sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mário Prata (Impossível não escrever esta clônica)


Eu juro que eu não pretendia escrever sobre o clone. Todo mundo já escreveu. Até o João Paulo II (seria clone do João Paulo I?) já colocou suas manguinhas de fora.

De tudo que li, a que mais me chamou a atenção foi a do sempre bom Luis Fernando Verissimo. Ele levantou (literalmente) no Globo a questão dos nossos ínfimos espermatozóides. Qual será a utilidade deles no futuro, pô? Clona e pronto, pô! Não vão mais existir depósitos de esperma, mas, sim, de células. Da mão do Oscar, da inteligência do Darcy, das pernas da Raia, dos pés do Ronaldinho e assim por diante.

Também não sei por que tanto alarde mundial se, aqui mesmo no Brasil, o Congresso Nacional aprovou (em dois turnos) a reclonagem do nosso simpático presidente.

Depois de ler, estupefato, em todos os jornais brasileiros que os americanos (eles nunca ficam atrás) já fizeram dois macacos clonados. Ou seja, segundo a evolução das espécies do Darwin, estamos quase lá. Se macaco pode, o homo sapiens também, não é Charles?

E no mesmo dia, aqui mesmo no Estadão, leio (ainda estupefato) que o nosso querido Brasil poderá produzir alimentos por clonagem. E prova-se por a mais b que isso já está sendo feito. E os especialistas afirmam que as modificações genéticas tornam plantas mais resistentes a pragas.

E o homem clonado, também será mais resistente à, digamos, Aids? Fica a pergunta. E fazer clones de apenas alguns órgãos, vai poder? Por exemplo: tirar a célula de um olho bom e colocar num cego. Clonar uma perna num paralítico, vai poder? E um novo pênis bem clonado e ornado, quem é que não vai querer? Você poderá até escolher a cor do doador em uma célula penicular.

Mas eu fico pensando no clone do Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, que vem vencendo nas pesquisas de clonagens nacionais. Claro que vai nascer um sujeito igual a ele. Mas, para chegar a presidente, ele terá que ser exilado (para isso vamos ter outra revolução de clones militares?), morar no Chile e na França? Encontrará uma mulher tão sábia como a doutora Ruth? Terá os mesmos simpáticos filhos Paulo Henrique, Luciana e Bia? Encontrará um Lula para disputar uma eleição? São dúvidas que eu não sei responder.

E você, como é que agirá com o seu próprio clone? Vai evitar que ele faça as besteiras que você fez quando era criança ou adolescente? O clone do Pelé teria que começar passando fome em Três Corações para virar o Atleta do Século 21? Penso nisto tudo e não sei as respostas.

Como disse o Mateus Shirts, ovelha sempre pareceu tudo igual, não é surpresa nenhuma a Hello Dolly se parecer com ela mesma. Igual clone de japonês. Vai sair tudo igual, sorrindo daquele jeitinho clonado.

Não adianta clonar o Romário. Todos serão baixinhos, andarão daquele jeito e vão querer viajar nas janelas dos aviões. Vai sair briga de foice. Entre eles.

Já o meu querido amigo Eduardo Suplicy já está numa de clones há muitos anos. O Suplicy, podem reparar, não é apenas um. E, no mínimo, três. Numa mesma edição de um jornal, ele aparece em Brasília, São Paulo, Rio e ainda acorda no Pontal. E ainda escreve cartas e artigos para todos os jornais do Brasil. Eu não tenho dúvidas. O Suplicy é clonado. Acho que a Marta, minha companheira numa peça de teatro, também não é apenas uma. No caso dos dois, felizmente, o Brasil agradece.

Fico imaginando o meu clone. Magrinho, dentuço. Não sei ainda como vou chamá-lo. De filhinho, vem cá? Mas cadê o espermatozóide, pô?, perguntaria o Veríssimo. De irmão? Mas meu clone (vamos chamá-lo de Pratinha) não é filho da minha mãe. Como seria a carteira de identidade dele? Nome do pai e da mãe? Teria o meu RG e CIC? Poderia falsificar a minha assinatura? Teria um Antonio e uma Maria? Estaria escrevendo clônicas no Estadão?

Meu Deus, meu Deus, diria o clone do Castro Alves, onde estás que não respondes? Em que mundo, em que estrela tu te escondes, embuçado nos céus?

Pense bem: Jesus teria sido clone de Deus? Afinal, dizem, foi feito à sua imagem e semelhança. Creio que sim, pois, segundo reza a lenda, ele teria nascido sem o espermatozóide do pai José, mais preocupado em clonagens de marcenaria.

Onde estamos, senhor Deus, que não respondes?

É melhor se clonar de novo que a humanidade está precisando de outro Redentor. Desta vez, a gente não deixa a polícia matar ele, não.

Fonte:
100 crônicas de Mario Prata. São Paulo: Cartaz Editorial, 1997. p.69.

Mário Prata (1946)


Mario Alberto Campos de Morais Prata é natural de Uberaba (MG), onde nasceu no dia 11 de fevereiro de 1946. Foi criado em Lins, interior de São Paulo. Com 10 anos de idade já escrevia "numa velha Remington no laboratório de meu pai (...) crônicas horríveis, geralmente pregando a liberdade e duvidando da existência de Deus". Nesse período de sua vida era o redator do jornalzinho de sua classe na escola. Sendo vizinho de frente do jornal A Gazeta de Lins, com 14 anos começou a escrever a coluna social com o pseudônimo de Franco Abbiazzi. Passou, com o tempo, a fazer de tudo no jornal, desde editoriais a reportagens esportivas e artigos de peso. O escritor Sérgio Antunes, seu amigo nessa época, disse que Mário era um molecote de "voz de taquara rachada e aparelho nos dentes ".

Além de escrever Mário se dedicava ao tênis e, defendendo o Clube Atlético Linense, acabou sendo o campeão noroestino infantil na década de 60. Lia tudo o que lhe caia nas mãos, em especial as famosas revistas da época "O Cruzeiro" e "Manchete", que traziam em suas páginas os melhores cronistas da época como Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Henrique Pongetti, Rubem Braga, Millôr Fernandes e Stanislaw Ponte Preta, uma vez que em Lins, naquela época, "não chegavam os grandes clássicos", como disse o autor. Daí a forte influência que os citados cronistas tiveram em seu estilo.

Aos 16 anos recebe um convite de Roberto Filipelli, que foi depois diretor da Globo em Londres, para fazer com ele o "Jornal do Lar ". Samuel Wainer, vislumbrando seu grande talento, levou-o, nessa época, para escrever no jornal "Última Hora". Mário comenta: "Meus pais chamavam aquilo que eu escrevia de bobageiras e me previam um péssimo futuro. Medicina, Engenharia, Direito ou Banco do Brasil (eles queriam). E nada de estudar filosofia ou letras: coisa de veado". O autor acabou trabalhando 8 anos no Banco do Brasil, a exemplo de Jaguar e Stanislaw Ponte Preta — dentre outros, como auxiliar de escrita.

Na década de 60, em plena revolução, inicia o curso de Economia na U.S.P. Desse tempo relembra: "a gente se orgulhava: a gente era comunista! (...) um dia o DOPS chegou lá e levou a gente. Todo mundo preso, orgulhoso ". Apesar da opinião contrária dos familiares e dos amigos, e movido pela vontade cada vez maior de ser escritor, resolveu pedir demissão do Banco do Brasil e abandonar a faculdade de Economia.

A partir de então vem obtendo sucesso com inúmeros livros, novelas, peças, roteiros, etc., tendo sido agraciado com diversos prêmios nacionais e internacionais.

Sua estadia em Portugal, onde morou por 2 anos, deu origem a um de seus grandes sucessos no Brasil, o livro Schifaizfavoire — um tipo de dicionário do português falado pelos portugueses. Lá, nesse período, realizou diversos trabalhos para a RTP (Rádio e Televisão Portuguesa). Atualmente mora em São Paulo e diz que gosta de escrever de manhã e "careta", uma herança adquirida nos tempos em que trabalhou no Banco do Brasil.

Escreveu, semanalmente, na revista "Época" e no jornal "O Estado de São Paulo" por vários anos.

LITERATURA ADULTA

O MORTO QUE MORREU DE RIR - 1969
PRETO NO BRANCO - 1978, coletânea de contos cariocas, com vários autores.
FÁBRICA DE CHOCOLATES - 1980
CONTOS PIRANDELLIANOS - 1984, com vários autores.
RITOS DA INFÂNCIA - 1985, texto de vários autores,
BESAME MUCHO -1987, texto da peça e do roteiro cinematográfico, em parceria com Ramalho Jr.
SCHIFAIZFAVOIRE, DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS - 1993
JAMES LINS, O PLAYBOY QUE NÃO DEU CERTO - 1994
FILHO É BOM, MAS DURA MUITO, 1995
MAS SERÁ O BENEDITO?, 1996
O DIÁRIO DE UM MAGRO, 1997
100 CRÔNICAS, 1997, crônicas
MINHAS VIDAS PASSADAS (A LIMPO),1998
MINHAS MULHERES E MEUS HOMENS, 1999
OS ANJOS DE BADARÓ, 2000
MINHAS TUDO, 2001
BUSCANDO O SEU MINDINHO, 2002
PALMEIRAS: UM CASO DE AMOR, 2002
DIÁRIO DE UM MAGRO 2 - A VOLTA AO SPA
CEM MELHORES CRÔNICAS, 2007

LITERATURA INFANTO-JUVENIL

CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA - 1970
O HOMEM QUE SOLTAVA PUM - 1983
SEXTA-FEIRA, DE NOITE - 1984
A VIAGEM DE MEMOH - 1987
AS MENINAS DE VINTE ANOS - 1989
E O ZÉ REINALDO, CONTINUA NADANDO? 1989
QUADRILHA - 1990
LOVE STORY - 1990
TA ME OUVINDO, FREI VICENTE? - 1990
VESTIBULANDO - 1990
Nota: os seis últimos títulos fazem parte dos seis volumes da coleção QUEM CONTA UM CONTO, organizada por Samir Meserani, adotada em várias escolas públicas e privadas no Brasil.

TELEVISÃO

BANG BANG - 1989, projeto de novela
ELA TEM UMA PULGA ATRÁS DA ORELHA - 1974, Caso Verdade. Rede Globo.
ESTÚPIDO CUPIDO - 1976, novela, Rede Globo
SEM LENÇO, SEM DOCUMENTO - 1978, novela, Rede Globo
XICO REY - 1978, minissérie em 13 capítulos para o Canal 1, ARD da Alemanha Ocidental
DINHEIRO VIVO - 1979, novela, Rede Tupi
O RESTO É SILÊNCIO - 1981, tele-romance, baseado em Érico Veríssimo, TV Cultura.
O VENTO DO MAR ABERTO - 1981, tele-romance baseado em Geraldo Santos, TV Cultura.
MÚSICA AO LONGE - 1982, tele-romance baseado em Érico Veríssimo, TV Cultura.
O HOMEM DO DISCO VOADOR - 1983, Caso Verdade, Rede Globo
DEVOLVAM MEU FILHO - 1983, Caso Verdade, Rede Globo
AVENIDA PAULISTA - 1983, minissérie em 20 capítulos. Rede Globo.
A MÁFIA NO BRASIL - 1984, minissérie em 20 capítulos com vários co-autores, Rede Globo
UM SONHO A MAIS - 1986, novela em co-autoria com Lauro César Muniz e Dagomir Marquesi, Rede Globo
HELENA - 1987, novela em co-autoria com Dagomir Marquesi e Reinaldo Moraes, Rede Manchete. Exibida em Portugal e Alemanha Ocidental
O TESTAMENTO DO SENHOR NAPOMUCENO DA SILVA ARAÚJO - 1991, minissérie em cinco capítulos, baseada no romance do caboverdeano Germano Almeida, para a televisão portuguesa.
HOTEL EUROPA - 1991, projeto de seriado para Herman José, em Portugal.
VIVA A VIDA - 1991/2, assessoria de teledramaturgia para programa da RTP Internacional, de Portugal, para os Palop.
UM SÉCULO E SETE MULHERES - 1992, inspirada na "Trilogia do Café" de Álvaro Guerra, em 13 capítulos, para a RTP, de Portugal.
O CAMPEÃO, 1996, novela para a Rede Bandeirantes, produzida pela TVPlus.
BANG BANG - 2005, novela para a TV Globo.

TEATRO

O CORDÃO UMBILICAL - 1970
E SE A GENTE GANHAR A GUERRA? - 1971, em São Paulo
FÁBRICA DE CHOCOLATES - 1979, em São Paulo
DONA BEJA - 1980, em Belo Horizonte
BESAME MUCHO - 1982
SALTO ALTO - 1983
PURGATÓRIO, UMA COMÉDIA DIVINA - 1984
PAPAI & MAMÃE, CONVERSANDO SOBRE SEXO - Em parceria com Marta Suplicy em 1984
O CAMINHO DA ROÇA - 1990, inédita.
PILATOS: VIDA E OBRA - 1991, adaptação livre do livro homônimo de Carlos Heitor Cony. Inédita.
EU FALO O QUE ELAS QUEREM OUVIR - 2001

CINEMA

O JOGO DA VIDA E DA MORTE - 1971, diálogos
XICO REY - 1978
BESAME MUCHO - 1987
BANANA SPLIT - 1987, roteiro
O BEIJO 2348/72 - 1987
O TESTAMENTO DO SENHOR NAPUMOCENO DA SILVA ARAÚJO - 1991, baseado no romance do caboverdiano Germano Almeida, para a Opus Filmes de Portugal

JORNALISMO

A GAZETA DE LINS (colunista social, aos 14 anos; redator; editor)
ULTIMA HORA (repórter, redator, editor do UH Revista, com Samuel Wainer)
FOLHA DE S. PAULO (colaborador, cronista, repórter)
O PASQUIM (colaborador entre 72 e 73)
ISTOÉ (resenhista de literatura)
AQUI, SÃO PAULO (colaborador)
JORNAL DA TARDE, cronista, articulista, contista.
O ESTADO DE S. PAULO, cronista, articulista e autor da minissérie "James Lins", publicada em capítulos, entre novembro de 93 e fevereiro de 94)
PLAYBOY, HOMEM, LUI, STATUS, SAQUE, AZ, ÍCARO, CRIATIVA, PLACAR, MOTORSHOW, CAROS AMIGOS (artigos e contos).
ÉPOCA (cronista)

VÍDEO-FICÇÃO

ASSALTO -1987
E O ZÉ REINALDO, CONTINUA NADANDO? -1989. Exibido em Cuba, Nova Iorque, Milão, Amsterdã, Paris.
OS DOIS. 1990
SEXTA-FEIRA, DE NOITE. 1994

Fontes:
http://www.releituras.com/
Imagem = http://veja.abril.com.br/

Academia Caxiense de Letras


A Academia Caxiense de Letras foi fundada em primeiro de junho de 1962 sob as luzes do lema "CULTURA, FACHO INEXTINGUÍVEL". Em todos esses anos de existência sempre trilhou, não sem dificuldades, os caminhos iluminados pela estrela da cultura.

Abaixo, alguns de seus membros e seus trabalhos.
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Irma Buffon Zambelli

Nasceu em São Marcos / RS , filha de Adamo Nicola Buffon e Isolina Garbin Buffon. É licenciada em Geografia e História com Especialização em Folclore.Realizou inúmeros cursos na área de educação,literatura e artes.É autora das obras :A Arte nos Primórdios de Caxias do Sul, A Retrospectiva da Arte ao Longo de Um Século e Os Filhos da Arte.Participou de várias Antologias poéticas e contos com premiações como Menção Honrosa do Instituto Veneto per i Raporti con i paesi Dell América Latina El Leon de San Marco, diplomas e medalhas da Revista Brasília , Menções de outras entidades literárias e jornalísticas.Recebeu o troféu "Filhos de Migrantes" instituído pela Prefeitura Municipal de São Marcos e Capela Santo Isidoro. É membro da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e outras entidades.

O HOMEM SÁBIO
Só, sobre a ribanceira de um rio,
O homem sábio faz de seu mundo uma pausa.
E então contempla as alimarias dos bosques esquecidos.
Argumenta junto às sentinelas adormecidas
Para reviver em discursos brilhantes sua trajetória de vida.
Contudo, permanecem os enigmas.
Seu espaço alonga-se ao infinito.
Inconstante, interpreta as fórmulas e princípios
Interroga-se sobre as leis e as crenças
E adverte sobre o horizonte perdido
Na busca da verdade que selou seu destino.

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Lia Rosa Reuse

Nasceu em primeiro de março na cidade de Caxias do Sul / RS., filha de José Albino Reuse - Agente e Tesoureiro dos Correios e Telégrafos durante muitos anos e Verginia Botini Reuse, Auxiliar de Tesouraria, pelo que morou grande parte da sua vida no respectivo prédio, sendo conhecida como "A Menina dos Correios" Foi professora de Francês na Aliança Francesa , de várias matérias em escolas estaduais e particulares; responsável pelas provas vestibulares de Francês da Universidade de Caxias do Sul onde o lecionou no Curso de Letras e de Filosofia do Direito no Curso de Ciências Jurídicas. Conquistou os seguintes diplomas de estudos superiores : Língua e Literatura Francesas - Universidade de Nancy - França ; Letras-Francês, Ciências Jurídicas e Sociais, Filosofia, Psicologia. Fez estudos nas áreas de Música, Jornalismo, Especialização em Filosofia e Teologia. Foi redatora do espaço da Ordem dos Advogados do Brasil no jornal Pioneiro, produtora da revista bilíngue ( Francês/Português ) LeReLeR nos dois anos e meio em que circulou, tem textos literários publicados em revistas, jornais e antologias no Brasil e no exterior. É autora da obra A ESTRELA DE DANIEL, lançada em 1997, dos romances PRINCESINHA DA CASA VERDE, lançado em 2006, e A MENINA DOS CORREIOS; de NINHO DE ANJOS/ poesias, em 2008, e dos seguintes livros bilingues ( de sonetos em Francês traduzidos para o Português pela autora): PÉTALES DE LUMIÈRE-PÉTALAS DE LUZ, MON CORPS-UNE PENSÉE - MEU CORPO- UM AMOR PERFEITO , CHANT DE SIRÉNE AU BORD DU FANTASTIQUE - CANTO DE SEREIA Á BEIRA DO FANTÁSTICO. Em 1997 estabeleceu o primeiro contato com a ACL participando de seu I Concurso Literário com a crônica "Os Girassóis de São Pelegrino" que se classificou em 1º lugar.

COMO SEMPRE PRA SEMPRE.

Meu adeus sobrevoa um canteiro de pássaros
e saio ternamente dos fachos dos faróis
de que se vale o céu pra indicar-me a chegada
junto aos meus exalando perfumes do nevoeiro.

Sinto a felicidade dos espíritos ébrios
festejando o apogeu dos momentos bizarros
onde as macias carnes da terra preparam
a doçura de um leito de nuvens ao acaso.

Minhas pombas, meus peixes, coelhos e canários
deslizam-me nas mãos úmidas dos serenos
misteriosos desta viagem sem mala.

Meus gatos meus cães, meus amores, meus pais
flutuando ao redor recebem-me contentes:
desde sempre estivemos juntos nesta paz.

Do livro "Pétalas de Luz»

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Marlene Caon Pieruccini

Nasceu em Vacaria / RS, em 23 de abril, filha de Jordão Bruno Caon e de Norma Zanoto Caon. Desde criança demonstrou sua paixão pela leitura e pela escrita literária. Formada em Filosofia, possui o grau de Especialista em História da América Latina.Está presente em várias antologias, como "Grandes Escritores do Cone Sul", 1ª e 2ª edições (Litteris Editora, Rio de Janeiro).
Faz parte da Coleção "Poetas de Orpheu", volume 4, edição bilíngüe, português e espanhol.

EMANUEL

Em busca de um retorno, caminho.
Piso em memórias mil.
Ferem-me os espinhos da vida,
que há muito aprendi sem volta.

Diante dos meus passos,
o espaço espera a conquista.
Vazia, a caminhada cansa.
Na esperança do encontro paro.

Vou para dentro de mim.
A alma, com saudade, chora
na lembrança da sua ida.
Escuto no âmago aquelas notas musicais
que nunca escreveu
(e que jamais escreverá).

Espalha-se o som no tempo da vida,
indiferente com a pressa
com que você me deixou.
No silêncio da solidão,
sua guitarra
toca a sonata do adeus...

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Maria Dalva Chagas Ribeiro

É professora estadual aposentada.

A Academia solicitou
algo sobre minha vida
e também sobre meus versos,
coisa assim bem resumida :
Sou Maria Dalva
por nome de nascimento,
Alves-Chagas-pai e mãe,
Ribeiro por casamento.
Minha terra fica ao Sul
e mora em meu coração
pois nasci lá na fronteira,
cidade de Jaguarão.
Sempre me utilizei do verso
pra suprir qualquer seqüela.
O verso é um vaso de flor
que o povo põe na janela.
Também expresso por verso
o choro por qualquer dor,
ou então algumas vezes
pra cantar verso de amor. ( como estes : )
Em versos ontem voltei
à cidade em que morei.
Onde está o meu passado
e o futuro que sonhei ?
Onde está o antigo pátio,
meu pedacinho de chão ?
onde está meu velho quarto,
parceiro da solidão ?
Há os que falam de esperança:
...Se vieres,afastarei as folhas de outono para divisar-te
Se vieres...

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Luiz Damo

Nasceu em Casca / RS. Reside em Caxias do Sul. Participa de antologias e concursos literários, entre os quais: 1°, 3° e 4° Antologia Caxiense de Poetas, Momento Literário, vol.II, Afubespoesia,vol. I, II e III, XI e XII Antologia de Poetas e Escritores do Brasil, vol. XXVIII e XXXI, Enciclopédia Literária Brasileira Contemporânea, vol. VIII, Rio Grande Trovador I, II e III, Antologia Del Secchi, vol. IV, V, VII, VIII, IX, X e XI, Dicionário Bibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos, A Trova Literária em Caxias do Sul, Enciclopédia Literária Escritores do Ano 2000, Antologia I Concurso Grandes Nomes da Nova Literatura Brasileira, Antologia Literária Dias Reis, Antologia Literária da Unipar, vol.I e II, Antologia Literária Palavras de Amor. Participou também de concursos de fotografia.

Toda vez que retornamos
ao lugar onde nascemos,
quase sempre constatamos
que também envelhecemos.
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Maria Cardoso Zurlo

Nasceu em cinco de maio, como sua mãe em Capela do Lajeado, atual Cazuza Ferreira, terceiro distrito de São Francisco de Paula / RS, filha de Bernardino Osório Cardoso e Olívia Telles de Souza. Foi professora primária, alfabetizadora de adultos, atendente de enfermagem. Escreve, sobretudo, trovas. Participou de antologias e publicações em jornais. Abaixo, trechos de Piazito Inventor,de sua autoria :

Carrego sempre comigo
raízes do meu rincão,
do velho moinho antigo,
das farofas de pilão !

Cruzava ao lado das casas
um braço do rio Tomé !
Os gansos abriam asas
para saudar o aguapé...

Minha tropa guarnecia
como perfeitas manadas
zelando de noite e dia,
do corisco e das geadas...

Bela tropa , miniatura
dos meus sonhos de esperança !
Só restou mesmo a ternura
Do meu tempo de criança...

Infância com alegria,
felicidade no lar,
orelhando a nostalgia,
fiz do meu pago um altar !
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Maria Helena Binelli Catan

Nasceu em Pelotas / RS, filha de Mario Binelli e Aurora M.Binelli. É médica formada pela Faculdade Nacional de Medicina, Rio de Janeiro, em 1957. É filiada à Associação Internacional de Lions Clubes ; União Brasileira de Trovadores, Seção Caxias do Sul .Publicou : Luz Difusa : poemas, Trovas nas antologias Rio Grande Trovador II, Rio Grande Trovador III, A Trova Literária em Caxias do Sul.

POESIA

Tem dia que amanheço aborrecida
procuro uma razão e não encontro
queria ter motivos de alegria
mas todos são perdidos nesse instante.

Olho o tempo e sinto que faz chuva
embora brilhe o sol forte, lá fora
nas cores cinza e negra me abandono
é dia, é noite, não preciso a hora.

Um vazio intenso me atordoa
morri ? estou morrendo agora ?
não consigo pensar nesse momento
que outro , outro virá com sua história.

Lua ? Estrela ? onde estão agora ?
Não sei, eu não consigo vê-las
é dia, é noite ? qual será a hora ?
Que o dia termine e outro aconteça.
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Maria Madalena Dal Zotto Pante Fazoli

Nasceu em 26 de outubro na cidade de Caxias do Sul / RS, filha de Silvio Dal Zotto e Maria Manfron Dal Zotto. É conhecida como Helena Pante. Foi rádio-atriz nas novelas da Rádio Caxias. Durante 27 anos trabalhou como estilista nas Confecções Marisa.Também na Rádio Caxias fazia um programa sentimental denominado "Ao Cair da Tarde". Publicou poemas nos jornais Pioneiro e Correio do Povo durante vários anos e três livros de poesias: Chuva de Meus Olhos, Momentos, Sempre Amor (3 edições). Trabalhou como atriz em peças teatrais.

SE O AMOR CHEGAR

Se um dia o amor chegar em tua porta,
Acolhe-o sorrindo, sem perguntar-lhe nada.
Vive e ama, o resto pouco importa,

Desfruta apenas o prazer de ser amada.
Oferta teu carinho, sem nada pedir,
Faze de tua vida,ternura e emoção,

O que importa é poder sentir,
Que alguém ocupa teu coração.
E dando amor em troca de outro amor,

Irás sorrindo mesmo sem querer,
Colhendo a vida em cada flor,
Tu sentirás a glória de viver.
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Fonte:
http://paginas.terra.com.br/arte/reuse/

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Comemoração dos 100 anos das Casas Pernambucanas em Itú

ITU - No próximo domingo, 16 de novembro, haverá um evento na Praça do Carmo em comemoração aos 100 anos das Casas Pernambucanas. A previsão para início das festividades é às 8h30 com um Passeio Ciclístico e o encerramento às 16h30 com um show de música sertaneja. Serão diversas atividades: shows musicais, dança, brinquedos, pintura de rosto, tatuagens e um Cantinho da Leitura promovido em parceria entre a Pernambucanas, Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima e Hip Hop em Ação.

Para Viola BN, coordenador do Hip Hop em Ação, a união do Hip Hop com a educação é essencial no desenvolvimento da criança e do adolescente. "Fizemos questão que a Biblioteca Comunitária estivesse presente no evento, assim teremos várias opções de lazer, entretenimento e cultura, todas no mesmo local". José Renato Galvão, da Biblioteca Comunitária, complementa: "As crianças, jovens e adultos terão um domingo diferente na Praça do Carmo; poderão passear, brincar e usufruir de parte do acervo da biblioteca que estará a disposição de todos: livros, revistas, gibis e fanzines".

100 anos de uma história bem brasileira

Em 1855, Herman Theodor Lundgren desembarca no Brasil, vindo da Suécia. Estabeleceu-se em Pernambuco como corretor e agente de navios. Empreendedor obstinado, dedicava-se à importação e exportação de produtos como cera de carnaúba, sal e peles de animais. Em 1866, Herman funda em Pernambuco a Fábrica de Pólvora S/A Pernambuco Powder Factory. Em 1904, compra a Companhia de Tecidos Paulista e entra na indústria têxtil. Em 1908, é aberta a primeira Casas Pernambucanas.

Os anos foram passando, o Brasil passou por várias transformações e a Pernambucanas continuou a imprimir sua marca por onde passou, com ações administrativas e comerciais inovadoras, marketing atuante com o surgimento de novas mídias, ousadia na inclusão de novos negócios e inauguração de dezenas de novas lojas. Atualmente são 283 pontos de venda distribuídos em sete estados brasileiros. Hoje, pode-se dizer que, desde a sua fundação, a Pernambucanas anda de mãos dadas com o desenvolvimento econômico nacional e faz parte da história recente do país.

Fontes:
Texto e fotos de José Renato M. Galvão, presidente da Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima. (por e-mail)
Imagens = http://br.geocities.com/ (anúncios antigos)
http:// http://www.ecin.com.br/

Graciliano Ramos (O relógio do hospital)

Pintura de Salvador Dali
O médico, paciente como se falasse a uma criança, engana-me asseverando que permanecerei aqui duas semanas. Recebo a notícia com indiferença. Tenho a certeza de que viverei pouco, mas o pavor da morte já não existe. Olho o corpo magro estirado no colchão duro e parece-me que os ossos agudos, os músculos frouxos e reduzidos, não me pertencem.

Nenhum pudor. Alguém me estendeu uma coberta sobre a nudez.

Como é grande o calor, descobri-me, embora estivessem muitas pessoas na sala. E não me envergonhei quando a enfermeira me ensaboou e raspou os pêlos do ventre.

Ao deitar-me na padiola, deixei os chinelos junto da cama; ao voltar da sala de operações, não os vi.

O médico se dirige em linguagem técnica a uma mulher nova, e ela me examina friamente, como se eu fosse um pouco de substância inerte, diz que os meus sofrimentos vão ser grandes.

Por enquanto estou apenas atordoado. Aquela complicação, tinir de ferros, máscaras curvadas sobre a mesa, o cheiro dos desinfetantes, mãos enluvadas e rápidas, as minhas pernas imóveis, um traço na pele escura de iodo, nuvens de algodão, tudo me dança na cabeça. Não julguei que a incisão tivesse sido profunda. Uma reta na superfície. Considerava-me quase defunto, mas no começo da operação esta idéia foi substituída por lembranças da aula primária. Um aluno riscava figuras geométricas no quadro-negro.

Morto da barriga para baixo. O resto do corpo iria morrer também, no dia seguinte descansaria no mármore do necrotério, seria esquartejado, serrado.

Fechei os olhos, tentei sacudir a cabeça presa. Uma cara me perseguia, cara terrível que surgira pouco antes, na enfermaria dos indigentes. Eu ia na padiola, os serventes tinham parado junto a uma porta aberta - a grade alvacenta aparecera, feita de tiras de esparadrapo, e, por detrás da grade, manchas amarelas, um nariz purulento, o buraco negro de uma boca, buracos negros de órbitas vazias. Esse tabuleiro de xadrez não me deixava, era mais horrível que as visões ferozes do longo delírio.

O trabalho dos médicos iria prolongar-se, cacete, meses e meses, ou findaria vinte e quatro horas depois, no necrotério? Cortado em pedaços, uma salmoura esbranquiçada cheirando a formol, o atestado de óbito redigido à pressa, um cirurgião de mangas arregaçadas lavando as mãos, extraordinariamente distante de mim.

Agora espero os sofrimentos anunciados. Um gemido fanhoso de relógio fere-me os ouvidos e fica vibrando. Insensível, olho as pernas compridas, a dobra que entre elas se forma na coberta. Outras pancadas vaga rosas tremem, abafando os cochichos que fervilham na sala. Parece-me virem juntas à primeira: a meia hora decorrida perdeu-se.

Inércia, um vácuo enorme, o prognóstico da mulher nova ameaçando-me. Sono, fadiga, desejo de ficar só. Alguém se debruça na cama, encosta a orelha ao meu coração. Furam-me o braço, uma agulha procura lentamente a veia.

Escuridão, silêncio. Depois um instrumento de música a tocar, a sombra adelgaçando-se, telhados, árvores e igrejas esboçando-se à distância. Tenho a sensação de estar descendo e subindo, balançando-me como um brinquedo na extremidade de um cordel.

A dormência prolongada pouco a pouco se extingue. Os dedos dos pés mexem-se, em seguida os pés, as pernas - e enrosco-me como um verme. Uma angústia me assalta, a convicção de que me aleijaram. Esta idéia é tão viva que, apesar de terem voltado os movimentos, afasto a coberta, para certificar-me de que não me amputaram as pernas. Estão aqui, mas ainda meio entorpecidas, e é como se não fossem minhas.

As idas e vindas, as viagens para cima e para baixo, cansam-me demais, penso que uma delas será a última, que o cordel vai quebrar se, deixar-me eternamente parado.

Noite. A treva chega de repente, entra pelas janelas, vence a luz da lâmpada. Uma friagem doce. A chuva açoita as vidraças. Durmo uns minutos, acordo, adormeço novamente. Neste sono cheio de ruídos espaçados – rolar de automóveis, um canto de bêbado, lamentações dos outros doentes - avultam as pancadas fanhosas do relógio. Som arrastado, encatarroado e descontente, gorgolejo de sufocação. Nunca houve relógio que tocasse de semelhante maneira. Deve ser um mecanismo estragado, velho, friorento, com rodas gastas e desdentadas. Meu avô me repreendia numa fala assim lenta e aborrecida quando me ensinava na cartilha a soletração. Voz autoritária e nasal, costumada a arengar aos pretos da fazenda, em ordens ásperas que um pigarro interrompia. O relógio tem aquele pigarro de tabagista velho, parece que a corda se desconchavou e a máquina decrépita vai descansar.

Bem. Daqui a meia hora não ouvirei as notas roucas e trêmulas.

Vultos amarelos curvam-se sobre a cama, que sobe e desce, levantam-me, enrolam-me em pastas de algodão e ataduras, esforçam-se por salvar os restos deste outro maquinismo arruinado. Um líquido acre molha-me os beiços. Serventes e enfermeiros deslocam-se com movimentos vagarosos e sonâmbulos, a luz esmorece, dá aos rostos feições cadaverosas.

Impossível saber se é esta a primeira noite que passo aqui. Desejo pedir os meus chinelos, mas tenho preguiça, a voz sai-me flácida, incompreensível. E esqueci o nome dos chinelos. Apesar de saber que eles são inúteis, desgosta-me não conseguir pedi-Ias. Se estivessem ao pé da cama, sentir-me-ia próximo da realidade, as pessoas que me cercam não seriam espectrais e absurdas. Enfadam-me, quero que me deixem. Acontecendo isso, porém, julgar-me-ia abandonado, rebolar-me-ei com raiva, pensa rei na enfermeira dos indigentes, no homem que tinha uma grade de esparadrapos na cara.

Silêncio. Por que será que esta gente não fala e o relógio se aquietou? Uma idéia acabrunha-me. Se o relógio parou, com certeza o homem dos esparadrapos morreu. Isto é insuportável. Por que fui abrir os olhos diante da amaldiçoada porta? Um abalo na padiola, uma parada repentina - e a figura sinistra começara a aperrear-me, a boca desgovernada, as órbitas vazias negrejando por detrás da grade alvacenta. Por que se detiveram junto àquela porta? Dois passos aquém, dois passos além - e eu estaria livre da obsessão.

O relógio bate de novo. Tento contar as horas, mas isto é impossível.

Parece que ele tenciona encher a noite com a sua gemedeira irritante.

Doutor Queirós, principiando a falar, não acaba: é um palavreado infinito que nos enjoa, nos deixa embrutecidos, mudos, mastigando um sorriso besta de cumplicidade.

Felizmente o homem dos esparadrapos vive. Repito que ele vive e caio num marasmo agoniado. No silêncio as notas compridas enrolam se como cobras, estiram-se pela casa, invadem a sala, arrastam-se devagar nos cantos, sobem a cama onde me agito apavorado. Que fim levaram as pessoas que me cercavam? Agora só há bichos, formas rastejantes que se torcem com lentidão de lesmas. Arrepio-me, o som penetra-me no sangue, percorre-me as veias, gelado.

As vidraças, a chuva, os ruídos, sumiram-se. Há uma noite profunda, um céu pesado que chega até a beira da minha cama. As coisas pegajosas engrossam, vão enlaçar-me nos seus anéis. Tento esquivar-me ao abraço medonho, revolvo-me no colchão, grito.

Aparecem de novo as figuras atentas, lívidas. A beberagem acre umedece-me a língua seca, dura como língua de papagaio.

- Obrigado.

Puxo a coberta para o queixo, o frio diminui. Há um rio enorme, precipícios sem fundo - e seguro-me a ramos frágeis para não cair neles.

Ouço trovões imensos. Volto a ser criança, pergunto a mim mesmo, que seres misteriosos fazem semelhante barulho. Meus irmãos pequenos iam deitar-se com medo, minhas tias ajoelhavam-se diante do oratória, a chama das velas tremia, as contas dos rosários chocavam-se como bilros de almofadas, um sussurro de preces enchia o quarto dos santos.

Por que estão chiando aqui perto de mim? Estarão rezando? Não houve trovões. Nuvens brancas e altas correm por cima das árvores, das igrejas, do telhado da penitenciária. Olho os tipos que me rodeiam. Afastam-se, falam em voz baixa, presumo que me espiam desconfiados. Acham-me com certeza muito mal, pensam que vou morrer, procuram decifrar as palavras incoerentes que larguei no delírio. Envergonho-me. Terei dito segredos e inconveniências?

Desejo atraí-Ias, conversar, mostrar que sou um indivíduo razoável e as maluquices do sonho findaram. Mas a linguagem foge. Procuro chamá-las com um gesto, a mão tomba-me sobre o peito, uma fraqueza paralisa-me.

Certamente estou há dias entre a vida e a morte. Agora a febre diminuiu e os monstros que me perseguiam se desmancharam. As dores do ferimento são intoleráveis. Inclino-me para um lado e para outro, certifico-me de que não me trouxeram os chinelos, imagino que vou agüentar uma eternidade de martírios.

Gritos agudos de criança rasgam-me os ouvidos, como pregos.

Querem ver que a minha operação foi ontem e ficarei aqui amarra do semanas ou meses?

Uma balada corta-me o pensamento. Estremeço: parece que ela me chegou aos nervos através da ferida aberta, me entrou na carne como lâmina de navalha.

Aqueles soluços desenganados devem vir da enfermeira dos indigentes, talvez o homem dos esparadrapos esteja chorando. Com esforço, consigo encostar as palmas das mãos nas orelhas. Desejo ficar assim, mas a posição é incômoda, os braços fatigam-me, o choro escorrega-me entre os dedos. Se não fosse isto, distrair-me-ia vendo as árvores, o céu, os telhados, falaria aos enfermeiros e aos serventes.

Que desgraça estará sucedendo? Deixo cair os braços, os uivos lastimosos da criança recomeçam, as minhas dores crescem, dão-me a certeza de que os médicos atormentam um pequenino infeliz. Penso nos vagabundos miúdos que circulam nas ruas, pedindo e furtando, sujos, esfrangalhados, os ossos furando a pele, meio comidos pela verminose, as pernas tortas como paus de cangalhas. Talvez estejam consertando uma daquelas pernas.

Os gritos baixam, transformam-se num estertor.

- Por que bolem com aquela criança?

A enfermeira avizinha-se, espera que eu repita a pergunta. Aborreço me por não me haver feito compreender, viro-me com dificuldade e minutos depois ouço os passos da mulher, que se afasta nas pontas dos pés.

Fará somente vinte e quatro horas que me deixaram aqui derreado? Somo: vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas. Talvez uns três dias. Isto, setenta e duas horas. Os chinelos desapareceram: ficarei provavelmente um mês, dois meses. Multiplico: sessenta dias, mil quatrocentos e quarenta horas. Fatigo-me, e a conta se complica, ora apresenta um resultado, ora outro. Convenço-me afinal de que são mil quatrocentos e quarenta horas. É bom que a ferida se agrave e me mate logo. Dois meses de tortura, um tubo de borracha atravessando-me as entranhas, visões pavorosas, os queixumes dos indigentes que se acabam junto ao homem dos esparadrapos. Duas mil oitocentas e oitenta vezes o relógio caduco de peças gastas rosnará, ameaçando-me com acontecimentos funestos. Sessenta dias de imobilidade, o pensamento a emaranhar-me em cipoais obscuros.

Os gritos da criança elevam-se, o calor aumenta, as árvores e os telhados aproximam-se.

Lá estão novamente as horas a pingar do corredor como de uma torneira, gotas pesadas escorrendo lentas.

Gargalhadas na rua, barulho de automóvel, o pregão de um vendedor ambulante. Talvez o automóvel seja do médico que me vem fazer o curativo. Não é, passou com um ronco de buzina. Agora o que há são rufos de tambor, vozes de comando.

O berro do vendedor ambulante caiu na sala de supetão e ficou rolando, misturado ao choro dos indigentes e ao rumor de ferros na autoclave.

- Porcaria, tudo uma porcaria.

Zango-me. Não me tratam, deixam-me acabar à míngua, apodrecer como um corpo morto. Silêncio demorado. Penso na criança e no homem que se esconde por detrás da máscara de esparadrapo.

- Como vai o menino?

A enfermeira responde-me que vai bem, mas certamente procura iludir-me. Há um cadáver miúdo perto daqui, vão despedaçá-lo na mesa do necrotério, os serventes levarão a roupa suja para a lavanderia. Um colchão pequeno dobrado na cama estreita.

As vozes de comando, os rufos, o pregão do vendedor ambulante o rumor dos ferros na autoclave, fazem-me falta. Convenço-me de que o silêncio é de mau agouro. Quando ele se quebrar, uma infelicidade surgirá de repente, não poderei livrar-me dela. O suor corre-me na cara. O primeiro som que vier anunciará desgraça, essa idéia desarrazoada não me larga. Reprimo um acesso de tosse, acredito que ele é indício de hemoptises abundantes.

Começo a perceber um toque-toque surdo, tropel de cavalo cansado. Naturalmente é o sangue batendo-me nos ouvidos. Um coração quase inútil finda a tarefa maçadora.

O cadáver pequeno vai ser transformado em peças anatômicas.

Toque-toque. Não é o sangue, é qualquer coisa que vem de fora, provavelmente do corredor. Duas pancadas próximas, uma distanciada, andadura irregular de bicho que salta em três pés. Ainda há pouco estava tudo calmo. De repente o relógio velho começou a mexer-se e a viver.

Cerro os olhos, digo a mim mesmo que me fatigo à toa, bocejo, tento lembrar-me de fatos que julgo importantes e logo se tomam mesquinhos. Afinal não veio a desgraça. Vou restabelecer-me em poucos dias. Vou restabelecer-me, passear nas ruas, entrar nos cafés. Se não tivessem levado os chinelos, convencer-me-ia de que não estou muito doente.

Procuro dormir, esquecer tudo, mas o relógio continua a martelar-me a cabeça dolorida. Espero em vão o fonfonar de um automóvel, a cantiga de um bêbado, as vozes de comando, o rumor dos ferros na autoclave. Tenho a impressão de que o pêndulo caduco oscila dentro de mim, ronceiro e desaprumado.

Os infelizes calaram-se, todos os sofrimentos esmoreceram, fundiram-se naquela voz áspera e metálica.

Os meus braços descarnados movem-se como braços de velho. Passo os dedos no rosto, sinto a dureza dos pêlos, as faces cavadas, rugas. Se tivesse um espelho, veria esta fraqueza e esta devastação.

Velhinho, trocando as pernas bambas nas calçadas. Olho as pernas finas como cambitos. A vista escurece. Velhinho, arrimado a um cacete, balbuciando, tropeçando. Toque-toque - o cajado a bater nos paralelepípedos.

O pensamento escorrega de um objeto para outro. A barba crescida deve ter ficado branca, o pescoço engelhou como um pescoço de galinha.

A mulher desapertava a roupa, despia-se cantando, e eu me conservava distante, encabulado, tentando desamarrar o cordão do sapato, que tinha dado um nó. Não podia descalçar-me e olhava estupidamente um despertador que trabalhava muito depressa. Os ponteiros avançavam e o laço do sapato não queria desatar-se.

O professor explicava a lição comprida numa voz dura de matraca, falava como se mastigasse pedras.

O político influente entregava-me a carta de recomendação. Eu gaguejava um agradecimento difícil, atrapalhava-me por causa da datilógrafa bonita, descia a escada perseguido pelos óculos de um secretário e pelo tique-taque da máquina de escrever.

Tudo se confunde. A rapariga que se despia, o professor, o político, misturam-se. A criança doente, os enfermeiros, os médicos, o homem dos esparadrapos, não se distinguem das árvores, dos telhados, do céu, das igrejas.

Vou diluir-me, deixar a coberta, subir na poeira luminosa das réstias, perder-me nos gemidos, nos gritos, nas vozes longínquas, nas pancadas medonhas do relógio velho.

Fonte:
SALES, Herberto (org.) Antologia de Contos Brasileiros. São Paulo: EDIOURO, 2005. p. 141-148.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Prêmios Literários Cidade de Manaus 2008

Em apenas três anos os Prêmios Literários Cidade de Manaus tornaram-se um dos mais importantes concurso do País até pelo número de categorias que envolve. A afirmação foi feita pelo presidente do Conselho Municipal de Política Cultural (Concultura) ao fazer o anúncio dos vencedores da terceira edição do concurso que este ano recebeu 536 inscrições distribuídas em 16 categoriais, e 492 concorrentes ao prêmio de R$ 5 mil para cada vencedor e a publicação do livro pela Editora Muiraquitã.

O evento foi realizado no auditório do Parque do Mindu e contou com a participação de secretários municipais e de estudantes da rede municipal de ensino.

Na primeira parte do evento, os participantes ouviram clássicos do Chorinho brasileiro executados pelos músicos Rinaldo Buzaglo (violão) e Carlos Ribeiro (flauta).

As categorias contempladas este ano envolveram entre outras poesias, contos, romance, teatro infantil e adulto, crônica, ensaio, folclore, cinema, jornalismo literário, memória e literatura infantil.

Dança e ensaio sobre artes plásticas, outras duas categorias que fazem parte do prêmio, este ano ficaram de fora da disputa porque não houve um número suficiente de participantes.

De acordo com as regras estabelecidas para a disputa dos Prêmios Literários Cidade de Manaus, é preciso ter o mínimo de três participantes.

Segundo Aníbal Beça, foram recebidas inscrições de vários Estados do Brasil e de outros países como França, Suíça, Portugal e Peru.

“A exigência é que os trabalhos fossem inscritos em língua portuguesa”, explicou o presidente do Concultura.

Projetos vencedores

“A entrega dos prêmios e a publicação do livro são projetos vencedores que fazem parte da plataforma da atual administração municipal e isso fez toda a diferença”, destacou Aníbal Beça, adiantando que quando os livros são publicados, parte da edição é enviada para as escolas municipais.

“Fico feliz quando me dizem que foi criado um clube de leitura e que crianças e jovens estão lendo os livros oriundos dos Prêmios Literários”, acrescentou.

Os livros são enviados também para a biblioteca das cidades dos Estados que tiveram participantes vencedores.

O secretário municipal de Governo, Marcus Barros, destacou a importância desse projeto para as crianças e jovens de Manaus uma vez que os livros dos ganhadores passam a fazer parte da biblioteca da escola.

“A distribuição desses livros para as escolas serve de estímulo para que as crianças e os jovens aprendam a gostar de ler”, disse Marcus Barros.

Relação das obras vencedoras dos prêmios literários Cidade de Manaus 2008

I – PRÊMIO ÁLVARO MAIA- Livro de romance ou novela.
Obra vencedora: Asas Livres
Autora: Nelsi Inês Urnau
Canoas - RS

II - PRÊMIO ARTUR ENGRÁCIO- Livro de contos.
Obra vencedora: Alegrias E Alegorias
Autor: Sulivan Antonio Bressan
Porto Alegre - RS

III-PRÊMIO VIOLETA BRANCA MENESCAL - Livro de poesia.
Obra vencedora: Palimpsestos
Autor: Marco Aurélio Pinotti Catalão
Campinas - SP

IV-PRÊMIO PÉRICLES MORAIS - Livro de crônica.
Obra vencedora: Perfume Para Madame Rosa
Autora: Célia Maria Albino Maciel
Porto Alegre - RS

V- PRÊMIO ALDEMAR BONATES - Texto teatral para adultos.
Obra vencedora: Mandacaru Selvagem
Autor: Leandro Tabosa do Nascimento
Recife - PE

VI-PRÊMIO ÁLVARO BRAGA- Texto de teatro infantil.
Obra vencedora: Valentim E O Boizinho De São João
Autor: Jadson Ricardo Alves de Araújo
Recife - PE

VII-PRÊMIO SAMUEL BENCHIMOL- Livro de ensaio sócio – econômico.
Obra vencedora: Indicadores Sociais No Amazonas: Contrastes Na Urbanização Da Capital E Do Interior
Autor: Norma Maria Bentes de Sousa
Manaus - AM

VIII- PRÊMIO MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO - Folclore
Obra vencedora: Vaqueiros E Currais – Histórias, Folclore E Tradições
Autor: Luiz Francisco da Rocha
Teresina - PI

IX- PRÊMIO ARTHUR REIS - Ensaio histórico.
Obra vencedora: Leitor Colonial, Esse Brasileiro
Autor: Jorge de Sousa Araújo
Ilhéus - BA

X – PRÊMIO LUIZ RUAS - Ensaio sobre literatura ( letras ).
Obra vencedora: Poética Da Distenção
Autor: Paulo Cezar Silva de Oliveira
Rio de Janeiro - RJ

XI- PRÊMIO GUALTER LIMONGI BATISTA- Ensaio artes plásticas.
Só houve uma inscrição, de acordo com o regulamento dos prêmios em seu artigo 11, só haverá concurso com mais de duas obras inscritas, portanto, não houve disputa nesta categoria.

XII- PRÊMIO COSME ALVES NETO – Ensaio sobre cinema
Obra vencedora: Cinema Nacional E World Cinema – Globalização, Exclusão E Novas Tecnologias Na Produção Audiovisual Brasileira.
Autora: Luiza Francisco Lusvargui
Recife - PE

XIII- PRÊMIO ÁUREO NONATO – Livro de memória
Obra vencedora: Nem Tudo É Memória
Autor: Getúlio Geraldo Rodrigues Alho
São Carlos - SP

XIV- PRÊMIO PAULO BARAHÚNA – Ensaio sobre dança
NÃO HOUVE INSCRIÇÃO NESTA CATEGORIA

XV- PRÊMIO CLÓVIS BARBOSA – Jornalismo literário
Obra vencedora: 1º DE JANEIRO DE 2003 – A Festa Do Povo Pouco Se Viu.
Autor: Yuseff Bezerra Abrahim
Manaus - AM

XVI- PRÊMIO ALFREDO FERNANDES – Literatura infantil
Obra vencedora: O Bôto Côr De Rosa E O Jacaré Do Rabo Cotó.
Autor: Pedro Lucas Lindoso
Manaus – AM
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Nelsi Urnau, escritora canoense que integra a Casa do Poeta de Canoas e a ACE- Associação Canoense de Escritores, conquistou o 1º lugar com o romance "Asas Livres" no "Prêmios Literários Cidade de Manaus" do Conselho Municipal de Política Cultural da Prefeitura de Manaus/AM. Nelsi, que concorreu com autores do Brasil, França, Suiça, Portugal e Perú, receberá, além de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a publicação do seu livro pela Editora Muiraquitã. Nelsi Urnau é professora do ensino público municipal de Canoas e autora dos livros "Loucos não Insanos" (romance), "Zé Toquin" e "Cecília e amigos" (literatura infantil). Em 2008, foi patrona da 1ª Feira do Livro da EMEF Ceará e da Feira do Livro de Nova Santa Rita.
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Fontes:
http://www.manaus.am.gov.br/noticias/manchete/
http://www.casadospoetas.com.br
Imagem de Manaus =
http://manausemnoticia.blogspot.com

Nilto Maciel (Literatura Fantástica no Brasil - Parte Final)



OS NOVOS

Assis Brasil subdividiu a Literatura Brasileira neste século em Pré- Modernismo (1909–1922), Modernismo (1922–1955) e Nova Literatura (1956–1976). No caso específico deste esboço histórico da literatura fantástica no Brasil, ousaremos chamar de “novos” aqueles escritores que estrearam em livro no final dos anos 1960. Critério puramente didático, sem deixar de lado a cronologia. E embora alguns ficcionistas que surgiram no início do século, e que chamamos de “sucessores”, tenham continuado ou continuem escrevendo e publicando.

Vejamos, pois, um a um, os mais importantes novos cultores do fantástico no Brasil.

Edla van Steen apresentou ao público seu primeiro livro em 1965. O romance Corações Mordidos é de 1983 e sobre ele Telenia Hill escreveu o artigo “Realismo Mágico de Edla van Steen”. É dele este trecho: “Do realismo minucioso, que se registra com a dimensão do contemporâneo, transita-se para um realismo mágico, em que as coisas acontecem inexplicavelmente, criando uma atmosfera de surrealidade.”

Luiz Vilela estreou em 1967, com os contos de Tremor de Terra.

Analisando o terceiro livro do contista, Assis Brasil sustenta: “E sua versatilidade se faz sentir mais uma vez, quer quando explora a temática erótica, como em Ousadia, quer no conto que dá título ao volume, Tarde da Noite, onde mistura o real com o fantástico e tira deste “jogo” subsídios para situar a vida morna e parada de um casal.”

Também Temístocles Linhares se atém ao fantástico na obra de Vilela: “– Não sei bem se podemos classificá-lo como contista do fantástico infantil. Mas muita coisa da atração que a criança tem pelo mistério, pelo espírito de aventura, por certos valores ambíguos, perpassa por estas páginas. Na verdade, o fantástico e o real são vividos pela criança como sucede nestes contos. Visivelmente os dois estados transparecem em algumas personagens do livro. O primeiro conto se inicia com a declaração de uma delas que dizia ter visto o demônio quando tinha oito anos. A parte fantástica, porém, logo se alterna ou mistura com a real, diante do padre, da igreja, do pedido feito à Virgem, cuja imagem era vesga e que fez o menino disparar de riso e da igreja. Não era só o diabo, contudo, que aparecia à noite. Também o avô barbudo e forte imprimia em sua figura os dois lados, o real e o fantástico.”

Juarez Barroso, que faleceu em 1976, havia inaugurado sua obra em 1969, com Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal.

Após ressaltar o regionalismo na obra do escritor de Baturité, o crítico Temístocles Linhares se detém num dos contos de seu primeiro livro: “O conto melhor do livro, a meu ver, é precisamente o mais extenso, onde não se vê sombra desse linguajar inculto. E onde o “fantástico” se mostra em cena culminante. O conto se intitula “Estória de D. Nazinha e de seu cavalo encantado” e o fantástico, como elemento macabro e mórbido, está. na descrição da corrida interminável do Capitão, o marido de D. Nazinha, em frente de seu quarto, na fazenda, que montava o cavalo milagroso por ele dado de presente à mulher, agora castigada no seu orgulho e progênie (...)"

Elias José teve o primeiro livro A Mal-Amada editado em 1970. Temístocles Linhares dedica-lhe um capítulo inteiro de seus 22 Diálogos. Para ele os mini-contos de A Mal-Amada não chegariam a ser contos, se não fosse o “fantástico” deles. E conclui: (...) “os melhores contos do livro são os da segunda parte, onde o “fantástico” se mostra mais débil, e eles assentam em outros elementos dramáticos, bastante intensos também, como esse da incompreensão entre os homens. Os contos de grande categoria do livro prescindem totalmente do “fantástico”.

Note-se, ainda, a seguinte observação do crítico paranaense: (...) “pode arrolar estes contos entre os “fantásticos”, pois o fantástico se mostra em muitos deles, em muitas de suas passagens, embora não seja desejo do autor, quero crer, permanecer no reino do mistério como seu iniciado.”

Ricardo L. Hoffmann fez sua estréia em 1967, porém sua “experiência plena” viria em 1971, com A Crônica do Medo, “onde passa da visão provinciana do grupo familiar a um “laboratório” da experiência humana, num romance algo fantástico, cruel, irônico”, no dizer de Assis Brasil.

Diz ainda esse crítico: “Longe de ser um romance objetivo, Hoffmann entra mais agora, decididamente, na área de uma ficção mágica, que tem caracterizado a novelística brasileira dos últimos anos. Naquela estranha casa tem lugar a “fervura” de todos os sentimentos humanos, num cadinho onde as paixões são jogadas, numa linhagem que por vezes lembra o sombrio Edgar Allan Poe de A Queda da Casa de Usher.”

Victor Giudice estreou com Necrológico, em 1972. Segundo Hohlfeldt, “desde a estréia, Giudice primou pela ironia e até mesmo o humor-negro, seja na temática da morte, que atravessa todo este volume, seja pela organização formal dos contos...” Exemplo claro desse humor-negro e o conto O Arquivo, onde um burocrata, de redução salarial em redução salarial, de rebaixamentos de postos em rebaixamentos de postos, vai, pouco a pouco, se metamorfoseando em coisa, até terminar num simples arquivo.

No prefácio de Os Banheiros, segundo livro de Giudice, saído em 1979, diz Elizabeth Lowe: “Todo o humorista é um moralista disfarçado, e as histórias de Victor Giudice, quase sempre, são acentuadamente alegóricas. Por baixo da pintura, do cetim e do brilho do mundo do Pierrot, encontra-se a poeira das ilusões fugazes. Assim como fez com a linguagem, Giudice também corporifica a moral.”

Francisco Sobreira Bezerra iniciou-se em livro com os contos de A Morte Trágica de Alain Delon, em 1972. No segundo livro, A Noite Mágica, o absurdo é o ingrediente principal da iguaria narrada. Às vezes um absurdo que, de tão cotidiano, perde o sabor de coisa literária. No conto “A Lâmina”, por exemplo.

Outras vezes, o absurdo apresenta-se como se o personagem fosse apenas um deficiente mental, incapaz de perceber o que ocorre ao seu redor, manejado por tentáculos tão torturantes quanto os fantasmas dos pesadelos. A realidade marrada aproxima-se, então, do sonho. Os protagonistas e os espectadores são meros joguetes nas malhas de seres todo-poderosos. Não é por outra razão que em certos contos desse livro a presença do elemento onírico e perfeitamente perceptível ou mesmo preponderante. Os atos e as imagens se sucedem de forma incoerente, deixando o personagem simplesmente perplexo, espantado diante da estranha realidade que vive e de que tenta desesperadamente fugir. Antes, reduz à condição de ficção, de brincadeira de mau gosto, de encenação, quando muito de logro, a peça que lhe pregam. Não acredita ser possível tão absurda realidade. Por fim se convence e tenta fugir. Mas já é tarde.

Nagib Jorge Neto teve editado seu primeiro livro, O Presidente de Esporas, em 1972. Hermilo Borba Filho chegou a dizer que o contista conseguira fundir “o realismo-fantástico, o sonho, o poético, a linguagem nova numa escrita correta de gente e terra que se aproxima, e muito, da mais extraordinária literatura latino-americana de agora” (...)

O segundo livro de Nagib, As três princesas perderam o encanto na boca da noite, publicado em 1976, saiu com uma substancial análise crítica de Ivan Cavalcanti Proença. Depois de esquadrinhar palmo a. palmo a estória-título, constata o crítico: “Em O Presidente de Esporas, que passou despercebido do grande público e da crítica, possivelmente dos mais importantes livros de contos dos últimos tempos, sem “boom” (o que equivale a dizer sem festividades), sem mais nada, a gente já encontrava o material que, aqui, vai ampliar-se e ganhar novas roupagens em alegorias mais ou menos favorecedoras de uma retomada do real.”

Cláudio Aguiar começou em 1972, com os contos de Exercício para o Salto. Seu grande passo foi dado, porém, com o romance Caldeirão, de 1982.

Para Dimas Macedo, trata-se da maior epopéia brasileira depois de Grande Sertão: Veredas e Sargento Getúlio. Quanto a defini-lo como romance fantástico, vale lembrar o parágrafo em que falamos das semelhanças entre certos acontecimentos reais e fatos narrados em obras de ficção. Ora, o fantástico não é o irreal, o nunca acontecido, o impossível. Os acontecimentos de Caldeirão são obra dos homens em sociedade. Transfigurados em ficção, adquirem uma conotação maravilhosa, mágica, absurda.

Gilmar de Carvalho publicou o primeiro livro, Pluralia Tantum, subtitulado “um livro de legendas”, em 1973. Na orelha do livro escreveu Juarez Barroso: “Seu estilo é clássico, sua narração, fabular, levemente borgeana.” E mais adiante: “Gilmar não escreve contos. O conto, por mais de vanguarda que seja, tem a sua disciplina, sua forma de discurso. Gilmar é um compositor de cantos em prosa, discípulo remoto do Rei Salomão” (...).

Dimas Macedo diz: “Sua concepção borgeana e, portanto, inusitada do apreender a concretude do universo ficcional, aliada a uma refinada capacidade de resgatar o insólito através de recursos estilísticos alegorizantes, tudo isso tem concorrido para emprestar à produção 1iterária de Gilmar de Carvalho uma situação privilegiada entre o inventário dos seus contemporâneos de geração.”

O grande momento de Gilmar de Carvalho é, no entanto, Parabelum, de l977. Para muitos, um grande romance. Para outros, uma formidável obra literária sem gênero definido.
Nilto Maciel publicou o primeiro livro, Itinerário, em 1974.

Em artigo incluído em Textos & Contextos, Francisco Carvalho observou: “Nunca será demais louvar-lhe a extrema habilidade em conduzir a fabulação das narrativas e o desenvolvimento harmonioso das situações ficcionais, muitas vezes transportadas ao plano do chamado realismo fantástico.” E mais adiante: (...) “também cultiva, em altíssimo grau, gosto acentuado pela arquitetura dos labirintos e pela recriação de temas literários da antiguidade clássica, sobretudo na esfera da mitologia, chegando a ombrear-se nesse tocante com o engenhoso Jorge Luís Borges” (...).

Referindo-se especificamente ao livro As Insolentes Patas do Cão, Francisco Carvalho faz mais duas observações que nos interessam aqui: “O conto Ilusões de Gato e Rato (p. 42) possui todos os ingredientes de uma fábula moderna, onde o bichano encarna a selvageria do poder, e o rato faz às vezes de vítima indefesa. É uma história com todas as implicações alegóricas de uma narrativa kafkiana.” (...) “Um fato que desperta a curiosidade do leitor é a presença ostensiva de gatos e ratos na ficção de Nilto Maciel. Uns e outros circulam arrogantemente em alguns dos melhores contos do livro, numa promiscuidade antropomórfica que só encontra paralelo nas célebres fábulas de La Fontaine.”

Haroldo Bruno deixou dois bons romances: A Metamorfose, publicado em 1975, e As Fundações da Morte. Aquele é uma parábola, uma alegoria que teria “um pouco de Kafka e quase nada de Apuleio”, explica o autor.

Gilvan Lemos é autor de diversos romances e contos. Publicou em 1975 Os Olhos da Treva, obra de mistérios e enigmas.

Roberto Drummond fez estréia também naquele ano, com o festejado A Morte de D.J. em Paris.
No dizer de Antonio Hohlfeldt, ele “traduz com clareza um sentimento de deslocamento, de marginalização, de expulsão do ser humano em relação à sociedade organizada.” E mais adiante: “Seja qual for a situação dramática abordada, a ação do conto encontra-se sempre envolta numa série de elementos da sociedade de consumo, que vai da escova de dentes ou dentifrício ao cigarro, os calçados, a calça, o refrigerante e assim por diante, o que levou um crítico a afirmar que todo o conto de Roberto Drummond assume um tom de “inventário” dos objetos disponíveis e absolutamente desnecessários criados pela sociedade de consumo, de onde emana “uma enorme dor, uma saudade imensa do que já foi e inexiste neste momento”, sem que se atinja qualquer grau de nostalgia, porque em momento algum a personagem pode sequer imaginar em restaurar aquele universo .”

Naomar de Almeida Filho é autor do romance Ernesto Cão, publicado em 1978. Pelo título já percebemos tratar-se de obra filiada ao mito da metamorfose. O protagonista se perde nas ruas e nos becos, atraindo sobre si os cães da cidade. Ernesto é um ser dividido, espécie de Gregor Samsa em estado de pré-metamorfose. Homem-cão, lobisomem urbano.

Socorro Trindad estreou com Os Olhos do Lixo. Em 1978 teve editado Cada Cabeça uma Sentença.
Airton Monte publicou o primeiro livro, O Grande Pânico, em 1979. No conto “A última noite” até a personagem principal tem nome simbólico – Cidadão. É o homem diante do medo coletivo de desobedecer a norma ou o costume. Alguém tem de se fazer ovelha negra e pintar a casa de azul, numa sociedade onde o costume impõe a cor cinzenta.

Paulo Véras não teve tempo de escrever muito. Em 1979 publicou O Cabeça-de-Cuia e a seguir a novela Ita.

Na opinião de Ligia Morrone Averbuck, “os vagos limites entre o real e o fantástico, a razão e a loucura, a verdade e o faz-de-conta emergem das páginas de O Cabeça-de-Cuia” (...).

Carlos Emílio Corrêa Lima surgiu em 1979, com o caudaloso A Cachoeira das Eras: a Coluna de Clara Sarabanda.

Na opinião de José Alcides Pinto, “não encontramos entre escritores contemporâneos quem, como ele, possua um potencial criativo tão variado e rico de símbolos e signos. O fantástico, o misterioso e o mítico andam de mãos dadas nesse livro.”

José Lemos Monteiro estreou em 1980, com A Valsa de Hiroxima. Seguiu-se A Serra do Arco-Íris, sobre o qual Moreira Campos disse: “Literatura fantástico-real ou absurdo-real, como se queira chamar, a lembrar também o rinoceronte de Ionesco, autor sempre referido por mim, em casos dessa natureza.”

Cristovam Buarque estreou em 1981, com o romance Sinandá. Seu quarto livro, Os Deuses Subterrâneos, se inscreve na linha da ficção científica, segundo Wilson Pereira.
Airton Maranhão tem publicados até aqui apenas dois livros. O segundo é A Dança da Caipora, de 1994. Segundo Dimas Macedo, o romance “configura uma atmosfera de ameaças e assombros, uma fusão original e envolvente dos processos de sintetização do imaginário e do alegórico presentes no inconsciente místico da tradição popular.”

CONCLUSÃO

É este o primeiro ensaio (mais no sentido de tentativa) de elaboração de uma História da Literatura Fantástica brasileira. E é também um esboço, que poderei servir de base a um livro, onde os escritores relacionados tenham suas vidas e obras esmiuçadas.

O historiador poderá, ainda, dedicar capítulos exclusivos a cada uma das modalidades da literatura neo-realista, distinguindo uns de outros escritores. Assim, aqui estarão os cultores do conte alegórico, ali os do romance gótico, acolá...

Nomes importantes terão deixado de ser mencionados nestas páginas, é que seus nomes não constam dos compêndios de História da Literatura ou dos estudos de crítica literária como cultivadores de quaisquer das categorias estéticas que, noutros tempos, se amoldavam ao estereótipo da literatura fantástica. Isto não quer dizer tenhamos realizado o trabalho tão-somente de consulta. No entanto, abstivemo-nos de emitir juízo de valor. Aqui pouco importa se tal livro é literariamente mais valioso que outro. Interessou-nos saber apenas se a obra pode ser catalogada como de literatura fantástica.

Por outro lado, não tivemos acesso à “biblioteca geral”. Assim, é possível que ensaios, teses e artigos sobre autores e livros concernentes ao assunto aqui tratado tenham escapado aos nossos olhos. Como a tese “O fantástico no conto brasileiro”, defendida por Maria Luisa do Amaral Soares, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1970.

De qualquer forma, temos certeza de que são poucos os livros, quer de História, quer de Crítica, dedicados à literatura fantástica no Brasil. Até porque também são poucos os cultores desse gênero em nosso país. E mais ainda porque cada obra dessa literatura não-real, seja ela dita simbolista, alegórica, surreal, surrealista, grotesca, estranha, maravilhosa, fantástica, real-mágica, ou como queiramos chamá-la, cada obra literária dessa natureza é, na verdade, uma obra singular e, portanto, difícil de ser classificada.

Fonte:
http://www.vastoabismo.xpg.com.br/6.html
Imagem =
http://correiodofantastico.blogspot.com

Henrique Oliveira (André Carneiro: O Mago das Palavras)


André Carneiro, o homem que divide textos com os maiores escritores do planeta e é pouco conhecido no Brasil.

O primeiro encontro

Maio de 1922, nasce em Atibaia, interior paulista, André Carneiro. 85 anos se passam e vou à casa do escritor, cineasta, artista plástico, fotógrafo, inventor e pensador. Busco suas obras e sua história, mais conhecidas fora do Brasil. Chego de táxi ao conjunto de prédios, em um bairro de classe média de Curitiba. Nosso encontro estava agendado para as 19 horas. Atraso-me apenas cinco minutos. Horas depois iria me orgulhar do feito responsável.

O simpático porteiro abre a porta e pelas escadas, chego ao segundo andar do pequeno edifício. Na porta, sorridente, espera-me o homem, que mora só. “Como vai? Entre e sente-se onde você quiser”, recebe-me o anfitrião.

Atento, observo a casa do poeta. O modesto e pequeno apartamento é decorado com inúmeros quadros e retratos, todos produzidos por ele. Nas paredes têm ainda poemas moldurados e cartazes das suas obras literárias. As três estantes são cobertas por livros, arranjos e esculturas, também feitas pelo artista. “Gosto de arte, independente de qual seja”.

Nos sentamos. Ele no sofá, eu numa cadeira de madeira preta. O começo do papo é tímido. Falo um pouco sobre mim e comento sobre uma amiga que temos em comum.

- Então, conversei com a Carmem hoje pela internet e ela mandou um beijo para você.

- Está bem.

Noto, que o homem, escritor de quinze livros de poesias, novelas, contos, romances, críticas literárias e teorias de hipnose, publicados no Brasil e em doze países; roteirista e diretor de seis filmes-artes; autor de gravuras, esculturas, fotografias e quadros, expostos e vendidos nos Estados Unidos e na Europa; está arisco. Desconfiado sobre minha real intenção, questiona-me sobre minha cidade de origem, meu trabalho e minhas opiniões. Nosso encontro não tinha a proposta de ser uma entrevista. Intermediada por nossa amiga Carmem, era apenas para ser uma conversa sobre literatura.

- Eu vim aqui para te conhecer, pois li sobre seu trabalho e algumas pessoas que admiro falaram de você.

- Esse é um motivo muito bom.

Após conversarmos superficialmente sobre a decoração de sua casa, mulheres, vinhos, cinema, viagens e obviamente literatura, lhe proponho uma entrevista para uma reportagem. Já mais “chegados”, André topa e agendamos um outro encontro, para oficialmente realizarmos a entrevista. Minha missão estava cumprida.

O poeta me mostra alguns dos seus livros. O último, “Confissões do Inexplicável”, foi lançado em maio de 2007. Reunindo 27 contos, a obra tem na capa um invejável elogio: “André Carneiro merece a mesma audiência de um Kafka”. A comparação com o autor tcheco, um dos mais admirado e respeitados escritores do século XX, é assinada pelo romancista americano A. E. van Vogt. “Depois dessa descrição não preciso de mais nada, não é mesmo?”, indaga André, que ainda me mostra outros livros seus. Tudo o que o poeta pega, com cuidado devolve no mesmo lugar. “Não sou sistemático, mas tenho que ser organizado para achar minhas coisas, pois eu quase não enxergo”. Vítima da trombose, André tem apenas 10% da visão. “Vejo apenas um vulto”. Dificuldade que não o impede de ler e escrever incansavelmente.

Para suas leituras, adaptou uma câmera de vídeo de segurança em um copo de plástico, onde a imagem captada é exibida em uma TV. “Isso foi criado por um amigo meu, eu apenas adaptei. Essa invenção facilita muito minha vida”.

O poeta me convida para conhecer seu escritório. Uma sala apertada, também cheia de livros e papéis. Neles, o poeta anota seus compromissos e seus comentários sobre o que lê, ouve e vê. Seis, talvez sete lâmpadas estão instaladas no quarto adaptado. O fio de uma delas passa sobre a mesa, formando um varal. Pendurado ali, tem uma folha com meu nome, meus telefones e o horário que havíamos combinado. Foi nesta hora que senti orgulho da minha pontualidade. “Não gosto de pessoas que se atrasam. E se for para furar comigo que me avise e que seja por um bom motivo. Aceito ser trocado apenas por mulher. Outros compromissos eu não admito, é mais importante conversar comigo“, resmunga o poeta com um tom de irritação e ironia.

Para suas escritas, André usa um computador, cuja tela é configurada com a resolução máxima. As letras ficam enormes. O poeta senta-se em uma cadeira toda cheia de espuma, que ele mesmo adaptou, coloca uns óculos com lentes extremamente grossas e com o rosto quase encostando no monitor, digita. Por dia, escreve em média quatro horas. “É, mas tem dia que nem durmo e passo a noite toda escrevendo. Também escrevo nos finais de semana e nos feriados”.

Já são quase 22h, quando ensaio minha despedida. Agendo com André nosso próximo encontro para a semana seguinte. Despeço-me do poeta e parto.

No dia seguinte começo a escrever a reportagem e pesquiso na internet mais informações sobre o poeta, que é citado em inúmeros sites. Seus textos estão publicados em importantes antologias da literatura nacional e mundial. O premiado poeta divide textos com consagrados autores, como Machado de Assis, Oswaldo de Andrade, de quem se tornara amigo pessoal e Carlos Drummond de Andrade, que escreveu: “A poesia de André Carneiro transfigura as coisas cotidianas”.

O segundo encontro

Exatamente uma semana se passa e volto à casa do poeta. Chego no meio da noite e desta vez levo comigo um câmera de vídeo, pois a reportagem ganhara uma nova dimensão. Mais uma vez o homem só, me recebe com atenção. Fica feliz ao saber que seria também personagem de uma videoreportagem. Vaidoso, vai fazer a barba. Termina e senta-se em frente ao provavelmente seu maior amigo do momento, o computador. Enquanto o poeta vasculha e-mails, gravo imagens da situação.

Em seguida partimos para a sala, onde escolhemos a maior estante para ser o cenário do depoimento. Antes de por o microfone, André troca de camisa, põe o lenço que sempre o acompanha no pescoço e ajeita o cabelo. Sem nenhum roteiro preparado, começamos a entrevista, que é mais justo defini-la como um papo informal. O poeta conta que começou a escrever por acaso para um jornal de Atibaia.

Anos mais tarde, em 1949, é lançado “Ângulo e Face”. Seu primeiro livro é uma coletânea de poesias. No mesmo ano, junto com sua irmã e um amigo, o poeta cria “Tentativa”, um jornal literário que possuiu correspondentes em Portugal, na França e na Argentina. Apresentado ao público por Oswald de Andrade, “Tentativa” foi distribuído por três anos e teve textos de Vinicius de Moraes, Graciliano Ramos, Sérgio Milliet e tantos outros escritores conceituados.
A noite se afunda. São 22h30, hora de André pingar colírio. O homem interrompe a entrevista e com a ajuda de uns óculos com um furo na lente, coloca seu remédio com precisão.

A gravação continua.

- Você tem dois livros que tratam de hipnose. Como aprendeu essa técnica?

- Eu sou um grande interessado em ciência evidentemente, e a hipnose é uma coisa fascinante, pois tem esse aspecto misterioso. Um dia eu comprei alguns livros sobre o assunto, experimentei as técnicas com uma pessoa e percebi que eu tinha a hipnotizada. Daí eu comecei a analisar o nascimento das crianças e criei a hipótese de que era possível uma mãe programar o dia e a hora do nascimento do seu filho através da hipnose. Para eu levar adiante essa experiência, tive que receber a ajuda de um médico. Daí então, fizemos a experiência com uma mulher. Com a hipnose, tentamos provocar o nascimento do bebê em um determinado horário.

- E deu certa a experiência?

- (Risos) Não. O bebê nasceu na hora desejada, mas no dia seguinte.

Os conhecimentos científicos e as habilidades artísticas de André são frutos apenas da sua curiosidade, das suas experiências e da sua vocação. O poeta não tem nenhuma formação acadêmica, porém é um assíduo estudioso. Lê tudo e todos. Fluente em francês e capenga inglês, já ministrou palestras e cursos sobre literatura em diversas universidades do mundo. Sua obra é objeto de estudos, além de ser analisada em teses de doutorados da Universidade Estadual Paulista e da University of Arizona.

- Você fica triste em não ter seu trabalho reconhecido pelos brasileiros?

- Olha, de certa forma eu aceito, pois o Brasil é um país onde se lê muito pouco. Têm pouquíssimas livrarias, a cultura é essa. Você vai na Europa, nos Estados Unidos, na Argentina, têm bibliotecas e livrarias espalhadas em todos os cantos, e todas sempre lotadas. Até em Cuba é diferente. Certa vez, estava em Havana e não consegui comprar um livro porque ela estava completamente cheia. Essa falta de leitura e de incentivo à leitura que existe no Brasil é lamentável. É uma coisa dolorosa.

- A indústria editorial brasileira não é profissional. Como é para um escritor depender dela para sobreviver?

- Com a idade que eu tenho, fazendo tanta arte e ganhando dinheiro com obras que eu fiz há quase 60 anos são situações interessantes. Pouquíssimos escritores ganham dinheiro com literatura em nosso país. Veja minha casa, eu não sou rico. Nunca ganhei muito dinheiro escrevendo, mas é o que eu gosto de fazer. Escrevo por prazer, por ideal. Não me incomoda ser pobre, sou feliz. Se não já tinha parado com tudo.

Encerramos a entrevista e eu peço a André para ler uma de suas poesias. Ele escolhe "A Edênica Tarefa".

Ao encerrar, pede que eu fique um pouco mais para continuarmos com nossa boa prosa. Enquanto guardo o equipamento, ele pinga mais uma vez o colírio, com a ajuda de sua invenção ocular. O poeta me oferece um livro de presente e na contra capa, escreve uma dedicatória. Ganho “Quânticos da Incerteza”, uma coletânea de poemas, lançada também em 2007.

Reparo que os olhos do velho homem já pedem o descanso. Passa da meia-noite quando me levanto para partir. Combinamos manter contato, nos despedimos e eu vou. Apesar de André ter escrito contos, críticas, novelas e romances, na reportagem sempre o chamei de poeta, porque ele sabe como ninguém a essência desse ofício. Entende que poeta não é apenas quem cria poemas. É a pessoa que através de atos, artísticos ou não, transforma, constrói e principalmente emociona. Essa sensibilidade é privilégio para poucos. André Carneiro é um desses, um privilegiado.

Livros publicados por André Carneiro
Ângulo e Face, 1949. Poesia.
Diário da Nave Perdida, 1963. Contos.
O Mundo Misterioso do Hipnotismo, 1963. Ensaio científico.
Espaçopleno, 1963. Poesia.
O Homem que Adivinhava, 1966. Contos.
Introdução ao Estudo da “Science Fiction”, 1967. Crítica Literária.
Manual de Hipnose, 1968. Ensaio Científico.
Piscina Livre, 1980. Romance.
Pássaros Florescem, 1988. Poesia.
Amorquia, 1997. Romance.
Lês Ténèbres, 1992. Novela
A Máquina de Hyerónimus e outras Histórias, 1997. Contos.
Birds Flower, 1998. Poesia.
Confissões do Inexplicável, 2007. Contos.
Quânticos da Incerteza, 2007. Poesia.
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Vídeos do escritor podem ser encontrados no blog abaixo.
Biografia detalhada e poesias podem ser encontradas na postagem de 25/12/2007
Conto "Do outro lado da Janela" em 31/01/08 e Artigo "Ficção Científica, Evolução Genética e o Cinema, em 03/01/08.
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Fonte:
http://oliveirando.blogspot.com/2007/10/teste-de-udio.html

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Poetas da Holanda (Países Baixos)



O mais antigo poeta desse pais chamava-se Heinrich vau Veldeke, de origem alemã (cerca de 1170).

Seu papel foi importante, porque, não só contribuiu para popularizar, na Holanda e Alemanha, a literatura galante da França, como deu inicio ao classicismo alemão na Idade Média.

No fim do século XIII, Jacob van Maerlant (1225-1291) refletiu o espírito realista burguês e é considerado "pai da poesia holandesa".

No século XV, Elckerlyc (cerca de 1485) cultivou uma poesia erudita, com obras também de fundo dramático; enquanto a poesia religiosa teve o seu representante em Thomas a Kempis (cerca de 1420).

No século XVII, "século de ouro", aí, sim, o espírito renascentista, na Holanda, atingiu certa maturidade, ao se libertar do domínio espanhol.

A arte nacional se fez presente com o espírito cômico de Gerbrand A. Bredero (1585-1618); o lirismo de Constantin Huygens e H. Dullaert; atingindo o seu ápice com a poesia de Pieter Cornelisz Hooft (1581-1647), de Joost Van den Vondel (1587-1679), este último, poeta cristão, e de Jakob Cats (1577-1660), poeta burguês de relativo sucesso.

Depois do classicismo de Willem Bilderdijk (1756-1831), o maior poeta holandês de sua época,
apareceram escritores e poetas românticos, mas as suas vozes foram abafadas pela tradição realista de Nicolaas Beets (1814-1903), poeta e escritor, autor de um livro de contos, "Câmera obscura", publicado em 1839.

O movimento de 1880 logrou renovar a literatura e, naturalmente, a poesia, na Holanda.

Consumou-se, então, a vitória do simbolismo e "o soneto foi o veículo daquela renovação", através dos sonetistas Jacques Pert, Willem Kloos (1859-1938) e Albert Verwey (1865-1937).

No século XX, Herman Gorter (1864-1927) surgiu com uma poesia de caráter social. Entre as duas grandes guerras, ganhou nome o poeta Hendrik Marsman (1899-1940). Depois de 1945, Lucebert (Jacobus Swaanswijk), nascido em 1924, e Kourvenaar, surgiram como poetas experimentais da vanguarda holandesa.

Na Holanda, o soneto fez mais admiradores que na Inglaterra. A "introdução do soneto" nos Países Baixos ocorreu no século XVII, com o grande poeta Pieter Cornelisz Hooft (1581-1647). Aliás, todos os poetas, desse século foram sonetistas, podendo-se dizer que, entre aqueles que mais se sobressaíram, estava o poeta religioso Heiman Dullaert.

Fontes:
http://www.clubedapoesia.com.br/internacionais/internacional.htm
Foto =
http://www.gizzetdawson.com.br

domingo, 9 de novembro de 2008

Sérgio Ferreira da Silva (Tinha o quê??? Ou Tinha uma Droga de uma Pedra no Caminho)


Tinha o quê???

No meio do caminho, tinha alguma coisa.

Pois, é! Eu estou aqui, no caminho, pronto e decidido a enfrentar essa COISA!

Outro dia, alguém escreveu no jornal (um crítico, talvez), que o Poeta não disse, no poema, aquilo que ele deveras disse (citando o Pessoa). Mas, por ser uma antena de seu tempo, disse o que disse, porque era a voz da consciência de todos nós.

EU NÃO NOMEEI POETA NENHUM MEU PROCURADOR!!!

Aliás, é por isso que estou aqui, neste caminho... Nenhum Poeta, por melhor que seja, vai me representar... Andar meus passos por mim. Ficam, aí, endeusando um, consagrando outro... Idolatria! Idolatria barata!

De minha parte, até agora, não vi COISA NENHUMA! Êta caminho besta, sô! Não tem nada!

Estou andando faz tempo... Já está escurecendo... e nada!

Que breu! Estranho, este céu sem estrelas,... sem esperança,... sem nada.

O caminho parece o céu: escuro, sem Lua,... sem uma estrelinha...

Será o mesmo caminho do Poeta? Chão batido,... sem beirada? Só o caminho... e este céu escuro, sem estrelas? Céu sem estrelas... e sem nuvens! Nenhuma nuvem! Nada!

Eu!

Só eu, no caminho!

Olhando para o céu vazio!

Andando... Andando...

AAAIIII!!!! Ai meu dedo!!!!

Tinha uma droga de uma PEDRA no caminho!!!
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Faça agora a leitura em sentido inverso

Tarde de Autógrafos no GPACI, em Sorocaba

O Grupo de Pesquisa e Assistência ao Cancer Infantil (GPACI) convida:
-
Tarde de Autógrafos do livro
O Crocodilo do Alemão e outras crônicas curiosas
de
Adalberto Nascimento

15 de Novembro às 16hs
Auditório do GPACI
Rua Antonio Miguel Pereira, 45
Jardim Faculdade - Sorocaba - São Paulo

Confirmação de presença:
(15) 2101 6592
(15) 2101 6555
gpaci@gpaci.org.br

informações: visite http://www.gpaci.org.br/

apoio: Padaria Real

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Leni Chiarello Zilioto (Lançamento do Livro Sabores)

TAMARPromoter convida

LANÇAMENTO COM SESSÃO DE AUTÓGRAFOS,
DO LIVRO "SABORES"

Autora: LENI CHIARELLO ZILIOTTO

Data: 09 de novembro de 2008

Hora: 17 horas

Local: 22ª Feira do Livro de Passo Fundo - Praça Sessão de Autógrafos
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Leni Chiarello Ziliotto nasceu e vive na cidade de Serafina Correa/RS. Sua vocação profissional levou-a a ser, hoje, além de professora e especialista em supervisão escolar, educação a distância e educação ambiental, uma ativista cultural, lutando pela idéia de uma educação voltada para o ser cidadão em um ambiente que o faça cidadão. Somando-se a isso, ela ainda nasceu poeta. Sua produção literária o prova, com o lançamento de seus livros de poemas, Metamorfose, em Português e em italiano, Metamorfosi, em 2001; Mosaico de palavras, em 2004; Amor meu sol,em 2006, e a participação em várias coletâneas e antologias poéticas e em e-books.

A palavra entusiasmo vem do grego e significa ter um deus dentro de si. Eles eram politeístas. Antigamente, pessoa entusiasmada era a que possuía um desses deuses em si e, por isso, tinha o dom de modificar a natureza, o meio em que vivia, e fazer o mundo acontecer. Segundo os gregos, somente pessoas entusiasmadas eram capazes de vencer os desafios do cotidiano. Era preciso, portanto, entusiasmar-se. A pessoa entusiasmada acredita em si mesma, na sua capacidade de se transformar, e à realidade, e de fazer as coisas darem certo. E Leni é uma dessas pessoas. Seu entusiasmo, contagiante, permite-lhe, e a quem a rodeia, uma nova visão do cotidiano. Ela não é grega nem politeísta, mas tem um desses deuses dentro de si: a poesia!

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece