segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes



Inspirada em sentimentos humanistas de homens abnegados, devotados ao escrever uma nova literatura, produzida na cidade que viveram e muito respeitaram, nasceu uma associação cultural, voltada para a literatura, as ciências e as artes.

A ANELCA nasceu como ANEL - Academia Nevense de Letras, fundada em 02 de outubro de 1999, pelos escritores Mauro José de Morais, professor e poeta e Maurílio Laureano da Silva, advogado, na cidade de Ribeirão das Neves - MG. O Prof. Mauro identificou na cidade muitos moradores que exerciam o escrever com gosto e esmero, onde os convidaram para a fundação de uma Academia de Letras.

Tempo memorável! Danilo Horta! Adão Ventura! Aquiles Marciano! Tantos escritores simples e bons, que efetivaram a fundação da Academia Nevense de Letras – ANEL.

Muitos fatos relevantes marcaram a evolução desta entidade. Visitas de outros homens que também amam a literatura, Murilo Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras, Teresinka Pereira, Presidenta da International Writers and Artists Association – IWA, Silvia Araújo Motta, Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa, dentre tantos outros.

Em 2005 foi necessário abrir as portas e janelas para os cientistas e artistas da cidade, assim de quarenta cadeiras passaram a cem, modificaram para ANELCA.

A ANELCA, hoje, pode se gabar de dizer que já revelou grandes talentos humanos. A Academia possui 100 cadeiras nos seus diversos segmentos, sendo que as do número 1 ao número 40 pertencem à área de literatura; as do 41 ao 70, a acadêmicos do segmento científico; e as do 71 ao 100, ao segmento artístico.

Vale destacar ainda que, no tocante às artes, a ANELCA conta hoje com representantes da capoeira, da música, atores, atrizes, artistas e cineastas.

Dentre os projetos desenvolvidos, o Centro Cultural da ANELCA Professor Adauto Junqueira Rebouças, com uma valiosa biblioteca, composta por mais de 20 mil volumes à disposição da comunidade nevense. A Escola de Novos Escritores da ANELCA, coordenada pelo Acadêmico Carlos Martins, que desponta como oportunidade ímpar para aqueles que se dedicam à arte da escrita.

Destaque para o trabalho da ilustre Patrona Oficial da ANELCA, a Sra. Ilka Maria Munhoz Gurgel, eterna educadora, que deixou uma rica contribuição social, educacional e cultural.

Acadêmicos
Cadeiras - Membros
01 Mauro José de Morais
02 Maurílio Laureano da Silva
03 Carlos Martins dos Santos Jr.
04 Eunice Ferreira Guimãres de Byrne
05 Maria do Carmo Coelho
06 Marisa de Fátima Santos Nascimento
07 Rosana Maria Cerqueira
08 Márcia de Jesus Souza
09 Silvania Bento
10 Leônidas Rodrigues Santos
11 João Batista de Paula
12 Antonio Domingos
13 Lourdes Garcia Brandão
14 Delba Avelar Menezes
15 José Marcos Rocha Morais
16 Rogério Munhoz Costa
17 Aparecida Luzia Teixeira Carneiro
18 Fernanda Pereira Gonçalves
19 Isabel Passos Eller
20 Ricardo Ramos Cruz
21 Jean Santos Otoni
22 João Alvânio Costa
23 Éder Fernandes Costa Lima
24 Graziella Aparecida Pousa
25 Wanderley Márcio Teixeira
26 Oswaldo Rodrigues França
27 Pedro Artur Alves da Silva
28 Cleusa Lúcia Oliveira Abrão
29 José de Ribamar Lima
30 Nair Albertini
31 Cláudio de Souza
32 Emídio Antônio de Souza
33 Rita de Cássia Silva Oliveira
34 André Luiz de Almeida
35 Rita de Cássia Pereira Souza
36 Jonas Vital da Silva
37 Sirlene Trindade Nogueira
38 Hermínio Neves de Jesus
39 Ednalva Amélia de Jesus
40 Andréia Patrícia de Souza

Fontes:
http://ribeiraodasneves.net/blogs/detalhe.php?id=184
http://site.anelca.com.br/
http://www.animeneves.com.br/anelca.htm

Ribeirão Preto – Capital Brasileira da Cultura 2010


Anualmente uma cidade brasileira é contemplada com o título de Capital Brasileira da Cultura. Até agora já receberam o título de Capital Brasileira da Cultura as cidades : Olinda (PE) 2006, São João Del Rei (MG) 2007, Caxias do Sul (RS) 2008, São Luís (MA) 2009 e Ribeirão Preto (SP) que será a CBC 2010.

Este projeto é promovido pela ONG CBC de São Paulo em parceria com o Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, SESC TV, Discovery Channel e a Quixote Art & Eventos de Curitiba, empresa que presta consultoria na execução e formatação dos projetos e ações associadas a este evento.

Concorreram ao título de Capital Brasileira da Cultura 2010 as cidades de Parati/RJ, Ribeirão Preto/SP, Bento Gonçalves/RS, Gramado/RS, Prado/MG, Itabira/MG, Senador Pompeu/CE e as paranaenses Campo Mourão, Lapa e Paranaguá. Joinville/SC, Petropolis/RJ e Rio Branco/AC.

Para merecer esta honraria, os jurados levarão em consideração a programação cultural do município, a infra-estrutura e os equipamentos culturais da cidade (museus, teatros, cinemas, etc) e a integração entre as ações do poder público e da comunidade, observando a existência de Conselhos Municipais de Cultura e outros mecanismos exigidos pelo Sistema Nacional de Cultura.

Além do apoio para o desenvolvimento de sua programação regular, a Capital Brasileira da Cultura receberá algumas atividades para auxiliar a qualificar e capacitar artistas e técnicos que atuem na produção cultural, bem como, a cidade vencedora contará com uma divulgação extra na mídia nacional e internacional: O canal Discovery Channel por exemplo, veiculará durante diariamente durante todo o ano de 2010, cinco inserções de 30 segundos de uma mensagem institucional sobre a Capital Brasileira da Cultura 2010, além de programas produzidos pela SESC TV de São Paulo, entre outras formas de ações promocionais.

Este ano, graças a parceria existente deste projeto com o Bureau Internacional de Capitais Culturais, a cidade de São Luís do Maranhão ganhou um espaço em Atenas/Grécia para divulgar os seus atrativos turísticos e culturais.

A Capital Brasileira da Cultura foi apresentada para 48 universidades da Europa

O Presidente do Bureau Internacional de Capitais Culturais (www.ibocc.org), Xavier Tudela, apresentou o projeto Capital Brasileira da Cultura na Conferencia Anual da Rede de Universidades das Capitais Européias da Cultura (University Network of the European Capitals of Culture – UNeECC). Essa organização agrupa 48 universidades que estão sediadas em cidades que já foram ou serão nomeadas capitais européias da cultura. Este ano a Conferencia realizou-se em Vilna (Lituânia), cidade que juntamente com Linz (Áustria) é a Capital Européia da Cultura 2009.

Além da Capital Brasileira da Cultura, Xavier Tudela apresentou também as outras iniciativas que estão sendo implementadas pelo Bureau desde o ano 1998, em diversas partes do mundo: Capital Americana da Cultura, Capital da Cultura Catalã, Capital da Cultura Espanhola , US Capital of Culture e outros projetos em andamento.

A Capital Brasileira da Cultura (www.capitalbrasileiradacultura.org), criada em 2003, tem como objetivo principal valorizar e promover a diversidade e o patrimônio cultural do Brasil, fomentando a utilização da cultura como ferramenta de desenvolvimento social e econômico. A Organização Capital Brasileira da Cultura que implementa o projeto no Brasil, faz parte do Bureau Internacional de Capitais Culturais, entidade com sede em Barcelona, que promove internacionalmente as cidades capitais culturais, estabelecendo novas pontes de cooperação com a Europa, continente que tem estabelecido as capitais culturais desde o ano 1985.

O projeto CBC conta com o apoio do Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, SESC SP e Discovery Networks Latin América / US Hispanic.

Fontes:
– Guata – Cultura em movimento.
http://www.guata.com.br/
http://www.capitalbrasileiradacultura.org/

Carlos Drummond de Andrade (Margarida)


A garota em êxtase brandiu o postal que recebera do namorado em excursão na Grécia :

- Coisa mais linda! Olha só o que ele escreveu: "Eu queria desfolhar teu coração como se ele fosse a mais margarida de todas as margaridas. "Marquinhos é genial, o senhor não acha?

- Pode ser que seja, não conheço Marquinhos. Se bem que antes da era Pierre Cardin, genial era Dante, Da Vinci, Einstein, outros assim. Mas essa frase não é de Marquinhos.

- Não é de Marquinhos?! Tá com a letra dele, assinada por ele.

- Estou vendo que assinou, mas é de Darío.

- Quem? O Darío, do Atlético Mineiro? Sem essa.

- Não minha florzinha, Darío, Rubén Darío, o poeta da Nicarágua.

- Não conheço. Então Rubén Darío falou para Marquinhos e Marquinhos

- Achou bacana e pediu emprestado a ele?

- Tenho a impressão que o Marquinhos não pediu nada emprestado a Rubén Darío. Tomou sem consultar.

- Como é que o senhor sabe?

- É muito difícil consultar o Darío.

- Por quê? Ele não dá bola para gente? Não gosta da mocidade? É careta?

- Não é nada disso. O Darío não é encontrado em parte alguma.

- Ah, ele gosta de bancar o invisível, né?

- Não creio que goste, mas é exatamente o caso dele: invisível.

- Não dá para entender.

- Vai entender logo. Ele morreu em 1916.

- Ah! E como é que o Marquinhos descobriu essa margarida, me conte!

- Simples. Leu num livro de poemas de Rubén Darío.

- Marquinhos não é ligado a leitura. Duvido.

- Se não leu no livro, leu em alguma revista, em alguma parte.

- Hã...

Ficou tão triste- os olhos, a boca, a testa franzida- que achei de meu dever confortá-la:

- Que importância tem isso? A frase é de Darío, é de Marquinhos, é de toda pessoa sensível, capaz de assimilar o coração à margarida... Desculpe: à margarida.

Muxoxo:

- Se é de todos, não é de ninguém, não vale nada.

- Pelo contrário. Fica valendo mais, torna-se sentimento universal.

- Ah, o senhor está por fora. Eu queria a margarida só para mim. Copiada não tem graça. A graça era imaginar Marquinhos, muito sério, desfolhando meu coração transformado em margarida, para saber se eu gosto dele, um pouquinho, bastante, muito loucamente, nada. E a margarida sempre com uma pétala escondida por baixo da outra, entende? Para ele não ter certeza, porque essa certeza eu não dava... Era gozado.

- Continue imaginando.

- Agora não dá pé. Marquinhos roubou a margarida, quis dar uma de poeta. Não colou.

- Espere um pouco. Eu disse que a margarida era de Rubén Darío? Esta cabeça! Esquece, minha filha. Agora me lembro que Rubén Darío nem podia ouvir falar em margarita, começava a espirrar, a tossir, ficava sufocado, uma coisa horrível. Alergia- que no tempo dele ainda não estava batizada. Pois é. Garanto a você, posso jurar que a margarida não é de Darío.

- De quem é então?

- De Marquinhos, ué.

- Tem certeza que nunca ninguém antes de Marquinhos escreveu ä mais margarida de todas as margaridas"? o senhor lê milhões, pode me responder. Tem certeza?

- Absoluta. Marquinhos é genial, reconheço. Mas, por via das dúvidas, continue escondendo uma pétala de reserva, sim?

- Pode deixar por minha conta. Puxa, quase que eu parava de transar com o Marquinhos por causa do senhor. Agora tá legal, tchau, vovô!

Vovô: foi assim que ela me agradeceu a mentira generosa, a bandida.

Fonte:
Imagem =
http://imotion.com.br

Epidemia de Poesia! Em Foz de Iguaçu


Uma poesia vai te pegar!

Uma epidemia está ganhando as ruas de Foz do Iguaçu. Lentamente, ela vai tomando conta do espírito e do imaginário das pessoas, fazendo brotar a sensibilidade e o sentimento de liberdade que a linguagem poética carrega. Trata-se da “Epidemia de Poesia”, iniciativa da Associação Guatá para disseminar a poesia em espaços e lugares jamais imaginados.

E quando se fala em fazer brotar poesia, não se recorre a nenhum trocadilho ou figura de linguagem. A intenção é que a poesia germine, cresça e floresça. Isso mesmo! É que a associação iguaçuense está distribuindo poemas impressos em papel semente. Depois de lido e apreciado, o material deve ser cultivado, com todo o cuidado que uma planta exige, para que o poema se transforme em uma flor ou arbusto, dependendo da sorte do leitor. A impressão é feita com tinta biodegradável, conforme recomendam as boas dicas de sustentabilidade socioambiental. Através da “Epidemia de Poesia”, a Guatá também está comercializando camisetas promocionais, com estampas poéticas, além de disseminar adesivos com poemas em vários locais de circulação pública de pessoas.

A intenção é colocar a poesia em movimento, fazê-la circular, surpreendendo as pessoas, que normalmente não esperam deparar-se com literatura em lugares inusitados. Todo o esforço é para popularizar a leitura do poema, demonstrando que tudo pode virar poesia. Além disso, também se abre a possibilidade para que os chamados “poetas de gavetas” - que escrevem, mas não mostram o material a ninguém - possam compartilhar as suas obras com outros leitores e escritores da cidade.

Para adquirir algum dos materiais que integram a “Epidemia de Poesia”, basta entrar em contato com a Guatá, através do e-mail guata@guata.com.br e pedir seu kit completo. Clique em http://www.guata.com.br/contatos/index.htm

Fonte:
http://www.guata.com.br

Jerônimo Mendes (História da Poesia Universal – Breve Relato ) Parte IV


3. A HISTÓRIA ATRAVÉS DA POESIA

A poesia sempre foi companheira da história da humanidade, pelo menos é o que pude perceber estudando os mais diferentes autores, antigos e atuais. Todos os feitos históricos, narrados em epopéias, sátiras, fábulas, epigramas, odes ou elegias, eram frutos de algum acontecimento associado ao cotidiano das pessoas ou à saga de um povo e seus governantes. A história também pode ser considerada o registro e interpretação de eventos do passado. Começou com a recontagem de lendas transmitidas pela tradição oral: as narrativas épicas de Homero foram as expressões poéticas da história oral, enquanto no período clássico da Grécia Antiga, Heródoto, Tucídides, Sófocles e Ésquilo entre outros escreveram narrativas da história de seu tempo.

Em capítulo anterior, quando descrevi algumas informações sobre os primeiros poetas, notei que os poemas, a exemplo da Ilíada de Homero, independente do lirismo e da extensão do texto, e na qualidade de mais antigos registros literários remanescentes, relatam detalhes de todos os acontecimentos possíveis da época ajudando a reconstruir a antiga história da Grécia fornecendo muitas evidências incidentais.

Emerson, em Ensaios (1994 : 15), associa história à poesia em cada parágrafo, frase ou capítulo, fazendo menções aos acontecimentos e referindo-se ao fato da poesia estar sempre presente nos principais acontecimentos dos povos e ao longo dos tempos:

O Jardim do Éden, o sol imóvel sobre Gibeão são poesia, desde então, para todas as Nações . A história universal, os poetas, os romancistas, mesmo em seus quadros mais faustosos - nos palácios sacerdotais e imperiais, nos triunfos da vontade ou do gênio - em nenhum lugar deixam de ter ressonância em nosso ouvido, em nenhum lugar nos fazem sentir que somos intrusos, que aquilo é para homens melhores; pelo contrário, é verdade que em suas pinceladas mais grandiosas sentimo-nos o mais à vontade possível. Tudo o que Shakespeare diz do rei, aquele garoto magricela que lê em um canto sente ser verdadeiro em relação a si mesmo. Nos compartilhamos dos sentimentos que despertam os grandes momentos da história, as grandes descobertas, as grandes resistências, as grandes prosperidades dos homens - pois ali a lei foi promulgada, o mar foi esquadrinhado, a terra foi descoberta ou rajada de vento soprou a nosso favor, do mesmo como, naquele lugar, teríamos feito ou aplaudido, e nada escapou à poesia, tudo se registrou através dela ” .

Através de poemas, muitos fatos chegaram ao nosso conhecimento. Ilíada e Odisséia, poemas épicos de Homero, conforme citado anteriormente, relatam muito bem todos os costumes e preocupações dos governantes da Grécia antiga com uma riqueza de detalhes jamais conseguida pelos registros oficiais da história.

Além de Homero e outros importantes poetas da antigüidade, muitos outros foram surgindo ao longo da história e cada um foi incorporando à sua maneira a verdade dos fatos em forma de poesia. A literatura latina teve início tardio, no final do século III a.C., com as peças de Plauto e, pouco depois, de Terêncio, ambos seguidores do modelo tradicional e comédia dos gregos.

Na época do nascimento do imperador Augusto, porém, os poetas romanos já haviam adquirido impulso próprio. Costumavam utilizar pessoas reais como personagens de suas obras. Por exemplo, Lésbia, a quem Catulo (Considerado o maior lírico da poesia latina ) se dirigia em seus elegantes poemas de amor e desilusão era, na verdade, uma dama chamada Clódia, ao que consta, casada com um cônsul.

E não havia dúvidas de que Júlio César e seu Chefe do Estado-Maior eram o alvo das farpas de Catulo: “ ambos adúlteros, igualmente ávidos, parceiros na competição pelas mocinhas da cidade ” . César tinha espírito esportivo : depois de exigir e receber desculpas, convidou o poeta para jantar.

Mas foi Augusto quem ofereceu patrimônio oficial inestimável aos escritores do seu tempo. Para assessorá-lo, recorria ao rico Caio Mecenas, um de seus amigos mais velhos e íntimos, que exercia o papel de caçador de talentos. Mecenas trouxe para o círculo imperial homens brilhantes de vários níveis da sociedade romana. Os poetas Ovídio (Mestre da poesia erótica, um dos primeiros poetas latinos) e Propércio (Poeta latino, amigo de Ovídio e admirador de Catulo, famoso por suas elegias) eram cavalheiros, o historiador Tito Lívio (Orador, estadista e historiador romano no início do Seculo I a.C.) vinha de uma família da Gália Cisalpina, o grande poeta Virgílio era filho de um pequeno agricultor e Horácio (Poeta latino da mesma época de Virgílio e Catulo) nascera numa família de libertos. E juntos descrevam minuciosamente os grandes acontecimentos do império.

Os primeiros poemas líricos de Horácio, Epodos, seguem a tradição de Arquíloco. Os quatro volumes de Odes são ainda mais notáveis - escritas em versos que mostram da melhor maneira a concisão latina, abrangem grande variedade de assuntos, com predomínio do amor, da política, da filosofia, da poesia e da amizade na época.

Segundo a Bíblia, o povo de Israel superou na lírica todos os outros povos. Cantou desde Moisés até Cristo. Os Salmos, por exemplo, são hinos sagrados por meio dos quais o povo de Deus costumava louvar o Altíssimo, implorar a sua misericórdia, agradar os benefícios recebidos e recordar os prodígios de sua paternal providência em torno de Israel. Foram compostos por vários escritores sagrados, sendo Davi (Segundo Rei de Israel, governante da tribo de Judá, famoso por derrotar o gigante Golias) o autor de sua maior parte.

Eram denominados Salmos por serem cantados ao som de um instrumento que os gregos denominavam Saltério. Dividiam-se em cinco livros e atualmente acham-se reunidos num único livro.

A coleção dos Salmos (Conjunto de hinos sagrados do Antigo Testamento Bíblico) não têm uma ordem especial; todas as cinco divisões foram indiscriminadamente organizadas por cada colecionador com os salmos que lhe vinham às mãos. Pertencem esses hinos a todos os gêneros da lírica hebraica : são hinos, ações de graças, orações, pias meditações, poemas históricos, didáticos, penitenciais. Tornaram-se célebres os salmos messiânicos, isto é, aqueles que tratam da vinda do Messias, Cristo; realmente, são considerados como grandes profecias.

Segundo os historiadores, tudo leva a crer que os Salmos tenham sido escritos em forma de versos e graças à doxologia, ciência que estuda o culto à glória e aos deuses, conseguimos entender a sua disposição e perfeita combinação das palavras para facilitar o acompanhamento de instrumento e música.

Outro poeta de grande importância para a história da humanidade foi Camões. Sua Ode XI, publicada na edição dos “ Colóquios dos Símplices e Drogas da Índia ”, relata sua viagem de regresso à pátria e suas andanças pela Índia e pela China, a qual, inclusive, foi financiada pelos amigos. Praticamente tudo que existe hoje sobre a vida de Camões é resultado das analogias feitas por especialistas na obra do poeta, pois a precariedade dos registros históricos não nos permite conhecê-lo de outra forma senão interpretando seus poemas.

Em 1571, um ano depois que Camões desembarcou em solo português, após 17 anos de exílio na Índia por ter agredido o rei de Portugal, de vida penosa, agitada e dificílima nas terras do Oriente, o poeta obtém, através de amigos influentes, a permissão e o alvará régio para a publicação de Os Lusíadas.

De Camões, em verdade, pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu, morreu mais pobre ainda. Em sua poesia, e sobretudo nas poucas cartas que indubitavelmente são dele, pode-se ler que, como português, incorporou na alma toda a nossa condição : pobreza, vagabundagem, cadeia, sofrimento, paixão, insatisfação com os governantes de sua época.

Erros, má fortuna e amor ardente se conjugaram para fazer daquele alto espírito do maneirismo europeu uma das figuras mais desgraçadas da viasacra nacional. Quando foi preso em Goa, ilha sob domínio português, a nau 1 em que viajava naufragou e ele teve de nadar até as margens do Rio Mekong para salvar os manuscritos de Os Lusíadas, obra então quase finalizada. O importante da obra de Camões é ressaltar que o poeta foi capaz de enaltecer a história e, apesar de ter morrido na miséria, confunde-se com a própria história através dos tempos.

Não há estudioso capaz de falar em poesia ou literatura portuguesa sem lembrar de Os Lusíadas, clássico da poesia que já nem pertence mais ao poeta e sim à humanidade, digno de respeito, consideração e estudo. Camões viu a história, narrou-a e tornou-se história, inegavelmente, através de sua obra e de todo o sofrimento que acumulou em vida, como poeta, náufrago e exilado. Um pouco do pensamento do poeta pode ser analisado no poema abaixo:

A DITOSA PÁTRIA

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpo mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se essa luz ali comigo.

José de Anchieta, nosso primeiro poeta nacionalista veio para o Brasil em 1553, com a Companhia de Jesus, na comitiva de Duarte da Costa. Durante o período de colonização, sua missão principal foi a de catequizar os índios e ser professor nos primeiros colégios destinados aos filhos de portugueses que aqui chegaram, fidalgos, em primeira instância. Estudiosos e pesquisadores o definem como iniciador da nossa poesia, independente de ter vindo de Portugal e de ter nascido na Espanha, pois aqui viveu na época de transição histórica, a chamada fase lingüista do português.

Alguns estudos críticos de Anchieta, a participação na formação histórica do país foi de tal maneira intensa e fecunda que seus historiadores ou mesmo seus biógrafos quase sempre se esquecem que ao lado do homem de ação lúcida, de colonizador obstinado, coexistia um escritor sensível. Toda a obra literária de Anchieta está ligada à realidade brasileira da época do descobrimento. Escreveu dois grandes poemas, um dedicado à Virgem Maria e outro aos feitos de Mém de Sá, em 4 línguas : o próprio latim, o espanhol, o português e a chamada língua geral baseada no dialeto dos Tupinambás 3, ou língua mais falada na costa do Brasil, ao seu tempo.

Seus escritos foram classificados em cartas, fragmentos históricos, sermões, poesia lírica e autos de catequese, os últimos colhidos nos próprios costumes ou cerimônias indígenas. Os originais do chamado caderno Anchieta, com 208 folhas, encontram-se nos arquivos da Companhia de Jesus, em Roma. Ao que tudo indica, essas páginas escritas por Anchieta o acompanharam ao longo de sua vida no Brasil até os últimos momentos e estão recheadas de acontecimentos históricos do período em que os primeiros habitantes do Brasil tiveram o imenso gosto de companhia e puderam testemunhar a coragem do evangelizador e poeta em solo brasileiro.

No período Romântico brasileiro, encontramos um número sem fim de poemas e poetas a descreverem todo tipo de ação feito do seu respectivo tempo. Gonçalves de Magalhães narra Napoleão em Waterloo de maneira brilhante, algo escrito com riqueza de detalhes ou mesmo de imaginação digna de quem devorou por inteiro e absorveu todo conhecimento histórico daquela fatídica batalha em que grande imperador francês foi derrotado.

Alguns poemas monumentais não devem ser esquecidos jamais pela humanidade e, principalmente, pelos brasileiros. São poemas que relatam uma época sem precedentes, de transformação e muitas injustiças, onde os poetas escancaram toda verdade não adquirida pela simples leitura de livros escolares. I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias; Os Jesuítas e Navio Negreiro, de Castro Alves; Pedro Ivo, de Álvares de Azevedo; Morte e Vida Severina e o Auto do Frade, de João Cabral de Melo Neto; Natureza Intima e Lamento da Coisas, de Augusto dos Anjos e os Estatutos do Homem, de Thiago de Mello.

Há nos poemas todo um mistério irrefutável e intimamente ligado à história, não somente pela verdade poética do seu conteúdo, mas também pelo fato de não distorcerem os acontecimentos e ampliarem o nível de conhecimento tão limitado pelo registro histórico e pelo conhecimento do homem.

Wystan Hugh Auden, poeta inglês nascido no início do século, era o nome de um santo do século IX por quem o pai do poeta tinha particular afeição. Médico, Dr. George Auden dedicava-se também aos estudos arqueológicos, históricos e clássicos, tendo passado um pouco desses gostos ao filho caçula. Segundo José Paulo Paes (1986:7), em sua introdução quase didática sobre a Vida e Poética de W.H.Auden, enquanto poeta, ele é uma das mais convincentes ilustrações daquilo que os críticos costumar chamar de falácia biográfica , ou seja, o equívoco de querer explicar as particularidades da obra de um escritor pelos acontecimentos de sua vida civil. Na sua poesia, o pendor para a generalização leva de vencida a preocupação com o particular, o crítico obnubila o sentimental, e os poemas, em vez de estarem voltados para o registro de incidentes da vida do poeta ou de traços de sua personalidade, interessam-se antes pelo sucesso e pelas idéias mais candentes que foi dado a ele viver.

Em Valência, onde chegou em janeiro de 1937, não foi ser soldado nem motorista de ambulância como pretendia; puseram-no na propaganda pelo rádio. De volta à Inglaterra, escreveu um poema sobre a Guerra Civil Espanhola denominado Espanha, no qual oferece à história um série de acontecimentos da época e, mais tarde, numa declaração pública contentou-se em dizer, laconicamente, que apoiara o governo republicano espanhol “ porque a sua derrota pelas forças do fascismo internacional seria um grande desastre para a Europa”.

Em janeiro de 1938, viajou ao Oriente onde ele e outro colega foram fazer a cobertura da guerra sino-japonesa para um livro encomendado pela editora americana Randon House. Passaram três meses na China e alguns dias no Japão. Essa excursão inspirou Auden, em cuja obra há vários poemas sobre lugares, “ Uma Viagem “, em que, além da peça de abertura, em versos livres, acerca do seu desencanto com a utopia do bom lugar, inclui sonetos ferinos sobre o Egito, Hong-Kong e Macau.

A desilusão política de Auden é retratada em diversos poemas seus e quase todos o poeta faz um balanço de influências intelectuais, religiosas e políticas que sofreu :

Mas de súbito e sem aviso,
despencou toda a Economia:
para instruir-me havia Bretch.
Por fim, coisas pavorosas,
que Hitler e Stalin faziam
trouxeram-me Deus à mente.
Como estava certo do erro ?
Por Kierkegaard, Wiliam e Lewis
fui à fé reconduzido.

Ao citar Auden tentamos traçar um paralelo entre a vocação do poeta e a importância histórica do seu trabalho transformado em poesia onde, claramente constatado em seus escritos, há dados inequívocos da sua excepcional facilidade em avaliar os acontecimentos e registrá-los com riqueza de detalhes.

Poetas como Auden, Milton, Valery, Apollinaire e Heine são a própria história da humanidade. Através deles os estudiosos contemplam as verdades e mentiras de seu tempo e dificilmente podemos encarar qualquer poema ou mesmo texto em prosa que não haja um mínimo de verdade absoluta. A história está para a poesia e a poesia está para a história, são inseparáveis e nada pode desfazer esta junção. Seja por Homero, Horácio, Sófocles ou mesmo por Shakespeare, a história sempre chegou com detalhes embora as dúvidas sejam muitas pela fragmentação da obra de muitos poetas.

Fonte:
Monografia feita pelo autor em Curitiba / PR , março de 2001

domingo, 20 de dezembro de 2009

Trova XC - Maria Nascimento (Rio de Janeiro/RJ)

Montagem da trova sobre imagem obtida na internet em http://sergeicartoons.blogs.sapo.pt

Exercicio Poético (Viagem)


Se tola eu fosse como o viajante
que permanece em casa, asas cortadas,
não saberia aproveitar o instante
das emoções sem par dessas estradas...

Não fico, pois, parada por mais tempo
porque prefiro acompanhar o vento
que me transporta para outras jornadas.
(Llisieux - BH)

Sou viajante pela vida,
essa vida. às vezes agradável,
às vezes inexorável.
Essa viagem sempre nos prega peças
para testar nossa resistência...
Quando nos golpeia,
como custa levantar...
(Marla Otto)

Viajante no mundo do sonho
minha timidez eu transponho
revelando o meu sentimento
entrego-me a ti... sem pudor
amando-te com tanto ardor
é o meu sonho do momento.
(Sueli do Espírito Santo)

Sou viajante do infinito
Das noites longas e da lua
Em altas ondas eu transito
Rastreio o mar que me cultua.
Sou viajante das estrelas
Ainda que não possa vê-las
A sua marca em mim tatua!
(Milla Pereira)

Como viajante solitário vivo esta vida a caminhar
Em tropeços e passos errantes procurando sempre acertar
Mudando alguns caminhos por onde devo passar
Tortuosos todos são pra onde irão me levar
Troncos no meio da estrada me fazem as vezes parar
Nada me impede no entanto por sobre eles pular
Viajante sua estrada é longa não convém descansar
(Maria Lopes)

Londres, Paris, Madrí
São velhas recordações
Destas que muito vi
Sentindo diferentes emoções
Até ver as obras de Gaudi
Mas eis que não deu outra
Na verdade só procuro ver a ti Sabe lá...esqueci
(Lea Peres Day)

Viajo em trilhas
Percorro milhas
Caminho aos prantos
Suando tanto
Sempre me perco
Sempre me espanto
Por não chegar
(Cícero Christófaro)

uma longa estrada
tantas, tantas voltas
que as ondas não contornam
a poesia distante aporta
fica ancora
e a nave
não mais retorna.
(Maria Thereza Neves)

De corpo e alma viajante,
Um e outra, o de antes,
Buscado, encontrado, perdido...
Volta em outro modelo agora
Sem material comprovante.
Débitos, créditos, vestigios antigos,
Na vida, uma luz itinerante.
(Lourdinha Biagioni)

Viajante aquele que em meu corpo viaja,
Procurando portos para ancorar seu carinho,
Que me encontra cansada de viagens frustradas,
Viajante aquele que em meu corpo descansa,
Das muitas viagens que alguma vez fez seu carinho,
Que me descobre qual terra inexplorada,
E de tanto me buscar, me torna amada...
(Patricia Andrea)

Percorrendo estradas, muito vi!
Riachos límpidos... já secaram...
Canaviais verdes... já queimaram...
Ribação não voa... calou o bem-te-vi!

Pombo-correio não mais é viajante...
Sangra de dor, passarinho cantador.
E a poesia, cantata... explode, arfante!!!
(Luciene Passos Pires)

Sou um eterno viajante
A vagar de modo errante
Por um transplante

Não para meu semblante
mas um coração galopante
renascendo de forma saltitante
esquecendo seu amor distante
(Carlos Senna)

Corajoso, aventureiro, curioso, proseador...
Tem facilidade de fazer amigos
E é sempre recebido com bom humor nas suas andanças...
Aprende com a vivência
O muito de solidariedade:
Costumes, problemas econômicos e sociais
Das regiões por ele visitadas!
(Luiza Benício)

Desejado e esperado por todas as pequenas cidades.
Se domingo, até a missa terminava muito antes de acabar.
Todos corriam a ter seu lugar primeiro
Junto àquele que trazia tantos sonhos e fantasias.
Tecidos e perfumes, chapéus e charutos, carrinhos e bonecas.
Valores em réis, negócios da China, olhares e desejos.
Assim percorria por entre amores e estradas, o caixeiro viajante.
(Jaak Bosmans)

Hoje eu não saí de casa; passei o dia viajando.
Peguei carona na Terra, viajante em torno do Sol.
Logo ele, canalha que de dia me rouba as estrelas!
Tudo bem, à noite elas virão. E trarão a Lua, de brinde.
O vento passou por mim, trazendo cheiros.
MIl gentes passaram também, sem tempo de curtir a viagem.
Li um livro. Fiz um poema. Viajei também em mim.
(Alberto Saraiva)

Da vida, sou viajante
e vou percorrendo caminhos,
alguns são bem verdejantes
e outros, cobertos de espinhos.
Mas, como sou mensageiro
da paz, da verdade e do amor,
vou transformando os espinhos em flor!
Socorrinha Castro ( Florzinha )

O viajante
eterno andante
sincero amante...

Longa caminhada
chega a alvorada
diante de sua amada...

Esta é a magia que pulsa constantemente no universo!...
(Vera Hellena)

Sigo o caminho da estrela brilhante,
Só ela me levará a Jesus.
Num mundo de sonhos sou viajante.
Meu coração, tocado pela luz,
Deixa o tempo maléfico para trás,
Entre cantos de glória se refaz
E abre-se para uma vida de paz.
(Mardilê Friedrich Fabre)

Olha do tempo o sarcasmo
a esculpir as partidas
de crianças mal-chegadas
velhos de mansas idas.
O vento queda-se pasmo
não sobra sequer história
um rastro esgarçado , memória.
(Elane Tomich)

chegar de viagem
entrar sem vacilo pela porta da frente
deitar a bagagem na sala
percorrer a casa cômodo por cômodo
de canto a canto e concluir
aqui é o paraíso
(Líria Porto)

O vento soprou viajante e nele peguei carona...
A viagem custa algumas saudades mas compensa...
Visitei lembranças passadas por ele arrastada...
Vi aquela menina travessa e muito feliz....
Voltei viajada, menos apressada...
Mas o malvado sofreu uma calmaria...
Quando voltar para me pegar, estarei crescida?
(Marília Bechara)

Sai de casa rumo à esperança
Desejando encontrar a felicidade
Assim, mundo afora sigo em frente.
Não sei o que encontrarei... não sei!
Em meus olhos existe vida e meu pensamento
tem fome do novo. Por isso a viagem... a mudança.
Não percebi, mas o que deixei me chama de volta.
(Meg Klopper)

Viajante. Viaj(o) ante(s)
Por ar, por terra e por mar.
Sonho, poesia, pensamento
“Pré visão”. Revisão. Previsão.
Memorizo paraíso
Intuição. Em ti ação.
Impreciso o viajar.
(Marinez Stringheta / Mara poeta)

Sou viajante na vida
entre as matas vagando
pelos mistérios escondidos...
Alma, mundo desconhecido
descubro e vou aprendendo
minh'alma alma desbravando ...
Vida, uma eterna viagem...
(Itana Goulart)

Viajo através de meus sonhos.
A dádiva de viver me encanta.
Disfarço sempre meu olhar tristonho,
para dar lugar à alegria que se agiganta...

Às vezes, porém, ando errante,
procurando minha essência de forma constante...
Sinto-me, nesta vida, uma eterna viajante...
(Neusa Maria Travi Madsen)

Sou aquele viajante solitário
que um dia na tua Pousada chegou
comida recebeu, pediu onde dormir,
e aos poucos perdidamente de Ti se enamorou...
Coisas do destino: só ele amou!
(Sicouza)

Ando pelo mundo a fora
Na esperança de encontrar
O sonho que se perdeu
E o desejo de voltar
Mas pra que eu voltaria?
Se não tenho mais ninguém
Só o mundo e a poesia
(Jane Rossi)

e lá vai o viajante bem distante estrada afora
vendendo quinquilharias, para longe indo embora
alardeando alegria, paz e amor a toda hora
vendendo esperança no ontem, no amanhã e no agora
e lá vai o viajante bem distante estrada afora
sorriso belo, aprumo no vestir, as mãos de fora
só descansará ao vender tudo... até o romper de nova aurora
(Wilson de Jesus Costa)

Havia uma estrela a me guiar
Viajando por este mundo afora
Queria mudar o planeta terra
Senti que só Deus tinha este poder
O viajante e eu a seguir a estrela
Terras e terras nenhuma igual a Salvador-Bahia
Daqui mando meu abraço para o povo do Brasil.
(Varenka de Fátima)

Viajante soberano
No dia e noite
Cansaço vespertino
Uma causa, um meio de vida
Cada hora, cada passo
Ultrapassando época
Chegando onde quer chegar.
(J.Hilton)

Nesta estrada de caminhos intrincados
Procuro seguir rompendo barreiras,
Mas sem atropelar ninguém.
É por ela que temos que andar
Escolher bem, não se arepender!
Espaço e Tempo profundamente a se mesclar,
Ser mais um Viajante que vai-e-vem ...
(Nídia Vargas Potsch)

Fonte:
Varal 1 – edição 417 – ano 9 – viajante. Enviado por email

Antonio Brás Constante (Humor, Terror e Salvação em um Conto de Natal)


A cena continha vários detalhes que lembravam o Natal, ainda que não houvesse renas por ali. Havia um pinheiro enorme, pisca-piscas, quase todos os tipos de bebidas, um cheiro diferente no ar... (que não era causado pelas renas, pois elas realmente não existiam por ali)

O que mudava o contexto natalino era que o pinheiro serviu para parar o carro que tinha vindo desgovernado e em alta velocidade na sua direção. Os pisca-piscas, não passavam de sinalizações indicando que aquela estrada estava em obras. As várias bebidas estavam todas armazenadas no corpo do sujeito desmaiado e ensangüentado que jazia abraçado ao volante e, por fim, o cheiro no ar era de gasolina (eu falei que não eram as renas), que saia do tanque perfurado do veículo. O liquido inflamável escorria e deslizava pela terra, chegando cada vez mais perto de um principio de incêndio, localizado na dianteira do automóvel, iniciado devido ao impacto.

Mas havia algo mais. Algo que estava ocorrendo na mente do motorista embriagado. Era ali que estava para ocorrer à verdadeira história de Natal. Quem olhasse de longe para as ferragens retorcidas, não poderia imaginar que naquele momento, um homem estivesse encontrando seu destino de forma tão surreal.

Kaio das Pontes era seu nome, um nome que passou bem perto de ser gravado em uma lápide fria, visto que ele poderia ter morrido em decorrência da brutal batida na qual foi algoz e vítima. Se bem que sua situação ainda era delicada, pois tinha quebrado vários ossos, e perdido muito sangue. Mas, o pior é que seu carro poderia explodir a qualquer momento.

O lugar estava deserto e desolado, nenhum sinal de vida, nem sequer uma placa indicando algum Fast-food de beira de estrada. Em meio ao quase silêncio (ouvia-se apenas alguns ruídos típicos de florestas) uma luz começou a brilhar, próxima ao pára-brisa quebrado (deixando a cena do acidente mais iluminada, porém, ainda silenciosa).

A partir do aparecimento da estranha luz, tudo que estava em volta do veículo congelou. As folhas pararam de se mover, o vento parou de soprar e mesmo os ruídos florestais ao seu redor cessaram. A luminosidade tomou forma, e tal qual o conto de Natal: "Os fantasmas de Scrooge", Kaio também passou a receber a visita de três espíritos (anjos ou demônios, dependendo da crença de cada um). Um para mostrar-lhe o passado, outro o presente e um último apresentando seu futuro.

O primeiro fantasma apareceu na figura de um cachorro vestido de garçom, e que urinou no rosto do moribundo para acordá-lo. Ao perceber o que aquela criatura peluda tinha feito, Kaio começou a praguejar, mas parou ao levar uma mordida na perna. O cão falava, não com palavras, mas com pensamentos, e fedia, como fedia, exalando um odor insuportável de cachorro molhado.

Kaio já não estava mais em seu carro, mas de volta ao seu próprio passado. Ele passou a relembrar de todas as situações que o levaram a beber, as festas, as alegrias e tristezas sempre comemoradas ou esquecidas com álcool.

Ao ver a si próprio naquele passado, começou a perceber o quanto se tornara dependente daquele vício maldito. Mas era tão bom o torpor que a bebida lhe trazia. Era como um elixir que lhe curava todos os seus males. Algo que lhe dava coragem e afugentava a dor e as lembranças amargas de sua vida.

O cão percorreu com ele a trilha tortuosa dos primeiros passos do alcoólatra, e do grande problema nesta unificação entre Homem e bebida, em que nós seres humanos somos péssimos vasilhames, e onde até mesmo os uísques importados viram urina quando estocados em nosso organismo. Pois na grande maioria das vezes que o ser humano resolve bancar o porta-álcool, acaba estragando seu convívio social e até mesmo a sua própria vida, já que de gole em gole tornamos a vida um porre.

O cachorro também lhe mostrou, enquanto abanava a cauda, que mesmo sendo um viciado nos prazeres e desprazeres da bebida, Kaio ainda havia conseguido um emprego razoável e uma família com esposa e filhos. Por fim o cão trouxe-lhe de volta ao seu carro acidentado.

O homem baixou a cabeça, mas antes que pudesse se recobrar de seu estado deprimente apareceu o segundo fantasma. Ele veio na forma de uma gigantesca lagosta com roupas de bailarina (o balé era o sonho de carreira que sua esposa largou para se dedicar ao marido e aos filhos). Lembrando da mordida do primeiro anjo, Kaio (que adorava lagostas) achou melhor não esboçar qualquer reação diante daquela figura estranha que lhe puxou para fora do carro com um beliscão no braço, levando-o diretamente aos acontecimentos que causaram seu acidente.

Ele viu seu dia recomeçar, sempre no bar. Seu corpo mole do trago chegando novamente atrasado ao serviço e desta vez sendo demitido. Ao voltar para casa, reviveu a briga com sua mulher, mais uma entre várias que já se passaram, com um agravante, desta vez houve agressão física com troca de tapas e socos. Ele ouviu novamente o choro de seus pequenos filhos, que por estarem chorando também apanharam. Tudo tão real, tão vergonhoso. Por fim acompanhou sua esposa saindo de casa, levando algumas malas e seus dois filhos, um no colo e outro pela mão.

Kaio poderia ter ido atrás dela, ter lhe pedido desculpas pelas besteiras que fez, implorando que ficasse. Ele poderia ter dito que a amava e que amava seus filhos. Mas preferiu encontrar o conforto de uma garrafa. Bebeu toda que encontrou, até ser expulso do bar. Saiu de lá cambaleando e pegou seu carro.

Veio pela estrada quase em coma alcoólico até perder a direção e bater contra aquele velho pinheiro. Agora estava ali, relembrando todos os seus erros. Estava novamente estropiado e ensangüentado dentro do carro. Seus olhos mareados de lágrimas. A dor do corpo tornara-se menor que a sofrida por sua alma destruída pela bebida e estraçalhada pelas lembranças. O que viria a seguir? Uma rena vestida de Papai Noel?

Então chegou o terceiro fantasma. Uma pomba, nua como qualquer pomba que possa existir, mesmo sendo uma pomba fantasma. Ela mostrou a ele que sua morte traria tristeza para a família, mas também traria alívio. O rosto de sua esposa já não era cheio de medo dos ataques de fúria do marido. Seus filhinhos passaram a dormir melhor, sem acordarem chorando no meio da noite, apavorados com aquele monstro cheirando a cachaça, que gritava enquanto ia quebrando tudo que encontrava pela casa.

A pomba também mostrou o que aconteceria se Kaio sobrevivesse. Ela Mostrou-lhe vários futuros, em alguns deles ele voltava para a bebida, porém, em outros conseguia superar o vício. A escolha devia ser feita. Viver ou morrer. Lutar ou se deixar vencer.

O homem estava totalmente transtornado, seu rosto molhado de lágrimas e sujo de sangue, fedendo a urina de cachorro. A vontade de viver parecia ter se apagado junto com as últimas imagens. Kaio largou o peso do corpo sobre banco e se entregou ao destino. Era tão fácil desistir, abraçar a morte, não ter que enfrentar a vergonha, ou mesmo lutar para mudar a própria vida.

Finalmente o fogo alcançou a gasolina. Naquele fatídico momento, o clamor de seu coração por uma nova chance falou mais alto. Apesar de tudo queria viver. Não podia terminar assim, não como um churrasquinho humano, não agora que tinha visto sua vida sobre uma nova ótica, e que poderia mudá-la, por mais difícil que fosse. No entanto, suas preces não pareciam ter surtido qualquer efeito, pois o mundo a sua volta explodiu. A última coisa que viu foi à imagem da pomba voando...

Tudo estava escuro e sereno. Após uma verdadeira eternidade de trevas, seus olhos emergiram para uma luz, cegante e intensa. Aos poucos começou a ouvir murmúrios e sons irreconhecíveis. A consciência foi voltando ao corpo. Estava em um hospital. Milagrosamente sobreviveu. A explosão o havia lançado para longe do carro e atraído uma viatura da polícia. Estava consciente de que recebera o melhor presente de todos: A vida, juntamente com uma nova chance de ser feliz. A partir dali só dependeria dele. PRELÚDIO: ao olhar pela janela Kaio pode perceber, ao longe, uma rena vestida de Papai Noel...

Fontes:
– Colaboração do autor.
– Imagem = http://animatoons.com.br

Delasnieve Daspet (Album de Poesias Poetas del Mundo)


MELANCOLIA...

Sentada à janela,
Livro nas mãos,
Folha a folha virava.
Em voz alta, lia.

Páginas e páginas à minha frente,
Sem prestar qualquer atenção,
As palavras surgiam como sombras!
Não entendia nada...

Buscava nem ouvir o som,
Perdendo-me na saudade...
A lembrança embarga minha voz,

Lágrimas amargas de fel
Acentuam a melancolia
De mais um dia.
=================

BONECOS DE PANO

Eis-me, de novo, matutando sobre a vida...
Vejo tanta banalidade:
Se desdobram para ver qual o pior,
O governo, políticos, povo, sociedade.

De repente é como se nada valesse a pena.
Questiono se a própria vida
Vale algo?
São tantos os desmandos que
Acho que nada vale absolutamente nada!

O homem estendido no chão, ensangüentado,
a árvore cortada pela raiz,
dobrados em si,
como bonecos de pano,
me dá a exata noção da nossa precariedade!

Uma bala perdida;
Um carro desgovernado;
Adolescentes bêbados;
Governo sem rota, sem prumo;
Ladrões saindo pela ladrão...
Corram.... a policia vem chegando!

Fatos assim
Nos mostram no dia a dia
A nossa não serventia.

E como bonecos de pano,
somos jogados, ceifados,
quando alguém supõe que já não servimos.

A nossa revelia nascemos.
Não temos escolha.
Num momento supremos somos gerados,
crescemos e morremos como árvores
que tombam cortadas, jogadas, queimadas.

Eis-nos no limbo, ao léu.
No céu aberto em exíguo espaço
Reclamando nossos momentos tão curtos,
Que acabam em espasmos,
No surdo barulho da morte...

Descartados sem o menor cuidado,
Sem piedade,
Sem ninguém,
Amassado, amorfo...
Morto - já não vota nem escolhe,
Pobre humano!
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PARA UM VIOLÃO

Jaz na parede, encostado,
aquele que foi testemunha
Dos meus loucos amores juvenis,
dos meus dissabores, de minhas desilusões,
dos meus sonhos mortos,
do nó na garganta que sufoca,
do cotovelo que se transforma
em dor no peito e mata.


Jaz, abandonado,
seis cordas que dedilhei,
no abraço colado ao corpo,
de manhã, a tarde,a noite,
nas madrugadas solitas,
da vida que escolhi,
quantas lágrimas soluçamos
em tuas notas.


Jaz, meu companheiro,
solitário e acabrunhado,
num canto jogado,
meus dedos já não tão ágeis,
já não te fazem vibrar como antes.

Fizemos tantas serestas,
polcas, guaranás, chamamés, fados,
em tuas cordas pungentes
todos os sonhos que perdi.

Meu violão,
meu amante,
companheiro,
vamos voltar à boêmia
com novas melodias,
cruzar com a lua altaneira,
versejando c'as estrelas,
beber do orvalho da madrugada
na perfumada brisa das campinas,
novos sonhos, novas saudades,
agora que o tempo já vai ficando
tão longo.... e tão tarde...

E eu, - me findo em canção
sem melodia, nas enluaradas
noites deste sertão.
============================

DIVAGANDO À BEIRA MAR...

Quero falar de uma exceção variável.
Exceção que agrega infinitos valores
esquecidos ao longo da vida...

Corremos atrás de uma aclamada felicidade
traçada por padrões estabelecidos
quase sempre sem sucesso pois
criamos um ideal fechado por modelo.

Antes de mais nada é preciso separar
a essência e a aparência das coisas da
sensação localizada no observar.

Afinal - o que é a vida a não ser
um suceder constante do tempo
que nos contempla com o
refugio da eternidade?

Já nascemos com prazo certo,
só a morte pára o tempo,
que parece imponderável no azul
do céu e do mar.

Tenho caminhado célere ao
encontro do meu infinito.
A cada dia chego mais perto.
A modernidade se encarrega
de fazer o nosso encontro mais cedo!
=======================

ONDAS NO TEMPO

Como uma pedra
Que se joga no rio
Venho formando ondas no tempo.

Nada importa.
Onde eu vá
Sempre estarei sozinha.

Já não pertenço a lugar algum.
Tudo que me resta são sonhos.
Agora é tarde para mudar,
- Está tudo feito! -
A chuva continua caindo.

Chuva fina e constante.
Olho a chuva,
Não suporto mais vê-la cair...

Findou o inverno
E a primavera com seus brotos e flores
Já surge nas árvores,
Na curva dos dias de sol.

Repouso minha poesia e meu canto
Numa quimera!
Caminho ao teu encontro,
Beijarei tua boca cheia de palavras,
E a saudade líquida fluirá rolando face afora.

Fontes:
– Colaboração da poetisa
– http://www.delasnievedaspet.com.br/
- Fotomontagem = José Feldman

Delasnieve Daspet (1950)


Delasnieve Miranda Daspet de Souza (Porto Murtinho, 12 de setembro de 1950) é advogada, poetisa brasileira. É ativista das causas da Paz, sociais, humanas, ambientais e culturais

Casada e mãe de dois filhos, Delasnieve Daspet, é poeta, Ativista da Biopoesia, cronista, ensaísta, palestrante, professora, educadora, atuante em várias lutas sociais, principalmente nos trabalhos que desenvolve com menores carentes.

Premiadíssima, Daspet também é representante atuante de várias associações e academias literárias e culturais, nos ambitos nacionais e internacionais, tais como:

– Peace Ambassador in Universal Ambassador Peace Circle - Genebra – Suíça;
– Sub-Secretária Geral para as Américas e Embaixadora para o Brasil de Poetas del Mundo, Santiago – Chile;
– Ambassador for Peace – Universal Peace Federation on the International Federation for Word Peace – 2007;
– World Poets Society (W.P.S.);
– Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS (presidente)
- Conselheira Estadual de Cultura/MS
- Conselheira Municipal de Cultura Campo Grande/MS

Premios:
– Unesco Prizes World Poetry;
– Médaille D'Argent 2008 - Arts, Sciences, Lettres - pela Société Académique d´Éducation et d´Encouragement, como Poeta e Escritora, Paris-França;
- Premio da Business Professional Women International BPW – Campo Grande - MS: Troféu BPW Mulher-2007;
– Super Cap de Ouro - 2008;

Já publicou e participou de 41 ( quarenta e um ) livros e coletâneas, nacionais e internacionais.

Mantém há oito anos, um grupo de Poetas e Poesias com 180 (cento e oitenta) associados (poetas/escritores de todo o Brasil), e, em outros países da América do Sul e da Europa, tendo como final objetivo, procurar, estimular, estudar e desenvolver as várias vertentes da Poesia.

Idealizadora do tão conhecido e prestigiado festival de poesias "Tertúlia Poética Luna& Amigos", que realiza todos os anos.

Frequentemente requisitada, desenvolve palestras pelo Brasil e assiduamente no Mato Grosso do Sul, onde aborda temas referentes a Cultura da Paz, dos Direitos Humanos e Poesia - Biopoesia – e a integração pela Palavra.

No teatro, Delasnieve Daspet, teve poesias suas adaptadas para as peças teatrais "Romeu e Julieta" e "Sonho de uma noite de verão" (ambas de Shakespeare) em Cabo Verde - África, pela Cena Aberta Companhia de Teatro

Na BIOPOESIA – Poesia da Vida, emprega a poesia nas importantes questões que põem em perigo a vida de cada ser vivo, como o aquecimento global da Terra, as guerras expansionistas, a poluição ambiental.

Conceituada pela expressão peculiar, tornou-se renomada internacionalmente, oportunidade em destacarmos seu extenso prestígio, onde já fora traduzida para o ingles, alemão, espanhol e frances.

Como ativista da Paz, celebra com a união de todas as raças, credos, gênero, a proposta da criação de uma Escola de Paz – onde se ensinem aos homens que o desenvolvimento não se realiza nem no vazio nem no abstrato. Inscreve-se num determinado contexto social e responde a condições sociais especificas.

Publicações

Solo

* Por um minuto ou para sempre;
* Em Preto e Branco;
* Pazeando.

Livros que organizou

* Tertúlia na primavera;
* Tertúlia na Era de Aquário;
* Poetas del Mundo Volume I;
* Poetas del Mundo Volume II.

Coletâneas

* Poesia só poesia;
* Tempo de poesia;
* Seleção de poetas notívagos 2001;
* Nas Asas da Paz;
* Poesias do Brasil;
* Paternon Século XXI;
* Casa do Poeta Brasileiro em Salvador;
* Gigantes;
* Bento;
* Poesia em América;
* Poetas na Bienal do RJ;
* Primavera dos Ipès;
* 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal do RJ;
* 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal de SP;
* O Poeta Fala - 2;
* Casa do Poeta Rio-Grandense;
* REVIJUR;
* Conceição do Almeida.

E-Books

* Luna&Amigos - Volume I; Volume II; Volume III; Volume IV; Voilume V, Volume VI.
* Coletâneas de Poesias de Natal
* Delasnieve Daspet - Poesias
* In Limine
* Um Novo Amanhecer
* Buque de Poesias
* Estão Voltando as Flores
* Antologia Arquitetura Literária
* Participação Especial na Antologia Natal 2008 dos Poetas em Foco e Poetas Del Mundo, editada pela EUNANET

Fontes:
Revista Zap, de Elizabeth Misciaci. http://www.eunanet.net/beth/delasnieve_daspet_2.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delasnieve_Daspet
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo.asp?ID=600

Eduardo Maretti (O Condenado )

Pintura digital de João Werner
é, de algum modo, eterno, o punhal que na noite passada matou um homem em Tacuarembó, e os punhais que mataram César.
Jorge Luis Borges

Há cinco anos marquei um encontro com Ana no bar. Ana não veio. O bar transformou-se. No outono do encontro, lembro, na tarde precedente à noite que não veio (que veio, mas veio opaca, não obstante
o vídeo, a vodka e o sal), na tarde precedente clarões súbitos rosa-ciano-amarelo-spleen, tudo se movia, era vento, e silêncio entre as nuvens nas esferas do outono.

Hoje primavera plúmbea, ainda há no tempo uma fresta por onde o sol inaugura o tempo escuro que pressinto. Mas pressinto o júbilo também, essa espécie de alegria silenciosa e melancólica em que antigamente mergulhava-se, os bosques ao crepúsculo, bosques contemplados pelos pássaros que se recolhem, habitados pelos morcegos invisíveis, a noite de asas. Oh metal resplandecente! Teu reflexo assassino brilha hoje a luz tumultuosa do crepúsculo e do neon e dos faróis, caos que vejo através da cerveja que bebo por pura nostalgia sem prazer algum – gole ou outro provocando uma náusea inevitável de prazer sufocado.

Mas a rotina da espera – mesmo uma espera inútil – não é talvez mais cruel do que a que vi muitas vezes no sonho em que Ana se penteava em frente ao espelho (o vestido vermelho, o sorriso negro), a rotina que amei porque não tive. Há, apenas, como borboletas voando sobre o asfalto entre arranha-céus, essa saudade do nada, fendas entre os céus, quanta chuva, inundação, manchas na memória e no
lençol.

– Por favor, empresta o fogo.
– Como?
– O fogo.

Acendo o cigarro do jovem decrépito, bonito e sinistro, com os cabelos loiros rasos cortados à máquina. Ele agradece com um gesto largo e lento, quase sem movimento. Tem olhos amendoados e tristes. As sobrancelhas grossas acentuam a expressividade luciferiana: a impressão do olhar situado atrás do rosto, mesmo dos olhos azuis fundos – mas não uma profundidade física, que também existe marcada nas olheiras escuras, e sim como se olhassem de uma dimensão distante, através das noites. O rapaz,
conhecido por todos no bairro por alcunha de Tamêga (não se sabe por quê), ficara louco de tanto cheirar cola, dizem, e, dependendo do seu humor ou talvez da lua, é visto na madrugada falando sozinho e rindo uma gargalhada sem sentido, demente.

Dá alguns passos, visivelmente bêbado (orgulhoso, se esforça para demonstrar uma dignidade que, entretanto, possui), e pára. Fica assim, olhando para o chão, de costas para mim, como se quisesse recordar algo, e, mesmo sem vê-la, entendo que sua expressão é de extrema concentração.

Vira-se, chega novamente perto, e pergunta:

– Você gosta de metal?
– Como?

Com um sorriso de escárnio (como sugerindo a minha ignorância), repete, fazendo com as mãos o gesto de tocar guitarra:

– Metal.

Seu falar é manso, quase sussurrante. Exprime cansaço diante de alguém incapaz de entender a espiritualidade de um gosto que se deve, mais do que entender, sentir.

– Já ouviu falar de Iron Maiden, Guns N’Roses...? – explica, como se revelasse uma verdade sagrada, mas, ao mesmo tempo, com uma expressão que agora misturava a tristeza e uma estranha consciência de verdades obscuras muito além do poder verbal, verdades a que, como a uma alma, o tipo de música de que falava servia de corpo.

– Claro, mas não gosto.
– Adeus, Deus. Deus... – ele murmurou, como se não me ouvisse e com expressão entre a tristeza e o desprezo. Fica imóvel, me olhando. Exprime de repente, como se acordasse, a sua indignação com movimentos quase imperceptíveis do olhar, embora os olhos se mantenham fixos. Repete os movimentos anteriores, lentos, graves. Dá novamente as costas, pára, fica um tempo mirando o chão.
Volta-se, olha-me nos olhos e diz:

– A escuridão.

Sua expressão, agora, é a de quem se esforça tremendamente para se fazer entender, consciente de que não o pode.

– A escuridão – repete.

Depois de um longo silêncio de cerca de um minuto, diz, com ar desanimado:

– Você não entende a escuridão.

Vira-se, agora mais rapidamente, e vai embora. Mas, surpreso comigo mesmo, digo compulsivamente:

– Aceita uma cerveja?

O rapaz pára mais uma vez, volta-se, caminha em minha direção cabisbaixo.

– Você não entende o que eu falo, não entende o que eu falo, não entende a escuridão, mas me entende – diz com expressão aflitiva –, mas não, não quero tomar cerveja. Eu só tomo o que não pode. O proibido. Obrigado, meu amigo.

– Qual é o seu nome? – pergunto.

E o Tamêga:
– César. César, o rei de Roma apunhalado.
Disse.

Deu meia-volta e saiu decidido bar afora.

A poucos metros de mim, no canto do balcão, cinco ou seis pessoas discutem política. Chamam-se de “companheiros”. Um destes, o mais exaltado, diz ao balconista:

– Aí, a saideira!
– Não posso não, tá fechando.
– A saideira, companheiro, como pode não ter a saideira?
– Não dá não – diz o balconista, com a irritação silenciosa, mas enfática, ameaçadora, do sertanejo. O olhar cabisbaixo, dissimulado, junto ao tom de voz expressando uma vontade definitiva e incontrariável, desarmou o barbudo “companheiro”.
– Chama o patrão – disse o militante, procurando diluir com um sorriso forçado a antipatia que sua postura provocava num botequim onde o futebol e a mulher eram os assuntos universais.

O gerente do bar é um pernambucano de Garanhuns. O patrão português lhe confia o estabelecimento. Adérson, decidido como sempre (aprendi a respeitá-lo nesses cinco anos de espera), passa por trás do balcão olhando para mim sem sorrir (um nordestino sorri geralmente com os olhos) com cumplicidade.

– Ô companheiro, a gente quer a saideira – diz o barbudo.
– Não tem mais cerveja – diz Adérson.

O grupo reclama muito e pede a conta. A conta vem.

– Nossa! A cerveja aumentou! Você tá louco – diz o barbudo, que se comporta como uma espécie de chefe do grupo. – Mas ontem ...!
– Ontem era ontem – diz Adérson.

Apesar da intimidade com Adérson, que me seduzia a ficar ali para talvez, depois de eu bêbado, me convencer a ir domingo ao estádio ver nosso time na semifinal (quantas vezes ele não fechou o bar comigo lá dentro, para abrir as cervejas que tinham “acabado”, para conversarmos sobre futebol – e era quando ele se permitia tomar um trago), me lembrei de que, não obstante o desejo de ficar mais uma noite bebendo inutilmente, eu alugara a fita, como há cinco anos, para ver O fundo do coração.

Que ridículo!

Esperando Ana no bar há cinco anos, cinco anos acompanhando a evolução do preço da cerveja e acendendo cigarros para vagabundos e trabalhadores bem-sucedidos no bar transformado. É necessário que haja (é necessário que haja) uma história não cumprida, uma chuva impertinente, veredas, rios a atravessar, é preciso Ana não ter vindo e também a transformação do bar para que se realize o destino.
Pago a conta no bar e saio porta afora. Chove um pouco.

Na primeira encruzilhada, encontro o tal César, o Tamêga, parado, mirando o vazio da noite. Sequer o cumprimento, mas sinto com terror que ele me olha pelas costas até eu dobrar, por medo, a primeira esquina, em vez de seguir o caminho cotidiano e mais rápido, em frente, para casa. Tive uma sensação – não existencial ou psicológica, mas física – de alívio ao me ver livre de seu olhar. Eu duelei com o medo. Por um momento achei que, com um ato covarde, pois fugia, eu o tinha vencido.

Súbito, um mulato alto, de bigode, que eu nunca havia visto no bairro, me intercepta no quarteirão seguinte.

– Um cigarro aí, bacana – ele diz.
– Como? – digo, incomodado com a idéia da morte. Não sei por que lembrei de coisas que havia esquecido há muito: um tiro com a espingardinha de chumbo num pardal à beira de um jardim, um gol decisivo que fiz num jogo de futebol de rua, um soco que levei passivamente no rosto de um moleque mais fraco na saída da escola.
– Ora, meu chapa, um cigarro!

O homem, ébrio, mas sóbrio (como eu, não ainda bêbado), ficou irritado com o meu sapato.

– Não tenho cigarro.
– Ora, meu chapa, um cigarro! Claro que tu tem. Olha aí.
– Não tenho cigarro.

Olhei nos olhos dele, só porque os olhos eram frios e refletiam um brilho estranho de punhal adormecido.

Choveu mais. Chovia.

Fiquei valente à toa. Tinha medo, mas fiquei valente. Acendi um cigarro, para mim. O homem, parado à minha frente, entendeu a agressão.

– E aí, bacana, e o cigarro?

Eu tinha motivos para ouvir Roberto Carlos na indefectível emissora tocada no bar, enquanto Adérson defenderia a grandeza da história do Santos Futebol Clube e explicaria detalhadamente o porquê de o time ter sido desclassificado do campeonato, enquanto no bar transformado (as baratas já sobem pelas paredes) as portas baixadas continuariam a denunciar (como há cinco anos) a impotência da espera.

É verdade: depois de cinco anos, cansei de esperar que Ana viesse sensual num vestido de seda me livrar do passado, da soma dos lances de dados do destino de um ébrio irritado com os meus primeiros sapatos novos em cinco anos. Por isso saí do bar para sempre hoje.

Mas o homem foi atrás e queria o cigarro. Queria porque queria um cigarro meu na noite escura. Pensei que no mundo há seis bilhões de seres humanos, pensei na mulher desse homem que, embriagado, me acossava num beco da metrópole, pensei na metrópole e nos seus milhões de olhos obscenos, nos filhos desse homem (haveria filhos?), em César, e na grandeza de Roma, olhei para os olhos apagados do malandro que me acossava e vi a lua cheia sobre sua cabeça, pensei em Deus e não pude entender como Ele poderia me condenar ao inferno por um ato tão espontâneo, tão infantil (pensei também na guerra de mamona nas ruas desertas), tão sincero; finalmente pensei em mim mesmo e achei tudo muito monótono e opressivo, cinco anos esperando Ana no bar e reconhecer que as baratas já subiam pelas paredes.

– Me dá o cigarro, bacana, me dá o cigarro, bacana! – falava o homem, ameaçador.

O bar fechara. Um empurrão e ele teria ficado no chão. Mas escolhi sacar o revólver (foi tão calmo, tão bonito) e dar-lhe dois tiros, um no olho direito (que errei, pois pretendia acertar a boca) e outro no meio da testa. Eu apenas ouvia as risadas frenéticas daquele César decaído em alguma esquina perto. Acho que ninguém viu, nem mesmo o César-Tamêga. A culpa é de Ana. E um pouco também, pensei – enquanto assistia ao filme no vídeo –, de todos os césares.

Fontes:
Revista Cult . Radar Cult. Junho 2001.
Imagem = http://www.joaowerner.com.br

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte XXIII


II — Barba-Azul

1 — Teses históricas

a) Alain Bouchard (Les grandes chroniques, 1531) e Alberto Magno (La vie de saint Gildas, 1680), registram que o rei bretão Comorre, tendo um oráculo lhe predito que seria assassinado pelo próprio filho, teria matado suas sete esposas. Influência da lenda grega, sem dúvida mas sua última esposa, Santa Triphime, é ressuscitada por Santo Gildas. O tema aparece nos afrescos da capela de Saint-Nicolas (Bieuzy, Morbihan);

b) Collin de Plancy, Ch. Giraud, Michelet crêem que Gilles de Rais, marechal de França, fiel companheiro de Joana d’Arc, inspirou a lenda. Entretanto, desposou uma única mulher, Catherine de Thouars, que a ele sobreviveu. Este homem letrado que atemorizava seus herdeiros com suas despesas fastosas, foi condenado e executado em Nantes (26 de outubro de 1440) com a idade de trinta e seis anos por haver degolado trezentas crianças em sessões de magia. Esse processo parece suspeito e S. Reinach e F. Fleuret tentaram reabilitá-lo. Tal como a imaginação popular censurava aos primeiros cristãos sacrifícios humanos, parece que Gilles de Rais tenha sido vítima de sua fortuna e de seus ataques políticos.

c) Pensou-se em Henrique VIII da Inglaterra que esposou seis mulheres e fez com que duas morressem no cadafalso. Maspero e Gaston Paris fazem dele um vampiro que bebe sangue humano. Doente, neurótico, Barba-Azul é comparado aos grandes criminosos como Landru ou John Christie;

d) A cor extraordinária de sua barba assemelha-o a Indra, a Bés, o Egípcio, ou a Júpiter. Tem uma barba azul quase preta, ou azul-celeste (Oh!) e Sébillot menciona uma barba vermelha. No simbolismo das cores é preciso ver o símbolo do iniciador, o condutor de almas que faz transpor as portas da morte espiritual.

2 — Tema da curiosidade. Iniciação

O tema da curiosidade é comum a todos os países e visa principalmente a mulher. Na. Bíblia achamos Loth, Eva e Sodoma. As Mil e uma noites fazem da curiosidade uma ampla interpretação. Esse segredo conjugal está presente em Parsifal onde a duquesa de Brabante perde seu esposo por lhe haver perguntado quem era ele. Essa curiosidade visa um ritual que nos escapa; talvez o da preparação para o casamento. A jovem é sujeita a uma prova difícil: a tentação do local secreto. Em seguida vem a última prova, o simulacro da morte; ritual de morte e de ressurreição na qual o neófito, despojando o velho, desperta num mundo novo, o do conhecimento. É o caso da religiosa colocada no seu ataúde. Para essa cerimônia de iniciação a mulher pode vestir seus mais belos adornos, ou se impor a nudez ritual do batismo dos primeiros cristãos (forma nivernesa da lenda). A magnificência da morada de Barba-Azul lembra os castelos encantados e esse grande senhor, cortês e feio, não dá a razão dos seus crimes.

3 — O quarto secreto

Esse local secreto parece ser o lugar do saber por excelência. É a loja. Um conto de Carnoy L’homme de fer (O homem de ferro), mostra que a criança desobediente não pode conhecer o derradeiro segredo. A forma original do Conte du magicien et son apprenti (Conto do mago e seu aprendiz) parece ser a Histoire du radja Madama Kdma na qual um príncipe instruído por um feiticeiro tenta e consegue escapar-lhe; Cosquin (Études folkloriques) e W. Crooke (North Indian Notes and queries, 1894) narram contos semelhantes.

Porém o quarto secreto aparece mais claramente na introdução do livro mongol Siddhi-Kûr, no qual o caçula descobre a “chave da magia” espiando pela fresta de uma porta. A curiosidade é pois recompensada. Os contos de Velay (Cosquin), da ilha de Zanzibar, de Bosnia permitem, ao iniciado triunfar depois de haver transgredido um regulamento de interdição. Este último conto, recolhido por Desparmet, assemelha-se ao de Aladin (As mil e uma noites): um jovem sem fortuna quer desposar a filha do rei.

Contudo, quase sempre, essa curiosidade é nociva.

O homem é expulso do paraíso pelo seu gesto da desobediência (conto hindu de Somadeva Rhatta; história do Terceiro calendário de mil e uma noites). Sem se instruir nos três estágios impostos (purificação, saber, poder), o neófito quis penetrar no santuário secreto: da mesma forma é enxotado dessa confraria (Roman des sept vizirs (Romance dos sete vizirs), enquanto que o príncipe do Fidèle serviteur (Fiel servidor) (Carnoy) enamora-se de um retrato conservado num quarto interdito.

L’enfant de la Vierge Marie (O filho da Virgem Maria) (Grimm), Le bénitier d’or (Cosquin), Maria Morewna (Ralston e depois Marnier) e numerosas variantes mencionadas por Saintyves, referem-se ao tema da interdição do Quarto Secreto. Doze quartos corresponderiam aos doze apóstolos, o décimo-terceiro quarto sendo o do Santo dos Santos.

Carrouges estende esse simbolismo aos romances policiais para interpretar o mistério dos quartos fechados.

4 — O objeto denunciador

Um objeto mágico denuncia o culpado que tentou penetrar no local, secreto. É o caso do conto de Perrault, do Oisel emplumé (Pássaro emplumado) de Grimm, de La veuve et ses filles (A viúva e suas filhas) de Loys Brueyre. O objeto pode ser uma chave, um ovo, um pequeno cofre, um retrato e até uma região.

Depois o próprio objeto mágico tornou-se a representação do quarto iniciativo. Essa “casa dos homens”, esse centro de reunião de iniciados transforma-se num cofre que encerra o saber. Andrew Lang vê nisso tudo a sobrevivência do culto primitivo e acrescenta o anel jogado ao mar e encontrado depois no corpo de um peixe. Mas a chave, símbolo axial, pode ser considerada pelo seu poder de ligar e desligar; seu conhecimento tem então o mesmo poder que a palavra de Ali Babá ou a do Pequeno Polegar. Às vezes o objeto desaparece: um sinal aponta o culpado; são os cabelos de ouro do Homme de fer (Carnoy) ou o dedo dourado de uma criança desobediente (Steele Swahili, Tales, 1870; Contes Cambodgiens, 1868; Conte Chao Gnoh); o ouro é então o emblema das energias solares.

5 — Auxílios

Essa luta entre o iniciado e o iniciador implica auxílios exteriores. Esses auxílios provém dos pais, de um religioso, de um sábio, de um jovem (W. Crooke observa o caso de um herói aconselhado pela filha de seu inimigo). Os mortos que aconselham são numerosos (Cosquin, Steele, L’oiseau de vérité (Pássaro de verdade), Les trente-deux récits do Trône (As trinta e duas narrativas do trono) ou Vicramaditia, La légende de la mort (A lenda da morte) (de Le Braz); D. Juan também recebeu os conselhos do comendador. Os animais, aliados do homem, sob a influência da Índia, previnem contra o perigo. Com Perrault essa parte é abreviada e os irmãos chegam inopinadamente.

6 — Conclusão

Parece que o conto de Barba-Azul visa a iniciação de um ser; sua curiosidade impede-o de beneficiar do ensinamento desta arte mágica. Os elementos interiores desse tema, conhecido em todos os países, se encontram num ritual que parece reservado aos iniciados.
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continua...
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Fonte: BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

sábado, 19 de dezembro de 2009

Trova LXXXIX - Izo Goldman (São Paulo)

Isnelda Weise (Album de Poesias de Poetas del Mundo)


ÁguAlento

Translúcida, fria, morna, ou ardente
mas sempre presente,
em alguma estação.
Água, deságua
em bocas sedentas,
em corpos ferventes,
que do flagelo fogem em busca de alento,
tal qual grande rede.
Estação sede.
Água deságua
em rostos suados,
em ruas seminuas,
em becos escuros sem cor nem horizonte.
Estação fonte.
Água deságua
com modéstia imensa
em qualquer lugar.
Brota, sorrateira, e abastece, indolente
o solo estéril,
em tempo de estio.
Estação rio.
Água deságua
Em noite brejeira,
eis que sua audácia em forma de chuva,
esconde o luar.
Para, aguaceira, na aurora do dia
encher de jasmim toda jardineira,
e fazer-se primavera.
Estação mar!

Córrego I

Escorre com cautela entre os pedregulhos,
E tomba no mar de utopia que te aguarda
Sem pressa.
Qual prova irrefutável da esperança,
De vida que não cansa
De insistir.
E prossegue....

****

Espreguiça-te languidamente:
Entre realidade e palco,
Entre afeição e desencanto,
Entre existência e extinção,
Rumo ao infindável
E terno sonho meu.

*****
Água de Março

Quando em cascata se solta
Água é qual salto sem rede
Vida que nem sempre volta
Queda a fartar quem tem sede.

Água é anistia de pecado
Córrego a irrigar nossa alma
Quando o coração extenuado
Pede o frescor de água calma.

Água de março é cacimba
Riacho cantante na forma
De oásis a sonhar fonte infinda.

E acima da fugaz sobrevida
Prossegue entre pedras, contorna
Lavando a mão que a trucida.
====================

SER POETA

Ser poeta é caminhar por trilhas rasas
Contra vento mais ameno ou chuva forte
É saber que muito além de todo norte
No infinito da beleza pairam asas.

É cantar o ausente lar à luz do agora
O advento de outro sonho feito espera
Deleitar-se com a imagem da quimera
Ao ver todas as certezas indo embora.

Ser poeta é brindar o universo
Com a canção e alforria de um só poema
É aninhar-se no conforto da anistia.

Para então beber da taça de seu verso
Ante o encanto que desfaz qualquer dilema
O imortal e doce néctar da poesia!

Fontes:
http://www.poetasdelmundo.com
http://www.seblumenau.org
Imagem = montagem por José Feldman

Rossyr Berny (Navegando ao Sabor das Ondas)

Pintura por computador de Celito Medeiros
EM QUE MARES E EM QUE MARGENS?

Sempre que passas
estou isolado na outra margem do rio
Isolado no caminho oposto ao teu

Qualquer modo que uso
para transpor rios calmos
ou mares profundos
não mais te encontro na outra margem

Se passas pelo outro lado da rua
é tanta gente e trânsito entre nós
que só encontro teu perfume

Mesmo apressada
teu olhar em mim repousa,
Ousa, se apossa

Em que margens de que dias
estaremos sós para nós dois
ancorados no mesmo porto?

Em que rios ou mares sem margens
nos aportaremos
para armazenagem e troca de frutos?

NOS TRILHOS DO TREM QUE TANTO TARDA

Dos mil sentidos da vida
o que ouço gritar na madrugada
é o silêncio bocejante de Deus

Os quatro elementos da natureza
sãos trilhos sobre dormentes
onde a sobrevivência agora repousa
desamparada

O planeta dorme nos trilhos dos trens
sem preocupar-se com a advertência:
pare ouça escute afaste-se

II
A noite
mastiga o dia descarrilado
Por isso não amanheceu por aqui

Mas a hora é ativa mundo afora,
onde é língua mortífera e arrasa países
É terremoto na Nicarágua Índia
Deitam o Japão em escombros

III
Aqui nos dormentes dos trilhos
só ouço meu próprio respirar taquicárdico
Rumino celeiros de solidão

IV
E o trem
por que tanto tarda?

SER MENINO

Quando menino era fácil reter nas mãos
o céu tombando em chuvas
ensaiando maremotos nas sarjetas

Quando exausto de peraltices
arrombava represas de barro
e ia construir outras em sono

Era certo que na enxurrada vindoura
soltaria seus sonhos navegando
arquitetados com folhas de sabatinas

Tudo só terminava
quando queria que terminasse
Buscava o poente apagando as estradas
e acendia o luzeiro do céu e das praças

Era tão fácil ser herói quando se era menino
porque não era bélico ser herói
Por certo na enxurrada vindoura
soltaria meus sonhos navegando
sem que generaizinhos-de-ouro ou chumbo
pusessem a pique a esquadra de barquinhos


POETA FORÇA-TAREFA

os dias e as dores dos dias
cobram à exaustão o meu oficio:
vim aos mundos ser poetas
ainda que em passos recentes
tenha sido fungo ou bactéria
árvore lodo água montanha ou gramínea
sou a poeira cósmica do big-bang
manhãs e adormeceres rebentam-me os ouvidos
pulsos e pulsares do peito me anunciam guerreiro
a lutar pela salvação do homem
impuro ou purificado
tenho texto na testa em letra escarlate:
venho às vidas e aos mundos ser poetas

II

é por fúria de justiça que amo o ser humano
poeta de oficio
zelo para que acordes em paz
ao teu digno dia de trabalho e amor
acaso me descuide de tanto zelo
acordarás sem a honra do teu labor
nem a amada no leito a acolher-te
por isso a permanente vigília
o verso e a voz em riste
para iguais conquistas de todos
compartilho do teu largo riso por estares feliz
mas culpo-me acaso a felicidade não te venha

III

guilhotina estas mãos escrevinhadoras
se elas não forem os poemas
que te libertarão da miséria e das desigualdades/'
animal furioso ou homem bom
defendo com adagas de luz
e força-tarefa
a segurança da tua vida de justo

IV

os tempos e as vozes dos tempos
rebentam-me os ouvidos
cobrando os afazeres de meu oficio
o cristo e os cães do peito
gritam gritam para que eu te guarde:
venho às vidas e aos mundos
ser os teus poetas-de-guarda

Extraído de Letras en Movimiento aBrace. Montevideo: Bianchi editores; Edições Pilar, 2006. 63 p. Em cooperación con el Movimiento Cultural aBrace.

CONSTRUTORES DE PRECIPÍCIOS

(seleção)

É um canto patético este canto de Rossyr Berny. A sua realidade poética e existencial esplende pela fraturas e interrupções sucessivas, por um permanente processo de coagulação verbal e sintática. Em Rossyr Berny o expediente quase remoto ganha uma força nova e até agressiva”. (LÊDO IVO, da Academia Brasileira de Letras)

PORTO IMPROVÁVEL

Perdido de ti
sou metade de mim

Em meio a oceanos revoltos
minúsculo barco
o melhor porto que busco
é o milagre do teu abraço

Isso se deixares rastros
aos meus digitais, faro, olhos
Te buscam enlouquecidos

Isso se deixares indícios
nos faróis céus cios
madrugadas indormidas

Isso se nos ventos de tua passagem
deixares resquícios na paisagem

Talvez te denuncie algum flagrante
de meu nome em tua lembrança
E a saudade te surpreenda em pranto

Perdido de ti
sou pedaço de mim

Serei inteiro contigo inteira
quando teu peito reabrir-se ao meu
no porto fantasma do teu retomo

DESMEMÓRIA

Se demorares um pouco mais
talvez me encontre fera
louco
Apenas pó

Descobrirás
que na primeira crise por tua ausência
comecei a gritar
grunhir
mugir
berrar

Lobo a acuar estrelas
mijei postes
escarvei
pastei

Elegi estrebarias para meu sono
e carniças para meu sustento

A última crise por tua ausência
trouxe o sossego dos desmemoriados

LUZ TORTA

A luz vem torta
apagando a frouxa penumbra

Vem cega
pelas mãos dos caminhos descalços

Quebrada
desce escadas
Tropeça em correntes
de sobressaltados fantasmas

A luz vem tonta
Desenhada pelos aposentos
afoga-se nas rugas do cariado casario

Dos poros humanos
a luz nasce morta

Vem tonta
a trôpega energia
Filha dos olhos vazados do cotidiano
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Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/rossyrberny/
http://www.antoniomiranda.com.br