quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Adriana Kairos (Eu Conto Carneirinhos)


Gosto de sonhar. Penso que os sonhos são passeios da alma. Sabe,quando queremos espairecer. Sair por aí. Distrair.

 Só que os sonhos fazem viagens bem mais empolgantes. Viajam pelas lembranças, exploram o desconhecido, visitam até o que tememos e nos assustam com terríveis pesadelos. Mas são só pesadelos.

 Revemos amigos, outros bem mais queridos e encontramos até gente nova. Sim!!! Acredito nisso. Sabe quando vemos alguém pela primeira vez e dizemos: "Eu não te conheço de algum lugar?" Sei lá, mas eu acho que é lá das voltinhas dos sonhos, que já o vimos antes.

 Por isso é que gosto quando a noite chega. E espero ansiosa a hora de dormir, só pra saber a surpresa que terei. Que passeio farei, embalada em canções antigas de ninar. Quem sabe hajam caminhos de jujubas e rios de refrigerantes, laguinhos de chocolate com patinhos de bombom. Sei lá... As vezes a grande viajem é refugiar-se apenas no inimaginável.

 Não sou mística ou qualquer outra coisa. Nem gosto de religião. Só quero compartilhar os meus humildes pensamentos. E convidar a sua alma a pôr o pé na estrada te lembrando o quanto é bom sonhar.

Fonte:
http://www.releituras.com/ne_asantos_conto.asp

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 692)



Uma Trova de Ademar  

No instante da despedida, 
arquivei no pensamento 
a tristeza da partida 
e a dor do meu sofrimento. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Toda a cicatriz que o arado 
provoca, ao rasgar o chão, 
não é ofensa, é agrado 
...e a colheita é a gratidão! 
–Yedda Maia Patrício/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Minha vida é semelhante 
ao curso de uma jangada: 
"onda" pequena ou gigante 
não me "afoga" na jornada. 
–Tarcício Fernandes/RN– 

Uma Trova Premiada  

1991   -   Barra do Piraí/RJ 
Tema   -   HORA   -   M/H 

Destino, relógio antigo, 
cujos ponteiros, tiranos, 
marcaram hora comigo 
no encontro dos desenganos... 
–Divenei Boseli/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

O amor se foi, eu garanto,
não deixou nenhum desgosto..
Mas, meu Deus, por que este pranto
teimando em molhar meu rosto?... 
–Marisol/RJ– 

Uma  Poesia  

Nunca mais beberei dessa desgraça 
pois passei a maior decepção, 
me levaram pras grades da prisão 
só por causa de um copo de cachaça; 
a vergonha pra mim ficou na praça 
na mistura de cana com torresmo, 
e cada passo que dou agora a esmo 
vejo um filho chorando de desgosto, 
e toda vez que eu olho pra meu rosto 
sinto muita vergonha de mim mesmo. 
–Geraldo Feitosa/PB– 

Soneto do Dia  

PRIMAVERA. (Em 2006) 
–Miguel Russowsky/SC– 

Lá fora o sol propõe uma aquarela 
com seu pincel de cor exuberante 
e convida-me a ser participante 
em moldura de verdes, sentinela. 

Aqui dentro a caneta, tagarela, 
murmura sugestões a cada instante. 
Os sonhos, cada qual mais provocante, 
tiram proveitos dos meneios dela. 

Diria: - Estou feliz!... É primavera!... 
(A realidade dói!). Ó quem me dera, 
ter asas e voar à luz serena! 

Setembro... vinte e dois... dois mil e seis... 
Não sou mais jovem ...(e nem ágil)... Eis: 
Aterrizei... Envelheci... Que pena!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mário Quintana (Palavra Escrita)


Victor Giudice (O Arquivo)


(1934-1997) 

Já no seu livro de estréia, O Necrológio (1971), o carioca Victor Giudice nos revelava esta pequena obra-prima que é O Arquivo, na qual o imaginário do autor consegue fundir tão bem o fantástico com o humor, como um bom discípulo de Kafka, Dino Buzzati ou Cortázar. Giudice escreveu outros livros de contos, além do romance Bolero. 

Foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Morreu antes de consolidar sua obra.
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No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

João era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora, João acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

João preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

- Seu João. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

João baixou a cabeça em sinal de modéstia.

- Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

- Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

- De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, João gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, João não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.

A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

- Seu João. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou 
sorrir:

- Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

- Mas seu João, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

João afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Errata em Trova de Mensagens Poéticas de Ontem

Na Trova de ontem, de Carolina Ramos, em Uma Trovas Premiada, das Mensagens Poéticas n. 690 (7 de outubro)

no lugar de Bandeirantes, 
leia-se Maringá.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 691)



Uma Trova de Ademar 

Na vida o que me conforta, 
está nesta frase bela: 
“Deus jamais fecha uma porta, 
sem que abra uma janela”! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Minha paixão malograda, 
sufocada entre segredos, 
é como nau destroçada 
batendo contra os rochedos! 
–Myrthes Mazza Masiero/SP– 

Uma Trova Potiguar 

Corta-se a mata nativa,
fica o campo a céu aberto...
É a força bruta nociva
na construção do deserto.
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada 

1999  - Cachoeiras de Macacu/RJ 
Tema  - CORRENTEZA  - M/H 

Minha alma não teme abismo 
na correnteza em que avança, 
pois meu barco de otimismo 
leva cargas de esperança! 
–Héron Patrício/SP– 

..E Suas Trovas Ficaram 

Há balanços conflitantes
em vidas fúteis e loucas:
os outonos são bastantes
e as primaveras bem poucas.
–Miguel Russowsky/SC– 

U m a P o e s i a 

Depois que a velhice vem 
o corpo humano se estressa. 
No motor da existência 
todo defeito começa, 
o difícil dessa máquina 
é o dono encontrar a peça. 
–Geraldo Amâncio/CE– 

Soneto do Dia 

MEMÓRIA. 
–Francisco Garcia/RN– 

Esta dor que me fere e me magoa 
quando lembro da minha mocidade, 
pouco me importa que ela tanto doa, 
se doendo, não cura esta saudade. 

Melancolicamente eu vou lembrando, 
de saudade em saudade eu vou vivendo, 
mas não posso esquecer de quando em quando, 
que em teus braços, aos poucos vou morrendo. 

Nesta luta sem trégua, em desatino, 
eu me agarro nas rédeas do destino 
dos arquivos ingratos da velhice, 

mas não posso esquecer que fui criança, 
guardarei para sempre na lembrança 
a saudade feliz da meninice!

2ª Edição do Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso (Resultado Final)

Neste sábado 06/10/2012 reuniram-se os jurados da 2ª edição do Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso 
professor Roque Aloísio Weschenfelder graduado em Letras Português, Inglês e Literatura e escritor premiado em vários concursos literários e 
a escritora, pedagoga, orientadora educacional, arteterapeuta, Mestre em Educação, coordenadora do Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR da Escola Estadual de Educação Básica Cruzeiro Maria Inez Flores Pedroso para decidirem os premiados e as menções honrosas deste certame literário. 

O concurso recebeu mais de trezentos trabalhos de cerca de sete países e de todos os estados do Brasil dentro do gênero ficção científica ou fantasia.

VENCEDORES

1º colocado: 
A Viúva de Monsserat
Pseudônimo: Victória Nix
Nome real: Vanessa Laís Roberti
Cidade: Três de Maio RS

2º colocado: 
O Guerreiro da Luz Púrpura
Pseudônimo: Ronald Voormann
Nome Real: Rafael de Moura Piovesana
Jundiai-SP

3º colocado : 
Gênesis 
Pseudônimo: Valentina Tereshkova
Nome real: Davi Menossi Gonzales
São Caetano do Sul, SP

4º colocado: 
O Caçador de Lágrimas
Pseudônimo: R.Rodrigues
Nome real: Regina Célia Rodrigues dos Santos
Colombo, PR

5º colocado: 
Humanoid
Pseudônimo: Angelina Crisccelys
Nome real: Talita Magalhães Ventura
São Paulo, SP

MENÇÃO HONROSA: 

A Décima segunda Porta
Pseudônimo: Florêncio Terra Cambará
Nome real: Olavo Souza Berquó
Porto Alegre, RS

O dia em que encontrei outro Henrique VIII na minha sala de estar
Pseudônimo: Dori
Nome Real: Clara Augusta d’Amaral Savelli
Rio de Janeiro, RJ

Hipérbole
Pseudônimo: Wilhelm Yatsek
Nome real: Rodrigo Zafra Toffolo (Nome artístico: Rodrigo Zafra)
Santos, SP

A Pena de Fenix
Pseudônimo: John McCartney
Nome real: Fabio Baptista 
São Paulo, SP

Empório dos Sonhos
Pseudônimo: Cesário Rey
Nome real: Ademilson Reis
Alpinópolis, Minas Gerais

As Portas da Percepção
Pseudônimo: Frederíca de Henares
Nome real: Alexandra Lopes Da Cunha
Porto Alegre, RS


domingo, 7 de outubro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 690)



Uma Trova de Ademar 

Eu aprendi a perder
mesmo sem haver perdido,
também aprendi vencer
“sem humilhar o vencido!”
–Ademar Macedo/RN–

 Uma Trova Nacional 

Já não combato a ansiedade
que me consome e angustia;
a dor da minha saudade
eu a transformo em poesia.
–Almira Guaracy Rebêlo/MG– 

 Uma Trova Potiguar 

Para que Deus não me puna
por consciência intranquila,
só quero somar fortuna
se aprender a dividi-la.
–José Lucas de Barros/RN–

 Uma Trova Premiada 

1965   -   Bandeirantes/PR
Tema   -   SOLIDÃO   -   4º Lugar

Solidão, eu te bendigo!
À tua sombra querida,
eu marco encontro comigo
e acerto os passos da vida
–Carolina Ramos/SP–

 ...E Suas Trovas Ficaram 

Quero falar... retrocedo... 
pois tenho um pavor medonho,
de que ao contar meu segredo
você destrua meu sonho...
–Luiz Otávio/RJ– 

  U m a    P o e s i a  

Desde quando tornou-se racional
que o homem procura o par perfeito,
qualquer coisa lhe deixa insatisfeito
pois a imperfeição é que é normal;
mas o homem por ser esse animal,
só escolhe outro ser que lhe interesse,
as virtudes vitais não reconhece,
quando menos espera, já perdeu;
dê valor ao que tem, enquanto é seu,
pois talvez seja mais do que merece.
–Henrique Brandão/PE– 

 Soneto do Dia 

MÃOS QUE OS LÍRIOS INVEJAM...
–Alphonsus de Guimaraens/MG–

Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas
para aliviar de Cristo os sofrimentos,
cujas veias azuis parecem feitas
da mesma essência astral dos olhos bentos;

mãos de sonho e de crença, mãos afeitas
a guiar do moribundo os passos lentos,
e em séculos de fé, rosas desfeitas
em hinos sobre as torres dos conventos.

Mãos a bordar o santo Escapulário,
que revelastes para quem padece
o inefável consolo do Rosário;

mãos ungidas no sangue da Coroa,
deixai tombar sobre a minha Alma em prece
a bênção que redime e que perdoa !

sábado, 6 de outubro de 2012

Mário Quintana (O Assunto)


Isabel Furini (Poema infantil: Poesia e Poema)


 (Leitura recomendável: a partir de 8 anos).

 Na porta do prédio,
 o poeta falava com Maria:
 - Poemas são ondas
 no oceano da poesia,
 mas há alguns dias
 eu não tenho inspiração.

 Nesse mesmo momento,
 uma gatinha sapeca
 que brincava no parapeito
 da janela
 deixou cair seu brinquedo...
 A boneca aterrissou na cabeça do poeta.
 Plaf!

 E de repente, uma luz:
 - Você quer me conhecer?
 Eu sou a Poesia.

 O poeta olhou o céu e começou a poetar:

 A poesia é deserto, céu, ar, luz, mar...
 Poemas são como areia,
 poemas são como o vento,
 poemas são como as ondas
 que agitam o belo mar.

 O poeta abriu os olhos
 e exclamou:
 - Os poemas são como pássaros,
 livres pássaros e pássaros prisioneiros,
 pássaros voando no céu,
 aprisionados nas letras,
 aprisionados nos livros,
 quase canções do mar.

 Rindo, a Maria falou:
 - Agradeça a esse gatinha,
 você estava na ruína.
 Dê a ela um brinquedo novo,
 mostre a sua gratidão,
 pois voltou a sua inspiração.

Fonte:
http://isabelfurini.blogspot.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 689)



Uma Trova de Ademar  

Desde o tempo de menino 
vi o quanto eu sou machão; 
pois meu lado feminino 
é um tremendo sapatão! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Me chamam de cachaceiro 
mas eu juro, nem é tanto; 
nunca tomo um copo inteiro, 
a metade eu dou pro santo! 
–Petronilo Filho/PB– 

Uma Trova Potiguar  

Por uma acusação falsa 
fui levado pra cadeia. 
Lá ganhei a meia calça 
depois de uma surra e meia...! 
–Manoel Cavalcante/RN– 

Uma Trova Premiada  

1998   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   PREGUIÇOSO   -   4º Lugar 

Até no "terreiro" em prece,
é preguiçoso, o farsante: 
quando o "santo" dele desce,
só vem... de escada rolante! 
–Selma Patti Spinelli/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Que a mulher tem duas caras, 
isto não é mais segredo: 
a primeira mostra às claras 
e a outra – de manhã cedo. 
–Jorge Murad/RJ– 

U m a P o e s i a  

Numa farmácia outro dia, 
eu fui comprar um remédio 
para evitar o assédio, 
da grande disenteria. 
Lacto-Purga, o “Zacaria”, 
mandou eu tomar ligeiro, 
me cobrou um bom dinheiro, 
aquele cabra sacana. 
Eu passei uma semana 
da cama para o banheiro... 
–Francisco Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

AZAR. 
–Renata Paccola/SP– 

Certo dia, acordei de mau humor – 
resquício de uma noite mal dormida. 
Peguei o carro, e então fundiu o motor, 
segui para o metrô, enfurecida. 

Tentei continuar com minha lida, 
mas fiquei presa num elevador. 
Neste compartimento sem saída, 
passei horas de angústia e terror, 

e saí sob o som de bate-estaca. 
Depois, no meio de um supermercado, 
senti a dor de um burro quando empaca. 

Foi aí que vi, quase ao meu lado, 
irônicos dizeres numa placa: 
“Sorria. Você está sendo filmado!” 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mário Quintana (Leitura 2)


Almanaque Paraná n.5 - 1a. Quinzena de Outubro (Errata)


Hoje enviei por e-mail este novo número e graças a irmã trovadora Dorothy Janson Moretti que carinhosamente me alertou:

Na trova da Amália Max, no segundo verso 
onde está escrito "sinhô", 
o correto é "sino".

O Almanaque já está disponível para download no site http://www.issuu.com, e em breve aqui no blog, este corrigido.

Obrigado e perdoem a falha
José Feldman

Olivaldo Junior (Um Menino, a Solidão e um Par de Asas com Frágeis Penas de Seda)


Este texto me foi enviado ontem, 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, mas me chegou tarde às mãos (mais precisamente, aos olhos). Quando Olivaldo se refere a Hoje, será na verdade ontem, e ao falar Amanhã, é hoje.

Hoje é Dia de São Francisco de Assis e, também, dos Animais. Animais são mais que figuras em volta de nós. Nossa vida é reanimada por eles. Amanhã é Dia das Aves. Aves são a chave da inspiração à liberdade. Não somos livres, mas levamos jornais, diria Drummond... Somos o Sonho, que Rodrigo Maranhão tão bem cantou. Cantar é minha forma de amar. E, se também toco, é porque não há quem o faça por mim. Minha solidão não tem se sentido acompanhada, como diria Chico Buarque à bela Iolanda. Ando, que as asas, suas penas, têm frágeis penas de seda e logo cedem.

UM MENINO, A SOLIDÃO E UM PAR DE ASAS COM FRÁGEIS PENAS DE SEDA

Era uma vez um menino que nasceu numa pequena cidade do interior. Altamente introspectivo, admirava os carros e pessoas que passavam na rua, sempre impossível para ele. O maior medo era o maior desejo, pois o Medo é o Desejo arruinado, sem jeito. Até que era bom, como, em potencial, são bons todos os homens. 

O menino tinha pai, mãe e um irmão mais novo, o qual queria muito que houvesse, pois sempre se sentia só. Coitado... O menino dessa história não sabia que a Solidão, sempre atenta, à espreita, em todos nós se ajeita com o passar do Tempo. O Tempo é grande amigo dela e sempre lha reserva um lugar legal no futuro. A Solidão, em alguns, nem precisa esperar tanto, pois, desde cedo, passa a ter todos. 

Passou-se o tempo, e os carros da rua ficaram mais rápidos, tanto quanto os passos, lépidos, de todos que conhecia. Meio tonto, tão tolo quanto um par de asas com frágeis penas que se tem como seus, o menino foi ficando triste. A Tristeza é uma prima do Tempo, que, em certos casos, também ama a Alegria. Não, o menino não era amigo de festas, de coisas da moda, mas de coisas do tempo em que as rodas rondavam as noites de inverno, ou verão, das casas de então. Fora do tempo, e cansado de tantas por que havia passado na vida, o menino, quase um rapaz, trancou-se no quarto e, de lá, não saiu por longo tempo. O Tempo vinha bater palmas à porta do quarto, mas nada. O menino, irredutível, reduziu-se a isto: um triste jovem com um par de asas com frágeis penas, que jamais serviam de chaves para outros ares de vida. A Morte, até mesmo a Morte, por diversas vezes, cantou seu cântico de mortandade para o triste amigo de nem um amigo. Amigos... eis o que sempre esperou aquele pobre coração vadio, vazio como um ponteiro de relógio marcando o tempo para o fim das roseiras.

O par de asas com frágeis penas de seda sempre esteve no quarto, bem ao lado do pobre. Mas os olhos nem sempre dão conta de enxergar o que existe. Existir era uma luta constante com flores e estrelas em volta da cama, no canto das portas, em cima das telhas, vermelhas, de casa onde mora um rapaz que esteve, desde cedo, atrasado.

Foi que um dia, de tanto chorar, teve secas suas lágrimas, vendo livre a sua estrada, porque há léguas que somente os pés que temos podem, ainda que não se tenha carro, ter no velocímetro em nós. As horas são mais que ponteiros.

Acordando para a vida, vendeu o Medo sem nada ter em troca e partiu. Esse pobre rapaz, tão pobre quanto quem tem o chão sem nada como seu, esse homem partiu para a vida, videira nem sempre em uvas, mas sempre em vívidas folhas. A folha em que o menino se via não era nem verde, era branca. O branco das folhas carregava o que ele mais tinha e mantinha no cerne de árvore nascida gente, gente com ares de pássaro, pássaro passando um tempo entre os presos. Presa fácil para sonhos, o homem conhecera o amor que não se pode, nem se deve tocar, mas, nem por isso, é menor. O Amor nunca é mínimo, sempre é o máximo. No entanto, cansado de nunca ser correspondido, o homem foi ficando escuro como um domingo sem sol, até que a Solidão pousasse outra vez em suas asas, tão frágeis, no quarto. O quarto de um homem é seu parto para o mundo lá fora. Fora isso, tinha sempre um por que não parar. Vai que, um dia, faz sol, e ele, lá fora, possa, enfim, se iluminar... Tinha um amigo, sim, alguém que lhe dera um raio de luz entre as horas de bruma. Mas também triste era essa estrita amizade com quem sequer, quase nunca, estava. O Tempo, suspeitoso, era sempre vão.

Queria, enfim, que o par de asas funcionasse e, Deus do Céu, ali ao lado houvesse alguém voando além. Mas nada, qual nada, nunca nada! O som da Solidão, impregnando os sons da vida em torno dele, impulsionava o coração a ser mais Ícaro e a ganhar o ar. O ar pode ser muito para um par de asas com frágeis penas de seda confundindo os ventos, se arrastando à toa para qualquer canto. Cantar era o bastante? Não sabia. Mas cantava e tocava um pouco, mesmo só, para que alguém, mesmo não lá, pudesse ouvi-lo, pudesse olhá-lo e, quem sabe, levantá-lo e devolvê-lo para ele ao fim.

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 688)



Uma Trova de Ademar 

Quase toda madrugada, 
Já vendo os raios do dia, 
busco um verso à minha amada 
numa fonte de poesia... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Voltas com outra proposta,
mas, eu, fingindo altivez,
uso o poder na resposta
e digo não, outra vez! ...
–Clenir Neves Ribeiro/RJ– 

Uma Trova Potiguar 

Saudade - seja onde for, 
sempre é saudade, meu bem. 
Um sentimento de amor 
que dói no peito de alguém! 
–Prof. Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada 

2008   -  Caicó/RN 
Tema   -  ESTRADA   -  15º Lugar. 

São tantas encruzilhadas!...
Por isso eu me perco assim,
ao trafegar nas estradas
que existem...dentro de mim!...
–Newton Vieira/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Finda a noite, e o sol nascente
se espreguiça na folhagem;
beija o orvalho, docemente,
e recomeça a viagem...
–Manita/RJ– 

Uma  Poesia 

Eu já passei dos Sessenta 
cheio de felicidade, 
e não escondo a ninguém 
que hoje estou, na verdade, 
sem ter mágoa e sem queixume 
sentindo o doce perfume 
da flor da terceira idade!... 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia 

NA TASCA. 
–Raimundo Correia/MA– 

Dentro, na esconsa mesa onde fervia 
fulvo enxame de moscas sussurrantes 
num raio escasso e tremulo do dia 
espanejando as azas faiscantes. 

Vi-o; bêbado estava e, inebriantes 
e capitosos vinhos mais bebia, 
em tédio, como os fartos ruminantes 
a boca larga e estúpida movia. 

Eu pensativo, eu pálido, eu descrente, 
aproximei-me do ébrio, com tristeza, 
sem ele quase o pressentir sequer, 

e vi seu dedo, aos poucos, lentamente 
no vinho esparso que ensopava a mesa 
ir escrevendo um nome de mulher.