quinta-feira, 1 de novembro de 2018

II Concurso de Trovas "Memorial Luiz Otávio" (Resultado Final) Nacional / Internacional



VETERANOS
TEMA: RESPEITO

1º.
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO

Sobre opiniões e crenças,
a sensatez nos diria
que o respeito às diferenças
tece teias de harmonia.

2º.
Élbea Priscila de Souza e Silva
Caçapava/SP

Não acumulei tesouros,
mas derrotei empecilhos,
minha coroa de louros
é o respeito de meus filhos.

3º.
Messias da Rocha
Juiz de Fora/MG

No amor, sempre a vida cobra
uma taxa extrema e alta,
não quando a ternura sobra,
mas quando o respeito falta.

4º.
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

Hoje, entre filhos e pais,
o amor é o mesmo, no entanto,
quando o respeito era mais,
amar não doía tanto!...

5º.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

Cada passo, uma pegada,
e o respeito é consequência
da correta caminhada
no percurso da existência.

6º.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG

Na opinião divergente,
respeito é considerar
que quem pensa diferente
também merece pensar!

7º.
Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

Respeito não custa nada
e cabe em qualquer lugar,
com ele o degrau da escada
é mais fácil se galgar.

8º.
Edmar Japiassu Maia
Nova Friburgo/RJ

- Não quero mais!... É verdade
e o meu orgulho assim lavra.
Mas em respeito à saudade,
descumpro a minha palavra!

9º.
Marcia jaber de Barros Moreira
Juiz de Fora/MG

O respeito à dor alheia
forja o espírito de luz,
que vem ao mundo e semeia
as sementes de Jesus

10º.
Myrthes Mazza Masiero
São José dos Campos/SP

Três seres! Quanto respeito!
O pai, a mãe e a criança...
Um lar feliz e perfeito:
 a paz, o amor e a esperança!

11º.
Renata Paccola
São Paulo/SP

Cuidando da natureza
com mais respeito e carinho,
poderemos, com certeza,
falar com Deus um pouquinho...

12º.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba/SP

Parte de um todo, respeito
as diferenças sociais:
o quebra-cabeça é feito
de pedaços desiguais.

13º.
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Santos/SP

Trate a todos com respeito,
se quiser ser respeitado.
Quem se comporta direito
tem sempre um amigo ao lado.

14º.
Dalva Maria de Araújo Salles
Santos/SP

Desde a infância o preconceito
terá que ser trabalhado.
O cidadão com respeito...
será sempre respeitado.

15º.
Mario Moura Marinho
Sorriso/MT

O casal que, com rigor,
aos filhos prega o respeito,
semeia o balizador
para o fim do preconceito.

NOVO TROVADOR
TEMA: AMIZADE 

1º.
Myrthes Neusali Spina de Moraes
Atibaia/SP

A verdadeira amizade
tem a semente da flor,
germina com a bondade
e traz na raiz o amor.

2º.
Josoeverton Ramos Lopes
Sydney/Austrália

Muitas vezes, a amizade,
dispensa qualquer razão.
Pode ser a claridade,
em noites de escuridão.

3º.
Katia Sentinaro
Campinas/SP

Bom amigo tem valor
quando sabe conhecer
onde está o poder do amor,
não o amor pelo poder.

4º.
Mariangela da Silva Santos
Saquarema/RJ

As pérolas da amizade
vão tecendo meu colar...
Quanto mais sinceridade,
mais amigos a ganhar!

5º.
Nadja Cristina Lenzi Gadotti
Balneário Camboriú/SC

Nada se deixa na vida,
só caráter e amizade,
mostrando a contrapartida
do valor da lealdade.

6º.
Marciano Batista de Medeiros
Serra de São Bento/RN

Amizade é sol que brilha,
mesmo em coração ausente;
só se perde nessa trilha
quem tem alma indiferente.

7º.
Marco Aurélio Goulart
Itapecuru-Mirim/MA

Falta espaço na memória
para pôr tantas saudades…
são quais registros da história
de minha vida: amizades!

8º.
Zé Salvador
São Gonçalo/RJ

Amor de amizade é leve,
não queima como a paixão;
vem na medida que deve,
sem ferir o coração.

9º.
Olga Maria Dias Ferreira
Pelotas/RS

Pela dádiva divina,
todo o valor da verdade
reluz feito lamparina,
na verdadeira amizade.


JULGADORES do NACIONAL/INTERNACIONAL
A. A. de Assis
Eliana Palma
Vanda Fagundes Queiroz
Coordenador (Fiel Depositário): José Feldman
_____________________________________
Atenção: A Delegacia de Arapongas, da UBT, entrará em contato com os premiados para o envio dos respectivos prêmios.

II Concurso de Trovas "Memorial Luiz Otávio" (Resultado Final) Estadual: Paraná


VETERANOS
TEMA: LÍDER OU LIDERANÇA

1º.
A. A. de Assis
Maringá
Carisma é um talento e tanto,
entretanto assustador:
– Faz o líder sábio ou santo,
mas também o ditador.

2O.
Vanda Fagundes Queiroz
Curitiba
Além de força e saber
para exercer liderança,
que haja o dom de oferecer
apoio, paz, esperança!

3º.
Leonilda Yvonetti Spina
Londrina
Para exercer liderança,
não basta a capacidade;
é preciso impor confiança
e respeito, sem vaidade!

4O.
Luiza Fillus
Irati
Liderança e liderados
formam  binômio  de aliança.
Princípios bem amparados:
A nação, enfim, avança.

5o.
Nei Garcez
Curitiba
Com equilíbrio pessoal,
e um carisma permanente,
o líder, com seu astral,
congrega um bom contingente.

6O.
Paulo Roberto Walbach Prestes
Curitiba
Liderança, algo valioso
e difícil de encontrar;
um dom muito precioso
para vencer ao lutar!

7º.
Odenir Follador
Ponta Grossa/PR
Toda ação final se alcança
com a equipe em união;
onde existe liderança,
há também satisfação.

NOVO TROVADOR
TEMA: LIÇÃO

1º.
Luiz Vieira
Irati/PR
 Doutora em ecologia,
gralha azul deu uma lição.
Planta bem, com maestria,
com o seu bico, um pinhão.

2º.
Luis Parellada Ruiz
Londrina/PR
Eu lembro da professora,
que me ensinou com amor
a lição cativadora...
Agora, eu sou professor.

3º.
Oly Cesar Wolf
Campo Largo/PR
 Num reverso de aprendiz,
eu sigo vivendo em vão.
Nada guardei do que fiz,
esqueci toda a lição.

4º.
Rubia Carla Sterza Versoza
Londrina/PR
Na palma de minha mão
está a letra gravada,
formando bela lição,
por minha mãe ensinada.

 ESTUDANTIL
TEMA: PROFESSOR

1º.
Hillary  Redvig Leini
9 anos
Projeto Dorcas – Curitiba/PR

Na escola tenho amizade,
aprendo e faço a lição.
Meu professor, com bondade,
tem muita dedicação.

2º.
Erick Henrique Costa dos Santos
12 anos
Projeto Dorcas – Curitiba/PR

Professor, um bom amigo,
leal para  minha vida,
me aconselha, quando brigo
e me dá uma acolhida. 

3º.
Kamille Ribas Benitz
10 anos
Projeto Dorcas – Curitiba/PR

Na classe aprendo a lição;
junto com o  professor,
conheço nova canção,
quando ensina com amor.

4º.
Nicole Fátima
12 anos
Projeto Dorcas – Curitiba/PR

Quem ajuda na lição,
nos ensina com  amor
e tem grande coração?
- Ele é o meu bom professor!


JULGADORES do ESTADUAL
Carolina Ramos (Santos/SP)
Prof. Garcia (Caicó/RN)
Therezinha D. Brisolla (São Paulo/SP)
Coordenador (Fiel Depositário) José Feldman

___________________________
Atenção: A Delegacia de Arapongas da UBT entrará em contato com os premiados para enviar os respectivos prêmios.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Trova 326 - José Feldman (Maringá/PR)

Trova sobre pintura a óleo "A Despedida", de Railson Damasceno (João Pessoa/PB)

Luís Carlos (Poemas Diversos)


A MISSÃO DO POETA

Quem já disse o que sofre? Quem da vida
Pode, acaso, esperar tudo o que sonha?
Não se vê pela face mais risonha
Esgueirar-se uma lágrima incontida?

Quem não leva, por fim, desiludida
A alma, após si seguindo tão tristonha,
Que, em silencioso, de rastos, não suponha
Já ser o enterro prévio de um suicida?

Ai de quem vê nosso destino a fundo:
O homem, a cada passo, diferente,
Mas sempre, em qualquer cousa, moribundo!

Pois, ser poeta é sentir, constantemente,
Esta expiação de compreender o mundo
E este mal de sofrer por toda a gente.

ATO DE FÉ

Musa, que em mim raiais como um clarão sonoro,
Incendendo-me o ser no ardor de um sonho imenso;
E que, corporizando a essência do que penso,
Em poemas converteis as lágrimas que choro;

Não me deis o esplendor de efêmero meteoro;
Condensai-me no estilo a força que eu condenso
Na minha fé - vapor de luminoso incenso -
Quando no ofício da Arte Excelsa me afervoro.

Quero a rima tocar; ver se ao mármore irmana,
Na contextura, e , assim, por pedestal do verso
Tomando-a, ter no verso uma coluna ufana!

E alto, sobre a coluna, ao sol, no Espaço imerso,
Hastear e defender contra a vileza humana
O pavilhão do ideal em face do Universo.

A UMA ÁRVORE

Escuta, árvore amiga, a minha vida
É, de certo, mais triste do que a tua.
Sofres, apenas, quando tumultua
O Vento em galopada desabrida.

No mais, o teu destino é uma subida:
É crescer, sob o Sol e sob a Lua,
Deitando sombra, quando o Sol estua,
Quedando, à luz do luar, adormecida.

Que diferença no meu ser tristonho!
Vives quieta, vivo eu porque me agito.
E, se adormeço, vibro mais no sonho.

Pois não tens, como eu tenho, a arrebatar-te
Dia e noite, a sem-fins, por toda a parte,
O pensamento — boêmio do Infinito.

CLAUSTRO ABANDONADO

Esta ruína que vês, cujo zimbório abriga,
Na severa feição de venerável urna,
Recalcadas paixões de tradição soturna,
É um claustro, que existiu ao sol da idade antiga.

- Entra-lhe a porta e vê: cresce por tudo a urtiga...
Melancoliza o ambiente uma expressão noturna;
Negreja, a cada passo, a boca de uma furna,
Bocejando, ao torpor de secular fadiga.

- Ajoelha, pecador. São túmulos daquelas
Que a glória teologal de penitências tantas
Por fim transfigurou na solidão das celas!

- Ajoelha, pecador. Nestas ferais gargantas,
Sufocaram-se os ais das místicas donzelas
- Monjas, durante a vida; ao fim da vida santas.

CREPÚSCULO

No pudor melancólico do ambiente
O Céu dissolve a sua paz de asilo,
Desvanecendo o azul, serenamente,
Entre uns tons de ametista e de berilo...

Fluidificam-se, ao longe, sutilmente,
As rosas do crepúsculo tranqüilo,
Transparecendo no vitral do poente,
À feição de um seráfico sigilo...

Vaga uma unção litúrgica nas cousas,
Num silêncio de naves e de lousas,
Que enleia a luz e a sombra, a entretecê-las...

E da angústia profunda do horizonte
Vem a noite, trazendo sobre a fronte
A coroa de espinhos das estrelas...

FINADOS

Dois de novembro. Finados.
Quanta flor! Quantas criaturas,
Guarnecendo as sepulturas
Dos ricos e potentados!

E junto deles, fadados
Sempre às mesmas desventuras,
Dormindo em campas obscuras
Os pobres — abandonados!

Mas, como que em julgamento
De súbito, irrompe o vento.
E, às suas arremetidas,

Os mausoléus, tão cobertos
De flores, ficam desertos
E as covas rasas — floridas.

MINHA SOMBRA

Esta minha implacável companheira,
Que em si me reproduz a vã figura,
Numa expressão de morte prematura,
Caminhando comigo a vida inteira;

Sempre muda, se fez a mensageira
Dos silêncios da minha desventura;
Convertendo-me o corpo em nódoa escura,
À força de ser muda é verdadeira.

Em vão procuro aprofundar-lhe o arcano.
Sombra... Visão de uma outra vida ausente.
Toco-a. Dissolve-a o meu contato humano.

Mas, se esqueço quem sou, surge-me à frente
E, quanto mais ao sol me aprumo e ufano,
Mais ao chão me reduz humildemente.

REFLEXOS

Velho tronco derrubado,
Mas inda a reflorescer,
Lá tens, pelo mesmo fado,
As condições do meu ser.

Tudo o que sempre hei sonhado
Fez-se dor e era prazer:
O coração sem cuidado,
Bate, bate até doer.

Tombado agora por terra,
Tua seiva ainda descerra
Uns restos de floração,

Como eu, nos versos que faço,
Tombado já de cansaço,
Floresço em recordação.

Luís Carlos (1880 – 1932)


Luís Carlos da Fonseca Monteiro de Barros (conhecido por Luís Carlos) nasceu no Rio de Janeiro/RJ, em 1880, e faleceu na mesma cidade em 1932.

Era filho do médico Dr. Eugênio Augusto de Miranda Monteiro de Barros e de D. Francisca Carolina Werna da Fonseca Monteiro de Barros. Formou-se na Escola Politécnica, em engenharia civil. Casado, transferiu-se para Minas Gerais e depois se mudou para São Paulo, onde exerceu a profissão nos quadros do serviço público, como funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, na Zona Norte, que ele chegou a chefiar. Foi removido, galgando de posto, para o Rio de Janeiro, onde fixou residência. Em 1921, foi nomeado consultor técnico do Ministério da Viação. Muito conceituado em sua profissão, nem por isso abandonou o seu pendor natural para as letras. Sob o funcionário exemplar, existia o poeta, de que pouca gente, só os mais íntimos tinham conhecimento. Formou um grupo de intelectuais, com quem fundou a Hora Literária. Começou a estampar nos jornais e revistas os seus versos, numa época em que o Parnasianismo dominava amplamente a poética brasileira e seus modelos filiavam-se à técnica de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. Ele pertencia à última geração parnasiana, à geração dos discípulos de Emílio de Meneses e de Francisca Júlia. Contudo, em Luís Carlos, há um toque de romantismo que foge ao estilo parnasiano puro e simples.

Na sessão da Academia de 1917, à qual ele assistiu como visitante, Augusto de Lima fez a leitura de alguns de seus poemas. A imprensa do Rio de Janeiro passou a publicar-lhe sonetos esparsos, que o tornaram conhecido nas letras da metrópole.

Estreou em livro já aos quarenta anos. “Colunas”, publicado em 1920, foi aclamado com entusiasmo. Os amigos insistiam para que se candidatasse à Academia Brasileira de Letras. Tentou por duas vezes. A Academia recebeu-o e consagrou-o.

A poesia de Luís Carlos representa uma fase distinta, na estética dos nossos poetas. Não é o Parnasianismo já quase esgotado por enfadonhas e inúmeras repetições, nem é também a poesia inteiramente subjetiva que constitui a corrente mais vultosa da atualidade. O que notamos como essencial nos seus versos é a técnica das comparações e das imagens que associam os dois elementos, subjetivo e objetivo, quase sempre com grande e feliz originalidade.

Ocupou a cadeira 18 da Academia Brasileira de Letras, em 1926.

Publicações:
– Colunas.
– Encruzilhada.
– Astros e abismos.
– Rosal de ritmos, resumo histórico sobre a evolução da poesia brasileira.
– Amplidão.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Isabel Furini (Conselho Literário de Camila Famosa)


- O conselho da escritora Camila Famosa foi não escrever com compulsão - afirmei com voz autoritária.

- E como faço? – perguntou o homem tirando os óculos e colocando-os sobre a mesa escura perto de um livro aberto, à direita do copo com refrigerante.

- Eu faço tudo de maneira compulsiva, falo compulsivamente, fumo compulsivamente, até transo compulsivamente, mas, não quero que espalhe essa última informação, hein?... pois odiaria ver mulheres me perseguindo para constatar se é verdade. A verdade é que sou um amante à moda antiga, eu gosto de paquerar mulheres e não gosto mesmo de mulheres tentando me paquerar.

Penteou o cabelo com dedos da mão direita, levantou a cabeça e recolheu o queixo de maneira vaidosa e começou a cantar:

“Eu sou aquele amante à moda antiga
do tipo que ainda manda flores
e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreve, e escreveeeee...
porque no peito ainda abriga
Recordações de seus grandes amores...”

Além de modificar a letra, como ele cantava mal! Sua voz era rouca. Eu fiz um gesto de desaprovação mexendo a cabeça várias vezes para um lado e para o outro horizontalmente.

Ele tossiu ou fingiu tossir, retrocedeu alguns passos, sentou-se na cadeira de madeira e disse:

- Bem, continuando, eu sou obsessivo compulsivo e se eu não escrever por compulsão e de maneira compulsiva, eu não consigo. Sem compulsão não consigo fazer nada. Imaginem fazendo sexo sem compulsão, eu vou broxar, céus! E tentar escrever assim de fininho, como quem não sabe de nada, não sei, não! Mas sem paixão, sem obsessão, sem compulsão, Nossa Senhora! Isso não será texto, será página em branco. Algo me compele a colocar traços desiguais nas páginas, eu escrevo à caneta, nada de computador, nem modernidades. Já falei, sou um amante à moda antiga. Gosto de papel de verdade, papel no qual seja possível escrever, apagar com borracha, reescrever, riscar, colocar “x” ao lado de frases interessantes, sublinhar, dobrar o canto superior direito da folha, fazer anotações, ou pequenos desenhos nas margens e guardar nas estantes, nas gavetas, embaixo da cama, ou rasgar e jogar de longe no cesto de papéis gritando: Goooollll! Eu sou o melhor!!!

Levantou-se da cadeira. Parecia emocionado.

- E o que acha de deixar a mente em branco para escrever, não pensar em nada? - insisti eu fingindo indiferença.

- Acho bom, muito bom, para quem conseguir. Eu não consigo, cara, eu preciso pensar, imaginar, observar os personagens pela fresta da fantasia, e falar deles, falar, falar, falar... ou melhor dito, escrever, escrever, escrever. Que escrevam sem compulsão os grandes literatos, os escritores calmos e disciplinados. Eu não. Minha obsessão é escrever. De manhã, à tarde, à noite. Eu gosto de escrever e odeio escrever. Por isso escrevo. Escrever é emoção ou emoções. Quase um ritual de morte e renascimento. Quase um bater de asas de morcego na noite.

Olhei-o fixamente: - Você não faria a experiência por uma semana? - perguntei com voz suave.

O escritor não respondeu, mas retrocedeu e voltou a sentar-se na mesma cadeira de madeira.

- Só por uma semana, escrever sem pensar, o que acha? Seguir o conselho de Camila Famosa?

Ele, vencido, fez um sinal de afirmação com a cabeça. Imediatamente seus olhos fugiram pela janela, rumo à rua poluída de carros.

Uma semana depois entrei em sua biblioteca. Ele estava sentado diante do computador. Calmo, sorridente. 

– Você conseguiu? – perguntei.

- Escrever sem pensar?

- Isso.

- Consegui, sim! - murmurou.

Aproximei-me para ler no computador o que havia escrito e dizia: “escrever sem pensar, escrever sem pensar, escrever sem pensar”.... fui para a outra página: “escrever sem pensar, escrever sem pensar, escrever...”

- Você repetiu milhares de vezes a mesma frase! – gritei.

- Mas não pensei, – retrucou ele - não pensei em nada. Eu escrevi. Diga essa verdade para Camila Famosa: Mente em branco é para escritores autocontrolados. Muitas vozes é o caminho para escritores com múltiplas personalidades. Ser perseguido pelos próprios personagens é para escritores paranoicos, já escrever compulsiva, obsessivamente é para mim. Fazer o quê? Obsessão é destino.

Fonte:

domingo, 28 de outubro de 2018

Luiz Damo (Glosas) I





CARRO

MOTE:
Se um carro cair da pista
embora pavimentada,
culpamos o motorista
por desconhecer a estrada.

GLOSA:
Se um carro cair da pista
gera triste consequência.
Coitado do motorista!
Dizem: lhe faltou prudência...

A estrada desconhecida
embora pavimentada,
deve ser sempre seguida
com cautela redobrada.

Na parada não prevista
sem nenhum acostamento,
culpamos o motorista
se houver atropelamento.

No volante, atentamente,
durante a dura jornada,
mais prudência, exatamente,
por desconhecer a estrada.
__________________

CONHECIMENTO

MOTE:
Através do pensamento
este mundo percorremos,
debaixo do firmamento
vivo, nós o manteremos.

GLOSA:
Através do pensamento
nós devemos começar,
se um maior conhecimento
desejarmos alcançar.

Como aves em liberdade,
este mundo percorremos,
sobre as asas da verdade
novos rumos tomaremos.

Daremos prosseguimento
superando alguns entraves,
debaixo do firmamento
onde só transitam aves.

Velho mundo reservado
frente os olhos o teremos,
em nosso ser preservado
vivo, nós o manteremos.
__________________

DEUS

MOTE:
Autor dum grande projeto,
Deus, este mundo criou,
para deixa-lo completo
um pouco a nós reservou.

GLOSA:
Autor dum grande projeto,
que homem algum nunca fez,
um lar de paz, tão repleto,
ou céu brilhante, talvez.

Sem trabalho e sem torturas
Deus, este mundo criou,
diz, porém as Escrituras,
que seis dias trabalhou.

Caminho justo e correto
traçou para a humanidade,
para deixa-lo completo
também deu-lhe a liberdade.

Fez água, terra, horizonte,
co’a vida Ele nos brindou,
mas para formar a ponte,
um pouco a nós reservou.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul.
Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.

Irmãos Grimm (O Velho Sultão)


Um camponês possuía um cachorro muito fiel, chamado Sultão, que tinha ficado velho e perdera todos os dentes, de modo que não podia apanhar mais nada. Um dia, estava o camponês com sua mulher à porta de casa e dizia:

- Amanhã vou matar o velho Sultão, pois já não serve para nada.

A mulher, que tinha pena do animal tão fiel, disse:

- Ele nos serviu, honestamente, durante muitos anos! Bem poderíamos sustentá-lo caridosamente.

- Qual o quê! - volveu o homem - Tu estás louca! Não tem mais um dente sequer na boca e não há ladrão que o tema. É hora que se vá. Se nos serviu, em compensação teve também ótimos petiscos.

O pobre cão, que estava deitado ao sol, aí perto, ouviu tudo e ficou triste ante a perspectiva de que o dia seguinte seria o seu último dia. Tinha ele um bom amigo, o lobo. À noite, foi às escondidas visitá-lo na floresta e com ele lamentou o destino que o aguardava.

- Escuta, compadre, - disse-lhe o lobo - não desanimes, eu te ajudarei a livrar-te desta. Tenho uma ideia. Amanhã cedo teu patrão e a mulher vão apanhar feno e levam consigo o filhinho, porque em casa não fica ninguém para olhar por ele. Enquanto trabalham, deixam sempre a criança à sombra, atrás da cerca. Deita-te perto dele como se montasses guarda, eu então sairei da floresta e o roubarei. Tu me corres logo ao encalço, como se quisesses salvá-lo. Eu o deixarei cair e tu o levarás aos pais que, certos de o teres salvo, ficar-te-ão muito gratos e nenhum mal te farão. Pelo contrário, voltarás a ser estimado e não te deixarão faltar mais nada.

O projeto agradou ao cão, que o executou tal e qual. Vendo o lobo correndo pelo campo com a criança na boca, o homem pôs-se a gritar, mas, daí a pouco, quando o velho Sultão o trouxe de volta, disse, muito feliz, acariciando-o:

- Não terás um só pelo torcido, e te sustentarei enquanto viveres.

Depois disse à mulher:

- Vai já para casa e prepara um bom mingau para o velho Sultão, a fim de que não precise mastigar, e traze o meu travesseiro, vou da-lo para que durma nele.

Desde esse momento, o velho Sultão passou tão regaladamente que não poderia desejar melhor. Pouco de pois, o lobo foi visitá-lo e alegrou-se ao ver que tudo lhe correra às mil maravilhas.

- Porém, compadre, - disse o lobo - fecharás um olho se eu por acaso furtar uma bela ovelha de teu patrão. Hoje em dia é difícil cavar a vida!

- Não contes com isso, - respondeu o cão - permanecerei sempre fiel ao meu patrão, portanto, não farei concessões.

O lobo julgou que o cão não falava seriamente e, durante a noite, aproximou-se sorrateiramente para furtar a ovelha. Mas o camponês, ao qual o fiel Sultão havia revelado as intenções do lobo, ficou espreitando-o e penteou-lhe o pelo com o relho. O lobo foi obrigado a safar-se, mas gritou ao cão:

- Espera, amigo falso, hás de me pagar!

Na manhã seguinte, o lobo enviou o javali a fim de convidar o cão à floresta para resolver a questão. O velho Sultão não conseguiu encontrar outro padrinho senão um pobre gato com três pernas só. Quando saíram juntos, o pobre gato caminhava coxeando e, pela dor, erguia alto a cauda.

O lobo e o seu padrinho já se encontravam no local, mas quando viram chegar o adversário julgaram que vinha armado de espada, que era a cauda do gato. Enquanto o pobre animalzinho saltitava com três pernas, o lobo e seu padrinho pensavam que, toda vez que se abaixava e levantava, apanhava uma pedra para atirar neles. Então os dois ficaram com medo, o javali escondeu-se entre a folhagem e o lobo trepou numa árvore.

Aproximando-se, o cão e o gato surpreenderam-se de não encontrar ninguém. Mas o javali não pudera esconder-se completamente e as orelhas apareciam por cima da folhagem. Enquanto o gato olhava à sua volta com desconfiança, o javali agitou as orelhas. O gato então, confundindo-o com um rato, lançou-se sobre ele mordendo-o com força. Então o javali deu um salto e fugiu berrando:

- Ali, em cima da árvore, está o culpado!

O cão e o gato ergueram os olhos e avistaram o lobo, que se envergonhou de ter demonstrado tanto medo e aceitou o tratado de paz com o cão.

Fonte: