quarta-feira, 21 de junho de 2023

Graciliano Ramos (Moqueca)

— Vou contar a história da cachorra e do porco brabo, anunciou Alexandre aos amigos uma noite escanchado na rede. Já falei nisto uma vez, se não me engano, quando me referi ao veado e às duas araras. Lembram-se? Os senhores conheceram nesse dia o alcance da lazarina (
espingarda de cano fino e comprido)que meu irmão tenente me ofereceu. Ora muito bem. Essa cachorra de que vou tratar hoje era uma pobre de Cristo, feia, magra e apareceu aí no pátio, sem ninguém saber donde tinha vindo, esfomeada e cheia de peladuras. Latia que era um Deus nos acuda, coçava-se nas estacas das cercas, esfregava-se nas pernas da gente e fazia nojo. Eu por mim não queria aquela infeliz em casa, mas Cesária, que tem um coração de ouro, tomou conta dela, deu-lhe comida e curou-lhe os achaques.

— Foi porque vi logo que a cachorra era diferente das outras, explicou Cesária, lá da esteira. Preta como carvão, tinha a ponta do rabo branca e uma estrela na testa. Estes sinais não falham.

— Estão ouvindo? exclamou Alexandre encantado com a sabedoria da mulher. Essa Cesária nasceu de encomenda. Que tino! Pois eu não percebi nada: a cadelinha preta, de rabo branco e estrela na testa, parecia-me igual às outras. E nem prestei atenção às primeiras habilidades dela. Depois é que assuntei: aquilo não era procedimento de cachorro ordinário. Diga-me uma coisa, mestre Gaudêncio, com franqueza: o senhor acredita em artes do diabo?

— Sem dúvida, seu Alexandre, respondeu o curandeiro. Quem não acredita? Tenho tirado com reza muito espírito mau do couro de cristão.

— Pois, mestre Gaudêncio, continuou o dono da casa, foi no capeta que eu pensei quando a cachorra botou para fora o que sabia. Mas Cesária fez uma oração forte em cima dela, o estouro que eu esperava não veio e, com os poderes de Deus, ficou provado que a bichinha era bem procedida. Entendia perfeitamente a linguagem das pessoas. Eu às vezes dizia, para experimentá-la: — “Moqueca, você hoje vai dormir no chiqueiro das cabras.” Ela balançava a cabeça, metia-se no chiqueiro e não saía de lá nem por decreto. — “Moqueca, vá comprar um quilo de bacalhau na cidade.” Moqueca segurava o dinheiro com os dentes, galopava para a rua, entrava numa bodega, ia direito à barrica de bacalhau, fazia a compra, pagava, tudo sem erro, pois ninguém se enganava com as intenções dela. Acabado o negócio, voltava correndo, carregando o embrulho.

Contava como um cobrador de imposto, e quando um caixeiro lhe deu no troco uma nota falsa, Moqueca latiu, protestou, chamou a atenção do povo e da autoridade. Estas miudezas não têm relação com o porco brabo: servem apenas para mostrar que a cachorra sabia onde tinha as ventas. A especialidade dela era a caça. Caçava sozinha bichos pequenos: enchi a casa de coelhos, preás, mocós, tatus, cotias e aves de pena. E se achava roteiro de animal graúdo, chegava aqui ladrando, corria de um lado para outro, fazia barulho. Só se acomodava na capoeira. Foi num desses dias que se deu a desgraça, de que talvez vossemecês tenham tido notícia, porque o caso se espalhou. Moqueca estava pejada (
prenhe), com a barriga pela boca, e a gente esperava que a qualquer momento desse cria. Uma tarde apareceu aí no pátio, latindo, subiu ao copiar e roçou-se nas minhas pernas, dizendo lá na língua dela que havia no mato um bicho grosso, bom para matar. Tentei sossegá-la e falei assim: — “Moqueca, você com esse bucho não aguenta rojão. Vá deitar-se, vá coçar as pulgas e descansar.” Ela não aceitou o conselho e continuou a puxar-me a perna da calça com os dentes. Como não havia meio de aquietá-la, fui buscar a espingarda no jirau, pus a tiracolo o aió (bolsa para caça), onde guardava o chumbeiro, o polvarinho e as espoletas. Entramos na catinga, e aí a pobrezinha começou a mexer-se com dificuldade, arfando, num trote curto, o focinho para cima, farejando mal. Parece que havia sinais cruzados de animais diferentes, porque a cachorra ia e vinha, latindo esmorecida, sem atinar com um rastro.

Aborrecido daqueles manejos, sentei-me, acendi um cigarro e peguei a falar só, recordando coisas antigas, do tempo em que eu e Cesária vivíamos de grande. Os latidos enfraqueceram, enfraqueceram, afinal se sumiram. Pensei no bode, na onça, no papagaio que não mostrou para quanto prestava porque morreu de fome, no olho coberto de formigas, este olho que nunca pude encaixar direito no buraco do rosto e assim mesmo enxerga melhor que o outro. Ora muito bem. Onde andaria o diabo da Moqueca, pesada, com aquela barriga que estava por acolá, perdida entre cipós e espinhos, correndo atrás de um vivente ligeiro? Levantei-me, decidido a voltar para casa, ajeitei no ombro a correia do aió e a espingarda. A cadelinha que fosse para o inferno: ia recolher-me, não havia de ficar ali, esperando os caprichos dela. Ainda levei a mão à orelha, estive um minuto procurando a voz de Moqueca no barulho da catinga. Afastei-me desanimado, entrei numa vereda, com o pensamento longe da caça. Ia anoitecendo. Ouvi pancadas de asas; os olhos de um bacurau desceram e subiram, como duas tochas. Depois foram miados de gato, roncos de suçuarana, urros de bois assustados. Tudo se calou. Quando pisei no copiar, estirei a vista pelo mato e percebi sem querer, muito para lá da ribanceira do rio, a umas duas léguas daqui pouco mais ou menos, a cachorra fincando os dentes no sedenho (
traseiro) de um bicho acuado junto a um mulungu (árvore ornamental). Em redor havia umas coisinhas que não distingui bem. Encostei a espingarda à cara, dormi na pontaria, a carga bateu na pá do bicho. Botei-me para ele. Andei, cortei caminho, cheguei a um mulungu, onde um porco brabo espumava, sangrava e estrebuchava, com vontade de morrer. A cachorra já tinha morrido e estava num estrago medonho: o espinhaço quebrado no meio, as tripas de fora, completamente espatifada. Pelos buracos da barriga tinham saído vários cachorrinhos que, ali perto, criaturas de boa raça, latiam danadamente, os dentinhos agarrados no couro do porco. Latiam direito, em conformidade com o costume. Mas um diferia dos outros: fazia “Hom! hom! hom!”, muito rouco e muito fanhoso. Pobre da Moqueca. Um fim tão triste!

Fui examinar os cachorrinhos, saber por que um gorgolejava daquele jeito. Sabem o que havia acontecido? No momento de estripar a mãe o porco tinha cortado o pescoço dele. E o infeliz, sem cabeça, queria proceder como os irmãos. Coitado. Finou-se ali, com poucos minutos de vida, roncando em cima da obrigação. Quem é bom já nasce feito, não é verdade? O sangue tem muita força. Escaparam três cachorrinhos.

— Me arranje um, seu Alexandre, pediu o cego. Estou precisando de guia e um animal desses vinha a propósito.

— Não é possível, seu Firmino, respondeu o dono da casa. Andaram por aí uns tempos, mas desapareceram, acabaram-se. O que tem valia não dura, seu Firmino.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
RAMOS, Graciliano. Histórias de Alexandre. Publicado originalmente em 1944.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 29

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) 86

Crepúsculos? Ah, os crepúsculos! Aqueles do outono. Tardinhas viram pinturas imensas, cenários de encantamentos, céus, pura inspiração. Mudam os ventos da estação, mudam os ares dos dias, mudam os responsos da vida.

Folhas esparsas, a atmosfera embalsamada de aromas. As flores. Dálias, cravinas, margaridas, gérberas, gerânios, lírios do brejo. Cores das calendas. A poesia rabiscada nas vidraças suadas das noites frias. Ali dentro o pinhão na chapa, o vinho na taça, dissabores transformados em opimos (abundantes) sabores.

Quem dera que os dias dos humanos fossem sempre feitos de delícias e encantos. Que os arautos bissextos trouxessem alvíssaras de tempos melhores, manhãs, tardes e noites fartas de iluminuras, estações perenes de bom viver.
Fonte:
Texto enviado pelo autor

Humberto de Campos (A Manicure)

O merceeiro Agostinho Pereira Alvares, proprietário de um dos estabelecimentos mais afreguesados do Engenho Novo, não havia saído, jamais, do seu bairro, para fazer a barba e cortar o cabelo. Sempre que, de dois em dois meses, lhe vinha a ideia de praticar essas medidas higiênicas, mandava ele chamar o barbeiro à sua casa de comércio, submetendo-se à tesoura e à navalha do fígaro em um compartimento nos fundos da mercearia.

Um destes dias, porém, com a noticia de que toda a cidade entrava em melhoramentos para receber o soberano dos belgas, resolveu o futuro capitalista vir, também, à zona urbana, para uns reparos estéticos na sua própria pessoa. Tornava-se preciso que o rei o encontrasse de cabelo cortado e barba feita, e era evidente que esse trabalho só podia ser efetuado por um verdadeiro mestre da arte, como deviam ser, naturalmente, os do centro da cidade.

Tomada essa deliberação, meteu-se o acreditado comerciante, sábado último, em um bonde, e saltou na rua Floriano Peixoto, enfiando-se, pressuroso, pela primeira barbearia que encontrou aberta.

- Cabelo e barba! - pediu, arrogante, libertando-se, com um soco, do formidável colarinho que o asfixiava.

Enfiada, que foi, a toalha pelo pescoço do freguês, começou o barbeiro, um mulato de nariz de batata e cabeleira revolta, a tosquiar a vítima. Terminado o serviço, que não primava, aliás, pelo asseio, o fígaro convidou-o, gentil:

- O "comendador" não quer "fazer" as unhas? Nós temos, aí, para os fregueses, uma boa manicure...

Nesse momento apareceu à porta dos fundos, escandalosamente decotada, e rescendente de si mesmo, uma cafuza de dentes alvíssimos, que cumprimentou, sorrindo, o Agostinho. O merceeiro correspondeu ao cumprimento, olhou as unhas formidáveis, que ele costumava aparar com a faca de cortar sabão, e aquiesceu, condescendente:

- Vamos lá ver isso! Vamos lá!

Uma hora depois, com os dedos ardendo, e com as unhas cortadas até o sabugo, saía o honrado negociante à porta da barbearia. regressando, de pronto, ao Engenho Novo.

No dia seguinte, à tarde, foi, porém, a rua Floriano Peixoto alarmada por um vozerio infernal. Avisado do caso, o guarda civil correu para o local, e viu: no salão da barbearia, andando de um lado para outro, como um possesso, o Agostinho, do Engenho Novo, trovejava, indignado:

- Patifes!... Canalhas!... Ladrões!... Estavam os dois combinados para essa traição, os miseráveis!

Penetrando na casa, o guarda interveio:

- Que é isso, camarada? Que foi que aconteceu?

E o merceeiro, apoplético:

- Foi este homem; este barbeiro, que, de combinação com aquela mulher, me fez uma patifaria, uma canalhice, uma perversidade. Eu vim aqui para cortar o cabelo, e ele me pôs na cabeça uns piolhos; e para que eu não os pudesse tirar, chamou a mulher, e mandou-me cortar as unhas. Veja isto!

E com as grandes mãos estendidas, mostrando os dedos enormes, de sabugo à mostra:

- Canalhas!... Patifes!... Miseráveis!...

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.
Disponível em Domínio Público

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LVI


SEDENTA
 
MOTE:
Sedenta do teu carinho,
imagino em sonhos vãos,
tuas mãos tecendo um ninho
para aninhar minhas mãos...

Adélia Victória Ferreira
Sete Barras/SP, 1929 – 2018, São Paulo/SP

GLOSA:
Sedenta do teu carinho,
eu uso a imaginação
e me lanço no caminho
que leva ao teu coração!
 
Quase em êxtase de amor
imagino em sonhos vãos,
ouvir teus "sins" com fervor,
e nunca escutar os "nãos"!
 
Já não estou mais sozinho,
pois eu sinto junto a mim,
tuas mãos tecendo um ninho
e me acarinhando, assim!
 
Sonhando eu me realizo,
os sonhos são meus irmãos
que trazem o paraíso
para aninhar minhas mãos…
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CONFISSÕES DE AMOR...
 
MOTE:
Às vezes, doces sonatas,
noutras, preces de louvor;
Sempre belas serenatas
tuas confissões de amor!

Lisete Johnson
Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS

GLOSA:
Às vezes, doces sonatas,
eu escuto embevecida,
e com elas me arrebatas
e enfeitas a minha vida!
 
São sempre canções bonitas...
noutras, preces de louvor;
com mensagens infinitas
que têm imenso valor!
 
Os meus anseios desatas
com palavras de emoção,
sempre belas serenatas
que falam ao coração!
 
Vais meus sonhos realizando
com teu canto sedutor...
Fico feliz, escutando
tuas confissões de amor!
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FARIA TUDO...
 
MOTE:
Ah, se eu pudesse saber
qual a mulher que ele quer...
Que não iria eu fazer
para ser essa mulher!?

Magdalena Lea
Rio de Janeiro/RJ, 1913 - 2001

GLOSA:

Ah, se pudesse saber
qual o perfil preferido,
quando ele for escolher
o seu amor mais querido!?
 
Se eu pudesse, então, sonhar,
qual a mulher que ele quer...
aquela a quem vai amar...
coisas  faria – quaisquer!
 
Tudo com muito prazer
certamente eu o faria...
Que não iria eu fazer
para ter essa alegria?
 
Pagaria qualquer preço,
nem pensaria sequer,
me viraria do avesso
para ser essa mulher!
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   PINHEIRO
 
MOTE:
Vem trovador, vem correndo
ao meu Paraná, porque,
o pinheiro está morrendo...
de saudade de você!
Neide Rocha Portugal
Bandeirantes/PR

GLOSA:

Vem trovador, vem correndo
pra amenizar esta dor
da falta que estás fazendo...
Vem trazer-me o teu amor!
 
Traze logo essa ternura
ao meu Paraná porque,
é muito grande a tortura
da tua ausência. Em mim, crê.
 
Escuto vozes dizendo
chorando forte num grito:
o pinheiro está morrendo...
com  o seu porte bonito!
 
Se esse pinheiro morrer,
meu pensamento antevê
que essa morte deve ser
de saudades de você!
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  LUAR... NA VELHICE
 
MOTE:
Juventude, não cobice
somente o sol a brilhar...
Sempre, no céu, da velhice,
brilha também o luar!

Sebas Sundfeld
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

GLOSA:

Juventude, não cobice
para si, a eternidade,
não é só a meninice
que nos traz felicidade!
 
Não queira no seu presente,
somente o sol a brilhar...
também é lindo o poente,
do dia quando a findar!
 
Envelheça com meiguice,
com bom humor e alegria,
sempre, no céu, da velhice,
vemos um sol de poesia!
 
Enfrente o tempo,  altaneiro,
no fim do seu caminhar
e verá que o tempo inteiro
brilha também o luar!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas X. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Agosto 2003.

Sílvio Romero (O Pássaro preto)

(Folclore do Pernambuco)


Uma vez um homem pobre tinha um pássaro preto que estimava muito, e, tendo um filho muito travesso, foi um dia o menino levar a comida ao pássaro e o soltou. O pássaro voou e levou o menino preso pelo bico. Depois de uma grande viagem, largou-o num rico palácio.

Mandou por a mesa para o almoço, a qual apareceu bem preparada, e, tendo ele de sair logo depois, deu ao pequeno uma chave, dizendo que só abrisse o primeiro dos quartos que havia na frente da sala, e que eram sete.

O menino, logo que o padrinho (assim chamava ao pássaro) saiu, foi e abriu o primeiro quarto, e lá encontrou grande porção de cavalos; ele se divertiu a ponto de se esquecer de comer.

No dia seguinte o pássaro, antes de sair, deu-lhe a chave do segundo quarto, e ele o abriu e encontrou uma porção de selins e arreios.

Assim o pássaro foi-lhe dando as diferentes chaves dos quartos até o quinto. O terceiro era cheio de moças brancas, o quarto de mulatinhas, e o quinto de espadas.

Passaram-se tempos e o menino ficou moço feito, e pedia tudo ao padrinho, que lhe respondia que, se ele lhe fizesse sempre a vontade, seria dono de tudo o que ali havia. Depois de vistos os cinco quartos, o padrinho deu-lhe a sexta chave, mas lhe dizendo que não abrisse aquele quarto, do contrário perderia tudo que ele lhe havia prometido.

O moço, não se podendo conter, foi infiel, e abrindo o quarto, achou um belo rio de prata, e nele meteu o dedo, que ficou prateado. Pensando que o padrinho não viesse a descobrir, enrolou o dedo numa tirinha de pano; mas o pássaro que adivinhava tudo, quando chegou, viu o dedo atado, e lhe disse: «Já sei que abriste o quarto!» ao que ele respondeu com medo: «Abri, meu padrinho, mas vosmecê não me castigue.»

Disse-lhe o padrinho: «O castigo será amanhã quando de novo me desobedeceres.»

Deu-lhe a chave do sétimo quarto, e saiu. O moço não se conteve, e abriu o quarto, onde havia um rio de ouro.

Quando o pássaro voltou deu-lhe o castigo prometido: tirou-lhe a roupa e mergulhou-o no rio de prata, e, depois, no rio de ouro, e, quando acabou, deitou-o fora de casa, dando-lhe uma varinha de condão.

O moço começou a andar e foi ter em um reino. Aí encontrou um negro velho, a quem chamou pai Gaforino, e lhe pediu que lhe cedesse a sua roupa velha e suja para encobrir a sua cor e poder entrar na cidade.

O negro cedeu; mas uma princesa, que estava na janela do palácio, chegou a ver ele vestir a roupa velha do preto e, conhecendo que ele se encaminhava para o palácio, disse ao rei que queria se casar com o pior negro que ali chegasse.

O pai, ficando admirado pelo mau gosto da filha, não teve outro remédio senão mandar chamar o negro e contratar o casamento, com o que o moço disfarçado em negro ficou espantadíssimo, porque não pensava que tivesse sido visto por ninguém. Aceitou a princesa por mulher e, sempre muito desconfiado, não se deitava na cama com ela, e sim numa tábua ao pé do fogo.

O rei teve tão grande desgosto, que pôs-se de cama em estado de morrer. A família então fez uma promessa à Padroeira que se o rei escapasse, mandava fazer uma festa na igreja que durasse três dias. O médico receitou ao rei que comesse três pássaros de plumas; e tendo sabido o negro que os dois genros, que o rei tinha, haviam saído a procurar, cada qual montado em seu cavalo, pediu à sua varinha de condão uma carruagem e um rico vestuário e três pássaros de plumas. Meteu-se na carruagem com os pássaros, e saiu. Mais adiante encontrou os genros do rei. Eles perguntaram se aqueles pássaros eram de pluma e se os queria vender. Respondeu que eram de pluma, mas que só os cedia se deixasse ele os ferrar a cada um num quarto com o seu ferro.

Os moços consentiram, e voltaram para o palácio com os três pássaros, que o rei comeu e ficou bom. Seguiu-se a festa dos três dias. O negro mandou que sua mulher fosse à igreja ver a festa, e, ocultamente, pediu à sua varinha de condão que lhe desse uma linda carruagem e um vestido da cor do campo com todas as suas flores.

Assim foi, e a mulher seguiu. Depois ele pediu a mesma coisa para si e lá se apresentou com tanta rapidez que a mesma mulher não podia pensar que fosse ele. As duas irmãs casadas que a princesa tinha, com inveja, e desconfiadas, estando na igreja, diziam escarnecendo: «Com um moço assim é que tu devias ter casado e não com um negro.» Ela recebeu tudo com tristeza.

No segundo dia de festa, o negro pediu à varinha de condão que fizesse aparecer uma carruagem ainda mais rica e um vestido cor do mar, com todos os seus peixinhos, e para ele a mesma coisa, tudo isto sem a mulher saber; e quando voltaram todos da festa, já ele estava no palácio aquecendo fogo com sua roupa de negro.

No terceiro dia pediu uma carruagem ainda mais rica e um vestido da cor do céu com todas as suas estrelas, e o mesmo para ele. Neste mesmo dia houve festa em palácio e foram convidados todos os genros do rei e mais mulheres, que se apresentaram muito ricamente vestidas. Então o preto apresentou-se na sua cor verdadeira, e nos mesmos trajes com que estava no dia em que ferrou os cunhados, por seus cativos.

Eles ficaram muito espantados, e ainda mais quando o moço foi chamado para a mesa, e disse que não se assentava na mesma mesa com os seus cativos. Então o rei lhe perguntou quais eram ali os seus escravos, e ele apontou para os seus dois concunhados que estavam ferrados nos quartos, como el-rei podia examinar.

O sogro os chamou para um camarim, e lá ficou convencido da realidade, sendo que as mulheres dos dois moços se atiraram da varanda do palácio abaixo, e eles as acompanharam, ficando o rei tão desgostoso, que em pouco tempo morreu, ficando o pai Gaforino senhor de todo o reino.

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Lisboa/Portugal: Nova Livraria Internacional, 1885.
Disponível em Domínio Público.

domingo, 18 de junho de 2023

Varal de Trovas n. 583

 

Marques de Carvalho (Um esgotado)

O pobre Heitor foi levado à sepultura numa triste e chuvosa manhã de abril. Como não tivesse bens que deixassem aberta a possibilidade de um galanteio póstumo, nas folhas de um testamento, acompanhou-o até Santa Isabel apenas o bom compadre Fernandes, o inestimável enfermeiro nos poucos e longos dias de sofrimento.

O largo circulo de seus amigos eximiu-se do incômodo da viagem de bonde, desculpando-se com o mau tempo, quando, mais tarde, um ou outro defrontava com o paciente Fernandes.

Não obstante, aquele infeliz fora, na vida, um mourejador (
trabalhador dedicado) notável. Toda a cidade conhecia-lhe o nome. Fizera-o à custa de muitos anos de improbo trabalho, numa repartição movimentada e importante. Quando fechava o serviço oficial, não era para casa que ia o Heitor: tomava o caminho do diário onde colaborava e que lhe devia grande parte de seus melhores êxitos.

Quantas noites não passou ele em claro, numa superexcitação agridoce, obsidiado pela ideia de um artigo sensacional, entusiasmado por uma nova seção, enervado na improfícua procura de um termo próprio, de um vocábulo justo, que exata e completamente interpretasse o seu pensamento!

Mas era mais do que um jornalista, o Heitor: era um literato de vocação. Seu anelo mais veemente consistia na publicação de um livro, novela ou contos, que fosse a definitiva consagração do seu nome de escritor. Muito jovem, fizera nas letras uma estreia banal, quando estudante. Lançara, como tantos, um manifesto político em verso e cometera sonetos como toda a gente os perpetra, aos 20 anos. Porém depressa lhe disse o bom senso não serem os versos o seu forte e Heitor dedicou-se à prosa. Tivera, ao princípio, um estilo guindado, quase gongórico (
estilo barroco de Luís de Góngora): influência de Camilo Castelo Branco, que o impressionara violentamente.

Fez-se pesquisador de vocábulos raros e tentou remoçar, com honras de neologismos, termos veneradamente arcaicos. Seu critério, entretanto, aconselhou-o com brandura a emancipar-se de alheias influências, a mostrar-se nú ao publico, sem artifícios de linguagem. Foi-lhe salutar a própria observação: a forma tornou-se mais simples, a expressão mais singela, a ideia mais clara.

Sucedia que voltava alta noite do trabalho, fatigadíssimo, os olhos avermelhados, o cérebro oco e pesado; e, na veemência de seu amor às letras, assim mesmo sentava-se à mesa, a rabiscar tiras consecutivas, a esmo, com desespero.

Davam-se, então, alternadamente, grandes, desencontradas lutas naquele espírito. Vinham-lhe às vezes, à lembrança do êxito de um livro novo, reviviscentes entusiasmos. O clangoroso clarim da emulação retinia-lhe aos ouvidos, animadoramente. Sentia-se Heitor capaz de grandes cometimentos, fazia projetos e planos de romances, — uma edição de luxo, à Guillaume, com gravuras artísticas, executadas em Paris. Era um dos seus sonhos mais persistentes um livro amazônico, todo cheio de vinhetas com paisagens nossas, que interpretassem, nas linhas do desenho, as perspectivas que o texto havia de pintar ainda mais eloquentemente do que o lápis. À ideia dessas ilustrações, seu espírito alcandorava-se em grandes esperanças. Todo o corpo vibrava-lhe de emoção artística, pré-gozando os aplausos incondicionais de seus conterrâneos.

E projetava de uma assentada dois romances e três ou quatro contos. Preparava-se para escrever, limpava a pena, dispunha meticulosamente o papel diante de si e... fitava o texto, à espreita da primeira palavra, como se tivesse de agarra-la de surpresa; mas a frase tornava-se arredia, ocultava-se em um burburinho de pensamentos e o tempo fugia, na desanimada esterilidade de Heitor.

Chegavam-lhe depois à memória as ruidosas ovações feitas a outros escritores, a aceitação de seus livros, a popularidade de seus nomes em todo o país. Tentava, num esforço de energia, vencer a improdutividade, forçar a ideia; tornava a molhar a pena, endireitava o papel: tudo era inútil. Estava escrito que nada poderia fazer.

Deitava-se então, num desânimo, soprava a luz; ficava na escuridão da sua soledade, os olhos escancarados, com um ofego de raiva a secar-lhe a goela. Era justamente isso a sua arrelia. Uma vez deitado, tinha, logo depois, a inteligência lucidíssima: organizava as ideias, formulava frases mentalmente, alinhava períodos inteiros. E, numa crispação, conhecia que, se escrevesse assim, teria garantido o agrado publico, que é o vestíbulo da imortalidade para o escritor. Saltava ás pressas para o chão, acendia a vela, atirava-se à mesa: — mas o encantamento quebrava-se, permanecendo ali apenas o homem de letras impotente, o jornalista esgotado, o funcionário embrutecido, que longas horas de trabalho material impossibilitaram para as elucubrações artísticas.

Vinham-lhe então vibrantes assomos de trêmulos desesperos. Infeliz Heitor!

Uma feita, lembrou-se de buscar na história antiga assunto para uma novela. Naturalmente, o clarão deslumbrante da Grécia chamava-lhe a inteligente atenção e Heitor deliberou logo que a vida helénica da era pré-messiânica seria a preferida da sua pena. Sem grande esforço, pressentiu que série de quadros impressionadores poderiam inspirar-lhe os requintes daquela civilização assombrosa, mesmo em suas desabridas paixões carnais, em seus vícios triunfantes. E que belas perspectivas havia de esboçar, na frase curta e incisiva a que insensivelmente afeiçoara-se-lhe o estilo!

Assuntos não lhe faltavam. Toda a série de lendárias hetairas (
meretrizes), — Taís, Safo, Aspásia, — prestar-lhe-ia ensejo para admiráveis páginas. E sonhava então fazer obra nova, fazer obra sua, propriamente do seu cérebro. Queria divorciar-se de intenções preconcebidas, seguir trilha não arroteada ainda. Sua novela seria em todos os sentidos original, — que não fossem imputar-lhe a pecha de imitador dos Flauberts, dos Anatoles France, dos Pierres Loüys.

Excelentemente educado, encontrara Heitor em consecutivas viagens ótima ocasião para ilustrar-se. Seu espírito, em assuntos de arte, possuía um admirável senso estético, que a contemplação dos grandes trabalhos geniais de todas as épocas havia criado e corrigido. Sonhara, de imediato, fazer ilustrar o seu volume com silhuetas de Carlos Aguiar, paisagens de De Angelis e deliciosos molhos de flores de Julieta França. Havia de enchê-lo de iluminuras, deliciosamente. Seria um livro amoroso, toda a nudez do amor helênico trescalando vivida volúpia no texto e fulgurando em vinhetas, numa exuberância de corpos juvenis, como harmonioso hino à forma imortal. E todas estas ideias vinham-lhe ao cérebro sem baixa concupiscência, antes por entusiasmo artístico, elevado e regenerador.

Entretanto, nada fazia. Quedava-se horas inteiras sentado à secretária, já pensativo, já distraído, rabiscando palavras ermas de senso, ao acaso. E que não havia modo de surpreender a ideia matriz, fundi-la na primeira frase, definitiva e triunfal. Todos os períodos pareciam-lhe inservíveis, sem nervos. Tocava-os com a vista, sopesava-os com o espírito: eram expressões moles como enguias, que escorregavam-lhe dos sentidos e caíam numa laxidão (
fadiga) para o ouvido, seguidas da saudade dolorosa daquele impotente sonhador.

Quando adoeceu, Heitor pressentiu que estava tudo acabado. Ia morrer. Subiram-lhe então as lágrimas às pálpebras, rolaram pelas faces como pesadas, ardentes pérolas em fusão: lamentava o passado, arrependia-se de tantos anos de transigência com a inércia. Dizia-lhe a consciência que era de sua culpa, se tão pequena bagagem literária legava à Amazônia, — embalde o infeliz, para desculpar-se a si próprio, estivesse no direito de invocar a absorvente tirania da existência, a ingratidão universal. E, em poucos dias, então, cobriu-se-lhe de cãs a desgrenhada cabeça cismadora.

No instante em que expirou, esboçava Heitor um meio sorriso translúcido: dir-se-ia estar a ver perpassarem ainda as frotas de Alexandre, mar Jônio afora, ao som dos instrumentos músicos de cortesãs sagradas, eretas à proa e à popa, adoravelmente nuas.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
João Marques de Carvalho. Contos do Norte. Belém/PA: Typographia Elzeveriana, 1907.
Atualização do português por J. Feldman

Maria Antonieta Gonzaga Teixeira (Poemas Diversos) – 2


A MENTE DO SILÊNCIO


No silêncio da alma
o coração se abastece de amor,
aconchego e saudade.

No silêncio dos dias  
a mente se enche de ternura
e agradece a Deus:
pela vida
pelo prazer do belo
pela natureza exuberante.

No silêncio da noite
o canto que seduz
à delicadeza do amor.

No silêncio da gratidão
danço e dançarei
o tango da esperança.

No silêncio! do silêncio
as tristezas ficaram em silêncio.
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DÊ SABOR AO AMOR

Doce!
E de divino sabor
é o chocolate.
Que sensação de prazer!
De alegria!
De felicidade.
Chocolate acalma
proporciona sensação de bem-estar
Alimenta a alma de sonhos
Renova a vida de esperança.
Chocolate alimentos dos deuses.
Agrada aos paladares mais exigentes
anima os folguedos
faz os olhos brilharem.
Quando uma criança
vê uma barra de chocolate
vibra!
Grita!
Se vê um ovo de páscoa
Então!
E´ marejar os olhos
tremer as mãos
de tantas emoções.
Emoções que fazem o coração bater
enche a boca de saliva
sente o sabor do
gosto gostoso
desse alimento dos deuses.
Então!
Viva as amêndoas fermentadas
e torradas de cacau.
Viva o chocolate!
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HOMENAGEM AO MAIOR DOS ARTISTAS

Artistas chegam….
Artistas seguem….
Artistas ficam…
Artistas eternizam …

O maior artista que o mundo conheceu
No circo arrancou aplausos
No cinema foi campeão de bilheterias
Fez o mundo sorrir em épocas de guerra.

Na história do cinema, foi estrela, cineasta
E compositor das trilhas sonoras de seus filmes.
Elevou a comunicação mímica do cinema mudo.
Abriu portas aos cineastas modernos.

Chapéu coco foi símbolo de extrema elegância.
Mas, quantas gargalhadas ao ver o comediante
Com seus trajes: Chapéu de aba estreita, calças largas,
Casaco apertado, sapatos enormes e bengala.

Charles Chaplin
O Gênio da história da sétima arte
O Cidadão do Mundo
O Maior dos Artistas.
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MONTANHAS*

Pregos, cordas, martelos, artefatos
comuns e importantes para montanhistas corajosos.
Mochilas à costas, mãos calejadas não importam.
Chegar ao cume das montanhas é desafiador
- é o triunfo do alpinista sonhador.

*O poema Montanhas recebeu Menção Especial em Necochea (cidade turística de Buenos Aires), Argentina, em 2018.
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SER CRIANÇA

Ser criança é viver, sorrir e saltitar
Brincar de roda, pular amarelinha
Ao fim da tarde, soltar pipa no ar
Com o cabelo em desalinho.

Ser criança é espalhar inocência
Distribuir carinho e ternura
No ambiente de sua convivência
Com emoção e brandura.

Ser criança é ter sonhos lindos
Ouvir histórias: da Carochinha,
Reis e Rainhas, Sapatinho Vermelho
Branca de Neve e da Galinha Pintadinha.

Ser criança é ensinar que o amor
É prenúncio de paz pelos ares
É sonhar com o céu azul
Estrelas cadentes e verdes mares.
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Maria Antonieta Gonzaga Teixeira é de Castro/PR. Graduada em Pedagogia e Pós-Graduada em Didática e em Psicopedagogia. Autora dos livros: “Dos Pequizeiros às Araucárias” – 2014; Instituto Cristão: Arte e Vida – 2015; Encruzilhadas – 2017; Uma VIDA: Affonso e Marieta- 2018; Cavanis: 50 anos no Brasil – 2019. Participou em várias Antologias poéticas. É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni-ALTO; Academia Luminescência Brasileira-ALUBRA; Membro da Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia-AVIPAF.
Artista Plástica, participa das exposições de Arte e Poesia organizadas pelo Curador e especialista em Arte Digital Carlos Zemek, no Brasil, Portugal, Espanha, Argentina, Chile e Colômbia.


Fonte:
Poemas e currículo enviados por Isabel Furini

Nilto Maciel (Ser ou não ser?)

Mais uma para nos enganarem.

Agora passamos o tempo ouvindo música.

A cada hora, mais crescemos e engordamos, a olhos vistos. Estão todos felizes da vida. Passam o dia cantando, imitando cantores e cantoras. Um deles adora Gardel. Só falta perder a voz. Vive rouco, engasgado. Come e canta, come e canta. Deve estar louco. Outro até chora quando Amália Rodrigues canta. A maioria, porém, gosta mesmo é de sinfonias, sonatas, valsas. Babam ouvindo piano.

Meu vizinho engordou antes de todos, só de ouvir Mozart. Levaram-no ontem.

Os homens que cuidam de nós saem felizes. Como cresceram de ontem para hoje!

Tento ficar surdo, para não engordar tanto, embora goste de tudo o que ouço.

Os que inventaram a música são mesmo divinos. No entanto, como são diabólicos os homens! Dão-nos música, comida, prazer, para que cresçamos, engordemos e viremos repasto deles. Pois saímos daqui para a panela dos homens. Afinal, somos tão-somente pequenas criaturas de carne saborosa. Frangos, como dizem os homens que nos visitam de hora em hora.

Agora uma valsa de Strauss. Divina! Ouço ou não ouço?

Fonte:
Enviado pelo autor.
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.

Minha Estante de Livros (O Tesouro de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs)


O Tesouro de Tarzan (Tarzan and the Jewels of Opar) é um romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1918, é o quinto de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Tarzan é vítima de fraude e fica com as finanças abaladas. Ele, então, volta a Opar com um grupo de guerreiros Waziri, para obter mais ouro. A expedição é seguida por Albert Werper, desertor do exército belga a serviço de Achmet Zek, um mercador de marfim e de escravos. Tarzan e os Waziri, por fim, adentram as cavernas onde o tesouro está guardado sem que La, a Grã-Sacerdotisa de Opar, desconfie de algo.

Alertado por Werper de que o caminho está livre, Achmet Zek incendeia a propriedade de Tarzan e rapta Jane. Mugambi, o bravo Waziri amigo do homem-macaco, é o único sobrevivente. Gravemente ferido, ele jura vingar-se de Zek e seu bando.

Um terremoto isola Tarzan e Werper dentro das cavernas, deixando o herói inconsciente. Werper tenta a fuga, porém é capturado pelos oparianos para ser sacrificado.

Tarzan volta a si mas, atacado pela amnésia, retorna ao estado mental de sua juventude, quando vivia como um macaco na tribo de Kerchak.

HISTÓRIA EDITORIAL

Este romance foi escrito de cinco de setembro a nove de outubro de 1915. Foi publicado inicialmente na revista pulp All-Story Weekly, em cinco edições sucessivas, de 18 de novembro a 16 de dezembro de 1916.

Em livro, com capa dura, o romance foi lançado pela editora A.C. McClurg em 1918.

A Companhia Editora Nacional publicou a obra no Brasil em 1934, dentro da coleção Terramarear, onde recebeu o número 25. A tradução foi feita por Manuel Bandeira. Quinze mil exemplares foram impressos. O livro foi reeditado seis vezes, entre 1946 e 1968, as quatro primeiras com dez mil e as duas últimas com cinco mil exemplares cada. Ainda no Brasil, o romance foi lançado em 1959 pela CODIL - Companhia Distribuidora de Livros, com o título de Tarzan - O Tesouro, dentro de um lote de doze aventuras do rei das selvas.

ADAPTAÇÕES

Frank Merrill como Tarzan, no seriado da Universal Pictures Tarzan, o tigre (Tarzan the Tiger), de 1929. O ator já interpretara o homem macaco no seriado anterior, intitulado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), de 1928.

QUADRINHOS

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, publicadas nos jornais de março a julho de 1930. A estreia nos gibis se deu em três partes, entre agosto e outubro de 1966, pela editora Gold Key. A história foi relançada pela Dark Horse Comics em 1999, no formato de graphic novel.

No Brasil, a adaptação foi lançada pela EBAL, na coleção Lança de Prata, no final da década de 1960, com o título de As Joias de Opar. A história foi relançada em 1986, em dois números da revista Tarzan. A EBAL lançou-a no Brasil na série de três números intitulada O Livro da Selva, entre 1978 e 1979.

CINEMA

Com o sucesso do seriado Tarzan, o poderoso (Tarzan the Mighty), os produtores imediatamente produziram sua sequência, Tarzan the Tiger, em 1929, com quinze episódios. Levemente baseado em Tarzan and the Jewels of Opar, o herói foi vivido por Frank Merrill, Jane, por Natalie Kingston e La de Opar por Mademoiselle Kithnou. Igualmente bem sucedido comercialmente, Tarzan the Tiger é o único filme de Tarzan com versões tanto muda quanto sonora. Tarzan e a cidade perdida (Tarzan and the Lost City), produção de 1998, estrelada por Casper van Dien e Jane March, também aproveitou elementos do livro de Burroughs.
 
TELEVISÃO
La de Opar (Angela Harry) em três episódios da série Tarzan: The Epic Adventures (1996-1997), estrelada por Joe Lara e em três episódios da série animada The Legend of Tarzan da Walt Disney Pictures: "Lost City of Opar", "The Leopard Men Rebellion" e "Return of La".

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarzan_and_the_Jewels_of_Opar

Aparecido Raimundo de Souza (Do colorido vivo ao branco e preto sem vida)

 O AMIGO OTÁVIO recebeu o amigo Ringo na porta de sua mansão em Aldeia da Serra com um efusivo aperto de mão e um forte e caloroso abraço. Ringo, apesar de meio desconfiado dessa recepção, indagou.
Ringo:
— Por qual motivo toda essa alegria, amigo Otávio?
Otávio:
— Não é para menos amigo Ringo. Afinal de contas é uma honra estar acolhendo você em minha humilde casa depois de tanto tempo. Quero dizer, em minha ex-casa. Por outro lado, quero que seja o primeiro a saber de um segredo que guardo à sete chaves. Acabo de acertar na loteria. Ora, vamos, não fique ai parado, entre!
Ringo ao ouvir a palavra loteria arregalou uns olhos desse tamanho...

Ringo:
— Na loteria? Voce ganhou na loteria? Quanto?
Como já esperado, nem se importou com a referência feita ao domicílio elegante do amigo no tocante à ser “ex”. A febre pelo fato de saber que o outro havia ganhado na loteria, abalou a sua estrutura física.
Ringo insistente:
— Quanto?
Otávio:
— Quanto o quê?
Ringo:
— De quanto foi a monta do prêmio, Otávio? Não vá esquecer dos amigos. Você sabe. Sempre estive a seu lado nos piores e melhores momentos. Te apoiei quando se separou da Gracinha, depois da Milla, e, por derradeiro, te apresentei à Pati...
Otávio:
— Deixe de conversa fiada. Estou alegre por outro motivo.
Ringo:
— Mas você não ganhou a sorte grande?
Otávio:
— Ganhei a sorte grande sim, porém...
Ringo se fazia afoito demais e se desmanchou em mesuras:
— Olhe, aquela grana que você me emprestou, vou lhe pagar. Não quero que tal empréstimo seja uma mancha a ofuscar a nossa velha amizade.
Otávio:
— Ringo, quer por favor calar a matraca e me ouvir?
Ringo:
— Claro, fale. Juro a você que não vim aqui para lhe pedir nada. Estava nos arredores de Barueri, Santana de Parnaíba...
Otávio:
—...E?
Ringo:
— Lembrei do amigo de todas as horas. Eu disse para mim mesmo. Puxa, o Otávio! Quanto tempo não colocamos “as butucas” nele? Que tal uma passadinha para um cafezinho?
Otávio:
— É mesmo?
Ringo:
— Verdade!
Otávio:
— E o que o “seu mim” respondeu?
Ringo:
— Quem?
Otávio:
— Ué! Você não acabou de falar que disse para o seu mim mesmo, “puxa, Ringo, quanto tempo não vemos o Otávio?”.  O que ele respondeu?
Ringo:
— Ah, claro, o que eu respondi para mim mesmo. Que estupidez mais infantil. O que mim mesmo me respondeu?
Otávio, se antecipou:
— Posso adivinhar. Você disse para o seu mim: “vamos aproveitar que estamos aqui e dar uma desculpa para enrolar aquele otário?”
Ringo ficou sério como uma lagartixa de cabeça para baixo grudada na parede de teto alto. A luz de um protocolo de bloqueio se acendeu dentro da sua imbecilidade.  
Ringo:
— Não pense isso de mim, Otávio. Somos amigos. Pô, cara, qualé?
Otávio, em contínuo, perdeu as estribeiras:
— Você não passa de um filho de uma jumenta. Interesseiro, cretino, pilantra, mentiroso...
Ringo:
— Otávio, eu só vim...
Otávio:
— Veio o quê? Desembucha, meu prezado: veio o quê? Pagar aquela mixaria que lhe emprestei faz tempo ou pedir novo prazo para me engambelar por mais um ano? Estou errado?
Ringo:
— Completamente!
Otávio:
— Então o que veio cheirar aqui?
Ringo:
— Te visitar. Não nos vemos há meses... e depois...
Otávio:
— Babaca sem vergonha.
Ringo:
— Meu amigo... que isso!
Otávio:
— Que isso coisa nenhuma. Quer saber? Descobri tudo, seu filho da mãe. Tudo. Não precisa se fazer de santinho.
Ringo:
—Tudo? Tudo o quê?!
Otávio:
— Tudo sobre você e a “Florzinha”.
Ringo:
— Quem é “Florzinha?”
Otávio perdeu num só esgar a paciência. Inopinadamente, como um felino, saltou e segurou Ringo pelo pescoço e o empurrou contra a porta de entrada:
— Não se lembra da “Florzinha?”
Ringo, estático e com a língua quase toda do lado de fora, de repente pareceu ter visto um fantasma:
— Na... não... pelo amor... pelo amor de... de  Deus!
Otávio:
— Vou refrescar a sua memória.
Ringo:
— Va... vai?
Otávio:
— Você não é meu melhor amigo?
Ringo:
— So... sou...
Otávio:
— “Florzinha” é o apelido carinhoso que você botou na Pati... Desculpe, Patrícia. Sabe quem é a Patrícia?
Ringo:
— Sua... sua...mu...  mu... mu... lher...
Otávio, aos estrondos:
— “EX!”.
Ringo:
— Ex? Vocês... vocês se... se... sepa... se... se... para... ram?
Otávio:
— Como se não soubesse. Vou acabar com a sua raça!
Ringo:
— Ca... calma...  Otá... Otá... Otavio...
Otávio:
— Complete, seu idiota.  Você ia me chamar de Otário? Acha que sou otário?
Ringo:
— Nu... nunca pensei... estou... estou sem ar...
Otávio:
— Coitadinho!
Ringo:
— Otá... Otávio, vá.… va... mos... com...
Otavio, sem dar trelas ao amigo, e aparentando estar bastante possesso, insistiu em não deixar de estorcer, com mais energia, a garganta do infeliz:
— Eu descobri tudo, seu pilantra. Sei que você, na minha ausência, dava em cima da Patrícia... quero dizer, da “Florzinha”.
Ringo:
— E... eu?
Otávio, de novo aos esbravejos:
— Não, seu babaca, “SEU MIM!
Ringo:
— O... Otá...
Otávio:
— Confesse.
Ringo:
— Com... fes... sar... o... quê?
Otávio:
— Agora não importa mais. Seguinte: mete logo a mão no bolso e tira esse pacote de notas e me paga. Estou no seu encalço com dois seguranças. Antes de vir para cá, você passou pelo banco.
Ringo:
— Si... sim... o... olhe... a... aqui... vo... vou... te... pa... gar... o... que... de... vo...
Otávio:
— Fico feliz. Não sabe quanto!
Ringo:
— Quan... to...  é...  mês... mo?...  não...  me...  re... cor... do...
Otávio:
— Vamos, anda. Manuseie as patas. Raspe os bolsos...

Com o cachaço vermelho, quase em desmaio, Ringo se debulhava em choro. Otávio aliviou a pressão. Soltou o amigo, e grudou nele pelos fundilhos das calças:
— Meu Deus, Otávio... pronto. Aposto que isso aqui deve bastar. Olhe, vou botar as notas em seu bolso.
Otávio:
— E os juros?
Ringo:
— Claro. Como iria me esquecer dos juros? Agora você pode ficar com a “Florzinha” todinha para você. Se quiser, lhe compro um vasinho de plantas e mando pelo correio...

Apesar de desprendido das garras de Otávio, Ringo, nas últimas, não sabia como fugir do seu melhor amigo. Os olhos seguiam esbugalhados. Além do pranto, suava feito um porco à passos de ser abatido. A camisa colou na pele. À suspicácia de coisa pior embolava. Formava um nó e tomava conta desenhando figuras esquisitas diante de sua percepção estuporada.

Otávio:
— Muito bem. Estou feliz por você ter resgatado a sua dívida.
Ringo:
— Como você disse assim que cheguei que havia ganho na loteria, pensei que perdoaria a dívida.
Otávio:
— É mesmo??? - Quer saber quanto eu ganhei?
Ringo:
— Sim... quero dizer, não.
Diante dessa resposta, Otávio se engraçou, de novo com a angustura do desditoso. Grudou nela com mais altivez e ferocidade:
— Mas ainda assim eu direi, seu pelintrão. O bastante para comprar minha liberdade e deixar de ser “ex”. “Ex-corno”. Entendeu o que eu disse? Sou “ex-corno”, como a Pati – desculpe, a “Florzinha” – é minha “ex”. E você, Ringo, passou para a lista negra dos meus “ex-amigos””.
Ringo:
— Eu?

A essa altura, com o novo bote de Otávio em seu cangote, Ringo se ajoelhou de dor. Tentou se livrar do jugo obstaculoso de Otávio, mas o amigo, duplamente mais forte, neutralizava qualquer tipo de reação.
Otávio:
— Como se sente, sendo meu “EX-AMIGO?”    
No que falava, Otávio sacou da parte de trás da jaqueta, um revolver calibre trinta e oito. Encostou o cano na testa de Ringo. O desespero chegou ao crítico. Otávio, entremeado num sorriso estranho, em ato inopinado, deu voz ao gatilho. Uma, duas, três, cinco vezes. Os miolos de Ringo se espalharam pelas paredes e ladrilhos, deixando no portal de acesso à mansão suntuosa, manchas macabras, como se os projéteis, ao penetrarem seu rosto espantado, desenhassem as fases mais variadas do medo mórbido e tétrico que urrava por socorro dentro de seu coração.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

sábado, 17 de junho de 2023

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 26

 

Cecy Barbosa Campos (Vestígios)

É... Quase nada resta... Só algumas daquelas numerosas e frondosas árvores, que enfeitavam o Parque Halfeld, há muitos, muitos anos atrás...

Percorreu, com os olhos cansados, as alamedas que levavam ao caramanchão. Enxergou, com os olhos da mente, a água cristalina, pontilhada por peixinhos vermelhos, que iam e vinham em seu frescor.

Sem perceber a grande área central, curtida pelo sol causticante e desabrigada da vegetação que, anteriormente, a protegia, ouviu sons que vinham da PRB3, a estação de rádio da cidade, cujo prédio ficava bem no meio do Parque. Perdeu-se no mundo de sonhos, trazidos pelas histórias da Tia Violeta, programa favorito do menino que não era mais.

A sujeira do chão e o cheiro de urina, naquele momento, também lhe passaram despercebidos. Estava ali, porém longe no tempo. Voltara às suas brincadeiras de criança, às correrias com os amiguinhos, à caixa de areia sem perigo de contaminação pela defecação de gatos, cães e até mesmo de ratos.

Tampouco, notou a garota, quase-menina, que veio se encostando a ele de modo insinuante. Não fosse a catarata que lhe dificultava a leitura dos jornais, talvez, tivesse lido a grande manchete, na primeira página da Tribuna — "Prostituição infantil no Parque Halfeld" — e chegado à deprimente constatação.

De repente, baixou um cansaço... Um torpor, um peso no corpo e na alma, uma tristeza que lhe fechava os olhos para tentar voltar ao sonho e não enxergar a dura realidade. Não, aquele não era mais o Parque Halfeld. Sentou-se num dos bancos empoeirados que circundavam o parque e, cabisbaixo, deparou com seus próprios braços, enrugados, ressequidos, sem viço...

— É, pensou... Meus braços, as árvores... Casca ressecada, galhos retorcidos, marcados pelo tempo... Cicatrizes, cortes profundos que atingem o tronco e o coração... O que resta do Parque Halfeld? O que resta de mim?

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Enviado pela autora

Artur de Azevedo (Contos em versos) VAGABUNDO


O Mathias, coitado,
Vive sabe Deus como, que é casado
E duzentos mil mensais apenas ganha,
Pois lhe há sido tamanha
A ingratidão dos fados desumanos,
Que ele ainda hoje tem o parco vencimento
De quando começou, há muitos anos,
Numa repartição...

Caminho lento
Percorre o funcionário
Que se mostre à mesura refratário,
E, metido consigo
De toda a gente não se faça amigo,
Nem serviços alegue
E da sorte ao capricho apático se entregue.
Era assim o Mathias,
E, passavam-se dias
Semanas, meses, anos, sem que o mundo
Lhe ouvisse a menor queixa.

De Catumby no fundo,
Numa viela que a montanha fecha,
Reside o pobretão em companhia
Da cara esposa que, fazendo balas,
Do casal as despesas auxilia,
Porque, se assim não fora, ambos decerto
Se veriam em talas.

Seria aquela casa um lindo céu aberto
Se tivesse o casal um filho, um filho ao menos,
Sim, porque, não há dúvida, os pequenos
Espancam a tristeza
E tornam suportável a pobreza
No lar mais esquecido dos favores
Da eterna deusa cega e fugitiva
Que anda sobre uma roda e que nos faz senhores,
Andar a todos numa roda viva.

No entanto, em casa havia
Um velho cão que, a bem dizer, supria
De uma criança, a falta.
Era um grande peralta
Que, se a porta da rua achava aberta,
Ia logo se embora,
E eram dias e dias pela certa,
Que ficava lá fora,
E coisas tais fazia,
Que ao regressar, trazia
Vestígios eloquentes
De haver lutado a dentes,
Disputando, talvez, uma gentil cadela
Qual cavaleiro antigo, a lança heroica em riste,
Disputaria a sua dama bella.

O cão dessas façanhas vinha triste,
Cauda e orelhas caídas, receoso
De ser mal recebido (e era muito bem feito!);
Porém bastava um gesto carinhoso,
Um sorriso fagueiro,
Uma bala roubada ao tabuleiro,
Para vê-lo de novo alegre e satisfeito.

Há dez anos o cão aparecera um dia
Ali; ninguém sabia
De onde viera. Tinha fome o bicho,
E, como lhe a matassem
E lhe dessem um nicho
Onde nem sol nem chuva o incomodassem
Foi-se ficando o maganão tranquilo
Naquele doce asilo.

Deram-lhe o nome feio
De Vagabundo, e o mesmo nome, creio
(Digo-o em seu desabono)
Lhe havia dado o primitivo dono,
Porque, à primeira vez que foi assim chamado,
Correu logo apressado.

Jamais num cão fraldeiro
Esse nome assentou com tanta propriedade;
Vagabundo, melhor do que o melhor carteiro,
Conhecia a cidade
Do Rio de Janeiro.

Ultimamente, há dias, quando a nossa
Municipalidade
A guerra declarou de morte aos cães vadios,
Mathias e a mulher tiveram calafrios
Por causa da patibular carroça
Que o bairro percorria
Engaiolando os cães, para mata-los.
Incessantes abalos
No piedoso casal o carro produzia.
Que querem? Não havia
Dinheiro para o imposto
Que podia evitar-lhes o desgosto
De verem Vagabundo engaiolado...

Um dia
A carroça fatal passou de cães repleta,
E a mulher do Mathias inquieta,
Debalde procurou por Vagabundo:
Não estava em casa, andava a correr mundo
— Quem sabe se foi preso e vai ali? — murmura,
E, fazendo tão triste conjectura,
Viu a carroça... e Vagabundo dentro!

A mulher desespera!
Em minúcias não entro,
Que é difícil pintar-vos a sincera
Dor que dela se apossa
Ao ver o cão querido na carroça,
Que lembra uma carreta
No tempo da infeliz Maria Antonieta.

Mas, eis que o velho cão sai de baixo da mesa
Agitando a sorrir a cauda tesa,
Como se tudo houvera compreendido;
Parecendo dizer: — Cá estou, não tenha medo,
Eu me havia escondido
Apenas por brinquedo.

Não era Vagabundo, o cão engaiolado,
Porém outro com ele parecido,
Que o não ser cão de raça
Tem este inconveniente
De se não distinguir de qualquer cão que passa.

A senhora ficou muito contente,
Para outro susto não sofrer, coitada,
Foi buscar onde estava bem guardada
Uma velha pulseira,
Joia numero um, do tempo de solteira,
E empenha-la mandou no Monte do Socorro,
Para pagar o imposto do cachorro.
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Nota sobre o nome do autor:
Neste livro consta Artur (sem o h), em outros é Arthur. Ainda há uns que não possuem o de antes de Azevedo. Estou publicando sem o h, como está neste livro.


Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Artur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909.
Português atualizado por J.Feldman

George Abrão (Uma viagem ao passado)

Em meus devaneios e reminiscências permiti-me estar em Jaguariaíva, na Praça Dona Izabel, no crepúsculo de um dia do mês de fevereiro de 1958, data do meu aniversário de oito anos.

De frente para a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria, a vi, majestosa e imponente em sua simplicidade externa, com uma bela imagem de Cristo, colocada no cimo e na parte frontal do seu telhado, abençoando sua cidade.

Fui até ao adro, onde havia uma grande porta central, que se encontrava fechada, e duas portas menores nas laterais, todas em madeira de lei. Dirigi-me a do lado direito e adentrei o templo. Logo à minha frente, na parede, numa pia semi-circular em mármore havia água benta onde eu, molhando os três dedos centrais da mão direita, persignei-me e dirigi-me à nave central onde quedei-me para a fazer as minhas orações. Então, como num passe de mágica, tive a impressão de ouvir, vindo do espaço reservado ao coro, atrás de mim e no alto, os cantores a entoar um cântico de louvor à Virgem Maria.

Toda a igreja encontrava-se inundada pela luz emitida por dois belos lustres de cristal que pendiam do teto, um róseo e o outro branco e bem maior, situado logo mais à frente, mesclada com os reflexos do que ainda restava da luz do dia no coloridos dos vitrais. E uma sensação de encantamento e de cumplicidade Divina invadiu o meu ser naquele final de tarde.

Nas paredes laterais da bela igreja, entre as janelas, haviam quadros em alto relevo, iniciando-se da frente do lado esquerdo e terminando à frente do lado direito, que contavam a Via-Crucis de Jesus Cristo. E de cada lado, próximos às portas laterais, havia uma joia da marcenaria: os confessionários em madeira de cedro, toda trabalhada, mandados vir de Portugal quando do final da construção da igreja. Mais à frente e ao lado esquerdo, próximo a um dos altares secundários onde se viam nichos com belíssimas imagens de santos, ficava a pia batismal em mármore, com tampo de madeira, a mesma em que eu fora batizado.

Em frente à nave, e após dois degraus, fica o presbitério, da qual era separado por balaústres  de madeira pintados como se fossem de mármore travertino, com passagem central. Nesse espaço sagrado, reservado aos padres e à equipe de liturgia, ficava a credencia, que assim como o altar-mor e os dois altares secundários, era recoberta por alvas e belas toalhas caprichosamente bordadas por dona Pequena de Barros, que também por elas zelava. E coroando toda a beleza da igreja: o Altar-Mor, esculpido em madeira, também pintado como mármore, ladeado por belas imagens de anjos portando altas luminárias, tendo ao centro e em plano inferior o Sacrário, e no alto, dentro de um nicho envidraçado, a bela imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria coberto com uma capa carmim.

Após novas orações junto ao altar, dirigi-me à lateral direita do mesmo, onde, na sua parte inferior, havia uma placa em bronze indicando que naquele local jaziam os restos mortais de Dona Izabel Branco e Silva, doadora daquela igreja à municipalidade, bem como fundadora da cidade de Jaguariaíva.

Hoje, já com setenta e seis anos de idade, resido bem longe: em Maringá. Mas a saudade e a lembrança dos meus tempos de menino, quando morava próximo ao atual Santuário do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria, me invadem docemente a cada dia.

Fonte:
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.
Enviado pelo autor.

Jaqueline Machado (A Bela e a Fera)

Contos de Fadas e Fábulas, não são estórinhas escritas somente para crianças, pois as mensagens condensadas nesse tipo de literatura nos fazem refletir sobre assuntos, sombrios, tais como: inveja, falsos amores, ambição e aparências.

No conto a Bela e a Fera,  escrito pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot e publicado pela primeira vez em 1740, traz a temática da aparência. Um lindo e nobre príncipe que se achava superior às outras pessoas, negou abrigo a uma senhora maltrapilha e feia que lhe ofereceu uma rosa em troca de ajuda. A velha, sentindo–se humilhada transformou-se numa linda e jovem feiticeira. Ao vislumbrar a beleza da bruxa, o jovem pede perdão, mas o arrependimento é tardio: ela o transformou numa fera horrenda, a qual as pessoas teriam medo e repulsa.

O que a feiticeira fez foi exteriorizar o interior do rapaz, que na verdade, não era belo, pois seus sentimentos não tinham nobreza. Ele era vaidoso, egoísta e fútil.

Bela, a personagem que divide a protagonista do enredo, pede ao seu pai, que parte em viagem, que lhe traga uma rosa. Passando pelo castelo, seu pai apanha a rosa e é preso pela Fera. Ao descobrir a situação de seu paizinho, ela decide libertá-lo, ficando em seu lugar.

A Fera se apaixona por Bela e, com o passar do tempo, a própria Bela começa a perceber que a Fera podia ter um bom coração. Desfecho: eles se apaixonam e, ao descobrir o amor, a Fera transforma-se num lindo príncipe. Agora belo por dentro e por fora.

Esse conto nos convida a refletir sobre o “TER e o “SER”. Muitas pessoas não se dão conta de que há uma diferença enorme em ter e ser... Ter, se refere às coisas materiais, que podem, a qualquer momento, serem arrastados pelo vento. Ser, é algo muito mais fundamentado, se refere às coisas inegociáveis: saúde, amor, amizade, alegria, fé...

De nada vale ter dinheiro, imóveis, fazer viagens, quando não se aproveita ou valoriza as verdadeiras belezas da vida. A existência é tão grandiosa, que temos por obrigação, todas as manhãs, levantar, olhar para o céu e agradecer pela oportunidade de estarmos vivos e de vivermos num mundo cheio de belezas.

A beleza e a riqueza são coisas que nascem dentro da gente e não podem ser compradas ou comparadas às coisas perecíveis.

Todos nós somos um pouco Bela e um pouco Fera, mas é agindo como Bela que descobrimos onde se escondem os tesouros do mundo.  

Fonte:
Enviado pela autora

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Izo Goldman (Buquê de Trovas) – 3 –

 

Lima Barreto (O Cedro de Teresópolis)

O eminente poeta Alberto de Oliveira, segundo informações dos jornais, está empenhado em impedir que um proprietário ganancioso derrube um cedro venerável que lhe cresce nos terrenos.

A árvore é remanescente de antigas florestas que outrora existiram para aquelas bandas e viu crescer Teresópolis já adulto.

Não conheço essa espécie de árvore, mas deve ser bela porque Alberto de Oliveira se interessa pela sua conservação.

Homem de cidade, tendo viajado unicamente de cidade para cidade, nunca me foi dado ver essas essências florestais que todos que as contemplam, se enchem de admiração e emoção superior diante dessas maravilhas naturais.

O gesto de Alberto de Oliveira é sem dúvida louvável e não há homem de mediano gosto que não o aplauda do fundo d'alma. Desejoso de conservar a relíquia florestal o grande poeta propôs comprar, ao dono, as terras onde ela crescia.

Tenho para mim que, à vista da quantia exigida por este, ela só poderá ser subscrita por gente rica, em cuja bolsa umas poucas de centenas de mil réis não façam falta. Aí é que me parece que o carro pega. Não é que tenha dúvidas sobre a generosidade da nossa gente rica; o meu ceticismo não vem daí. A minha dúvida vem do seu mau gosto, do seu desinteresse pela natureza.

Excessivamente urbana, a nossa gente abastada não povoa os arredores do Rio de Janeiro de vivendas de campo com pomares, jardins, que os figurem graciosos como a linda paisagem da maioria deles está pedindo. Os nossos arrabaldes e subúrbios são uma desolação. As casas de gente abastada têm, quando muito, um jardinzinho liliputiano de polegada e meia; e as da gente pobre não têm coisa alguma.

Antigamente, pelas vistas que ainda se encontram, parece que não era assim. Os ricos gostavam de possuir vastas chácaras, povoadas de laranjeiras, de mangueiras soberbas, de jaqueiras, dessa esquisita fruta-pão que não vejo mais e não sei há quantos anos não a como assada e untada de manteiga.

Não eram só essas árvores que a enchiam, mas muitas outras de frutas adorno, como as palmeiras soberbas, tudo isso envolvido por bambuais sombrios e sussurrantes à brisa. Onde estão os jasmineiros das cercas? Onde estão aqueles extensos tapumes de maricás que se tornam de algodão que mais é neve, em pleno estio?

Os subúrbios e arredores do Rio guardam dessas belas coisas roceiras, destroços como recordações.

A rua Barão do Bom Retiro que vem do Engenho Novo à Vila Isabel dá a quem por ela passa uma amostra disso. São restos de bambuais, de jasmineiros que se enlaçavam pelas cercas em fora; são mangueiras isoladas, tristonhas, saudosas das companheiras de alameda que morreram ou foram mortas.

Não se diga que tudo isso desapareceu para dar lugar a habitações; não, não é verdade. Há trechos e trechos grandes de terras abandonadas, onde os nossos olhos contemplam esses vestígios das velhas chácaras da gente importante de antanho que tinha esse amor fidalgo pela casa e que deve ser amor e religião para todos.

Que os pobres não possam exercer esse culto; que os médios não o possam também, vá lá! e compreende-se; mas os ricos? Qual o motivo?

Eles não amam a natureza; não têm, por lhes faltar irremediavelmente o gosto por ela, a iniciativa para escolher belos sítios, onde erguerem as suas custosas residências, e eles não faltam no Rio.

Atulham-se em dois ou três arrabaldes que já foram lindos, não pelas edificações, e não só pelas suas disposições naturais, mas também, e muito, pelas grandes chácaras que neles havia. Botafogo está neste caso. Laranjeiras, Tijuca e Gávea também.

Aos famosos melhoramentos que têm sido levados a cabo nestes últimos anos, com raras exceções, tem presidido o maior contra-senso. Os areais de Copacabana, Leme, Vidigal, etc., é que têm merecido os carinhos dos reformadores apressados.

Não se compreende que uma cidade se vá estender sobre terras combustas e estéreis e ainda por cima açoitadas pelos ventos e perseguidas as suas vias públicas pelas fúrias do mar alto.

A continuar assim, o Rio de Janeiro irá por Sepetiba, Angra dos Reis, Ubatuba, Santos, Paranaguá, sempre procurando os areais e os lugares onde o mar se possa desencadear em ressacas mais fortes.

É preciso não cessar em profligar
(destruir) tal erro; tanto mais que não há erro, o que há é especulação, jogo de terrenos, que. são comprados a baixo preço e os seus proprietários procuram valorizá-los num ápice de tempo, encaminhando para eles os melhoramentos municipais.

Todo o Rio de Janeiro paga impostos, para que tal absurdo seja posto em prática; e os panurgianos
(pessoas frívolas) ricos vão docilmente satisfazendo a cupidez de matreiros sujeitos para quem a beleza, a saúde dos homens, os interesses de uma população nada valem. É por isso que disse não me fiar muito que Alberto de Oliveira alcançasse realizar o seu desideratum.

Os ricos se afastam dos encantos e perspectivas dos sítios em que se possam casar o mais possível a arte e a natureza. Perderam a individualidade da escolha; não associam à natureza as suas emoções nem. esta lhes provoca meditações.

O estado dos arredores do Rio, abandonados, enfeitados com construções contraindicadas, cercados de terrenos baldios onde ainda crescem teimosamente algumas grandes árvores das casas de campo de antanho, faz desconfiar que os nababos de Teresópolis pouco se incomodam com o cedro que o turco quer derrubar, para fazer caixas e caixões que guardem quinquilharias e bugigangas.

Daí pode ser que não; e eu desejaria muito que tal acontecesse, pois deve ser um soberbo espetáculo contemplar a magnífica árvore, cantando e afirmando pelos tempos afora, a vitória que obteve tão-somente pela força de sua beleza e majestade.

Fonte:
Lima Barreto. Crônicas. Publicado originalmente em Bagatelas, 27 fevereiro 1920.
Disponível em Domínio Público

Marli Terezinha Andrucho Boldori (Poemas Avulsos)

ALÉM…


...toque meus dedos
Leve-me daqui,
O céu é apenas o nosso começo.
Alcemos o voo,
Vamos na busca do que nos faz bem.
Nada de impunidades ou castigos,
Apenas a distração final: seus olhos.
Talvez eu siga este caminho, pois sinto-me bem com você,
E, quando o final se aproximar, não terei medo,
Pois você estará comigo, apenas o começo,
Seus dedos entrelaçados aos meus,
Seus braços abertos,
O vento nos leva por entre as nuvens,
As estrelas brilham,
O meu melhor ainda está por vir,
As correntes foram quebradas.
Não estou mais cativa àquela cama, você me resgatou,
E me trouxe ao paraíso.
Sinto-me livre, e quero recomeçar.
Quero retomar a minha vida,
Deixada há anos,
Não há mais regras, não há mais erros nem torturas.
A vida apenas recomeçou de onde a deixei para aprender.
E agora estou de volta, meu lar, minha vida retomada.
Agora vivo em paz!
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CURITIBA

Cidade das três estações
Pela manhã, me agasalho
Casaco, guarda-chuva e cachecol
Onde coloco isso, pois agora
Surgiu o sol.
Arara azul escondeu o fruto da araucária
Em tantos lugares que perdeu a noção
E hoje Curitiba é conhecida pela altivez do pinheiro
Cidade Bendita com sua Boca Maldita
É bendita com seus bosques,
Parques  gloriosos
Repleta de cultura
Poesia, prosa e pintura
Dentro da casa das letras,
Da grandiosa Universidade
Aos cafés culturais
Do famoso sotaque do “leite quente”,
De tudo que se fala
Largo da Ordem, feirinhas coloridas
Na Curitiba atrevida!
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JARDIM DIVINO

Vislumbrei através de um portal dourado
Um jardim quase etéreo
A bruma dificultava minha visão,
Era diferente, porém sublime
Eminente, repleto de telas pintadas
Pinturas? Sim!
Eram só rosas
Pareciam celestiais,
Pincéis suspensos no céu
Caíam das nuvens
E cada um
Deslizava pingando
Suas cores
Pintando assim
As pétalas,
As folhas, o caule, espinhos
Indecifráveis,
Tons enriquecidos pelo tempo
Percebi na pintura
Um ramalhete de rosas
Multicores
Em um galho apenas
O Jardineiro Paterno
Com a tela das rosas
Deu-nos seu amor eterno.
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MULHER

A cabeça dói, a lata d’água
Dança sem equilíbrio
O cansaço lhe vence, mas precisa caminhar
Nem sabe aonde chegar
Faz o trajeto todo o dia,
O corpo reclama por cuidados
É hora de parir
Seus outros filhos a esperam
Precisa ter forças para agir
Marido foi em busca de vida melhor
Melhor para ele, pois se esqueceu de voltar
Sente-se apenas mulher, mas sem forças
Ainda há tanto para fazer, e pensa
O que pôr no prato para os filhos
A amiga veio ajudá-la
Alguém lhe pergunta: Por quê?
Porque sou mulher
Apenas Mulher!
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QUEM SOU

Sou um santuário, mas
No meu âmago a ruína cresce
Escondo dos olhos
Para que não saibam
Quem vive dentro de mim.
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VOCÊ

Eu vivo em você
respiro você,
durmo e sonho você
Sinto sua falta
Procuro por você.

Porque sou você,
minha mãe!
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Marli Terezinha Andrucho Boldori, nasceu em União da Vitória/PR. Filha de Hilário Andrucho e Catarina Mateus Andrucho. Graduou-se em Letras/Inglês e pós graduou-se em Produção de Textos, ambos pela FAFI/UNESPAR, em União da Vitória.

Acadêmica da ALVI (Academia de Letras do Vale do Iguaçu de União da Vitória); da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia).

Colunista do Jornal Caiçara, de União da Vitória/PR.

PARTICIPAÇÕES

– Livro de Antologia- Coletânea-Faces não Reveladas, organização de Sandra Mara Ferrari Radich, 2015;
– Antologia de Poesia e Prosa V Prêmio Literário do escritor Marcelo de Oliveira Souza, 2017.
– Em vários concursos de poesias, contos, crônicas, publicações em jornais, nacionais e internacionais.
– 28º Festival Poético – Cornélio Procópio, novembro 2012.
– Fez parte da comissão julgadora do 10º Concurso Internacional Poetizar o Mundo, em Curitiba/PR, abril 2015.
– Revista Carlos Zemek - Arte e Cultura, na homenagem “à palavra” na página da poesia.

Lançou em 2015 o livro,” Pensando a Vida”.

Seu conto “O Presente de Natal” foi publicado Jornal Indústria e Comércio de Curitiba, em 2012.

Seus poemas fizeram parte de exposições de Arte e Poesia no Brasil e na Argentina:
– Exposição de Artes Plásticas e Literatura – Religiões do Mundo, Curadoria de Carlos Zemek. Estação Business School, Curitiba, 2013;
– Exposição de Artes Plásticas e Literatura – Mês da Mulher. Estação Business School, Curitiba, 2013;
– Muestra de Arte y Poesia Sensaciones na cidade de Buenos Aires,Argentina, em 2015.

Possui o blog Naco de Prosa (https://nacodeprosa.blogspot.com.br)


Fonte:
Poemas e biografia enviadas por Isabel Furini.