segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Ronnaldo de Andrade (Caderno de Trovas) – 4 –

Acabou-se o nosso amor,
e restou-me as cicatrizes,
e aquele amargo sabor
das bocas dos infelizes!
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A nostalgia transforma
o seu semblante singelo,
em um fantasma sem forma,
para assombrar meu castelo!
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Aquele aceno no porto,
pausei em minha memória:
você foi... Deixou-me morto,
mas não matou nossa história.
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Despreza a mim com fervor;
faz-me de marionete.
Compete a ela o dissabor
e a dor que não me compete.
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Deusa de beleza infinda,
és grande sendo pequena,
e, em verdade, és mais linda
que qualquer flor de açucena!
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Dói, corrói e me consome;
fere-me... E quando anoitece,
recrudesce em mim seu nome,
e o faço de minha prece.
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Dois meses de amor intenso,
e hoje esse lenço em meu rosto
enxugando o pranto imenso
que me causou o desgosto.
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Em passos lentos prossigo
nessa minha extrema estrada,
levando sempre comigo
saudades dela, e mais nada!
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Engano a mim quando digo
que lhe esqueci de repente,
e não sei como consigo,
se vivo a pensar na gente!
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Esse seu sorriso lindo,
seus olhos celestiais,
deixam minha alma sorrindo
e eu, amor, lhe amando mais!
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És meiga, amável, singela...
tens um sorriso incomum;
para mim és a mais bela
rosa de Cafarnaum!
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Estou de volta ao começo,
mas pareço estar no fim...
De saudade, assim, padeço,
e me esqueço mais de mim.
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Eu cansei! Mas tudo passa,
e se tratando de amor:
hoje quero ser a caça;
cansei de ser caçador.
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"Eu... você... as confidências..."
E aquele amor de nós dois,
tornou-se duas ausências:
você primeiro, eu depois!
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Irei lhe esquecer; eu juro!
E lhe asseguro ao dizer:
hoje não mais me aventuro
só por noites de prazer!
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Longe de ti eu padeço
em meu ranchinho de palha,
e a saudade, com apreço,
corta-me como navalha!
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Longe de você padeço,
e alimentando o teor,
lembro-me mais do que esqueço
nossos momentos de amor.
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Nada aplaca a dor deixada
e a tristeza renitente,
quando uma pessoa amada
vai para longe da gente!
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Não sei, amor, até quando,
suportarei sua ausência,
e a solidão me abraçando
com a cruel competência!
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Na solidão do meu quarto,
procurei você, em vão;
não lhe achei e fiquei farto
desta cruel solidão.
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Nosso amor de primavera,
perdeu de vez o seu trono.
Hoje ele é o que não era:
folhas caídas no outono.
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Nosso amor morre aos pouquinhos:
é roseira envenenada,
sem rosa e cheia de espinhos,
secando à beira da estrada!
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Nosso amor virou romance,
depois filme no cinema;
hoje não passa de um lance
que não vale meu poema!
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O meu frágil coração
não irá suportar mais
a grandiosa solidão,
que fica quando te vais.
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O meu peito é um casarão
com dimensão infinita.
Nele habita o coração
onde a solidão habita.
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Por você daria a vida
e aguentarei qualquer dor;
não deixe esvair, querida,
nossos momentos de amor!
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Quando lhe busco em meu sonho,
encontro você em meus braços,
e com amor - e risonho -
lhe encho de beijos e abraços.
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Quando meus olhos castanhos,
encontram os vossos verdes,
sinto fulgores tamanhos
que me agitam todo ao verdes!
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Saber que não esqueceu
nossa noite de ternura,
você me faz pensar que eu
sou o que você procura.
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Sempre eu a acordo beijando,
e ela me sorri feliz,
e no jardim vai tocando
a orquestra de colibris.
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Sempre que o dia amanhece,
com seu sol resplandecente,
pássaros cantam em prece
bendizendo o amor da gente.
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Sem você meu dia é triste,
tudo foge dos compassos,
mas uma esperança existe:
adormecer em seus braços.
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Seu corpo é um templo sagrado,
e da perfeição é exemplo.
Eu o contemplo ajoelhado
feito um fiel em seu templo.
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Todo dia eu me indisponho
com essa saudade sua,
que transformou o sonho
em uma noite sem lua!
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Venha, Amor, venha depressa,
vamos juntos ver a lua;
e caminharmos, sem pressa,
de mãos dadas pela rua.
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Você partiu de repente,
e eu sofri! Mas não importa.
Há muito esqueci da gente
e para mim está morta!
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Você pensa que este pranto
que eu estou chorando agora,
é de tristeza, portanto,
falo-lhe não ser, senhora.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor.

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