sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ondjaki (A libélula)

[palavras para o dr. carvalho]

se destas pedras uma
anunciasse
o que a faz silêncio:
aqui, muito perto,
[...] isso se abriria, como ferida
em que terias de mergulhar
Paul Celan, A Força da Luz

Um som fluido abandonava a casa, roçava na poeira das trepadeiras no jardim, influenciava as mangas e os mamões no seu processo de maturação, arrepiava uma libélula inebriada que ali adormecera, fazia o sol abrandar e chegava, ainda forte, ainda nítido, ao ouvido da mulher. Depois disto, um sorriso.

Na aparelhagem o som acontecia contínuo, ininterrupto. O doutor solidificara este hábito domingueiro: sentar-se no fresco da sua varanda ouvindo durante extensos momentos a voz de Adriana Calcanhoto. Ora dormitava, ora lia, ora escrevia, ora se quedava simplesmente de olhos rasgados contemplando as nuvens gordas azularem o céu. Para ele não se tratava de beatificar um domingo, mas sim a própria paz. Aliás, «domingo» era, para o doutor, uma palavra muito interna. Fosse um poço.

Pressentindo isto - que o doutor se apresentava em pleno estado de domingo -, a mulher hesitou. Encostou a testa ao ferro do portão e quis acreditar no impossível: que não tinha sede. A testa latejava; os olhos se queriam, de facto, fechar, olvidar o mundo, cessar a prestação dos serviços visuais. O frio do portão trouxe-lhe agrado aos dedos, ao coração também. E a música invadia-lhe os poros. Então, aí sim, ela dividiu uma sensação com o doutor. Ele, no mesmo instante pensava: esta voz, sim, pode ser dividida. A voz de Adriana, empurrando a tarde: “será que a gente é louca, ou lúcida... quando quer que tudo vire música...”

No intervalo de voz, a libélula decidiu acordar, mover-se em zum-zum aberto, e aterrisar junto aos apontamentos do doutor. Rabiscos, memórias recusadas, esquebras de horas mais sensíveis que escusava aceitar como suas. “Eu perco o chão, eu não acho as palavras” - e a libélula conseguiu acordá-lo. Há anos que acertara as contas com os animais e se apaziguara numa relação equilibrada com eles. Mantinha uma relação ainda conflituosa com as baratas e os sardões, mas já não era homem para matar. Em vez disso, usava sorrir. Não raras vezes, pela manhã, sentia saudades de ver correr olongos como vira lá longe, na infância, na província do Namibe; também por vezes, na praia, encontrando cavalos suados se detinha, de olhos a quererem fechar, saboreando o odor forte a pêlo de cavalo suado. Se feliz ou em vésperas de viajar, sonhava com borboletas brancas ou ligeiramente amarelas, e não procurava interpretar o sonhado. Há anos que fizeras as pazes com os animais, incluindo a espécie dengosa dos gatos, à qual ele mesmo infligira uma baixa mortal. Os gatos, essencialmente os gatos, reaproximaram-no dos bichos.

Foi depois da libélula que reparou na mulher encostada ao seu portão, de olhos fechados, pareceu-lhe, a ouvir a música de Adriana,

“Tenho por princípios nunca fechar portas, mas... como mantê-las abertas, o tempo todo...”

Descruzou as pernas; lentamente as desceu da outra cadeira, enfiou as sandálias. Andando, mirava o ar tranquilo da libélula caminhando sobre as suas letras, sobre o cheiro da sua tinta 971 violet. Era tinta um tanto pegajosa, exigia mesmo um ritmo acelerado de escrita pois, em contacto com o ar, era veloz em solidificar. Mas a libélula não é um inseto curioso, o doutor sabia, ela não chegaria ao frasco, não beberia. Um degrau, dois. Está junto ao portão e a mulher, ao contrário do que ele desejava, não abriu os olhos. Mas falou.

- Desculpe interrompê-lo...

Nem foi susto nem foi coisa de se descrever. Simplesmente o doutor não contava com aquela noção de proximidade. Ela sentira-o?

- Reconheço o cheiro da tinta... O senhor escreve com uma pena?

- Não... Isto é... Sim, é uma espécie de pena...

O portão estava destrancado. Ele fez menção de o abrir, ela abriu os olhos, afastou-se ligeiramente das grades.

- Desculpe interrompê-lo, mas estou com muita sede - ela, talvez esperando que o doutor, num qualquer comentário, revelasse se desculpava ou não a intromissão, se se sentira incomodado ao ponto de alterar o seu humor.

O portão foi aberto pela mão certeira do doutor, enquanto a outra executava um gesto afável que a elucidou. Aquele homem não era facilmente perturbável. “Lá mesmo esqueci que o destino, sempre me quis só...”

- Água ou refrigerante? - o doutor.

- Água, por favor.

A mulher viu a libélula ali parada. Tinha a cor demasiado viva para estar morta ou embalsamada, mas era totalmente imune ao vento que balançava as folhas de papel. Aproximou-se da mesa sem se sentar - a mulher. Por curiosidade olhou as letras sobre o branco, não no intuito de ler a composição, mas pelo hábito de apreciação da estética ortográfica masculina. Era, viu depois, uma «espécie de pena», como lhe dissera o doutor, a que havia produzido aqueles gatafunhos encantadores. Não resistiu e chegou a mão perto: parecia cristal.

- É de vidro. Vidro mesmo. Não é bonita?

- Muito... É uma pena muito especial.

A água, num copo normal, chegou-lhe às mãos. O doutor entretanto pousou o jarro semigasto num lado longínquo da mesa, sem perturbar a libélula. Fez menção para que a mulher se sentasse.

- Obrigado... O senhor deve estranhar, não?

- Estranhar?

- Pedirem-lhe água... Já ninguém toca às campainhas para pedir água, não é?

- É... A senhora não é de cá, pois não?

- Não.

A mulher serviu-se novamente. Bebia devagar, como convinha.

- Contava uma avó minha que, certa ocasião, em Silva Porto, um senhor lhe entrou pela casa a dentro cheio de sede e lhe pediu água. Minha avó voltou à sala com um jarro de água muito fresca e assistiu-o beber três copos de água de seguida, sem parar.

- Foi?

- Foi. O senhor só teve tempo de lhe devolver o jarro, pois o copo partiu-se enquanto ele tombava no chão. Morreu ali mesmo, sabe? Desde então a minha avó vivia a contar esta estória, de resto, verdadeira, pois foi-me confirmada pelo meu avô.

- Não me assuste...

- Não foi para assustá-la, desculpe.

- E o que lhe disse o seu avô?

- Sabe, o meu avô era um homem de invulgar humor e sensibilidade. Em criança confirmou-me toda a estória e por fim disse-me: esse homem nem agradeceu a água à tua avó.

A mulher pousou o copo, respirou fundo.

- Sabe porquê que pedi água aqui na sua casa?

- Não.

- Por causa da música... Esta voz tão doce.

- Adriana.

- Como?

- Adriana Calcanhoto, cantora brasileira.

- É poeta?

- Também.

- Não... O senhor. O senhor é poeta?

- Ahn, eu! Não, sou médico. E a senhora?

- Eu estou cá de férias.

A libélula progrediu no terreno, finalmente mexeu-se, mas andando.

Nas expressões de ambos era visível o espanto, como duas crianças que atentas e boquiabertas assistissem, de repente, ao movimento gracioso de uma pedra. A libélula caminhou em direção ao objeto. Num breve sacudir de asas saltou e voltou a estar quieta - uma guerreira demarcando o território conquistado. “E a greve entre as estrelas só para mim”, a cantora progride na varanda, na tarde.

O objeto era uma redoma de vidro, certamente cara, que protegia uma pedra minúscula, cinzenta, banal. Uma pedra pequenina, era o máximo que se poderia dizer. Nem graciosa, nem curiosa, nem mesmo exótica ou atraente. Era uma pedra brutalmente vulgar. A instalação, contudo, valorizava a pedra.

- Julgo que o valor dessa pedra não pode ser medido pela sua aparência. É assim?

- É muito assim, sim.

- Mas esta redoma parece muito bem trabalhada...

O doutor, num gesto resoluto, abanou a libélula. (Uma surpresa para a mulher e para a libélula). O inseto voltou a pousar sobre as letras. A pedra e a sua redoma foram arremessadas ao chão. A mulher não teve tempo de invocar um susto. O objeto bateu ruidosamente no chão por duas vezes e, após rolar alguns centímetros, terminou a digressão. O doutor pegou no objeto e voltou a pousá-lo sobre a mesa, ao pé das letras, dos papéis, da libélula. O inseto, num breve aspergir de asas, realcançou o seu posto.

- Esta redoma é muito boa para proteger objetos valiosos.

A mulher voltou a sentir sede mas não quis incomodar.

- Uma oferta?

- Sim, uma oferta muito especial, muito sincera.

- Os médicos recebem muitas ofertas?

- Algumas, é uma maneira das pessoas expressarem carinho e gratidão.

E calou-se.

A mulher não queria partir mas julgou estar a forçar o momento. O doutor mantivera-se calado por mais de cinco minutos. À mulher pareceu justo que fosse sua a iniciativa de partir. A música parecia terminar e, a voz, era uma voz difícil de recordar no ouvido da memória.

- Adriana, disse?

- Adriana Calcanhoto. Brasileira.

- Muito obrigada pela água.

- De nada. Já sabe, beba sempre devagar...

- E agradeço antes de morrer!

O doutor quase sorriu. Os lábios contorceram-se; apenas uma tentação de sorriso. Talvez, só talvez.

O portão foi aberto. A mulher, pegando propositadamente nas grades reconheceu a sensação daquela frieza na pele.

- Sabe, foi num domingo. Fui chamado à frente de combate e ninguém queria operar o homem: tinha uma espécie de explosivo preso à perna. Era uma operação muito delicada, ainda hoje penso nisso, não deve ter sido coragem... Tive que fazer tudo muito devagar, enquanto o homem sofria com as dores, e ambos tínhamos que ser pacientes. Quase no fim, o soldado disse-me: deixa-me morrer, estou muito cansado já. Eu respondi: já te deixo morrer, mas deixa-me salvar-te primeiro.

- Ele morreu?

- Não. A operação correu bem. Ele, no fim, quis dar-me uma prenda. E não tinha nada. Descalçou a bota e disse: agora já sei porquê que a filha da puta desta pedra anda a me incomodar há dois dias. Toma lá, doutor, só pra não esquecermos esta nossa conversa de hoje. Você ficas com a pedra, eu fico com a cicatriz.

O portão fechou-se. A sede tinha passado. A mulher foi caminhando lentamente pelo passeio. Ouviu passos e a música recomeçou. “Minha música quer estar além do gosto, não quer ter rosto, não quer ser cultura.”

Entre duas folhas acastanhadas - numa janela de poeira - a mulher viu: a libélula, parada, ondulava o corpo. Fosse uma dança. Sob as suas patas, a pedra brutalmente vulgar repousava - entre a memória do homem e a redoma inquebrantável de vidro.
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ONDJAKI nasceu em Luanda, em 1977. Interessa-se pela interpretação teatral e pela pintura (duas exposições individuais, em Angola e no Brasil). Já em Lisboa, fez teatro amador durante dois anos e um curso profissional de interpretação teatral. No ano 2000 recebeu uma menção honrosa no prêmio António Jacinto (Angola) pelo livro de poesia actu sanguíneu. Participou em antologias internacionais (Brasil e Uruguai) e também numa antologia portuguesa. É membro da União dos Escritores Angolanos. É licenciado em Sociologia. Publicou "Actu Sanguíneu" (poesia, 200), "Momentos de aqui", (contos, 2001), "O Assobiador" (novela, 2002), "Há Prendisajens com o Xão" (poesia, 2003), "Bom Dia Camaradas" (romance, 2003), "Ynari, a menina das cinco tranças" (infanto-juvenil, 2003) e "Quantas Madrugadas Tem a Noite" (romance, 2004).

Fontes:
http://www.bestiario.com.br
Imagem =
http://www.baixaki.com.br

Nilto Maciel (Os contos de Oliveira Paiva)



Reunidas no livro Contos, em 1976, edição patrocinada pela Academia Cearense de Letras, organizada por Braga Montenegro e com introdução de Sânzio de Azevedo, finalmente as narrativas curtas de Oliveira Paiva deixaram as folhas envelhecidas do jornal A Quinzena e, assim, se salvaram do olvido. Os 12 contos coligidos são: "Corda Sensível", "O Ar do Vento, Ave Maria", "O Velho Vovô", "A Melhor Cartada", "Pobre Moisés que não o Foste!", "O Ódio", "A Barata e a Vela (Fábula)", "Variação Sobre um Tema de Buffon", "Ao Cair da Tarde", "De Preto e de Vermelho", "De Pena Atrás da Orelha" e "A Paixão". Publicados em 1887 e 1888, podem ser considerados como exercícios para a elaboração dos romances A Afilhada e Dona Guidinha do Poço. Sânzio de Azevedo ensina: "Todos são unânimes em admitir que o escritor ainda não estava em pleno domínio de suas potencialidades criadoras ao compor os contos estampados n'A Quinzena".

Muitos historiadores desconheciam os contos de Oliveira Paiva, certamente porque não buscaram as fontes, isto é, não pesquisaram jornais e revistas, onde se iniciavam e se iniciam a maioria dos escritores. Em História Concisa da Literatura Brasileira, Alfredo Bosi, por exemplo, não se refere ao contista Oliveira Paiva, embora o considere "prosador terso, que sabia descrever e narrar com mão certeira e intervir no momento azado com talhos irônicos de inteligência fina e crítica".

Sânzio de Azevedo, no estudo "Contos de Oliveira Paiva", editado como apresentação do livro Contos e no livro Aspectos da Literatura Cearense, analisa um a um os 12 contos do criador de A Afilhada e conclui: "Quer-nos parecer que "Corda Sensível", "O Ar do Vento, Ave-Maria", "A Melhor Cartada" e "O Ódio" são os melhores contos de quantos escreveu Oliveira Paiva, podendo mesmo redimir o autor de quaisquer falhas porventura encontradas nos demais". Prossegue: "É interessante observar que nenhum de seus contos se ressente daquela linguagem cientificista que prejudica muita página de nosso Realismo-naturalismo. Seria o caso de se dizer que Oliveira Paiva fugia a esses tiques, tanto assim que tal característica não empana a grandeza de Dona Guidinha do Poço, seu derradeiro trabalho de ficção".

Oliveira Paiva se vale de variadas técnicas na composição dos contos, a partir do prisma dramático, como na montagem das três cenas da primeira história, no mesmo palco, como se fosse um drama teatral. Na primeira, uma sala e nela um fardão "enfiado sobre o espaldar de uma cadeira de balanço". Ao fundo, a janela e parte da rua. Como personagens, a menina Maria (protagonista) e a "filha do cabo de ordens". Na segunda cena, mais curta, no dia seguinte, a mesma sala, o mesmo fardão, e não mais as meninas, mas a criada, que se espanta diante do estrago feito pelos ratos na roupa do coronel. A última cena, a maior, dias depois, se dá em algum cômodo da casa, e nela as personagens das primeiras cenas aparecem de novo e, ao lado delas, outras, sobretudo os ratos, antes somente mencionados. Não se trata, porém, de conto composto de três células dramáticas. Talvez de drama em três atos.

Esta técnica, a de cenas estanques, separadas pelo tempo e pela substituição e apresentação de personagens, aparece em outros contos.

Nem sempre o espaço da ação em Oliveira Paiva se resume a uma sala, como no primeiro conto. No segundo, esse espaço se abre, se amplifica: um cabeço, a mata cavernosa, além do horizonte, o céu, a lua. Em outro, o mar, as embarcações, em perfeita descrição topográfica.

Uma das ferramentas de linguagem mais freqüentes nos contos de Oliveira Paiva é a descrição de ambientes, pessoas e coisas. Não a descrição enfadonha, desnecessária, detalhista, mas aquela capaz de dar ao leitor perfeita visão do objeto descrito. Veja-se a descrição do fardão do coronel, no conto "Corda Sensível". Ora, a indumentária descrita será como que o objeto principal da narrativa, o alvo dos olhares, dos cuidados de todos, eis que os ratos - personagens fundamentais na história - dele se servirão como objeto de sua sanha.

Um dos pontos culminantes deste livro está em "O Ódio", onde narração e descrição se mesclam harmoniosamente: a amurada do navio, a gaiola de paus, onde se mantinha aprisionado um tigre, a fera "movendo-se com pés de seda e garbo de mulher", os marinheiros, o mar - tudo descrito com cores de tempestade, a prenunciar o desfecho trágico - e os homens em movimento, a fera a se debater na gaiola, e, súbito, o entrechoque de embarcações, o tumulto, os olhos do tigre a "bruxulear" nas ondas, a luta do homem com a fera, o fim.

Utiliza Oliveira Paiva, em algumas ocasiões, a narração simultânea de duas ações, como em "A Melhor Cartada", onde narra uma procissão do Senhor Morto e, ao mesmo tempo, porque se dá no mesmo tempo, a movimentação de uns jogadores de baralho. O sacro e o profano em paralelas, como também no conto "A Paixão", onde a cerimônia religiosa é narrada enquanto o narrador, apaixonado, se dilacera - drama psicológico - remoendo o seu amor profano.

O mesmo processo de elaboração narrativa se vê em "Variações sobre um Tema de Buffon". E também alguns momentos de narração em estado de quase perfeição, como neste trecho, em que um capão sai em defesa de uns patinhos pela primeira vez em banho num açude: "Girava, acima e abaixo, já aflito, a percorrer a trincheira que isolava o abismo líquido. Agachava-se para entrar, recuando hidrófobo; olhava por baixo como galo a brigar; açoutava-se com as moles asas; eriçava a penaria do pescoço, ciscava nervosamente e penicava no chão, a chamar aqueles traquinas, cacarejando, gorgolejando, com a sua tocante responsabilidade de educador e aio"

Talvez por se tratar de fábula, como a chamou o autor, em "A Barata e a Vela" a narração pura e simples ocorre durante toda a narrativa, não fosse o breve diálogo do narrador com a traça. Esta maneira de escrever não está presente nos demais contos.

Paiva utiliza ora o ponto de vista da terceira pessoa, ora o da primeira. Às vezes esta aparece no plural. Em outras ocasiões a primeira pessoa se oculta na narração, e o leitor tem a impressão de estar lendo sob o foco onisciente. Veja-se "A Paixão", onde durante quase todo a história a narração parece estar sendo conduzida por narrador onisciente: Uma moça numa varanda a assistir às cerimônias da Paixão de Cristo, a descrição do templo, do ambiente, a multidão de fiéis, as irmãs de caridade, os padres, suas indumentárias, as velas, o tapete, o incenso no ar, o cantochão etc. Durante toda esta narração-descrição não mais aparece a moça, apenas chamada de "ela", e muito menos o narrador, embora sejam os dois os protagonistas. Somente no final o personagem-narrador ou narrador-testemunha, sem nome também, se apresenta: "Eu ajoelhava prostrado ante a divina figura do Mestre e o meu olhar trespassava-lhe também o coração fonte do amor". A jovem reaparece furtivamente na narração: "E as duas almas, feitas uma para a outra..." E mais adiante: "E do sudário desaparecera o Jesus sanguinolento, para pintar-se ela com o seu vestidinho preto e as suas pulseiras de ouro, a olhar-me para meu coração soluçante".

A utilização do ponto de vista em primeira pessoa, seja ela protagonista ou narrador-testemunha, faz de Oliveira Paiva um dos bons elaboradores de dramas psicológicos do seu tempo. Leia-se "Ao Cair da Tarde": personagens sem nome (um cocheiro, um velho e um moço), uma carruagem a conduzi-los a um cemitério, a descrição minuciosa da estrada, breves diálogos, nada de tragédias, nada de mortes, apesar da visita ao campo santo. Na mesma linha está "De Preto e de Vermelho", outro drama psicológico. Novamente a descrição se funde à narração, em exemplos de pura arte: "Um sapato pisava na mesa, revirado, entre os livros e os frascos". O verbo (narração) na mesma frase dos substantivos (descrição).

Um personagem sem nome descreve e narra, como se fosse apenas um observador. Ou, então, o narrador é onisciente, sendo o escritor: "Ele (o personagem) sentia atroar pelos salões a pancadaria da quadrilha pavorosa e danada e louca, vermelha como o sangue vivo, e negra como uns olhos que conheço". Em "De Pena Atrás da Orelha", que Sânzio de Azevedo analisa como sendo "a continuação do precedente", também quase não se vislumbra um enredo, uma trama, e onde se percebem até pedaços de frases constantes do outro conto, como "uma capa de rei", sem contar o tema: Numa quarta-feira de cinzas um rapaz, entre dormido e acordado, rememora cenas do carnaval. Sem querer desmerecer esta composição, há um quê de crônica nela, mormente a partir do parágrafo assim iniciado: "Um belo dia que se alevantava na rua!", até "... e cegos mendigos, com a mão no ombro dos guias de roupa suja e rota..."

Braga Montenegro vê nos contos de Oliveira Paiva "originalidade sem alarde, a força sugestiva dos símbolos, o inesperado da expressão valorizando os temas, estes muitas vezes perigosos pelo abuso do cotidiano".

A manipulação da linguagem nos contos de Oliveira Paiva é admirável, mesmo não tendo alcançado ainda, naquele tempo, a maturidade de narrador que culminaria em Dona Guidinha do Poço. Observador atento, impassível, paciente e imparcial, feito a coruja que pousa no mais alto e firme galho da mais alta e robusta árvore, vê, capta as imagens, os movimentos, as falas, os gestos das personagens, a arquitetura do espaço e dos objetos e, sem olhos de julgador - o Bem o Mal à sua frente -, descreve e narra como artista.

Fonte:
http://www.bestiario.com.br/3_arquivos/Os%20contos%20de%20Oliveira%20Paiva.html

Pindamonhangaba em Destaque



Sergio Meneghetti assume cadeira da Academia Pindamonhangabense de Letras

A APL - Academia Pindamonhangabense de Letras, presidida pela escritora Elisabete Guimarães, realizou no auditório da Santa Casa, na noite de quarta-feira (29 de abril), a reunião plenária solene referente ao mês de abril.

Após as formalidades habituais das reuniões da APL teve início a solenidade de posse do acadêmico Sérgio Antonio Meneghetti. Ele assumiu a cadeira nº 16 do quadro de membros honorários, que tem como patrono Benedito Marques Monteiro, o professor Jairo.
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Comemoração do Dia do Livro em Pindamonhangaba

A programação cultural do evento incluiu uma homenagem ao Dia Internacional do Livro, comemorado em 23 de abril. Foi apresentada ao público, a esquete "A súplica o livro", interpretada pelos atores Laila e Rafael. Ainda em alusão à data, coube ao professor e museólogo de Taubaté, Carlos Roberto Rodrigues, proferir palestra que teve como tema "Monteiro Lobato".

Pelo concurso literário realizado pela APL junto às escolas da rede pública e particular do município, foram premiados os alunos do ensino fundamental, quintas séries A e B do Colégio Emílio Ribas (sistema Anglo). Os alunos fizeram poemas sobre o tema "livro". Os trabalhos premiados foram declamados pelos acadêmicos Ricardo Estevão (professor do colégio Emílio Ribas) e Neila Cardoso, a coordenadora do referido certame cultural.

Na reunião da Academia destaque também para a homenagem em memória da acadêmica e trovadora Aurora Teixeira Mendes. "Dona Aurora", como era popularmente conhecida, foi relembrada em pronunciamento de sua filha Mitzi Vasques e da acadêmica Neila Cardoso. Livretos (obra póstuma) com as trovas da homenageada foram distribuídos aos acadêmicos presentes, numa gentileza de sua filha.

Para que fosse possível a realização da reunião solene, o auditório da Santa Casa foi gentilmente cedido pelo provedor da entidade, Luiz Carlos Loberto "Cacaio", também acadêmico e vice-presidente APL.

A apresentação da esquete foi uma participação do Departamento de Cultura da administração municipal ao evento da Academia de Letras.
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Palestra com Modesto Carone abre “Viagem Literária” em Pinda

Pindamonhangaba participa, pelo primeiro ano, do projeto estadual “Viagem Literária”. O evento será aberto em junho com um bate-papo com o autor Modesto Carone, principal tradutor dos textos de Franz Kafka para a língua portuguesa.

O autor Modesto Carone estará na Biblioteca Pública Municipal “Vereador Rômulo Campos D´Arace” (Bosque da Princesa), no dia 23 de junho, às 15 horas. Ele falará sobre “A Metamorfose”, de Franz Kafka, para o público jovem e adulto.

Os módulos “bate-papo com o autor” contam com a participação de autores de diferentes gerações, que são convidados a falar sobre um livro que tenha marcado a sua formação como leitor e escritor. Será uma oportunidade para conhecer ou ampliar o conhecimento sobre um autor e sua obra. E o melhor: o livro escolhido estará à disposição na biblioteca.

Viagem Literária

Lançado em 2008, o programa Viagem Literária consolidou-se, por meio de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura e as Bibliotecas Municipais das cidades participantes, como um dos mais amplos e diversificados projetos voltados ao livro e à leitura no Estado de São Paulo. Em sua primeira edição, levou autores e artistas consagrados a 40 municípios paulistas, atraindo milhares de pessoas às Bibliotecas. Em 2009, o programa cresceu: são 55 as cidades participantes.

De junho a novembro, cada biblioteca receberá uma atração mensal ligada à literatura. Serão 275 atividades, que têm por objetivo estimular o hábito de ler, incentivando o público a se aproximar mais da biblioteca de sua cidade. Bate-papo com autores, contação de estórias e oficinas de criação literária serão o passaporte para uma prazerosa viagem pelo mundo dos livros.

Toda a programação é gratuita e aberta ao público de todas as idades.

Cronograma de atividades

O “Viagem Literária” é realizado em diferentes módulos. No mês de junho, será o bate-papo com o autor: leituras escolhidas. Em agosto, acontecem as contações de estórias para crianças. Em setembro, novamente um bate-papo com o autor: literatura infanto-juvenil. Em outubro, bate-papo com o autor: literatura para todos e em novembro encerra com oficina de criação literária.
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Biblioteca da Vila São Benedito apresenta sarau na sexta-feira, 15 de Maio

A biblioteca pública municipal "Professora Maria do Carmo dos Santos Gomes", da Vila São Benedito, recebe nesta sexta-feira (15), o projeto "Sarau Professor Augusto César Ribeiro". O evento tem entrada franca e está marcado para as 20 horas.

Mais de 2 mil pessoas já prestigiaram os saraus realizados pela Prefeitura. Este evento foi criado há cerca de 2 anos, para promover reuniões sociais, despertar o interesse pela literatura, formar público, declamadores e estimular a habilidade de se apresentar em público.

Em cada evento, o sarau é realizado em uma das três bibliotecas públicas municipais: "Professora Maria do Carmo dos Santos Gomes", da Vila São Benedito, "Vereador Rômulo Campos D´Arace", no Bosque, e "Professora Bertha César", em Moreira César.

Essa é uma oportunidade para artistas em início de carreira ou mesmo amantes da literatura expressarem sua arte.
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História da Cidade de Pindamonhangaba

Data do final do século XVI a ocupação da área onde hoje se situa Pindamonhangaba. No local passou a existir uma "paragem", com ranchos e pastaria. Não se sabe exatamente quando o local passou a ser chamado PINDAMONHANGABA, nome indígena que significa "lugar onde se fazem anzóis".

A "paragem" estava fadada a se desenvolver rapidamente, já que suas terras eram excelentes; o clima ameno e sua posição a tornavam passagem obrigatória dos viajantes que se deslocavam do Vale do Paraíba para Minas Gerais. Por volta de 1680, Pindamonhangaba já era um povoado, vinculado ao Termo (Município) de Taubaté. Data dessa época a construção do primeiro templo, a capela de São José, erigida por Antonio Bicudo Leme e seu irmão, Braz Esteves Leme. Em 10 de julho de 1705, o povoado recebeu foros de vila, ficando, portanto, politicamente emancipado de Taubaté. Durante o século XVIII desenvolveu-se em Pindamonhangaba uma atividade agropastoril, com predominância da cultura de cana-de-açúcar e a produção de açúcar e aguardente, em engenhos.

Durante o período do café no Brasil, a cidade viveu sua fase de maior brilho e se destacou no cenário Nacional. O ciclo do café floresceu no Município a partir de 1820, e Pindamonhangaba se tornou um grande centro cafeeiro, apoiado em suas terras férteis e na mão-de-obra escrava. Nessa época foram construídos o Palacete 10 de Julho, o Palacete Visconde da Palmeira, o Palacete Tiradentes, a Igreja São José e a Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, que ainda hoje são marcos da riqueza produzida pelo café. Pindamonhangaba foi elevada a cidade por lei provincial de 03 de abril de 1849 e ganhou do cronista e poeta Emílio Zaluar o título de "Princesa do Norte". O ciclo do café extinguiu-se no final da década de 1920, não tendo resistido aos golpes produzidos pela exaustão das terras, a libertação dos escravos e a crise econômica mundial. A partir daí, a economia passou a se apoiar na constituição de uma importante bacia leiteira, em extensas culturas de arroz e na produção de hortigranjeiros. Foi uma época de pequeno crescimento econômico, que se estendeu até o final da década de 1950, quando o Município entrou no ciclo pré-industrial. O período de 1970 a 1985 foi, para Pindamonhangaba, uma fase de crescimento industrial extremamente acelerado, que mudou, profundamente, a face do Município.

Fontes:
http://www.pindamonhangaba.sp.gov.br/
Tribuna do Norte. Cultura e Lazer. 8 de maio de 2009. http://www.tribunadonorte.net/
Tribuna do Norte. Cultura e Lazer. 5 de maio de 2009. http://www.tribunadonorte.net/
Fotomontagem = José Feldman

quinta-feira, 14 de maio de 2009

José Santos Chocano (O Poeta no Papel)


BRASÃO

Sou o cantor da América autóctone e selvagem;]
minha lira tem alma, meu canto um ideal.
Meu verso não balança pendido da ramagem,]
com um vaivém pausado de rede tropical...]

Quando me sinto um Inca, eu rendo vassalagem
ao Sol, que me dá o cetro de seu poder real;
quando hispano, evocando a colonial imagem,
são as minhas estrofes trombetas de cristal.

A fantasia vem-me de antepassado mouro:
os Andes são de prata, mas o Leão é de ouro;
e as duas castas fundo com épico fragor.

O sangue é espanhol e incaica sua batida;
e se não fora Poeta, talvez fosse na vida
um branco Aventureiro ou um índio Imperador!
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OS CAVALOS DOS CONQUISTADORES

Seus pescoços eram finos e suas ancas
Reluzentes e seus cascos musicais...
Os cavalos eram fortes!
Os cavalos eram ágeis!
Não! Não foram somente os guerreiros,
De couraças e penachos e espadas e estandartes,
os que fizeram a conquista
das selvas e dos Andes:
Os cavalos andaluzes, cujos nervos
têm chispas da raça voadora dos árabes
estamparam suas gloriosas ferraduras
nos secos pedregais,
nos úmidos pântanos,
nos rios ressoantes,
nas neves silenciosas,
nos pampas, nas serras, nos bosques e nos vales.
Os cavalos eram fortes!
Os cavalos eram ágeis!

Um cavalo foi o primeiro,
nos tórridos pantanais,
quando um grupo de Balboa caminhava
despertando as solidões adormecidas,
que imediatamente deu o aviso
do Pacífico Oceano, porque rajadas de ar
ao olfato lhe trouxeram
as salinas umidades;
e o cavalo de Quesada, que no alto
se deteve vendo, no fundo dos vales,
de uma torrente a lambada
como o gesto de uma cólera selvagem,
saudou com um relincho
a planície interminável...
e desceu com fácil trote,
os degraus dos Andes,
como por escadas milenares
que rangiam sob o golpe dos cascos musicais...
Os cavalos eram fortes!
Os cavalos eram ágeis!
=============================

OS ANDES

Qual de Laocoonte a escultural serpente
trançando grandes mármores desnudos,
atam os Andes os seus nós nervudos
pelo corpo de todo um continente.

Horror dantesco estremecer se sente
por sobre esse tropel de heróis membrudos
que se alçam com graníticos escudos
e com elmos de prata refulgente.

Faz-se de cada herói a ânsia infinita
porquanto quer gritar, treme e dá salto,
e parte-se de dor... porém não grita.

Apenas deixa, estático e sombrio,
lá resvalar do pico bem mais alto
a silenciosa lágrima de um rio...
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QUEM SABE?

Ó! índio que assomas à porta
da tua rústica mansão,
para minha sede tens água?
para meu frio, cobertor?
Para minha fome, tens milho?
Para meu sonho, meu rincão?
Breve quietude para minha andança?
- Quem sabe, senhor?

Índio que lavras com sofrimento
Terras que de outro dono são:
Ignoras que devem tuas
ser, por teu sangue e teu suor?
Ignoras que a temerária cobiça
séculos atrás, lhe roubou?
Ignoras que és o dono?
– Quem sabe, senhor?

Índio de fronte taciturna
e de pupilas sem fulgor,
que pensamento é o que escondes
em tua enigmática expressão?
Que é o que buscas em tua vida?
Que é o que imploras a teu Deus?
Que é o que sonha teu silêncio?
- Quem sabe, senhor?

Ó raça antiga e misteriosa
de coração impenetrável
que vês, sem gozar, a alegria
e sem sofrer vês a dor;
és augusto como os Andes,
o Grande Oceano e o Sol!
Esse teu gesto de resignação
É de uma sábia indiferença
e de um orgulho sem rancor.

Corre em minhas veias teu sangue;
E, por tal sangue, se meu Deus
me interrogasse o que eu prefiro
- cruz ou laurel, espinho ou flor
beijo que apague meus suspiros
ou fel que me acalme a canção?
responderia, duvidando
- Quem sabe, senhor?
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NOITES ANTIGAS*

I
(Espanhola)

Era um baile solene de pretéritas damas
e nobres cavalheiros de tesos colarinhos.
Fora, um jardim: havia muitos pares sozinhos,
um romorar de fontes e um tremular de ramas.

A orquetra adormecida por sobre os pentagramas;
e, com um um ritmo suave de ondas enlasguescentes,
graves damas luziam caudas desfalecentes,
bocas feitas de flores e olhos feitos de chamas.

Ao largo quadro impunham seus enérgicos toques
os galãs, passeando, com gestos orgulhosos,
os seus ilustres fraques e os seus finos estoques.

Lacrimejavam velas, palpitavam espelhos;
e, em mesas nacaradas, teciam, preguiçosos,
monótonos carteios, dsencantados velhos...

II

(Veneziana)

O marmóreo Palácio, que, nos turvos canais,
grava sua brancura como visão de encanto,
dorme: já a noite o envolve em seu manto sedoso
e uma Lua coquete ri-se nos seus cristais.

Uma gôndola sulca as águas sepulcrais;
risonho bandolim tange um galante engenho;
abrem-se gelosias; e o amoroso empenho
corre escadas rangentes e prepara punhais.

Beijo, suspiro, arrulho. (Diálogo de pombas...)
Rasga a dama ao amor a estreita vestidura,
e saltam livremente suas virgíneas pomas...

Distante remo turba a quietude... Uma terna
fuga entre abraços; e eis que, em meio à note escura,
por sobre a água estremece a luza de uma lanterna.

III

(Romana)

É a noite cesárea de uma fúnebre orgia:
Fervem festas pagãs nos jardins negrejantes.
A voz que traz o vento vem das feras distantes;
e há um acre perfume de embriaguez e agonia.

Bacanal de soldados se abre ao César, que guia
carro ebúrneo, em vertigem, entre frondes e lianas;
e, enquanto arde o clarão de cem tochas humanas,
cem fanfarras detonam em horrenda harmonia.

César manda que, em meio a essas vivas fogueiras,
para apreciar o espanto que os semblantes demuda,
cem escravos lhes soltem as feras carniceiras...

E vê-se que, de súbito, atravessa a paisagem
uma virgem cristã, castamente desnuda,
cem escravos lhes soltem as feras carniceiras...

E vê-se que, de súbito, atravessa a paisagem
uma virgem cristã, castamente desnuda,
amarrada na cauda de um cavalo selvagem...

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* Poemas publicados originalmente na Revista Americana, 1911, vol. V, segundo pesquisa de Fontes de Alencar, publicada como ensaio no JORNAL da ANE (Associação Nacional de Escritores), Ano II, n. 11, Maio de 2008, p. 12.
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Tradução de Solon Borges dos Reis e Anderson Braga Horta
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Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/

José Santos Chocano (14 Maio 1875 – 13 Julho 1934)



José Santos Chocano Gastañodi (Lima, Peru, 14 de maio de 1875 - Santiago do Chile, 13 de julho de 1934) foi um poeta peruano, conhecido também pelo pseudônimo de "El Cantor de América" (O Cantor da América). Em sua poesia descreve e representa seu país, onde é mais conhecido - bem como também no meio literário - apenas por Chocano.

«Walt Whitman tiene el norte, pero yo tengo el sur» (Chocano)

Ingressou na faculdade de letras da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, com a idade de catorze anos. Teve uma vida agitada, acusado de subversão, foi preso aos vinte anos, o que o levou a percorrer a América, como diplomata e aventureiro. Assim foi que desempenhou, desde tenra idade, algumas missões diplomáticas por seu país e que levaram-no incialmente à Colômbia e logo à Espanha. Foi secretário de Pancho Vila e colaborador do ditador gautemalteco Manuel Estrada Cabrera, o que quase o levou ao fuzilamento em 1920, quando este foi derrubado. Em 1922, em Lima, foi feito poeta laureado, a 31 de outubro de 1925

Na Espanha conheceu Rubén Darío, que fez o prólogo de seu belo livro Alma América

Em um duelo matou o jovem escritor e rival Edwin Elmore. Preso, foi solto em dois anos por um indulto, indo viver em Santiago onde, em 1934, foi assassinado numa rua por Martín Bruce Padilla, um esquizofrênico que acreditava possuir Chocano um mapa de tesouro.

Estilo literário

É considerado pela crítica como modernista, movimento do qual foi um dos representantes peruanos mais distintos na língua espanhola, junto a nomes como Rubén Darío (Nicarágua), Manuel González Prada (Peru), José Martí (Cuba), Manuel Gutiérrez Nájera (México), José Asunción Silva (Colômbia) e outros proeminentes dentro desse estilo literário. Entretanto, alguns autores, como o estadunidense Willis Knapp Jones, o colocam como romântico, chegando a denominá-lo como "novomundista".

Dentre suas obras poéticas ressaltam:
Iras Santas ;
En La Aldea ;
Azahares (Versos Lirícos);
Selva Virgen ;
La Epopeya Del Morro [Poema Americano].
El Derrumbe.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://www.antoniomiranda.com.br/

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Miriam Panighel Carvalho (A Palavra)


A palavra que é escrita
Talvez seja a que mais fala
Traduz o que o peito grita
Sempre que a boca se cala
Fonte:

Raimundo Correia (Teia de Poesias)


AMOR E VIDA

Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,
Este amor infeliz, como se fora
Um crime aos olhos dessa, que ela adora,
Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida.

A crua e rija lâmina homicida
Do seu desdém vara-me o peito; embora,
Que o amor que cresce nele, e nele mora,
Só findará quando findar-me a vida!

Ó meu amor! como num mar profundo,
Achaste em mim teu álgido, teu fundo,
Teu derradeiro, teu feral abrigo!

E qual do rei de Tule a taça de ouro,
Ó meu sacro, ó meu único tesouro!
Ó meu amor! tu morrerás comigo!
(Sinfonias, 1883.)

AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883.)

A CAVALGADA

A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...
(Sinfonias, 1883.)

MAL SECRETO

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
(Sinfonias, 1883.)

DESDÉNS

Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evolua;

O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...

Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!

Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
(Versos e versões, 1887.)

O MISANTROPO

A boca, às vezes, o louvor escapa
E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto
Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto
O pranto a vesga hipocrisia tapa.

Do louvor, com que espanto, sob a capa
Vejo tanta dobrez, ludíbrio tanto!
E o pranto em olhos vejo, com que espanto,
Que escarnecem dos mais, rindo à socapa!

Porque, desde que esse ódio atroz me veio,
Só traições vejo em cada olhar venusto?
Perfídias só em cada humano seio?

Acaso as almas poderei sem custo
Ver, perspícuo e melhor, só quando odeio?
E é preciso odiar para ser justo?!
(Versos e versões, 1887.)

ÚLTIMO PORTO

Este o país ideal que em sonhos douro;
Aqui o estro das aves me arrebata,
E em flores, cachos e festões, desata
A Natureza o virginal tesouro;

Aqui, perpétuo dia ardente e louro
Fulgura; e, na torrente e na cascata,
A água alardeia toda a sua prata,
E os laranjais e o sol todo o seu ouro...

Aqui, de rosas e de luz tecida,
Leve mortalha envolva estes destroços
Do extinto amor, que inda me pesam tanto;

E a terra, a mãe comum, no fim da vida,
Para a nudeza me cobrir dos ossos,
Rasgue alguns palmos do seu verde manto.
(Aleluias, 1891.)

PLENILÚNIO

Além nos ares, tremulamente,
Que visão branca das nuvens sai!
Luz entre as franças, fria e silente;
Assim nos ares, tremulamente,
Balão aceso subindo vai...

Há tantos olhos nela arroubados,
No magnetismo do seu fulgor!
Lua dos tristes e enamorados,
Golfão de cismas fascinador!

Astro dos loucos, sol da demência,
Vaga, notâmbula aparição!
Quantos, bebendo-te a refulgência,
Quantos por isso, sol da demência,
Lua dos loucos, loucos estão!

Quantos à noite, de alva sereia
O falaz canto na febre a ouvir,
No argênteo fluxo da lua cheia,
Alucinados se deixam ir...

Também outrora, num mar de lua,
Voguei na esteira de um louco ideal;
Exposta aos euros a fronte nua,
Dei-me ao relento, num mar de lua,
Banhos de lua que fazem mal.

Ah! quantas vezes, absorto nela,
Por horas mortas postar-me vim
Cogitabundo, triste, à janela,
Tardas vigílias passando assim!

E assim, fitando-a noites inteiras,
Seu disco argênteo n’alma imprimi;
Olhos pisados, fundas olheiras,
Passei fitando-a noites inteiras,
Fitei-a tanto, que enlouqueci!

Tantos serenos tão doentios,
Friagens tantas padeci eu;
Chuva de raios de prata frios
A fronte em brasa me arrefeceu!

Lunárias flores, ao feral lume,
- Caçoilas de ópio, de embriaguez -
Evaporaram letal perfume...
E os lençóis d’água, do feral lume
Se amortalhavam na lividez...

Fúlgida névoa vem-me ofuscante
De um pesadelo de luz encher,
E a tudo em roda, desde esse instante,
Da cor da lua começo a ver.

E erguem por vias enluaradas
Minhas sandálias chispas a flux...
Há pó de estrelas pelas estradas...
E por estradas enluaradas
Eu sigo às tontas, cego de luz...

Um luar amplo me inunda, e eu ando
Em visionária luz a nadar,
Por toda a parte, louco arrastando
O largo manto do meu luar...
(Poesias completas, vol. 1, 1948.)
Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Raimundo Correia (13 Maio 1859 – 13 Setembro 1911)

Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911.

Foram seus pais o Desembargador José Mota de Azevedo Correia, descendente dos duques de Caminha, e Maria Clara Vieira da Silva. Vindo a família para a Corte, o pequeno Raimundo foi matriculado no Internato do Colégio Nacional, hoje Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios em 1876. No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali encontrou um grupo de rapazes entre os quais estavam Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das letras, do jornalismo e da política.

Em São Paulo, no tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com o volume de poesias Primeiros sonhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. Recém-formado, veio para o Rio de Janeiro, sendo logo nomeado promotor de justiça de São João da Barra e, em fins de 1884, era juiz municipal e de órfãos e ausentes em Vassouras. Em 21 de dezembro daquele ano casou-se com Mariana Sodré, de ilustre família fluminense. Em Vassouras, começou a publicar poesias e páginas de prosa no jornal O Vassourense, do poeta, humanista e músico Lucindo Filho, no qual colaboravam nomes ilustres: Olavo Bilac, Coelho Neto, Alberto de Oliveira, Lúcio de Mendonça, Valentim Magalhães, Luís Murat, e outros. Em começos de 89, foi nomeado secretário da presidência da província do Rio de Janeiro, no governo do conselheiro Carlos Afonso de Assis Figueiredo. Após a proclamação da República, foi preso. Sendo notórias as suas convicções republicanas, foi solto, logo a seguir, e nomeado juiz de direito em São Gonçalo de Sapucaí, no sul de Minas.

Em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Na então capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito. No primeiro número da Revista que ali se publicava, apareceu seu trabalho “As antiguidades romanas”. Em 97, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Ali edita suas Poesias, em quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, residindo em Niterói, era diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis.

Em 1900, voltou para o Rio de Janeiro, como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento. Ali veio a falecer. Seus restos mortais ficaram em Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos também falecido na capital francesa, para onde fora à procura de saúde foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados, em 28 de dezembro de 1920, no cemitério de São Francisco Xavier.

Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.

Bibliografia
Obras de poesia:
Primeiros sonhos (1879); Sinfonias (1883); Versos e versões (1887); Aleluias (1891); Poesias (1898, 1906, 1910, 1916); Poesias completas, 2 vols., org. de Múcio Leão (1948); Poesia completa e prosa, org. de Valdir Ribeiro do Val (1961).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Lima Barreto (Um Que Vendeu a Sua Alma)



A anedota que lhe vou contar, tem alguma cousa de fantástica e pareceria que, como homem de meu tempo, eu não devia dar-lhe crédito algum. Entra nela o Diabo e toda a gente de certo desenvolvimento mental está quase sempre disposta a acreditar em Deus, mas raramente no Diabo.

Não sei se acredito em Deus, não sei se acredito no Diabo, porque não tenho as minhas crenças muito firmes.

Desde que perdi a fé no meu Lacroix; desde que me convenci da existência de muitas geometrias a se contradizerem nas suas definições e teoremas mais vulgares; desde então deixei que a certeza ficasse com os antropologistas, etnólogos, florianistas, sociólogos e outros tolos de igual jaez.

A horrível mania da certeza de que fala Renan, já a tive; hoje, porém, não. De modo que posso bem à vontade contar-lhes uma anedota em que entra o Diabo.

Se os senhores quiserem acreditem; eu, cá por mim, se não acredito, não nego também.

Narrou-me o amigo: — Certo dia, uma manhã, estava eu muito aborrecido a pensar na minha vida. O meu aborrecimento era mortal. Um tédio imenso invadia-me. Sentia-me vazio. Diante do espetáculo do mundo, eu não reagia. Sentia-me como um toco de pau, como qualquer coisa de inerte.

Os desgostos da minha vida, os meus excessos, as minhas decepções, me haviam levado a um estado de desespero, de aborrecimento, de tédio, para o qual. em vão, procurava remédio. A Morte não me servia. Se era verdade que a Vida não me agradava, a Morte não me atraía. Eu queria outra Vida. Você se lembra do Bossuet, quando falou por ocasião de M.lle de la Vallière tomar o véu ? Respondi: — Lembro-me.

— Pois sentia aquilo que ele disse e censurou: queria outra vida.

E então só me daria muito dinheiro.

Queria andar, queria viajar, queria experimentar se as belezas que o tempo e o sofrimento dos homens acumularam sobre a terra, despertavam em mim a emoção necessária para a existência, o sabor de viver.

Mas dinheiro! — como arranjar? Pensei meios e modos: Furtos, assassinatos, estelionatos — sonhei-me Raskólnikoff ou cousa parecida. Jeito, porém, não havia e a energia não me sobrava.

Pensei então no Diabo. Se ele quisesse comprar-me a alma? Havia tanta história popular que contava pactos com ele que eu, homem céptico e ultramoderno apelei para o Diabo, e sinceramente! Nisto bateram-me a porta. — Abri.

— Quem era ?

— O Diabo.

— Como o conheceste ? — Espera. Era um cavalheiro como qualquer, sem barbichas, sem chavelhos, sem nenhum atributo diabólico. Entrou como um velho conhecimento e tive a impressão de que conhecia muito o visitante. Sem cerimônia sentou-se e foi perguntando: "Que diabo de spleen é esse?" Retorqui: " A palavra vai bem mas falta-me o milhão." Disse-lhe isso sem reflexão e ele sem se espantar, deu umas voltas pela minha sala e olhou um retrato. Indagou: "E tua noiva?" Acudi: "Não. É um retrato que encontrei na rua. Simpatizei e..." "Queres vê-la já?" perguntou-me o homem. "Quero" , respondi. E logo, entre nós dois sentou-se a mulher do retrato. Estivemos conversando e adquiri certeza de que estava falando com o Diabo. A mulher foi-se e logo o Diabo inquiriu: "Que querias de mim?" "Vender-te minha alma", disse-lhe eu.

E o diálogo continuou assim : Diabo — Quanto queres por ela? Eu — Quinhentos contos.

Diabo — Não queres pouco.

Eu — Achas caro? Diabo — Certamente.

Eu — Aceito mesmo a cousa por trezentos.

Diabo — Ora ! Ora ! Eu — Então, quanto dás? Diabo — Filho. não te faço preço. Hoje, recebo tanta alma de graça que não me vale a pena comprá-las.

Eu — Então não dás nada? Diabo — Homem! Para falar-te com franqueza. simpatizo muito contigo, por isso vou dar-te alguma cousa.

Eu — Quanto? Diabo — Queres vinte mil-réis ? E logo perguntei ao meu amigo: — Aceitaste? O meu amigo esteve um instante suspenso, afinal respondeu: — Eu... Eu aceitei.

A Primavera, Rio, julho 1913.

Fontes:
Domínio Público.
Imagem = http://mortesubita.org

Lima Barreto (13 Maio 1881 – 1 Novembro 1922)

Afonso Henriques De Lima Barreto nasceu em 13 maio de 1881 no Rio de Janeiro e faleceu em 1o de novembro de 1922 na mesma cidade. Iniciou os seus estudos primários com sua mãe, que era professora.

Aos 7 anos de idade, morrendo sua mãe, entra para a escola pública. Ingressa posteriormente no Liceu Popular Niteroiense, matriculando-se em seguida no Colégio Pedro II, onde se bacharelou em Ciências e Letras. Este curso foi custeado pelo Visconde de Ouro Preto, seu padrinho de batismo. Em 1903, por ocasião da loucura de seu pai, teve de abandonar a Escola Politécnica no terceiro ano, para assumir os deveres de chefe-de-família.

Foi professor particular e depois funcionário público na Diretoria do Expediente da Secretaria da Guerra, deixando estas funções em virtude da desordenada boêmia a. que se entregara, o que lhe arruinou prematuramente a saúde, tom indisfarçáveis reflexos em sua carreira literária. Colaborou assiduamente na imprensa carioca.

Candidato à Academia Brasileira de Letras, obtém apenas dois votos. De dezembro de 1919 até fevereiro do ano seguinte, Lima Barreto esteve novamente em tratamento no Hospício Nacional. Candidato ao prêmio da Academia com a "Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sã", obtém menção honrosa. Faleceu, no Rio de Janeiro, vítima de colapso cardíaco.

Escreveu:
"Recordações do Escrivão Isaías Caminha" (1909); "0 Triste Fim de Policarpo Quaresma" (1915); "Numa e a Ninfa" (1915); "Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá", (1919); "Histórias e Sonhos", (1922), etc. Deixou inéditos vários trabalhos, edição póstuma: - "Os Bruzundangas", 'Magatelas", "Mágoas e Sonhos do Povo", "Clara dos Anjos" (1948). Permanecem ainda sem editor o seu "Diário Intimo" e "Feiras e Mafuás". Suas Obras Completas foram reunidas em 17 volumes.

Para compreendermos perfeitamente a posição de Lima Barreto relativamente aos seus escritos, necessário será situá-lo dentro da história. Aos sete anos, assistiu com seu pai à assinatura da Lei Áurea e às festas populares da Abolição, retendo na memória a imagem daquela imensa multidão que aguardava a liberdade, a figura da Princesa Isabel e a visão dos carros do Imperador. Contudo, guardou uma figura triste e penosa da proclamação da República, um ano mais tarde quando seu pai foi desligado da "Tribuna Liberal", passando por sérias dificuldades.

Algum tempo depois, consegue novo emprego, graças ao Ministro da Justiça, Cesário Alvim, seu conhecido de longos anos. A partir deste episódio, compreendemos a atitude inconformista do autor de Policarpo Quaresma, com o Visconde de Ouro Preto, último baluarte do Império agonizante, e que justamente foi o autor da desgraça do pai. Lima Barreto foi amanuense do Ministério da Guerra, assíduo freqüentador de botequins, alcoólatra, com várias passagens pelo Hospício, enfim um homem fora da sociedade.

Apesar de tudo, foi o grande escritor, considerado o "romancista da Primeira República", pois reflete em seus romances os principais acontecimentos do novo regime. Penetrou fundo na ambiência de toda uma época, revelando totalmente sua mentalidade, o seu substrato social e humano. Grande maximalista, enalteceu ardorosamente a Revolução Russa de 1917. Como espiritualista, baseou sua experiência literária nas doutrinas de Taine e Brunetikre.

Lima Barreto é considerado como um dos nossos maiores ficcionistas de todos os tempos, teve uma vida frustrada, cheia de desenganos e desilusões. Criou-se em uma colônia de alienados onde seu pai era funcionário. Tentou formar-se em engenharia mas teve que desistir do curso e contentar-se com um cargo de escrevente em uma secretaria de Estado.

Escritor e jornalista não conseguiu em vida a consagração e o reconhecimento de seu valor. E consumiu-se na bebida, dipsomaníaco incorrigível, aos quarenta e poucos anos. Os contos; e romances principalmente, são que fizeram de Lima Barreto o grande escritor que ele é, pois neles estão retratados os subúrbios do Rio de Janeiro.

0 subúrbio carioca é mesmo a sua grande paisagem, que ele sentiu mesmo como poucos e como poucos descreveu. É preciso ressaltar, nele o crítico dos costumes, por vezes sarcástico e impiedoso quando retrata e Interpreta certos meios como nas páginas das "Memórias do Escrivão Isaías Caminha" e ainda no "Triste Fim de Policarpo Quaresma".

Fontes:
http://virtualbooks.terra.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

Murilo Mendes (Cristais Poéticos)



Gilda

Não ponha o nome de Gilda
na sua filha, coitada,
Se tem filha pra nascer
Ou filha pra batisar.
Minha mãe se chama Gilda,
Não se casou com meu pai.
Sempre lhe sobra desgraça,
Não tem tempo de escolher.
Também eu me chamo Gilda,
E, pra dizer a verdade
Sou pouco mais infeliz.
Sou menos do que mulher,
Sou uma mulher qualquer.
Ando à-toa pelo mundo.
Sem força pra me matar.
Minha filha é também Gilda,
Pro costume não perder
É casada com o espelho
E amigada com o José.
Qualquer dia Gilda foge
Ou se mata em Paquetá
Com José ou sem José.
Já comprei lenço de renda
Pra chorar com mais apuro
E aos jornais telefonei.
Se Gilda enfim não morrer,
Se Gilda tiver uma filha
Não põe o nome de Gilda,
Na menina, que não deixo.
Quem ganha o nome de Gilda
Vira Gilda sem querer.
Não ponha o nome de Gilda
No corpo de uma mulher.
================

O filho do século

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.
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Cantiga de Malazarte

Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa nos caminhos do mundo.
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Cartão postal

Domingo no jardim público pensativo.
Consciências corando ao sol nos bancos,
bebês arquivados em carrinhos alemães
esperam pacientemente o dia em que poderão ler o Guarani.
Passam braços e seios com um jeitão
que se Lenine visse não fazia o Soviete.
Marinheiros americanos bêbedos
fazem pipi na estátua de Barroso,
portugueses de bigode e corrente de relógio
abocanham mulatas.

O sol afunda-se no ocaso
como a cabeça daquela menina sardenta
na almofada de ramagens bordadas por Dona Cocota Pereira.
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As lavadeiras

As lavadeiras no tanque noturno
Não responderam ao canto da sibila.

“Lavamos os mortos,
Lavamos o tabuleiro das idéias antigas
E os balaústres para repouso do mar...
Nele encontramos restos de galeras,
Quem nos desviará do nosso canto obscuro?
Nele descobrimos o augusto pudor do vento,
O balanço do corpo do pirata com argolas,
Nele promovemos a sede do povo
E excitamos a nossa própria sede...”

As lavadeiras no tanque branco
Lavam o espectro da guerra.
Os braços das lavadeiras
No abismo noturno
Vão e vêm.
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Montanhas de Ouro Preto
A Lourival Gomes Machado

Desdobram-se as montanhas de Ouro Preto
Na perfurada luz, em plano austero.
Montes contempladores, circunscritos,
Entre cinza e castanho, o olhar domado

Recolhe vosso espectro permanente.
Por igual pascentais a luz difusa
Que se reajusta ao corpo das igrejas,
E volve o pensamento à descoberta

De uma luta antiqüíssima com o caos,
De uma reinvenção dos elementos
Pela força de um culto ora perdido,

Relíquias de dureza e de doutrina,
Rude apetite dessa cousa eterna
Retida na estrutura de Ouro Preto.
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Poesias: Canção do Exílio, Somos Todos Poetas e A Tesoura de Toledo: http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/murilo-mendes-poesias-avulsas.html
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Fonte:
Jornal de Poesia. http://www.jornaldepoesia.jor.br/

Murilo Mendes (13 Maio 1901 – 13 Agosto 1975)

Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora, 13 de maio de 1901 — Lisboa, 13 de agosto de 1975) foi um poeta brasileiro, expoente do modernismo brasileiro.

Médico, telegrafista, auxiliar de guarda-livros, notário e Inspetor do Ensino Secundário do Distrito Federal. Foi escrivão da quarta Vara de Família do Distrito Federal, em 1946. De 1953 a 1955 percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957 se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira. Manteve-se fiel às imagens mineiras, mesclando-as às da Sicília e Espanha, carregadas de história.

Obras
Iniciou-se na literatura escrevendo nas revistas modernistas Terra Roxa, Outras Terras e Antropofagia.

Os livros Poemas (1930), História do Brasil (1932) e Bumba-Meu-Poeta, escrito em 1930, mas só publicado em 1959, na edição da obra completa intitulada Poesias (1925-1955), são claramente modernistas, revelando uma visão humorística da realidade brasileira. Tempo e Eternidade (1935) marca a conversão de Murilo Mendes ao catolicismo. Nesse livro, os elementos humorísticos diminuem e os valores visuais do texto são acentuados. Foi escrito em colaboração com o poeta Jorge de Lima. Nos volumes da fase seguinte, Poesia em Pânico (1938), O Visionário (1941), As Metamorfoses (1944) e Mundo Enigma (1945), o poeta apresenta influência cubista, superpondo imagens e fazendo o plástico predominar sobre o discursivo. Poesia Liberdade (1947), como alguns outros livros do poeta, foi escrito sob o impacto da guerra, refletindo a inquietação do autor diante da situação do mundo.

Em 1954, saiu Contemplação de Ouro Preto, em que Murilo Mendes alterou sua linguagem e suas preocupações, reportando-se às velhas cidades mineiras e sua atmosfera. Daí por diante, o poeta lançou-se a novos processos estilísticos, realizando uma poesia de caráter mais rigoroso e despojado, como em Parábola (1946-1952) e Siciliana (1954-1955), publicados em Poesias (1925-1955).

As caracteristicas desse período atingem sua melhor realização no livro Tempo Espanhol (1959). Em 1970, Murilo Mendes publicou Convergência, um livro de poemas vanguardistas. Murilo Mendes também publicou livros de prosa, como O Discípulo de Emaús (1944), A Idade do Serrote (1968), Livro de memórias e Poliedro (1972). Ao morrer, em Lisboa, deixou inéditas várias obras.

Prêmios recebidos
Prêmio Graça Aranha, pelo livro Poemas.
Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina, 1972.
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Isabel Vasconcellos (O Médico e o Marketing)


Era uma vez um médico que se sentia plenamente realizado com a sua carreira. Desde muito pequeno ele sabia que queria ser médico. A vocação já nascera com ele, vinda sabe-se lá de onde, já que o nosso Dr. Artur era filho de um humilde alfaiate e de uma costureira. Muito as máquinas do atelier de costura, que funcionava na sala da residência de seus pais, trabalharam para conseguir pagar as despesas de Artur na faculdade. O curso foi feito na Universidade pública, mas mesmo assim, Artur não tinha tempo para trabalhar, enquanto todos os seus irmãos, na sua idade, já trabalhavam, havia enormes despesas com livros e o inevitável ciúme dos irmãos que acreditavam que os pais estavam dando à Artur privilégios que eles próprios não tinham.

Mas, no fundo, todos respeitavam, na família, a extrema dedicação de Artur. Ele, é verdade, tivera a sorte de freqüentar escolas públicas (grupo municipal e ginásio estadual) numa época – fim dos anos 50 e começo dos 60 – em que o ensino nessas instituições era realmente bom em São Paulo e, por isso, e também porque se matara de tanto estudar, ele conseguira entrar na Faculdade de Medicina da USP.

Artur formou-se em 1971. Durante o seu curso, enquanto muitos dos seus colegas reservavam algum tempo para as atividades políticas que estavam, então, na moda, ele só fazia estudar. Ainda conseguiu cavar uma bolsa de estudos num curso de inglês (em troca de divulgar o tal curso entre os seus colegas de universidade) e, antes de se formar, era tão fluente em inglês quanto em português. Isso, é claro, foi muito útil para, mais tarde, as suas viagens ao Exterior, onde participava de importantes congressos médicos.

Sim, porque Artur fez uma brilhante carreira acadêmica. Formou-se com distinção, foi o melhor residente de sua turma e, embora fascinado pelos muitos mistérios que a medicina ainda não decifrara no corpo humano, e, por isso mesmo, tentado a especializar-se em oncologia, acabou virando ginecologista, intrigado pela capacidade reprodutiva das mulheres e pelo preço que as fêmeas pagavam por essa capacidade.

Mas, embora um sucesso nos serviços de saúde pública onde trabalhou e outro sucesso na faculdade onde passou a dar aulas, Artur era um desastre financeiro e político. Mal sabia se defender das armadilhas, que seus colegas invejosos de sua competência, criavam para ele. E no seu humilde consultório de bairro, acabava levando altos calotes, dada a sua generosidade e a sua compreensão para a dificuldade financeira das pacientes. Quando, no Brasil, começavam a proliferar os convênios, por deficiência do próprio sistema público de saúde, Artur credenciou-se em todos e, em breve, em seu consultório, só existiam clientes de grupos médicos (que pagavam uma miséria por consulta) e mulheres muito pobres, a quem ele atendia de graça. Suas noites eram dedicadas à pesquisa e ao estudo e ele só podia freqüentar os congressos internacionais quando convidado pelos laboratórios da indústria farmacêutica. Isto, aliás, era um prato cheio para os seus colegas acadêmicos e invejosos, que começaram a acusá-lo de ser um “vendido” para a Indústria. Só que essa estratégia não convencia muita gente pois o pobre Dr. Artur continuava levando uma vida muito modesta, andando num carro mais velho que ele, clinicando num consultório modesto de bairro, vestindo ternos puídos e calças jeans da década de sessenta. Os salários recebidos na saúde pública beiravam o ridículo, o que ele recebia do consultório também bastante ridículo, o que salvava um pouco era a remuneração de sua docência universitária, mas ele torrava tudo em livros e ajudando a família.

Assim, enquanto muitos de seus colegas enriqueciam e montavam chiques consultórios nos jardins e em outros bairros nobres da cidade, o Prof. Dr. Artur vivia mergulhado naquela simplicidade franciscana.

Mas as suas pacientes... ah, estas o adoravam. Enfrentavam longas esperas na sala de recepção de seu consultório, lendo revistas velhas e capengas de tanto serem manuseadas, para ter o privilégio de seus cuidados. Ele sempre atrasava as consultas. Porque queria ouvir. E ouvia, as condições de vida, os dramas pessoais, as frustrações e as ambições de suas pacientes. Porque ele, quanto mais estudava e aprendia, mais acreditava que a saúde é um tripé: o físico, o emocional e o social. Assim, não via suas pacientes apenas como um corpo, um útero, um par de ovários. Mas procurava ir muito mais fundo, compreendendo como o psicológico e o social estariam atuando no físico.

Teve poucas namoradas. Tinha pouco tempo para elas, muito pouco tempo, e elas logo se cansavam e iam procurar alguém mais dedicado.

Quando, no fim dos anos oitenta, surgiram os primeiros computadores domésticos, ainda muito caros, Artur gastou todo o seu salário de dois meses na faculdade para conseguir um e, um par de anos depois, era um dos primeiros brasileiros, fora das instituições universitárias, a ter acesso à Internet domesticamente.

Um dia, no meio dos anos 90, recebeu um convite para participar de um programa de TV. Artur ia recusar. Achava uma bobagem ir à televisão. Mas a produtora do programa conseguiu convencê-lo, dizendo que professores sérios como ele poderiam prestar um grande serviço aos telespectadores através de uma informação decente sobre saúde.

Foi.

No dia seguinte o telefone de seu consultório estava congestionado. Milhares de mulheres queriam se consultar com ele. A secretaria pirou. Contou a ele que ouvira de muitas delas coisas como o seguinte: “Eu dobro o valor da consulta pra você me arrumar um horário com ele e ainda te levo um presente”.

Dr. Artur, em vez de ficar contente com aquele súbito sucesso, ficou profundamente deprimido. Então bastava aparecer na TV e ele se tornaria um médico reconhecido e disputado pelas pacientes? Ora, isso não tinha sentido. O que importava ao nosso herói era o acúmulo de conhecimento científico, pelo qual ele tanto lutara nas últimas décadas.

Para o público, porém, quem aparecia na TV era o melhor. O público, um pouco ingenuamente, tinha a tendência de acreditar que a televisão só levasse ao ar aqueles profissionais de alto gabarito e conhecimento. No caso do Dr. Artur, isso era verdade. Mas muitas vezes não era. Muitas vezes o produtores de TV levavam quem estivesse mais próximo deles por qualquer razão ou quem tivesse contratado a melhor assessoria de imprensa.

Mas agora ele estava num dilema. Nunca se recusara a atender ninguém. Como atender, no entanto, todas aquelas centenas de mulheres que ligavam sem parar para o consultório?

A secretária lhe deu a solução:

- Doutor, o senhor mesmo disse que os ginecologistas recém formados não têm, muitas vezes, a oportunidade de montar um consultório. Por que o senhor não convida alguns deles para vir trabalhar aqui e assim o senhor divide as consultas com eles.

- Mas estas pacientes novas querem se consultar com o médico que elas viram na Tv e este sou eu.

- Bobagem – respondeu a secretária – Em todas as clínicas dirigidas por médicos famosos, desses que vivem aparecendo na mídia, as pacientes são atendidas pelos médicos assistentes e ficam muita satisfeitas. Quando o médico famoso aparece durante a consulta, então, elas quase desmaiam de emoção. O senhor precisava fazer a mesma coisa. Ficaria rico e – aqui ela deu um risinho maroto – poderia aumentar o salário da sua secretária.

- Como é que você sabe de tudo isso?

- Vejo nas revistas.

O que animou o Dr. Artur foi a possibilidade, afinal, de ajudar os colegas recém formados e, inclusive, continuar de uma certa maneira a ensiná-los, através de sua própria experiência. Montou uma pequena clínica e contratou mais 3 médicos. Mas esta também ficou insuficiente quando, pela segunda vez, ele aceitou ir ao programa de TV. Três anos depois o nosso modesto Dr. Artur era fonte disputada pelos jornalistas de rádio e televisão. Montou uma clínica enorme, com 15 médicos além dele e adquiriu também modernos equipamentos para poder realizar os exames necessários lá mesmo, tendo contratado também os médicos e técnicos para a realização dos exames. Ficou rico, quase milionário e pôde comprar o carro esporte de seus sonhos. Havia uma fila de mulheres se oferecendo, loucas para casar com o médico famoso e rico. No entanto, jamais se casou e jamais deixou de atender suas pacientes pobres. Quando as ricas eram atendidas pelos assistentes e acreditavam que o famoso doutor só atendesse as ainda mais ricas que elas, ele estava atendendo de graça...

Mas, no meio médico, nos anos seguintes, quando alguém citava o Dr. Artur, sempre havia outro alguém para dizer:

- Ah, esse, além de vendido pra indústria, é apenas uma grande marqueteiro.

Fonte:
http://www.isabelvasconcellos.com.br/
Montagem da imagem = José Feldman

Isabel Vasconcellos (13 Maio 1951)


Isabel Vasconcellos (SãoPaulo, 13 de maio de 1951) é uma escritora e apresentadora de televisão brasileira. Especializada na análise da condição social da mulher e em saúde feminina, seus livros tratam destes temas mas são também entremeados de contos de ficção.

Em seus programas de televisão, realizados na Gazeta, Record e Rede Mulher, entrevistou líderes feministas e alguns dos maiores médicos acadêmicos do Brasil.

Biografia

Isabel de Almeida Vasconcellos é a filha caçula e temporona de Alfredo Fomm de Vasconcellos (1908-1987) e de Wanda Gonçalves de Almeida Vasconcellos (1912-2007). Seu pai era cinematografista e foi pioneiro em técnicas de cinema 16mm no Brasil. Sua mãe era modista.

Um de seus irmãos, Ronaldo Alvan (1936-2004) foi pioneiro da televisão brasileira e atuou nas maiores redes televisivas.

Isabel aprendeu a filmar, fotografar e revelar fotografias com apenas 8 anos de idade. Começou a escrever muito cedo, mas só publicou livros a partir de 2000.

Começou a carreira como repórter e fotógrafa de um jornal de bairro, escreveu crônicas assinadas para um jornal de grande circulação entre 1977 e 1984. Foi redatora publicitária e estreiou na televisão em 1985. De lá para cá, realizou 780 programas sobre a condição da mulher e 1.427 sobre a saúde feminina.
A partir de 2007, apresenta o programa "Só Saúde" na primeira TV por Internet do Brasil: a All TV .

Produção literária
2000, Histórias de Mulher, Editora Scortecci
2002, 50 Anos da Rosa, Editora Universal
2003, A Menstruação e Seus Mitos, Editora Mercuryo
2005, Sexo Sem Vergonha, Soler Editora
2006, Todas as Mulheres São Bruxas, Editora Segmento
2007, Depressão na Mulher (co-autoria com Kalil Duailibi), Editora Segmento

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

Roger Zelazny (O Senhor Da Luz)


Os seus seguidores chamavam-lhe Mahasamatman e diziam que era um deus. Ele, porém, preferia deixar de lado “Maha” e “atman” e intitulava-se Sam. Nunca pretendeu ser um deus, mas também nunca o negou – A ação deste livro decorre muito depois da morte da Terra; um punhado de homens num planeta colonizado alcançou o domínio da tecnologia. Com ela, adquiriram a imortalidade e poderes divinos e governam o seu mundo como os deuses do panteão hindu. Kali, Deusa da Destruição; Yama, Senhor da Morte; Krishna, deus da Luxúria. Aquele que foi Siddhartha e é agora Mahasamatman, Subjugador dos Demónios, Senhor da Luz, luta contra todos eles. Esta obra de Roger Zelazny, coloca uma questão interessante. E se através da tecnologia, uma vez que se esta for muito superior torna-se indistinguível da magia, os homens se transformarem em Deuses e governarem o mundo. Será que são deuses, ou as suas fraquezas humanas virão à superfície e estarão refletidas nos seus actos. Qual a distinção entre o divino e o mortal? Além de ser uma introdução muito interessante ao panteão hindu, relativamente pouco conhecido na cultura ocidental, este livro apresenta as dúvidas que um homem que não quer ser deus têm. Se fossem vocês e tivessem a possibilidade de se tornarem deuses, recusariam? Abarcando todo um vasto período na história deste mundo, desde a adoração profunda de massas ignorantes pelos seus deuses, até à tomada de consciência de um povo ajudada pelo homem que não quis ser deus, este livro deixa-nos importantes questões sobre a religião, o divino, o sagrado, e a forma como encaramos estas questões agora e no passado.

Um verdadeiro clássico da literatura de ficção cientifica, galardoado com o Prémio Hugo.

Fontes:
http://www.netsaber.com.br/resumos/

Roger Zelazny (13 Maio 1937 – 14 Junho 1995)



Zelazny nasceu em Euclid, Ohio, EUA, a 13 de maio de 1937, filho único do imigrante polonês Joseph Frank Zelazny e irlandesa-americana Josephine Flora Sweet.

Na escola secundária, Roger era o editor do jornal escolar e participou do Clube de Escrita Criativa. No outono de 1955, ele começou a freqüentar a Western Reserve University e graduado como bacharel em inglês, em 1959. Ele foi aceito para Columbia University em Nova Iorque e especializou-se no drama Elizabethano Jacobeano, se formando com um mestrado em 1962. Entre 1962 e 1969 ele trabalhou para a Administração de previdência social norte-americana em Cleveland, Ohio e então, em Baltimore, Maryland que gastava as noites escrevendo ficção científica.

Ele progrediu de contos a noveletas para novelas e finalmente para trabalhos compridos de romance por 1965. No dia 1 de maio de 1969, ele abandonou tudo para se tornar um escritor de tempo integral, e depois disso concentrou-se em escrever romances para manter a renda dele. Durante este período, ele era um sócio ativo de voz ativa na Baltimore Science Fiction Society no qual os sócios incluíam outros escritores como Jack Chalker, Joe e Jack Haldeman entre outros.

Zelazny esteve duas vezes casado, com Sharon Steberl em 1964 (e divorciado, nenhuma criança) e Judith Alene Callahan, em 1966. Roger e Judy tiveram dois filhos, Devin e Trent, e uma filha, Shannon. Na hora da morte dele, Roger e Judy estavam separados e ele estava vivendo com a notável escritora Jane Lindskold.

Seu primeiro fanzine surgiu como parte um da história " Conditional Benefit", considerando que a primeira publicação profissional dele e a venda foi o conto de fantasia "Mr. Fuller's Revolt"(1954). Como um escritor profissional, os trabalhos de estréia dele foram a publicação simultânea de " Passion Play e " Horseman!" . Passion Play foi escrito e vendido primeiro. A primeira história dele para chamar a atenção era " A Rose for Ecclesiastes ", publicada em The Magazine of Fantasy and Science Fiction.

Roger Zelazny também era sócio dos Swordsmen and Sorcerers' Guild of America (SAGA), um grupo de escritores de Fantasia Heróica fundado nos anos sessenta, alguns dos quais os trabalhos eram colocados em antologias em Lin Carter's Flashing Swords! anthologies.

Zelazny morreu em Santa Fé, México, em 14 de junho de 1995, com 58 anos, de câncer coloretal. Outras fontes indicaram câncer do pulmão incorretamente.
Tradução = José Feldman

Kathleen Jamie (13 Maio 1962)


Kathleen Jamie é poeta escocesa, de Currie, Edimburgo, na Escócia.

Seu primeiro livro foi Black Spiders (Aranhas Pretas), publicado em 1982. Considerada uma das poetisas contemporâneas mais talentosas no Reino Unido , ela ganhou o Forward Poetry Prize, em 2004, pela poesia The Tree House (A Casa da Árvore). Outros livros de poesia incluem The Queen of Sheba (A Rainha de Sheba) em 1994, The Way We Live (1987), Jizzen (1999), A Flame in Your Heart (Uma Chama Em Seu Coração), e The Autonomous Region (A Região Autônoma). Constantemente, a escritura dela é centrada em uma observação íntima de, e empatia com, a natureza. Em 2005 ela publicou, com grande aclamação crítica, uma coleção de escritas de não-ficção, Findings.

Ela contribuiu e co-editou várias antologias, inclusive The Glory Signs: New Writing Scotland (Os Sinais de Glória,: Nova Escrita Escocesa) , vol 16 (1998). Ela é atualmente uma Conferencista de meio período em Escrita Criativa na Escola de Inglês na Universidade de St. Andrews, e vive em Fife.
(tradução = José Feldman)

Wallace Breem 13 Maio 1926 - 12 Março 1990)



Wallace Wilfred Swinburne Breem (1926–1990) era bibliotecário britânico e escritor, Bibliotecário e Guardião de Manuscritos da Inner Temple Law Library até a aua morte, mas talvez mais amplamente conhecido pelos seus romances históricos , inclusive Eagle in the Snow(1970).

À idade de 18, Breem entrou na Escola de Treinamento dos Oficiais do Exército Indiano , e em 1945 era comissionado como oficial do exército no Corpo de Guias, um destacamento de elite do Exército Indiano.

Depois da separação de Índia em 1947, Breem voltou à Inglaterra e celebrou uma variedade de trabalhos que incluíram operário em um curtume, assistente para um cirurgião veterinário, e cobrador de alugueis no Lado Oriental de Londres. Ele uniu o pessoal de Inner Temple Library eventualmente em Londres, em 1950.
Breem era um sócio fundador de BIALL (Associação britânica e irlandesa de Bibliotecários Jurídicos), e várias vezes ocupou os escritórios de Secretário, Tesoureiro, Presidente, Vice-presidente, e Presidente naquela organização.

Escritas de Non-ficção
Breem fez muitas contribuições notáveis a trabalhos de bolsa de estudos, inclusive o Manual de Cargo de bibliotecário jurídico, a Bibliografia de Literatura inglesa de New Cambridge, e documentos vários, relatórios, artigos.

A Sketch of the Inner Temple Library
Bibliography of Commonwealth Law Reports (1991)

Romances
Eagle in the Snow (1970, )
A Filha do Delegado (1975)
O Leopardo e o Abismo (1978 ).
(tradução José Feldman)