quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Paulo Leminski (Aço e Flor)



Trova 197 - Durval Mendonça (RJ)


Fonte:
Trova obtida no blog de Pedro Mello, Trova do dia de hoje, http://pedromello-ubt.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 307)

Paraty (Aquarela de Eduardo Bajzek Barbosa )
Uma Trova Nacional
Esquecer-te? de que jeito?!...
Teu receio é sem motivo,
porque, dentro do meu peito,
tens lugar definitivo!
–JOSÉ TAVARES LIMA/MG–

Uma Trova Potiguar


No velho barco ancorado,
vindo de um tempo obscuro,
a carga do meu passado,
é o lastro do meu futuro.
–SERGIO SEVERO/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Fortaleza/CE
Tema: FEITIÇO - 2º Lugar


A mesma sorte vadia
que de mel nos enche a taça,
serve também, quem diria,
o veneno da desgraça.
–JOSÉ PEREIRA ALBUQUERQUE/CE–

Uma Trova de Ademar

O rio com suas águas
faz igual a um triste monge,
viaja cheio de mágoas
para desaguar bem longe.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia

Colar de Carolina.
–CECÍLIA MEIRELES/RJ–

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.

Estrofe do Dia

Virou o mundo um abismo
depois da segunda guerra,
de um lado o planeta terra
seguia o socialismo,
do outro o capitalismo
ganhava status de rei
passando a ditar a lei
do lucro e do seu provento;
isso é somente um por cento
dos cem por cento que eu sei.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

A Mulher
–RENÃ LEITE PONTES/AC–

A mulher deve ter semblante brando,
delicadeza é mais uma iguaria.
a mulher deve ter a voz macia,
encantar quando entra caminhando.

A mulher deve ser, de vez em quando,
um oásis de paz e calmaria,
como um “lago de prata” à luz do dia
e, vulcão noite adentro, estando amando.

A mulher deve ter este mistério
de fundura e frescor que faz do rio
vigor que faz nascer a cidadela.

A mulher deve ser este desvelo
que obriga a dedicá-la todo o zelo
e, se preciso for, morrer por ela.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Lino Sapo (Natal, Uma Cidade Turística: Um passeio entre versos)


Para começar o roteiro
Vamos apresentar Natal
Uma cidade perfeita
De um clima especial
Do Rio Grande do Norte
A sua linda capital.

Com história fascinante
Que muito abrilhantou
Quatrocentos anos
O aniversário comemorou
É menina debutante
Que a copa conquistou.

Rio Grande era capitania
Muito difícil de povoar
Pertencia a João de Barros
Que não veio habitar
E ao senhor Aires da Cunha
Que ainda quis tentar

Capitanias hereditárias
Por aqui não se projetou
Devido muitos índios
A colonização dificultou
E aliado aos franceses
Com os lusos se rebelou
O reino de Portugal
A Espanha se integrou
Foi quando as coisas aqui
De verdade é que mudou
Para expulsarem os franceses
Uma fortaleza se cogitou

E a fundação duma cidade
Para proteger o lugar
Juntos com a fortaleza
Essa terra conquistar
Assim nasceu Natal
Rodeada pelo mar

Em Seis de janeiro
Do ano de mil quinhentos
Da década e ano noventa e oito
Vive-se um novo momento
A fortaleza é construída
Cumprindo-se o intento

Natal nasce no natal
Um ano depois da fortaleza
Já nasceu cidade
E repleta de beleza
Primeiro constrói uma Capela
Era ordem da realeza.
Palco de grandes conquistas
Foi tomada pelos holandeses
Que mudaram o seu nome
Contrariando os portugueses
Chamou-se Nova Amsterdam
Para os novos povos burgueses

Na segunda guerra mundial
Natal também participou
Recebendo tropas aliadas
Pela geografia que herdou
Na posição privilegiada
Ao combate se integrou

Apresentado essa parte
Da história do lugar
Vamos mostrar os pontos
Pra quem quer nos visitar
Aqui tem de tudo
Pode vir comprovar
A Igreja Nossa Senhora
Denominada da Apresentação
Hoje está a Igreja Matriz
E foi marco da povoação
Com casamentos, batizados
Missas, novena e celebração

Por cima do Potengi
A Newton Navarro fica
Uma ponte interessante
Imponente e magnífica
Unindo a bela cidade
E a mantendo mais rica

A Fortaleza dos Reis Magos
Palco de tantos eventos
Nos arrecifes de pedras
Rodeado de mar e vento
É marco de nossa história
Testemunha de belos momentos

Teatro Alberto Maranhão
Um século de existência
Com arquitetura francesa
O TAM tem a decência
Palco de grandes espetáculos
Da cidade é referência
Museu Câmara Cascudo
Boda de ouro comemorou
Cinqüenta anos de história
Que a cidade presenciou
Ampliando o conhecimento
Que a vida nos ofertou

A praia de Ponta Negra
Americanos descobriram
Na segunda guerra mundial
E o turismo introduziram
Lá tem o morro do Careca
Que proibir subir decidiram

O Memorial Câmara Cascudo
Relembra um homem de valor
Estudante da cultura brasileira
Foi folclorista e historiador
Mil novecentos e oitenta e sete
Homenagearam o grande escritor

A linda Igreja do Galo
Beleza do solo potiguar
Com arquitetura barroca
E Santo Antônio a homenagear
Mil setecentos e sessenta e seis
Que se pode terminar

A querida cidade do sol
É rica em tanta beleza
Na messoregião do leste potiguar
Tem no ar grande pureza
Banhada pelo Rio Potengi
Paraíso terreno da natureza

Suas praias são perfeitas
Verdadeira criação divina
Que encanta e seduz
Parecendo ouro em mina
Visitada por todo Brasil
Povo bom aqui se destina

Tem a Feira do Alecrim
Pra completar o passear
O museu Café Filho
Pra o conhecimento ampliar
E o Instituto Histórico
Para a pesquisa aprofundar

O Palácio Felipe Camarão
Com estilo colonial
A Praça André de Albuquerque
Que também é sensacional
Tem ainda a Pinacoteca
Que essa é fenomenal

Não demore venha logo
Que Natal te receberá
Com carinho e muito amor
Por aqui não vai faltar
Temos enorme prazer
Em nossa terra te mostrar

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obra

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 9


183 – Zé Lucas
Discórdia e perversidade
já vêm do tempo de Adão,
quando Caim, por inveja,
tirou a vida do irmão;
apesar disso, acredito
que um futuro mais bonito
inda nos estende a mão.

184 – Gislaine Canales
Resta a nós, de coração,
sonhar com a paz mundial.
É a nossa meta, poetas!
Como oração especial,
nós deixamos em poesia,
as sementes da alegria
de uma esperança imortal!

185 - Prof. Garcia
A vida é fenomenal
ante a luz da criação.
Quem fez este mundo lindo
nunca viveu de ilusão;
mas teve um amor tão profundo,
que fez das glórias do mundo
o reino da salvação

186 – Delcy Canalles
Falas de Deus, meu irmão,
e eu concordo, hoje, contigo!
A beleza do Universo
Ele trazia consigo...
Fez nosso mundo bonito,
com promessas de infinito,
que, às vezes, chora comigo!

187 - A. A. de Assis
Deus é Pai, é Amor, é Amigo,
por isso nos quer irmãos,
caminhando sempre unidos,
uns aos outros dando as mãos.
Brasileiros e estrangeiros,
somos todos companheiros,
universais cidadãos.

188 – Arlindo T. Hagen
Para sermos bons irmãos
há uma receita que eu sei,
aliás, todos sabemos:
seguir os passos de um Rei
transformado em Salvador:
"Amai-vos no mesmo Amor
com que sempre eu vos amei."

189 – Thalma Tavares
Cristo fez do Amor a lei
mais branda que se conhece.
Quem nessa lei se compraz
vence a dor e não padece.
Quem segue essa Lei divina
vive em paz, não desatina
e a vida eterna merece.

190 – Zé Lucas
Creio na força da prece
que atrai os fluidos do bem
e nos leva pra mais perto
do Pai, de cujas mãos vem,
para quem nele acredita,
aquela paz infinita
que o mundo anseia e não tem.

191 – Gislaine Canales
Uma prece por alguém
atrai a felicidade,
enobrece os corações,
faz brotar a caridade
e enfeitando o nosso dia
feito um Sol, só de alegria,
enraíza uma amizade!

192 - Prof. Garcia
Deus por amor e bondade,
num mandamento de luz...
para salvar este mundo,
mandou seu filho Jesus;
mas nem o Cristo inocente
escapou da chama ardente
nem do castigo da cruz!

193 – Delcy Canalles
Nem mesmo Cristo Jesus
escapou da violência !
Perdeu para Barrabás,
um malfeitor em essência!
Pregou o Bem e a Bondade,
quis salvar a Humanidade
e o mataram sem clemência!

194 - A. A. de Assis
Um dia por excelência
o de hoje, afinal com cara
de primavera - aleluia! -,
coisa linda e este ano rara.
Céu azul, sol abundante,
passarinhada cantante,
como o poeta sonhara.

195 – Arlindo T. Hagen
Quando a Morte nos separa
de quem, tão fraternalmente,
fomos unidos na Vida
o coração se ressente.
Que sejam, neste Finados,
nossos mortos relembrados...
tão vivos dentro da gente...

196 – Thalma Tavares
A morte eu sei, finalmente,
que é passagem concedida,
é porta do além que se abre
para outro plano, outra vida...
Lá curtirei outra vez
saudades de quem já fez,
antes de mim, a partida.

197 - Zé lucas
A morte é uma despedida
de quem vai pra não voltar...
Para o ateu, é o simples fim;
para o crente, é o caminhar
noutra dimensão da vida,
buscando a eterna guarida
que Deus tem para nos dar.

198 - Gislaine Canales
A partida faz chorar,
mas essa, que não tem volta,
nos faz sofrer mais ainda;
muitas vezes, nos revolta;
choramos de nostalgia,
com uma angústia vazia,
que, da morte, vira escolta!

199 - Prof. Garcia.
Mesmo que cause revolta,
nesta hora estremecida;
a morte é o pagamento
do preço desta corrida...
Onde o homem revoltado,
achou que fosse o pecado
o doce melhor da vida!

200- Delcy Canalles
A morte, pra mim, é tida
como algo que causa horror!
Quisera sempre viver,
ainda que em meio à dor;
por isso imploro por fé,
pedindo perdão até
a Deus Pai, Nosso Senhor!

201 - A. A. de Assis
Enquanto possível for,
vivamos então a vida,
que ela é dura e passageira,
porém de todos querida.
Fazer da vida um troféu
é um modo de estar no céu
antes mesmo da subida.

202 - Arlindo T. Hagen
Há vida depois da vida?
Na dúvida me mantenho
alheio a tais discussões.
Mas enquanto eu me contenho
no crer ou deixar de crer,
tudo o que eu queria ter
é a certeza que eu não tenho!

203 – Thalma Tavares
Pois esta certeza eu tenho,
mas não imponho a ninguém
que nem todos acreditam
que há outra vida no Além.
Pra não teimar eu desisto,
mudo o tema, não insisto,
agradeço e digo: Amém!

204 - Zé Lucas
Thalma Tavares, tu fizeste bem.
Vamos buscar novas trilhas...
Certos temas nos afastam,
transformando-nos em ilhas,
e é preciso andarmos juntos,
pois não faltam bons assuntos
para o embalo das setilhas.

205 – Gislaine Canales
A inspiração nas setilhas
entre nós, faz-se infinita,
pois no passo da amizade,
fica sempre mais bonita.
Somos do verso, as estrelas,
e é tão gostoso escrevê-las
quando a musa nos visita!

206 - Prof. Garcia
É, pois, a musa bendita
que nunca nos deixa à-toa,
chega no sopro da brisa,
nas asas do vento voa;
faz do verso, arma secreta,
da inspiração do poeta
um coração que perdoa!

207 – Delcy Canalles
Tal pensamento ressoa
na minha alma tão sofrida,
pois a musa de que falas
anda, de mim, esquecida!
Volta, musa, ao meu caminho,
dá-me fé, dá-me carinho,
poetiza a minha vida!

208 – A. A. de Assis
Ah, minha musa querida,
sem você não sou ninguém:
só você me ajuda a ver
o encanto que a vida tem.
Sempre que a tenho a meu lado,
é como se houvesse entrado
no reino onde mora o Bem.

209 - Arlindo T. Hagen
No instante em que o verso vem,
os problemas mais diversos
desaparecem da mente.
Assim, em sonhos dispersos,
agradeço ao Criador
que, ao me fazer Trovador,
deu-me o dom de fazer versos!

210 – Thalma Tavares
Vivemos nós sempre imersos
em rimas, sonho e lirismo...
Nossos versos não traduzem
sentimentos de egoísmo.
E as mágoas de cada dia
transformamos em poesia
do mais puro idealismo.
---------------
continua...

Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Rubem Braga (O Conde e o Passarinho: Sentimento do Mar)


Passo pela padaria miserável e vejo se já tem pão fresco. As jogadas e os camarões estão aqui. Está aqui a garrafa de cachaça. Você vai mesmo? Pensei que fosse brincadeira sua.

Arranje um chapéu de palha. Hoje vai fazer sol quente. Andamos na madrugada escura. Vamos calados, com os pés rangindo na areia. Venha por aqui, aí tem espinhos. Os mosquitos do mangue estão dormindo. Venha. Arrasto a canoa para dentro da água. A água está fria. Ainda e quase noite... O remo está úmido de sereno, sujo de areia. Sente ali na proa, virada para mim. Olhe a água suja no fundo da canoa. Ponha os pés em cima da porta. Eu estou dentro d’água até os joelhos, empurro a canoa e salto para dentro. Uma espumarada de onda fria bate na minha cara. Remo depressa, por causa da arrebentação. Fique sentada, não tenha medo não. Firme aí. Segure dos lados. Não se mexa! Firme! Ooooi.. Quase! Outra onda dá um balanço forte e joga um pouco de água dentro do barco. Estou remando em pé, curvado para a direita, com esforço. A outra onda passa mansa, mansa, a proa bate n’água e avança. O remo esta frio nas minhas mãos. Eu o mergulhei dentro d’água para limpar a areia. A água que escorre molha as mangas de meu paletó. 0 mar está muito calmo. Esse ventinho que está vindo e passando em seus cabelos é o vento da terra. O terral vem de longe, lá do meio da terra, dos matos dormentes atrás dos morros. Vem da terra escura para o mar escuro. Nós iremos com ele.

Levantei a vela encardida. O meu leme está quebrado, mas tenho o remo. Vamos um pouco beirando a praia para o norte. Agora o ventinho nos pega. A vela treme feito mulher beijada. Fica túmida feito mulher beijada. As vezes, a força do vento diminui um pouco, e ela bambela, amolece, feito mulher possuída. Olhe lá a sua casa. Não está vendo, não? O pão está bom? Se você comer todo agora, vai ficar com fome lá fora. Me dá essa cuia, vou tirar a água da canoa. Raspo o fundo do barco, onde o cheiro forte e enjoado da maresia, esse cheiro que eu amo, embebeu para sempre o lenho. Viro um pouco a vela, sento, e passo o remo para a esquerda. O leme, assim como está, ajuda. Vamos cortando a água maciamente... A água está cinza, escura, pesada, como óleo. O balanceio nos leva. A praia pobre ficou lá longe, com luzinhas piscando. Estamos quietos, e ela rói o pão olhando a água. A água fala alguma coisa ao batelão, lambendo seu corpo, numa ternura de velha amiga com velho amigo.

Ela está quase deitada. O frio do fim da noite, o ar cheio de água, com um cheiro úmido, me faz abrir as narinas, apaga o meu sono. Na penumbra imensa seus cabelos parecem úmidos sobre a testa morena. Nós avançamos no bamboleio manso, conversando com moleza. A sua voz me vem, atravessando o vento fraco, entre a voz da água na beira da canoa. Seu corpo, na proa, sobe e desce no horizonte... Ela está virada para mim. Contempla lá atrás a terra que vai morrendo no escuro, que é apenas um vago debrum sujo além da água. Eu olho a água. Tenho vontade de beijar a água. Beijar de leve a flor salgada da água, depois beijar com lábios úmidos, com pureza, de manso, aquela boca sob os olhos negros, sob a testa morena. Mas isso é apenas um desejo à-toa, sem força nenhuma, um desejo que sabe que veio à toa e que vai à toa.

Acendo um cigarro e perguntou - Você quer fumar?

A minha amiga não fuma, e ri. Ri muito, como se eu tivesse ficado triste muito tempo e de repente tivesse dito uma coisa engraçadíssima. Ri... Seu riso quebra, parte, destrói o encanto molengo da madrugada. L como se estivéssemos em terra e, por exemplo, fizesse sol, em uma tarde comum, ou nós andássemos depressa pela rua. Seu riso rasga a calma do mar escuro, como se o mar não estivesse soluçando sob a canoa.

Uma claridade pastosa, débil, vem lá do fundo sobre o qual o seu corpo deitado se balança. E nós conversamos animadamente, como se estivéssemos em um bonde, fôssemos a um cinema. Não estamos sozinhos no mundo, em uma canoa no meio do mar. A nossa vida não é apenas esta velha canoa, esta vela encardida e pequena, este remo úmido. Somos gente da terra, sem nenhuma evasão nem mistério. Conversamos. Eu conto histórias do mar, como se fosse um velho pescador. Ela me interrompe para contar uma coisa - uma coisa terrena, acontecida na terra, dentro de uma casa na terra, com lâmpada elétrica, onde os homens se atormentam. E eu ouço, me interesso. Desci a vela. Vou remando, remando tão bestamente como se os músculos de quem rema não tivessem alma, como se a água rompida pelo remo não tivesse músculos e alma, como se eu jamais tivesse sentido pulsar, nas minhas velas rolando ondas, a

vertigem calma do mar. Remo, não há mais encanto nenhum. Tudo vai clareando no ar e na água. Remarei, pescarei. Pedirei a ela que se levante para que eu possa descer a pedra pela proa, até sentir bater na lama. Pescarei. Se ela estiver cansada, se ela achar cacete, voltarei para terra conversando. Ela achará cacete. Ela é da terra, está viciada pela terra, e eu não poderia lhe ensinar meu sentimento. Meu sentimento é inútil, eu converso conversas da terra com essa filha da terra. Eu pescarei e assobiarei um samba. Eu remarei para a terra logo que ela estiver cansada do mar.

Fonte:
BRAGA, Rubem. 200 cronicas escolhidas.

Monteiro Lobato (O Saci) III – Medo do saci; IV – Tio Barnabé


Pedrinho, naqueles tempos, costumava passar as férias no sítio de Dona Benta, onde brincava de tudo, como está nas Reinações e na Viagem ao céu. Só não está contado o que lhe aconteceu antes da famosa viagem ao céu, quando andava com a cabeça cheia de sacis.

A coisa foi assim. Estava ele na varanda com os olhos no horizonte, postos lá onde aparecia o verde-escuro do Capoeirão dos Tucanos, a mata virgem do sítio. De repente, disse:

— Vovó, eu ando com idéias de ir caçar na mata virgem.

Dona Benta, ali na sua cadeirinha de pernas cotós, entretida no tricô, ergueu os óculos para a testa.

— Não sabe que naquela mata há onças? — disse com ar sério. — Certa vez uma onça-pintada veio de lá, invadiu aqui o pasto e pegou um lindo novilho da Vaca Mocha.

— Mas eu não tenho medo de onça, vovó! — exclamou Pedrinho fazendo o mais belo ar de desprezo.

Dona Benta riu-se de tanta coragem.

— Olhem o valentão! Quem foi que naquela tarde entrou aqui berrando com uma ferrotoada de vespa na ponta do nariz?

— Sim, vovó, de vespa eu tenho medo, não nego — mas de onça, não! Se ela vier do meu lado, prego-lhe uma pelotada do meu bodoque novo no olho esquerdo; e outra bem no meio do focinho e outra...

— Chega! — interrompeu Dona Benta, com medo de levar também uma pelotada. — Mas além de onças existem cobras. Dizem que até urutus há naquele mato.

— Cobra? — e Pedrinho fez outra cara de pouco-caso ainda maior. — Cobra mata-se com um pedaço de pau, vovó. Cobra!... Como se eu lá tivesse medo de cobra...

Dona Benta começou a admirar a coragem do neto, mas disse ainda:

— E há aranhas-caranguejeiras, daquelas peludas, enormes, que devoram até filhotes de passarinho.

O menino cuspiu de lado com desprezo e esfregou o pé em cima.

— Aranha mata-se assim, vovó — e seu pé parecia mesmo estar esmagando várias aranhas-caranguejeiras.

— E também há sacis — rematou Dona Benta. Pedrinho calou-se. Embora nunca o houvesse confessado a ninguém, percebia-se que tinha medo de saci. Nesse ponto não havia nenhuma diferença entre ele, que era da cidade, e os demais meninos nascidos e crescidos na roça. Todos tinham medo de saci, tais eram as histórias correntes a respeito do endiabrado moleque duma perna só.

Desde esse dia ficou Pedrinho com o saci na cabeça. Vivia falando em saci e tomando informações a respeito. Quando consultou Tia Nastácia, a resposta da negra foi, depois de fazer o pelo-sinal e dizer “Credo!”:

— Pois saci, Pedrinho, é uma coisa que branco da cidade nega, diz que não há — mas há. Não existe negro velho por aí, desses que nascem e morrem no meio do mato, que não jure ter visto saci. Nunca vi nenhum, mas sei quem viu.

— Quem?

— O Tio Barnabé. Fale com ele. Negro sabido está ali! Entende de todas as feitiçarias, e de saci, e de mula-sem-cabeça, de lobisomem — de tudo

Pedrinho ficou pensativo.

IV – Tio Barnabé

Tio Barnabé era um negro de mais de oitenta anos que morava no rancho coberto de sapê lá junto da ponte. Pedrinho não disse nada a ninguém e foi vê-lo. Encontrou-o sentado, com o pé direito num toco de pau, à porta de sua casinha, aquentando sol.

— Tio Barnabé, eu vivo querendo saber duma coisa e ninguém me conta direito. Sobre o saci. Será mesmo que existe saci?

O negro deu uma risada gostosa e, depois de encher de fumo picado o velho pito, começou a falar.

— Pois, Seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que “exéste”. Gente da cidade não acredita — mas “exéste”. A primeira vez que vi saci eu tinha assim a sua idade. Isso foi no tempo da escravidão, na Fazenda do Passo Fundo, que era do defunto Major Teotônio, pai desse Coronel Teodorico, compadre de sua avó Dona Benta. Foi lá que vi o primeiro saci. Depois disso, quantos e quantos!...

— Conte, então, direitinho, o que é saci. Bem Tia Nastácia me disse que o senhor sabia — que o senhor sabe tudo...

— Como não hei de saber tudo, menino, se já tenho mais de oitenta anos? Quem muito “véve” muito sabe...

— Então conte. Que é, afinal de contas, o tal saci? E o negro contou tudo direitinho.

— O saci — começou ele — é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos. Quem consegue tomar e esconder a carapuça de um saci fica por toda vida senhor de um pequeno escravo.

— Mas que reinações ele faz? — indagou o menino.

— Quantas pode — respondeu o negro. — Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.

— E a gente consegue ver o saci?

— Como não? Eu, por exemplo, já vi muitos. Ainda no mês passado andou por aqui um saci mexendo comigo — por sinal que lhe dei uma lição de mestre...

— Como foi? Conte... Tio Barnabé contou.

— Tinha anoitecido e eu estava sozinho em casa, rezando as minhas rezas. Rezei, e depois me deu vontade de comer pipoca. Fui ali no fumeiro e escolhi uma espiga de milho bem seca. Debulhei o milho numa caçarola, pus a caçarola no fogo e vim para este canto picar fumo pro pito. Nisto ouvi no terreiro um barulhinho que não me engana. “Vai ver que é saci!” — pensei comigo. E era mesmo. Dali a pouco um saci preto que nem carvão, de carapuça vermelha e pitinho na boca, apareceu na janela. Eu imediatamente me encolhi no meu canto e fingi que estava dormindo. Ele espiou de um lado e de outro e por fim pulou para dentro. Veio vindo, chegou pertinho de mim, escutou os meus roncos e convenceu-se de que eu estava mesmo dormindo. Então começou a reinar na casa. Remexeu tudo, que nem mulher velha, sempre farejando o ar com o seu narizinho muito aceso. Nisto o milho começou a chiar na caçarola e ele dirigiu-se para o fogão. Ficou de cócoras no cabo da caçarola, fazendo micagens. Estava “rezando” o milho, como se diz. E adeus pipoca! Cada grão que o saci reza não rebenta mais, vira piruá.

Dali saiu para bulir numa ninhada de ovos que a minha carijó calçuda estava chocando num balaio velho, naquele canto. A pobre galinha quase que morreu de susto. Fez cró, cró, cró... e voou do ninho feito uma louca, mais arrepiada que um ouriço-cacheiro. Resultado: o saci rezou os ovos e todos goraram.

Em seguida pôs-se a procurar o meu pito de barro. Achou o pito naquela mesa, pôs uma brasinha dentro e paque, paque, paque... tirou justamente sete fumaçadas. O saci gosta muito do número 7.

Eu disse cá comigo: “Deixe estar, coisa-ruinzinho, que eu ainda apronto uma boa para você. Você há de voltar outro dia e eu te curo”.

E assim aconteceu. Depois de muito virar e mexer, o sacizinho foi-se embora e eu fiquei armando o meu plano para assim que ele voltasse.

— E voltou? — inquiriu Pedrinho.

— Como não? Na sexta-feira seguinte apareceu aqui outra vez às mesmas horas. Espiou da janela, ouviu os meus roncos fingidos, pulou para dentro. Remexeu em tudo, como da primeira vez, e depois foi atrás do pito que eu tinha guardado no mesmo lugar. Pôs o pito na boca e foi ao fogão buscar uma brasinha, que trouxe dançando nas mãos.

— É verdade que ele tem as mãos furadas?

— É, sim. Tem as mãos furadinhas bem no centro da palma; quando carrega brasa, vem brincando com ela, fazendo ela passar de uma para a outra mão pelo furo. Trouxe a brasa, pôs a brasa no pito e sentou-se de pernas cruzadas para fumar com todo o seu sossego.

— Como? — exclamou Pedrinho, arregalando os olhos. — Como cruzou as pernas, se saci tem uma perna só?

— Ah, menino, mecê não imagina como saci é arteiro!... Tem uma perna só, sim, mas quando quer cruza as pernas como se tivesse duas! São coisas que só ele entende e ninguém pode explicar. Cruzou as pernas e começou a tirar baforadas, uma atrás da outra, muito satisfeito da vida. Mas de repente, puf! Aquele estouro e aquela fumaceira!... O saci deu tamanho pinote que foi parar lá longe, e saiu ventando pela janela fora.

Pedrinho fez cara de quem não entende.

— Mas que puf foi esse? — perguntou. — Não estou entendendo...

— É que eu tinha socado pólvora no fundo do pito — exclamou Tio Barnabé, dando uma risada gostosa. — A pólvora explodiu justamente quando ele estava tirando a fumaçada número 7, e o saci, com a cara toda sapecada, raspou-se para nunca mais voltar.

— Que pena! — exclamou Pedrinho. — Tanta vontade que eu tinha de conhecer esse saci...

— Mas não há só um saci no mundo, menino. Esse lá se foi e nunca mais aparece por estas bandas, mas quantos outros não andam por aí? Ainda na semana passada apareceu um no pasto de Seu Quincas Teixeira e chupou o sangue daquela égua baia que tem uma estrela na testa.

— Como é que ele chupa o sangue dos animais?

— Muito bem. Faz um estribo na crina, isto é, dá uma laçada na crina do animal de modo que possa enfiar o pé e manter-se em posição de ferrar os dentes numa das veias do pescoço e chupar o sangue, como fazem os morcegos. O pobre animal assusta-se e sai pelos campos na disparada, correndo até não poder mais. O único meio de evitar isso é botar bentinho no pescoço dos animais.

— Bentinho é bom?

— É um porrete. Dando com cruz ou bentinho pela frente, saci fede enxofre e foge com botas-de-sete-léguas.
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continua... V - Pedrinho pega um saci; VI – A modorra
--------------
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Paulo Leminski (Abaixo o Além)



Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 306)

Imagem por Igor Zenin
Uma Trova Nacional

Por mais bonita que sejas,
sê sóbria e tem compostura.
São mais lindas as cerejas
entre as folhas da verdura.
–CLARISSE BARATA SANCHES/PT–

Uma Trova Potiguar

Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida.
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Amparo/SP
Tema: RESPEITO - M/H

A liderança bem vista
só a possui, justa e austera,
quem o respeito conquista,
não quem dele se apodera...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova de Ademar

Sem temer a correnteza,
qual um louco em desvario,
nos braços da natureza
eu me banhava no rio.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Há mentiras doces, belas,
que até parecem verdade.
A maior de todas elas
se chama felicidade...
–ELTON CARVALHO/RJ–


Simplesmente Poesia

Distância
–ANTONIO M. A. SARDENBERG/RJ–

Na distância não me perco,
rumo certo com meus passos...
na bagagem levo beijos,
sonhos, sussurros e abraços.

Assim como o andarilho,
no caminhar tão constante,
vou pouco a pouco encurtando
esta estrada tão distante!

E de repente te vejo,
como sempre quis te ver:
Musa...Mulher...e Desejo...
então te cubro de beijos
e me deságuo em você!

Estrofe do Dia

Não tem quem possa contar
cabelos que tem um gato,
os bichos que tem no mato
e os peixes que tem no mar,
as nuvens que tem no ar,
os gemidos de um pagão,
as folhas que tem no chão
e os fios que tem no véu,
estrelas que tem no céu
e os bois que tem no sertão.
–MANOEL XUDU/PB–

Soneto do Dia

Beleza Pagã
–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–

Deusa formosa de lendária seita,
dormes à margem da maldade humana;
teu corpo esbelto e abandonado o enfeita
a graça natural, virgem profana!

Não crês em deus e o próprio Deus te aceita,
pois te fez bela, o que à bondade engana.
Bondoso pai, nem aos pagãos rejeita
toda a beleza que do céu emana!

O leve arfar do busto prenuncia
que, aos desejos lascivos, algum dia
há-de imolar-se a castidade vã.

Verás, então, na solidão, com calma:
- por mais devota e pura, qualquer alma
tem sempre alguma coisa de pagã!

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Carlos Drummond de Andrade)


Falecimento do poeta em 17.8.1987 - In Memoriam

Carlos Drummond de Andrade e a ´´pedra do caminho´´...
por isso compreendi que tudo dá poesia,
quando se tem amor, quando se tem carinho,
e as ideias triviais surjam da fantasia...

Porém, ´´e agora José´´, seguindo sozinho
no escuro, amedrontado e sem a luz do dia,
procurando encontrar um mero cantinho
para viver feliz e ´´não veio a utopia´´...

Eu também encontrei muitas pedras na estrada
e me achei qual José, caminhando no escuro,
mas não tinha ninguém, pois a mulher amada

não havia surgido em minha triste vida...
No entanto, acreditei nos sonhos do futuro
e nos versos que fiz buscava uma saída...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Carlos Drummond de Andrade (Livro de Poesias)


REMISSÃO

Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme na base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, em suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo do teu ser?

RETORNO

Meu ser em mim palpita como fora
do chumbo da atmosfera constritora.
Meu ser palpita em mim tal qual se fora
a mesma hora de abril, tornada agora.

Que face antiga já se não descora
lendo a efígie do corvo na da aurora?
Que aura mansa e feliz dança e redoura
meu existir, de morte imorredoura?

Sou eu nos meus vinte aons de lavoura
de sucos agressivos, qe elabora
uma alquimia severa, a cada hora.

Sou eu ardendo em mim, sou eu embora
não me conheça mais na minha flora
que, fauna, me devora quanto é pura.

RESÍDUO

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

ROMARIA

A Milton Campos

Os romeiros sobem a ladeira
cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho.

Os sinos tocam, chamam os romeiros:
Vinde lavar os vossos pecados.
Já estamos puros, sino, obrigados,
mas trazemos flores, prendas e rezas.

No alto do morro chega a procissão.
Um leproso de opa empunha o estandarte.
As coxas das romeiras brincam no vento.
Os homens cantam, cantam sem parar.

Jesus no lenho expira magoado.
Faz tanto calor, há tanta algazarra.
Nos olhos do santo há sangue que escorre.
Ninguém não percebe, o dia é de festa

No adro da igreja há pinga, café,
imagens, fenômenos, baralhos, cigarros
e um sol imenso que lambuza de ouro
o pó das feridas e o pó das muletas.

Meu Bom Jesus que tudo podeis,
humildemente te peço uma graça.
Sarai-me, Senhor, e não desta lepra,
do amor que eu tenho e que ninguém me tem.

Senhor, meu amo, dai-me dinheiro,
muito dinheiro para eu comprar
aquilo que é caro mas é gostoso
e na minha terra ninguém não possui.

Jesus meu Deus pregado na cruz,
me dá coragem pra eu matar
um que me amola de dia e de noite
e diz gracinhas a minha mulher.

Jesus Jesus piedade de mim.
Ladrão eu sou mas não sou ruim não.
Por que me perseguem não posso dizer.
Não quero ser preso, Jesus ó meu santo.

Os romeiros pedem com os olhos,
pedem com a boca, pedem com as mãos.
Jesus já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade.

ROSA ROSAE

Rosa
e todas as rimas
Rosa
e os perfumes todos
Rosa
no florindo espelho
Rosa
na brancura branca
Rosa
no carmim da hora
Rosa
no brinco e pulseira
Rosa
no deslumbramento
Rosa
no distanciamento
Rosa
no que não foi escrito
Rosa
no que deixou de ser dito
Rosa
pétala a pétala
despetalirosada

SEGREDO


A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

SENTIMENTO DO MUNDO


Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados

ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.

SINAL DE APITO

Um silvo breve: Atenção, siga.
Dois silvos breves: Pare.
Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna.
Um silvo longo: Diminua a marcha.
Um silvo longo e breve: Motoristas a postos.
........(A este sinal todos os motoristas tomam
.........lugar nos seus veículos para movimentá-los
.........imediatamente.)

SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para a casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Ignácio de Loyola Brandão (O Homem Que Gritou Em Plena Tarde)


Parou para espiar a vitrine. Sapatos e bolsas, pretos amarelados marrons, azuis. Não estava interessado em sapatos e bolsas. Olhava por olhar. Passava todos os dias por ali, cada dia observava uma vitrine, uma loja, um balcão, um canto. Costumava também olhar para cima. E assim tinha descoberto coisas que, era uma certeza, outros não viam. Um beiral antigo, esquecido na fachada de um prédio. Uma cornija. Uma grade, uma janela com vidros desenhados, vaso de flores, gaiola com pássaros, retrato pregado numa veneziana, números no alto de portais, rostos atrás de vidraças, aquários. Levava esbarrões, xingos, o que faz aí parado, seu bestalhão, pô, nesta cidade tem de tudo; até gente parada de boca aberta. Não ligava, falavam por falar, para ter alguma coisa contra o que reclamar.

Enquanto admirava a vitrine, ouviu os passos. Era a primeira vez que prestava atenção no ruído dos passos. Virou-se, observando os pés do povo. Os sapatos batiam no calçamento; uns arrastavam os pés; outros saltitavam; uns pareciam flutuar. O que o impressionava mesmo era o barulho. Não, não era o barulho, percebeu. Era o silêncio, dentro do qual os passos sobressaiam. Um silêncio espesso dentro da tarde. De tal modo que ele podia, com nitidez, distinguir cada ruído. O dos passos, o das vozes, o dos murmúrios (mesmo das pessoas que falavam sozinhas), dos chamados, das máquinas de escrever por trás das paredes, dos apitos dos guardas, de nomes gritados, sussurrados, chamados, de músicas que se confundiam, como se as letras fossem coisas absurdas, sem sentido algum, de motores engrenando, funcionando, buzinas, choros, soluços, zumbidos. Seu ouvido captava e selecionava, como um aparelho estereofônico, capaz de enviar para alto-falantes diversos, sons de instrumentos diferentes.

O silêncio pareceu incômodo a um homem acostumado dentro da cidade barulhenta, irritadiça, insuportável. O seu dia a dia era constituído quase que por um barulho só, homogêneo, que se integrara à sua vida. Algo de que ele dependia, que fazia falta ao seu organismo. Só conseguia pensar, trabalhar com eficiência, dentro daquele conjunto de ruídos absorventes que lhe davam a certeza de que a cidade marchava, à pleno vapor, e ele era parte dela, um acréscimo. E que sem ele, e sem ele — o outro — numa escala infinita, esta cidade iria parar, quebrando toda uma estrutura.

Então, aquele silêncio distinto, imenso vazio dentro da tarde, provocou nele primeiro um sentimento de desconforto. Em seguida, veio a insegurança, a dúvida sobre sua situação. Estava na sua própria cidade, ou caíra de repente dentro de um pesadelo? Quando o homem duvida, o seu mundo cai em ruínas, desaparecem os pontos de apoio, os suportes familiares e ele se balança como boneco João-teimoso.

O desconforto surgiu e ele teve vontade de gritar. Mas, se gritasse, iriam achar que ele estava louco. E os loucos são eliminados dos grupos normais. Mas ele queria gritar. O ar que enchia o seu corpo precisava ser expelido. Sentia-se como o pneu que suporta vinte e duas libras e está com trinta e cinco, a ponto de estourar. Os músculos do seu peito, a carne toda, doíam, dentro da tensão. Então, gritou. Ouviu o grito com nitidez dentro do silêncio que abrigava os ruídos da tarde. Olhou assustado para as pessoas e foi como se elas estivessem surdas. Nem se viraram. Gritou de novo, percebendo que o primeiro grito fora mais um urro, só para expulsar a massa de ar. E gritou. E gritou de frente para uma moça de amarelo. E a moça gritou. E os dois gritaram juntos, e sorriram. Viram outros sorrindo.

Gritaram os dois; e eram três. Gritaram os quatro; e eram cinco. Gritaram todas as pessoas naquela quadra. As que passavam, as que passeavam, as que olhavam vitrines, as que olhavam para o chão, as que entravam e saíam dos prédios. Gritavam, e o grito ecoou pela rua. Foi respondido. Gritaram na esquina. E na outra esquina. Na praça. Gritaram de dentro dos ônibus, dos carros, no interior dos cinemas e dos escritórios, gritaram nos mictórios e nas lanchonetes, nos bancos e doçarias. E no fim da tarde, quando o sol se pôs, não havia mais ruídos, nem silêncio, apenas o grito, uniforme, uníssono, unânime, solidário, de seis milhões de pessoas. Grito sem fim, enquanto a noite descia.

Fonte:
Brandão, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. Rio de Janeiro, Codecri, 1984.

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 8


155 - Zé lucas
Somos do país do amor,
grande como um continente,
rico que só marajá,
pobre que só indigente;
tem corrupção como regra,
mas tem carnaval que alegra,
de ano em ano, nossa gente.

156 - Gislaine Canales
Ser vencedor faz contente
nosso povo brasileiro,
que está feliz, por demais,
por ser um povo guerreiro
e usando as guerras da paz,
transmite alegria e faz
mais feliz o mundo inteiro!

157 - Prof. Garcia
Nosso povo é o timoneiro
dos braços desta nação,
onde há poucos tendo muito,
muitos sem teto e sem pão;
mas o bom deste País,
é que seu povo é feliz
no Sul, Nordeste ou Sertão.

158 - Delcy Canalles
Nós somos um povo irmão
que luta por melhor sorte,
que tem os olhos no mundo
e é guapo, valente e forte!
Um povo que , hoje, é feliz,
pois quer ver o seu País
destacando-se no esporte!

159 - A. A. de Assis
Tristeza de Sul a Norte:
perdemos nosso Miguel,
queridíssimo poeta,
primoroso menestrel.
Um sonetista de truz,
que ao céu foi levar mais luz
e o seu coração de mel.

160 - Arlindo T. Hagen
Vai fazer falta o Miguel!
Em meio à consternação,
eu gosto de imaginá-lo,
no céu, numa exibição,
dizendo, em meio a um sorriso,
suas trovas de improviso,
num show de declamação!

161 – Thalma Tavares
Ao mostrar preocupação
com o poetar dos humanos,
Deus faz nascer um poeta
com talentos soberanos.
Por isso nasceu Miguel
que hoje é anjo-menestrel
poetando entre os arcanos.

162 - Zé Lucas
Já era avançado em anos,
mas estava sempre ativo:
mestre no lavor do verso,
deixou primoroso arquivo;
por isso, nosso decano
morreu como ser humano;
como poeta, está vivo.

163 - Gislaine Canales
Relembrá-lo é um lenitivo,
é triste sentir saudade,
se pensarmos na alegria,
que nos dava,de verdade,
nosso querido Miguel,
o mais doce menestrel,
mestre do amor e amizade!

164 - Prof. Garcia
Hoje, de fato a saudade,
chegou mais triste e cruel,
com a notícia inditosa
do fim de Dr. Miguel,
deixando a musa tristonha,
mas foi viver com quem sonha
nosso feliz menestrel!

165 - Delcy Canalles
Partiste, amigo Miguel,
excelente sonetista,
trovador dos mais queridos,
declamador, grande artista!
Saudosos, por ti, choramos;
tua ausência, lamentamos,
impagável piadista!

166 - A. A. de Assis
Porém no futuro invista,
porque o dia é da Criança,
dia de festa e alegria,
sobretudo de esperança,
pois que Deus aos pequeninos
- às meninas e aos meninos -
reserva a mais bela herança.

167 - Arlindo T. Hagen
Sem educar a criança
não há comemoração,
nem mesmo em doze de outubro.
Seremos uma Nação
quando toda a criançada
estiver matriculada
no curso da Educação!

168 – Thalma Tavares
Dói muito em meu coração
ver que o ensino da criança
não lhe prepara o futuro.
Porque nos tira a esperança
de ver o Brasil crescendo
e a criançada aprendendo
a ter nos homens confiança.

169 - Zé Lucas
Devemos dar à criança
amor intenso e profundo,
sem negar-lhe a proteção
e o carinho, um só segundo,
além de crença e saber,
porquanto ela vai crescer
e um dia governa o mundo.

170 - Gislaine Canales
Com nosso sonho profundo
seremos sempre criança
com nossas almas poetas,
cheias de amor e esperança
onde nasce, a cada dia,
uma nova fantasia
que deixaremos de herança!

171 - Prof. Garcia
A nossa maior poupança
é quando se educa alguém,
pois a riqueza maior,
é a educação que se tem;
porque nesta vida à-toa,
é mais feliz a pessoa
que estuda e pratica o bem!

172 - Delcy Canalles
Eu quisera ser alguém
bastante rico em virtude;
alguém em quem confiassem,
sempre bem com a Juventude;
uma pessoa bacana,
que, a outrem, jamais engana,
mas acreditem: - Não pude!

173 - A. A. de Assis
Por falar em juventude,
amanhã é o professor
que vai ter também um dia
em honra do seu valor.
A ele os meus cumprimentos,
hoje e em todos os momentos,
visto que é merecedor.

174 - Arlindo T. Hagen
Ao falar do Professor
que boa lembrança invade
meu coração de poeta!
Dos meus versos, na verdade,
a primeira professora
foi a musa inspiradora.
Minha primeira saudade!

175 – Thalma Tavares
Eu, então, sinto saudade
daquela gentil senhora
que iluminou minha infância:
minha Mestra, dona Aurora
que me ensinou com carinho
como encontrar o caminho
dos versos que faço agora.

176 - Zé Lucas
Do bom mestre sempre aflora
uma expressão de carinho.
A quem não conhece a vida,
ele prepara o caminho;
mas o pobre professor
ensina só por amor,
porque o salário é mesquinho!

177 - Gislaine Canales
Mando com muito carinho
minha sincera homenagem
aos mestres todos do mundo,
mas, no meu ser, essa imagem
tem um nome, e eu digo aqui,
com muito orgulho: é Delcy Canalles,
que merece esta mensagem!

178 - Prof. Garcia
Tive uma longa passagem
no mundo da educação,
ensinei por trinta anos
sempre naquela ilusão
de ver alguém mais feliz,
fazendo o que sempre quis
dono da própria razão.

179 - Delcy Canalles
Eu também, querido irmão.
muitos anos, ensinei:
fui paraninfa escolhida
de turmas que, então, formei;
lecionei Psicologia,
e fui mestra da poesia
das alunas que eu amei!

180 - A. A. de Assis
Ame o súdito e ame o rei,
ame o grande e ame o pequeno,
pois quem ama faz o mundo
mais bonito e mais ameno.
Do amor faça uma bandeira
que se estenda à Terra inteira,
levando da paz o aceno.

181 - Arlindo T. Hagen
Um mundo bem mais sereno
pode estar em nossas mãos
se todos colaborarmos.
Quando os sentimentos vãos
sumirem da Terra inteira,
quando o Amor for a bandeira,
o Mundo será de Irmãos!

182 -Thalma Tavares
Nós nos dizemos cristãos,
mas não somos de verdade...
Somos ainda egoístas,
parcos de amor e bondade.
Mas um dia chegará
em que o mundo viverá
na mais perfeita irmandade.
---------------
continua...

Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Monteiro Lobato (O Saci) I - Em férias; II - O Sítio de Dona Benta


Quando naquela tarde Pedrinho voltou da escola e disse a Dona Tonica que as férias iam começar dali a uma semana, a boa senhora perguntou:

— E onde quer passar as férias deste ano, meu filho?

O menino riu-se.

— Que pergunta, mamãe! Pois onde mais, senão no sítio de vovó.

Pedrinho não podia compreender férias passadas em outro lugar que não fosse no Sítio do Pica-Pau Amarelo, em companhia de Narizinho, do Marquês de Rabicó, do Visconde de Sabugosa e da Emília. E tinha de ser assim mesmo, porque Dona Benta era a melhor das vovós; Narizinho, a mais galante das primas; Emília, a mais maluquinha de todas as bonecas; o Marquês de Rabicó, o mais rabicó de todos os marqueses; e o Visconde de Sabugosa, o mais “cômodo” de todos os viscondes. E havia ainda Tia Nastácia, a melhor quituteira deste e de todos os mundos que existem. Quem comia uma vez os seus bolinhos de polvilho não podia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras.

Pedrinho tinha recebido carta de sua prima, dizendo: “Nosso grupo vai este ano completar século e meio de idade e é preciso que você não deixe de vir pelas férias a fim de comemorarmos o grande acontecimento”.

Esse século e meio de idade era contado assim: Dona Benta, 64 anos; Tia Nastácia, 66; Narizinho, oito; Pedrinho, nove. Emília, o Marquês e o Visconde, um cada um. Ora, 64 mais 66 mais oito mais nove mais um mais um mais um, fazem 150 anos, ou seja, um século e meio.

Logo que recebeu essa carta, Pedrinho fez a conta num papel para ver se a pilhava em erro; mas não pilhou.

— É uma danada aquela Narizinho! — disse ele. — Não há meio de errar em contas.

II

O sítio de Dona Benta


O sítio de Dona Benta ficava num lugar muito bonito. A casa era das antigas, de cômodos espaçosos e frescos. Havia o quarto de Dona Benta, o maior de todos, e junto o de Narizinho, que morava com sua avó. Havia ainda o “quarto de Pedrinho”, que lá passava as férias todos os anos; e o da Tia Nastácia, a cozinheira e o faz-tudo da casa. Emília e o Visconde não tinham quartos; moravam num cantinho do escritório, onde ficavam as três estantes de livros e a mesa de estudo da menina.

A sala de jantar era bem espaçosa, com janelas dando para o jardim, depois vinha a copa e a cozinha.

— E sala de visitas? Tinha?

— Como não? Uma sala de visitas com piano, sofá de cabiúna, de palhinha tão bem esticada que “cantava” quando Pedrinho batia-lhe tapas. Duas poltronas do mesmo estilo e seis cadeiras. A mesa do centro era de mármore e pés também de cabiúna. Encostadas às paredes havia duas meias mesas, também de mármore, cheias de enfeites: três casais de içás vestidos, vários caramujos e estrelas-do-mar, duas redomas com velas dentro, tudo colocado sobre os “pertences” de miçangas feitos por Narizinho. Hoje ninguém mais sabe o que é isso. Pertences eram umas rodelas de crochê que havia em todas as casas, para botar bibelôs em cima; para o lavatório de Dona Benta, Narizinho fizera pertences de crochê; e para a sala de visitas fizera aqueles de miçanga de várias cores da bem miudinha.

Antes da sala de visitas havia a sala de espera, com chão de grandes ladrilhos quadrados, “cor de chita cor-de-rosa desbotada”. A sala de espera abria para a varanda. Que varanda gostosa! Cercada dum gradil de madeira muito singelo, pintado de azul-claro. Da varanda descia-se para o terreiro por uma escadinha de seis degraus. Nas férias do ano anterior Pedrinho havia plantado em cada canto da varanda um pé de “cortina japonesa”, uma trepadeira que dá uns fios avermelhados da grossura dum barbante, que depois ficam amarelos e descem até quase ao chão, formando uma verdadeira cortina viva. Aquela varanda estava se transformando em jardim, tantas eram as orquídeas que o menino pendurara lá e os vasos de avenca da miúda que ele foi colocando junto à grade.

O jardim ficava nos fundos da sala de jantar, um verdadeiro amor de jardim, só de plantas antigas e fora da moda. Flores do tempo da mocidade de Dona Benta: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros, orelhas-de-macaco, dois pés de jasmim-do-cabo, e outro, muito velho, de jasmim-manga. Plantado na calçada e a subir pela parede, o velhíssimo pé de flor-de-cera, planta que os modernos já não plantam porque custa muito a crescer. Até cravo-de-defunto havia lá, flor com que Narizinho se implicava por ter “cheiro de cemitério”. Bem no centro do jardim havia um tanque redondo com uma cegonha de louça, toda esverdeada de limo a esguichar água pelo bico, Mas a cegonha já estava sem cabeça, em conseqüência das pelotadas do bodoque de Pedrinho. Um velho regador verde morava perto do tanque, porque era com a água do tanque que Tia Nastácia regava as plantas no tempo da seca.

— E o pomar?

— O pomar ficava nos fundos da casa, depois do “quintal da cozinha”, onde havia um galinheiro, um tanque de lavar roupa e o puxado da lenha. O poço velho fora fechado depois que Dona Benta mandou encanar a agüinha do morro.

Passado o quintal vinha o pomar — aquela delícia de pomar!

— Por que delícia?

— Porque as árvores eram muito velhas, e árvore quanto mais velha melhor para a beleza e a frescura da sombra. Árvore nova pode ser muito boa para dar frutas bonitas, baixinhas e fáceis de apanhar. Mas para a beleza não há como uma árvore bem velha, bem craquenta, com os galhos revestidos de musgos, liquens e parasites. Certas árvores do pomar tinham donos. Havia a célebre pitangueira da Emília, as três jabuticabeiras de Pedrinho, a mangueira de manga-espada de Narizinho e os pés de mamão de Tia Nastácia. Até o Visconde tinha sua árvore — um pezinho de romã muito feio e raquítico. O resto das árvores não era de ninguém — era de todos. E quantas! Cambucazeiros, duas jaqueiras, os pés de cabeluda e grumixama, os três pés de sapotis e aquele de fruta-de-conde que “não ia por diante”.

Era tão antigo aquele pomar que os vizinhos até caçoavam. Viviam dizendo: “O pomar de Dona Benta está tão velho que qualquer dia se põe a caducar. As jaqueiras começam a dar mangas e as mangueiras a dar laranjas”. Mas Dona Benta não fazia caso. Não admitia que se cortasse uma só árvore — nem o pobre pé de fruta-de-conde encarangado. Dizia que cada uma delas lembrava qualquer coisa da sua meninice ou mocidade.

— Este pé de laranja-baiana — costumava dizer — foi o primeiro que tivemos aqui, e dele saíram os enxertos dos outros. Naquele tempo laranja-baiana era uma grande novidade. A muda foi presente do defunto Zé das Bichas, um português muito trabalhador que morava numa chácara perto da vila.

Impossível haver no mundo lugar mais sossegado e fresco, e mais cheio de passarinhos, abelhas e borboletas. Como Dona Benta nunca admitiu por ali nenhum menino de estilingue, a passarinhada se sentia à vontade e fazia seus ninhos como se estivessem na ilha da Segurança. O próprio bodoque de Pedrinho não funcionava no pomar.

— E que passarinhos havia?

— Oh, tantos!... No tempo das laranjas o pomar enchia-se de sabiás de peito vermelho, amigos de cantar a célebre música-do-sabiá que os pais vão ensinando aos filhotes, sempre igualzinha, sem a menor mudança. E havia os sanhaços cor de cinza clara. E as saíras azuis. E as graúnas pretíssimas. E muito canário-da-terra, muito papa-capim, tiziu, pintassilgo, rolinha, corruíra...

As corruíras eram o encanto da menina, que vivia a observar o jeitinho delas no constante escarafunchamento dos muros carunchados em busca de pequenas aranhas e outros bichinhos moles. Bichinho duro corruíra não quer. E sempre com as penas da cauda erguidas, ninguém sabe por quê. Corruíras cor de telha e mansíssima. Há também a linda corruíra-do-brejo, que faz aqueles enormes ninhos espinhentos — mas essas nunca apareciam no pomar. Moravam nos brejos.

Às vezes pousavam lá, de passagem, um ou outro tié-sangue, o passarinho mais lindamente vermelho que existe. Mas não se demoravam. Eram arisquíssimos.

— Por que, vovó, justamente os passarinhos mais bonitos são os mais ariscos? — perguntou certa vez a menina.

— Justamente por serem bonitos, minha filha. Os homens perseguem os passarinhos bonitos porque são bonitos — quem quer saber de passarinho feio? Os tico-ticos, por exemplo: vivem na maior paz em todos os terreiros justamente porque ninguém os persegue. São feinhos, os coitados. Mas apareça aqui um tié-sangue, ou uma saíra daquelas lindas: todos se põem atrás deles, querendo apanhá-los vivos ou mortos. Para a felicidade neste nosso mundo, minha filha, não há como ser tico-tico, isto é, feinho e insignificante...

Mas o rei do pomar era o joão-de-barro. Na paineira grande, bem lá no fundo, moravam dois, num ninho feito de argila, em. forma de forno de assar pão. Era o casal mais amigo possível. Não se largavam nunca. Onde estava um, também estava por perto o outro. E se por acaso um se afastava um pouco mais, volta e meia soltava uns gritos como quem pergunta: “Onde você está” — e o outro respondia: “Estou aqui”. E de vez em quando cantavam juntos aquele terrível dueto que mais parece uma série de marteladas estridentes e alegres.

— Que coisa interessante, vovó! — disse Pedrinho um dia. — Repare que eles sempre cantam ou gritam juntos. Um faz uma parte e outro faz o acompanhamento, como no piano...

E era assim mesmo. São tão amigos que até para cantar “cantam a duas mãos”, como dizia a boneca.

Certo ano o casal resolveu construir um ninho novo em outro galho da paineira, e durante quinze dias o divertimento dos meninos foi acompanhar de longe aquele trabalho. Os dois passarinhos traziam da beira do ribeirão um pelote de barro no bico e ficavam ali a colocar aquela massa no lugar próprio, e a bicá-la cem vezes para que ficasse bem ligadinha. Enquanto um se ocupava naquilo, o outro voava em busca de mais barro. Nunca estavam os dois no mesmo serviço; revezavam-se. À tardinha interrompiam o trabalho, cantavam o dueto com toda a força e depois se acomodavam no ninho velho. Tia Nastácia vivia dizendo que nos domingos eles não trabalhavam, mas infelizmente os meninos não puderam tirar a prova duma coisa tão linda.

O mais curioso foi que, depois de acabado o ninho novo, eles, em vez de se mudarem, resolveram fazer um segundo ninho em cima daquele. Quem primeiro notou isso foi o Visconde, que foi, todo assanhado, contar a Dona Benta.

— Venham ver — disse o sabuguinho. — Eles terminaram ontem a construção do ninho novo, mas não se mudaram do velho, em vez disso estão a construir um segundo ninho sobre o novo — uma espécie de segundo andar.

Dona Benta foi com os meninos e viu.

— Por que será, vovó? — quis saber Pedrinho.

— Não sei, meu filho, mas eles devem ter lá as suas razões.

— Eu sei — berrou Emília. — É para alugar!...

Todos riram-se.

— Eu acho — disse Narizinho — que é para acomodar os filhotes quando chegarem ao ponto de voar.

— Isso não — observou Dona Benta. — Porque se os pais construíssem casas para os filhos, estes não aprenderiam a arte da construção e essa arte perder-se-ia. É fazendo que se aprende, já disse o velho Camões.

— Mas então esses passarinhos raciocinam, vovó — têm inteligência...

— Está claro que têm, meu filho. A inteligência é uma faculdade que aparece em todos os seres, não só no homem. Até as plantas revelam inteligência. O que há é que a inteligência varia muito de grau. É pequeniníssima nas galinhas e nos perus, mas já bem desenvolvida no joão-de-barro — e é um colosso num homem como Isaac Newton, aquele que descobriu a Lei da Gravitação Universal.

No terreiro do sítio, em frente à varanda, havia sempre um mastro de São João, que Pedrinho fincava na véspera do dia desse santo, a 24 de junho, quando vinha pelas férias. Ele mesmo cortava o pau no mato, ele mesmo o descascava e pintava inteirinho, com arabescos vermelhos, amarelos e azuis. No topo do mastro colocava a “bandeira de São João”, que era um quadrado de sarrafo, espécie de moldura, na qual pregava com tachinhas um retrato de São João meninote com um cordeirinho no braço. Essas bandeiras, estampadas em morim, custavam R$ 1,50 na venda do Elias Turco, lá na estrada.

O terreiro era vedado por uma cerca de paus-a-pique — rachões de guarantã. Bem no centro ficava a porteira. Para lá da porteira era o pasto, onde havia um célebre cupim de metro e meio de altura; e mais adiante, um velho cedro ainda do tempo da mata virgem. Através do pasto seguia o “caminho” — ou a estrada que ia ter à vila, a légua e meia dali. No fim do pasto, perto da ponte, apareciam a casinha do Tio Barnabé e a figueira grande; e bem lá adiante, o Capoeirão dos Tucanos, uma verdadeira mata virgem onde até onça, macacos e jacus havia.

E que mais? Ah, sim, o ribeirão que passava pela casa do Tio Barnabé cortava o pasto e vinha fazer as divisas do pomar com as terras de plantação. Impossível haver no mundo um ribeirão mais lindo, de água mais limpa, com tantas pedrinhas roliças de todas as cores no fundo. Em certos pontos viam-se pequenas praias de areia branca. Nas curvas a água quase que parava, formando os célebres “poços” onde Pedrinho pescava lambaris e bagres. As beiras de água rasa eram a zona dos guarus — o peixinho menor que existe.

Aos domingos Tia Nastácia saía a mariscar de peneira. Os meninos davam pulos de alegria. A boa negra metia-se na água até à cintura e ia descendo o ribeirão, com eles a acompanhá-la da margem, aos gritos.

— Aqui, Nastácia, aqui nestes capinzinhos...

A negra, muito cautelosamente, mergulhava a peneira por baixo dos capinzinhos boiantes e suspendia-a de repente, de surpresa. A água escoava-se pelos furos e na peneira aparecia uma porção de vidinhas aquáticas, a saltar e espernear: guarus barrigudinhos, lambarizinhos novos, pequeninas traíras e, de vez em quando, um baratão-d’água muito casquento e feio. E outros bichinhos ainda, incompreensíveis e sem nome. Certo dia a peneira trouxe uma cobra-d’água verde, que a negra jogou sobre o capim da margem. Foi uma gritaria e uma correria das crianças.

— Não tenham medo que não é venenosa! — disse a negra rindo-se com toda a gengivada vermelha de fora.

Mas os meninos não quiseram saber de nada. Ficaram a espiar de longe. A cobra-verde foi coleando por entre os capins e se sumiu de novo na água.

O mais importante daquelas mariscagens eram os camarõezinhos de água doce, moles e transparentes, que Tia Nastácia acanhava em quantidade. A carregadeira do samburá (a cestinha redonda que os mariscadores usam para recolher o peixe) era sempre Narizinho. A menina ia passando os camarões da peneira para o samburá, com muito medo de ser mordida. Só os agarrava pelos fios da barba. Pedrinho ria-se: “Boba! Onde se viu camarão morder?” E ela: “A gente nunca sabe...”

No jantar daqueles domingos, quando aparecia na mesa o prato-travessa cheio de camarõezinhos fritos, bem pururucas e vermelhos, as crianças até sapateavam de gosto. E se com os camarõezinhos vinha alguma pequena traíra ou bagre, a disputa era certa.

— A traíra é minha! — berrava um.

— É minha, é minha! — gritava outro.

O remédio era sempre uma das célebres sentenças de Salomão de Dona Benta.

— Como vocês são dois e a traíra e uma só, eu como a traíra e vocês repartem os camarões.

Cessava incontinenti a disputa, e a travessa de camarão ia diminuindo, diminuindo, até não ficar nem um fio de barba.
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continua... III - Medo do Saci
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 305)

Imagem criada por Igor Zenin
Uma Trova Nacional

Fiel ao sonho desfeito
há, no mundo, certa gente
guardando dentro do peito
toda a descrença que sente.
–NILTON MANOEL/SP–

Uma Trova Potiguar

Quando o poeta se extasia,
nas asas, da inspiração,
faz do sonho, a poesia,
põe no verso, o coração.
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: ENCANTO - M/H.

O sonho, vivendo em mim,
encanto suave e risonho,
talvez seja lindo assim,
justamente por ser sonho.
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Em busca de São Francisco,
o Santo do Canindé,
romeiros seguem com risco
numa procissão de Fé.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quando chora um trovador
não é o seu pesar somente,
canta, sofre e chora a dor
colhida de toda gente.
–VICTORINA SAGBONI/PR–

Simplesmente Poesia

Nebulosa
–CLEVANE PESSOA/MG–

Torno-me quase nada
se não sou compreendida...
Uma fechada rosa
querendo se abrir...
Ave engaiolada
a querer fugir...
Sem forma definida
perco-me em mim
no espaço sideral:
Viro uma nebulosa
para escapar do seu mal,
você me apedreja
saiba que já fui alguém
com muito mais consistência...
Não quero que assim me veja:
não sou assim...

Estrofe do Dia

Uma lagarta amarela
depois de longo mal trato
dobra uma folha de mato
e vai morar dentro dela,
chega num pé de marcela
faz uma folha torcer,
não encontra o que comer
mesmo assim vai escapando;
é a natureza mostrando
quanto é grande o seu poder.
–MANOEL FILÓ/PE–

Soneto do Dia

Um Bule, Uma Saudade!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Ontem eu retornei ao meu passado,
e fui, pela saudade que sentia.
Pude rever com certa nostalgia,
um bule de café mal adoçado.

Que esperava o meu pai do seu roçado,
mas, meu pai, com certeza, não viria,
pela janela aberta inda se via
seus rastros no caminho, chão amado.

Eu mesmo o vi partir no amanhecer,
naquela rede velha de um sofrer,
por homens que sorriam, sem maldade.

Na rede, ele seguia o seu caminho,
velho bule encardido, ali sozinho,
amargando o café desta saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Amosse Mucavele (Poegrafia o Ledo Ivo)*


Amosse Eugénio Mucavele é de Maputo, Moçambique e é o novo colaborador do blog. Hoje ele inicia com esta homenagem ao poeta alagoano Lêdo Ivo (foto ao lado)
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Um homem vindo de um lugar pobre e distante das metrópoles, sonhou em um dia alavancar o nome da sua terra natal (Maceió – Alagoas).

Como os sonhos não envelhecem (R.Riso) continuou firme a trilhar o caminho dos seus sonhos, mas nunca compartilhou com alguém, guardava-os na gaveta da sua cachola.

Procurou tantos ofícios e aperfeiçoou-se no oficio de ourives da palavra, lapidou os seus sonhos e lançou-os em forma de IMAGINAÇÕES, e dai percebeu que ter uma ourivesaria precisa de mão-de-obra e material e a título individual não iria conseguir levar avante o projeto, o coletivismo veio à tona (nasceu a Geração 45).

Os sonhos deste homem continuaram fortes como a rocha, altos como o Everest

Colocou um desafio a si mesmo – de deliciar o mundo e mostrar o quão grande e a LINGUAGEM da palavra que ele fabrica.

Este homem nunca teve inspiração pois a poesia e o sol que brilha no seu dia – a – dia e os SONETOS acontecem A NOITE.

O Brasil tornou-se pequeno, atravessou os céus e foi a PARIS graças as MAGIAS das suas mãos REI da EUROPA reconheceu a grandeza da sua obra.

Neste momento eu estou aqui na ESTAÇÃO CENTRAL a espera do trem que traz O UNIVERSO POÉTICO deste homem.

*Ledo Ivo é natural de Maceió-Alagoas expoente da Geração 45, publicou numerosos livros de poesia- As Imaginações(1944), A linguagem(1951), Acontecimento do soneto e ode a noite(1951), um Brasileiro em Paris e o Rei da Europa(1955), Estação central(1964). Também é novelista, contista, cronista e critico literário autor do ensaio- O universo poético de Raul Pompeia (1963)
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Amosse Eugenio Mucavel nasceu em Maputo aos 8 de julho de 1987,e fez o curso agropecuário Instituto Agrário Boane. É membro do Movimento Literário Kuphaluxa, onde coordena o projeto literatura na escola. O blog é http://kuphaluxa.blogspot.com/.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Paulo Leminski ("A Proxima Vez")


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 304)


Uma Trova Nacional

Se há caridade nos lábios,
Juntam-se a fé e a esperança.
São três palavras que os sábios,
percebem só nas crianças!
JOSIAS ALCÂNTARA/PR–

Uma Trova Potiguar


Natal é rica de tudo,
tem beleza e esplendor,
Desde a obra de Cascudo
Aos versos do cantador.
–MARCOS MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - UBT-Natal/RN
Tema: DESTINO - M/H

Que não me julguem culpado
por não achar a saída...
Meu destino está traçado,
nos labirintos da vida!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova de Ademar

Minha mente é qual jazida
onde o verso prolifera...
De poesia eu pinto a vida
com cores da primavera!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

"Angustias D'Alma"
–MARIVA/PB–

Estou pensando
indeciso, inseguro, pensando
qual o trilho da minha vida !!! ???
com as mãos estendidas para o nada
escondendo um grito calado no peito
na solidão de um caminho deserto
com o olhar angustiado no infinito
e a alma perdida nos labirintos da vida.

Estrofe do Dia

Favela, recanto cheio
de casas de papelão,
apitos de camburão
fumaças de tiroteio;
de mãe sem leite no seio,
marido desempregado,
fogão de fogo apagado,
mesa sem ter pão no prato;
a favela é o retrato
de um povo discriminado.
–JOÃO PARAIBANO/PB–

Soneto do Dia

Te Amo
SÁ DE FREITAS/MA

Amo-te tanto...mais que a própria vida,
E te desejo tanto, na certeza,
De que me queres quanto és tão querida,
De que me prendes n'alma o quanto és presa.

Amo-te mais que o amor permite amar-se;
Amo-te além do além que o amor desperta;
Translúcido te amo sem disfarce;
Te amo com a loucura de um poeta.

Amo-te como deve amar quem ama,
E cercado por essa imensa chama,
Do amor que me aprisiona em fortes laços:

Quero que o coração, no amor, se farte;
Quero viver para poder amar-te...
Quando eu morrer, que eu morra nos teus braços.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor