terça-feira, 27 de maio de 2008

Prosper Mérimée (1803 - 1870)

Prosper Merimée, (Paris, 28 de setembro de 1803 - Cannes, 23 de setembro de 1870) historiador, arqueólogo e escritor romântico francês, célebre pelo conto Carmen.

Biografia

Era filho único de Leonor Merimée e Anne-Louise Merimée na Paris de Napoleão. Seu pai era pintor e professor de desenho, o que influenciou o filho a primeiro estudar no Liceu Imperial. Deixou o Liceu para fazer Direito, formando-se em 1823.

Também aprendeu grego, espanhol, inglês, e russo. Foi o primeiro a traduzir obras literárias russas para o francês.

Ocupou diversos cargos públicos, em todos eles destacando-se pelo bom desempenho de seus deveres. Foi nomeado (1830) Inspetor dos Monumentos Históricos, revelando-se um arqueólogo nato, combinando suas habilidades lingüísticas, uma notável avaliação histórica e sincero devotamento às artes, desenho e arquitetura. Neste mister, seus relatórios vieram muitas vezes a merecer publicação, e destaque em sua produção, ao largo da literária. A ele se deve, em boa parte, a conservação do rico legado cultural, do qual tanto se orgulha o povo francês.

Neste mesmo ano conheceu e auxiliou a Condessa de Montijo, espanhola. Quando a filha dela tornou-se a Imperatriz Eugénie, da França, em 1853, Mérimée foi honrado com o cargo de senador.

Prosper Mérimée morreu em Cannes, França e ali foi sepultado no Cimetière du Grand Jas.

Romantismo e História

Mérimée gostava do misticismo, da história e das coisas incomuns. Influenciado diretamente pela ficção histórica de Walter Scott e pelo drama psicológico e cruel de Pushkin, seu estilo porém era conciso, bastante objetivo - apesar de marcadamente dramático. Muitas de suas obras fictícias retratam lugares de forma bastante exótica - dedicando-se particularmente à Espanha e à Rússia.

Estreou como literato em 1825, com "O Teatro de Clara Gazul" - atribuindo satiricamente a autoria do texto a esta célebre "comediante espanhola". Antes, porém, havia escrito a peça "Cromwell" (1822) que nunca foi publicado e nenhuma cópia existe. Mérimée sentiu suas semelhanças óbvias com a política francesa contemporâneas e destruiu o manuscrito.

Obras

Além dos dois escritos citados, temos:

La Guzla (1827) - outra sátira, com vários textos de temas místicos, que teriam sido traduzidos do Ilírico original por um certo Hyacinthe Maglanowich (a Ilíria é um antigo país onde hoje é a região ocidental da Turquia).
La Jacquerie (1828) - drama sobre uma insurreição camponesa nos tempos feudais.
massacre de S. Bartolomeu, em 1572.
Mateo Falcone (1829) - conto sobre a ilha da Córsega, tendo o personagem título matado o próprio filho em nome da justiça, e publicado em seguida, numa coletânea. Este conto gerou uma ópera homônima, do compositor russo César Cui (vide excerto abaixo).
Mosaïque (1833) - Reunião de contos, dentre os quais Mateo Falcone, Tamango, Federigo, Baladas, O Vaso Etrusco, etc.. Além destes, três cartas espanholas. A maioria dos contos já havia sido publicada na "Revista de Paris", entre 1829 e 1830.
La d'Ille de Vénus (1837) - conto de horror fantástico onde uma estátua de bronze ganha vida.
Notas de Viagens (1835-40) - em que descreve suas viagens pela Grécia, Espanha, Turquia, e na própria França.
Colomba (1840) - esta foi sua primeira novela de sucesso. Conta a história de uma jovem moça corsa que obriga seu irmão a cometer um assassinato para se vingar.
Carmen (1845) - A mais famosa de suas novelas, narra a história de uma bela cigana infiel que é morta pelo amante, um oficial espanhol. Em 1875, foi transformada em ópera, por Georges Bizet (cartaz da época, ao lado), além de vários filmes.
Lokis (1869) - ambientado no Leste Europeu, é uma história de terror onde um homem, metade urso e metade gente, gostava de se alimentar de carne humana.
A Câmara Azul (1872) - uma farsa com todos os caracteres de conto sobrenatural, mas onde ao final tudo volta a ser como era antes...
Lettres à une inconnue (1874) - reunião de cartas de Mérimée para Jenny Dacquin, publicadas depois de sua morte.

Mateo Falcone - Excertos e resumo

Para ilustrar o estilo deste escritor, as passagens da novela Mateo Falcone:

Na Córsega, diz o autor, um lugar em especial serve de refúgio para os criminosos:

Se matastes um homem, ide para o mato de Porto-Vecchio, e ali vivereis em segurança, com um bom fuzil, pólvora e balas; não esqueças duma capa escura com capuz, que fará as vezes de coberta e colchão. Os pastores vos darão leite, queijo e castanhas, e nada temereis da justiça ou dos parentes do morto, senão quando tiverdes de descer à cidade para renovar as munições.

(...)Mateo Falcone vivia sem precisar trabalhar, e este era seu perfil:

Imaginai um homem baixo, mas robusto, de cabelos crespos, negros como ébano, nariz aquilino, lábios delgados, olhos grandes e vivos, uma pele da cor de couro cru. Mesmo na sua terra, onde há tão bons atiradores, passava por extraordinariamente hábil no manejo da espingarda.

(...)granjeara Mateo Falcone enorme reputação. Diziam-no tão bom amigo quão perigoso inimigo; era aliás solícito, dado a fazer esmolas, e vivia em paz com todos no distrito de Porto-Vecchio.

(...)Mateo casara-se com Josefa que, após dar-lhe três filhas, finalmente tiver um herdeiro homem, a quem esperançoso em dar continuidade ao nome, batizara o pai de "Fortunato". Contava o menino com 10 anos de idade quando os pais se ausentam de casa, e pede-lhe abrigo um criminoso, Gianetto Sanpiero, ferido numa perseguição. O menino, a princípio, recusa-se, mas depois de receber um pagamento, aceita dar abrigo ao fugitivo. Quando os perseguidores chegam, dissimula.

Fortunato continuava com um riso zombeteiro.

_Meu pai é Mateo Falcone! - disse ele enfaticamente.

_Bem sabes, malandrinho, que posso levar-se pra a Corte ou para a Bastilha. Farei dormires num calabouço, em cima da palha, com ferros nos pés e mandarei guilhotinar-te se não disseres onde está Gianetto Sanpiero.

A essa ridícula ameaça o menino soltou uma gargalhada, e repetiu:

_Meu pai é Mateo Falcone!

(...)O chefe dos soldados perseguidores, Teodoro Gamba, então resolve subornar o menino com um relógio de prata, o que este acaba aceitando, delatando o esconderijo do albergado. Após a captura, quando vão saindo, o casal está de volta para casa. Amedrontado com a vista de Mateo, Gamba logo se aproxima, contando-lhe o ocorrido, e o importante papel que tivera seu filho. Em casa, vendo o garoto com o suborno, leva-o para o mato...

O menino fez um desesperado esforço para se erguer e abraçar-se aos joelhos do pai; mas não teve tempo. Mateo fez fogo, e Fortunato caiu morto.

Sem olhar para o cadáver, Mateo retomou o caminho de casa, em busca de uma enxada para enterrar o filho. Mal dera alguns passos, encontrou Josefa, que corria alarmada com o tiro.

_Que fizeste?

_Justiça.

_Onde ele está?

_Lá embaixo, no barranco. Vou enterrá-lo. Morreu como cristão, mandarei rezar uma missa para ele. Dize ao meu genro Teodoro Bianchi que venha morar conosco.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

Prosper Mérimée (Carmen - ópera de Georges Bizet))

Carmen é uma ópera em quatro atos de Georges Bizet com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, baseada na novela homônima de Prosper Mérimée. Estreou em 1875, no Ópera-Comique de Paris.

Personagens

- Carmen (Uma cigana que usa seus talentos para a dança e o canto para enfeitiçar e seduzir vários homens)
- Don José (é um cabo do exército, é um homem honesto e descente, mas ao se envolver com Carmen, vira um fora-da-lei)
- Micaëla (Ela ama Don José, porisso tenta resgatar Don José da vida destrutiva que ele levará com Carmen)
- Escamillo (é um famoso toreador de Granada, mas foi "enfeitiçado" por Carmen)
- Frasquita (amiga de Carmen, a acompanha em todas as aventuras)
- Mercédès (também é amiga de Carmen, a acompanha em todas as aventuras)
- Remendado (namorado de Frasquita, ele é um contrabandista)
- Dancaïre (namorado de Mercédès, ele é servo de Remendado e também contrabandista)
- Moralès (um sargento)
- Zúñiga (Oficial comandante de Don José. Embora prenda Carmen por ter cometido um crime, ele, também, é enfeitiçado por ela)
- Lillas Pastia (dono duma taberna, onde todos os contradistas se encontram lá)
- O Guia (acompanhou Micaëla até onde estava Don José)

Sinopse

Ato I

O primeiro ato começa numa praça de Sevilha, onde se situa uma fábrica de tabaco e um quartel. O cabo Morales comenta com os soldados do corpo da guarda, os Dragões do Regimento de Alcalá, a passagem dos transeuntes pela praça. Então, entra em cena uma simples aldeã chamada Micaela, aproxima-se de Morales e pergunta timidamente pelo cabo Don José. Morales responde-lhe que este chegará com a rendição da guarda e convida-a a esperá-lo na companhia dos seus homens, mas Micaela decide retirar-se para regressar mais tarde. Ouvem-se nos bastidores os clarins que anunciam o render da guarda e aparecem em cena os soldados sob comando de Don José, seguidos por um grupo de crianças que os imita com admiração. À sua chegada ao quartel, Morales comenta em tom jocoso a visita da aldeã. Zúniga, um tenente recém-chegado à cidade, interroga, em seguida, Don José sobre a beleza e a duvidosa reputação das cigarreiras da fábrica da praça, mas o cabo manifesta o seu único interesse por Micaela, por quem está apaixonado. O sino da fábrica soa e anuncia o intervalo das cigarreiras, que entram em cena a fumar e a conversar animadamente com um grupo de homens que as espera. A última a aparecer é Carmen, uma bela cigana que seduz todos os homens que encontra à sua passagem. Seguidamente, Carmen canta uma habanera aos presentes, que manifestam a sua admiração por ela, à excepção do indiferente Don José, que é, precisamente, o objeto do seu desejo. Antes de regressar à fábrica, Carmen, em sinal de desafio, atira-lhe uma das suas flores. Depois deste episódio a parece Micaela, que regressa ao posto da guarda e entrega a Don José uma carta da sua mãe, em que lhe pede que se case com a aldeã. Depois de se relembrarem juntos das paisagens da sua infância, Micaela abandona a cena e Don José começa a ler a carta. Ocorre então um tumulto no interior da fábrica; um grupo de trabalhadoras comenta entre gritos que está a haver uma rixa entre as mulheres em que Carmen interveio, tendo ferido outra cigarreira no rosto, com uma navalha. Zuniga ordena a Don José e aos seus homens que prendam a agressora. O cabo sai da fábrica com Carmen e recebe a ordem do tenente de a levar para a prisão. Carmen e Don José ficam sozinhos na praça. A sedutora cigana convence o cabo de que a liberte, promete-lhe o seu amor a assegura-lhe que o esperará na taberna de Lillas Pastia. Don José, alvoroçado, decide libertá-la. Nesse momento volta Zuniga com a ordem de prisão. Don José e Carmen iniciam a caminhada, mas perante os presentes a cigana finge empurá-lo e foge.Don José é preso imediatamente por permitir a sua fuga.

Ato II

O 2º ato começa na taberna de Lillas Pastia, suposto ponto de encontro de contrabandistas.Já se passou um 1 mês.Carmen e as suas amigas,Frasquita e Mercedes,jantam com Zúñiga e outros oficias,que rapidamente se juntam às cantigas e danças dos ciganos.Apesar dos convites dos soldados ,Carmen recusa os seus pretendentes.Está à espera de Don José que depois de ter sido preso e mandado encarce rar por sua causa,recuperou a liberdade.A seguir,entre manifestações de júbilo,aparece em cena um famoso toureiro chamado Escamillo que,seduzido pela beleza da cigana,lhe declara o seu amor,abandonando depois a taberna com os oficiais. Em cena ficam Carmen,Mercedes e Frasquita sozinhas.Aparecem então os contrabandistas Dancaïre e Remendado,que propõem um negócio às três mulheres.Carmen recusa no início a proposta,mas por fim muda de opinião perante a possibilidade de que seu apaixonado deserte e participe na operação de contrabando. Finalmente,depois da saída dos contrabandistas,Don José chega a taberna e declara o seu amor a Carmen,que tenta convencê-lo de que se junte a ela e aceite o negócio.Don José,ofendido,nega-se,mas o aparecimento repentino de Zúñiga precipita os acontecimentos. O soldado e o tenente enfrentam-se pelo amor de Carmen.Don José,apoiado pelos contrabandistas,subleva-se ao seu superior,que fica sob custódia de alguns ciganos.Obrigado pelas circunstâncias,o soldado vê-se finalmente forçado a desertar e parte com a cigana.

Ato III

Num desfiladeiro,os contrabandistas fazem os preparativos para a entrega dos produtos do contrabando,sob a supervisão de Dancaire.É de noite.Carmen cansada do ciumento amor de Don José e,além disso,descontente com a sua nova vida,tenta adivinhar nas cartas o seu futuro na companhia de Frasquita e Mercedes.As cartas revelam um mal presságio para Carmen:A morte. Á saída dos contrabandistas e das mulheres,Don José permanece num penhasco, a vigiar o esconderijo dos seus novos amigos.Da escuridão surge então Micaëla,que com a ajuda de um guia chega ao esconderijo de seu amado Don José com a esperança de o convencer a voltar a casa de sua mãe.Porém um disparo interrompe os seus propósitos.Don José disparou contra um intruso,que sai ileso.É o famoso toreiro Escamillo,que,desconhecendo a identidade do seu interlocutor,lhe conta que está à procura de Carmen ,que está cansada do seu amante,um soldado que desertou por ela. Don José,cego de ciúme,desafia o toureiro para uma luta até à morte com navalhas,que é interrompida graças à volta dos contrabandistas.Depois de insultar o desertor e convidar os presentes para as corridas de touros de Servilha,Escamillo abandona a cena.A seguir,Dancaire descobre a presença de Micaëla ,que abandona o seu esconderijo e pede a Don José que a acompanhe porque sua mãe está a morrer.Ele aceita e sai com a aldeã,não sem prevenir Carmen,em tom ameaçador ,de que voltará para vir buscar.A cigana não dá aos seus avisos pensando no seu novo objeto de desejo.

Ato IV

Em Sevilha, frente à praça de touros, uma multidão espera a chegada dos toureiros. Os vendedores aproveitam a ocasião para oferecer os seus produtos ao público. Aparece então a quadrilha e atrás dela,Escamillo e Carmen. À entrada do toreiro na praça de touros,Mercedes e Frasquita avisam a cigana da presença de Don José, mas ela mostra não ter medo de se encontrar com o seu antigo amante. A seguir, Don José retém Carmen quando tenta entrar na praça,suplicando-lhe que volte com ele.Ela responde-lhe que o seu amor por ele acabou. Do interior da praça soam as vivas a Escamillo.O desertor tenta deter com violência a cigana,mas ela atira-lhe despeitadamente o anel que ele lhe tinha oferecido. Em fúria, Don José enfia uma faca na barriga de Carmen. A multidão que vai saindo da praça assiste à terrível cena. Don José, cheio de tristeza, cai de joelhos junto ao corpo de sua amada Carmen.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.antiqbook.com (imagem)

Prosper Mérimée (A partida de gamão)

As velas pendiam, imóveis, coladas aos mastros; o mar estava liso como gelo; o calor era sufocante, desesperadora a calmaria.

Numa viagem por mar, os recursos em matéria de divertimento, que os anfitriões do navio possam oferecer, bem depressa se esgotam. Conhecemo-nos bem demais, ai de nós! depois de passarmos juntos quatro meses numa casa de madeira com o comprimento de cento e vinte pés. Quando o primeiro-tenente se aproxima já sabemos que, em primeiro lugar, ele falará do Rio de Janeiro, de onde procede; depois da famosa ponte de Essling, construída pelos marinheiros da guarda, de que fazia parte. Ao cabo de quinze dias conhecemos até suas expressões prediletas, até a maneira como pontua as frases e as diferentes entonações de voz. Nunca, desde que pela primeira vez contou suas narrativas esta palavra o imperador... ele deixou de interromper-se com tristeza e invariavelmente acrescentar: “Se o senhor o tivesse visto naquela ocasião!!! (três pontos de exclamação). E o episódio do cavalo do clarim e da bala de artilharia que ricocheteara, levando-lhe uma cartucheira onde tinha sete mil e quinhentos francos em ouro e jóias, etc., etc.! O segundo tenente gosta muito de política; comenta todos os dias o último numero do Constitutionnel, que trouxe de Brest; ou, se deixa as alturas da política para descer a literatura, é para regalar-nos com a análise da última comédia musicada que assistiu.

Os oficiais a bordo do navio em que eu embarcara eram as melhores pessoas do mundo, ótimos sujeitos, que se estimavam uns aos outros como irmãos, mas podia-se apostar qual seria o mais enfadonho. O capitão era o mais pacato dos homens, nada intrigante (o que constitui uma raridade). Era sempre a contragosto que impunha a sua autoridade ditatorial. Com tudo isso, como a viagem me pareceu longa! Sobretudo aquela calmaria que nos surpreendeu apenas alguns dias antes de avistarmos a terra!...

Um dia depois do jantar, que a inação nos fizera prolongar o máximo possível, estávamos reunidos no convés, aguardando o espetáculo monótono, mas sempre majestoso, do pôr-do-sol nas águas. Alguns fumavam, outros reliam pela vigésima vez um dos trinta volumes de nossa minguada biblioteca: todos bocejavam a ponto de chorar. Um oficial sentado a meu lado divertia-se com a gravidade digna de uma ocupação mais séria, como deixar cair nas tábuas da coberta, a ponta voltada para baixo, o punhal que os oficiais de marinha costumam usar com o uniforme. Era um divertimento como outro qualquer, e exige habilidade para conseguir que a ponta se enterre perpendicularmente na madeira. Como desejasse imitar o oficial e não dispusesse de punhal, experimentei pedir emprestado o do capitão, que me recusou. Explicou-me que se apegara singularmente à sua arma, e não gostaria de vê-la utilizada em tão fútil entretenimento. Aquele punhal pertencera a um bravo oficial infortunadamente morto na ultima guerra. Adivinhei a aproximação de uma história e não me enganava. O capitão iniciou-a, sem se fazer de rogado; quanto aos oficiais que nos rodeavam, já conheciam de cor e salteado os infortúnios do tenente Roger, e imediatamente operaram uma retirada discreta. A narrativa do capitão é a seguinte, mais ou menos:

“Quando conheci Roger, mais velho do que eu três anos, ele era tenente; eu, guarda-marinha. Asseguro-lhe que era um dos melhores oficias do nosso corpo; aliás, um excelente coração, inteligência, cultura, dotes artísticos, tudo possuía ele: em sua, um homem encantador. Um pouco orgulhoso e suscetível, infelizmente, o que derivava, suponho, do fato de ser filho natural; temia que seu nascimento lhe fizesse perder a consideração social. Porém, para dizer a verdade, o maior de seus defeitos era o desejo intenso e persistente de ser o primeiro em tudo. Seu pai, a quem nunca vira, dava-lhe uma pensão que teria sido mais do que suficiente para as suas necessidades se Roger não encarnasse a própria generosidade. Tudo que possuía pertencia aos amigos. Mal acabava de receber o seu trimestre, era bastante que alguém o procurasse com o rosto sério e preocupado, para indagar:

- Que é isso, colega, que tens? Pelo teu aspecto, teus bolsos não farão barulho se os sacudirmos; vamos, aqui está a minha carteira, tira o que precisares e vem jantar comigo.

“Chegou a Brest uma jovem atriz muito bonita, chamada Gabriela, e não tardou a conquistar marinheiros e oficiais da guarnição. Não se poderia dizer que fosse uma beleza clássica, mas tinha estatura, belos olhos, pés pequenos, expressão passavelmente descarada; tudo isso nos agrada muito quando estamos na altura dos 25 anos. Ainda por cima, diziam-na a mais caprichosa das criaturas do seu sexo, e a sua maneira de representar não desmentia tal reputação. Ora desempenhava maravilhosamente bem o seu papel, dir-se-ia uma atriz de primeira ordem; no dia seguinte, na mesma peça, mostrava-se fria, insensível; recitava a sua parte como uma criança recita o catecismo. Um caso, que lhe atribuíam, sobretudo, interessou os jovens oficias. Ao que parece fora, em Paris, mantida com muito luxo por um senador que fazia, como dizem, loucuras por causa dela. Um dia, estando ele em casa de Gabriela, pôs o chapéu na cabeça; ela lhe pediu que o tirasse, e chegou a queixar-se de que aquilo era falta de respeito. O senador pôs-se a rir, ergueu os ombros e disse, afundando-se numa poltrona: “Então não posso ficar à vontade na casa de uma rapariga paga por mim!” Uma bofetada de carregador, aplicada pela mão branca de Gabriela, foi o que sua resposta mereceu na hora, fazendo com que o chapéu do cavalheiro fosse parar no outro canto do quarto.

“Depois de vê-la e de inteirar-se dessa história, Roger achou que ela lhe convinha, e com a franqueza um pouco rude que censuram em nós, marinheiros, procedeu da seguinte forma para demonstrar a Gabriela que seus encantos o tinham impressionado. Comprou as mais belas e raras flores que conseguiu encontrar em Brest, fez um ramo que amarrou com uma bonita fita cor-de-rosa, e no laço prendeu de maneira artística um rolo de 25 napoleões; era tudo que possuía no momento. Lembro-me de que o acompanhei aos bastidores durante um intervalo. Dirigiu a Gabriela um cumprimento muito curto sobre a graça como usava suas roupas, ofereceu-lhe o ramo de flores e pediu licença para visitá-la. Tudo isso expresso em três palavras.
Enquanto Gabriela só viu as flores e o belo rapaz que as oferecia, sorriu-lhe, acompanhando o sorriso com uma reverência das mais graciosas; porém, quando o buquê passou as suas mãos ela sentiu o peso do ouro e sua fisionomia mudou mais rapidamente do que a superfície do mar tumultuado por um furacão dos trópicos; e, de certo modo, não se mostrou menos violenta, pois lançou com todas as suas forças o ramo de flores e os napoleões à cabeça do meu amigo, cujo rosto ficou marcado por oito dias. A campainha do regente soou, Gabriela voltou a cena e representou pessimamente.

Tendo apanhado o buquê e o rolo de dinheiro com um jeito muito vexado, Roger foi para o café e ofereceu o ramalhete (sem o dinheiro) à moça do balcão, e experimentou, bebendo ponche, esquecer a cruel dama. Não conseguiu; apesar do despeito nascido do fato de não poder mostrar-se com o olho contundido, apaixonou-se loucamente pela irascível Gabriela. Escrevia-lhe vinte cartas por dia, e que cartas! submissas, ternas, respeitosas, tais como se fossem endereçadas a uma princesa. As primeiras foram devolvidas sem terem sido abertas; as outras não obtiveram resposta. E Roger alimentava alguma esperança, quando descobrimos que a vendedoras de laranjas do teatro enrolava suas laranjas nas cartas de amor de Roger que, por um requinte de crueldade, Gabriela lhe entregava. Foi um golpe terrível para a altivez do nosso amigo. Contudo, nem por isso a sua paixão definhou. Falava em pedir a atriz em casamento e, como lhe diziam que o Ministro da Marinha nunca daria o necessário consentimento, protestava, afirmando que nesse caso estouraria os miolos.

Entrementes, aconteceu que os oficiais de um regimento de linha, aquartelado em Brest, quiseram obrigar Gabriela a repetir uma copla de vaudeville e, por capricho, ela se recusou. Ambos teimaram, os oficiais e a atriz, a ponto de os primeiros fazerem baixar o pano com seus assobios e a segunda desmaiar. O senhor sabe o que é a platéia de uma cidade de aquartelamento. Ficou combinado entre os oficiais que no dia seguinte e nos subseqüentes, a culpada seria vaiada sem remissão, não lhe sendo permitido representar um único papel, sem que antes de desculpasse. Roger não assistira ao espetáculo; porém na mesma noite inteirara-se do escândalo que pusera o teatro em rebordosa, e também dos projetos de vingança tramados para o dia seguinte. Não perdeu tempo em tomar uma decisão.

No dia imediato, quando Gabriela apareceu no palco, vaias e assobios de romper os tímpanos partiram do bando de oficiais. Roger, que se colocara propositadamente entre os desordeiros, levantou-se e interpelou os mais turbulentos em termos tão ofensivos que a fúria desses imediatamente se voltou para a sua pessoa. Então, com grande sangue-frio, puxou um caderninho do bolso e nele escreveu os nomes que lhe eram atirados de todos os lados; teria marcado duelo com o regimento inteiro se, por espírito de solidariedade, não surgisse uma boa quantidade de oficiais da marinha, que provocaram a maioria dos adversários de Roger. Foi realmente um pandemônio.

A guarnição inteira foi detida por vários dias; porém, ao serem os oficiais postos em liberdade, houve um tremendo ajuste de contas. Cerca de sessenta deles se encontraram no campo de honra. Roger, sozinho, bateu-se contra três; matou um e feriu gravemente outros dois, sem receber nenhum arranhão. Fui menos feliz: um maldito tenente, que fora mestre de esgrima, deu-me uma profunda estocada no peito, e esta quase me matou. Asseguro-lhe que foi um belo espetáculo aquele duelo, ou melhor, aquela batalha. A marinha obteve todas as vantagens e o regimento foi obrigado a deixar Brest.

Bem imagina que nossos oficiais superiores não esqueceram o responsável pelo tumulto. Durante 15 dias esteve de sentinela à porta.

Quando saí do hospital a sua penalidade já tinha sido suspensa, e resolvi visitá-lo. Qual não foi minha surpresa, ao entrar, defrontando com ambos, ele e Gabriela, que almoçavam juntos!
Davam a impressão de estar há muito tempo em ótimas relações. Já se tuteavam e bebiam no mesmo copo. Roger apresentou-me à amante como sendo seu melhor amigo e contou-lhe que eu fora ferido na escaramuça de que ela constituíra a única causa. Isso me valeu um beijo da bela criatura. Tinha inclinações bastante marciais.

Viveram juntos três meses inteiramente felizes, não se largando um só momento. Gabriela parecia amá-lo com paixão e Roger confessava que antes de conhecê-la não sabia o que era o amor.

Uma fragata holandesa fundeou no porto. Os oficiais ofereceram-nos um jantar. Bebemos copiosamente toda espécie de vinhos; e, retirada a toalha, não sabendo mais o que fazer, pois aqueles senhores falavam muito mal o francês, começamos a jogar. Os holandeses pareciam muito endinheirados; sobretudo o primeiro-tenente fazia questão de jogar tão caro que nenhum de nos o aceitava para parceiro. Roger, que não costumava jogar, achou que naquelas circunstancias seria necessário defender a honra da sua pátria. Jogou, pois, e acompanhou as paradas do tenente holandês. Primeiro ganhou, em seguida perdeu. Depois de algumas alternativas entre lucros e perdas, separaram-se sem prejuízo. Retribuímos o jantar dos holandeses. Tornamos a jogar. Roger e o tenente reiniciaram a luta. Em suma, durante dias, ambos se encontraram, fosse no café, fosse a bordo, e experimentaram jogos de todo o tipo, voltando ao gamão, e sempre aumentando as apostas, a ponto de jogarem partidas de 25 napoleões. Representava uma enorme quantia para oficiais como nós; mais de dois meses de soldo. Ao cabo de 1 semana Roger perdera todo o dinheiro que possuía, e mais três ou quatro mil francos que pedira emprestado aqui e ali.

Já terão desconfiado, sem dúvida, que Roger e Gabriela haviam acabado por fazer vida comum e bolsa comum: isto é, Roger, que não havia muito recebera uma quantia avultada, contribuía para as despesas do casal numa proporção 10 ou 20 vezes maior que a atriz. Porém, considerava o acervo como pertencendo principalmente à amante e só reservara cinqüenta napoleões para as suas despesas particulares. mas fora obrigado a recorrer àquela reserva para continuar a jogar. Gabriela não fizera a menor observação.

O dinheiro das despesas do casal tomou o caminho já seguido pelo dinheiro dos gastos particulares. Chegou o momento em que Roger se viu obrigado a arriscar seus últimos 25 napoleões. Aplicou-se tremendamente no jogo; e, assim sendo, a partida foi longa e disputada. Em dado momento, só restou a Roger, que empunhava o copo de dados, uma última oportunidade para ganhar: creio que lhe seriam precisos 6 e 4. A noite avançara. O holandês parecia fadigado e entorpecido; além disso, bebera muito ponche. Roger era o único que se conservava alerta e presa do mais violento desespero. Tremia ao lançar os dados. Atirou-os com tanta força que com a sacudidela uma vela caiu no chão. O holandês primeiro voltou a cabeça na direção da vela, que acabara de salpicar de cera a sua calça nova, e depois olhou para os dados: marcavam 6 e 4. Roger, pálido como a morte, recebeu os 25 napoleões. Continuaram a jogar. A sorte voltou-se para meu amigo que, contudo, cometia descuidos sobre descuidos, como se quisesse perder. O tenente holandês obstinou-se, dobrou, decuplou as paradas; continuava a perder. Creio vê-lo ainda: era louro, alto, fleumático, e seu rosto parecia de cera. Finalmente se levantou, depois de ter perdido 40 mil francos; pagou-os sem que sua fisionomia deixasse transparecer a mínima emoção.

Roger disse-lhe

- O nosso jogo desta noite fica sem efeito; o senhor estava dormindo, não quero seu dinheiro.
Respondeu-lhe o fleumático holandês:

- O senhor está gracejando: joguei muito bem, mas as cartas estavam contra mim. Tenho a certeza de que ainda ganharei, obrigando-o a restituir tudo quanto obteve hoje. Boa noite!

E retirou-se.

No dia seguinte soubemos que, desesperado com o prejuízo sofrido, depois de ter bebido uma tigela de ponche, ele estourara os miolos, no quarto.

Os 40 mil francos ganhos por Roger estavam espalhados sobre a mesa e Gabriela contemplava-os com um sorriso satisfeito:

- Estamos muito ricos. Que faremos com todo este dinheiro?

Roger nada respondeu; ficara como que estonteado depois da morte do holandês.

- Precisamos fazer uma porção de loucuras; - continuou Gabriela – dinheiro ganho tão facilmente, também deve ser gasto facilmente. Compremos uma caleça e façamos pouco do Prefeito Marítimo e sua mulher. Quero diamantes, casimira. Pede licença e vamos a Paris; aqui nunca conseguiremos gastar tanto dinheiro!

Deteve-se para observar Roger que, olhos cravados no soalho, cabeça apoiada à mão, não a ouvira, e parecia revolver na mente sinistros pensamentos.

- Que tens Roger? – indagou ela, apoiando a mão no ombro do rapaz. – Acho que estás amuado comigo; não consigo arrancar-te uma única palavra.

- Sinto-me muito infeliz – disse ele afinal, soltando um suspiro abafado.

- Infeliz! Deus me perdoe, estarias com remorsos por teres depenado aquele mynheer?

Ele ergueu a cabeça e fitou-a com olhos esgazeados.

- Que importa!... – prosseguiu ela – que importa que ele tenha levado a coisa ao trágico e estourasse os miolos? Não lamento os jogadores que perdem: e com toda certeza o dinheiro está bem melhor entre nossas mãos do que nas suas; ele o teria gasto bebendo e fumando enquanto que nós vamos fazer um milhão de extravagâncias, cada uma mais alinhada que a outra.
Roger passeava pelo quarto, a cabeça inclinada sobre o peito, os olhos rasos de lágrimas. Se o sr o visse, ter-se-ia apiedado dele.

Gabriela observou:

- Sabes que se não fosse conhecida tua sensibilidade, muita gente poderia acreditar que trapaceaste?

- E se fosse verdade? – indagou ele com voz surda.

- Ora! – respondeu ela, sorrindo – não és bastante inteligente para trapaceares no jogo.

- Sim, trapaceei; trapaceei como um canalha que sou.

Ela compreendeu que Roger falava a verdade, por causa da emoção com que se expressava. Sentou-se num canapé e permaneceu algum tempo em silêncio.

- Preferiria – disse finalmente – que a trapacear no jogo tivesses matado dez homens.

Houve um silêncio mortal, que durou meia hora. Estavam ambos sentados no sofá e não se olharam uma única vez. Roger foi o primeiro a levantar-se e deu boa noite à amante com voz bastante calma.

- Boa noite! – respondeu ela em tom seco e frio.

Roger disse-me mais tarde que se teria matado no mesmo dia, caso não receasse que seus companheiros adivinhassem a causa daquele suicídio. Não queria desonrar a própria memória.
No dia seguinte, Gabriela mostrou-se alegre como de costume; dir-se-ia que tivesse esquecido a confidência da véspera. Quanto a Roger, tornara-se sombrio, ríspido, mal saía do quarto, evitava os amigos e muitas vezes passava dias inteiros sem dirigir a palavra à amante. Eu atribuía sua tristeza a uma sensibilidade louvável, mas excessiva, e tentei por várias vezes consolá-lo; mas ele me desconcertava, afetando uma grande indiferença pelo seu infeliz parceiro. Certo dia, chegou mesmo a atacar violentamente a nação holandesa e sustentou que não havia na Holanda um único homem honesto. Entretanto, secretamente, se informava sobre a família do tenente holandês; mas ninguém conseguia dar-lhe qualquer notícia a respeito.

Seis semanas depois da infortunada partida de gamão, Roger encontrou em casa de Gabriela um bilhete escrito por um guarda-marinha no qual este parecia agradecer-lhe gentilezas recebidas. Gabriela era a própria desordem, e o bilhete em questão fora deixado sobre a lareira. Não sei se fora infiel, mas Roger acreditou-o, e teve um terrível acesso de cólera. Cobriu de injúrias a orgulhosa atriz; e, violento como era, não sei como não lhe bateu. Disse-lhe:

- Sem dúvida esse peralvilho te deu muito dinheiro? É a única coisa que amas e concederias teus favores ao mais sujo dos nossos marinheiros caso ele tivesse com que os pagar.

- Por que não? – respondeu a atriz. – Sim, eu permitiria que um marinho me pagasse, mas... não o roubaria.

Roger soltou um grito de raiva. Puxou o punhal, trêmulo e por um momento fitou Gabriela com olhos desvairados; depois, reunindo as suas forças, atirou a arma aos pés da moça e fugiu do apartamento para não ceder à tentação que o assaltara.

Era bem tarde, quando nessa mesma noite, passei pelo seu alojamento e, vendo a luz acesa, entrei para pedir-lhe um livro emprestado. Encontrei-o muito entretido em escrever. Não se moveu e mal pareceu perceber minha presença. Sentei-me junto à secretária e fitei-o: seus traços estavam de tal forma alterados que qualquer outra pessoa, a não ser eu, dificilmente o reconheceria. De repente, avistei sobre a escrivaninha uma carta já lacrada, e que me era dirigida. Apressei-me em abri-la. Roger comunicava-me que ia pôr fim aos seus dias, e delegava-me diversos encargos. Enquanto eu lia, ele continuava a escrever sem se preocupar comigo: era a Gabriela que dava adeus... Bem imagina qual foi a minha surpresa e tudo quanto devo ter-lhe dito, perturbado como me deixara a sua decisão.

- Será possível? Queres matar-te, tu que és tão feliz?

- Meu amigo – disse-me ele, lacrando a carta – de nada sabes. Não me conheces, sou um velhaco; sou tão desprezível que uma mulher da vida me insulta; e tão bem sinto minha baixeza que não me atrevo a bater-lhe.

Então me contou a história da partida de gamão, e o resto o senhor já sabe. Ouvindo-o, senti-me pelo menos tão emocionado quanto ele; não sabia o que lhe dizer; tinha lágrimas nos olhos, mas não conseguia falar. Enfim, ocorreu-me a idéia de fazer-lhe ver que não devia censurar-se por haver voluntariamente causado a ruína do holandês, a quem, afinal, com a sua... trapaça... só fizera perder 25 napoleões.

- Ora! – exclamou ele com amarga ironia – sou um pequeno ladrão, e não um grande. Eu que era tão ambicioso! Não passar de um pequeno velhaco!

E soltou uma gargalhada.

Desmanchei-me em lágrimas.

De repente, abriu-se a porta. Uma mulher entrou e precipitou-se nos seus braços: era Gabriela.

- Perdoa-me – disse-lhe, cingindo-o estreitamente – perdoa-me. Amo unicamente a ti, bem o sinto. Amo-te mais agora. Se quiseres, roubarei, já roubei... Sim, já roubei, roubei um relógio de ouro... Que poderia fazer de pior?

Roger meneou a cabeça com incredulidade; mas seu rosto como que se aclarou.

- Não, minha pobre menina – respondeu – é absolutamente necessário que me mate. Sofro demais, não posso suportar a dor que me punge.

- Bem, se queres morrer, morrerei contigo! Sem ti, que me importa a vida! Sou corajosa, já atirei com espingardas; matar-me-ei tão bem quanto outra qualquer. Além disso, já representei tragédias, estou acostumada.

Tinha lagrimas dos olhos ao falar, mas aquela última idéia fê-la sorrir, e o próprio Roger deixou escapar um sorriso.

- Estás rindo, meu oficial! – exclamou ela, batendo as mãos e beijando-o – não te matarás!

Continuava a beijá-lo, ora chorando, ora rindo-se, ora praguejando. Entretanto, apossara-se das pistolas e do punhal de Roger. Disse-lhe:

- Meu querido, tens uma amante que um amigo que te querem. Acredita-me, podes ainda desfrutar alguma felicidade neste mundo.

Saí, depois de abraçá-lo, e deixei-o com Gabriela.

Creio que só teríamos conseguido protelar seu funesto projeto, caso não tivesse recebido do Ministro ordens para partir, como primeiro-tenente, a bordo de uma fragata destinada a cruzar o oceano Índico, depois de ter passado através da esquadra inglesa que bloqueava o porto. Era uma expedição arriscada. Fiz compreender ao meu amigo que seria preferível morrer gloriosamente, vitimado por uma bala inglesa, a pôr fim aos seus dias com suas próprias mãos, sem nobreza e sem proveito para a pátria. Ele prometeu viver. Distribuiu a metade dos 40 mil francos pelos marinheiros estropiados ou pelas viúvas e filhos de marinheiros. Entregou o restante a Gabriela, que jurou que só os gastaria em boas obras. Pretendia cumprir a palavra,pobre moça! Mas seus impulsos eram de curta duração. Soube mais tarde que deu aos pobres alguns milhares de francos. Comprou trapos com o resto.

Vagamos lentamente rumo aos mares da Índia, embaraçados por ventos contrários e por manobras infelizes do nosso capitão, cuja imperícia multiplicava os perigos da empresa. Ora tocados por forças superiores, ora perseguindo navios mercantes, não passávamos um único dia sem uma nova aventura. Mas nem a vida arriscada que levávamos, nem as fadigas do serviço conseguiram distrair Roger dos tristes pensamentos que o perseguiam. Ele, que já fora considerado o oficial mais ativo e mais brilhante do nosso porto, agora de limitava apenas a cumprir sua obrigação. Logo após terminar o serviço, fechava-se no quarto, sem livros, sem papel; o infeliz passava horas inteiras deitado no catre, sem nem mesmo conseguir dormir.

Certo dia, observando-lhe o abatimento, achei acertado adverti-lo.

- Com os diabos! Meu caro, afliges-te por pouco. Escamoteaste 25 napoleões a um holandês obeso, bem! – sentes remorsos por um milhão. Ora, quando eras amante da esposa do prefeito de... não sentias remorsos? Entretanto, ela valia mais do que 25 napoleões.

Voltou-se ao colchão, sem me responder. Prossegui:

- Afinal, teu crime, já que insistes em dizer que é um crime, tinha um motivo honroso, e vinha de uma alma elevada.

Ele virou a cabeça e fitou-me com irritação.

- É verdade – continuei – pois se tivesses perdido, que aconteceria a Gabriela? Pobre moça, teria vendido a última camisa para ajudar-te. Se perdesses, ficarias na miséria... Foi por ela, foi por amor a ela que trapaceaste. Há pessoas que matam por amor... ou se matam... Tu, meu querido Roger, fizeste mais. Para um homem da nossa fibra, há mais coragem em... roubar, para falar claro, do que matar-se.

- Talvez – disse o capitão, interrompendo a narrativa – agora eu lhe pareça ridículo. Asseguro-lhe, porém, que a minha amizade por Roger conferia-me naquele momento uma eloqüência de que não disponho; e que, o diabo me leve, ao assim lhe falar, fazia-o de boa-fé e acreditava em tudo o que dizia. Ah! naquele tempo eu era jovem!

Roger permaneceu algum tempo calado; depois me estendeu a mão, e parecendo fazer um grande esforço para dominar a emoção, disse-me:

- Meu amigo, julgas-me melhor do que sou. Sou um ladrão, covarde. Quando trapaceei com aquele holandês, só pensava em ganhar 25 napoleões, mais nada. Não pensava em Gabriela e aí está por que me desprezo... Eu, avaliar minha honra em menos de 25 napoleões!... Que baixeza! Sim, seria feliz se pudesse dizer a mim mesmo: “Roubei para tirar Gabriela da miséria... Não!... Não pensava nela... naquele momento não me sentia apaixonado... Era um jogador... era um ladrão... Roubei dinheiro para ficar com ele... e de tal maneira essa ação me embruteceu, me aviltou, que agora não sinto mais coragem nem amor... vivo e não penso mais em Gabriela... sou um homem acabado.

Parecia-me tão infeliz que se me tivesse pedido minhas pistolas para matar-se, creio que as teria entregue.

Uma determinada sexta-feira, dia de mau augúrio, divisamos uma grande fragata inglesa, Alceste, que começou a perseguir-nos. Possuía 58 canhões e nós só 38. Demos todo o pano para fugir; mas tinha maior velocidade e aproximava-se de momento a momento. Era evidente que antes da noite seríamos obrigados a entrar numa luta desigual. Nosso capitão chamou Roger ao seu camarote, onde ficaram deliberando um bom quarto de hora. Roger tornou a subir à coberta, tomou-me pelo braço e levou-me à parte. Então me disse:

- Daqui a 2 horas, o caso estará resolvido. Esse pobre homem que se agita no castelo de popa, perdeu a cabeça. Só tinha dois partidos a tomar: o primeiro, mais honroso, seria deixar o inimigo aproximar-se, depois abordá-lo energicamente, lançando a bordo uma centena de rapazes resolutos; o outro partido, que não seria mau, apenas um tanto covarde, seria aliviar-nos, atirando ao mar uma parte dos nossos canhões. Então poderíamos contornar de muito perto as costas da África, que divisamos ao longe, a bombordo. O inglês, receoso de encalhar, seria obrigado a permitir que fugíssemos. Nosso... capitão, porém, não é nem covarde, nem herói; vai deixar que sejamos destruídos de longe, a tiros de canhão e, depois de algumas horas de combate, sem dúvida baixará honrosamente o pavilhão. Tanto pior para ti; esperam-te os pontões de Portsmouth. Quanto a mim, não pretendo vê-los.

- Talvez nossos primeiros tiros de canhão, acertando no alvo, causem ao inimigo avarias sérias para obrigá-lo a interromper a caça.

- Escuta, não quero ser feito prisioneiro, prefiro que me matem, estou em tempo de acabar comigo. Se por desgraça apenas ficar ferido, dá-me tua palavra de honra que me atirarás ao mar.
É o leito onde deve morrer um bom marinheiro como sou.

- Que loucura! – exclamei. – E que incumbência me dás!

- Cumprirás um dever de bom amigo. Bem sabes que é preciso que eu morra. Só na esperança de ser morto é que consenti em não me matar. Promete-me, vamos; se recusares, vou pedir ao contramestre que me preste esse serviço, e garanto que não se negará a fazê-lo.

Disse-lhe, depois de ter refletido:

- Dou minha palavra que farei o que desejas, conquanto sejas mortalmente ferido, sem esperanças de cura. Nesse caso, consinto em poupar-te sofrimentos.

- Serei mortalmente ferido, ou então morto.

Estendeu-me a mão que apertei calorosamente. Daí por diante mostrou-se mais calmo, e uma certa alegria marcial chegou mesmo a iluminar-lhe o rosto.

Eram cerca de 3 horas da tarde quando os canhões de caça do inimigo começaram a atingir nossos massames. Então ferramos uma parte de nossas velas; apresentávamos o costado ao Alceste, e sustentamos um prolongado tiroteio contra os ingleses, que responderam vigorosamente. Depois de uma hora de luta, nosso capitão que não tomava uma decisão acertada, quis tentar a abordagem. Já tínhamos muitos mortos e feridos, e o restante da tripulação perdera o entusiasmo. No momento em que abríamos as velas para aproximar-nos do inglês, o mastro principal que mal se agüentava, caiu com um tremendo estrépito. O Alceste aproveitou a confusão do acidente. Passou junto a nossa popa, ponto um lado inteiro da nossa fragata ao alcance dos canos da sua artilharia, que a varou de proa a popa; só podíamos opor-lhe dois pequenos canhões. Encontrava-me junto a Roger, ocupado em mandar cortar as cordas que retinham o mastro derrubado. De súbito, sinto que me aperta o braço com força; volto-me e vejo-o caído no convés, todo coberto de sangue. Acabava de receber um tiro de metralha no ventre.

O capitão correu para ele:

- Que devo fazer, tenente? – indagou.

- Deve fixar o pavilhão neste toco de mastro e deixar-nos afundar.

Imediatamente o capitão se afastou, pouco satisfeito com o conselho.

Então Roger falou:

- Não te esqueças da tua promessa.

- Não é nada, podes sarar.

- Atira-me por cima da amurada! – exclamou, praguejando horrivelmente, e puxando a aba do meu casaco – bem vês que não escaparei; atira-me ao mar, não quero vê-los levar a nossa bandeira.

Dois marinheiros aproximaram-se a fim de carregá-lo para o fundo do porão.

- Voltem para os canhões, patifes! – ordenou – Disparem a metralhadora, apontem para a coberta, e tu, se faltares à tua palavra, eu te amaldiçoarei e te considerarei o mais covarde e vil dos homens!

O ferimento que recebera era evidentemente mortal. Vi o capitão chamar um aspirante e dar-lhe ordens para trazer a nossa bandeira.

- Dá-me um aperto de mão – disse Roger.

No próprio momento em que trouxeram a nossa bandeira...

- Capitão, uma baleia a bombordo! – interrompeu um guarda-marinha, correndo ao nosso encontro.
- Uma baleia! – exclamou o capitão, cheio de alegria e cortando a narrativa. – Depressa, chalupas ao mar! O iole ao mar! Todas as chalupas ao mar! Arpões,cordas! Etc., etc.

Não consegui saber como morreu o pobre tenente Roger.

Fonte:
http://victorian.fortunecity.com/postmodern/135/

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Livros de Jorge Amado


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- Vida De Luis Carlos Prestes

Fonte:
http://www.americanas.com.br

José Feldman (Realidade)

Não somos mais que esboços
Desenhados por outras mãos
Olhos cegos que vêem sem ver
Fantasmas do passado
Assombrando o amanhã.

Nathaniel Hawthorne (O Paladino Grisalho)

Houve outrora um tempo em que a Nova Inglaterra gemia sob uma opressão realenga de injustiças ainda mais pesadas que a ameaça das que ensejaram a Revolução. Jaime II, o fanático sucessor de Carlos, o Voluptuoso, anulara as cartas constitucionais de todas as colônias, e enviara um rude soldado sem princípios para roubar as nossas liberdades e pôr em perigo a nossa religião. À administração de Sir Edmund Andros quase não faltava uma só característica da tirania: governador e Conselho nomeados pelo rei, inteiramente independentes do país; leis decretadas e impostos elevados sem o concurso do povo interessado ou de seus representantes; os direitos dos cidadãos particulares eram violados e os títulos das propriedades com base na terra, declarados nulos; havia queixas abafadas mercê de restrições à imprensa; e, finalmente, a dissidência intimidada pelo primeiro bando de tropas mercenárias que nunca, até aquela data, havia marchado em nosso livre chão. Por dois anos os nossos ascendentes foram mantidos numa taciturna submissão, graças àquele amor filial que invariavelmente era o penhor da sua lealdade à pátria de origem, fosse esta governada por um parlamento, um protetor ou um monarca papista. No entanto, até aquela época infeliz, uma tal lealdade fora apenas nominal, pois os colonos governavam-se a si próprios, gozando de uma liberdade ainda maior do que aquela que é o privilégio dos súditos nativos da Grã-Bretanha.

Finalmente correu um boato em nossas praias: o príncipe de Orange arriscara-se a uma empresa, cujo sucesso seria o triunfo dos direitos civis e religiosos e a salvação da Nova Inglaterra. O boato era suspeito: podia ser falso, ou a tentativa podia falhar; em qualquer caso, o homem que se rebelasse contra o rei Jaime perderia a cabeça. Todavia o boato produziu notável efeito. Pessoas sorriam misteriosamente nas ruas, lançando olhares atrevidos a seus opressores; enquanto por toda parte se espalhava uma agitação contida e silenciosa, como se ao menor sinal toda a terra se levantasse do seu letárgico desânimo. Cônscios do perigo, os governantes resolveram evitá-lo mediante a exibição de uma imponente demonstração de força, e talvez confirmar o seu despotismo com medidas ainda mais ásperas. Certa tarde de abril de 1689, Sir Edmund Andros e seus conselheiros favoritos, depois que o vinho lhes havia subido à cabeça, reuniram os fardas-vermelhas da guarda do governador e fizeram sua aparição nas ruas de Boston. O sol se punha quando a marcha começou.

O rolar do tambor naquela crise inquietante parecia varar as ruas, não tanto como a música marcial da soldadesca, mas como um chamado de reunir aos próprios cidadãos. O povo, provindo de várias avenidas, aglomerou-se na King Street, destinada a ser o cenário, quase um século depois, de outro encontro entre as tropas da Grã-Bretanha e um povo que lutava contra a sua tirania. Embora se tivessem escoado mais de sessenta anos após a chegada dos peregrinos, a multidão de seus descendentes ainda revelava as fortes e sombrias feições de seus ancestrais, talvez ainda mais impressionantes nessa grave emergência do que em ocasiões mais felizes. Via-se ali o austero garbo, a geral severidade de fisionomia, a sombria mas intimorata expressão, as formas bíblicas do discurso e a confiança na benção do céu sobre uma causa justa, que marcaram o bando de puritanos originais, quando algum perito os ameaçava na região inculta. Com efeito, ainda não era tempo de extinguir-se o espírito primitivo; de vez que naquele dia havia homens na rua que homens na rua que celebraram o seu culto sob as árvores, antes de se erigir uma casa ao Deus por cuja causa se tornaram exilados. Também ali se achavam velhos soldados do
Parlamento, sorrindo sombriamente à idéia de que seus velhos braços ainda podiam golpear uma segunda vez a Casa de Stuart. Estavam também os veteranos da guerra do rei Filipe, que tinham queimado aldeias e matado jovens e velhos com uma piedosa ferocidade, enquanto as santas almas do país os ajudavam com orações. Muitos eram os ministros espalhados pela multidão, a qual, ao contrário de outras multidões, olhava-os com uma tal reverência, que era como se de sua própria vestimenta a santidade se exalasse. Esses santos exerciam a sua influência para acalmar o povo, não para dispersá-lo. Entrementes, o propósito do governador, perturbando a paz da cidade em um período em que a mais insignificante tropelia poderia lançar o país em convulsão, era quase o assunto universal de indagação, de várias formas explicado.

— Satã dará agora o seu golpe de mestre — exclamavam alguns —, pois ele sabe que seu tempo é curto. Todos os nossos santos pastores vão ser arrastados para a prisão! Vê-los-emos num fogo de Smithefield, King Street!

Ao que o povo de cada paróquia se aglomerava em torno de seu ministro, o qual voltava calmamente o olhar para cima e assumia uma dignidade mais apostólica, assim como convinha a um candidato à mais alta honra da sua profissão: a coroa do martírio. Realmente se fantasiava naquela época, que a Nova Inglaterra bem podia ter o seu próprio John Rogers para substituir aquele grande homem no livro de orações.

— O papa de Roma ordenou uma nova São Bartolomeu! — outros exclamavam. — Vamos ser massacrados... homens, mulheres e crianças!

Esse boato não foi de todo desmentido, conquanto a classe mais esclarecida acreditasse que o objetivo do governo fosse menos atroz. Sabia-se que o seu predecessor, quando ainda vigorava a Carta dos Direitos, um tal Bradstreet, venerando companheiro dos primeiros povoadores, estava presente na cidade. Havia motivo para conjeturar que Sir Edmund Andros pretendia de imediato aterrorizar, mercê de um desfile de força militar, e confundir a facção adversária, apossando-se ele próprio de seu chefe.

Ficai firmes ao lado do governador da velha Carta! — gritava a multidão, apossando-se da idéia. — O velho e bom governador Bradstreet!

Quando esse grito atingiu o auge, o povo viu-se surpreendido com a presença do próprio governador Bradstreet, um patriarca de quase noventa anos, que surgiu nos altos degraus de uma porta e, com uma brandura característica, concitou-os a submeter-se às autoridades constituídas.

— Meus filhos — concluiu o venerando velho —, não façais coisa alguma atropeladamente. Não griteis, mas rezai pela prosperidade da Nova Inglaterra, e esperai pacientemente o que o Senhor fará quanto a isso.

O evento em breve se decidiria. Todo esse tempo o rolar do tambor vinha se aproximando através do Cornhill, cada vez mais alto e mais profundo, até que, ecoando de casa em casa, e acompanhado do tropel marcial da soldadesca, irrompeu na rua. Uma dupla fila de soldados apareceu nessa ocasião, ocupando a passagem em toda a sua largura, com arcabuzes de mecha sobre o ombro e morrões acesos — verdadeiro renque de fogos ardendo no crepúsculo. A firmeza de sua marcha lembrava a marcha de uma máquina, que irresistivelmente tudo esmagaria em seu caminho. Em seguida, movimentando-se lentamente com um chocalhar de cascos no calçamento, vinha um grupo de cavaleiros montados, sendo sua figura central o próprio Sir Edmund Andros, velho mas ereto e de aspecto militar. Os que o cercavam eram os seus conselheiros favoritos, e os mais ferrenhos inimigos da Nova Inglaterra. À sua direita cavalgava Edward Randolph, nosso arquiinimigo, aquele “maldito excomungado”, como lhe chamava Cotton Mather, que levou a cabo a queda do nosso antigo governador, seguida por uma maldição que o acompanhou por toda a vida e até o túmulo. De outro lado vinha Bullivant, espalhando pilhérias e zombarias enquanto avançava. Dudley vinha atrás, com um ar desanimado, temendo, como devia, o olhar indignado do povo, que nele via o seu único patrício de nascença bandeado para os opressores da terra natal. O capitão de uma fragata fundeada no porto e dois ou três oficiais civis sob a coroa também faziam parte da comitiva. Mas a figura que mais atraía o olhar público, e despertava o mais profundo sentimento, era o clérigo episcopal da Capela Real, em seus trajes sacerdotais, cavalgando altaneiro entre os magistrados, representante condigno da prelazia e da perseguição, união da Igreja e do Estado, e todas as demais abominações que tinham impelido os puritanos para aquela região inóspita. Fechava a retaguarda um grupo de soldados em fila dupla.

A cena toda era um retrato da condição da Nova Inglaterra, e o seu moral, a deformidade de qualquer governo que não provenha da natureza das coisas e da índole do povo. De um lado, a multidão religiosa, com seus rostos tristonhos e trajes escuros; do outro, o grupo de governantes despóticos, tendo no meio o clérigo da Igreja Alta, o crucifixo no peito, todos magnificamente vestidos, congestionados de vinho, orgulhosos da sua injusta autoridade, escarnecendo do gemido universal. E os soldados mercenários, só esperando a ordem para inundar de sangue as ruas, mostravam o único meio pelo qual se podia garantir a obediência.

— Ó Deus dos Exércitos! — exclamou uma voz entre a multidão —, suscita um paladino para o teu povo!

A exclamação foi proferida em voz alta e serviu como o grito de um arauto para apresentar uma notável personagem. A multidão recuara e agora se aglomerava, maciça, quase no fim da rua, enquanto os soldados ainda não tinham avançado mais que um terço do seu comprimento. O espaço intermediário estava vazio — verdadeiro deserto de chão calçado entre altos edifícios que lançavam quase um crepúsculo de sombra sobre ele. Repentinamente, viu-se a figura de um ancião, que se diria ter surgido dentre o povo, caminhar sozinho pelo meio da rua a fim de defrontar-se com o bando armado. Vestia ele o antigo traje puritano, capa negra e chapéu de copa pontuda, que se usara cinqüenta anos antes, e levava uma pesada espada dependurada no flanco, além de um cajado na mão para assistir-lhe o passo vacilante da velhice.

A alguma distância da multidão o velho fez uma volta vagarosa exibindo um rosto de antiga majestade, tornado duplamente venerando pela comprida barba que lhe descia sobre o peito. Fez um gesto a um tempo de encorajamento e advertência, depois tornou a virar-se e reencetou o caminho.

— Quem é esse patriarca encanecido? — perguntaram os jovens a seus pais.

— Quem é esse venerando irmão? — perguntaram entre si os anciãos.

Mas ninguém soube responder. Os pais do povo, aqueles que tinham quatro vintenas de anos ou mais, ficaram perturbados, achando estranho terem eles próprios esquecido alguém dotado de uma autoridade tão evidente, alguém que deviam ter conhecido anos atrás, sem dúvida um sócio de Winthrop e de todos os antigos conselheiros que decretaram leis, fizeram orações e os conduziram contra o selvagem. Os anciãos deviam ter lembrança dele, com suas madeixas tão grisalhas naquele tempo, exatamente como as deles eram agora. E os jovens! Como podiam tê-lo esquecido tão completamente — aquele idoso cavalheiro, relíquia de tempos idos, cuja bênção terrível fora, sem dúvida, concedida sobre suas infantis cabeças descobertas?

— De onde teria vindo? Qual a sua intenção? Quem poderá ser? — sussurrava a multidão, presa de espanto.

Entrementes, o venerando estranho, com o cajado na mão, prosseguia em sua caminhada solitária pelo meio da rua. Ao se aproximar dos soldados em marcha, e enquanto o rolar do tambor lhe entrava em cheio nos ouvidos, o velho ergueu-se numa atitude mais ereta, enquanto a decrepitude pareceu tombar-lhe dos ombros, deixando-lhe um velhice indisfarçável, porém cheia de dignidade. Agora, marchava para a frente com um passo de guerreiro, mantendo o compasso da música militar. Assim avançou o ancião de um lado, e os soldados e os magistrados do outro, até que, não restando mais que umas vinte jardas entre eles, o ancião agarrou seu cajado pelo meio, e ergueu-o à sua frente como o bastão de comando de um líder.

— Alto! — exclamou ele.

Os olhos, o rosto e a atitude de comando; a solene mas beligerante vibração daquela voz, apta a dirigir uma hoste na batalha ou a erguer-se em oração a Deus, era irresistível. À palavra do ancião, que estendera o braço, o rolar do tambo imediatamente se calou e a linha em avanço estacou. Um trêmulo entusiasmo empolgou a multidão. Aquele vulto majestoso, que combinava o líder e o santo, mas de tal modo encanecido e quase invisível em roupagem tão antiga, só podia pertencer a algum velho paladino da causa justa, que o tambor do tirano tivesse invocado do túmulo. Elevou-se da multidão um grito de pavor de exultação, na expectativa da libertação da Nova Inglaterra.

O governador e os cavalheiros do seu grupo, percebendo que tinham sido levados a uma posição inesperada, avançaram depressa, como se impelissem seus cavalos resfolegantes e assustados para cima da velha aparição. Esta, porém, não recuou um só passo, mas passando o olhar severo pelo grupo, que quase o cercava totalmente, finalmente o fixou severamente em Sir Edmund Andros. Alguém poderia pensar que o ancião de preto era ali o próprio governador, e que o governador e seu Conselho, com soldados a respaldá-los, representantes que eram de todo o poder e a autoridade da coroa, não tinham outra alternativa senão obedecer-lhe.

— Que faz aqui este velho? — gritou Edward Randolph num tom de ferocidade. — Avante, Sir Edmund! Que os soldados avancem e dêem a esse velho caduco a mesma opção que damos a todos os seus compatriotas: sair do caminho ou ser pisado!

— Não, não, mostremos nosso respeito ao bom ancião — disse Bullivant, abrindo uma risada. — Não vê que ele é um dos dignatários dos cabeças-redondas que dormiu estes últimos trinta anos e nada sabe da mudança dos tempos? Pensa sem dúvida que nos poderá derrotar mediante uma proclamação em nome do Velho Noll!

— Está louco, velho? — perguntou Sir Edmund Andros num tom áspero e estridente. — Como se atreve a interromper a marcha do governador do rei Jaime?

— Já interrompi a marcha do próprio rei — respondeu o grisalho vulto com austera compostura. — Aqui estou, senhor governador, porque o clamor de um povo oprimido me perturbou no meu esconderijo; e implorando sofregamente esse favor ao Senhor, foi-me concedido tornar a aparecer na Terra pela boa causa de seus santos. E que dizeis de Jaime? Já não há um tirano papista sobre o trono da Inglaterra, e amanhã ao meio-dia o seu nome será uma senha nesta mesma rua onde fizestes dele uma palavra de terror. Para trás, vós, que fostes governador: para trás! Com esta noite se acaba o vosso poder — e, amanhã, a prisão! Para trás, antes que eu vos vaticine o cadafalso!

O povo ia-se aproximando cada vez mais, e bebia as palavras do seu paladino, que falava em acentos agora desusados, como alguém desabituado de conversar exceto com pessoas há muito tempo mortas. Mas a sua voz comovia-lhes a alma. E o povo enfrentou a soldadesca, não inteiramente desarmado, pronto a converter as pedras da rua em armas mortíferas. Sir Edmund Andros fitou o ancião; depois lançou o seu duro e cruel olhar sobre a multidão, e viu-a ardendo naquela ira lúrida, tão difícil de atear ou de apagar; em seguida tornou a fixar o olhar no vulto envelhecido, que, obscuro, se erguia no espaço aberto onde nem amigo nem inimigo ainda se precipitara. Quaisquer que fossem os seus pensamentos, nenhuma palavra pronunciou que os relevasse. Ou fosse porque o opressor ficasse temeroso diante do olhar do Paladino Grisalho, ou porque percebesse o perigo na atitude ameaçadora do povo, o certo é que recuou e ordenou a seus soldados que dessem início a uma lenta e cautelosa retirada. Antes do novo pôr-do-sol, o governador e todos os que tão orgulhosamente cavalgavam a seu lado foram feitos prisioneiros, e muito antes que o rei Jaime abdicasse, o nome do rei Guilherme foi proclamado por toda a Nova Inglaterra.

Mas onde estava o Paladino Grisalho? Disseram alguns que, ao se retirarem as tropas da King Street e ao se reunir o povo tumultuosamente em sua retaguarda, Bradstreet, o velho governador, foi visto abraçando um vulto ainda mais velho do que ele. Outros discretamente afirmavam que, enquanto se maravilhavam diante da veneranda grandeza do seu aspecto, o velho desaparecera de vista, confundindo-se lentamente com os matizes do crepúsculo, até deixar um lugar vazio no ponto onde estivera. Todos, porém, concordavam em que o vulto encanecido derretera-se. Os homens daquela geração ficaram, dia e noite, esperando pelo seu retorno, porém nunca mais o viram, nem souberam quando se deu o seu enterro, nem onde o seu túmulo ficava.

E quem era o Paladino Grisalho? Talvez o seu nome pudesse ser encontrado nos registros daquele austero tribunal de justiça que passou uma sentença demasiado forte para a época, mas gloriosa por todos os tempos, pela humilhação infligida a um monarca e o alto exemplo dado ao súdito. Ouvi dizer que, quando quer que os puritanos precisem mostrar o espírito de seus ancestrais, o ancião torna a aparecer. Após oitenta anos, ele tornou a palmilhar a King Street. Cinco anos depois, na penumbra de uma madrugada de abril, surgiu no relvado, diante da casa de oração, em Lexington, onde agora o obelisco de granito, com uma ardósia incrustada, comemora os que primeiro tombaram pela Revolução. E quando nossos pais lutavam nos parapeitos de Bunker Hill, a noite toda o velho guerreiro ali fez a sua ronda. Que muito tempo se escoe, antes que ele torne a voltar! A sua hora é uma hora de treva, adversidade e perigo. Mas se a tirania doméstica oprimir-nos, ou o pé do invasor poluir nosso solo, possa ainda o Paladino Grisalho aparecer, pois ele encarna o espírito hereditário da Nova Inglaterra; e sua marcha sombria, na véspera do perigo, será o voto perpétuo de que os filhos da Nova Inglaterra saberão vingar os seus ancestrais.
==================
Fonte:
Os melhores contos de Nathaniel Hawthorne. Seleção e tradução de Olívia Krähenbühl. São Paulo: Círculo do Livro SA. Disponível em
http://planeta.terra.com.br/arte/ecandido/mestr112.htm

Daniela Jacinto (Maratona Literária em Sorocaba)

Projeto encabeçado por escritores do Sorocult visita instituições que atendem crianças com o objetivo de incentivar a leitura e discutir questões sobre o meio ambiente

Pode ser que a condição financeira de uma família não permita que o orçamento se estenda à compra de livros, já que outros aspectos, como a alimentação, estariam em primeiro lugar. Nesse caso, o livro seria supérfluo. É por isso que surpreende encontrar crianças e adolescentes, filhos e filhas de catadores de materiais recicláveis, que possuem coleção de livros em casa, que apreciam a leitura, e inclusive sonham em ser escritores. A maior alegria dessa turma, assistida pelo Centro de Orientação e Educação Social (Coeso) da Vila Angélica, foi ter conhecido pessoalmente escritores da cidade - deu até mesmo para pedir autógrafo. A iniciativa ocorreu no início do mês, dentro da Maratona Literária Infantil Sorocult, encabeçada pelos autores da 1ª Coletânea do Sorocultinho, livro dirigido ao público infantil que visa estimular a prática da leitura e também o cuidado com o meio ambiente.

E é com esse objetivo que os escritores sorocabanos têm percorrido diversas instituições de ensino e também entidades que cuidam dos menores. Nesses locais, os autores falam de literatura e da natureza através de palestras, levam mudas de árvores para serem plantadas pelas crianças, e ainda distribuem gratuitamente a coletânea.

A Maratona Literária teve início no dia 18 de abril e já percorreu mais de 25 instituições. Ao todo, são 500 livros para doação. No encontro com as crianças do Coeso, os autores se surpreenderam com o nível de interesse daquele pessoal pela leitura, já que, durante outras visitas, encontraram crianças que nunca tinham visto um livro. Na avaliação de Neusa Padovani Martins, coordenadora do Projeto Sorocult, as visitas também acabam por estimular a escrita. Eles perceberam que também podem, afirma. Para ela, é um erro dizer que o brasileiro não gosta de ler. O brasileiro só não lê porque não tem acesso a livros, muito embora tenha escolas do Estado jogando livros fora, denuncia.

Incentivo também à escrita

Entre as histórias contadas pelos autores, o depoimento da jovem escritora Ana Paula de Cássia, de 16 anos, chamou a atenção da criançada. Com seu jeito tímido e delicado, Ana Paula contou como publicou seu primeiro livro: Quando era pequena, minha mãe me contava muitas histórias e eu gostava tanto que passei a inventar várias delas. A partir da segunda série, com 8 anos, eu comecei a passar tudo para o papel, explicou, sob olhares atentos e curiosos. Mas foi quando viu em uma revista que uma menina da mesma idade que ela conseguiu publicar um livro, que Ana Paula se entusiasmou. Hoje, ela tem dois livros publicados, participa de coletâneas e ainda tem seus textos no site Sorocult (http://www.sorocult.com/).

Durante a palestra, Neusa aproveitou para falar que o site está aberto a crianças que estiverem produzindo textos e também alertou sobre a possibilidade da publicação dos trabalhos em um próximo livro do grupo.

Questionadas sobre quem ali já tinha inventado alguma história, a maioria das crianças levantou as mãos. Também a maioria disse gostar de ler e ter vontade de se tornar escritor.

Luiz Henrique Marques, de 14 anos, afirmou que tinha um texto que inclusive ia participar de concurso. Josué Amós, de 8 anos, disse ter inventado a história do Ninja Barulhento. Já José Gabriel Rigui, também de 8 anos, inventou uma história chamada A Casa de Madeira. E assim muitos outros ergueram as mãos para falarem de suas criações. Os alunos também disseram gostar de ler gibis e livros infantis. Entre eles, Ketlin Daiana da Costa, de 13 anos, disse ter em sua casa uma coleção de livros de contos de fadas.

Sobre a questão do meio ambiente, todos disseram cuidar da natureza, plantando árvores e regando as plantas. Eu jogo o lixo no lixo, acrescentou Eduarda Ribeiro Camargo, de 7 anos.

Conforme Neusa, as visitas nas escolas e entidades acabaram por descobrir diversos talentos. Elas viram também que nós estamos aqui para ajudá-las. Tanto é que já ganhamos colunistas para o site e temos uma adolescente de 14 anos entrando para a nova coletânea, comemora. Neusa também anuncia a formação de um grupo de teatro infanto-juvenil, nascido desse projeto nas escolas.

Quinze escritores participam da coletânea

A 1ª Coletânea do Sorocultinho apresenta textos de 15 escritores, dos 8 aos 80 anos, em forma de fábulas, crônicas, poesias e trovas, que focam a questão do meio ambiente. Ilustrada para ser colorida pelos leitores, a obra traz ainda histórias traduzidas para o inglês, um capítulo com teoria literária e algumas atividades lúdicas educativas.

O livro foi patrocinado pelo marido de Neusa, Válter de Jesus Martins. Dessa vez não foi em sistema de cooperativa. Esse foi o meu presente de Natal, diz. Para ela, o projeto tem sua importância. É comum as pessoas doarem alimentos para as entidades, mas nós queríamos que as crianças sonhassem.

Já o Sorocult (http://www.sorocult.com/) é um site voltado ao incentivo e divulgação da literatura de Sorocaba e Região. No decorrer dos seus quase três anos de existência, já publicou duas coletâneas literárias feitas em sistema de cooperativa. Há quase um ano, fundou o Clic Art & Letras - Centro Literário Cultural de Sorocaba e Região para agregar e divulgar os escritores e as coletâneas. No decorrer deste tempo, várias crianças e jovens foram ingressando no site como colunistas, o que levou à criação de um espaço infantil dentro dele: o Sorocultinho.

Sobre o Coeso

O Coeso atende crianças e adolescentes de 7 a 14 anos que estejam devidamente matriculados em uma escola e freqüentem as aulas. Lá, os assistidos recebem aulas de reforço escolar, música, balé, tae kwon do, artes plásticas (através do Pintura Solidária), e ainda fazem roda de leitura. Eles também contam com acompanhamento psicológico e eu mesma faço questão de verificar as notas da escola e a freqüência de cada criança. Também faço uma análise de como ela estava quando entrou no Coeso e sua evolução, frisa a coordenadora do Coeso, Renata Silva Andrade.

Com capacidade para atender 25 crianças no período da manhã e outras 25 no período da tarde, provenientes dos bairros da Zona Norte (como Vila Angélica, Jardim Baronesa e Nova Sorocaba), a estrutura do Coeso não é suficiente para acolher a todos os interessados. De acordo com Renata, existe uma lista de espera imensa de crianças que desejam participar do projeto.

As crianças, em sua maioria, são membros de famílias desestruturadas, com pais que têm problemas com drogas e alcoolismo. Muitos deles estariam nas ruas catando papéis para ajudar a família, caso não estivessem aqui na entidade, acrescenta.

Fontes:
Notícia publicada na edição de 15/05/2008 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno D
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=42&id=86850
http://www.sorocult.com

Foto: Érick Pinheiro

4º Concurso de Trovas do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor (Resultado Final)

Tema – Fortaleza
Resultado oficial

GRUPO. 1 NACIONAL

1º Lugar
Nas tramas que a vida tece,
lutando contra a avareza,
se o Diabo me enfraquece,
Deus é minha Fortaleza!
GABRIEL BICALHO
MARIANA/MG
Delegado da UBT-Mariana-MG.

2º Lugar
A fortaleza da alma,
está na paz, no perdão,
na força da fé que acalma,
no silêncio da oração!!!
FRANCISCO GARCIA (PROF. GARCIA )
CAICÓ-RN

3º Lugar
Canto alegre, a fortaleza
que sempre cobriu meus passos;
porém escondo a fraqueza
de não contar meus fracassos.
CONCEIÇÃO PARREIRAS ABRITTA
BELO HORIZONTE- MINAS GERAIS

MENÇÃO HONROSA

1. Mesmo na dor, pus de pé,
com esperanças sem fim,
a Fortaleza de fé
que existe dentro de mim.
ADEMAR MACEDO
NATAL – RN

2. Encontrando fortaleza
nos poderes da oração,
rogo a Deus eu possa, à mesa,
repartir amor e pão.
MIGUEL RUSSOWSKY
JOAÇABA – SC

3. Não falo da "Fortaleza"
capital do Ceará,
mas da constante firmeza
que a fé em Cristo nos dá.
ROZA DE OLIVEIRA
UBT CURITIBA PR

MENÇÃO ESPECIAL

1. Só peço a Deus fortaleza
para levar minha cruz:
- mais vigor (vindo a fraqueza);
nas trevas, ver Sua luz!
GERALDO LYRA
RECIFE – PE

2. É forte o meu bem-querer,
aqui o perigo não medra...
A fortaleza em meu ser
construí, pedra por pedra!
RENATO ALVES
RIO DE JANEIRO/RJ

GRUPO. 1 INTERNACIONAL

1º Lugar
Se eu tivesse a Fortaleza
que Cristo teve na Cruz,
tinha sempre, com certeza,
pouca sombra e muita Luz!
GISELA ALVES SINFRÓNIO
OLHÃO - PORTUGAL

2º Lugar
Sendo o meu melhor amigo
Cristo é minha fortaleza,
meu terno porto de abrigo,
minha chama sempre acesa!
FERNANDO MÁXIMO
AVIS - PORTUGAL

3º Lugar
Por mais que te julgues forte,
nessa tua fortaleza
não há ninguém que suporte
as forças da Natureza!
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
FUZETA - PROVÍNCIA: ALGARVES -PORTUGAL

Não houve trova pontuada para receber Menção Honrosa nem Menção Especial, neste grupo.

COMISSÃO JULGADORA DO GR.1
NACIONAL E INTERNACIONAL – FORTALEZA:

1. Adamo Pasquarelli - SP
2. Lisieux Souza – MG
3. Luiz Antonio Cardoso – SP
4. Myrthes Massa Masiero – SP
5. Zelia Maria Carvalho de Figueiredo – RN


GRUPO. 2 NACIONAL

1º Lugar
Sobreviver é uma arte.
É driblar a natureza,
tendo a fé como estandarte
e Deus como fortaleza.
MYRTHES MAZZA MASIERO
S.J.CAMPOS/SP

2º Lugar
Não existe ser que agrida
ou faça perder a calma,
de quem tem sua guarida
na fortaleza da alma!
FLÁVIO DE AZEVEDO LEVY
CAMPINAS - SÃO PAULO

3º Lugar
Quando uma mágoa me lança
nas trevas de uma tristeza,
dá-me o Senhor a esperança,
dá-me o Cristo a fortaleza!
HUMBERTO RODRIGUES NETO
PIRITUBA – SP

MENÇÃO HONROSA

1. Na minha grande fraqueza,
Num poço fundo, sem luz,
Descobri a FORTALEZA,
Da mão firme de Jesus.
RAYMUNDO DE SALLES BRASIL
SALVADOR/BAHIA

2. Se no destino há tristeza,
de encontro às pedras, eu sigo,
construindo a fortaleza
que me servirá de abrigo.
MÁRCIA SANCHEZ LUZ
ARARAS/SP

MENÇÃO ESPECIAL

1. Os vendavais da existência
são vencidos, com certeza,
por quem tem a paciência
moldada na Fortaleza!
MARIA EMÍLIA LEITÃO MEDEIROS REDI
PIRACICABA/SP

2. O caminho de JESUS
é luz, amor e beleza.
Percorrê-lo nos conduz
a uma eterna Fortaleza.
ZÉLIA MARIA CARVALHO DE FIGUEIREDO
NATAL/RN

GRUPO. 2 INTERNACIONAL

1º Lugar
A fortaleza se mede
no enfrentar da verdade,
o forte não é quem pede,
mas quem o dá, de vontade.
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
PAREDE – PORTUGAL

2º Lugar
Que ninguém tenha receio
Se a vida foi de incerteza,
Mas teve Deus por esteio
A servir de fortaleza!
JUDITE RAQUEL NEVES FERNANDES
GÓIS/PORTUGAL

3º Lugar
Fortaleza é uma virtude
da pessoa com bondade,
viverá com plenitude
e terá felicidade.
JAMIL WILLIAM PISCOYA AYALA
PERU

MENÇÃO HONROSA

A fortaleza da vida,
que o mundo anima e conduz,
é a fé rejuvenescida
nos caminhos de Jesus,
MAIMA MAZZA PRADAT
TOULON – FRANÇA
.
MENÇÃO ESPECIAL

Busco o dom da fortaleza
Numa alma de eleição.
Para encontrar a beleza
Dentro do seu coração.
ISAURA MARTINS
S. JOÃO DA BOAVISTA/PORTUGAL

COMISSÃO JULGADORA DO GRUPO. 2
NACIONAL E INTERNACIONAL

1. Ademar Macedo – RN
2. José Valdez – SP
3. Maurício Cavalheiro – SP
4. Miguel Russowsky - SC
5. Vicente Liles de Araújo Pereira – SP

GRUPO. 3 - ALUNOS

1º LUGAR
Deus é minha fortaleza
e nada me faltará,
com Ele não há tristeza,
pois Ele me salvará.
FELIPE AUGUSTO DOS SANTOS NOGUEIRA.
PARAIBUNA-SP

2º LUGAR
Paraíso é Fortaleza
Que parece uma história
lugar de muita beleza
Que retenho na memória.
DAVI FARIA BARROS
8ª A - EE “CEL. E.J.CAMARGO”

3º LUGAR
Quem tropeçou e caiu,
e logo se ergueu, com calma,
não tem a força dum rio,
mas tem fortaleza de alma.
JOÃO TIAGO BLASQUES DE OLIVEIRA BARROSO
PAREDE - PORTUGAL

MENÇÃO HONROSA

01. Aqui dentro do meu eu,
posso dizer com certeza:
coração que Deus me deu
é a minha fortaleza.
CAMILA DE CÁSSIA DA COSTA ALVES
3º A - EE”CEL. E.J.CAMARGO”

02. A fortaleza é castelo
e reino de seu senhor,
não precisa de ser belo,
mas, precisa ter amor.
CATARINA BLASQUES DE OLIVEIRA BARROSO
PAREDE – PORTUGAL
.
MENÇÃO ESPECIAL

01. Esta vida me avalia,
traz alegria e tristeza,
é abismo, é reta, é folia,
é uma grande fortaleza.
TAILA DE JESUS SANTOS MIRANDA
CEMPORCENTO

02. Nos dias que olho o mar
já vejo a sua grandeza,
e a alegria de te amar
faz de ti uma fortaleza.
TAÍS A. DE FARIA PRADO
8ª A - EE “CEL. E.J.CAMARGO”

03. Explicar esta grandeza
parece quase impossível,
só mesmo com fortaleza
é que pode ser cabível.
ANA DAIR DOS SANTOS MORAES
3º B - EE “CEL. E.J.CAMARGO”

COMISSÃO JULGADORA DO GR.3
ALUNOS NACIONAL E INTERNACIONAL

1. Cláudio de Morais – SP
2. Delcy Rodrigues Canalles – RS
3. Francisco Garcia - RN
4. Gislaine Canales – SC
5. Lucia Helena de Lemos Sertã – RJ


LEMBRETES:

01. Estas trovas e seus respectivos autores constarão do 1º Livro de Trovas desta 1ª Etapa do Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor, a ser editado em dezembro deste ano de 2008. As demais trovas serão deletadas, conforme regulamento do concurso.

02. Após os concursos: Faremos Cirandas de trovas, iniciando com as trovas classificadas. Os demais trovadores, cujas trovas foram deletadas, conforme normas do Concurso, poderão inscrevê-las na Ciranda.

03. As trovas que estiverem em desacordo com as normas da UBT (União Brasileira de Trovadores) serão devolvidas para acertos, com orientação, caso contrário não farão parte da Ciranda em questão.

04. RETIFICAÇÃO: Esta primeira Etapa do Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor passa a ser constituída por seis (06) Concursos com os seguintes temas: SABEDORIA, ENTENDIMENTO, CONSELHO, FORTALEZA, CIÊNCIA E PIEDADE.

05. Esperamos aumentar o nº de participantes nos próximos concursos: Ciência e Piedade.

06. Nossos agradecimentos a todos que participaram, com suas trovas, como membros da Comissão Julgadora, como divulgadores e os nossos Parabéns a todos os Classificados.

Maria Inez
Delegada da UBT – PARAIBUNA - SP

sábado, 24 de maio de 2008

Tertúlia Literária do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário

Na próxima 4a feira, dia 28, haverá novamente uma reunião em Sorocaba para uma Tertúlia Literária do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário - MMCL., como de costume na Sociedade Médica de Sorocaba (Rua Mons João Soares, 75) a partir das 19h30.

Será levado para sorteio entre os presentes cinco exemplares de cada um dos dois livros recentemente editados por Ottoni Editora tangentes ao MMCL: ANAIS do I Congresso Paulista Comunitário de Letras, do MMCL, festejando o terceiro aniversário do Movimento e que se fez realizar em Santos entre 2 e 4 de maio p.p. e o primeiro volume do livro A Presença Literária do MMCL, ambos magnificamente elaborados.

Cada um dos sorteados receberá os dois livros. O MMCL já realizou 75 reuniões literárias em 13 cidades do Estado de São Paulo com a participação de cerca de 450 pessoas que apresentaram em torno de mil trabalhos (resenhas, poesias, contos, crônicas, relatos, etc.) O Movimento é gratuito e aberto a todos os interessados, médicos e não médicos. A única exigência é a apresentação de um trabalho de sua própria lavra e para a qual tem 10 minutos..

Um dos que se farão presentes, será William Moffitt Harris, o qual participou do Roda Mundo 2008, com três crônicas em português e mais três capítulos em inglês do livro que está escrevendo sobre as andanças e aventuras do seu pai, logo após a Primeira Guerra Mundial, entre os índios "lengua" na margem oriental do Rio Paraguai em pleno Chaco Paraguajo. Vivenciou inclusive alguns choques culturais com bastante maturidade apesar dos seus 24-25 anos de idade durante os cinco anos que lá esteve.

Fonte:
Colaboração de Douglas Lara. In
http://www.sorocaba.com.br/acontece

XI Concurso Literário - Algarve-Brasil / 2008, do Clube da Simpatia

O Clube da Simpatia homenageia este ano, Tito Olívio, sócio n.º 100 e Delegado do Clube, em Faro. Talentoso Poeta e Prosador que muito tem contribuído para o enriquecimento do nosso património Cultural, será o seu soneto, “Os Teus Olhos”, que, este ano, servirá de tema para todas as modalidades do Concurso Literário, Algarve-Brasil, que, de ano para ano, vai crescendo em qualidade e quantidade, de trabalhos literários.

REGULAMENTO

O concurso destina-se a todos os cidadãos, maiores de 16 anos, de nacionalidade portuguesa ou brasileira, sócios ou não do Clube da Simpatia, que apresentem produções inéditas escritas em língua portuguesa e que respeitem o tema proposto.

Tema para o Conto: “ BRINCANDO COM O LUME…”

Tema para a Quadra: “ OS TEUS OLHOS “

Tema para o Soneto e Poesia Lírica:

Um verso do soneto, “ OS TEUS OLHOS “ do Poeta, Tito Olívio, que a seguir se transcreve:

OS TEUS OLHOS

Nos teus olhos me afogo com doçura,
nesse mar remansoso da esperança
que minha alma perdera e agora alcança
nas ondas dos teus beijos de ternura.

Por certo deve ser uma loucura
amar mais tempestade que bonança,
gostar da luta em vez da vida mansa,
mas eu tenho atracção pela aventura…

E há também no perigo poesia…
Por isso eu vou brincando com o lume,
não receio nadar por entre escolhos,

Mergulho em teu olhar com alegria.
E nem sequer do mar tenho ciúme,
porque há muito mais verde nos teus olhos.

❀❀❀

MODALIDADES:

POESIA
1 – QUADRA: em redondilha maior, de rima ABAB.
2 - SONETO: de características clássicas, em versos de 10 sílabas.
3 – LÍRICA: sem sujeição a qualquer sistema poético, não podendo, no entanto, ser soneto, nem exceder 20 versos.

PROSA
CONTO - Pequena narrativa real ou fictícia subordinada ao tema proposto. O conto não pode exceder quatro páginas A/4 escritas de um só lado.

a) - Cada concorrente pode apresentar a Concurso um máximo de dois trabalhos de cada modalidade com pseudónimos diferentes para cada um. As composições devem trazer no cimo da página a indicação da modalidade e no final do trabalho o pseudónimo.

b) – Para todas as produções é obrigatório o envio de três exemplares dactilografados ou digitados em papel A/4, escritas de um só lado. As margens devem ter, pelo menos, dois centímetros. O espaço entre linhas será de um e meio e os caracteres de tamanho 12 com letra “Times New Roman” ou idêntica. As quadras também serão apresentadas, uma em cada folha A/4.

c) - Anexo a cada trabalho será enviado um envelope fechado contendo, no exterior, a indicação da modalidade e do pseudónimo e, no interior, a identificação completa do autor: nome, morada, número de telefone e e-mail, se possuir.

d) - Os originais serão enviados, sem indicação de remetente, (excepto para o Brasil que será o mesmo do endereço) até ao dia 25 de Agosto de 2008 (carimbo dos correios) para:

CLUBE DA SIMPATIA
XI Concurso Literário - ALGARVE-BRASIL /2008
8700-911 Olhão - Portugal

e) - O Júri, constituído por individualidades de idoneidade e competência reconhecidas, deliberará por maioria e das suas decisões não haverá recurso, salvo se vier a provar-se que houve plágio ou que os trabalhos não são inéditos.

f) - Não se devolvem os trabalhos não distinguidos.

g) - Para cada modalidade serão atribuídos 1º, 2º, e 3º Prémios e as Menções Honrosas que o júri entender merecidas.

h) - Os premiados serão avisados com a devida antecedência.

i) - A entrega dos prémios está marcada para o dia 5 de Outubro de 2008, data do 13.º Aniversário do Clube.

O Regulamento está disponível em:

http://www.geocities.com/clubedasimpatia

Fonte:
Colaboração de A. A. De Assis, por e-mail.

Tito Olívio (1931)

Tito Olívio Henriques é natural de Penalva do Castelo, Distrito de Viseu, onde nasceu em 1931 e vive em Faro.

É licenciado em Engenharia Civil (1958) e Sociologia (1961).

Como Engenheiro Civil trabalhou no setor privado e no setor público.

Em suas atividades sociais antes da Reforma, pode-se destacar
- Vice-presidente da Assembleia Geral do Cine-Clube de Faro
- Presidente do Sporting Club Farense
- Secretário da Comissão Distrital de Árbitros de Faro
- Presidente da Assembleia Geral do Sport Faro e Benfica
- Presidente da Associação de Xadrez de Faro
- Secretário da Delegação de Faro da Cruz Vermelha Portuguesa
- Presidente do Rotary Club de Faro
- Presidente da Comissão Distrital dos Serviços à Comunidade do Distrito Rotário 196
- Presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários de Faro
- Vereador da Câmara Municipal de Faro
- Presidente da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia da C.M.F.
- Secretário-Geral do Conservatório Regional do Algarve - Maria Campina.
- Colaborador de jornais diários e regionais

Atividades depois da Reforma
- Fundador e Editor do jornal "Poetas de Faro" (1997-99)
- Chefe de redação do jornal "Distrito de Faro" (1995-98)
- Presidente da Assembleia Geral da Associação dos Jornalistas e Escritores do Algarve
- Subdiretor do mensário "Jornal Escrito"
- Colaborador de jornais regionais

Livros publicados antes da Reforma
- O Romance do Homem Solitário – contos (1963)
- Sonetos Proibidos e Outros Poemas – poemas (1983)
- Roteiro do Algarve – ensaio (1983)
- Divisão Administrativa do Algarve – ensaio (1983)
- Algures... Alguém – sonetos (1987)
- A Democracia Que Temos – ensaio (1988)
- Algures... Alguém - 2ª Edição – sonetos (1989)
- Contradições da Democracia – ensaio (1989)
- A Democracia Que Temos - 2ª Edição – ensaio (1989)
- Cantata Para Um Corpo – sonetos (1989)

Livros publicados depois da Reforma
- Formas de Fumo – sonetos (1990)
- A Gota de Água – poema infantil (1993)
- Flor de Luz – sonetos (1993)
- Ode a Penha Garcia – poema (1994)
- A Democracia Que Temos - 3ª Edição – ensaio (1995)
- Ode a Penha Garcia - 2ª Edição – poema (1995)
- Justiça Social – ensaio (1995)
- Sombra Desfeita – sonetos (1996)
- A Cauda do Cometa – poemas (1997)
- A Lenda do Moliceiro – contos (1997)
- Sombra Desfeita - 2ª Edição – sonetos (1997)
- A Cauda do Cometa - 2ª Edição – poemas (1998)
- A Lenda do Moliceiro - 2ª Edição - contos (1998)
- Guia Prático do Poeta – didático (1999)
- E Agora?... – poemas (2000)
- Mulheres Sem Verão - romance (2004)
- Para Quê Helena - romance (2006)

Honrarias
Mais de 90 prêmios literários, entre os quais,
- Prêmio Cidade de Olhão-Prosa,
- Menção Honrosa no Prêmio Eça de Queiroz (Lisboa),
- Referência especial no Prêmio Revelação Manuel Teixeira Gomes (Portimão)
- Sócio Honorário do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense (1960)
- Medalha de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa (1973)

Fontes:
http://www.caestamosnos.hpg.ig.com.br/
http://www.geocities.com/clubedasimpatia/