sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense – Parte XIII)



SÍNTESE CRONOLÓGICA

Neste quadro estão anotados, em ordem cronológica, os títulos dos livros de contos estudados ou apenas mencionados (ano da publicação em primeira edição) no estudo, seguidos dos nomes dos autores, bem como de algumas antologias. E também fatos da História da Literatura Cearense, tais como o surgimento de grupos e periódicos literários.

1856 – Cinco Minutos (plaqueta, fora do mercado) – José de Alencar.
1860 – Cinco Minutos e A Viuvinha – José de Alencar.
1861 – Trindade Maldita (Contos no Botequim) – Franklin Távora.
1868 – Contos Brasileiros – Araripe Júnior.
1871 – Cenas Populares – Juvenal Galeno.
1886 – Fundação do Clube Literário.
1887 – Aparecimento do jornal A Quinzena, do Clube Literário, onde se publicaram contos de Oliveira Paiva e outros.
1889 – Ciências Naturais em Contos – Rodolfo Teófilo.
1892 – Criação da Padaria Espiritual e do jornal O Pão, no qual se publicaram contos de Artur Teófilo e outros.
1894 – Contos do Ceará – Eduardo Sabóia.
1894 – Criação do Centro Literário e de sua revista Iracema, que passou a se imprimir no ano seguinte.
1895 – Diferentes – Quintino Cunha.
1895 – Miudinhos – Fernando Weyne.
1897 – Perfis Sertanejos – José Carvalho.
1897 – Coleção de Contos – Francisca Clotilde.
1898 – Isaura – José Pereira Martins.
1901 – Em Sonhos – Alba Valdez (pseudônimo de Maria Rodrigues Peixe).
1907 –Histórias da vida e da morte e Um coração sensível – Tomás Lopes.
1910 – Caras e corações – Tomás Lopes.
1910 – O Conduru – Rodolfo Teófilo.
1912 – Livro Truncado – Oscar Lopes
1915 – Praias e Várzeas – Gustavo Barroso.
1918 – O Cisne Branco – Tomás Lopes.
1920 – Seres e Sombras – Oscar Lopes. Não há data da publicação de Maria Sidney.
1920 – Ronda dos Séculos – Gustavo Barroso.
1922 – Mula-sem-cabeça e Pergaminhos – Gustavo Barroso.
1922 – Torturas do Desejo – Carlos de Vasconcelos.
1924 – Alma Sertaneja, Mapirunga, O Bracelete de Safiras (s/d), Livro dos Milagres, Cinza do Tempo (s/d) – Gustavo Barroso.
1924 – Tigipió – Herman Lima.
1928 – A Mãe-da-Água – Herman Lima.
1929 – Flagrantes ao Sol do Norte – Santino Gomes de Matos
1931 – Idéia Fixa – Antônio Furtado, Rio de Janeiro.
1933 – Rincões dos Frutos de Ouro, premiado pela Academia Brasileira de Letras – Sabóia Ribeiro.
1933 – Mulheres de Paris – Gustavo Barroso.
1934 – Manipueira – Fran Martins.
1934 – Impróprio para Menores – R. Magalhães Júnior.
1936 – Fuga e Outros Contos – R. Magalhães Júnior.
1939 – O Livro dos Enforcados – Gustavo Barroso.
1943 – Sapupema (contos amazônicos) – José Potyguara ou Potiguara.
1943 – Surgimento do Grupo Clã, a revista do mesmo nome e as Edições Clã.
1943 – Águas Mortas – Eduardo Campos
1946 – Face Iluminada – Eduardo Campos.
1946 – Noite Feliz – Fran Martins.
1946 – Uma Chama ao Vento, reeditado em 1980 pelas Edições UFC – Braga Montenegro.
1948 – Mar Oceano – Fran Martins.
1949 – Vidas Marginais – Moreira Campos.
1949 – A Viagem Definitiva – Eduardo Campos.
1954 – Contos – Papi Júnior, publicação da Academia Cearense de Letras.
1955 – Açude e Outros Contos – F. Magalhães Martins.
1955 – Trevo de quatro folhas – Cândida Galeno (Nenzinha Galeno).
1957 – Portas Fechadas – Moreira Campos.
1958 – Caminho sem horizonte – Artur Eduardo Benevides.
1960 –Alma Rude, contos regionais – Carlyle Martins.
1960 – O Amigo de Infância – Fran Martins.
1960 – Sete Estrelo – Milton Dias. Seguiram-se As Cunhãs, A Ilha do Homem Só, Entre a Boca da Noite e a Madrugada, Cartas sem Resposta, As Outras Cunhãs e A Capitoa, todos subintitulados "estórias e crônicas".
1961 – Trapiá – Caio Porfírio Carneiro.
1963 – O Brasileiro Perplexo – Rachel de Queiroz.
1963 – As Vozes do Morto – Moreira Campos.
1964 – A Vida em Contos – Margarida Sabóia de Carvalho.
1965 – Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará), com apresentação de Braga Montenegro.
1965 – Os Grandes Espantos – Eduardo Campos.
1965 – Editor de Insônia – José Alcides Pinto.
1965 – Publicação do ensaio "Evolução e Natureza do Conto Cearense", de Braga Montenegro.
1966 – Contos do Cacau – Sabóia Ribeiro.
1967 – As Danações – Eduardo Campos.
1968 – O Abutre e Outras Estórias – Eduardo Campos.
1969 – O Puxador de Terço – Moreira Campos.
1969 – Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal – Juarez Barroso.
1969 – Os Meninos e o Agreste – Caio Porfírio Carneiro.
1970 – O Tropel das Coisas – Eduardo Campos.
1971 – Histórias de Trancoso – Cruz Filho.
1972 – A Morte Trágica de Alain Delon – Francisco Sobreira.
1972 – Exercício Para o Salto – Cláudio Aguiar.
1972 – Os Olhos do Lixo – Socorro Trindad.
1972 – A Coleira de Peggy – Holdemar Menezes.
1973 – Pluralia Tantum – Gilmar de Carvalho.
1974 – Itinerário – Nilto Maciel.
1975 – O Casarão – Caio Porfírio Carneiro.
1976 – Surgimento da revista O Saco Cultural.
1976 – As Viagens e Outras Ficções, (novelas e contos), mais uma seleção dos Contos Derradeiros, até então inéditos em livro – Braga Montenegro.
1976 – Publicação, em livro, dos Contos de Oliveira Paiva.
1976 – Joaquinho Gato – Juarez Barroso.
1976 – O Menino D’água – Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral.
1977 – Chuva – Os Dez Cavaleiros – Caio Porfírio Carneiro.
1977 – Depoimento de um Sábio – Cláudio Aguiar.
1977 – Milagre na Salina (catalogado como romance) – Mario Pontes.
1977 – Coisas & Bichos – José Hélder de Souza.
1977 – O Barco Naufragado – Holdemar Menezes.
1977 – Tocaia – Yehudi Bezerra.
1978 – Os Doze Parafusos – Moreira Campos.
1978 – Cada Cabeça uma Sentença – Socorro Trindad.
1978 – Reencontro – Glória Martins.
1978 – A Sonda Uretral – Holdemar Menezes.
1979 – Forma-se o Grupo Siriará, que edita um número de Siriará – Uma Revista Literária.
1979 – A Morte do Anjo da Guarda – Martins d’Alvarez.
1979 – A Noite Mágica – Francisco Sobreira.
1979 – Piero Della Francesca ou As Vizinhas Chilenas – Gerardo Mello Mourão.
1979 – O Mundo Refletido nas Armas Brilhantes do Guerreiro – Geraldo Markan.
1979 – O Grande Pânico – Airton Monte.
1979 – O Cabeça-de-Cuia – Paulo Véras.
1980 – Não Enterrarei os Meus Mortos – Francisco Sobreira.
1980 – O Jogador de Sinuca – Rachel de Queiroz.
1980 – Dia da Caça – Eduardo Campos.
1980 – Canoa Quebrada – Oniricrônicas – Geraldo Markan.
1980 – Contagem Depressiva – Simone Gadelha.
1981 – 10 Contistas Cearenses (antologia) – Apresentação de F. S. Nascimento.
1981 – Tempos de Mula Preta – Nilto Maciel.
1981 – O Contra-Espelho – Caio Porfírio Carneiro.
1981 – Homem Não Chora – Airton Monte.
1981 – Viagem – Nilze Costa e Silva.
1983 – Um Dia ... os Mesmos Dias – Francisco Sobreira.
1983 – A Estranha Estória de Bebeto Areião – José Maria Leitão.
1983 – A Viúva Fanática – Pery Augusto Bezerra. Publicou também Catarina e Outras Histórias Curtas de Amor.
1983 – Raios de Sol – Furtado Neto.
1983 – Alba Sangüínea – Airton Monte.
1983 – Seu Defunto e Outro – Pedro Wilson Rocha.
1983 – Conversa Fiada – Teoberto Landim.
1983 – Garoto de Baturité – Reginaldo Dutra.
1984 – Reflexões. Terror. Sobrenatural. Outras estórias – José Alcides Pinto.
1984 – Ofos – Carlos Emílio Corrêa Lima.
1984 – Caco de Vidro – Pedro Wilson Rocha.
1984 – A Lenda das Estrelinhas Magras – Rosemberg Cariry.
1984 – Os eleitos para o sacrifício – Holdemar Menezes.
1985 – A Grande Mosca no Copo de Leite – Moreira Campos.
1985 – Viagem sem Volta – Caio Porfírio Carneiro.
1985 – O Discurso da Mulher Absurda – Joyce Cavalcante.
1985 – Quinze Casos Contados – Ribamar Lopes.
1986 – Sai o primeiro número de Seara – Revista de Literatura, como órgão do Grupo Seara.
1986 – Punhalzinho Cravado de Ódio – Nilto Maciel.
1987 – Dizem que os Cães Vêem Coisas – Moreira Campos.
1987 – Já Fez a sua Fezinha Hoje?– Audifax Rios.
1987 – Ofícios de Desdita – Jorge Pieiro.
1987 – Psiu, o síndico pode estar ouvindo! – Leonisa Maria Magalhães de Souza.
1988 – Iluminuras – Natércia Campos.
1988 – Dilúvio – Nilze Costa e Silva.
1989 – Análise – Fran Martins.
1989 – O Tempo Está Dentro de Nós – Francisco Sobreira.
1989 – Os Dedos e os Dados – Caio Porfírio Carneiro.
1989 – Fragmentos de Panaplo – Jorge Pieiro
1989 – Último Ato – Beth Moreira Lima
1990 – Viagem e outras histórias – Roberto Amaral.
1990 – Antologia do Conto Cearense, organizada por Mary Ann Leitão Karan.
1991 – As Insolentes Patas do Cão – Nilto Maciel.
1992 – Rio dos Ventos – José Hélder de Souza.
1992 – Mergulhador de Acapulco – Sérgio Telles.
1992 – As Leves e Duras Quedas do Amor – Regine Limaverde.
1992 – Surge o jornal O Pão, dirigido por Virgílio Maia.
1993 – O Escrivão das Malfeitorias – Eduardo Campos.
1993 – Clarita – Francisco Sobreira.
1993 – D’aquém e D’além Mar – Beatriz Alcântara.
1993 – A Mulher de Passagem – Carlos d’Alge.
1993 – Itinerário do Reino da Barra – Dimas Carvalho.
1995 – O Navio Morto e Outras Tentações do Mar – Moacir C. Lopes.
1995 – A Partida e a Chegada – Caio Porfírio Carneiro.
1995 – Grandes Amizades – Francisco Sobreira.
1995 – Histórias do Começo do Mundo (7 Contos Minúsculos) – Alano de Freitas.
1995 – Margem Oculta – Paulo de Tarso Pardal.
1995 – O Peso do Morto – Pedro Salgueiro.
1995 – É criada Espiral: Revista Literária.
1996 – O Irresistível Charme da Insanidade – Ricardo Kelmer.
1996 – As Noites e os Dias – Ronaldo Correia de Brito.
1996 – O Espantalho – Pedro Salgueiro.
1996 – O Talento Cearense em Contos, antologia organizada por Joyce Cavalcante.
1997 – Crônica do Amor e do Ódio – Francisco Sobreira.
1997 – Babel – Nilto Maciel.
1997 – O Pescador da Tabocal – Batista de Lima.
1997 – Guia Prático para Sobrevivência no Final dos Tempos – Ricardo Kelmer.
1997 – O Caçador – Rinaldo de Fernandes.
1997 – Velhos Contos, Novos Contos – Zorrillo de Almeida Sobrinho.
1997 – Publica-se o Almanaque de Contos Cearenses.
1998 – A Borboleta Acorrentada – Eduardo Campos.
1998 – Mão de Martelo e Outros Contos – Astolfo Lima Sandy.
1998 – O Vendedor de Judas – Tércia Montenegro.
1998 – Na trilha dos Matuiús – José Costa Matos.
1998 – A Miragem do Espelho – Carlos Gildemar Pontes.
1999 – Andante com Morte – Mario Pontes.
1999 – A Casa do Morro Branco – Rachel de Queiroz.
1999 – Noturnos – Ana Miranda.
1999 – Foi na Seca do 19 – Lustosa da Costa.
1999 – Pescoço de Girafa na Poeira – Nilto Maciel.
1999 – Difícil Enganar os Deuses – Paulo de Tarso Pardal.
1999 – Glórias e Vanglórias – Vasco Damasceno Weyne.
1999 – Sai o primeiro número de Literapia – Revista de Literatura da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, sob a direção do poeta Pedro Henrique Saraiva Leão.
1999 – Caos Portátil – Jorge Pieiro.
1999 – O Pranto Insólito – Eduardo Campos.
2000 – Pequenas Histórias Matutas – José Hélder de Souza.
2000 – Histórias de Zoologia Humana – Dimas Carvalho.
2000 – Brincar Com Armas – Pedro Salgueiro.
2000 – O Pranto Insólito – Eduardo Campos.
2001 – Sobre o Mundo – José Peixoto Júnior.
2001 – A Revolta do Computador e Outros Contos de Mistério – Artur Eduardo Benevides.
2001 – Linha Férrea – Tércia Montenegro.
2002 – Reunidos, em livro, 11 contos de Adolfo Caminha, por Sânzio de Azevedo, sob o título Contos, pela Editora da UFC.
2002 – A arte de engolir palavras – Lourdinha Leite Barbosa.
2002 – A Viúva do Vestido Encarnado – Barros Pinho.
2002 – Peixe de Bicicleta – Sérgio Telles
2002 – Janeiro é Um Mês Que Não Sossega – Batista de Lima.
2002 – Dançando com Sapatos que Incomodam – Luciano Gutembergue Bonfim.
2002 – Sobre a Gênese e o Caos – João Soares Neto.
2003 – Faca – Ronaldo Correia de Brito.
2003 – Fábulas Perversas – Dimas Carvalho.
2003 – Sob Eros e Thanatos – Giselda Medeiros.
2003 – Mosaicos – Maria Thereza Leite.
2003 – Se Me Contam, Eu Conto – Regine Limaverde.
2003 – Um Homem Chamado Noel – Mario Pontes
2004 – Chame os Meninos – Lucineide Souto

Continua… Parte XIV e final : Conclusão

Fonte:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=986

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Antonio Carlos Tórtoro (O Banquete De Pratão)



Comer e beber com alguém é, para mim, quase que um ritual sagrado e, por isso, não bebo nem como com o inimigo.

Penso assim talvez por ser do tempo em que a família se reunia duas vezes por dia, durante as refeições, ao redor de uma mesa, para conversar sobre todos os assuntos, principalmente sobre aqueles que faziam parte do cotidiano de todos os seus componentes.

E, por falar em comer à mesa e conversar, no último dia 15 de outubro, Dia do Professor, participei com minha esposa de uma galinhada, oferecida pela direção do colégio Anchieta aos professores e funcionários: um banquete de pratão.

Pratão de legumes, pratão de patê de alho, da Roberta, pratão de patê de atum, da Rosa, tudo bem temperado, bastante cerveja, bem gelada e, flores, muitas flores em pequenos vasos, além do ramalhete que entregamos à anfitriã, a professora Alcilene Soares Aguiar, ao som de Ray Connif, em comemoração à passagem do dia dos mestres.

Vivemos, por alguns instantes, belos e expressivos momentos de encontro com os nossos semelhantes, que só os pequenos grandes gestos do dia-a-dia podem proporcionar: um sorriso aberto e franco, um aceno ou aperto de mão de duração mais longa.

No famoso Banquete de Platão, Sócrates conta a história de seu encontro com Diotima, quando tinha por volta de 30 anos. Nessa obra universalmente conhecida, o amor é definido por ele como carência daquilo que se ama, do objeto amado. É o que inspira os seres a partir em busca do Belo: esse belo, a idéia eterna da qual todas as coisas belas participam gradativamente, é alcançado pela ascese dialética, por degraus. Primeiro, pode-se ver o belo nos corpos, depois, na natureza, etc, até se chegar ao belo em si.

No nosso banquete de pratão, não discutimos o amor: nós somente o vivemos. Vivemos por alguns momentos — fora do ritmo alucinante de um dia de trabalho na escola — a satisfação de ouvir o colega sobre assuntos nada pedagógicos, o prazer de ver a troca de colos de suas crianças que ainda não freqüentam a escola, a alegria de abraçar cada um que chega com um sorriso e votos de boas vindas.

Depois de quase uma hora de conversa jogada fora, muitas gargalhadas, piadas, chega o pessoal do Barriga – assado na brasa, sem o assado, mas com três enormes panelas da mais saborosa galinhada do ano.

Com o passar do tempo, os grandes grupos vão se desmanchando e transformam-se em pequenos outros grupos espalhados pelos amplos espaços dos pátios do colégio.

Antes de ir embora, ainda sobra tempo para comer algumas amoras — com o ímpeto dos tempos de criança — retiradas na hora, dos pés repletos de pequenos pontos escondidos entre o verde das folhas, qual saborosas lagartas negras.

Não é preciso ir a Atenas ou Paris para ser feliz: Basta olhar com amor e fraternidade aqueles que fazem parte do nosso cotidiano e, se possível, beber e comer com eles.

Fontes:
Academia Ribeirãopretana de Letras.
http://www.movimentodasartes.com.br/arl
Imagem =
http://emalmada.blogspot.com

Antonio Carlos Tórtoro (1949)



Nasceu em 3 de março de 1949. Estudou nas Faculdades Barão de Mauá (atualmente Centro Universitário Barão de Mauá) onde terminou a licenciatura plena em Matemática , Física e Desenho Geométrico, além de Pedagogia : Supervisão , Administração e Orientação Educacional.

Trabalhou nas Ordens de Pagamento no Banco Bandeirantes, vendedor de peças na Lion , organizador de uma loja na Bérgamo Auto Peças. Começa a lecionar no Colégio Metodista, depois pelo SENAI , pelo Colégio Colégio Santa Úrsula , pelo Centro Universitário Barão de Mauá, chegando , em 1995 , ao Colégio Anchieta, onde, atualmente, é Orientador Educacional, após ter sido professor de Matemática e Coordenador Pedagógico.

Iniciou-se com um poema publicado em 1 989 na coluna Poetas de Ribeirão Preto, no Jornal A Cidade.

A partir de 2000, interessou-se por fotografia e passou a fazer parte do Grupo Amigos da Fotografia, ao lado de Elza e João Rossato.

Tem publicados livros de poemas , e de poemas em fotos. Membro de diversas entidades culturais , publica artigos em jornais e revistas.

Membro da Academia Ribeirão-pretana de Letras (ARL) desde o ano de 1981, o escritor e poeta Antônio Carlos Tórtoro assumiu a presidência da instituição literária em 1996, após a abdicação ao cargo do antecessor, o literato Luiz Carlos Raya.

Leitor preferencial de biografias, o poeta declara “Ribeirão Preto é um cenário favorável para produção literária. Temos bons escritores, com obras de qualidade. Mas há escassez de oportunidades para publicação destes trabalhos. Isso parte das editoras e pessoas que estão por trás da parte financeira da literatura”. Engajado no mundo dos versos, Tórtoro afirma ainda que sua estética difere-se da linguagem do romance e que não pretende tornar-se romancista.

O posicionamento do artista em relação à literatura é humilde e desapegado. “Não sou um grande conhecedor de literatura como a equipe da ARL, por ser oriundo da matemática. Sou um poeta entusiasta do movimento literário”. Tórtoro discorre, entretanto, por temas ligados às letras. “Não vejo a literatura do interior paulista como algo tão característico em ícones de personalidade como ocorre com as literaturas mineira e gaúcha”.

Quanto à polêmica existente no universo literário quanto à rivalidade entre autores e leitores alencarianos e machadianos, ele posiciona-se: “Houve um tempo em que eu admirava e consumia os textos de José de Alencar, mas confesso que encontrei uma estética mais moderna na escrita de Machado de Assis; todavia, respeito todas as linguagens literárias”. Sobre outra polêmica literária, as duras críticas dos poetas modernos em relação ao período do parnasianismo brasileiro, Tórtoro define sua visão: “A poesia moderna é mais democrática, a partir do momento em que não é preciso pertencer-se à uma elite intelectual para escrever. Os poetas parnasianos e a métrica rígida daquela estética constituíam uma elite, dona de rico vocabulário e conhecimento”.

Para o autor, escrever poesia no mundo atual, rápido e capitalista, consiste em “uma maneira diferenciada de observar o homem e sua alma. O retorno financeiro não é suficiente. O prazer está no exercício da arte”.

Casado desde 1976, Tórtoro possui um casal de filhos. “Já escrevi um poema para minha esposa, ´Salvador sem você´, durante uma viagem à capital baiana. Nestes versos, cito as belezas da cidade em questão, mas todas elas são incompletas na ausência do objeto de amor do eu lírico”.

Em seu livro, “Antologia Ítalo-brasileira”, lançado em 2003, o artista versa em dois idiomas, português e italiano.

Publicações

livro de poemas "ECOS ", lançado em 1991.
livro de poemas "EDELWEISS" lançado em 1992.
livro de poemas “ MOSAICO “ , lançado em junho de 2000 .
livro de poemas “ ANTOLOGIA DE POESIAS” , antologia Ítalo-brasileira , bilíngüe, com o poeta , Cláudio De Donatis , em agosto de 2003 , na 3ª. Feira Nacional do Livro de Rib. Preto .
livro de poemas "ESTRELAS NO MAR "- COLEÇÃO VEREDAS- EDITORA MODERNA , lançado em 1 994 e que concorreu ao PRÊMIO JABUTI/95 - já na sua 6a. Edição , fazendo parte da lista de livros da FAE-FEDERAL.

Autor dos textos de cada uma das fotos do livro ARQUITETURA DO PASSADO- UM OLHAR SOBRE RIBEIRÃO , lançado em setembro de 2005, na Feira Nacional do Livro de Rib. Preto, pela Gráfica Villimpress. Um trabalho conjunto com o site Movimento das Artes e o grupo Amigos da Fotografia.

Autor dos textos de cada uma das fotos do livro RIBEIRÃO PRETO – O PASSADO MANDA LEMBRANÇA – VOLUME I , lançado em setembro de 2006, na 6ª. Feira Nacional do Livro de Rib. Preto, pela Gráfica Villimpress. Um trabalho conjunto com o grupo Amigos da Fotografia.

Autor dos textos de cada uma das fotos do livro RIBEIRÃO PRETO – O PASSADO MANDA LEMBRANÇA – VOLUME II , lançado em julho de 2008, na 8ª. Feira Nacional do Livro de Rib. Preto, pela Gráfica Villimpress. Um trabalho conjunto com o grupo Amigos da Fotografia.

Fontes:
– Artigo de João Pedro Vicente. http://www.baraodemaua.br/jornal/2004/novembro/tortoro.htm
http://www.tortoro.com.br/

Caldeirão Literário do Pernambuco (Samantha Medina)



Samantha Medina
(1986 Recife/Pernambuco)

À ESPERA (INSÔNIA QUE PRECEDE A CHEGADA)

As madrugadas passam lentas
No compasso andante,condutor
Das horas de espera,que se arrastam,
Aleijadas,
Espalhando a poeira,
Decantada nos adormecidos;

As madrugadas passam lentas
Enquanto me desintegro no caos
De meu cansaço, ouvindo
Os sons do trânsito das ruas
Contornando os meus sonhos
E a minha cama,por longas avenidas...

As madrugadas passam lentas,
Entorpecidas pela melodia,
Ensurdecedora, do Silêncio
Dos que dormitam seus sonos
Sem saber,da areia em minhas retinas
E do meu corpo exausto, insistente...

Até que,decidida, eu me esparrame
Numa folha branca qualquer,
Já fatigada de tanto esperar...

- Então, a lenta madrugada alumia-se
da Maior-Estrela... E a Poesia, enfim, chega,
Sonolenta, seguindo o rastro da aurora.
============
ÉTER E CARNE

Éter. Senhor de todos os elementos,
Substância e sobranceiro das aparências sem
[substância;
Elo. Ligação entre o lume celeste e o abismo,
Onde o Puro destaca-se soberbo no azulado etéreo
E ardem azulados os fogos...
Veste a Terra viço e flores
E já mais e mais a Terra ao Éter se remonta.

No perfume do Éter a Carne dormente se inflama,
Vaga em cósmicos espaços,
Alcança e Espírito a dimensão indolor,
Onde tudo é amor e céu e luz...

A Alma vive na matéria,
Palpável, pungente, efêmera residência-matéria
Mas quando enfim se apresenta o derradeiro
A Alma canta feliz ao se tornar liberta
E segue o seu caminho rumo à atmosfera pura e
[reluzente...

Então,o Espírito que volve ao Éter renasce
E na pureza do Éter a Carne se desfaz.
================
CANTIGAS, LEVA-AS O VENTO

Na mais sublime terra, no mais alto ar,
Em torrentes de som a suspirar
Viandantes conduzidas pelo tempo,
- Cantigas, leva-as o vento.

De sopro em sopro é fantasia
Que toca a todos, destrói o medo,
Atravessa o tempo, e o segredo
Em brisa, vira doce melodia.

Qual acorde efêmero, intocável
É também, impalpável como sentimento,
Transeunte incontrolável
- Cantigas leva-as os vento.

E quando der vontade de chorar
Da alma é só tirar, nota a nota,
O ressoar da música que conforta:
- Cantigas, ventos a me levar.

O Nosso Português de Cada Dia (OUVIR E ESCUTAR)

A cada dia dúvidas de nosso português

Esta é mais uma daquelas questões sobre palavras sinônimas, mas que antigamente os gramáticos classificavam como diferentes.

Antigamente dizia-se que ouvir e escutar eram verbos diferentes. Ouvir deveria ser usado no sentido de “perceber o som pelo sentido da audição” (Dicionário Houaiss). Nessa definição, não consta a idéia de prestar atenção. Assim, a pessoa poderia ouvir, isto é, captar o som, mas estar pensando em outra coisa completamente diferente.

Já o verbo escutar era entendido com a idéia não só de captação do som, mas também de estar prestando atenção a ele.

Portanto, segundo a definição antiga, a pessoa poderia ouvir sem escutar.

No entanto, o povo modifica o sentido das palavras. Hoje em dia, tanto faz usar o verbo ouvir ou escutar. Ambos são sinônimos. Em todos os dicionários de Língua Portuguesa, pelo menos os mais respeitados, Aurélio, Houaiss, Michaelis, ouvir e escutar possuem os mesmos sentidos.

Fonte:
Prof. Dr. Ozíris Borges Filho.
http://www.movimentodasartes.com.br/

Miguel Perrone Cione (A Assombração)



A pequena e pacata cidade havia sido enormemente beneficiada com a chegada da eletricidade. Os postes plantados nas esquinas, sobre as calçadas, sustentavam galhardamente os luzidios fios de cobre, que levavam rapidamente à cidade a milagrosa iluminação inventada por Thomas Edison. Ajustado a essa nova maravilha do progresso, o pequeno rincão paulista relegava a um passado que jamais voltaria os prosaicos lampiões, que o romantismo da época tanto havia acariciado.

Daquela antiga fisionomia noturna, só restava ainda o fogo de artifício lançado pelas chaminés dos comboios de passageiros, que passavam invariavelmente à noite ao sul da cidade, vomitando de suas máquinas a habitual esteira de fagulhas incendiárias.

Agora, ao fim das tardes, apreciava-se um espetáculo inédito, vendo o funcionário da Empresa de Força e Luz ligar a chave do transformador, que ficava em frente à Praça da Matriz, e as lâmpadas todas ao mesmo tempo, como num passo de mágica, chisparem de luz, transformando a penumbra em um alegre recanto iluminado.

Depois desse avanço espetacular em direção à civilização moderna, certo dia, um senhor de aparência humilde bateu à porta de um dos professores da cidade; queria conversar com ele:

— Senhor professor, — começou ele — desejaria falar dois minutos com o senhor.

— Pois não, vamos entrar. Qual é o assunto?

— Como sei que o senhor é uma pessoa esclarecida, desejaria fazer-lhe uma pergunta.

— Perfeitamente, estou ao seu dispor.

— O senhor acredita em assombrações? Desejo falar-lhe de uma que apareceu há dias em minha casa.

— Não, não creio nessas coisas...

— Mais uma razão para o senhor certificar-se de que existe algo de sobrenatural no que venho observando em minha propriedade, e que gostaria de mostrar-lhe. Sinceramente, eu gostaria que o senhor visse com seus próprios olhos. A vizinhança toda já presenciou o que estou lhe relatando. Tive de mudar-me da casa. Não era possível ver todas as noites aquelas sombras ameaçadoras emergirem das paredes do nosso quarto e debruçarem-se sobre nós.

O professor observava o visitante com visível incredulidade, depois perguntou-lhe a que horas aparecia a assombração.

— Geralmente das 22 horas em diante, hora que costumamos nos deitar.

Depois de outras explicações, ficou combinado que naquela noite, o professor iria ver a discutida assombração.

Às dez da noite, o professor dirigiu-se ao local designado, onde já o esperava o homem que o visitara e mais três pessoas da vizinhança.

Adentraram a casa mal-assombrada. Todas as lâmpadas foram acesas. Dirigiram-se diretamente ao dormitório principal da residência, o “quartel-general” da assombração. Fez-se um silêncio total, todos aguardavam com certa emoção e, por que não dizer, com algum temor, a misteriosa e audaz personagem das sombras. Esperaram 5, 10, 20 minutos... nada se via de anormal. O quarto era forrado de madeira, paredes altas, como sói acontecer nas casas antigas. Ao redor da lâmpada, de aproximadamente 15W, via-se um globo de vidro e que outrora deveria ter sido transparente, mas no momento, apenas translúcido pela poeira acumulada.

Já estavam impacientes quando, de súbito, uma fantástica sombra apareceu numa das paredes do quarto. Tinha o aspecto de um esquisito monstro, cujo corpo era formado por uma massa compacta. Quatro braços de cada lado moviam-se, lentos, mas ameaçadores como os da hidra fabulosa e lendária. Realmente era de meter medo, mas enfim era apenas uma sombra.

Apesar das incredulidades do professor, parecia que todos encontravam-se diante do sobrenatural, de algum ser extraterrestre vivendo em outra dimensão.

Após alguns minutos, a sombra começou a circular pelas quatro paredes e até pelo teto do quarto, fazendo um footing diabólico. O professor, absorvido em seus pensamentos, olhava ora para a sombra, ora para o globo que pendia do forro. Pediu permissão para apagar a luz. O ser sobrenatural desapareceu, embora o quarto ainda recebesse claridade da sala adjacente. Evidentemente, a assombração não gostava da penumbra e logo que a lâmpada de novo se acendeu, ressurgiu até mais ameaçadora.

O professor esboçou um sorriso de triunfo; possivelmente já possuía a chave do mistério. Com uma escada, o globo foi removido. A sombra desapareceu como que por encanto. Dentro do globo empoeirado, o professor procurava o responsável por todo aquele rebuliço: era uma pequena, inofensiva aranha papa-moscas que residia na concavidade interior do globo de iluminação.

Quando a lâmpada aquecia o interior do globo de vidro, depois de certo tempo, o calor incomodava o inocente inseto; ele se agitava, começando com movimentos lentos e depois com uma corrida desesperada ao redor do globo. A luz amarelada da lâmpada projetava nas paredes do quarto a sua imagem imensamente aumentada pela projeção do objeto, reproduzindo, no interior do cômodo, também todos os movimentos da pequena aranha, que se tornavam pela dimensão alcançada deveras ameaçadores, transformando assim o pacífico inseto na famosa assombração daquela rua...

Fontes:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm
Imagem = http://gatocomvertigens.blogs.sapo.pt/

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Miguel Perrone Cione (O Pescador de Pérolas)

Hélio Cunha (O Pescador de Pérolas)
Havia um ambicioso pescador de pérolas que almejava encontrar na ostra solitária a valiosíssima pérola rosada.

Sing era o nome do intrépido oriental, que buscava nas profundezas do oceano a jóia do seu sonho. Cada vez que um outro pescador conseguia a pérola rosada, nele se avivavam as esperanças de um dia encontrar também a sua jóia preferida.

Astuto, jovem, grande mergulhador, e acostumado desde a infância ao manejo do mar, conhecia bem que apenas uma ostra especial, de cor rubra e maior tamanho que as comuns, produz a pérola rosada, mesmo assim, em exígua porcentagem.

Com a modesta máscara de mergulho, o pequeno barco, o arpão que o defendia do ataque feroz dos tubarões, o cesto no ombro para recolher os moluscos, auxiliado pela esposa, aproveitava as tardes de sol para desenvolver o fatigante e perigoso trabalho. Após a colheita marinha, a busca dentro das conchas era cuidadosamente iniciada, como se cada ostra fosse uma caixinha de surpresas.

Muitas pérolas brancas já haviam sido encontradas por Sing e sua esposa, mas nem todas possuíam grande valor. O comércio do produto é exigente, somente as pérolas perfeitamente esféricas, sem máculas, a partir de cem quilates são realmente valiosas; as denominadas “barrocas” por serem irregulares, as “gotas” em forma de pêras, as “sementes”, que são pequenas e planas, não possuem comercialização compensativa.

Eram decorridos cinco anos de mergulhos submarinos, durante os quais o nosso idealista pescador, tinha se desgastado bastante no afã de arrancar das rochas profundas, milhares de moluscos, e a pérola rosada não havia surgido. Aos poucos, a pretensão de encontrar a ambicionada jóia foi se apagando nas esperanças de Sing.

Certa tarde de escassa e desastrosa colheita, resolveu desistir daquela ambição que estava se tornando inútil, já que ele desenvolvia no período da manhã outras atividades que eram rendosas e prioritárias.

Procurou um mergulhador que lhe havia proposto a compra do equipamento, e vendeu-lhe o barco utilizado na pesca. Até o pequeno cesto com os últimos moluscos pescados, ainda intactos, foram negociados. Sing havia definitivamente encerrado suas atividades perolíferas, de encantado pescador de pérolas. Naquela noite dormiu mais tranqüilo. Mas foi só naquela noite.

No dia seguinte, quando um novo dia despontava, talvez para o início de uma nova vida, logo pela manhã ao alvorecer alguém bateu-lhe à porta; era o comprador dos seus apetrechos:

- Olá, como vai, resolveu desistir do nosso negócio?

- Não, Sing. — disse-lhe sorridente o comprador — Vim pagar-lhe em dobro a minha compra.

- Mas por que essa generosidade?

- Porque fui muito feliz! Na única ostra gigante existente no cesto que havia lhe comprado, encontrei a pérola rosada!

Sing empalideceu de dor. A notícia foi como se o oceano imenso que ele tanto amava tivesse se derramado sobre ele. Quando a oportunidade chegou, ele não foi suficientemente perseverante para fazer triunfar o seu sonho.

A sombra desse erro o acompanhou por longos anos de sua existência.

Sempre que se referia à pérola perdida, Sing repetia as mesmas palavras: “Nem a trazendo das profundezas abissais do oceano, consegui possuí-la. Fugiu-me das mãos pela porta do destino. Pescá-la foi como procurar a felicidade pelas estradas íngremes da vida; nem todos conseguem encontrá-la, assim aconteceu comigo”. Mas embora se considerasse cruelmente traído pela sorte, concordava sempre em admitir que tinha valido a perseverança de procurá-la. Não são os sonhos e as esperanças acalentadas os adornos fugazes que embelezam a existência?

Fontes:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm
Pintura =
http://heliocunha.blogspot.com

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Solano Trindade (1908-1974) Poesias Avulsas

Retrato de Solano Trindade, 1969
Madalena Schwartz
Acervo Museu Afro Brasil
Sou Negro
À Dione Silva

Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs.

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso.

Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou.

Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.

Gravata Colorida

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...

Eu gosto de ler gostando

Eu gosto de ler gostando,
gozando a poesia,
como se ela fosse
uma boa camarada,
dessas que beijam a gente
gostando de ser beijada.

Eu gosto de ler gostando
gozando assim o poema,
como se ele fosse
boca de mulher pura
simples boa libertada
boca de mulher que pensa...
dessas que a gente gosta
gostando de ser gostada.

Muleque

Muleque, muleque
quem te deu este beiço
assim tão grandão?

Teus cabelos
de pimenta do reino?

Teu nariz
essa coisa achatada?

Muleque, muleque
quem te fez assim?

Eu penso, muleque
que foi o amor...

Olorum ÈKE

Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu sou poeta do povo
Olorum Ekê

A minha bandeira
É de cor de sangue
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Da cor da revolução
Olorum Ekê

Meus avós foram escravos
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu ainda escravo sou
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Os meus filhos não serão
Olorum Ekê
Olorum Ekê

Mulher barriguda
(musicado por João Ricardo dos Secos e Molhados)

Mulher barriguda
Que vai ter menino
Qual é o destino
Que ele vai ter
Que será ele
Quando crescer...

Haverá ‘inda guerra?
Tomara que não
Mulher barriguda
Tomara que não...

Meditações sobre o leito do hospital

Uma sinfonia de gemidos
Perde-se neste domingo

A amada distante está presente
A rua é uma abstração
O telefone não chama
A amada não beija

Eu escrevo sobre papel verde
com lápis vermelho...

Fontes:
Solano Trindade. O Poeta do Povo. SP: Cantos e Prantos Editora, 1999.

Imagem = http://historiaemprojetos.blogspot.com

...E o Sertão Virou (Bel)Mar (entrevista com Cícero Belmar)

Entrevista realizada em outubro de 2008 por Raimundo de Moraes

Cícero Belmar é escritor e jornalista. Natural de Bodocó (PE), filho de Adrina e Cícero (Bé), nasceu a 20 de janeiro de 1963. Ele acabou de lançar o romance "Rossellini Amou a Pensão de Dona Bombom", que recebeu os prêmios de ficção Vânia Souto Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, e o Lucilo Varejão do Conselho Municipal de Politica Cultural, da Fundação de Cultura do Recife.

Este é o segundo romance de Cícero. Em 2001, ele lançou "Umbilina e Sua Grande Rival", que também recebeu o mesmo prêmio da Fundação de Cultura. Além desses dois romances, ele tem também um livro de contos, "Tudo na Primeira Pessoa" e duas biografias: "POla" e "O homem que arrastou rochedos".

Ele também é autor de teatro, com três peças de sua autoria encenadas no Recife: "A Flor e o Sol", "A Floresta Encntada" e "Coração de Mel". Além de escritor, Cícero Belmar tem uma larga experiência como jornalista, já tendo recebido duas vezes o prêmio Cristina Tavares de Reportagem. Ele trabalhou em Redações de vários jornais e televisões em Pernambuco.
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Há tempos que eu queria entrevistar Cícero Belmar. Uma das primeiras lembranças que tenho da sua gentil pessoa é quando, entre uma aula e outra, nos encontramos por acaso num dos jardins da Universidade Católica de Pernambuco (à época ele terminava Jornalismo e eu era calouro de Direito). Eu disse, com certo espanto: seu nome ao contrário significa mar belo. E ele riu. Ora, não é que desse mar saíram muitos tesouros? Competente na profissão que resolveu seguir e um dos melhores escritores de Pernambuco na atualidade, entrevistar Belmar na verdade foi um presente para mim. Quando o nosso bate-papo virtual ia se desenrolando, eu me deliciava com o seu Acabou-se o que era doce! – o livro, por si só, valeria uma outra entrevista. Mas fica o gostinho de quero mais. Com vocês, um sertanejo com alma universal e que faz iluminar ainda mais este Recife de muitas histórias e de muita poesia.

Raimundo de Moraes: Como surgiu a idéia de escrever Rossellini Amou a Pensão de Dona Bombom?

Cícero Belmar: Minha intenção era fazer uma espécie de trilogia pernambucana. Não uma trilogia no sentido mais tradicional, de uma história ter uma seqüência na outra. Ou de um personagem se repetir na outra história. Não. Eu queria fazer uma trilogia mais geográfica, mais de costumes, de formas de expressão, de culinária. Então eu lancei primeiro Umbilina. É uma história sertaneja. Não gosto de dizer que é regionalista. É uma história de realismo mágico (expressão que também tá demodè). Eu usei o catolicismo popular para mostrar que se vive na prática o realismo mágico no Sertão de Pernambuco. Pode perguntar à Cida, que ela não me deixa mentir. É puro realismo mágico. Cida mesma conheceu dona Maria Nenen, dona Ermínia dos Paus Pretos. Pois bem. Fiz Umbilina, que era sobre Bodocó, a terra onde nasci. Fiz uma pesquisa de linguagem, de termos, etc. Depois, queria escrever uma história sobre o Recife. Comecei a pesquisar e vi que era melhor falar sobre o Recife dos anos 50. O glamour das noites do Bairro do Recife. Passei a ler sobre a prostituição, sobre o cais do porto. E me envolvi demais, entrevistei velhas putas. Resgatei umas histórias e vi que todas as mulheres dali tinham uma forte ligação com São Jorge, com Xangô, com Oxum. E os fatos foram se juntando na cabeça. À parte isso, tem aquele lance de dizer que havia casas mal-assombradas no Recife. E eu fui juntando o glamour com o sobrenatural. Até que um dia, conversando com Liêdo Maranhão, ele me mostrou umas fotos pornográficas (bem artísticas) do Recife Antigo. E eu entrei naquele clima mesmo: havia sacanagem, mas era um tempo artístico, entende? Foi quando ele me disse que Rossellini esteve na zona. Eu disse: caramba! É a minha história. Então, eu juntei verdades e mentiras. E deu no que deu. Quanto ao terceiro livro da "trilogia", lancei no dia 31 de agosto deste ano Acabou-se o que era doce!, que fala da politização do pernambucano. A história começa no Recife e vai até o Sertão. Desta vez não mais Bodocó, mas Floresta do Navio.

Em Rossellini você usa preâmbulos que antecedem os capítulos - recurso muito utilizado, por sinal, por grandes nomes como Cervantes, Dickens, Jonathan Swift etc - só que você deu um toque pessoal: uma frase ora filosófica, ora metafísica arrematando o preâmbulo. Como foi a concepção estética do livro? Ao fazer suas pesquisas você já sabia que formato final ele teria?

Antes de começar a escrever a história, eu fiz uma espécie de roteiro, uma divisão dos capítulos, e defini o que diria em cada um. Fiz um resumo com frases-chaves para eu não me perder a idéia original durante a narração. Podia até mudar a idéia, mas não perdê-la. Morro de medo de esquecer a lógica do que estou escrevendo. E no caso de "Rossellini..." consumi seis meses. As frases que fui anotando para não perder o fio da meada eram do tipo: capítulo X "Dora trai o amante americano..."; capítulo Y "A cartomante prevê a chegada de um homem muito importante...". Depois eu me perguntei: já que essas frases foram escritas, por que não usá-las nos preâmbulos? Não houve uma intenção de copiar, mas terminei copiando os clássicos. Quando resolvi usar essas, pensei em dar a elas um marketing. Eu queria "vender" o capítulo para o leitor. Oferecer o produto escrito, mas oferecer de uma forma que seduzisse o leitor. Então, as frases precisavam ser mais que informativas. Elas deveriam ter uma adjetivação. E eu encontrei isso quando comecei a pesquisa sobre o neo-realismo. Isso que você fala de metafísico ou filosófico está no neo-realismo, que é uma corrente artística que mistura realidade e ficção. A proposta do livro era exatamente essa, misturar esses dois eixos. E os preâmbulos surgiram, finalmente.

E o seu envolvimento com o teatro? Nesta área você também é um autor premiado...

Eu comecei lendo peças, ainda na adolescência. A primeira foi uma desconhecida, de Jorge Amado, O Amor do Soldado. Depois, li O Santo Inquérito, de Dias Gomes e essa mexeu comigo. Eu fiquei muito reflexivo com aquela força que vinha do texto. Então eu fiquei pensando: como é que se faz isso? Li o texto e posteriormente tive a oportunidade de ver o texto montado por um grupo local de teatro do Recife, no Valdemar de Oliveira, cuja atriz principal era Marilena Breda. Ela fazia Branca Dias. Foi outra surpresa pra mim. No texto escrito e no texto montado, vi claramente que eram duas coisas iguais e diferentes ao mesmo tempo. Aí eu descobri a possibilidade. Teatro me encanta pela possibilidade, pelos mil caminhos que ele te indica E me empolguei. Aí continuei lendo. Li Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, os textos de Maria Clara Machado, li Ibsen, Brecht, Federico García Lorca. Um dos textos que mais que marcou foi As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder. Já que estava no embalo, também li todas as teorias de teatro, até que um dia eu pensei: não vou ler teoria, não quero ser diretor de teatro. O que eu sou mesmo é um curioso que escreve. E fui me envolvendo com a proposta de literatura para teatro. Como eu tenho uma facilidade muito grande de fazer diálogos, então os textos brotaram com mais facilidade. Teatro exige muito cuidado, exige que a palavra usada seja muito medida, pois a palavra é a jóia do império. Através do diálogo, sem o artifício de descrever as cenas, você tem que estabelecer um pacto, de fazer o jogo acontecer. Ou seja, é preciso usar a palavra certa e forte. Teatro e literatura é um casamento perfeito, como a pintura e a escultura; como a música e a dança.

Escrever peça infantil é mais difícil que escrever para adulto? Você tem "na gaveta" alguma peça que ainda não foi encenada?

Em geral, as pessoas acham que escrever para criança é difícil porque se trata de uma relação de desiguais. E é. No caso, escritor adulto escreve para um leitor infantil. São dois mundos diferentes. A pessoa que escreve para criança precisa fazer um exercício de humildade, desfazer-se das carapaças que a vida adulta vai colocando ao longo do tempo. Precisa também entender de poesia, saber da importância dos detalhes, sem nunca ser piegas. Caso contrário, ele nunca chegará à criança da platéia. Realmente não é simples escrever peça de teatro infantil, pois além desse desafio de captar o interesse da criança, é também preciso emocionar a pessoa adulta que acompanha a criança ao teatro. Criança nenhuma vai sozinha para o teatro, por isso é preciso lançar mão de uns temas "adultos", entende? É um desafio para qualquer escritor. Mas, apesar disso, os autores de peças infantis não são reconhecidos pelas suas obras. E quando eu falo desse não-reconhecimento estou falando da crítica, das instituições que controlam as políticas culturais e até mesmo da classe artística. Você não encontra o reconhecimento que merece. O nobre é fazer teatro adulto. Quem faz teatro infantil o reconhecimento acaba quando a temporada acaba. Então eu me pergunto: o gênero dramático (teatro infantil) está enfraquecido? Ou as pessoas é que são preconceituosas com o teatro infantil? Eu posso questionar, pois tenho cinco peças infantis, sendo uma delas ainda inédita, cujo título é Os Vaga-lumes. Das quatro que já foram montadas no Recife, três ganharam prêmios. Uma, de melhor texto pela Apacepe (Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco) e as outras duas receberam o Miriam Muniz.

Agora um pouco de jornalismo. Na época dos nossos pais e avós a profissão de jornalista era até mal vista, aquela coisa: vai morrer de fome! Hoje, nos vestibulares, as vagas para os cursos da área de comunicação social são concorridíssimas. Parece que todo mundo quer ser jornalista e publicitário. É modismo ou é a glamourização do Quarto Poder?

É tudo isso e mais o desconhecimento sobre o mercado de trabalho. Eu fico impressionado como é que, nos dias de hoje, com tanta informação disponível, as pessoas insistem em tomar decisões sem levar em conta sobre o futuro, sobre o que a profissão pode garantir. Hoje, em cada esquina você encontra uma pessoa formada em jornalismo, mas grande parte não sabe escrever uma notícia. Aliás, não sabe juntar duas frases com objetividade e clareza. Qual o destino desse profissional, num mundo cada vez mais exigente, num mercado que está pedindo multifunções? E então eu me pergunto se as faculdades estão de fato cumprindo o seu papel, voltando à discussão dos anos 90, de que fazer um curso superior de jornalismo era inócuo, dispensável.

Em 2005, quando você era editor executivo do Jornal do Commercio, foi demitido sumariamente por autorizar a publicação de uma matéria que ia de encontro aos interesses da diretoria do Sistema JC de Comunicação. Sua demissão causou protestos de jornalistas daqui e de outros Estados - houve até um abaixo-assinado com apoio de várias entidades: Instituto Paulo Freire, Movimento Nacional de Direitos Humanos, Sindicato dos Jornalistas etc. Hoje, em 2008 - e se ainda fosse funcionário do JC - você tomaria a mesma decisão de 2005?

Mais do que nunca, hoje eu tenho clareza de que mandaria publicar. Sou contra o trabalho escravo, como qualquer pessoa de bom senso. O Jornal do Commercio não me demitiu por causa da matéria em si, mas porque a publicação da matéria poderia ferir a amizade do dono da Folha de Pernambuco (proprietário da destilaria que estaria mantendo os trabalhadores em regime de semi-escravidão) com o dono do Jornal do Commercio. Agora veja que ironia: meses depois da demissão eu fui procurado por uma pessoa da Folha de Pernambuco que me trazia um recado dos diretores da empresa, mandando dizer que jamais, em tempo algum, pediram minha cabeça ao Jornal do Commercio. Ou seja: O JC foi mais real que o rei. Mas, eu digo e repito: um editor executivo tem cargo de confiança do jornal e deve fazer o que for determinado a um editor executivo. No meu caso, eu mandei publicar porque sempre arquei com o ônus e o bônus da função. Nunca me arrependi de ter publicado.

Existe imprensa livre?

Não. E vou dizer mais: a imprensa não é livre nem mesmo para o dono. Um jornal, por exemplo, nem sempre publica só o que o dono quer. O poder público manda nos jornais (ou o jornal publica a notícia favorável ou o poder público não manda publicar os milhares de editais). O poder econômico manda nos jornais (ou o jornal pega leve ou os empresários não publicam os anúncios). A religião tem influência num jornal. Os amigos do dono do jornal e os familiares têm influência, sim, no que o jornal publica. Sabendo disso, o leitor precisa ter senso crítico para formar sua opinião sobre o que vê, lê e escuta. Já conheci uma pessoa que declamava, na mesa do bar, tudo o que lia nas páginas da Veja. E jurava que era uma pessoa bem informada. Convém ler mais de um jornal ou mais de uma revista, ver mais de um canal de televisão, ouvir mais de uma emissora de rádio. Mas, é bom a gente fazer uma reflexão: quando um leitor compra um jornal ou uma revista faz isso de livre e espontânea vontade. Ele compra sabendo exatamente o tipo de informação que vai encontrar ali. É uma opção dele. Ou seja: ele tem o poder de comprar ou deixar de comprar, caso não goste daquele produto.

Estou lendo o seu último livro publicado, o Acabou-se o que era doce!, cuja história se passa no município de Floresta, Sertão pernambucano. Aproveitando o mote e para finalizarmos esta entrevista gostaria de saber como você se relaciona com as suas raízes interioranas. Muitas pessoas que migram para a cidade grande vivem um misto de nostalgia-mágoa, nostalgia-alegria, nostalgia-repulsa ou outros preferem esquecer de vez que nasceram no interior. E com você? Como Bodocó situa-se no âmbito afetivo?

Sem Bodocó eu jamais seria isso que aprendi a ser. Tudo o que escrevo tem a ver com o que sou, com o que fui, com o que quero ser. E eu sou apenas uma pessoa modesta que, se tiver chance, dispara no cavalo magro de Dom Quixote e ganha o mundo. E ganho.
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Raimundo de Moraes é poeta, cronista, jornalista e colunista da INTERPOÉTICA
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Fonte:
http://www.interpoetica.com

Sérgio Augusto Silveira (Poesia em Gotas)

(1955 Curitiba/Paraná)

A GOTA DE CADA UM

Para Mário de Andrade,
Uma gota de sangue em cada poema.
Para Bilac, uma gota de orvalho.
Para Vinícius, uma de uisque.
Para Cabral, uma de vinagre.
Para Castro Alves, uma de suor.
Para Jorge de Lima, uma de vinho.
Para Ascenso, uma gota de cana.
Para Drummond, uma de colírio.
Para Quintana, uma de framboesa.
Para Oswald, uma gota de café.
Para Augusto dos Anjos,
Uma gota de água da fonte.
Para Bandeira, uma gota de rio.
Para Cardozo, uma de agá-dois-ó.
Para Gonçalves Dias
Uma gota de mar.
Para Guimarães Rosa,
Uma gota de magma cachaça.

E AGORA?

Um dia você foi dormir
Embalado pelas certezas
Na cama absoluta da lógica
Irrefutável,
destruidora daquela ordem que
Oprime, canta e castra.

Um dia você já tinha esquecido o
José de Drummond,
Tão velho no passado,
Pensado e abandonado no acostamento
dos anos setenta, oityenta,
Nos ventos do mundo que consolavam,
Esqueciam, liberavam,
cicatrizavam e preparavam para
Novos atos na paz da
Nova cidade
Armada com velhos e novos tijolos.

Um dia você confundiu,
Emaranhou-se nas teias da
Aranha caranguejeira,
Nas negaças dos que você esperava
Serem iluminados como José.

E um dia você acordou
Na cama desmontável da
Ordem cantada,
Na pior das horas,
A de agora.

O QUINHÃO
( Pelos 500 anos do "Descobrimento" )

Até agora não se sabe
A quantos quinhentos bandos e tribos
Passaram a caminhar sem ajuda das mãos
Na Amazônia, nos Andes, na Patagônia,
Pelas margens dos paranás,
Na beira do São Francisco,
Margens do Solimões, do Guaíba,
Pelos matos dos igapós.
Só se sabe que um dia essa gente viu
Barcos grandes no mar verde,
Palavras absurdas como estas chegando na areia,
Panos no ar e gritos, atropelos, correntes,
Paus cruzados enfiados na areia,
Homens ajoelhados gritando
Iesumaria!
E apertando em nossas testas os paus cruzados
E jogando água em nossas cabeças
E gesticulando pra gente entender.
Depois esticaram panos vermelhos, verdes
E mostraram umapedra lisa em que tinha nela
Nós mesmos,
Rindo, fazendo careta.
E nos deram vinho escuro, depois água de fogo
Que dá alegria, saber, força, fraqueza nas pernas,
Doença, escravidão.
E aí proibiram nossa fala,
Policiaram nossas danças,
Proibiram nossa reza
E tomaram nossas árvores
E acabaram completando os quinheiros.

O DOM NÃO SILENCIOSO
( Lembrando dom Hélder Câmara )

Velha muralha,
Semente, folha nas fendas,
Na casca dura
Por onde a vida tanto bate
Como água.

Americana batalha,
Pé ante pé, seguindo.
Do espírito horizontal
Resistente abelha operária.

Trombone, verrina fecunda
Nas brechas já expostas
Pelo corpo da pedra,
Pela madrugada,
Pelo novo, pelo belo, pelo elo
Com o amanhã.

Aqui o rio que existe pela minha aldeia,
O Dom não silencioso.

BRASÍLIAS

Cena pintada,
Cena forjada em duas medidas.
Brasília Alphaville,
Brasília alfavela.

restos de caixas, pneus rasgados,
Trapos no vento salgado,
Parede traçada, erguida a mão, a pé,
A pulso.

Descompasso na lama,
Sem régua e prumo
Na beira d´água,
Precisão da linha torta.

Brasília precisa no papel,
Na prancheta, no planalto.

Brasília precisão
de ter, ser, mastigar, engolir,
Curar.

Verde,
Brasília palácio fita o horizonte do Brasil.
Amarela,
Brasília palafita do Recife.

CACHAÇA

No cálice de vidro está
Parado,
Translúcido,
Mais do que o cálice,
Mais do que água pura,
Atravessado em todos os graus pela
Luz,
O Sol feito
Senhora imaculada.

A louca cheirosa
Que atravessa os campos da Mata
Até este vidro que imita a
Transparente água doce da cana,
A louca ardente
Pousa serena
À minha espreita.

No instante do cálice,
Sujeita à luz total,
O ardor sobe aos lábios,
À língua, à glote
No gole que finca no espírito
Os raios do Sol feitos
Chama brava,
Chama quente,
No coração,
Na mente.

QUE RECIFE SEJA

A cidade foi fincada no mangue beira de rio-mar,
Está hoje como está

E assim esteja
E que assim sejam
Os sóis derramados de seu tempo,
As mangueiras de seus quintais,
Os caminhos até suas praias,
Assim seja a sombra de suas palmeiras,
matas,
Seja a lua de suas curtas noites,
Seja o arrumadinho de seus pratos à mesa,
Sejam as aves e crianças de seus ninhos,
Seja o marulho verde de seus mares,
Sejam as águas que desenham suas pontes,

Sejam os murais dos que traçaram seu perfil,
Sejam as festas de suas camas e carnavais,
Sejam os seres de seus amores, imaginação,
E que assim eles sejam,
Mudando que estejam,
Por todos os ósculos dos
ósculos,
Amem-se por aí.

NA ILHA MÁGICA

Do pé da ponte em diante, rumo ao mar,
O climágico pinta, dá peso às paredes
Enquanto o sopro vem dos guindastes,
Passa e benze o bairro de janelas-altares,
Assobia nas escadas que rangem
Um idioma do tempo nos pés
E deixa aéreas Minerva e Ceres na cabeça da ponte.
Divindades de dia em pesada capa de ferro
Embalam à noite o fantasma do príncipe Nassau,
Fixando a face perfeita e fria sobre nós
Enquanto olham eternas para o Chanteclair,
Num cântico mudo na boca de metal,
Em vigília perene varrendo as sacadas-púlpitos
Empedradas pelas décadas da ilha do Recife.
Imagirreal na trajetória das pombas do porto,
Além dos dias, do calendário de papel,
Ancorada no presente sem fim de suas caras e bares
Que desenham o pedaço iluminado da cidade.

NO BOLEIRO

O teto da cidade,
Aquele de mato e barro encostado,
Seguro pelos cabelos, aquele quebrado
Sobre o chão em declive serpenteado
Em ladeiras, falsificado pelo arrimo,
Aquele teto simulado em destino
No alto da cidade,
Aquele telhado cinzento cobrindo
O ponto de busca, o ponto de fuga,
O ponto de ninguém, o ponto falso
Liquefeito líquido pelo escorrer
D´água numa manhã cinzenta, numa meia-noite
De barulho no amianto,
Num ranger de tábuas às duas e meia
Quando o Boleiro estremeceu
Em cima do falso piso,
Debaixo do falso teto e embolou
Numa pasta preta água abaixo.
A menina mãe,
A fiação de luz,
O grito na lama contra os choques.
Fios, fogo e espanto misturaram-se
Numa morte enleada para a
Mumificação – em barro e chuva –
Das fantasias de chão e teto no alto da cidade,
Boleiro abaixo.

O PÁTIO FANTASMA

As pombas do pátio
Imitam nuvens do céu
Aberto sobre o pátio
À luz do templo de
São Pedro
Barroco delirante com
Ervas de passarinho nas franjas,
O verde contra o barro do santo.

São Pedro sob a concha,
Inerte barba
Segura na altura,
Oração sob o cruzeiro no ápice,
Olhos cerrados do santo
Sobre as mesas e sons em cores do
Pátio pop palco,
Pedras quentes, frias no suporte da
Física música fera fono som.

Portas da fé belas cerradas
No seu estrondo barroco,
Só com as pombas, ervas, globos e sinos
Enfeixados nas alturas
Sobre o pátio largo, líquido,
Louco espaço de vôos em
Asas fantasias.
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Sérgio Augusto Silveira nasceu em Curitiba, Paraná. Ingressou no jornalismo, em 1970, no jornal ACrítica, de Manaus, como repórter de Geral, com passagens pelas Editorias de Polícia e de Economia. De 1973 a 1974 foi correspondente da revista Veja, no Amazonas. Transferiu-se para o Recife em 74, ingressando no Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, onde se formou na Turma de 1979.

Atuou como free-lancer das revistas da Editora Abril; e no Diario de Pernambuco, de 1976 a 1985, como repórter de Polícia e de Política, voltando a essa empresa, em 1998, para trabalhar em reportagens da área de Política.

Por duas ocasiões, trabalhou no Jornal do Commercio, sempre na Editoria de Política. Foi diretor de Redação da Assessoria de Imprensa da Prefeitura da Cidade do Recife (1985-1987); assessor de Imprensa da Secretaria de Indústria e Comércio, no segundo Governo Arraes. Foi, ainda, editor de Política da Folha de Pernambuco. Ganhou, em equipe, dois prêmios Esso, no Jornal do Commercio, com as reportagens SOS Pernambuco e 10 Anos da Anistia. Tem um livro publicado: Reportagem e Resistência - 1978-1982. Atualmente, é free-lancer de jornais e revistas nacionais
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Fontes:
http://www.interpoetica.com/sergio_augusto_silveira.htm
http://www.alepe.pe.gov.br/perfil/parlamentares/OswaldoLimaFilho/dadosdoautor.html

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ziraldo (Ler é muito mais Importante que Estudar)


Para ele, em geral, um menino feliz vira um cara legal. Cartunista e criador do famoso personagem “o Menino Maluquinho”, o mineiro Ziraldo encerrou a programação de palestras da Expo-Literária de Sorocaba, no dia 1º de novembro, quando falou sobre o tema “Ler é mais importante que estudar”. Uma curiosidade sobre o autor é que ele conhece bem a região de Sorocaba, já que sua irmã viveu aqui durante 10 anos. Simpático e bom de papo (ele adora conversar), Ziraldo não hesita em afirmar “estudar é importante, mas ler é muito mais importante que estudar”.

O autor também fez uma análise sobre a literatura contemporânea. “O negócio é o seguinte: a gente tem uma quantidade de escritores atuando no Brasil no momento de altíssima qualidade. A gente só não tem o prestígio dos escritores espanhóis porque eles escrevem para 13 países que falam esse idioma. E a língua de Cervantes, para a história do mundo, é considerada mais importante que a de Camões, então a gente fica no segundo time”, afirma.

O país, para Ziraldo, tem craques fantásticos na área da literatura. “Machado de Assis, por exemplo, é um dos escritores mais respeitados do mundo. Qualquer escritor de qualidade conhece, cita e fala do Machado. O crítico americano Harold Bloom, por exemplo, que escreveu um livro sobre os escritores mais fundamentais da história da civilização, cita Machado, que é o primeiro grande escritor negro do mundo. Ele era um escritor espantoso, assim como Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, e agora até o Paulo Coelho, que acaba de ser aclamado em Frankfurt como um dos maiores intelectuais vivos do mundo. Se a gente escrevesse em espanhol ou inglês já teria ganhado pelo menos uns três nobels de literatura”, acredita.

Conforme Ziraldo, nos outros países, o autor de livro para a criança não é considerado um escritor, com todas as letras. “No Brasil, o escritor para a criança conseguiu esse status, como Ruth Rocha, Ana Maria Machado e Tatiana Belinky, então todos têm a responsabilidade e a condição de escritor”, considera.

Antonio Skármeta, autor chileno da obra que deu origem ao filme “O Carteiro e o Poeta”, conta Ziraldo, é de um país que tem dois prêmios Nobel de literatura (Pablo Neruda e Gabriela Mistral), e em uma conversa que teve com ele, perguntou qual livro infantil era conhecido no Chile. “E ele disse que não conhecia nenhum. Nos outros países há um certo preconceito contra a literatura infantil, e aqui a gente consegue uma respeitabilidade. A literatura infantil no Brasil é de muita qualidade. Esses escritores que citei aqui não têm a pressão do editor, então o escritor consegue escrever o livro sem ter de atender as leis do mercado”.

Questionado se é muito difícil escrever para criança, ele responde: “ou é fácil ou é impossível!”, brinca.

Para Ziraldo, a obra de Machado de Assis como um todo é contemporânea. “Todo grande escritor é sempre contemporâneo porque o ser humano não muda. A gente continua sofrendo pelas mesmas razões, matando pelas mesmas razões, suicidando-se pelas mesmas razões. Arranje um ser parecido com Bentinho, apaixonado por uma mulher como Capitu e coloque um Escobar para ficar com a mulher dele e veja se não vai se comportar como Machado reportou. Até matava o Escobar! De maneira que Machado está falando da alma humana. E o ser humano não muda, o coração do homem não muda. Por isso Machado é um craque, um gênio”.

Três obras de Ziraldo
- O Menino Maluquinho (Editora Melhoramentos)
- Uma Professora Muito Maluquinha (Editora Melhoramentos)
- Menina das Estrelas (Editora Melhoramentos)

Ziraldo indica

Autores de obras para crianças
- Ana Maria Machado
- Ruth Rocha
- Pedro Bandeira

Obras de Machado de Assis
- Memórias Póstumas de Brás Cubas
- Dom Casmurro
- As publicadas com o pseudônimo Dr. Semana: “Para quem quiser conhecer um pouco mais da alma do escritor”

Fontes:
Reportagem de Daniela Jacinto para o Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno D, de 16 de novembro de 2008.
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece
Desenho =
http://www.ziraldo.com/

Ziraldo (1932)

Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932 em Caratinga, Minas Gerais. É o mais velho de uma família de sete irmãos. Seu nome vem da combinação do nomes de sua mãe, Zizinha com o de seu pai Geraldo: assim surgiu o Zi-raldo, um nome único.

Passou a infância em Caratinga, onde cursou o Grupo Escolar Princesa Isabel. Em 1949 foi com o avô para o Rio de Janeiro, onde cursou dois anos no MABE (Moderna Associação de Ensino). Em 1950 voltou para Caratinga para fazer o Tiro de Guerra. Terminou o Científico no Colégio Nossa Senhora das Graças. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito de Minas Gerais em Belo Horizonte, em 1957.

No ano seguinte casou-se com D. Vilma, após sete anos de namoro. O casal tem três filhos, Daniela, Fabrizia e Antônio, e quatro netos.

Ziraldo tem paixão pelo desenho desde a mais tenra idade. Desenhava em todos os lugares - na calçada, nas paredes, na sala de aula... Outra de suas paixões desde a infância é a leitura. Lia tudo que lhe caia nas mãos: Monteiro Lobato, Viriato Correa, Clemente Luz ( O Mágico), e todas as revistas em quadrinhos da época. Já nesse momento, ao ler as páginas do primeiro "Gibi", sentiu que ali estava o seu futuro.

A carreira de Ziraldo começou na revista Era Uma Vez... com colaborações mensais. Em 1954 começa a trabalhar no Jornal A Folha de Minas com uma página de humor. Por coincidência foi esse mesmo jornal que publicou o seu primeiro desenho em 1939, quando tinha apenas seis anos de idade!

Em 1957, começou a publicar seus trabalhos na revista A Cigarra, e posteriormente em O Cruzeiro. Em 1963 começou a colaborar com O Jornal do Brasil, onde até hoje publica diariamente uma tira de comics. Trabalhou, ainda na revista Visão e Fairplay.

Ziraldo fez cartazes para inúmeros filmes do cinema brasileiro como Os Fuzis, Os Cafajestes, Selva Trágica, Os Mendigos, etc. Foi no Rio de Janeiro que Ziraldo se consagrou como um dos artistas gráficos mais conhecidos e respeitados nacional e internacionalmente.

Entretanto, dada a diversidade de sua obra, não é possível limitá-lo apenas às artes gráficas. É um artista que tem ao longo dos anos desenvolvido várias facetas de seu talento. Ziraldo é também pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor.

No decorrer dos anos 60 seus cartuns e charges políticas começaram a aparecer na revista O Cruzeiro e no Jornal do Brasil. Personagens como Jeremias, o Bom, a Supermãe e posteriormente o Mineirinho, tornaram-se popularíssimas.

É igualmente no início da década de 60, que realizou seu sonho infantil: transformou-se num autor de comics e lançou a primeira revista brasileira do gênero feito por um só autor, reunindo uma turma chefiada pelo Saci Pererê, figura mais importante do imaginário brasileiro. Os personagens dessa turma incluíam um pequeno índio e vários animais formadores do universo folclórico brasileiro tais como a onça, o jabuti, o tatu, o coelho e a coruja. A Turma do Pererê marcou época na história dos quadrinhos no Brasil.

Em 1964, com a tomada do poder pelos militares, a revista encerrou sua carreira. Era nacionalista demais para sobreviver ao golpe fascista no Brasil. Entretanto, a força desses personagens, tão tipicamente brasileiros, resistiu aos duros anos do militarismo.

Em 1973 a Editora Primor do Rio de Janeiro viria a reeditar em 3 álbuns uma seleção das melhores histórias do Saci Pererê com o nome - A Turma do Pererê. As histórias passaram então a fazer parte de vários livros didáticos publicados no país, ajudando a criança brasileira a conhecer melhor sua cultura.

Durante o período da Ditadura Militar ( 1964-1984 ), Ziraldo realizou um trabalho intenso de resistência à repressão. Fundou, junto com outros humoristas, o mais importante jornal não-conformista da história da imprensa brasileira, O Pasquim. Ziraldo considera que o Pasquim foi também o grande celeiro de humoristas pós 68.

Quando foi editado o AI - 5, durante a Revolução Militar, muita gente contrária ao regime, procurou se esconder para fugir à prisão. Ziraldo passou a noite ajudando a esconder os amigos e não se preocupou consigo mesmo. No dia seguinte à edição da famigerado Ato, foi preso em sua residência e levado para o Forte de Copacabana, por ser considerado um elemento perigoso.

Em 1968, Ziraldo teve reconhecido o seu talento internacionalmente, com a publicação de suas produções na revista Graphis, uma espécie de Panthéon das artes gráficas. Teve ainda trabalhos publicados nas revistas internacionais Penthouse e Private Eye da Inglaterra, Plexus e Planète da França e Mad nos Estados Unidos.

No ano de 1969 grandes acontecimentos marcaram a vida do artista. Ganhou o Oscar Internacional de Humor no 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas e o prêmio Merghantealler, prêmio máximo da imprensa livre da América Latina, patrocinado pela Associação Internacional de Imprensa, recebido em Caracas, Venezuela. Foi convidado a desenhar o cartaz anual da UNICEF, honraria concedida pela primeira vez a um artista latino.

Ziraldo fez um mural para a inauguração do Canecão, casa noturna do Rio de Janeiro, numa parede de mais de cento e oitenta metros quadrados. Esta obra foi reproduzida em várias revistas do mundo, mas encontra-se hoje escondida atrás de um painel de madeira.

Foi ainda nesse ano que publicou seu primeiro livro infantil, FLICTS. É a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo. Nesse livro usou o máximo de cores e o mínimo de palavras. A Embaixada Dos Estados Unidos no Brasil presenteou com um exemplar os astronautas americanos que pisaram na lua pela primeira vez, quando de sua visita ao Brasil. Neil Armstrong, um dos astronautas leu o livro e comovido, escreveu ao autor: The moon is FLICTS.

Na década de 70, com seu trabalho já consagrado, Ziraldo prosseguiu abrindo caminhos no Brasil e no mundo Desde 1972 seus trabalhos são sempre selecionados pela revista Graphis Anual e Graphis Porter.

Diversas revistas internacionais usam seus desenhos em capas, inclusive Vision, Playboy, e a GQ ( Gentlemen's Quaterly). Os seus cartuns percorrem revistas de várias partes do mundo. Alguns de seus desenhos foram selecionado para fazer parte do acervo do Museu da Caricatura de Basiléia, na Suiça.

A partir de 1979 Ziraldo passou a dedicar mais tempo à sua antiga paixão: escrever histórias para crianças. Nesse ano publicou O Planeta Lilás, um poema de amor ao livro, onde ele mostra que o livro é maior que o Universo que cabe inteirinho dentro de suas páginas.

Em 1980 Ziraldo recebeu sua maior consagração como autor infantil na Bienal do Livro de São Paulo, com o lançamento de O Menino Maluquinho. O livro se transformou no maior sucesso editorial da Feira e ganhou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro em São Paulo. Esse livro foi adaptado para o teatro, cinema, WWW, e em ópera infantil pelo Maestro Ernani Aguiar. O Menino Maluquinho virou um verdadeiro símbolo do Menino Nacional.

Em 1994, O Menino Maluquinho, o Bichinho da Maçã, a Turma do Pererê o e próprio Saci Pererê, transformam-se em selos comemorativos do Natal. Nessa homenagem dos Correios e Telégrafos ao artista sua arte foi espalhada pelos quatro cantos do planeta, com votos de Boas Festas, Feliz Natal e Feliz Ano Novo. Os livros de Ziraldo já foram traduzidos para várias línguas, entre elas, espanhol, italiano, inglês, alemão, francês e basco.

Como todo bom brasileiro, Ziraldo aprecia o Carnaval. Foi dos primeiros a desfilar com a Banda de Ipanema ao lado de Albino Pinheiro, Leila Diniz e a turma do Pasquim. O seu livro FLICTS já foi enredo de escola de samba em Juiz de Fora, e Ziraldo desfilou no chão ao lado do filho Antonio. Mais recentemente, no Carnaval de 1997, Ziraldo foi novamente homenageado. Desfilou no alto de um carro com um enorme Menino Maluquinho, do qual desceu com o auxílio de um guindaste!

Ziraldo tem diversas passagens pela televisão. Participou como jurado de inúmeros programas, festivais e até de concurso de Miss Brasil nos idos anos 60. É também apresentador e entrevistador. Quando entrevistado tem sempre pontos de vista interessantes a defender. Uma de suas frases mais conhecidas é Ler é mais importante do que estudar.

Sua arte faz parte do nosso quotidiano, e pode ser identificada em logotipos famosos como o da Telerj, caixinhas de fósforo que viraram ítens de colecionador, cartazes da Feira da Providência, centenas de camisetas, símbolos de campanhas, etc. Ziraldo está sempre envolvido em novos projetos, e uma das novidades na prancheta é a revista Bundas, uma resposta bem-humorada à ostentação emergente de Caras. "Quem mostrou a bunda em Caras jamais vai mostrar a cara em Bundas"...

Fonte:
http://www.ziraldo.com/historia/biograf.htm

Dorothy Jansson (O Tempo está passando muito rápido)

Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí... à toa,
e somos nós que voamos.

Cena mais bela e de graça
é o sol a se despedir
a cada dia que passa,
e de manhã... ressurgir.

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

domingo, 23 de novembro de 2008

Santuário da Poesia 1



Tere Penhabe (Presente do Tempo)

Lá vem o tempo,
com um pacote de presente
vem trazendo irreverente
mais um ano pra viver...

Eu quero o meu
e espero ainda poder
fazer toda a diferença
na hora de acontecer...

Que o tal de amor
continue a me rondar
não precisa se instalar
basta minh'alma entreter...

Que as amizades
só façam multiplicar
que os rancores e as mágoas
vão cantar noutro lugar...

E a Paz Bendita
que por ela tantos clamam
que finalmente aconteça
sendo real e sem manhas...

Que os homens se encontrem
com o reflexo do espelho
envergonhem-se a tal ponto
que possam regenerar-se...

É mais um ano
outra chance de acertar
desejo de coração
que este ano seja bom...

Que as bênçãos do Menino Deus
que de nós não Se esqueceu
façam ainda maravilhas
com o ano, meu e seu!

Santos, 29/12/2005
––––––––––––––––––––
Margaret Pelicano (Lá vem o tempo)

Lá vem o tempo.
Corre célere para com o dia amanhecer
é um novo ano que chega,
trazendo um novo reconhecer:
de idade, de vivências,
de calma, tranquilidade,
um pote cheio de ouro - A serenidade!

Lá vem o tempo tirando a tampa do pote!
Passa rápido,
mas com o homem não pode!
Este nunca perde a ilusão, a vontade de vencer,
o amor pelas mulheres
pelo futebol, pela dança,
e ironicamente... gosta de ver acontecer...

Lá vem o tempo,
como um jornaleiro,
trazendo notícias diariamante
para todos os companheiros:
É uma guerra aqui, outra acolá,
velhos sendo maltratados
crianças abandonadas...isso é muito do que há!

No caderno dois, muita vitalidade:
gente rica e poderosa
moda, horóscopo, crônicas, prosa...
depois nos classificados: acompanhantes para a noite
e começa a baixaria...
Lá vem o tempo, agora, como uma velha tia
rabugenta, implicante, desfrutuosa...

É, o tempo é um noticiário,
um velho espantalho,
que, às vezes camufla as verdades,
e quando as descobrimos, já é tarde!
Por outro lado,
um bom amigo:
quando nos cansamos,
ele nos leva para dourados campos de trigo,
em sonhos delirantes, ou pesadelos preocupantes...

Enfim, sempre haverá um novo ano,
novas expectativas
novos desejos de mais amor,
mais dinheiro,
diálogos corriqueiros,
contas a pagar,
e nós, pobres humanos, contamos que tudo vai mudar!

Brasília, DF - 30/12/2005
–––––––––––––––––––––-
Zena Maciel (Peregrino do Tempo)

O ser humano constrói a
existência nos braços
na liturgia do tempo
Tempo de nascer..
De crescer...
De aprender...
De amar...
De sonhar...
De viver...
De sofrer...
De ser...
De ter...
De ganhar...
De perder...
De olhar para a vida
e tentar desmistificar
o imensurável tempo
Tempo de ser
Ser eterno peregrino do tempo
Esta é a síntese da finitude do ser

Recife-30 de dezembro de 2005
–––––––––––––––––––––––-
Regina Bertoccelli (O Tempo)

Agora, neste exato momento
em que disponho de alguns minutos ociosos,
roubados de tarefas e deveres que deveria estar cumprindo,
me permito apenas divagar, refletir, pensar...
Deixo as horas passarem lentamente e sem atropelos,
lânguidas, seguindo seu curso natural
Preciso de um tempo sem cobranças,
sem compromissos marcados,
sem a presença de relógios, sem pessoas me esperando.
Afinal, já vivi tanto em função de horários estabelecidos,
marcados, agendados
Hoje , preciso e me reservo o direito de lidar com o tempo
de uma forma mais prazerosa e inconsequente
Cansei das correrias e das agitações do cotidiano
Afinal, nunca deixo nada por fazer, e nem pessoas me esperando
Apenas sou mais parcimoniosa e aprendi a administrar as horas
Hoje, este é o meu tempo
Mais lento, mais cauteloso,
mais sabiamente direcionado

"O tempo não para!!!
Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."
( Mário Quintana )
––––––––––––––––––
Jorge Linhaça (Tempo de Despertar)

Tempo que te quero tempo
tempo de alegria e não de lamento
Tempo de reconstrir
Tempo de viver

Tempo que te quero tempo
Tempo de afinal um alento
tempo de amar sem sofrer

Novo ano que se anuncia
esperanças que se renovam
tempo novo que pronúncia
palavras de boas novas

Tempo, tempo, ó bom tempo
que resplandeça sobre nós a paz
que se finde todo o tormento
que a falta de tempo nos traz

Arandú,31/12/2005
–––––––––––––––––––
Valeriano Luiz da Silva (Tempo)

Creio que ninguém duvidará
Que o tempo em nossa vida
Nunca mais voltará...
E o que ficou para traz são experiências adquiridas
O que for útil você deve aproveitar
E as faltas que cometestes deverão ser esquecidas

Anápolis-Go, 18/06/05
–––––––––––––––––––––
Lauro Kisielewicz (O Tempo)

O tempo voa...
O tempo urge...
O tempo passa...
Mas,
que tempo é esse
que o tempo todo
nos deixa sem tempo
de ignorar
se é tempo propício
para amar?!
Sempre alegando
Falta de tempo,
não achamos tempo
para amar nossos filhos
e quando eles,
escolados por nós,
têm seus filhos,
nem notam os brilhos
do brilhante olhar
dos nossos netos...
Os filhos crescem
e desaparecem
às vezes se esquecem
que nós existimos...
não os meus... não os meus...
Graças a Deus,
estes se lembram
e por mais que o tempo passe
que boas lembranças
se amassem
e que em pouco tempo passem
a nem serem mais lembradas...
Foi tempo que passou...
ou fomos nós
que passamos pelo tempo,
sem encontrar tempo
de viver, sorrir e amar?
O tempo, NÃO VOLTA ATRÁS!
Ama,
sorri
e vive agora!
Depois,
será tarde demais!
Não terás tempo...
O tempo ficou para trás...
–––––––––––––––––––––
Maria Thereza Neves (Parem o Tempo!)

O mundo roda, roda
e gira e volta
o tempo escapa-me entre os dedos
preciso segurar o vento
deter os ponteiros do relógio
as letras estão correndo
V O A N D O
o pensamento cansado, lento
sem tempo para o apressado tempo .
––––––––––––––––––––
Patrícia Neme (E aqui vai o meu Tempo)

Verdade, só pode ser ,
uma tremenda ironia:
um ano tão doloroso,
que moeu todo o meu ser,
de jeito cruel, manhoso...
Em seus momentos finais,
chega-me, assim, carinhoso,
regalando-me, em poema,
um repensar tão profundo,
qual promessa do Eterno,
que em gesto fiel, fecundo,
faz-me relembrar que o Tempo,
qualquer seja o seu momento,
é seguro em Sua mão.
Que em todo e qualquer instante,
Ele é presença constante...
Que o sofrimento é um tropeço,
nas vias de um recomeço;
e qual seja o meu tormento,
Ele é PAZ, em prosa e verso,
que Ele é vida, e não reverso.
Então eu fico quietinha,
com minh’ alma acalentada,
dizendo muito obrigada,
a esse quarteto de anjos
que me soube recordar,
que eu vivo além do instante,
de relógio ou convenção.
Que eu vivo da poesia,
minha fonte de alegria,
no cantar e na oração.
Então, rogo ao meu Senhor,
Paz, Saúde, Luz, Ventura,
a Terê, a Magareth,
ao Lauro, e também a Zena,
que tenham as sendas planas,
de muita serenidade,
onde a vida lhes sorria
com toda a sua doçura.
E o Tempo...
O Tempo será o amigo
que um dia nos unirá;
neste aqui, ou neste agora...
ou pelos lados de lá...
Pois quem tem sangue poeta,
vive aqui, vive acolá!
–––––––––––––––––
Bernardino Matos (Há Tempo para a Felicidade!)

“Vamos dar tempo ao tempo”, revela prudência,
“não há como um dia atrás do outro”,sabedoria,
“ponha a cabeça no travesseiro”, paciência.
“Dê-me um tempo”, para não se ficar na teoria.

O tempo não é uma unidade de medida,dia,mês,ano,
é parte integrante e vital de nossa trajetória,
ele agrega nossas tristezas, alegrias,abre o pano,
do teatro de nossa vida, registra nossa história.

Há tempo para amar, sofrer,sorrir, sobreviver,
nós somos os gestores,os responsáveis pelas ações,
que definem nossa rota,destino, nosso acontecer,
ele é o palco onde atuamos, onde tomamos decisões.

Se formos sempre atentos, prudentes, precavidos,
poderemos atingir nossas metas, nossos objetivos,
contribuiremos pro sucesso dos momentos vividos,
e teremos, para enfrentar nossa luta, os motivos.

No início de cada ano, revisamos nossas vivências,
planejamos uma correção de rota, novos caminhos,
no lugar das amarguras,de tantas imprudências,
queremos colocar pitadas de ternuras e carinhos.

“Quem por algum amor não sofreu, passou pela vida,
não viveu”,sobrevoou, não percebeu a importância,
da paixão, das emoções,das amizades, em sua lida,
se desgastou,andou em vão,correu sem consistência.

Não existe tempo para um gesto sincero de carinho,
para um beijo apaixonado, para uma declaração
de amor,para uma atitude de perdão e devagarzinho,
arrancarmos os espinhos da injustiça e ingratidão.

Temos tempo para tudo,inclusive para a felicidade,
mas afastamos a essência da vida,andamos perdidos,
procuramos atalhos,fugimos dessa grande realidade,
que sem Deus, sem fé, sem esperança,somos falidos.

Urge aproveitarmos bem todos os nossos momentos,
para construirmos um mundo melhor, mais acolhedor,
onde o ser humano possa dar vazão aos sentimentos,
de solidariedade,de fraternidade, de muito amor.

Fortaleza, 01 de janeiro de 2006.
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Maria Granzoto da Silva (1948)



(Arapongas, PR, 03/05/1948)

Arapongas(PR) é cognominada a “ Cidade do Passarinhos”. Segundo Parque Moveleiro do País, possui vida industrial muito intensa! Aqui, todas as ruas têm nome de pássaros, a iniciar pelo nome do Município, Arapongas, devido ao grande número desse pássaro-ferreiro que aqui existia.

Começou a escrever desde criança ensaiava a escrita de versos, a que meus professores e, em especial, minha mãe, incentivavam.

Adorava memorizar versos de Castro Alves e Olavo Bilac! Depois, abracei Manuel Bandeira, hoje meu patrono na Academia.

1º trabalho literário: Foi um poema intitulado “ Meu Filho!, escrito em 1965, divulgado na página literária do Jornal “ O Radar”, de Apucarana (PR)

Poemas publicados em coletânea da Academia de Letras, Ciências e Letras Centro-Norte do Paraná, da qual é sócia-fundadora.

– Membro da Academia de Letras, Artes e Ciências Centro-Norte do Paraná
– Delegada da UBT/PR – Arapongas.
– Professora da Universidade Norte do Paraná – campus de Arapongas-PR

Como escritora ama a Poesia, a Literatura como um todo! Gosta de brincar com as palavras, descobrir em cada palavra um novo sentimento!

Quando vem o desejo de compor, pode estar na rua, em casa, no trabalho. E as palavras vêm e o poema acontece!

Conselho a uma pessoa que começasse agora a escrever: «Tenho feito isso a todos os meus acadêmicos que demonstram talento literário, incentivando-os a prosseguir. O mundo precisa de poetas e as novas gerações têm um potencial que não podem guardar apenas para si! Não desistir, mas perseverar e prosseguir!»

Fonte:
http://www.caestamosnos.org

Maria Granzoto da Silva (Trovas)


Falar de trovas, meu Deus!
Missão que faz me encantar!
Falar de trovas aos meus!
– Ainda não sei trovar!

Juro que estou a pensar
como se estivesse em prova.
Comecei com Deus falar
que me inspirasse uma trova.

Senti muito a sua ausência
naquele dia sem sol.
Só depois, pura demência,
descobri o meu arrebol.

Foi hilário aquele encontro!
que parecia escondido!
Não é que bati meu ponto
na sala do seu marido?

Tire essa barba nojenta,
bota vergonha na cara!
Hoje ninguém mais agüenta
vê-lo nem ouvir sua fala!
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Fonte:
Portal CEN. http://www.caestamosnos.org