sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sesc Maringá - Eventos (Palestra com Prof. José Pacheco)



O Projeto de Formação “Educasesc” tem como objetivo contribuir para que a qualidade da educação seja real, auxiliando o educador em suas dificuldades e problemas encontrados no processo educativo. Em 2008 a proposta é estar além das paredes da escola e ser vista como fator fundamental de contribuição para as ações do indivíduo na sua comunidade.

PALESTRA MAGNA COM A PRESENÇA DO PROFESSOR
JOSÉ PACHECO, DA ESCOLA DA PONTE - PORTUGAL

APRESENTAÇÃO DO CASE : ABORDAGEM PSICODRAMÁTICA NAS INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS – UMA EXPERIÊNCIA COM LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Psicóloga Elizabeth R. Maio de Siqueira

PALESTRA MAGNA, COM A PRESENÇA DO PROFESSOR JOSÉ PACHECO – A ESCOLA DA PONTE.

Local : Teatro Calil Haddad.
Data: 23/10/2008.
Horário : 19:00h

As inscrições para a palestra podem ser feitas no SESC – Maringá. O valor da taxa é R$10,00.

Vagas Limitadas
Inscrições e Informações:
SESC – MARINGÁ
(44) 3262 – 3232
Rua Lauro Eduardo Werneck, 531-Maringá - PR

Fonte:
E-mail enviado por Laíde Cecilia de Sousa
Assistente de Atividades

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Homenagem aos Professores



Semeadores de Futuro
Sergio Antonio Meneghetti

A vida na sua sabedoria
Exige a troca de informação
Sem esta o mundo não andaria
Sem mestres não haveria evolução

No inicio da nossa caminhada
Alguém tem que nos estender a mão
Sem esta caridade não seriamos nada
E com esta aprendemos à sábia lição

Doar conhecimento para o crescimento
Amar este dom que do alto vem
Ter sempre este gesto de enobrecimento
Ser mestre, orientador, e amigo também.

Que o nosso maior Mestre
Abençoe quem tem esta nobre missão
Transformando o ambiente terrestre
Iluminando nossa vida e o nosso coração.

Fontes:
E-mail enviado pelo autor.
Imagem =
http://portalsaofrancisco.com.br

José Couto Vieira Pontes (A casa dos ofendículos)

A casa da Prof. Arnaldo era uma construção antiga, com mais de trinta anos, varandões em torno, jardim na frente e pomar nos fundos. Ficava quase escondida por de trás dos pés de jaca, das amoreiras e dos tamarindeiros. Logo que se transpunha o portão de entrada, do chão se evolava um odor de folhas podres, lodo e umidade.

Prof. Arnaldo morava só. Recebia muitas visitas, principalmente ex-colegas de labuta forense. Há muitos anos, deixara a advocacia, justificando que não suportava a morosidade com que os processos caminhavam e os desmandos de certos magistrados. Nos fundos, isolado do casarão, um quarto com banheiro anexo abrigava uma senhora morena, de longos cabelos negros, que arrumava a casa, cozinhava e cuidava das roupas do professor. Chamava-se Cristina. E tinha um filho pequeno: Rafael.

Numa noite de dezembro, quente, de tal modo que nenhuma folha do arvoredo se movia, o professor ficou na varanda, sentado numa cadeira de alumínio e forro de morim branco. Lá pelas tantas, quando já havia saído do primeiro cochilo, apareceu-lhe a figura de Altamiro Gouveia, proprietário de uma livraria.

– Trouxe-lhe hoje, Prof. Arnaldo, a última novidade a respeito da Segunda Guerra Mundial. O senhor vai gostar muito: é sobre a invasão da Normandia.

– Minha biblioteca está um tanto belicosa, Altamiro. Esta minha recente queda pelos livros de guerra fez-me esquecer até os clássicos. Estava lendo OS MAIAS, de Eça, e interrompi a leitura dele por causa daquela bigrafia de Rommel.

Prof. Arnaldo alisou a capa do livro, folheou-o ligeiramente, deteve os olhos num trecho do meio e acrescentou: – Vou devorá-lo, quando terminar OS MAIAS.

Conversaram ainda a respeito de vários outros autores nacionais e estrangeiros. Falaram acerca de escritores novos, tecendo-lhes críticas às produções, considerando que o excesso de ensaios literários denunciavam decadência das letras. Quando o bate-papo já esmorecia, Gouveia aproveitou uma pausa e, com o porte de quem se prepara para começar um discurso importante, acentuou:

– Prof. Arnaldo, o senhor vai desculpar-me, mas quero pedir-lhe uma gentileza. O senhor compreende... eu vou... vou... vou...
– Pode falar, Gouveia – atalhou.
– É que vou pedir um empréstimo no banco e necessito de seu aval. O senhor compreende, a gente não quer incomodar, mas se vê às vezes na contingência de...
– Não se acanhe, Gouveia. Isso é natural. Posso prestar-lhe o aval. O título está com você aí?

Prof. Arnaldo sabia que não podia negar-lhe a garantia. Embora fosse visceralmente contrário ao instituto do aval, não lhe restava outra alternativa senão concedê-lo ao velho amigo. E como Gouveia lhe exibisse a nota promissória, pediu que o acompanhasse até o escritório. Nesse cômodo do casarão, ficavam as estantes lotadas de livros, antigos volumes encadernados e brochuras novas, edições recentes. Uma escrivaninha de mogno estilo colonial espanhol. Quadros de família nas paredes. Uma reprodução a óleo de uma tela de Wlaminck, Paisagem Hibernal.

Prof. Arnaldo sentou-se, tomou da caneta e, examinando o título cambiário com cuidado, apôs o aval no verso.

– Estou comovido, professor. Não sei como agradecer-lhe. O senhor tirou-me de uma situação delicada. São coisas que a gente não esquece.
– Esqueça, Gouveia.

E voltaram a varanda.

Prof. Arnaldo prosperara economicamente depois que deixou a advocacia. Possuía um rendoso colégio, a bela casa residencial, vários terreno no centro da cidade, algum gado e várias casas de aluguel. E a riqueza não conseguiu afastar de si o vasto círculo de amizades. Constantemente era convidado para pronunciar palestras e conferências e para saudar personalidades importantes que visitavam a cidade.

Numa noite chuvosa, recolheu-se à biblioteca com muita vontade de ler o dicionário ilustrado. Neste, não encontrou a palavra ofendículo, mas, no etimológico-prosódico, sim. Nos tempos de Faculdade de Direito, aprendera nas aulas de Direito Penal que esse termo significava obstáculo, barreira, estorvo. Os cacos de vidro, que implantara nos muros em volta de sua propriedade, eram ofendículo.

– Como sua casa era singular! – pensou. – Bem poderia chamar-se A Casa dos Ofendículos. Os cacos de vidros eram grandes, pontiagudos, de várias cores, predominando o verde-garrafa. Não havia um só trecho de muro, em todo o perímetro, em que faltasse o estorvo.

– Ofendículo, uma palavra rara – pensou. – Pouco conhecida, mas vigorosa, expressiva, viril. Como o casarão era um recanto seu, intocável, onde se recolhera a si e aos seus caprichos, problemas, emoções, sentimentos, levando a vida que traçara, onde se encastelara contra o mundo onde a própria solidão tinha seus encantos, Prof. Arnaldo não relutou em admitir que a propriedade deveria chamar-se mesmo A Casa dos Ofendículos.

Fora, a chuva continuava, escorrendo pelas calhas, inundando as varandas. A leitura dos dicionários prolongou-se até as portas da meia noite, quando então o professor deixou a biblioteca e dirigiu-se ao quarto.

No dia seguinte, voltaria às preocupações lexicológicas. Mas tal não ocorreu. Logo de manhã, lembrou-se de cuidar das roseiras. Enquanto as adubava com uma pá pequena, agachado, percebeu que alguém abria o portão da frente e ingressava na área do jardim. Era Avelino Xavier, um conhecido dos tempos de serviço militar. Quase não vinha ao casarão. Quando o fazia, compelia-o alguma necessidade, de dinheiro ou de conselho. Quase sempre de dinheiro.
Logo que chegou às roseiras, começo a falar:

– Velho amigo, grande amigo, Prof. Arnaldo! Há quanto tempo distante desta humana e incomparável figura! Como está forte, disposto, conservado...

Com esse linguajar lisonjeiro, Xavier objetivava conquistar a atenção do professor. Este, no entanto, contestava os elogios. Não tanto por modéstia, mas porque achava falsa, fingida, estéril, aquela maneira de louvar. Não tardou que a verve do recém-chegado se arrefecesse, conduzindo-o logo à finalidade da visita. Mudando para um tom seco e áspero
de voz, disse:

– Professor, estou necessitando de seu aval.

Prof. Arnaldo permaneceu calado. Xavier considerou:

– Outra vez, meu caro professor. Sei que estou abusando, mas não tenho outra pessoa a quem pedir.
– Você sabia que estou muito carregado nos bancos, Xavier? Ontem mesmo um dos gerentes comentou esse fato. Na verdade, dei um aval na semana passada. Não acho elegante revelar o nome da pessoa.
– É que o senhor é muito conceituado nos bancos, professor. É controlado, organizado, prudente, honesto...Os bancos sabem disso. Gostam disso.
– Xavier, volta aqui amanhã. Preciso fazer um levantamento das minhas contas e fichas bancárias. Estou mesmo muito carregado.
– Por favor, professor – insistiu. – Não deixe para amanhã. Até que contabilizem o título, até que eu possa sacar o dinheiro, já passou a formatura de Lenita. Preciso enfrentar os gastos. Depois, será o noivado com o capitão.
– Mas amanhã não é daqui a um século, Xavier.
– Eu sei, professor. Eu compreendo. Perdoa-me a insistência. Rogo-lhe encarecidamente que seja hoje. Também será o ultimo. Juro-lhe.

Prof. Arnaldo rendeu-se.

– Está aí com você a letra?
– Sim, professor. E já está preenchida.

No caminho do jardim à biblioteca, Avelino Xavier fermentava e robustecia as razões de seu pedido.

– O senhor é solteiro, mora só, é muito rico. O senhor jamais poderá imaginar as privações, os apertos, os vexames por que passa um pai de família, destituído de recursos financeiros. Quando não uma doença ou o colégio dos filhos, é o noivado, a formatura, é tanta coisa.

Depois que Xavier se retirou com a nota promissória avalizada, Prof. Arnaldo ficou refletindo, com os olhos pregados no livros das estantes altas:

– Que desaforo! E nesta hora falta-me adrenalina para estourar, recusar, pedir ao homem que se retire, que não apareça mais. Pedir o aval não é nada. Mas aquela consideração atrevida em torno da minha condição de rico, solteiro e solitário? Que eu desconheço as vicissitudes de um pai de família... Ora, bolas! Por que o homem se casou, sabendo que não agüentaria o encargo? Por que não permaneceu solteiro como eu?

Vários dias passaram-se depois da visita de Xavier, todos eles carregados de pedidos análogos. De há muito, concedia favores dessa natureza, mas não com a freqüência e a intensidade atuais.

Prof. Arnaldo chegou a concluir que muitos elogios e convites para conferências estavam vinculados a esses pedidos de aval. Na verdade, logo após a palestra acerca das influências inglesas em Machado de Assis, no Colégio Estadual, recebeu a visita do presidente do Centro Literário Estudantil, que lhe subtraiu mais um aval. E assim se sucederam outros mais, prestados a Prudêncio Peixoto Nobre, jornalista da crônica social, a Vitor Hugo Seleto, criador de gado, Pedro Saulo Botelho, reformado dos quadros da Polícia Civil.

E todos haviam penetrado o casarão, denunciando a frágil, a precária oposição dos cacos de vidro, implantados nos muros, reluzentes, multicores, pontudos. Verdes, azuis, brancos, amarelos. Mais forte era a dialética dos pidões: -

“O Senhor é solteiro, mora só, é muito rico. Jamais poderá imaginar as privações, os apertos, os vexames por que passa um pai de família destituído de recursos financeiros...”

Prof. Arnaldo pensou em vários remédios. Viajar pelo Norte, onde tinha um primo, constituiria uma solução temporária, passageira, pois teria que regressar breve ao casarão. Dizer “não” a todos, trancar a cara, bancar o durão, poderia comprometer-lhe o conceito, a estima geral. Mas era preciso dar uma solução ao problema, pôr um paradeiro nos abusos. Muitos favorecidos haviam adotado o mal costume de não liquidar os títulos no vencimento, obrigando o avalista ao desembolso. Entre esses, Avelino Xavier. Prof. Arnaldo pensou em simular um contrato social, em que figuraria uma disposição vedando aos sócios a prestação do aval. Mas não conseguiu o cúmplice para a simulação. Somente se recorresse aos preguiçosos angorás de sua sala de visitas.

Finalmente, depois de várias noites de vigília, brotou-lhe na mente a solução. Uma fonte de água límpida, fresca, a jorrar pura, farta.

Adotaria um menino.

Cuidou dos detalhes. Consultou compêndios de direito, de há muito desprezados nas estantes da biblioteca. Mandou arrumar o quarto do futuro adotado num dos cômodos da frente. Ficou para o fim o principal:

– Quem seria o eleito?

Depois de alguns cotejos e confrontos, não tardou que a escolha recaísse no filho de Cristina, a doméstica. Conhecia o menino, os costumes da casa e parecia herdeiro da boa índole da mãe. Esta recebeu a notícia com lágrimas nos olhos. Sempre almejara um bom futuro para o filho. Há vários anos, pelo Natal – eis como são as coisas – até já havia tido a idéia.

Rafael tinha dois anos, quando da adoção. Era moreno claro, forte, de olhos grandes, muito inteligente, serviçal, educado. Crescera daí por diante cercado de toda opulência. Prof. Arnaldo – a quem o garoto chamava de pai – dava-lhe de tudo. Freqüentava os melhores colégios, usava as roupas mais caras, chegando a ter dezenas de ternos de linho branco irlandês. Com esse evento, o casarão tomou um banho de juventude: festinhas, reuniões, bailes. Dançavam, recitavam, ouviam discos novos e algumas vezes logravam aprender o caminho da biblioteca.

Numa dessas noites festivas, apareceu na casa o Avelino Xavier, com o mesmo estilo de linguagem, a mesma adjetivação postiça, abundante. Primeiro, o intróito; depois, a solicitação brusca, sem solenidade alguma:

– Preciso de outro aval, professor.

Antes que Xavier prosseguisse com as justificativas, Prof. Arnaldo asseverou-lhe:

– Meu garoto pretende visitar a Europa muito breve, talvez ainda neste ano. É para mim uma grande satisfação proporcionar-lhe esta invejável oportunidade. Por isso, meu caro Xavier, alimento receio de abalos, de comprometimento em meu orçamento.

– Não o colocarei mais em situação embaraçada, professor. Da vez anterior, foi puro esquecimento. Agora, pagarei o título no vencimento, ou antes, se possível.

- Não, Xavier. Você é pai de família, como eu. Sabe dos problemas, dos riscos, das vicissitudes inerentes a essa condição. Que vexame passaria eu amanhã, que apertos, se a meu menino viesse a faltar o conforto que sempre lhe proporcionei. Não, não, Xavier. Pense bem e reflita.

E assim todas as demais investidas dos pidões se frustraram. Ninguém mais procurou o professor para solicitar aval. As visitas escassearam, chegando quase a se extinguirem de todo. Não mais os convites para as conferências, ou nome na crônica social.
* * *
Passaram-se os anos. Rafael já falava assim aos amigos:

– Quando papai me adotou, há dez anos atrás...

Logo o moço estava com vinte e dois anos de idade. Conhecera, então, uma garota e queria desposá-la. Chamava-se Castorina, filha de seu ex-professor de violino, um alemão chamado Hans, que também vendia mel. Prof. Arnaldo opôs-se ao casamento imediato, pois que o rapaz fazia poucos meses concluíra o curso na Escola de Química Industrial e aguardava a nomeação para um cargo no Estado, promessa de um velho amigo da família. Promessas, principalmente de empregos, quase sempre dão em nada.

– Não custa nada esperar um pouco, Rafael – aconselhou o professor.
– Você é jovem demais Castorina também. Pegue a colocação, economize alguns meses e depois sim. É preciso enfrentar de cabeça erguida as despesas, as responsabilidades, os compromissos. Fique sabendo que o mês somente possui trinta dias e as contas vencem. Por mais que eu queira ajudá-lo, meu filho, você deverá ser um homem independente.

– Mas o emprego já está garantido, papai. Disseram-me que os papéis já se acham sobre a mesa do governador.

Em diálogos dessa natureza mantiveram-se por várias semanas. Até que Rafael não suportou mais a espera e marcou com a noiva a data do casamento. Prof. Arnaldo nada pôde fazer. Restou-lhe apenas disfarçar o descontentamento, mostrando-se alegre, feliz.

Numa tarde, após o almoço no casarão, em regozijo pelo acontecimento, Prof. Arnaldo abandonou a conversa na varanda e caminhou até a biblioteca, alegando aos presentes que precisava consultar algumas anotações. É que a conversa se tornara enfadonha, improdutiva, girando em torno de preços de roupas e de outros artigos de comércio. Chegando à biblioteca, foi até a janela. Olhou o pomar e um pedaço de rua que aparecia entre o arvoredo. Uma rua estreita, calçada de paralelepípedos. Nesse instante, ouviu passos atrás de si, no corredor. Voltou-se e viu que o professor Hans acabava de entrar.

– Prof. Arnaldo, desculpe-me abordá-lo assim inesperadamente. Vim aqui porque não quero que ouçam o que vou dizer-lhe, ou melhor, pedir-lhe.

– Fique à vontade, professor. Não tenha constrangimento. De que se trata?

– É custoso pedir, professor. O senhor compreende, nesse campo, confesso minha nulidade absoluta. As circunstâncias da vida, porém, obrigam-nos a mudar o próprio temperamento.

– O senhor tem toda a liberdade, Prof. Hans. É um amigo que muito estimo, o ex-professor de violino do meu pupilo. Por isso, acredito que não pode haver entre nós nenhum embaraço.

– Sou assim um poço de esquisitices, de manias, de timidez.

– Mas quem de nós não tem um punhado disso tudo, Prof. Hans?

– Então, o senhor vai me perdoar, Prof. Arnaldo. Trouxe aqui...O senhor sabe... Ninguém melhor que o senhor para saber que muitas vezes um pai de família, embora não disponha de muitos recursos financeiros e econômicos, quer pelo menos no dia do casamento de sua filha... pelo menos nesse dia...

E retirou do bolso interno do paletó um papel retangular, branco.

– Trouxe aqui – continuou – um título do banco, uma nota promissória para desconto. Vou precisar de seu aval, Prof. Arnaldo.

– Ora, ora, ora, então era somente isso? Dê-me cá o título, professor.

Prof. Hans passou-lhe a letra. Tremia-lhe um pouco a mão. Prof. Arnaldo examinou a nota, verificou a quantia no verso. Era suficiente para patrocinar o festão de casamento. Em seguida, lançou o aval nas costas do papel. Voltou à janela, lobrigou novamente o arvoredo, a rua, sem dizer palavra alguma.

Prof. Hans agradecia: – Obrigado, obrigado. Não fosse o senhor não sei como faria.

Com a chegada da primavera, o flamboyant da calçada derramava flores vermelhas pelo chão. Às vezes, o vento levava-as até o piso das varandas.

Por sobre o longo muro, os ofendículos tremeluziam ao sol.
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Sobre o Autor:
José Couto Pontes nasceu em Três Lagoas (MS), em 1933. É juiz de direito aposentado. Foi advogado e professor. É um dos fundadores da Academia de Letras e História de Campo Grande (1971), antecessora da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Foi seu presidente de 1972 a 1982. É autor de DESTE LADO DO HORIZONTE (1972, contos), JORGE LUÍS BORGES, A ERUDIÇÃO E OS ESPELHOS (1976, ensaio) e HISTÓRIA DA LITERATURA SUL-MATO-GROSSENSE (1981). É contista premiado nacionalmente.
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Fonte:
Revista da Academia Sul-Matogrossense de Letras. n.3. março 2004. Campo Grande

Renie Burghardt (A Última Rosa)



The Last Rose
Tradução de Cynara Paiva

Assim que abri meus olhos hoje de manhã, sabia que era dia 25 de outubro de 1966 – data esta que venho temendo por semanas. O primeiro ano do dia mais triste da minha vida, dia em que meu amado esposo Jozsef, de 49 anos, faleceu me deixando viúva.

Jozsef era jardineiro e gostava muito de suas plantas bem cuidadas, que se beneficiavam de sua terna devoção, assim como eu. Ele tinha um toque mágico, tanto com os jardins quanto com sua esposa.

Nosso casamento tinha sido um acordo, é verdade. É muito estranho pensar nisso agora, que eu não quis me casar com Jozsef, mas essa é a mais pura verdade. Lembro do ano de 1916 tão claro como se fosse hoje. Eu tinha acabado de completar 16 anos, e o imperador Franz-Josef da Áustria-Hungria tinha morrido. Por isso, nosso país, a Hungria, naquele ano estava de luto, assim como Jozsef, porque sua primeira esposa, minha tia Anni, havia falecido um ano antes, deixando Jozsef com duas crianças pequenas para criar.

Lembro do choque que eu levei quando Mama veio até mim e disse que Jozsef havia pedido minha mão em casamento.

– Mas eu não quero me casar, Mama, disse com voz chorosa. Além disso, eu amava minha tia Anni. Eu nunca poderia tomar o seu lugar.

– Ele precisa de uma esposa, Terez, e os filhos dela precisam de uma mãe. Anni iria gostar, se você tomasse conta deles, uma vez que ela se foi – Mama disse em voz baixa. – Mas você não precisa decidir agora. Você pode pensar sobre isso por um tempo.

Enquanto fiquei lá sentada, e sem pensar no assunto, eu me lembrei de quando tia Anni e Jozsef se casaram. Eu tinha oito anos, e fui a dama de honra no casamento deles. Ela era uma bela noiva, assim como Joszef em sua farda de soldado da cavalaria, me deixando sem ar aos 8 anos de idade.

Ah! Os soldados da cavalaria daquela época, como eles faziam as jovens ficarem eufóricas! Lembro, ao pensar sobre aquele dia, que eu gostaria de casar com um belo oficial, também. Então, oito anos depois, Jozsef queria se casar comigo, porque seus filhos precisavam de uma mãe e ele de uma esposa.

– Eu quero me casar por amor e não por necessidade – eu disse a ele, com voz chorosa.

– Mas eu farei o meu melhor para lhe fazer feliz. Serei amável e gentil, e talvez um dia, você aprenderá a me amar – Jozsef respondeu. – Meus filhos já te amam, e penso que você também os ama. Podemos formar uma família feliz juntos – ele disse.

Claro, ele estava certo, eu já amava seus dois filhos, e a decisão que tomei foi por causa deles. Então concordei em me casar com Jozsef, e nosso casamento foi simples, mas bonito.

O país estava de luto após a morte de Franz-Josef, e as noivas não podiam se casar usando vestido de noiva. Somente o véu branco era permitido. Eu fiquei comovida quando Jozsef me trouxe um pequeno ramalhete de rosas de seu próprio jardim para carregar como meu buquê de noiva.

Então, após a cerimônia, quando estávamos finalmente a sós, e eu estava morrendo de medo, Jozsef segurou meu rosto com suas mãos, o acariciou e beijou-me ternamente, despertando sentimentos jamais vivenciados. Desde este dia sinto calafrios, mesmo tendo se passado 50 anos. Lembrando daquela noite, e de muitas outras, fico muito agradecida pelo maravilhoso amor de Jozsef. Sim, eu aprendi a amá-lo tão intensamente, que meu amor por ele aumenta a cada dia que passa.

Os jovens de hoje, procuram romances e pensam que um casamento igual ao nosso é o fundo do poço. Bem, usei essa expressão porque agora sou americana, além disso, minha neta a usa sempre. Mas não é o fundo do poço, digo à minha neta. Jozsef era romântico desde o começo. Ele cultivava lindas rosas, e trazia para casa lindos buquês feitos com elas, e eu pude aproveitar seu perfume, e com freqüência, ele me dizia que minhas bochechas eram rosadas e amáveis como suas rosas que eram coradas no centro.

Ele também cultivava não-me-esqueças, porque sua cor combinava com a cor dos meus olhos. Ao menos era o que sempre me dizia. Ele fez muitas outras coisas românticas também. Mas na maioria das vezes ele me encorajava a ser eu mesma, e quando eu quis montar um negócio, algo inédito para aquela época na Hungria, Jozsef apoiou minha decisão, e os negócios cresceram nos ajudando a prosperar.

Jozsef também era um pai maravilhoso, a rocha de nossa família. Quando nossa única filha, nossa amada filha Ilonka, estava morrendo na flor da idade, aos 19 anos, logo depois de dar a luz a seu primeiro filho, foi a Jozsef que ela chamou. Foi em seus braços que ela deu o seu último suspiro, enquanto eu caía em prantos de dor por tudo, por não poder fazer nada por ela. E foi ele quem me apoiou durante toda a tragédia, me lembrando de que tínhamos a filha de Ilonka para cuidar agora. Tive que superar a minha dor pelo bem da criança.

Jozsef e eu passamos por muitos momentos difíceis durante esses 49 anos de casados – uma guerra terrível, que tirou a vida de seu filho, a perda de todos os bens ao recomeçar a vida em um outro país. Mas também tivemos muitos momentos felizes, como quando nos tornamos bisavós. Nossa linda neta nos presenteou com dois meninos e finalmente tivemos dinheiro suficiente para comprar nossa casa própria.

– Encontrei um lugar perfeito para nós, Terez. É uma casa pequena, estilo colonial, toda branca, com uma linda cerca em volta e uma grande área onde poderei fazer meu jardim novamente. Ah! Irei cultivar tomates de boa qualidade, pimentões húngaros e rosas que irão combinar perfeitamente com a cor de seu rosto – ele disse.

Não importava que meu rosto estivesse ganhando a cor da idade, Jozsef parecia não notar isso.

Rapidamente, seu jardim tornou-se a atração de nossa modesta e étnica vizinhança, e quando ele encontrou, em um catálogo, aquela rosa ancestral exatamente como aquela que ele cultivava na Hungria, parecia que ele tinha acabado de achar um tesouro!

E, naquele ano que passou, eu não estava em condições nem mesmo de olhar para o jardim. Ele somente me lembrava a ausência de Jozsef. Se não fosse por minha neta Zsuzsi, que prefere ser chamada de Suzi, as ervas daninhas teriam tomado conta do jardim. Ela parece ter herdado o dom de Jozsef para lidar com as plantas. Ela tem seu próprio jardim. Seus dois filhos cresceram muito neste último ano, mas eles se parecem muito com seu carinhoso pai, e irei me certificar de que continuam se lembrando dele.

Sim, este dia começou de forma muito triste.

Mas logo aconteceu uma coisa. Assim que me vesti e esperava Suzy chegar para me levar ao cemitério, me senti obrigada a olhar pela janela da cozinha e vi alguma coisa rosa brilhante do lado de fora.

– O que é aquilo? – perguntei a mim mesma. – Seria alguma coisa florescendo? Mas não pode ser. Estamos no final de outubro, e por causa das fortes geadas uma boa parte do jardim morreu.

Abri a porta da cozinha e caminhei em direção ao jardim de rosas de Jozsef, e lá, no canteiro de rosas da Hungria, havia uma rosa linda e perfeita. A última rosa do verão, tão rosa quanto as rosas do meu buquê de casamento, de cinqüenta anos atrás.

À medida que me inclinava para sentir o seu perfume celestial, pude sentir uma inconfundível presença perto de mim. Sabia que tinha encontrado Jozsef novamente, e eu estava tão feliz e em paz. E, quando coloquei a última rosa do verão no seu túmulo, prometi a Jozsef que cuidaria de seu jardim, tão ternamente quanto ele havia cuidado de mim, até chegar o dia de nos encontrarmos no glorioso jardim do mundo vindouro.

Fonte:
Primeiras Traduções.
http://www.ichs.ufop.br/tradufop/?cat=1

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Comemoração do Dia do Livro em Sorocaba

Em mais uma ação de incentivo à leitura do “Projetos de Leitura”, o “Dia do Livro” ocorrerá em Sorocaba no dia 21 de outubro, terça-feira, das 9h30 às 16h, na Praça Cel. Fernando Prestes, Centro.

O projeto “Dia do Livro” realizado em parceria com as Secretarias de Educação e Cultura de Sorocaba conta com o apoio do PAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e consiste na venda em praças públicas dos livros de Laé de Souza, também autor do projeto, pelo preço simbólico de R$ 1,00.

Durante o evento o escritor fará várias sessões de autógrafos e será distribuído material informativo sobre seus outros projetos de incentivo à leitura, em execução há dez anos, com o apoio das leis de incentivo à cultura. As cidades de Campinas e São Paulo também serão contempladas com o “Dia do Livro” nos dias 25 e 29 de outubro, respectivamente.

O público terá acesso aos livros na tenda Dia do Livro, onde estarão expostos os títulos Nos Bastidores do Cotidiano, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Acontece..., e Espiando o Mundo pela Fechadura, crônicas curtas que retratam o cotidiano das pessoas comuns e as complexidades das relações humanas, em linguagem coloquial e abordagem bem-humorada, o que facilita a compreensão dos textos e torna a leitura agradável; e o infantil Quinho e o seu cãozinho – Um cãozinho especial, que narra aventuras de um garoto e seu inseparável cãozinho, apresentando conceitos éticos para o pequeno leitor, publicados pela Editora Ecoarte.

Laé de Souza participará da 2ª edição da Expo Literária onde ministrará três palestras para estudantes e professores sobre seu trabalho de escritor e coordenador de diversos projetos de leitura focados nas escolas da rede pública, parques, praças, hospitais, transportes coletivos, hipermercados e outros, com o intuito de formar leitores de todas as etnias, faixas etárias, credos e classes sociais. “É uma grande inverdade o estigma de que o brasileiro não gosta de ler. A parceria com as prefeituras dá a oportunidade ao público de adquirir livros a preços acessíveis e estimular o hábito da leitura por prazer. Ações como estas são caminhos para a formação de leitores”, afirma o escritor.

O Dia do Livro é a data da fundação da Biblioteca Nacional em 29 de outubro de 1810 quando a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil.

Serviço:

Dia do Livro

Preço: R$ 1,00

Data: 21 de outubro de 2008 – terça-feira

Horário: 9h30 às 16h

Local: Praça Cel. Fernando Prestes – Centro
Sorocaba – SP
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Assessoria de Comunicação:
Rozângela Inojosa Galindo
(11) 9261-5500 / (15) 3227-4581
imprensa@projetosdeleitura.com.br
www.projetosdeleitura.com.br
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Fontes:
Douglas Lara. In
http://www.sorocaba.com.br/acontece
Desenho =
http://afonsobastos.blogspot.com

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Lançamento do Livro Saborosas Crônicas, de Luiz Eduardo Caminha


Luiz Eduardo Caminha (1951)

Luiz Eduardo Caminha é médico nascido em Florianópolis em 04/10/51, dia de São Francisco de Assis, recebendo o grau de médico, em 1976, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Fez Residência Médica em Cirurgia geral e Colo-Proctologia no Rio de Janeiro e Pós Graduação em Londres e Wiesbaden (Ex-Alemanha Ocidental). Em 1982, transferiu-se para Blumenau. É membro da Sociedade de Escritores de Blumenau - SEB e fundador do Capítulo Santa Catarina da SOBRAMES - Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

Sua paixão por escrever vem dos tempos de Primário, quando ainda se ensinavam aos alunos o que era uma descrição, uma interpretação, uma composição, mas aflorou em 1970 quando da aula magna proferida pelo poeta Lindolf Bell, no Curso de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Pensava em fazer Jornalismo, mas, com a transferência do Curso para Porto Alegre, desistiu e prestou novo Vestibular para Medicina. Foi Presidente da Associação Médica de Blumenau no biênio 1992/93, Secretário de Saúde de Blumenau entre 1993 e 1996, Presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde de 94 a 97 e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde de 93 a 97.

De 1985 a 1989, editou, sozinho, o Jornal “Clarins do Vale”, impresso nas oficinas da Fundação Cultural de Blumenau. De 1989 a 1992 foi produtor e apresentador do Programa Canal Livre no Rádio, na então Rádio União AM, Rede Fronteira de Comunicação de Blumenau. Entre 1999 e 2002 produzia e apresentava o Programa Feliz Cidade, na TV Galega, desta mesma cidade. Desde Abril de 2000 produz e apresenta o Programa Stammtisch, na mesma emissora. Foi através deste Programa que se iniciou o resgate da tradição dos “stammtische”, em Blumenau e região. Como tal, foi um dos articuladores dos Encontros de Stammtisch (Strassenfest mit Stammtischtreffen).

Seu conhecimento e pesquisas sobre esta tradição germânica motivaram-lhe lançar um Sítio na Internet denominado “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br, em 23 de Dezembro de 2005. Desde Abril de 2006 tal site situa-se no 1º. Lugar entre todas as referências mundiais para o termo “stammtisch” nos principais sítios de busca do mundo (Google, Yahoo, Cadê, MSN Buscas, entre outros). Só no Google são mais de seis milhões de referências para o termo.

Seu primeiro livro, de poesias, intitulado “Reflexos”, foi editado em 1995. Em 1997 foi co-autor da Coletânea “Florilégios Poéticos” da SOBRAMES. Em 2005 participou da II Antologia da Sociedade Blumenauense de Escritores.

Em 2006 teve quatro de seus contos/crônicas e três poesias pré-selecionadas no II Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias.

Ainda neste ano teve mais dois contos e duas crônicas selecionados no III Concurso Literário Guemanisse de Contos, Crônicas e Poesias. Recentemente sua crônica "Felicidade", aqui apresentada, classificada em 2º. lugar no II Concurso Literário da Sociedade de Escritores de Blumenau (Poema, Conto e Crônica) - Edição 2006.

Participou também da III Antologia da Sociedade Blumenauense de Escritores, em 2006 e da Antologia Asas e Vôos da Editora Guemanisse, Rio de Janeiro, com os autores dos textos selecionados no Concurso Literário Guemanisse de Contos e Poesias. Em Agosto de 2005 passou a integrar a comunidade virtual Novaliteratura.com.

Desde Julho de 2006 tem a honra de pertencer ao quadro de Escritores do Portal CEN “Cá Estamos Nós”, da qual teve a felicidade de participar de seu II Encontro, na cidade do Rio de Janeiro.

Fonte:
http://www.avspe.eti.br/

domingo, 12 de outubro de 2008

José Couto Vieira Pontes (Machado de Assis, Será que o Merecemos?)

Quem melhor definiu o tempo foi o escritor brasileiro MACHADO DE ASSIS, ao escrever: - Nós matamos o tempo, mas é ele quem nos enterra”.
MEYERHOFF – “O tempo na Literatura”, tradução de Miriam Campello. “São Paulo: Mc Graw Hill do Brasil, 1976”.

Toda a nação brasileira reverencia a memória do escritor carioca Joaquim Maria Machado de Assis, nascido no Morro do Livramento, 21 de junho de 1839, filho de Francisco José de Assis, pintor de paredes, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis.

Faleceu em sua querida cidade do Rio de Janeiro, na madrugada do dia 29 de setembro de 1908, tendo o Governo decretado luto oficial, permanecendo seu corpo em câmara ardente, no Silogeu, diante do qual desfilou imensa multidão para levar ao gênio nacional o seu derradeiro adeus.

Presidente, em 1897, da Academia Brasileira de Letras, que fundara, com alguns amigos companheiros ilustres, nenhum destes quis aceitar a indicação de saúda-lo, à beira da sepultura, movidos por imensa e incontrolável emoção.

Foi então que, entre os acadêmicos presentes, Mario de Alencar, José Veríssimo, Euclides da Cunha, Coelho Neto, Raimundo Cofria, Medeiros de Albuquerque, e Rui Barbosa, este apresentou-se e disse: “Designou-me a Academia Brasileira de Letras para vir trazer ao amigo que de nós aqui se despede, para lhe vir trazer, nas suas próprias palavras, um gemido da sua lira, para lhe vir trazer o nosso ‘coração de companheiros’.”

E proferiu o grande escritor e tribuno baiano uma das mais belas orações das letras brasileiras.

Machado transpôs as fronteiras nacionais, projetando-se no cenário literário das grandes nações do mundo, colocando-se hoje ao lado dos luminares, como Balzac, Flaubert, Dostoievski, Turguenief, os irmãos Goncourt, José Maria Eça de Queirós, Máximo Gorki, Stendahl, entre outros, sem que se esqueça de Marcel Proust, Thomas Hardy, Pirandello e Jorge Luis Borges.

Que não se omita o serem todos os nossos modernos machadianos.

Sua grandeza reside em que evoluiu formalmente de romances românticos, como “Helena”, “Iaiá Garcia” e “A Mão e a Luva” para magistrais obras classificadas como realistas, embora naquelas já se notasse a marca indefectível de Machado. Em 1881, inaugura no Brasil o realismo, com o fabuloso romance “Memórias Póstumas de Braz Cubas”, seguindo-se outras produções notáveis tais como o decanto “Dom Casmurro”, que não cessa de intrigar a consciência do crítico e do leitor.

Embora queiram alguns ensaístas sustentar que Machado lembra os romancistas famosos de outras nações ricas de produções literárias, dentre elas a França, a Itália, a Rússia e a Inglaterra, a verdade é que seus tipos humanos são bem brasileiros, conquanto universais, tocados pela ambivalência da turva condição humana.

Ademais, os locais em que se desenrolam os aspectos de sua geografia mimética são profundamente brasileiros, o que o torna contemporâneo de nossos modernistas, na busca do cotidiano, alcançando o viés de sua literariedade na coisa simples da vida comezinha, a que realmente guarda os grandes segredos e faz pulsar a nervura do mais alto da existência.

Em verdade, não encontraremos em qualquer literatura um contista como Machado, o autor de “A Igreja do Diabo”, de “Uns Braços”, de “A Cartomante”, de “O Espelho”, de “O Enfermeiro”, de “Cantigas de Esponsais”, de “Trio em Lá Maior”, além de uma centena de outros. Mesmo no Romancista a introdução do Contista.

Senhor de um estilo fragmentário, firme ao captar flagrantes, como a compor mosaicos de uma urdidura pouco explicável, tanto no romance quanto no conto, o “Bruxo do Cosme Velho” é a nota para além das formas e dos rigores do estilo de seu tempo, em verdade projetando-se, unânime, para uma destinação do sempre – presente.

Muito após a morte do mestre Machado, a notável escritora Lúcia Miguel Pereira soube resgatar obras do olvido, obras como “Crônicas de Lélio”. Não se pode esquecer a opinião crítica de José Veríssimo, que muito ajudou, entre nós, a consolidar a figura de Machado de Assis, já que os contemporâneos do autor de “Memorial de Aires” optaram por seguir a senda de escritores hoje menores.

Palavras não há a dirigir a nosso mestre maior, senão poucas, eis que suas construções e o espectro das virtualidades de sua criação compõem a trama de nossa própria existência.

Fontes
Academia Sul-Matogrossense de Letras. Suplemento Cultural de 27 de setembro de 2008.
Figura =
http://picasaweb.google.com

Caldeirão Literário do Estado do Mato Grosso do Sul

Rubenio Marcelo (O Mar e a Ponte do Passado)

O mar... O céu... Gaivotas, lado a lado,
sumindo – assim, fagueiras – lá no monte...
Ao longe, nos portais do horizonte,
jangadas, brancas velas num bailado...

O mar... Paisagem de brilho encantado,
reflexos que seduzem minha fronte...
Imagens passeando pela ponte
que me leva, em instantes, pro passado...

O mar... Ondas quebrando no penedo...
Espumas revelando o meu degredo,
rasgando os portagões de um vão sonhar...

E, no veleiro dos meus pensamentos,
de mim fujo e sigo ao sabor dos ventos,
buscando um amor que eu deixei no mar...
=====================
Geraldo Ramon Pereira (Tributo a Maracaju - Amor a minha terra)

Bem onde Deus plantara verdes matas,
No cimo de um planalto fértil, lindo,
Maracaju, marota, foi surgindo
Entre sítios, aos sons de serenatas:

Eram seriemas a cantar tinindo
Em dueto com as enxadas mais sensatas...
E um grupo de pioneiros pôs em atas
A fundação de um Município infindo!

Maracaju estava, pois, fundada,
Em educação, saúde e amor plasmada,
Por João Pedro Fernandes, doutor João...

Todos deram de si à sociedade;
Mas doutor João deu luz e caridade
E a Maracaju – vida e coração!
=========================
Geraldo Ramon Pereira (Varal de Luz)

No quintal da existência do meu nada,
Estendi, num varal de luz, os sonhos...
E do Amor uma aura perfumada
Inundou o meu ser com sóis risonhos.

Mas a manhã de sonhos foi tomada
Por vendavais e temporais medonhos;
E a vida, de astros e aves enfeitada,
Virou um ermo de areais tristonhos!

Caí ao chão voltado para o alto,
Ouvi tenor, soprano, ouvi contralto,
E uma voz a mais santa entre as demais...

Era Deus, que em coral se manifesta
Em compaixão ao filho a quem só resta
A voz divina a consolar seus ais!
========================
Adair José de Aguiar (Os Ipês Amarelos)

Nossas matas brasileiras,
Na época das floradas,
Ostentam manchas doiradas,
Os ipês estão em flor.
Pintalgadas as florestas,
É a vegetal riqueza,
Tesouro da Natureza,
Deste Brasil promissor.
Uma visão luminosa,
De longe logo se avista,
É que Deus, Divino Artista,
Quis, inventou de tingir,
Doirando a floresta imensa,
Onde soabrem mais flores,
Misturando a tantas cores,
Fez o ouro reluzir.

Quando, à noite, a lua-cheia,
Toda vestida de prata,
Desponta por sobre a mata,
Há uma estranha visão.
Ipês e lua se casam,
Tudo brilha e resplandece,
Se o mundo assim parecesse
Milagre da criação.
Viva, pois, a Primavera,
Linda, cheirosa e florida,
Colorindo a nossa vida
De amarelo dos ipês.
Que terra maravilhosa,
Em sua sabedoria,
Deus criou, com tal magia,
Foi, para nós, que Ele fez.
==========================
Raquel Naveira (Desejo Rural)

Desejaria um rio,
Um rio de peixes e cascatas,
Onde me fartasse de sol e luar...

Desejaria um canto.
Um canto de pássaro vindo das matas,
Que me desse vontade de me libertar...

Desejaria, se meu corpo não fosse de cimento,
Se meus olhos não estivessem embolados,
De tanto asfalto,
De tanto esquecimento...

Desejaria, se minha alma não fosse compacta,
Alerta ao sinaleiro e à propaganda,
Se não sentisse uma grande tristeza intacta
Diante do campo, simples e hospitaleiro.

Uma tristeza feita de babas de lodo,
De pântanos movediços,
De abelhas rainhas.

Uma tristeza sem limite
Que me torna bicho do mato,
Devorando grama e sonhando estrela.
=======================
Oliva Enciso (Fogos de Artifício)

No mês de junho as festas
De São Pedro, Sto. Antônio e São João,
Têm não sei o que de uma alegria simples,
Que nos invade o coração.

Seja um rico, um remediado, um pobre,
Seja um homem de cidade ou um campônio,
Quem não tem um amigo ou, em sua família,
Um Joãozinho, algum Pedro ou um Antônio?

Ainda que nenhum motivo nós tenhamos,
Só a alegria alheia já é bastante
Para nos fazer sorrir,
Ao menos um instante...

É a bomba que estoura,
É o busca-pé que foge,
Enquanto, mansamente, o balão vai subindo...
E, na noite escura e fria, as chuvas multicores
Dos fogos de artifício vão caindo...

Essa glória toda, efêmera da vida,
Que às vezes nos enlaça e nos seduz,
Parece lindos fogos de artifício:
Brilha um instante apenas e se apaga a luz!
===========================
Fontes
Academia Sul-Matogrossense de Letras
Suplemento Cultural de 27 de setembro de 2008
Suplemento Cultural de 20 de setembro de 2008
Suplemento Cultural de 13 de setembro de 2008

Academia Sul-Matogrossense de Letras (Chá Acadêmico)

Chá Acadêmico homenageou fundador da ASL: “Ulisses Serra - Sua vida e sua obra”, este é o tema da importante palestra que foi ministrada pelo ilustre acadêmico José Couto Vieira Pontes, por ocasião do Chá Acadêmico da ASL, que aconteceu na segunda-feira (29) na sede da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (Rua Rui Barbosa, 2624 – centro). Couto, que (ao lado de Germano Barros e Ulisses) é um dos fundadores da ASL, explanou, para o público presente, detalhes biobibliográficos deste que – além de fundar o sodalício literário – destacou-se com a publicação do antológico livro de contos intitulado “Camalotes e Guavirais”, que é um marco da literatura regional. O Chá congrega em confraternização os acadêmicos e seus familiares, bem como convidados especiais do sodalício.

Fontes
Academia Sul-Matogrossense de Letras
Suplemento Cultural de 27 de setembro de 2008
Figura: Brasão da Academia Sul-Matogrossense de Letras

Terça Literária na Biblioteca Demonstrativa de Brasília

Novo projeto na Biblioteca Demonstrativa de Brasília aproxima leitores e autores de obras literárias

A Biblioteca Demonstrativa de Brasília está inaugurando uma nova iniciativa cultural, o Projeto Terça Literária na Biblioteca, que acontecerá uma vez por mês, no intervalo do almoço, às 12h30. Trata-se de um bate-papo informal entre o público leitor e escritores regionais para discutirem temas relacionados à literatura. Os encontros são abertos à participação do público.

O projeto é mais uma ação de estímulo à leitura e ao uso do espaço público da biblioteca. A BDB é um posto avançado da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, na capital da República, vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).

A nova iniciativa será inaugurada na próxima terça-feira, dia 14 de outubro, e terá como tema a obra do escritor Machado de Assis.

Os autores convidados para conversar com o público são dois professores estudiosos do tema: da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Waldeck, doutor em Lingüística, co-autor do livro Compreensão e Produção de Textos, da Editora Vozes, e Andrey do Amaral, autor do livro O Máximo e as Máximas de Machado de Assis.

O debate sobre a obra de Machado de Assis é mais uma homenagem que a Biblioteca Demonstrativa de Brasília faz ao grande expoente da literatura brasileira, dentro das comemorações do centenário de sua morte. Desde o dia 29 de setembro está sendo realizada na BDB a mostra Eternamente Machado, uma réplica da exposição que vem sendo feita na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

A mostra reúne cartazes, slides e livros sobre o escritor e está aberta ao público no horário de expediente da biblioteca (2ª a 6ª feira de 7h30 às 23h e aos sábados de 8h às 14h).

A Biblioteca Demonstrativa de Brasília está localizada na Avenida W3 Sul, EQ 506/507.

(Patrícia Saldanha, Comunicação Social, MinC)

Fonte:
Assessoria de Imprensa da BDB. E-mail enviado por Andrey do Amaral

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Paraná em Trovas



Se todos somos irmãos,
ninguém vencerá ninguém.
– Vitória é dar-nos as mãos
pelo triunfo do bem!
A. A. de Assis

Fico em silêncio e ouço os passos
de quem não vai mais chegar...
Então abraço os meus braços
e não paro de chorar.
Amalia Max

Sou trovador, tenho senso
Da importância da poesia:
Encerra tudo o que penso,
Realidade e fantasia!
Apollo Taborda França

A trova é gota de pranto
que cai dos olhos de alguém
e por alguém chorou tanto
que nem mais lágrimas tem
Antonio Salomão

O céu se torna mais belo
para saudar nosso amor.
Faz-se o poente amarelo
para à paixão dar mais cor!
Arlene Lima
.
Se lágrima enchesse balde,
contendo tamanho fundo,
prá aparar água-debalde,
que balde teria o mundo.
Carlota Faria de Campos

Tão livre pelo meu rosto
sinto a lágrima rolar.
Quando, terei eu, o gosto
de também me libertar?
Cyroba B. O. Ritzmann

Passei a vida chorando,
chorei mais do que sorri.
Hoje eu sorrio zombando
da maneira que vivi.
Eleonora Brasil Pompeo

Meu caro poeta: o Universo
espera atendas meu rogo:
- Ou pões mais fogo no verso,
ou pões o verso no fogo!
Eno Teodoro Wanke

A lágrima mais sentida
que brota do coração,
é a que sentimos na vida
pela dor da ingratidão!
Fernandina Marques

A Pátria não é somente
o céu, o rio e o chão;
é mais: É a alma da gente
que vibra no coração.
Harley Clóvis Stocchero

Minha terra tem pinheiro
onde grasna a gralha azul,
que é de fama o sementeiro
dos pinhais aqui do sul.
Heitor Borges de Macedo

No livro lê-se o passado
o presente e o momento
é o nosso amigo calado
que enriquece o pensamento.
Jandyra Sounis Carvalho de Oliveira

Das máscaras que ocultamos
e que toda gente tem:
Sempre ao rosto afivelamos
aquela que nos convém!
Joaquim Carvalho

Sou poeta, Trovador
na solidão desta rua...
Minhas serestas de amor
só tenho cantado à Lua.
Lairton T. de Andrade

Lá de cima do pinheiro,
a gralha emite um lamento:
- Pinhões, bem logo, ó lenheiro,
não mais semearei ao vento!...
Leonilda Hilgenberg Justus

Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.
Lourdes Strozzi

Gota de água numa teia
pelo orvalho pendurada,
é jóia que se incendeia
no colo da madrugada
Lygia T. Fumagalli Ambrogi

Há trovas que o vento leva;
outras, o fogo desfaz...
Mas, as minhas, sem reserva
são trovas que o vento traz.
Maria Nicolas

A poesia, inspiração,
Fulge na alegria e dor...
São toques do coração,
Que nos empolgam no amor.
Marita França

Você que vive tão triste!
Quisera saber por que?
E tanta beleza existe,
só quem não vê, é você.
Nair Cravo Westphalen

João de barro, um engenheiro,
Que jamais leu apostila.
Seu ninho é quase um mosteiro,
- poema feito de argila-
Nei Garcez

Se queres um mundo aberto,
compreensivo num segundo,
é preciso abrir primeiro
o teu coração ao mundo.
Nelson S. D'Oliveira

Quando é longa e dura a estrada,
nós sempre aprendemos tanto,
que as conquistas, na chegada,
têm sempre o dobro do encanto.
Olga Agulhon

Tudo que é bom, nesta vida,
Foge-nos celeremente,
Somente a dor mais sentida
Fica na vida da gente.
Orlando Woczikosky

A luz ilumina o mundo
dando-lhe vida e calor
e no seu mister profundo
aquece também o amor.
Oswaldo Portugal Lobato

A verdadeira vitória
não é ter glórias a esmo,
mas ter a suprema glória
de ter vencido a si mesmo!
Swami Vivekananda

Se falta a luz ou calor,
para isso tem saída...
Só a falta do teu amor
me apaga e congela a vida!
Vânia Ennes

Nunca feches a carranca
de modo a transparecer,
ninguém gosta de ver tranca
no rosto do bem-querer.
Vasco José Taborda

Aberto em asas de paz
na escola, no lar, na igreja,
por todo o bem que nos faz,
o livro bendito seja.
Vera Vargas

Saudade, novo pensar,
um pensar do que passou,
querendo até resgatar
a beleza que ficou!
Vidal Idony Stockler

A deficiência não deve
ser olhada com desdém...
Só o louco é que se atreve
a zombar de quem a tem.
Zélia Simeão Poplade
Fontes:
Boletim Trovamar. União Brasileira de Trovadores – Balneário Camboriú-SC - Ano 4– N. 46 – outubro / 2008 (enviado por e-mail)

Boletim Informativo Calêndula Literária - UBT Porto Alegre/RS - n.364 - outubro 2008

TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs.). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.

Concursos com Inscrições Abertas

IV CONCURSO LITERÁRIO “CIDADE DE MARINGÁ”
PRAZO: 31.10.08

Modalidades e temas:
1. TROVA (Lírica ou filosófica)
2. SONETO (Decassílabo)
3. POEMA LIVRE (Máximo 30 linhas)
4. CRÔNICA (Máximo 30 linhas) DRAMATURGIA

(Textos teatrais adultos ou infantis que possibilitem a execução de um espetáculo de no mínimo, 40 minutos de duração).

Tema para todas as modalidades: ROÇA
(Não há necessidade de uso da palavra).

Máximo de 03 trabalhos em cada modalidade, sendo o concurso de trovas pelo sistema de envelopes. Demais modalidades: Papel A-4 em quatro vias, corpo 12, usando pseudônimo. Anexo, um envelope de identificação, indicando a modalidade.

Endereço: Academia de Letras de Maringá – Caixa Postal 982 – Maringá – PR – Cep 87001-970.

CONCURSO DE TROVAS DA UBT DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

PRAZO: 31.10.08

Tema: CONHAQUE (Dividido em duas categorias: Líricas/filosóficas e Humorísticas).

Máximo de 03 trovas em cada categoria.

Sistema de envelopes. Trovas inéditas e de autoria do remetente.

Remessa para: Rua Santa Tereza, 189 – cep 28051-055 – Campos dos Goytacazes – RJ.

XIII CONCURSO LITERÁRIO DA ACADEMIA CAXIENSE DE LETRAS

PRAZO: 15.10.08 – Tema livre

MODALIDADES: Conto, crônica, poesia e obra literária.

NÚMERO DE TRABALHOS: Poesia, conto e crônica: Três, em três vias, com pseudônimo, juntamente com um envelope de identificação.

Obra literária: Apenas um trabalho, em uma única cópia, sob pseudônimo, juntamente com envelope de identificação.

PREMIAÇÃO: Haverá classificação do 1º ao 3º lugar em cada categoria.

REMESSA: Academia Caxiense de Letras – a/ c de Odanir Antonio Tomazzo – Rua João Bettega,
1104 F – Bairro Salgado Filho – CEP 95098-600 – Caxias do Sul – RS.

Em tempo: Colocar como remetente o próprio destinatário.

Fonte:
Boletim Informativo Calêndula Literária - UBT Porto Alegre/RS - n.364 - outubro 2008

Balaios de Trovas II

Numa oração plena e calma,
peço a Deus que acenda a luz
do túnel que há em minha alma
para eu poder ver Jesus!
Ademar Macedo-RN

Quer saber o que é amar?
Não fique buscando a esmo;
amar é como tirar
boas férias de si mesmo!
Amilton Maciel Monteiro – SP

Semeia sonhos, resiste,
planta amor pelos caminhos,
que a travessia mais triste
é a que fazemos sozinhos.
Antonio Juraci Siqueira - PA

Vou remando de partida
num mar imenso de paz...
mas as ruínas da vida
vão nadando, logo atrás!...
Ari de Campos- SC

Eu quase posso notar,
nos momentos de descanso,
a saudade cochilar
na cadeira de balanço!...
Arlindo Tadeu Hagen – MG

Quero que cantes comigo
no jardim da primavera
teu coração como abrigo –
mil beijos de mim espera.
Armando Sousa-Canadá

Numa trova é pouco o espaço,
e os sons, a ordenar a mão.
Nos versos que eu sempre faço,
quem escreve é o coração.
Cáritas Souzza- CE

Imitando o meu lamento
por que não me preza mais,
ouço a voz triste do vento
na plataforma do cais...
Cláudio Derli Silveira - RS

Vou navegar estes mares,
de calmaria e procela
para ver se entre os olhares
encontro aquele olhar dela.
Clênio Borges - RS

Sei quando vais demorar...
Mesmo assim, tudo ofereço:
quem espera para amar
paga ao tempo qualquer preço!
Clenir Neves Ribeiro - RJ

O ano finda, já em outubro
nada aconteceu na vida
onde não estás , descubro
que sem ti, fico perdida...
Clevane Pessoa Lopes-MG

Inverno é um estado de alma,
um não sei quê diferente,
que nos rouba a paz e a calma,
quando, em nós, se faz presente!
Delcy Canalles - RS

Eu quis falar de ternura,
quis abrir meu coração,
quando vi tanta amargura
nos olhos do meu irmão!
Doralice Gomes da Rosa - RS

Nosso amor floriu na infância,
criou raiz e depois,
foi encurtando a distância,
fazendo um só de nós dois.
Doralice Gomes da Rosa - RS

O alto-falante anunciava
a valsa de um querer-bem,
e o parque inteiro aguardava
ouvir seu nome, também.
Dorothy Jansson Moretti-SP

Sou trovador e transponho
os céus da imaginação
pelo galope do sonho
e no dorso da ilusão!
Eduardo Toledo-MG

Na dureza dos escombros,
quando as dores se equivalem,
amizade é mão nos ombros
embora os ombros não falem.
Flavio Stefani - RS

A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!
Gislaine Canales- SC

Na vida, faço e desfaço
duras laçadas sem medo,
porque no ajuste do laço
é Deus quem me empresta o dedo!
Heloísa Zanconato - MG

Trovador, longe da infância,
contando as horas da idade,
rima tempo com distância
e distância com saudade.
Héron Patrício-MG

A noite, de ar seco, anidro,
por não ver no céu a lua,
põe-se a acender sóis de vidro
nos postes da minha rua!
Humberto – Poeta – SP

Trovas de amor e saudade
trazem mil temas diversos,
mas predomina a amizade
nascendo de tantos versos...
Ialmar Pio -RS

Quando no céu surge a Lua,
cheia de si, me arrebata,
lavando as trevas da rua
com sua chuva de prata!...
Joaquim Carlos - RJ

Poderia dizer mais
sobre a solidão mesquinha,
mas, não vou querer jamais;
ela nessa vida minha!
Josias Alcântara-ES

-Quando me entrego ao passado,
no meu devaneio infindo,
sonho, bom tempo, acordado,
pensando que estou dormindo.
Jose Lucas-RN

O tempo passa depressa,
mas, quem diz que eu envelheço?
- Cada olhar é uma promessa!
- Cada espera... Um recomeço!
José Ouverney - SP

SProblema sem solução
é o nosso amor desgastado;
já não vibra o coração,
mas vivemos lado a lado...
Lais Rios- RJ

Meu corpo colado ao teu...
dois seres...um sentimento!
Sonho que sobreviveu
apenas em pensamento.
Luiz Antonio Cardoso – SP

O sol é lâmpada acesa,
por Deus pai, como magia...
para pintar a beleza
da vida... dia após dia
Mara Melinni Garcia-RN

Em meus versos, de alma nua,
a ti, eu canto louvores,
SÃO FRANCISCO, Irmão da Lua,
do Sol e dos Trovadores!
Marisa Vieira Olivaes- RS

Quando a distância incomoda,
parece que, por maldade,
insiste em brincar de roda
com a lembrança...com a saudade...
Marlê Beatriz Araújo - RS

Os anônimos tropeiros
tiveram dias de glória;
com objetivos certeiros
registraram sua história.
Mifori – SP

Estudo trovas a fundo,
mas persisto na suspeita,
que a trova melhor do mundo
até hoje não foi feita!
Miguel Russowsky-SC

O Dia dos Namorados
dura toda a eternidade
para os mais apaixonados:
quem sabe amar de verdade.
Milton Souza – RS

Amigo eu trago guardado,
sempre com muita afeição,
naquele lugar sagrado
que se chama coração.
Neiva Fernandes-RJ

A despedida foi triste,
mas o tempo é passageiro,
e a distância não existe,
quando o amor é verdadeiro.
Neoly de Oliveira Vargas-RS

Com marido quarentão,
a velha disse o seguinte:
- Vou trocar meu Capitão
por dois marujos de vinte...
Paulo R. de Fraga Cirne - RS

Sem desejo interesseiro,
ao ver alguém na desgraça,
o benfeitor verdadeiro
é o que chega, ajuda... e passa!
Pedro Ornellas - SP

O que me faz tua ausência,
é causar-me pranto e dor.
Mas no amor há tanta essência
que sou escravo do amor!
Prof. Garcia-RN

A amizade Deus criou
naquele exato momento,
quando estrelas semeou
nas trevas do firmamento!
Roza de Oliveira-MG

No mar revolto da vida,
mesmo sem ter o roteiro,
sei que não sou nau perdida
porque Deus é o timoneiro.
Terezinha Brisolla - SP
Fontes:
Boletim Trovamar. União Brasileira de Trovadores – Balneário Camboriú-SC - Ano 4– N. 46 – outubro / 2008 (enviado por e-mail)

Boletim Informativo Calêndula Literária - UBT Porto Alegre/RS - n.364 - outubro 2008

UBT - Porto Alegre (Encontro de Outubro)

Dia 26 de outubro de 2008
Domingo - 12 horas
Local: Sede da UBT
Rua Otto Niemeyer, 246
Bairro Cavalhada

Almoço
Rodada de Trovas
Música

Lançamento dos livros de:
Zelinda Slomp
(Só Trovas...)

Severino Silveira de Souza
(Rimas do Entardecer)

Lisete Johnson
(Festarola na Biblio e Comidinhas Poéticas)

Milton Souza
(Poesias Para Declamar)

Concurso Relâmpago:
Tema: Regresso

Venha e convide os amigos

Mais informações:
3241 6422 ou 3241 5992

Fonte:
Boletim Informativo Calêndula Literária - UBT Porto Alegre/RS - n.364 - outubro 2008

III Jogos Florais de Balneário Camboriú (Programação)

(Sujeita a modificações)

Dia 7 de Novembro 2008
Encontro dos Trovadores no hotel, às 12, 00 horas.
Hospedagem para todos os Trovadores classificados e convidados.
(O café da manhã será por conta de cada um).

TARDE DA TROVA EM BRUSQUE

Saída 12h.
Chegada em Brusque: 13h .
Encontro na FIP (centro comercial), com almoço patrocinado pelo FIP.
Compras até as 17h, em seguida visita ao VIII Simpósio Internacional de Esculturas), visita ao Santuário de Azambuja e à gruta, uma parada na Praça das Bandeiras, para tirar fotos, e depois seguimos para a ABB (local do café colonial): chegada prevista a esse local 19h30, onde o Café Colonial já estará pronto para ser servido.
Apresentação do coral do Círculo Trentino e o canto alemão, e música para dançar (minifenarreco).
Rodada de Trovas.
(Almoço, Café Colonial e Chope patrocinados por Brusque)
Retorno para Balneário Camboriú, às 23 horas.

Dia 8 de Novembro 2008
10h - Varal de Trovas no Calçadão.
11h-Passeio turístico, a partir do Calçadão com a Av. Atlântida.
12h- Almoço (por conta de cada um).
14h- Teleférico - 50% de desc.
20h – Solenidade na Faculdade de Balneário Camboriú.
Distribuição livretos e coquetel

Dia 9 de Novembro 2008
11 horas – Oração ecumênica em trovas.
12 horas – Almoço de despedida no Cristo Luz-
Concurso Relâmpago-Tema: Amizade.
(O almoço de despedida é patrocínio de Miguel Russowsky)

Fonte:
Trovamar. União Brasileira de Trovadores – Balneário Camboriú-SC - Ano 4– N. 46 – outubro / 2008 (enviado por e-mail)

Virginia Woolf (Kew Gardens)

Tradução de Fabrício Cassilhas

Do canteiro oval de flores erguiam-se talvez centenas de talos se alongando entre folhas em formatos de coração ou de línguas, enquanto cresciam e se desenrolavam na ponta de pétalas vermelhas ou azuis ou amarelas manchadas com borrões que afloravam à superfície; e do escuro vermelho, azul ou amarelo dos seus interiores emergia uma estreita barra, áspera com pó de ouro e com um leve formato de clava na extremidade. As pétalas eram volumosas o bastante para se agitarem com a brisa, e quando elas se mexiam, as luzes vermelhas, amarelas e azuis passavam umas sobre as outras, tingindo alguns poucos centímetros de terra marrom por baixo, com borrões dos mais intrigantes. A luz caía ou sobre a lisa superfície cinza de uma pedrinha, ou sobre a concha de um caracol com veias circulares, em tons marrom, ou, quando caía sobre uma gota de chuva, se expandia com tamanha intensidade de vermelho, azul e amarelo que se esperava que de tão finas suas paredes se rompessem ou desaparecessem. Em vez disso, a gota, em um segundo, ficou de novo prateada, e a luz então se acomodou sobre a superfície de uma folha, revelando a ramificação de filetes de fibra sobre a superfície, e novamente se moveu e espalhou sua luz sobre os vastos espaços verdes abaixo das cúpulas das folhas em formatos de corações e línguas. Então a brisa soprou sem dúvida ainda mais vivaz no alto e as cores passavam no ar, nos os olhos de homens e mulheres que caminham por Kew Gardens em julho.

As silhuetas desses homens e mulheres afastavam-se dos canteiros de flores com um curioso movimento irregular, não diferente do das borboletas brancas e azuis que cruzaram a relva voando em ziguezague de canteiro em canteiro. O homem estava a pouco mais de quinze centímetros à frente da mulher, passeando despreocupadamente, enquanto ela passava apreensiva, apenas virava a cabeça de vez em quando para ver se as crianças estavam logo atrás. O homem manteve certa distância da mulher de propósito, embora talvez não percebesse, pois queria seguir com seus pensamentos.

“Há quinze anos estive aqui com a Lily”, pensou. “Sentamos em algum lugar por ali, perto do lago, e durante toda a tarde quente, implorei lhe que se casasse comigo. Como a libélula circulava ao nosso redor: como eu via de forma tão clara a libélula e seu sapato com uma fivela retangular e prateada nos dedos. Durante todo o tempo em que eu falava, via seu sapato e quando ele se mexia impacientemente eu sabia sem precisar olhar para cima o que ela iria dizer: ela toda parecia estar no sapato. E o meu amor, o meu desejo, estavam na libélula; por algum motivo eu sabia que se ela pousasse lá, naquela folha, aquela grande com uma flor vermelha no meio, se aquela libélula pousasse naquela folha, ela diria “Sim” na mesma hora. Mas a libélula rodeou e rodeou: não pousou em lugar nenhum é claro, felizmente não, ou então eu não estaria aqui sentado com Eleanor e as crianças. Diga-me Eleanor. Você pensa no seu passado?

“Por que a pergunta, Simon?”

“Porque estava pensando no passado. Estava pensando na Lily, a mulher com quem eu poderia ter me casado… Bem, por que está tão calada? Você se incomoda por eu pensar no meu passado?”

“Por que é que eu deveria me importar, Simon? A gente não pensa sempre no passado, em um jardim com homens e mulheres deitados em baixo de árvores? Eles não são o nosso passado, tudo o que resta dele, aqueles homens e aquelas mulheres e, aqueles fantasmas deitados em baixo das árvores,… a nossa felicidade, a nossa realidade ?”

“Para mim, uma fivela de sapato retangular e prateada e uma libélula”.

“Para mim, um beijo. Imagine seis garotinhas sentadas diante de seus cavaletes há vinte anos, lá embaixo perto do lago, pintando vitórias-régias, as primeiras vitórias-régias vermelhas que vi na vida. E de repente um beijo, na nuca. Minha mão ficou tremendo a tarde inteira, de tal forma que eu não conseguia mais pintar. Peguei meu relógio e marquei o horário em que me permitiria pensar no beijo por cinco minutos apenas foi tão precioso o beijo de uma mulher grisalha com uma verruga no nariz, a mãe de todos os beijos da minha vida. Venha, Caroline, venha Hubert.”

Eles contornaram o canteiro de flores, agora caminhando lado a lado, e logo diminuíram de tamanho entre às arvores e pareciam meio transparentes quando a luz do sol e a sombra banhavam as costas deles parecendo manchas irregulares trêmulas.

No canteiro oval de flores o caracol, cuja concha tingiu-se de vermelho, azul e amarelo num espaço de aproximadamente dois minutos, agora parecia estar se movendo lentamente em sua concha, e em seguida começou a mover as migalhas de terra solta que se desprendiam e desciam rolando enquanto ele passava por elas. Ele parecia ter um destino bem definido à sua frente, diferenciando-se nesse aspecto do excêntrico inseto verde angular de passos altos que tentava passar na sua frente, e esperava por um segundo com suas antenas que vibravam como se estivesse pensando, e então deu um passo de maneira tão rápida quanto estranha na direção oposta. Penhascos marrons com lagos verdes profundos nos vales, árvores achatadas em forma de pá que se agitavam da raiz à extremidade, penedos redondos de rocha cinza, uma vasta superfície enrugada com uma fina textura estalante todos esses objetos que cruzavam o curso do caracol entre um talo e outro para seu destino. Antes de decidir se contornava a tenda curvada de uma folha morta ou se a encarava, ao lado do canteiro os pés de outros seres humanos passaram.

Desta vez ambos eram homens. O mais jovem dos dois tinha uma expressão talvez de uma calma não natural, ele ergueu os olhos e fixou-os para frente enquanto seu companheiro falava, e sem rodeios seu companheiro falava, ele olhava para o chão e às vezes abria a boca só após uma longa pausa e às vezes nem mesmo abria. O homem mais velho tinha um curioso jeito irregular e vacilante de andar sacudindo a mão para frente e jogando a cabeça de repente, mais exatamente como um cavalo de carruagem cansado de esperar do lado de fora da casa; mas no homem esses gestos eram indecisos e sem finalidade. Ele falava quase sem pausas, sorria para si mesmo e novamente começava a falar, como se o sorriso fosse uma resposta. Falava sobre espíritos os espíritos da morte, que, de acordo com ele, estavam agora mesmo lhe contando todos os tipos de coisas extravagantes sobre sua experiências no paraíso.

“O Paraíso era conhecido pelos anciões como Tessália, William, e agora, com essa guerra, o espírito está ressoando entre as colinas como o trovão.” Ele parou, parecia ouvir, sorriu, sacudiu a cabeça e continuou:

“Você tem uma pequena bateria elétrica e um pedaço de borracha para isolar o fio isolar? vedar? bem, vamos deixar os detalhes de lado, melhor não entrar em detalhes que poderiam não ser entendidos e resumindo a maquininha fica em qualquer posição conveniente ao lado da cabeceira da cama, digamos, em uma bela mesinha de mogno. Tudo arrumado por trabalhadores contratados sob minha orientação, a viúva aguça seus ouvidos e invoca o espírito concordando com um sinal. Mulheres! Viúvas! Mulheres de preto!”

A essa altura ele parece ter tido uma visão de um vestido de uma mulher, que na sombra parecia ser roxo escuro. Ele tirou seu chapéu, colocou a mão sobre o peito, e se apressou em direção a ela murmurando e fazendo gestos exaltados. Mas William o pegou pela manga e tocou em uma flor com a ponta da sua bengala para desviar a atenção do velho. Após nota-la por um momento em uma confusão o velho inclinou seu ouvido para ela e pareceu ouvir uma voz vindo dela, para ele começou falando sobre as florestas do Uruguai que visitou há milhares de anos acompanhado da mais bela jovem da Europa. Podia-se ouvi-lo murmurando sobre as florestas do Uruguai cobertas com pétalas lustrosas de rosas tropicais, rouxinóis, praias com ondas, sereias, e mulheres afogadas no mar, enquanto ele padecia com as tentativas de William de fazê-lo se mexer, o olhar de uma paciência estóica crescia lentamente sobre a face de William cada vez mais profundo.

“Nell, Bert, Lot, Cess, Phil, Pa, ele diz, eu diz, ela diz, eu diz, eu diz, eu diz
Meu Bert, Sis, Bill, Vovô, o velho, açúcar,
Açúcar, farinha, peixe defumado, vegetais,
Açúcar, açúcar, açúcar.”

A mulher sonolenta examinava cuidadosamente a disposição das palavras que caíam nas flores permanecendo calma, firme, de pé no chão, com uma expressão curiosa. Ela os viu da mesma forma que uma dorminhoca acordando de um sono pesado vê um castiçal de bronze refletindo a luz de um jeito diferente, e fecha os olhos e os abre, e vendo mais uma vez o candelabro de bronze, finalmente desperta e fita o castiçal com todas as suas forças. Então a mulher com os olhos pesados fez uma pausa próxima ao canteiro oval de flores, e parou até mesmo para fingir escutar o que a outra mulher dizia. Ela continuou deixando que as palavras despencassem sobre ela, oscilando a parte de cima do seu corpo lentamente para frente e para trás olhando para as flores. Então ela sugeriu que elas achassem um lugar para sentar e tomar chá.

O caracol tinha considerado todas as possibilidades de alcançar seu destino que não incluíssem dar a volta pela folha seca ou escalá-la. Deixando de lado o esforço que era preciso para escalar a folhar, ele tinha dúvidas se a textura fina que vibrava com estalos estrondosos quando tocada até mesmo pela ponta de suas antenas suportaria seu peso; e isso por fim determinou que ele rastejasse por debaixo dela, pois em uma parte da folha havia uma curvatura alta o bastante do chão para que ele passasse. Ele acabara de colocar sua cabeça sobe a folha e estava verificando o alto telhado marrom e se acostumando à serena luz marrom quando mais duas pessoas passaram por fora do gramado. Nesta época os dois eram jovens, um homem e uma mulher. Ambos na puberdade, ou ainda naquela época que antecede a puberdade, aquela antes das bolsas lisas e rosadas das flores romperem sua viscosa membrana, quando as asas da borboleta, embora crescidas por completo, não tem movimento ao sol.

“É uma sorte não ser sexta feira”, ele observou.

“Por quê? Você acredita em sorte?”

“Eles cobram seis centavos na sexta feira”.

“O que são seis centavos? Isso não vale seis centavos?”

“O que é ‘isso’, o que você quer dizer com ‘isso’?”

“Ah, nada quer dizer que você sabe o que eu quero dizer”.

Longas pausas ocorriam após esses comentários, eles se pronunciaram com vozes desafinadas monótonas. O casal ficou parado na beira do canteiro de flores, e juntos empurraram a ponta do seu guarda-sol para dentro da terra macia. A ação e o fato de que suas mãos apoiavam-se sobre as dela expressavam o que eles sentiam de um jeito estranho, como se essas palavras curtas e insignificantes também manifestassem alguma coisa, palavras com asas curtas para corpos tão cheios de significados; inadequados para levá-las para longe e assim pousando de maneira desastrada sobre os objetos tão comuns que os rodeavam, e eram tão imponentes para um toque tão inexperiente; mas quem sabe (assim eles pensaram enquanto pressionaram o guarda-sol para dentro da terra) que precipícios não se escondem, ou que declives de gelo não brilham no sol do lado de lá? Quem sabe? Quem é que já se deparou com isso antes? Até mesmo quando ela imaginava que tipos de chá lhe davam em Kew Gardens, ele sentiu que havia algo por trás das suas palavras, e permaneceram vastas e densas atrás delas, e a névoa dissipou lentamente e revelou Ó céus, o que eram aquelas formas? pequenas mesas brancas, e garçonetes que olhavam primeiro para ela para então olharem para ele, e havia uma conta que ele pagaria com uma moeda de verdade de dois xelins, e era de verdade, tudo de verdade, ele se assegurou, dedilhando a moeda em seu bolso, de verdade para todos exceto para ele e para ela, até mesmo para ele aquilo começava a parecer de verdade, mas então era tudo tão excitante para ficar mais tempo parado e pensando, e ele puxou o guarda-sol para fora da terra com um solavanco e estava impaciente para encontrar o lugar em que se tomava chá com as outras pessoas, como as outras pessoas.

“Vem comigo, Trissie; está na hora do chá.”

“Onde se toma chá?” ela perguntou com uma empolgação fora do comum em sua voz, olhando vagamente ao seu redor e se deixando aproximar do gramado, arrastando seu guarda-sol, virando sua cabeça de um lado para o outro, esquecendo-se do chá, desejando ir lá em baixo e depois lá em baixo, lembrando de orquídeas e garças entre as flores selvagens, um pagode chinês e um pica-pau-de-topete-vermelho; mas ele a chamou.

Assim aos pares, seguidos uns dos outros com praticamente os mesmos movimentos irregulares e sem direção passavam pelo canteiro de flores e estavam envoltos em camadas atrás de camadas de vapor azul esverdeado, onde de início seus corpos tinham tanto substância como cor, porém mais tarde a substância e a cor se dissolveram na atmosfera azul esverdeado. Como estava quente! Tão quente que até mesmo os melros preferiam saltar, como pássaros mecânicos, à sombra das flores, com longas pausas entre um movimento e outro; ao invés de perambular sem rumo, as borboletas brancas dançavam umas sobre as outras, fazendo com seus flocos brancos delineassem o contorno de uma coluna de mármore estilhaçada sobre as flores mais altas; os telhados de grama da casa de palmas brilhavam como se uma loja cheia de guarda-chuvas verdes e brilhantes tivesse aberto ao sol; e com o zunido do avião, a voz do céu de verão murmurou sua alma selvagem. Amarelo e preto, rosa e gelo, formas de todas essas cores, homens, mulheres e crianças foram tingidas por um segundo acima do horizonte, e então, vendo a amplitude de amarelo que caía sobre a grama, elas hesitaram e foram para debaixo das árvores, dissolveram-se como gotas de água em uma atmosfera verde e amarela, tingindo-a sutilmente de vermelho e azul. Era como se todos os corpos volumosos e pesados tivessem afundado no calor sem se mexer e caíssem de maneira confusa sobre o chão, mas suas vozes vinham oscilantes como se fossem chamas reclinando-se dos largos corpos de cera das velas. Vozes. Isso mesmo, vozes. Vozes sem palavras, quebrando bruscamente o silêncio com um contentamento tão intenso, com tanta vontade de paixão, ou, nas vozes das crianças, tantas novas surpresas; quebrando o silêncio? Mas não havia silêncio; o tempo todo os ônibus mudavam de direção e trocavam suas marchas; como uma vasta coleção de caixas chinesas todas de ferro ornado mudando incessantemente uma dentro da outra a cidade murmurava; no topo vozes gritavam e as pétalas de uma infinidade de flores passam suas cores no ar.

Fonte:
http://www.ichs.ufop.br/tradufop/
http://www.evanevanstours.co.uk (foto)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Cidade da Criança (Itu) celebra Dia da Leitura no domingo

ITU - A partir deste ano, o Dia das Crianças é, também, o Dia Estadual da Leitura em São Paulo, como resultado de uma proposta realizada em 2006 pelo Instituto Ecofuturo à Secretaria de Cultura do Estado. Para sensibilizar pais e educadores sobre a importância de oferecer leitura às crianças desde o nascimento, o próximo dia 12 de outubro terá uma extensa programação com leitura para crianças e adultos em vários locais do Estado de São Paulo, além de oficinas para educadores.

Em Itu, o Dia da Leitura será realizado na Cidade da Criança por voluntários da Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima. Haverá leitura de livros infantis e contação de histórias em dois horários: às 10 horas na Casa do Tarzan e às 15 horas no Coreto. Durante todo o dia, livros, revistas, gibis e brinquedos do acervo infanto-juvenil da Biblioteca Comunitária estarão à disposição das crianças na Casa do Tarzan.

O evento faz parte da programação da Secretaria Municipal de Turismo para o local, que contará ainda com apresentações de dublagem dos grupos de Cabreúva Patrulha Troupe Juvenil e Gingado Manero; hapkido e taekwondo com a Fábrica Academia; e shows com a banda Happy Hour e a dupla sertaneja Erasmo e Rafael.

O Dia da Leitura deste ano convidará todos a ler para as crianças no domingo, dia 12 de outubro, estimulando nelas a vontade e a paixão de ler, numa iniciativa batizada de Brincar de Ler. No dia serão distribuídos exemplares do Passaporte Brincar de Ler, um guia de 23 páginas que traz dicas de como implantar o gosto pela leitura em crianças desde o nascimento, mesmo que os pais sejam analfabetos.

A ação conta com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Poiesis, São Paulo Estado de Leitores, Fundação Victor Civita, Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Nacional de Livrarias (ANL). O objetivo, agora, é transformar esta conquista estadual em uma lei nacional, já em votação em Brasília. Você pode manifestar apoio deixando sua assinatura no site www.diadaleitura.org.br .

Fonte:
E-mail enviado por José Renato M. Galvão.
Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima

Raul Pompéia (Conto de Fadas)

Contra-sensos de atavismo. Algumas vezes nascem príncipes da poeira humilde das ruas. Não da espécie dos conspiradores felizes, que fazem da própria nulidade original arma de guerra e lutam e sobem, cobrejando através dos conhecimentos até campear triunfantes sobre o domínio dos homens, não: verdadeiros príncipes, que o são ao nascer; que têm a púrpura do manto diluída em glóbulos de altivo sangue, absolutamente a salvo da embolia mortífera que a impureza do ambiente da sua miséria poderia ocasionar; príncipes nobilíssimos, que têm a força do emblemático cetro vertebrada em espinha dorsal, inflexível às humilhações da sorte, e no olhar firme, sem jaça, que lhes clareia a testa, a majestade dos diademas.

Podemos encontrá-los, ao dobrar uma esquina, em andrajos, face cavada pela necessidade e pelo suor, - lágrimas de fadiga.

Pesa-lhes mais que a ninguém a fatalidade arquitetônica do edifício social, que obriga a superposição dos andares e a inferioridade do baldrame.

São oriundos desta raça os piores criminosos e os revolucionários sublimes. Entre estes extremos há, porém, o meio termo, mais comum, dos obscuros que sucumbem, bloqueados na vaidade inflexível da imaginária realeza.

"Impossível! monologava Aristo. Com os diabos! É uma solução arrebatada, que não me entusiasma. Suprimir-me! É boa! e o meu lugar no refeitório da vida? Então não há um talher para cada um nesta mesa redonda, como não há, no campo, um figo para cada pássaro. Quem me privou do figo nesta partilha? Implorar... Mas haverá pássaros mendigos? Há criancinhas que esmolam cantando; nenhuma outra miséria conheço que cante; não há lágrimas aladas; a própria chuva, porque parece pranto, cai na terra. Não será, pois, a vida como o espaço, e as aspirações como um vôo? Ah! mas reflitamos com justeza.

E o que pensarão os figos, desta vida? Que opinião a deles sobre os pássaros e sobre as aspirações? Também, pobrezinhos, têm um coração que palpita insensivelmente. Abri um figo; vereis a polpa ouriçada de pontas sangrentas... Como não? os frutos sangram! Têm todos os direitos da maternidade... Não respeitais a maternidade?... inclusive o Santíssimo direito da dor! Percebo, percebo. Há homens-figos, há homens-pássaros. Sim! mas eu, figo!... uma figa! É preciso que um degrau se estenda embaixo, para que outro degrau se estenda em cima, e a escada suba?...

Eu trabalhei o ferro. Como me compreendia o másculo metal, parente da energia inflexível de meu gênio! Não me valeu a força de operário: faltou-me a habilidade de mendigo. Trabalhei então o pano. Homens do dispêndio, mantenedores da indústria, não sabeis de que tecido se fazem as ricas vestes. Passaram fibras de coração pelos teares; tingiram-se os padrões com as cores escuras da miséria. Conheceis os rebanhos humanos encurralados nas fábricas. O carneiro dá a lã. Toda essa lã puríssima: sensibilidade, delicadeza, pudor, altivez, de que se faz a superioridade moral, se apara ao rebanho humano.

Este precioso estofo: vedes esta rosa entre folhas, labiada em pétalas esplêndidas sobre a trama da tecelagem? É a honra de uma operária, a infâmia feita tinturaria. Não quiseram que eu visse o que eu vi, nem que, vendo-o sentisse.

Passei a ser compositor. Ia encontrar de frente o pensamento, como encontrara a indústria. Maravilhou-me a infinidade dos tipos nos caixotins, palavras reduzidas a migalhas, idéias pulverizadas! Criei amor ao estanho dos tipos. O estanho vale mais que o bronze; porque se de bronze se pode fazer o glorioso escritor, de estanho se faz o livro. Ao metal do gloriado prefiro o metal da glória.

Deram-me a compor esta frase de um poeta: Filosofia do mar: os menores peixes, devoram-nos os maiores. Assim os homens.

E nesse dia não compus mais. E odiei o estanho; voltei definitivamente às velhas simpatias pelo ferro."

E Aristo amaciava na palma da mão o ferro de um punhal, com a alma varada pela meditação cruciante, sentindo rasgar-se-lhe aos pés a aberta por onde, mais dia menos dia, nos escapamos todos para a sombra.

- Aristo, vem comigo; disse-lhe alguém ao ouvido, - uma pequenina voz de mulher, áurea e musical.

Era uma visão de risos, trajando o vestido etéreo dos sonetos de Petrarca, maneando a haste leve de uma varinha de fadas. Donde vens, desertora gentil dos contos da infância, graciosa importuna do meu desespero?

- Anda comigo, Aristo. Partamos para a independência feliz.

E partiram, Aristo e a fada, para uma região fantástica e surpreendente.

Céu vasto, de transparência inexprimível. As alvas nuvens, por uma superfluidade de asseio iam, como esponjas, esfregando, uma a uma, as safiras limpas do céu. Cobria-se a terra de pedraria, poeira cintilante de gemas; erguiam-se taludes de facetado cristal. Estranha vegetação brotava. Perfeita floresta de ourivesaria. Troncos de ouro lavrado e folhagem soldada a fogo. Através dos ramos reluzentes, a viração ia e vinha, fria do contato metálico da selva, sem que o mais débil galho tremesse, sem que a mínima flor vacilasse no hastil. Às vezes, a um sopro mais forte, soltava-se um ramúsculo com um estalido seco de agulha partida, ou uma flor desarmava-se, e as pétalas caíam, produzindo o barulho de moedinhas pelo chão. Nenhum outro rumor, nem um perfume, nem uma vida, em toda a paisagem, imóvel e rutilante.

Desaparecera a fada com o rosto em risos e o vestido celeste, que descansavam a vista da crueza das cintilações.

Brilhava no ar, terrivelmente, a claridade verde dos reflexos combinados das safiras do céu e do ouro da floresta.

Horas passadas, Aristo teve fome; exacerbou-lhe a sede a secura cáustica do ambiente. Descobriu pomos no arvoredo, inchados de maturidade, e gotas de orvalho no cálice das flores. Mas, quando quis trincar os pomos, quebravam-se-lhe os dentes contra a rija resistência da casca dourada, e bebendo orvalho, puríssimos diamantes aliás, foram-lhe as arestas da pedra, ensangüentar o esôfago.

- Maldição! maldição! Que me trouxeram ao inferno da pureza e da inflexibilidade!

A fada, aparecendo:

- Eu sou, pobre Aristo, a fada Ironia. Guiei-te à pátria inexorável do teu orgulho.

Fonte:
http://www.biblio.com.br