domingo, 10 de maio de 2009

Bioque Mesito (A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade)



O passado e o presente bem próximos: um rápido panorama da poesia maranhense nas últimas décadas. – Há quem diga que a poesia morreu. – Ceticamente falando, não. Não é exagero afirmar que a poesia, como as outras artes, passa por um momento de reformulações e todo processo de mudança é gradual. Vivemos, ainda, os reflexos da década de 60 e para muitos o século 19 ainda é uma grande referência em termos estéticos.

Certo. Porém, a contribuição legada por Sousândrade, Gonçalves Dias, Odylo Costa, filho, Maranhão Sobrinho, Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar (falando exclusivamente da poesia maranhense), não é de ficar de longe do que já foi produzido no restante do país e em outros lugares do mundo. O que questionamos é o que está relacionado ao momento no qual estamos inseridos: suas transformações dinâmicas, avanços tecnológicos, o surgimento de uma nova concepção nas formas de pensar e agir. O homem deste século é mais ávido, veloz, mais exigente, tem mais sede por informações, pois já acumula mais de vinte séculos de experiências em todos os campos do conhecimento humano.

Os poetas de hoje têm uma missão muito diferenciada, principalmente os poetas maranhenses, porque a poesia do nosso Estado é referência entre as outras existentes no país. O erro de alguns poetas é justamente quererem quebrar demais ou então serem anarquistas da palavra, estes acrescentam algumas coisas, mas ainda muito frágeis. Os poetas que quiserem ser referência em um futuro serão aqueles que aproveitarem o conhecimento do passado e modificarem aos poucos sua estética. Como já dissemos, toda mudança acontece aos poucos. A ruptura não é repentina.

Ferreira Gullar soube muito bem seguir este caminho de mudança com seus antecessores, tão verdade é essa afirmação que atualmente é o maior poeta em atividade do nosso país. Gullar sempre bebeu nas referências do passado, mas também sempre esteve com os olhos no presente. Nauro Machado e Luís Augusto Cassas são nomes que devem ser levados em consideração e sobre os quais falaremos oportunamente.

A antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas.

Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura.

É bem verdade que desse grupo apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas 3 poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de 2 livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura.

Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, - estes 3 últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade.

Alguns entraves, mas, no final de tudo, a poesia prevalece – Falando, especificamente, do Festival Maranhense de Poesia - evento promovido pela Universidade Federal, juntamente com o seu Departamento de Assuntos Culturais, em suas últimas edições vem perdendo o fôlego. A boa vontade do Diretor do Departamento de Assuntos Culturais, Euclides Barbosa Moreira Neto, é o que ainda impulsiona esse evento. Euclides vem dando chances aos artistas locais com sua política de difusão.

O festival de poesia está repleto de poemas de baixa qualidade. Talvez por falta de uma lista de seleção mais rigorosa e também pelo grande número de concorrentes nas eliminatórias. Com certeza, diminuindo o número de participantes nas eliminatórias, o público ganhará com poesias de melhor qualidade e não o que vem acontecendo – poemas muito fracos, em sua maioria. Compreendemos, Euclides, a política que você realiza. O evento deveria ser realizado em apenas uma semana, com palestras, oficinas e debates sobre a literatura maranhense e brasileira. Assim, o Festival só ganharia e poderia possuir a estirpe do Maracanto e/ou do Guarnicê – Cine/Vídeo, a maior e melhor realização do Departamento de Assuntos Culturais, coordenado por Euclides.

Já em 3 oportunidades fui júri deste festival e recebi inúmeras críticas. Eu sempre as rebatia afirmando que a culpa não está na direção do Festival, nem tampouco no corpo de jurados, mas, sim, em quem está produzindo esses textos e colocando-os para serem julgados. O aspecto interpretativo também é outro ponto que deve ser questionado, pois, grande parte dos atores que interpretam os textos dos poetas sabe muito pouco, quando sabe, do que vem a ser poesia e realizam interpretações, muitas vezes, distantes do que a poesia está realmente falando.

Mesmo assim podemos perceber muitos pontos positivos no Festival Maranhense de Poesia. O festival é um evento que aproxima o público da poesia e também serve de intercâmbio entre os poetas. Este ano o Teatro Arthur Azevedo ficou completamente lotado, o que demonstra o valor desse evento e da poesia maranhense. O festival é um dos poucos que ainda privilegia o talento poético em nosso Estado, somando-se, é claro, ao Concurso Cidade de São Luís, da Fundação Municipal de Cultura.

Em uma cidade que respira poesia e tem uma efervescência poética, ainda é pouco. Temos, por exemplo, uma Academia Maranhense de Letras que passa quase sua totalidade fechada, sem realizar quase nada em prol dos escritores. Academia de Letras que é de suma importância na fomentação da cultura do nosso Estado, mas, que faz muito pouco, além de não socializar a Casa de Antonio Lobo, fechando-a para os intelectuais e o público em geral. A Academia Maranhense de Letras, esperamos, em sua nova administração, que democratize a Casa de Antonio Lobo e abra as portas para projetos práticos, sem o caldo político que era prática comum na gestão anterior.

Sim. Voltando ao Festival Maranhense de Poesia, mais uma vez. Esse festival, ao longo dos anos, serviu para descobrir vários poetas como são os casos de Paulo Melo Souza, Roberto Kenard, Fernando Abreu, Antonio Aílton, Paulinho Dimaré, Rafael Oliveira, Ribamar Feitosa, Rosemary Rêgo, Mauro Ciro, Eduardo Júlio, Maria Aparecida Marconcine, Josoaldo Rêgo, César Borralho, João Almiro Lopes Neto, Francisco Tribuzi, Bioque Mesito, Dyl Pires, Cibele Bittencourt, César William, Junerlei Moraes, Geane Fiddan, Lúcia Santos, Ronnald Kelps, dentre outros.

Fonte:
Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. Ano V. 2006. Edição 145. http://www.guesaerrante.com.br/

Academia de Letras do Maranhão



1908: O ano de fundação da AML

Nada melhor do que um recuo de 100 anos no tempo, para mostrar, ainda que de forma sumária, como era o Brasil, o Maranhão e São Luís na época da fundação da Academia Maranhense de Letras, a 10 de agosto de 1908, quando doze intelectuais se reuniram, em São Luís, com o propósito de criar uma nova instituição cultural, que recebeu inicialmente a denominação de Academia Maranhense, mas, mercê da reforma estatutária de 1934, passou a ser denominada de Academia Maranhense de Letras.

No ano de nascimento da nossa Academia, o Brasil mostrava que o regime republicano, proclamado havia não mais que dezenove anos, chegara para impor-se como forma de governo. O país vivia nova fase histórica, pois o comando da nação não dependia mais da vontade dinástica, mas de um processo eleitoral, conquanto vulnerável e fraudulento, que daria ao segmento elitizado o direito de eleger os seus representantes.

O mineiro Afonso Pena se encontrava à frente do Poder Executivo do Brasil, por efeito de uma eleição realizada em1906, que o elegera para o cumprimento de um mandato a se findar em 1910, mas interrompido em razão de seu falecimento em junho de 1909. Antes de assumir o governo da República, ele veio ao Maranhão, em julho de 1906, a convite do governador Benedito Leite, para realizar uma excursão ao rio Itapecuru, ao final da qual se convenceu da necessidade da construção de uma estrada de ferro, ligando São Luís a Caxias.

O Poder Legislativo, composto de Senado e Câmara dos Deputados, cujos membros eram eleitos também pelo voto livre, tinha na presidência do primeiro o fluminense Nilo Peçanha e, no comando da segunda, o mineiro Carlos Peixoto Filho.

Em 1908 tiveram ressonância na sociedade fatos como: a atracação no Porto ,de Santos do primeiro navio trazendo imigrantes japoneses para trabalhar nas lavouras de café de São Paulo; a inauguração no Rio de Janeiro da Exposição Nacional, da qual o Maranhão participou, em comemoração ao primeiro centenário da Abertura dos Portos; aprovação da lei que tornava o serviço militar obrigatório para homens entre 21 e 44 anos; o desaparecimento, nos meses de setembro e outubro, de dois expressivos representantes da cultura brasileira, o escritor Machado de Assis e o dramaturgo Artur Azevedo, e o nascimento de João Guimarães Rosa, Sílvio Caldas, Cartola e Luis Viana Filho.

O Cenário Maranhense

Em 1908, o Maranhão atravessava uma fase de relativa tranqüilidade institucional, por conta do ajustamento de suas forças políticas ao novo regime implantado no país. Benedito Leite, que desde novembro de 1891, como integrante de uma Junta Governativa Provisória, impôs-se como a figura mais proeminente da vida pública maranhense, elegeu-se governador do Estado, para o quadriênio 1906 a 1910.

Nesse ano, ele cumpria o seu terceiro ano de mandato, no exercício do qual se consolidava como o grande chefe político estadual Ele teve nesse época de empenhar-se com todas as forças para vencer a crise financeira em que se debatia o Estado, com a adoção de medidas que visavam melhorar a agricultura e a pecuária, reduzindo impostos, instituindo prêmios, criando novos serviços e aperfeiçoando os já existentes. Em que pese todo esse esforço, as dificuldades não foram superadas.

A crise financeira do Estado, que resultou inclusive no atraso do pagamento do funcionalismo público, fez agravar o estado de saúde do governador. Uma junta médica aconselhou seu afastamento do Governo e uma viagem para tratamento da debilitada saúde na Europa. Foi para a França, onde veio a falecer em 6 de março de 1909.

No ano de fundação da Academia Maranhense de Letras, o Congresso Legislativo do Estado era composto de 30 deputados, sendo 24 do governo e 6 da oposição. Da Mesa Diretora do Congresso do Estado faziam parte os deputados: Joaquim Gonçalves Ribeiro, presidente; José Eusébio de Carvalho Oliveira, 1 ºvice; Manoel Inácio Dias Vieira, 2º vice; Manoel Gomes Veras, 1º secretario; e Manoel Ribeiro da Cruz, 2º secretario.

O Congresso Legislativo, naquela época, funcionava apenas nos meses de março e abril. Em 1908, os deputados aprovaram 28 leis. Compare-se esse número com a fúria legiferante de hoje no Brasil, que produz novas leis em série.

Nesta legislatura, os deputados Clodomir Cardoso, Domingos Barbosa (um dos fundadores da Academia), Francisco da Cunha Machado, Joaquim Ribeiro Gonçalves, João Vital de Matos, João Dunshee de Abranches Moura, José Eusébio de Carvalho Oliveira, José Barreto da Costa Rodrigues e Luiz Carvalho eram apontados como os mais brilhantes e atuantes.

O Superior Tribunal de Justiça do Maranhão, assim chamado desde o advento do regime republicano, era presidido, em 1908, pelo desembargador Francisco Xavier dos Reis Lisboa, nomeado para o cargo pelo governador Lourenço de Sá em 27 de agosto de 1891, e eleito para dirigir o STJ de 1906 a 1912.

A Diocese do Maranhão, naquele começo de século, tinha em D. Francisco de Paula e Silva o seu comandante espiritual. Nomeado pelo Papa Pio X , assumiu o Governo do Bispado em 30 de agosto de 1907. Em 15 de julho de 1908, o prelado assinou uma portaria determinando que “não se iniciem construções de igrejas ou capelas sem antes ser passada escritura pública de doação de terreno necessário ao edifício com larga área ao redor e apresentada a planta com orçamento, com aprovação pela Diocese, que entrará na posse do conjunto”.

Para melhor compreensão da situação econômica do Maranhão, no raiar do século XX, nada melhor do que Bandeira Tribuzi, que, no no seu estudo Formação Econômica do Maranhão, esclareceu: “Com todos os percalços de uma agricultura em crise grave – e uma vez mais reduzida à rigidez da monocultura do algodão, pelo fracasso da tentativa agro-industrial do açúcar, de tão curta duração – e de uma indústria que apresentava esforço superior à sua real capacidade financeira, o Maranhão ingressou no século XX sem boas perspectivas”.

Malgrado essa situação de dificuldade econômica, a Associação Comercial do Maranhão, fundada em 1854, não media esforços, em 1908, para reverter esse quadro desalentador. De sua diretoria, faziam parte o presidente Emilio José Lisboa, o vice-presidente, José João de Sousa, o 1º secretário, Manuel Ribeiro de Faria, o 2º secretário, Artur Leão e Silva, e o tesoureiro, Manuel Alves de Barros.

O trabalho da diretoria da ACM era principalmente focado para a construção da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, que vinha sofrendo interrupções constantes pelo não cumprimento do contrato das firmas construtoras com o Estado com vistas à execução da obra no tempo previsto.

As viagens fluviais e marítimas eram realizadas por empresas nacionais e internacionais, destacando-se a Companhia de Vapor do Maranhão, Companhia Fluvial Maranhense, Loyd Brasileira, The Booth Steanshipg Com. Ltda e os vapores alemães, em que vinham os produtos de consumo local. Em São Luís, tais artigos eram comercializados por firmas maranhenses ou de representações nacionais, localizadas principalmente nas Ruas Grande, Afonso Pena e do Sol, sendo as mais famosas a Casa Otomana e as Lojas Pérola, Mariposa e Notre Dame.

O Cenário de São Luís

No começo do século XX, São Luís, intitulada de República Ludovicense por Raimundo Palhano, no livro de sua autoria, Coisa Pública, com respeito à oferta de serviços de infra-estrutura, afirmava que na Capital do Estado “os problemas de falta de água potável de boa qualidade, dos esgotos, que praticamente não existiam, ou aqueles ligados à falta de luz, de transporte coletivo, de existência de logradouros públicos e de higienização, dentre outros, dava sinais de um quadro de dificuldades e complexidade.”

Em outro trecho de sua preciosa obra, Palhano sentencia: “Praticamente ao longo de quase toda a década de vinte, a maioria dos cerca de 60.000 habitantes de São Luís viviam em uma situação de decadência urbana e, por isso mesmo, continuavam prisioneiros de velhos problemas, como a contaminação da água, a poluição dos mananciais, o precário saneamento, a falta de luz, e sujeitos a doenças terríveis, como o tifo, febre amarela e varíola.” A varíola grassava avassaladoramente no Maranhão, levando diariamente à morte numerosas pessoas.

Era este o quadro que marcava a sociedade de São Luís quando da fundação da Academia Maranhense, quadro que representava um desafio para os administradores da capital do Estado, na época, chamados de intendentes.

Governava a cidade o intendente Alexandre Collares Moreira Junior, que ocupava o cargo pela segunda vez. Eleito em 1906, seu mandato expiraria em 1908, mas, em face da Lei nº 482, de 25 de abril de 1908, teve-o prorrogado para 31 de dezembro de 1910. Todavia, Collares Moreira Junior não cumpriu todo o mandato. Viajou para o Rio de Janeiro, em abril de 1909 para assumir o mandato de senador do Maranhão, o que obrigou a Câmara Municipal a indicar um de seus membros para responder temporariamente pela Intendência da Capital.

O então presidente da Câmara Municipal, Afonso Giffening de Matos, em 12 de abril de 1908, assumiu interinamente o cargo de intendente. Em 9 de junho do mesmo ano, ele o transmitia para o novo intendente Raul da Cunha Machado. Na gestão deste, foram realizadas as obras de conclusão dos passeios e balaustradas da Praça Gonçalves Dias, de construção de um pavilhão para a venda de peixe no Mercado Público, do calçamento da Rua de Santaninha e da Travessa do Monteiro e melhoramentos nas estradas do Caminho Grande e do Cutim do Padre.

Do ponto de vista artístico e cultural, dois espaços dominavam a cidade: o Teatro São Luís e o Clube Euterpe Maranhense, local de reuniões literárias, onde os intelectuais maranhenses e de outras plagas, proferiam palestras e conferências, entre eles Antônio Lobo, Fran Pacheco Barbosa de Godois e Armando Vieira da Silva, todos fundadores da Academia, e cuja diretoria era formada por Artur Belo, presidente, Luso Torres (que foi presidente da Academia), vice-presidente, Otacílio Soares, 1º secretário, Tancredo Matos, 2ºsecretário, e João Laurine Guimarães, tesoureiro.

Em 1908, São Luís teve a oportunidade de conhecer o mais moderno equipamento de cinema visto no Brasil: o cinematographo falante, de propriedade da Empresa Fontenelle, que projetava fitas produzidas nos Estados Unidos, Inglaterra e França.
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Mais Que Uma Academia, Uma Antologia

A Academia Maranhense de Letras inscreveu a 10 de agosto de 2008, seu nome no panteão das instituições centenárias. E o faz em companhia do povo maranhense, compartilhando as honras do dia com o seu patrono e maior poeta brasileiro, Gonçalves Dias. Um século nos contempla.

É um dia de pausa e descanso da luta que vem travando, sem trégua, contra a ignorância e obscurantismo cultural. Mas, é também um dia de festa, confraternização e vigília, para mostrar o rico tesouro de nossas mais elevadas tradições, de que é depositária: o legado das melhores mentes do espírito maranhense – colheita na seara de nossa biodiversidade literária – que nos legitima intelectualmente perante nós mesmos e os maranhenses.

O centenário, traduz, portanto, sob ventos de tradição e renovação, em seu múltiplo simbolismo, a mensagem da vitória do tempo e da luz – união entre juventude e eternidade, a conjunção de vocação e missão, aliada à capacidade de resistência e dedicação, de abrigar e cuidar dos nossos valores – de uma instituição que vem cumprindo o seu luminoso papel, sustentada pelo ideário de servir à consciência da comunidade e ao espírito das épocas. Exibe, em sua contabilidade existencial, a despeito de sua franciscana pobreza material, ou até por isso mesmo, a riqueza do maior patrimônio espiritual do Estado: os frutos de sua inteligência e cultura. Mas, não dormimos sobre os louros. Como Goethe, queremos luz, mais luz.

Desde que Platão fundou a sua Escola Filosófica, em 387 a.C., destinada inicialmente ao culto das musas, situada nos jardins consagrados ao herói ateniense Akademus, muita idéia surgiu nos embates filosóficos. O termo reapareceu na Renascença, ampliando o seu significado para agremiação literária, depois científica, artística e cultural. No Brasil, a primeira academia, a dos Esquecidos, foi fundada na Bahia em 1724. Sob a presidência de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras veio ao mundo em 1897.

No Maranhão, coube, como na Bíblia, a um Grupo de Doze – Antonio Lobo, Alfredo de Assis, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, Inácio Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Vieira da Silva – associarem-se , em 1908, sob inspiração do espírito das letras, para servi-la e disseminar os seus ensinamentos.

Ser literário por evidente vocação é o maranhense, em sua índole de criar a beleza, mais apto ao cultivo da pena do que ao manejo da espada. Em sua atividade criadora, a pena reflete o destino de erguer-se para denunciar falsidades e incoerências, além de transformar-se em instrumento de rica produção, na intensa luta diária que é a do escritor com os seus símbolos.

Orgulha-se a Academia Maranhense de Letras, no revezamento das 40 cadeiras que compõem o seu acervo humano, em contar com os nomes mais representativos da cultura maranhense no século. Vale registrar, no entanto, que proeminentes prosadores e poetas, principalmente estes últimos, não integram – embora constituam patrimônio maranhense – a Casa. Mas, isso deve-se mais às peculiaridades de seus temperamentos. A Academia continuará a aguardá-los, como a companheiros com quem compartilha visões comuns.

Somos quarenta, mas somos apenas um. Somos um e, no entanto, somos quarenta. O coletivo preside a unidade. E a unidade manifesta-se na individualidade coletiva. Somos mais que uma Academia, uma Antologia.

De nossa rica tradição literária emergem, com reconhecimento nacional e internacional, importantes nomes, como Josué Montello, autor de mais de 150 títulos e considerado o maior romancista de todos os tempos do Maranhão, autor do epopéico Os tambores de São Luís; José Sarney, autor de inesquecíveis romances como O dono do mar, ex-Presidente da República, poeta, cronista e tribuno, hoje, decano da Academia, onde está desde os 23 anos de idade; Franklin de Oliveira, com vasta obra de erudição crítica e considerado por José Guilherme Merquior como o maior crítico cultural brasileiro de todos os tempos, e talvez do Ocidente; João Mohana, padre, psicólogo e escritor que alcançou excelência no romance e pioneiramente no aconselhamento psíquico e espiritual; José Louzeiro, contista, novelista, jornalista, notabilizado também como roteirista e autor de diversos romances que se tornaram sagas cinematográficas; Jomar Moraes pesquisador, historiador e editor de textos, responsável por retirar do esquecimento autores maranhenses importantes, mas esquecidos, com edições anotadas e comentadas, autor do Guia de São Luís e da Vida de Gonçalves Dias e responsável pela terceira edição do clássico de nossa historiografia, o Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, de César Marques, com mais de 1.200 notas explicativas; José Chagas, autor de vasta obra impregnada de Maranhão e universalidade e um dos mais importantes poetas de toda a nossa historiografia lírica; Lucy Teixeira, poetisa, romancista, contista, teatróloga e agitadora cultural que, junto com Ferreira Gullar, organizou no final dos anos quarenta o Congresso Súbito de Poesia, origem do Grupo Ilha que teve entre seus participantes Bandeira Tribuzi e José Sarney, sendo autora do extraordinário No tempo dos alamares e outros sortilégios, livro de contos.

É um conjunto estelar que escreverá ainda, como o fez no passado, muitas páginas de grande riqueza espiritual.

Somos jovens, temos apenas 100 anos. Contemplaremos muitos séculos.
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Breve Memória da Academia Maranhense de Letras
Refletindo a intensa vida literária que São Luís conheceu entre a última e a primeira décadas dos séculos XIX-XX, diversas agremiações culturais foram fundadas, duas das quais tiveram particular importância: a Oficina dos Novos e a Renascença Literária, destacando-se a última, pela saudável emulação que estabeleceu com a primeira.

A Oficina dos Novos, fundada a 28 de julho de 1900, tinha estrutura organizacional semelhante à das Academias. Dava a seus membros o título de operários e editava um boletim oficial denominado Os Novos, em cujo frontispício se lia: “periódico evolucionista”.

Constituída, inicialmente, com 20 cadeiras, a Oficina ampliou seu quadro para 30, em 1904. Afora os membros efetivos, tinha-os honorários e correspondentes. Cada cadeira estava sob o patronato de um vulto eminente da cultura maranhense.

Como é natural, muitos desses patronos também seriam adotados como patronos das cadeiras da Academia, da mesma forma que diversos “operários” viriam integrar o grupo dos fundadores desta Instituição ou nela posteriormente ingressaram, o mesmo cabendo dizer relativamente aos sócios honorários e correspondentes.

Tendo Gonçalves Dias como seu patrono geral, a Oficina escolheu o poeta Sousândrade para seu presidente honorário. O culto a Gonçalves Dias estava representado pelos propósitos, declarados em estatuto, de organizar uma estante gonçalvina que fosse a mais completa possível, editar a obra do poeta e, futuramente, transformar a Oficina em Grêmio Literário Gonçalviano.

Ainda sobre a Oficina dos Novos, contradiga-se, por oportuno, a errônea versão segundo a qual essa entidade desapareceu para que em seu lugar surgisse a Academia. Além de um jantar de confraternização que as duas entidades promoveram no Hotel Central, a 15 de dezembro de 1908, diversos fatos atestam a co-existência da Oficina e da Academia, por alguns anos. Um deles foi a reorganização que a Oficina realizou em 1917, quando ocorreram a aprovação de novos estatutos, a eleição de diversos “operários” e da diretoria.

A Academia Maranhense de Letras, oficialmente instituída às 19 horas de 10 de agosto de 1908, data do 85º aniversário de nascimento do poeta da Canção do Exílio, também já demonstrava claramente, com esse fato, sua resolução de adotar Gonçalves Dias como seu nume tutelar.

Fundada no salão de leitura da Biblioteca Pública do Estado (prédio onde, a partir de 1950, tem sua sede própria), compôs-se, inicialmente, de 20 cadeiras.

Dispunham os estatutos que ao grupo dos 12 fundadores (nominados no início) viriam juntar-se os oito membros restantes, admitidos mediante eleição, e também com as honras de fundadores.

A 7 de setembro de 1908 realizou-se a solene sessão inaugural da Academia, que, assim, iniciava oficialmente as suas atividades. Por força de disposição estatutária, foi o primeiro presidente da agremiação o professor e historiógrafo José Ribeiro do Amaral, que era, aos 55 anos, o mais idoso entre seus confrades.

Em razão da incontestável liderança de um de seus fundadores, a Academia foi cognominada Casa de Antônio Lobo. Menos de uma década após sua fundação – a contar de 1916, entrou a Instituição numa fase de instabilidade, marcada por alguns períodos de reação vivificadora, em meio ao generalizado estado de apatia em que se arrastou até a década de 40.

As sucessivas reformas estatutárias (em 1916, 1934, 1942, 1946, 1948, 1957, 1979 e 1999) introduziram diversas modificações na estrutura e funcionamento da Academia, sendo particularmente interessantes, no que respeita a seus quadros, a de 1934, que fixou em 25 o número de membros titulares, e a de 1946, que elevou esse quadro ao número clássico de 40 poltronas, estabelecendo que seriam 60 os membros correspondentes. Este quadro honorífico, fixado em 30 cadeiras pela reforma de 1957, compõe-se, atualmente, de 20 cadeiras, às quais foram atribuídos patronos pela Resolução Nº 6, de 20 de setembro de 1987, da Diretoria.

O não dispor de sede própria durante longos anos, levou a Academia a funcionar, provisoriamente, na residência do presidente Ribeiro do Amaral, até seu falecimento em 1927. Depois teve abrigo nos baixos da Assembléia Legislativa do Estado, por achar-se, durante o Estado Novo, esse Poder suprimido. A seguir, seus arquivos estiveram guardados em casa do acadêmico Ribamar Pinheiro, que faleceu no exercício da Presidência. O presidente seguinte, Clodoaldo Cardoso, conseguiu que o Governo do Estado alugasse o sobrado da Rua de Nazaré, 200, para sede provisória da Academia. Enquanto isso, ia ela realizando suas sessões solenes em auditórios cedidos pela Assembléia Legislativa do Estado, Teatro Artur Azevedo, Casino Maranhense, Grêmio Lítero-Recreativo Português, Associação Comercial do Maranhão e outras entidades.

Houve, nesse período adverso da Academia, deserções, esmorecimentos e descasos. Estes, principalmente dos Poderes Públicos, apesar de se contarem, entre os acadêmicos de todos os tempos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores, prefeito e titulares de outros cargos e funções relevantes.

Algumas cadeiras ficaram vagas por longos anos. As sessões, em diversas fases, eram realizadas a espaços irregulares.

Na Presidência de Clodoaldo Cardoso, deu-se o processo de revigoramento da Entidade. Contando ele com a sensibilidade do Governador Sebastião Archer da Silva, cujo nome é aqui inscrito como preito de reconhecimento e gratidão, a Academia recebeu, por doação do Estado (Lei nº 320, de 3 de fevereiro de 1949), o prédio em que hoje se acha instalada, e que a devolveu ao lugar de sua fundação.

Providenciou-se o preenchimento das cadeiras vagas, fez-se a reorganização do Quadro de Membros Titulares e foi adotada uma série de outras providências necessárias. Entre elas, a edição da Revista (de que até 1948 só haviam sido publicados três números), a aprovação, em 3 de abril de 1948, do desenho do sinete e ex-libris, este posteriormente adotado como medalha do colar usado pelos acadêmicos em sessões solenes.

Entre os novos membros então eleitos, teve a Academia a felicidade de incluir o professor e historiador Mário Martins Meireles, que, feito secretário, vice-presidente e depois presidente, em sucessivos e profícuos mandatos, muito deu de si à organização e movimentação que então se processaram.

É dessa fase a decisiva contribuição prestada pela Academia para o desenvolvimento e consolidação do ensino superior no Maranhão. A Faculdade de Filosofia de São Luís, instituição matricial dos atuais cursos de Letras, Filosofia, Geociências e História, da Universidade Federal do Maranhão, contou com a colaboração da Academia, em cujo salão nobre ocorreu a aula inaugural, proferida pelo acadêmico Bacelar Portela, e que não somente operacionalizou a fundação da Faculdade, mas também lhe deu grande parte dos professores de que precisava, e aos quais, nos primeiros anos, nada podia pagar.

De 1966 a 1983, na condição de secretário, depois vice-presidente e por fim presidente, a figura dominante da Academia, sua alma e seu principal animador, foi o professor Luiz de Moraes Rêgo. Ao trabalho, dedicação e empenho desse saudoso acadêmico, muito deve a Academia. Foi esse um período de conferências, cursos, concursos literários e sessões comemorativas inesquecíveis.

Quatro governadores do Maranhão figuram, ao lado de Sebastião Archer, na Galeria dos Benfeitores da Instituição, a saber:

Urbano Santos, que, pelo Dec. Nº 92, de 19 de novembro de 1918, considerou-a de utilidade pública, previu que o Estado lhe daria sede condigna e determinou que a Imprensa Oficial lhe editasse regularmente a Revista;

João Castelo, a quem é devido o envio de mensagem à Assembléia Legislativa, que resultou na Lei Nº 4.350, por ele sancionada em 31 de outubro de 1981, autorizando o Poder Executivo a pagar mensalmente à Academia subvenção correspondente a 10 salários mínimos;

João Alberto Souza, que, pelo Dec. Nº 11.788, de 12 de março de 1991, regulamentou a referida lei, atualizou os pagamentos não efetuados pelo governador que o antecedeu imediatamente, e aprovou convênio celebrado com o hoje extinto Sioge, graças ao empenho do então diretor-presidente dessa autarquia, José de Ribamar Carvalho Moura.

Registra-se, para a História, que o convênio AML/Sioge nunca foi implementado, por falta de apoio do governador seguinte, e que a subvenção referida deixou de ser paga a contar de janeiro de 1997.

O gov. Jackson Lago, porém, baixou o Dec. Nº 23.433, de 2 de outubro de 2007, restabelecendo a subvenção suprimida, fato que o tornou membro da Galeria dos Benfeitores da Academia.

Alguns, no passageiro exercício do Governo do Maranhão, e desatentos ou hostis às tradições que mais enobrecem e de que mais se orgulha nossa terra, negaram apoio à Academia e até lhe suprimiram parcas, mas importantes ajudas. Sobre seus nomes, porém, o mais absoluto silêncio, pelo desprezo que merecem, pois nem para integrá-los a uma galeria de malfeitores da Academia valeria a pena consigná-los. A Diretoria que, com exceção de alguns de seus membros, esteve à frente da Academia no período de 2 de fevereiro de 1984 a 2 de fevereiro de 2006, por força de sucessivas reeleições, desenvolveu diversas atividades voltadas para o melhor e mais dinâmico funcionamento da Casa.

Tornou-se isso possível graças à completa reforma do prédio-sede, compreendendo obras ali iniciadas em abril de 1984 e concluídas em janeiro de 1986, e que constaram da restauração de todo o imóvel, da ampliação e adaptação de espaços, bem assim da aquisição de móveis e equipamentos. Esses trabalhos, para os quais contribuíram órgãos públicos e empresas privadas, foram ultimados com a substancial ajuda financeira do Governo Federal, à época chefiado pelo acadêmico José Sarney.

Concluída essa tarefa absolutamente prioritária e indispensável para dar à Academia uma sede condigna, seguiram-se outras iniciativas. Destacam-se, entre elas: a realização de cursos e concursos literários; a cessão do Auditório para diversas atividades culturais; a promoção de lançamentos literários, palestras, conferências e exposições de artes plásticas; a criação da Livraria Maranhense; a manutenção de um programa editorial; a retomada da publicação da Revista; a restauração de um sobrado em Alcântara, onde funciona, desde 6 de maio de 1988, a Pousada do Mordomo Régio; a reorganização da Biblioteca da Academia, então denominada Astolfo Marques, especializada em bibliografia maranhense, e cujo acervo está a caminho de tornar-se um dos mais importantes da capital maranhense, em sua especialidade.

As Diretoria e Comissão Fiscal eleitas em 27 de novembro de 2007 e empossadas a 31 de janeiro de 2008, estão compostas dos seguintes membros: Presidente, Lino Raposo Moreira; Vice-Presidente, José Maria Cabral Marques; Secretário-Geral, Jomar Moraes; 1º Secretário, José Chagas; 2º Secretário, Laura Amélia Damous; 1º Tesoureiro, Mont´Álverne Frota; 2º Tesoureiro, Alex Brasil.

Comissão Fiscal - Ceres Costa Fernandes, José Filgueiras e Mílson Coutinho.

Fundada a 10 de agosto de 1908 por Antônio Lobo, Alfredo de Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, Inácio Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva. Composta, inicialmente, de 20 cadeiras, que, em 1946, foram fixadas no número clássico de 40. Cognominada Casa de Antônio Lobo, tem sede própria na Rua da Paz, 84.

Fontes:
Benedito Buzar (1908: O ano de fundação da AML)
Jomar Moraes (Breve Memória da Academia Maranhense de Letras)
Lino Moreira (Mais que uma Academia, uma Antologia)
In Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. 2009. Edição 190. http://www.guesaerrante.com.br/
http://www.academiamaranhense.org.br/

Quadro de Patronos e Membros Efetivos da AML:

Fundadores da AML A história de um povo está escrita em letras de pura paixão pela arte, pela literatura, pela sinergia espalhada nos ares de nosso Estado, que desnudam a sabedoria divina, diluindo em seus cidadãos sempre altivos e voltado para grandes causas, a esperança de contribuir para o enobrecimento da humanidade.

A História da Academia Maranhense de Letras reflete o retrato de um Maranhão criativo, um dos mais belos e importantes foco de cultura nacional, berço de brasileiros ilustres que ontem, hoje e amanhã, ficarão imortais em nossa memória.

Cadeira Nº 1 – Patrono, Almeida Oliveira; Fundador, Barbosa de Godóis; Antecessores, Luís Carvalho e Antenor Bogéa; Ocupante, Sebastião Moreira Duarte.

Cadeira Nº 2 – Patrono, Aluísio Azevedo; Fundador, Domingos Barbosa; Antecessor, Fernando Viana; Ocupante, Waldemiro Viana.

Cadeira Nº 3 – Patrono, Artur Azevedo; Fundador, Antônio da Costa Gomes; Antecessores, João Quadros (nome literário de João da Costa Gomes), Assis Garrido, João Mohana e Amaral de Mattos; Ocupante, Antonio Martins de Araujo.

Cadeira Nº 4 – Patrono, Cândido Mendes; Fundador, Justo Jansen; Antecessor, Luiz de Moraes Rêgo; Ocupante, Joaquim Itapary.

Cadeira Nº 5 – Patrono, Celso Magalhães; Fundador, Fran Paxeco; Antecessor, Lago Burnett; Ocupante, Clovis Sena.

Cadeira Nº 6 – Patrono, Frederico José Corrêa; Fundador, Luso Torres; Antecessores, Reis Perdigão e Eloy Coelho Netto; Ocupante, Laura Amélia Damous.

Cadeira Nº 7 – Patrono, Gentil Braga; Fundador, Alfredo de Assis Castro; Antecessora, Lucy Teixeira; Ocupante, Carlos de Lima.

Cadeira Nº 8 – Patrono, Gomes de Sousa; Fundador, A. Vieira da Silva; Antecessores, Jerônimo de Viveiros, João Freire Medeiros e José de Ribamar Chaves Caldeira; Ocupante, Lino Antônio Raposo Moreira.

Cadeira Nº 9 – Patrono, Gonçalves Dias; Fundador, I. Xavier de Carvalho; Antecessores, Catulo da Paixão Cearense e Mário M. Meireles; Ocupante, José Maria Ramos Martins

Cadeira Nº 10 – Patrono, Antônio Henriques Leal; Fundador, Astolfo Marques; Antecessores, Luís Domingues da Silva e Henrique Costa Fernandes; Ocupante, Jomar Moraes.

Cadeira Nº 11 – Patrono, João Francisco Lisboa; Fundador, Ribeiro do Amaral; Antecessores, Nascimento Moraes e Manoel Caetano Bandeira de Mello; vaga

Cadeira Nº 12 – Patrono, Joaquim Serra; Fundador, Clodomir Cardoso; Antecessor, Odylo Costa, filho; Ocupante, Evandro Sarney.

Cadeira Nº 13 – Patrono, José Cândido de Moraes e Silva; Fundador, Almeida Nunes; Antecessores, Clarindo Santiago, Antônio Lopes e Fernando Perdigão; Ocupante, Benedito Buzar.

Cadeira Nº 14 – Patrono, Nina Rodrigues; Fundador, Antônio Lobo; Antecessores, Achilles Lisboa, Odilon Soares e Bernardo Almeida; Ocupante, Edson Vidigal.

Cadeira Nº 15 – Patrono, Odorico Mendes; Fundador, Godofredo Viana; Antecessores, Silvestre Fernandes e Erasmo Dias; Ocupante, Mílson Coutinho.

Cadeira Nº 16 – Patrono, Raimundo Correia; Fundador, Corrêa de Araújo; Antecessores, Domingos Vieira Filho e Paulo Nascimento Moraes; Ocupante, Neiva Moreira.

Cadeira Nº 17 – Patrono, Sotero dos Reis; Fundador, José Augusto Corrêa; Antecessores, Mata Roma, Fernando Barbosa de Carvalho e A. L. Bacelar Viana; Ocupante, Ivan Sarney.

Cadeira Nº 18 – Patrono, Sousândrade; Fundador, Clodoaldo Freitas; Antecessor, Astolfo Serra; Ocupante, Manuel Lopes.

Cadeira Nº 19 – Patrono, Teófilo Dias; Fundador, Maranhão Sobrinho; Antecessores, Manoel Sobrinho, Ribamar Carvalho e Emílio Azevedo; Ocupante, Américo Azevedo Neto.

Cadeira Nº 20 – Patrono, Trajano Galvão; Fundador, Barros e Vasconcelos; Antecessora, Conceição Neves Aboud; Ocupante, Sonia Almeida.

Cadeira Nº 21 – Patrono, Maranhão Sobrinho; Fundador, Raimundo Lopes; Antecessores, Isaac Ferreira, Salomão Fiquene e Nonnato Masson; Ocupante, Hélio Maranhão.

Cadeira Nº 22 – Patrono, Humberto de Campos; Fundador, Ribamar Pinheiro; Antecessor, Corrêa da Silva; Ocupante, José Sarney.

Cadeira Nº 23 – Patrono, Graça Aranha; Fundador, Clodoaldo Cardoso; Antecessor, Nunes Pereira; Ocupante, José Filgueiras.

Cadeira Nº 24 – Patrono, Coelho Neto; Fundador, Joaquim Dourado; Antecessora, Dagmar Destêrro; Ocupante, Joaquim Campelo Marques.

Cadeira Nº 25 – Patrono, Sá Viana; Fundador, Oliveira Roma; Antecessores, Raul de Freitas e Virgílio Domingues Filho; Ocupante, José Louzeiro.

Cadeira Nº 26 – Patrono, Antônio Lobo; Fundadora, Laura Rosa; Antecessores, José Jansen e Ignacio de Mourão Rangel; Ocupante, Carlos Gaspar.

Cadeira Nº 27– Patrono, Dias Carneiro; Fundador, Sousa Bispo; Antecessor, Arnaldo Ferreira; Ocupante, Magson da Silva.

Cadeira Nº 28 – Patrono, Visconde de Vieira da Silva; Fundador, Carvalho Guimarães; Ocupante, José Chagas.

Cadeira Nº 29 – Patrono, Filipe Franco de Sá; Fundador, Ruben Almeida; Antecessor, Viegas Netto; Ocupante, Mont’Alverne Frota.

Cadeira Nº 30 – Patrono, Teixeira Mendes; Fundador, Alarico da Cunha; Antecessor, Antônio de Oliveira; Ocupante, Alex Brasil.

Cadeira Nº 31 – Patrono, Raimundo Lopes; Fundador, Josué Montello; Ocupante, Ronaldo Costa Fernandes.

Cadeira Nº 32 – Patrono, Vespasiano Ramos; Fundadora, Mariana Luz; Antecessores, Félix Aires e Raymundo Carvalho Guimarães; Ocupante, Sálvio Dino.

Cadeira Nº 33 – Patrono, Pedro Nunes Leal; Fundador, Viriato Corrêa; Antecessores, Carlos Cunha e Luís Carlos Bello Parga; vaga

Cadeira Nº 34 – Patrono, João de Deus do Rego; Fundador, A. Serra de Castro; Antecessor, Carlos Madeira; Ocupante, Alberto Tavares.

Cadeira Nº 35 – Patrono, César Marques; Fundador, Raul de Azevedo; Antecessores, Vera-Cruz Santana e Clóvis Ramos; Ocupante, Lourival Serejo.

Cadeira Nº 36 – Patrono, Tasso Fragoso; Fundador, Bacelar Portela; Ocupante, Ubiratan Teixeira.

Cadeira Nº 37 – Patrono, I. Xavier de Carvalho; Fundador, Ribamar Pereira; Antecessores, Luiz Viana e Amaral Raposo; Ocupante: Nascimento Morais Filho.

Cadeira Nº 38 - Patrono: Adelino Fontoura; Fundador, Franklin de Oliveira; Ocupante, José Maria Cabral Marques.

Cadeira Nº 39 – Patrono, A. O. Gomes de Castro; Fundador, Pedro Braga Filho; Antecessores, Pedro Neiva de Santana e Pires Sabóia; Ocupante, Ceres Costa Fernandes.

Cadeira Nº 40 – Patrono, Dunshee de Abranches; Fundador, Joaquim Luz; Ocupante, Antônio Almeida.

Fontes:
Jomar Moraes (Breve Memória da Academia Maranhense de Letras)
In Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. 2009. Edição 190. http://www.guesaerrante.com.br/
http://www.academiamaranhense.org.br/

sábado, 9 de maio de 2009

Adelia Maria Woellner (Cristais Poéticos)


CONQUISTA

Joguei o laço,
ajustei o nó;
apertei o espaço
e segurei o tempo.

Onde e quando
agora não existem.

Basto-me eu só,
na insistência
em viver...
=========================

TECELÃ

Costurei palavras,
retalhos colhidos
no baú dos devaneios.

Fiz, do manto-poema
agasalho
das esperanças.
=========================

OUTRO TEMPO

Escrevo para outro tempo.
A página é selo:
guarda, encobre, protege,
mas também é passaporte
para envio da mensagem.
………………………………
O destinatário ainda não chegou.
Escrevo para outro tempo…
===========================

SEM TÍTULO

Ave desgarrada,
há muito vôo sozinha,
nesse espaço vazio,
em busca do ninho sonhado.

Já nem mais sei
quem sou.

Apenas descubro
que tenho por mãe a humanidade…
e o universo sabe que é meu pai.
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INVERNO

O frio
endurece os ramos,
faz encolheren
as pétalas das flores
e transforma
a superfície das águas
em fatias de cristal.
Só assim pode,
a geada,
colocar grinaldas de gelo
nas folhas de capim.
---------

Fontes:
http://poetasdobrasil.blogspot.com/2007/06/adlia-maria-woellner-nasceu-em-curitiba.html
– Antologia dos Acadêmicos; edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Adélia Maria Woellner (1940)


(Pseudônimo: Adélia Maria)

Nasceu em 20 de junho de 1940, em Curitiba e reside em Piraquara (PR). Formou-se em Direito, em 1972, quando foi premiada com quatro medalhas, inclusive a de ouro, por haver obtido o 1º lugar no curso jurídico-noturno.

Foi professora (Direito Penal) na PUC do Paraná e Chefe do Departamento de Recursos Humanos na RFFSA, onde foi agraciada com a comenda do Mérito Ferroviário.

Pertence à Academia Paranaense de Letras (Cadeira nº 15), ao Centro de Letras do Paraná, do qual foi Presidente (biênio 98/99) e a inúmeras outras entidades culturais.

Teve seu nome incluído em diversas obras literárias, entre as quais: Dicionário Literário Brasileiro (Raimundo de Menezes) e Enciclopédia de Literatura Brasileira (OLAC/FAE-MEC).

Bibliografia

A Literatura e a História do Paraná (prosa)
Avesso Meu (poesias)
Balada do Amor que se Foi (poesias)
Encontro Maior (poesias)
Graciette Salmon - A Ciranda da Estrela Sozinha (ensaio)
Infinito em Mim (poesias)
Nbanduti (poesias)
Poemas para Amar (poesias)
Poemas para Orar e Meditar (poesias)
Poemas Soltos (poesias)
Poesia Trilógica (poesias)
Sons do Silêncio (poesias)
Trovas do Dia-a-dia (trovas)
Para onde vão as andorinhas (pesquisa)
Férias no Sítio (infantil)

Fontes:
http://poetasdobrasil.blogspot.com/2007/06/adlia-maria-woellner-nasceu-em-curitiba.html
– Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística. http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/
– Antologia dos Acadêmicos; edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Machado de Assis (A Reforma pelo Jornal )


Houve uma coisa que fez tremer as aristocracias, mais do que os movimentos populares; foi o jornal. Devia ser curioso vê-las quando um século despertou ao clarão deste fiat humano; era a cúpula de seu edifício que se desmoronava.

Com o jornal eram incompatíveis esses parasitas da humanidade, essas fofas individualidades de pergaminho alçado e leitos de brasões. O jornal que tende à unidade humana, ao abraço comum, não era um inimigo vulgar, era uma barreira... de papel, não, mas de inteligências, de aspirações.

É fácil prever um resultado favorável ao pensamento democrático. A imprensa, que encarnava a idéia no livro, expendi eu em outra parte, sentia-se ainda assim presa por um obstáculo qualquer; sentia-se cerrada naquela esfera larga mas ainda não infinita; abriu pois uma represa que a impedia, e lançou-se uma noite aquele oceano ao novo leito aberto: o pergaminho será a Atlântida submergida.

Por que não?

Todas as coisas estão em gérmen na palavra, diz um poeta oriental. Não é assim? O verbo é a origem de todas as reformas.

Os hebreus, narrando a lenda do Gênesis, dão à criação da luz a precedência da palavra de Deus. É palpitante o símbolo. O fiat repetiu-se em todos caos, e, coisa admirável! sempre nasceu dele alguma luz.

A história é a crônica da palavra. Moisés, no deserto; Demóstenes, nas guerras helênicas; Cristo, nas sinagogas da Galiléia; Huss, no púlpito cristão; Mirabeau, na tribuna republicana; todas essas bocas eloqüentes, todas essas cabeças salientes do passado, não são senão o fiat multiplicado levantado em todas as confusões da humanidade. A história não é um simples quadro de acontecimentos; é mais, é o verbo feito livro.

Ora pois, a palavra, esse dom divino que fez do homem simples matéria organizada, um ente superior na criação, a palavra foi sempre uma reforma. Falada na tribuna é prodigiosa, é criadora, mas é o monólogo; escrita no livro, é ainda criadora, é ainda prodigiosa, mas é ainda o monólogo; esculpida no jornal, é prodigiosa e criadora, mas não é o monólogo, é a discussão.

E o que é a discussão?

A sentença de morte de todo o status quo, de todos os falsos princípios dominantes. Desde que uma coisa é trazida à discussão, não tem legitimidade evidente, e nesse caso o choque da argumentação é uma probabilidade de queda.

Ora, a discussão, que é a feição mais especial, o cunho mais vivo do jornal, é o que não convém exatamente à organização desigual e sinuosa da sociedade.

Examinemos.

A primeira propriedade do jornal é a reprodução amiudada, é o derramamento fácil em todos os membros do corpo social. Assim, o operário que se retira ao lar, fatigado pelo labor quotidiano, vai lá encontrar ao lado do pão do corpo, aquele pão do espírito, hóstia social da comunhão pública. A propaganda assim é fácil; a discussão do jornal reproduz-se também naquele espírito rude, com a diferença que vai lá achar o terreno preparado. A alma torturada da individualidade ínfima recebe, aceita, absorve sem labor, sem obstáculo aquelas impressões, aquela argumentação de princípios, aquela argüição de fatos. Depois uma reflexão, depois um braço que se ergue, um palácio que se invade, um sistema que cai, um princípio que se levanta, uma reforma que se coroa.

Malévola faculdade — a palavra!

Será ou não o escolho das aristocracias modernas, este novo molde do pensamento e do verbo?

Eu o creio de coração. Graças a Deus, se há alguma coisa a esperar é a das inteligências proletárias, das classes ínfimas; das superiores, não.

As aristocracias dissolvem-se, diz um eloqüente irmão d'armas. É a verdade. A ação democrática parece reagir sobre as castas que se levantam no primeiro plano social. Os próprios brasões já se humanizam mais, e alguns jogam na praça sem notarem que começam a confundir-se com as casacas do agiota.

Causa riso.

Tremem, pois, tremem com este invento que parece abranger os séculos — e rasgar desde já um horizonte largo às aspirações cívicas, às inteligências populares.

E se quisessem suprimi-lo? Não seria mau para eles; o fechamento da imprensa, e a supressão da sua liberdade, é a base atual do primeiro trono da Europa.

Mas como! cortar as asas de águia que se lança no infinito, seria uma tarefa absurda, e, desculpem a expressão, um cometimento parvo. Os pergaminhos já não são asas de Ícaro. Mudaram as cenas; o talento tem asas próprias para voar; senso bastante para aquilatar as culpas aristocráticas e as probidades cívicas.

Procedem estas idéias entre nós? Parece que sim. É verdade que o jornal aqui não está à altura da sua missão; pesa-lhe ainda o último elo. Às vezes leva a exigência até à letra maiúscula de um título de fidalgo.

Cortesania fina, em abono da verdade!

Mas, não importa! eu não creio no destino individual, mas aceito o destino coletivo da humanidade. Há um pólo atraente e fases a atravessar. — Cumpre vencer o caminho a todo o custo; no fim há sempre uma tenda para descansar, e uma relva para dormir.

(Publicado originalmente em O Espelho , Rio de Janeiro, 23/10/1859.)

Fontes:
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Vol. III. RJ: Nova Aguilar, 1994.
Imagem = http:// www.weno.com.br

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mady Benoliel Benzecry (Poetas do Amazonas)

CARMEM-DOIDA

Carmem-doida! Gritava
a criançada da antiga
praça da prefeitura,
a Carmem-doida endoidava
mandava banana pra todos,
cuspia a dentadura
xingava a mãe e a família
da garotada e berrava
os piores palavrões...

Carmem-doida! E a tua mãe,
está no hospício também?
"No céu! Seus mizerentos
rebentos do Satanás,
na paz do Senhô, ela está!"
E ia ao "Juizado
de Menores" se queixar!

"Seu juiz, não é prussive,
tanta, tanta bandalheira,
eu sou muié de respeito
e não ardimito brincadeira!
A gente tem de acabá
com esses moleque de rua,
já é a quinta dentadura
que eles me faz quebrá,
entonces esta, foi cara,
ganhei ela de natar
e tinha um dente de ouro
bem na frente, seu dotô
eles tem de me pagá!"

E lá se iam dois guardas
a garotada autuar...

Um dia, foi no Natal
uma "vaquinha" correu
na praça da prefeitura
e Carmem-doida ganhou
um presente dos meninos
com cinco dentes de ouro
uma nova dentadura!

E desde então Carmem-doida,
muito mais doida, ficou...

(In: Sarandalhas, 1967)
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ÀS DEZ HORAS DE UMA NOITE TRISTE

Não te demores meu bem!...
Minhas mãos ainda estão trêmulas
das carícias que te deram...
Ainda se estendem quentes, delirantes,
ainda se crispam dos anseios que tiveram
ao maltratar-te a pele...
Chamam-te ainda nervosas, implorantes
mas, já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

Não te demores meu bem!...
Meus lábios permanecem entreabertos
como se ainda esmagados contra os teus,
bebessem teu sangue nos desertos.
Ainda estão úmidos e sentem o jogo intenso
que tua boca transportada de desejo,
derramou na avidez de um infindo beijo...
Mas já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

Não te demores meu bem!...
Meu corpo ainda está como o deixaste,
morno... todo marcado da volúpia
com que o amaste...
No entanto, ainda deseja como um louco
languidamente entregar-se, e pouco a pouco,
matar a sede deste amor que não mataste!
Mas já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste!...
(In: De Todos os Crepúsculos)
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Sobre a Poetisa
A poeta Mady Benoliel Benzecry, ou Mady Benzecry, filha de família tradicional do Amazonas, deixou pouca informação bigráfica. Sabe-se que nasceu em Manaus, no dia 19 de fevereiro de 1933 e que mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se as artes plásticas. Casou-se com o entalhador pernambucano Eugênio Carlos Batista, mais conhecido como Batista. Mady fez diversas exposições de seu trabalho ao lado do marido e publicou alguns poemas no jornais de Manaus.

Contribuiu para a literatura amazonense ao publicar dois livros de poesia: De Todos os Crepúsculos (1964) e Sarandalhas (1967), ambos ilustrados pelo astista amazonense Moacir Andrade. Dois de seus poemas,Às dez horas de uma noite triste e Procissão do tempo, foram publicados em 2006 na Antologia Poesia e Poetas do Amazonas. De acordo com o jornal local Amazonas em Tempo (03/06/2004), a carreira de Mady como poeta não foi bem sucedida devido ao encalhe de seu segundo livro nas prateleiras, o que a obrigou a recolhê-los.

Mady Benzencry faleceu em 11 de julho de 2003

Fontes:
Poesia e Poetas do Amazonas. 2006. Ed. Valer.
Jornal Amazonas em Tempo (03/06/2004)
http://www.sumauma.net/amazonian/literatura/biom/bio_mady.html
Fotomontagem = José Feldman

Kathryn VanSpanckeren (Panorama da Literatura dos Estados Unidos – Parte final)



O Desabrochar do Indivíduo

A Grande Depressão dos anos 1930 tinha literalmente destruído a economia americana. A Segunda Guerra Mundial a recuperou. Os Estados Unidos tornaram-se a principal força no cenário mundial, e os americanos do pós-Segunda Guerra desfrutaram de prosperidade pessoal e liberdade individual sem precedentes.

A expansão do ensino superior e a disseminação da televisão nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial possibilitaram que pessoas comuns obtivessem informações por conta própria e se tornassem mais sofisticadas. Um excesso de comodidades aos consumidores e o acesso a casas grandes e atraentes em áreas residenciais de classe média deram maior autonomia às famílias. As difundidas teorias da psicologia freudiana enfatizaram as origens e a importância da mente individual. A “pílula” anticoncepcional liberou as mulheres da estrita obediência às normas biológicas. Pela primeira vez na história da humanidade, muitas pessoas comuns podiam levar a vida de forma altamente satisfatória e afirmar seu valor pessoal.

A ascensão do individualismo de massa — bem como os movimentos pelos direitos civis e contra a guerra dos anos 1960 — deu mais poder a vozes antes emudecidas. Os escritores revelaram a sua natureza mais íntima, bem como experiências pessoais, e a relevância da experiência individual indicava a importância do grupo ao qual estava ligada. Homossexuais, feministas e outras vozes marginalizadas exaltavam suas histórias. Escritores judeus americanos e negros americanos encontraram grande público por causa de suas variações do sonho ou do pesadelo americano. Escritores de origem protestante, tais como John Cheever e John Updike, discutiram o impacto da cultura do pós-guerra em uma vida como a deles. Alguns escritores modernos e contemporâneos ainda estão ligados a tradições mais antigas, como o realismo. Alguns podem ser descritos como classicistas, outros como experimentais, estilisticamente influenciados pela transitoriedade da cultura de massa ou por filosofias como o existencialismo ou o socialismo. Outros são mais facilmente agrupados por etnia ou região. No entanto, como um todo, os escritores modernos sempre afirmam o valor da identidade individual.

Sylvia Plath (1932-1963)

Sylvia Plath teve uma vida aparentemente exemplar. Freqüentou a Faculdade Smith com bolsa de estudos e se formou como primeira da sua turma. Também ganhou uma bolsa Fulbright para a Universidade de Cambridge na Inglaterra. Foi lá que encontrou seu carismático futuro marido, o poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e foi morar em uma casa de campo na Inglaterra.

Por trás do sucesso de conto de fadas acumulavam-se os problemas mal resolvidos evocados em seu romance altamente merecedor de ser lido, A Redoma de Vidro (1963). Alguns desses problemas eram pessoais, ao passo que outros eram fruto da identificação de atitudes repressivas com relação à mulher nos anos 1950. Entre elas encontram-se crenças — compartilhadas inclusive por muitas mulheres — de que a mulher não deveria mostrar raiva nem ter ambição de carreira, mas alcançar a realização na tarefa de cuidar do marido e dos filhos. Mulheres profissionalmente bem-sucedidas como Sylvia Plath sentiam que viviam uma contradição.

A vida de Sylvia Plath, que mais parecia ficção, desmoronou quando ela se separou de Hughes e começou a cuidar dos filhos pequenos em um apartamento londrino durante um inverno extremamente frio. Doente, isolada e desesperada, Plath trabalhou contra o tempo para produzir uma série de estonteantes poemas, antes de se suicidar inalando gás de cozinha. Esses poemas foram reunidos na coletânea Ariel (1965), dois anos após sua morte. O poeta Robert Lowell, que escreveu a introdução, ressaltou a rápida evolução de sua arte desde a época em que freqüentava aulas de poesia em 1958.

Os primeiros poemas de Plath eram bem elaborados e tradicionais, mas os da fase final revelam uma bravura desesperada e um grito protofeminista de angústia. Em “O Candidato” (1966), Plath expõe o vazio do atual papel de esposa (que se vê reduzida a uma “coisa” inanimada):

Uma boneca de carne, onde quer que você olhe.
Sabe costurar, sabe cozinhar.
Sabe falar, falar, falar.
(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo)

Allen Ginsberg (1926-1997)

Os “poetas beat” surgiram nos anos 1950. O termo “beat” sugere vários tempos fortes de uma música, como no jazz; beatitude angelical ou bem-aventurança; e “beat up”, cansado ou batido, surrado, machucado. Os beats (beatniks) tiveram como fonte de inspiração o jazz, a religião oriental e a vida errante. Tudo isso foi descrito no famoso romance de Jack Kerouac On the Road — Pé na Estrada, que foi uma sensação na época de sua publicação em 1957. Relato de uma viagem de carro pelo país em 1947, o romance foi escrito em um rolo de papel contínuo durante três semanas alucinantes, o que Kerouac chamou de “prosa bop espontânea”. O estilo selvagem e aberto a improvisações, personagens que eram ao mesmo tempo antenados e místicos e a rejeição às convenções inflamaram a imaginação dos jovens leitores e ajudaram a abrir a porta para a contracultura independente dos anos 1960.

Os beats mais importantes migraram da Costa Leste dos Estados Unidos para São Francisco, obtendo reconhecimento nacional pela primeira vez na Califórnia. O carismático Allen Ginsberg tornou-se o principal porta-voz do grupo. Filho de um pai poeta e de uma mãe que além de excêntrica era militante comunista, Ginsberg freqüentou a Universidade de Colúmbia, onde logo fez amizade com os colegas Kerouac (1922-1969) e William Burroughs (1914-1997), cujos romances violentos e apavorantes sobre o submundo da dependência química da heroína incluem O Almoço Nu (1959). O trio foi o núcleo do movimento beat.

A poesia beat é oral, repetitiva e produz grande efeito quando lida, principalmente porque surgiu das leituras de poesia em clubes “underground”.Algumas pessoas podem estar corretas ao vê-la como a bisavó do rap, que prevaleceu nos anos 1990. A poesia beat foi a forma literária mais antiestablishment dos Estados Unidos, mas por trás das palavras chocantes existe o amor pelo país. A poesia é um grito de dor e raiva contra o que os poetas vêem como a perda da inocência americana e o trágico desperdício de seus recursos materiais e humanos.

Poemas como Uivo (1956) de Allen Ginsberg revolucionaram a poesia tradicional.

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeças de anjo ansiando pelo antigo contato celestial
com o dínamo estrelado na maquinaria da noite.
..
(Tradução de Claudio Willer)

Tennessee Williams (1911-1983)

Nascido no Mississippi, Tennessee Williams foi um dos indivíduos mais complexos da cena literária americana de meados do século 20. Sua obra enfocou os distúrbios emocionais no seio das famílias — a maioria delas sulistas. Ficou conhecido por suas repetições encantatórias, pela dicção poética peculiar do sul, pelos estranhos cenários góticos e pela exploração freudiana da emoção humana. Um dos primeiros autores americanos a assumir abertamente a sua homossexualidade, Williams explicou que os anseios dos seus atormentados personagens eram expressão da solidão em que viviam. Eles vivem e sofrem intensamente.

Williams escreveu mais de 20 peças de teatro, muitas delas autobiográficas. Atingiu o apogeu relativamente cedo na carreira — nos anos 1940 — com À Margem da Vida (1944) e Um Bonde Chamado Desejo (1949). Nenhuma de suas obras publicadas nas duas décadas seguintes alcançou o nível de sucesso e a riqueza dessas duas peças.

Eudora Welty (1909-2001)

Nascida no estado do Mississippi em uma família abastada, de pais que vieram do norte, Eudora Welty teve como guias os romancistas Robert Penn Warren e Katherine Anne Porter. Na verdade, foi Katherine Porter quem escreveu a introdução da primeira coletânea de contos de Welty, A Curtain of Green [Uma Cortina de Verde] (1941). Em sua obra matizada, Eudora Welty buscou seguir o exemplo de Porter, mas essa mulher mais jovem se sentia de fato mais atraída pelo cômico e grotesco.Como a colega escritora sulista Flannery O’Connor, Welty escolhia geralmente como tema personagens anormais, excêntricos ou excepcionais.

Apesar da presença da violência em sua obra, a engenhosidade de Welty era essencialmente humana e afirmativa. Suas coletâneas de contos incluem The Wide Net [A Grande Rede] (1943), The Golden Apples [As Maçãs Douradas] (1949), The Bride of the Innisfallen [A Noiva de Innisfallen] (1955) e Moon Lake [Lago da Lua] (1980). Welty também escreveu romances como, por exemplo, Casamento no Delta (1946), que tem como tema central uma família rural em tempos modernos e A Filha do Otimista (1972).

Ralph Ellison (1914-1994)

Ralph Ellison era do Centro-Oeste, nascido em Oklahoma. Estudou no Instituto Tuskegee no Sul dos Estados Unidos. Teve uma das carreiras mais estranhas das letras americanas — que consiste de um livro altamente aclamado e pouco mais do que isso.

Seu romance Homem Invisível (1952) é a história de um jovem negro que leva uma vida secreta em um porão profusamente iluminado por energia elétrica roubada de uma prestadora de serviços públicos. O livro narra suas experiências grotescas e frustrantes. Ao ganhar uma bolsa de estudos para uma faculdade exclusivamente para negros, ele é humilhado pelos brancos; ao chegar lá, vê o presidente da escola menosprezar os problemas dos negros americanos. A vida também está corrompida fora da faculdade. Por exemplo, mesmo a religião não serve de consolo: um pregador acaba por se revelar um criminoso. O romance acusa a sociedade de falhar em prover seus cidadãos — negros e brancos — com ideais e instituições capazes de realizá-los. O romance expressa um tema racial forte porque o “homem invisível” não é invisível por si mesmo, mas porque os outros, cegos pelo preconceito, não conseguem vê-lo pelo que é.

Saul Bellow (1915-2005)

Nascido no Canadá e educado em Chicago, Saul Bellow era de família de origem judaica russa. Na faculdade, estudou antropologia e sociologia, e isso teve grande influência em sua produção literária. Certa vez expressou sua profunda gratidão ao romancista realista americano Theodore Dreiser por sua abertura para um amplo leque de experiências e seu envolvimento emocional nisso. Altamente respeitado, Bellow recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1976.

Os primeiros romances existencialistas e algo sombrios de Bellow incluem Por Um Fio (1944), estudo kafkiano de um homem esperando o alistamento no exército, e A Vítima (1947), sobre as relações entre judeus e gentios. Nos anos 1950, sua visão ganhou uma conotação mais cômica: usou diversos narradores ativos e ousados em primeira pessoa em As Aventuras de Augie March (1953) — o estudo de um empresário urbano do tipo “Huck Finn” que se torna comerciante no mercado negro da Europa — e em Henderson, o Rei da Chuva (1959), romance sério-cômico brilhante e exuberante sobre um milionário de meia-idade cujas ambições irrealizadas o encaminham para a África.

As obras posteriores de Bellow incluem Herzog (1964), sobre a vida agitada de um professor de inglês neurótico que se especializa no ideal do eu romântico; O Planeta do Sr. Sammler (1970); O Legado de Humboldt (1975); e o autobiográfico Dezembro Fatal (1982). Agarre a Vida (1956) é uma novela centrada em um homem de negócios fracassado, Tommy Wilhelm, que é de tal forma consumido por sentimentos de insuficiência que acaba por se tornar totalmente inadequado — um fracasso com as mulheres, nas tarefas, com as máquinas e no mercado de commodities, onde perde todo o seu dinheiro. Wilhelm é um exemplo do schlemiel (indivíduo sem sorte, pessoa azarada) do folclore judaico — a quem sempre acontecem coisas infelizes.

John Cheever (1915-2005)

John Cheever tem sido chamado com freqüência de “romancista de costumes”. É também conhecido por seus contos elegantes e sugestivos, que examinam minuciosamente o mundo dos negócios de Nova York por meio de seus efeitos sobre os empresários, suas mulheres, seus filhos e amigos.

Uma melancolia mordaz e o desejo de paixão — ou certeza metafísica — nunca totalmente mitigado, mas aparentemente sem esperança, espreitam nas sombras dos contos de Cheever, delicadamente elaborados em um estilo tchekoviano e reunidos em The Way Some People Live [A Forma Como Algumas Pessoas Vivem] (1943), The Housebreaker of Shady Hill [O Arrombador de Shady Hill] (1958), Some People, Places, and Things That Will Not Appear in My Next Novel [Algumas Pessoas, Lugares e Coisas que Não Aparecerão no Meu Próximo Romance] (1961), The Brigadier and the Golf Widow [O Brigadeiro e a Viúva do Golfe] (1964) e O Mundo das Maçãs (1973). Seus títulos revelam sua característica indiferença, jocosidade e irreverência e fazem alusão ao assunto tratado.

Cheever também publicou vários romances — O Escândalo dos Wapshot (1964), Acerto de Contas (1969) e Sobrevivendo na Prisão (1977) — o último do qual é largamente autobiográfico.

John Updike (1932-2009)

John Updike, como Cheever, também é considerado escritor de costumes com suas narrativas ambientadas nos bairros de classe média, assuntos domésticos, reflexões sobre o tédio e a melancolia e, em especial, seus locais ficcionais no litoral leste dos Estados Unidos, em Massachusetts e na Pensilvânia.

É mais conhecido por seus cinco livros do Coelho, descrições da vida de um homem — Harry “Coelho” Angstrom — por meio dos altos e baixos de sua existência ao longo de quatro décadas de história social e política dos EUA. Coelho Corre (1960) é um reflexo dos anos 1950, apresentando Angstrom como um jovem marido descontente e sem rumo. Coelho em Crise (1971) — destacando a contracultura dos anos 1960 — encontra Angstrom ainda sem objetivos e propósitos definidos ou sem uma alternativa viável para escapar do banal. Em O Coelho Está Rico (1981), Harry torna-se um empresário próspero na década de 1970, enquanto a era do Vietnã começava a sair de cena. O romance final, Coelho Cai (1990), vislumbra a reconciliação de Angstrom com a vida antes de morrer vítima de um ataque cardíaco, tendo como pano de fundo os anos 1980.

Updike é atualmente o escritor de estilo mais brilhante entre todos os outros, e seus contos oferecem exemplos cintilantes de sua abrangência e inventividade.

Norman Mailer (1923-2007)

Norman Mailer se transformou no romancista de maior visibilidade dos anos 1960 e 1970. Co-fundador do The Village Voice, jornal semanal antiestablishment da cidade de Nova York, Mailer promoveu ao mesmo tempo a si mesmo e suas opiniões políticas. Em sua ânsia por experiência, estilo vigoroso e persona pública surpreendente, Mailer segue a tradição de Ernest Hemingway. Para conseguir uma posição estratégica na cobertura do assassinato do presidente John F. Kennedy, dos protestos contra a Guerra do Vietnã, da libertação negra e do movimento de mulheres, encarnou diferentes personas, apresentando-se como alguém por dentro da moda, existencialista e o macho por excelência (em seu livro Política Sexual, Kate Millett identificou Mailer como machista arquetípico). O irreprimível Mailer não só casou seis vezes como se candidatou a prefeito de Nova York.

A partir de exercícios ao estilo do Novo Jornalismo como Miami e o Cerco de Chicago (1968), análise das convenções presidenciais americanas de 1968, e o instigante estudo sobre a execução de um criminoso condenado, A Canção do Carrasco (1979), Mailer passou a escrever romances ambiciosos, embora cheios de falhas, como Noites Antigas (1983), ambientado no antigo Egito, e o Fantasma da Prostituta (1991), que gira em torno da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA).

Toni Morrison (1931- )

A romancista afro-americana Toni Morrison nasceu no estado de Ohio em uma família de formação espiritual. Estudou na Universidade de Howard em Washington, D.C., onde tem trabalhado como editora sênior de uma grande editora e professora ilustre em várias universidades.

A ficção altamente elaborada de Toni Morrison ganhou reconhecimento internacional. Em romances fascinantes e cheios de vigor, ela trata da complexidade da identidade negra de forma universal. Em sua obra inicial, O Olho Mais Azul (1970), uma jovem negra de personalidade forte conta a história de Pecola Breedlove, que é levada à loucura por um pai agressor. Pecola acredita que seus olhos escuros tornaram-se azuis por um passe de mágica e que eles a farão uma pessoa adorável. Morrison tem afirmado que criou seu próprio sentido de identidade como escritora por meio desse romance: “Eu era a Pecola, a Claudia, todo mundo.”

Sula (1973) descreve a forte amizade entre duas mulheres. Morrison pinta as mulheres afro-americanas como personagens únicos, totalmente individualizados, não estereotipados. Seu romance A Canção de Solomon (1977) ganhou vários prêmios. O livro segue a trajetória de um negro, Milkman Dead, e suas complexas relações com a família e a comunidade. Amada (1987) é a perturbadora história de uma mulher que prefere assassinar seus filhos a deixá-los viver como escravos. Nesse romance emprega técnicas oníricas do realismo mágico ao descrever a misteriosa figura de Amada, que volta a viver com a mãe que havia cortado sua garganta. Jazz (1992), ambientado no Harlem dos anos 1920, é uma história de amor e assassinato. Em 1993, Morrison ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.

Literatura contemporânea

No final do século 20 e início do século 21, a mobilidade social e geográfica das massas, a internet, a imigração e a globalização apenas enfatizaram a voz subjetiva em um contexto de fragmentação cultural. Alguns escritores contemporâneos refletem uma inclinação em direção a vozes mais calmas e acessíveis. Para muitos autores de prosa, a região, em vez da nação, é a geografia que importa.

Louise Glück (1943- )

Uma das mais impressionantes poetas contemporâneas é Louise Glück. Nascida na cidade de Nova York, Glück, poeta americana premiada em 2003 e 2004, cresceu com permanente sentimento de culpa devido à morte de uma irmã nascida antes dela. Na Faculdade Sarah Lawrence e na Universidade de Colúmbia, estudou com os poetas Leonie Adams e Stanley Kunitz. Grande parte de sua poesia fala de perdas trágicas. Cada livro de Glück é um experimento de novas técnicas, tornando difícil uma síntese de sua obra.

Em seu memorável A Íris Selvagem (1992), diferentes tipos de flores pronunciam pequenos monólogos metafísicos. O poema que dá título ao livro, uma exploração da ressurreição, poderia ser uma epígrafe para o conjunto de sua obra. A íris selvagem, uma flor linda de cor azul profundo que ao brotar de um botão que ficou adormecido durante todo o inverno, diz: “É terrível sobreviver / como consciência / enterrada na terra escura.”

Do centro da minha vida brotou
uma grande fonte, sombras de cor
azul profundo sobre o azul-celeste da água do mar
.

Billy Collins (1941- )

A poesia de Billy Collins é original e estimulante. Collins usa a linguagem corrente para registrar milhares de detalhes da vida diária, combinando livremente os eventos do cotidiano (comer, realizar tarefas, escrever) com referências culturais. Seu humor e originalidade fizeram com que ele atraísse o grande público. Embora alguns tenham acusado Collins de ser acessível demais, seus imprevisíveis vôos de imaginação mergulham no mistério.

A obra de Collins é uma forma domesticada de surrealismo. Seus melhores poemas catapultam de imediato a imaginação para uma série de situações cada vez mais surrealistas, propiciando no final uma aterrissagem emocional, uma disposição de ânimo na qual podemos nos apoiar. O pequeno poema “The Dead” [O Morto], tirado de Sailing Alone Around the Room: New and Selected Poems [Velejando Sozinho em Volta do Quarto: Novos Poemas Selecionados] (2001), dá uma idéia do vôo imaginativo e do suave aterrizar de Collins, como o de uma ave em busca de repouso.

Os mortos estão sempre a nos desdenhar, segundo dizem,
enquanto calçamos nossos sapatos ou preparamos um sanduiche,
eles nos olham com desdém de seus barcos de fundo de vidro, lá no céu
em seu lento remar pela eternidade
.

Annie Proulx (1935- )

A surpreendente escritora Annie Proulx cria histórias sobre os batalhadores habitantes do norte da Nova Inglaterra em Canções do Coração (1988). Seu melhor romance, Chegadas e Partidas (1993), é ambientado mais para o norte, em Newfoundland, Canadá. Proulx também passou anos no Oeste, e um de seus contos originou o filme “O Segredo de Brokeback Mountain”, em 2006.

Richard Ford (1944- )

Oriundo do Mississippi, Richard Ford começou a escrever no estilo faulkneriano, porém, é mais conhecido por seu romance sutil ambientado em Nova Jersey, O Cronista Esportivo (1986), e sua continuação, Independência (1995). Esse romance é sobre Frank Bascombe, um vagabundo sonhador, ambíguo, que perde todas as coisas que dão sentido à sua vida — um filho, seu sonho de escrever ficção, seu casamento, amantes, amigos e emprego. Bascombe é sensível e inteligente — suas escolhas, diz ele, são feitas “para desviar a dor do arrependimento terrível” — e seu vazio, junto com os anônimos shopping centers e novos empreendimentos imobiliários áridos, os quais ele continuamente percorre em silêncio para comprovar a visão de Ford de uma doença nacional.

Amy Tan (1952- )

O norte da Califórnia abriga uma rica tradição literária ásio-americana, cujos temas característicos incluem família e papéis dos gêneros, conflito entre gerações e busca de identidade. Uma escritora ásio-americana da Califórnia é a romancista Amy Tan, cujo best-seller Clube da Felicidade e da Sorte tornou-se filme de sucesso em 1993. Seus capítulos interligados como contos delineiam os diferentes destinos de quatro pares de mãe e filha. Entre os romances de Amy Tan que abarcam a China histórica e os Estados Unidos da atualidade, encontram-se Os Cem Sentidos Secretos (1995), sobre meias-irmãs, e A Filha do Restaurador de Ossos (2001), sobre os cuidados de uma filha com sua mãe.

Sherman Alexie (1966- )

Sherman Alexie, índio criado na reserva de Spokane, da tribo Coeur d’Alene, é o mais jovem romancista indígena a alcançar fama nacional. Alexie faz relatos humorísticos e pouco românticos da vida dos índios abordando misturas incoerentes de tradição e cultura popular. Fazem parte de seus ciclos de contos Reservation Blues [O Blues da Reserva] (1995) e The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven [A Luta de Zorro e Tonto no Céu] (1993), que inspirou o ótimo filme sobre a vida nas reservas Sinais de Fumaça (1998), com roteiro do próprio Alexie. A coletânea recente de contos de Alexei é The Toughest Indian in the World [O Índio Mais Forte do Mundo] (2000).

Fonte:
http://embaixadaamericana.org.br/HTML/literatureinbrief/chapter03.htm

Alcides Werk (Caldeirão Poético do Amazonas)



DAS FRONTEIRAS

Na cidade onde eu vivo de [lembranças
existem muitas pessoas
que só conhecem a rua principal
e a grande praça da igreja,
onde há passeios laterais, flores e [um obelisco.
Tecem suas vidas numa rotina agradável
que lhes assegura a paz
que transmitirão aos seus descendentes
como uma herança legítima da palavra de Deus.

(Creio que é um costume de muitas gerações,
pois todos possuem verdades profundas e inabaláveis).

Nas minhas tardes vazias,
enquanto o céu não me espera
por total falta de méritos,
atravesso essas fronteiras
à procura de outras vidas,
e quando retorno à casa
trago a alma pesada de canções amargas.

Mas se ergo a voz uma vez,
e canto um canto rebelde
num gesto forte de amor,
todos me julgam um hostil estrangeiro.

Quando se esgotar o meu tempo de luta,
construírei minha morada entre árvores sadias e simples,
e assistirei em silêncio
força do tempo destruindo as fronteiras.
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DA NOITE DO RIO

Nesta noite sem medida
eu todo banhado em sombras
fugi de casa, fugi
para o branco desta praia,
como se a aurora que busco
neste rio se afogou.

Preciso acordar o rio
que está cansado de viagens
para ver se me alivio
da morte que trago em mim
com falas de cobras-grandes
e de mortos pescadores
que fazem parte do rio
e estão assim como estou.

No céu repleto de nuvens
há nuvens cheias de chuva:
por que não chove? Quisera
molhar-me dentro da noite,
tremer de fome e de frio
por remissão dos meus males
deixar meu corpo vazio
guardando o castelo inútil
e partir buscando a aurora
para que venha depressa
banhar as águas do rio
e minha face marcada
dos ventos com que lutei.
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ESTUDOS

VI

O amargo deste sal que me alimenta
agora, eu mesmo o consegui catando
abismos nesse mar desconhecido
que o tempo me mostrou depois de mim.

Este sabor estranho de distância
que vivo a cada hora e que me envolve,
vem da vida que vi nessa voragem.
Sei, agora, que após a ronda inútil

por além dos limites do meu nada,
voltamos mais vazios, eu e o barco
que construí para guardar tesouros.

No regresso noturno, cumpro o gesto
de buscar o local, em cada porto
onde possa esconder um sonho morto.
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DA OPÇÃO

Um belo mundo
de muitos lagos
de muitos rios.

Um belo mundo
de muitas matas
de muitas vidas
elementares.

Um belo mundo
de muitas lendas
de muitas mortes
antecipadas.

Velhas estórias
de água e florestas.

O homem e a terra.

A terra cansando
dos anos compridos
de extrativismo
na selva
no rio
na rua
na mente.

O homem cansado
de andar pelo tempo
sozinho sozinho
no meio da mata
na beira do rio
à margem da vida.
Velhas estórias
de água e florestas.

O homem e a terra.

­- Eu canto para o homem.
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DAS ÁGUAS GRANDES

o barco passando e a onda molhando
o menino molhado, na porta da frente.
O homem doente
deitado na rede
com os olhos cansados de espanto e de mágoa
de ver tanta água
de ver tanta água
bebendo do sangue, roendo as raízes
de tudo o que fez.
Na estreita maromba,
os bichos chorando de fome e de frio,
com medo do rio
com medo do rio que cresce outra vez.

(Quando eu for Presidente,
de amplos e amorosíssimos poderes,
decretarei,
sem visto do congresso,
nem processo,
canonizando santos nacionais
os mártires da enchente.
Convocarei um exército de anjos
para domar o rio e o desvario
dos prováveis dilúvios anuais.

Mesmo assim, por razões de previdência,
visto que temos mártires demais
e precisamos de gente,
levarei meus irmãos pra terra firme,
onde casa não pode ser navio,
nem se esteja sujeito
às caprichosas emoções do rio.)

o barco passando, e meus olhos sofrendo
da mesma miséria da mesma miséria
que vêem.

E, de repente,
me vem uma vontade provisória
de encher os bolsos de demagogia,
entrar em cada casa com uma estória,
qualquer que seja - que não seja séria,
falar de tudo - menos de miséria,
prometer coisas que não cumprirei,
como se faz em tempo de eleições,
para que sejam menos infelizes
(enquanto o rio esconde as roças podres),
mastigando ilusões.
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O OURO DO RIO AMANA

Tuas doces águas, Amana,
de repente se toldaram.

Chegaram dragas, pontões,
canoas, motores, balsas
abarrotadas de homens
falando gírias estranhas,
escafandros, pás, bateias,
mecanismos de sucção
a revolver-te as entranhas,
e o teu relevo de margens:
foi decifrado o segredo
do teu rico aluvião.

As cobiças pessoais
precisam catar o ouro
para urgências nacionais.

Cadê teus patos selvagens,
teus amenos inambus,
tangurupará voltando
(segundo registra a lenda)
de lutas com o japiim,
o som rouco das ciganas
a voz dos uirapurus,
o alarido dos guaribas,
os bandos de caititus,
os socós-boi meditando,
jacarés-pedra espiando,
tracajás quase dormindo
na beira, esquentando o sol?

Cadê tuas ariranhas,
tuas antas e capivaras,
teus tambaquis, tuas piranhas
pretas, teus pirarucus,
teus surubins, teus pacus,
araris e pirararas?

Vai, leva ao Parauari
(que também foi descoberto)
teu choro amargo de virgem
possuída sem amor.

Conta que há alto-falantes
espantando os papagaios;
que em cada motor-de-linha
chegam novos garimpeiros;
que as vilas vão-se formando
nas margens, e em cada tenda
há muitas coisas a venda
e mulheres de aluguel
(brancas, louras, que adoecem
por rejeição natural);
que há muito cabra-da-peste
e cenas de faroeste,
cachaça, carne-de-lata,
cigarro, pilha, sardinha,
leite-moça, mosquiteiro,
lanterna, charque do Sul.

Entrega teu ouro, Amana,
quanto mais cedo melhor.
Quero que sejas tão pobre
que nem se lembrem que existes.

Depois do caso passado,
mesmo sabendo que és triste,
quero fazer um roçado,
levantar um tapiri,
deixar o mundo de lado
e morar perto de ti.
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SONETO ABERTO SOBRE A MORTE

Hoje é dia de festa nesta casa:
festa dos círios e das lamparinas.
Um corpo magro sobre a mesa, e a porta
de esteira aberta para os companheiros.

Beatas, terço, cafezinho, estórias,
o choro inútil da mulher sozinha,
a promessa do céu dos escolhidos
e uma herança de palha e de abandono.

Brasileiro, do norte, agricultor.
Semeou, semeou a vida inteira,
fez o campo florir por tantas vezes,

alimentou mil pássaros vadios,
foi sempre bom, mas nunca teve sorte,
e se vestiu de trapos para a morte.
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O LAGO DAS 7 ILHAS

No Lago das 7 ilhas
há 7 ilhas plantadas
e um mundo verde ao redor.

Em cada ilha uma casa
em cada casa uma virgem
em cada virgem um amor.

No Lago das 7 ilhas
há peixes e tartarugas
e o boto namorador.

Da lama humosa do lago
brotam mil vitórias-régias
- em cada uma uma flor.

No Lago das 7 ilhas,
que guarda o dom encantado
de ser filho do Equador,

há 7 moças bonitas
que vivem nas palafitas
sonhando com seu senhor.

No Lago das 7 ilhas,
somando todas as filhas
do caboclo pescador,

há 7 cunhãs pejadas
de tanto amar a paisagem
e o boto conquistador.
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DO TEMPO ENTRE DUAS ÁGUAS

A mãe-do-rio virá com suas águas poderosas,
e inundará a várzea,
e cobrirá os jutais e os tapiris,
e invadirá os domínios da mata.

Minha gente conhecerá, ainda uma vez,
o espanto da enchente
e a ilusão dos jutais e das lamas humosas,
e se refugiará nas marombas
com seus animais
e as sementes de novas esperanças.

Os peixes se multiplicarão nos igapós,
e o rio doará à varzea a fertilidade das águas.

As florestas indomadas guardarão, ainda,
as riquezas da terra firme
e o segredo milenar das nossas jazidas.

Então,
convocaremos a força benéfica
que desobstruirá os canais dos nossos sonhos,
e iluminará os nossos corações;

e nos ensinará os caminhos da urbe,
com suas indústrias e seu comércio,
em que não seremos um amontoado de seres revoltados;

e nos ensinará os caminhos da várzea,
em que cultivaremos os nossos alimentos,
sem sermos consumidos pelas águas;

e nos ensinará os caminhos da terra firme,
em que apaziguaremos as florestas e o subsolo,
sem enveredarmos por transamazônicas impossíveis.

E o espírito da cidade será um bom companheiro,
e não nos punirá a cada dia
por nossas vidas;

e a mãe-do-rio permanecerá fértil e generosa,
e apascentará os cardumes
que alimentarão nossos filhos;

e o senhor da mata
porá nos nossos lábios a palavra certa
para o diálogo com as árvores e com a terra.

E terá chegado a hora
em que perpetuaremos o gesto simples
do amanho e da partilha justa,
entre nós mesmos,
dos nossos bens.
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Fontes:
– TELLES, Tenório e KRÜGER, Marcos Frederico (organizadores). Trilha dágua: Poesia e poetas do Amazonas. Manaus: Valer, 2006.
http://www.antoniomiranda.com.br/
http://www.jornaldepoesia.jor.br/
Fotomontagem = José Feldman