sábado, 27 de abril de 2019

Thalma Tavares (Jardim de Trovas) 1


A distância para o amante
é menor que a brevidade,
porque nunca está distante
o amor que deixa saudade.

Andarilho que não cansa
de alentar um sonho antigo,
sou caracol da esperança
carregando o próprio abrigo.

Carícia em forma de prece
que no ocaso vou rezando,
teu amor é sol que aquece
um outro sol se apagando.

Coração, nunca te emendas!...
És de fato um sonhador...
Até nas duras contendas
tu vês motivos de amor!

Das bofetadas que a vida
me deu sem muita piedade,
tu foste a mais dolorida
e a que mais deixou saudade.

Enquanto a lua me encanta
e a solidão se acentua,
um galo cansa a garganta
tentando encantar a lua.

És hoje, distante e rara,
saudade aumentando o espaço
da solidão que separa
teu corpo do meu abraço.

- És meu príncipe! - dizia
vovó com seu jeito doce...
Tão doce que eu me sentia
como se príncipe fosse.

Este perdão que me negas
por "um nada" que te fiz,
é mais um cravo que pregas
na cruz de um peito infeliz.

É tão lindo o seu sorriso!...
Seu beijo é tão perfumado,
que aqui vou, perdendo o siso,
cometer mais um pecado.

Já não me sinto um proscrito
nem também um forasteiro,
se pões o olhar - tão bonito -
sobre o meu ser derradeiro.

Luz plena! A noite é bela!
E eu só, morrendo de zelos,
porque o luar na janela
faz carícia em seus cabelos.

Na minha vida sem graça,
de sonhador solitário,
a autora no céu não passa
de um por-do-sol ao contrário.

Não é saudade, é castigo
toda saudade enganada...
É sonho implorando abrigo
sabendo a porta fechada.

No aceno discreto e mudo
que entre lágrimas fizeste,
teus olhos disseram tudo
do amor que nunca disseste.

Numa pétala orvalhada,
uma gota luminosa
é um adeus que a madrugada
deixou na face da rosa.

O amor em nossa jornada
tem rumos tão divergentes,
que andamos na mesma estrada
por caminhos diferentes.

Por dar crença ao teu sorriso,
que tantas paixões atiça,
construí um paraíso
sobre a areia movediça.

Quando a saudade se esconde
pelos confins da cidade,
eu torno em sonhos um bonde
e vou matar a saudade.

Que festa! O neto correndo,
fingindo ser um robô,
erguendo os braços, dizendo:
- "Eu vou te pegar, vovô!"...

Que o teu sorriso de agora
permaneça eternamente...
Eu te quero sempre aurora...
Mesmo quando eu for poente.

Querida eu tenho ciúme,
- não há desdouro em dizê-lo...
Ciúme até do perfume
que perfuma o teu cabelo.

Teu olhar tem a beleza
de um céu claro à luz do dia,
mostrando, embora, a tristeza
que esconde a tua alegria.

Fonte:
Livro gentilmente enviado por Edy Soares.
Dáguima Verônica - Edy Soares - Thalma Tavares. Três em trovas. Vila Velha/ES: Edição do Autor, 2017.

Um comentário:

Literatura & Companhia Ilimitada disse...

Lindos Versos!

Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus,

Furtado