quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Luciane dos Santos Iriyoda (Teatro Português: Alguns Marcos do Século XX)

RESUMO: O ano marco da história moderna da literatura dramática portuguesa é 1946, assinalada com a peça O Mundo Começou às 5 e 47 de Luís Francisco Rebello. No entanto, a produção teatral desse período teve seu crescimento entre os anos de 50 e 60, pois em 40, Portugal como tantos outros países, passava por um momento de estruturação após guerra, o que criara um clima de esperança por dias melhores. Assim, no presente trabalho traçaremos uma rápida linha no tempo da produção teatral portuguesa entre meados dos anos de 1940 a 1980.

1. Teatro e Censura

No dia 18 de maio de 1926, mediante um golpe de Estado, é implantada a ditadura militar portuguesa, período chamado de Estado Novo. Toma posse como Ministro das Finanças Oliveira Salazar, que em 1932 passa a ser o Presidente do Conselho de Ministros, cargo em que permaneceu por mais de quarenta anos (1926-1968). Esse período ditatorial vivido por Portugal é denominado, dentro da história política, de ditadura salazarista. Nessa época, a legislação que administrou a imprensa portuguesa foi organizada basicamente em três decretos - de 1926, 1933 e 1936 - absolutamente contrários às constituições anteriores, desde 1822. A censura passou a fazer parte da legislação, como órgão de formação e propaganda política, tendo como responsável o Serviço Nacional de Informação (SNI), que diretamente tomava providências com apoio do Presidente do Conselho, neste caso, Salazar.

Como conseqüência, os jornalistas, poetas, dramaturgos e escritores em geral não podiam se expressar livremente, pois corriam o risco de ter suas obras apreendidas pela censura. Logo, engenhosamente, utilizavam habilidades lingüísticas, como metáforas apropriadas, a fim de escrever para serem lidos nas entrelinhas, através da percepção da leitura implícita. Muitas palavras formavam um novo vocabulário dentro dos textos que queriam desviar a censura oficial. Primavera, por exemplo, passou a significar revolução; vampiro, polícia; camarada, prisioneiro, aurora ou amanhecer, socialismo; papoila, vitória popular.

No teatro português, esse aniquilamento cultural não aconteceu de maneira diferente; muitas peças então publicadas não chegavam a ser representadas, pois não era interessante a existência de uma atividade teatral livre, que contestasse a situação sócio-política que vivia Portugal. Existia, sim, um teatro engajado, dominado pelo Estado: companhias como a de Reis Colaço-Robles Monteiro, que seguia a linha clássica; a Companhia Nacional de Teatro D. Maria II, cuja missão de cumprir o papel de divulgação da arte dramatúrgica portuguesa estava longe de se concretizar; ou ainda o teatro de revista, pífio e pouco atraente, produzido na área do teatro comercial. O fato de serem estas companhias patrocinadas por empresários colaborava para a impossibilidade de levar a cena outras tendências da arte cênica que não fossem ligadas a eles, que concomitantemente tinham a liberação do SNI (Serviço Nacional de Informação).

Entre a maioria das peças escritas e não encenadas desse período constituem exemplos as obras de Bernardo Santareno, cuja representação era proibida para a maioria. Tal proibição concorria para que o autor estendesse os diálogos das personagens, ampliando conseqüentemente sua estrutura e tornando-a mais apropriada a um público leitor. É o que aconteceu com a peça O Judeu, publicada em 1966, que subiu ao palco somente em 1981, no Teatro Nacional D. Maria II, tendo a colaboração do ator Rogério Prado e do dramaturgo e crítico de teatro Luís Francisco Rebello para reduzir o texto às proporções adequadas à representação. O autor teve ainda sua primeira obra, A Promessa (1957), de estirpe basicamente dramática, encenada em novembro do mesmo ano; porém, após nove dias de apresentações, foi proibida pela censura. Outra obra bastante conhecida no teatro português é Felizmente Há Luar! (1961), de Luís Sttau Monteiro. Impulsionada vigorosamente pela força dramática, é o processo narrativo que dá à peça a linha do teatro épico, trabalhando as intenções políticas e sociais do reinado de D. João VI, que se refugia no Brasil e deixa a metrópole a ser governada por um conselho de regência. Esta não pôde ser apresentada, assim como acontecera com quatro anteriores do mesmo dramaturgo: Todos os Anos pela Primavera (1963), O Barão (1964), adaptada de uma novela de Branquinho da Fonseca, A Guerra Santa e A Estátua (1966). Tal como a única peça do ficcionista José Cardoso Pires, O Render dos Heróis (1960), que trabalha problemas da ética social e política, peças de Luís Francisco Rebello, Jaime Salazar Sampaio e muitos outros, como relata Rebello, não puderam ser representadas:

[...] a simples análise dos últimos cinco anos de actividade teatral mostra-nos que o número de peças originais representadas pela primeira vez nesse período foi de dez em 1969 (das quais cinco haviam sido já publicadas há mais de cinco anos), cinco em 1970, quatro em 1971 (três das quais publicadas há mais de dez anos), uma em 1972, nenhuma em 1973. A curva descendente que este número descreve não pode deixar de causar as maiores apreensões, sobretudo se os compararmos com a produção real dos autores nacionais, que, embora afastados (involuntariamente) do palco para eles continua, todavia a escrever. (1977, p. 166)

Essas peças eram vigiadas pela PIDE (Política Internacional e de Defesa do Estado), que não permitia fossem apresentadas, pois algumas obras teatrais eram vistas pelos políticos como instrumento de conscientização dentro da luta de classes - o que não deixava de ser verdade. “O teatro como obra de criação pessoal e veículo de comunicação social foi, através dos tempos, objeto de especial cuidado da censura por razões que se tornaram evidentes” Deste modo, a censura afastava o teatro do povo, vivenciando-se nesta fase política um momento de grande crise no teatro português de então; crise não referente ao número de obras escritas nesses anos de ditadura, mas sim, à quantidade mínima das que foram a cena. A citação abaixo, escrita por Nilza Maria Leal Silva e Jorge Fernandes da Silveira no artigo intitulado Santareno: um teatro de denúncia, ajuda a esclarecer:

Consciente que a função social é mais ativa no teatro, cabe ao dramaturgo propiciar ao leitor os recursos para que este estabeleça a ponte que contacta o texto à realidade que o produziu. De acordo com isto e com os depoimentos citados, é fácil concluir que a crise do teatro português moderno não se deve à baixa produção de textos dramáticos, mas ao choque entre a Censura e a temática do novo teatro, que se centra na denúncia dos problemas sociais.

Por isso, temos um teatro surgido a partir do final da década de 1940 com intenções diferentes, por exemplo, das da geração de 1960, com compromisso de denunciar o sistema político-social vigente nesse período, tempo em que jovens dramaturgos apresentam propostas teatrais que convergiam totalmente ao teatro até então em vigor. Preocupados em trazer esta arte novamente a seu tempo, esses novos agrupamentos teatrais utilizavam-se de artifícios vistos como irreverentes e desobedientes, voltados para uma problemática humanística, do homem atrelado ao seu meio social e a problemas gerados por esse meio, remetendo à imagem de um Portugal em crise. Tem-se ainda o Teatro Independente da geração de 70, também empenhada em cumprir o papel iniciado pela estirpe dramatúrgica da década anterior.

Entre as principais companhias que lutaram por um espaço cênico têm-se: o Teatro Experimental do Porto (TEP), de (1953), dirigido pelo artista António Pedro, no qual temos uma das maiores tentativas de teatro experimental; o Teatro-Estúdio do Salitre (1946-50), o Teatro Experimental de Cascais (TEC), (1965), o Teatro-Estúdio de Lisboa (TEL), (1964), o Centro de Iniciação Teatral de Coimbra (C.I.T.C.), (1956) - entre outras companhias surgidas em meados de 70, que citaremos mais adiante.

Todas elas tiveram dificuldades de sobrevivência, mesmo as que tiveram efêmera duração, pois não tinham apoio institucional que as subsidiasse. Não precisamos detalhar que cada uma delas teve seus problemas com a censura, não conseguindo materializar no palco parte de seus trabalhos teatrais. Esperaram os anos precedentes ao 25 de Abril para ter a possibilidade de levar às platéias não somente textos portugueses, mas também de muitos autores estrangeiros cuja apresentação era então proibida em Portugal.

Um texto de teatro, quando escrito, o é inicialmente com a intenção de ser levado aos palcos para encenação. Devido a isso, em grande parte do século XX o teatro português sofreu o que poderíamos chamar de retalhamento. Preocupados com a ditadura, muitos dramaturgos não conseguiram que suas obras fossem representadas, por isso as tornaram próprias para serem lidas como se fossem romances. Muitos ainda esperaram por tempos artísticos melhores, que viriam nos anos posteriores à Revolução dos Cravos, quando a valorização teatral poderia acontecer em cena. Seriam então observadas por uma platéia que se interessasse pela função dos autores, atores, encenadores - enfim, por um espetáculo teatral como um todo, o qual poderia divulgar a cultura e o crescimento intelectual de uma nação, neste caso, a do povo português.

Não obstante, após a Revolução dos Cravos, assunto que será desenvolvido no tópico posterior a este, notamos certa resistência dos elaboradores de teatro aos textos nacionais, porquanto “o autor português continua a ser marginalizado pelos produtores do espetáculo por razões pouco claras que dificilmente têm haver com as reais potencialidades de seus textos”. (PORTO, 1985, p. 141). Acreditamos que os anos ditatoriais, cuja duração se estendeu por quatro longas décadas, trouxeram a Portugal profundo atraso político e social e, conseqüentemente, projetaram para os anos seguintes o reflexo da carência cultural, pois o povo sentia-se mais atraído pela cultura européia como um todo que pela apreciação de peças teatrais que refletiam a cultura de sua gente. Os produtores, muitas vezes, querendo formar e atrair um vasto público, sujeitavam-se a representar textos estrangeiros.

2. O Teatro Português entre meados de 1946 a 1974

Marina Gutman Toste Paranhos (1988), em seu artigo publicado na revista Caleidoscópio, faz referência a comentários de alguns críticos e suas respectivas opiniões sobre a dramaturgia portuguesa. Segundo ela, Eça de Queirós, certa vez, afirmou que o gênero dramático em Portugal é praticamente inexistente. Já João Villaret, ator e declamador, “dizia em tom pessimista que Gil Vicente escreveu teatro medieval no alvorecer do Renascimento, quando o teatro já alcançava outra dimensão [...], atraso jamais recuperado até à época em que viveu” (apud PARANHOS, 1988, p. 176). Villaret também menosprezou a obra de Almeida Garret, alegando que ela não deveria ter saído do armário. Já o crítico de teatro português Redondo Júnior, em sua obra Panorama do Teatro Moderno, de 1961, foi fortemente censurado por seus colegas por não ter dedicado ao menos um capítulo ao teatro português. Palavras dele: “Na verdade hesitei entre duas soluções: a primeira, escrever numa página à laia de título de capítulo – O teatro em Portugal – e, na página seguinte, apenas duas palavras: Não existe; a segunda: ignorá-la simplesmente” (apud PARANHOS, 1988, p. 176). Assim optou pela segunda. Mas então como explicar os 744 autores que escreveram para teatro nesse país, citados por Luiz Francisco Rebello? É certo que um terço deles contribuiu com apenas uma obra, menos da metade chegou à segunda, havendo aproximadamente cem profissionais que realmente se dedicaram ao teatro. Este número explicaria o pessimismo dos críticos citados acima?

Na verdade, a história do teatro português acompanha a história do país, “... contribuindo como agente transformador dum panorama sócio-político. O período de declínio de certas instituições coincide com um período de intensificação da crítica a essas instituições” (Ibid, p. 178). É sabido que o teatro em Portugal, assim como outras artes, sofreu uma grande censura, acarretando a impossibilidade de encenação da maioria das peças escritas nesse período. Já temos também conhecimento de terem sido poucos os dramaturgos que tiveram a felicidade de conseguir a representação de suas peças. No entanto, a obra teatral é para ser posta em palco, apresentada a uma platéia, que finalmente vai ouvi-la, vê-la, senti-la. Para tanto, não poderá ficar limitada ao papel impresso, pois “uma obra de teatro apenas quando é representada perante um público se realiza plenamente”, conforme afirmação feita por um desses poucos teatrólogos que levaram suas peças à representação cênica, a qual pode, em parte, explicar o pessimismo de alguns críticos em relação ao teatro português.

Estamos nos referindo a Luís Francisco Rebello, que, com a peça intitulada O mundo começou às 5 e 47, iniciou um novo capítulo da dramaturgia portuguesa, destacando-se como um dos principais homens do teatro desse período, não somente como autor, mas também como crítico e historiador do teatro em Portugal. Rebello estreou essa peça no dia 16 de janeiro de 1947, no Teatro-Estúdio do Salitre, recém-inaugurado por Gino Saviotti, em abril de 1946, o qual funcionou até 1950. Essa casa teatral, juntamente com sua equipe, tinha como principal objetivo produzir um teatro diferente do que fora exibido até então. Pretendia pôr em liberdade a cena portuguesa de predomínio naturalista, estética insistentemente dominante em vários dramaturgos desde o início do século.

O mundo começou às 5 e 47 é acolhida por alguns críticos como a abertura a um novo teatro, segundo comenta Mendonça: “um novo teatro fazia nascer um homem que surgia como símbolo da humanidade (ou da juventude) ainda crente de que não havia sido inútil a guerra que matara milhões” (1971, p. 02). Estava o teatro e a própria cultura em geral com olhos voltados ao mundo do pós-guerra. A esperança era vivida de forma bastante intensa; logo, o mundo que começara nessa peça era um “mundo de renovação social, onde a injustiça, o medo e a fome não teriam mais lugar” (MENDONÇA, 1961, p., 27). Luís Francisco Rebello, não só na peça acima citada, mas também nas obras O Dia Seguinte (1949), Alguém Terá que Morrer (1954), É Urgente o Amor (1957), Pássaros de Asas Cortadas (1958), Condenados à Vida (1963), entre outras relacionadas logo adiante, trabalhou temas que generalizam a purificação permanente do homem, mediante oscilação entre o inverossímil e a realidade e a fixação por verdades que ainda não aconteceram; verdades essas que buscamos compreender e muitas vezes não o conseguimos, tal qual apareceram através do realismo fantástico das obras. É comum a vida em face da morte, o mundo dos vivos e dos mortos, a ligação desses dois universos, onde o real e o irreal ora se misturam ora se separam. Em Alguém Terá que Morrer, considerada pela crítica como sua primeira grande peça, o irreal é representado pela figura do protagonista, o enviado da morte, inserido no enredo vivido pela burguesia lisboeta. Esse personagem tem a função de levar consigo alguém da família. Todos, porém, pensam na morte como libertação dos problemas ocorridos em suas vidas, mas quando chega o mensageiro para levar um deles, “vem subitamente à superfície de cada um argumento para não morrer” (MENDONÇA, 1961, p. 35). Diante disso, o exame de consciência acaba sendo construído em toda uma seqüência da peça, quando os personagens fazem a verificação geral dos atos de condenação à vida, característica marcante das personagens de Luís Francisco Rebello.

O acervo de peças desse dramaturgo deve ser considerado bastante considerável, e, segundo assegura o próprio escritor, também teve sua fase “experimental no sentido rigoroso deste termo” (apud MENDONÇA, 1971, p. 26). Esta fase se certifica pelas três primeiras obras que concluiu: O mundo começou às 5 e 47, O Dia Seguinte e O Fim na Última Página. Após essas, vieram quatro grandes peças, sendo a primeira delas Alguém Terá que Morrer, seguida de É Urgente o Amor, Pássaros de Asas Cortadas e, finalmente, de Condenados à Vida, peça pela qual recebeu o Prêmio de Teatro da antiga Sociedade de Escritores, em 1964. Mesmo não tendo a necessidade de abordar aqui suas obras mais recentes, pois objetivamos escrever sobre o teatro até meados dos anos 1980, neste caso achamos valiosa a informação, por estarmos nos referindo a um dos mais importantes homens do teatro português, Dele temos, finalmente, o Teatro de Intervenção (1978), Portugal, Anos Quarenta (1983), Todo Amor é de Perdição (1994) (Teatro da Associação de escritores em 1995), A Desobediência (1998) e Todo o Teatro (1999), obras encontradas nos volumes Teatro I (1959) e Teatro II (1959).

Outro dramaturgo que não poderemos deixar de enaltecer por seu trabalho com o teatro, mesmo sendo surpreendido especialmente pela poesia, é José Régio, autor de Jacob e o Anjo (1941), Benilde ou Virgem Mãe (1947), El-Rei Sebastião (1949, escrito em versos), Salvação do Mundo (1954), entre algumas outras, não somando muitas peças. O que talvez o faça nobre entre os homens de teatro dessa época é sua temática, que constantemente compreenderá o diálogo entre o homem e Deus, espírito e matéria: “o que há de divino e de terreno na humana condição – debate que prolonga e amplia dramaticamente o conflito que, desde 1925, Régio vinha equacionando nos Poemas de Deus e do Diabo” (REBELLO, 1968, p. 109).

José Régio, mesmo estando presente no teatro português com obras escritas entre as décadas de 1940 e 1950, época do pós-guerra, como afirmamos acima, em que se pretendia instaurar um novo teatro, tem ainda uma entonação simbolista, pertencente ao pensamento teatral da época anterior. Este fato o faz ficar de fora dos comentários de críticos teatrais que buscavam escrever sobre o novo trabalho na dramaturgia então em surgimento. É o caso de Fernando Mendonça em seu livro Para o Estudo do Teatro em Portugal 1946-1966. Logo no prefácio esse autor se justifica: “Uma objeção que ao presente trabalho pode levantar-se é a da omissão do teatro de José Régio. Relembre-se, porém, que as peças deste Autor [...] pertencem pelo seu espírito a uma época anterior [...] caíram fora das coordenadas do que deve chamar-se o teatro atual” (MENDONÇA, 1971, p. 09).

Partindo da leitura do livro citado acima, Mendonça faz referência a uma tríade do teatro português desse período, composta por Luís Francisco Rebello, Bernardo Santareno - que terá um subcapítulo dedicado somente a ele na presente dissertação - e Romeu Correia. Afirma Mendonça:

Cada um deles com um teatro próprio, com instrumentos e linguagem teatral definida, todos eles diferentes uns dos outros, mas extremamente válidos na perspectiva dramática dos últimos anos. Se fosse necessário escolher três nomes que representassem a literatura dramática portuguesa dos últimos decênios, seriam indubitavelmente estes os eleitos. È possível haver discordância quanto à inclusão do nome de Romeu Correia na tríade. Todavia, outros que com ele começaram a ombrear não se definiram suficientemente, ainda que as magníficas obras que nos vão legando nos façam crer que estamos diante de dramaturgos natos. (1971, p. 25)

A escolha de Romeu Correia feita por Mendonça para essa tríade parece pouco justificada, pois a afirmação do crítico na citação acima nos remete extremamente a um declínio pessoal do teatro de Correia, sendo difícil mencioná-lo como um dos mais completos dramaturgos desse período. Mesmo mais à frente do livro, o crítico justifica ainda sua escolha pelo teatrólogo em questão, por competir a este um teatro atual, com um panorama renovador em termos nacionais. O interessante é que, mesmo sendo um tanto escassa e pouco atualizada a bibliografia utilizada para o pronunciamento sobre o teatro português no presente capítulo, não encontramos outros críticos fazendo maiores alusões a Romeu Correia, mas sim, comparando-o igualmente a outros dramaturgos.

Em que pese a isso, é interessante referir aqui algumas de suas obras, como é o caso de Casaco de Fogo (1953), Grito de Outono (1980), Tempos Difíceis (1982), O Andarilho das Sete partidas (1983), A Palmatória (1995), O Vagabundo das Mãos de Oiro (1961), Jangada (1962) e Bocage (1965). Estas três últimas são tidas pela crítica como suas mais importantes obras, pois são produzidas entre as estirpes dramática e épica, enveredadas pela linguagem moderna, “subordinando elementos incompatíveis, misturando-os com audácia, nunca revelando onde fantasia e realidade se entrelaçam [...]” (MENDONÇA, 1971, p. 46), isso em um tempo de dificuldades para o teatro português. Antes dessas, Romeu Correia era ligado ao Neo-Realismo, mas como é afirmado acima, logo partiu para escrever um teatro mais moderno. Caracteriza-se ainda por apresentar uma linguagem decorrente da literatura oral, envolvendo ambientes como teatro, feiras de fantoches, circo e grupos - geralmente à margem da sociedade - os quais também fazem parte do ambiente teatral de Correia.

Uma dessas particularidades encontradas em O Vagabundo das Mãos de Oiro, por exemplo, é a utilização de fantoches nas mãos do personagem principal, MESTRE ALBINO, em que os bonecos libertam-se do protagonista e passam a ter vida própria, colocando-se a contar fatos com eles ocorridos. Tudo acontece em meio ao contato direto com o público, ou seja, os atores dialogam comumente com a platéia, ocorrendo o chamado distanciamento, dando valorização ao processo essencialmente épico. Outro recurso é o constante recuo no tempo, refletido num difícil entendimento da peça pelos espectadores. Isso sucede pela inovação que o autor quer dar ao seu trabalho, já que esteve aperfeiçoando um contato com o teatro europeu e, conseqüentemente, foi influenciado pela linha brechtiana, procedência que também influenciou outros autores, como é o caso de Luís Sttau Monteiro e Bernardo Santareno, entre outros. No entanto, diferentemente deste último citado, Romeu Correia escrevia suas peças não para serem lidas, mas sim, para serem colocadas em palco. Logo, com a encenação de Bocage, que assume com o espectador o distanciamento através dos diálogos dirigidos a este, faz com que a plasticidade da obra supere a expectativa da época.

Outro artista do teatro que lembraremos aqui é Costa Ferreira. Ele, além de ser produtivo autor de peças de teatro, era ator, encenador e foi um dos poucos escritores a se dedicar exclusivamente a esta arte, sem se envolver com os gêneros romance ou poesia, como comumente ocorria com vários teatrólogos desse período. Seus títulos mais conhecidos são: Trapo de Luxo (1952), Quando a Verdade Mente (1955), Atrás da Porta (1956), Um dia de Vida (1958), Um Homem Só (1959), Os Desesperados (1961) e Milagre da Rua (1962). Rebello afirma que tanto na farsa e na comédia como no drama “se estende a sua prospecção crítica aos diversos estratos da actual sociedade portuguesa” (1968, p. 15). Seus personagens se mesclarão em alta e pequena burguesia, povo, aristocracia decadente, etc.

Na peça Um Homem Só, por exemplo, o ambiente é o da burguesia, que por sua falsa dignidade é vencida, no final do terceiro ato, pela solidariedade. Esta obra traz em sua estruturação o tradicional modelo dramático. Dividida em três atos, primeiro surge um conflito, prepara-se para a solução e chega-se a esta no final da peça, talvez por esse modelo conservador ter maior atratividade junto ao público, que insiste em apreciar as peças com esta característica, pois ainda não está acostumado aos padrões teatrais mais recentes. Mesmo assim, Mendonça afirma que, “inserida em esquema convencional, esta peça de Costa Ferreira não abdica de uma lúcida modernidade, que é a do tratamento das personagens, encenadas sob prisma burguês evidentemente, mas, sobretudo, no campo das relações humanas.” (1971, p. 88). Como percebemos, conquanto a peça explicitada acima trouxesse uma estrutura completamente tradicional, a temática apresentada pelo dramaturgo era voltada a conflitos existenciais, ao difícil diálogo das relações humanas, em que “todo homem no fundo está só e é exacerbado de querer viver com outros que se dão conta da sua pungente solidão” (MENDONÇA, 1971, p.88). Este tema causa, de certo modo, incômodo a quem assiste a ele, pois na verdade ele está presente no meio social, e somente havia sido transportado ao palco.

Partindo-se para comentários sobre outros escritores de peças teatrais, existem aqueles que se destacaram no teatro, mas iniciaram anteriormente com as publicações de romances literários e poesias, convencionando o que podemos chamar de “dramaturgos por acidente”, como esclarece Fernando Mendonça: “apesar de acidentalmente freqüentarem o teatro, essas peças possuem significados, ou pelo que representam na evolução do teatro, ou pelo que neste conservam de tradicional e valioso.” (1971, p. 85). Dentre esses citaremos apenas alguns, como Luís Sttau Monteiro, com Todos os anos pela Primavera (1963), Sua Excelência (1971), entre outras. Augusto Abelaira também nos deixou significativa quantidade de obras: O Progresso de Édipo (1957), O Encoberto (1969), O Nariz de Cleópatra (1962) etc. David Mourão Ferreira, com O Irmão (1965), considerada pelo crítico Fernando Mendonça como uma grandiosa peça da dramaturgia portuguesa; José Cardoso Pires, com a obra épica Render dos Heróis (1960); Jaime Salazar Sampaio, com O Pescador à Linha e Os Visigodos, ambas representadas em (1961). Enfim, dezenas de outros escritores ajudaram a fazer a história do teatro português em uma época de repressão da ditadura, em que a arte era tão pouco incentivada.

Quanto às obras mencionadas no parágrafo anterior, percebemos que em sua maioria elas foram escritas e publicadas entre as décadas de 40, 50 e 60, época em que a literatura portuguesa teve como tendência a estirpe do Neo-Realismo, cuja temática, no século XX, simboliza o comprometimento com abordagens de temas como o conflito social, a alienação e a consciência de classe, a posse da terra, a opressão, a decadência dos estratos dominantes, entre outros. O teatro neo-realista foi abafado por experiências de várias escolas dramáticas, nas quais os poucos dramaturgos que utilizaram tal estética teatral nesse período são os que denominaremos “dramaturgos por acidente”, como é o caso de Alves Redol, com as peças Maria Emília e Forja, cuja primeira encenação a censura não autorizou; ou ainda o de Romeu Correia, que logo partiu para escrever peças com características mais apropriadas a seu tempo.

Partiremos agora para explicitar o verdadeiro impulso ocorrido na dramaturgia em Portugal, o qual começou a acontecer a partir da década de 60, criado por jovens que tinham a certeza de que queriam mudanças. Tal teatro é conhecido pelos críticos como o “teatro do absurdo”. Desobediência, inovação, inaptidão - são palavras que talvez sintetizem e adjetivem o período da década de 60. Surgiu com o teatro de Luís Francisco Rebello, que através de suas peças, a princípio experimentais, evidenciava uma visão mais moderna perante o escasso teatro naturalista, no qual muitos foram os jovens envolvidos com a arte dramatúrgica. Esses queriam quebrar os moldes até então existentes no teatro português, como afirma Mendonça:

[...] uma geração de dramaturgos mais jovens tem-se afirmado notavelmente renovadora, utilizando esquemas que conferem uma fisionomia desobediente, tão desrealizadora e ao mesmo tempo tão inovadora à dramaturgia portuguesa que diante das suas saudáveis ousadias, e auscultadas as suas ambições, só pode ser por isso incondicionalmente louvada. (1971, p. 117)

Esses jovens pareciam querer, por meio do teatro inquieto, denunciar os problemas socioeconômicos enfrentados naquele momento, os quais não eram vistos pela maioria das pessoas, vítimas involuntárias e inconscientes de uma situação que as impedia de assumir uma postura crítica. Dentre esses dramaturgos, destacaremos os mais importantes: Fiama Hasse Pais Brandão, com as peças Os Chapéus de chuva (1961) (Prêmio Revelação de Teatro). Seu teatro teve uma constante aproximação com o espírito épico, sendo seu maior texto o Auto de Família (1977). Manuel Grangeio Crespo, com Os Implacáveis (1961) e O Gigante Verde (1963), revelou-se um dramaturgo nato, pois suas peças aproveitam recursos teatrais atuais. Cite-se ainda Antonio Gadeão, que utiliza elementos como o ballet e a música para intervir em sua obra intitulada RTX 78/24 (1963), dentre muitos outros.

Perante os críticos, nem todos esses escritores se mostravam capazes de produzir um teatro de qualidade européia. Esses teatrólogos estavam efetivamente interessados em criar uma ruptura com os moldes teatrais produzidos até então, como comenta Mendonça:

Mais do que ecléticos, são eminentemente sincréticos e extremistas, entendendo por extremistas as audácias dos temas e das formas que adotam. Não proclamando padrões a que obedeçam, variando o processo de estilização dramática, inserem-se, contudo, num determinado momento histórico, participam dele e agem – com a consciência de que há algo a mudar, de que há algo a recuperar. (1971, p. 19)

Essa necessidade de mudança é reflexo do tempo social e político que se vivia naquela época e, através do teatro, achavam os teatrólogos que poderiam denunciar o que estava acontecendo. Não podemos nos esquecer de que o mundo passara por uma guerra e dramaturgos de toda a parte começavam a mudar seus pensamentos, e isso se refletia em suas peças. Nomes como Brecht, O’neil, Piscator, Piradello, Genêt, Miller etc. não podem ser esquecidos como, de certa forma, influenciadores do teatro português.

Partindo-se para os anos 70, nota-se, através da bibliografia lida para o presente trabalho, que a produção teatral parece se tornar mais escassa, devido aos grandes desafios então encontrados pelos dramaturgos para fugir incansavelmente da censura. Nomes como Bernardo Santareno e Jaime Salazar Sampaio, por exemplo, aparecem entre esses escritores. Santareno, após um significativo número de obras escritas entre os anos de 1957 a 1969, exatamente um total de quatorze, volta a publicar somente em 1974, com Português, Escritor, 45 Anos de Idade, numa linha basicamente épica; depois, em 1976, com Os Marginais e a Revolução e, por último, O Punho, de (1980). Salazar Sampaio fixa-se em sua atividade como tradutor, voltando a escrever somente após o 25 de Abril. Assim, citaremos apenas os principais grupos teatrais surgidos nesse período, não fazendo menção apenas aos dramaturgos.

Desenvolvem-se os chamados grupos independentes, os quais são assim chamados por caracterizarem a prática de projetos autônomos, diferenciando-se do teatro comercial, que tinha de certa forma mais liberdade de atuação, por causa do apoio do governo salazar-caetanista. Esses novos grupos buscavam maior liberdade de expressão, estética, ideológica e institucional. Desta forma, muitas vezes lhes era difícil manter-se independentes, pela falta de subsídios e dificuldade de consegui-los, nesse caso, o não recebido apoio político. Por conseguinte, são conhecidos na história do teatro português como grupos do teatro independente, incluindo-se neles o teatro universitário, grupos independentes, amadores desta arte, enfim, todos que seriamente buscavam fazer teatro e não tinham auxílio governamental para crescer ou se firmar enquanto companhias teatrais. Mesmo assim, reivindicavam apoio, este “[...] que o Poder ia buscar a impostos pagos pelos freqüentadores de outros espetáculos” (PORTO, 1985, p. 20). Mas era difícil consegui-lo, já que tinham um pensamento que se opunha a esse poder, contradizendo-o, negando-o e, principalmente, desmistificando-o. Tinham, por conseguinte, em mente, o que afirma o crítico de teatro Carlos Porto:

uma nova concepção de estrutura associativa, de preferência de tipo cooperativo, uma política de igualitarização de todos os elementos do grupo a nível salarial mas também a nível de intervenção de seu projeto artístico cultural, a preferência por novos espaços teatrais, com recusa, na maioria dos casos, do teatro à italiana, a defesa de um teatro novo que tivesse em conta as linhas mais avançadas, estética e ideologicamente, que atravessavam o teatro mundial, o reconhecimento do teatro como arma de combate político ou/e cultural” ( 1985, p. 20).

Esses grupos insistiam em ocupar um espaço definido pelo teatro empresarial capitalista e pela persistência em modificar este teatro apático até então imposto pela censura. Aos poucos começaram a assumir destaque na história dramatúrgica portuguesa. Alguns desses já foram citados no tópico “Teatro e Censura”, deste trabalho, porém revisitaremos aqui os de maior importância e mencionaremos outros ainda não referidos.

O primeiro núcleo dos grupos dramatúrgicos que comporão o teatro independente tem suas raízes nas décadas de 50 e 60, pois nesse período, como explicamos em linhas anteriores, começava-se a impulsionar um teatro diferente dos moldes impostos até então. Representam essa fase: o Teatro Experimental do Porto (1953), o Teatro Experimental de Cascais (1965), o Teatro Moderno de Lisboa (1964) e o Teatro-Estúdio de Lisboa (1964). A partir desses, surgem outras ramificações que darão força ao crescimento do teatro independente. “A eclosão de um importante movimento de teatro universitário em meados dos anos 60 viria a ser um outro elemento fundamental em relação ao movimento do teatro independente” (PORTO, 1985, p. 22). Apesar de não terem alcançado um público muito amplo, pois na maioria das vezes as apresentações eram proibidas pela PIDE ou eles ainda não dispunham de espaços apropriados, devido ao pouco subsídio que conseguiam, tais grupos, como afirma Carlos Porto, representaram um importante trabalho de “orientação, prática e teoria”, que, de certa forma, começou a explanar a capacidade de comunicação e expressão teatral.

Entre as várias companhias surgidas em meados de 70, têm o mérito de serem citadas as consideradas mais importantes: os Bonecreiros (1971), Comuna (1973), Teatro de Cornucópia (1973) e Campolide, do período imediatamente precedente ao 25 de Abril, todos grupos independentes, que muito contribuíram para a formação e crescimento da prática dramatúrgica portuguesa.

Em 1971 surge o grupo Bonecreiros, do Teatro de Laboratório de Lisboa, que, após atuar por aproximadamente dois anos em várias peças nacionais e estrangeiras, rompeu-se, pois havia entre os elementos que o integravam divergências de opinião, talvez oriundas da própria formação teatral de cada integrante, como observa Carlos Porto:

De um lado, actores interessados numa prática teatral interveniente, embora de qualidade, para quem o teatro de Brecht, [...] constituía um modelo não a copiar, mas a considerar prioritariamente; do outro lado, actores interessados numa prática que tinha mais a ver com Artaud, via Grotowski, e Gutkin, no caso João Mota, Peter Brook.” (1985, p. 25)

Não obstante, como resultado da ruptura desse primeiro Bonecreiros nasceu o Comuna (Teatro de Pesquisa), dirigido por João Mota, e o segundo Bonecreiros, representando um teatro, segundo Porto, “baseado no materialismo dialético e menos preocupado com fórmulas experimentais”. Ambos recaem em um percurso à procura de um teatro popular, “não só através dos textos apresentados como nas leituras cênicas” (Porto, 1985, p. 26), propostas pelo então diretor Mário Barradas.

O Comuna, instalado em uma precária garagem alugada, atingiu um público mais restrito. Dirigido por João Mota, tinha sua própria linha de criação coletiva, ou seja, encenava aquilo que era originário do grupo, como as peças Brincadeiras (1973) e A Ceia (1974). Uma característica da encenação era os atores penetrarem na platéia, estando em concomitância um sério e importante trabalho de expressão corporal. Ao contrário dessa companhia, o Teatro Cornucópia conquistou maior espaço entre seus espectadores, por atuar em lugares mais convencionais, como, por exemplo, escolas. Diferentemente de João Mota, os diretores Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra encenavam textos clássicos de respeitados autores europeus.

Outros trabalhos teatrais de meados de 60 e 70 que não poderíamos deixar de citar são os de Luiza Maria Martins e Carlos Avilez. Ela, grande conhecedora do teatro inglês, encenadora, adaptadora e dramaturga de peças como Alma sem Mundo (1967), foi uma mulher que enalteceu o Teatro Estúdio de Lisboa (TEL). Seu prestígio, no entanto, aos poucos foi-se atenuado em virtude do processo de censura, dificultando o seu trabalho teatral, situação ainda que fez exaurir-se sua companhia logo após o 25 de Abril. Já Avilez trabalhava para a companhia no Teatro Experimental de Cascais (TEC), pleiteando idéias avançadas em relação ao teatro de sua época. Essas idéias, embora não fossem suficientemente maduras, devido à ausência de uma base cultural sólida, não deixaram de ser importantes para o trabalho do produtor em questão, pois mesmo com esta proposta duvidosa, Carlos Avilez conseguiu contribuir para o crescimento do teatro independente, através das várias peças que dirigiu ao longo de vinte anos.

Além das citadas, temos as companhias Casa da Comédia, Teatro do Porto, o Grupo 4, este último, surgido em 1967, mais específico de movimentos teatrais ligados às universidades,, por tentar atingir um público mais jovem..

Todos eles também apresentaram inúmeros espetáculos nesse período, em que Marcelo Caetano, então ministro, limitou a abertura de novas portas ao teatro português, impulsionando somente o de revista, o qual era submetido à ligação comercial com empresários e cuja produção intensionava realmente o lucro do produto final, e não a divulgação cultural propriamente dita.

Destarte o teatro, cuja função era representar Portugal nos anos obscuros vividos em regime ditatorial, era “imposto por empresários de acordo com determinados pressupostos economistas, [...] também por razões políticas e também por meras razões de incultura” (PORTO, 1985, p. 86). Era apresentado sem nenhuma repressão nos poucos espaços destinados a esta arte, por intermédio de artistas e atores que muitas vezes não concordavam com o que estavam produzindo ou encenando, pois era o teatro que lhes era imposto.

Fonte:
SOUZA, Enivalda N. F.; TOLLENDAL, Eduardo J.; TRAVAGLIA, Luiz C. (orgs.). Literatura: caminhos e descaminhos em perspectiva.1 ed.Uberlândia : EDUFU, 2006, v.Unico

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

João Batista Leonardo (1939)



“(...) O valor das pessoas está no bom conceito firmado e não na fama, porque conceito é moldado no valor do ser e a fama no supérfluo do aparecer comprado” . Este é um dos trechos do livro de João Batista Leonardo, "Os Tempos da Esperança à Razão", lançado neste ano de 2008.

a) Gerais

João Batista Leonardo, nasceu em Itápolis, Estado de São Paulo, em 04/11/39. Filho de Marcelino Leonardo e Teodolinda Sgóbero Leonardo. Casado com Marlene Philip Leonardo. Tem dois filhos, Marcelo Philip Leonardo e João Batista Leonardo Filho, ambos médicos Mastologistas. Chegou a Maringá em 1949 quando iniciou seus estudos no Grupo Escolar de Maringá Novo, sendo o primeiro médico de Maringá que iniciou os estudos na cidade. Iniciou o curso ginasial no Seminário Nossa Senhora da Assunção, em Jacarezinho e finalizou-o no Ginásio Maringá. Fez o curso científico no Colégio Culto à Ciência, em Campinas e formou-se em medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, no ano de 1966. Fez pós-graduação em Ginecologia, Obstetrícia e Oncologia no Instituto Nacional de Câncer e na Maternidade Herculano Pinheiro, no Rio de Janeiro, onde recebeu o título "Médico Residente Padrão". Iniciou suas atividades médicas em Maringá em julho de 1969.

b) Na comunidade

É sócio do Maringá Clube desde 1970, onde exerceu vários cargos na diretoria. É sócio fundador da Sociedade Rural de Maringá. Na Igreja Católica foi um dos primeiros coroinhas e foi palestrante desde o primeiro curso de noivos de Maringá, continuando o trabalho em Maringá e região até a presente data.

Foi articulista no jornal "O Jornal do Povo" por um ano. Escreveu o capítulo "Prevenção de Câncer do Útero" no livro "Manual do Voluntário" da autora, Adriana Calvo. Fez inúmeras entrevistas em revistas, rádios, jornais e televisões. Escreveu o livro de crônicas intitulado "Os Tempos da Esperança à Razão", cujo lançamento foi em abril de 2008.

c) Vida Médica.

É médico especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Oncologia, títulos conferidos mediante concurso pela Associação Médica Brasileira e suas confederadas.

Dentro da medicina tem trabalhos relevantes: É diretor do Instituto Médico da Mulher. Fundador do primeiro serviço de prevenção de câncer e também, clínica de planejamento familiar da região. Sócio fundador do Conselho Maringaense de Assistência à Mulher, fundador da Sociedade de Bem Estar Familiar do Brasil, Clínica de Maringá. Delegado regional da Associação Mundial de Prevenção do Câncer Ginecológico. Membro da Associação Médica Brasileira, sócio da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, sócio da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Membro da Associação Médica do Paraná, membro do Conselho Regional de Medicina do Paraná, sócio da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Paraná, sócio fundador da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Maringá, sócio da Sociedade Médica de Maringá, membro do Sindicato dos Médicos de Maringá. Organizador de vários eventos médicos. Publicou artigos e trabalhos em revistas médicas regionais e nacionais. Tem registro na vida profissional mais de seis mil partos e milhares de cirurgias.

Autor do livro "Para a Gestante". (1976)

d) Vida Leonística.

Sócio ativo de Lions Internacional, filiado ao Lions Clube Maringá, desde 1971, exercendo cargos regionais e nacionais. Detentor de deferências leonísticas, como, medalhas, placas e reconhecimentos, de Lions Internacional por serviços prestados.

Assessor Leonístico Distrital de Conscientização Acerca de Drogas desde 1990 e por três gestões, Assessor Leonístico Nacional de Combate às Drogas. No Distrito exerceu também os cargos de vice-governador e Assessor de Leonismo.

Organizador, em vários Estados Brasileiros, de "Fóruns, Seminários e Palestras" de prevenção ao uso de drogas. Orador oficial, abordando o Título "Simplesmente Mulher", na Convenção Distrital de 1995 em Umuarama, para as domadoras e convidadas.

Autor do livro: "Drogas Perguntas e Respostas", hoje na 4ª edição com oitenta mil exemplares editados e distribuídos no Brasil. Produziu e escreveu o filme: "A Vida e as Drogas", visando à prevenção de uso de drogas nas escolas, já visto por milhares de adolescente no sul do Brasil.

OBRAS de João Batista Leonardo:
Para a Gestante (1976)
A Vida e as Drogas - Filme em DVD- 2ª edição (2005)
Drogas: Perguntas e Respostas - 4ª edição (2006)
Os tempos da Esperança à Razão (2008)

Fontes:
- Olga Agulhon, presidenta da Academia de Letras de Maringá
- Foto e citação: http://angelorigon.blogspot.com/

Antônio Mário Manicardi (1925)



Nasceu em Itápolis-SP, no dia 28 de maio de 1925.

Radialista, poeta, declamador, político.

Foi ator de rádio-novelas na capital paulista.

Veio para Maringá em 1952, contratado para pilotar os comícios do então candidato Inocente Villanova Júnior, eleito primeiro prefeito do município.

O prefeito não o deixou voltar para São Paulo. Contratou-o como primeiro funcionário da Prefeitura de Maringá, dando-lhe o cargo de diretor administrativo.

Paralelamente a suas funções na Prefeitura, Antônio Mário Manicardi ficou famoso pelos seus programas sertanejos na Rádio Cultura de Maringá, onde se consagrou com o apelido de Nhô Juca. Atuou também na Rádio Difusora e na Rádio Atalaia. Tem vários discos gravados.

Por três mandatos, foi vereador em Maringá. No seu terceiro período, foi presidente da Câmara, oportunidade em que acumulou o cargo de vice-prefeito e chegou a chefiar o Executivo interinamente em ausências do prefeito.

Atualmente, aposentado, presta assessoria política ao deputado federal Ricardo Barros.

Autor de um livro de poemas e crônicas.

Toma posse como membro da Academia de Letras de Maringá, onde ocupará a cadeira nº 20, que tem como patrono Humberto de Campos e como acadêmico fundador o saudoso escritor Antônio Facci, ex-presidente da ALM.

Fonte:
- Antonio Augusto de Assis, da Academia de Letras de Maringá

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Resumos para o II Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura

Houve uma prorrogação da data de envio de resumos para a participação nas Salas Temáticas do II Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura a ser realizado na UNESP de São José do Rio Preto.

Assim, o prazo se estendeu até o dia 15 de setembro para o envio dos resumos de participação, e dia 22 de setembro para o envio das fichas de inscrição e o pagamento.

Para ter mais informações e verificar o aceite dos resumos, acesse o site: http://www.eventos.ibilce.unesp.br/congressoliteratura

Fonte:
E-mail enviado pela Equipe Organizadora do evento.

domingo, 31 de agosto de 2008

Antonio Roberto de Paula (O silêncio de Maringá - Cabrito na Horta)

O Silêncio de Maringá

É na noite
Quando procuro o sono
Fecho os olhos
E tento ouvir
O silêncio de Maringá
Um silêncio que dura
A eternidade
De poucos segundos

Um motor ronca
Rompendo uma reta
Perdendo força
Nos meus ouvidos

Chega uma música
Em baixo volume
Sobe poderosa
E se perde na escuridão

Logo outros sons
Itinerantes de vozes
Passos e latidos
Vêem e seguem
Sem dar boa-noite

A noite passa veloz
O dia começa na madrugada
Acelerações e freios
Buzinas e máquinas
É a cidade de pé
Em movimento

Houve um tempo
Em que a cidade
Dormia mais cedo
Não vagava tanto
E acordava no horário

Tempo da poeira
Dos lampiões
Das casas de madeira
E portões de balaústres

A noite era de poucos
Só dos profissionais
Hoje o dia ficou pequeno
A noite é a extensão

É na noite
Quando procuro o sono
Fecho os olhos
E tento ouvir
O silêncio de Maringá
Um precioso silêncio
Um frágil silêncio
Que dura menos
Que a pureza do instante

A noite
Já não é mais noite
É só o dia sem sol
Entrando no outro dia
(Antonio Roberto de Paula - Livro Maringânias - 2007 - Poesias comemorativas - Maringá 60 anos)
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Cabrito na Horta
-
Patrono, manda-chuva, mandava brasa
Pedro Caveira era o tipo de fazer tremer
Nunca foi de levar desaforo para casa
Não havia homem que podia lhe conter

Na faca, na bala, no pau, na porrada
Pedro Caveira se valia da truculência
A cada dia mais uma área era dominada
Demarcava seu espaço sem pedir licença

Para Pedro Caveira era vencer ou morrer
Dos homens ganhava o temor, o respeito
Das mulheres conseguia tirar o prazer
Era na marra, na força, de qualquer jeito

Entre as tantas moçoilas submissas
Havia uma que ocupava seu coração
Era a bela , doce e estonteante melissa
Morena brejeira exalando amor e paixão

Por ela é que Pedro Caveira se derretia
Um caso conhecido em toda comunidade
Quando ela chegava seu sorriso se abria
Para ela, ele pedia só amor e fidelidade

Na vida acontecem coisas inesperadas
Por uma bronca sem grande repercussão
Caveira teve que tirar férias forçadas
Fora de circulação, um ano de prisão

Um dia antes de se entregar à justiça
Pediu ao bando a palavra em penhor
Chorou abraçado à querida Melissa
Que lhe fez juras de eterno amor

Chamou num canto o seu preferido
O humilde amigo Zequinha Terceiro
Lhe pediu em lágrimas, comovido
Que cuidasse de todo o seu terreiro

Zequinha levou à risca aquele pedido
Por sua conta incluiu a bela morena
Virou chefão do pedaço, cabra temido
E botou as guampas no Pedro Caveira

Passou o tempo, cumprida a sentença
Caveira quis retornar ao antigo ninho
Mas ninguém mais quis a sua presença
E até Melissa lhe negou os carinhos

Humilhado, pobre, com medo de morrer
Pedro Caveira abandonou aquela cidade
Com ódio de Zequinha de endoidecer
Hoje perambula na estrada da infelicidade

O mundo sempre foi e será dos espertos
Zequinha agora é senhor, do alto escalão
O pai e o avô na vida não deram certo
Mas ele é o terceiro, o chefe, um campeão

E finalizando essa incrível história
Pra você não ser tomado de revolta
E pra que a tua vida não seja inglória
Não deixe o cabrito tomar conta da horta

Letra: Antonio Roberto de Paula
Melodia: Helington Lopes
História contada por Cláudio Viola
A música "Cabrito na horta" , em versão reduzida, participou do Femucic, em 2005, com apresentação do grupo Receita do Samba
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Fontes:
http://blogdodepaula.blogspot.com/
Foto de Maringá: http://www.skyscrapercity.com/

Antonio Roberto de Paula (Da Minha Janela - Escrever é viver - Amor em cada esquina)

Da minha janela

Da minha janela vejo a ponta da Catedral. Já passei por tantas janelas, mas tenho a sorte ou a graça de Deus de sempre vislumbrar parte deste Sputinik de concreto. Hoje, cá onde me encontro, só vejo a cruz. Este símbolo católico me persegue e a cada dia o defino de uma maneira. Já me rebelei com a ostentação e já me emocionei com a fé construtora desta comunidade.

Fiz da Catedral a representação maior do meu amor por Maringá. E, como contraponto, ao ver esta imponente armação de cimento, me culpo por não buscar novos caminhos.

Os anos passam e estes pensamentos antagônicos estão comigo. Tantas janelas, ângulos, olhares. Importantes e parcas vitórias, derrotas providenciais e uma luta diária igual a muitas outras de muitos outros. Um céu de paradoxos me invade.

Meus olhos já não enxergam tanto como antes, mas hoje me atenho mais a detalhes. Os horizontes ainda estão lá. A cidade cresceu e pela minha janela não posso descortinar tantas possibilidades. Mas elas ainda existem. Penso em aumentar meu campo de visão, mas esta paisagem encanta, conforta e acomoda. Dia, noite, sol, néon, roncos, silêncio, chuva, grama, asfalto, árvores, flores, carros, casas, muros, placas. Tudo confusamente ordenado. Uma natureza feliz com a invasão.

Da minha janela vejo a ponta da Catedral, os prédios, o verde. Vejo uma cidade que buzina, acelera, avança. Cidade clara e obscura. Planejamento, estética, beleza física. Cidade desorganizada de idéias e objetivos, o espírito coronelista ainda a rondá-la, resquícios da ”fazendola iluminada”, expressão utilizada nos anos 70 para chamá-la de provinciana. Maringá canção, artística, pólo, vigorosa. Da minha janela vejo Maringá com mil olhos sem saber quais são verdadeiros.

Da minha janela vejo gente que nasce e morre, ri da vida e chora pela morte, comemora e sofre, conta vantagens e percalços. Gente que ama e odeia, que sonha e tem os pés no chão. Gente do bem e do mal. Gente nem tão boa e nem tão má assim. Gente que me completa e me esvazia, que me faz ser doce e amargo, sereno e turbulento.

Da minha janela vejo esta vida passar como deve ser, na essência, a paisagem de todas as janelas de todos os lugares. Concluo que aqui ou em qualquer outro “lá” não intensificaria ou reduziria minhas emoções. Posso ter outros campos de visão, mas o eu que me leva não vai me deixar porque os mil olhos vão estar sempre atentos. Seja onde for, o antagônico e o paradoxo vão estar comigo. Vai sempre existir a ponta de uma Catedral.
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Escrever é viver

Escrever é tortura e terapia, trabalho e divertimento, sofrimento e comemoração. É a vontade de mostrar a alma e expor as idéias. Escrever é poetar, declarar, orar, protestar e sonhar.

Escrever é participar, interferir, informar, comentar, repensar, apontar alternativas, ousar, facilitar e complicar. É vagar, descompromissar-se do estabelecido tendo a vontade como compromisso. É querer ser livre, ordenando as palavras de modo que elas levem a mensagem. Formas e estilos variados de enviá-las.

Escrever é marcar posição, é sentir-se inserido, responsável e útil. É tirar pensamentos dispersos e discipliná-los no papel. É fotocopiar frases do coração. O som das teclas é a alma em ebulição despejando letras.

A razão nem sempre está em primeiro lugar. Nem poderia. Desprendimento nem sempre combina com racionalidade. E como é salutar sufocar a razão de vez em quando e deixar a emoção comandar!

Escrever é destilar prazer, buscar no âmago a idéia, fazendo a criação a partir da primeira palavra, exteriorizar esta idéia. Tirá-la da prancheta da mente. Um dolorido e feliz parto. Parir o pensamento e entregá-lo ao mundo.

Escrever é desligar-se deste mundo para nele se concentrar. É concretizar o abstrato, materialização de influências e experiências. Escrever é arte, profissão, passatempo e desabafo.

É a catarse, a devolução da pressão e repressão acumuladas diariamente. É escapismo e engajamento. Tudo ao mesmo tempo. Quem escreve é egoísta e narcisista, mas também é tímido e solitário. É o companheiro que quer estender o seu raio de ação e entende que a escrita é a melhor maneira de atingir a meta.

Escrever é um ato de amor e de coragem. É a divertida tortura que leva ao prazer. É o sofrido trabalho sinônimo de terapia. Escrever é viver.
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Amor em cada esquina

Viver é exercitar o amor nas suas mais variadas formas e buscar em cada uma a sua plenitude. Encontre o amor na mulher que abre corpo e alma para seu homem, que por sua vez o devolve na mesma medida, e na primeira visão do pai para o filho ainda envolto no cordão umbilical.

Encontre o amor na velha que conduz a colher à boca do netinho, no velho pai que abraça o filho moço, nas crianças que brincam como se o mundo fosse uma eterna infância. Encontre o amor na mãe que embala o seu bebê, na mãe que se desespera nas madrugadas tendo como cenário o quarto vazio. E naquela que chora com a filha a reprise do sofrimento.

O amor na vida que chega e o amor que fica, deixado por quem entrou em nova dimensão. Encontre o amor nas mãos que trocam adeus ou nos abraços efusivos da chegada. No beijo demorado do casal que sonha. No homem de preto que diz sim à mulher de branco e vice-versa, enquanto todos dizem amém. E com a mão direita, um homem de bata traça uma cruz imaginária abençoando o amor.

Nos cárceres, tente encontrar o amor. Nas lágrimas de saudade e junto daqueles que querem libertar a alma. Encontre o amor nos cartazes de fé, nas bíblias manchadas e nos rostos clementes. Ele vai estar na mão estendida, no pão repartido, na família reunida para comemorações ou lamento. No brinde e no choro. Entre paredes ou na natureza, encontre o amor.

Encontre o amor na solidão dos santuários e no burburinho da multidão nas ruas, nas flores que se abrem e nos pássaros a flanar. Na beleza, no perfume e no canto, o amor vai estar presente. Encontre o amor no coração, gestos e pensamentos, na visão positiva diante da vida, na força de lutar, na noite que vem e no dia que se abre. Encontre o amor. Deus vai estar lá.

Fontes:
TV Clipping Maringá .
http://www.tvcm.com.br/

Antonio Roberto de Paula (1957)

O jornalista Antonio Roberto de Paula, sócio-proprietário da TV Clipping Maringá, nasceu na cidade paulista de Lupércio, em 17 de junho de 1957. É o primogênito dos quatro filhos de Alcebíades de Paula Neto e Rita Andrade de Paula. A mudança para Maringá ocorreu em 1959. De Paula concluiu o curso primário em 1967, em Engenheiro Beltrão (PR), onde a família residiu até meados de 1972.

Em 1968 estudou no Seminário Verbo Divino, em Ponta Grossa. De 1969 a 1976, fez o ginásio e o científico, como eram chamados na época os ensinos fundamental e médio, nos seguintes estabelecimentos de ensino de Maringá: Santo Inácio, Instituto de Educação, Gastão Vidigal e Paraná.

Foi aprovado no vestibular do curso de Letras na UEM (Universidade Estadual de Maringá) em 1981, mas desistiu do curso. Em 2001, formou-se em Jornalismo pelo Cesumar (Centro Universitário de Maringá). Em 2003, fez o curso de pós-graduação Língua Portuguesa – Teoria e Prática, pelo Instituto Paranaense de Ensino e Univale (União das Escolas Superiores do Vale do Ivaí). Atualmente, cursa Mestrado em Letras na UEM.

Sua monografia de conclusão do curso de graduação foi a apresentação do livro Os homens da Folha do Norte do Paraná , jornal maringaense fundado em 1962, pelo primeiro arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, e que teve suas atividades encerradas em 1979.

Antes de atuar profissionalmente na imprensa, De Paula foi escriturário na Transparaná (1977), funcionário público municipal ( 1977 a 1979), tendo trabalhado na extinta Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maringá) e Secretaria de Fazenda; bancário ( 1979 a 1985), no Centro Regional do Bradesco-Maringá; e foi proprietário do Bar do Toninho ( 1985 a 1990), na avenida Dr. Alexandre Rasgulaeff, no Jardim Alvorada, em Maringá.

Desde a adolescência escreve poesias, contos, crônicas e artigos, inclusive com publicações desde a década de 1970, nos jornais O Diário do Norte do Paraná , O Jornal de Maringá e Jornal do Povo . Sua primeira experiência efetiva no jornalismo ocorreu em 1975, no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, com o jornal Skeletus , do CETA (Centro Estudantil Tristão de Athaíde).

Publicado até 1977, o Skeletus tinha como editores, além de De Paula, seus amigos Mário Sérgio Recco, José Miguel Grillo, Nivaldo Gôngora Verri, Edson Cemensati e Edson Luiz Matias. Em 1981, foi colaborador do Vôo Livre , suplemento de O Diário publicado às sextas-feiras, editado por Mário Sérgio Recco.

Seu primeiro emprego efetivo na imprensa foi no Jornal do Povo, em 1991, como colunista de futebol amador, passando depois para a editoria de esportes e escrevendo a coluna Visão de jogo. Neste mesmo ano atuou como comentarista da extinta Rádio Metropolitana (Rádio Jornal).

Em 1992 e 1993 trabalhou como comentarista em transmissões de futebol amador pela RTV Maringá. Em 1993, deixou o Jornal do Povo e se transferiu para a sucursal do Correio de Notícias, jornal curitibano que encerrou as atividades na cidade no ano seguinte. Lá, foi colunista e editor de esportes.

Ainda em 1993, deixou a RTV indo para a TV Maringá (Band) para ser editor, pauteiro e produtor do programa diário Esporte por Esporte , onde permaneceu até 1995.

Neste período, De Paula também foi produtor e comentarista do programa Atalaia Esportiva, da Rádio Atalaia de Maringá. De 1995 a 1997, trabalhou no O Diário exercendo as funções de editor de esportes, colunista do DNP Esporte, repórter de matérias políticas e locais, pauteiro e secretário de redação.

De 1997 a 1998 foi repórter da Revista M-9. De 1997 a 1999 escreveu crônicas, artigos, poesias e contos na coluna Linha Expressa, no Jornal do Povo. Em 1998 e 1999 atuou como editor-chefe do departamento de jornalismo da TV Cidade – Sistema NET. Em 2000, foi repórter, pauteiro e colunista do jornal Hoje Maringá.

De Paula e o jornalista Cláudio Viola são parceiros em composições em que incluem os hinos do Maringá Futebol Clube (1996), do Grêmio Maringá (2000) e as músicas Maringá Velho, gravada em 2003 pela cantora maringaense Márcia Mara, e Cabrito na horta , classificada no Femucic (Festival de Música Cidade Canção), gravada por Helington Lopes (que também foi um dos compositores) e o grupo Receita do Samba.

Em 2002, abriu com a jornalista Simone Labegalini a TV Clipping Maringá. No início de 2003, De Paula trabalhou como produtor, repórter e comentarista do programa Estação Comunitária , da Rádio Comunitária São Francisco FM, do Jardim Alvorada, retornando no ano seguinte. Foi responsável juntamente com seu filho Guilherme Tadeu de Paula da sucursal em Maringá do jornal londrinense Paraná Shimbun, em 2003 e 2004, e um dos produtores do programa Beca TV , da TV Clipping Maringá, com Guilherme Tadeu e Allan Oliveira, em 2004. Em 2003, publicou o livro Da minha janela, de crônicas, artigos, poemas, contos inéditos e já publicados.

Em 2004 lançou o livro A história política de um cabo de José, de Maria e de todos os Santos , em que narra a história do vereador maringaense Cabo Zé Maria e seus dez anos de mandato. Em 2005, dirigiu o videodocumetário Crônica democrática de uma cidade brasileira , sobre as Eleições 2004, numa produção da TV Clipping Maringá, com roteiro de Guilherme Tadeu de Paula e fotografia e montagem de Allan Oliveira.

Foi nomeado assessor de imprensa da Câmara Municipal de Maringá em 1997, vindo a ocupar a chefia do setor no final de 1999, onde permanece até hoje.

Fonte:
TV Clipping Maringá . http://www.tvcm.com.br/

Antonio Mário Manicardi (A Cachorrada)

Antonio Mário Manicardi, o “Nhô Juca” que foi o primeiro funcionário da Prefeitura de Maringá (o número 1, está na carteira de trabalho dele) está escrevendo um livro sobre a história da cidade. E ele sabe muitas. Todas verídicas

Um das histórias que Nhô Juca contará no livro é sobre os cachorros de Maringá.

*Américo Dias Ferraz era o prefeito. Um dia, chamou Manicardi e outro funcionário em seu gabinete e deu uma ordem.

-Esta cidade está cheia de cachorros. Não aguento mais reclamações. Peguem os animais, coloquem no caminhão da prefeitura e soltem os bichos pra lá do rio Ivai.

E isso foi feito. Os funcionários da prefeitura saíram catando cachorro pela cidade, colocaram uns trezentos no caminhão e foram.

Passaram o rio Ivaí, soltaram a cachorrada no meio do mato, viraram o caminhão e picaram a porva de volta pra Maringá.

Naquele tempo, o rio Ivaí (de Maringá a Campo Mourão) não tinha aquela ponte que hoje transitamos por ela. Era uma balsa.

Nhô Juca conta que enquanto esperavam a balsa, ouviram um barulhão na água. “Fomos conferir e a cachorrada toda estava atravessando o Ivaí a nado. Eles chegaram em Maringá antes da gente”, relata, rindo.

Bem feito.

Fontes:
Edson Lima. In http://blogs.odiariomaringa.com.br/
Foto: http://omeulugar.wordpress.com

sábado, 30 de agosto de 2008

Rui Mascarenhas ("Literatura, quem publica?")


...e aconteceu o acalorado debate "Literatura, quem publica?", às 10 horas da manhã do sábado (23/08/08), na Biblioteca Temática de Cultura Popular Belmonte (Auditório Kiyomi Oba) r. Paulo Eiró, 525 - Santo Amaro(SP); debate esse que nos enriqueceu com as diferentes iluminações dos nossos debatedores sentados à mesa e as intervenções precisas, do público presente.

Antônio Vicente Seraphim Pietroforte, prof do curso de graduação em letras e pós-graduação em semiótica e linguística geral da Usp, nos relatou suas experiências vividas com publicações de sua autoria nas áreas acadêmicas (Semiótica visual - os percursos do olhar (1ª ed, Contexto, 2004; 2ª ed, Contexto, 2007); Análise do texto visual - a construção da imagem (Contexto, 2007); Tópicos de semiótica - modelos teóricos e aplicações (Annablume, 2008), e literárias (Amsterdã SM (romance, DIX, 2007); O retrato do artista enquanto foge (poesias, DIX, 2007); Papéis convulsos (contos, DIX, 2008); Palavra quase muro (poesias, Demônio Negro, 2008); M(ai)S - antologia SadoMasoquista da Literatura Brasileira (DIX, 2008), organizada com o escritor Glauco Mattoso).

Segundo o professor, o mercado acadêmico é sempre receptivo e tem interesse pelas novas produções acadêmicas e encontra apoio de instituições fortes, a exemplo da "FAPESP" - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e que é possível achar, sem muita dificuldade, uma editora especializada que investirá na publicação e posicionará estrategicamente o livro para escoamento. O mesmo não acontece com as publicações "literárias" que exigem mais perseverança do autor para sua realização, e a sujeição, em contra partida da publicação, às condições amenas impostas pelas editoras, ou mesmo inexistentes, de retribuição desse trabalho - quando não, elas ainda cobram, a preços euro-espaciais, para que você possa ter seu livro publicado.

...bem, palavras minhas: esse que é o verdadeiro “comércio” das “editoras comerciais” - depois abandonam seu livro no estoque.

O prof. Frederico Barbosa foi o segundo a nos relatar suas experiências com o nosso semi-árido mercado de publicações, onde publicou os livros de poesia Rarefato (1990); Nada Feito Nada (1993), que ganhou o Prêmio Jabuti; Contracorrente (2000); Louco no Oco sem Beiras (2001); Cantar de Amor entre os Escombros (2002); A Consciência do Zero (2004) e, em parceria com Antonio Risério, Brasibraseiro (2004), pelo qual recebeu seu segundo Prêmio Jabuti (e que vendeu cerca de 18 mil exemplares – medalha de ouro, para essa dupla brasibraseira!); além de poemas traduzidos e publicados em coletâneas de diversos países, também organizou as antologias Cinco Séculos de Poesia (2000) e, com Cláudio Daniel, Na Virada do Século, Poesia de Invenção no Brasil (2002) – e haja experiência nisso tudo!! – confessa que pagou para publicarem seu primeiro livro, dividiu as despesas com o segundo e encontrou reconhecimento e não mais despesas, a partir do terceiro.

Em seguida, Binho, do Sarau do Binho, que acontece toda segunda feira, ali, numa quebrada, próximo a Uniban, estrada do Campo Limpo. Binho é o portal do registro da oratória, do verso e da prosa publicada no gogó pelos habitantes daquela região, que encontra na oportunidade dos seus Saraus, a representação de sua autêntica literatura.

Binho nem tentou acordo, nem enfrentou desgostos com as editoras comerciais, publicou seu próprio livro - todo independente - com lombo artesanal, posto um aplique boliviano, bilíngüe, em parceria com outro poeta Serginho Poeta, o livro chama-se “Donde Miras - dois poetas e um caminho”, que vende de mãos em mãos levando suas experiências por toda América Latina.
Renato Palmares, Binho, Ivan Antunes,
Frederico Barbosa, André Luís (agachado),
Sônia Pereira, Beso e Rui Mascarenhas.
A última debatedora da manhã foi a Sônia Pereira que publicou o primeiro livro "solo" em 1998; “Conta Gotas” pela Editora Talentus e em 2004; “MALDIÇÕES e outras crueldades” - pela Meireles Editorial; todos financiados por conta própria, completa!

A autora afirma que Não participa mais de coletâneas cooperativadas nem pretende mais publicar seus livros em editoras formais, diz que é insuportável enfrentar um segundo problema que lhe parece muito maior, que é o da distribuição dos autores não consagrados: “O problema não é publicar, pagando qualquer editora publica. O sinistro é distribuir. Vc publica, leva pra casa e fica aquela montanha de exemplares atravancando as prateleiras”. E diz mais, “...então resolvi quebrar isso tudo, faço minhas próprias edições caseiras em papel sulfite grampeado. Poucas páginas, preço pequeno; mesmo sendo pouco conhecida, pelo preço muita gente compra, e aí vou ficando conhecida e fazendo virar uma grana. Imprimo o que acho que vai vender, dependendo do evento, sem grandes custos pra mim e sempre cobertos pelas vendas”... É isso, tá resolvido!

...e deixo ai um resumido rápido rabisco das diversas experimentações desses debatedores mágicos formados em diferentes escolas, que tiram da cartola mestra ou usam do jeitinho brasileiro para imprimir seus sonhos e o conteúdo de suas experiências.

Fonte:
E-mail enviado por Rui Mascarenhas. (
http://www.trezevisoes.blogspot.com/)

Silvino Potêncio (O Descanso do Guerreiro)

... O ouro é como o amor; mata quem o guarda e vivifica quem o dá. (Gibran Khalil Gibran) --- durante a pré campanha para as recentes eleições presidenciais na santa terrinha, um dos Pré-Candidatos que não chegou a ser inscrito, ele me escreveu através do portal a perguntar pelo meu "ouro" dado gratuitamente!... e eu aqui estou vivinho da costa!
Silvino Potêncio, Emigrante Transmontano! - Janeiro de 2006

Imbuído de um portuguesismo bastante exacerbado, senão um defensor ferrenho dos purismos da língua, causado traumáticamente pela minha vivência pessoal e directa durante quatro anos em Portugal, logo a seguir ao 11 de Novembro de 1975 pelo clima que lá se tinha naquela época, eu cheguei a terras de Santa Cruz de Cabrália, quatro anos depois...

- Por mais conhecimento literário, cultural, e/ou social que se tenha do lugar aonde se pretende ir, nada melhor do que chegar lá e verificar "in loco" como são as coisas da vida, diariamente vividas e sentidas na sua plenitude.

- Ainda no saguão do aeroporto da minha primeira chegada em terras "Tupiniquins", estava eu preocupado em confirmar a minha chegada, aos amigos que me esperavam em determinado local, que não aquele onde eu estava, eu meti a moeda na ranhura da cabine telefônica, que só mais tarde eu entenderia porque se chamava de "orelhão" publico ou seja: um lugar onde todo mundo tem direito a escutar o que quer e o que não quer ouvir - iiii!!!,.... tchibum....plim, plim, pardais ao ninho, a minha moedinha caiu na caçapa sem me liberar o contacto com quem quer que seja.

- Mais umas duas tentativas e como não conseguia, eu dirigi-me a uma "cigarreira", vulgarmente conhecida por banca de revistas, ou ponto do jornaleiro, além de lanchonete ou simplesmente um ponto móvel (fixado com cimento e cal na calçada) de venda de cachorro quente, e caldo de cana doce como mel, que ficava logo ali à ilharga para, delicadamente pedir à rapariga que lá estava atrás do balcão para me vender o "tabaco" dela, depois de pedir uma informação.
- Olhe, faz favor,... tem tabaco?

... Seu "inguinorante", fio d'ua égua... vai lá p'ra sua terra chamar esses nomi tudin p'ra sua mãezinha tá! - Aqui nois é póbe mas tem, inducação viu!?...

- Mas!,... olhe, eu sou português acabei de chegar.

- Tenho até as malas ali no guarda-volumes do aeroporto, porque eu só tenho conexão daqui a umas seis horas... e eu só queria telefonar para lá, para...!

Pode pará, pára,... pera i home, tu é doido é?... dizia-me ela de dedo apontado;
--- hum!... é só isso mêmo que você quére ???...

É, ... é, só isso que eu quero. - Como é que faço?

- Oi,... primero voismecê compra aqui a "ficha" na cigarreira p'ra botá lá no "orilhão"... - a despois voismecê liga o número e pronto, já pode falar!!!...

Antes de me afastar da cigarreira onde colhi a informação, a rapariga ainda acrescentou... Mas preste atinção: aqui num vende tabaco não,... - eu inda sou moça sorteira e só vende cigarro, você entende!?... aqui num tem tabaco não e também num tem nem rapariga não!,... tá certo?

- Está muito bem, muito obrigado...

- ...num tem di quê?

Encerrado este diálogo inicial da minha apresentação ao serviço da guerra de termos e vocábulos luso-brasileiros, lá fui eu então para o meu telefonema inaugural. Mas... agora já munido de algumas informações turísticas e uns poucos "macetes" para não dar "mancada" nos meus confábulos que se avizinhavam já a seguir.

--- E que tinham que ser bem educados, respeitosos, e sobretudo diplomáticos a bem da minha pretendida permanência em casa de desconhecidos até então.

- Está lá? ... (- risos do outro lado da linha...) Alô!?... é você?

- Sim, sou eu! - mas quem é esse tal de alô?, eu vim sozinho e estou no aeroporto à espera do voo com conexão para ir para aí! (- mais risos do outro lado da linha...)

Tudo bem! - quando você chegar aqui nós já estaremos lhe esperando no aeroporto...

- Mas como não nos conhecemos pessoalmente ainda, como vamos saber quem é você?

- Haaa!..., está certo...

- Olhe não tem qualquer problema porque eu estou com uma "camisola" vestida nas cores branco, com uma faixa azul e encarnado no peito... (--- novamente, muito mais risos do outro lado da linha...) - supostamente a voz colocou a mão sobre o bocal do telefone, e ainda assim eu percebi numa voz sussurrada e fanhosa; ... minha Nossa Senhora!,... o cara só pode ser algum orixá porque está vestido de branco e azul mas está "encarnado".

E dever ser também alguma bichona a ponto de descer do avião vestido com uma "camisola"... - vige! maria!,... que caba da peste hein!?,... - esses portugas tem cada coisa hein!...

- Tem um lá no Rio de Janeiro que é um tarado por beijos! ... depois de tanto beijar mulatas, brancas, pretas, amarelas, indias, caboclas, ciganas, pardas, sarárás, e tudo mais que tenham rabo de saia, ele acabou por ficar famoso ao beijar homens!

- Eh, cara... até lhe chamam de "beijoqueiro",... eu hein?!

As horas se passaram, eu fiz a minha conexão e desembarquei mesmo de "camisola" em pleno aeroporto com um sol tropical maravilhoso como eu já não via desde os tempos de Luanda, cinco anos atrás.

- As pessoas me receberam literalmente de braços abertos e, agora muito mais aliviados e positivamente mais contentes ainda porque,... afinal eu não vinha vestido com nenhuma "camisola"... mas sim uma "T Shirt" do tipo camiseta polo.

- Me entregaram logo na amizade um FIAT (na virgem...) modelo 147 e lá comecei eu então a minha jornada de emigrante do outro lado das grandes áugas!...(1)

... Logo no primeiro "dez de junho" que se aproximou eu busquei a classe jornalística cá do burgo, e procurei saber da viabilidade de a imprensa escrita assinalar a nossa data nacional....

- O que é que se escrevia por aqui... - como era o dia da raça lusitana!?...

- De canto em esquina, eu ... fui indo, fui indo mas num fondo...

- Fui apresentado a alguns jornalistas locais, os quais conheço até hoje e ainda mantenho no meu "caderninho " de endereços, porém nada de mais sério senti da parte deles.

- Fiz um artigo de minha autoria (na época era alusivo ao 10 de Junho de 1980) que entreguei a um deles, jornalistas, para que o publicassem na sua coluna diária porém, em vez disso, na data aprazada eu só pude ler algo incongruente sobre um tal pseudo vendedor ambulante, também popularmente conhecido na região como "camelô" que nada mais é do que um trabalhador formal que caiu no mercado informal, para formar a turma de abandonados da sorte, e do governo formalmente, e aí!,... meus amigos,... eu conheci pessoalmente, finalmente, pela primeira vez na minha vida, um Senhor Cônsul de Portugal no estrangeiro.

... Natural de Caminha, o velho Ti Manel Afonso já então com mais de oitenta e tal anos, ele caminhava lento.

- Levantava-se cedo por hábito adquirido há muitos e muitos anos!...

- Tomava o autocarro na porta da sua casa - único bem que lhe restou do patrimônio familiar angariado em mais de 70 anos de emigrante - e todos os dias, pelas sete horas da manhã, ele abria o estabelecimento!

--- Ah!,... que consolo dizer isto à boca cheia.

O homem tinha uma "banquinha de jogo do bicho" com aproximadamente um metro quadrado de espaço, localizado debaixo da escada que levava ao primeiro andar do prédio, a qual lhe era autorizado instalar no vão da escada da entrada desse edifício,... que outrora já fora o seu grande quartel general de negócios.

- Não é por nada não mas, aqui me ocorreu o velho tango...

Música melancólica que nem o tal Gardel conseguia disfarçar depois de uma noitada de dor de cotovelo:

"corrientes!,... treis cuatro ocho!,... subiendo al primer andar!...
( ai, Jesus! que tristeza...)

- Ali ele recebia politicos e comerciantes, artistas e jornalistas.

Lá mesmo eu vi fotografias dele, Ti Manoel Afonso, junto ao aeroplano, e junto do Gago Coutinho em escala no aeroporto de Recife... mas isso eram devaneios de outras eras, como o são todos os tangos de que me lembro!

- O dia a dia do Ti Manel Afonso era bem mais simples:
... veio para o Brasil com "carta de chamada" e não tinha passaporte.
Sim, senhores!.... eu pessoalmente o ajudei a tirar a Carteira de Identidade, ou RNE - RG como queiram lhes chamar,... - perguntei-lhe pelo passaporte e o homem simplesmente, com lágrimas nos olhos, se encolheu e confessou que nunca mais teve condição de ir a Recife para tirar o próprio passaporte mas,...ele nem o precisava!

- Porque todo o mundo em Natal sabia que ele era o Consul Honorário de Portugal, então para quê ele precisaria de passaporte???...

- Isto ele me dizia meio a sério, meio na brincadeira, porque eu era afinal o patrício que ele tinha ali mais perto da loja dele onde, às vezes eu ia lá para comprar um maço de cigarros (vulgo tabaco)... e ele se recusava a vender-mo!...sabem porquê?

Ele foi caixeiro viajante,... enriqueceu no comércio de jóias, relógios e muito trabalho como bom emigrante que era.

- Construiu o prédio onde por vezes promovia bailes de gala nas décadas de 40 e 50 do século passado.

- Agora na década de oitenta ele tinha que vender cigarros avulso porque dessa forma ele conseguia mais uns trocados para a sopa!

- Se me vendesse a mim o maço completo, ele não tinha como abastecer os clientes que compravam um de cada vez!...e, para disfarçar a contravenção de fazer o joguinho da bicharada, lá vendia cigarros: um de cada vez!

- Acompanhei-o eu a um almoço do Rotary Club local, em dia de homenagem a Portugal lá pelos idos do "dez de junho" de 1982-83, se não estou em erro,... e o Ti Manel Afonso não aguentou de saudade!...

A meio do almoço e na hora de botar "faladura", ele desabou por cima da mesa com a fala já entaramelada de emoção, depois de um copito do tinto, uma olhada na bandeira das quinas na parede em frente de nós dois, e mais o amigo Albano, que também já está ausente,... e lá o fomos a deixar na casa dele, quase desacordado.

- Faleceu um tempo depois, já p'ra lá dos noventa e tantos anos, e a grande mágoa que o acompanhou na sua ultima e derradeira batalha, foi a sua grande tristeza de tudo ter dado e feito em prol do nosso País, da nossa cultura, em terras Potiguares e, ele o Sr Consul Honorário de Portugal, ele jamais recebeu sequer uma menção honrosa de quem de direito...

- Ganhou muito ouro em vida, agora descansa em paz!...antes de ser Cônsul ele foi emigrante como eu, como qualquer um de nós... viva o novo P.R. ( entenda-se Portugal Renovado!...) e ainda vou reler a história da transição transalpina dos camelos do Anibal - grande guerreiro, imperador romano que mandou construir a fonte da minha santa terrinha, que ainda lá está!...

Silvino Potêncio/Natal-Brasil - Jan/2006

Fonte:
E-mail enviado pelo Portal CEN (
www.caestamosnos.org )
Foto:
http://eu-vejo.blogspot.com

Agenda Cultural do Grupo Sorocult (Sorocaba)

O Sorocult (ao lado de alguns de seus escritores) começou o 2º semestre de 2008 em plena atividade. Confiram abaixo o que já aconteceu:

1) Visita à "Flip" (Festa Literária de Parati).

2) Realização de mais uma "Maratona Literária Sorocult" e "Maratona Literária Infantil Sorocult" no Esplanada Shopping Center de Sorocaba nos dia 25, 26 e 27 de julho.

3) Lançamento de 7 novos livros dentro das Maratonas acima citadas.

4) Realização, no dia 4 de agosto, do Sarau "Encontro com a Poesia Sorocabana", no IHGGS (Instituto e Genealógico de Sorocaba), participando assim do calendário comemorativo do aniversário de 354 anos de Sorocaba.

5) Visita à "20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo", no dia 16 de agosto, sábado, juntamente a um grupo de escritores do Sorocult, quando :

- Participou do lançamento da antologia "Dez rostos da Poesia Lusófona", que tem como um dos co-autores, Joaquim Evónio, de Portugal, colunista do Sorocult e também um dos co-autores do novo livro e da "3ª Coletânea do Espaço Literário do Sorocult".

- Prestigiou o escritor sorocabano Luis Samuel Tabacow que, junto à Editora O Clássico, esteve apresentando seu livro "Por dentro do cérebro do aprendiz", recém lançado ao grande público presente.

- Fez contatos com vários escritores Maurício de Souza, Ziraldo e Marília Pêra, presentes no grande evento naquele dia.

6) Início em agosto das novas atividades do "Projeto Leitura Responsável Sorocult" com:

- Entrega dos livros da "3ª Coletânea do Espaço Literário do Sorocult" em várias escolas e bibliotecas de Sorocaba e região.

- Início de mais uma "Maratona Literária Infantil" para a doação da "1ª Coletânea da Sorocultinha" para várias entidades assistenciais, bibliotecas e escolas de Sorocaba e região.

Fonte:
E-mail enviado pelo Grupo Sorocult (
www.sorocult.com)

Antonio Jacinto (Poemas Esparsos)

Bailarina Negra

A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz

A noite
Sempre a noite
Sempre a indissolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz

Um perfume de vida
esvoaça
adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão

Amor,
Vênus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece

Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãs de fogo
amor.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Canto Interior de uma Noite Fantástica

Sereno, mas resoluto
aqui estou – eu mesmo! – gritando desvairado
que há um fim por que luto
e me impede de passar ao outro lado

Ante esta passagem de nível
nada de fáceis transposições
Do lado de cá – pareça embora incrível
é que me meço: princípio e fim das multidões

Não quero tudo quanto me prometam aliciantes
Nada quero, se para mim nada peço,
o meu desejar é outro – o meu desejo é antes
o desejo dos muitos com que me pareço

Quem quiser que venha comigo
nesta jornada terrena, humana e sincera
E se for só – ainda assim prossigo
num mar de tumulto impelido os remos sem galera

Que venham glaucas ondas em voragem
que ardam fogos infernais
que até os répteis soltem seus instintos
e me envolvam traiçoeiras e viscosos

Que me derrubem e arremessem ao chão
que espezinhem meu corpo já cansado
à tortura e ao chicote ainda responderei não
e a cada queda – de novo serei alevantado

E não transporei a linha divisória
entre o meu e o outro caminho
Mesmo que a minha luta não tenha glória
é no campo de combate que alinho

Assim continuarei a lutar, ai a lutar!
num perigoso mar de paixões e escolhos
e – companheiros – se neste sofrer me virdes choras
não acrediteis em vossos olhos!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨


Carta de um contratado

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais que bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos dias na capôpa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kiesa
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor...

Eu queria escrever-te uma carta...

Mas, ah, meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero - não sei escrever também!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨


Era uma vez...


Vôvô Bartolomé, ao sol que se coava da mulembeira
por sobre a entrada da casa de chapa,
enlanguescido em carcomida cadeira
vivia
- relembrando-a -
a história de Teresa mulata

Teresa Mulata!

essa mulata Teresa
tirada lá do sobrado
por um preto d'Ambaca
bem vestido,
bem falante,
escrevendo que nem nos livros!

Teresa Mulata
- alumbramento de muito moço -
pegada por um pobre d'Ambaca
fez passar muitas conversas
andou na boca de donos e donas...

Quê da mulata Teresa?

A história da Teresa mulata...
Hum...
Vôvô Bartolomé enlanguescido em carcomida cadeira adormeceu
o sol coando das mulembeiras veio brincar com as moscas nos
[lábios
ressequidos que sorriem
Chiu! Vôvô tá dormindo!
O moço d'Ambaca sonhando...
¨¨¨¨¨¨¨¨¨


O Grande Desafio

Naquele tempo
A gente punha despreocupadamente os livros no chão
ali mesmo naquele largo - areal batidos dos caminhos passados
os mesmos trilhos de escravidões
onde hoje passa a avenida luminosamente grande
e com uma bola de meia
bem forrada de rede
bem dura de borracha roubada às borracheiras do Neves
em alegre folguedo, entremeando caçambulas
... a gente fazia um desafio...
O Antoninho
Filho desse senhor Moreira da taberna
Era o capitão
E nos chamava de ó pá,
Agora virou doutor
(cajinjeiro como nos tempos antigos)
passa, passa que nem cumprimenta
- doutor não conhece preto da escola.
O Zeca guarda-redes
(pópilas, era cada mergulho!
Aí rapage - gritava em delírio a garotada)
Hoje joga num clube da Baixa
Já foi a Moçambique e no Congo
Dizem que ele vai ir em Lisboa
Já não vem no Musseque
Esqueceu mesmo a tia Chiminha que lhe criou de pequenino
nunca mais voltou nos bailes de Don´Ana, nunca mais
Vai no Sportingue, no Restauração
outras vezes no choupal
que tem quitatas brancas

Mas eu lembro sempre o Zeca pequenino
O nosso saudoso guarda-redes!
Tinha também
tinha também o Velhinho, o Mascote, O Kamauindo...
- Coitado do Kamauindo!
Anda lá na casa da Reclusão
(desesperado deu com duas chapadas na cara
do senhor chefe
naquele dia em que lhe prendeu e lhe disparatou a mãe);
- O Velhinho vive com a Ingrata
drama de todos os dias
A Ingrata vai nos brancos receber dinheiro
E traz pro Velhinho beber;
- E o Mascote? Que é feito do Mascote?
- Ouvi dizer que foi lá em S. Tomé como contratado.

É verdade, e o Zé?
Que é feito, que é feito?
Aquele rapaz tinha cada finta!
Hum... deixa só!
Quando ele pegava com a bola ninguém lhe agarrava
vertiginosamente até na baliza.

E o Venâncio? O meio-homem pequenino
que roubava mangas e os lápis nas carteiras?
Fraquito da fome constante
quando apanhava um pinhão chorava logo!
Agora parece que anda lixado
Lixado com doença no peito.
Nunca mais! Nunca mais!
Tempo da minha descuidada meninice, nunca mais!...
Era bom aquele tempo
era boa a vida a fugir da escola a trepar aos cajueiros
a roubar os doceiros e as quitandeiras
às caçambulas:
Atresa! Ninguém! Ninguém!
tinha sabor emocionante de aventura
as fugas aos polícias
às velhas dos quintais que pulávamos

Vamos fazer escolha, vamos fazer escolha
... e a gente fazia um desafio...

Oh, como eu gostava!
Eu gostava qualquer dia
de voltar a fazer medição com o Zeca
o guarda-redes da Baixa que não conhece mais a gente
escolhia o Velhinho, o Mascote, o Kamauindo, o Zé
o Venâncio, e o António até
e íamos fazer um desafio como antigamente!

Ah, como eu gostava...

Mas talvez um dia
quando as buganvílias alegremente florirem
quando as bimbas entoarem hinos de madrugada nos capinzais
quando a sombra das mulembeiras for mais boa
quando todos os que isoladamente padecemos
nos encontrarmos iguais como antigamente
talvez a gente ponha
as dores, as humilhações , os medos
desesperadamente no chão
no largo - areal batido de caminhos passados
os mesmos trilhos de escravidões
onde passa a avenida que ao sol ardente alcatroamos
e unidos nas ânsia, nas aventuras, nas esperanças
vamos então fazer um grande desafio...
¨¨¨¨¨¨¨¨¨


Poema da Alienação

Não é este ainda o meu poema
o poema da minha alma e do meu sangue
não
Eu ainda não sei nem posso escrever o meu poema
o grande poema que sinto já circular em mim

O meu poema anda por aí vadio
no mato ou na cidade
na voz do vento
no marulhar do mar
no Gesto e no Ser

O meu poema anda por aí fora
envolto em panos garridos
vendendo-se
vendendo
“ma limonje ma limonjééé”

O meu poema corre nas ruas
com um quibalo podre à cabeça
oferecendo-se
oferecendo
“carapau sardinha matona
ji ferrera ji ferrerééé...”

O meu poema calcorreia ruas
“olha a probíncia” “diááário”
e nenhum jornal traz ainda
o meu poema

O meu poema entra nos cafés
“amanhã anda a roda amanhã anda a roda”
e a roda do meu poema
gira que gira
volta que volta
nunca muda
“amanhã anda a roda
amanhã anda a roda”

O meu poema vem do Musseque
ao sábado traz a roupa
à segunda leva a roupa
ao sábado entrega a roupa e entrega-se
à segunda entrega-se e leva a roupa

O meu poema está na aflição
da filha da lavadeira
esquiva
no quarto fechado
do patrão nuinho a passear
a fazer apetite a querer violar

O meu poema é quitata
no Musseque à porta caída duma cubata
“remexe remexe
paga dinheiro
vem dormir comigo”

O meu poema joga a bola despreocupado
no grupo onde todo o mundo é criado
e grita
“obeçaite golo golo”

O meu poema é contratado
anda nos cafezais a trabalhar
o contrato é um fardo
que custa a carregar
“monangambééé”

O meu poema anda descalço na rua

O meu poema carrega sacos no porto
enche porões
esvazia porões
e arranja força cantando
“tué tué tué trr
arrimbuim puim puim”

O meu poema vai nas corda
encontrou sipaio
tinha imposto, o patrão
esqueceu assinar o cartão
vai na estrada
cabelo cortado
“cabeça rapada
galinha assada
ó Zé”

picareta que pesa
chicote que canta

O meu poema anda na praça trabalha na cozinha
vai à oficina
enche a taberna e a cadeia
é pobre roto e sujo
vive na noite da ignorância
o meu poema nada sabe de si
nem sabe pedi
O meu poema foi feito para se dar
para se entregar
sem nada exigir

Mas o meu poema não é fatalista
o meu poema é um poema que já quer
e já sabe
o meu poema sou eu-branco
montado em mim-preto
a cavalgar pela vida.

Fontes:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/
http://betogomes.sites.uol.com.br/AntonioJacinto.htm
http://www.secrel.com.br/JPOESIA/poesia.html

Antonio Jacinto (1924 – 1991)

António Jacinto do Amaral Martins, nasceu no Golungo Alto, Angola, em 28 de Setembro de 1924. Conclui seus estudos licencias em Luanda, passando a trabalhar como funcionário de escritório.

Destacou-se como poeta e contista da geração Mensagem e, como membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola. tendo colaborado com produções suas em diversas publicações nomeadamente "Notícias do Bloqueio", "Itinerário", "O Brado Africano"

Como contista, por vezes, usava o nome literário de Orlando Távora, como também o de Kiaposse.

Por questões políticas foi preso em 1960 sendo desterrado para Campo de do Tarrafal, em Cabo Verde, onde cumpriu pena até 1972, quando foi transferido para Lisboa, em regime de liberdade condicional, por cinco anos, onde exerceu a função de técnico em contabilidade. Em 1973 evadiu-se de Portugal e foi para Brazzaville, onde se juntou à guerrilha do MPLA.

Após a independência de Angola foi co-fundador da União de Escritores Angolanos, e participou activamente na vida política e cultural angolana, sendo Ministro da Cultura de 1975 a 1978.

Ganhou vários prémios, nomeadamente o Prémio Noma, Prémio Lotus da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos e Prémio Nacional de Literatura.
.
Em 1993, o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), instituiu em sua homenagem o “Prémio António Jacinto de Literatura”

Morreu em 23 de Junho de 1991.

Publicou:
Poemas(1961),
Vovô Bartolomeu (1979),
Poemas (1982, edição aumentada),
Em Kilunje do Golungo (1984),
Sobreviver em Trrafal de Santiago (1985; 2ªed.1999),
Prometeu (1987),
Fábulas de Sanji (1988).

Fontes:
http://betogomes.sites.uol.com.br/AntonioJacinto.htm
http://www.lusofoniapoetica.com/index.php/content/category/6/29/304/
http://bracosaoalto.blogspot.com/
http://www.angoladigital.net/

Ricardo Riso (Antonio Jacinto no Panorama Histórico da Literatura Angolana)

Sobrevivendo à malha do tempo: "Sobreviver em Tarrafal de Santiago" e breves considerações sobre a "Mensagem"

Antonio Jacinto integra uma geração de poetas que rompe com os paradigmas coloniais e busca a valorização do homem angolano, de se pensar como cidadão e intelectual independente à metrópole. Em 1948, surge o lema “Vamos descobrir Angola”. O poeta Viriato da Cruz ilustra o momento:

Esse movimento combatia o respeito exagerado pelos valores culturais do Ocidente (...); incitava os jovens a redescobrir Angola em todos os seus aspectos através dum trabalho colectivo e organizado; exortava a produzir-se para o povo; solicitava o estudo das modernas correntes culturais estrangeiras, mas com o fim de repensar e nacionalizar as suas criações positivas e válidas; exigia a expressão dos interesses populares e da autêntica natureza africana, mas sem que se fizesse nenhuma concessão à sede de exotismo colonialista. Tudo deveria basear-se no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão africanas.” (ANDRADE, 1977, p. 6)

A partir daí, os poetas procuravam conscientizar o povo com planos de alfabetização e outras ações sociais, enquanto os poemas tratavam de temas próximos à realidade do país. Nascia o sentimento de angolanidade, e, com o já citado Viriato, estão, entre outros, Agostinho Neto e Antonio Jacinto. Para isso, inspiram-se na ruptura proposta pela geração modernista brasileira de 1922. Carlos Ervedosa, em seu livro “Roteiro da Literatura Angolana”, comenta que:

Eles sabiam muito bem o que fora o movimento modernista brasileiro de 1922. Até eles havia chegado, nítido, o grito do Ipiranga das artes e letras brasileiras e a lição dos seus escritores mais representativos, em especial de Jorge de Lima, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Lins do Rego e Jorge Amado foi bem assimilada.
O exemplo destes escritores ajudou a caracterizar a poesia e ficção angolanas, mas é, certamente, num fenômeno de convergência cultural, que podemos encontrar as razões das afinidades das duas literaturas. A mesma amálgama humana, frente a frente nas duas margens do Atlântico tropical, em presença de condições ecológicas quase idênticas, teria de conhecer reacções e comportamentos muito semelhantes
.” (ERVEDOSA, 1979, p. 72)

Com denso comprometimento ético e político-ideológico, algumas obras são melhores compreendidas em seu contexto social e histórico, como as do período primordial da angolanidade. De acordo com Octávio Paz, no ensaio “A consagração do instante”:

Como toda criação humana, o poema é um produto histórico, filho de um tempo e de um lugar; mas também é algo que transcende o histórico e se situa em um tempo anterior a toda história, no princípio do princípio. Antes da história, mas não fora dela. Antes, por ser realidade arquetípica, impossível de datar, começo absoluto, tempo total e auto-suficiente. Dentro da história – e ainda mais: história – porque só vive encarnado, reengendrando-se, repetindo-se no instante de comunhão poética. (...) o poema é histórico de duas maneiras: a primeira, como produto social; a segunda, como criação que transcende o histórico mas que, para ser efetivamente, necessita encarnar-se de novo na história e repetir-se entre os homens.” (PAZ, 1972, pp. 53-54)

As condições para um movimento literário angolano sedimentavam-se e foi criado o “Movimento dos Novos Intelectuais de Angola”, em 1950, escorados no ANANGOLA – Associação dos Naturais de Angola. No ano seguinte, é lançada a célebre revista “Mensagem – voz dos naturais de Angola”. Segundo Ervedosa,

O Movimento dos Novos Intelectuais de Angola foi essencialmente um movimento de poetas, virados para o seu povo e utilizando nas suas produções uma simbologia que a própria terra exuberantemente oferece. (...) Assim, os novos poetas foram cantando, com voz própria, a terra angolana e as suas gentes.” (ERVEDOSA, 1979, p. 73)

Refletindo a nova postura, Antonio Jacinto escreve “Carta de um contratado”, poema dos mais representativos da época, que retrata a angústia do angolano, longe de sua terra e das lembranças dela, longe da mulher amada, e denuncia o drama do analfabetismo:

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio de te perder
(...)
desta saudade a que vivo todo entregue

Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que te levasse o vento que passa
uma carta que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender (...)

Eu queria escrever-te uma carta

Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não saber ler
e eu – oh! desespero – não sei escrever também!”
(ERVEDOSA, 1979, pp. 74-75)

Na geração da “Mensagem”, havia preocupação em retratar a sociedade angolana, tanto a urbana quanto a rural. A poesia estava inserida em um tempo de mudanças, a necessidade de impor a sua voz contra a repressão colonial fazia com que os temas políticos e sociais prevalecessem. Os poetas, assim, iam “construindo o coletivo plural, no futuro tão necessário para que se reconstrua a angolanidade esfacelada” (PADILHA, 1995, p. 146).

Apesar do intenso patrulhamento dos órgãos repressores portugueses, a “Mensagem” cumpriu o seu papel em apenas quatro números publicados (segundo Ervedosa). Tratando de temas sociais, da busca da infância perdida, das mudanças da cidade de Luanda e, principalmente, do nacionalismo angolano em uma época de clandestinidade, “Mensagem” marcou profundamente os poetas de sua geração e tornou-se referência para as gerações seguintes. Ervedosa argumenta que:

Como seria de esperar, o ‘Movimento dos Novos Intelectuais de Angola’ acabou por ser alvo de repressão policial. A ‘Mensagem’ terminou a sua publicação ao fim do segundo número e o Movimento teve que se desmembrar. A maior parte desses jovens acabaria por se reunir, mais tarde, não à volta de um movimento cultural, mas já sob a bandeira de um movimento político, do qual seriam líderes o ensaísta Mário de Andrade e o poeta Agostinho Neto.
Movimento de poetas, contistas e ensaístas, foi essencialmente através da poesia que aquele grupo de jovens, no dealbar da segunda metade do século vinte, se impôs e logrou virar uma página da história da literatura angolana. (...) Apesar do fim rápido e até da pequena expansão da ‘Mensagem’, ela permaneceu, contudo, como um verdadeiro símbolo
.” (ERVEDOSA, 1979, pp. 87-88)

As atividades não pararam por aí. Por causa da perseguição da polícia colonial, poucos continuaram o caminho. Manuel Ferreira atesta o caráter revolucionário daqueles que assumiram o lugar de agentes históricos:

E todos estes fizeram da sua poesia (...) um ato de fé, (...) de fato, a afirmação de sua identidade cultural. Os poetas fazem da escrita um ato de responsabilidade no combate à violência, à repressão, à exploração, à alienação. A linguagem evolui, atualiza-se, arma-se para a expressão de novas formas conteudísticas.” (FERREIRA, 1987, p. 117)

Na virada dos anos 1950/1960, alguns escritores foram para o exílio e vários são presos. “Em 1963, os escritores Antonio Jacinto, Luandino Vieira e Antonio Cardoso são condenados a catorze anos de prisão e desterrados para a colônia penal do Tarrafal.” (ERVEDOSA, p. 97) E aqui iniciamos a análise sobre o livro “Sobreviver em Tarrafal de Santiago”, de Antonio Jacinto.

Lançado em 1985, “Sobreviver em Tarrafal de Santiago” reúne poemas realizados durante a longa passagem de Antonio Jacinto no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Com todos os poemas datados, temos noção da angústia do poeta, já exposta no título do livro, ao resistir na manutenção dos seus ideais, o apreço à liberdade e a poesia como tema para combater a solidão em um exíguo espaço.

Dividida em três partes, trata-se de uma obra “em que a memória e a reflexão se fazem presentes, o livro é, sem dúvida, um dos momentos mais iluminados da trajetória artística de Jacinto, poeta cuja referência é imprescindível quando se fala da literatura angolana contemporânea” (MACEDO, 2007, p. 117).

Na primeira parte, “Tarrafal em redor”, os poemas tratam daqueles que levantaram suas vozes contra a ditadura salazarista e o fim do regime colonial. Por isso, foram fortemente perseguidos e sofreram pesadas punições, “de forma que o doloroso itinerário apresentado pelo livro é também o caminho de todos os nacionalistas cuja voz a opressão do colonialismo tentou silenciar” (MACEDO, 2007, p. 117).

Apreendemos que o forçado exílio é cantado pelo eu lírico, que versa o drama dos companheiros de luta rumo ao distante campo de concentração:

Neste navio x.......................ancorados
Somos náufragos ...............embarcados
Oh! Navio!
Oh! Náufragos da terra longe!
Oh! Terra longe!
Oh! Terra!
Oh!
(JACINTO, 1985, p. 19)

Interessante percebermos a presença de temáticas predominantes na literatura cabo-verdiana, como o terralongismo do poema anterior “Neste navio embarcados”, a insularidade e o sentimento de evasão. Sobre esta influência, assumida pelo próprio poeta, Jacinto, em entrevista a Michel Laban, comenta que:

Isso aí, são versos escritos noutras circunstâncias – são escritos no Tarrafal, num mundo muito fechado, também, concentracionário, longe das realidades da terra, com outra realidade, deixados influir, também, pelo ambiente cabo-verdiano: vão se lendo novas obras de autores cabo-verdianos e aí vai-se compreendendo o ambiente que dita essa literatura cabo-verdiana. A insularidade pesa sobre nós, porque nós temos uma ilha e, dentro da ilha, uma povoação, dentro da povoação, um campo de concentração... Esse isolamento é muito elevado.” (LABAN, 1991, p. 170)

O espaço concentracionário citado pelo poeta, sentimento comum aos cabo-verdianos em razão dos limites das ilhas, “o limite à esquerda / Mar / o limite à direita / Mar” (JACINTO, 1985, p. 31), incorporado por ele diante da experiência no espaço exíguo e asfixiante do cárcere é explicitado no poema:

Cá vamos
Em Santiago, Cabo Verde
Embarcados
Mais precisamente
No Tarrafal
No Campo de Trabalho Chão Bom
Ou
Mais concreto
No pavilhão D
Caserna 2
Dos reclusos políticos de Angola
” (JACINTO, 1985, p. 22)

O isolamento imposto pelo cárcere é tratado em diversos poemas, cujas datas constantes ao final de cada um, aumentam o incômodo de quem os lê e oferecem a exata dimensão da longevidade da clausura. Ao atentarmos para o próprio nome da prisão, Campo de Treinamento Chão Bom, nos causa inquietação. Além disto, destacam-se, também, características e limites geográficos em poemas com a presença das ilhas do Fogo e do Sal, assim como a impossibilidade de partir, faz com que o poeta se aproprie do desejo de emigração cabo-verdiano e ilustre a sua saudade:

A vela no mar
escreve geometria de espuma
- partida de quem fica
e as nuvens ao sopro incessante vão
dos alísios mandos
- viagem de quem não partiu

Descem saudades (...)
No Tarrafal, anoitece...”

C.T. Chão Bom, 26.11.66 (JACINTO, 1985, p. 26)

A ilha em frente é uma saudade que se esboça (...)
Cai o sol por trás da ilha ao entardecer (...)
Transido, morre o sol.
Anoitece.
A Solidão acontece
.”
C.T. Chão Bom, 9.1.67 (JACINTO, 1985, p. 27)

O mar
As ondas
As ilhas
E as aves
edificam solidão
e a solidão tende para infinito (...)”

C.T. Chão Bom, 5.4.67 (JACINTO, 1985, p. 31)

Era o Oceano! Era o Oceano!
E a solidão, ano empós ano
.”
C.T. Chão Bom, 9.1.72 (JACINTO, 1985, p. 42)

No diálogo proposto por Jacinto com a literatura cabo-verdiana, dois escritores ícones são lembrados. A resistência, que beira a teimosia, do agricultor em plantar em uma terra ruim remete ao romance “Flagelados do vento leste”, de Manuel Lopes:

na folhagem resse-
quida e ferida
- memória do vento leste
a paisagem não esquece!

Feijão pedra
............pedra
Ó homem de todo o ano
na teima
na teima que a vida dá
a teima é vida na vida (...)”
(JACINTO, 1985, p. 28)

E a homenagem a um dos mais combativos poetas cabo-verdianos na luta colonial em seu país, Ovídio Martins, e sua crença no ilhéu são celebrados por Jacinto:

Do chão de pedra
brotam pedras feitas casas

Das casas de pedra
os homens que são pedra
nascem

Das ilhas de pedra
os homens vão enluarar o mundo (...)

Até quando? Até quando?

Até quando os homens-pedra quiserem
!” (JACINTO, 1985, p. 43)

Em “Tarrafal Interior”, a segunda parte, os poemas são incisivos na declaração à liberdade, ao sonho e na postura contrária ao confinamento. O caminho à independência angolana torna-se irreversível:

Nem a chuva dissolve estas pegadas
nem o tempo as tem sepultadas
remonta ao xisto a força da verdade
renasce o sol do teu seio – LIBERDADE
!” (JACINTO, 1985, p. 49)

As forças coloniais estão fragilizadas diante da determinação dos angolanos. A utopia por um país independente alimenta o eu lírico, que utiliza o fazer poético como arma contra o colonialismo em um consciente exercício metapoético:

Ó dragões de fauces sangrentas
Satãs triturando homens nos engranzos do ódio
entre o chão e as cardas das botas
procurais apagar uma a uma
as perenes chamas da esperança duma
murmura flor de sangue ou
duma poêmia imperecível

- digo-vos que sou perigoso quando
na força viril do meu verso
Espero!
” (JACINTO, 1985, p. 51)

Letras em sangue, o eu lírico fortalece a metalinguagem e enrijece a posição política em prol do ideal coletivo:

Pomos doiro são? Não são.
As palavras?
As palavras são carne
e esqueleto
e sangue
sobretudo isso – sangue
” (JACINTO, 1985, p. 52)

O persistente recurso à metalinguagem nos poemas de Jacinto é comentado pela professora Tania Macedo:

Vale ressaltar, todavia, que a metalinguagem ou a citação de outros poetas não atende a um mero exercício estético. Pelo contrário, encontramos a cada passo a expressão de uma profunda crença no humano, de forma que a poesia acaba por ser a parceira que ilumina os recantos escuros da cela, propiciando o brilho da esperança. Assim, verifica-se que a todo instante o lírico e o político se solidarizam na elaboração de uma produção liberta e libertadora – única possível de ser da poesia em nosso tempo (...).” (MACEDO, 2007, pp. 121-122)

Atento e participante na luta pela libertação angolana, Antonio Jacinto une lirismo e política em poemas de resistência à opressão colonial. Recorre a grandes nomes da literatura em língua portuguesa, tais como Manuel Bandeira e Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), para expressar a sua dor. Logo, reivindica tudo aquilo que é negado ao seu povo.

Choramos autenticamente por nós próprios (coitados de nós!
Teremos mais precisão, Manuel Bandeira?)
Choramos autenticamente por nós próprios
(o Álvaro de Campos bem no sabia)
Choramos autenticamente por nós próprios inautênticos
que ficamos mais pobres
e nos sentimos lesados
por nossos direitos feridos
por nossos direitos de posse frustrados
por nossos direitos à proteção
por nossos direitos à amizade
por nossos direitos ao amor
por nossos direitos à presença
por nossos direitos a uma vingança
por tudo quanto queríamos de quem nos morreu
.” (JACINTO, 1985, p. 66)

Depreendemos que a poesia de Jacinto não aceita a ordem estabelecida. Questiona e enfrenta o poder vigente e tenta libertar-se de séculos de opressão. Segundo Alfredo Bosi:

"A poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos, (...) Resiste ao contínuo ‘harmonioso’ pelo descontínuo gritante; resiste ao descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso. Resiste aferrando-se à memória viva do passado; e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia.
Quer refazendo zonas sagradas que o sistema profana (o mito, o rito, o sonho, a infância, Eros); quer desfazendo o sentido do presente em nome de uma liberação futura, o ser da poesia contradiz o ser dos discursos correntes. (...)
A luta é, às vezes, subterrânea, abafada, mas tende a subir à tona da consciência e a acirrar-se porque crescem a olhos vistos as garras do domínio. (...)"
(BOSI, 1977, p. 146)

Em “O ritmo do tantã”, Jacinto dialoga com o poema “Quero ser tambor” de José Craveirinha, reafirma sua posição como africano, valoriza símbolos culturais locais e está sensível ao momento de libertação colonial em todo o continente africano, em um dos mais belos poemas do livro:

Eu também sou África
tenho o ritmo do tantã sobretudo
no que pensa
no que pensa
penso África, sinto África, digo África
” (JACINTO, 1985, p. 71)

Quando se encontra em momentos de desespero, chama a atenção dos companheiros de luta para não aceitarem a sua fraqueza, pois “é preciso frustrar o desânimo”. Jacinto recorre à poesia para demonstra sua indignação com a situação em que está e resiste:

Olho-me:
Serenamente
Morri.

Alguém morreu dentro de mim. (...)

Ó, vós, companheiros, ó irmãos, de vós espero
que não me acrediteis
se me virdes ir despido de esperança
em renúncia.

É preciso frustrar o desânimo!

Morri?

Mas eu vos acompanho
(a todo o tamanho)
que a vida de novo bate à porta
como importa:
- recado de ressureição
!” (JACINTO, 1985, p. 57-58)

De acordo com Alfredo Bosi, “a poesia há muito que não consegue integrar-se, feliz, nos discursos da sociedade” (BOSI, 1977, p. 143), e passa a servir como instrumento de resistência e denúncia às agruras sofridas. Mesmo encarcerado, isolado e distante dos seus pares angolanos que lutam na guerra colonial, o eu lírico não se omite, manifesta sua posição política, valoriza a união e luta com seus versos, a única arma a ser usada, na necessária mudança do mundo:

Nas tarefas da construção do mundo
Aqui estou de novo
....................Unido
– Na procissão de vontades
Alavancas em aplicação comburente –
Aqui estou de novo
Presente!”
(JACINTO, 1985, p. 50)

Mesmo longe e trancafiado, o poeta tem a poesia. Com ela, resiste e participa da revolta contra o colonialismo. A função social de sua poesia e o comprometimento com a causa libertadora não o deixam afastado da luta. O que é expresso por Irene Guerra Marques ao introduzir o livro:

Alguém lhe acena e lhe estende amorosamente a mão. É a Poesia, a sua amiga de sempre. E o Homem, ergue-se, firme e resoluto. Lá longe, os seus poemas, ‘Carta de um contratado’, ‘Monamgaba’, estão nas fábricas, no musseque, no coração do Povo. Os seus companheiros esperam-no! Resistir! Viver para regressar!” (JACINTO, 1985, p. 10)

Em “Tarrafal lírico”, a última parte, o lirismo é predominante nos poemas. O eu lírico rebate a frieza e solidão do cárcere, canta o amor, os sonhos, a liberdade que haveria de se aproximar um dia:

Um sonho? Ah! Dá-me um sonho
Nesta noite de frio e medo:
– teus lábios junto dos meus
à espera que amanheça
!” (JACINTO, 1985, p. 83)

Antonio Jacinto legou à literatura angolana em “Sobreviver em Santiago de Tarrafal”, um livro em que transparece a crença no ser humano, na força da poesia como arma de luta contra o colonialismo português, do sofrimento do poeta projetando-se na dor coletiva de um povo por séculos de submissão e sonhos dilacerados. Acompanhamos o longo percurso de agonia do poeta, enclausurado e isolado enquanto seus companheiros combatiam as forças salazaristas em território angolano. E Jacinto, com a certeza de que a vitória viria, continuou a sua luta na prisão: escrevendo e reescrevendo poemas, reafirmando o seu desejo de liberdade e de libertação do país.

Antonio Jacinto foi o poeta e cidadão que se recusou a se entregar e perder o sonho em ver Angola independente.

Fonte
http://ricardoriso.blogspot.com/

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Centro de Letras do Paraná (Centenário do Falecimento de Machado de Assis)



G Convite G


O Centro de Letras do Paraná, como entidade cultural de renome e que desenvolve programas literários e artísticos, não poderia olvidar data tão significativa, a transcorrer em 29 de setembro, qual seja, o “Centenário do falecimento de Machado de Assis”.

Assim, dedicará a programação mensal ao extraordinário escritor, que, além de romances e contos, produziu de tudo um pouco, como peças teatrais e crônicas, além de encantadoras poesias, como o soneto “À Carolina”, dedicado a memória de sua mulher, cuja reprodução significa todo apreço, admiração e reconhecimento deste Cenáculo à obra machadiana, verbis:

“Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados
.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.”

Confiamos, assim, que nossos caríssimos associados prestigiarão o programa preparado, comparecendo as nossas reuniões, trazendo, outrossim, os familiares e amigos.

PROGRAMAÇÃO – SETEMBRO/2008

Dia 02
17 h “Machado de Assis, uma visão característico-cronográfica”.
Palestra do confrade Professor Nelson de Luca.

Dia 09
17 h “Enfoque crítico sobre a obra de Machado de Assis”.
Palestra do escritor e poeta Silvio Magalhães.

Dia 16
17 h “A Poesia de Machado de Assis”, a cargo da Academia Paranaense da Poesia.

Dia 23
17 h “Genialidade e doença em Machado de Assis”.
Palestra do confrade e imortal João Manoel Simões.

Dia 30
17 h “O novo acordo ortográfico da língua portuguesa”.
Exposição da confreira Neumar Carta Winter.

17:45 Lançamento do livro “Os sonhos se realizam” pelo escritor Fernando Simas Filho.
Coquetel oferecido pelo autor.
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Lembrete:
Os interessados na publicação de textos para próxima edição da Revista do Centro de Letras do Paraná devem encaminhar à secretaria até 31 de agosto, pelo e-mail clpr@onda.com.br ou em disquete, seja prosa até três laudas ou poesia, no máximo duas.

Informações outras na secretaria.
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A Revista do Centro de Letras do Paraná de junho/2008 (nº 51) está a disposição dos associados em nossa secretaria.

Luís Renato Pedroso
Presidente