domingo, 3 de fevereiro de 2013

Amosse Mucavele (A Lavoura do Tempo)


Luís Serguilha
A  Lavoura do Tempo: A Filosofia das Luzes Ontológicas do Distante Universo Poético Serguilhiano e a Renovação Estética do Futuro da Linguagem Gnósica do Futuro Contínuo  Ou o Conhecimento e a Experiência em KOA’E.  
                                                                                            Para Cláudia Carvalho Machado e   Aurelino Costa
                                                      
                                                      << O desconhecido é quase a nossa única tradição>>
                                                                                       José Lezama Lima, A partir de la poesia

Se tomarmos a “arte’’ segundo Jürgen Habermas como poder de reconciliação que aponta para o futuro, podemos dizer desde logo que estamos perante um vulcão de vozes a romperem paralelamente na sinfonia harmônica da linguagem “poética” e do “ objecto estético” universal na óptica de Mikel Dufrenne.

Em KOA’E a poesia assume-se desde o inicio ou desde o fim pois é difícil discernir onde ela começa e onde termina, mas tem algo que assumo com toda propriedade, que ela é eterna, nasce cresce e chega até aos nossos olhos como “o objecto estético no estado de um possivel aguardando a sua epifania”( op.cit. por  Carlos Nogueira da Silva – O objecto estético como mundo, la phénomenologie de l’experience esthétique l,de Mikel Dufrenne,in Phainomenon, Revista de fenomenologia, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Edicões colibri 2001), há uma notável pluralidade de “contextos” deste novo “texto” onde multiplicam-se vivências com o pensamento “pós-moderno” e o “ conflito com o tempo” “pós-utópico”.

Cláudio Daniel ( Protocolos Críticos-Itaú Cultural 2009) no ensaio “Geração 90: uma pluralidade de poéticas possíveis” ressalta que “ a poesia (...) manifesta essa tensão na linguagem, construção estética que dialoga com história, pessoal e colectiva, ao mesmo tempo que afirma a sua própria identidade com artefacto artístico”.

Segundo Ernesto Melo e Castro em resposta a eterna, conflituosa e conflituante questão: O que é poesia?  feita na Casa das Rosas do Centro Cultural de São Paulo, pelo poeta Edson Cruz:

- A poesia corporiza em textos contraditórios ondas energéticas, as que nos atacam e destroem mas também  as construtivas que nós (só nós os poetas) sabemos e podemos transformar, enviando para destinatários universais que as saberão, ou não, descodificar e entender...lá onde quer que se encontre e como quer que entendam  aquilo que esta escrito...

Caracteristica consideravelmente patente no poema a seguir:

A fantasmagoria dos grânulos fluviais inflama AS MANGAS

BIFURCADAS dos salmonetes antropológicos
                             como as asparas das povoações a desembaraçarem 
os circuitos      exaustos  das     estátuas  dos   bandos-insectos-
alienigenas
                         sobre os anzóis  dos equilíbrios  das portarias
mumificadas  que refractam   os veios extensos  das putrescências
das solenidades (...) pag. 374

Creio que a mesma “ fantasmagoria”que Luís Serguilha se refere é a mesma que “inflama” sobre a “antropologia das povoações” que habitaram a cidade de KOA’E degradada e levada abaixo por um vulcão, há aqui uma “arquitectura hieróglifica” que tenta (re)construir ou ressuscitar  a cidade no meio do escombros da “consciência do tempo” que a cada traço apresenta fragmentos 

(...) na musica poderosa dos utensílios-plasmas-dos-lances-fluorescentes
                      como as venialidades das esporas terrestres
                                      sobre os sigilos das tranqueias arbóreas    pag.374 e 375
                                      
A música tocada em KOA’E escuta-se no silêncio dos ouvidos da distância, onde cria um espaço de concordância ( Einverständnis- em alemão) entre a orquestra, o fisico, o matematico, o escritor, o cineasta, e outros, assim sendo “produz-se uma relação de reciprocidade consciente das pessoas (dos leitores-grifo meu) e, ao mesmo tempo, uma relação unitária das mesmas( dos mesmos-grifo meu) a um mundo circundante comum” disse Edmund Husserl. Nota-se a transposição (Übersetzen- em alemão) de sonoridades e ritmos para pinturas com fotos e nomes dos pensadores modernos, traz consigo a “poesia como fim último da humanidade” onde subjaz o retorno da nova “arqueologia do ser e estar” camuflada por um discurso renovado estéticamente pela consciência poético-pensante-totalizante que o passado almeja tê-lo no seu repertório, o presente estranha a gigantesca imagem, a forma como as mãos  de Serguilha (pro)criam o mundo e o futuro será que esta preparado para ver estes “reflexos coloridos”? Para assistir a celebração do “fim da arte” ?  O matrimônio quântico, sentimental, ingênuo entre a teologia, filosofia, artes, música, matemática, quimica e fisica?

Em suma existem  versos, conversas, encontros do pensamento universal em KOA’E tais como estes:

(...) a perspectiva-dos-fragmentos de Godard e as abreviaturas-das-armações-dos-nómadas de Kusturica (...) pag.25

(...) a progressão paciente do ar escoa-se nos despojos da ferida dos teoremas ( de Pasolini e Pitágoras) (...) pag. 35

 (...) as celas dos exílios-de BRECHT-Pavese expandem a direcção profundissima do húmus-gestual(...) pag.73

Importa agora compreender que em KOA’E  estes encontros aqui me referi e o “texto” poema  acima lido mostra de forma clara e objectiva a ideia de “flecha de sentido” na feliz expressão de Pierre-Jean Labarriére “no que esta imagem denota de força e tensão, apontando e devotando o próprio  texto ao tempo”(Isabel Matos Dias, Tradução: palimpsestos e metamorfoses in Heidegger, Linguagem e Tradução, Colóquio Internacional, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2002)   que logo no primeiro olhar  ganha este duplo sentido “a produtividade e a intertextualidade” disse Julia Kristeva. Daí que “o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo”(Roland Barthes, o prazer de texto) e torna-se um espaço polivalente e polifónico ( Isabel Matos Dias, op.cit)  onde os polos ( a ciência, a teologia, a filosofia, arte,a literatura ) confluem na tonalidade desta “iluminação profana”( W. Benjamin) e na totalidade desta Einbildungskraft( força de formação em imaginação) tal como pedia Schelling.

A leitura e a visão do mundo em KOA’E transforma toda cadeia de conceitos sobre o estatuto da poesia e do poeta em um mecanismo de conhecimento metafisico ( no contexto Kantiano) e da experiência ontológica ( na visão do Aristoteles) do “objecto estético”.

Afinal qual é o papel do poeta na óptica de Serguilha?

(...) O poeta manifesta a sua origem na cegueira, no desassossego da luz que é projectada na metamorfose polimórfica-vibratória regenerando os ecrâs  da reciprocidade do animal-poema com o movimento da imersão fulgurante como a gênese da recomposição do abismo a centralizar-se na profundidade, na exteriorização da descoberta absoluta do mundo (...) pag 122

(...) A visão-outra do poeta emancipa-se no silêncio, liberta-se no conhecimento caótico, no anticonvencionalismo porque é selvagem, não aceita interpretações ou qualquer tipo de determinações sociais, politicas, religiosas porque a efervescência da sua linfa-linguagem é única e sagrada ao elevar/aprofundar a regeneração/purificação cristina do mundo, sacralizando-a como um mosaico-corpo-não-efêmero, formador de vertiginosos rizomas, de disseminações vulcânicas. (...) pag. 123

Assim em KOA’E  “o poeta é selvagem” e a sua poesia caminha no silêncio da distante (in)consciência poética do tempo e da (in)temporalidade profética do mundo, ele usa uma linguagem ciclica- magnética-digladiadora-destruitiva-construitiva-poderosa-rizómatica, sua “única e sagrada” “atitude para a mensagem enquanto tal”( Roman Jacobson, Linguística e Poética)

E o que é  poesia para Serguilha?

 (...) A poesia reconstitui-se na língua anterior ao conhecimento e esculpe as suas sismologias-tapeçarias no mundo-outro como uma partilha do desassossego, uma sanguinidade do poema-poeta-poesia-liberdade na exploração mutual do enigma, na germinalidade do deserto (...) pag.109

(...) A poesia fortalece a energia transmutadora, a expressão dos ecossistemas da não evidência, da eclipse, a multiplicabilidade das prespectivas que interrogam a busca da unidade perdida.(...) pag. 116

Se para K. Marx “a finalidade dos trabalhadores é de produzir para viver” e qual é/será a finalidade dos poetas?

Para  Luis Serguilha a finalidade dos poetas é de procurar “ a área primordial da metamorfose para se unir ao cântico transmissor  do livro natureza” .pag 109
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Amosse Mucavele nasceu em 1987 em Maputo onde vive, sonha em ser poeta, ensaísta, antologiador, tradutor, cronista, Director do projecto de divulgação Literária Esculpindo a Palvra com a Língua , é chefe da redacção da Revista Literatas-Revista de Literatura moçambicana e lusófona,membro do Conselho Editorial da Revista Mallarmagens-Brasil, membro da academia de Letras de Teófilo Otoni-Minas Gerais, membro da International Writer association (IWA-Ohio-USA) possui textos publicados em diversos jornais do mundo Lusófono, representou Moçambique na 1 Raias Poéticas- Vila Nova de Famalicão-Portugal
Email- amosse1987@yahoo.com.br,                arqueologiadapalavra@gmail.com 

Fonte:
O autor

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Contos do Folclore Brasileiro (A Formiguinha)


 Diz que era um dia que era uma formiguinha, foi comer pela manhã. Quando ela estava comendo, a neve pegou o pé. Ela disse:

 — Neve, tu é tão valente
 Que o meu pé prende?

 A neve disse:

 — Mais valente é o sol
 Que me derrete

 Ela foi à procura do sol:

 — Ó, sol, tu é tão valente
 Que derrete a neve
 Que o meu pé prende?

 O sol disse:

 — Mais valente é a parede
 Que me encobre

 Ela foi para a parede:

 — Ô, parede, tu é tão valente
 Que encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve o meu pé prende?

 A parede disse:

 — Mais valente é o rato
 Que me rói

 Ela foi à procura do rato:

 — Ô, rato, tu é tão valente
 Que rói a parede
 A parede encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve o meu pé prende?

 O rato disse:

 — Mais valente é o gato
 Que me come

 A formiguinha disse:

 — Ô gato, tu é tão valente
 Que come o rato
 O rato rói a parede
 A parede encobre o sol
 O sol derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 Ele disse:

 — Mais valente é a cobra
 Que me morde

 — Ô, cobra, tu é tão valente
 Que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o pau
 Que me mata

 — Ô, pau, tu é tão valente
 Que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o fogo
 Que me queima

 — Ô, fogo, tu é tão valente
 Que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 A neve que o meu pé prende

 — Mais valente é a água
 Que me apaga

 — Ô, água, tu é tão valente
 Que apaga o fogo
 O fogo queima o pau
 O pau que mata a cobra
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 A neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o boi
 Que me bebe

 — Ô, boi, tu é tão valente
 Que bebe a água
 A água apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é o homem
 Que me mata

 — Ô, homem, tu é tão valente
 Que mata o boi
 O boi que bebe a água
 A água que apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 — Mais valente é Deus
 Que me criou

 — Ô, Deus, vós é tão valente
 Que mata o homem
 O homem que mata o boi
 O boi que bebe a água
 A água que apaga o fogo
 O fogo que queima o pau
 O pau que mata a cobra
 A cobra que morde o gato
 O gato que come o rato
 O rato que rói a parede
 A parede que encobre o sol
 O sol que derrete a neve
 E a neve que o meu pé prende?

 Ele disse:

 — Ô xente!... que desaforo você vir aqui...

 Aí Deus pegou, deu um cocorote — pá! — na cabeça da formiguinha... se retorceu toda, quando caiu em baixo... esses formigueiros todos que têm pelo mundo foi gerado dessa formiguinha. 

Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

Adonias Filho (O Largo da Palma) 4. Um Corpo Sem Nome


Foco narrativo

 Narrativa em primeira pessoa. Narrador não se identifica: “quem sou, isto não importa”. Associação: presente – passado – identificação:

 “Hoje, dois meses após a morte da mulher”...

 "Ontem, quando reencontrei o inspetor na Rua Chile, quase dois meses após o meu depoimento na Delegacia da Polícia...” 

 “Dezoito anos, pois, a minha idade. (...) Loura e bonita, os cabelos corridos, os lábios finos, os seios pequenos e cheios, muito azul nos olhos. Não a vi, nem a ela e nem ao amigo, quando me levantei. E, ao levantar-me, já gritava: 
 - Eu quero esta mulher!”

Crítica social - "A cafetina a expulsa do bordel porque ela “já não dá no couro”, não arranja mais homem".

 A narrativa do passado, termina quando essa mulher exclama para o narrador que “morte deve ser melhor. Deve ser melhor mesmo porque não tem medo nem fome”.

Espaços - Largo da Palma, bordel (Sobradinho da Ajuda).

Enredo - Mulher que morre nos braços do narrador e o faz lembrar fatos que viveu aos 18 anos.

Hoje, dois meses após a morte da mulher, o Largo da Palma já esqueceu porque, velho como é, não tem memória para todos os acontecimentos. Não deve sequer lembrar-se de quando levantaram as casas mais baixas e estreitas, estas de telhas tão pretas quanto o tempo, com o verde e o azul das tintas fortes ocultando as cicatrizes e rugas, e certamente, não se lembra quando foram plantadas as árvores e chegaram os primeiros pombos. Vendo-os agora, nesta penumbra que sempre avisa a aproximação das noites na Bahia, com a igreja vazia e os sobradinhos em silencio, penso na mulher que morreu em meus braços. Ela, a pobre, pareceu-me que vinha de longa viagem.

RESUMO

O narrador, “eu”, vai andando pelo Largo da Palma e avista uma mulher vindo em sua direção tropeçando muito, talvez bêbada ou uma epilética. Próximo à escadaria da igreja, ela tropeça e cai. Mal o narrador se debruça para acudi-la, já sabe que a mulher está morta ali em seus braços. Ele a coloca de volta no chão com todo o cuidado, quando percebe que do nada toda a multidão que estava dentro da igreja, inclusive o padre, está ali para saber o que aconteceu.

Enquanto esperam a polícia, ao olhar aquela pobre moça, magra, com a roupa tão suja que mal dá para distinguir a cor e com sinais de quem passou por muita fome e dor, o narrador se lembra de quando foi levado a um bordel por uns amigos para ele perder a virgindade. Quando eles estavam na mesa acompanhados por belas moças, chega uma mulher velha e feia, pobre como aquela outra mulher que se encontrava morta ali no chão do Largo da Palma. 

A cafetã grita para a pobre mulher que se ela não conseguir nenhum homem para dormir, era para ela ir embora que ali não ficaria mais. A cafetã segue a gritar ofensas e ameaças para a mulher e pergunta aos homens do local se existe alguém que deseja aquela pobre criatura. Ao que o narrador, nesse momento com apenas dezoito anos, se levanta e diz, para o espanto de todos, que a quer. Então, ele sai de lá com a mulher não em direção ao quarto, mas ao Terreiro de Jesus. Lá, a mulher diz que seria melhor morrer, pois morta não passaria fome e nem medo. 

A polícia já chegara e estava levando o corpo da mulher para o necrotério e o narrador se apresenta como testemunha. O policial pede para que o narrador o acompanhe até a delegacia e ao necrotério, mas desiste ao saber quem era o narrador. Porém, este insiste dizendo que viu a mulher morrendo ali na frente e agora estava curioso para saber o que havia acontecido e quem era essa mulher. 

No necrotério o médico faz a autópsia e decreta se tratar de uso de tóxico. Ao revistar a bolsa da mulher, o policial encontra apenas alguns objetos pessoais, uma caixinha de fósforos contendo cocaína e uma saboneteira de plásticos com alguns dentes humanos dentro. Não havia nenhum documento que pudesse identificar a mulher, que permaneceu no necrotério para o reconhecimento dentro dos prazos da lei.

Dois meses após a morte da mulher, o Largo da Palma já havia se esquecido do fato, pois já era muito velho e não tinha memória para todos os acontecimentos. O narrador sente o cheiro do trigo vindo de “A Casa dos Pãezinhos de Queijo” misturado com o do incenso da igreja e cogita se não foi isso o que atraiu aquela mulher para morrer ali no Largo da Palma. 

Então, o narrador encontra o inspetor de polícia na Rua Chile e esse informa que a morte da mulher havia sido realmente causada por tóxico. Além disso, o inspetor diz que os dentes dentro da saboneteira eram da própria mulher, mas não se sabe porque ela os carregava consigo. Ao caminhar pelo Largo da Palma, o narrador pensa que a mulher não havia morrido ali, mas sim que ela morreu em delírio, fora do corpo em um mundo que não o nosso.

Fontes

Nathalia Lima (Poesias Avulsas)


COISAS DE DENTRO

Existe um sem fim de coisas em meu átrio
Sinto-me a qualquer momento implodir
Constantemente absorvo
Raramente disperso
Há de se fazer drenagem em mim.

Um engarrafamento de ideias...
Isso fará minha cidade interna eclodir, mas
Em meio a tanta percepção desvairada
É muito que capaz que eu vá submergir.

Que no submerso reconheça minha gente
Que no submerso enfim ouça minha voz
E que nos meus átrios de volta encontre
As flores e livros que daqui guardei.

Pouco menos que palavras há em mim agora
Finalmente posso descansar.

CIRCULAR

Tão rotunda quanto puder me encontrar
Circularmente meus pensamentos parecem viver
Em mundo inconstante meu cérebro decide morar
E em desalento a realidade decide sobreviver
Quem espera moradas tranquilas?
O bicho do consciente
Quem aguenta torrões de emoções?
O sábio do inconsciente
Chega mais perto loucura
Redundante circulação do pensamento
Disposição pra sofrer da emoção
Espero impaciente o cumprimento
da razão que pode existir em um coração.

Fonte:
http://anathalialima.blogspot.com/

Teatro de Ontem e de Hoje (Lua de Cetim)


Espetáculo baseado em texto de Alcides Nogueira e encenação de Marcio Aurelio, realização bem-sucedida que alia poesia cênica à preocupação sociopolítica. 

O texto ambienta os atos intervalados por década: 1961, 1971 e 1981, flagrando a vida de uma família interiorana. O pai é um pequeno comerciante de tecidos; a mãe, uma modesta dona de casa; o filho aparece na infância e na juventude, transformando-se em estudante universitário e membro da guerrilha urbana, acompanhado da namorada Marisa.

Ao contrário de seus textos anteriores, calcados sobre procedimentos vinculados às vanguardas, Alcides Nogueira faz aqui um exercício de realismo. O enredo privilegia as figuras do pai e da mãe, seus conflitos e felicidades de marido e mulher, esperanças e desassossegos típicos de quem vive tempos atribulados e sempre à beira do precipício. Aproveitando largamente as possibilidades dos papéis, Umberto Magnani e Denise Del Vecchio alcançam grandes interpretações, merecedoras de prêmios e indicações. Elias Andreato e Júlia Pascale encarregam-se dos jovens, bem menos destacados na trama, assim como o garoto Ulisses Bezerra, participante apenas do primeiro ato.

A encenação de Marcio Aurelio é sóbria, discreta, deslocando para os desempenhos do casal central a ênfase da montagem. Sua cenografia é funcional, assim como a iluminação, adequadamente fornecendo os climas requeridos pela ação.

Em seu comentário, o crítico Sábato Magaldi destaca aquilo que lhe parece o melhor da montagem: "A sensibilidade é o traço dominante na encenação de Marcio Aurelio. Ela valoriza a verdade interior, as reações abafadas, os subtendidos sutis. A rigor, ele não soluciona apenas as mudanças de ambiente, que rompem o clima criado. Esse é, aliás, um dos problemas que permanentemente desafiam a imaginação dos diretores. Umberto Magnani aproveita a melhor oportunidade que teve como ator e vive um Guima comovido, mentindo-se no fracasso e bebida, marcado pela tragédia. Denise Del Vecchio apaga a sua juventude para metamorfosear-se em Candelária, incorporando das maneiras ao sotaque interiorano. Elias Andreato (Júnior) faz o estudante sem nenhum cacoete, humanizando o relacionamento com os pais. Júlia Pascale (Marisa) não se perde num papel ingrato".1

Notas

1. MAGALDI, Sábato. Uma visão terna de confronto, cicatrizes e frustrações de uma vida menor. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 18, 27 nov. 1981.

Fonte:

Afonso José dos Santos (Jardim Velho)


Concurso de Poesias da Biblioteca Municipal João XXIII, de Moji Guaçu
Fonte:
http://caeseubt.blogspot.no/

José de Alencar (O Ermitão da Glória) Parte 3


V

O COMBATE

Desabava a tempestade, que desde o transmontar do sol estava iminente sobre a costa.

Passaram algumas lufadas rijas e ardentes: eram as primeiras baforadas da procela. Pouco depois caiu a refega impetuosa e cavou o mar, levantando enormes vagalhões.

Aires até ali bordejava com os estais e a bujarrona, entre as Ilhas dos Papagaios e a do Breu, mascarando a balandra de modo a não ser vista da escuna, que passava ao largo com as gáveas nos rizes.

Ao cair da refega porém, mandou Aires soltar todo o pano; e meter a proa direita sobre o corsário.

- Cheguem à fala, rapazes, gritou o comandante.

Cercaram-no sem demora os marujos.

- Vamos sobre a escuna com a borrasca, desarvorados por ela, traquete roto e o mais pano a açoitar o mastro. Percebeis?.

- Se está claro como o sol!

- Olhai os arpéus, que não nos escape das garras o inimigo. Quanto às armas, aproveitai este aviso de um homem que ele só a dormir entendia mais do ofício, que todos os marítimos do mundo e bem acordados. Para a abordagem não há como a machadinha; apunhada por um homem destemido, não é arma, senão braço e mão de ferro, que decepa quanto se lhe opõe. Não se carece de mais; um cabide d'armas servirá para a defesa, mas para o ataque, não. 

Proferidas estas palavras, tomou Aires a machadinha que lhe fora buscar um grumete e passou-a na cinta sobre a ilharga.

- Alerta, rapazes; que estamos com eles.

Nesse momento, com efeito, a balandra acabando de dobrar a ponta da ilha estava no horizonte da escuna e podia ser avistada a cada instante. A advertência do comandante, os marujos dispersaram-se pelo navio, correndo uns às vergas, outros às enxárcias e escotas de mezena e traquete.

No portaló Aires comandava uma manobra, que os marinheiros de sobreaviso executavam ás avessas; de modo que em poucos momentos farrapos de vela estortegavam como serpentes em fúria, enroscando-se ao mastro; levantava-se de bordo medonha celeuma; e a balandra corria em árvore seca arrebatada pela tempestade.

Da escuna, que singrava airosamente, capeando à refega, viram os franceses de repente cair-lhes sobre como um turbilhão, o barco desarvorado, e orçaram para evitar o abalroamento. Mas de seu lado a balandra carregara, de modo que foi inevitável o choque.

Antes que os franceses se recobrassem do abalo produzido pelo embate, arremessavam-se no tombadilho da escuna doze demônios que abateram quanto se interpunha à sua passagem. Assim varreram o convés de proa a popa.

Só aí encontraram séria resistência. Um mancebo, que pelo trajo e aspecto nobre, inculcava ser o comandante da escuna, acabava de subir ao convés, e precipitava-se contra os assaltantes, seguido por alguns marinheiros que se haviam refugiado naquele ponto.

Mal avistou o reforço, Aires que debalde buscava com os olhos o comandante francês, pressentiu-o na figura do mancebo, e arrojou-se avante, abrindo caminho com a machadinha.

Foi terrível e encarniçada a luta. Eram para se medirem os dois adversários, na coragem como na destreza. Mas Aires tinha por si a embriaguez do triunfo que obra prodígios, enquanto o francês sentia apagar-se a estrela de sua ventura, e já não combatia senão pela honra e pela vingança.

Recuando ante os golpes da machadinha de Aires, que relampeava como uma chuva de raios, o comandante da escuna, acossado na borda, atirou-se da popa abaixo, mas ainda no ar o alcançara o golpe que lhe decepou o braço direito.

Um grito de desespero estrugiu pelos ares. Soltara-o aquela mulher que lá se arroja para a popa do navio, com os cabelos desgrenhados, e uma linda criança constrangida ao seio num ímpeto de aflição.

Aires recuou tocado de compaixão e respeito.

Ela, que chegara à borda do pavês de ré precisamente quando o mar rasgava os abismos para submergir O esposo, tomou um impulso para arrojar-se após. Mas o pranto da filha a retraiu desse primeiro assomo.

Voltou-se para o navio, e viu Aires a contemplá-la mudo e sombrio; estendeu para ele a criança, e depondo-lha nos braços, desapareceu, tragada pelas ondas.

Os destroços da tripulação da escuna aproveitavam-se da ocasião para atacar á traição Aires, que eles supunham desprecatado; porém o mancebo apesar de comovido, percebeu-lhes o intento, e cingindo a criança ao peito com o braço esquerdo, marchou contra os corsários, que buscavam nas vagas, como seu comandante, a última e falaz esperança de salvação.

VI

A ÓRFÃ

O dia seguinte, com a viração da manhã, entrava galhardamente a barra do Rio de Janeiro uma linda escuna, que rasava as ondas como uma gaivota.

Não fora sem razão que o armador francês ao lançar do estaleiro aquele casco bem talhado com o nome de Mouette, lhe pusera na popa a figura do alcíon dos mares, desfraldando as asas.

À popa, na driça da mezena, tremulavam as quinas portuguesas sobre a bandeira francesa arreada a meio e colhida como um troféu.

No seu posto de comando, Aires embora atento à manobra, não podia de todo arrancar-se aos pensamentos que de tropel lhe invadiam o espírito, e o disputavam com irresistível tirania.

Fizera o mancebo uma presa soberba. Além do carregamento de pau-brasil com que sempre contara, e de um excelente navio mui veleiro e de sólida construção, achara a bordo da escuna avultado cabedal em ouro, quinhão que ao capitão francês coubera na presa de um galeão espanhol procedente do México, e tomado em caminho por três corsários.

Achava-se pois Aires de Lucena outra vez rico, e porventura mais do que o fora; deduzida a parte de cada marujo e o preço da balandra, ainda lhe ficavam uns cinqüenta mil cruzados, com os quais podia continuar por muito tempo a existência dissipada que levara até então.

Com a riqueza, voltara-lhe o prazer de viver. Naquele momento respirava com delícia a frescura da manhã, e seu olhar afagava amorosamente a pequena cidade, derramada pelas encostas e faldas do Castelo.

Apenas fundeou a escuna, largou Aires de bordo, e ganhando a ribeira, dirigiu-se á casa de Duarte de Morais.

Encontrou-o a ele e a mulher à mesa do almoço; alguma tristeza que havia nessa refeição de família, a chegada de Aires a dissipou como por encanto. Era tal a efusão de seu nobre semblante, que do primeiro olhar derramou um doce contentamento nas duas almas desconsoladas.

- Boas-novas, Duarte!

- Não carecia que falásseis, Aires, pois já no-lo tinha dito vosso rosto prazenteiro. Não é, Úrsula?

- Pois não fora?... O Senhor Aires vem que é uma páscoa florida.

- E não lhe pareça, que foram páscoas para todos nós.

Referiu o mancebo em termos rápidos e sucintos o que havia feito nos dois últimos dias.

- Aqui está o preço da balandra e vosso quinhão da presa como dono, concluiu Aires deitando sobre a mesa duas bolsas cheias de ouro.

- Mas isto vos pertence, pois é o prêmio de vosso denodo. Eu nada arrisquei senão algumas tábuas velhas, que não valiam uma onça.

- Valiam mil, e a prova é que sem as tábuas velhas, continuaríeis a ser um pobretão, e eu teria a esta hora acabado com o meu fadário, pois já vos disse uma vez: a ampulheta de minha vida é uma bolsa; com a derradeira moeda cairá o último grão de areia.

- Porque vos habituastes à riqueza; mas a mim a pobreza, apesar de sua feia catadura, não me assusta.

- Assusta-me a mim, Duarte de Morais, que não sei que há de ser de nos quando se acabar o resto das economias! acudiu Úrsula.

- Bem vedes, amigo, que não deveis sujeitar a privações a companheira de vossa vida, por um escrúpulo que me ofende. Não quereis reconhecer que esta soma vos é devida, nem me concedeis o direito de obsequiar-vos com ela; pois sou eu quem vos quero dever.

- A mim, Aires?

- Faltou-me referir uma circunstância do combate. A mulher do corsário francês arrojou-se ao mar, após o marido, deixando-me nos braços sua filhinha de colo. Roubei a essa inocente criança pai e mãe; quero reparar a orfandade a que voluntariamente a condenei. Se eu não fosse o estragado e perdido que sou, lhe daria meu nome e a minha ternura!... Mas para um dia corar da vergonha de semelhante pai!... Não! Não pode ser!...

- Não exagereis vossos pecados, Aires; foram os ardores da juventude. Aposto eu que já vão arrefecendo, e quando essa criança tornar-se moça, também estareis de todo emendado! Não pensas como eu, Úrsula?

- Eu sei!... Na dúvida não me fiava, acudiu a linda carioca.

- O pai que eu destino a essa criança sois vós, Duarte de Morais, e vossa mulher lhe servirá de mãe. Ela deve ignorar sempre que teve outros, e que fui eu quem lhos roubei. Aceitem pois esta menina, e com ela a fortuna que lhe pertencia. Tereis ânimo de recusar-me este serviço, de que preciso para repouso de minha vida? 

- Disponde de nós, Aires, e desta casa.

A um apito de Aires; apareceu o velho Bruno, carregando nos braços como uma ama-seca, a filha do corsário. Era um lindo anjinho louro, de cabelos anelados como os velos do cordeiro, com os olhos azuis e tão grandes, que lhe enchiam o rosto mimoso.

- Oh! que serafim! exclamou Úrsula tomando a criança das mãos rudes e calosas do gajeiro, e cobrindo-a de carícias.

Nessa mesma noite o velho Bruno por ordem do capitão regalava a maruja na taberna do Simão Chanfana, ao Beco da Fidalga.

Aires ai apareceu um momento para trincar uma saúde com os rapazes.
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continua

Soares de Passos (Catão)


Como em tarde anuviada
Em tarde de negros véus.
Para a terra contristada
Sorri o íris dos céus;
Mas quando o sol esmorece,
O íris desaparece,
Tudo é negra escuridão;
O mar ruge e se encapela,
E nas asas da procela
Corre bramindo o trovão:

Tal ao sol da liberdade
Que sobre Roma luziu,
Qual íris em tempestade,
Catão à pátria sorriu.
Mas esse astro que fulgente
Das águias brilhara à frente,
Do Capitólio baixou;
E ele, o íris da bonança,
Ele, de Roma a Esperança,
Com seu fulgor expirou.

Contra as iras da tormenta
Ó forte lutaste em vão:
Que pode a virtude isenta
Contra a geral corrupção?
Já não luziam virtudes
Como nos séculos rudes
Dessa Roma consular;
O templo da tirania
A seus ministros abria
As portas de par em par.

Inda infante, viste Mário
De Roma o sangue beber;
E envolvida num sudário
A pobre Itália gemer.
Viste Sila, o monstro infando,
Entre as cabeças folgando,
Qual tigre, no seu festim;
E, infante, bradaste ufano:
– Dai-me um ferro, e o tirano
Livremos a pátria enfim! –

Não to deram: que lucrava
O teu valor juvenil?
Dum tirano outro brotava,
Nascia a guerra civil.
Enxuto de Roma o pranto,
Eis que envolto em negro manto
Lá surge um conspirador:
Cintila a morte, a ruína
No punhal de Catilina,
De Catilina, o traidor,

Surge, víbora gerada
Dos vícios do lodaçal!
Sobre Roma descuidada
Lança o veneno fatal!
Eia, empunha o facho ardente!
Entrega a pátria inocente
Aos punhais da tua grei!
E entre o sangue, à luz do incêndio,
Num trono de vilipêndio
Vem sentar-te como rei!

Mas treme! lá soa o brado
De Marco Túlio, orador.
Treme! Catão no senado
Já dos teus vence o furor.
Sucumbiste, algoz ferino!
Oh! mas vinga-te o destino
Que Roma jurou perder.
Catão, cobre-te de luto,
Que da Gália já escuto
A guerra civil descer.

Gerou-a o triunvirato,
Esse monstro d'ambição;
Que as eras de Cincinato,
Essas eras já lá vão.
D'olhos fitos sobre a Itália
Eis desce o leão de Gália,
E Arimino já tomou.
É César! ei-lo que assoma:
Abre-lhe as portas, ó Roma,
Que às tuas portas chegou!

Ei-lo parte, e já na Espanha
Os três legados venceu!
Só em Dyrrachio lhe ganha
A espada do grão Pompeu.
Os mortos jazem aos centos:
Sobre os seus restos sangrentos
Um homem chora: é Catão.
É ele que ali deplora
Essa guerra assoladora,
Guerra d'irmão contra irmão.

A liberdade expirava:
O coração lho prediz.
Roma, a livre Roma escrava
Ia dobrar a cerviz.
Não se enganou: lá troveja
O fragor d'alta peleja
Em Farsália inda uma vez;
Pompeu vacila e fraqueia;
A liberdade baqueia
De Júlio César aos pés.

Ei-la que expira, ei-la morta...
Oh! que não! ressurge além!
Catão é vivo: que importa
Quanto César ganho tem?
De Farsália aos naufragantes
Sobre as areias distantes
Da Líbia surge um fanal:
São dele, dele as bandeiras
Juntando as rotas fileiras
Para um combate final.

Mas César lá corre ovante,
Vence Juba e Cipião;
Tudo ante ele vacilante
Se prostra enfim maldição!
Não tarda a hora funesta:
De liberdade só resta
Dentro d'Utica um fulgor.
Inda Catão lá impera:
É lá que o vencido espera
As iras do vencedor.

Que venha, que ao seu aceno
Curvado não há-de ver
Aquele rosto sereno,
Que nunca soube tremer.
Caminha, César altivo,
E acharás em teu cativo,
Em vez de preito, o desdém!
Sabes vencer, porém corre
Vem saber como se morre,
Aprende a morrer também!

Catão, Catão, eis chegado
O momento de partir!
Com que rosto sossegado
Te vejo à morte sorrir!
Antes do golpe supremo
Tu paras inda no extremo
A meditar com Platão:
Assim a águia alterosa
D'alta penha cavernosa
Mede sublime a amplidão.

E depois, assim como ela,
Das nuvens rompendo o véu,
Adeja sobre a procela,
Deixa a terra, e busca o céu:
Tal coa dextra sempre ousada
Cravando no seio a espada,
Partiste d'alma os grilhões;
E dentre os vaivéns da sorte
Voaste, calcando a morte,
Às etéreas regiões.

César vence, e ao Capitólio
Lá sobe triunfador;
Roma cai do altivo sólio,
Rojando aos pés dum senhor.
Catão, o livre, expirara...
No suspiro que exalara
A liberdade voou.
Começava o negro império
Que um Calígula, um Tibério,
Um Nero, monstro, gerou.

Ele, entanto, sepultado
Nas praias junto do mar,
Lá dormia descansado
Sob a lájea tumular.
Ali a queixosa vaga
Vinha, rolando na plaga,
Beijar do livre a mansão;
E inda falar com saudade,
Da pátria, da liberdade,
à estátua de Catão.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource