domingo, 2 de novembro de 2008

Lançamento do Livro "O LobVampiro"

O sorocabano José Estevão Pinto de Oliveira tem 13 anos e aos 11 escreveu o livro O LobVampiro. O livro conta a história dos amigos Kauê e Marcos que começam a investigar o mistério de uma casa assombrada no bairro onde moram. Segundo a lenda, na casa assombrada mora o Lobvampiro, um azarado, que além de ser mordido por um morcego-vampiro também foi mordido por um lobo. Em noites de lua cheia, o temível morador transforma-se em lobisomem e no terceiro dia, um vampiro.

A história ainda tem a lenda de que o avô de Kauê também tenha sido mordido por um monstro, um caçador de mitos com nome esquisito e outras coisas mais.

José Estevão, que participou da Coletânea Rodamundinho 2008, juntamente com outras 24 crianças e adolescentes, lança O LobVampiro no próximo dia 7 de novembro na Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec). Ele contou que a as ilustrações foram todas feitas no computador e a inspiração para começar a escrever começou muito antes. Veio da leitura de muito livros, e o menino confessa que é fã de Marcos Rey, falecido em 1999, ator de consagrados livros infanto-juvenis como O rapto do garoto de ouro, Na rota do perigo, Enigma na televisão, Um cadáver ouve rádio, entre muitas outras obras.

As ilustrações e a capa do livro também foram feitas por ele para a Ottoni Editora.

Sonhos da Imaginação (José Estevão P. de Oliveira)

Não seria ótimo ter imaginação infinita?
Criatividade para todo lado
Isto que iria ser uma cidade bonita.

É ótimo ter sempre opção
É ótimo ter o que escolher:
Uma maneira de sair do chão
E os frutos da imaginação colher

No Outono caem as folhas da imaginação
Mas tenha sempre esperança
Na primavera haverá flores de montão
O que encanta a criança.

Para mim, tudo isto que eu falei é verdade, e não sonho.

Fontes:
- Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece
- MORAES, Cintian; LARA, Douglas (orgs.). Rodamundinho 2008. Itu,SP: Ottoni Editora, 2008. p.52.
- Jornal Cruzeiro do Sul. Caderno Cruzeirinho. 02 nov 2008, p.4.

sábado, 1 de novembro de 2008

Lançamento do Livro Poesia do Brasil - vol.7 (em Curitiba)


Tarde de Música e Poesia da Academia Paranaense de Poesia
18 de Novembro de 2008
17hs
Centro de Letras do Paraná
Rua Fernando Moreira, 370
Curitiba - Paraná

Ana Paula Tavares (1952)



Ana Paula Ribeiro Tavares nasceu no Lubango, província da Huíla, a 30 de Outubro de 1952. Passou parte da sua infância naquela província, onde fez os seus estudos primários e secundários. Iniciou o seu curso de História da Faculdade de Letras do Lubango (hoje ISCED-Lubango), terminando-o em Lisboa. Em 1996 concluiu o Mestrado em Literaturas Africanas. Actualmente vive em Lisboa, onde lecciona na Universidade Católica de Lisboa, encontrando-se a fazer o seu doutoramento.

Sempre trabalhou ligada à área cultural, tendo actuado como profissional em diferentes áreas da cultura como a Museologia, Arqueologia e Etnologia, Património, Animação Cultural e Ensino. Participou em simpósios, congressos, comissões de estudo e elaboração de inúmeros projectos da área cultural. Foi Delegada da Cultura no Kwanza Norte, técnica do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica (hoje Arquivo Histórico Nacional), do Instituto do Património Cultural.

«Huíla desempenhou um papel particular em «termos» de cheiros, sons, cores, canções que me marcaram muito do ponto de vista estético. Essa era procura. Por outro lado, eu vivi esse tempo no limite entre duas sociedades completamente distintas - e talvez não tenha conseguido compreender nenhuma das duas. Por isso tentei reflectir e escrever sobre partes de uma e partes de outra que me marcaram fundamentalmente. A Huíla, tal qual era na minha juventude, era o limite entre duas sociedades bem distintas: a sociedade europeia - é uma cidade com muitas características europeias: uma cidade de planalto, onde faz frio, e verde... E, por outro lado, uma sociedade africana que era ignorada pela cidade europeia.» In: Michel Laban. Angola. Encontro com Escritores. Porto, Fundação Eng. António de Almeida, 1991, II vol. p. 849.

É membro de diversas organizações culturais como o Comité Angolano do Conselho Internacional de Museus (ICOM), Comité Angolano do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), da Comissão Angolana para a UNESCO. É também membro da UEA.

Tem poemas escritos em diversos jornais e revistas angolanos e internacionais como em Portugal, Brasil, Cabo Verde. As suas obras publicadas são: Ritos de Passagem (1985), O Sangue da Buganvília (1998), O Lago da Lua (1999).

Ao falar sobre a «Literatura angolana no feminino», Inocência Mata refere-se à «maturidade que a escrita etnograficamente ritualística de Paula Tavares expressa... desde o título, passando pela significação do texto pictórico da capa o macro-poema de cada obra anuncia um intenso lirismos - poesia lírica no sentido de conter uma experiência individual e uma subjectiva postura mental perante a realidade do mundo.» Mais adiante a crítica literária diz: «há um apelo à imaginação, pelo recurso a imagens sinestéticas (Mistura de imagens sensoriais, como na poesia de Paula Tavares, principalmente na citação de frutos para simbolizar as características femininas)...» In: Inocência Mata. Literatura Angolana: Silêncios a Falas de Uma Voz Inquieta. Lisboa, Mar Além, 2001, p. 113, 116.

Fontes:
http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=116
http://pt.wikipedia.org

Ana Paula Tavares (Poesias Avulsas)

Mukai*

1

Corpo já lavrado
eqüidistante da semente
é trigo
é joio
milho híbrido
massambala

resiste ao tempo
dobrado
exausto
sob o sol
que lhe espiga
a cabeleira.

2

O ventre semeado
deságua cada ano
os frutos tenros
das mãos
(é feitiço)
nasce
a manteiga
a casa
o penteado
o gesto
acorda a alma
a voz
olha p'ra dentro do silêncio milenar.

3

(Mulher à noite)

Um soluço quieto
desce
a lentíssima garganta
(rói-lhe as entranhas
um novo pedaço de vida)
os cordões do tempo
atravessam-lhe as pernas
e fazem a ligação terra.

Estranha árvore de filhos
uns mortos e tantos por morrer
que de corpo ao alto
navega de tristeza
as horas.

4

O risco na pele
acende a noite
enquanto a lua
(por ironia)
ilumina o esgoto
anuncia o canto dos gatos
De quantos partos se vive
para quantos partos se morre.

Um grito espeta-se faca
na garganta da noite

recortada sobre o tempo
pintada de cicatrizes
olhos secos de lágrimas
Dominga, organiza a cerveja
de sobreviver os dias.
.
* Mukai: - mulher

(O lago da lua)

Canto de nascimento

Aceso está o fogo
prontas as mãos

o dia parou a sua lenta marcha
de mergulhar na noite.

As mãos criam na água
uma pele nova

panos brancos
uma panela a ferver
mais a faca de cortar

Uma dor fina
a marcar os intervalos de tempo
vinte cabaças deleite
que o vento trabalha manteiga

a lua pousada na pedra de afiar

Uma mulher oferece à noite
o silêncio aberto
de um grito
sem som nem gesto
apenas o silêncio aberto assim ao grito
solto ao intervalo das lágrimas

As velhas desfiam uma lenta memória
que acende a noite de palavras
depois aquecem as mãos de semear fogueiras

Uma mulher arde
no fogo de uma dor fria
igual a todas as dores
maior que todas as dores.
Esta mulher arde
no meio da noite perdida
colhendo o rio

enquanto as crianças dormem
seus pequenos sonhos de leite.

(O lago da lua)

"Não conheço nada do país do meu amado"

Não conheço nada do país do meu amado
Não sei se chove, nem sinto o cheiro das
laranjas.

Abri-lhe as portas do meu país sem perguntar nada
Não sei que tempo era
O meu coração é grande e tinha pressa
Não lhe falei do país, das colheitas, nem da seca
Deixei que ele bebesse do meu país o vinho o mel a carícia
Povoei-lhe os sonhos de asas, plantas e desejo
O meu amado não me disse nada do seu país

Deve ser um estranho país
o país do meu amado
pois não conheço ninguém que não saiba
a hora da colheita
o canto dos pássaros
o sabor da sua terra de manhã cedo

Nada me disse o meu amado
Chegou
Mora no meu país não sei por quanto tempo
É estranho que se sinta bem
e parta.
Volta com um cheiro de país diferente
Volta com os passos de quem não conhece a pressa.

(O lago da lua)

"Vieram muitos..."

"A massambala cresce a olhos nus"

Vieram muitos
à procura de pasto
traziam olhos rasos da poeira e da sede
e o gado perdido.

Vieram muitos
à promessa de pasto
de capim gordo
das tranqüilas águas do lago.
Vieram de mãos vazias
mas olhos de sede
e sandálias gastas
da procura de pasto.

Ficaram pouco tempo
mas todo o pasto se gastou na sede
enquanto a massambala crescia
a olhos nus.

Partiram com olhos rasos de pasto
limpos de poeira
levaram o gado gordo e as raparigas.

(O lago da lua)

"Tratem-me com a massa"

"Amparai-me com perfumes, confortai-me com maçãs
que estou ferida de amor..."

Cântico dos Cânticos

Tratem-me com a massa
de que são feitos os óleos
p'ra que descanse, oh mães

Tragam as vossas mãos, oh mães,
untadas de esquecimento

E deixem que elas deslizem
pelo corpo, devagar

Dói muito, oh mães

É de mim que vem o grito.

Aspirei o cheiro da canela
e não morri, oh mães.

Escorreu-me pelos lábios o sangue do mirangolo
e não morri, oh mães.
De lábios gretados não morri

Encostei à casca rugosa do baobabe
a fina pele do meu peito
dessas feridas fundas não morri, oh mães.

Venham, oh mães, amparar-me nesta hora
Morro porque estou ferida de amor.

(O lago da lua)

November without water

Olha-me p'ra estas crianças de vidro
cheias de água até às lágrimas
enchendo a cidade de estilhaços
procurando a vida
nos caixotes do lixo.

Olha-me estas crianças
transporte
animais de carga sobre os dias
percorrendo a cidade até aos bordos
carregam a morte sobre os ombros
despejam-se sobre o espaço
enchendo a cidade de estilhaços.

(O lago da lua)

Abóbora menina

Tão gentil de distante, tão macia aos olhos
vacuda, gordinha,
de segredos bem escondidos
estende-se à distância
procurando ser terra
quem sabe possa
acontecer o milagre:
folhinhas verdes
flor amarela
ventre redondo
depois é só esperar
nela deságuam todos os rapazes.

(Antologia da poesia feminina dos PALOP)

Rapariga

Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me já às costas, a tábua Eylekessa

Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseiras pesadas
Dos dias que passaram...

Sou do clã do boi -
Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo de deserto.
A falta de limite...
Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranqüilidade
a proximidade
do mar
Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.

(Página na Internet)

Amargos como os frutos

"Dizes-me coisas tão amargas como os frutos..."
Kwanyama

Amado, porque voltas
com a morte nos olhos
e sem sandálias
como se um outro te habitasse
num tempo
para além
do tempo todo

Amado, onde perdeste tua língua de metal
a dos sinais e do provérbio
com o meu nome inscrito

onde deixaste a tua voz
macia de capim e veludo
semeada de estrelas

Amado, meu amado
o que regressou de ti
é tua sombra
dividida ao meio
é um antes de ti
as falas amargas
como os frutos

(Dizes-me coisas amargas como os frutos)

Entre os lagos

Esperei-te do nascer ao pôr do sol
e não vinhas, amado.
Mudaram de cor as tranças do meu cabelo
e não vinhas, amado.
limpei a casa, o cercado
fui enchendo de milho o silo maior do terreiro
balancei ao vento a cabaça da manteiga
e não vinhas, amado.
Chamei os bois pelo nome
todos me responderam, amado.
Só tua voz se perdeu, amado,
para lá da curva do rio
depois da montanha sagrada
entre os lagos.

(Dizes-me coisas amargas como os frutos)

História de amor da princesa Ozoro e do húngaro Ladislau Magyar

Primeiro momento

Meu pai chamou e disse:
mulher, chegou a hora, eis o senhor da tua vida
aquele que te fará árvore

Apressa-te Ozoro,
parte as pulseiras e acende o fogo.
Acende o fogo principal, o fogo do fogo, aquele que arde
noite e sal.
Prepara as panelas e a esteira
e o frasco dos perfumes mais secretos
Este homem pagou mais bois, tecidos e enxadas do que
aqueles que eu pedi
este homem atravessou o mar
não ouvi falar do clã a que pertence
o homem atravessou o mar e é da cor do espírito

Nossa vida é a chama do lugar
Que se consome enquanto ilumina a noite

Voz de Ozoro:

Tate tate
meus todos parentes de sangue
os do lado do arco
os do lado do cesto
tate tate
porque me acordas para um homem para a vida
se ainda estou possessa de um espírito único
aquele que não se deu a conhecer
meu bracelete entrançado
não se quebrou e é feito das fibras da minha própria essência
cordão umbilical
a parte da mãe
meu bracelete entrançado ainda não se quebrou
Tate tate
ouve a voz de meu pequeno arco esticado
as canções de rapariga
minha dança que curva a noite
ainda não chegou meu tempo de mulher
o tempo que chegou
é lento como um sangue
que regula agora as luas
para mim
de vinte oito em vinte e oito dias

Segundo momento

Voz de Magyar:

Senhor:
Atravessei o mar de dentro e numa pequena barcaça
desci de Vardar para Salônica, durante a batalha das
sombras. De todas as montanhas, a que conheço expõe um
ventre de neve permanente e uma pele gretada pelo frio.
Nasci perto do Tisza Negro, junto à nascente.
Naveguei um oceano inteiro no interior de um navio
habitado de fantasmas e outros seres de todas as cores com
as mesmas grilhetas. Como eles mastiguei devagarinho a
condição humana e provei o sangue o suor e as lágrimas do
desespero. São amargos, senhor, são amargos e nem sempre
servem a condição maior da nossa sede. Vivi durante
muitos meses o sono gelado da solidão.
Senhor
Eu trago um pouco de vinho sonolento do interior da
terra e a estratégia de uma partida húngara, levo o bispo por
um caminho direto até à casa do rei, senhor. Por isso aqui
estou e me apresento, meu nome igual ao nome de meu
povo, Magyar, os das viagens, Magyar, o dos ciganos.
Senhor
Eu trouxe meus cavalos e vos ofereço minha ciência de
trigo, em troca peço guias dos caminhos novos, alimento
para as caravanas, licença para o Ochilombo e a mão de
Ozoro a mais-que-perfeita.
Senhor, deixai que ela me cure da febre e da dor que trago
da montanha para lá dos Cárpatos.
Senhor, deixai que ela me ensine a ser da terra.

Terceiro momento

Coro das mais velhas:

Fomos nós que preparamos Ozoro, na casa redonda
muitos dias, muitas noites na casa redonda
Fomos nós que lhe untamos, de mel, os seios
na casa redonda
Com perfumes, tacula e fumo velho esculpimos um corpo
na casa redonda
Nosso foi o primeiro grito perante tanta beleza:
Oh, rapariga na palhoça, sentada, ergue-te para que
possamos contemplar-te!

Quarto momento

Vozes das meninas:

Meu nome é terra e por isso me movo lentamente meia
volta, uma volta, volta e meia, para que o tempo me
encontre e se componha.
Sou a companheira favorita de Ozoro do tempo da casa
redonda.

Meu nome é pássaro, como o nome do clã a que
pertenço. Com Ozoro descobri o lago e as quatro faces da
lua, e vi primeiro que todos a cintura de salalé que se
contrai à volta das nossas terras.

Meu nome é flor e sou especialmente preparada para
cuidar do lugar onde a alma repousa. Com Ozoro eu tenho
o cheiro, guardado no frasco de perfumes mais pequeno - o
do mistério.

Meu nome é princípio e eu tenho as mãos do lugar e a
ciência dos tecidos como as mais velhas. Para Ozoro, a princesa,
eu já teci o cinto de pedras apertadas, o mais belo cinto,
de contas vindas do outro lado do tempo da própria casa de
Suku. Para o tecer preparei todos os dias as mãos com preciosos
cremes da montanha. Apertei cada conta no nó fechado
igual ao que fecha a vida em cada recém-nascido. Para Ozoro
eu teci o cinto mais apertado das terras altas.

Meu nome é memória e com as velhas treinei cada fala
- a do caçador nas suas caçadas
- a dos homens no seu trabalho
- o canto das mulheres nas suas lavras
- a das raparigas no seu andar
- o canto da rainha na sua realeza
- o som das nuvens na sua chuva
Na lavra da fala faço meu trabalho, como a casa sem
porta e sem mobília, não tão perfeita como a casa onde o
rei medita, tão redonda como a casa onde Ozoro e as
meninas aprenderam a condição de mulheres.

Coro das meninas:

A casa das mulheres
A casa da meditação
A casa da chuva
A casa das colheitas
A casa das meninas: Terra, Flor, Pássaro, Princípio, Memória

Fala do fazedor de chuva:

Eu que amarrei as nuvens, deixei chover dentro de mim.
Deixei uma nuvem solta, grande e
gorda de chuva rebentar dentro de mim.
Sangro em utima meu pranto de nuvens, choro em
Osande a princesa perfeita, a minha favorita.

Coro dos rapazes:

Desde ontem ouvimos o rugir do leão atrás da paliçada
E as palavras mansas do velho sábio dentro da paliçada
Desde ontem que o leão não se afasta detrás da paliçada
E se ouve o velho que fala com o leão atrás da paliçada
Desde ontem o feiticeiro acende o fogo novo dentro da
paliçada
E se espalham as cinzas do fogo antigo atrás da paliçada
Diante de ti, Ozoro, depositamos a cesta dos frutos e
a nossa esperança

Fala da mãe de Ozoro:

Fui a favorita, antes do tempo me ter comido por
dentro. Semeei de filhos este chão do Bié.
Para ti, Ozoro, encomendei os panos e fiz, eu mesma,
os cestos, as esteiras. Percorri os caminhos da missão.
Encontrei as palavras para perceber a tua nova língua e os
costumes. Com as caravanas aprendi os segredos do mar e
as histórias. Deixo-te a mais antiga
História do pássaro Epanda e do ganso Ondjava

Há muito muito tempo estas duas aves decidiram juntar forças e fazer
o ninho em conjunto. Ondjava era um animal muito limpo e lavava e cuidava
dos seus ovos e da sua parte do ninho. Quando nasceram os filhos,
os pequenos de Epanda estavam sempre muito sujos e feios, enquanto
os de Ondjava deixavam que o sol multiplicasse de brilho as suas penas.
Um dia, Epanda raptou e escondeu os filhos de Ondjava quando esta
se afastara em busca de comida. Ondjava chorou muito e, enquanto recorria
ao juiz para resolver o caso, cuidou dos outros filhos, lavou o ninho todo
e armazenou comida para o cacimbo. Um dia os filhos limpos de Ondjava
voltaram e o juiz determinou pertencerem a esta ave, ninho, filhos e ovos,
porque só merece o lugar quem dele cuida, quem o sabe trabalhar.

Coro:

Só merece o lugar que o sabe trabalhar
Só é dono do lugar aquele que o pode limpar

Fala de Ladislau Magyar, o estrangeiro:

Amada, deixa que prepare o melhor vinho e os
tecidos
e que, por casamento, me inicie
nas falas de uma terra que não conheço
no gosto de um corpo
que principio
Amada, há em mim um fogo limpo
para ofertar
e o que espero é a partilha
para podermos limpar os dois o ninho
para podermos criar os dois o ninho.

Fala dos feiticeiros:

Podemos ver daqui a lua
e dentro da lua a tua sorte, Ozoro
aprenderás a caminhar de novo com as caravanas
e estás condenada às viagens, Ozoro
teus filhos nascerão nos caminhos
serão eles próprios caminhos
da Lunda
do Rio Grande
se o cágado não sobe às árvores, Ozoro
alguém o faz subir!

Última fala de Ozoro antes da viagem:

Amar é como a vida
Amar é como a chama do lugar

que se consome enquanto se ilumina
por dentro da noite.

(O lago da lua)

A manga

Fruta do paraíso
companheira dos deuses
as mãos
tiram-lhe a pele
dúctil
como, se de mantos
se tratasse
surge a carne chegadinha
fio a fio
ao coração
leve
morno
mastigável
o cheiro permanece
para que a encontrem
os meninos
pelo faro

(Raízes do porvir, de Domingos Florentino)

A mãe e a irmã

A mãe não trouxe a irmã pela mão
viajou toda a noite sobre os seus próprios passos
toda a noite, esta noite, muitas noites
A mãe vinha sozinha sem o cesto e o peixe fumado
a garrafa de óleo de palma e o vinho fresco das espigas
[vermelhas
A mãe viajou toda a noite esta noite muitas noites
[todas as noites
com os seus pés nus subiu a montanha pelo leste
e só trazia a lua em fase pequena por companhia
e as vozes altas dos mabecos.
A mãe viajou sem as pulseiras e os óleos de proteção
no pano mal amarrado
nas mãos abertas de dor
estava escrito:
meu filho, meu filho único
não toma banho no rio
meu filho único foi sem bois
para as pastagens do céu
que são vastas
mas onde não cresce o capim.
A mãe sentou-se
fez um fogo novo com os paus antigos
preparou uma nova boneca de casamento.
Nem era trabalho dela
mas a mãe não descurou o fogo
enrolou também um fumo comprido para o cachimbo.
As tias do lado do leão choraram duas vezes
e os homens do lado do boi
afiaram as lanças.
A mãe preparou as palavras devagarinho
mas o que saiu da sua boca
não tinha sentido.
A mãe olhou as entranhas com tristeza
espremeu os seios murchos
ficou calada
no meio do dia.

(Dizes-me coisas amargas como os frutos)

O cercado

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe
feito pelas tuas mãos
e fios do teu cabelo
cortado na lua cheia
guardado do cacimbo
no cesto trançado das coisas da avó

Onde está a panela do provérbio, mãe
a das três pernas
e asa partida
que me deste antes das chuvas grandes
no dia do noivado

De que cor era a minha voz, mãe
quando anunciava a manhã junto à cascata
e descia devagarinho pelos dias

Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe
se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera
p'ra lá do cercado

(Dizes-me coisas amargas como os frutos)

Fonte:
http://betogomes.sites.uol.com.br/AnaPaulaRibeiroTavares.htm

Caldeirão Literário do Pará (Antonio Juraci Siqueira)

Arte Poética

Hoje,
amanheci meio peixe,
meio pássaro.

Estou aprendendo a nadar,
tomando aulas de vôo
e aprimorando o canto.

Amanhã,
pássaro pleno,
insofismável peixe,
debulharei meu canto sobre a terra
em nados abissais

e vôos rasantes.
==================
Verde Canto

Verde é o meu canto

vivo muiraquitã de amor talhado
na pedra da existência e pendurado
no invisível pescoço do amanhã.

Verde é o meu pranto

musgo a crescer nas fendas seculares
abertas pelas mãos da malquerença
na história carcomida deste chão.

Verde é o veneno

que escondo na palavra – jararaca
furtivamente oculta entre a folhagem
no emaranhado chavascal de mim.
==============
Vôo Noturno

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
no frágil ramo do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal.
===================
Hai-Cai

a borboleta
põe dobradiças de sonho
sobre o jasmim.
====================
O Verbo e o Tempo

O verbo é grão
que germinará
na seara do tempo

O tempo é mó
que em pó tornará
os grãos estéreis
============
TROVAS

Lírica:

Sempre que na noite calma
ouvires passos na rua,
não tenhas medo, é minha alma
andando em busca da tua!

Filosófica:

Não deixa que as desventuras
sepultem teus ideais;
vê que nas noites escuras
as estrelas brilham mais!

Religiosa:

Prudente quem não descarta
apoio a crentes e ateus
pois o amanhã é uma carta
lacrada nas mãos de Deus.

Humorística:

Deus fez o mundo certinho
porém, por divina troça,
fez a mulher do vizinho
bem mais bonita que a nossa!

Poeminha Gelado

Quero só ver-te
lambuzada de sorvete
para sorver-te toda
da cabeça aos pés.

Amor de Rosa

Se as flores fazem amor
a minha amada
é uma rosa que em meus braços desabrocha
entre beijos e ais.
================
Sobre o Autor
Antonio Juraci Siqueira nasceu em 28 de Outubro de 1948 em Cajary, município de Afuá no Pará, onde, ainda menino, descobriu a literatura através dos folhetos de cordel. Aos 16 anos mudou-se para Macapá (AP) onde casou-se, prestou serviço militar e concluiu os estudos de segundo grau. Em 1976 mudou-se para Belém graduando-se em Filosofia em 1983 pela UFPa. Pertence a várias entidades lítero-culturais, entre estas a União Brasileira de Trovadores, a Malta de Poetas Folhas & Ervas, a Academia Brasileira de Trova e o Centro Paraense de Estudos do Folclore. Atua como oficineiro, performista, contador de histórias e publicou mais de 60 títulos individuais entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, histórias humorísticas e versos picantes. Colabora com jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades e conta com mais de 200 premiações em concursos literários em vários gêneros, em âmbito nacional e local.
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Fonte:
http://www.culturapara.art.br/

Alter Breitenbach (Duas Maneiras de Ver os Contos)



O conto é o gênero narrativo que tem sofrido ao longo do tempo inúmeras mudanças em sua estrutura e forma , em conseqüência o modo de pensar o conto também modifica-se. O que pretendo neste trabalho é apresentar um contraste entre o conto de Poe e Tchekov, relacionando-os com as com as teorias que buscam explicar o seu funcionamento como narrativas curtas.

O trabalho teórico sobre o conto inicia-se com Edgar Allan Poe quando expõe, no prefácio à reedição da obra de Howtorne, seu princípio de como o autor deve construir a narrativa curta. Sua teoria é complementada com o ensaio A filosofia da Composição, onde apresenta detalhadamente o processo de construção do poema The Raven, mas fazendo referências a questões ligadas ao conto.

O princípio do autor recai sobre o efeito que o conto deve causar no leitor. Inicialmente sugere a leitura única, isto é, realizada de uma única vez, já que, segundo ele, a atenção do leitor estaria voltada exclusivamente para a obra, provocando a exaltação da alma, o que produz e mantém a unidade de efeito. Considerando este aspecto se faz necessário observar a extensão do conto. Ora se o efeito é causado durante a hora de leitura, nada mais óbvio que a narrativa manter a atenção do leitor entre "meia a uma ou duas horas", conforme nos diz o próprio Poe.

Igualmente estabelece que a gênese do bom conto deve partir de um efeito único a ser atingido e assim ir acomodando os acontecimentos de forma a satisfazê-lo. Assim a regularidade e eficiência estão na manutenção da atenção do leitor e de um único eixo dramático, não permitindo intervenções, comentários e descrições quando desnecessários.

Tomando como exemplo o conto O Barril de Amontillado, percebemos como o autor segue seu modelo teórico. Nas primeiras linhas já nos dá a clara sensação do efeito a ser causado no leitor, cito: "Suportara eu, enquanto possível, as mil ofensas de Fortunato. (...) Afinal deveria vingar-me. Isto era ponto definitivamente assentado, mas essa resolução definitivamente excluía a idéia de risco. Eu devia não só punir, mas punir com impunidade."

A leitura atenta indica a clara intenção do narrador em se vingar. E é deste desejo de vingança que o autor parte para a criação dos incidentes, de modo a corroborar o que preestabeleceu. Com um pretexto convincente para a prática do crime, Montresor conduz Fortunato à adega de seu castelo, apresentando, durante a trajetória, indícios claros de suas intenções até o momento em que pratica o ato final contra Fortunato, o acorrentando e emparedando.

O que Poe efetivamente faz, é estabelecer uma situação inicial e a partir dela trabalhar de forma concentrada situações capazes de criar o suspense no leitor conduzindo-o até o clímax, conseguindo isto, o contista, segundo Poe, atinge seus objetivos.

Contrariando o modelo de Poe, surgem as narrativas de Tchekov, escritor russo que dá nova forma ao conto. Suas histórias motivadas por um cotidiano simples e banal não criam a mesma tensão que os contos de Poe, mas da mesma forma causa efeito.

No ensaio Alguns aspectos do conto, o escritor argentino Julio Cortázar nos diz que os contos de Tchekov visam apresentar algo que está além do conto em si, tanto antes como depois.

Pensemos por um momento no conto O bilhete de loteria, onde a tensão está concentrada em Ivan Dmitritchi e sua esposa que imaginam terem ganho o prêmio da loteria. Durante o conto a ação é praticamente nula, apenas com os dois se observando e imaginando o que fazer com o dinheiro, porém quando certificam-se de que não ganharam nada, voltam-se para a realidade. Não há nada além disso se pensarmos de acordo com a teoria de Poe, mas de acordo com o pensamento de Tchekov as coisas se passariam de modo diferente.

Observando um caderno de Tchekov, outro escritor argentino, Ricardo Piglia, desenvolve uma nova teoria do conto.

Para Piglia, o modelo de conto adotado por Tchekov implica a existência de duas histórias ocorrendo paralelamente, sendo uma apresentada explicitamente e outra implícita e fragmentariamente. Retomando O bilhete de loteria, temos no primeiro plano a expectativa quanto a ganhar o prêmio e implicitamente a idealização da vida, o direito de sonhar.

De modo geral, tanto para Poe como para Piglia, os contos mantém as unidades fundamentais para sua realização, diferenciando-se apenas na forma de narrar a história implícita, para Poe ela é o mistério, para Piglia a chave. De qualquer forma ambos atingem seus objetivos, ao causar um determinado efeito no leitor.

Estes modos diferentes de conceber o conto, fazem com seja um gênero sempre efervescente em busca de novas formas, pois haverá tantas formas quantos forem as escolhas por modos de contar por partes dos autores, remetendo com isso a conhecida concepção de Mario de Andrade de que será conto tudo aquilo que o seu autor chamar de conto. Será sempre, independente da forma, um gênero capaz de criar múltiplas interpretações no leitor, incentivando a sua imaginação e estimulando o seu prazer pela leitura.

Fonte:
Artigo publicado em 24/06/2003
http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=517

Luis Fernando Verissimo (A aliança)



Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.

Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.

— Você não sabe o que me aconteceu!

— O quê?

— Uma coisa incrível.

— O quê?

— Contando ninguém acredita.

— Conta!

— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?

— Não.

— Olhe.

E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.

— O que aconteceu?

E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.

— Que coisa - diria a mulher, calmamente.

— Não é difícil de acreditar?

— Não. É perfeitamente possível.

— Pois é. Eu...

— SEU CRETINO!

— Meu bem...

— Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.

— Mas, meu bem...

— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!

E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:

— Que fim levou a sua aliança? E ele disse:

— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.

Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.

— O mais importante é que você não mentiu pra mim.

E foi tratar do jantar.

Fonte:
VERÍSSIMO, Luís Fernando. As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000, p.37.

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas) Letra D



da capo
italiano - Do princípio. Mús Indica a repetição desde o início da peça.

dare nemo potest quod non habet, neque plus quam habet
latim - Ninguém pode dar o que não possui, nem mais do que possui.

data venia
Latim – Dada a vênia. Expressão delicada e respeitosa com que se pede ao interlocutor permissão para discordar de seu ponto de vista. Usada em linguagem forense e em citações indiretas.

dat veniam corvis, vexat censura columbas
Latim – Perdoa os corvos e mortifica pela censura as pombas. Sátira II de Juvenal que condena a injustiça.

de auditu
Latim - Por ouvir dizer. Saber por ouvir; de oitiva.

debelatum est
Latim - Terminou a guerra.

debemur morti nos nostraque
Latim - Estamos destinados à morte, nós e nossos bens. Reflexão de Horácio na Arte Poética, sobre a transitoriedade da vida presente.

decipimur specie recti
Latim - Enganamo-nos pela aparência do bem. Horácio referia-se aos poetas mas isso acontece com todos.

de coq-à-l'âne
Francês - Do galo ao burro. Discurso sem nexo; passagem de um assunto a outro muito diferente; disparate.

decorum est pro patria mori
Latim - É honroso morrer pela pátria.

de cujus
Latim – Direito - De quem. Primeiras palavras da locução de cujus sucessione agitur (de cuja sucessão se trata) Refere-se à pessoa falecida, cuja sucessão se acha aberta.

de facto
Latim – Direito - De fato. Diz-se das circunstâncias ou provas materiais que têm existência objetiva ou real. Opõe-se a de jure.

de fond en comble
Francês – De baixo para cima; inteiramente.

de gustibus et coloribus non est disputandum
Latim – Não se deve discutir sobre gostos e cores. Cada qual tem suas preferências. (Provérbio medieval).

de jure
Latim – Direito - De direito. Opõe-se a de facto.

de jure constituendo
Latim – Direito - Do direito de constituir. Diz-se de matérias ou situações jurídicas não previstas nas leis, mas que poderão ou deverão, no futuro, tornar-se normas do direito objetivo.

de jure et de facto
Latim – Direito - De direito e de fato.

de lana caprina
Latim – Sobre a lã de cabra. Assim chama Horácio as discussões ociosas.

del-credere
Italiano – Direito – 1 Cláusula pela qual, no contrato de comissão, o comissário, sujeitando-se a todos os riscos, se obriga a pagar integralmente ao comitente as mercadorias que este lhe consigna para serem vendidas. 2 Prêmio ou comissão paga ao comissário, por essa garantia.

deleatur
Latim – Apague-se, inutilize-se. Nome que tem (ou tinha) o sinal de correção nas provas tipográficas, pelo qual se mandava tirar letras ou palavras. Tem a forma de um delta (d em grego) minúsculo.

de lege ferenda
Latim – Direito - Da lei a ser criada. V de jure constituendo.

delenda Carthago
Latim – Cartago deve ser destruída. Palavras de Catão, o Antigo, com que terminava seus discursos. Cita-se esta locução a propósito de uma idéia fixa, perseguida com tenacidade.

delivery order
Inglês – Direito - Ordem de entrega. Título à ordem, que faculta ao capitão do navio a entrega ao seu portador, de uma parte ou o total das mercadorias embarcadas, e constantes de determinado conhecimento, do qual é considerado fração.

de minimis non curat praetor
Latim – O pretor não cuida de coisas pequenas. Cita-se para significar que pessoas de certa categoria não podem preocupar-se com pequenos detalhes.

dente lupus, cornu taurus petit
Latim – O lobo ataca com os dentes e o touro com os chifres. Cada qual se defende com as armas de que dispõe.

dente superbo
Latim – Com dente soberbo. Horácio descreve nesta expressão o desdém com que o rato da cidade roía os alimentos do rato do campo.

dentibus albis
Latim – Com dentes brancos. Norma apresentada por Horácio aos críticos, que podem criticar, mas amavelmente, sem ofender ao criticado.

Deo favente
Latim – Com o favor de Deus: Unir-se-ão em matrimônio, Deo favente, a senhorinha…

Deo gratias
Latim – Demos graças a Deus. Expressão empregada na missa, após a epístola e ao final da própria missa. É também empregada quando se quer expressar o contentamento por haver terminado um trabalho cansativo ou fastidioso.

Deo ignoto
Latim – Ao Deus desconhecido. Legenda encontrada por São Paulo num altar de Atenas e de que se serviu para falar de Cristo aos atenienses (Atos, XVII, 23 e seguintes).

Deo juvante
Latim – Se Deus ajudar; se Deus quiser.

de omni re scibili et quibusdam aliis
Latim – De tudo o que se pode saber e mais alguma coisa. A primeira parte desta locução é atribuída a Pico della Mirandola que pretendia discutir qualquer assunto com qualquer pessoa. A segunda foi ironicamente acrescentada por Voltaire. Aplica-se àqueles que se jactam de sábios, quando na realidade nada sabem.

de ore tuo te judico
Latim – Julgo-te pela tua boca. Pelas tuas palavras sei quem tu és.

Deo volente
Latim – Se Deus quiser: Aprenderei hebraico e sânscrito, Deo volente.

de pane lucrando
Latim – Para ganhar o pão. Diz-se de obras literárias feitas rapidamente, com fins lucrativos.

de plano
Latim – Calculadamente; premeditadamente.

de profundis
Latim – Das profundezas. Palavras iniciais da versão latina do Salmo 130, recitado nas cerimônias fúnebres e no ofício dos mortos.

descente de lit
Francês – Descida do leito. Tapete estreito que se coloca ao lado da cama.

Desiderandum
Latim – Que se deve desejar. Pl: desideranda.

Desideratum
Latim – O que se deseja. Pl: desiderata.

desinit in piscem
Latim – Termina em peixe. Alusão de Horácio às obras de arte sem unidade, que ele compara a um belo busto de mulher terminado em cauda de peixe. (Arte Poética, 4).

desipere in loco
Latim – Enlouquece-te de vez em quando. Conselho de Horácio a Virgílio (Ode IV, 12, 28) para que misture um pouco de loucura à prudência que caracteriza suas obras.

dessu de porte
Francês - Acima da porta. Diz-se da decoração pintada ou esculpida sobre a porta.

de stercore Ennii
Latim – Do esterco de Ênio. Expressão de Virgílio a fim de justificar-se de ter aproveitado os melhores versos da obra de Ênio (239-169 a.C.).

de te fabula narratur
Latim – A fábula fala de ti. Horácio, depois de descrever a hediondez do avarento (Sátiras 1, 1-69), dirige-se ao interlocutor imaginário. Emprega-se para chamar à realidade uma pessoa indiferente a alusões sarcásticas.

deus ex machina
Latim – Um deus por meio de uma máquina. Expediente da tragédia grega (e romana) para solucionar casos complicados, o qual fazia de súbito aparecer um deus para explicar como se devia proceder naquele embaraço. Emprega-se a locução para designar um fim forçado: Quando o autor não sabe resolver a situação que criou, interpõe um deus ex machina.

Deus nobis haec otia fecit
Latim – Deus nos concedeu esse descanso. Palavras com que Virgílio nas Éclogas agradece a Augusto. São quase sempre empregadas satiricamente.

Deus super omnia
Latim – Deus acima de tudo. Mostra o poder da Divina Providência nos acontecimentos humanos.

de verbo ad verbum
Latim – Palavra por palavra. Literalmente. Aplica-se às transcrições de escrituras e outros documentos.

de viris illustribus
Latim – Sobre os cidadãos ilustres. Título da história da fundação de Roma, escrita por Suetônio e adotada no estudo do latim no primeiro ciclo.

de visu
Latim – Direito - De vista. Diz-se da pessoa que presenciou o fato, chamada, por isso, testemunha de visu.

de visu et auditu
Latim – Direito - De vista e ouvido. Testemunha ao mesmo tempo ocular e auricular.

diem perdidi
Latim – Perdi o dia. Palavra de Tito, segundo Suetônio, quando não praticava alguma boa ação durante o dia.

Dies
Latim – O dia. Usado em linguagem jurídica.

dies irae
Latim – Dia da ira. Primeiras palavras da célebre seqüência medieval que descreve os horrores do juízo universal. É recitada nas encomendações e em algumas missas de réquiem. Expressão usual entre estudantes para designar os dias de exames.

dies fastus
Latim – Antig rom – 1 Dia no qual a lei religiosa permitia atividades seculares ou dia auspicioso para tais atividades. 2 Qualquer um dos quarenta dias de cada ano nos quais os pretores da República Romana podiam exercer seus poderes gerais jurídicos. Pl: dies fasti.

dies nefastus
Latim – Antig rom – 1 Dia no qual eram proibidas atividades seculares. 2 Dia no qual os tribunais eram fechados e era ilegal (para os pretores, por ex.), despachar assuntos públicos judiciais. Pl: dies nefasti.

Dieu et mon droit
Francês - Deus e meu direito. Divisa da família real inglesa.

difficiles nugae
Latim – Bagatelas difíceis. Alusão de Marcial em seus epigramas às pessoas que aplicam a inteligência em coisas insignificantes.

dignus est intrare
Latim – É digno de entrar. Expressão burlesca da peça "Doente Imaginário", de Molière. Emprega-se na admissão de alguém em uma corporação ou sociedade, sempre em sentido jocoso.
di meliora
Latim – Que os deuses (nos dêem) coisas melhores. Expressão de Virgílio nas Geórgicas, ao terminar uma descrição de epidemia de peste.

dimidium facti, qui bene coepit, habet
Latim – Andou meio caminho, quem começou bem.

dir l'orazione della bertuccia
Italiano - Fazer oração de macaco. Pronunciar palavras ininteligíveis.

dis aliter visum
Latim – Aos deuses aprouve de outra maneira. Reflexão resignada de Virgílio, referindo-se à ruína de Tróia.

disciplina, pauperibus divitiae, divitibus ornamentum, senibus oblectamentum
Latim – O ensino é riqueza para os pobres, adorno para os ricos e distração para os velhos.

disjecti membra poetae
Latim – Os membros dispersos do poeta. Refere-se Horácio à dificuldade em transformar versos em boa prosa.

dis-moi ce que tu manges, je te dirai qui tu es
Francês – Conta-me o que comes, dir-te-ei quem és. Pretende o gastrônomo Brillat-Savarin que o caráter e inteligência de uma pessoa se revelam na escolha que ela faz dos alimentos.

displicuit nasus tuus
Latim – Teu nariz desagradou. Juvenal explica com este dístico certas perseguições sem motivo justificável.

Distinguo
Latim – Distingo, palavra usada na filosofia escolástica, nos argumentos.

divide et impera
Latim – Divide e impera, divisa política dos romanos. Variantes: divide ut imperes e divide ut regnes, divide para que possas reinar.

docendo discimus
Latim – Aprendemos ensinando.

docendo discitur
Latim – Aprende-se ensinando.

doctor in utroque
Latim – Doutor em um e outro (direito). Empregada para designar a pessoa laureada em Direito Civil e Direito Canônico.

doctus cum libro
Latim – Sábio com livro. Diz-se dos que ostentam ciência livresca por serem incapazes de raciocinar.

dolce far niente
Italiano – Doce ociosidade.

Dominus dedit, Dominus abstulit, sit nomen Domini benedictum
Latim – O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor. Palavras de Jó, quando atingido pela perda de todos os seus bens. São citadas para lembrar, nos infortúnios, a resignação cristã.

Dominus mihi adjutor
Latim – O Senhor é meu auxílio. Palavras do versículo 7 do Salmo 118, que servem de divisa à Dinamarca.

Dominus tecum
Latim – O Senhor esteja contigo. Saudação dirigida antigamente a quem espirrava, hoje substituída por saúde ou por Deus te ajude, empregadas principalmente no Interior.

Dominus vobiscum
Latim – O Senhor esteja convosco. Saudação litúrgica, freqüentemente usada na missa, no ofício divino e no ritual católico romano.

donec eris felix, multos numerabis amicos
Latim – Enquanto fores feliz, terás muitos amigos. Verso de Ovídio em que o poeta lamenta a perda dos amigos quando caiu na desgraça de Augusto (Tristes, 1, 1-39).

do ut des
Latim – Direito - Dou para que tu dês. Norma de contrato oneroso bilateral.

do ut facias
Latim – Direito - Dou para que faças. Norma admitida em contrato bilateral, em que uma das partes oferece dinheiro pela prestação de serviços da outra.

dubitando ad veritatem pervenimus
Latim – Duvidando chegamos à verdade. Frase de Cícero que inspirou a Descartes a doutrina sobre a dúvida.

dulce et decorum est pro patria mori
Latim – É belo e nobre morrer pela pátria. Verso de Horácio em que aconselha os jovens a imitar os antepassados.

dulces moriens reminiscitur Argos
Latim – Morrendo relembra a doce Argos. Virgílio refere-se a Ântor que acompanhou Enéias à Itália, onde morreu.

dulcia linquimus arva
Latim – Deixamos os campos queridos. Melibeu, personagem de Virgílio, lamenta a vida no exílio (Écloga, 1, 3).

dura lex sed lex
Latim – A lei é dura, mas é a lei. Apesar de exigir sacrifícios, a lei deve ser cumprida.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense - Parte XII)



9 – ANTOLOGIAS E PERIÓDICOS LITERÁRIOS NO CEARÁ

As primeiras antologias de contos apareceram, no Ceará, muito depois do surgimento de jornais e revistas voltados para a divulgação da literatura cearense.

A primeira delas é Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza, 1965). A única mencionada na bibliografia sumária de A Literatura Cearense, de Sânzio de Azevedo, de 1976. Com um estudo de Braga Montenegro, intitulado "Evolução e Natureza do Conto Cearense", apresenta obras de Artur Eduardo Benevides, Braga Montenegro, Eduardo Campos, Fran Martins, João Clímaco Bezerra, José Maia, Juarez Barroso, Lúcia Fernandes Martins, Margarida Sabóia de Carvalho, Milton Dias, Moreira Campos e Sinval Sá.

10 Contistas Cearenses – Antologia (Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, Fortaleza, 1981) é resultado do "Concurso Livreiro Edésio", promovido pela Livraria Edésio e pela Secretaria de Cultura. Seguindo a ordem de classificação no concurso, o livro traz peças de Airton Monte, Nilto Maciel, Alberto Santiago Galeno, Nilze Costa e Silva, César Barros Leal, Waldy Sombra, Fernando Câncio Araújo, Maria Ilma de Lira, Valdemir de Castro Pacheco e Maria Amélia Barros Leal. A apresentação é de F. S. Nascimento, um dos ajuizadores do concurso.

Antologia do Conto Cearense (Edições Tukano, Fortaleza, CE, 1990) foi organizada por Mary Ann Leitão Karan. Embora tenha pouco mais de cem páginas, inclui principiantes ao lado de consagrados, num total de 15 participantes, deixando de lado contistas com livros publicados, até mesmo por grandes editoras, além de serem verbetes em enciclopédias de Literatura Brasileira.

O Talento Cearense em Contos (Editora Maltese, São Paulo, SP, 1996) é obra de Joyce Cavalcante, como organizadora. Com mais de 200 páginas, incluiu 31 contistas. E também esqueceu alguns nomes importantes do conto cearense, como Airton Monte, Caio Porfírio Carneiro, Francisco Sobreira e Nilto Maciel.

Há também antologias mais abrangentes, isto é, que apresentam contos, crônicas e capítulos de romances ao lado de poemas. Em "A Literatura Cearense e a Cultura das Antologias" (FM, págs. 119/134), Batista de Lima relaciona e comenta, uma a uma, as antologias literárias publicadas no Ceará. Segundo ele, a primeira dessas coletâneas a apresentar prosa de ficção, ao lado de versos, se trata de Os Novos do Ceará, no primeiro centenário da independência do Brasil, editada em 1922 e organizada por Aldo Prado. Informa ainda: "Quanto aos textos em prosa, há dos mais variados tipos: são contos, pequenos ensaios e algumas crônicas com tom doutrinário".

A quinta antologia da Literatura Cearense – informa Batista de Lima – é a segunda a apresentar prosa e verso. Editada em 1957, Antologia Cearense, organizada pela Academia Cearense de Letras, mostra 102 escritores dos séculos 19 e XX.

Em 1966 foi divulgada Terra da Luz, dividida em duas partes: "Poetas Cearenses" e "Prosadores do Ceará". Em 1998 o Diário do Nordeste patrocinou a segunda edição, atualizada, a cargo de Carlos d’Alge, desta feita subdividida em dois volumes. Um deles traz o subtítulo Prosadores e vai de José de Alencar a Paulo Bonavides. No entanto, muitos dos contistas aparecem com capítulos de romances. Contos mesmo, ou trechos de contos, somente de Herman Lima, João Jacques, Fran Martins, Moreira Campos e Eduardo Campos.

Em 1976 Sânzio de Azevedo apresentou a volumosa obra intitulada Literatura Cearense, "a mais completa das nossas antologias", na opinião de Batista de Lima.

Outro exemplo desse tipo de antologia é Letras ao Sol – Antologia da Literatura Cearense. Organizada por Oswald Barroso e Alexandre Barbalho, publicou-se em 1996, com selo da Editora Maltese, de São Paulo, e apoio da Fundação Demócrito Rocha, do Ceará. Contos e trechos de contos somente de Oliveira Paiva, Herman Lima, Moreira Campos, Juarez Barroso, Airton Monte e Gilmar de Carvalho.

Há, ainda, antologias resultantes de concursos literários, muitas delas compostas de contos e poemas. Por sua imensa variedade e terem sido mencionadas no decorrer do ensaio, não serão relacionadas neste capítulo.

Os periódicos, no século 19 e princípios do XX, nem sempre estiveram relacionados a grupos ou movimentos literários. Dolor Barreira afirma: "As revistas e jornais exclusivamente ou em parte literários surgem todos os anos, copiosamente, sendo de notar-se que entre 1850 e 1932 o Barão de Studart catalogou duzentos e vinte e quatro deles".

Uma das mais citadas em estudos é a revista A Quinzena, do Clube Literário, que circulou de janeiro de 1887 a junho de 1888, perfazendo 30 números. Em suas páginas estamparam-se contos de Oliveira Paiva, Francisca Clotilde, José Carlos Ribeiro Júnior, poemas de Juvenal Galeno, colaborações literárias de outros membros do Clube e convidados, como o contista catarinense Virgilio Varzea. Como o nome indica, o jornal circulava quinzenalmente e era vendido por assinatura e nas ruas.

Outros importantes órgãos da imprensa literária da época foram O Domingo, Revista Contemporânea, Ceará e A Avenida. O primeiro apareceu em 1888 e nele se publicaram contos cearenses e também de outros Estados.

Na reflexão de Dolor Barreira, "quem estuda as letras do Ceará, sem ânimo prevenido, nos anos que medeiam entre 1890 e 1900, não pode deixar de ocupar-se, algum pouco, com a Revista Moderna", fundada em 1891, publicada mensalmente e dirigida por Adolfo Caminha. No capítulo seguinte de sua portentosa obra, o historiador lembra mais três periódicos daquele período: O Ceará Ilustrado, a Galeria Cearense e A Pena.

O jornal O Pão, da Padaria Espiritual, fundada em 1892, teve editado o primeiro número em 10 julho, com o anúncio de que seria publicado somente aos domingos, "não se acceitam assignaturas" e "não se acceita collaboração". Além de poemas, publicava contos, artigos etc. Lopes Filho assina o "conto popular" intitulado "O Dia Aziago" como Anatolio Gerval, no n.º. 2, enquanto Arthur Theophilo assina "A Morte da Avó", acrescentado do pseudônimo Lopo de Mendoza, no n.º. 7. O periódico teve duas vidas: A primeira editou seis números e a segunda se iniciou em 1895 e terminou em outubro de 1896.

O Centro Literário surgiu em 1894 e imprimiu a revista Iracema a partir do ano seguinte até 1896. A Academia Cearense, fundada em 1894, criou a Revista da Academia Cearense, que circulou até 1914. Dela surgiu a Academia Cearense de Letras. Outro periódico literário de relevância é Cipó de Fogo, de 1929, dirigido por João Jacques, como veículo de divulgação das idéias e obras do modernismo cearense. O Grupo Clã surgiu em 1943. A revista Clã teve editado o primeiro número em 1946.

Estes órgãos estão muito bem estudados em dicionários, enciclopédias e histórias da Literatura, razão pela qual se dará destaque, neste estudo, às revistas e jornais surgidos após o Grupo Clã.

Nota-se, ainda, a inexistência, no Ceará, de revistas dedicadas exclusivamente ao conto, à narrativa curta. Em outros países e mesmo no Brasil também elas não são muito freqüentes. No México, no século XX, a revista El Cuento chegou a ser divulgada no Brasil. No Rio de Janeiro a revista Ficção perdurou por algum tempo, no final dos anos 1970. Mensal, publicava contos de escritores brasileiros novos ou em plena atividade. Nos anos 1980 surgiu Ficções, da Editora Mercado Aberto, do Rio Grande do Sul, e em 1998 apareceu outra Ficções, no Rio de Janeiro (Editora Sette Letras). A explicação mais provável para que isto ocorresse e ocorra pode ser o pequeno número de contistas, em relação aos poetas e romancistas. Veja-se que ao tempo do Grupo Clã poucos foram os contistas mais fecundos. O mesmo se pode dizer em relação ao período seguinte, quando surgiu O Saco. Talvez apenas cerca de dez escritores se dedicassem ao conto. Só recentemente esse número aumentou, como se pode verificar quando se folheiam Seara e Espiral.

Vejam-se, em resumo, as principais revistas literárias surgidas no Ceará após 1970.

O Saco Cultural, idealizado e dirigido por Manoel Coelho Raposo, Jackson Sampaio, Carlos Emílio e Nilto Maciel, teve impresso o primeiro número em abril de 1976. O último saiu em fevereiro de 1977. Dividido em quatro cadernos, acondicionados em um saco de papel (a capa), num deles (Prosa) apresentou contos dos cearenses Airton Monte, Alcides Pinto, Antônio Girão Barroso, Barros Pinho, Carlos Emílio Correa Lima, Fernanda Gurgel do Amaral, Francisco Sobreira, Fran Martins, Gilmar de Carvalho, Hugo Barros, Jackson Sampaio, João Teixeira, José Domingos Alcântara, José Hélder de Souza, Joyce Cavalcante, Juarez Barroso, Marcondes Rosa, Moreira Campos, Nilto Maciel, Oliveira Paiva, Papi Júnior, Paulo Véras, Renato Saldanha, Roberto Aurélio e Yehudi Bezerra.

A história desta revista, bem como a análise de seus fundamentos ideológicos, o leitor poderá conhecer melhor no livro Cultura e Imprensa Alternativa, de Alexandre Barbalho.

Siriará – Uma Revista Literária foi o órgão do grupo do mesmo nome. O Grupo Siriará surgiu oficialmente em 1979, após a divulgação de um manifesto, datado de 14 de julho daquele ano. É desta data a publicação do n.º 1 (e único) de Siriará – Uma Revista Literária. Nele se estamparam, além de poemas e desenhos, contos de Carlos Emílio, Geraldo Markan, Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral, Nilto Maciel, Jackson Sampaio, Eugênio Leandro, Paulo Véras e Airton Monte.

Seara – Revista de Literatura surgiu em 1986, em Fortaleza, como órgão do Grupo Seara. O editorial do n.º 2 (1986) se refere ao surgimento do grupo, "um conjunto também heterogêneo: dez mulheres que fazem do exercício de linguagem escrita não um meio de extravasar seus anseios e frustrações íntimas, porém um vigoroso e assumido trabalho de criação artística". A partir do n.º 5 mudou o formato 15x21 para o 21x28, passando a ser editada em Brasília e tendo como Conselho Editorial Beatriz Alcântara, Marly Vasconcelos e Samira Abrahão. O último número, o sétimo, é de 1991, sob a coordenação geral de Beatriz. Divulgou contos das principais contistas cearenses do final do século XX, como Ângela Barros Leal, Beatriz Alcântara, Glícia Rodrigues, Inez Figueredo, Isa Magalhães, Joyce Cavalcante, Marisa Biasoli, Marly Vasconcelos, Mary Ann Leitão Karam, Nilze Costa e Silva e Regine Limaverde.

O Pão teve início em 1992 (o primeiro número é de 30 de maio) e durou alguns anos. O nome do jornal da Padaria Espiritual deu fama ao periódico do poeta Virgílio Maia. Nele se publicavam poemas, contos, artigos, desenhos.

Espiral - Revista Literária apareceu em 1995, sob a coordenação geral de Beatriz Alcântara, secundada por Dimas Macedo, Márcia Arbex, Marly Vasconcelos e Francisco Nóbrega. A proposta desta nova revista é mais abrangente, não mais se limitando a divulgar somente obras de escritoras. O primeiro número traz as seções intituladas poesia, conto, ensaio, homenagem, entrevista e livros. Os contos são das cearenses Inez Figueredo, Lena Ommundsen, Joyce Cavalcante, Erika Ommundsen Pessoa e Nilze Costa e Silva e de Nilto Maciel. No segundo número aparecem outras seções: crônica, glossário, memória, artigo e centenário. A revista passa a ter o subnome "Revista de Literatura". Expande-se o leque de colaboradores, agora de todo o Brasil. Os nomes do editor, coordenador geral e dos membros do conselho editorial foram se revezando ao longo das edições, a partir do n.º 2, com a incorporação de João Dummar Filho, como editor. O número 7 saiu em 2002.

Almanaque de Contos Cearenses, embora não tenha sido criado como revista, pode ser considerado a única revista cearense de contos. Um dos primeiros atos do grupo se deu quando, em janeiro de 1997, alguns escritores se reuniram sob as árvores do bosque do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará e, com a presença de Dona Zezé Moreira Campos e Natércia Campos, esposa e filha do contista Moreira Campos, batizaram o local de Bosque Moreira Campos. Participaram da solenidade os escritores Alano de Freitas, Alba Alves, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Caio Porfírio Carneiro, Dimas Carvalho, Dimas Macedo, Jorge Pieiro, Napoleão Souza Jr., Natércia Campos, Nilto Maciel, Paulo de Tarso Pardal, Pedro Rodrigues Salgueiro, Sânzio de Azevedo e Tércia Montenegro. Na ocasião foi lançada a idéia do Almanaque. Meses depois saiu a edição do n.º 1 da referida publicação, sob a direção de Elisangela Matos, Pedro Rodrigues Salgueiro e Tércia Montenegro. Dividido em duas partes, a primeira intitula-se "Arquivo/Memória" e visa "resgatar contos perdidos em periódicos ou não reeditados". Apresenta contos de Adolfo Caminha, Otávio Lobo, Moreira Campos e Juarez Barroso. A segunda – "Inéditos/Dispersos" – objetiva mostrar ao público contos de diversas gerações. É a vez dos contistas em atividade, desde os mais velhos aos mais novos: Eduardo Campos, José Alcides Pinto, Caio Porfírio Carneiro, Natércia Campos, Nilto Maciel, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Batista de Lima, Ronaldo Correia de Brito, Alano Freitas, Pardal, Carlos Emílio Corrêa Lima, Jorge Pieiro, Luís Marcus da Silva, Dimas Carvalho, Pedro Salgueiro, Napoleão Sousa Jr, Luciano Bonfim e Tércia Montenegro.

Literapia – Revista de Literatura da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores surgiu em julho de 1999, sob a direção do poeta Pedro Henrique Saraiva Leão. Apesar de se tratar de publicação de uma entidade de médicos, tem publicado poemas, contos, crônicas, artigos de escritores em geral.

Literatura – Revista do Escritor Brasileiro nasceu em Brasília (janeiro de 1992), por iniciativa de Nilto Maciel, e até o n.º 23, relativo ao segundo semestre de 2002, se imprimiu na Capital da República. A partir de então passou a se editar em Fortaleza. Traz entrevista, artigos e ensaios de literatura, poemas, contos etc.
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continua...final (síntese cronológica).
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Fonte:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=986

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ademir Braz (1947)



Ademir Braz é de Marabá (Pará). Iniciou-se em Jornalismo na “Província do Pará”, de Belém, em 1972. É advogado desde 2000, formado na primeira turma do campus da UFPA em sua cidade.

Poeta, publicou uma trilogia poética: “Esta terra” (1981, pela Editora Neo-Gráfica, de Belém, edição pessoal rapidamente esgotada); “Antologia Tocantina” (1998), patrocinada pela Fundação Casa da Cultura de Marabá, e produto de pesquisa de 8 anos sobre a poesia produzida em Marabá desde 1917; “Rebanho de pedras” (2003), dentro do Projeto Usimar Cultural. Em 2003, participou da VII Feira Pan-Amazônica do Livro em Belém, como palestrante e expositor, fazendo o lançamento de seu “Rebanho de pedras”.

Suas poesias constam da IX e X Antologias Poéticas Hélio Pinto Ferreira, Concurso Nacional da Fundação Cassiano Ricardo (São José dos Campos, SP, 1995 e 1996) Edição Comemorativa dos 100 anos do Poeta Brasileiro Cassiano Ricardo. Participou, em 1992, do Projeto “O Escritor na Cidade”, com palestras em Belém, Santarém, Bragança, Barcarena e Ananindeua, por iniciativa da Secult-Pará e Instituto Nacional do Livro. Medalha de Ouro no III Concurso Nacional de Poesias, da Editora Brasília (DF). Integra a “I Antologia de Poetas Paraenses”, (Ed. Shogun, Rio de Janeiro).

Tem contos publicados no III e V Concursos de Contos da Região Norte, Novos Contistas da Amazônia, (Editora Universitária UFPA, Belém, 1995 e 1997). Em 1997, classificou-se entre os 20 finalistas do Concurso de Contos Guimarães Rosa, promovido pela Radio France Internationale, do qual participaram 1.584 contos de escritores da França, Portugal, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Espanha, São Tomé e Príncipe, Uruguai, Japão, Canadá, Alemanha, USA, Colômbia, Bélgica, Noruega, Bolívia, Panamá, Itália, Equador, Argentina, Suíça e Brasil.

Organizou a Antologia do “II Festival de Poesia, Conto e Fotografia”, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, Desportos e Turismo (Secdetur), lançada em março/2000. Seus versos ilustram o mês de janeiro da agenda “Brasil – Retratos Poéticos 2001”, publicada por Escrituras Editora e Distribuidora de Livros Ltda., em São Paulo (SP), com circulação nacional e internacional. E estão na antologia “Poesia do Grão-Pará”, seleção e notas de Olga Savary (Rio de Janeiro, Graphia Editorial, 2001). Recebeu também o “Prêmio Buiúna 1999”, conferido pela Secdetur, Associação dos Artistas Plásticos de Marabá e Secretaria Municipal de Educação, como Destaque da Cultura Marabaense.

Fonte:
http://www.culturapara.art.br/Literatura/