terça-feira, 7 de setembro de 2021

Flávio Roberto Stefani (Querência de Trovas) = 4

Amizade é copo d'água
que abranda a sede da gente,
sufocando toda mágoa
num copo d'água somente.
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Ante à guerra que destrói
e torna escuro o horizonte,
tem mais valor quem constrói,
em vez de muro, uma ponte!
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Atravessando as aguadas,
num gesto de amor profundo,
cada ponte une as estradas
na grande aldeia do mundo.
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A vergonha foi demais
no casório da velhinha:
a velha queria mais
e mais o velho não tinha...
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Brinquedos bons eu não tinha,
mas sabia achar maneira,
e com latas de sardinha,
eu tinha uma frota inteira.
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Brinquedos de guerra, não,
pois quem brinca de matar,
amanhã - de arma na mão
vai matar para brincar!
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Caiu a casa do gato
da madame 'socialite',
depois ela viu um rato
desfilando no seu 'site'...
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Calor escaldante. O povo,
vendo a nuvem lá no fundo
começa a oração de novo
pra que chova em todo o mundo.
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Como é bom ter, na varanda,
uma rede colorida:
dormir se o cérebro manda,
acordar, se manda a vida.
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Como era bela a inocência,
e a gente, ansiosa, queria
ser grande, sem ter ciência
que a inocência morreria!.,.
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É pelo trator da crença
que nossa mente, fugaz,
vai sentindo a diferença
no arado grande da paz.
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Esses que picham murais,
e casas, postes, escombros,
pedem amor aos seus pais
que, alheios, dão-lhes os ombros.
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Liberdade, um passarinho
que outrora andava demais,
hoje não acha o caminho
e, às vezes, nem voa mais!
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Na sociedade mais rica,
preguiça é 'doença rara'
que o médico diagnostica
somente olhando na cara.
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No balcão do botequim,
o bebum tenta falar,
mas gasta todo o latim...
e não consegue explicar...
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O barulho na cozinha
denunciou mais um duelo:
o gordo atrás da sardinha,
o esposa atrás do chinelo...
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O sabonete caiu
e o desespero da Bruna,
não foi tanto o que ela viu,
mas o drama da coluna...
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Passa a noite no batuque,
mas, na volta, muda o tom:
ele, atrás de um novo truque,
mas ela, atrás do batom...
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Razão maior, nesta vida,
é não dar vez à razão
e a todo irmão dar guarida
com os braços do coração
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Ser pai, moderno e presente,
que o filho acompanhe e cresça,
não é ficar simplesmente
passando a mão na cabeça!...
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Tirando cristãos e ateus
do seu sossego profundo,
o vento é o braço de Deus
mexendo as asas do mundo!
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Um vazio cresce na alma
quando a amizade termina.
- E como se a praia calma
explodisse feito mina!
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Vence as dores do seu dia,
que passa feito comboio,
quem faz da sabedoria
sua bengala de apoio!
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Vendo a grave situação,
o padre ao casório vem,
e aproveita a ocasião
para o batismo também…

Fonte:
Flávio Roberto Stefani. Novas andanças e outros poemas.
Cachoeirinha/RS: Agência TextoCerto, 2013.

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