domingo, 10 de dezembro de 2023

Hans Christian Andersen (Só a pura verdade)

Que coisa horrível! - disse uma Galinha, no outro extremo da cidade, bem longe do bairro onde a história se passara - é horrível o que houve no galinheiro! Nem arrisco a dormir sozinha esta noite. Ainda bem que somos muitas no poleiro.

E passou a contar o ocorrido, fazendo arrepiar as penas das outras galinhas, a cair a crista do Galo. E era tudo verdade, só a pura verdade.

Mas vamos começar do começo, que ocorreu no extremo oposto da cidade. O Sol desceu e as galinhas subiram. Uma delas, de penas brancas, e pernas curtas, punha os ovos regularmente e, como galinha, era respeitável em todos os sentidos. 

Chegada ao poleiro, começou a catar-se com o bico. Caiu ao chão uma peninha.

- Lá se foi uma pena! - disse ela - parece que, quanto mais me cato, tanto mais bonita vou ficando - acrescentou, por brincadeira, pois era ela o espírito mais alegre da galinhada, embora fosse, conforme já foi dito, criatura de todo o respeito. E logo adormeceu.

Era escuro ao redor. As galinhas estavam enfileiradas, lado a lado, e a que lhe estava mais próxima não dormia. Ela ouviu, e ao mesmo tempo não ouviu, como convém, para se viver em paz neste mundo. Mas teve, assim mesmo, de confiar à outra vizinha o que ouvira.

- Ouviste o que foi dito aqui? - cochichou - Não vou dizer o nome de ninguém, mas há aqui uma Galinha que quer arrancar as próprias penas para ficar bonita. Se eu fosse Galo, a desprezaria.

Logo adiante, pouco acima das galinhas, estava pousada a Coruja, com o Corujão e as corujinhas. Naquela família, sim, todos tinham bons ouvidos. Ouviram cada palavra dita pela Galinha. Viraram os olhos e dona Coruja abanou-se com as asas.

- É feio escutar o que dizem os outros! - começou ela - Mas, naturalmente, todos ouviram o que disse a Galinha. Eu o ouvi com os meus próprios ouvidos, e deve-se escutar, antes que caiam as orelhas. Uma das galinhas esqueceu a tal ponto a decência, que está tirando todas as penas e deixa o Galo ver tudo.

- Prenez garde aux enfants! - disse papai Corujão - isso não é conversa para crianças ouvirem.

- Preciso contar o caso à coruja vizinha, senhora séria e respeitável.

Dona Coruja saiu voando.

- Hu-hu! Uhu-uhu-uhu! - riram as duas, juntas, pouco depois.

Achavam-se um pouco acima do pombal do vizinho, e as pombas ouviram-nas comentar o caso:

- Ouviram esta? Ouçam, que esta é muito boa! Há aí uma Galinha que arrancou todas as penas por causa do Galo! Vai morrer de frio, se é que já não morreu. Huuu - huuuu!

- Onde? Onde? Onde? - arrulharam as pombas.

- No galinheiro do vizinho. É como se eu mesma o tivesse visto. É coisa que quase nem se devia contar, pois é um tanto indecente. Mas é a pura verdade!

- Ora, ora, ora! - arrulharam de novo as pombas.

E passaram a história adiante.

- Há uma Galinha - há quem diga que são duas - que arrancou todas as penas para não ser igual às outras e chamar a atenção do Galo. É uma brincadeira arriscada, pois apanhar um resfriado é o que há de mais fácil, e morrer de febre é o que menos custa. De fato, já morreram, as duas...

- Acordem! Acordem! cantou o Galo, voando para o alto do cercado.

O sono ainda lhe pesa nos olhos, mas apesar disso ele cantava:

- Morreram três galinhas, de infeliz paixão por um Galo. Elas arrancaram todas as penas. É uma história muito feia, não quero guardá-la comigo. Que vá adiante!

- Deixa que vá adiante! - piaram os morcegos.

- Deixa que vá! Deixa que vá! - cacarejaram as outras galinhas.

A história foi assim circulando, de galinheiro em galinheiro, e, por fim, voltou ao local de onde viera.

- São cinco galinhas, - contavam - todas arrancaram as penas para mostrar qual delas tinha emagrecido mais de paixão pelo Galo. Depois brigaram, de tirar sangue, e se mataram de bicadas. Ficaram mortas no terreiro. Foi uma ignomínia para a família delas, e um grande prejuízo para o dono do galinheiro.

Então, a galinha que perdera uma única peninha, ao catar-se não reconheceu a sua própria história, e como fosse uma galinha respeitável, disse lá com os seus botões:

- Desprezo as galinhas como essas. Mas não serão as últimas. Há muitas mais dessa marca. Não se deve silenciar sobre tais coisas. Farei o que eu puder para que essa história saia nos jornais e corra o país todo. É o que merecem essas galinhas e também a família delas.

E a história saiu nos jornais, foi impressa, e uma coisa é verdadeira: uma única peninha pode facilmente transformar-se em cinco galinhas.

Fonte: Hans Christian Andersen. Contos de Andersen. Publicado em 1835. Disponível em Domínio Público.

Luís da Câmara Cascudo (Casas encantadas)

O velho João Tibau, que muito bem conheci na praia de Areia Preta, Natal, homem baixo e robusto, de força gigantesca, lenhador, pescador quando nada tinha a fazer, bebedor emérito, contou-me esta história:

Acordou pensando ser madrugada e saiu para fazer lenha e como andasse depressa chegou ao mato verificando ser noite alta, tudo escuro de meter o dedo no olho. Nem mesmo enxergava os paus. Foi indo, bangolando, fazendo tempo, quando ouviu uma música muito bonita e foi indo na direção do som. Era, com certeza, algum baile nas redondezas. 

Andou e andou e foi parar perto da praia do Flamengo, além de Ponta Negra, avistando, da ribanceira que descortina o mar, um clarão. Desceu a barreira e empurrou-se para lá. Encontrou um grupo de cavaleiros, com grandes capas compridas, muito bem vestidos, nuns cavalos de raça, lustrosos e gordos, mas João Tibau não identificou ninguém. 

Quis acompanhar o grupo e acabou correndo quanto podia, mas tinha a impressão de apenas andar, pois não vencia o terreno. O grupo desapareceu adiante como se fosse fumaça. 

A praia estava clara pelas estrelas e o mar muito calmo. Tibau chegou perto da última curva e viu um palácio que era uma Babilônia, várias carreiras de janelas, todas iluminadas com uma luz azul que doía na vista. Chegando mais para perto ouviu as rabecas e as sanfonas, o vozerio do povo se divertindo, e mesmo a bulha compassada dos dançarinos. 

Apressou mais o passo e ficou diante do palácio deslumbrante, todo cheio de luzes e músicas, de vozes e de cantigas mas não via vivalma.

Aí, arrepiou-se todo, pensando que fosse coisa encantada e benzeu-se. Deu-lhe um passamento pelo corpo, escureceu-lhe a vista e só recobrou-se pela madrugada, já o céu todo claro, as barras do sol do mar. Viu então que estava diante das Barreiras Roxas.

As Barreiras Roxas são um revestimento de rocha que a erosão deu forma caprichosa e variada de monumento, com salas, antecâmaras e um labirinto de recantos e furnas que o Atlântico escava e bate, mugindo como bicho feroz no preamar. Fica à pique da praia, recobrindo a barreira e dando de longe, a visão confusa de imensas ruínas medievais.

Paulo Martins da Silva, funcionário do Banco do Brasil, narrou-me em 4 de abril de 1938 este episódio, subsídio para as casas encantadas:

Entre Pititinga e Rio do Fogo, na barreira do Zumbi, existe um palácio encantado. Há anos passados um pescador chegando no Tourinho, barreiras que estão entre Touros e o Rio do Fogo, encontrou outro palácio, iluminado, e ali um homem lhe entregou uma carta para a barreira do Zumbi, a duas léguas e meia de distância. O pescador foi entregar a carta e encontrou o palácio em festa, com muita gente, música, rumores de dança. Deu a carta. Deram-lhe de comer e beber. Pela manhã encontrou-se na praia nua. Tudo tinha desaparecido.

No Morro Branco, perto do Natal, na encosta leste, os lenhadores e caçadores viam, outrora, uma casa branca, brilhante de luzes e sonora de vozes festivas, orquestra tocando, gente bebendo e cantando. Quem tinha coragem de se aproximar via a casa sumir no ar e ficar apenas o mato bruto, cheio de sombras, com o murmúrio do vento na folhagem.

No rio Potengi, entre Natal e Guararapes, há um camboa que, nas enchentes, forma uma ilha, coberta de mangues. Esta ilha é assombrada ou mal-assombrada. Aparece uma grande residência, habitada, com vozes humanas que cantam, gritos de alegria, som de vidros entrechocados, rumores dentro e ao redor da morada. Pela madrugada desaparece e fica o mangue verde como habitante único na ilhota misteriosa.

O coronel Quincó (Joaquim Anselmo Pinheiro Filho, 1869-1950) que tantos anos comandou a Polícia Militar do Rio Grande do Norte, comunicou-me este acontecido em dias de sua mocidade na cidade do Natal nos primeiros anos da República:

Vinha da Ribeira para a Cidade-Alta pela Subida-da-Ladeira quando ouviu para o lado da rua São Tomé, paralela, uma valsa linda. Distinguia o fraseado solista das clarinetas e o contracanto dos bombardinos. Apressou-se e, no começo da São Tomé, com raros e espaçados moradores, havia um grupo de árvores maciças. A música cessara e Joaquim Anselmo encontrou apenas uma mulher alta, magra, com um xale. Onde é a festa? perguntou. A mulher indicou o bosque com um estender de lábio, sem palavra. Quincó deu alguns passos e nada vendo, voltou-se. A mulher desaparecera. Músicas, luzes, vozes, dissiparam-se para sempre.
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Estas histórias são incontáveis por todo Brasil. Há pelas províncias, cidades e vilas, povoados e aldeias menores. Toda gente aponta os lugares onde há uma casa misteriosa que aparece e desaparece em determinadas ocasiões. Há mesmo testemunhas, como o velho João Tibau e o coronel Joaquim Anselmo. Em que ponto da Europa estas histórias não existem? vivem em todos os países e regiões, raças e estados de cultura.

O dominicano Etienne de Bourdon, que vivia no tempo do rei Luis IX de França (1215-1270), reuniu muitas histórias da tradição oral francesa do século XIII e outras de fontes impressas, denominando sua coleção Tractatus de diversis materiis predicabilibus. M. Lecoy de la Marche publicou em 1877 um volume contendo os "exemplos" de Etienne de Bourbon, Anecdote historiques, légendes et apologues tirés du recueil inédit D´Etienne de Bourbon. Um destes exemplos, o sob o número 565, fixa muitos elementos das versões brasileiras do Rio Grande do Norte.

Na França estão eles ligados ao ciclo da caça fantástica. Este mito também existe por todo o Brasil mas reduzido aos rumores de uma matilha de cães e caçadores que passam sem vestígios.

Etienne de Bourbon conta que um lenhador de Mont-du-Chat (Mons Cati) ia uma tarde levando sua carga de lenha, ao luar, quando viu um grupo de caçadores a pé e a cavalo, cercados de cães esplêndidos. Perguntando a identidade dos fidalgos, responderam ser cavaleiros do rei Artur e que voltavam para o seu palácio, convidando-o a acompanhar a comitiva. O lenhador seguiu-os e encontrou-se num castelo suntuoso, com damas e cavaleiros ricamente vestidos, comendo e bebendo. O lenhador comeu, bebeu, levaram-no para um leito de príncipe, onde se encontrava uma dama linda. O lenhador deitou-se e adormeceu. Acordou na floresta, em cima do seu feixe de lenha...

Fonte: Luís da Câmara Cascudo. "Casas encantadas". O Estado de São Paulo. São Paulo, 01.06.1958.

Como Escrever Ficção Científica – parte 2

II – Construindo uma ambientação de ficção científica

1) Escolha um período de tempo para a sua história. 

Embora a maioria das histórias de ficção científica aconteça no futuro, é possível usar qualquer época. Por exemplo: você pode pensar em uma trama na qual uma raça alienígena invade uma cidadezinha de interior na década de 1950 ou pensar em um enredo no qual os personagens viajam para o passado. 

Pense no que é mais adequado para a sua história. Você vai ter mais liberdade para explorar ideias se usar o futuro do que se usar o passado.

Se você usar o passado, pesquise bastante sobre a época em questão para saber mais sobre as tecnologias, os eventos e a forma de as pessoas falarem. Estude as roupas típicas e os costumes da época.

2) Faça pesquisas sobre lugares e histórias reais para incorporar tudo ao seu mundo. 

Mesmo que o enredo aconteça em um planeta distante, busque inspiração em culturas e eventos da Terra para deixar a história um pouco mais pé no chão.
Por exemplo: O Conto da Aia acontece no futuro próximo, mas os temas de tratamento às mulheres e escravidão são pertinentes à nossa cultura. 

Incorpore práticas culturais diferentes ao criar uma raça alienígena. 
Por exemplo: você pode misturar uma cultura nômade e o estilo de vestimenta dos vikings.

3) Incorpore a ciência de verdade à forma de o mundo funcionar. 

Mesmo que você queira personagens que voem, explique por que e como eles conseguem. Baseie-se na realidade para que os leitores se familiarizem um pouco com a história e não se percam no seu universo. 

Se você for apresentar uma tecnologia totalmente nova aos leitores, descreva-a em detalhes para que eles entendam tudo. 
Por exemplo: Perdido em Marte usa a ciência real para enviar um homem a Marte e explicar como ele consegue sobreviver no planeta.

4) Pense nos cinco sentidos para descrever o ambiente da história.

Imagine como os personagens da história usariam a visão, a audição, o tato, o paladar e o olfato. Assim, você vai criar uma ambientação mais vívida e que facilite a imersão dos leitores.

Descreva as experiências dos personagens quando eles chegarem ao ambiente onde a história acontece. O que eles veriam? Quem estaria ali?
Por exemplo: se a história acontece em um mundo em que os oceanos secaram, você pode descrever o calor, o sabor e o cheiro do sal no ar e os grandes depósitos salinos que restaram no lugar dos mares.

5) Escreva descrições para cada detalhe da trama para entendê-los melhor. 

Escreva alguns parágrafos breves sobre o cenário, as pessoas, a cultura e os animais de cada local da história. Pense nesses cenários e em como os personagens interagem com eles. Se você precisar de algo mais detalhado ou específico, faça uma pesquisa mais aprofundada.
Por exemplo: se você fosse descrever Pandora, do filme Avatar, seria legal imaginar algo como “Pandora é um planeta coberto por florestas e habitados pelos Na’vi, uma raça de humanoides azuis que vivem em sociedades tribais, com chefes e líderes espirituais como guias. Eles têm um laço especial com a fauna e a flora à sua volta”.
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continua…
Fonte: Wikihow

sábado, 9 de dezembro de 2023

José Feldman (Analecto de Trivões) 18

 

Mensagem na Garrafa – 51 –


Silvana Duboc

CASOS E ACASOS

Não sei por onde começar
e nem imagino onde vai acabar,
só sei que fico a pensar
como a vida dá voltas sem parar.
Um dia estamos do lado de cá,
no outro do lado de lá
e tudo muda de lugar.
O que era importante
desaparece num rápido instante
e o que era insignificante
toma uma proporção impressionante.
A vida é feita de casos e acasos,
de pedaços, partes, metades,
histórias improváveis,
detalhes inimagináveis.
A vida é um segredo incontestável
desde o seu início até o seu fim.
A vida é mesmo assim,
cheia de surpresas inesperadas
e absolutamente nada
é descoberto com antecedência.

A vida muda de aparência,
às vezes, tão de repente,
que o ser humano nem sente
as mudanças que vai ter que enfrentar.
A vida é um rio que corre pro mar,
um fio que pode arrebentar,
uma esperança que pode acabar,
um jogo possível de ganhar.
A vida é composta por tentativas
que não podemos ignorar,
por ilusões que podem se concretizar,
por sonhos pelos quais temos que lutar.
A vida é carga pesada,
é pluma que pousa sem ser notada.
A vida é um caminho por onde temos que passar
tentando não nos machucar.
A vida é um caso complicado,
um acaso que não deve ser desperdiçado.

Contos do Paraná (Em Cascavel tem cascavel)


(por Moysés Paziornik)

Há dias nesta coluna, um leão do Lions, sem ferocidade, cascavelense, sem veneno, explicou por que Cascavel continua a chamar-se Cascavel, apesar de não ter mais cascavéis.

A primeira vez que lá fomos furou o pneu do nosso avião. Era um Douglas, da Real. Vinha de Foz Iguaçu. Um dos passageiros desceria em Cascavel. Daí a parada extraordinária.

No campo de pouso, campo mesmo, que todo coberto de capim original, nem bem o aviãozinho encosta, a asa direita baixa, o bicho trepida, rabeia. Na freada brusca, parece que vai tombar.

No susto:

- Que foi? Que foi?!

O jeito risonho do calmo e gorducho do piloto vem nos desassustar.

- Não foi nada de grave.

Desce, volta para mostrar.

- Furou o pneu da direita. Acertei bem nos cravos desta ferradura. Algum cavalo a perdeu bem onde decidi pousar. Na cidade deve ter borracheiro. Enquanto conserto o pneu — calculo meia hora, uma hora — podem descer, passear por aí.

Do alto a gente vira na extensão imensa da impressionante floresta falha e mais falhas, chão coalhado de troncos de árvores recém derrubadas. De cortar o coração. De longe em longe, casebres isolados. Depois de algum tempo o avião começara a baixar em direção a duas fileiras de casas, ladeando rua de barro. Uns duzentos metros, se tanto. O vermelho vivo das telhas mostradas a pouquíssima idade da "cidade".

A rua começava quase que diretamente do campo de aviação, situado num plano mais elevado. Passeando, deu para constar, casas baixas, de madeira... Carroças. Cavalos. Jipes. Tudo. Caminhões, muitos. Carros, poucos. Enlameados. Tudo enlameado. Homens de botas, sapatões. Mulheres, uma ou outra. Armazém. Botequins, um maiorzinho.

Entramos. Provocamos o balconista.

- Tem cascavel em Cascavel?

- Só nos matos. Aqui na cidade tinha, agora não tem mais.

- Então me sirva um refrigerante.

- O quê?

- Um refrigerante, gasosa.

- Ah, sim! Gasosa. Temos. Da qual quer?

- De framboesa, (coca-cola ele não conhecia, lá ainda não tinha chegado). E bem gelada.

- Gelada? Só fresca, frescor do porão. Serve? (lá, eletricidade ainda não tinha chegado).

- Serve. Neste calorão. A sede está de matar. Quanto custa?

- Cinco mil réis.

- O quê? Está louco? Em Curitiba sai um mil réis cada garrafa.

- Em Curitiba? Aqui é Cascavel. Por mil réis, vá matar sua sede lá em Curitiba. Ora veja só. Passe bem. Boa Viagem.

- Não, não, me dê assim mesmo.
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E ainda diziam:

Cascavel em Cascavel? Não, só nos matos, na cidade não tem mais.

Não, hein? Mas, que a gasosa estava boa estava. Naquele calorão, com aquela sede, valia bem os cinco mil réis. Ou era cruzado? Ou era cruzeiro? Ou era... Que dinheiro será que era?

Fonte: 300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.

Daniel Maurício (Gotas Poéticas) – 2 -


Ante a tua ausência
Visto meus dias de inverno
E nas noites hiberno
Pensando calorosamente em ti.
Desembrulho os sonhos guardados
Repisando cada minuto ao teu lado passado
E a esperança
Brota de novo em mim.
= = = = = = = = = 

  Ao tocar-me,
A pele da minh'alma se arrepia.
Não conto os anos
Saboreio cada dia,
Eternizando o nosso amor
Com muita alegria.
= = = = = = = = = 

Basta ver pela aparência
Que a minha carência
Coube sob medida
No recorte do teu colo.
= = = = = = = = = 

Depois de tantos desenganos
Fui pulando os anos
Deixando a casca ficar grossa
Com o ardor do sol.
Me embrenhei pelo deserto
Escolhi não ter ninguém por perto
Num tuaregue errante me tornei.
Meus passos o vento varre
Mas o amor feito miragem
Me ordena a prosseguir.
= = = = = = = = = 

Emoldurado
Guardei meu sorriso
Pois quem sabe
Encontre abrigo
Nas paredes do teu coração.
= = = = = = = = = 

Lá vem o caranguejo
Pra plateia jogando beijo
No desfile do jacaré,
É, é, é!
Responda quem souber:
Será que o jacaré
Tem um Wi-Fi no seu boné?
= = = = = = = = = 

Lembranças...
Nas flores antigas
Páginas amareladas
De lágrimas manchadas
Cartas de amor.
= = = = = = = = = 

Matinalmente
Vestido de poesia
O colibri
Faz a sua serenata.
= = = = = = = = = 

Na poeira cósmica
Com o dedo,
Eu te amo escrevi
Quem sabe assim
O Universo compreenda
E traga você pra mim.
= = = = = = = = = 

Nasceu flor
Mas no jardim
Não floriu
Foi no silêncio da mata
Que por encanto de fada
A cor da sua alma
Desabrochou.
= = = = = = = = = 

No colorido das luzes
Em vão procurei
O sorriso do dono da festa.
E ao espiar pela fresta
Minh'alma continuava vazia,
No pinheirinho iluminado
E nos pacotes de sonhos embrulhados
Em vão procurei
O sorriso do dono da festa.
Na vacilante chama da vela
Que dançava com o vento vindo da janela
Encontrei uma fé que ardia.
E nas sombras projetadas
Na velha parede carcomida
Mãos postas em prece agradecia
Foi ali, com lágrimas nos olhos,
Que encontrei o sorriso do dono da festa.
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 Pintei
Minh'alma de Poesia
Deixei depressa
Escorrer o dia
Pra que à noite com calmaria
Em sonhos, ao menos,
Pudesse te ver.
= = = = = = = = = 

Segui,
Mesmo às cegas,
Sentindo o cheiro da tua luz
Que n'algum lugar do mundo
Em chamas ardia
A me procurar.
Náufrago não sou mais,
Pois o brilho do teu sorriso
Me mostra a direção
Neste vasto mar.
= = = = = = = = = 
Fonte> Daniel Maurício. Gotas Poéticas. São Carlos/SP: Pedro & João Ed., 2021. Enviado pelo poeta.

Laé de Souza (Doo Chácara e Casa de Praia)

Nos dias que antecederam ao fechamento do negócio, foi uma agonia. Na primeira visita, a mulher elogiou em demasia e insistia na compra de imediato, sem perspicácia, o que fez o vendedor endurecer no preço e até insinuar aumento. Aos argumentos de falta de recursos, a família mostrou solidariedade. Joanita, sua mulher, prometeu colaborar, reduzindo seus gastos pessoais por uns tempos. Dos filhos. Zinho, se propôs a colaborar com parte da sua mesada. Edileuza prometeu passar de ano e ajudar mais em casa enquanto Gildanésio assegurou que ia ser mais rápido no chuveiro e usar menos o carro do pai para economizar na gasolina. A pintura da casa, se comprada, podia deixar que ele mesmo e alguns amigos cuidariam. A despesa era só de uma caixa de Schincariol e um churrasquinho, orações e promessas, por fim, o vendedor cedeu e aceitou como parte de pagamento o carro (de que a Joanita abriu mão), a bicicleta 10 marchas do Zinho, um terreno imprestável em Juquiá, um pouco de grana e umas promissórias a perder de vista.

Para começar, ninguém cumpriu o prometido. Os amigos do Gildanésio foram sim, mas para participar do churrasco, banhar-se e desperdiçar material. Joanita continua fazendo sua coleção de sapatos e inferniza a vida para comprar um outro carro. Edileuza não está com jeito de quem vai ser aprovada e o Zinho reclama da mesada que não tem aumento.

Nos finais de semana, Joanita se mete naquele fogão a cozinhar para um batalhão de amigos dos três filhos que são mais relaxados que eles, também só gostam de som nas alturas e reclamam da cerveja sem gelo. O coitado para não ouvir mais reclamações, é obrigado a deixar de lado sua soneca, para ajudar a lavar louças.

Vizinhos e amigos aparecem quase sempre. Uns parentes que andavam melo brigados e até alguns que ele desconhecia que tinha, andam a todo amor. Se bem, que já tem uns de cara virada, porque não deu para satisfazer a todos ao mesmo tempo. Uma afilhada de não sei quantos anos atrás, quando ainda morava no interior do Paraná, já ligou dizendo que vai casar e se presenteou, usando a casa para lua-de-mel. Uma prima que sempre foi seu xodó, pediu emprestada para um feriado, com o que ele concordou, mas a Joanita toda enciumada, já avisou que vai aprontar uma boa se a fulana vier pegar a chave. E ela perde a cabeça mesmo. Quando uma amiga dela lhes fez companhia na praia e achou de usar um minúsculo short e em poses sensuais dirigir olhares melosos para ele, Joanita não quis nem saber do tempo de amizade nem se a fulana tinha tomado um pouco a mais. Meteu a dona de volta no ônibus, não sem antes lhe dar uns tabefes. E ainda na volta disse para o marido da tal que cuidasse de sua mulher.

Mas foi só na semana passada quando chegava na casa e viu a rua lotada de carros, som nas alturas, gente que não cabia mais na casa, o chão molhado de bebida, uns caras esquisitos, todos à vontade no sofá, e o seu quarto trancado com um casal que só abriu depois de insistentes batidas e o cara de pau, com brinco na orelha e tatuagem, teve coragem de pedir: "Ô tio, pega uma gelada na cozinha pra nós”, que ele estourou.

Não quis nem saber dos reclamos da Joanita, engrenou a primeira e foi para a chácara dar uma esfriada na cabeça. Chegando lá, encontrou sua churrasqueira acesa, suas cervejas sendo tomadas por uns caras desconhecidos, que se apresentaram como parentes do caseiro e até lhe ofereceram um pedacinho de costela no ponto. Deu ré no carro e na segunda-feira bem cedo, foi colocar um anúncio no jornal:

DOO CASA DE PRAIA E CHÁCARA,
SÓ COM ÔNUS DE ME DEIXAR USAR DE VEZ EM QUANDO E AINDA COM PERMISSÃO DO DONATÁRIO.

Fonte: Laé de Souza. Acredite se quiser! SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.

Como Escrever Ficção Científica - parte 1

A ficção científica após 1818, quando Mary Shelley publicou Frankenstein, e desde então assumiu a forma de livros, filmes e diversos outros materiais. Por mais que pareça difícil de escrever, todo mundo que tem uma boa história na cabeça é capaz de passá-la para o papel. Se é o seu caso e você já tem uma noção da ambientação e dos personagens, coloque a mão na massa!

I – Buscando inspiração para uma história

1) Leia obras de ficção científica novas e antigas para ver o que já foi feito. 

Vá à livraria ou biblioteca local e explore a seção de ficção científica. Leia as sinopses de algumas obras para ficar a par do que elas exploram — e mergulhe no texto se ele chamar a sua atenção. Assim, vai ficar mais fácil entender como se escreve nesse gênero.

Leia autores como Isaac Asimov, Philip K. Dick, Júlio Verne e George Orwell.

Peça sugestões de livros e autores aos seus professores e conhecidos.

Leia autores do formato que você quer explorar, como roteiristas de cinema ou contistas.

2) Veja filmes de ficção científica para se inspirar nos visuais. 

Busque filmes com premissas interessantes e dedique algumas horas a eles. 

Faça anotações sobre os cenários e as ideias que podem servir de inspiração na sua obra. 

Ouça os diálogos com atenção para ver como os personagens falariam nessas circunstâncias.

Veja filmes mais antigos, como Parque dos Dinossauros, Blade Runner, o Caçador de Androides, e Alien, o Oitavo Passageiro, assim como obras mais recentes, como Perdido em Marte, Ex Machina: Instinto Artificial, Interestelar e A Chegada.

3) Leia revistas e periódicos para descobrir o que há de novo no mundo da ciência. 

A maioria das descobertas científicas é publicada em revistas e periódicos especializados. 

Procure obras interessantes na internet, leia-as e faça anotações sobre esses avanços que sejam interessantes na sua trama.

Leia periódicos que falem de áreas variadas, como natureza e ciência. 

Assine uma versão digital ou um acervo on-line do periódico para ter acesso mais fácil a ele.

4) Fique a par das notícias do mundo para se inspirar em fatos. 

Se você pretende escrever uma história de ficção científica que acontece no futuro, use eventos atuais para dar forma ao universo. 

Acompanhe as notícias de  várias regiões para se inspirar e desenvolver uma trama realista, que poderia acontecer de verdade.

Por exemplo: se sair uma notícia sobre a descoberta de um supervírus, você pode escrever sobre os últimos sobreviventes da epidemia ou de algo que deu errado na busca pela cura.

5) Use o modelo de “E se...?” para gerar uma boa premissa. 

Imagine “E se x acontecesse?” ou “E se x fosse possível?”. 

Em seguida, faça um brainstorming de ideias baseado na sua pesquisa para ter algo mais concreto. Depois, marque os itens que são interessantes e tente detalhá-los mais.

Por exemplo: a hipótese “E se...?” para Parque dos Dinossauros seria “E se os dinossauros fossem recriados para entreter o ser humano?”.
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continua...

Fonte: Wikihow

Concursos de Trovas do Estado do Ceará (Inscrições Abertas)


XX CONCURSO DE TROVAS  DE MARANGUAPE/CE  

Prazo: 29 de fevereiro de 2024

Âmbitos e temas: 

NACIONAL/INTERNACIONAL:  
Trovadores residentes nas Unidades da Federação e em outros  países. Exclusive para os trovadores  do Ceará. 

1 trova por tema 

Novo  Trovador 
(Registrar Novo Trovador abaixo da  trova)

Tema: Clima (Lírica/Filosófica )

Veteranos:

Tema: Paz (lírica/filosófica)

Veteranos e  Novos Trovadores

Tema: Seca (Humorística) 

ESTADUAL 
(Exceto trovadores de Maranguape e da  ACLA)

Máximo de 2 trovas. 

Tema: Árvore (s) (lírica/filosófica) ; 

MUNICIPAL 
(Trovadores de  Maranguape e da ACLA, inclusive  Juventrova)

Máximo de 2 trovas.

Tema: Arborizar (lírica/filosófica) ; 

MODO DE ENVIO DE TROVAS: 

Por e-mail:  
ubt.ceara@gmail.com 
para a fiel depositária – Juliana Paz. 

PRAZO (Recebimento): 
Até 29 de  fevereiro de 2024, às 23h59. 

CLASSIFICAÇÕES: 
Serão classificados 20 trabalhos por  tema. 5 Vencedores [1º ao 5º] / 5  menções honrosas [6º ao 10º], 5  menções especiais [11º ao 15º], 5  Destaques [16º ao 20º]. 

PRÊMIOS: 
Diploma para cada um  dos vinte classificados no tema. Os  resultados devem ser anunciados até  maio/2024, em data a ser confirmada.  Todos os diplomas serão enviados por  e-mail. 
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CONCURSO DE TROVAS DE FORTALEZA 

Prazo até 31 de março de 2024

Prêmio de Trovas "Gutemberg Liberato de Andrade” 

NACIONAL e INTERNACIONAL 
Trovadores residentes nas Unidades da Federação e em outros países. Exclusive para os trovadores do Ceará.

1 trova por tema

Novo Trovador 
(Registrar Novo Trovador abaixo da trova)

Tema: Paz (lírica/filosófica)

Veteranos

Tema: Saudade (lírica/filosófica)

ESTADUAL 
(Exceto trovadores de Fortaleza e da ALJUG. Inclusive Juventrova de outros municípios do Ceará)

Máximo de 2 trovas.

Tema: Futuro (lírica/filosófica) 

MUNICIPAL 
(Trovadores de Fortaleza e da ALJUG, inclusive Juventrova de Fortaleza)

Máximo de 2 trovas por tema.

Tema: Gutemberg, ou Andrade, ou Liberato (lírica/filosófica) 
[em relação ao trovador Gutemberg Liberato de Andrade].

Tema: Trovador (lírica/filosófica) 
[em relação ao trovador Gutemberg Liberato de Andrade].

ENVIO DE TROVAS:

Por e-mail: ubt.fortaleza@gmail.com, 
para a fiel depositária – Edna Marta.

Se estudante indicar também o nome da escola, série/turma. 

As trovas devem ser enviados no corpo do e-mail. Não enviar anexos.

PRAZO (Recebimento): 
Até 31 de março de 2024, às 23h59.

CLASSIFICAÇÕES: 
Serão classificados 20 trabalhos por tema. 5 Vencedores [1º ao 5º] / 5 menções honrosas [6º ao 10º], 5 menções especiais [11º ao 15º], 5 Destaques [16º ao 20º].
 
PRÊMIOS: 
Diploma para cada um dos vinte classificados no tema. Os resultados devem ser anunciados até julho/2024, em data a ser confirmada. Todos os diplomas serão enviados por e-mail.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Edy Soares (Fragata de versos) – 39: Amor pela vida

Fragata de versos é continuação de Manuscritos (Di)versos, título que faz mais jus ao poeta, administrador e criador do Hotel Fragata, em Guarapari/ES.

 

Mensagem na Garrafa – 50 -


Oswaldo Montenegro
(Oswaldo Viveiros Montenegro)
Rio de Janeiro/RJ (1956)

METADE

Que a força do medo que tenho 
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito 
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, 
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe 
seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, 
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida 
e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo 
Não sejam ouvidas como prece 
nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem  inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, 
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora 
Se transforme  na calma e na paz que eu mereço,
Que essa tensão que me corroe por dentro 
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso 
e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, 
que o convívio comigo mesmo 
Se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto 
o doce sorriso  que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, 
a outra metade eu não sei…

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, 
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, 
mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar 
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a plateia 
e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor 
e a outra metade… também.

A. A. de Assis (Lágrimas aqui, alegria lá)

Mas como será o relacionamento em dimensão espiritual? Difícil de imaginar.

Inspirado no poema “Por quem os sinos dobram”, do imortal John Doone (posteriormente popularizado em romance por Ernest Hemingway), escrevi recentemente sobre a tristeza que nos envolve quando um de nós se despede desta vida. A propósito do texto, a escritora Majô Baptistoni, minha brilhante colega na Academia de Letras de Maringá, comentou: “É bem assim que me sinto cada vez que recebo a notícia da partida de alguém. Mas ao mesmo tempo me ponho a pensar nos que foram antes, e que devem estar felizes por receber essa pessoa. É nisso que me apego”.  

Pois é, Majô, pensando bem, deve ser mesmo bem assim. Lágrimas aqui, alegria lá. Enquanto parentes e amigos choram no velório, no plano celestial outros parentes e amigos da mesma pessoa estão a seu modo celebrando o reencontro. A mãe que fazia tempo se distanciara do filho. O marido que partira na frente e agora voltava a ter ao lado a esposa. Enfim o tão esperado recomeço da convivência entre irmãos, primos, compadres, vizinhos; colegas de escola, de trabalho, de clube; companheiros de atividades religiosas; parceiros de viagens, bate-papos, truco, pescaria, esportes diversos.

Aqui as lágrimas do adeus; lá em cima, no hall do céu, aquele alvoroço festivo na chegada de mais um dos que aqui por mais algum tempo tiveram que permanecer.

Mas como será o relacionamento em dimensão espiritual? Difícil de imaginar. Aqui nos identificamos pelo tamanho do corpo, pelo formato do rosto, pelo som da voz. Lá em cima, fora do invólucro físico, seremos invisíveis, tais quais os anjos. E então?… 

Penso que nos entenderemos telepaticamente, todos num mesmo idioma – a linguagem do puro amor. Porém de que falaremos? E poderemos conversar diretamente com Jesus, Nossa Senhora, Santa Rita, São Francisco de Assis? Teremos encontros de famílias? Reuniões de grupos? Formaremos equipes, congregações, coros, jograis? Como será cantar no céu?

Ninguém lá precisa estudar, nem trabalhar, nem cozinhar, nem mesmo dormir. Como então são preenchidas as horas? Há algum tipo de ocupação? Algum tipo de brincadeira?    

Todavia, os que na eterna urbe já se encontram decerto rezam bastante. Junto com os anjos e os santos, por algum meio acompanham os que continuamos peregrinando neste agitado planeta e fazem por nós poderosas orações. É uma forma de nos ajudarem. 

A bem-aventurança, pelo que a fé nos leva a crer, é uma condição de vida incalculavelmente superior a tudo o que possamos imaginar, porém certamente não foi projetada apenas para uns poucos privilegiados. Chegará um momento em que toda a humanidade passará a viver em permanente estado de felicidade.

Daí a compreensível convicção de que os que nos antecederam celebram com enorme alegria a chegada de cada um de nós que a eles se une para a partilha da infinita paz. 
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(Crônica publicada na edição do Jornal do Povo em 02.11.2023)

Fonte: Portal do Rigon
https://angelorigon.com.br/2023/11/02/lagrimas-aqui-alegria-la/