhecimento em Orconte, na província de Champagne. As experiências em Orconte, Antoine descreveria em Flight to Arras.

Em 22 de Junho de 1940, a França assinou um armistício de derrota e Antoine, sentindo-se extremamente humilhado, abandonou seu país, partindo para Nova Iorque. A França estava sob o jugo do domínio alemão e, por isso, o livro Flight to Arras, lido por um grande público americano, teve sua distribuição proibida pelos alemães na França.

Antoine permaneceu por dois anos nos Estados Unidos, correspondendo-se, por carta, com o jornalista Léon Werth, um amigo que vivia na França ocupada pelos alemães. Estas cartas foram publicadas em Fevereiro de 1943 e, em Abril do mesmo ano, foi publicado o Pequeno Príncipe, que recebeu um fria recepção do público. Ninguém poderia imaginar que, da literatura de Antoine, seria produzido um livro como o Pequeno Príncipe, que se constituía de uma curta história para crianças, onde os animais falavam. Era inimaginável, para muitos, que um homem de ação, e com o perfil de um herói como Antoine, pudesse escrever histórias para crianças.

Todos que conheceram Antoine sabem que, sempre que tinha qualquer pedaço de papel às mãos, fosse um guardanapo de restaurante ou um papel de carta, ele desenhava crianças. Questionado, certa vez, pelo seu editor, nos Estados Unidos, Curtice Hitchcock, o que desenhava, ele respondeu: “Nada demais, apenas a criança que existe no meu coração”, ao que o editor lhe replicou que ele deveria escrever a história daquela criança em um livro de crianças. Daí, talvez, haver nascido o livro Pequeno Príncipe, cujos desenhos foram feitos pelo próprio Antoine, sem a ajuda de profissionais, de modo que as ilustrações pudessem ter a mesma simplicidade e a mesma doçura do caráter daquela curta história.

O Pequeno Príncipe foi, ao mesmo tempo, o mais simples e o mais profundo livro escrito por Antoine; superficialmente, é uma pequena história para crianças, mas, na realidade, é a história de uma criança escrita para os adultos. O Pequeno Príncipe foi “a criança que vivia dentro de Antoine, que o emocionava e o guiava, a criança que o fazia levantar nos momentos cruciais de sua vida, que o prevenia de tomar decisões estúpidas como muitos adultos que acreditam em números, em demonstrações, na seriedade da lógica mais do que na seriedade do coração”.

Em 1942, os Estados Unidos decidem entrar na Grande Guerra e desembarcam no Norte da África; após publicar o Pequeno Príncipe, Antoine segue para Algiers para se juntar a seus companheiros, sob o comando americano, no esquadrão 2/33.

Os americanos equipam o esquadrão com aeronaves Lightning P-38, que alcançam velocidades de até 700 Km/h; para pilotá-las, não podem os pilotos ter mais de 35 anos; aos 43 anos e com um ombro paralisado, Antoine seria excluído da pilotagem, mas, graças às suas amizades influentes, obtém autorização para pilotar os Lightning P-38.

Depois dos 40 anos queria continuar voando em missões de guerra, numa idade que já era excessiva para tal tarefa. Tentou durante vários meses, até que no final conseguiu retornar a sua esquadrilha de reconhecimento. Além das razões patrióticas, havia outra de muita importância pessoal: continuar desfrutando do vôo.

Não suportava os trabalhos administrativos e burocráticos, se bem que teria exercido um papel mais útil se os aceitasse, tendo em vista suas relações e influência. Não obstante, usou essas mesmas relações para obter a autorização de vôo, após vários meses de negativas por parte do comando aliado. A partir daí começa a ter lugar uma seqüência de fatos que acabaram por levar Saint-Exúpery ao desenlace fatal, em 31 de julho de 1944, quando desapareceu junto com seu avião.

Em 6 de junho decolou em sua primeira missão, que era fotografar vários objetivos simples na região da Marselha; um incêndio em seu motor esquerdo obrigou-o a voltar antes de chegar à zona do objetivo.

A segunda missão foi em 15 de junho, e quase desmaiou quando o regulador de oxigênio apresentou um defeito. Em 24 de junho aterrissou pensando que tudo ia bem, quando notou que não conseguia parar uma das hélices e que um único motor fazia todo o trabalho. Como diz Curtis Cate, seu biógrafo, "era um exemplo dessa distração que fazia sacudir a cabeça de seus camaradas". Sua idade e condições físicas são incompatíveis para a pilotagem dos P-38; Antoine é cortado do esquadrão.

Em 29 de junho de 1944, dia de seu aniversário, a missão em pauta era fotografar a região do lago de Annecy, à qual associava profundas e numerosas lembranças de infância. O turno cabia a outro piloto, mas ele suplicou que trocassem, quase como um presente de aniversário, para voltar a percorrer aquela região de tantas lembranças. Logo depois de decolar, perdeu um motor; sabia-se assim alvo fácil para um caça alemão, razão pela qual fez um desvio para os Alpes, onde havia menos bases inimigas e ele teria a possibilidade de mergulhar num vale se visse um caça à distância. Abaixo de seu avião, as montanhas se transformavam pouco a pouco em bases de encostas e colinas. De repente, descobre uma planície, nela uma grande cidade, e ao redor numerosas pistas de aviação. Em sua traseira aparece um caça: "Enfio a cabeça na cabine e espero. Meu pobre Antoine, desta vez estás acabado. Uma última lembrança, todos os que me esperam esta tarde, vigiando o horizonte... mas por que demora tanto a morte?". O caça o tomara por um amigo. "Reconheço Gênova e ao mesmo tempo volto a ver as muitas bandeirolas cravadas sobre esta cidade; é uma cidade muito protegida".

Em carta que escreveu a seu amigo Pellissier diz: "Exerço uma estranha profissão para minha idade. O mais velho, depois de mim, tem seis anos menos do que eu. Mas prefiro esta vida: o café da manhã às 7 horas, a comida, a tenda de campanha ou o quarto pintado de cal, em seguida, 10.000 metros de altitude em um universo inédito: é melhor que o ócio atroz de Argel" (lugar onde se refugiara quando da queda da França ante os alemães) "Para mim é impossível descansar e trabalhar na provisoriedade do limbo. Ali me falta o sentido social. Mas escolhi o gasto máximo e, como sempre, terei que ir até o extremo de mim mesmo, e não retrocederei. Desejo que esta sinistra guerra termine antes que me tenha extinguido por completo, como uma vela em combustão. Tenho outro trabalho para fazer mais adiante".

Além destes fatos, houve outros que puseram em perigo sua vida, todos relacionados com esquecimentos e distrações. Dizia simplesmente, "terminarei como meus amigos" (fazendo referência ao fato de que era o último que restava de seus velhos camaradas da AeroPostale). Em uma despedida disse: "estou seguro que não voltarei a vê-la".

Por oito meses, Antoine usa de todos os recursos para convencer pessoas influentes a ajudá-lo a retornar às missões de vôo; passa por períodos de depressão, ao mesmo tempo em que dá continuidade ao livro The Wisdom of the sands, publicado após a sua morte.

Finalmente, o Coronel Chassin, que conhecia Antoine por muitos anos, consegue convencer o General americano Eaker a deixar Antoine reintegrar-se ao esquadrão aéreo, desta vez, na Sardinia, sob a condição de que não faria mais do cinco missões de reconhecimento; contudo, estas cinco missões se transformaram em oito, porque Antoine sempre se oferecia para as missões subseqüentes.

No dia 31 de Julho de 1944, às quinze para as nove da manhã, Antoine saiu em sua nona missão, com o objetivo de fotografar Grenoble e Annecy. Uma e meia da tarde, Antoine não tinha voltado, quando ainda lhe restava apenas mais uma hora de combustível. Às duas e meia da tarde, seus companheiros suspeitaram que o pior havia acontecido.

Em 1998, um pescador (Habib Benamor) encontrou na rede que lançara ao fundo do mar uma pulseira que pertencera Exupéry.

Cinco anos antes (1993), o banco central francês lançou uma nota de cinqüenta francos com o seu retrato ao lado do Pequeno Príncipe.

Intensas pesquisas no fundo do mar próximo à Ilha de Riou foram envidadas pelo engenheiro e especialista na exploração de naufrágios Henri-Germain Delauze. O mergulhador profissional Luc Vanrell, que havia fotografado escombros metálicos naquela região (em 1982), passou a mergulhar naquela área do mar em busca de restos do avião de Exupéry, um P.38 F-5B da série J.

O DRASSM (departamento de arqueologia submarina do Ministério da Cultura francês) autorizou em 2003 uma pesquisa formal nos destroços encontrados pelos exploradores. Delauze e Vanrell passaram a trabalhar juntos. 10% da aeronave foi resgatada (uma peça de alumínio da fuselagem, um turbocompressor, componentes hidráulicos e elétricos). Philippe Castellano, historiador amador e mergulhador, foi chamado para ajudar na identificação das peças içadas à superfície pelo barco Minibex. Entre elas, Castellano encontrou o número 2734 gravado. Estava confirmado: Aquele avião era o de Exupéry...

Teria Exupéry escondido no fundo do mar o seu avião e viajado para o asteróide B 612 para juntar-se ao seu pequeno príncipe?

Uma carta foi encontrada no quarto de Exupéry. Estava endereçada ao General, a qual dizia em resumo:

Eu não me importo se eu morrer na guerra, ou se eu me transformar em alvo destes torpedos voadores, os quais nada têm de verdadeiramente voadores, e que transformam o piloto em um contador por meio de indicadores e botões. Mas, seu eu voltar vivo desta ingrata, mas necessária “tarefa”, haverá apenas uma questão para mim: O que se pode dizer à humanidade? O que se tem que dizer à humanidade?”

Suas Obras

Suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviação, a guerra. Também escreveu artigos para várias revistas e jornais da França e outros países, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França.

No entanto, deve-se dar uma atenção a este último, O pequeno príncipe (O Principezinho, em Portugal) (1943), romance de maior sucesso de Saint-Exupéry. Foi escrito durante o exílio nos Estados Unidos, quando fez visitas ao Recife. E para muitos era difícil imaginar que um livro assim pudesse ter sido escrito por um homem como ele.

O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geógrafo, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.

É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

Principais Obras
O aviador (1926);
Correio do Sul (1928);
Vôo Noturno (1931);
Terra de Homens (1939);
Piloto de Guerra (1942);
O Principezinho (pt) (1943).
Cidadela (1948)-
Cartas ao Pequeno Príncipe


Fontes
http://www.edmundolellisfilho.com/
http://pt.wikipedia.org/
Constelar on Line Edição 108 :: Junho/2007. http://www.constelar.com.br/

Antoine de Saint - Exupéry (O Pequeno Príncipe)

O narrador recorda-se do seu primeiro desenho de criança, tentativa frustrada de os adultos entender o mundo infantil ou o mundo das pessoas de alma pura. Ele havia desenhado um elefante engolido por uma jibóia, porém os adultos só diziam que era um chapéu. Quando cresceu, testava o grau de lucidez das pessoas, mostrando-lhes o desenho e todas respondiam a mesma coisa. Por causa disto, viveu sem amigos com os quais pudesse realmente conversar.

Pelas decepções com os desenhos, escolhera a profissão de Piloto e, em certo dia, houve uma pane em seu avião, vindo a cair no Deserto de Saara. Na primeira noite, ele adormeceu sobre a areia. Ao despertar do dia, uma voz estranha o acordou, pedindo para que ele desenhasse um carneiro. Era um pedacinho de gente, um rapazinho de cabelos dourados, o Pequeno Príncipe.

O narrador mostrou-lhe o seu desenho. O Pequeno Príncipe disse-lhe que não queria um elefante engolido por uma jibóia e sim um carneiro. Ele teve dificuldades para desenhá-lo, pois fora desencorajado de desenhar quando era pequeno. Depois de várias tentativas, teve a idéia de desenhá-lo dentro de uma caixa. Para surpresa do narrador, o Pequeno aceitou o desenho. Foi deste modo que o narrador travou conhecimentos com o Pequeno Príncipe. Ele contou-lhe que viera de um planeta, do qual o narrador imaginou ser o asteróide B612, visto pelo telescópio uma única vez, em 1909, por um astrônomo turco.

O pequeno Planeta era do tamanho de uma casa. O Pequeno Príncipe contou o drama que ele vivia, em seu Planeta, com o baobá, árvore que cresce muito; por este motivo, ele precisava de um carneiro para comer os baobás enquanto eram pequenos. Através do Pequeno Príncipe, o narrador aprendeu a dar valor às pequenas coisas do dia-a-dia; admirar o pôr-do-sol, apreciar a beleza de uma flor, contemplar as estrelas... Ele acreditava que o pequeno havia viajado, segurando nas penas dos pássaros selvagens, que emigravam.

O Príncipe conta-lhe as suas aventuras em vários outros planetas: o primeiro era habitado por apenas um rei; o segundo, por um vaidoso; o terceiro, por um bêbado; o quarto, por um homem de negócios; o quinto, um acendedor de lampião; no sexto, um velho geógrafo que escrevia livros enormes, e, por último, ele visitou o nosso Planeta Terra, onde encontrou uma serpente, que lhe prometeu mandá-lo de volta ao seu planeta, através de uma picada. No oitavo dia da pane, o narrador havia bebido o último gole de água e, por este motivo, caminharam até que encontraram um poço. Este poço era perto do local onde o Pequeno Príncipe teria que voltar ao seu planeta. A partida dele seria no dia seguinte. Falou-lhe, também, que a serpente havia combinado com ele de aparecer na hora exata para picá-lo. O narrador ficou triste, ao saber disto, porque tomara afeição ao Pequeno. O Príncipe lhe disse para que não sofresse, quando constatasse que o corpo dele estivesse inerte, afirmando que devemos saber olhar além das simples aparências. Não havia outra forma de ele viajar, pois o seu corpo, no estado em que se encontrava, era muito pesado. Precisava da picada para que se tornasse mais leve.

Chegado o momento do encontro com a serpente, o Pequeno Príncipe não gritou. Aceitou corajosamente o seu destino. Tombou como uma árvore tomba. E assim, voltou para o seu planeta, enfim. O narrador, dias mais tarde, conseguiu se salvar, sentindo-se consolado porque sabia que o Pequeno Príncipe havia voltado para o planeta dele, pois ao raiar do dia seguinte à picada, o corpo do Pequeno não estava mais no local. Hoje, ao olhar as estrelas, o narrador sorri, lembrando-se do seu grande Pequeno amigo.

Obs.:O Pequeno Príncipe, embora pareça um livro escrito para crianças, é uma obra urgentíssima para adultos. Suas palavras possuem conotações mais profundas, que não poderão ser notadas em uma simples leitura. Esta obra pode ser considerada como Fábula, ou se preferir, Parábola.

Fonte
http://www.netsaber.com.br/