quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trovadores do Além (Parte 1)

1
Nenhuma ciência elucida
Onde a saudade é mais forte:
Se nas lágrimas da vida,
Se nos júbilos da morte.
SOARES BULCÃO

2
O mal é o mesmo em ofensas
De obsessões infelizes,
Quando dizes e não pensas,
Quando pensas e não dizes.
MARCELO GAMA

3
Mãezinha, não sei ao certo
Onde a ausência dói mais fundo.
Se na paz do firmamento,
Se na dor que envolve o mundo.
RUBENS DE SÁ

4
Para as tristezas da vida,
Trabalho é o grande remédio.
Quem com tédio mata o tempo,
O tempo mata de tédio.
CRISTÓVÃO BARRETO

5
O ouro, por mais renome,
Guarda esquisita função:
No cofre, piora a fonte,
No trabalho, gera o pão.
VIRGÍLIO BRANDÃO

6
Escreves? A cada traço,
Relembra a morte terrena...
Há muita pena no Espaço
Apenas devido à pena.
BATISTA CEPELOS

7
Reencontrei-te reencarnada...
Imagina o meu deserto!...
Rever-te perto e tão longe,
Sentir-te longe e tão perto...
LÍVIO BARRETO

8
Saudade – angústia que embala,
Tem um ponto impertinente:
Quem sente, às vezes não fala.
Quem fala, às vezes não sente.
ROBERTO CORREIA

9
Do Além se vê, face a face,
O que nunca se entendeu,
Na morte de quem renasce,
Na vida de quem morreu.
HELVINO DE MORAIS

10
Estranha contradição
Que a Terra vira e revira:
Muita mentira é paixão,
Muita paixão é mentira.
EMÍLIO DE MENEZES

11
Que conflito doloroso
No antigo romance nosso!
Quero amar-te e não consigo,
Quero esquecer-te e não posso.
LAURO PINHEIRO

12
Para a Justiça de Deus,
Tem muito mais expressão
A gota de caridade
Que o rio da pregação.
MARTINS COELHO

13
Saudade – sombra erradia
Que envolve a gente na estrada,
Lembra chuva mansa e fria
Numa casa destelhada.
TARGÉLIA BARRETO

14
Não sei de amor tão perfeito
Que esta divina ternura
Que as mãos carregam no peito
E guardam na sepultura.
VIDA

15
Desencarnei... É verdade,
Mas prodígios não me peças!
Já tenho a infelicidade
De ver o mundo às avessas.
RAUL PEDERNEIRAS

16
Que o mundo não te embarace
Na aparência fementida.
A vida que está na face
Não mostra a face da vida.
SABINA BATISTA

17
Bênçãos de Deus! – para vê-las,
Basta olhar por onde fores,
O céu repleto de estrelas,
A terra cheia de flores.
GOMES LEITE

18
Agora não mais me iludo
De que, na Terra ensombrada,
Quem não tem nada tem tudo,
Quem tem tudo não tem nada.
ANTÔNIO SALES

19
Tarde percebo no Espaço
A grande filosofia...
O que fazia não faço,
O que faço não fazia.
XAVIER DE CASTRO

20
Adoro a Terra, entretanto,
Vale mais no meu arquivo
Ser vivo depois de morto,
Que ser morto sendo vivo.
MARTINS COELHO

21
Do que vejo após a morte,
Que mais me causa aflição,
É ouro na caixa forte
E pequeninos sem pão.
JUVENAL GALENO

22
Toda mulher é uma estrela,
Se traz, seja linda ou não,
A palma do sacrifício
Na palma de sua mão.
IRENE SOUZA PINTO

23
Ventura! – riqueza d’alma
Que atirei pela janela.
Saudade! – retrato vivo
Do bem que se foi com ela.
ARTUR RAGAZZI

24
As coroas de finados,
Na campa de quem morreu,
São grandes zeros dourados
Se a vida nada valeu.
CORNÉLIO PIRES

25
A pessoa vigilante
Usa verbo temperado;
Nem franqueza com pimenta,
Nem brandura com melado.
DERALDO NEVILE

26
Boneca que sempre riste
De alma gelada e insincera,
Ah! Boneca, como é triste
A solidão que te espera!
VIVITA CARTIER

27
O mundo aplaude e coroa
Quem vence a batalha a esmo,
Mas, no Além, o vencedor
É quem venceu a si mesmo.
ANTÔNIO AZEVEDO

28
Palavras – formas da imagem
Que o cérebro deita aos molhos.
Pranto – divina linguagem
Do coração pelos olhos.
CHIQUITO DE MORAIS

29
Por mais que o mundo progrida,
Vale o antigo passaporte;
Velha campa – nova vida,
Novo berço – velha morte
GODOFREDO VIANA

30
Não há júbilo, a rigor,
Que se possa comparar
Ao de amor que encontra o amor
Depois de muito esperar.
MACIEL MONTEIRO

31
Mãe, abençoa teu filho
Mesmo ingrato, rude e vão.
A luz nunca perde o brilho
Por derramar-se no chão.
RITA BARÉM DE MELO

32
Há muita paixão que arrasa
Qual fogueira bela e vã.
Hoje, brilho, chama e brasa,
E muita cinza amanhã.
MARCELO GAMA

33
Criança, - linda semente,
Raio de luz a sorrir.
É nesse pingo de gente
Que Deus te entrega o porvir.
BELMIRO BRAGA

34
Muitos vivos vendo o morto
Sentem pânico profundo,
E há muito morto com medo
Dos vivos que estão no mundo.
CARLOS CÂMARA

35
Não sei discernir qual seja
Mendigo mais sofredor,
Se o pobre que pede pão,
Se o rico que pede amor.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

36
Eis o quadro mais perfeito
Que já vi do desconforto:
Mãe transportando no peito
A mágoa de um filho morto.
MARIA CELESTE

37
Afeições vistas do Além
Em cem paixões que entrevejo:
Uma delas – amor puro;
Noventa e nove – desejo.
LUCÍDIO FREITAS

38
O coração quando ama
É céu que brilha de rastros,
Luz de Deus que desce à lama,
Ou lama que sobe aos astros.
SABINO BATISTA

39
O imenso mar que se aninha
Entre céus, terras e escolhos
Brilha menos que a gotinha
De pranto a cair dos olhos.
AMÉRICO FALCÃO

40
Quem conserva terra vã
Na Terra sem cultivar,
Nasce na Terra amanhã
Sem terra para morar.
ADERBAL MELO

41
Rio morto, árvore peca,
De tudo vi no sertão,
No entanto, pior é a seca
Que lavra no coração.
VIRGÍLIO BRANDÃO

42
Palácios, arranha-céus,
Muitos dos mais expressivos,
São custosos mausoléus
Resguardando mortos-vivos.
BENEDITO CANDELÁRIA IRMÃO

43
Depois da morte, sentimos,
No mesmo grau de rudez,
Tanto o mal que praticamos,
Quanto o bem que não se fêz.
JÔNATAS BATISTA

44
Ama, filhinha, entretanto
Sofre a dor que o lar te der.
É toda feita de pranto
A glória de ser mulher.
VIDA

45
Mãe que partiu!... Podes vê-la
Na fé que te reconforta
Toda mãe é como estrela
Que brilha depois de morta.
CELESTE JAGUARIBE

46
No mundo, ninguém conhece
A força de redenção
De uma lágrima que desce
Dos olhos ao coração.
CARLOS CÂMARA

47
Amor – da sombra em que existo,
Parece clarão de aurora,
Consolo de Jesus-Cristo,
Mão estendida a quem chora.
ULISSES BEZERRA

48
Depois da morte é que a gente
Tem o amor que aperfeiçoa,
Amando quem nos esquece
Nos braços de outra pessoa.
JOVINO GUEDES

49
Coração, padece a chama
Do martírio em que te elevas!
Se muito sofre quem ama,
Quem não ama vive em trevas.
BERNARDO DE PASSOS

50
Ateu – enfermo que sonha
Na ilusão em que persiste,
Um filho que tem vergonha
De dizer que o pai existe.
ALBERTO FERREIRA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 1

ALENCAR, José de. O Guarani.

Narra a história do chefe Aymoré Peri, que encarna um herói de romance de cavalaria. Destemido, cheio de sentimentos nobres, apaixonado e bom, Peri se envolve em batalhas e aventuras em nome de sua amada, Ceci, filha do invasor branco. Com músculos de aço e coragem invencível, Peri (palavra que significa “junco silvestre” em Guarani) luta contra os conquistadores e é capaz de realizar todos os sacrifícios por amor a Ceci (termo Guarani equivalente a “magoar”).

ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará.

Narra a história de um irresistível e proibido amor, entre Iracema, a mais bela de todas as índias Tabajara, e Martim, um bravo guerreiro português. Na história tem origem o local que um dia veio a tornar-se o estado do Ceará.

ALENCAR, José de. Ubirajara: lenda Tupi.

Narra a história de Jaguarê, figura central do romance, que procura derrotar outros guerreiros para, com isto, vir a ser considerado o mais forte e valente índio do povo Araguaia. Durante sua busca pelos adversários, conhece Araci, índia Tocantim, por quem se apaixona, mesmo já estando comprometido com Jandira, jovem Araguaia como ele. A busca pelo seu reconhecimento como guerreiro e pela conquista de seu amor são elementos que estão presentes em toda a narrativa e que se cruzam para a criação dos episódios que estruturam a obra.

ALMEIDA, Gercilga. O mistério do Memuã.

Narra a história de Lalá e Tito, que são amigos de Piá, filho do chefe dos Kamayurá. Um dia, recebem de presente uma linda arara azul, e vovô Eraldo percebe que este pássaro lhe traz uma mensagem, um mistério para ele resolver. Logo que chegam as férias, as crianças e o avô viajam para o Parque do Xingu, onde aprendem como os índios trabalham e vivem. Para encontrarem a solução do mistério, eles viajam também para Brasília.

ALVAREZ, Reynaldo Valinho. Um índio caiu do céu.

Apresenta a história de Ariranha, personagem central de Um índio caiu do céu, representante de todas as nações indígenas brasileiras. As ações do personagem retratam a vivência do trágico processo de desestruturação cultural.

AMADO, Roberto. As aventuras de Iakti, o indiozinho.

Narra a história de Iakti, um indiozinho muito inteligente e esper to que se envolve em várias aventuras na floresta. Primeiro, recebe a missão de recuperar a voz de um amigo, roubada por Puara, um espírito brincalhão da selva. Depois, apaixona-se pela lua e sonha com um jeito de alcançá-la. Acordado desse sonho, Iakti vive, juntamente com seus amiguinhos, uma disputa acirrada com os meninos da aldeia vizinha. Por fim, nosso herói é injustamente acusado de ter roubado um arco e uma flecha que pertenceram a um grande guerreiro. Assim, Iakti foge da aldeia e vai viver com um ermitão, que lhe transmite muitos ensinamentos sábios.

AMARAL, Maria Lúcia. O robô e o índio.

Narra o encontro entre um robô e um índio, intermediado por dois meninos, levados num passeio cheio de aventuras pela cidade grande. O contraste, mesmo no terreno do faz-de-conta, é dos mais insólitos. A magia da fábula se intensifica com o convívio entre o robô e o índio, provando que a harmonização das diferenças é possível quando se opera numa atmosfera de entendimento e de amor.

ANDRADE, João Batista de. A terra do Deus dará.

Narra a aventura de dois adolescentes da cidade que, em viagem à fazenda do tio, chamado Olavo, localizada em Minas Gerais, conhecem Tuim, um rapaz mestiço, cujo pai, o líder camponês Ramiro, fugira para o Paraná depois de ter matado um capataz numa briga. Interessados pelo destino de Ramiro, os dois colegas decidem acompanhar Tuim na busca do pai, na “terra do Deus dará”. Esta aventura os levará a uma região violenta, marcada por conflitos entre índios, posseiros e grileiros.

ANDRADE, Telma Guimarães Castro. Uma aldeia perto de casa.

Conta a história de um menino que, para fazer uma pesquisa escolar, visita uma aldeia Guarani. Observa a rotina diária da aldeia, aprendendo sobre a cultura, a educação e, principalmente, sobre a luta dos índios pela terra e por seus direitos.

ANDRADE E SILVA, Waldemar. Lendas e mitos dos índios brasileiros.

Apresenta 24 lendas indígenas, selecionadas e interpretadas pelo pintor-contador de histórias Waldemar de Andrade e Silva. Ilustrado com 25 obras deste grande artista, o livro é fruto de sua convivência de oito anos com os principais povos do Xingu. De um lado, a obra mostra a riqueza de detalhes e as cores vibrantes da pintura naturalista, do outro, um texto revelador da sensibilidade desse “aluno do índio e da natureza”.

AQUINO, Rubim Santos Leão de. Os primeiros brasileiros.

Apresenta, em quadrinhos e literatura, o resgate da Pré-História do Brasil, com um texto emocionante e original. O resultado são aventuras incríveis, capazes de empolgar até mesmo quem nunca se interessou por História.

AUSTRIANO, Poliana. Três histórias do povo das terras do Brasil

Aborda a história da formação do povo brasileiro, enfocando o índio, o branco e o negro. Tudo começa quando os portugueses decidem colonizar o Brasil. Isto aconteceu há 500 anos!

AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore.

Apresenta o Saci, a Iara, o Curupira, o Bichopapão, o Lobisomem e muitas outras personagens do imaginário popular. Coletânea de contos, quadras populares, frases-feitas, adivinhas, ditados, trava-línguas e receitas culinárias, que abre ao leitor o vasto universo do folclore brasileiro.
Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 8a. Parte

" MARGARIDA... "

Quem já viu a margarida
na sua haste leve e fina
sobre o dorso da colina
ao vento suave a acenar ?

Pois ela é assim, parecida,
em sua inquieta alegria,
oscila, e é toda poesia,
quando vive em meu olhar...

"MENSAGEM CIFRADA"

Minhas costas ficaram como sensíveis palimpsestos
onde escreveste, com os estiletes de tuas unhas
estranhos caracteres
em misteriosa linguagem...

São loucos hieróglifos que gravas sem sentir
como um artista em transe que se pusesse fora de si,
a transmitir a sua mensagem...

Nem tu mesma és capaz de traduzir os sinais
que deixaste gravados em minhas costas
fixando aqueles instantes de infinito prazer
e exaltação,

e eu penso, que se pudesse um dia decifrá-los
teria descoberto o segredo da escrita
do amor
e penetrado, e revelado o enigma
da própria Criação!

" MEU RUMO "

Sou um barco de 7 mares...
És a vela branca
do meu pensamento...

- Vou para onde me levares
ou aonde nos leve o vento...

"MONÓLOGO DO BARQUEIRO SOLITÁRIO"

Não sei como consigo conter este desejo que sopra
e me impele para ti
como um barco para o mar...

Não sei como consigo amarrar-me a mim mesmo
como quem nada sente,
a simular esta calma, esta paz,
deixando-me ficar como um barco a bater inutilmente
contra o cais...

Ahl Se ainda fores minha! Enfunarei mil velas
pelo oceano a fora,
soltarei bandeiras, seguirei audacioso o meu roteiro...

Ah! Se tu fores minha! Não viverei assim
em viagens de sonhos
preso às amarras do meu desespero...

Partirei em busca daquela ilha
que veio em teu olhar...

Ah! Se tu fores minha, que maravilha!
Serei dono do Mar…

" MOTIVO MODERNO PARA SOLO DE VIOLINO "

Que importa se lá fora os carros passam,
os jornais têm manchetes atômicas,
os foguetes violam o espaço,
e os homens práticos carregam pastas
grávidas de negócios,
e fígados insociáveis?

Aqui, junto a ti,
em nosso leito,
meu coração século dezenove te ama,
e murmura coisas que eu fico bobo de ver
como te deixam derretida,
e tocam teu corpo
como um arco de violino...

" NA CURVA EXTREMA... "

Chegamos mesmo a um ponto em que é impossível
continuarmos adiante, o mesmo passo,
e o que é estranho afinal é que ainda te amo
sinto que te amo e que me fazes falta...

Há mistérios no amor, inexplicáveis,
Há caminhos na vida que ninguém
pode prever onde darão, nem como
hão de findar, além da curva extrema...

Insustentável nos parece o sonho
que equilibramos sobre um fio apenas,
não sei o que pensas sobre o outro lado,
sei que me perco, me acovardo, e paro.

Ha, bem quisera com desprendimento
te desejar toda ventura, toda
que não pude ou não soube te ofertar,
e hoje sei, tão distante... inalcançalvel...

Talvez jamais isto se dê, no entanto
se tiver que se dar, que acontecer,
que eu tenha forças para merecer-te
ao menos neste instante de perder-te...
--
Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Ulisses Bezerra (Sentenças da Estrada)

Sinônimo luminoso
No dicionário da vida:
Liberdade verdadeira,
Obrigação bem cumprida.

Os fortes devem aos fracos
O que os bons devem aos maus:
Serviço claro e incessante
Que a todos livres do caos.

Em tudo quanto converses,
Toma o bem por tua escolta.
Toda palavra é um ser vivo
Por conta de quem a solta.

Qualquer pessoa que sofre,
Por mais cansada e infeliz,
Enquanto pode queixar-se
Não está mal como diz.

Quem não crê na obediência
E ao descontrole se aninha,
Olhe um comboio apressado
Quando sai fora da linha.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 449)

Uma Trova de Ademar 

Qual cigano eu vivo à toa
numas andanças sem fim...
Nas mãos de cada pessoa,
eu vejo um pouco de mim...!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Surgiu tímido, encoberto
por nuvens, na cinza grei;
mas logo se fez aberto
no horizonte, o astro-rei!
–NEMÉSIO PRATA/CE–

Uma Trova Potiguar


Rugas são marcas da vida
que a mão do tempo traçou
lembrando à face esquecida
que a mocidade passou!!!
LUIZ DUTRA BORGES/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


A vida é ponte comprida
por onde nós caminhamos...
pouco a pouco é destruída
à medida que passamos!
–ADALBERTO DUTRA RESENDE/PR–

Uma Trova Premiada


1985 - Porto Alegre/RS
Tema: CORAGEM - 9º Lugar


Coragem! Ergue teu rosto,
desamarra esta carranca,
porque o sol, depois de posto,
nos mostra a lua mais branca.
–FLÁVIO ROBERTO STEFANI /RS–

Simplesmente Poesia

Pedaços de Mim
–FRANCISCO CÓRDULA/PE–


Quero chegar ao infinito!
Driblar os aflitos,
Tropeçar nos obstáculos
Cair, me levantar
E tentar tudo de novo.
Equilibrar-me como um trapezista
No picadeiro da vida.

Desfrutar da energia
Que sempre carrego comigo,
em algum lugar de mim
Encontrar meu espaço no universo
Sempre sendo eclético
Para não definhar e morrer..

Estrofe do Dia

A Vida
–HÉLIO CRISANTO/RN–


A vida é um grande rio
correndo no pedregulho
cortando vale e entulho
com seu instinto bravio.
Assim enfrento com brio
a corrente dos meus planos
e apesar dos desenganos,
dos meus desejos medonhos,
eu sigo empilhando sonhos
na prateleira dos anos.

Soneto do Dia

Lucidez
–DIVENEI BOSELI/SP–


Se eu te disser que sou feliz agora,
nesse momento em que a razão cochila
e, na modorra, enxerga só a mochila
que carregavas quando foste embora;

que o meu rancor, agora, não destila
o fel que dentre estas paredes mora,
e que saudade alguma hoje devora
o coração que recobri de argila;

se eu te disser que a porta do meu quarto
por onde tu partiste foi o parto
da solidão que eu quis, sem dor, sem ira,

por hoje, podes crer, mas toma tento:
È falsa a lucidez do meu tormento
e tudo o que eu disser, hoje, é mentira!..
-
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Mario Vargas Llosa (Cronica não é Conto)

É um dos motivos que me fizeram deixar de participar de concurso de conto. Muitas vezes vi uma crônica ganhar o primeiro lugar, num concurso de conto, passando por conto inovador, exótico, suigênere. Sendo assim, então se poderia dar o primeiro lugar, também, a uma bula de remédio ou a uma lista de compra.

A comissão julgadora não sabe a diferença entre conto e crônica? Então corre o risco de eleger uma lista telefônica como um romance inovador.

Tal como Fernando Pamplona, na saudosa tevê Manchete, bradava contra a marchinha sendo tocada como se samba fosse, quero bradar contra a crônica apresentada como conto. Nada contra a marchinha, que é dos ritmos mais bonitos, mas é muito fácil transformar o samba nalgo mais empolgante acelerando o ritmo. Assim, também, é fácil apresentar uma crônica como um conto inovador. É algo como eleger um gato, num concurso canino, como um cão muito original.

Vejamos um trecho da introdução da antologia Obras primas do conto moderno, introdução de Almiro Rolmes Barbosa e Edgard Cavalheiro:

[...]

Bem sabemos que ao lado da lista de nomes que o índice desta obra apresenta, o leitor poderá enfileirar, com facilidade, outros tantos nomes de valor idêntico, se não maior. Isso só prova que o gênero, em que pesem suas dificuldades, é dos mais fecundos e que todo grande ficcionista, cedo ou tarde, nele vem pousar, embora durante momentos. Realmente, apesar de difícil e perigoso, o conto exerce atração muito grande e raríssimo o escritor que não deixa contribuição num livro, nas páginas das revistas especializadas ou, simplesmente, dos magazines populares. Acontece que o talento sempre acompanha seu dono e, muitas vezes, resulta numa pequena obra-prima. De caso pensado evitamos, por isso mesmo, falar em antologia de contistas. Não reunimos contistas e sim contos.

Um fenômeno fácil de ser observado é o seguinte: Em geral o principiante começa escrevendo conto. Acha mais fácil que o romance, menos complexo. Duro engano. Pela síntese que exige, pela concisão e precisão psicológicas, por um sem-número de outras qualidades, o ficcionista, a não ser que tenha nascido pro metiê ou se trate dum gênio, somente atinge a obra-prima na pequena história depois que se fartou no amplo e complexo espaço do romance ou da novela. O segredo do conto, e não afirmamos alguma novidade, não está no enredo, originalidade da história. Um enredo vulgar, exploradíssimo, pode dar uma obra-prima. Mopassã já provou isso. Anatólio França também. O segredo do conto está... no gênio do autor. Qualquer conselheiro acácio subscreveria o conceito mas isso não impede que seja verdadeiro... Técnica, enredo, estilo, etc, são acessórios, não fazem do conto uma obra-prima. Nada mais duvidoso que esses cursos pra se tornar romancista, contista, poeta ou historiador. Está claro que sem conhecimento técnico nada se poderá fazer. Na obra de arte não há só inspiração mas também, e principalmente, transpiração. [...]

Vejamos um trecho da introdução da antologia Maravilhas do conto brasileiro, introdução de Fernando Góes:

[...] foi, incontestavelmente, como contista, que Machado de Assis fez suas obras-primas. E a opinião de Lúcia Miguel Pereira, ao examinar a prosa brasileira de ficção do período 1870-1920.

[...]

Não era assim, entretanto, que pensava Machado de Assis, que desde sua iniciação literária até os últimos anos de vida, praticou o conto com amor e arte, lhe voltando indiscutível preferência. E, sutilmente, desmentia tudo aquilo, ao escrever, em 1873, que o conto é gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade, e creio que essa mesma aparência de facilidade lhe faz mal, repelindo os escritores, e o público não dando a atenção devida.

Era como se afirmasse que, tal e qual como na fábula da raposa incapaz de alcançar as uvas, certos ficcionistas, vendo a dificuldade e complexidade do conto, disfarçassem a impossibilidade de as ultrapassar, dizendo, com falso desprezo: É gênero menor, é gênero menor...

[...]

Mas de nenhum modo, lendo as histórias aqui reunidas, o leitor terá a sensação de que caiu no conto do conto, gênero de esperteza estranha à literatura, na expressão maliciosa e feliz de Osmar Pimentel pra significar o engodo em que, muitas vezes, cai o leitor menos avisado.

Sempre preferi os contos aos romances de Machado de Assis. Lendo um conto seu sinto estar lendo Mopassã.

Vejamos o que dizem Almiro Rolmes Barbosa e Edgard Cavalheiro na introdução da antologia As obras-primas do conto universal:

[...]

o ponto de partida pra se chegar a uma conclusão mais ou menos razoável é o clássico: Se um romance deve ser romanesco, se um poema deve ser poético, se um tratado de filosofia deve debater idéia, é justo que um conto conte algo. É verdade que há contos nos quais naca sucede. Mas serão, realmente, contos? Ou apenas dissertações, ensaios ou trechos de romance? [...]

[...]

respondendo a um jovem principiante que lhe pedira esclarecimento sobre a melhor técnica a empregar, Mopassã respondeu:

- Técnica a empregar? Não compreendo o que queres dizer...

- Me refiro à fórmula pra se escrever um bom conto, mestre...

- á! A fórmula pra se escrever um bom conto!... É fácil. É só arranjar um bom começo e um bom fim.

- Só? E no meio o que entra?

- Á! Ali é que entra o artista!

[...]

Muito se escreveu sobre as diferenças entre o conto e o romance. A verdade é que um bom conto, em geral, contém os elemento dum grande romance, ao passo que um grande romance muito raramente dará um bom conto.

Os maiores estudiosos do assunto, com, por exemplo, Konrad Bercovici, são de opinião de que o conto é a mais alta forma de expressão literária. Realmente, a melhor parte da obra de grandes escritores, como Anatólio France, ETA Hoffmann, Mopassã, Tchekov, Twain e tantos outros não está em seus contos?

Nenhuma outra modalidade exige do artista tão intensa concentração e virtuosismo. Quando o escritor se senta pra escrever um conto já o deve ter claramente desenhado na mente. No romance o artista pode tocar e retocar à vontade. No conto, porém, a pintura deve ser definitiva desde o primeiro momento, sob pena de se arruinar a tela, isto é, de ser preciso recomeçar.

[...]

Um conto pode ter elementos de crônica. Muitas vezes um preâmbulo introdutório leva o leitor a considerar o texto uma crônica. Mais eis que vai surgindo a narrativa. Á! Agora sim! É um conto. Conforme o estilo do autor o conto pode ter tantos elementos de crônica. Muitas vezes podemos ficar indecisos se tal texto pode ser considerado conto. Mas há os que não são conto, de jeito nenhum.

Uma crônica é uma seqüência de impressões, lembranças, considerações. Por exemplo: O autor conta que em sua mocidade, em Ipanema, via a turma de Vinícius de Moraes reunida à mesa de bar. A conversa era animada. Sempre na expectativa de ver a garota de Ipanema passar. A fachada do bar era assim e tal. Ninguém tinha medo de assaltante. Que era melhor naquela época porque as garotas não tinham silicone nem tatuagem nem pircem. Tal coisa deixou saudade... Isso é crônica.

Num conto seria narrado um acontecimento com início, meio e fim. Por exemplo: Pode ter uma pequena crônica como preâmbulo, pra situar o leitor no tempo e no espaço, de preferência que sejam essenciais a quem ler o enredo. Conta que insistiu muito pra sua sobrinha, que queria se mudar a Salvador, ir morar em Ipanema pra terminar o estudo. Arranjou a ela um apartamento e, como morava perto, sempre a pegava no final do expediente. Como era muito bonita, tinha uns boêmios admiradores que sempre a admiravam passar diante de sua mesa de bar. Um dia fizeram uma música inspirada nela. No final se revela que a turma boêmia era a de Vinícius de Moraes. E, como desfecho, o narrador se gaba de ser ele o responsável por ter sido escrita a canção Garota de Ipanema, pois não fosse ele e a garota teria ido parar na Bahia.

Conto, como o próprio nome diz, tem de contar. Narrar um evento, uma história, sem se espraiar demais como no romance ou na novela. Uma série de impressões intimistas, lembranças, considerações, descrições, é crônica.

Outro engano é achar que conto é necessariamente ficção. Conto é o gênero narrativo. Tanto o conto como a crônica, como também o romance e a novela, podem ser ficção ou relatar um evento realmente ocorrido. No caso de narrativa de evento real chamamos de relato. O relato pode ser em forma de verso, de crônica... ou de conto.

 Assim, também, a lenda não é necessariamente ficção. Lenda, que vem do termo legenda, que marca uma história ou estória digna de destaque. O termo equivalente escandinavo é saga. Lenda é uma narrativa que fica como um marco dum acontecimento, dum lugar. Assim, por exemplo, a lenda que explica a origem do café diz que um pastor notou que suas cabras ficavam indóceis ao comer certa planta... Não importa se é fato histórico, evento deturpado com o tempo ou pura ficção. A lenda é uma história emblemática dum evento, dum lugar, dalguma coisa. Pode estar narrada em forma de conto. Muitos autores, como, por exemplo, Gottfried Keller, pegaram lendas mal narradas e as transformaram em belos contos. Cheiquespir fazia isso, transformando lendas tradicionais em peça de teatro. Ou seja, lapidando o diamante bruto, o transformando numa jóia brilhante, ainda mais valiosa. Assim Cheiquespir pegou a lenda da antigüidade, Píramo e Tisbe, e a transformou em Romeu e Julieta. Assim o fizeram os irmãos Grimm e assim são alguns contos de Andersen.

Fonte:
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