quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Monteiro Lobato (Dona Expedita)

- ...

- Minha idade? Trinta e seis...

- Então, venha.

Sempre que dona Expedita se anunciava no jornal, dando um número de telefone, aquele diálogo se repetia. Seduzidas pelos termos do anúncio, as donas de casa telefonavam-lhe para “tratar” – e vinha inevitavelmente a pergunta sobre a idade, com a também inevitável resposta dos 36 anos. Isso desde antes da grande guerra. Veio o 1914 – ela continuou nos 36. Veio a batalha do Marne; veio o armistício – ela firme nos 36. Tratado de Versalhes – 36. Começos de Hitler e Mussolini – 36. Convenção de Munich – 36...

A futura guerra a reencontrará nos 36. O mais teimoso dos empaques! Dona Expedita já está “pendurada”, escorada de todos os lados, mas não tem ânimo de abandonar a casa dos 36 anos – tão simpática!

E como se tem 36 anos, veste-se à moda dessa idade um pouco mais vistosamente do que a justa medida aconselha. Erro grande! Se à força de cores, rugas e batons, não mantivesse aos olhos do mundo os seus famosos 36, era provável que desse a idéia duma bem aceitável matrona de 60...

Dona Expedita é “tia”. Amor só teve um, lá pela juventude, do qual às vezes, nos “momentos de primavera”, ainda fala. Ah, que lindo moço! Um príncipe. Passou um dia de cavalo pela janela. Passou na tarde seguinte e ousou um cumprimento. Passou e repassou durante duas semanas – e foram duas semanas de cumprimentos e olhares de fogo. E só. Não passou mais – desapareceu da cidade para sempre.

O coração da gentil Expedita pulsou intensamente naqueles maravilhosos quinze dias – e nunca mais. Nunca mais namorou ou amou alguém – por causa da casmurrice do pai.

Seu pai era caturra de barbas à Von Tirpitz, português irredutível, desses que fogem de certos romances de Camilo e reentram na vida. Feroz contra o sentimentalismo. Não admitia namoros em casa, e nem que se pronunciasse a palavra casamento. Como vivesse setenta anos, forçou as duas únicas filhas a se estiolarem ao pé de sua catarreira crônica. “filhas são para cuidar da casa e da gente”.

Morreu, afinal, e arruinado. As duas “tias” venderam a casa para pagamento das contas e tiveram de empregar-se. Sem educação técnica, os únicos empregos antolhados foram os de criada grave, dama de companhia ou “tomadeira de conta” – graus levemente superiores à crua profissão normal de criada comum. O fato de serem de “boa família” autorizava-as ao estacionamento nesse degrau um pouco acima do último.

Um dia a mais velha morreu. Dona Expedita ficou só no mundo. Quer fazer, senão viver? Foi vivendo e especializando-se em lidar com patroas. Por fim, distraía-se com isso. Mudar de empregos era mudar de ambiente – ver caras novas, coisas novas, tipos novos. Um cinema – o seu cinema! O ordenado, sempre mesquinho. O maior de que se lembrava fora de 150 mil réis. Caiu depois para 120; depois para 100; depois 80. Inexplicavelmente as patroas iam-lhe diminuindo a paga a despeito da sua permanência na linda idade dos 36 anos...

Dona Expedita colecionava patroas. Teve-se de todos os tipos e naipes – das que obrigam as criadas a comprar o açúcar com que adoçam o café, às que voltam para casa de manhã e nunca lançam os olhos sobre o caderno de compras. Se fosse escritora teria deixado o mais pitoresco dos livros. Bastava que fixasse metade do que viu e “padeceu”. O capítulo das pequeninas decepções seria dos melhores – como aquele caso dos 400 mil réis...

Foi vez que, saída de emprego, andava em procura de outro. Nessas ocasiões costumava encostar-se à casa de uma família que se dera com a sua, e lá ficava um mês ou dois até conseguir nova colocação. Pegava a hospedagem fazendo doces, no que era perita, sobretudo um certo bolo inglês que mudou de nome, passando a chamar-se o “bolo de cona Expedita”. Nesses interregnos comprava todos os dias um jornal especializado em anúncios domésticos, no qual lia atentamente a seção do “procura-se”. Com a velha experiência adquirida, adivinhava pela redação as condições reais do emprego.

- Porque “elas” publicam aqui uma coisa e querem outra – comentava filosoficamente, batendo no jornal. – para esconder o leite, não há como as patroas!

E ia lendo, de óculos na ponta do nariz: “precisa-se de uma senhora de meia idade para servicinhos leves”.

- Hum! Quem lê isto pensa que é assim mesmo – mas não é. O tal servicinho leve não passa de isca – é a minhoca do anzol. A mim é que não me enganam, as biscas...

Lia todos os “procura-se”, com um comentário para cada um, até que se detinha no que lhe cheirava melhor. “Precisa-se duma senhora de meia-idade para serciços leves em casa de fino tratamento”.

- Este, quem sabe? Se é casa de fino tratamento, pelo menos fartura há de aver. Vou telefonar.

E vinha a telefonada de costume com a eterna declaração dos 36 anos.

O hábito de lidar com patroas manhosas levou-a a lançar mão de vários recursos estratégicos; um deles: só “tratar” pelo telefone e não dar-se como ela mesma.

“Estou falando em nome duma amiga que procura emprego.” Desse modo tinha mais liberdade e jeito de sondar a “bisca.”

- Essa amiga é uma excelente criatura – e vinham bem dosados elogios. - Só que não gosta de serviços pesados.

- Que idade?

- Trinta e seis anos. Senhora de muito boa família – mais por menos de 150 mol réis nunca se empregou.

- É muito. Aqui o mais que pagamos é 110 – Sendo boa.

- Não sei se ela aceitará. Hei de ver. Mas qual é o serviço?

- Leve. Cuidar da casa, fiscalizar a cozinha, espanar – arrumar...

- Arrumar? Então é arrumadeira que a senhora quer?

E dona Expedita pendurava o fone, arrufada, murmurando: “Outro ofício!”

O caso dos 400 mil réis foi o seguinte. Ela andava sem emprego e a procurá-lo na seção do “precisa-se”. O súbito, esbarrou com esta maravilha: “Precisa-se duma senhora de meia-idade para fazer companhia a uma enferma; ordenado, 400 mil réis”.

Dona Expedita esfregou os olhos. Leu outra vez. Não acreditou. Foi em busca duns óculos novos adquiridos na véspera. Sim. Lá estava escrito 400 mil réis!...

A possibilidade de apanhar um emprego único no mundo fê-la pular. Correu a vestir-se, a pôr o chapeuzinho, a avivar as cores do rosto e voou pelas ruas afora.

Foi dar com os costados numa rua humilde; nem rua era – numa “avenida”. Defronte à casa indicada – casinha de porta e duas janelas – havia uma dúzia de pretendentes.

- Será possível? O jornal saiu agorinha e já tanta gente por aqui?

Notou que entre as postulantes predominavam senhoras bem-vestidas, como o aspecto de “damas envergonhadas”. Natural que assim fosse porque um emprego de 400 mil réis. Era positivamente um fenômeno. Nos seus... 36 anos de vida terrena jamais tivera notícia de nenhum. Quatrocentos por mês! Que mina! Mas com um emprego assim em casa tão modesta? “Já sei. O emprego não é aqui. Aqui é onde se trata – casa do jardineiro, com certeza...”

Dona Expedita observou que as postulantes entravam de cara risonha e saíam de cabeça baixa. Evidentemente a decepção da recusa. E o seu coração batia de gosto ao ver que todas iam sendo recusadas. Quem sabe? Quem sabe se o destino marcara justamente a ela como a eleita?

Chegou, por fim, a sua vez. Entrou. Foi recebida por uma velha na cama. Dona Expedita nem precisou falar. A velha foi logo dizendo:

“Houve erro no jornal. Mandei por 40 mil réis e puseram 400... Tinha graça eu pagar 400 a uma criada, eu que vivo à custa do meu filho, sargento da polícia, que nem isso ganha por mês...”

Dona Expedita retirou-se com cara exatamente igual à das outras.

O pior da luta entre criados e patroas é que estas são compelidas a exigir o máximo, e as criadas, por natural defesa, querem o mínimo, e as criadas, por natural defesa, querem o mínimo. Nunca jamais haverá acordo, por que é choque de totalitarismo com democracia.

Um dia, entretanto, dona Expedita teve a maior das surpresas: encontrou uma patroa absolutamente identificada com suas idéias quanto ao “mínimo ideal”- e, mais que isso, entusiasmada com esse minimalismo – a ajudá-la a minimizar o minimalismo!

Foi assim. Dona Expedita estava pela vigésima vez na tal família amiga, à espera de nova colocação. Lembrou-se de recorrer a uma agência, para a qual telefonou. “Quero uma colocação assim, de 200 mil réis, em casa de gente arranjada, fina e, se for possível, em fazenda. Serviços leves, bom quarto, banho. Aparecendo qualquer coisa deste gênero, peço que me telefone” – e deu o número do aparelho e de casa.

Horas depois retinia a campainha do portão.

- É aqui que mora madame Expedita? – perguntou, em língua atrapalhada, uma senhora alemã, cheia de corpo, e de bom aspecto.

A criadinha que atendeu disse que sim, fê-la entrar para o hall de espera e foi correndo avisar a dona Expedita. “Uma estrangeira gorda querendo falar c madame!”

- Que pressa meu Deus! – murmurou a solicitada, correndo ao espelho para os retoques.

– Nem três horas que telefonei. Agência boa, sim...

Dona Expedita apareceu no hall com um excessozinho de ruge nos beiços de múmia. Apareceu e conversou – e maravilhou-se, porque, pela primeira vez na vida, encontrava a patroa ideal. A mais sui-generis das patroas, de tão integrada no ponto de vista das “senhoras de meia-idade que procuram serviços leves”.

O diálogo travou-se num crescendo de animação.

- Muito boa tarde! – disse a alemã, com a maior cortesia. – Então foi madame quem telefonou para a agência?

0 “madame” causou espécie a dona Expedita.

- É verdade. Telefonei e dei as condições. A senhora gostou?

- Muito, mas muito mesmo! Era exatamente o que eu queria. Perfeito. Mas vim ver pessoalmente, porque o costume é anunciarem uma coisa e a realidade ser outra.

A observação encantou dona Expedita, cujos olhos brilharam.

- A senhora parece que está pensando com a minha cabeça. É justamente isso o que se dá, vivo eu dizendo. As patroas escondem o leite. Anunciam uma coisa e querem outra. Anunciam serviços leves e botam em cima das pobres criadas a maior trabalheira que podem. Eu falei, insisti com a agência: servicinhos leves...

- Isso mesmo! – concordou a alemã, cada vez mais encantada. – Serviços leves, porque afinal de contas uma criada é gente – não é burro de carroça.

- Claro! Mulheres de certa idade não podem fazer serviços de mocinhas, como arrumar, lavar, cozinhar quando a cozinheira não vem. Ótimo! Quanto à acomodação, falei à agência em “bom quarto”...

- Exatamente! – concordou a alemã. – Bom quarto – com janelas. Nunca pude conformar-me com isso das patroas meterem as criadas em desvão escuros, sem ar, como se fossem malas. E sem banheiro em que tomem banho.

Dona Expedita era toda risos e sorrisos. A coisa lhe estava saindo maravilhosa.

- E banho quente! – acrescentou com entusiasmo.

- Quentíssimo! – berrou a alemã, batendo palmas. – Isso para mim é ponto capital.

Como pode haver asseio numa casa onde nem banheiro há para criadas?

- Há, minha senhora, se todas as patroas pensassem assim! – exclamou dona Expedita, erguendo os olhos para o céu. – Que felicidade não seria o mundo! Mas no geral as patroas são más – e iludem as pobres criadas, para agarrálas e explorá-las.

- Isso mesmo! – apoiou a alemã. A senhora está falando como um livro de sabedoria. Para cem patroas haverá cinco ou seis que tenham coração – que compreendam as coisas...

- Se houver! – duvido dona Expedita.

O entendimento das duas era perfeito: uma parecia o Double da outra. Debateram o ponto dos “serviços leves” com tal mútua compreensão que os serviços foram levíssimos, quase-nulos – e dona Expedita viu erguer-se diante de si o grande sonho de sua vida: um emprego em que não fizesse nada, absolutamente nada...

- Quanto ao ordenado, disse ela (que sempre pedia 200 para deixar por 80), fixei-o em 200...

Avançou medrosamente e ficou à espera da inevitável repulsa. Mas a repulsa do costume pela primeira vez não veio. Bem ao contrário disso, a alemã concordou com entusiasmo.

- Perfeitamente! Duzentos por mês – e pagos no último dia de cada mês.

- Isso! – berrou dona Expedita, levantando-se da cadeira. – Ou no comecinho. Essa história de pagamento em dia incerto nunca foi comigo. Dinheiro de ordenado é sagrado.

- Sacratíssimo! – urrou a alemã, levantando-se também.

- Ótimo – exclamou dona Expedita. – Está tudo como eu queria.

- Sim, ótimo- repetiu a alemã. – Mas a senhora também falou em fazenda...

- Ah, sim fazenda. Uma fazenda bonita, toda frutas, leite e ovos, extasiou a alemã. Que maravilha...

Dona Expedita continuou:

- Gosto muito de lidar com pintinhos.

- Pintos! Ah, é o maior dos encantos! Adoro os pintos – as ninhadas... o nosso entendimento vai ser absoluto, madame...

O êxtase da ambas sobre a vida de fazenda foi subindo numa vertigem. Tudo quanto havia de sonhos incubados naquelas almas refloriu viçoso. Infelizmente, a alemã teve a idéia de perguntar:

- E onde fica a sua fazenda, madame?

- A minha fazenda? – repetiu dona Expedita, refranzindo a testa.

- Sim, a sua fazenda – fazenda para onde madame quer que eu vá...

- Fazenda para onde eu quero que a senhora vá? – tornou a repetir dona Expedita, sem entender coisa nenhuma. – Fazenda, eu? Pois se eu tivesse fazenda lá andava a procurar emprego?

Foi a vez da alemã arregalar os olhos, atrapalhadíssima. Também não estava entendendo coisa nenhuma. Ficou uns instantes no ar. Por fim:

- Pois madame não telefonou para a agência dizendo que tinha um emprego, assim, na sua fazenda?

- Minha fazenda uma ova! Nunca tive fazenda. Telefonei procurando emprego, se possível numa fazenda. Isso sim...

- Então, então, então... – e a lema enrusbeceu como uma papoula.

- Pois é – respondeu dona Expedita percebendo afinal o qüiproquó. – Estamos aqui feito duas idiotas, cada qual querendo emprego e pensando que a outra é a patroa...

O cômico da situação fê-las rirem-se – e gostosamente, já retornadas à posição de “senhoras de meia-idade que procuram serviços leves”.

- Esta foi muito boa! – murmurou a alemã, levantando-se para sair. – Nunca me aconteceu coisa assim. Que agência, hein?
Dona Expedita filosofou.

- Eu bem que estava desconfiada. A esmola era demais. A senhora ia concordando com tudo que eu dizia – até com os banhos quentes! Ora, isso nunca foi linguagem de patroa – dessas biscas. A agência errou, talves por causa do telefone, que estava danado hoje – além do que sou meia dura de ouvidos...

Nada mais havia a dizer. Despediram-se. Depois que a alemã bateu o portão, dona

Expedita fechou a porta, com um suspiro arrancado do fundo das tripas.

- Que pena, meu Deus! Que pena não existirem no mundo patroas que pensem como as criadas...

Fonte:
Monteiro Lobato. Negrinha (contos). Ed. Brasiliense.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 653)

Uma Trova de Ademar 

No momento em que eu nascia,
Deus, usando o seu poder,
pôs o vírus da poesia
nas entranhas do meu ser.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Com direção perigosa,
é bom que agente perceba
que a bebida é prazerosa,
mas, se dirigir não beba!
–Júnior Adelino/PB–

Uma Trova Potiguar 


Um dia vem, outro vai,
veja o que aconteceu;
ontem, velho era papai,
agora o velho sou eu.
–Prof. Maia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  4º Lugar

Saudade é um velho barquinho
que vence o tempo e a distância
e recolhe, no caminho,
os pedacinhos da infância …
–Ercy Mª Marques de Faria/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Eu comparo o arrependido
que o perdão vê numa cruz,
ao viajante perdido
que avista ao longe uma luz.
–Lilinha Fernandes/RJ–

Uma  Poesia 


MOTE:
Maria Conceição Fagundes/PR


Se caem do céu as águas,
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?

GLOSA:
Ademar Macedo/RN


Se caem do céu as águas,
é para molhar o chão,
e afogar um pouco as mágoas
do povo do meu sertão.

Vejo o sertão florescer
com tanta beleza e encanto,
que a gente já pode ver
uma flor em cada canto.

O sertão tem suas fráguas
e é do clima a diretriz;
por que desencanto e mágoas
se o sertanejo é feliz?

No sertão desde criança,
eu choro, mas no entanto;
muitas gotas de esperança
há nas águas do meu pranto!

Soneto do Dia 

DESEJO PÓSTUMO.
–Reginaldo Albuquerque/MS–


Nunca esqueci a pá contra o tijolo
sobre o esquife no qual nos separamos,
quando fugia o sol murchando os ramos
e triste ave soltava um mesto arrolo.

Entre as preces que fiz, em desconsolo,
plantei dúzias da flor que mais amamos,
fiando que à estação, que então sonhamos
virás, e este amor hás de recompô-lo...

Quisera ter poderes, dons enormes,
e crer que, tal qual Lázaro, querida,
não estás morta, em paz, apenas dormes,

e, extático, abraçar-te com ternura,
como te bem fizera outrora em vida,
depois de te livrar da sepultura!

Ineifran Varão (Bem-Te-Vi Amigo)

Bem-te-vi voou
Pra cima da casa
Galho não quebrou
Nem batendo a asa

Lá embaixo alguém
Gritou sem demora
Nem tu nem ninguém
Quebra minha flora

Ele esbravejou
To de bico seco
Você nem olhou
Quem vem lá no beco

Lá embaixo de novo
A voz deu um grito
És casca de ovo
Quebras nem palito

Bem-te-vi bicou
Bico malcriado
Galho não quebrou
Mas quebrou o telhado

Sirva de lição
Pra dona da casa
Pois grito brigão
Não apaga brasa

Bem-te-vi pra ela
Fez canto de amor
Voou pra janela
Com uma linda flor

Hoje a convivência
É uma beleza
Viva a consciência!
Viva a natureza!

Fonte:
http://ineifran.blogspot.com.br/2012/08/bem-te-vi-amigo.html

Lino Sapo (A Televisão de Dona Tel)

Vou falar de uma pessoa
Que os céus dizem amém
Uma pessoa maravilhosa
Que nunca fez mal a ninguém
Simples e trabalhadora
E igual a ela não tem

Seus cabelos tá branquiados
O sorriso de antes já enrugou
Mas a gentileza é a mesma
Isso ela nunca renegou
Seu caminhar é compassado
Marca de que já trabalhou

Tem no espirito a bondade
E nas ações seu valor
De dignidade é uma fonte
Em sua vida sobra amor
As feridas que a vida fez
Ela soube vencer a dor

Dona Tel é esse anjo
Que Deus nos presenteou
Casada com seu Joatão
O homem que tanto amou
Quatorze filhos fizeram
E nenhum abandonou

De sua infinita sabedoria
A paz sempre buscou
E a ajudar ao próximo
Respeito conquistou
E um grande trabalho
A comunidade prestou

Hoje mim dar saudade
E recordo com satisfação
De sua ilustre humildade
E te tanta compreensão
Por deixar a todos nós
Assistir em sua televisão

Sem fazer diferença
Todos eram telespectador
Branco, preto ou índio.
De Vagabundo a trabalhador
Mulher, homem, menino.
De analfabeto a doutor.

Quase vinte e quatro horas
A TV não desligava
Pequenina mais potente
A galera telespectava
Preto e branco a imagem
E a população apreciava

Filmes, jornais e novelas.
Tinha seu público especial
Desenhos, shows e humor.
A meninada achava legal
Futebol, reportagem, culinária.
Era coisa sensacional

Mininos buchudos e fedorentos
Esparramado pelo chão
Os adultos no tamborete
Uma cadeira pra joatão
TEL sentada na sua poltrona
Todos diante da televisão

Gargalhadas e cochicho
E o psiu logo se ouvia
Sustos e muitos gritos
Isso sempre acontecia
Olhos bem lagrimosos
Com as cenas que se via

A novela era na sala
Uma sueca na cozinha
Os suequeiros não resistiram
A sala bem completinha
Aderiram às novelas
Abandonando as cartinhas.

Cabra errado e bigodudo
Ria-se que a chapa caia
Comentavam as cenas
E vinham no outro dia
Menino pegava no sono
Acordava dizendo arizia

O sucesso da televisão
Nunca pode se medir
Nem a entrada ao povo
TEL nunca quis impedir
Assistia todo mundo
Podiam se divertir.

As portas nunca fecharam
Era aberta até madrugada
Às vezes o dia nascia
E a negrada pegada
Nem respeitava o sono
De quem a TV doava

Durante muitos anos
A TV foi à atração
Da humilde cachoeira do sapo
Que não tinha animação
De segunda a segunda
De primavera a verão.

Na calçada os jovenzinhos
Procuravam se agradar
Era o lugar predileto
Pra começar a namorar
Banhados e perfumados
Tentavam impressionar

Foi também palco de brigas
Para na porta se escorar
Pois a sala estava cheia
Não dava mais para entrar
Imprensavam-se, e se apertavam.
Para a TV apreciar

Os filhos de dona Tel
Nunca inteferiram no divertir
Raquel, Chico, Daniele
Lú, Basto, Neide ou Joacir.
Ciço, Júlia, Zefa ou Galega
Vieram a contribuir

Janaina, Ivone, Aparecida.
Também como Mariquinha
Presenciaram muito a cena
Quando a cachoeira vinha
Sua casa sempre lotada
Do forasteiro a vizinha

O tempo se passou
As coisas melhoraram
O povo comprou sua TV
Da casa de TEL se afastaram
Esqueceram tanto favor
Que da mesma contemplaram

Dona tel ainda assisti
Só que agora TV a cores
Seu Joatão tá acamado
Não lembra mais dos amores
A casa ainda é a mesma
Aconchegante e sem odores

Eu ali muito assistir
Dona TEL muito obrigado
Jamais vou me esquecer
De seus favores abençoados
Hoje eu rezo a Deus
Para TELs ter multiplicado.

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obras

2.º Concurso de Quadras Populares /2012 do Clube da Simpatia (Resultado Final)

Tema – TERRA

1.º PRÉMIO

 A Terra, tão maltratada
dia a dia, ano após ano,
está a ficar cansada
de ser “Mãe” do ser humano…
DEODATO PIRES - PORTUGAL

 2.º PRÉMIO

Vejo a Terra do espaço:
é azul da cor do mar
e Portugal é regaço
das ondas que o vão beijar.
 GABRIEL DE SOUSA - PORTUGAL

3.º PRÉMIO

Se andares reto na vida
e, sempre fazendo o bem,
por certo, terás guarida
na Terra e no céu, também.
CREUSA CAVALCANTI FRANÇA – BRASIL

4.º PRÉMIO

Deus sofre a olhar a Terra
que para o homem criou,
mas este só pensa em guerra
e a Terra não preservou.
MARIA ALIETE CAVACO – PORTUGAL

5.º PRÉMIO

Conquistar novos espaços...
eis a semente da guerra.
Tantas vidas em pedaços
por um pedaço de terra!

RENATA PACCOLA – BRASIL

 MENÇÕES HONROSAS

"Terra à vista!" E o marinheiro,
num aviso genial,
fez, do país brasileiro,
pedaço de Portugal !
 COLAVITE FILHO – BRASIL

À Terra que me gerou
tenho um tributo a pagar,
que é deixar ser o que sou
e para a Terra voltar!...
 GLÓRIA MARREIROS – PORTUGAL

 A vida é tão amorosa!...
E tanta verdade encerra:
dá-nos o espinho... E a rosa,
para perfumar a Terra.
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES - PORTUGAL

Ó Terra que eu amo tanto,
oásis nos universos,
és poema, és encanto,
és a musa dos meus versos.
 IZIDORO CAVACO - PORTUGAL

 Trago no peito a saudade
da minha terra querida,
que deixei em tenra idade
seguindo as sendas da vida.
 SÔNIA MARIA SOBREIRA DA SILVA - BRASIL

 Quando se ouvem os canhões,
no raiar de cada aurora,
numa terra, em convulsões,
há um poeta que chora.
 JOÃO TIAGO DE OLIVEIRA BARROSO - PORTUGAL

 Cheiro de terra molhada   
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.
 ELIANA RUIZ JIMENEZ - BRASIL

 Há tanta beleza, tanta...
nesta Terra onde nasci,
que minh'alma se agiganta,
grata, ao que Deus fez aqui!
 THEREZINHA DE JESUS LOPES - BRASIL

 Muitas terras eu já vi,
encantadoras e belas,
mas a terra onde nasci
faz inveja a todas elas.
 ÁLVARO CAVACO - PORTUGAL

 Todos cantam sua TERRA,
também vou cantar a minha;
mas canto nenhum encerra
tantos dotes de rainha!
 ANTONIO CABRAL - BRASIL

Fonte:
http://clubedasimpatia.blogspot.com.br/

XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista (Resultado Final)

Poesia – Prêmio Emílio Lansac Thoa

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR –
“O TEMPO”
Marina Macedo Romera
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR
“INFÂNCIA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
“O PENSAMENTO”
João Henrique Gião
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
“MUNDO DAS PALAVRAS”
Juliano da Silva Damas Júnior
São João da Boa Vista-SP
Colégio Experimental Integrado

2º LUGAR
“UM PAÍS HISTÓRICO CHAMADO BRASIL”
Matheus Lucas de Arruda Camara
Cantagalo-RJ

3º LUGAR–
“MASOQUISMO”
Paula Cardella Amaral
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

Adulto – 19 a 59 anos

1º LUGAR
“VOCÊ VAI FICANDO EM MIM”
José Leite da Silva
Florianópolis-SC

2º LUGAR
“NEBLINA DA SERRA”
Rubens Luíz Sartori
Campo Mourão-PR

3º LUGAR
“A POESIA DOS TEMPOS”
Marcelo Augusto Araújo de Oliveira
São Paulo-SP

PREMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – MAIORES DE 60 ANOS
1º LUGAR
“POR QUEM OS SINOS DOBRAM”
Luzia Terezinha de Brito Vacari
Campinas-SP

2º LUGAR
“ARTE HUMANA, ARTE DIVINA”
Edileuza Bezerra de Lima Longo
São Paulo-SP

3º LUGAR
“PALCOS DA VIDA”
Nilton Silveira
Porto Alegre-RS

PROSA- PRÊMIO FÁBIO DE CARVALHO NORONHA

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR
“CHEIRINHO DE MINHA INFÂNCIA”
Rebeca de Almeida Borges
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI- 156

2º LUGAR
“MEU MELHOR AMIGO”
Maria Eduarda do Prado Matheus
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR –
“TARDE MISTERIOSA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
A FLOR QUE NUNCA BROTAVA”
Luiza Arantes Jacinto
São João da Boa Vista
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
A PROVA DOS OITO”
Matheus Lianda
São João da Boa Vista- SP
Colégio Objetivo

2º LUGAR
“ÚLTIMO FRAGMENTO”
Larissa Gulin Gazato
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI 156

3º LUGAR
“TUDO POR UM SONHO”
Flávia Lemes Gamba
São João da Boa Vista
Escola SESI 156

Adulto - de 19 a 59 anos
1º LUGAR
“ DOIS MOMENTOS”
Elias Araújo
Américo Brasiliense-SP-

2º LUGAR
“HOMEM DOBRANDO A ESQUINA”
Gilberto Garcia da Silva
Praia Grande-SP

3º LUGAR
“ UM PIANO E UMA XÍCARA DE CHÁ”
Gustavo Fontes Rodrigues
São Paulo-SP

PRÊMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – Maiores de 60 anos
1º LUGAR
“IDENTIDADE E CPF”
Renato Vieira Ostrowski
Campo Magro –PR

2º LUGAR
“O RETORNO”
Maria Apparecida S. Coquemala
Itararé – SP

3º LUGAR
“CONFISSÕES ÍNTIMAS”
Luiz Alberto de Almeida Magalhães
Belo Horizonte- MG

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia (Amanhã, 31 de agosto)

O próximo dia 31, sexta feira, faremos o sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia. Na ocasião, além da participação de nossos amigos poetas e músicos, haverá o lançamento dos livros de

Carlos Gomes, com o romance “O Valle das Acácias”, e

José Mateus Neto, com “Despautério” (poesias),

além da apresentação musical da poetisa, cantora e compositora Teca Amorim e

um pocket show do poeta e compositor Tião de Sá e

pocket show também do Idealizador cultural  Ivan Ferretti Machado.

Venha participar conosco deste encontro, com sua poesia, sua música, seu causo ou simplesmente com a sua presença, para compartilhar este momento festivo e saborear um delicioso caldo, que é o mimo e marca da casa.

Local: União dos  Moradores  da Vila Santa Clara
Rua Caioabas, 104 – Vila Santa Clara
Travessa da Rua  Domingos Afonso
Horário: das 19h30 às 22h30 – entrada franca


Fonte:
http://varaldobrasil.blogspot.com.br/2012/08/convite_29.html

2º ENESIAR Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região

Fonte:
Varal do Brasil

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 652)

Uma Trova de Ademar 
Sinto um dom que me extasia
e uma inspiração sem fim,
quando a musa da poesia
passeia dentro de mim.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Apesar dos espantalhos
que a vida mostra-me à beça,
eu serpenteio os atalhos
para chegar mais depressa!
–Francisco José Pessoa/CE–

Uma Trova Potiguar 


Minha família, sem teto,
repartia o mesmo pão...
mas sobrava sempre afeto
no final da divisão...!
–Mara Melinni Garcia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  M/H


Passa o tempo… e, enquanto corre,
a lembrança vai sumindo…
Mas a saudade não morre:
-Apenas fica dormindo…
–Pedro Mello/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Meu amor, que mau pedaço
eu passo quando demoras...
meu coração perde o passo,
atrás do passo das horas...
–Waldir Neves/RJ–

Uma  Poesia 


Quer fazer este mundo mais tristonho
tire o charme romântico das flores,
quer banir a beleza apague as cores
quer matar um poeta, mate o sonho;
entretanto se quer Jesus risonho
faça um gesto de amor, abrace a vida,
veja o mundo na tela colorida
da visão inspirada de um profeta;
mas, não toque no sonho do poeta
que o poeta sem sonho se liquida.
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia 
AS HORAS ERMAS.
–Thalma Tavares/SP–


Ah, solidão, como tu és danosa!...
Quando me cercas com o teu vazio
minha alma triste, insone, pesarosa,
sofre de ausências neste quarto frio.

Estendo as mãos ao nada e desafio
a noite que se adensa vagarosa
sobre o meu corpo tenso e erradio
que se agita na insônia insidiosa.

Não há ninguém em minhas horas ermas.
Apenas sombras do passado, enfermas,
povoam de saudades minhas noites.

E então maldigo a solidão das horas
e a chegada acintosa das auroras
que me fustigam com seus mil açoites.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Trova 225 - Prof. Garcia (Caicó/RN)


Dom Pedro II (Sonetos Avulsos)

INGRATOS

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.

TERRA DO BRASIL

Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.

Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...

Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
ó doce Pátria, sonharei contigo!

E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

I - À MORTE DO PRÍNCIPE D. PEDRO

Pode o artista pintar a imagem morta
Da mulher, por quem dera a própria vida.
À esposa que a ventura vê perdida
Casto e saudoso beijo inda conforta.

A imitar-lhe os exemplos nos exorta
O amigo na extrema despedida...
Mas dizer o que sente a alma partida
Do pai, a quem, oh Deus, tua espada corta.

A flor de seu futuro, o filho amado;
Quem o pode, Senhor, se mesmo o Teu
Só morrendo livrou-nos do pecado,

Se a terra à voz do Gólgota tremeu
E o sangue do Cordeiro Imaculado
Até o próprio céu enegreceu!

III - A IDÉIA CONSOLADORA

Vendo as ondas correr para o ocidente,
Corre mais do que elas a saudade,
Mas espero que a minha enfermidade
O mesmo me consinta brevemente.

Com saúde mais lustre dar à mente
É cousa que enobrece a humanidade;
Contudo agora o paga a amizade
Da pátria, e da família, cruelmente;

Mas consola-me a idéia, — que mais forte
Lhes voltarei para melhor amá-los,
Pois mais anos assim até a morte

Eu mostrarei que sempre quis ligá-los
Na feliz, e também na infeliz sorte
Para, amando-os, ainda consolá-los.

IV - SEMPRE O BRASIL

Nunca noite dormi tão sossegado,
Quem nem mesmo sonhei com o meu Brasil,
Porém, vendo infinito mar d'anil,
Lembra-me a aurora dele nacarada.

Cada dia que passa não é nada,
E os que faltam parecem mais de mil.
Se o tempo que lá vivo é um ceitil,
Aqui é para mim grande massada.

E a doença porém me consentir,
Sempre pensando nele, cuidarei
De tornar-me mais digno de o servir,

E, quando possa, logo voltarei;
Pois na terra só quero eu existir
Quando é para bem dele que eu o sei.

V - A VIDA E O BARCO

Andar e mais andar é a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a música entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.

Saudosíssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras só aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.

Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo só pensei,

Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
Té que nele encontre o último repouso.

VII - A MEUS NETINHOS IMPRESSORES DE MEUS VERSOS

Versos feitos por mim na mocidade
O mérito só tem sentimento.
Eram, pra assim dizer, um instrumento
Mais que o prazer ecoando-me a saudade.

Pospondo a fantasia sempre à verdade
Melhor encontrei nesta o ornamento
E, no estudo apurando o sentimento,
Quanto tenho a saber disse-me a idade.

É isso o que vos quero eu ensinar,
Amando-vos qual pode um terno avô,
A quem para as suas cãs engrinaldar

Melhor só poderia o que eu vou
Em carícias tão vossas procurar,
Sentindo que de vós inda mais sou.

Fonte:
Sonetos. com

Nemésio Prata / CE (Verdade seja dita...)

O sujeito apaixonado
não enxerga com firmeza;
ante a "feia", este coitado,
só, bem, vê: “rara beleza"!

Ao meu prezado oculista-
poeta, peço explicação:
será que tem jeito, a "vista"
do apaixonado em questão?

Rogo, ao poeta potiguar,
que neste tema é doutor,
para que venha explicar
esta "cegueira de amor"!

Por fim, ao poeta José
Feldman, suplico que explique
de fato, como é que é
esta "arrumação" da psique!

Aqui deixo o meu palpite,
lavrado, por dedução;
deve ser uma neurite
nos "olhos" do coração!
------
Nota:
Poeta Oculista - Francisco Pessoa (CE)
Poeta Potiguar - Ademar Macedo (RN)

Fonte:
O Autor

Rachel de Queiroz (Marmota)

Aqui ninguém duvida de que marmota existe. Quase todo o mundo já viu. De noite, nas conversas do terreiro, é raro quem não tenha seu caso a contar. Marmota não é bem fantasma, pode ser alma do outro mundo, ou é uma aparência, uma coisa do mato, quem sabe? Às vezes é um bicho. Em geral é um vulto; e também um ruído, uma chama. Aparece de noite ou de dia.

Todo mundo encara as marmotas como realidades do cotidiano, que fazem um medo desgraçado, mas com as quais se tem que contar. E há delas passageiras, como há outras muito antigas. No caminho de chegada à fazenda de minha irmã, no Choró, existe uma pedra grande, escura, bem na descida de um alto. O povo a chama "Pedra do Bicho", porque ali costuma aparecer uma marmota; e já faz mais de cem anos que ela se mostra. Milhares de pessoas já a encontraram. Pode ser do tamanho de um porco, ou do tamanho de um cavalo, mas é sempre preta e com uma barriga mole, se arrastando. Às vezes se encontra cascavel morta junto da pedra, às vezes um preá. É o bicho que mata. Alguns falam que há muitos anos apareceu ali uma ossada de gente, ainda com as carnes. Engraçado, nesses anos todos nunca mudaram o caminho.

No corte da estrada de ferro, na saída da lagoa da Carnaúba, compadre Chico Barbosa vinha uma noite com o seu filho Eliseu e de repente lhes surgiu à frente aquele vulto preto, de andar arrastado, como um bicho grande e disforme, tomando o caminho. Eles desviaram à esquerda, o bicho também, desviaram à direita, o bicho também bandeou. Chico trazia um facão, brandiu o ferro, a marmota nem se importou. Riscaram um fósforo, sacudiram em cima, o bicho nada. Afinal resolveram fechar os olhos e o pai esgrimindo com o facão, o filho açoitando o ar com uma vara, correram em frente, com bicho e tudo. Não sabem como atravessaram nem como chegaram em casa. Mas ainda hoje ficam com as carnes tremendo quando se lembram.

Pedro Ferreira vinha de uma noitada de jogo, sozinho, pela meia-noite. Eis que numa vereda lhe apareceu a marmota - alta, de braços abertos, no sistema de uma pessoa. Ele trazia um pau grosso na mão, plantou o pau no bicho, facheou o pau todo, a visagem não se espantou. Pedro sentiu que o cabelo lhe crescia na cara, na nuca. Sentou-se no chão, ficou de olhos fechados, esperando, com vontade até de chorar. Afinal olhou - a marmota tinha sumido. E o pau, que ele largara no chão, ao seu lado, tinha sumido também.

Comadre Delurdes ia de manhã ao roçado, levar ao marido o “sonhim” de pão de milho. Junto à capoeira velha deu com uma coisa - não era bem uma marmota, era mais uma aparência, um rasgar forte de pano, e um rufar de asas grandes, uma coisa agitando o ar, aquele sorvo, que não se via mas se sentia. Ela correu tanto que ao chegar em casa teve uma oura, quase morreu. O marido zombou, no outro dia foi com ela - e aí quem correu foi ele. Ninguém da família vai mais sozinho ao roçado.

Certa noite um bando de gente vinha de uma festa, pela rodagem do Quixadá. Zéza, a hoje finada Dora, Terezinha, seu marido Chico Ferreira, e outros. Ao passarem perto do local onde foi encontrada a ossada de Chico Preto (morto misteriosamente há alguns anos), viram um vulto agachado ao pé de uma imburana. A coisa olhava de um lado e de outro da árvore, como quem brinca com criança. Chico Ferreira soltou um uivo e desabou; e as mulheres correram atrás, lutando para ver se chegavam na frente dos homens. E, se a visagem quisesse tinha até apanhado um menino, coitadinho, que ficou por último na disparada. Na hora do medo parece que até coração de mãe se esquece.

O mesmo Pedro Ferreira tem outra recordação do seu tempo de jogador. Vinha em noite escura, por um caminho que passa perto da represa do açude velho do Junco, cansado, com fome e frio. Nisso avistou um fogo e se alegrou - deviam ser uns amigos que planejavam uma pescaria. Parece que tinham tocado fogo num toco e as suas sombras iam e vinham ao redor. Pedro chamou, ninguém respondeu. Aí a chama baixou e voou brasa pra todo lado, como se alguém batesse com uma vara no fogo, estilhaçando-o. Assustado ele parou - firmou a vista - agora não tinha mais toco, nem fogo, nem brasa, só um escuro mais escuro, como um vulto, no lugar onde o fogo estivera. O chapéu lhe subiu nas alturas; ele sentiu que o vulto se deslocava em sua direção. Correu, botando a alma pela boca. Mas o bicho, lerdo, não o perseguiu.

E até mesmo aqui perto de casa, antes de se atravessar o riacho do açude, tem uma moita de mofungo, junto a um pé de violeta, onde o povo sempre encontra uma marmota. Tem dia em que ela balança a moita, e solta gemidos, aqueles ais. Ou se divisa um vulto por baixo da moita, e então se escuta um ruído forte de dentes, como um cachorrão quebrando ossos.

As pessoas que contam esses casos nunca mentem em outras coisas. São gente de respeito, nem é impressão de bebida - como se diz: "visagem de bêbedo fede a cachaça". Será que elas mentem só nesses casos? Ou se enganam, ou sonham?

Fonte:
Governo da Paraíba – A União.