segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Clarisse da Costa (Lançamento do Livro Solaris IV, de Samuel C. da Costa)


Posso dizer que cada escritor tem um caso de amor com a sua obra. Criam-se laços, dedicação e tempo. Muitos autores se envolvem e prestam um pouco de si para a sua obra. E esse envolvimento é como uma pertença de um mundo particular que passa a ser depois de muitos leitores. O autor se envolve e nos prende ali.

Eu como leitora posso dizer que inúmeras vezes eu fiquei envolvida com uma obra literária e quis ter escrito aquilo ou vivido aquele momento. Particularmente como escritora eu estou no atual momento tendo um caso de amor com um livro lançado no mês de outubro. Refiro-me ao livro do autor Samuel da Costa, Solaris IV.

Devo salientar que quem está escrevendo essa matéria não é a amiga Clarisse e sim a profissional Clarisse da Costa. Eu tenho a minha participação nessa construção literária, mas cabe aqui ressaltar o autor catarinense e o seu livro. 

Samuel da Costa no dia 17 de outubro, exatamente quinta-feira, lançou com expectativa e sorrisos de mais uma batalha vencida o livro Solaris IV. O lançamento foi no SESC de Itajaí, no local tivemos muita presença de escritores e escritoras do cenário cultural, artístico e literário catarinense. 

A obra traz muitas vertentes e vem com um simbolismo que exalta os deuses imortais. As suas belas musas são quase como seres perfeitos e intocáveis. O autor tem a capacidade de viajar para dentro de si e em nanossegundos se perder em um mundo particular onde estão todos os seus questionamentos, dores e perdas. Como eu havia dito no prefácio desta obra, ‘’um mundo totalmente seu em um sonhar acordado para uma realidade pós-modernista entre o tempo e o espaço’’. 

No lançamento do livro dava para se perceber a expectativa e a emoção nos olhos do autor. É compreensível tudo que ele sentia naquele momento, o Samuel levou dez anos para amadurecer e pôr a luz do dia o seu livro. 

Não pude me conter e dias após o lançamento eu perguntei ao autor o que vai ser daqui para frente, o que ele espera. Posso adiantar a vocês que vêm muitas coisas boas por aí. 
Samuel da Costa entra numa nova jornada da vida, decidido retomar a fase acadêmica fazendo pesquisas no campo da literatura e dentro de sua possibilidade, lançar um pequeno romance, uma novela dividida em duas partes. Que por sinal tem títulos um tanto misteriosos: ‘’Em dias de sol e calor, em noites de tempestades e frio’’. Por ora é se dedicar a divulgação do livro Solaris IV. 

Sobre o Solaris IV perguntei ao autor o que o livro tem de significado para ele. O escritor me disse que: - ‘’É um trabalho, um avanço. Um livro e um produto’’. 

Considerando-se que levou um longo tempo para ficar pronto, o livro Solaris IV é um trabalho que reflete poesias e uma sensualidade feminina em cada musa ali presente. 

Fonte:
E-mail enviado pela escritora.

Convite do CLMM (Solenidade de Premiação, em Formiga/MG, 25 de Outubro)


Clube Literário Marconi Montoli (CLMM) convida:

Solenidade de Premiação aos vencedores do Concurso Literário "8º Troféu Formiga de Letras do CLMM", edição 2019, onde haverá também uma palestra especial versando sobre “A Literatura Brasileira e os Desafios Atuais da Língua Pátria”, proferida pelo Presidente da Academia Itaunense de Letras Dr. Arnaldo de Sousa Ribeiro, com lançamento de seu livro: Tributo ao Professor Roque Camêllo. 

O evento acontecerá no dia 25/10/19 (sexta) às 19horas, no Auditório Prof. Eunézimo Lima do Centro Universitário de Formiga - UNIFOR-MG, Rua Dr. Arnaldo de Senna, 328, Bairro Palmeiras, Formiga/MG.

Maiores Informações:
(37) 99923.8122 ou pajo121@yahoo.com.br 

Fonte:
Paulo José de Oliveira 
Presidente do Clube Literário Marconi Montoli - CLMM

domingo, 20 de outubro de 2019

Olivaldo Júnior (Lamento de Narciso)


Ali, por sobre as águas refletido,
vejo a face do inimigo. 

Narciso - Michelangelo Merisi
Caravaggio (1571-1610)
Sei bem onde ele peca, 
por que peca, 
por quem peca 
e, além disso, 
por que acredita 
no pecado. 

Pedaço de Deus, costela divina, 
meu inimigo é do sexo 
masculino, adâmico, 
primordial. 

É tão bonita sua face ondulada, 
ondulante, no lago existencial 
em que se debatem 
os dilemas de cada um 
que a ele se inclina 
e se reflete também! 

Narciso, (im)preciso, 
seu sorriso é uma folha 
desprendida de si, 
sina afoita a vagar, 
perpassar todo o lago 
em que se miram 
Narcisos e Narcisas, 
tão seguros de si 
mesmos quanto a folha, 
que não sabe aonde 
vai...

Fonte:
Poema enviado pelo poeta

Carlos Drummond de Andrade (Caso de Chá)


A casa da velha senhora fica na encosta do morro, tão bem situada que dali se aprecia o bairro inteiro, e o mar é uma de suas riquezas visuais. Mas o terreno em volta da casa vive ao abandono. O jardineiro despediu-se há tempos; hortelão, não se encontra nem por milagre. A velha moradora resigna-se a ver crescer a tiririca na propriedade que antes era um brinco. Até cobra começou a passear entre a folhagem, com indolência; é uma cobrinha de nada, mas sempre assusta.

O verdureiro que faz ponto na rua lá embaixo ofereceu-se para matá-la. A boa senhora reluta, mas não pode viver com uma cobra tomando banho de sol junto ao portão, e a bicha é liquidada a pau. Bom rapaz, o verdureiro, cheio de atenções para com os fregueses. Na ocasião, um problema o preocupa: não tem onde guardar à noite a carrocinha de verduras.

— Ora, o senhor pode guardar aqui em casa. Lugar não falta.

— Muito agradecido, mas vai incomodar a madame.

— Incomoda não, meu filho.

A carrocinha passa a ser recolhida nos fundos do terreno. Todas as manhãs o dono vem retirá-la, trazendo legumes frescos para a gentil senhora. Cobra-lhe menos e até não cobra nada. Bons amigos.

— Madame gosta de chá?

— Não posso tomar, me dá dispepsia, me põe nervosa.

— Pois eu sou doido por chá. Mas está tão caro que nem tenho coragem de comprar. Posso fazer um pedido? Quem sabe se a madame, com esse terreno todo sem aproveitar, não me deixa plantar uns pés, pouquinha coisa, só para o meu consumo?

Claro que deixa. Em poucas horas o quintal é capinado, tudo ganha outro aspecto. Mão boa é a desse moço: o que ele planta é viço imediato. A pequenina cultura de chá torna alegre outra vez a terra abandonada. Não faz mal que a plantação se vá estendendo por toda a área. A velha senhora sente prazer em ajudar o bom lavrador. Alegando que precisa fazer exercício, caminhando com cautela pois enxerga mal, ela rega as plantinhas, que lhe agradecem a atenção prosperando rapidamente.

— Madame sabe: minha intenção era colher só uma pequena quantidade.

Mas o chá saiu tão bom que os parentes vivem me pedindo um pouco e eu não vou negar a eles. É pena madame não experimentar. Mas não aconselho: se faz mal, não deve mesmo tocar neste chá.

O filho da velha senhora chegou da Europa esta noite. Lá ficou anos estudando. Achou a mãe lépida, bem-disposta.

— E eu trabalho, sabe, meu querido? Todos os dias rego a plantação de chá que um moço me pediu licença para fazer no quintal. Amanhã de manhã você vai ver a beleza que está.

O verdureiro já havia saído com a carrocinha. A senhora estende o braço, mostra com orgulho a lavoura que, pelo esforço em comum, é também um pouco sua.

O filho quase cai duro:

— A senhora está maluca? Isso nunca foi chá, nem aqui nem na Índia. Isso é maconha, mamãe!

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) XI


A NOITE PASSA

O dia amanhece,
E o meu amor por ti ainda continua.
Lembrando quando alisava o teu corpo lindo,
E em especial tua espádua nua.

Eram momentos cheios de carícias.
E de volúpias nunca antes sentidas,
Era amor pulsante de duas almas!
E o mesmo pulsando duas vidas

Ah! Nunca pude e não quero esquecer.
Momentos esses, sublimes demais...
Quero levá-lo para a eternidade,
Pois são momentos que não voltam mais.

CRIANÇA

Criança é a nossa alegria,
Com seu sorriso puro e inocente.
Nós traz paz e tranquilidade...
O que nos alegra ao coração e a mente.

Mas também há preocupação.
Pois Deus a colocou em nosso caminho.
Sabemos todos que ela, hoje é flor,
Mas amanhã poderá ser espinho.

Depende muito do ensinamento,
E da educação que dermos a ela.
Temos que regá-la, 
Com o líquido chamado amor e ternura!
Pois isso é essencial para que...
Permaneça o que existe nela.

E FIQUEI EXTASIADO

Tal o amor que brotou em mim.
Meu coração e meus olhos,
Não conseguiam ver...
Outra pessoa tão bela,
Tal o encanto que existia nela!

Hoje ainda me pergunto,
O porquê isso aconteceu?
Eu era jovem e vivido,
Muito experiente era eu.

Será que estava pagando,
Pelo mal que cometi?
Enquanto outras chorando,
Declaravam-se para mim.

Eu por se um jovem atraente,
Sorria, zombava delas,
Todo feliz e contente.

E hoje com o passar dos anos.
Não sei se ela é triste ou feliz,
Só sei que entre tantas outras,
Que conheci...
Foi ela a mulher que não me quis.

PRIMAVERA IV

Quando chega a primavera!
Com seus jardins encantados,
Exalando seus perfumes...
Num ambiente sagrado.

Pela manhã nossos pássaros!
Demonstrando seu valor...
Formam uma sinfonia,
Cantando um hino ao amor.

Primavera é a estação!
Muito bela e colorida...
Estação que nos dá paz,
Estação que nos dá vida.

TRISTE E SOLITÁRIO

Ela passou tão triste! 
E solitária, 
Seu lindo rosto... 
Expressava o sofrimento. 
De sua alma e coração... 
Que nesta hora mostrava: 
O tormento. 

Por que tão bela e cativante alma... 
Sofria assim? 
Talvez se merecer... 
Seria alguém... 
Que ela amava tanto! 
Que a deixou... 
Fazendo-a sofrer. 

Pobre menina solitária... 
E triste! 
Sei que o amor, 
É faca de dois gumes... 
Muitas vezes nos traz alegria... 
Imensas! 
E em outras não poucos queixumes. 

Mas não desanimes. 
Pois o amor é assim! 
Hoje sofres por ele... 
E se me amasses como te amo. 
Serias incapaz de sofrer por mim!

VENTO ORGULHOSO

Quando ela passou,
Fiquei deslumbrado.
Tal a beleza e tal encantamento,
O vento passou...
Cruel e ciumento.
Acariciou feliz e foi embora,
E ela acariciada,
Continuou andando,
Pela estrada afora.

E eu presenciando essa cena,
O vento orgulhoso.
Eu o vi passar,
Juro que o invejei.
Pois nela nunca,
Poderei tocar.

E ele sempre garboso,
E poderoso.
Por esta facilidade que possui...
De quando quiser fazer mais.
E eu pobre mendigando,
O amor dela.
Nunca poderei fazer com ela,
O que ele faz.

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta

Leandro Bertoldo (Você Tem Toda Razão em Não Gostar de Ler! Ponto. Final? Nem Tanto… )


SAIBA COMO DEIXAR DE SER UM “LEITOR DE ESCOLA” E CONHEÇA 10 HÁBITOS PODEROSOS QUE FARÃO DE VOCÊ UM LEITOR VERDADEIRO

Você já passou por essa situação? O dia da prova está chegando e você ainda nem começou a ler o livro. Você finalmente vai à biblioteca e descobre que todos os livros já estão emprestados. Para piorar, a prova vale 10 pontos…

Pois é, vamos falar de leitura.

Mas calma! Não estou falando da leitura que você pensa ou, infelizmente, está acostumado, ou seja, essa leitura obrigatória, maçante da escola que o professor te obrigou para fazer uma prova. Fala a verdade: Ou você passa por isso ou já passou… E hoje, salvo um milagre, você tem horror a ler!

Aliás, deixe-me falar uma coisa: se este é o seu caso, você tem toda razão em não gostar de ler!

Estudos comprovam que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro.

Ou seja, embora o índice de leitura no Brasil, segundo a fonte de pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada no ESTADÃO, em sua 4º edição, tenha alcançado uma ligeira melhora de 2011 para cá (afinal, em 2011 os leitores representavam 50% da população e até 2016 atingimos 56%), o que dá, mais ou menos, uma média de 4 livros por ano, isso ainda é pouco.

O que isso significa?

Que, teoricamente, um pouco mais da metade dos leitores desse artigo já pararam de lê-lo… (rsrsrsr) Ponto. Final? Nem tanto… Calma lá! Há salvação!

“Teoricamente” porque uma boa notícia é que de 2011 para cá, aumentou o número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos de 53% para 67%. Isso é fantástico! Talvez os motivos sejam o boom da literatura para este público. Nunca se leu tanto como agora em plataformas e redes sociais específicas. Isso é realmente bom. Agora, quanto a qualidade dessas leituras, bem, isso fica para um outro artigo…

Por hora, continue lendo para saber mais sobre:

Por que nunca se deve dar “provas de livro” nas escolas? 

Por que ler NÃO é chato e que isso é uma coisa que, definitivamente, FOI feita para você? 

E um presente… Saiba como deixar de ser um “leitor de escola” e conheça 10 hábitos poderosos que farão de você um leitor verdadeiro. 

Se você se identificou, aproveite para enviar este artigo para um amigo ou amiga que, às vezes, como você, também passa pelos mesmos questionamentos. Ao final dele, você entenderá como pode ser mágico o mundo da leitura.

POR QUE NUNCA SE DEVE DAR “PROVAS DE LIVRO” NAS ESCOLAS?

Eu também sofri, e muito, com isso. Sofri tanto que quando me tornei professor, a primeira coisa que decidi foi: “NUNCA darei uma prova de livro na minha vida!” E sabe por quê? Porque essa é uma das razões que mais destroem leitores no mundo, fazendo com que eles tomem horror ao que poderia ser extremamente prazeroso.

Todo mundo nasce gostando de livros! Isso é, portanto, natural. Dê um livro a uma criança de colo e observe o prazer, a curiosidade, o encantamento que ela fica. “Ah, mas ela está encantada são com as gravuras, os desenhos…”

E quem disse que lemos só palavras?

Elas virão a seu tempo, acompanhadas do gosto das imagens, quando passamos a perceber que existe algo a mais que complementam e até ultrapassam aquelas cores e formas.

Infelizmente, sinto em dizer que o que lhe faltou foi um professor ou professora para lhe estender a mão e o conduzir a um mundo mágico e não a um mundo de terror – por mais que lhe apresentasse livros de bruxas e monstros – de provas e notas.

Literatura não é disciplina, pelo menos não deveria ser. Por quê? Lembra-se da pesquisa? Pois vamos a outros dados que todo professor deveria conhecer:

Entre as principais motivações para ler um livro, entre os que se consideram leitores, estão gosto (25%), atualização cultural (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar… (7%)!

Ou seja, a atual (e quase unânime) forma de “obrigar” uma pessoa a ler na escola para fazer prova, é um verdadeiro “tiro no pé”. É preciso entender, de uma vez por todas, que literatura não é disciplina escolar; literatura é ARTE e é como ARTE que deveríamos lê-la.

Há muitas maneiras de avaliar uma leitura que não a temida e “Inútil” prova. Sim, Inútil mesmo, com I Maiúsculo! Mas em outra oportunidade, menciono aqui algumas ações que testei e obtive muito sucesso com meus alunos e leitores, ações que ficaram na memória, principalmente deles, e o resultado foi “resgatar” alguns leitores perdidos que “achavam” que não gostavam de ler.

POR QUE LER NÃO É CHATO E POR QUE ISSO É UMA COISA QUE, DEFINITIVAMENTE, FOI FEITA PARA VOCÊ?

Em meio a todo esse cenário, só há uma forma de resolver a questão:

É preciso “discutir a relação”.

A boa notícia é que sim, é possível mudar a sua relação com os livros e com a leitura; a má notícia (pelo menos para a grande maioria das pessoas) é que você vai ter que querer… E isso demandará força de vontade, amor e compromisso.

Acontece, que muitas são as pessoas que querem colher novos frutos, mas não estão dispostas a abrir mão das velhas sementes, ou seja, querem mágica! Aí, meu amigo e minha amiga, é melhor desistir antes mesmo de começar… Não estou sendo duro, estou sendo realista. Colhemos o que plantamos!

MAS VOCÊ É UMA PESSOA QUE QUER COLHER NOVOS FRUTOS E SABE QUE EXISTE DENTRO DE VOCÊ UM LEITOR EM POTENCIAL!

Sabe e quer libertar este leitor, ou mesmo acariciá-lo ainda mais e descobrir novos hábitos, novas formas de ler, de se envolver com as páginas e com as letras. Um destes é o seu caso? Viva! É só começar…

Veja, abaixo, algumas dicas bem úteis que funcionam muito comigo, pode ser que funcione com você também, e se souber de outras que venham complementá-las, não excite em compartilhar, comentar, divulgar. Saiba que você pode estar resgatando outros leitores…

10 HÁBITOS PODEROSOS QUE FARÃO DE VOCÊ UM LEITOR VERDADEIRO

Dica # 1 – Identifique o que você gosta

Esse é o PRIMEIRO passo! Identificar o que você gosta, vai fazer você ler com mais interesse, com mais vontade. A lista de opções é imensa: romance, biografia, contos, espiritualidade, fantasia… E lembre-se: PERMITA-SE GOSTAR! Conheço muitas pessoas que falavam que não gostavam de ler, tinham preguiça, mas que quando se davam a oportunidade de forma realmente entregue, só paravam de ler ao término da última página… O segredo é só começar!

Dica # 2 – Visite uma biblioteca ou livraria

Se você já entrou em uma livraria sabe do que estou falando! Se não, experimente! O clima é altamente favorável, com muitos livros à disposição. Hoje, muitas investem no bem-estar e permitem que você folheie os livros e até leia-os, além de servir café, chá, sucos… Mas há também as bibliotecas municipais e de bairros que disponibilizam os livros e você nem precisa pagar por eles. O importante é estar entre eles!

Dica # 3 – Crie um espaço de leitura

O espaço é muito importante, afinal, você não vai querer ler em um ambiente barulhento, desorganizado… Encontre um local que seja limpo, iluminado, confortável. Pode ser que você gosta de ler na rede, ou mesmo debaixo de uma árvore no quintal ou no banco da praça, quem sabe à beira mar… Eu, quando criança, gostava de ler em cima da árvore… Só você saberá o que lhe agrada mais. No sofá da sala também é bom. Seja onde for, o importante é que você o prepare e se prepara para isso, sem televisão ou qualquer coisa que venha atrapalhar sua atenção.

Dica # 4 – Descubra o seu horário

Todos nós temos um horário mais propício à leitura, seja por questão de tempo e trabalho, seja por questão até mesmo fisiológica. Alguns preferem ler à noite, outros de manhã. Isso vai depender da sua disponibilidade. O importante é que, dentro do tempo disponível, não importa se muito ou pouco, você o obedeça e leia. Verá que, gradativamente, você vai querer ler mais e mais…

Dica # 5 – Converse sobre os seus livros

Conversar sobre o que você está lendo com amigos, professores e familiares fará você aprimorar o seu gosto pelos livros – eu garanto! Esse é um hábito saudável que aumenta e massageia a sua autoestima, além de estreitar laços de amizades e, por que não, criar novos amigos que, como você, também lê, aumentando o seu círculo de convívio, além de trocar sugestões de leituras. Para este tópico específico, conheça aqui neste blog a Vivência online Novos Leitores, uma vivência literária 100% gratuita. É só clicar AQUI.

Dica # 6 – Leia a contracapa e as orelhas do livro

Nestes locais está a essência do livro sem que ela seja inteiramente desvendada. É o primeiro contato que temos com o que vai ser lido e com o autor do mesmo. Se o assunto lhe agradar, vá em frente; se não, abra outros e se divirta nessa procura.

Dica # 7 – Pesquise sobre o autor ou autora e descubra sobre sua época e sua história

Essa é uma dica que eu sempre dou. Pesquisar sobre o autor e sua época, além de aumentar a sua cultura e conhecimento, irá fazer você entender melhor a obra, pois saberá o porquê de muitas passagens, estilo de escrita e relacioná-los ao contexto histórico, fazendo você absorver muito mais o conteúdo da história.

Dica # 8 – Comece devagar, sem pressa, curtindo o que está fazendo

A melhor coisa é estar sempre sentindo prazer na leitura. Para isso, se você ainda não tem este hábito e costume, comece devagar… Não inicie com autores muito complexos; eles chegarão ao seu tempo. Comece com pequenas histórias e vá aumentando, aos poucos, o seu repertório. Lembre-se: Tem que valer a pena! Ler é prazer.

Dica # 9 – Ande sempre com o seu livro e, na hora de dormir, deixe-o na cabeceira da cama perto de você.

Andar sempre com o livro irá fazer você se habituar a ele. Mesmo na era tecnológica de hoje, que você pode ter centenas de livros em um aplicativo de celular, experimente andar com um livro físico em sua bolsa, mochila, enfim. Quando estiver na fila de um banco, naquela horinha da sobremesa em um restaurante e em outros momentos, pegue seu livro, abra e leia. Verá que começará a ter outra relação de proximidade com ele, além de massagear também o seu ego, pois as pessoas o olharão como pessoa culta e polida. E não se esqueça de, na hora de dormir, colocá-lo perto de você, afinal, ele já vai ter se tornado seu grande amigo.

Dica # 10 – Faça anotações sobre a sua leitura e, no final, indique-a a um amigo.

Fazer anotações sobre o que você lê favorece a compreensão e a interpretação, além de fazer você ficar mais íntimo com o livro e o que ele está te contando… Indicar uma leitura, além de ser um ato altruísta, demonstra sua cultura e cidadania. O país necessita de mais leitores e uma ação puxa a outra. Essa é uma corrente que vale a pena!

E então, gostou das dicas? Espero que elas tenham sido úteis para melhorar a sua vida leitora e que tenha se conscientizado de que ler é um prazer altamente possível de alcançar.

Ah, e não se esqueça: agora é a melhor hora para você criar uma nova relação e comprometimento com a sua leitura.

Há um mundo inteiro a ser desvendado pelas páginas dos livros…

Permita-se!

Boas leituras…

Fonte:
Email enviado pelo autor, in Resumo Semanal para a Árvore das Letras.  7.10.2019

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Roberto Pinheiro Acruche (Liberdade)


Sinos da Liberdade 
Seu badalar invade-me a alma 
Faz-me respirar o ar da esperança 
Sonhar o sonho de criança 
Acreditar que a liberdade 
É mais que um direito. 

Liberdade... Liberdade... 
De caminhar, falar, viver... 
Direitos meus e seus 
Dádiva dos céus, dádiva de Deus. 

Ah! Liberdade... 
Que Sua Majestade 
Dure para sempre – Inteira 
Do jeito e maneira 
Como sopra a brisa 
E as águas que descem nas cachoeiras. 

Há! Liberdade... 
De sermos iguais ou desiguais 
Que diferença faz? 
Não importa a cor, o grau, 
A religião, a cultura, a ideologia... 
Somos todos mortais.

Fonte:
Poema enviado pelo poeta.

Charles Baudelaire (Os Dons das Fadas)


Realizava-se a grande reunião das fadas, a fim de procederem à partilha dos dons entre todos os recém-nascidos das últimas vinte e quatro horas.

Muito diferiam umas das outras, todas essas antigas e fantasistas Irmãs do Destino, todas essas Mães estranhas da alegria e da dor: umas tinham aparência sombria e rebarbativa, outras a tinham folgazã e maliciosa; umas eram jovens, e sempre o haviam sido, outras eram velhas, e também sempre o haviam sido.

Todos os pais que acreditam nas Fadas haviam comparecido, cada qual trazendo nos braços o seu recém-nascido.

Os Dons, as Faculdades, os Bons Acasos, as Circunstâncias Invencíveis, estavam amontoados ao lado do Tribunal, como os prêmios sobre o tablado, em dia de distribuição de prêmios. O que havia de particular no caso é que os Dons não eram a recompensa de um esforço, mas pelo contrário, uma graça concedida àquele que ainda não vivera, uma graça capaz de determinar seu destino e de se tornar tanto a origem de seu desdita, quanto de sua felicidade.

As pobres Fadas estavam sobrecarregadas de trabalho, porque era grande o número dos solicitantes, e o mundo intermediário colocado entre o homem e Deus está submetido, tanto quanto nós, à lei terrível do Tempo e de sua infinita posteridade, os Dias, as Horas, os Minutos, os Segundos.

Na realidade, elas estavam tão atordoadas quanto ministros em dia de audiência, ou empregados do Estabelecimento de Penhores, quando um dia de festa nacional autoriza as restituições sem pagamento. Acho mesmo que olhavam, de vez em quando, para o ponteiro do relógio, com impaciência igual à de juízes humanos que, por estarem em função desde cedo, não podem deixar de sonhar com o jantar, a família e os queridos chinelos. Se, na justiça sobrenatural, há um pouco de precipitação e de acaso, não nos admiremos que o mesmo aconteça às vezes na justiça humana. Nós mesmos seriamos, em tal caso, juízes injustos.

Contudo foram cometidas, nesse dia, algumas tolices – que poderíamos estranhar, se a prudência, e não a fantasia, fosse a característica peculiar, eterna, das Fadas.

Assim o poder de atrair magneticamente a fortuna foi concedido ao único herdeiro de uma família riquíssima que, não possuindo noção alguma de caridade, como também nenhuma cobiça dos bens visíveis da terra, devia encontrar-se, mais tarde, grandemente atrapalhado com seus milhões.

Assim foram concedidos o amor ao Belo e a Força Poética ao filho de um triste pobretão, um cavoqueiro absolutamente incapaz quer de favorecer os dotes, quer de prover às necessidades de sua lamentável progênese.

Esquecia-me de lhes dizer que a distribuição, em tais casos solenes, não comporta apelação, e que nenhum dom pode ser recusado…

Todas as Fadas já se estavam levantando, julgando concluída sua tarefa, porque não restava mais presente algum, munificência alguma para atirar a toda aquela nulidade humana, quando um bom homem, um pobre e modesto negociante, creio eu, ergueu-se e, agarrando por sua veste de vapores policrômicos a Fada que lhe ficava mais próxima, exclamou:

- Oh! Senhora! está-nos esquecendo! Ainda falta meu pequeno! Não quero ficar sem receber coisa alguma!

A Fada deveria ficar perplexa, porque não restava mais nada.

Todavia, lembrou-se ela a tempo de uma lei bastante conhecida, embora raramente aplicada, no mundo sobrenatural, habitado pelas deidades etéreas, amigas do homem, e muitas vezes forçadas a se adaptarem às suas paixões, tais como as Fadas, os Gnomos, as Salamandras, as Sílfides, os Silfos, os Nixos, os Ondinos e as Ondinas, – quero referir-me à lei que concede às Fadas, em semelhante caso, isto é, no caso de os presentes se acabarem, a faculdade de concederem mais um, suplementar e excepcional, sob condição, todavia, de ela possuir imaginação bastante para criá-lo imediatamente.

Por isso a boa Fada respondeu, com uma segurança digna de sua situação:

- Dou a teu filho… dou-lhe… o Dom de agradar!

- Mas agradar como? agradar? por que agradar? – perguntou teimosamente o pequeno comerciante, que sem dúvida era um desses raciocinadores tão comuns, incapazes de se elevarem até a lógica do absurdo.

- Porque sim! porque sim! – replicou a Fada, colérica, voltando-lhe as costas; e, reunindo-se ao cortejo de suas companheiras, dizia-lhes:

- Que acham desse francesinho vaidoso que tudo quer compreender e que, havendo obtido para o filho o melhor quinhão, ainda ousa interrogar e discutir o indiscutível?

Benjunior (Benevides Garcia) Poemas Escolhidos 1


ASAS DO TEMPO

Ah, essa vontade louca de ficar...
A vida inteira, se pudesse eu ficaria,
e a teu lado feliz eu viveria,
horas e horas, sem ver o tempo passar.

Ah, se pudesse, mas tudo me impede
e me arrasta, e me sufoca numa histeria,
que o espírito grita e o corpo cede,
prostrando-me nesta sofrida agonia:

Nas asas do tempo me faço refém,
pedaços de sonho de coisas esquecidas,
confundem-me a mente e a alma também.

Aceno um adeus e vou seguindo além;
como farrapos da vida enlouquecida,
parto e reparto e já não sou ninguém.

DEUSA

Um dia surgiste em minha vida
Trazendo ternura e luz em teu olhar
Tudo sorriu quando sorriste
E com teu riso foi-se o meu pesar.

E então vivemos  num terno amor
E tudo era alegria, e um doce sonhar
Até que um dia, para a minha dor
Partiste para nunca mais voltar.

Contigo levaste todo meu prazer
Toda minha alegria de viver
Levaste tudo o que trouxeste

Se devia mesmo tão cedo te perder
Deixando em minha vida tanto sofrer
Pergunto, ó céus, por que vieste?

FADA

Saudade eu tenho daquelas manhãs
Em que tênue névoa se desvanecia
E entre raios de  sepulcral luz
Sua figura querida aparecia.

E ficávamos, os dois, embevecidos
Nos olhares contritos, emudecidos
A  jogar no ar as nossas sortes
Estranha forma de vencer a morte.

Éramos felizes nas palavras sem fim
Feito cartas de amor eterno
Pirilampos de claras luzes.

Hoje não há mais você em mim
Tudo passou e só restou
Solidão em meio às cruzes.

INDIFERENÇA

Ah, esse cansaço de mim, que me aflige
Fazendo do meu querer, um não sei mais
Espezinha minha alma e me agride
Ceifando meu viver e minha paz.

Se eu soubesse um dia, o que sei agora
Poderia ser rio cristalino entre as serras
A correr alegre nos leitos de outrora
A viver feliz, fecundando a terra.

Mas, este tormento que me estremece
Envolto no silêncio que perdura
Aumenta mais e mais a minha dor:

É luz sem brilho, é dia que escurece
É noite solitária, vazia de ternura
É janela que se fecha para o amor…

MANHÃS

Eu quisera ser como as manhãs
Que surgem radiosas por entre serras
A embalar o doce sono do menino
Que sonha com um mundo sem guerras.

Quisera ser como a andorinha
Que busca horizontes a voar sem medo
E que depois, mais tarde se aninha
Num mundo de paz, de amor sem segredo.

Manhãs, sonhar, voar, amar, caminhar
tudo isso quisera ser, fazer, viver
Enquanto não saio de minha janela.

A manhã já se foi e também meu sonhar;
Fico a esperar o tempo correr
No silêncio, uma saudade dela…

NAS SENDAS DO ARCO-ÍRIS
                     (Valhala)

     Nunca precisei de alguém como agora
     que esta dor me aguilhoa e me tortura.
     Não sei o que será de mim nesta piora.
     Punge-me a alma a sofrer esta amargura.

     De repente, tudo ficou triste e confuso,
     em meio a letras, títulos e pendências.
     Não sei até quando ficarei recluso,
     à espera que resolvam esta carência.

     Enquanto isto a dor agride, me apunhala
     o corpo, tudo, o coração, a mente,
     tal qual ignota e venenosa serpente.

     Serei certamente levado por Odin ao Valhala...
     Nas sendas do arco-íris descansarei, e entre
     valquírias e deuses viverei eternamente…

PRIMAVERA

Distante de ti, passou por mim a primavera
Cheia de flores, num setembro festivo,
Quando tua presença, mais e mais quisera
Neste meu mundo, que de saudades vivo.

Cantos e odores, neste roseiral sem fim,
Doces lembranças de  feliz folgar
Fizeram-me esquecer um pouco de mim,
E sentir teu jeito gostoso de amar.

E absorto neste mundo de encantos
Esqueço da vida, nem sinto o tempo passar
Neste paraíso de adocicadas  primícias;

Mas, de mansinho, por entre folhas e flores,
Raios de sol despertam o meu sonhar
Findando assim, minha hora de delícias.
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Benjunior, pseudônimo de Benevides Garcia Barbosa Júnior, nasceu em Ipuã, antiga Sant’Anna dos Olhos D’Água, no Estado de São Paulo, em 20 de novembro de 1945. Foi professor, Diretor de Escola e Assistente Técnico Pedagógico. No final dos anos 60 começou a escrever poemas. Atualmente, aposentado residiu em Vinhedo/SP. Radicou-se em Maringá/PR.

Publicou “Instante Perdido” (1975), “A Cidade dos 400 Janeiros” (2010), “Do Outro Lado do Espelho” (2012), “No tempo das horas mágicas” (2014) e “Instante Perdido entre Poemas Esparsos” (2018).

Fontes:

Malba Tahan (A Dançarina Hindu)

As palavras com números entre parênteses após elas, veja significado nas notas ao final do conto.
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Ao atravessar, naquela tarde, a secular praça de El-Madhi, avistei um jovem e elegante cheique, de turbante verde, que saía do "ha-mã" (1) acompanhado de dois escravos negros. Mal pousara em mim os olhos, o desconhecido veio ao meu encontro e saudou-me à maneira clássica dos árabes nobres:

- Allah badich, ia sidi! Deus vos conduza, senhor!

- Katter quhairag - respondi, agradecendo. - Que Allah torne felizes os dias de tua vida, ó jovem!

E certo de que não me seria difícil, num rápido "haddis" (2) descobrir a identidade daquele amável muçulmano, disse-lhe com a intenção de provocá-lo a uma ligeira  palestra:

- Já sabes, meu amigo, que amanhã, ao nascer do sol, se Allah quiser, partirei para Basra chefiando a grande caravana de mercadores?

- Já sei, sidi - respondeu-me. - Estou bem-informado de todos os recursos de que dispõe a nossa caravana!

E o cheique acentuou bem a expressão "nossa caravana", fitando em mim os seus olhos vivos, com o disfarçado desejo de ler nos meus a surpresa que suas palavras deveriam causar-me.

Ualá! Nossa caravana? Eu conhecia todos os mercadores, guias e cameleiros; não havia, entre os homens que me acompanhavam - desde o beduíno sem nome ao mais orgulhoso chamir (3) um só que me fosse estranho. Como admitir que aquele desconhecido pertencesse ao número dos "meus viajantes"?

- Sou o cheique Fauzi Jabor, auxiliar do sultão Al-Mamum! - disse-me. - Devo ir a Basra levar uma ordem secreta para o governador. O grão-vizir já não vos falou a meu respeito?

Sim, era verdade. Recebera, dias antes, do primeiro-ministro, uma ordem para conduzir até Basra um emissário do califa. Já não era, aliás, a primeira vez que me acontecia levar nos ricos cheqdefs (4) da caravana mensageiros, escribas e agentes da corte muçulmana.

- Sinto-me feliz, ó cheique - tornei eu - por saber que vou tê-lo como companheiro de jornada. Que as grandes alegrias e os violentos simuns nos encontrem sempre juntos. A amizade desinteressada dos nobres só pode honrar aos aventureiros do deserto!
    
E, enquanto conversávamos alegremente como velhos amigos, íamos caminhando, lado a lado, pelas ruas mais movimentadas. A pequena distância, os dois escravos negros, os braços cruzados sobre o peito, nos acompanhavam solenes.

- Em que pretendeis ocupar, afinal, as vossas horas, em Bagdá, até o momento da partida? - perguntou-me o cheique.

- Penso em despedir-me de alguns amigos.

- Despedidas? - É tarde demais para tão ingrato passatempo! Informado pelos meus auxiliares de que seria obrigado a partir amanhã, à hora do "sefer" (5) já apresentei aos bagdalis (6) o meu salã (7) da ausência. Vou ver agora a famosa bailarina hindu que chegou ontem de Mossul. Dizem que é linda como a gazela. Queres ir comigo, chefe?

E vendo-me indeciso, insistiu, risonho, puxando-me pelo braço:

- Emchi narruhh! Vamos! Emchi narruhh! 

Há duas coisas que o árabe não sabe recusar: a tâmara quando é doce, e o convite interessante quando é amável!

- Emchi naíhbad! - respondi. - Vamos!
* * *
                 
A escrava que nos recebeu à porta, ao ouvir o nome do cheique, deixou-nos entrar imediatamente e conduziu-nos por um longo corredor, até uma sala espaçosa, ricamente 
decorada, onde já se achavam três outros visitantes.

Fauzi Jabor conhecia os presentes e a cada um deles dirigiu um afetuoso sala:

- Masa al-qhair, cheique!

- Kif el-solha, cheique!

Sentei-me numa grande almofada. Uma circassiana trouxe-me belo narguilé de prata com a brasa já preparada. Sentia-se no ar um cheio embriagador de fumo e haxixe.

Um dos visitantes, depois de trocar algumas palavras com um velho que se achava a seu lado, descruzou, lentamente, as pernas, levantou-se vagaroso como um elefante e veio acomodar-se junto de mim. Era barrigudo e disforme; usava turbante alto, malfeito, sob o qual aparecia um rosto redondo, esverdinhado, cheio de máculas escuras. Tinha os olhos vidrados, acéticos, tristonhos. 

- Uma palavra, cheique - disse-me, quase em segredo. - És o chamir da grande caravana que parte hoje (8) para Basra?

- Julgo que sim - respondi, sem procurar disfarçar a má vontade com que mal o podia tolerar.

Insistiu, impertinente, com a voz cada vez mais elevada.

- Dize-me, então, que ordem misteriosa é essa que o jovem Fauzi Jabor vai levar ao governador de Basra?

- Lamento não poder informar-vos. Excelência (9) - retorquiu, abespinhado. - Não sou um "djin" (10), nem aprendi com os marabus da Pérsia a descobrir pela cor da lua o segredo das coisas ocultas. Posso assegurar-vos que nem mesmo o meu nobre amigo Fauzi Jabor conhece os termos da carta de que é portador. É uma ordem secretíssima do nosso amo e senhor, o glorioso califa Al-Mamum, Emir dos Crentes. Só Allah sabe a verdade!
       
O meu inquiridor fez-se cor de cal, levantou-se visivelmente contrariado e foi retomar o lugar em que se achava, rosnando contra mim ameaças descabidas:

- Algum dia, "chamir", a tua discrição será causa de uma desgraça!

E ia eu intimamente desejar que a alma daquele estúpido fosse presa de Cheitã (11), o Execrável, quando Fauzi Jabor, o cheique, surgiu conduzindo, orgulhoso, pela mão, a formosa dançarina hindu.

Ao vê-la, fiquei deslumbrado. Jamais o destino fizera com que se me deparasse na vida criatura mais sedutora. Não fosse a barreira do pecado, não teria dúvida em elegê-la, naquele mesmo instante, a sexta mulher perfeita do Islã (12).

Fauzi Jabor não fazia empenho em ocultar que estava apaixonado pela infiel. E quem seria capaz de censurá-lo? A dançarina tinha, a meu ver, as treze perfeições que Allah, o Clemente, concede às huris do Paraíso. Treze? Treze, não. Treze menos uma, com certeza!

Com espanto dos circunstantes, a bailarina apontou para mim com seu braço nu:

- É aquele, Fauzi, o teu amigo chefe da grande caravana?

Levantei-me, respeitoso, e disse-lhe:

- Lála (13), não passo de um humilde beduíno do deserto. Seria, entretanto, capaz de enfrentar uma legião de panteras, se depois de tal proeza houvesse de ter por prêmio, a honra de ser incluído no número de vossos escravos!

Nazira - assim se chamava a bailarina - sorriu, lisonjeada.

- Mach Allah! Se me permitissem os distintos amigos aqui presentes, eu gostaria de dizer algumas palavras, em segredo, ao chamir da caravana!

- Pois não! Pois não! - exclamaram os cheiques.

Fauzi Jabor disse-me:

- Acompanhai Nazira, ó beduíno feliz! Ela confidenciou-me que tem um pedido a fazer-vos!

Atravessei a sala contando meus passos pela indizível timidez que me dominava. Ao passar junto do indiscreto barrigudo esverdinhado, o repelente cheique segurou-me pelo braço e bafejou no meu ouvido:

- Cuidado, chamir! Essa mulher tem um mistério qualquer na vida! Cuidado!

Levou-me a bailarina para um aposento vizinho. Uma escrava persa, com gestos lânguidos, ofereceu-me, num prato dourado, frutas, doces secos e um delicioso vinho de Chipre.

A bailarina, cruzando as pernas, numa atitude graciosa, sentou-se a meu lado. Um perfume esquisito evolava-se de rico hattarak (14); pequenina lâmpada azul, sobre um camelo de bronze, derramava pelas coisas uma aparência de mistério.

Chegava vagamente aos meus ouvidos o som triste de um alaúde.

- Já te disseram, chamir - começou Nazira, num tom mavioso de paciência - que eu tenho na vida um mistério? É inútil negar. Ouvi perfeitamente a insinuação daquele detestável chacal, que desde Mossul me vem perseguindo com suas toleimas. Infelizmente não é mentira. Pesa sobre a minha existência o tormento de um segredo. Já colhi a teu respeito, chamir, várias informações; estou certa de que és honrado, valente e discreto.

- Senhora! Outra recompensa não quero senão os elogios que brotam dos vossos lábios bondosos!
       
Nazira prosseguiu:

- Preciso do teu auxílio, chamir. E para que possas, com segurança, dispensar-me o teu amparo, é mister que conheças previamente o tão falado "mistério" de minha vida.

- Aos treze anos - começou, com suave mágoa - casei-me, por imposição de meu pai, com um gramático de Medina, homem perverso, avarento e sem escrúpulos. Antes mesmo que nascesse o nosso primeiro filho, meu marido vendeu-me a um aventureiro sírio, chamado Kaslã, que exibia pelas cidades bailarinas escravas. Foi então que aprendi o triste ofício que hoje exerço. Quando nasceu o meu filho, resolvi consultar sobre o seu futuro um certo marabu de Medina, que sabia ler na areia o destino das criaturas. Disse o marabu: - "Tua beleza, mulher, será a causa da morte de teu filho!" Chorei, desesperada, ao saber que o Destino havia escrito na página de minha vida tão trágico sucesso. Dizem os cristãos que é possível, às vezes, alterar-se a marcha dos acontecimentos. Que fazer? Mutilar-me? Sim, pensei nessa solução desesperada. Com dois ou três golpes seguros de punhal eu conseguiria, como uma selvagem africana, deformar para sempre as linhas perfeitas do meu rosto. Kaslã, informado desse hediondo projeto, ameaçou-me de morte! Por Allah! O gramático avaliara a minha beleza em vinte camelos de sela! - "Se tens medo do Destino - dizia-me - separa-te de teu filho. Manda-o para outra cidade, para outro país. Longe de ti ele estará salvo da previsão do marabu; a tua beleza não lhe poderá fazer mal algum". Segui tal conselho, que me pareceu razoável e certo. Mandei meu filho para Basra com alguns bons peregrinos que regressavam de Meca. E desde esse dia nunca mais tornei a vê-lo. Sei que vive ainda; é forte, e belo! Tem agora dezoito anos; chama-se Tasib Zalã e é muito estimado pela honrada família que o adotou.

- E agora, chamir - concluiu Nazira, com voz trêmula - que estás de posse do grande segredo de minha vida, vou dizer-te qual o favor que espero merecer da tua boa-vontade. Quero que procures em Basra meu filho Tassib; perguntarás por ele ao muezim da mesquita de Shara-Sawa. A meu filho entregarás esta pequena caixa na qual reuni, durante dez anos, algumas economias. Com esse auxílio meu filho poderá casar-se sem recear as mil dificuldades da vida.

E a bailarina colocou-me nas mãos uma pequena caixa repleta de moedas de ouro.

- Lála - exclamei - o filho querido receberá o prêmio da dedicação materna! Juro por Allah, o Exaltado, que empregarei todos os esforços a fim de fazer com que esta valiosa dádiva chegue às mãos daquele a quem é destinada!

E voltamos em silêncio para o salão. Fauzi Jabor e os outros cheiques divertiam-se com uma jovem escrava que cantava ao som de um alaúde um belo poema de Antar.

Todos os olhares convergiram, curiosos, sobre mim.

Assaltaram-me com desencontradas perguntas:

- Que te disse a bailarina? Qual é o mistério de Nazira? Que desejava ela, antes de partir a caravana?

- Não sei - respondia sempre aos importunos. - Não sei.

E não houve quem percebesse que eu escondia, sob o meu largo "keffié" de seda, a pequenina caixa cheia de ouro.

Nazira - a pedido dos cheiques - resolveu executar a chamada Dança do Dragão.

Aproximei-me de Fauzi e disse-lhe:

- Vou deixar-vos, cheique! Já vai adiantada a noite. Pouco falta para que o muezim chame os fiéis à primeira prece. Quero verificar se os camelos estão carregados, as tendas arrumadas e se os guias estão nos seus lugares.

- Está bem - respondeu-me o cheique. - Vou ficar aqui, neste delicioso refúgio, mais algum tempo. Na hora da partida - é certo - lá estarei com meus ajudantes e servos.

- Por Allah! Qualquer atraso será grande transtorno para a caravana!

A formosa dançarina, com seus trajes coloridos e vistosos, executava, diante de um grande tapete, onde aparecia a figura fabulosa de um dragão, uma das danças características da Pérsia antiga.

Tive a impressão de que o dragão fantástico rondava a bailarina, prestes a devorá-la. A fatalidade - dizia El-Hadira (15) - é como o dragão da lenda; cai de repente sobre a vítima para esmagá-la com as garras do Infortúnio!
* * *
    
A caravana estava pronta. Até os ajudantes de Fauzi Jabor, com os seus trinta e cinco camelos perfilavam-se já nos seus lugares.

Terminada a prece, disse aos guias da frente:

- Não é possível partir neste momento. O emissário do califa - pessoa da mais alta distinção, - ainda não chegou, mas não deve tardar. Sem ele a caravana não partirá. Esperemos.

Fauzi Jabor, entretanto, apesar do prometido, não aparecia.

Sentia-se que a impaciência agitava os beduínos. Um dos mercadores perguntou-me:

- Por quem esperamos, chamir? Será possível que a caravana fique o dia inteiro parado ao sol, à espera de um príncipe folgazão que se diverte com bailarinas?

Respondi-lhe, num tom áspero, que não admitia réplica:

- Aqui quem manda sou eu! Se não te serve a caravana, o deserto é livre! Podes ir!

E submissos, sem revolta, os homens por mim chefiados esperaram.

Infelizmente, porém, só no dia seguinte, ao pôr-do-sol, foi que Fauzi Jabor deixou a casa da formosa bailarina.

E a grande caravana, com um dia e meio de atraso, ganhou lentamente a estrada do deserto.

Os cameleiros resmungavam, maliciosos:

- A bailarina é bela! A caravana que espere! Os grandes albornozes brancos, soltos no ar, pareciam pássaros gigantescos que surgiam da terra.
* * *
    
Depois de uma jornada feliz - assim quis Allah, - entramos em Basra.

Havia, quando chegamos, na praça de Moalhim, um grande ajuntamento de populares. Informaram-me de que ali também se achava o governador Ahme-Ibn Makula, com seus auxiliares e escribas. Sem perda de tempo fui ter à presença do cádi, saudei-o respeitosamente e apresentei-lhe, em seguida, o chefe Fauzi Jabor, que se achava, então, a meu lado.

- Allah conserve o cádi! - exclamou o jovem Fauzi, aproximando-se. - O califa Al-Manum, Emir dos Crentes, ordenou-me que fizesse chegar às vossas mãos esta mensagem. Que Allah conserve o cádi!

O poderoso governador de Basra tomou da carta que o cheique trouxera, tirando-a com vagar do sobrescrito.

- Lamentável! - exclamou o governador, mal havia terminado a leitura do breve documento.

- Não posso infelizmente atender ao que determina aqui o glorioso califa Al-Mamum, nosso amo e senhor! Esta ordem chegou-me tarde às mãos!

- Como assim? - interroguei, assustado. - O atraso com que chegamos teria sido causa de alguma desgraça?

- É verdade, chamir - concordou o cádi.

- Lamentável! - exclamou o Governador, mal havia terminado a leitura do breve documento. Esta ordem chegou-me tarde às mãos.
    
- A mensagem que o jovem Fauzi Jabor trouxe de Bagdá era da maior importância; tratava-se de uma ordem do sultão para que fosse comutada a pena de morte de um condenado. O perdão do nosso generoso califa nada mais adianta; o infeliz prisioneiro foi executado hoje, pela manhã!

Naquele momento - sem que eu pudesse explicar o motivo -, um terrível pensamento atravessou-me o espírito. Era bem verdade que a famosa bailarina tinha sido, indiretamente, culpada da morte do condenado, pois fora ela quem, com seus encantos, prendera o cheique em Bagdá, retardando por muitas horas a partida da caravana!

- E como se chamava - perguntei - o infeliz que foi executado por não ter chegado a tempo a ordem do califa?

Um dos oficiais do cádi respondeu:

- Chama-se Tassib Zalã, o poeta, e era natural de Medina!

Ouviu-se um forte ruído metálico. Era a caixa de Nazira, que eu trazia oculta, presa sob o braço, e que por descuido meu caíra inesperadamente ao chão. As moedas de ouro espalharam-se pela areia. Fiz com que o valioso presente fosse repartido entre os pobres. Na verdade, a pessoa, a quem era destinado aquele ouro rutilante, não precisava mais das recompensas do mundo, pois já havia comparecido ao julgamento de Deus!
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Notas
1- Ha-mã – Casa de banhos.
2- Haddis - Conversa ligeira. Troca de palavras.
3- Chamir - Chefe de caravana.
4- Cheqdef - Espécie de palanquim, colocado sobre o camelo.
5- Sefer - Prece feita ao nascer do sol.
6- Bagdali - Indivíduo natural de Bagdá.
7- Sala - Saudação dentro do Islã.
8- Para os árabes a noite precede o dia. A noite do dia 7, por exemplo, começa ao pôr-do-sol do dia 6. 
9- Excelência - Tratamento dado aos vizires do sultão. Aplicado a qualquer pessoa é ironia.
10- Djin - Gênio dotado de grande poder.
11- Cheitã - Demônio.
12- Segundo as crenças muçulmanas, as mulheres perfeitas foram em número de cinco, e figuram, imortais, no Alcorão.
13- Lála - Tratamento respeitoso; significa senhora.
14– Hattarak – Vaso especial em que se queimam perfumes.
15– El-Hadira – Antigo poeta árabe.

Fonte:
Malba Tahan. Os Segredos da Alma Feminina nas Lendas do Oriente.