domingo, 29 de janeiro de 2012

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 13a. Parte


" SOLILÓQUIO AO ENTARDECER "

I

Interessante, amor, como depois de tantos descaminhos
de tantos desajustes, a vida vai ajeitando a felicidade,
ou a felicidade vai se ajeitando na vida, sem a gente perceber,
se enrodilhando em si mesma como um gato no tapete.

Como vamos reduzindo as proporções de nossos sonhos
(sem que nos apercebamos disto),
modificando nossos planos (aquelas aspirações que eram
como viagens à Marte),

limitando os horizontes de nossa felicidade,
e por isso mesmo, tornando-a possível, real, palpável,
capaz de ser possuída, sem nada perceber de seu conteúdo,
antes tomando uma forma imprevista. Apenas.

Estranho, amor, como a felicidade
pode se reduzir a um quase nada ( sem deixar de ser tudo)
sem deixar de ser felicidade!

(Sabe uma coisa, amor? A gente só pode ser feliz depois
de ter andado muito, e ter provado
os tragos amargos da vida,
e depois que afinal a gente chega a uma espécie de filosofia
sobre o querer, e o poder alcançar...)

Interessante, amor, mas vamos concluindo que a renúncia
é a irmã mais velha da felicidade,
- Irmã Renúncia! - e só por ela, chegamos tantas vezes
aquela alegria de saber
quanto nos basta esse pouco que nos transborda das mãos...

II

Hoje, por exemplo, basta estar em casa, basta Você estar comigo
para que me sinta feliz...
De repente me ocorre que há hoje tanta gente que não pode estar em casa,
que não sabe o que é estar em casa - sentir vagamente, em torno
o calor de uma companhia que faz de cada coisa inanimada
algo que existe, e vibra, e sente, e sofre, e ama,
como um Ser.

( De deixe que lhe confesse, depois de tanto tempo lado a lado:
- nunca a casa me parece tão vazia, como agora
se acaso chego, e não a encontro...)
É tão fácil entender: Você está em toda parte: nas flores das jarras,
na porta entreaberta, no rumor da cozinha, na bolsa sobre a cama,
em tantos lugares! na ordem das coisas, no gosto dos detalhes,
(em tantos detalhes só acessíveis à minha percepção...)

Hoje, basta você estar em casa e já me sinto feliz,
se seu andar, seu vulto, sua voz,
"materializam" sua presença a todo instante.

Basta saber que cada providência sua é um pensamento em mim,
basta saber que vamos nos sentar juntos, à mesa ( e essa é
sempre uma hora de comunhão)
- e vamos nos deitar juntos... E até já não importa se
conversamos tão pouco
sobre o tão pouco de nossas vidas,
se nossos corpos apenas se tocarão, ao acaso, sob os lençóis,
como dois ramos acenando, na sombra, ao entardecer.

Quem nos vir há de pensar que somos apenas duas pessoas sentadas
à mesa,
conversando na sala,
vendo televisão,
duas pessoas dormindo na mesma cama;
e entretanto, que engano !
- somos dois mundos, duas vidas
construídas há tantos anos em tantos irreconstituíveis momentos,
unidas como fios, por duas agulhas que tecem
a mesma malha,
e eu não poderia olha-la como a olho, se Você não viesse de tão longe
em meu coração,
nem Você sorriria para mim desse modo, se eu não fosse para Você
tanta coisa de que talvez nem Você mesmo se aperceba.

Nao sei se consigo traduzir essa sensação de felicidade
que me vai possuindo inteiro - e se vai entranhando em mim,
numa infinita tranqüilidade
que sinto na alma, no coração, nas mãos, nos braços, no corpo todo,
sem nenhuma razão aparente,
e por tão pouco, dirão.

Mas hoje basta Você estar em casa, mais nada, apenas estar em casa,
na tua casa que é a minha casa, na nossa casa,
para que eu me sinta feliz.

III

Chega a ser tola, confesso, essa emoção que faz com que
me deixe ficar esquecido
numa poltrona, em silencio, na penumbra, nesta hora quase noite...
E olhando as coisas em torno, e recostando o corpo pesado,
e cerrando os olhos para me ver melhor, me digo sem nenhum medo
que me sinto tão bem, tão em paz com a minha vida
que ate podia morrer.

(Nada deve haver de pior, afinal, para a felicidade,
que a gente chegar de volta, ao fim do dia,
e não encontrar em sua casa
senão uma casa vazia.)

Hoje, basta saber que continuamos juntos, a seguiremos assim
até o fim;
que tormentas medonhas não conseguiram separar-nos,
que vencemos obstáculos que pareciam intransponíveis
além das nossas forças;


- que continuamos juntos, no mesmo barco, como dois remadores
que ficaram em seus lugares quando as vagas cresceram,
e apertaram suas mãos aos duros punhos dos remos
e somaram a sua fé, a avançaram mais fortes, a sentiram que sobreviveram
porque estavam juntos.

Hoje, basta pensar que alcançaremos as calmarias do fim da viagem
quando as correntes e os ventos não estremecerão mais
nossos nervos cansados,
nem agitarão nossos cabelos grisalhos,
e, quem sabe? - chegaremos à terra, braços dados
um no outro, como antigamente, quando era o começo,
e cegos e aventurosos não conhecíamos o roteiro,
nem perigos e emboscadas...

Hoje, basta Você estar em casa para que me sinta feliz...

E nesse momento em que a felicidade parece se reduzir
e ficar mais leve,
para que a possamos carregar,
deixa que lhe confesse amor, que hoje, Você é sempre,
e é muito mais que aquele amor que foi, e continua sendo,
porque posso chamar Você agora
( e até a hora derradeira )
o que Você nao podia ser outrora:
- a minha companheira.

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Lariel Frota (O Pum da Ovelha)


- Zé, vou precisar de dinheiro. Meu pagamento é só na semana que vem.

-Dinheiro extra, você deve estar de brincadeira. Só tenho trocados pro café.

-A professora falou que o Maurício precisa de um dicionário.

-O inferno, sabia que a sua idéia ia dar nisso. Escola particular pensa que dinheiro dá em barranco?

- Quem paga a escola dele sou eu. Dou um duro danado pra que tenha um futuro melhor, e o único caminho e o estudo. Deixa prá lá, vou pedir adiantamento pra patroa.

(...)

As chuvas mais uma vez trouxeram pânico as periferias. Os bombeiros, sabem que sob a
montanha de lixo e entulho, que desceram morro abaixo, não deve haver sobreviventes da sala de aula da escola particular de educacao infantil. Zanzando como um morto vivo, José não chora, carrega suas dores em silêncio, atormentando-se com as recordações da conversa da noite anterior.

-Pai, não fica nervoso por causa do dicionário. As palavras não perderam sentido, mas todo mundo precisa conhecer outras diferentes. Você sabe por exemplo o que quer dizer flatulência?

-Não, parece nome de flor, igual Hortência!

-Nossa pai, errou feio, flatulência são os gases que nós e outros animais eliminamos. Sabia que os cientistas descobriram, que nas flatulências das ovelhas, existe gás metano, responsável pela destruição da camada de ozônio?

-Taí, você acabou de falar um monte de palavras que nunca ouvi. Flatulência quer dizer pum...e saber isso vai melhorar a minha vida em que?

-Não adianta, Maurício. Seu pai não entende. Pode deixar, vou pegar adiantamento na sexta, sábado vamos comprar o dicionário.

-Não sou nenhuma besta não, mulher. Sei que estudo é importante, se pudesse também teria estudado, e hoje não trabalharia tanto, pra ganhar um salário de fome. Posso ser ignorante, mas não sou burro.

-Vocês não vão brigar por causa de um dicionário, né?

-A gente não tá brigando, filho, eu e seu pai estamos “dialogando acaloradamente”, não é assim que fala?

-Olha a mãe usando palavras novas! Ouviu essa, pai?

-Claro, garoto, tambem sou capaz de aprender novidades, quer ver? Bia, na janta não vou comer feijão preto, me dá muita fatulência.

-Muito bem, pai, só tem uma correçãozinha: é flatulência.

-Pelo jeito quando o dicionário chegar, todo mundo vai virar doutor nessa casa, mas vamos pessoal, a janta tá esfriando.
(...)

Ele continua ali, perdido dentro de um pesadelo do qual sabe não poderá acordar. Um grupo de repórteres cerca uma autoridade, sem querer, acaba ouvindo as vazias divagações sobre a tragédia:

Começa a sentir uma revolta estranha, um ódio avassalador, um rancor ao ver as cenas de demagogia costumeira. Eles sempre aparecem para pedir votos, ou se desculpar diante de um desastre. Nunca assumem sua responsabilidade.

Do jeito que falam, parece ser do povo a culpa de tudo. Se acaso ele soubesse das condições impróprias do terreno, teria dado um jeito de sair daquela sujeira enterrada, que transformou o sonho da casa própria, em túmulo do seu único filho.
(...)

-Oi, Zé, ainda bem que acordou!

- Onde estou? Minha cabeça está doendo.
- Não se lembra do que aconteceu? Você estava perto do desmoronamento, tinha uma multidão em volta. Disseram que de repente você correu em direção a um grupo de jornalistas que faziam uma reportagem, acho que para ouvir o que dizia o pessoal da prefeitura. O chão estava escorregadio, tanto que estava com um pedaço de pau na mão, certamente para se apoiar, não é? Caiu e bateu com a cabeça, você desmaiou. Ainda bem que o pessoal do corpo de bombeiros estava por perto e te socorreu. Não se mexa muito, tem um corte grande na testa, mas já suturaram. O médico garantiu que está tudo bem; quando acabar esse soro pode ir pra casa.

-Pelo amor de Deus e o nosso menino, acharam ele?

-Calma, Zé, na hora do seu acidente, estava justamente te procurando pra avisar. Ele foi com os coleguinhas até a biblioteca. Na falação de ontem, esqueci de falar: como vários alunos estavam sem o dicionário, a professora resolveu leva– los para fazer a pesquisa. Foi por Deus, a sala deles foi completamente destruída.
(...)

Algum tempo depois, longe do local da tragédia, a família refaz a vida em lugar seguro.

-Mãe, hoje o pai chega tarde, né?

-Sim filho, ele tem aula no curso supletivo. Ah, ele pediu pra deixar o dicionário, que ele precisa fazer uma pesquisa amanhã, disse que é sobre o pum da ovelha.

-Ele quis dizer: os efeitos do gás metano, na destruição da camada de ozônio.

Fonte:
Revista Varal do Brasil: Literário, sem frescuras. Edição Especial: Nosso Planeta Terra. Genebra: abril de 2011.

Isabel Cristina Silva Vargas (Mãe Natureza)


Da a vida, desabrocha
Acolhe,
Promove esplendores
Belezas sem par.
Dela tiramos sustento
Alegrias para os olhos
Espaço para viver
Locais para lazer,
Descanso , meditação
Reencontro da harmonia
Nela constroem-se moradas
Arranha-céus, imponência
Para iludir o espirito
E ter a falsa ideia de solidez
Perpetuidade, poder
Pensando que aqui ficaremos
Que a vida e amontoado de bens
Utilitários, adereços.
Vã ilusão
Viver e ser transitório
Despir-se das cangas
Que aprisionam o essencial
Ofuscam a luz
Distanciam do DIVINO.
Mãe Natureza
Insultada, ofendida, degradada
Nos mostra dolorosamente
Que a vida e troca de ações
Pensamentos, energia
Que construímos paredes em excesso
Ao invés de preservar florestas
Cultivar flores
Atrair beija-flores e borboletas,
Dar liberdade aos animais.
A natureza se liberta
Liberta as almas
Provoca sofrimento
Por desconhecermos
A real essência de viver.
--
Fonte:
Revista Varal do Brasil: Literário, sem frescuras. Edição Especial: Nosso Planeta Terra. Genebra: abril de 2011.

Pedro Malasartes (Malasartes faz o Urubu Falar)


Quando o pai de Pedro Malasartes entregou a alma a Deus, fez-se a partilha dos bens -uma casinha velha entre os filhos; e tocou a Pedro uma das bandeiras da porta da casa, com o que ele ficou muito contente.

Pôs a porta no ombro e saiu pelo mundo. Em caminho viu um bando de urubus sobre um burro morto. Atirou a porta sobre eles e caçou um urubu que ficou com a perna quebrada. Apanhou-o, pôs a porta às costas e continuou viagem. Obra de uma légua ou mais, avistou uma casa de onde sala fumaça, o que queria dizer que se estava preparando o jantar.

Pedro Malasartes, que sentia fome, bateu à porta e pediu de comer. Veio atendê-lo uma preta lambisgóia que foi logo dizer à patroa que ali estava um vagabundo, com um urubu e uma porta, a pedir de jantar.

A mulher mandou que o despachasse, que sua casa não era coito de malandros. O marido estava de viagem e a mulher no seu bem bom a preparar um banquete para quem ela muito bem o destinava. Neste mundo há coisas!

Pedro Malasartes, tão mal recebido que foi, resolveu subir para o telhado, valendo-se da porta que trazia e lhe serviria de escada. Subiu e ficou espreitando o que se passava naquela casa, tanto mais que sentia o cheiro dos bons petiscos.

Espiando pelos vãos das telhas viu os preparativos e tomou nota das iguarias, e ouviu as conversas e confidências da patroa e da negra.

Justamente na hora do jantar chegou o dono da casa que resolvera voltar inesperado da viagem que fazia. Quando a mulher percebeu que ele se aproximava, mandou esconder os pratos do banquete e veio recebê-lo e abraçá-lo, muito fingida, muito risonha, mas por dentro queimando de raiva. Vai dai mandou pôr na mesa a janta que constava de feijão aguado, paçoca de carne seca, dizendo:

-Por que não me avisou, marido? Sempre se havia de aprontar mais alguma coisa...

Sentaram-se à mesa.

Pedro Malasartes desceu de seu posto e bateu na porta, trazendo o urubu.

O dono da casa levantou-se e foi ver quem era. O rapaz pediu-lhe um prato de comida e ele chamou-o para a mesa a servir-se do pouco que havia. A mulher estava desesperada, desconfiando com a volta do Malasartes.

Pedro tomou assento, puxou o urubu para debaixo da mesa, preso pelo pé num pedaço de corda. Estavam os dois homens conversando, quando de repente o Malasartes pisou no pé quebrado do bicho e este se pôs a gritar:
Uh! uh! uh!

O dono da casa levou um susto e perguntou que diabo teria o bicho. Pedro respondeu muito sério:
-Nada! São coisas. Está falando comigo.

-Falando! Pois o seu bicho fala?!

-Sim senhor, nós nos entendemos. Não vê como o trago sempre comigo? É um bicho mágico, mas muito intrometido.

-Como assim?

-Agora, por exemplo, está dizendo que a patroa teve aviso oculto da volta do senhor e por isso lhe preparou uma boa surpresa.

-Uma surpresa! Conte lá isso como é.

-É deveras! Uma excelente leitoa assada que está ali naquele armário...

-Pois é possível! Ó mulher, é verdade o que diz o urubu deste moço?

Ela com receio de ser apanhada com todo o banquete e certa já de que Pedro sabia da marosca, apressou-se em responder:

-Pois então? Pura verdade! O bicho adivinhou. Queria fazer-te a surpresa no fim do jantar.

E gritou pela preta:

-Maria, traz a leitoa.

A negra veio logo correndo, mas de má cara, com a leitoa assada na travessa.

Daí a pouco Pedro Malasartes pisou outra vez no urubu que soltou novo grito. O dono da casa perguntou:

-O que é que ele está dizendo?

-Bicho intrometido! Está candongando outra boca, bicho!

-O que é?

-Outras surpresas...

-Outras!

-Sim senhor: um peru recheado...

-É verdade, mulher?

-Uma surpresa, maridinho do coração! Maria, traz o peru recheado que preparei para teu amo.

Veio o peru. E pelo mesmo expediente conseguiu Pedro Malasartes que viessem para a mesa todas as iguarias, doces e bebidas que havia em casa.

Ao fim do jantar, o dono da casa, encantado com as proezas do urubu, propôs comprá-lo a Pedro Malasartes que o vendeu muito bem vendido, enquanto a mulher e a preta bufavam de raiva, crentes também no poder mágico do bicho, que assim seria um constante espião de tudo quanto fizessem.

Fechado o negócio, Pedro Malasartes partiu satisfeito e vingado.

Lilian Maial (Re-Volver)


No peito-humus,
um músculo ávido de palavras.
Revolver a terra,
adubo em gotas,
versos irrigados.

O verbo cala,
o solo seca,
racha-se a crianca -
migalha de pão dormido.

Fome e chão,
pisa descalça
em brasas da indiferença.
Pele e sangue ressequidos,
aridez de lágrima,
espinho e barro
a maquiar a pele,
manchas de verde e amarelo.

Chora a pátria,
pétrea de matas pálidas,
alopecia de cores,
extensas clareiras.

Terra vermelha
coberta do pó,
rugas no mapa,
pistas de pouso -
Clan-destinos.

Onde o branco,
a pureza,
a promessa?

Traida a terra,
ouro de tolo,
sorriso de icterícia,
parcos dentes
de mastigar solidão.

Céu de anil,
nuvens sanitárias,
homem esquálido
a plantar pesticida.

Traida a terra,
clamor rouco e abafado,
fumaça dos charutos cubanos,
pendurados nas bocas patronais,
sem lei e sem letra.

Traida,
a terra lamenta por seus filhos,
amamentados de esmola,
de enteados cuspindo confeitos,
mordendo,
com presas de ouro,
o amanhã e a decência.

Traida a terra.
Punhal enterrado no seio,
mãe órfã de rebento raquítico.
Abre-se a fenda,
engole o que resta:
homem e praga,
riso e lágrima,
orgulho e carbono.

Num futuro fóssil,
tropical tupiniquim,
semear e colher...
Milagre!
-
Fonte:
Revista Varal do Brasil: Literário, sem frescuras. Edição Especial: Nosso Planeta Terra. Genebra: abril de 2011.

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 5


LOIBL, Elisabeth. O mistério do índio voador.

Narra a aventura dos irmãos Nando e Pituca, que viajam com seus pais, arqueólogos, para uma excursão ao Vale do Serido. Nesta aventura, outros arqueólogos pesquisam pinturas rupestres, e um estranho índio, que aparece e desaparece, dá um tom de mistério à história.

MACHADO, Ana Maria. De olho nas penas.

Narra a história de um menino, chamado Miguel, que vive dois dramas: o fato de os pais serem separados e de ser uma criança exilada. Miguel faz uma viagem magnífica mundo afora, nas costas de um maravilhoso pássaro amigo, que se transmuta e lhe dá a possibilidade de desvendar os segredos do mundo, das florestas às savanas, dos rios às selvas. Nessa viagem, o menino descobre que os segredos e as histórias são guardados numa imensa cabaça.

MACHADO, Ana Maria. Uma arara e sete papagaios.

Conta a história do indiozinho Poti, que encontra na mata uma bonita arara e a leva para sua casa. A arara, na companhia de sete papagaios, faz um tremendo barulho. Assim, Poti conclui que lugar de araras e papagaios é no mato, libertando-os.

MACHADO, Angelo. O velho da montanha: uma aventura na Amazônia.

Narra a aventura vivida pelo menino João, nascido na cidade e que descobre a floresta por intermédio das crianças Tiryó. Com a convivência, João aprende a respeitar a sabedoria indígena de Mopi, indiozinho Tiryó, os costumes, as lendas e sua capacidade de conviver com a selva em estado puro. Compreende o problema do povo Tiryó, que vê invadidas suas terras pelos homens brancos à procura da riqueza mineral, e aprende que é preciso preservar o meio ambiente.

MARINS, Francisco. O mistério dos morros dourados.

Apresenta uma história sensacional, que retrata o interior do Brasil no século passado. Procurando os Martírios, as fabulosas minas de ouro brasileiras, Tonico, Perova e o índio Pixuíra vivem uma extraordinária aventura, atravessando matas e enfrentando seus perigos.

MARINS, Francisco. A montanha das duas cabeças.

Apresenta a história de Tonico e Perova, dois grandes aventureiros que enfrentam a mata virgem brasileira no século XIX. O sonho de encontrar riquezas coloca os dois em meio a uma revolta de escravos e guerras indígenas. Muitos são os desafios enfrentados no caminho para a montanha das duas cabeças.

MARINS, Francisco. Território de bravos: uma epopéia na Amazônia.

Conta as aventuras e lutas de Plácido Castro, jovem idealista que, à frente de seringueiros, combateu nas florestas virgens da Amazônia, para impedir que terras habitadas por brasileiros fossem entregues a estrangeiros. Era o começo da conquista do território do Acre, e parte da luta que segue até os dias de hoje para manter a hegemonia nacional e a soberania do Brasil sobre a Amazônia.

MATUCK, Rubens. A Amazônia.

Aborda informações diversas sobre a Amazônia, numa linguagem acessível às crianças, mostrando como, entre rios, igarapés e lagoas que entremeiam a vegetação, muitos e variados animais convivem no maior santuário ecológico do planeta.

MATUCK, Rubens. O gavião.

Aborda o cotidiano dos índios Araweté, que vivem às margens do igarapé Ipixuna, na floresta amazônica. Como é comum, as crianças Araweté também gostam de animais de estimação. Porém isso pode causar alguns problemas na aldeia, se o bicho escolhido for, por exemplo, um feroz gavião.

MATUCK, Rubens. Pescaria.

Narra uma aventura vivida por crianças Araweté que se sentem completamente à vontade no meio da floresta, onde, muitas vezes, vão brincar. Entretanto, mesmo para quem está acostumado a ela, a natureza pode trazer surpresas.

MORAES, Antonieta Dias de. Contos e lendas dos índios do Brasil.

Apresenta uma coletânea de doze contos baseados em lendas indígenas, especialmente voltados para crianças. São eles: Como a noite apareceu; Os dois papagaios; Japim cantava bonito; Veado-pardo e onça; Mauari e o sono; O papagaio que faz crá-crá; O jogo dos olhos; Juruva salvou o fogo; Ciuci; O roubo do fogo; Astúcias do Jaboti e Caru-Sacaibê e Rairu.

MORAES, Antonieta Dias de. Três garotos na Amazônia.

Narra a história do jovem Iraí, que tem perfeito conhecimento dos costumes de seu país. Ensina-nos muito sobre a vida dos índios amazonenses e suas superstições. Descreve a preparação do curare e a fabricação de uma canoa com explicações precisas e detalhadas. O real e o imaginário se confundem, aceitos tranqüilamente pela idade dos três heróis e pelo caráter supersticioso dos índios.
Inclui glossário com as palavras indígenas apresentadas no texto.

MOREIRA, Balthazar de Godoy. Curumim sem nome.

Apresenta duas histórias, a primeira delas sobre um indiozinho Guarani, chamado Sapotê, que se torna prisioneiro dos índios Guaicuru. A outra é sobre a fundação da cidade de São Paulo.

MOTT, Odette de Barros. O chamado do meu povo.

Narra a história de Maria, menina índia que cresce feliz, junto aos missionários. Com eles, aprende o modo de ser dos brancos. Mas ela nasceu indígena e tem consciência de que seu povo ainda vive livre como os pássaros, na mata, com outros costumes, outro modo de viver, outra religião. Então ela compreende que aquela liberdade está ameaçada. Que a própria sobrevivência de seu povo está por um fio. A partir daí, parece ouvir o chamado do seu povo, os Korubo, indo, finalmente, ao seu encontro.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

Guerra Junqueiro (O Fato Novo do Sultão)


Era uma vez um sultão, que despendia em vestuário todo o seu rendimento.

Quando passava revista ao exército, quando ia aos passeios ou ao teatro, não tinha outro fim senão mostrar os seus fatos novos. Mudava de traje a todos os instantes, e como se diz de um rei: Está no conselho, dizia-se dele: está-se a vestir. A capital do seu reino era uma cidade muito alegre, graças à quantidade de estrangeiros que por ali passavam; mas chegaram lá um dia dois larápios, que, dando-se por tecelões, disseram que sabiam fabricar o estofo mais rico que havia no mundo. Não eram só extraordinariamente ricos os desenhos e as cores, mas além disso, os vestuários, feitos com esse estofo, possuíam uma qualidade maravilhosa: tornavam-se invisíveis para os idiotas e para todos aqueles que não exercessem bem o seu emprego.

– São vestuários impagáveis, disse consigo o sultão; graças a eles, saberei distinguir os inteligentes dos tolos, e reconhecer a capacidade dos ministros. Preciso desse estufo.

E mandou em seguida adiantar aos dois charlatães uma quantia avultada, para. que pudessem começar os trabalhos imediatamente.

Os homens levantaram com efeito dois teares, e fingiram que trabalhavam, apesar de não haver absolutamente nada nas lançadeiras.

Requisitavam seda e ouro fino a todo o instante; mas guardavam tudo isto muito bem guardado, trabalhando até à meia-noite com os teares vazios.

– Necessito saber se a obra vai adiantada.

Mas tremia de medo, lembrando-se de que o estofo não podia ser visto pelos idiotas. E por mais que confiasse na sua inteligência, achou em todo o caso prudente mandar alguém adiante.

Todos os habitantes da cidade conheciam a propriedade maravilhosa do estofo, e ardiam em desejos de verificar se seria exato.

– Vou mandar aos tecelões o meu velho ministro, pensou o sultão; tem um grande talento; ninguém melhor do que ele pode avaliar o estofo.

Entrou o honrado ministro na sala em que os dois impostores trabalhavam com os teares vazios.

– Meu Deus! disse ele para si arregalando os olhos, não vejo absolutamente nada! Mas no entanto calou-se. Os dois tecelões convidaram-no a aproximar-se, pedindo-lhe a opinião sobre os desenhos e as cores. Mostraram-lhe tudo, e o velho ministro olhava, olhava, mas não via nada, pela razão simplíssima de nada lá existir...

– Meu Deus! pensou ele, serei realmente estúpido? É necessário que ninguém o saiba!... Ora esta! pois serei tolo realmente! Mas lá confessar que não vejo nada, isso é que eu não confesso.

– Então que lhe parece? perguntou um dos tecelões.

– Encantador, admirável! respondeu o ministro, pondo os óculos. Este desenho... estas cores.., magnífico!... Direi ao sultão que fiquei completamente satisfeito.

– Muito agradecido, muito agradecido, disseram os tecelões, e mostraram-lhe de novo as cores e desenhos imaginários, fazendo-lhe deles uma descrição minuciosa. O ministro ouviu atentamente, para ir depois repetir tudo ao sultão.

Os impostores requisitavam cada vez mais seda, mais prata, e mais ouro; precisavam-se quantidades enormes para este tecido. Metiam tudo no bolso, é claro; o tear continuava vazio, e apesar disso, trabalhavam sempre.

Passado algum tempo, mandou o sultão um novo funcionário, homem honrado, a examinar o estofo, e ver quando estaria pronto. Aconteceu a este enviado o que tinha acontecido ao ministro: olhava, olhava e não via nada.

– Não acha um tecido admirável? perguntaram os tratantes, mostrando o magnífico desenho e as belas cores, que tinham apenas o inconveniente de não existir.

– Mas que diabo! Eu não sou tolo! dizia o homem consigo. Pois não serei eu capaz de desempenhar o meu lugar? É esquisito! mas deixá-lo, não o deixo eu.

Em seguida elogiou o estofo, significando-lhes toda a sua admiração pelo desenho e o bem combinado das cores.

– É de uma magnificência incomparável, disse ele ao sultão.

E toda a cidade começou a falar desse tecido extraordinário.

Enfim, o próprio sultão quis vê-lo enquanto estava no tear. Com um grande acompanhamento de pessoas distintas, entre as quais se contavam os dois honrados magnatas, dirigiu-se para as oficinas, em que os dois velhacos teciam continuamente, mas sem fios de seda, nem de ouro, nem de espécie alguma.

– Não acha magnífico? disseram os dois honrados funcionários. O desenho e as cores são dignos de Vossa Alteza.

E apontaram para o tear vazio, como se as outras pessoas que ali estavam pudessem ver alguma coisa.

– Que é isto! disse consigo mesmo o sultão, não vejo nada! É horrível! serei eu tolo, incapaz de governar os meus estados? Que desgraça que me acontece! Depois, de repente, exclamou: É magnífico! Testemunho-vos a minha real satisfação.

E meneou a cabeça com um ar prazenteiro, e olhou para o tear, sem se atrever a declarar a verdade, Todas as pessoas do séquito olharam do mesmo modo, uns atrás dos outros, mas sem verem coisa alguma, e no entanto repetiam como o sultão:

«É magnífico!» Deram-lhe de conselho que se apresentasse com o fato novo no dia da grande procissão. «É magnífico! é encantador! é admirável!» exclamavam todas as bocas; e a satisfação era geral.

Os dois impostores foram condecorados e receberam o título de fidalgos tecelões.

Na véspera do dia da procissão passaram a noite em claro, trabalhando à luz de dezasseis velas. Finalmente fingiram tirar o estofo do tear, cortaram-no com umas grandes tesouras, coseram-no com uma agulha sem fio, e declaram, ao cabo, que estava o vestuário concluído.

O sultão com os seus ajudantes de campo foi examiná-lo, e os impostores levantando um braço, como para sustentar alguma coisa, disseram:

– Eis as calças, eis a casaca, eis o manto. Leve como uma teia de aranha; é a principal virtude deste tecido.

– Decerto, respondiam os ajudantes de campo, sem ver coisa alguma.

– Se Vossa Alteza se dignasse despir-se, disseram os larápios, provar-lhe-íamos o fato diante do espelho.

O sultão despiu-se, e os tratantes fingiram apresentar-lhe as calças, depois a casaca, depois o manto. O sultão tudo era voltar-se defronte do espelho.

– Como lhe fica bem! que talhe elegante! exclamaram todos os cortesãos. Que desenho! que cores! que vestuário incomparável!

Nisto entrou o grão-mestre de cerimónias:

– Está à porta o dossel sob o qual Vossa Alteza deve assistir à procissão, disse ele.

– Bom! estou pronto, respondeu o sultão. Parece-me que não vou mal.

E voltou-se ainda uma vez diante do espelho, para ver bem o efeito do seu esplendor. Os camaristas que deviam levar a cauda do manto, não querendo confessar que não viam absolutamente nada, fingiam arregaçá-la.

É, enquanto o sultão caminhava altivo sob um dossel deslumbrante, toda a gente na rua e às janelas exclamava: «Que vestuário magnífico! Que cauda tão graciosa! Que talhe elegante!» Ninguém queria dar a perceber que não via nada, porque isso equivalia a confessar que era tolo. Nunca os fatos do sultão tinham sido tão admirados.

– Mas parece que vai em cuecas, observou um pequerrucho, ao colo do pai.

– É a voz da inocência, disse o pai.

– Há ali uma criança que diz que o sultão vai em cuecas.

«Vai em cuecas! vai em cuecas!» exclamou o povo finalmente.

O sultão ficou muito aflito, porque lhe pareceu que realmente era verdade. Entretanto tomou a enérgica resolução de ir até ao fim e os camaristas submissos continuaram a levar com o máximo respeito a cauda imaginária.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Francisco Cândido Xavier (Trovadores do Além) Parte 6


251
Muita dor que nos abraça
É ventura calma e rica...
Muita alegria que passa
É mágoa que chega e fica.
GODOFREDO VIANA

252
João queria terra em monte,
Não tinha momentos calmos,
Um dia se viu defronte
De um trecho com sete palmos.
JUCA MUNIZ

253
Trabalho lembra a subida
Que se faz de luz acesa;
Dor é parada de emenda
Na forja da Natureza.
SOUZA LOBO

254
Ninguém recusa a verdade
Desta norma incontroversa:
Muita gente escova os dentes
Mas não escova a conversa.
ARTUR CANDAL

255
Como cresce o bem-querer
No tormento da agonia!...
O que dói não é morrer,
É deixar a companhia.
FÓCION CALDAS

256
Há muita gente perdida,
Sem que o mundo a reconforte,
Nas fantasias da vida,
Nas patacoadas da morte.
EUGÊNIO RUBIÃO

257
Amor – nos sonhos em bando,
Às vezes – note você -,
É o bem que se faz pensando
No amor que nunca nos vê.
ULISSES BEZERRA

258
Na Terra, em qualquer idade,
Faze o bem guardando fé.
Se a morte é fatalidade,
A vida também o é.
BATISTA CEPELOS

259
Entre as mágoas do caminho,
Não te esqueças, coração:
A rosa é bênção no espinho,
A fonte serve no chão.
MILTON DA CRUZ

260
Doce o termo que transponho!
Sempre me deste, Senhor,
O peito cheio de sonho,
O sonho cheio de amor.
COLOMBINA

261
Ideias, sonhos, anseios...
Serve sempre, alma sincera,
Quem espera, trabalhando,
Alcança tudo o que espera.
REGUEIRA COSTA

262
Verdade – rio fecundo;
Mentira – pedra a rolar.
A pedra fica no fundo,
O rio chega no mar.
ÁLVARO MARTINS

263
Querendo conformação,
Deus já pôs de sobreaviso
Sete letras na saudade,
Sete letras no sorriso.
LUCÍDIO FREITAS

264
No Além, a saudade mora,
Com todo o fel que ela tem,
Nas dores da alma que chora
O afeto que nunca vem.
MACIEL MONTEIRO

265
Talento, dinheiro e graça
Querem ação sem loucura.
Toda glória brilha e passa
No crívo da sepultura.
AMÉRICO FALCÃO

266
Muita aflição nos visita
Porque, na estrada onde vamos,
Pensamos que os outros pensam
Naquilo que nós pensamos.
ARTUR CANDAL

267
Virtude que não trabalha
Para que o vício se esfume,
Parece linda mortalha
Com garbos de vagalume.
VIRGÍLIO BRANDÃO

268
Há muita palavra triste
Que fica bem aos museus.
Orfandade – não existe
No dicionário de Deus.
MARIA CELESTE

269
Ser mãe!... Que golpes extremos
Na trilhas por onde vamos!...
Dor dos filhos que perdemos,
Dor dos filhos que deixamos!
CELESTE JAGUARIBE

270
Vida além da sepultura
Não é cinza, nem descanso.
A morte só quer dizer:
Fechada para balanço.
CARLOS CÂMARA

271
Perdão não é desprezar
O débito que se fêz.
É dar a quem perde o bem
O dom de achá-lo outra vez.
SOUZA LOBO

272
Quem queira fazer o bem,
Espere a dor no caminho.
Candeia queima a si mesma
Alumiando o vizinho.
ARTUR CANDAL

273
Trazes, mulher, no destino.
Sejas frágil, sejas forte,
O lume do amor divino
Que brilha na própria morte.
JULINDA ALVIM

274
Na carne, há dias risonhos...
Existem, mas hoje vejo
Que o sonho melhor dos sonhos
Jamais passou do desejo.
ALBERTO FERREIRA

275
Que longa a saudade minha!
Quanta falta de teus zelos!...
Beija o meu rosto, mãezinha.
Põe as mãos nos meus cabelos!...
MEIMEI

276
Toda criatura sincera,
Ante as bênçãos do Criador,
Sente o céu da primavera
No inverno da própria dor.
OSCAR BATISTA

277
Ação – vontade no tempo;
Resultado vem após.
A vida nasce de Deus;
Destino nasce de nós.
LOBO DA COSTA

278
Se o serviço é pouco e falho,
O remédio em todo clima
É persistir no trabalho,
Pois a lima lima a lima.
ADERBAL MELO

279
Por teres casa e tesouro,
Não te faças de anjo à frente.
Doente num leito de ouro
Não deixa de ser doente.
ANÍSIO DE ABREU

280
“Dorme, dorme, meu filhinho!”
Nessa cantiga de luz,
A Terra segue caminho
Na direção de Jesus.
ANTONIETA SALDANHA

281
Verdade – mágoa bendita
Sobre dons renovadores.
Lisonja – serpente linda
Guardada em cesto de flores.
LOPES FILHO

282
Morrerá o orador letrado
Que punha trevas no estudo...
E reencarna-se, coitado!
Na prova de surdo-mudo.
AMÉRICO FALCÃO

283
Aprendi que Deus nos fêz
Irmãos para o amor igual.
Quando vi meu chuchuzeiro
Dar chuchus noutro quintal.
JOSÉ NAVA

284
Feliz quem luta e padece,
Porque a Justiça é assim:
Se a grande prova aparece,
O débito está no fim.
ALCEU WAMOSY

285
Deus tece lírios em véu
Na lama em que o charco avança,
Para dizer que no céu
Nunca se extingue a esperança.
ARTUR RAGAZZI

286
No mundo, de porta em porta,
Há muita gente cativa.
Que anda viva, sendo morta,
Que anda morta, sendo viva.
ANTÔNIO SALES

287
Grandezas terrestres... Nada...
Felicidade é assim:
Uma cruz bem suportada
E a glória que vem no fim.
LINDOLFO GOMES

288
Ninguém cometa a loucura
Que até hoje inda me abafa.
Coisa triste é a sepultura
Com lembrança da garrafa.
EMÍLIO DE MENEZES

289
A evolução é assim:
O berço... O lar... A afeição...
O sonho... O labor... O fim...
Depois – a reencarnação.
GODOFREDO VIANA

290
Injustiças, desacatos...
Não guardes pretextos vãos.
Na bacia de Pilatos
Muita gente lava as mãos.
HENRIQUE DE MACEDO

291
Oração – luz que levanta,
Êxtase – névoa que embala...
Deus põe a fruta na planta,
Mas nunca vem descascá-la.
IVAN ALBUQUERQUE

292
Muitas vezes tenho visto
Maioria para trás;
A massa, julgando o Cristo,
Deu razão a Barrabás.
HENRIQUE DE MACEDO

293
O espírito reencarnado
Lembra em tronco viridente
De raiz presa ao passado,
Plantando o futuro à frente.
BERNARDO DE PASSOS

294
Natal! O Mestre Divino
Não nos pede adoração,
Roga um canto pequenino
Num canto do coração.
BELMIRO BRAGA

295
Vejo sóis, mas ouço longe...
Uma viola ponteia...
Quero ver a minha terra
Nas noites de lua cheia!...
LUCÍDIO FREITAS

296
Nos mundos da evolução
A história é assim resumida:
A vida prepara a morte,
A morte refaz a vida.
MOISÉS EULÁLIO

297
Menina de olhos risonhos,
Esquece o engano da praça.
A ilusão é igual ao sonho,
O sonho é ilusão que passa.
AMÉRICO FALCÃO

298
Saudade!... O “S” do início
Já tem dores a contento...
Sonho, sede, solidão.
Sacrifício, sofrimento...
FRANCISCO FERNANDES BASTO

299
Onde a mulher se encastela
Simplesmente no prazer.
Toda a vida, em torno dela,
Começa logo a descer.
RITA BARÉM DE MELO

300
Quando a morte o olhar nos cerra,
Não sei, efetivamente,
Se a gente fica na Terra,
Se a Terra fica na gente.
TONINHO BITTENCOURT
Fonte:
Francisco Candido Xavier (psicografia)– Trovadores do Além.

Norália de Mello Castro (A Chuva é Bela!)


Hoje, amanheceu com sol e algumas nuvens no céu. Dia quente e lindo. De tardinha, caiu um pé d’agua, daqueles com trovões, raios e vento. Veio do Leste e passou por minha casa na direção do Sul. Tive de desligar todas as tomadas preventivamente. Diante de tal chuva, a gente não sabe o que pode acontecer com a eletricidade. Fui então para minha janela, acompanhar a chuva que caía torrencialmente.

- Como a chuva é bela! – foi o pensamento ao vê-la cair maciamente sobre aquele tapete verde de árvores, plantas e gramas.

Os trovões e raios estavam muito distantes, lá em cima nas nuvens negras. Por toda a extensão, o verde maravilhoso. As montanhas ao longe estavam esplendorosas. As colinas mais ainda. As árvores, mais próximas de mim, se alegravam com a água que as acariciava. A chuva caia tão maciamente sobre aquele tapete verde que me esqueci dos trovões. (tenho pavor de trovões!).

- Como a chuva é bela!

Senti, por assim pensar, que estava cometendo o maior pecado mortal, me esquecendo, naquele momento, do horror que vivem na Região Serrana do Rio de Janeiro. Lá, o buraco negro incomensurável de sofrimentos: perdas, mortes, pestes chegando, milhares de pessoas sem casa,
deslizamentos, desamparo, terror e horror de mortes, doenças, fome, e toda a região – a maravilhosa região serrana – decomposta, perdida.

Há dias, o horror se instalou no nosso Pais, e eu, aqui, admirando a chuva:

- Como a chuva é bela!

A Mãe Terra dá seu alerta. Os céus clamam.
A Natureza chora.
Homens e mulheres choram.
A Mãe Terra é a nossa casa no Cosmo.

Somos parte integrante dela. Somos seus filhos e, como filhos desobedientes, estamos apanhando para aprender: a Dor se instalou lá e cá, em mim, ao lembrar-me das reportagens que tenho assistido.

O que urge e que não haja mais inundações de seres humanos, que se deixam conduzir por enxurradas das fomes, situando-se às beiras de rios e colinas, fragilizadas por lixos. Que não transitem sem abrigo ou teto, ao léu, sem saber onde e como se portarem como gente. Que a ambição desmedida não predomine nas ações para o endinheiramento acerbado. Que acariciem a Mãe Terra como filho amado e amante, não como pretensos senhores superiores as regras naturais que são ditadas pela Natureza, fazendo-a escrava de sua pseudo-sabedoria superior. Que olhem para a Mãe Terra, que nos da tanta beleza e acolhimento, como Ser que precisa de amor e respeito.

Que, como toda a Lei que rege a Natureza, somos perecíveis tambem. Que o nosso tempo se esgotara fatalmente. Mas, que chegue para todos com dignidade, não soterrados por deslizamentos provocados por atitudes desmedidas e irracionais de outros semelhantes.

- Como a chuva é bela!

Se bem recebida sob um teto/lar. E que, neste momento de Dor Maior, o amor solidário predomine nos corações e nas ações de socorro.

Que a solidariedade seja mais duradoura e que se expanda: que não seja apenas num momento de grande comoção nacional!
–––
A Autora é de Belo Horizonte/MG

Fonte:
Revista Varal do Brasil: Literário, sem frescuras. Edição Especial: Nosso Planeta Terra. Genebra: abril de 2011.

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 458)

Pôr do Sol em Salvador/BA

Uma Trova de Ademar

Eu guardei no coração
frases que você compôs,
escritas sobre o colchão
no amanhecer de nós dois!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Entre bombas, na trincheira,
tremendo, o pobre rapaz
abraça a branca bandeira
numa súplica de paz !
–ANTONIO COLAVITE/SP–

Uma Trova Potiguar


Em noites frias, não canto,
mas a chuva, de bom grado,
tamborila um acalanto
no zinco do meu telhado.
–UBIRATAN QUEIROZ/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Nunca motejes do pobre
nem dos defeitos que vês;
por igual o céu nos cobre:
— cada qual como Deus fez.
–SOARES BULCÃO/CE–

Uma Trova Premiada


2008 - Ribeirão Preto/SP
Tema: Inclusão - Vencedora - 1o. Lugar


Tenham todos terra e teto,
sem preconceito ou fronteira
e que haja amor, não decreto,
para a inclusão verdadeira!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP

Simplesmente Poesia


M O T E :
Tu és o monstro da terra.
Eu sou a pomba da paz.

G L O S A:
Subo serra, desço serra,
ando o deserto nocivo
para dizer incisivo:
Tu és o monstro da terra,
anjo mau de toda guerra
sedutor, vil e sagaz
todo pecado te apraz
e antes que tu digas, Não!
Sou Jesus, te dou perdão...
Eu sou a pomba da paz.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Estrofe do Dia


Pra quem de Deus se aproxima,
existe um plano perfeito,
pois o seu filho ele estima
e trata com muito jeito,
embora até haja penas,
aflições muitas, centenas,
ele sempre nos conforta,
pra cada porta que fecha,
ele sempre abre e deixa
escancarada outra porta.
–RAYMUNDO SALLES/BA–

Soneto do Dia

Nunca Mais
–ANALICE FEITOZA DE LIMA/SP–


Não voltes a bater à minha porta.
Cansei do teu amor, cansei de tudo.
Minha esperança agora está tão morta
Que já esqueci teus lábios de veludo.

Que arranjes outro alguém, pouco me importa.
Com teu amor eu nunca mais me iludo.
De ti resta a lembrança que conforta.
E outra ilusão será meu novo escudo.

De ser palhaço o coração se cansa.
Feriste meu orgulho, agora basta!
Gastei todo o meu sonho de esperança.

Não mais te quero, nem que tu destruas
De minha vida essa vontade vasta,
E nem que eu morra de saudades tuas!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Trova Premiada obtida nos XXI Jogos Florais de Ribeirão Preto

Monteiro Lobato (Reinações e Narizinho) - Pena de Papagaio - III - A partida


Alta madrugada os meninos pularam da cama, vestiram-se, e, pé ante pé, dirigiram-se ao pomar sem que dona Benta percebesse coisa nenhuma. Emília foi atrás, muito tesinha, também na ponta dos pés. O Visconde, de canastra às costas, fechava o cortejo. Assim que abriram a porteira, ouviram um canto de galo do lado do pé de goiaba.

— Cocóricó!

Pedrinho reconheceu a “voz”.

— É ele! — exclamou. — Já está à nossa espera no ponto marcado.

Correram todos para lá, mas como nada vissem, pararam desnorteados. Nisto um segundo cocoricó se fez ouvir no alto da goiabeira. O menino invisível, além de guloso, não perdia tempo...

— Você está aí em cima? — perguntou Pedrinho, de nariz para o ar.

— Não está “vendo”? — respondeu a voz. — Acostume-se a saber onde estou sem me ver — e para dar a primeira lição atirou com uma casca de goiaba bem na cara de Pedrinho, dizendo: — Aprendeu?...

— Aprendi — respondeu Pedrinho rindo. — Agora desça, que quero apresentar minha prima Lúcia e os outros.

— Não é preciso. Sei que Lúcia é essa de narizinho arrebitado.

A outra é a tal Emília, marquesa de Rabicó. Só não conheço o de cartolinha e canastra às costas.

— Este é o ilustre senhor Visconde de Sabugosa, um sábio.

— Que é que ele sabe ? — perguntou a voz, arrumando com outra casca de goiaba na cartola do Visconde.

Todos no sítio consideravam o Visconde um grande sábio, mas na realidade ninguém sabia o que ele sabia. Por isso atrapalharam-se com a pergunta. Mas Emília, que não se atrapalhava com coisa nenhuma, disse logo, toda espevitada:

— Ele sabe embolorar muito bem. Fica todo verdinho por fora, quando quer. É doutor em bolor.

Desta vez quem se atrapalhou foi a voz, que com certeza nunca tinha ouvido falar em bolor.

De repente — pluf! barulho de alguém que pula de árvore ao chão. Era a “voz” que havia descido, plantando-se no meio deles.

— Estamos na hora — disse ela. — Temos de partir antes que o sol nasça. Que é do mapa?

Pedrinho tirou do bolso o mapa e apresentou-o. A voz pegou-o, abriu-o e ficou a ver.

Narizinho arregalava os olhos. Aquele mapa que se abria no ar como que por si mesmo, e ficava parado, pareceu-lhe uma coisa extraordinária. O misterioso menino era invisível, mas não tornara invisíveis os objetos que pegava.

Isso deu imediatamente uma idéia a Pedrinho.

— Lembrei-me duma coisa — disse ele. — Como é muito enjoado lidar com um companheiro de viagem que a gente não pode ver, proponho que você traga uma pena no chapéu. Pela pena saberemos onde você está.

— Seria ótima a idéia — respondeu a voz — se eu usasse chapéu. Mas não uso coisa nenhuma sobre o corpo, se não todos me perceberiam e de nada valeria ser invisível.

— Ai, que vergonha! — exclamou Emília tapando a cara com as mãos. — Que não dirá dona Benta quando souber que estamos em companhia dum ente que não usa roupas?

— Deixe de ser idiota, Emília — ralhou Narizinho. — Você não entende nada de criaturas invisíveis.

Não podendo usar a pena no chapéu, que não tinha, Pedrinho propôs que a amarrasse à testa com um fio. Foi aprovada a idéia. Mas onde arranjar pena e fio?

— Tenho uma de papagaio na minha bagagem — gritou Emília. — Arreie a carga, Visconde, e abra a canastra.

O Visconde arriou a canastra, abriu-a e passou à boneca a pena de papagaio e um rolinho de fio de linha. A pena foi atada à testa do menino invisível e desde esse momento não houve mais dificuldade em lidar com ele. A pena flutuante no ar indicava a sua presença.

— Viva o Peninha! — gritou Emília — e aquele grito foi um batismo. Dali por diante só o iriam chamar assim — o Peninha.

Resolvido aquele ponto, trataram de partir. Para isso o menino invisível tirou dum saquinho certo pó de pirlimpimpim. Deu uma pitada a cada um, e mandou que o cheirassem. Todos o cheiraram — sem espirrar, porque não era rapé. Só Emília espirrou. A boneca espirrava com qualquer pó que fosse, desde o dia em que viu tia Nastácia tomar rapé. Assim que cheiraram o pó de pirlimpimpim, que é o pó mais mágico que as fadas inventaram, sentiram-se leves como plumas, e tontos, com uma zoeira nos ouvidos. As árvores começaram a girar-lhes em torno como dançarinas de saiote de folhas e depois foram se apagando. Parecia sonho. Eles boiavam no espaço como bolhas de sabão levadas por um vento de extraordinária rapidez. Ninguém falava, nem podia falar, a não ser a boneca, que em certo ponto gritou:

— Preciso mais pó, Peninha! Sinto que estou caindo!

— É que estamos chegando — respondeu a voz.

De fato. A tonteira começou a passar e as árvores foram se tornando visíveis outra vez. Segundos depois sentiram terra firme sob os pés. Tinham chegado. Os meninos abriram uns olhos do tamanho de goiabas.

Olharam em torno. Um rio de águas cristalinas corria por um vale de veludo verde. Na beira do rio, um carneirinho branco preparava-se para beber. Ao fundo, alta montanha azul erguia-se majestosa, e entre o rio e a montanha era a floresta.

— Estamos no País das Fábulas, também chamado Terra dos Animais Falantes — explicou Peninha. — Vamos começar aqui a nossa viagem pelo Mundo das Maravilhas.
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – IV - O Senhor de La Fontaine

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sábado, 28 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 68 – Angelica Vilella Santos (SP)

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Bloco do Amor)


Marca a cadência o tambor,
Já repica o tamborim,
Eu sou do bloco do amor,
Quero ser seu pierrô,
Seu palhaço e arlequim!

Quero ser seu mestre-sala
E sambar com muita arte,
Você segura o estandarte
Sambando livre e contente
Mostrando pra toda gente
Sua bela retaguarda -
Sua comissão de frente!

Quero cair na folia,
Sambar, levantar poeira,
Vou até raiar o dia
Da manhã de quarta-feira!

Vou tomar todas geladas,
Lembrar que a vida existe.
Só paro de madrugada
E, junto com minha amada,
Esquecer que o mundo é triste...

E quando a festa acabar,
O Rei Momo for deposto,
Volto de novo pro posto,
Do sonho vou acordar,
A vadiagem acabou!
É hora de trabalhar...

São Fidélis "Cidade Poema"/ RJ

Fonte:
Poema enviado pelo autor

A. A. de Assis (Trovia de Fevereiro – n. 146)



Inesquecíveis

Triste sina dos mortais
é ver, assim malfadadas,
lado a lado almas rivais,
almas gêmeas separadas...
ALBERCYR CAMARGO

Tua carta inesperada
tantas lembranças me trouxe,
que eu vivi de um quase nada
um quase tudo tão doce!...
ANALICE FEITOZA DE LIMA

Eu penso, quando anoitece,
vendo o céu todo em fulgor,
que cada estrela é uma prece
aos pés de Nosso Senhor!
COLOMBINA

A velhice é idade linda,
e não me assusta jamais...
Só não gosto mais ainda
porque ela é curta demais!...
DOM NIVALDO MONTE

Ah, saudade, esta verdade
jamais a gente abandona:
vai-se a dona da saudade,
fica a saudade da dona!
MAIA D’ATHAYDE – PE

Não foste a minha metade
pois jamais me deste um “sim”,
mas fizeste que a saudade
fosse a metade de mim!
JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO – RJ
Parabéns trovador Gerson Cesar Souza, autor da letra
do Hino da Campanha da Fraternidade de 2013.


Brincantes

O canibal, sem alento,
tentando a fome aplacar,
no dia do casamento
comeu a noiva... no altar!
ANTÔNIO J. SIQUEIRA – PA

“Não há pão? Comam brioche!",
disse a rainha ao seu povo.
Antes um pão que o deboche,
de preferência... com ovo.
DIAMANTINO FERREIRA – RJ

Que há semelhança bastante
entre os dois, eu não descarto:
lua tem quarto minguante,
velho é minguante no quarto...
JOSÉ FABIANO – MG

O terapeuta sugere:
– “Apimente” a relação!
Mas a mulher interfere:
– “Tô” fora!... Pimenta, não!
LUCÍLIA DECARLI – PR

Prometer é ato falho,
mas na política pode:
– a cada macaco um galho,
– a cada cabrita um bode...
OSVALDO REIS – PR

Ao se banhar num riacho,
distraída, minha prima
lembrou da peça de baixo
quando tirava a de cima...
RODOLPHO ABUDD – RJ

A ratazana e o ratinho
brigaram feio, de fato:
foi ciúme do vizinho,
que, na verdade, era um “gato”!
SELMA SPINELLI – SP

“Pescar, pra mim, é mania,
e é estranho que a esposa deixe...”
Ele vai pra pescaria
e ela vai “vender seu peixe”.
THEREZINHA BRISOLLA – SP

Líricas e filosóficas

Ah, poeta, como é lindo
teu trabalho, e quão fecundo...
– Noite e dia produzindo
sonhos novos para o mundo!
A. A. DE ASSIS – PR

Bilhete é sempre um recado
para ser dado escondido
a um alguém apaixonado
por outro alguém proibido!
ADEMAR MACEDO – RN

Quem tem musa inspiradora
faz quantas trovas quiser,
exaltando a sedutora
que sonha em ter por mulher!
AMILTON MACIEL – SP
Trova humorística é um modo engraçado, mas inteligente,
de dizer alguma coisa às vezes séria. – Colbert Rangel Coelho


Se a rima não é perfeita,
com certeza tem um rito:
o artífice sempre a ajeita
e o verso se faz bonito.
ANDRÉA MOTTA – PR

À noite vou namorar:
da lua já nem preciso...
Só quero ver teu olhar
fascinando o meu sorriso.
ARI SANTOS DE CAMPOS – SC

O amor, para muita gente,
é diversão perigosa.
Quem não sabe ser prudente
transforma em espinho a rosa.
ARLENE LIMA – PR

Pelo bem que me fizeste,
meu amor, muito obrigado...
Deste-me a prova inconteste
de que estou vivo... e acordado!
BRUNO PEDINA TORRES – RJ

A estrada foi destruída,
num desvio se tornou;
a paixão não permitida
nesse atalho enveredou.
CIDA VILHENA – PB

Empilhados na memória,
um a um, mesmo à distância,
escreveram linda história
os meus brinquedos de infância.
DELCY CANALLES – RS

Voltas... E eu acho tão triste
a emoção de disfarçar
que por mim, já que partiste,
nem precisavas voltar...
DIVENEI BOSELI – SP

Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar;
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
DOROTHY J. MORETTI – SP

O destino, sobretudo,
numa visão alongada,
é uma incerteza de tudo
ante a certeza do nada!
EDUARDO A. O. TOLEDO – MG

Deu-me as asas o Senhor
e, ao voar pelo infinito,
vou buscar meu grande amor,
o meu sonho mais bonito.
ELIANA JIMENEZ – SC

A escuridão, por mais densa,
também nos traz coisas belas:
sem luz se ama, se pensa,
dá-se mais valor às velas.
ELIANA PALMA – PR

Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!
ELISABETH SOUZA CRUZ – RJ

No mar revolto da mente
teu vulto baila na espuma:
momento louco em que a gente
sonha com o amor que se esfuma.
EVANDRO SARMENTO – RJ

Quando à tarde, ao pôr do sol,
tu te sentires tristonho,
busca teu novo arrebol
no arrebol de um novo sonho!
FRANCISCO GARCIA – RN

Se a solidão é doença
e eu só, tão debilitado,
só basta a tua presença
para que eu fique curado!
FRANCISCO PESSOA – CE

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
GISLAINE CANALES – PR
O difícil no fácil é criar algo dentro da simplicidade
que deve caracterizar a trova. – Maria Thereza Cavalheiro


A vida é tão passageira,
para que tanto segredo?
Se você me ama, inteira,
revele ao mundo, sem medo!
GLÉDIS TISSOT – SC

Quem se perde em devaneios
não vê que o tempo, ao passar,
vai girando e, em seus volteios,
não volta ao mesmo lugar...
HERMOCLYDES FRANCO – RJ

De manhã o sol me acorda
e à noitinha me adormece.
Um “reloginho” sem corda
cujo toque nos aquece.
HUMBERTO DEL MAESTRO

Numa estrada colorida,
ou na trilha empoeirada,
se a família segue unida,
é suave a caminhada.
ISTELA MARINA – PR

A madrugada é o instante
em que o sol, com ousadia,
induz a noite – gestante –
a dar à luz... novo dia!
JAIME PINA DA SILVEIRA – SP

Que tu estejas presente,
junto a mim, é o que desejo,
inda que seja somente
o tempo exato de um beijo!
JEANETTE DE CNOP – PR

Nos momentos de perigo,
de amargura e solidão,
que conforto é o ombro amigo
e o abraço de um irmão!
JESSÉ NASCIMENTO – RJ

Este conceito traduz
um céu de muito esplendor:
– “amor é facho de luz”
– “perdão é bênção de amor!”
JOAMIR MEDEIROS – RN

Neste mundo tão mesquinho,
benditas as mães, meu Deus,
que dão amor e carinho
a filhos que não são seus.
JOÃO COSTA – RJ

As verdadeiras lições
que a mim meu pai ensinava
não vinham dos seus sermões,
mas de quando ele calava.
J. B. XAVIER – SP

Tanta gente em si perdida
entre sombras se escondendo.
Cada dia é outra vida
que em disfarces vai morrendo…
JOSÉ FELDMAN – PR

A idade, a chegar de manso,
respeitando o meu cansaço,
põe cadeiras de balanço
nas tardes por onde eu passo...
JOSÉ OUVERNEY – SP

Fez-se inverno em minha vida.
Nem luar... nem luz... só breu!
Desde a tua despedida
já nem sei mais quem sou eu.
LUIZ ANTONIO CARDOSO – SP

Nos momentos de perigo,
revés ou só de aflição,
revela-se o bom amigo
num puro estender de mão.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – PR

Em meus rascunhos guardados,
não há mistérios... Porque
nos versos que são lavrados
o tema é sempre... você!
MARIA LÚCIA DALOCE – PR

As mães são divinas plantas
que deram flores, sementes.
Para Deus são todas santas,
com milagres diferentes.
MARIA NASCIMENTO – RJ

Pobre vai de pé no chão,
de carona, só por sorte.
Rico estaciona o carrão
e caminha por esporte...
MARINA VALENTE – SP

Qual um sol assim já posto,
totalmente num ocaso,
meu coração por desgosto
chorou nosso fim de caso.
MIFORI – SP

Xeroquei a sua imagem
e guardei na minha mente;
sempre na minha abordagem
é você que está presente.
NEIVA FERNANDES – RJ

Carrego pouca bagagem
porque na vida aprendi
que, mesmo longa a viagem,
preciso apenas de ti!
OLGA AGULHON – PR

Ao ver-te, só de passagem,
em minha vida vazia,
me sinto escrava da imagem
de uma louca fantasia.
OLGA FERREIRA – RS

Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.
OLYMPIO COUTINHO – MG

Quando o vento, aos meus ouvidos,
sopra as palmas do coqueiro,
pareço ouvir os gemidos
das dores do mundo inteiro.
RENATO ALVES – RJ

Dos instantes devotados
a cada luta vencida,
todos estão retratados
no painel da minha vida.
ROBERTO ACRUCHE – RJ

Ter amor é coisa boa
por alguém que está presente,
pois, indo embora, a pessoa
leva um pedaço da gente.
ROBERTO TCHEPELENTYKY – SP

Oh que mensagem tão bela
o mar na praia nos traz
ao encerrar a procela
em brancas ondas de paz!...
ROZA DE OLIVEIRA – PR

Do nascer à despedida,
ele é sal e sol na estrada,
ele é luz em nossa vida,
sem amor não somos nada...
SÔNIA DITZEL MARTELO – PR
Na tribo dos trovadores, entre irmãos te sentirás.
Quanto mais fraterno fores, melhor trovador serás! (aaa)


O convite amarelado,
que o envelope resguardou,
traz lembranças do passado
que nem o tempo apagou.
SÔNIA MARIA SOBREIRA – RJ

Enquanto o teu ventre sofre,
menino de muitas fomes,
teu patrão guarda no cofre
o lucro do que não comes.
THALMA TAVARES – SP

Ah, juventude, quem dera
trazer-te sempre comigo,
numa eterna primavera
no meu peito, seu abrigo.
THEREZINHA TAVARES – RJ

Devemos andar na linha
e com prudência também:
"tino e caldo de galinha"
não fazem mal a ninguém!
VANDA ALVES DA SILVA – PR

Sou vaso, às vezes quebrado...
mas, cada vez, Deus permite
que eu volte a ser restaurado,
com Seu amor sem limite!
VANDA FAGUNDES QUEIROZ – PR

As melhores gargalhadas
chegam sempre de repente,
em cenas abobalhadas,
e tomam conta da gente...
VÂNIA ENNES – PR

No ser a força do ser,
na flor o encanto da flor...
Na vida o rico saber
congrega paz, luz e amor!
VIDAL IDONY STOCKLER – PR

Canto meu canto de amor,
canto meu canto de paz!
– É próprio do trovador
pôr no verso o que lhe apraz...
ZENAIDE MARÇAL – CE
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J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 12a. Parte


" REVOLVER "

Tu me tomas-te, encantada,
em tuas mãos,
(como um menino a um revolver de brinquedo)
com uma alegre ingenuidade...
..........................................................................
Só que ainda não te apercebeste
que é um revolver de verdade…

"RIO-ME"

Rio-me, e entretanto, eu sei que estou doente
que um cansaço de tudo às vezes a alma invade,
e de repente, sou como um mendigo ao fim do dia
sem ter para onde ir, à hora em que todos voltam...

Rio-me, e entretanto, eu sei que às vezes choro
sem lágrimas, sem pranto, só por dentro, e sinto
que a vida de repente é uma coisa sem nada
que lhe possa explicar um segundo que seja!

Rio-me, e entretanto, a vontade que tenho
é de às vezes deitar-me na rua, e esperar
que um vento sopre a luz dos meus olhos, mais forte,

e acabe de uma vez com o que nunca devera
um dia começar, se o fim que se anuncia
ninguém sabe seu nome: é vida, sonho, ou morte?

" SABEDORIA "

Não te percas em vã filosofia....
O negócio é viver..... Vive primeiro!
O pouco que alcançaste é o verdadeiro,
e o resto, sonho só, - tudo utopia.

Deixa passar o que não pode ser!
A esperança do vão, é doentia...
Ergue a mão ao que a mão pode colher
e ao que está longe, esquece e renuncia......

Se tiver que chegar o inesperado
colhe-o, que essa é a atitude de quem vence:
saber colher o bem predestinado.....

A Vida é o mais efêmero dos bens
nela em verdade, nada te pertence,
nem sabes aonde vais...... nem de onde vens....…

" SEM QUERER... "

Tu nada dizias...

Mas eu precisava saber
para aplacar minha dor...

Foi então que toquei tuas mãos
sem querer...

Tuas mãos, tão frias...
- Obrigado, meu amor...

" SILÊNCIO "

E porque tudo
queremos dizer...

Nunca temos tempo
de dizer nada…

" SINAL ERRADO... "

Teus olhos verdes,
traiçoeiros,
indicavam passagem livre...

Segui...

Era o abismo…

" SÓ "

Lá fora há um luar triste
molhando tudo...

Será o luar
ou serão os meus olhos ?

" SOLILÓQUIO AMARGO "

As vezes (e estamos em nossas vidas, naturalmente,
vivendo dias e noites, dias e noites
há tanto tempo . . . )

- e, de repente, um pensamento amargo e insólito
toma conta de mim.

Um dia - e ele chegará - um de nós terá
que partir,
e o outro, vai ficar.

Eu? Você? Quem terá que se despedir
sem dizer para onde? Quem terá que ficar
sem dizer para que?

Imagino esse dia, - e um estranho pavor me paralisa
por alguns momentos.
Não concebo minha vida sem Você,
e, - desculpe-me - tenho mais pena de Você
se for eu que tiver que ir embora.

Ha tantos anos vimos trazendo nossas vidas como uma vida só,
e de tal modo as juntamos que o dia em que tivermos que separá-las
a que ficar, será um simples destroço, um pedaço mutilado de vida
incapaz de sobreviver.

Para que, meu Deus? a gente construir com duas vidas
um destino só,
fazer esse trabalho dias e noites, de tantas pequeninas coisas
aparentemente insignificantes,
de momentos de puro prazer, de horas de lenta agonia,
construí-to lentamente, como quem estivesse fazendo uma
obra para sempre,
e, subitamente - sem o menor aviso, sem a menor razão,
depois de tanta coisa juntada, e sonhada, e sofrida,
uma força maior - como uma faca - corta tudo ao meio
e uma metade se enterra, e a outra metade, de pé, se desmorona
como um auto-mausoléu de areia?
.....................................................................................................
Eu te agradeço, Senhor, que este pensamento
só raramente me venha, e logo o sopres além...

Que seria de mim, afinal, se ele pousasse por mais tempo
em minha vida?

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Pedro Malasartes (Outras do Malasartes)


Andando Malasartes por uma estrada, encontrou-se com um pobre, que lhe pediu esmola. Deu um vintém ao pobre, e este que não era outro senão Nosso Senhor fez-lhe presente de um gorro vermelho, declarando-lhe que só ele Malasartes e ninguém mais poderia pôr a mão naquele objeto.

Tempos depois, cansado de vaguear pelo mundo, entendeu Malasartes de dar um passeio ao céu. Para lá se encaminhou, e depois de três dias de viagem batia no portão de São Pedro.

O santo porteiro perguntou lá de dentro quem era, e ele respondeu; perguntou o que desejava, e respondeu. O santo negou-lhe a permissão pedida; mas o viajante tanto rogou, tanto chorou que ele sempre consentiu em entreabrir a porta para que espiasse um pouco. Mal vê a fresta, Malasartes atira o gorro pra dentro e começa a gritar:

-Quero o meu gorro, quero o meu gorro!

São Pedro prontifica-se a ir buscá-lo, mas o burlão protesta:

-Não pode ser, só eu posso pegar no meu gorro. Ninguém mais, só eu. São ordens de Nosso Senhor.

São Pedro tratou de certificar-se da verdade, e veio a saber que Malasartes não mentia. Não havia outro remédio: deixou-o entrar para apanhar o gorro.

Assim Malasartes conseguiu entrar no céu. Mas não se demorou lá muito tempo...

=======================

Um dia chegou para Malasartes a hora de ir para o outro mundo, e de nada lhe valeu a esperteza; teve que marchar.

Quando se viu no estradão da eternidade, pensou no que faria e resolveu, em primeiro lugar, ir bater à porta do céu.

Lá foi; mas São Pedro, assim que o enxergou, deu-lhe com a porta na cara. Então deliberou ir ao inferno; foi, bateu, mas o porteiro, dando com o homem que surrava até os diabos, tratou de fechar o portão com quantas trancas havia e foi correndo avisar o seu rei.

Houve um rebuliço dos diabos no inferno: pavor e correrias por todos os cantos. O próprio Satanás tremeu; mas, recuperando o sangue frio, pensou, pensou e ordenou que se deixasse entrar o hóspede. E disse-lhe:

-Eu não quero você no inferno, Malasartes; você, além do que já fez, ainda é capaz de vir aqui revolucionar a minha gente.

– Tenha paciência, seu Satanás, mas aqui estou e aqui fico.

– Então vou fazer uma proposta: que se decida o seu destino pela sorte do jogo. Aceita?

-Feito!

-Se você perder, irá diretinho para o caldeirão.

– Está dito. E se eu ganhar, você me paga com uma das almas que lá estão fervendo.

Começaram o jogo, e cada qual fazia o possível para passar a perna no outro. Mas Pedro Malasartes era mais esperto e ganhou a primeira partida, depois a segunda e assim outras.

Satanás, vendo que não podia derrotar o parceiro e que ia perdendo almas sobre almas, postas em liberdade por Malasartes, mandou botar o insuportável para fora do inferno.

Malasartes andou vagando como alma penada, muito tempo, sem saber onde havia de se aboletar.. Até que um dia teve uma idéia e tocou de novo para o céu. Chegando à porta do céu, tomou uns ares muito humildes, e bateu devagarinho. São Pedro abriu um postigo, enfiou a cabeça e perguntou:

-Quem bate a estas horas?

-Sou eu, meu santo…

-Eu, quem? Diga o que quer, e toca!

-Será possível que o meu santo padroeiro não me reconheça… Pois eu sou o Pedro Malasartes.

– Malasartes?! Outra vez?! Já não lhe disse que o seu lugar não é aqui?

-Não se zangue, meu santo, meu grande santo… Sei muito bem que nunca entrarei neste lugar de glória…

-Então vamos ver, o que quer?

Malasartes, com muita brandura e muita lábia, pediu ao santo que entreabrisse ao menos a porta, um bocadinho, só para que pudesse espiar por um momento a beleza do céu. Tanto pediu e tanto fez que São Pedro o atendeu. Então, mais que depressa Malasartes atirou o chapéu pela fresta.

São Pedro bufou e descompôs o patife, e tanto barulho fez que começaram a ajuntar-se magotes de anjos e de justos ali junto da porta.

Acontece que o chapéu era um objeto terreno, além de estar muito sujo, e ninguém no céu lhe podia tocar. Mas Pedro Malasartes reclamava o chapéu, não abria mão, e enfim, para encurtar, não houve jeito senão, permitir-lhe que entrasse.

E o malandro, entrou, muito contente, com ar vitorioso.

Mas o atrevimento não ficou sem castigo. Levaram o tal para junto de um monte enorme de milho e mandaram-no contar os grãos um por um. Malasartes, que remédio! Começou a contar, a contar, a contar, e levou um mundo de tempo a amontoar os grãozinhos para um lado. Quando já estava acabando a contagem, veio um anjo e misturou tudo. E Malasartes teve de contar de novo… E até hoje lá está contando e recontando os grãos de milho, sem acabar nunca.