quinta-feira, 8 de novembro de 2012

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 26 de novembro. O Fim do Ano e as Despedidas


O tempo corre, passam-se os dias, e o ano vai rapidamente chegando a seu termo; mais algumas semanas e ele cairá na eternidade como um grão de areia na ampulheta das horas.

A comparação não tem nada de novo, é muito antiga; mas por isso mesmo acho-a excelente para um ano velho e caduco, que está tão próximo a deixar-nos, que os historiadores já se preparam para disseca-lo e fazer-lhe autópsia.

Assim, esse pouco tempo que nos resta é consagrado ao adeus e às despedidas. Tudo se despede, e os dias vão correndo de despedida em despedida até que chegue o momento de dizermos a este ano, como se diz no Barbeiro de Sevilha ao massante D. Basílio: Buona sera, mio signor.

A primeira despedida foi a do Cassino na segunda-feira. Pela última vez o baile aristocrático abriu os seus salões aos convidados. Para o não – se é exato o que nos prometem – em lugar desta casa antiga e desses repartimentos acanhados, veremos elevar-se nesse mesmo lugar algum palácio de fadas, que nos dará uma vez por mês, e sem ser preciso irmos ao Oriente, uma cópia  fiel das Mil e uma noites.

Talvez isto faça reviver os belos tempos do Cassino, quando reunia nos seus salões a fina flor da sociedade desta corte. É verdade que então não se tinha ainda introduzido a moda elegante das moças não gostarem de baile, provavelmente porque isto é um prazer comum, e ordinariamente têm quase todas as meninas aos dezoito anos.

Uma mocinha do tom – que se quer distinguir – deve aborrecer o baile, e gostar de alguma coisa que não seja trivial, como, por exemplo, de rezar, de ler anúncios, e sobretudo conversar com os diplomatas sobre questões de alta política internacional.

Por isso, naquele tempo o salão do Cassino foi uma espécie de palácio encantado, que a fada do prazer e da alegria criava por uma noite com um toque de sua varinha mágica; não era a todos que se revelava as palavras mágicas que serviam de chave à porta misteriosa desse recinto: Abre-te, Sésamo!

Apesar disto, porém, o último baile não esteve como era de esperar, à vista dos outros que houve este ano. Assim devia ser: era um baile de despedida, e os antigos freqüentadores não podiam deixar de sentir o desejo de dizer um último adeus a estas salas, a estas paredes, que foram testemunhas de tantos momentos deliciosos, cuja lembrança ainda o tempo apagou.

Outros, que ainda não têm tão remotas reminiscências, despediam-se da sociedade brilhante que se achava reunida aquela noite, e que daqui a alguns dias se irá dispersando como as folhas de uma árvore, que voam à discrição e aos dos ventos.

A força do verão já se vai fazendo sentir; e aqueles que não estão presos a vida da cidade estão já tratando de fugir desse clima ardente, e de procurar algures um refrigério aos calores da estação.

Petrópolis – a alva e graciosa Petrópolis, com suas brumas matinais, com suas casinhas alemãs, com seus jardins, seus canais, suas ruas agrestes – lá nos envia de longe um amável convite aos seus passeios poéticos, à vida folgazã que se passa nos seus hotéis, à missa dos domingos na capelinha da freguesia, e a tantos outros passatempos campestres, que se gozam durante esses dias em que aí vivemos como aves de arribação, prontas a bater as asas ao primeiro sorriso da primavera.

Quanta cabecinha loura ou morena já não se está recordando do verão passado e refazendo na mente os gozos desses dias alegres e descuidosos! Quanta imaginação não começou já a fazer esta pitoresca viagem, e não vai singrando pelas águas límpidas e azuis da nossa linda baía, a contemplar o formoso panorama que desenham as ribeiras do mar sobre a areia da praia e os recortes das montanhas nas fímbrias escarlates do horizonte!

Além de Petrópolis, muito ale, lá estão as serras, as matas ainda virgens, as florestas sombrias de nossa terra, as árvores seculares, os lagos, e as correntes d’água que atravessam os lagos e as planícies.

Aí se eleva a espaços pelas abas das montanhas, ou pelas margens de algum rio, a fazenda do agricultor, onde se vive a verdadeira vida do campo, onde as horas correm isentas de cuidados e de tribulações, no doce remanso de uma existência simples e tranqüila.

Como Petrópolis, como a Tijuca, como todos os arrabaldes da cidade, a serra também nos vai roubar uma a uma as mais belas flores da nossa cidade, as mais preciosas jóias dos nossos salões, as mais lindas estrelas do nosso céu. Uma bela noite, quando levantardes os olhos, tereis de vê-las deslizarem-se no horizonte, como esses astros de que fala Virgílio, deixando apenas nas trevas um longo rasto de luz:

Stellas
Praecipites coelo labi, noctisque per umbram
Flammarum longos a tergo albescere tractus.

No outro dia, quando procurardes por elas, terão completamente desaparecido. Irão caminho de mar ou de terra, buscar longe da cidade os ares puros que dão vida e saúde, que fazem voltar às faces empalidecidas, as cores frescas e rosadas.

Quanto a vós, que ficais curtindo as mágoas da ausência, consolai-vos com essa idéia; e, se durante a ausência encontrardes por acaso nalgum passeio pelos jardins uma linda florzinha azul, que os jardineiros chamam miosótis, e a que os alemães deram um nome de vergiss mein nicht, fazei, como Alfredo de Musset, alguma bela poesia à saudade, e mandai-ma, que eu a publicarei nas Páginas Menores.

Se isto ainda não vos consolar de todo, lede as notícias da guerra do Oriente, que cada vez se vão tornando mais interessantes. O último vapor trouxe-nos a notícia de que em honra de Saint-Arnaud se tinha levantado em Constantinopla uma cruz – a primeira depois de quatrocentos anos. Ora, se é exato que o diabo foge da cruz, como diz um rifão português, é de crer que a esta hora toda caterva de turcos, principiando pelo sultão, tenham abandonado a formosa Estambul.

Quanto à tomada de Sebastopol, não se realizou ainda; mas pelo vapor seguinte teremos por aí infalivelmente esta portentosa notícia, que, a falar a verdade, já vai se parecendo alguma coisa com os anúncios do nosso Teatro Provisório.

De manhã os jornais avisam aos leitores que à noite haverá espetáculo lírico; à tarde aparece uma moléstia qualquer, e o espetáculo fica transferido para o dia seguinte. Novo anúncio de manhã, nova transferência de tarde.

Ora, isto não tem senão uma explicação, e é que os diretores entenderam que, sendo o teatro provisório, apesar do batismo, precisavam de vez em quando, principalmente neste tempos de chuva, publicar um anúncio para fazer constar que o edifício ainda existe, e não veio à terra.

Cumpre, porém, advertir que com isto não me refiro à transferência e ontem, a qual teve um motivo justo. Com aquele tufão que desabou sobre a cidade, arrancando árvores e fazendo estragos, qual seria o dilettante capaz de deixar o seu teto hospitaleiro para arrostar um tempo tão desabrido?

É verdade que a esta mesma hora, quando as rajadas do vento caíam mais forte e com mais violência, alguns atravessavam as ruas da cidade, e a um  e um se iam reunir na sala das sessões do Instituto Histórico. Pouco depois chegou Sua Majestade, e a sessão se abriu com sete membros.

Se eu não tivesse lido há tempos que Metternich, ou não sei que outro diplomata, havia dito que a pontualidade é a política dos reis, quando de hoje em diante me sucedesse ouvir semelhante palavra, seria capaz de apostar que tinha sido lembrança de algum dos sete membros do Instituto, que, para fazer honra ao tempo, se entretiveram com a leitura de um trabalho sobre terremotos.

Achava-me muito disposto a terminar aqui, mas lembro-me que estou na obrigação de afirmar aos meus leitores que este artigo é escrito por mim mesmo, e não por um pseudônimo que me descobriram, e que se acha arvorado em redator de um periódico intitulado – O Brasil Ilustrado.

Quando a princípio me contaram semelhante coisa, quando me disseram que eu ia redigir um novo periódico literário, duvidei; porém o fato é exato, e, o que mais é lá se acha a assinatura de um dos nossos literatos, o Sr. Porto alegre, que afirmou não ter assinado semelhante coisa.

Ora o Brasil, sendo tão ilustrado como se intitula, não pode ignorar certa disposição do Código Criminal que fala de assinaturas fingidas; por conseguinte, não há dúvida que os homens que se acham assinados naquela lista a que me refiro são nossos homônimos, os quais até hoje eram completamente desconhecidos.

Em tudo isto, pois, só temos a lamentar uma coisa, e é que o novo tão ignorados e obscuros, deixando de parte os verdadeiros Otavianos, Porto Alegres e Torres Homens.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cecilia Meireles (Aqui Está Minha Vida)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 720)



Uma Trova de Ademar  

Depois do beijo, um aceno, 
e, sofrendo em demasia, 
bebo doses de um veneno 
que a sua ausência me envia. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Fitando o manto estrelado, 
fica fácil compreender, 
a pequenez de meu fado 
perante o Divino Ser. 
–Luiz Antonio Cardoso/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A força do sertanejo 
é feita de sofrimento. 
Chega o tempo, eu antevejo, 
de resgatar seu talento. 
–Gonzaga da Silva/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011   -   Ribeirão Preto/SP 
Tema   -   VÍCIO   -   4º Lugar 

Ser dotado de Razão,
Um homem adulto sabe:
-não há virtude em vão;
-nem vício que não se acabe!
–Selma Patti Spinelli/SP–

...E Suas Trovas Ficaram  

Louco artista é o Trovador
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.
–Alonso Rocha/PA– 

U m a P o e s i a  

Uma rolinha "ariada"
Bate no oitão e morre
Uma vaca magra corre
Por um cachorro acuada
Um peba numa baixada
Cava um buraco e se enterra
Um agricultor encerra
As fadigas do roçado.
Parece um quadro pintado
Das tardes de minha terra.
–Brás Ivan/PE– 

Soneto do Dia  

A SOLIDÃO. 
–Gabriel Bicalho/MG–

Trago comigo, neste corpo lasso,
as marcas do que fui, meu desatino.
Se tive uma mulher em cada braço,
não tive o grande amor do meu destino.

A solidão me sobe, passo a passo,
quando subo as ladeiras do Divino
e pesa mais que fardo este cansaço,
como dobres de morte em cada sino.

Ai!, quem me dera, nesta noite fria,
qual vate ilustre que também vadia,
revê-la agora como outrora a vi!

Tamborilava os dedos na agonia
de quem morre um pouquinho todo dia,
compondo os versos que não lhe escrevi!

Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 4


91-Toda flor de SABUGUEIRO
 para a erisipela é usada
 qualquer índio curandeiro
 mostra a ferida curada.

92-É tão triste a QUARESMEIRA
 pois, ao pé da cruz nasceu.
 E pela dor verdadeira
 lá no Calvário cresceu.

93-Para a face refrescar,
 ponha ROSAS perfumadas
 no leite para gelar...
 use as pétalas molhadas.

94-Ao militar corajoso
CALÊNDULA se oferece.
 Monsenhor ROXO é perigoso
 e a ninguém você oferece.

95-Planta bem policromada,
 qualquer cor nela é amena.
 Fica sempre admirada
 quem recebe uma DRACENA.

96-Persistência no desejo,
 deus Dionísio a elegeu
 e aproveitando o ensejo,
 pôs sua HERA no apogeu.

97-Simbolizando a eloqüência
 a flor LOTO no oriente,
 é equívoco na vivência,
 mas no Egito, é flor nascente.

98-BUXO, no ciclo da vida
 traduz a perseverança.
 Pequena flor preferida
 de Afrodite, com Esperança.

99-Lindo BRINCO-DE-PRINCESA
 és flor da graça e elegância.
 Símboliza a gentileza,
 és FÚCSIA - sem fragrância.

100-Honra, vergonha, riqueza,
 flor dileta de Morfeu,
 lá na China, com certeza,
 é PEÔNIA o nome seu.

101-Flor de AMÊNDOA é a esperança,
 desde o inverno à primavera...
 Traz com o anjo da bonança,
 segredos da nova era.

102-A SÁLVIA é uma linda flor
 de utilidades afins,
 como chá...é saborosa
 é a médica dos jardins.

103-PRIMAVERA é também flor,
 família da buganvilia,
 é da juventude o amor
 nos cachos mostra a alegria.

104-Símbolo do professor
 é a RESEDÁ - paciência
 pela vocação de amor,
 floração de competência.

105-Se os Jasmins lembram a Espanha,
 e os Girassóis vêm da Hungria...
 revelação de artimanha:
 traz VERBENAS de alegria.

106-As VIOLETAS lembram Parma
 JUNQUILHOS, a covardia,
 timidez, mesmo sem arma,
 tira o sol de cada dia.

107-MALVA é o símbolo do médico
 que, por seu perfume, acalma,
 se estiver doente, indico:
 só uma folha basta à alma.

108-Linda IPOMÉIA VERMELHA
 na amizade dá seu laço;
 à corrente se assemelha,
 pois simboliza o abraço.

109-ROSA BRANCA, ó flor divina,
 és símbolo da pureza,
 da virtude peregrina
 do bom Deus - a realeza.

110-ROSA AMARELA suspeita
 traição e infidelidade,
 ciúme que não respeita,
 faltando sinceridade.

111-Na decoração campestre
 desde a Idade Média, o ACANTO.
 tem arte, a folha silvestre,
 crescimento, vida e encanto.

112-É de origem mexicana
 a ADÁLIA da dignidade.
 Na elegância não engana
 apesar da variedade.

113-Na Holanda, a TULIPA um dia,
 ganhou fama retumbante,
 mas, nativa da Turquia
 tem a forma de um turbante.

114-Amor tão puro, inocente
 só mesmo o CRAVO traduz
 na lapela...quem não sente,
 a força que ele conduz?

115-No Egito das tradições
ALECRIM tem flor azul.
 Da Virgem, recordações
 das flores, no manto azul.

116-Nos campos o AMOR-PERFEITO
 desperta mil pensamentos,
 no amor que não tem defeito,
 dono dos meus sentimentos.

117-O LÍRIO é depois da rosa
 preferido pelo artista.
 É flor de vida amorosa,
 em casamento altruísta.

118-Na frieza de uma HORTÊNCIA
 vejo a pessoa golpista
 que é educada na aparência
 mas um fingido e egoísta.

119-Atributo de Maria
 da graça e amabilidade,
 o JASMIM traz alegria:
 -Tem graça e simplicidade.

120-Um suflê bem diferente
 contém na VIOLETA, a essência.
 Coma delicadamente,
 doce e assado, com paciência.

121-ÁLAMO, ramagem e flor
 é verde à luz da lua...
 Negro é de grande valor,
 esconde a saudade tua...

122-A MURTA é amor, nascimento
 de flores brancas somente,
 é a deusa do encantamento
 que os gregos têm a semente.

123-Pureza de coração,
NENUFAR é encantadora,
 resistiu a tentação
 é uma flor bem sedutora.

124-A ALCACHOFRA é flor famosa
 pela cor extraordinária.
 Bem cozida é apetitosa
 rainha, na culinária.

125-ALAMANDAS são usadas
 nos muros, é trepadeira.
 Tem flores amareladas
 é uma flor bem brasileira.

126-Da Colômbia, esta flor cresce
 nos vasos, em clima quente.
ANTÚRIO, em sombra, floresce,
 vermelho, de amor ardente.

127-BEGÔNIA é de folha oval,
 flores vermelhas ou rosas,
 herbácea e o solo ideal,
 arenoso, mas às sombras.

128-BEIJO gosta do verão.
 Dos Mares do Sul, chegou.
 Dos ventos quer proteção.
 Pequeno porte encantou.

129-Em vasos é cultivada!
 água, uma vez por semana.
 à sombra e bem cuidada.
BROMÉLIA, sul-americana.

130-A Flor que a fortuna atrai
CALANCHOE de hastes florais,
 quem a tem, jura não cai
 em dívidas nunca mais...

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Centro de Letras do Paraná (Centenário e Programação)


OS FESTEJOS DO CENTENÁRIO DO CENÁCULO

Divulgue a nossa Cultura, 
que o verso e a prosa nos dá, 
alçando a literatura 
e as Letras do Paraná. 

Nei Garcez 
Academia Paranaense da Poesia 
UBT-Curitiba/Paraná/Brasil

Muito nos ufana vivenciar o “Centenário do Centro de Letras do Paraná”, modelar e tradicional entidade cultural que congrega o que há de melhor no seio da intelectualidade de nossa terra.

Volvendo no tempo, deparamos com o 19 de dezembro de 1912, quando um grupo de idealistas, sessenta e cinco ao todo, inclusive quatro damas, reuniu-se no Salão de Honra do Diário da Tarde, Euclides Bandeira à frente, criando o Sodalício.

Dez anos depois, o mesmo Euclides assim justificava o acontecimento, verbis: “A ideia básica do Centro de Letras do Paraná consistia, em suma, na organização de uma biblioteca paranaense, porque ocorria fato interessante: muito se falava no Paraná Literário, na pujança espiritual e numérica de seus poetas, prosadores, dramaturgos, comediógrafos, etc. enfim, proclamava-se em todos os tons o estranho brilho com que o Estado exsurgia no convívio intelectual do país, mas em verdade, a produção representante em livros não correspondia a tamanho ruído” (.In “Euclides Bandeira, Biografia e Antologia”, de Paulo Roberto Karam).

E, para remover a desproporção, eis que apenas “as magnificas revistas de artes, legítimos primores que na radiosa esfera do pensamento prestaram ótimos serviços ao Estado”, o nosso primeiro presidente declarava, “... que não era a falta de operosidade, nem de capacidade criadora de nossos plumitivos, pois muitos até possuíam dois ou três volumes, carinhosamente escritos, ao fundo da gaveta. O óbice era de ordem pública e foi o que o Centro de Letras do Paraná se propôs a remover pela conjugação da vontade de todos, numa sorte de cooperativismo literário” (obra citada, página 44).

Agora, cem anos passados, quando, eufóricos festejamos, relembramos, com extrema gratidão, todos aqueles que nos legaram tão precioso acervo, cumprindo-nos preservá-lo a todo custo, a fim de que atual e as futuras gerações dele possam usufruir!

O mês de novembro ensejará outros tributos em hosanas a própria História do Centro de Letras do Paraná, certo que os Poderes Legislativos Municipais e Estaduais, homenagearão o nosso Centenário, como consta da programação respectiva.

Urge, porém, que os caríssimos confrades e confreiras prestigiem todos os eventos, tal como tem acontecido com aqueles até agora realizados. 

PROGRAMAÇÃO

DIA 06
16 HORAS
Reunião da Diretoria e do Conselho Fiscal.

17 HORAS
Tribuna Livre. Oportunidade para manifestação dos associados e convidados.

DIA 13
17 HORAS
Palestra do presidente da Rádio/TV Educativa, Dr. Paulo Vítola.
Tema: “O papel da Rádio e Televisão Pública na cultura em geral”.

17hrse45min.
Lançamento da “Coleção Tagarela, composta de cinco livros de história infantil”.
Autora: Poetisa e confreira Adélia Maria Woellner.

DIA 20
09hrse30min.
Homenagem da Câmara Municipal de Curitiba ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Palácio Rio Branco.

17 HORAS
Terça da Poesia, a cargo da Academia Paranaense da Poesia.

18 HORAS
Término do prazo para indicação de novos associados, na forma estatutária.

DIA 27
14hrse30min.
Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Edifício Anibal Khury, Praça Nossa Senhora do Salete, Centro Cívico.

Luís Renato Pedroso
Presidente.

Candy Saad (Nomeação no Portal CEN)

A Direção do Portal CEN
“Cá Estamos Nós”
Carlos Leite Ribeiro – Carmo Vasconcelos – Henrique L. Ramalho
Tem o prazer de nomear a Escritora e Poetisa
Candy Saad
para o cargo de:
ASSESSORA DE DIVULGAÇÃO CEN E APOIO ÀS ARTES DO PORTAL CEN
“CÁ ESTAMOS NÓS”
Esta nomeação é, também, um reconhecimento pelo trabalho de divulgação do CEN, que temos vindo a observar desempenhado dedicadamente pela prezada poetisa, apenas a título de gentileza, e pelo qual manifestamos a nossa gratidão.

Competirá a este título, para além da divulgação de todas as Edições do CEN, a captação de novos autores e a elaboração de eventuais Antologias Literárias, bem como a continuação do seu apoio às artes no CEN.


Em 05 de Novembro/2012
Pela Direcção do Portal CEN - "Cá Estamos Nós",
Carlos Leite Ribeiro
Responsável pelo Portal CEN
www.caestamosnos.org

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Raquel Ordones /MG (Meu Mar de Amar)


Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 3



51-É glória, imortalidade,
 o AMARANTO entristecido;
 aos heróis da humanidade
 no sepulcro é oferecido.

52-Imponente como o sol,
 a Glória, a Fé e Dignidade,
 paixão louca é GIRASSOL
 pleno de felicidade.

53-BOTÃO-DE-OURO todos querem,
 disso nós temos certeza;
AMARELO...alguns preferem,
 mas simboliza a avareza.

54-Símbolo da permanência
 e portal da eternidade,
SEMPRE-VIVA, na existência,
 reporta à imortalidade.

55-PINHEIRO-sobremaneira,
 conserva o verde no inverno,
 tal qual BAMBU e AMEIXEIRA,
 simboliza o amor eterno.

56-As flores da LARANJEIRA
 traduzem felicidade,
 mas para a noiva faceira
 provocam fecundidade.

57-Se AÇAFLOR você ganhar,
 saiba que é sinal de alerta.
 Traz tempero a amarelar:
 fim de amor tem porta aberta.

58-TAGETES avermelhadas,
 com CRAVOS são parecidas,
 se, diariamente, molhadas,
 por todo ano estão floridas.

59-PIETROS são margaridas,
 em vasos...Que coisa bela!...
 Tem pétalas coloridas
 vermelha, branca e amarela.

60-ESCABIOSA traz saudade
 que enfeita caixões na morte,
 também afasta a maldade
 trazendo-nos toda a sorte.

61-Simbolizando a mentira,
 a BUGLOSA é falsidade,
 desperta no mundo a ira,
 pois é contrária à verdade.

62-CICLAME é flor colorida
 que só floresce em setembro,
 é a XIMENÉSIA...da vida
 é a flor linda de novembro.

63-DÍCTAMO pode brindar
 o nascimento da vida,
 se o tiver pode mandar,
 para pessoa querida.

64-Quando eu morrer, solidão
 deixe a MALVA no jardim
 para que eu tenha a ilusão
 de alguém a chorar por mim.

65-Na Praça da Liberdade,
 as DAMAS-DA-NOITE exalam...
 escondem-se na humildade,
 mas seus perfumes nos falam.

66-Simboliza amor secreto
 se a ACÁCIA for AMARELA,
 mas se for ROSA, discreto
 mostra a elegância e é bela.

67-CIPRESTE?-Fúnebre ação
 na vida é longevidade,
 evoca a ressurreição
 e a incorruptibilidade.

68-O CARDO tem floração
 mas é uma planta espinhosa:
 simboliza a desunião,
 na discussão, é famosa.

69- AMBROSIA, manjar dos Deuses,
 néctar da imortalidade,
 ingerido muitas vezes,
 produz a vitalidade.

70-A BÉTULA inspira a vida.
 Tê-la sempre, ai quem me dera!
 Na Rússia é a mais escolhida:
 simboliza a primavera.

71-AZALÉIA dá romance,
 só quando branca é a flor.
 Rosada é a outra nuance
 da natureza e do amor.

72-A medicinal CIDREIRA
 é símbolo da bondade,
 usada sobremaneira,
 posta em infusão...a dor... cura.

73-Quando "Ajax" faleceu
 em Tróia, em tempos de guerra,
ESPORINHA apareceu
 pôs seu sangue sobre a terra.

74-FLOR-DE-MAIO representa
 a beleza virginal,
 que qualquer maldade enfrenta
FLOR-DE-SEDA é sempre a tal.

75-Na terra do "sol nascente"
CRISÂNTEMO tem tradição.
 Do Japão pra toda a gente,
 simboliza a perfeição.

76-HELIOTRÓPIO tão amável,
 ninfa que Apolo adorou.
 Clítia, sendo insaciável
 Zeus, em flor a transformou.

77-VIUVINHA ou "Quem-me-quer"
 tem seus frutos coloridos,
 saudades roxas:-Quem quer,
 dividir dias sofridos?

78-Quatro folhas? TREVO tem,
 todas com felicidade,
 amor e sorte também:
 -Um sonho na realidade!

79-As ROSAS cristalizadas
 lindos bolos a enfeitar,
 secas bem adocicadas,
 agradam ao paladar.

80-AMOREIRA vem do Amor
 dos jovens apaixonados.
 Sangue verteram.Que horror!
 Morrendo os dois abraçados.

81-Zéfiro se apaixonou,
 por ANÊMONA e sem dor,
 sua esposa o transformou:
 -E que bela ninfa, em flor!

82-O JACINTO é flor de afeto
 simbolizando a constância.
 Do amor de Apolo repleto
 é a flor da fé e da arrogância.

83-Vênus, brilhante e formosa,
 pelo ADÔNIS, sem ação,
 viu nascer, toda chorosa,
 a flor da separação.

84-Com delicioso perfume,
 o GERÂNIO representa
 vitalidade sem lume.
 Toda a estupidez lamenta.

85-Muito belo e delicado,
HIBISCO é flor tropical,
 em clima bem temperado,
 tendo amor não se dá mal.

86-OLIVEIRA é branca flor,
 de paz, purificação.
 na China...por seu valor:
 gentileza no Japão.

87-É símbolo do Advogado,
CRAVO da felicidade,
 com VERÔNICA ao seu lado
 esquerdo...é felicidade.

88-Com JUCERI faz compressa...
 É bálsamo que alivia!
 Cicatrização apressa
 tira a dor dia após dia.

89-É muito usada na guerra:
 -A AQUILÉIA traz saudade.
 Planta nativa da serra;
 que seca é adversidade.

90-Quero da AGÁVEA a certeza
 do teu amor duvidoso,
 mesmo com toda a incerteza
 tens meu amor carinhoso.

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 719)



Uma Trova de Ademar  

Na construção do desgosto 
de um casamento desfeito, 
criei rugas no meu rosto 
e pus mágoas no teu peito... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Ademar é um mensageiro,
mais que isso: um porta-voz.
É quem passa o ano inteiro
dizendo as trovas por nós! 
–José Ouverney/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Sem teus beijos sedutores, 
procurei bocas errantes... 
Só revolta e dissabores 
encontrei nesses instantes. 
–Ubiratan Queiroz/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011 - ATRN-Natal/RN 
Tema - VERTENTE - 3º Lugar 

Numa montanha de mágoas
há uma vertente escondida
por onde correm as águas
dos prantos da minha vida!
–Renato Alves/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Fortuna bem merecida, 
nas mãos de quem faz o bem, 
multiplica os bens da vida, 
depois divide o que tem. 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

U m a P o e s i a  

A música adentra n’alma 
enche a vida de emoção, 
inspira a cena da calma 
tem toda repercussão; 
começa pelos ouvidos, 
depois por outros sentidos 
termina no coração. 
–Marcos Medeiros/RN– 

Soneto do Dia  

JUDEU ERRANTE. 
–Rogaciano Leite/PE– 

Somente hoje, tristíssimo, descubro 
(pelas poucas notícias que me envia) 
a falência das juras da judia 
cujo nome de beijos inda cubro. 

Naquela noite azul do mês de outubro, 
quando a boca de tâmara me abria, 
gulosamente meu amor bebia 
na carne fina de seu lábio rubro. 

“Juro ficar cristã!” – disse, a meus pés. 
E eu jurei, pelas Tábuas de Moisés, 
que seria um hebreu – dess’hora em diante... 

Vejo agora a loucura do meu ato: 
a judia mentiu!... Mas, eu, de fato, 
serei – por seu amor – Judeu Errante! 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cláudia Dimer/ RS (O Menino do Farol)


Olivaldo Junior/ SP (Trovas Sobre Drummond)


Dia 31 de outubro Carlos Drummond de Andrade completaria 110 anos de vida. Vida, para um poeta, é artigo de duplo sentido, posto que a vida é de todos, menos dele. O poeta usa a vida que flui, mas nem sempre a usufrui. Carlos, onde quer que esteja, torce por nós. 

Cento e dez anos Drummond
estaria completando
caso fosse de bom tom
não morrer de vez em quando...

Quando a vida vira tema,
vivo, sim, um grande impasse:
sete faces de um poema
desafiam minha face.

Uma pedra no caminho
fez Drummond poetizar;
um poeta faz seu ninho
no rochedo que encontrar.


De Itabira para o mundo,
o Poeta se anuncia:
todo mundo é mais profundo
quando vive em Poesia.

Quando “alguma poesia”
faz alguém melhor viver,
vive a vida, o dia a dia,
para a “pedra” desfazer.

Vide o “Caso do vestido”,
o seu nobre ensinamento:
a mulher, sem o marido,
se “vestiu” de sentimento.

Fonte:
O Autor

Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 2


21-Licor de CRAVO é gostoso,
 seu vinho é sensacional.
 Mel de ROSA é saboroso
 e também...medicinal.

22-Se eu a PERPÉTUA cheirasse,
 não teria mais saudade.
 Roxa...talvez me ofertasse
 a eterna felicidade.

23-No jogo do bem-me-quer,
MARGARIDA é virgindade,
 dispensando o MAL-ME-QUER
 é inocente de verdade.

24-Uns brotos de azul-roxeado
 tem o AGAPANTO em novembro...
 É o buquê mais cobiçado
 que se oferece em dezembro.

25-Lá na roça ou na cidade,
 qualquer mocinha faceira
 demonstra a fecundidade
 nas flores da LARANJEIRA.

26-A SAUDADE ROXO-ESCURA
 só tristeza nos inspira
 mas em função de uma jura,
SAUDADE BRANCA é mentira.

27-Simbolizando a amargura
 que nos traz alguma ausência,
ABSINTO, florzinha pura,
 tem muito aroma na essência.

28-Se és MIOSÓTIS, lindo assim
 e falas de amor sincero,
 imploro-te: nasce em mim,
 pois amar é o que mais quero.

29-Por ser medicamentosa
 tem mil virtudes e assim,
 a SÁLVIA, além de formosa,
 é a médica do jardim.

30-Mãe do ópio, mãe ainda,
 desse mal que ainda existe,
 a PAPOULA é muito linda,
 mas de uma lindeza triste.

31-Lá na China, meus Senhores,
 o remédio oferecido
 contra eczemas e tumores
 é MILEFÓLIO cozido.

32-A CAMÉLIA sedutora
 é a flor do arrependimento
 e do perdão...É a doutora
 diplomada em sentimento.

33-Ah, se o CRAVO amor revela,
 todo amor, quando se inflama,
 põe um cravo na lapela
 no coração de quem ama.

34-A ACÁCIA, branca ou vermelha,
 é um arbusto ornamental,
 em cujo nome se espelha
 uma amizade imortal.

35-Seu cor-de -rosa discreto
 muita elegância revela;
 mas fala de amor secreto,
 se for ACÁCIA AMARELA.

36-ORQUÍDEA tem, na verdade,
 lá na CHINA o seu ritual:
 desperta a sensualidade
 e a beleza espiritual.

37-Tem DEDALEIRA a harmonia,
 que Jesus tanto pregava,
 lembra o dedal de Maria
 que os "paninhos" costurava.

38-Quando a vida é mal vivida,
 por ser difícil e dura,
VALERIANA ressequida
 tem perfume, acalma e cura.

39-ARTEMÍSIA, flor ativa,
 filha de "Artêmis" dileta,
 mas, ciumenta e vingativa,
 sugere raiva secreta.

40-No dizer dos trovadores
ALELIS eram colhidas
 no passado, como as flores,
 perfumavam suas vidas.

41-AMARÍLIS e AÇUCENA
 são de família real
 e cheirá-las vale a pena:
 -seu perfume é sem igual.

42-Brancas lembram compaixão,
 mas, azuis, as CAMPAINHAS,
 parecem consolação,
 consolando as mágoas minhas.

43-Se tens a pele sardenta,
 passa-lhe frescas BONINAS,
 que chegarás aos setenta
 mais menina que as meninas.

44-O TREVO, eterna Trindade,
 Pai, Filho e Espírito Santo,
 na Grécia, é fertilidade,
 no mundo-ausência de pranto.

45-Em face a males ou dores,
 minha doença pouco dura,
 pois peço a bênção das flores
 e a ROMÃZEIRA me cura.

46-O TRIGO, que é fruto e flor,
 é sonho e também alento:
 me enlevo com seu candor,
 com seu sabor me alimento.

47-DAMAS-da-NOITE é o remédio
 que me traz felicidade
 e me liberta do tédio
 na Praça da Liberdade.

48-Pela ninfa castigado,
 por vaidade, com certeza,
NARCISO foi condenado
 a perder toda a beleza.

49-MADRESSILVA é trepadeira
 de flores bem perfumadas!
 No verão, quando altaneira,
 tem cores mais variadas.

50-As TROMBETAS anunciaram
 que, em Belém, o Rei nasceu,
 a estrebaria enfeitaram
 e "SALPIGLOSSIS" cresceu...

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 718)



Uma Trova de Ademar  

Para contar sua história, 
a pobre cigana cria 
uma verdade ilusória 
que ela mesma fantasia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Se hoje não tens um dos pés, 
não lhe faz falta, porque, 
pelo poeta que és, 
o céu já mora em você! 
–A. A. de Assis/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Cristo fez legado forte 
com sua paixão sofrida, 
pois da sentença de morte 
nos deu certeza de vida. 
–Hélio Pedro/RN– 

Uma Trova Premiada  

2001   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   DETALHE   -   4º Lugar 

Toda paixão se assemelha
à palha, por um detalhe:
basta uma simples centelha,
para que a chama se espalhe...
–Sérgio Ferreira da Silva/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Quando a chuva molha o agreste 
outro pranto molha o chão. 
- É muito cabra-da-peste 
chorando de gratidão!... 
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Pra melhorar este mundo 
eu dou duro na poesia... 
Planto as sementes do verso 
no chão da sabedoria, 
e, na colheita da mente, 
dou ao mundo de presente 
um verso meu todo dia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

NINGUÉM... 
–Darly O. Barros/SP– 

“Ninguém! nenhuma só visita veio!” 
soluça uma roseira inconformada 
e esse refrão repete em seu gorjeio, 
nas ramas do arvoredo, a passarada... 

Unem-se ao coro as flores do passeio, 
a verde relva, a brisa perfumada 
e um céu cinzento, enquanto, bem no meio, 
do viço exuberante da esplanada, 

quando Finados quase já se encerra, 
e uma garoa fina molha a terra, 
por ironia de um destino ingrato, 

o jardineiro desse Campo Santo 
repousa numa cova em que, no entanto, 
em vez de alguma flor, só cresce mato...

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 19 de novembro: Mitologia Folhetinística


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

Se a mitologia dos povos antigos tivesse dado formas de mulher, de fada ou ninfa, às semanas, como o fez com as horas, não me veria às vezes em tão sérios embaraços para escrever esta revista.

Em lugar de estar a cogitar idéias, a parafusar novidades, e a lembrar-me de fatos e coisas passadas, pediria emprestado a algum dos tipos da  grande galeria feminina as feições e os traços para desenhar o meu original.

Assim, quando me viesse uma semana alegre e risonha, mas muito inconstante, com uns dias cheios de nuvens, e outros límpidos e brilhantes, iluminados pelos raios esplêndidos do sol, uma semana elegante de teatros e bailes, imaginaria alguma fada de formas graciosas, de olhos grandes, com uma certa altivez misturada de uma dose sofrível de loureirismo.

Vestiria a minha fada de branco com algumas fitas cor-de-rosa, pedir-lhe-ia que me contasse com toda a graça a travessura do seu espírito os segredos de suas horas e de seus instantes

Ao contrário, se fosse uma semana bem calma e bem tranqüila, em que os dias corressem puros e serenos, em que fizesse umas belas noites de luar bem suaves e bem calmas, de céu azul e de estrelas cintilantes, lembrar-me-ia de alguma moreninha da minha terra, de faces cor de jambo, ojos adormidillos, como dizem os espanhóis.

Então escreveria uma poesia, um poema, um romance ou um idílio singelo, e livrava-me assim de meter-me em certas questões graves, e importantes que ocupam a atualidade. Faria como o poeta; e limitar-me-ia às pequenas coisas que me tivessem interessado. Nugae, quarum pars parva fuit.

É verdade que, quando me acertasse cair uma semana como esta passada, onde iria eu procurar um tipo, um modelo que a caracterizasse perfeitamente? Lembro-me de uma mulher, que descreveu Byron, a qual, com algumas modificações, talvez me pudesse bem servir para o caso.

Seu único aspecto (da mulher) valia um discurso acadêmico; cada um de seus olhos era um sermão; na sua fronte estava estampada uma dissertação gramatical. Enfim, era uma aritmética ambulante. Dir-se-ia uma correspondência ou alguma velha polêmica que se houvesse despegado do seu competente jornal, para andar pelo mundo a discutir e argumentar.

Com efeito, só este tipo imitado de d. Juan poderia dar uma ligeira idéia da semana passada, a qual num formulário de botica podia bem traduzir-se pela seguinte receita: uma dose de sol, duas de chuva e três de maçada. Admirável receita para curar a população desta corte da febre de novidades que tem produzido a guerra do Oriente.

Os antigos, porém, que fizeram tanta coisa boa, esqueceram-se dessa invenção de personificar a semana, e por conseguinte não há remédio, senão deixar as comparações e voltar ao positivo da crônica, desfiando fato por fato, dia por dia.

Aposto que já estais a rir deste meu projeto, perguntando com os vossos botões que fatos são estes que descobri na semana passada, que acontecimentos se deram nestes dias, que valham a pena, não já escrever simplesmente, mas contar.

Ides ver. Em primeiro lugar, contar-vos-ei que a semana teve sete dias e sete noites, tal e qual como as outras. Destes sete dias muitos foram de chuva, e alguns estiveram tão belos, tão frescos, tão puros, que sentia-se a gente renascer com o sol que vivificava a natureza. As noites foram quase todas de inverno e de teatro.

No Provisório estreou a nova cantora, completando-se assim o número das três deusas que devem disputar o pomo de ouro, o qual também foi pomo da discórdia. O público dilettante está por conseguinte arvorado em Paris; e os poetas já se prepararam para cantar a nova Ilíada e as causas terríveis de tão funesta guerra. Et teterrimas belli causas

Em São Pedro de Alcântara o aparecimento de João Caetano produziu uma noite de entusiasmo e um novo triunfo para o artista distinto, único representante da arte dramática no Brasil.

Infelizmente as circunstâncias precárias do nosso teatro, ou outras causas que ignoramos, não têm dado lugar a que João Caetano forme uma escola sua, e trate de elevar a sua arte, que no nosso país ainda se acha completamente na infância.É a este fim que deve presentemente dedicar-se o ator brasileiro. Sua alma já deve estar saciada destes triunfos e dessas ovações pessoais, que são apenas a manifestação de um fato que todos reconhecem. Como ator, já fez muito para sua glória individual; é preciso que agora como artista e como brasileiro trabalhe para o futuro de sua arte e para o engrandecimento de seu país.

Se João Caetano compreender quanto. É nobre e digna de seu talento esta grande missão, que outros, antes de mim, já lhe apontaram; se, corrigindo pelo estudo alguns pequenos defeitos, fundar uma escola dramática que conserve os exemplos e as boas lições do seu talento e a sua experiência, verá abrir-se para ele uma nova época.

O governo não se negará certamente a auxiliar uma obra tão útil para o nosso desenvolvimento moral; e, em vez de vãs ostentações, de coroas e de versos que se procuram engrandecer unicamente pelo assunto, terá o que lhe tem faltado até agora, o apoio e a animação da imprensa desta corte.

Uma das coisas que têm obstado a fundação de um teatro nacional é o receio da inutilidade a que será condenado este edifício, com o qual decerto se deve despender avultada soma. O governo não só conhece a falta de artistas, como sente a dificuldade de cria-los, não havendo elementos dispostos para esse fim.

Não temos uma companhia regular, nem esperanças de possuí-la brevemente. A única cena onde se representa em nossa língua  ocupa-se com vaudevilles e comédias traduzidas do francês, nas quais nem o sentido nem a pronúncia é nacional

Deste modo ficamos reduzidos unicamente ao teatro italiano, para onde somos obrigados, se não preferimos ficar em casa, a dirigirmo-nos todas as noites de representação, quer cante a Casaloni, quer encante a Charton, quer descantem as coristas. Tudo é muito bom, visto que não há melhor.

Já algumas vezes temos censurado a diretoria do teatro por certas coisas que nos parece se podem melhorar sem grandes sacrifícios. Hoje cumpre-nos fazer-lhe uma justiça, e até um elogio, que ela merece sem dúvida alguma, pela resolução que nos consta ter tomado de reparar o edifício e ilumina-lo a gás.

A polícia também tem-se esmerado em fazer cessar as cenas tumultuárias e desagradáveis que se iam tornando tão freqüentes naquele teatro, e que, se continuassem, acabariam por afugentar dele os apaixonados da música de batuque.

Não é, porém, unicamente no teatro que a polícia tem dado provas de atividade. Efetuou-se esta semana a prisão de um moedeiro falso, que se preparava a montar uma fábrica dessa indústria lucrativa.

O crime de moeda falsa é um dos mais severamente punidos em todos os países, porque ameaça a fortuna do Estado e a dos particulares. Entretanto não acho razão no legislador em tr punido unicamente o falsificador de moeda, deixando impunes muitos outros falsificadores bem perigosos para a nossa felicidade e bem-estar.

Todos os dias lemos nos jornais anúncios de dentistas, de cabeleireiros e de modistas, que apregoam postiços de todas as qualidades, sem que a lei se inquiete com semelhantes coisas.

Entretanto imagine-se a posição desgraçada de um homem que, tendo-se casado, leva para casa uma mulher toda falsificada. E que de repente, em vez de um corpinho elegante e mimoso, e de um rostinho encantador, apresenta-lhe o desagradável aspecto de um cabide de vestidos, onde toda a casta de falsificadores pendurou um produto de sua indústria.

Quando chegar o momento da decomposição deste todo mecânico – quando a cabeleira, o olho de vidro, os dentes de porcelana, o peito de algodão, as anquinhas se forem arrumando sobre o toilette – quem poderá avaliar a tristíssima posição dessa infeliz vítima dos progressos da indústria humana!

Nem ao menos as leis lhe concedem o direito de intentar uma ação de falsidade contra aqueles que o lograram, abusando de sua confiança e boa-fé. É uma injustiça clamorosa que cumpre reparar.

Um homem qualquer que nos dá a descontar uma letra de uns miseráveis cem mil réis, falsificada por ele, é condenado a  uma porção de anos de cadeia. Entretanto aqueles que falsificam uma mulher, e que desgraçam uma existência, enriquecem e riem-se à nossa custa.

Deixemos esta importante questão aos espíritos pensadores, aos amigos da humanidade. Não temos tempo de tratá-la com a profundeza que exige; senão resumiríamos o quadro de todas as desgraças que produzem não só aquelas falsificações do corpo, mas também muitas outras, como um olhar falso, um sorriso fingido, ou uma palavra mentida. 

Demais, temos ainda de falar de uma outra medida do chefe de polícia a respeito dos cães, e que interessa extraordinariamente a segurança pública. O que cumpre é zelar a sua execução para que não se torne morta, e faça cessar o perigo que corremos todos os dias de encontrarmos a cada momento na rua ou no passeio a morte do hidrófobo.

Afonso Karr levou dois anos a escrever para conseguir que a polícia de Paris adotasse esta útil medida de segurança pública a que ordinariamente damos tão pouco cuidado, e muitas vezes mesmo revoltamos por um mal entendido sentimento de humanidade.

Um dos maiores obstáculos que ele encontrou sempre foram certos prejuízos, certos erros consagrados e que todo o mundo repete, sem refletir, nem compreender o sentido das palavras que profere.

Assim, desde a antiguidade se diz que o cão é o amigo fiel do homem, o tipo e o modelo da amizade.

Este consentimento unânime, diz o escritor francês, é uma singular revelação do caráter do homem. O cão obedece sem reflexões, se submete a todos os caprichos e a todas as vontades sem distinção; quando o castigam, em vez de se defender, roja-se aos pés de seu senhor e caricia a mão que o castigou. E é isto o que o homem chama um amigo!

Já se vê que o sentimento não é tão nobre como o parece a princípio. Todas estas vãs declamações dos poetas sobre esse animal, que dizem representar o símbolo da fidelidade, dão uma bem mesquinha idéia do coração humano.

Não é pois, o prazer de possuir um autômato, que se move à nossa vontade, que pode compensar um dos maiores riscos a que estamos sujeitos, e para o qual olhamos indiferentemente.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.