quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Augusto de Campos em Xeque


Augusto de Campos é poeta, tradutor e ensaísta. Foi um dos criadores, junto com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, do movimento de poesia concreta brasileira. Traduziu poetas como Cummings, Pound, Maiakóvsky, Mallarmé, Blake, Rimbaud, Valéry, Keats, Hopkins, dentre outros. Traduziu, com Haroldo de Campos, trechos do livro Finnegans Wake, do escritor irlandês James Joyce. Publicou um livro onde reúne ensaios sobre a música erudita contemporânea e lançou o CD Poesia é risco. Os dados acima são apenas um pequeno resumo de uma vida dedicada à poesia, cujo início data do final dos anos 40.

Em todas as atividades que exerce (poesia, tradução e ensaio) Augusto é um exemplo do criador e pensador extremamente apaixonado pelo que faz. Amante da poesia e da música inovadora, não se espanta com a radicalidade dos criadores que ousam experimentar para além do já criado. Ao contrário, comunga em sua poesia e em suas reflexões com esse universo. É ele também alguém que busca a inovação constante.

De Paul Valéry adota a máxima que diz que o trabalho de um escritor deve ser mensurado pelo rigor de suas recusas. Por isso, trabalha pacientemente cada poema e cada tradução; como um joalheiro, busca a perfeição e o brilho que surgem da forma bem acabada. Esse trabalho é notável para aqueles que mergulham nos seus livros. Como uma criança que, descontente com os universos estabelecidos, constrói, desconstrói e reconstrói o mundo a cada nova brincadeira, o poeta Augusto não envelhece nunca: suas invenções estão aí para provar.

Na entrevista que o poeta gentilmente nos concedeu por e-mail, comenta os rumos da nova poesia brasileira, alguns aspectos de antigas polêmicas contra o Concretismo, fala de seu trabalho como tradutor e sobre o seqüestro que a música erudita contemporânea sofre em nossos meios culturais.

1 - Do Concretismo ao Neoconcretismo e ao Poema-Processo a teoria era uma das bases sobre a qual se assentava a poesia que se praticava. O Sr. poderia falar de alguns conceitos que acha importantes para a prática da poesia atualmente? Dentro desta mesma questão, por que os novos poetas não teorizam mais sobre a poesia que fazem?

AUGUSTO DE CAMPOS: Manifestos não são decretos. São projetos. A teoria surge em determinados momentos, como decorrência de um projeto coletivo de grandes transformações. Nasce da prática e vai sendo alterada por ela. Quanto aos conceitos que acho importantes para a poesia, hoje, penso que, entre outros, são relevantes os temas da autonomia da linguagem poética, da liberdade e simultaneamente do rigor de construção poética, da curiosidade formal, da experimentação permanente e da consciência contextual da modernidade e das novas tecnologias, que repotencializaram as propostas das vanguardas do século XX. Mas não é necessário teorizar para fazer poesia. Se os jovens não teorizam é porque não têm o que teorizar. Por outro lado, há uma grande indefinição nesta época de desencantos utópicos, no vácuo do "pós-tudo". Estamos, talvez, numa fase de transição.

2 - O Sr. acredita na possibilidade da criação de uma obra de arte totalmente abstrata, que se constitua como uma linguagem fora da história (esse "pesadelo" joyceano)? A poesia concreta (e a poesia que o Sr. pratica hoje) tentou alcançar, em sua base e em suas buscas, esse abandono à referência histórica?

AUGUSTO DE CAMPOS: Sim, é possível criar uma obra totalmente abstrata. Khrutchônikh, Iliazd e os adeptos do "zaum" (linguagem transmental) da vanguarda russa o fizeram, em maior ou menor grau, com palavras inventadas, assim como Kurt Schwitters, com a sua "ur-sonate" (sonata pré-silábica), ou ainda Gertrude Stein com a linguagem "não-referencial" (empregando palavras comuns dessemantizadas pelo contexto) dos seus "Tender Buttons" (Botões Suaves), De um modo mais geral, a poesia se situa mesmo "fora da história". "É uma viagem ao desconhecido", como escreveu Maiakóvski, poeta mais do que engajado. "O poeta é um fingidor", de Pessoa, poderia ser escrito por qualquer poeta de qualquer tempo ou lugar. Essa é a natureza intrínseca da poesia, que acima de tudo fala do homem e ao homem de todos os tempos e de todas as latitudes. Isso não quer dizer que a poesia não possa abranger a história ou ser referenciada a ela, caso dos CANTOS de Pound, em nossa época. A poesia concreta, embora tendo a autonomia da linguagem poética como um dos seus postulados, e a sua independência do fato histórico como um corolário, não foi infensa aos eventos significativos do seu tempo e do seu país. A produção dos anos 60 é particularmente rica de exemplos de poemas referenciados ao momento histórico.

3 - Segundo Ferreira Gullar, "João Cabral é um poeta que se refugiou na linguagem, mas reinicia a cada momento a tarefa de reaver o mundo perdido; já os concretistas se refugiaram na palavra, mas a tomaram como a 'verdadeira realidade', como fetiche." (In: "Indagações de Hoje". p. 180). O Sr. concorda com essa observação que o Gullar faz do Concretismo?

AUGUSTO DE CAMPOS: É evidente que não concordo. A observação não faz justiça sequer à poesia de João Cabral, que nem se refugiou na linguagem nem perdeu mundo algum, mas simplesmente compreendeu a natureza da linguagem poética e a desvelou em poemas metalinguísticos como "Anti-Ode", a par de enfocar temas sociais, amorosos ou outros em outras obras, sempre com alta densidade vocabular e notável rigor compositivo. Ao contrário de Gullar, ele entendeu perfeitamente os propósitos da poesia concreta, que sempre valorizou, chegando a colocá-la acima até da poesia do Modernismo, em vários depoimentos, de conhecimento público. Ora, qualquer um pode ver que uma das características diferenciais da poesia concreta, relativamente a outros movimentos poéticos de vanguarda, é o fato de ela não renunciar à dimensão semântica. VERBIVOCOVISUAL, ela se afirmou desde o início, com isso significando a ênfase simultânea no verbal, no sonoro e no visual, em pé de igualdade, e não apenas nos dois últimos níveis ou só no primeiro. Não fora assim, como explicar poemas como TERRA, BEBA COCA COLA, SERVIDÃO DE PASSAGEM, ESTELA CUBANA, PORTÕES ABREM, LUXO, os "popcretos", para só citar alguns dos mais ostensivamente referenciais e ideológicos? Mesmo poemas de semântica mais abstrata, como TENSÃO, polarizando som e silêncio, não deixam de configurar arquétipos vivenciais. Outros ainda, de natureza metalinguística, perscrutam a linguagem poética e tratam de expandi-la em novas articulações, até o limite. Mas sempre mantendo o significado. De linhagem poundiana ("precise definition"), a poesia concreta nunca foi "não-referencial". O que propusemos, a par de reivindicar a autonomia da linguagem poética em relação à linguagem contratual, foi uma nova abordagem da poesia, uma sintaxe tempo-espacial, não-discursiva, mais consentânea com os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia do nosso tempo, e uma nova configuração formal, ao mesmo tempo rigorosa e livre, capaz de projetá-la em dimensões interdisciplinares além-verso e além- livro. O que recusamos sempre, como João Cabral, foi a demagogia sentimental e a retórica panfletária em busca de aplauso fácil. Nosso lema foi o maiakovskiano "não há poesia revolucionária sem forma revolucionária." Como eu digo no meu poema NÃO: "humano autêntico sincero mas ainda não é poesia". O resto é ressentimento.

4 - Embora já incorporado aos livros didáticos de literatura brasileira, não existe movimento literário no Brasil que conheça tanta crítica quanto o concretismo. O modernismo de 22, embora atacado no seu surgimento, ao contrário, é agora muito bem aceito (e assimilado) pela cultura brasileira. Que razões o Sr. atribui a essa rejeição e, mesmo, perseguição, ao Concretismo?

AUGUSTO DE CAMPOS: A poesia concreta foi o mais radical dos movimentos poéticos brasileiros, tornou mais difícil escrever poesia, pôs em circulação um repertório sem precedente de linguagens poéticas não visitadas entre nós, traduzidas criativamente do original, da antiga poesia hebraica, chinesa e japonesa às vanguardas - trovadores provençais, Dante e Guido Cavalcanti, poetas "metafísicos" ingleses, Mallarmé, Corbière, Hopkins, Pound, Joyce, Cummings, Gertrude Stein, August Stramm e Kurt Schwitters, Kkliébnikov, Maiakóvski e a nova poética russa, entre outros. Nunca se fez isso antes entre nós. Revimos o percurso literário brasileiro, desmontando preconceitos e promovendo os marginalizados pelas histórias e "formações da literatura" oficiais, como Gregório de Matos, Sousândrade, Qorpo Santo, Kilkerry, Ernani Rosas, Oswald, Luis Aranha, Pagu. E a poesia concreta já está nos livros didáticos, como você mesmo acentua. Quer dizer, até as crianças começam a entender. Ainda há pouco minhas netas, de 9 e 15 anos, vieram me mostrar, em seus livros de estudo, os poemas LUXO e PÓS-TUDO, precisamente os que a crítica universitária sociologóide tentou denegrir há quase 20 anos atrás. Relato isso não pare me vangloriar, mas para pôr em evidência o abismo que separa grande parte da crítica do trabalho criativo. É claro que tudo isso provocou e ainda provoca muita inveja, irritação e medo. A renitente perseguição de alguns poetas sem "fair play", de certa parte da crônica jornalística e dos redutos mais conservadores universitários é lamentável, mas é compreensível e é sinal de vitalidade da poesia concreta. Que continua a provocar e a despertar reações apaixonadas, pró e contra.

5 - O que leva o Sr. a traduzir mais do que a escrever e publicar sua própria poesia?

AUGUSTO DE CAMPOS: O que me interessa acima de tudo não é a "minha" poesia, mas a poesia, "tout court". Gosto do convívio com os outros poetas, os poetas que admiro, e traduzi-los, converter os seus poemas originais, de outros idiomas, em poemas de língua portuguesa, é uma forma de dialogar e aprender, celularmente, com eles. A minha própria poesia passa por um crivo muito severo de auto-crítica e não sinto nem compulsão para criá-la nem pressa em publicá-la. Entre VIVA VAIA (1979) e DESPOESIA (1994) passaram-se 15 anos, e agora mesmo, quando preparo o meu novo livro, vejo que já transcorreram 9 anos. Acho inútil contribuir para inflacionar o mundo dos livros, acreditando com Fernando Pessoa, que "cada homem tem pouquíssimo que exprimir e a soma de toda uma vida de sentimento e pensamento pode, por vezes, inserir-se no total de um poema de oito linhas." Contento-me com a elaboração de alguns poucos poemas por ano. Não forço a barra. Sou muito exigente. E mesmo assim, a minha produção, talvez porque eu tenha atingido idade avançada, já ultrapassa quantitativamente, de muito, a de maravilhosos poetas como Arnaut Daniel, Mallarmé, Rimbaud, Cesário Verde, Sá-Carneiro e tantos outros, mestres e inventores, cujo pequeno acervo de obras poéticas vale mais do que centenas de grossos tomos de poesia.

6 - O Sr. tem um grande apreço pela música erudita contemporânea (da Escola de Viena até compositores recentes como Berio e John Cage, dentre outros). De que forma a frequentação a essa música interfere no seu fazer poético ou na sua reflexão sobre a poesia?

AUGUSTO DE CAMPOS: É evidente que a música, e a música erudita contemporânea em particular, exercem grande influência sobre a minha poesia. POETAMENOS não teria existido, como tal, sem a minha paixão pela música de Webern, para mim o maior compositor de todos os tempos. As aventuras exploratórias dessa produção musical, de grande teor inventivo - marginalizada pelos meios de comunicação - estimulam a minha curiosidade e me instigam às vezes tanto ou mais do que a própria poesia.

7- Existe hoje nas salas de concerto brasileiras o que se poderia chamar de sequestro da música erudita do século XX. Não existe um projeto de tornar pública (ou visível) essa música. Continuamos anos a fio ouvindo o mesmo repertório musical. Por que o Sr. acha que essa música ainda não é executada sistematicamente como, por exemplo, o repertório dos séculos XVIII e XIX?

AUGUSTO DE CAMPOS: A culpa é em grande parte dos meios de comunicação, que não cumprem, como seria desejável, o seu papel de mediação e de informação. Dão um destaque desproporcional à moda ou a música popular de consumo, mas não noticiam e não apresentam com destaque e com glamour as propostas da música do nosso tempo. Também os patrocínios culturais continuam a privilegiar a música de consumo, justamente a que não necessita de apoio financeiro para sobreviver. Dessensibiliza-se e desestimula-se a curiosidade do ouvinte. Acuados diante do distanciamento do público, produtores culturais, orquestras, maestros e concertistas se apavoram e atuam com uma timidez excessiva, autolimitando-se ao repertório mais surrado dos séculos XVIII e XIX, na expectativa de satisfazerem a platéia fugidia e os financiadores gananciosos. Uma triste história de desinformação e acovardamento, que colocou lamentavelmente entre parênteses e entre paredes a música contemporânea - afinal, a do nosso tempo - assim como a de outros tempos, como a grande música de Machaut, dos polifonistas da Renascença ou dos madrigalistas dos séculos XVI e XVII.

8 - Antes da tradução de trechos de Finnegans Wake feita pelo Sr. e por Haroldo de Campos não havia outra versão desta obra de Joyce. O que o Sr. está achando da nova tradução que está sendo por feita por Donaldo Schüler? Qual a importância do aparecimento desta tradução para as letras brasileiras?

AUGUSTO DE CAMPOS: Acho louvável e meritório o empreendimento de Donaldo Schüler. Certamente há de contribuir muito para o entendimento e a divulgação da obra de Joyce entre nós. Trata-se, porém, a meu ver, de uma tradução extensiva, menos exigente ou mais informal do ponto de vista estético, um projeto diferente do nosso, que é mais seletivo -tradução intensiva, onde alguns dos fragmentos mais belos do FINNEGANS WAKE são burilados microesteticamente em termos de ritmo, achados verbais e equilíbrio sonoro, de modo a produzir equivalentes criativos da linguagem joyceana em língua portuguesa, com máximo grau de poeticidade.

9 - A publicação de poesia no Brasil parece ter aumentado e uma nova geração de poetas tem surgido. O sr. acompanha essa produção? Percebe alguma característica marcante nesses poetas?

AUGUSTO DE CAMPOS: Sempre foi grande a publicação de poesia entre nós, ainda que em pequenas tiragens e por pequenas editoras, muitas vezes financiada pelos próprios poetas. Não tenho como acompanhar em detalhe toda essa produção. Mas, no meio de muitas tentativas menos felizes, surge sempre alguma coisa interessante. Deixando de lado, por desprezíveis, alguns xiítas do verso, que querem voltar a poéticas conservadoras, prémodernistas, com pés quebrados e insultos dobrados, o que vejo é uma produção majoritária, mais conformista ou conformada, que tenta encontrar uma pós-voz sob os parâmetros da dicção drummond-cabralina, e uma corrente minoritária, mais experimentalista, que vai dos poetas pós-concretos, de linha verbal, "logopaicos" - como diria Pound -, aos poucos, "melo" e "fanopaicos", que começam a desbravar a terra semi-incógnita da linguagem digital. Tenho naturalmente simpatia especial pelos mais inquietos, aqueles que experimentam novos caminhos, dando continuidade à "revolução permanante" das vanguardas, os que se aventuram por criações interdisciplinares e os que tentam responder, no livro ou fora dele, à provocação das novas tecnologias. Mas longe de mim querer ditar normas. Que cada um faça a sua mágica. Com os meus melhores votos.

Fonte:
Entrevista realizada em 24/3/2003 por Jardel Dias Cavalcanti. Disponível em http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=993

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Trova 102 - Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR)

Florbela Espanca (Sinfonia de Poesias)



CANTIGAS LEVA-AS O VENTO...

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh’alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desaparecido
Revive numa saudade!
================

SONHOS...

Sonhei que era tua amante querida,
A tua amante feliz e invejada;
Sonhei que tinha uma casita branca
À beira dum regato edificada...

Tu vinhas ver-me, misteriosamente,
A horas mortas quando a terra é monge
Que reza. Eu sentia, doidamente,
Bater o coração quando de longe

Te ouvia os passos. E anelante,
Estava nos teus braços num instante,
Fitando com amor os olhos teus!

E, vê tu, meu encanto, a doce mágoa:
Acordei com os olhos rasos d’água,
Ouvindo a tua voz num longo adeus!
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O TEU OLHAR

Quando fito o teu olhar,
Duma tristeza fatal,
Dum tão intimo sonhar,
Penso logo no luar
Bendito de Portugal!

O mesmo tom de tristeza,
O mesmo vago sonhar,
Que me traz a alma presa
Às festas da Natureza
E à doce luz desse olhar!

Se algum dia, por meu mal,
A doce luz me faltar
Desse teu olhar ideal,
Não se esqueça Portugal
De dizer ao seu luar

Que à noite, me vá depor
Na campa em que eu dormitar,
Essa tristeza, essa dor,
Essa amargura, esse amor,
Que eu lia no teu olhar!
====================

FANATISMO

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdia.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!
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Carlos Leite Ribeiro (O Relógio, um conto real)


Naquele Fim de Ano, a minha sogra avisou-nos que, ao contrário do habitual, não o passaria conosco, pois tinha recebido um convite de uma amiga do Algarve.

Simpaticamente, não se esqueceu de mandar uns presentinhos ao neto (ainda era só um), à filha e ao seu “querido genro” (que era eu).

Quando minha esposa me disse que a mãe (dela) ia mandar-me um presente, confesso que tive um “toque no coração” e logo interroguei-me: “ Que se passará com aquela querida sogrinha que me vai mandar uma lembrança?”.

Quando os presentes chegaram, naturalmente as embalagens foram logo abertas. O meu presente tinha uma linda embalagem e um lindo relógio de mostrador azul lá dentro. Eu nem queria acreditar em tal sorte. Tirei o dito cujo dentro da embalagem e, como naquele tempo os relógios trabalhavam a corda, comecei a rodar a respectiva carrapeta, mas, por mais que o rodasse, o relógio não trabalhava. Resolvi telefonar para o Algarve para lhe perguntar em que ourivesaria tinha ela comprado o relógio para eu poder pedir a sua reparação ou substituição. Ai que o ela me respondeu, depois de dar sonora gargalhada:

- Meu querido genro, eu não comprei o relógio em nenhuma ourivesaria, mas sim a uns ciganos, na Praça da Figueira (Lisboa). Se quiser, vá à procura dos ciganos e faça a reclamação …

Ai o que eu tive vontade de lhe responder, mas vá lá, só pensei…

No regresso ao jornal logo no Novo Ano, prendi esse tal relógio no pulso direito (o normal é no esquerdo). Para realçar mais o tal relógio, até arregacei a manga da camisa.

- Olhem malta, o Carlos tem um relógio novo! – Chamou a atenção um colega.

Quase todos se levantaram das respectivas cadeira para virem admirar a prenda da minha sogra. Um deles reparou que a máquina não trabalhava, o que eu logo respondi:

- Meus amigos, este relógio é só para vocês o admirarem a sua beleza. Se quiserem saber as horas, tenho aqui este no pulso esquerdo!

A risada foi geral.

Ao saber do sucedido, uma colega telefonista disse-me:

- Olha Carlos, os ciganos estavam a vender esses relógios de fantasia, na Estação do Rossio (comboios – trens) a 15 escudos…

Anos depois, minha esposa chamou-me a atenção que meu filho mais velho tinha ficado triste por Papai Noel não lhe ter dado um relógio. Quando lhe entreguei, a então criança chorou, deu pulos e gritos, mas a certa altura parou com o seu contentamento e encarou-me de frente, perguntando-me:

- Papá, por acaso não compraste este relógio aos ciganos, pois não?...

- Não meu filho, comprei-o numa ourivesaria e tem garantia. Mas qual a origem dessa tua pergunta?...

- É que tenho ouvido umas histórias de um relógio que a avó tem deu …

Fonte:
Colaboração do Autor

Projeto de Trovas para uma Vida Melhor (2ª Etapa – 5º Concurso)


Tema: No Lar = Devotamento

Resultado Final

GRUPO 01 NACIONAL

1º LUGAR

Se no pão faltar fermento
ele jamais crescerá,
um lar sem devotamento
facilmente ruirá...
Leda Coletti (Piracicaba – SP)

2º LUGAR

Traz a palha com carinho
e, depois, traz alimento;
é assim que o passarinho
mostra seu devotamento.
Olympio da Cruz Simões Coutinho (Belo Horizonte – MG)

3º LUGAR

– Retirada por falha nossa.

MENÇÃO HONROSA

1. Bendito o devotamento
do herói que seja capaz
de, neste mundo briguento,
ser instrumento da paz!
Antonio Augusto de Assis (Maringá – PR)

2. Faz da fé, teu alimento,
e a Deus, a vida consagre...
Pelo seu devotamento,
alcançarás o milagre!...
Francisco Neves de Macedo (Natal – RN)

3. Devotamento é virtude
de todo o bom professor,
que conquista a Juventude,
usando as armas do amor!
Delcy Canalles (Porto Alegre – RS)

4. Devotamento - em verdade,
no lar, é como se fosse
prece que afasta a maldade
da vida serena e doce!
Prof. Garcia (Caicó – RN)

5. No momento dos conflitos,
devotamento não falha:
no silêncio dos contritos,
na fibra de quem batalha!
José Valdez de Castro Moura (Pindamonhangaba – SP)

MENÇÃO ESPECIAL

1. O grande devotamento
de pais e filhos no lar,
dá o tom de encantamento
de uma cena familiar!
Gislaine Canales (Camboriu – SC)

2. Devotamento é capaz
de um santo sonho gerar:
Família tranquila, em paz,
se no Natal se espelhar!
Angela Togeiro (Belo Horizonte – MG)

3. Devotamento é magia
quando alguém se faz presente
para cuidar - noite e dia -
de um irmão muito doente.
Milton Souza (Porto Alegre – RS)

4. Com devotamento ao lar,
onde o amor finca raízes,
a noite é para sonhar
e os dias são mais felizes.
José Lucas de Barros (Rio Grande do Norte)

5. No nosso devotamento
referente à honestidade,
sentimos é sofrimento
quando se falta à verdade!...
Geraldo Lyra (Recife - PE)

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GRUPO 02 NACIONAL

1º LUGAR

Aquele devotamento
que no lar é esperado,
é fruto do entendimento
de um amor entrelaçado.
MIFORI (Mogi das Cruzes – SP)

2º LUGAR

Este teu devotamento
é de encantar, meu amor!
Não ouço em nenhum momento
um ai de cansaço ou dor.
Gilson Faustino Maia (Petrópolis – RJ)

3º LUGAR

Devotamento no lar
prova a presença do amor,
dando exemplo singular
de família de valor.
Ruth Farah Nacif Lutterback (Cantagalo – RJ)


MENÇÃO HONROSA

1. Devotamento, confesso:
meu lar, meu mundo, afinal,
é meu trabalho onde expresso,
todo amor universal!
Dilva Moraes (Nova Friburgo – RJ)

2. Principalmente no amor
deve haver devotamento,
sem o qual pode haver dor
e até mesmo esquecimento.
Raymundo de Salles Brasil (Salvador – Bahia)

3. Este meu devotamento
pelo lar que é meu jardim,
resultou do ensinamento
que meus pais legaram a mim.
Tarcísio José Fernandes Lopes (Brasília – DF)

4. O real devotamento
acontece em nossa vida
a todo e qualquer momento
numa oração bem vivida.
Célia Aparecida Marques da Silva (Taubaté - SP)

5. No lar, o devotamento,
traz a calma e a harmonia,
e promove o crescimento,
para todos na alegria.
Maria Diva Fontes Ricco (São José dos Campos – SP)

MENÇÃO ESPECIAL

1. O devotamento é luz
que clareia nosso lar,
nos conforta e reproduz
um enorme bem-estar.
Jair Pereira da Silva (Pilar do Sul – SP)

2. Preste a Deus devotamento
dando ao lar um bom sentido;
desfazendo o céu cinzento,
pinte o ar em colorido.
Cristina Leite Goetten (Paranavaí - Paraná)

3. O integral devotamento
à paz, alegria e amor,
não nos causa sofrimento
faz sorrir o Criador!
Ilze Soares (Catanduva – SP)

4. Haverá devotamento,
se reinar amor no lar;
e, seu desenvolvimento,
fortes laços vão criar.
Barão de Jambeiro (Jambeiro – SP)

5. Com amor, dedicação,
devotamento no lar,
ela mostrou afeição,
a família soube amar...
Edina Prado

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GRUPO 03 NACIONAL - ALUNOS DE PARAIBUNA/SP

1º LUGAR

Eu sinto devotamento,
por meus pais e meus irmãos,
pois, não há merecimento
se não nos dermos as mãos.
Aline de Oliveira das Neves (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

2º LUGAR
Minha vovó tem carinho
e muito devotamento,
reza sempre bem baixinho,
com fé e conhecimento.
André Luiz Santos – 8ª C – (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

3º LUGAR
Um devotamento santo
nos fará ganhar o céu,
Deus nos cobre com seu manto
ou apenas com um véu.
Margarete Aparecida dos Santos – (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

MENÇÃO HONROSA

1. Ao meu Santo poderoso
todo o meu devotamento;
no retorno generoso,
é proteção e acalento.
Larissa Andréa da Silva (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

2. Eu vejo devotamento
nos meus pais e seu amor;
eles nos dão o sustento,
e também nos dão valor.
Marcos Fernandes do Prado (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

3. Quem tem o devotamento,
não precisa da certeza
de que vem a si o alento,
pois, sabe agir com nobreza.
Caroline G. dos Santos (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

4. Eu sinto devotamento
pelo meu querido amor
que chegando como um vento,
curou toda minha dor.
Júlia Gabriela Jerônymo (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

5. Vivo com devotamento,
amo minha mãe e meu lar.
Ela nos dá o provento
e nos ensina a amar.
Arthur Rodrigues Bitencourt Moura (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

MENÇÃO ESPECIAL

1. Quem sente devotamento,
quem tem amor nesta vida,
passa muito sofrimento
quando não é atendida.
Darjana Aieska Bitencourt S. Santos (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

2. Com muito devotamento
eu creio no meu Senhor,
porém, em todo o momento,
fico sofrendo de amor.
Emerson A (E. E. “Cel. Eduardo José de Camargo“)

3. Meu devotamento vem
das alturas, com os ventos...
Gosto de todos também
que desenvolvem talentos.
Carlos Felipe Almeida Moraes Santos (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

4. Se todo devotamento
faz a pessoa feliz,
quero ter esse talento;
hoje sou um aprendiz.
Letícia M. M. Sakamoto (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

5. Vivo com devotamento,
amo minha mãe e meu lar.
Ela nos dá o provento
e nos ensina a amar.
Arthur Rodrigues Bitencourt Moura (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

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GRUPO INTERNACIONAL

1º LUGAR

Viveu tal devotamento
Ao lar, filhos e marido
Que fez do seu casamento
Mais do que foi prometido.
Domingos Freire Cardoso (Ílhavo - Portugal)

2º LUGAR

Quem tiver devotamento
à família e ao seu lar
tem na Terra encantamento
e no Céu o seu lugar.
Gisela Alves Sinfrónio (Portugal)

3º LUGAR

Devotamento no lar,
é ter paz, amor profundo
e a família consagrar
Ao criador deste mundo.
Jorge A G Vicente (Suiça)

MENÇÃO HONROSA

1. Amor é devotamento
à família em que se vive,
é carinho, é sentimento,
dos entes com quem convive...
António Boavida Pinheiro (Lisboa – Portugal)

2. Devotamente é o amor
elevado em alto grau;
é a devoção e o fervor
subindo mais um degrau!
Maima (Toulon – França)

3. Lembro o nosso casamento
contigo, bem junta a mim,
com todo o devotamento,
eu disse ao padre que "sim".
António José Barradas Barroso (Parede – Portugal)

MENÇÃO ESPECIAL

1. Fazer do lar sacramento
e leva-lo aos apogeus
dum grande devotamento,
abrem-se as portas a Deus!
Clarisse Barata Sanches (Góis - Portugal)

2. Sagrado devotamento
que na fé consumarei.
Essência do sentimento
que por ti tudo darei.
Maria Cristina Fervier (Salto Grande – Santa Fe – Argentina)

3. Em Nazaré fora visto
devotamento ao luar,
e os olhos de Jesus Cristo
a iluminarem o lar!
Judite Raquel Neves Fernandes (Góis - Portugal)

4. Devotamento depura
a família a todo o norte,
para que seja mais pura
e amorosa até à morte.
Isaura Martins (Lameiras - Tábua - Portugal)
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Próximo Concurso

6 - Tema: na rua - GENTILEZA;
de 05/01/2010 a 15/02/2010 -
resultado até 15/03/2010

(abril/maio/junho .............. - 2010 - publicações: de cirandas e Livros virtuais)

Fonte:
Colaboração de Maria Inez “Mifori”

Dyonélio Machado (1895 – 1985)


Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quarai, RS, em 21/08/1895, na fronteira com o Uruguai, filho de Sylvio Rodrigues Machado e de Elvira Tubino Machado. Político, médico escritor, jornalista e poeta, foi um dos expoentes da segunda geração do Modernismo no Brasil.

Um acontecimento marcante na sua vida foi o assassinato do pai, que aconteceu quando ele era ainda um menino.

Em 1903, como a família, que era constituída pela mãe e pelo irmão Severino, ficou pobre, aos oito anos, ele já vendia bilhetes de loteria para ajudar no sustento da casa . Nunca mais esqueceu uma cena terrível que lhe aconteceu: um dia, na rua, encontrou o assassino do pai. O homem queria comprar um bilhete. Esse encontro é narrado pelo próprio escritor: "Não queiram passar pelo momento que passei: negociar com quem me fizera órfão era renegar uma adoração que nada abalaria. Mas trocar por dinheiro os poucos bilhetes de loteria que eu carregava, era obter meio quilo de carne. Cedi. Nossa transação se fez sem palavras. Sabia também o que me esperava em casa: era minha mãe chorando".

Embora pobre, continuou os estudos. Matriculou-se e ao irmão menor na recém-aberta Escola de Aurélio Porto. Para pagar a escola para os dois, ele dava aulas para os meninos das classes mais atrasadas. Com 12 anos, começou a trabalhar como servente no semanário O Quaraí, o que lhe permitiu conhecer os intelectuais locais. Foi também balconista na livraria de um parente, João Antônio Dias.

Em 1911, em Quaraí mesmo, ele fundou, o jornal 0 Martelo.

Em 1912, foi morar em Porto Alegre, onde permaneceu até estourar a Primeira Guerra Mundial, quando voltou para a terra natal.

A partir de 1915, começou a colaborar com a Gazeta do Alegrete, o Correio do Povo, o Diário de Notícias e o Diário Carioca.

Em 1921, casou com dona Adalgisa Martins, professora de piano, com a qual teve dois filhos, Cecília e Paulo. Também, no mesmo ano, participou, em Porto Alegre, da criação do jornal A Informação.

Em 1923, publicou um livro de ensaios políticos, Política Contemporânea.

Em 1924, entrou para a Faculdade de Medicina, na qual foi um ótimo aluno.

Em 1927, publicou um livro de contos chamado Um Pobre Homem.

Em 1928, fez concurso público para funcionário do Hospital São Pedro, classificando-se em primeiro lugar. Trabalhou lá durante trinta anos, chegando a ser diretor da instituição.

Em 1929, formou-se em Medicina.

Em 1930 e 1931, especializou-se em Psiquiatria no Rio de Janeiro, de onde regressou em 1932. Uma curiosidade sobre este romancista é que, embora fosse médico, não gostava de médicos nem de remédios. Quando adoecia só admitia tomar Melhoral, mas era adepto incondicional de chás e chimarrão.

Em 1934, envolveu-se na greve dos gráficos da Livraria do Globo, por isso, foi preso num quartel militar, na Praia de Belas. Como era homem de esquerda, tornou-se membro dedicado do Partido Comunista Brasileiro -PCB. Após ser solto, foi para o interior ajudar um familiar doente.

Em 1935, por ocasião da Intentona Comunista, foi preso novamente. Enviado para o Rio de Janeiro, conheceu Graciliano Ramos no cárcere. Enquanto estava preso, soube que seu primeiro romance, Os Ratos, recebeu o Prêmio Machado de Assis, sendo publicado naquele mesmo ano, tornando-o conhecido em todo o País. Essa obra foi muito bem aceita pela crítica. O assunto deste livro é aparentemente banal, fala sobre criaturas medíocres às voltas com um pequeno problema. Ele foi inspirado num pesadelo que sua mãe lhe contou.

Em 1937, regressou a Porto Alegre, por coincidência no dia em que aconteceu o golpe do Estado Novo. Para não ser preso mais uma vez, fugiu para Santa Catarina pelo litoral, com identidade falsa. Conta-se que, anos depois, ele reconheu, no Hospital São Pedro, o motorista de caminhão que o ajudara naquela viagem. Fez o que pôde para retribuir o auxílio despretensioso que recebera em tempo difícil, mas não revelou a identidade do doente.

Em 1942, saiu O Louco do Cati.

Em 1944, veio a público Desolação.

Em 1946, Passos Perdidos. Neste mesmo ano, fundou, com o camarada Décio Freitas, o jornal Tribuna Gaúcha, porta-voz do Partido Comunista Brasileiro.

Em 1947, com o PCB na legalidade, Dyonélio elegeu-se deputado estadual pelo velho "partidão" e tornou-se líder da sua bancada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Em 1948, foi cassado, em janeiro, quando o PCB caiu na clandestinidade.

Em 1966, lançou Deuses Econômicos.

Em 1977, aos 82 anos, teve o primeiro infarto do miocárdio. Ele sofria também de insônia crônica. Neste ano, recebeu o Prêmio Especial de Crítica de São Paulo e foi empossado na Academia Rio-Grandense de Letras, na cadeira de Eduardo Guimarães.

Em 1980, saíram os livros Prodígios e Endiabrados, Sol Subterrâneo e Nuanças.

Em 1981, foi a vez de Fada e Ele Vem do Fundão.

No dia 19 de junho de 1985, Dyonélio Machado faleceu no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre.

Dyonélio foi ainda um dos fundadores da Associação Rio-Grandense de Imprensa – ARI. Escritor com fama de difícil, pessimista, por vezes impenetrável ao leitor mais apressado, a crítica e o público não receberam suas demais obras do mesmo modo como Os Ratos.

Segundo escreve o seu biógrafo Rodrigues Till, ele foi "um médico eminentemente humanitário, sem jamais pretender fazer da profissão um balcão de negócios. Gratuitamente atendia a todos os que o procuravam, desprovidos de quaisquer recursos materiais. E, como decorrência lógica, não seria nunca um amealhador de riqueza pecuniária, daí ter morrido com a consciência tranqüila por ter sabido cumprir, por inteiro, os mandamentos de Hipócrates." Artur Madruga resumiu assim a sua vida: "Foi na medicina que teve seu sustento; na política, seu tormento e na literatura, seu alimento".

O "Lobo Solitário" da literatura gaúcha, como o chamou Érico Veríssimo, deixou-nos uma obra composta de 12 romances, um livro de contos, um volume de memórias e vários ensaios.

Sua obra foi apenas reconhecida tardiamente, tendo recebido destaque nos meios acadêmicos apenas a partir da década de 1990. O psicológico está bastante enraigado em sua obra, como deixam transparecer O louco do Cati e Os ratos.

Características de Sua Obra

Dyonélio Machado possibilitou a compreensão da unidade de sua obra graças à sua perspectiva social e à reiteração dos temas abordados: pequena burguesia e operariado urbano. Narra a trajetória de uma personagem, associando-as sempre a um deslocamento no espaço, que tem um alvo a atingir, podendo o resultado desse esforço ser menos ou mais precário, jamais significando, porém, uma realização pessoal. A narrativa, portanto, assemelha-se a uma história de aventuras, apesar de a personagem estar plenamente integrada ao contemporâneo e ao nacional.

Nas novelas de Dyonélio Machado, o deslocamento no espaço, impedindo o descanso e a tranqüilidade dos heróis, acaba por confundir busca e fuga, exemplificando a situação de precariedade e insegurança das camadas menos favorecidas da sociedade urbana e subdesenvolvida, submetida a um regime de força

Fontes:
http://www.al.rs.gov.br/plen/SessoesPlenarias/49/1995/950830.htm
http://memoria.simers.org.br/
www.tirodeletra.com.br/biografia/DyonelioMachado.htm
http://vestibular.setanet.com.br/resumos/modernismo.htm
http://www.geocities.com/slprometheus/html/dyonelio.htm
– CASTILHOS, Patrícia. Roteiro de uma Literatura Singular: Análise da historiografia literária sul-rio-grandense.

Genolino Amado (O Ponto Fatal)


Certa ocasião quase aderi à desavença do velho Campos. Foi naquele dia em que o maldoso Colombo me atrapalhou na Escola e até fez perigar a salvação de um inocente.

O inocente pertencia a um grupo de assustados guarda-livros sem diploma profissional. Assustados porque lei ou decreto, que finalmente se cumpria, lhes impôs a escolha cruel: ou provas de habilitação ou perder o meio de vida. Porque mantinha curso oficial de comércio, ficou a Amaro com a incumbência dos exames. E que exames! Além de escrituração mercantil e segredos contábeis, incluíam matérias ginasiais.

Assim, ao sobradinho das meninas foram comparecendo, bem nervosos, examinandos grisalhos, de pouco saber e muitas rugas. Alguns, gorduchões, se espremeriam nas carteiras das pequenas. Carteiras iguais às das suas filhas, ou talvez das netas, noutra escola qualquer.

Veio a designação dos examinadores. Dois em cada banca. Eu, com o Professor Balbino de companheiro na de História e Geografia. Afinal, uma reunião dos mestres indicados. E parecendo exprimir a idéia de todos, o bom Professor Milton:

– Precisamos facilitar de qualquer forma os coitados. Na fisionomia deles a gente vê a angústia. Tem anos e anos de serviço, com os empregadores satisfeitos. É o que atesta de sobra a sua competência e dedicação. Melhor do que um diploma de guarda-livros. Nas provas do Amaro, exigir muito, mesmo pouco, seria demais. Assim penso. E vocês, colegas?

Vozes e vozes de apoio. Só Balbino é que não piou: Mas quem cala consente concluí, confiante. E a confiança cresceu porque alguém:

– Que tal reduzirmos o número de pontos? Bastariam dez... Que acham?

– De acordo – falou Balbino, iniciando as adesões.

Ufa! Tirei um peso da consciência. Se Balbino, o rigor em pessoa, concordava, a coisa ia bem. Peguei o pião na unha:

– Perfeito, colega. Em nosso caso, cinco pontos de Geografia e cinco de História.

– Não, não! Pelo que entendi, têm de ser dez por matéria.

Milton socorreu-me.

– Entendeu mal, Balbino. Dez por banca. É uma só a de História e Geografia. Seu companheiro está certo.

Um bom sofisma... que não pegou. Argumenta daqui, argumenta dali, afinal conciliação à maneira getuliana: dez de Geografia balbínica, cinco de História genolínica. E História a começar dos tempos modernos. O homem aceitou de cara feia. Foi então que um dos facilitadores:

– Vocês discutiram à toa. Que importam dez ou cinco pontos? Ninguém será reprovado...

Isso provocou muito sim e um não. O da Geografia:

– Que exagero! Facilitar, admito. Aprovar de qualquer modo, tenham paciência. . . Não é do meu feitio.

– Mas, Balbino! ponderou Mílton. É um pessoal velho, cansado, receoso de perder o emprego. Não são meninas que decoram sem esforço, que aprendem com facilidade. Alguns já têm a cabeça branca. E têm família...

Reconheço que é duro. Sofrerei, se tiver de reprovar. Sabendo um pouquinho que seja, passa. Não sabendo coisa nenhuma, reprovo. Questão de princípio. Sou assim e não mudarei.

– Veja bem, colega, tornou Milton. Iremos examinar um velhote com dezoito anos de guarda-livros na Rua do Acre. Esse velhote me confessou que já lhe fugiu da cabeça tudo quanto aprendeu no tempo de moço. E reaprender, não consegue. Por que exigir que ele responda certinho quem proclamou. a República ou se o rio Sena é francês, não inglês? O velho faz bem a escrituração de cebola e bacalhau no empório de secos e molhados.

– Serei benevolente, mas só até certo ponto. Não prometo aprovação além do razoável.
Inseguro no andar, claudicando um pouco, Balbino era seguríssimo nas convicções. Admirável professor pelo saber e devotamento ao magistério, via mais o ensino do que a vida.

Mestre por acaso, via eu, principalmente, a sorte dos examinandos. E via com aflição aquele grupo de aflitos. O mais temeroso me pareceu o da rua do Acre. Assim, na véspera do primeiro exame, o de Geografia, fiz-lhe a pergunta:

– Então? Preparou-se?

– Acredito que passarei, Professor. É que minha paixão sempre foi viajar. Não podendo, acostumei-me a ver os mapas. Boa mania, porque espero que me ajude no exame. Na História é que estou fraquinho demais...

Realmente, os mapas o socorreram. Fez boa escrita, não foi muito ruim a oral. Na Geografia, outro é que me custou salvar. Um alagoano quarentão, de testa estreita e bigodinho espinhento, quase não escreveu. E o que escreveu, Nossa Senhora! Atribuí 7, Balbino 2. Antes da oral, chamei-o à parte e:

– Se não souber, fique em silêncio e espere minha ajuda. Não responda sem saber, que é pior. Veja lá, hein? Não se precipite. E o alagoano precipitava-se. Feita qualquer pergunta, dizia sem vacilações a tolice que lhe viesse à mente.

– A cidade principia por um B, ouviu? A capital da Suíça é...

– Bruxelas, Professor.

Ainda bem que Balbino examinava outro. Engoli, fui adiante:

– O rio São Francisco tem a sua nascente...

No Paraná veio em cima da bucha, na mais sadia e descuidosa ignorância. Meu companheiro, que acabara de argüir outro sofredor:

– Que tal este seu 7? – indagou num sussurro.

– Saiu-se bem? Dei 8. O colega quer examiná-lo ou acompanha a nota?

Balbino confiou, acompanhou. Salvou-se uma alma do purgatório naquele dia. Mas, na manhã seguinte, manhã fatal, o problema dos problemas o velho que se confessou fraquinho, fraquinho, no exame de História. Os mapas não o ajudariam. Sorteio, ponto l: Descobrimento da América. O melhor de todos, tão bom que me parecia tirado pelo deus protetor dos guarda-livros. Respirei. Vi, porém, na carteirinha de garota, o velho com os olhos no ar, a caneta inútil na mão trêmula; em branco a folha de papel. E Balbino ali, observador.

Eis que surge um mensageiro do céu, o servente Oséias:

– Professor Balbino, telefone. É o Professor Milton.

– Pode atender, colega. Fiscalizo pelos dois.

Lá se foi o companheiro. Corri ao examinando, soprei a data, o navegador, duas das naus que saíram da Espanha, suprimi a terceira para não dar na vista, uma referenciazinha veloz aos Reis Católicos. O telefonema do Milton, que nem sei se foi intencional ou coisa do destino, mas sei que foi longo, me tornou profundamente grato a Graham Bell. A prova do velho completou-se no minuto em que Balbino reapareceu, a resmungar:

– Esse Mílton é um conversador como nunca vi!

De tarde, seria a oral. Dividi com o companheiro as provas escritas, oito apenas. O resto da manhã aproveitaríamos na leitura. A do velho, passei a Balbino. E depois de apreciá-la, o bom professor:

– Boazinha. E vocês a se alarmarem com o homem! Mostrou conhecimento. Darei nove.
Não é muito? Deixe-me ver: Fingi que lia. Dou oito. Chega.

E depois o rigoroso sou eu. Qual!

Senti uma dor na consciência. Que o deus dos guarda-livros intercedesse por mim ao deus dos professores.

Hora da oral. Começou com o alagoano de bigode espinhoso. Ponto 3: Napoleão. Já experimentado, fiel ao conselho que lhe dei, foi prudente. Na pergunta de Waterloo, teve a cautela de silenciar. Vitória ou derrota napoleônica? Viu que apontei para baixo e triunfou, derrotando Napoleão.

Após três outros, que se saíram razoavelmente, sem me dar susto, o velho da Rua do Acre. Enfiou a mão na caixinha. Reapareceu o ponto 1, o mesmo da escrita. E foram dois os descobrimentos o do nauta e o do Balbina. Esse, na maior das canduras:

– Muito bem! O senhor teve sorte. Sabe a matéria. Só vou perguntar porque é de praxe.

– O nosso continente foi descoberto por quem?

O examinando mudo. E o professor:

– Por que não diz? Pois, se escreveu... Quem foi?

Nada. Silêncio, o velho nervoso. Balbino já nervosinho.

– Por que não me diz que foi Cristóvão Colombo?

– Ah, é verdade, Professor. Colombo, sim. Parece que o almoço me atrapalhou a cabeça.

– É possível. Mas... a data? Pense e responda.

Mudez ainda. O examinador:

– Ora, santo Deus! Diga ao menos a ano. Ou melhor, basta o século. Se sabia, não posso acreditar que tenha esquecido tudo em poucas horas. E então?

Velho desmemoriado! Copiou o que ditei e esqueceu-se completamente. Balbino resmungou:

– Hum! Saí da sala, fui ao telefone...

– É insinuação, colega?

– Bem, dou o dito por não dito. E o examinando pode retirar-se. Lamento, mas vai receber um zero.

– Dei l. Com o meu 8 e o 9 de Balbino na escrita, aprovação raspando com a média quatro-e-meio.

Deixei a Escola em companhia do Professor Milton, que também teve oral nessa tarde. No cafezinho da esquina, desabafei:

– Seu Milton, creio que fiz o que não devia. Um professor fornecendo cola a um examinando...

Relatei o caso todo. Mílton sorria.

– Pensa que é o primeiro a proceder assim? Pois saiba que agi como você na Escola Mauá. O aluno colando por minha determinação. Minha e do próprio diretor.

– Que me diz? Quer contar como foi?

– No momento, não, porque estou com pressa e preciso tomar aquele bonde que vem ali. Amanhã contarei a história. É a de dois andares.

Dois andares? fiquei a pensar, quando Milton se foi. Era um engenheiro de muitas construções, além de professor. Coisa estranha!

Que relação haveria entre a cola de um aluno e um edifício de altos e baixos?

(O reino perdido, 1971.)

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Genolino Amado (1902 – 1989)


Genolino Amado, jornalista, professor, cronista, ensaísta e teatrólogo, nasceu em Itaporanga, SE, em 3 de agosto de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de março de 1989. Eleito em 9 de agosto de 1973 para a Cadeira n. 32, da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Joracy Camargo, foi recebido em 14 de novembro de 1973, pelo acadêmico Hermes Lima.

Iniciou sua educação na província natal e fez humanidades no Colégio Carneiro, em Salvador. Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, integrando a turma de calouros que iria dar ao país vários escritores e mestres do Direito, tais como Hermes Lima, Pedro Calmon, Nestor Duarte e Adalício Nogueira. Completou o curso jurídico no Rio de Janeiro, onde se diplomou em 1924.

Pouco depois da formatura foi para São Paulo, com o propósito de fazer carreira na advocacia. Contudo, sua autêntica vocação levou-o ao Correio Paulistano, onde figurou entre os seus principais redatores, tendo sido indicado por Menotti del Picchia para substituí-lo na crônica diária daquele prestigioso matutino. Surgiram, assim, as primeiras páginas de um novo autor, que se assinava Geno, as quais mereceram um entusiástico artigo de Agripino Grieco, o que causou surpresa, pela índole demolidora do crítico.

Essa atividade na imprensa foi interrompida com a sua nomeação para Chefe da Censura Teatral e Cinematográfica de São Paulo, em começo de 1928. Genolino Amado não se afastou, porém, das rodas intelectuais da Paulicéia, convivendo com os modernistas de maior relevo, sobretudo Oswald de Andrade, Menotti, Cassiano Ricardo e Cândido Motta Filho. Foi também nessa fase que se ligou intimamente a Galeão Coutinho, Brito Broca, e, logo depois, Orígenes Lessa. Perdido o cargo com a revolução de 1930, retornou imediatamente ao jornalismo, com posição de destaque nos Associados, dirigindo o Suplemento Literário do Diário de São Paulo e publicando cotidianamente crônicas no Diário da Noite. Ao mesmo tempo iniciou a sua colaboração na emissora Record, atendendo a convite de César Ladeira, seu jovem colega de redação, que se transformara repentinamente em locutor popularíssimo e que, depois, no Rio, tanto contribuiu para o êxito singular de Genolino Amado como cronista radiofônico.

Voltando para o Rio em 1933, tornou-se redator-editorialista de O Jornal; foi nomeado professor de curso secundário da então Prefeitura do Distrito Federal, na grande reforma da instrução pública realizada por Anísio Teixeira; e escrevia para a Rádio Mayrink Veiga, na interpretação de César Ladeira, as Crônicas da Cidade Maravilhosa, cujo sucesso sugeriu a André Filho a composição da famosa marcha que se tornaria o hino da Guanabara. Na mesma emissora, apresentou por longo tempo a Biblioteca no Ar, que por duas vezes obteve prêmio como o melhor programa cultural do rádio brasileiro. Posteriormente, obteve êxito na Rádio Nacional, com a Crônica da Cidade, com extraordinária audiência.

Absorvendo-se na imprensa e no rádio, só em 1937 Genolino Amado publicou o seu primeiro livro, Vozes do mundo, em que estuda grandes figuras das letras estrangeiras. O êxito da estréia levou o autor a reunir outros ensaios, lançados em suplementos dominicais, no volume Um olhar sobre a vida, em 1939. Seguiram-se Os inocentes do Leblon (1946) e O pássaro ferido (1948), coletâneas de crônicas publicadas na imprensa. Ao mesmo tempo, traduziu romances e peças de teatro. Estreou ele próprio como autor, em 1946, com Avatar, comédia representada não só no Brasil como no estrangeiro e adotada na Academia Militar de West Point como livro de leitura para os cadetes americanos. A segunda peça, Dona do mundo, foi apresentada em 1948 e laureada com a Medalha de Ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais.

A carreira de magistério estendeu-se ao nível superior, como um dos mestres que iniciaram o Curso de Jornalismo na Faculdade Nacional de Filosofia e Letras.

Afastou-se das atividades literárias quando passou a exercer, no último governo de Getúlio Vargas, em 1954, o cargo de Diretor da Agência Nacional. Nomeado a seguir Procurador do Estado da Guanabara, por longo tempo se concentrou nas letras jurídicas, exarando inúmeros pareceres, muitos dos quais selecionados para publicação da Revista da Procuradoria Geral. Em todo esse período, só apareceu como um dos tradutores de A minha vida, de Charles Chaplin. Retornou à literatura em 1971, com O reino perdido, em que evoca a sua vivência como professor.

Após a publicação dessa obra, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, atendendo a apelo de vários membros da instituição. Após três meses de labor, em 1977, publicou Um menino sergipano, seu segundo livro de memórias, limitado aos anos transcorridos em Itaporanga, sua cidade natal, tão poeticamente evocada, também, em História da minha infância, por Gilberto Amado.

Obras: Vozes do mundo, ensaios (1937); Um olhar sobre a vida, ensaios (1937); Os inocentes do Leblon, crônicas (1946); O pássaro ferido, crônicas (1948); O reino perdido, memórias (1971); Um menino sergipano, memórias (1977);Teatro: Avatar, comédia (1948); Dona do mundo, comédia (1948).

Fontes:
http://www.wagnerlemos.com.br/
Academia Brasileira de Letras

Academia Sergipana de Letras



A Academia Sergipana de Letras é a instituição literária sergipana que tem por finalidade o cultivo e o desenvolvimento das letras em geral e colaborar na elevação das artes e da cultura do Brasil e, de modo particular em Sergipe.

Foi criada segundo o modelo da Academia Brasileira de Letras, por iniciativa do poeta Antônio Garcia Rosa e de outros intelectuais sergipanos, destacando-se, entre eles, José de Magalhães Carneiro, Cleomenes Campos, José Augusto da Rocha Lima, Rubens Figueiredo, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva e Manuelito Campos.

A Academia tem uma história toda especial, pois sucedeu à Hora Literária, instituição recreativa, fundada em 1º de abril de 1919, depois transformada em sociedade literária de caráter acadêmico autônoma, por decisão da Assembléia Geral de 17 de julho de 1927.

A Hora Literária tinha como objetivos a promoção do estudo; o envolvimento intelectual do cidadão e a difusão do pensamento.

Cumpria, a Hora Literária, as suas metas, quando o movimento em prol da fundação da Academia consolidou-se, principalmente a partir de 13 de abril de 1929, quando deliberou-se que para a composição do quadro acadêmico, ficariam mantidos os acadêmicos que pertenciam à Hora Literária.

Assim, a 1º de junho de 1929, a Hora Literária convertia-se na Academia Sergipana de Letras, dando grande brilho às letras sergipanas. Seu primitivo estatuto criou 16 cadeiras para os seus sócios acadêmicos, todas patrocinadas por sergipanos ilustres, já, falecidos, na seguinte ordem: Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Maria Perdigão, Severiano Cardoso, Frei Luiz de Santa Cecilia, Horácio Hora, Armindo Guaraná e Pedro de Calazans.

Segundo o mesmo estatuto, para ocupá-las foram considerados sócios acadêmicos, com posse de todos os direitos inerentes à dignidade do cargo e das funções, os poetas Antônio Garcia Rosa, Cleomenes Campos, Etelvina Siqueira e Hermes Fontes; escritores José de Magalhães Carneiro, Ranulfo Prata, Manuelito Campos, Rubens de Figueiredo, Clodomir Silva e Gilberto Amado; filológo e orador José Augusto da Rocha Lima; oradores D. Antônio Cabral e Monsenhor Carlos Costa; pedagogos Manuel Santos Melo e Helvécio Andrade.

Posteriormente, foram integrados os 24 membros restantes, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, constituindo, dessa maneira, o corpo dos 40 imortais. A Academia passou a adotar, como logomarca, uma coroa de louros, formada de dois ramos, presos por um laço de fita, tendo ao centro o mapa de Sergipe, dentro do qual consta a divisa: "Dare lumina terris" (Dar luz a terra), - tudo encimado por uma estrela pentagonal.

Em 1931, o Sodalício estava composto de 40 membros efetivos e de 20 correspondentes. Como patronos das cadeiras criadas, estabeleceu-se a seguinte ordem: Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Lima Junior, Severiano Cardoso, Frei Santa Cecília, Horácio Hora, Armindo Guaraná, Ascendino Reis, Pedro de Calazans, Vigário Barroso, Pereira Barreto, Coelho e Campos, Caldas Júnior, Martinho Garcez, Ciro Azevedo, Pedro Moreira, Dias de Barros, Monsenhor Fernandes da Silveira, Manuel Luiz, Conselheiro Orlando, Jackson Figueiredo, José Jorge de Siqueira, José Maria Gomes de Souza, Oliveira Ribeiro, Guilherme Rebelo, Joaquim Fontes, Conselheiro Aranha Dantas, Baltazar Gois e Brício Cardoso.

Nos anais do Cenáculo, figuram como primeiros ocupantes das cadeiras, renomados homens de letras, a começar por Antônio Garcia Rosa, Magalhães Carneiro, Cleómenes Campos, José Augusto da Rocha Lima, D. Antônio Cabral, Gilberto Amado, Ranulfo Prata, Manuelito Campos, Rubens Figueiredo, Artur Fortes, Costa Filho, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva, Santos Melo, Helvécio de Andrade, Hermes Fontes, Oliveira Teles, D. Mário Vilas Boas, Pìres Wynne, Alfeu Rosas, Maurício Cardoso, João Passos Cabral, Prado Sampaio, Julio Albuquerque, Carvalho Neto, Florentino Menezes, Nobre de Lacerda, Gervâsio Prata, Abelardo Cardoso, Enock Santiago, João Esteves da Silveira, Edson Ribeiro, Humberto Dantas, Olegário e Silva, Josué Silva, Augusto Leite, Hunaldo Santaflor Cardoso, Pedro Machado, Marcos Ferreira de Jesus, Zózimo Lima, Epifânio Dória.

Passaram, também, pelos assentos da Academia, expressões culturais do porte de José da Silva Ribeiro Filho, Freire Ribeiro, Garcia Moreno, Exúpero Monteiro, Abelardo Romero, Jorge Neto, Gonçalo Rolemberg Leite, Sebrão Sobrinho, Clodoaldo de Alencar, Felte Bezerra, Severino Pessoa Uchôa, Renato Mazze Lucas, Urbano Neto, Monsenhor Domingos Fonseca, José Olino de Lima Neto, Orlardo Vieira Dantas, José Augusto Garcêz, Benedito Cardoso, João Fernandes de Britto, José Maria Rodrigues Santos, Antônio Garcia Filho, Núbia Nascimento marques e D. José Brandão de Castro.

As reuniões da Academia, a partir de 1932, aconteceram na Sala da Ordem dos Advogados do Brasìl, Seccional de Sergipe, localizada no antigo Palácio da Justiça, à Praça Olympio Campos, onde atualmente funciona a Procuradoria Geral do Estado; mudou-se, depois para o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, à rua Itabaianiriha, já que, praticamente todos acadêmicos eram, também, sócios dessa modelar instituição cultural.

No início da década de 70, as reuniões da Academia foram mais uma vez transferidas. Desta feita, graças aos trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos Severino Uchôa, então Presidente, e Emmanuel Franco, as tertúlias acadêmicàs passaram a ter lugar no vasto salão do primeiro andar da antiga iblioteca Pública, hoje Arquivo Público do Estado, à Praça Fausto Cardoso. E aí viveu ela por alguns anos, até que foi desalojada e transferida para o sobrado em que funcionou, antigamente, o Colégio Tobias Barreto, localizado na rua Pacatuba, 288, o qual, aliás, é um dos últimos exemplares da arquitetura civil do início do século, em nossa cidade. Como se vê, não foram fáceis esses longos anos de existência da Academia, já que para começar, não possuía casa. Ultimamente, porém, o tratamento melhorou e o Governo do Estado vem mantendo, com a instituição cultural, um pacto de uso do prédio público, numa total parceria, uma vez que ambos estão comprometidos com as ações de promoção, difusão e intercâmbio das atividades culturais e artísticas de Sergipe.

A Academia no curso dos seus 71 anos de existência tem sido reconhecida pela sociedade sergipana como a entidade cultural responsável pelo estímulo do movimento intelectual do Estado e, como tal, tem merecido do Poder Público e da iniciativa privada, as melhores atenções, sempre voltadas para a consecuçáo dos seus objetivos, na incessante busca do desenvolvimento cultural e social do povo sergipano.

A Academia Sergipana de Letras é reconhecida, também, como a mals democrática das Academias do País, pois, em seu quadro, abriga não só literatos, como homens de artes, humanistas e cientistas, dando, assim, uma ênfase especial à cultura em geral, cumprindo, destarte, as suas finalidades estatutárias.

Com efeito, na atualidade, as cadeiras acadêmicas estão ocupadas de figuras de todos os segmentos culturais do Estado. Entre os poetas, figuram: Santo Souza, Hunald de Alencar, Wagner Ribeiro, José Abud, Eunaldo Costa, Carlos Britto e Carmelita Fontes; cientistas: Emmanuel Franco, Walter Cardoso e Eduardo Garcia; escritores: José Amado Nascimento, Clodoaldo de Alencar Filho, Mário Cabral, D. Luciano Cabral Duarte, José Bonifácio Fortes Neto, Luiz Antonio Barreto, Manoel Cabral Machado, Acrísio Torres de Araújo, Francisco Guimarães Rollemberg, João Alves Filho e Maria Lígia Madureira Pina; historiográfos: Maria Thetis Nunes, Ariosvaldo Figueiredo, José Silvério Leite Fontes e Luiz Fernando Ribeiro Soutelo; juristas: José Anderson Nascimento, Luiz Pereira de Melo, Luiz Garcia, Luiz Rabelo Leite, Artur Oscar de Oliveira Déda, Luiz Carlos Fontes de Alencar e Acelino Pedro Guimarães; filólogos Ofenísia Soares Freire e João Evangelista Cajueiro; orador e escritor: João de Seixas Dória e artista plástico e escritor João Gilvan Rocha.

Numa ação de grande incentivo, o saudoso ex-Presidente Antônio Garcia Filho, criou a 25 de agosto de 1984, o Movimento de Apoio Cultural da Academia Sergipana de Letras, centro de reunião de intelectuais sergipanos que, dia a dia, aprimoram os seus conhecimentos. O MAC tem prestado relevantes serviços à Academia e à vida cultural do Estado, valendo destacar o incessante trabalho desenvolvido pelo seu coordenador, jornalista José Ferreira Lima, secundado por Lauro Rocha de Lima, Cléa Maria Brandão Mendes, Sergival Silva, Malba Maria Eng de Almeida, Araripe Coutinho, Luzia Maria da Costa Nascimento e Maria Luiza Martins Caldas Prado. A importância desse Movimento Cultural, no cenário acadêmico, foi confirmada, de forma unânime, com a eleição e posse de dois dos seus integrantes, para cadeiras acadêmicas: Acelino Pedro Guimarães e Maria Lígia Madureira Pina e a recente eleição de José Lima de Santana.

Entre as atividades da Academia figuram palestras, cursos, concursos literários, seminários, além da publicação da Revista e de livros de autores sergipanos. Promove, ainda, a preservação e a divulgação da Literatura e de outras manifestações culturais, mantendo intercâmbios com entidades culturais brasileiras e estrangeiras, para o desenvolvimento cultural do povo sergipano.

(José Anderson Nascimento - Presidente)

Fontes:
http://www.wagnerlemos.com.br/
http://www.asl-se.org.br

Antonio Ozaí da Silva (Feliz Ano Velho… e Novo!)


Talvez o tempo seja como Saturno, o deus da mitologia romana representado por Goya, que devora seus próprios filhos.

O tempo é aquele que engendra, o pai absoluto que traz à existência para depois destruir sua prole”. (Jorge Coli)

Matamos o tempo; o tempo nos enterra”, sentenciou Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas. O tempo passa, o tempo nos mata. Como afirmou o poeta, “O tempo não pára”. Mas o ser humano, em sua sabedoria quase divina, considerou mais apropriado convencionar que, em certos períodos do ciclo da vida, o tempo passado, passou. C’ est fini! Recomeça um novo tempo, o novo ano.

O calendário é uma invenção humana. Não obstante, em especial neste período, agimos como se o tempo fosse naturalmente seccionado em dias, meses, anos… Fez-se noite, fez-se o dia e os instrumentos para contá-los. O tempo, contado e calculado, surge, então, como obra da natureza ou de uma entidade sobrenatural.

Terminamos por aceitar apenas em parte que “o tempo não pára”. Sim, sabemos que o tempo nos consome, mas é precisamente por sabe-lo que precisamos estabelecer uma pausa e considerar que uma era terminou (o ano velho) e recomeçou outra (o ano novo). Precisamos acreditar. Alimentamos a ilusão do eterno recomeço – até que a morte nos alcance.

É esta necessidade que nos impele a romper os diques da razão e a dar vazão aos sentimentos, emoções e tudo o que significa comemorar o ANO NOVO. Ainda que a razão nos grite que o tempo segue inexoravelmente a sua marcha, agimos e sentimos como se realmente iniciássemos um novo período em nossas vidas. Muitas vezes, procedemos até mesmo como se enterrassemos o “eu” pertinente ao “ano velho”, como se este fosse “outro eu” e não aquele que somos na embriaguez da festança. E por vários dias, mesmo após a ressaca, sinceramente acreditamos que estamos numa nova fase da vida. Depois, a rotina enfraquece esta sensação e então o ano se torna longo e cansativo. Torna-se velho antes que termine. E, em nosso cansaço, ansiamos por mais um ano novo. E tudo se repete…

Porém, em qualquer tempo, o “outro eu”, que gostaríamos de abandonar no “ano passado”, teima em se fazer presente neste ano. Ainda que não queiramos, também somos o resultado do passar do tempo. Não podemos esquecer a nós mesmos no tempo que passou, como se o anúncio do novo ano representasse uma espécie de acerto de contas.

Mesmo assim, fazemos planos. Transmitimos nosso desejo aos amigos e aos que amamos e, especialmente a nós mesmos, que neste ano tudo será diferente. Desfazemos-nos de determinados objetos, procuramos dar termo às pendências e limpamos as gavetas, as reais e simbólicas. E ainda que tenhamos que carregar as dívidas, nos prometemos, e aos outros, que terão um tratamento diferenciado e que, neste ano, nos livraremos delas.

Fazemos vistas grossa à dialética da vida. Teimamos em cindir o tempo passado e presente e idealizamos o “ano novo” como o início de um tempo capaz de realizarmos o “eu” que almejamos. Na busca de forças para resistir às agruras que a realidade impõe, necessitamos ardentemente da sensação, ainda que por breve momento, de que superamos as misérias do tempo que passou. Mas estas nos perseguem e impregnam o nosso ser, o nosso tempo. Elas permanecem à espreita e se introduzem em nossas vidas a despeito dos nossos desejos e felicitações mútuas de um FELIZ ANO NOVO! As rupturas não ocorrem apenas pela vontade idealista e formalidades próprias desta fase. A nova realidade contém a velha…

Contudo, nos lixamos para a dialética. É uma necessidade psicológica. Precisamos, ao menos, atenuar o sofrimento. São trincheiras mentais que nos ajudam a suportar a realidade. Construímos esta noção do tempo como um anteparo à angustia do viver. É-nos difícil admitir que o “ano novo” indica apenas que o ciclo da vida se aproxima do seu desfecho. A natureza tem o seu tempo, e este, este sim, não pára. Ele passa e nos enterra…

Feliz Ano Velho… e Novo!

Fonte:
Colaboração do Autor. Disponível em Blog da Revista Espaço Acadêmico. http://espacoacademico.wordpress.com/
– Imagem = http://blog.ambientebrasil.com.br/

Delasnieve Daspet (Para onde vai o sol quando anoitece? )


Para onde vai o sol quando a noite cai?
Para onde vai o sorriso,
O brilho do olhar,
Onde ficam os sonhos,
Quando o coração não bate mais?!

Nada tem explicação
Perante tamanha dor,
Ninguém, - nada - ocupa o lugar vazio!

Vou deixar que o vento
Varra as palavras.
Que o amanhecer chegue ao meu olhar.
Vou pedir que a chuva miúda
De braços dados com a brisa úmida,
Traga o sol entre-nuvens,
Alegrando os sonhos que restam,
Na tristeza que não arrefece!

Mas almas não envelhecem.
Nos veremos novamente.
Mas - me digam,
Para onde vai o sol quando anoitece?

Onde te escondes ó sol,
Quando chega a noite,
Senhora de meus medos,
De meus lamentos?

Para onde vais ó sol,
Quando a noite chega,
Na brilho rápido da estrela cadente,
De um poema triste?

Noite negra de tristezas,
Negra noite de marés,
Negra, nua noite,
Onde vai o sol quando tu chegas?

Já não há vida.
Onde vai a energia,
Quando o norte me conduz à noite,
Ao fim da linha,
Onde vais ó sol,
Quando a noite chega
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Fonte:
Colaboração da Autora.

José Feldman (Publicação Virtual do Santuário de Trovas - vol.2)



O Livro Santuário de Trovas - vol.2, organizado por José Feldman já se encontra disponível no site http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home, ao fim da página.
Possui cerca de 13 mb.
São trovas em imagens.
Pode ser feito o download ou simplesmente visualiza-lo.
Na mesma página, encontra-se o volume 1.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Trova 101 - Therezinha Dieguez Brisola (São Paulo/SP)

Instituto Memória (Curitiba/PR)


"A modernidade produziu um mundo menor do que a humanidade. Sobram milhões de pessoas, mas o conhecimento é a grande estratégia de inclusão e integração. E o livro é a grande ferramenta do conhecimento.
A palavra escrita não apenas permanece, ela floresce e frutifica
."

O Instituto Memória surgiu em março de 2003 como Projeto incubado pelo programa Rede Solidária da CNBB em parceria com a PUC-PR e a Santa Casa (Aliança Saúde), em Curitiba-PR.

Foi idealizado pelo pesquisador Anthony Leahy, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Academia de Cultura de Curitiba e da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, Medalha de Mérito Cultural 2007 da Câmara Municipal de Curitiba, Comenda Rui Barbosa (2007 - SP) e Comenda Dom Pedro I (2008 - SP). É autor de livros, já foi livreiro e desde 2003 atua como editor de livros e revistas.

Palestrante atuante sobre a formação da identidade Brasileira onde defende a cultura regional e a diversidade cultural nacional.

Desde a sua fundação, o Instituto Memória teve como proposta atuar como Editora especializada em Pesquisa Histórica e Projetos Culturais focados no resgate e convalidação da cultura histórica regional, defendendo a alteridade como forma de consolidação da identidade nacional, e a democratização do saber histórico como estratégia para a formação de uma cidadania plena e consciente do papel de cada indivíduo como agente construtor da sociedade.

"Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar."
Castro Alves

Paradigmas

I - Acreditamos que a integração entre povos se constrói de forma ética e solidária a partir da democratização cultural como forma de fortalecer e enriquecer a própria humanidade. Somente a cultura permite quebrar preconceitos e superar barreiras ideológicas, posicionando o ser humano como ponto de partida e chegada de todos os esforços da humanidade;

II - Enxergamos que a dialogicidade que o livro estabelece, entre as diferentes culturas, permite a superação dos limites impostos pela geografia e pelas normas, viabilizando que a integração entre os povos se faça de forma ética e sustentável, formando indivíduos reflexivos e autônomos, comprometidos com os valores que lhes permitam alcançar seus objetivos sem ferir os valores do outro;

III - Defendemos que somente a cultura legitimiza a civilização, distanciando-nos dos outros animais, libertando-nos do eterno agora dos instintos e dos limites impostos pelo meio-ambiente. Portanto, ao democratizar o saber e a cultura, promovemos a própria humanidade e civilização;

IV – Sustentamos que os países são tão mais fortes e ricos, quanto mais cultos são os seus cidadãos, entendendo que investir em ações que promovem o livro é contribuir para a construção de um mundo mais justo;

V - Em um mundo que corre a passos largos para a empobrecedora e reducionista padronização cultural, lutamos pela cultura regional enquanto elemento identificador da nossa própria identidade. Afinal, defendendo as identidades regionais que promoveremos a rica diversidade cultural nacional que nos caracteriza enquanto povo e país;

VI - Por isto, o Instituto Memória Editora e Projetos Culturais concentrará seus esforços na publicação de livros regionais e numa distribuição nacional mais efetiva, gerando e promovendo integração com respeito às diferenças;

VII – Para o Instituto Memória, cada autor é considerado como o capital estratégico essencial, pois sem autor não existem livrarias e editoras, mas o autor existirá sempre.

Rua Deputado Mário de Barros, 1700, Cj. 412 - Centro Cívico, Curitiba - Paraná, CEP 80530-280, (41) 3352-3661

Fonte:
http://www.institutomemoria.com.br/

Instituto Memória (Notícias)


Instituto Memória lança revista literária Raízes Regionais

Com tiragem de 5.000 exemplares e distribuição gratuita e dirigida em todo território nacional, primordialmente aos Institutos Históricos e Academias de Letras, a revista apresenta resenhas dos livros lançados pelo Instituto Memória, crítica literária, entrevistas e artigos sobre cultura e literatura.

Neste Número você encontra entrevista com José Carlos Veiga Lopes (presidente da Academia Paranaense de Letras), com Ernani Straube (presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná), com João Ruggieri (da Academia de Cultura de Curitiba); depoimento do Oscar "mão santa" do basquete; artigo sobre ex libris de Carlos Brantes, os artigos "Livro é Caro?", "Por que Cultura Regional?", "Museu de Arte Popular Brasileira", "História e Identidade", além da polêmica entrevista com o Desembargador Adauto Suannes, "Um Desembargador sem Medo de Justiça".
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Lançamento do livro "A Mulher na Guerra dos Farrapos", de Elma Sant'Ana

O Instituto Memória Editora e o Instituto Anita Garibaldi promoveram o lançamento do livro "A Mulher na Guerra dos Farrapos", da pesquisadora Elma Sant''Ana, em homenagem aos 160 anos da morte de Anita Garibaldi. O evento realizado no dia 4 de agosto, às 18h, no Solar dos Câmara, na Assembléia Legislativa do Estado do RS, em Porto Alegre.

Leia, a seguir, um trecho escrito pela autora da obra.

Falamos muito da coragem do homem do Rio Grande do Sul, mas está na hora de destacarmos a coragem da nossa mulher que raramente despia o luto. No tempo dos Farroupilhas, a favor ou contra os farrapos, todas lutaram nesta geurra: desde as que estavam mais próximas - as chinas - , às mais distantes - as estanceiras. E há mulheres que inspiraram o amor de um homem e uma revolução: Seu nome é Ana Maria de Jesus Ribeiro, a catarinense, filha de paranaense, transformada em Anita por Giuseppe Garibaldi. É reverenciada no Brasil e na Itália.

"A Heroína de dois Mundos" teve seu ingresso no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília, no dia 4 de agosto de 2009, por ocasião do aniversário de 160 anos da morte desta catarinense que lutou gloriosamente na América pela causa da liberdade, ombreando lado a lado com os homens gaúchos, na Guerra dos Farrapos.

E como Domingos José de Almeida, grande líder farroupilha diria mais tarde: "As senhoras rio-grandenses aos seus compatriotas excedem muito, em virtudes morais e cívicas."

Este livro pretende resgatar a história destas mulheres, fazendo justiça!

Elma Sant''Ana
Presidente do Instituto Anita Garibaldi
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Instituto Memória lança o programa Raízes Regionais.

Em homenagem ao "Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor" , o Instituto Memória lançou programa "Raízes Regionais" de incentivo à publicação de livros regionalistas.

"A instituição do Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, pela Unesco, internacionalizou uma antiga tradição da Catalunha, onde, em 23 de abril, comemora-se o Dia de São Jorge – padroeiro daquela província espanhola – e recorda-se o falecimento do escritor Miguel de Cervantes – 23 de abril de 1616. Neste dia, de acordo com o costume catalão, os livreiros entregam uma rosa com cada livro vendido e tornou-se tradição presentear livros e rosas. O lema é: Uma rosa por São Jorge, um livro por Cervantes. A partir de 1995, a Unesco estendeu sua homenagem ao escritor inglês William Shakespeare, também falecido em 23 de abril de 1616, e passou a estimular iniciativas em prol do livro e da leitura nesta data. Atualmente, autores, editores, professores, livreiros, meios de comunicação e bibliotecas, entre outros profissionais e entidades, mobilizam-se, em todo o mundo, para que o livro esteja na pauta do dia".

Sempre na luta pela valorização das identidades regionais brasileira como forma de fortalecer a diversidade cultural nacional, estamos apresentando o PROGRAMA RAÍZES REGIONAIS possibilitando que o Autor, a Cultura e a História Regional tenham Vez e Voz! Se podemos ser muitos por que sermos um só? Uniformizar é reduzir, é empobrecer. Uniformizar é promover a eugenia cultural e tirar a alma do povo brasileiro.

Assim para lançar um livro sobre cultura e/ou história regional, basta o autor submeter a sua obra à análise do nosso Conselho Editorial e, se aprovada, o autor paga uma taxa e tem a sua obra publicada, recebendo 20 exemplares do livro, além direitos autorais pertinentes. Os demais exemplares são distribuídos pelas livrarias nacionais. E os autores poderão adquirir mais exemplares de sua obra, diretamente na editora, a qualquer época com 40% de desconto sobre o valor de comercialização (valor de capa).

O livro deve ter até 200 páginas em formato A5 e a taxa, que é de R$ 2.000,00, cobre os custos básicos de edição, custando menos para o autor do que ele pagaria por uma diagramação/projeto de capa/revisão/catalogação da obra se fosse fazer por conta própria, que é o que faz a maioria dos autores de Cultura Regional, que além destes custo ainda tem que arcar com a impressão de 1.000 exemplares. Além do que, por não trabalharem com distribuição e não emitirem Nota Fiscal, a maioria dos exemplares termina em caixas jogadas pela casa, sem atingir à sociedade e decepcionando o autor que chega a ficar envergonhado com a situação.

E se a obra for apresentada por uma Academia/Centro de Letras ou Instituto Histórico não passará nem pelo conselho editorial, pois já entra como aprovada/chancelada.

Tradição e Modernidade! Raízes e frutos! Quanto mais profunda e firmes forem as raízes, mais saudáveis e fortes serão os frutos. Como já foi dito, na beleza dos frutos existe o trabalho silencioso das raízes.

Sempre existirá o livro, mesmo que não exista o editor e a livraria. Mas se não existir o autor, não existirá o livro, nem as livrarias, as editoras e, principalmente, a nossa identidade... nossa alma enquanto povo e nação " .
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Instituto Memória recebe prêmio de editora destaque 2008

O Instituto Memória Editora recebeu a Medalha de Mérito Cultural como EDITORA DESTAQUE 2008 pela ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA, em função do seu trabalho no resgate e valorização da cultura regional brasileira. Anthony Leahy, enquanto editor, recebeu a Medalha de Reconhecimento Social e Cultural, da CÂMARA BRASILEIRA DE CULTURA.
"Aqui a cultura regional brasileira sempre terá Vez e Voz!"
Anthony Leahy - Editor - Instituto Memória

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Fonte:
Instituto Memória. http://www.institutomemoria.com.br/

Tobias Barreto (Poesias Avulsas)

Pintura de J.P. Martins Barata
Que Mimo

Tu és morena e sublime,
Como a hora do sol posto.
E, no crepúsculo eterno
Que te envolve o lindo rosto,
O céu desfolha canduras
De alvoradas e jasmins,
E passam roçando n´alma
As asas dos querubins...

Teu corpo que tem o cheiro
De cem capelas de rosas,
Que t´enche a roupa de quebros,
De ondulações graciosas,
Teu corpo derrama essências
Como uma campina em flor:
Beijá-lo!... fôra loucura;
Gozá-lo!... morrer de amor...

O Gênio da Humanidade

Sou eu quem assiste às lutas,
Que dentro d´alma se dão,
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração:
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito,
Gênio, feliz ou maldito,
A Humanidade sou eu.

Ergo o braço, aceno aos ares,
E o céu se azulando vai;
Estendo a mão sobre os mares,
E os mares dizem: passai!...
Satisfazendo ao anelo
Do bom, do grande e do belo,
Todas as formas tomei:
Com Homero fui poeta,
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei.

Ouvi-me: venho de longe,
Sou guerreiro e sou pastor;
As minhas barbas de monge
Têm seis mil anos de dor:
Entrei por todas as portas
Das grandes cidades mortas,
Aos bafos do meu corcel,
E ainda sinto os ressábios
Dos beijos que dei nos lábios
Da prostituta Babel.

E vi Pentapólis nua,
Que não corava de mim,
Dizendo ao sol: eu sou tua,
Beija-me... Queima-me assim!
E dentro havia risadas
De cinco irmãs abraçadas
Em voluptuoso furor...
Ânsias de febre e loucura,
Chiando em polpas de alvura,
Lábios em brasas de amor!...

Travei-me em lutas imensas,
Por vezes, cansado e nu,
Gritei ao céu: em que pensas?
Ao mar: de que choras tu?
Caminho... e tudo que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã:
Chamem-me Byron ou Goethe,
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã.

E no meu canto solene
Vibra a ira do Senhor:
Na vida, nesse perene
Crepúsculo interior,
O ímpio diz: anoitece!
O justo diz: amanhece!
Vão ambos na sua fé...
E às tempestades que abalam
As crenças d´alma, que estalam,
Só eu resisto de pé!...

De Deus ao imenso ouvido
A Humanidade é um tropel,
E a natureza um ruído
Das abelhas com seu mel,
Das flores com seu orvalho,
Dos moços com seu trabalho
De santa e nobre ambição,
De pensamentos que voam,
De gritos d´alma, que ecoam
No fundo do coração!...

A Escravidão

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...
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Amar

Amar é fazer o ninho,
Que duas almas contém,
Ter medo de estar sozinho,
Dizer com lágrimas: vem,
Flor, querida, noiva, esposa...
Cabemos na mesma lousa...
Julieta, eu seu Romeu:
Correr, gritar: onde vamos?
Que luz! que cheiro! onde estamos?
E ouvir uma voz: no céu!

Vagar em campos floridos
Que a terra mesma não tem;
Chegamos loucos, perdidos
Onde não chega ninguém...
E, ao pé de correntes calmas,
Que espelham virentes palmas,
Dizer-te: senta-te aqui;
E além, na margem sombria,
Ver uma corça bravia,
Pasmada olhando pra ti!
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