terça-feira, 17 de novembro de 2009

Trova LXXIII (Selma Spinelli - São Paulo)

Taiguara (Que as Crianças Cantem Livres)


O tempo passa e atravessa as avenidas
E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebra as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é

Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal

Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê
Que há sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver

E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...
–––––––––––––––––––-
Assista ao vídeo do Taiguara, no YouTube, com esta música em
Fonte:
Imagem = http://your-soul.com/

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Trova LXXII (Luiza Pontes Rosa – Curitiba/PR)

Montagem de trova sobre várias imagens obtidas na Internet.

Florisbela Margonar Durante (Cristais Poéticos)

LUZES

A cidade dorme
e do alto do meu edifício
observo o silêncio escorrer pelas ruas
e se perder no lusco-fusco de luzes
que rompe a escuridão.

Também a luz do seu olhar
se projeta no espaço
e como um facho de estrelas
ilumina as trevas
que anoitecem meu coração.
*

PRESENTE

Eu aceito você
como a ordem natural da vida;
como um rio imutável
cumpre o seu destino;
como a árvore fixa há séculos
vive o drama das pessoas,
mas continua impassível;
como a certeza de um dia
ensolarado ou chuvoso
pouco importa, pois
o dia é sempre presente,
e presente de Deus.
*

TODA VEZ QUE É NATAL

Toda vez que é Natal
meu coração tinge-se
de vermelho, verde,
prata, dourado,
numa profusão de cores
que alegram tua festa, Senhor.

Toda vez que é Natal
as luzes das janelas,
das casas, dos edifícios,
transformam minha cidade
numa grande árvore natalina
para te bendizer, Senhor.

Toda vez que é Natal
quisera ser o bálsamo
para curar o enfermo,
o alimento para saciar o faminto,
a alegria para curar as tristezas,
a mão que se estende solidária, Senhor.

Toda vez que é Natal
quisera que a minha poesia,
ainda que tardia,
fosse um hino de louvor
derrubando muro, fronteiras,
no coração dos homens, Senhor.

Toda vez que é Natal
sinto-me criança ainda,
por acreditar em Papai Noel,
em milagres de amor
que possam transformar nosso Planeta
no Paraíso que nos deixaste, Senhor.
*

VENHA

Venha,
sinta a brisa suave da manhã
num misto de aromas agrestes
com sabor de hortelã.

Venha,
contemple o brilho das estrelas
nas fagulhas douradas
que abrasam meu olhar.

Venha,
observe as arquiteturas arrojadas
de concreto e metal da cidade
que argamassam o nosso amor.

Venha,
veja o tapete azul e verde
e o manto de estrelas
com que Deus nos presenteou.
–––––––––––––––––––––––

Sobre a Autora

Florisbela Margonar Durante (1947)
Nasceu em Itajobi – SP, no dia 10 de dezembro de 1947.

Professora de Língua Portuguesa e Inglesa e respectivas Literaturas com especialização em Língua Portuguesa.

Pertenceu à União dos Escritores de Maringá – UEMA.
Cadeira nº. 38 da Academia de Letras de Maringá. Patrono: Tomás Antônio Gonzaga
Participou da Coletânea de Poetas de Maringá II, de todas as Coletâneas da Academia de Letras de Maringá e do livro: Maringá – Um olhar feminino em cores e versos.
É autora do livro: Photo – grafando o amor.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

José Saramago (Poesias)


Retrato do poeta quando jovem

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
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Science-fiction I

Talvez o nosso mundo se convexe
Na matriz positiva doutra esfera.

Talvez no interspaço que medeia
Se permutem secretas migrações.

Talvez a cotovia, quando sobe,
Outros ninhos procure, ou outro sol.

Talvez a cerva branca do meu sonho
Do côncavo rebanho se perdesse.

Talvez do eco dum distante canto
Nascesse a poesia que fazemos.

Talvez só amor seja o que temos,
Talvez a nossa coroa, o nosso manto.
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Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
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Fala do velho do restelo ao astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
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Espaço curvo e finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
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Poema para Luís de Camões

Meu amigo, meu espanto, meu convívio,
Quem pudera dizer-te estas grandezas,
Que eu não falo do mar, e o céu é nada
Se nos olhos me cabe.
A terra basta onde o caminho pára,
Na figura do corpo está a escala do mundo.
Olho cansado as mãos, o meu trabalho,
E sei, se tanto um homem sabe,
As veredas mais fundas da palavra
E do espaço maior que, por trás dela,
São as terras da alma.
E também sei da luz e da memória,
Das correntes do sangue o desafio
Por cima da fronteira e da diferença.
E a ardência das pedras, a dura combustão
Dos corpos percutidos como sílex,
E as grutas do pavor, onde as sombras
De peixes irreais entram as portas
Da última razão, que se esconde
Sob a névoa confusa do discurso.
E depois o silêncio, e a gravidade
Das estátuas jazentes, repousando,
Não mortas, não geladas, devolvidas
À vida inesperada, descoberta,
E depois, verticais, as labaredas
Ateadas nas frontes como espadas,
E os corpos levantados, as mãos presas,
E o instante dos olhos que se fundem
Na lágrima comum. Assim o caos
Devagar se ordenou entre as estrelas.

Eram estas as grandezas que dizia
Ou diria o meu espanto, se dizê-las
Já não fosse este canto.
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Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
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Protopoema

Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os
dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os
barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que
vagarosamente deslizam sobre a película luminosa
dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas
águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e
firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo
acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu
corpo despido brilha debaixo do sol, entre o
esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas
da memória e o vulto subitamente anunciado do
futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar
calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que
as aves digam nos ramos por que são altos os
choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem,
sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas
verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra
viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se
juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.
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Fontes:
SARAMAGO, José. Os Poemas Possíveis. Lisboa: Editorial Caminho, 1981.
SARAMAGO, José. Provavelmente Alegria. Lisboa: Editorial Caminho, Lisboa, 1985
Imagem = http://pontocultural.wordpress.com/

Milan Kundera (1929)



Milan Kundera (1 de abril de 1929, em Brno, Tchecoslováquia) é um autor tcheco.

Nascido no seio da erudita família de classe-média do senhor Ludvik Kundera (1891-1971), um pupilo do compositor Leoš Janáček e um importante musicólogo e pianista, o cabeça da Academia Musical de Brno de 1948 à 1961. Kundera aprendeu a tocar piano com seu pai. Posteriormente, ele também estudou musicologia. Influências e referências musicológicas podem ser encontradas através de sua obra, a ponto de poder-se encontrar notas em pauta durante o texto.

O autor completou sua escola secundária em Brno, em 1948. Estudou literatura e estética na Faculdade de Artes da Universidade Charles mas, depois de dois períodos, transferiu-se para o curso de cinema da Academia de Artes Performáticas de Praga onde realizou suas primeiras leituras em produção de scrpits e direção cinematográfica.

Em 1950, foi temporariamente forçado a interromper seus estudos por razões políticas. Neste ano, ele e outro escritor tcheco - Jan Trefulka - foram expulsos do Partido Comunista Tcheco por "atividades anti-partidárias". Trefulka descreveu o incidente em uma de suas novelas, Kundera usou o incidente como inspiração para o tema principal de seu romance A Brincadeira, de 1967. Em 1956, porém, Kundera foi readmitido no Partido Comunista. Em 1970, porém, foi novamente expulso. Kundera, assim como outros artistas tchecos como Václav Havel, envolveu-se na Primavera de Praga de 1968. O período de otimismo, como se sabe, foi destruído no agosto do mesmo ano pela invasão soviética com exercito do Pacto de Varsóvia à Tchecoslováquia. Kundera e Havel tentaram acalmar a população e organizar um levante reformista frente ao totalitarismo comunista da União Soviética. Permaneceu neste intento até desistir definitivamente, no ano de 1975.

Vive na França desde 1975, sendo cidadão francês desde 1980. Seus romances geralmente tratam de escolhas e decepções. Em seus livros é recorrente a crítica ao regime comunista e à posterior ocupação russa de seu país, em 1968, quando foi exilado e teve sua obra proibida na então Tchecoslováquia. Entre outros prémios, Milan Kundera recebeu, pelo conjunto da sua obra, o "Common Wealth Award" de Literatura (1981) e o "Prémio Jerusalém" (1985). Sua obra principal, "A Insustentável Leveza do Ser" ganhou em 1988 uma adaptação para o cinema, sob a direção de Philip Kaufman e com Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche e Lena Olin no elenco. Recebeu 2 indicações ao Oscar e reconhecimento mundial.

Obra

Em seu primeiro romance, "A Brincadeira", Kundera faz uma sátira da natureza do totalitarismo do período comunista. Por força de suas críticas aos soviéticos, Kundera foi adicionado à lista negra do partido e suas obras foram proibidas imediatamente após a invasão soviética.

Após se mudar para a França, Kundera escreveu O Livro do Riso e do Esquecimento no ano de 1979. Constituindo-se de uma inusitada mistura de romance, contos curtos e ensaios do próprio autor, o livro ditou o tom de suas obras pós-exílio.

No ano de 1984, Kundera escreveu A Insustentável Leveza do Ser, seu trabalho mais popular. O livro é como uma grande crônica acerca da frágil natureza do destino, do amor e da liberdade humana. Mostra como uma vida é sempre um rascunho de si mesma, como nunca é vivida por inteiro, como o amor pode ser frágil e como é impossível de repetir-se. A obra, sucesso de público e crítica, ganhou sua versão cinematográfica no ano de 1988. Porém Kundera proibiu, a partir de então, a adaptação cinematográfica de seus outros livros.

Em 1990 Kundera escreve A Imortalidade. O romance é o mais "cosmopolita" até então, sem situar o enredo dentro do universo social e político da República Tcheca como fizera até então. Possui um conteúdo explicitamente filosófico e pode-se dizer que é o início de uma segunda fase da obra do autor.

Kundera reafirma publicamente que deseja ser entendido como um romancista em termos gerais, não um escritor político. É notório que o conteúdo político foi, a partir de A Imortalidade, substituído pela temática filosófica. O estilo de Kundera, entrelaçando digressões e ensaios filosóficos é grandemente inspirado em Robert Musil, Henry Fielding e na prosa do filósofo Friedrich Nietzsche.

Principais obras

Ficção

A Brincadeira (1967)
Risíveis Amores (1969)
A Vida Está em Outro Lugar (1973)
A Valsa dos Adeuses(1976)
O Livro do Riso e do Esquecimento (1978)
A insustentável leveza do ser (1983)
A Imortalidade (1990)
A Lentidão (1993)
A Identidade (1998)
A Ignorância (2000)

Ensaios

A Arte do Romance (1986)
Os testamentos traídos (1993)
A Cortina (2005)

Fonte:
wikipedia

Fátima Mohamad El Kadri (Consolo)


Um estalo a fez compreender o que aconteceu naquela noite de lua cheia e céu pintado de negro. Ainda não conseguia apreender o sentido de tudo. Ficava pensando que poderia ser uma piada, um sonho, uma brincadeira de mau gosto, mas não... era a verdade... a verdade que ela se esforçou para não enxergar. Seu coração está leve e puro agora, embora não tão puro quanto lhe pareceu aquele surpreendente olhar de anjo que um dia cruzou o seu. O que sobrou daquela pureza foram lembranças.

Não estava a fim de se recolher. Teve a impressão de que, se dormisse, seria impossível acordar no dia seguinte. Então resolveu ficar ali, contemplando a lua, muito mais consoladora do que qualquer ombro amigo.

Há coisas na vida que não tem explicação mesmo. E não era preciso compreender nada, apenas se acostumar com a idéia. Afinal de contas, tudo é passageiro, tudo é finito. Os bens materiais se acabam, os sentimentos e os melhores aromas se evaporam no ar. Com o ser humano não poderia ser diferente.

Se algum dia lhe perguntarem o que restou dele, ela responderá: eu. Porque ela era parte dele, a parte mais prática, menos emotiva, mas era a parte que ele mais gostava. E ele tinha algo de maravilhoso, o otimismo. Sempre procurando ver o lado bom da vida. No início, chegou a pensar que fosse ingenuidade, mas descobriu que era só um truque para fazer diminuir o peso do fardo que ele carregava... às vezes, isso até a irritava e dizia: será que não dá para você encarar a vida de maneira mais realista? Não dava. A realidade havia sido muito cruel com ele. Seu lugar era mesmo a fantasia, agora compreendia.

Eles se conheceram num bar, numa noite de sexta-feira. Ela estava curtindo uma fossa por ter levado um fora de um babaca que fingia amar. Na certa porque tinha medo de descobrir o que era o amor de verdade. Mas quando o viu ali, logo se encantou. Ele veio a ela com seu olhar doce e sorriso terno. Logo tornaram-se amigos íntimos; ela contou a ele sua decepção amorosa e ele a consolou como se conhecessem há anos.

Concluíram, depois de algum tempo, que não há melhor forma de iniciar um relacionamento. Fazendo o caminho inverso. Começa-se descobrindo as fragilidades , os defeitos, os deslizes e prepara-se para não cometer os mesmos erros que causaram mágoa ao outro no passado. Elimina-se, então, tudo o que possa trazer a tristeza, e assim as pessoas ficam livres para conhecer apenas as qualidades um do outro e serem felizes. E assim foi por algum tempo...

Até que um dia ele contou a ela um segredo. Sentou a seu lado e começou a falar, com uma naturalidade assustadora, que tinha pouco tempo de vida. Ela achou que fosse mais uma das “peças” que ele costumava pregar, nas quais ela sempre caía feito uma patinha, fazendo-o soltar uma gostosa gargalhada. Nervosa, ela esbravejava, mas havia um jeito muito fácil de desarmá-la. Bastava um beijo para que ela ficasse mansinha de novo.

Bem, dessa vez ele tinha um ar sério, incomum. Ficou esperando uma risada debochada depois da sua cara de espanto, mas ela não veio. Então, abraçou-o, aos prantos. Ele preferiu o silêncio.

Depois daquele dia, resolveram não contar o tempo. Não sabiam sequer quando um dia começava e outro terminava; apenas viviam, juntos, batalhando pela vida. Os médicos não davam esperanças, mas ele resistia, queria vencer Deus pelo cansaço. Achava-se mais forte que Ele. Em momento algum deixou-se dominar pela fúria. Apesar de sua juventude, ele era sábio e lhe ensinou que a luta só termina quando o combatente dá o último suspiro. Era assim que ele pensava, e foi pensando assim que ela atirou na imensidão do mar as cinzas que restaram naquela caixinha de madeira que carregava junto ao peito. Afinal, a sua luta ainda não terminou.

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Sobre a Autora

Fátima Mohamad El Kadri (1984), formada jornalista em 2005, é natural de São José dos Campos e escreve desde os dez anos, tendo dois de seus poemas publicados: "Primavera", terceiro lugar — categoria infanto-juvenil — em concurso literário realizado pela Livraria Angelli, de São Caetano do Sul (SP) e "Mundo Insano" pela participação no "VIII Concurso Nacional de Poesia 'Menotti del Picchia', promovido pelo CBE - Clube Brasileiro dos Escritores e Poetas. A escritora reside em Santo André, na Grande São Paulo.

Fontes:
Projeto Releituras.

Poetas Del Mundo Em Belo Horizonte

A Entidade lítero cultural Poetas Del Mundo promoveu entre os dias 11/12/13/14 de novembro de 2009, o Primeiro Encontro de Poetas Del Mundo de Belo Horizonte.

O evento teve a coordenação da escritora e poeta Silvia de Andrade Motta.

O credenciamento dos cônsules e poetas aconteceu dia 11/11 no Palácio das Artes (subsolo), que logo após foram agraciado com um espetáculo internacional no auditório do Palácio das Artes com a banda Nil Lus. O espetáculo teve também um duplo lançamento: Romance com trilha sonora e CD gravado ao vivo no Montreux Jazz Festival – Suíça. Nil Lus alem de cantor e compositor é também cônsul de Poetas Del Mundo na Alemanha.

O Evento teve seqüência no dia 12/11, com uma sessão solene de homenagens na Academia Mineira de Letras. A sessão teve a presença de figuras ilustres:
O Secretario Geral de Poetas Del Mundo – Luiz Ariaz Manzo.
A Embaixadora de Poetas Del Mundo no Brasil e subsecretaria - Deslanieve Daspet.
A cônsul de Poetas Del Mundo na França – Diva Pavesi
O cônsul de Poetas Del Mundo na Alemanha – Nil Lus.
A cônsul de Poetas Del Mundo de Minas Gerais – Bilá Bernardes
Alem de cônsules de zonas da Grande Belo Horizonte e de outras cidades.
Sete Lagoas se fez representar pelo cônsul João Drummond.
Aluisio Pimenta representou o governador Aécio Neves.
José Maria Rabelo representou o presidente da Academia Mineira de Letras Murilo Badaró.
A vereadora Maria Lucia Scarpéli representou a câmara de vereadores de Belo Horizonte.

O Coral Libertas do Palácio da Liberdade abrilhantou o evento cantando o Hino Nacional.
O Hino do Chile foi tocado em homenagem aos irmãos poetas daquele País.

Luiz Ariaz Manzo encerrou a sessão com uma breve fala sobre a necessidade dos poetas se manterem firmes em seus propósitos de trabalhar a poesia como instrumento de paz e humanidade.

Entende a poesia como o instrumento para se derrubar os muros de exclusão e preconceitos que separam pessoas e povos.

Lembrou a importância dos cônsules e poetas se manterem humildes e simples em sua missão e não se deixarem seduzir pelo “canto da sereia” ou armadilhas dos egos. O foco de Poetas Del Mundo são as pessoas em situação de risco e ameaçadas em sua dignidade e segurança.

À tarde, na Associação Mineira de Imprensa, a cônsul de Poetas Del Mundo na França, Diva Pavesi brindou os Poetas Del Mundo e convidados com uma bela palestra lembrando o Ano da França no Brasil.

À noite os Poetas Del Mundo foram recebidos no Museu de Arte e Cultura e Casa da Luz e Poesia.

O Evento histórico teve seqüência no dia 13 de novembro com plantio de uma muda de Pau-Brasil oferecida pelo Governo de Minas. Prosseguiu com caminhada e visita à Exposição Galeria da Arvore & Recital Sementes de Poesia – MUNAP, especial para Poetas Del Mundo no Parque Municipal, organizado por Regina Mello.

À tarde teve passeio à Praça da Liberdade, caminhada pela Paz e pela Vida e visita ao Palácio da Liberdade

À noite o evento teve seu encerramento em Belo Horizonte no Espaço Mix Cultural Líber Livros na Av. Getulio Vargas na Savassi, organizado por Poetas Del Mundo, Ana Cruz e Jaak Bosmans.

No dia 14 de novembro Poetas Del Mundo seguiu para um passeio a Ouro Preto.

Após o evento será formado um grupo para redigir a Carta - Manifesto abordando temas da PAZ – MEIO AMBIENTE – SOLIDARIEDADE ENTRE OS POVOS – VIOLÊNCIA – FOME – POESIA. Os nomes serão apresentados pela Organização do Evento e a Carta – Manifesto deverá ser entregues em até 15 dias após a data do encerramento.

A sede de Poetas Del Mundo na capital mineira passará a funcionar provisoriamente na AMI – Associação Mineira de Imprensa.

Deslanieve Daspet declarou durante o evento, que Poetas Del Mundo forma hoje uma Nação irmanada na poesia, e cujo Chefe de Estado é o poeta chileno Luis Ariaz Manzo. Há uma previsão de se formar um corpo diplomático nacional para coordenar todas nas ações de Poetas Del Mundo no Brasil e no mundo.

O Brasil é país de destaque no movimento contribuindo com o maior numero de poetas.

João Drummond
Cônsul de Poetas Del Mundo Em Sete Lagoas - MG
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MANIFESTO POETAS DEL MUNDO

MOVIMENTO POETAS DEL MUNDO PELA PAZ

Poetas do Mundo, é chegada a hora exata para unir nossas forças na defesa da continuação da vida: somos guerreiros da paz e mensageiros dessa nova história para da humanidade. Somos os poetas da luz – veículo que nos conduz para levar o chamado de alerta de que não podemos nos furtar. Atravessamos a morte de um período degenerado das eras, e assistiremos o nascimento de uma NOVA ERA – para a qual, nós, os poetas, recebemos nossos dons, nossas missões e obrigações. A humanidade vive momentos decisivos de luta pela sobrevivência, mas ainda não acordou para o fato de estar caminhando rumo a um precipício, direto para a extinção. Urge que tomemos o leme e mudemos o caminho para a elevação coletiva, para que recuperemos o patrimônio da vida como dom universal e direito de todos.

Desde os mais remotos tempos que o homem pode recordar, é sabido que a existência humana depara-se com os desafios de viver e progredir, enfrentados com escolhas que trouxeram e trazem a degradação do ambiente natural. O homem fez disso um confronto, uma batalha e apenas se preocupou em vencer, como qualquer mercenário numa guerra, a qualquer preço, apenas assegurando para si a sobrevivência momentânea – sem pensar nos prejuízos que seriam deixados às gerações futuras, nem sequer nas conseqüências em curto prazo. E assim tem sido, a satisfação instantânea da necessidade de sobrevivência ou da ganância do homem tem gerado e lançado sobre todos, homens e mulheres, as mais terríveis catástrofes. O homem em seu afã de ser mais, de crescer e crescer sempre e desmedidamente, degrada o planeta até os limites da exaustão dos recursos naturais conhecidos, leva à extinção até o que nem chegamos a conhecer – num jogo de ambição que coloca em risco a existência do próprio homem como espécie.

Por este querer sempre MAIS, a humanidade não só esgota as riquezas materiais do planeta, como também os bens humanos, transformando um a um em desesperado e criminoso, a ponto de nos matarmos uns aos outros para sobreviver, ou para alcançar ascensão e glória... Ou simplesmente para dizer: SOU, e SOU MAIS que você... Assim como exaurimos o planeta dia após dia, consumindo os recursos naturais e humanos, ainda somos capazes de construir armas de destruição em massa, que podem levar ao extermínio da humanidade em poucas horas. Isso tudo num cenário em que a supremacia e o poder concentram-se sempre nas mesmas mãos, dos mesmos impérios, que não são capazes de sequer olhar pelos semelhantes que morrem na miséria, apesar de atingirem a riqueza absoluta.

Se os Homens e Mulheres não mudarem de rumo, E AGORA, as próximas gerações terão sólidas razões para nos odiar. E é nossa esperança de que isso é possível, porque o caos moral, político [guerras infames], econômico [o ser humano transformado em bem, escravizado pelo dinheiro], tudo isso é manifestação do “PARTO DA HISTÓRIA” – assim como uma mulher quando dá a luz a um bebê tem em si muitas dores; a história mesma anuncia o nascimento de uma NOVA ERA.

1 – Diante desta azáfama pelo domínio absoluto, que nos levará inevitavelmente à autodestruição [se não for impedida]; diante de tamanha barbárie, muitos já acordaram no susto quanto ao destino cruel que a humanidade constrói para si mesmo. Ao tempo que outros abrem os olhos à luz da anunciação dos novos tempos, de que os Poetas do Mundo são também portadores e empreenderão por isso e para isso o caminho do protesto; e da construção de um novo amanhecer, do raiar da libertação definitiva do homem.

2 – Os Poetas do Mundo, não todos, somente os Poetas do Mundo – porque não são todos os poetas do mundo que estão dispostos a dizer: não sou, SOMOS. Nós, os que estamos dispostos a abandonar o ego que nos mata; nós que somos capazes de olhar com IGUALDADE, iniciamos a cavalgada coletiva através do mundo e colocamos a arte da Poesia a serviço da humanidade.

3 – Ser poeta não significa simplesmente escrever bonitas poesias, a POESIA não é mero objeto de decoração. Temos que VIVÊ-LA e vivê-la não significa somente senti-la, temos que praticá-la. E praticá-la é a missão, a obrigação e a competência de todos os dias para os Poetas do Mundo.

4 – Ser Poeta do Mundo é um desafio maior. Ser Poeta do Mundo é assumir este manifesto por essência; é avocar a defesa da vida, do amor, da diversidade, da liberdade. E ser capaz de bradar: dou minha vida para a VIDA, pois amo minha vida. Por isso dizemos BASTA de estupidez, BASTA de egos; que não contribuem para crescimento coletivo, nem pessoal. Nossa arte nasce a serviço da preservação da humanidade.

5 – Ser Poeta do Mundo é atravessar os meandros da natureza humana, em busca da perfeição e do crescimento lícito da vida, cada um buscando o máximo de suas capacidades e possibilidades. E é por isso que não seremos passivos diante dos crimes que se cometem diariamente sob discursos falsos de liberdade e direito. Levantemos nossas vozes como um raio de luz e façamos tremer os covardes; a palavra é a melhor arma, que amedronta os assassinos; a palavra estremece as mãos dos opressores e assim derruba os petrechos de morte que carregam consigo.

6 – Declaramos e doamos o valioso aporte – subsídios morais e sociais – dos poetas do mundo para o engrandecimento da humanidade. Daqueles que deixaram seus nomes marcados ao longo das eras, nos centenários livros da historia universal e na memória coletiva dos homens; como daqueles poetas anônimos, que passaram pela terra cumprindo suas missões legendárias através dos tempos. Cremos no valor que significaram estas majestosas contribuições em seus tempos, inclusive hoje. E vivemos uma época muito singular, onde toda a humanidade, em que se inclui os Poetas do Mundo do século XXI, e não queremos nos enraizar no passado tentando enxergar melhor o presente e o futuro. Os Poetas do Mundo deste século somos chamados a ser criativos, para sermos capazes de vibrar o grito atroante que se espera de nós frente ao descalabro que a humanidade impôs a si mesma ao longo das eras.

7 – Os Poetas do Mundo nos declaramos iguais – consagrados e menos conhecidos, famosos e anônimos, ricos e pobres, brancos e negros, mestiços e amarelos. Sempre e quando se situam neste lado da vida, empunhando as mesmas espadas para combater o que mata a vida, lutando corpo-a-corpo, ou ante a mesma barricada, para defender a JUSTIÇA [única para todos], a IGUALDADE [efetiva entre todos os habitantes da terra], a LIBERDADE [a verdadeira, não a dos discursos de instituições e arautos fraudulentos e corruptos] e o DIREITO dos povos de existir e viver em paz. Pois é apenas lutando por todos, que seremos cada um o vencedor. Não há vitória real na individualidade, no egoísmo, a vitória só é possível como uma conquista coletiva.

8 – Os Poetas do Mundo declaram todo espaço onde possam estar ou ser, como suas arenas de combate ao mal, sejam palácios ou cavernas perdidas, sejam os campos de trabalho onde se exploram os campesinos ou o fundo de uma mina onde se suga o sangue do mineiro. O Poeta do Mundo jamais se calará frente à dor de sequer um homem ou mulher, enquanto lhe houver fôlego. Porque o poeta não deixará de ir ao encontro de sua missão, levando a palavra, levando chuva sobre a terra, espetáculo de graça, beleza para os olhos dos homens e das mulheres. O Poeta será a luz que guiará os guerreiros, será o farol na escuridão da noite.

9 – Os Poetas do Mundo nos declaramos pacifistas, mas não covardes, nem passivos. Antimilitaristas, mas de nenhuma maneira ingênuos, mesmo que sentimentalistas por natureza, porque na expressão artística, a tinta da escrita é o sangue de nossas almas. Vivemos embriagados pelo encanto da arte, até a vertigem dolorosa da criação. Criação que terá sempre um objetivo: “APERFEIÇOAR A VIDA”, a nossa [individual], a de todos [coletivamente]. Somos pacifistas em busca da paz universal, mas sabemos que A PAZ não chega do nada, temos que ganhá-la, lutar por ela; por isso somos Guerreiros. E a PAZ não existirá se não for garantida a JUSTIÇA. A PAZ reinará a partir da justiça. Senão a única paz que teremos com os desmandos dos Impérios será PAZ DE CEMITÉRIO.

10 – Um Poeta do Mundo assume o dever de se aperfeiçoar sempre, crescer em humanidade, aceitando a pluralidade e a complexidade da existência. O Batalhão dos Poetas do Mundo é o espaço de luta para os que crêem ou não, ateus ou religiosos, justos ou equivocados, heterossexuais, bissexuais ou homossexuais, TODOS movidos e alimentados pelo e para o AMOR nobre. Poetas do Mundo é a fileira em que se reúnem os guerreiros de outrora e os combatentes modernos, militantes do BEM e da lealdade. Onde trazemos a grande revelação que pode unir o mundo, correntes por correntes, num grupamento de poetas repartidores de esperança e sorrisos, para a luta que dura desde a aurora dos tempos.

11 – E mesmo que o homem torpe busque um terceiro para impor suas culpas ou atribuir responsabilidade por sua salvação; nossa é que cada qual assuma sua essência, seu próprio espírito, sem ter que acusar outrem para calar a voz de sua culpa pelos seus erros e derrotas, nem para depender da verdade alheia para se salvar. Nossa esperança é alcançarmos, através da palavra, o acender do verbo nos corações de cada um, para o verso das montanhas, para a noite sigilosa da alma; assumindo e ascendendo os dons guardados no invólucro cuidadoso do ventre da natureza, até ver o anunciado amanhecer, em que cada um acrisolará sua alma com amor, movido pelas palavras. A Poesia é do mundo - e nós somos da Poesia.

"Poeta do Mundo, Una-se a esta batalha pela existência humana! Pela continuidade da VIDA!

Por: Ariasmanzo [Luis Arias Manzo - Secretário-Geral]
Santiago de Chile, dezembro de 2005

Fonte:
Poetas del Mundo

domingo, 15 de novembro de 2009

Trova LXXI (Wilma Mello Cavalheiro - RS)

Araucárias



Poesia do poeta sob pseudônimo Gralhaazul, da cidade de Palmas (PR), participante do I Premio Talentos de Poesia 2009
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Pinheiros no quintal abrigam curucacas,
joão-de-barros, sabiás cantantes,
gralhas-azuis em alarido.

Taças verdes perdem seus frutos
no inverno de linguagens.
Murmúrios do riacho e folhas!

Escuto o som do vento
onde farfalham sonhos distintos.
Povoar de galhos e falhas.
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Prêmio Portugal Telecom de Literatura vai para o brasileiro Nuno Ramos


Vencedor, escolhido de uma lista de dez finalistas, ganha R$ 100 mil. Anúncio foi feito esta terça-feira em São Paulo.

A edição 2009 do Prêmio Portugal Telecom de Literatura teve como primeiro classificado o escritor brasileiro Nuno Ramos, autor do livro de narrativas poéticas Ó. A cerimônia de entrega decorreu terça-feira à noite em São Paulo e marcou o culminar de um processo de seleção que levou mais de sete meses, partindo de 501 títulos inscritos.

O segundo classificado foi João Gilberto Noll, com "Acenos e Afagos". Em terceiro lugar ficou Lourenço Mutarelli, por "A Arte de Produzir Efeitos Sem Causa".

Oito romances, um livro de contos e um de poesia concorriam aos prêmios. O Prêmio concede R$ 100 mil ao primeiro colocado, R$ 35 mil ao segundo e R$ 15 mil ao terceiro.

Da lista de finalistas anunciada a 16 de setembro no Consulado de Portugal em São Paulo faziam parte dez autores, vários deles com nome consolidado no panorama literário da lusofonia. Foram classificados livros dos escritores brasileiros João Gilberto Noll, Nuno Ramos, Lourenço Mutarelli, Eucanaã Ferraz, Silviano Santiago e Maria Esther Maciel e dos escritores portugueses António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, José Luis Peixoto e Inês Pedrosa.

Alguns destes autores já tinham chegado antes à etapa final desta premiação literária. Casos de Lobo Antunes, segundo classificado no ano passado, com "Eu Hei de Amar uma Pedra", Silviano Santiago, segundo lugar em 2005 com "O Falso Mentiroso" ou Gonçalo M. Tavares, vencedor da edição de 2004, com "Jerusalém".

As 10 obras finalistas foram selecionadas por onze jurados e quatro curadores que, em votação individual, também elegeram o júri final.

Escritor e artista

Narrativas entre a poesia e o pensamento, na definição do próprio autor, Ó reflete a inquietação de Nuno Ramos, 48 anos, nascido em São Paulo, escritor e artista plástico. Dele, os leitores podem também conhecer Cujo e O pão do corvo.

De acordo com a crítica literária, os contos de Ó não seguem modelos padrões. Em entrevista a Rogério Pereira e Vitor Mann, publicada no jornal literário Rascunho, Nuno Ramos diz que Ó não é um livro de contos.

"Penso nele como um misto de poesia com ensaios amalucados, entremeados por cantos, elegias, que aparecem em itálico. O que me guiou de início foi uma voz que pensa as coisas e as comenta, à Emerson ou à Montaigne. Claro que outras vozes foram surgindo, às vezes narrativas inteiras, com personagens e tudo, mas tenho a impressão de que a voz dominante quer falar das coisas, do mundo, quer tratar dos assuntos mais diversos. Se eu pudesse escolher, diria que o Ó está em algum lugar entre a poesia e o pensamento".

E sobre o estado das artes plásticas? "O problema insolúvel da arte, e sua verdadeira morte, chama-se arte ruim, fenômeno difícil de definir e presente à larga em feiras de arte ou megaexposições, como a Bienal de Veneza ou de São Paulo. Mas não é com críticas genéricas ao contemporâneo que a gente vai se livrar dela. Há, claro, arte ruim (e muita) na produção contemporânea, mas como em qualquer outra época - apenas o tempo não fez ainda a sua seleção", diz o artista na mesma entrevista.

Fonte:
http://www.portugaldigital.com.br/

Clério José Borges de Sant´Anna (1950)



Historiador, Escritor, Poeta Trovador Capixaba

Clério José Borges nasceu em 15 de setembro de 1950, em Aribiri, Vila Velha, ES. Formou-se Técnico de Contabilidade.

É Escrivão de Polícia Civil desde 28 de março de 1975, tendo recebido as Medalhas de Bronze, Prata e Ouro, por 30 anos de serviços prestados a Polícia Civil do Estado do Espírito Santo.

Fundou e foi o primeiro presidente da Academia de Letras e Artes da Serra, na cidade de mesmo nome, no Estado do Espírito Santo.

É também fundador e primeiro Presidente do CTC – Clube dos Trovadores Capixabas, entidade cultural fundada em 1º de Julho de 1980.

Membro do Clube Baiano da Trova, fundado por Rodolfo Coelho Cavalcante. Destacado ativista dos meios literários e trovistas, foi, inclusive, fundador da FEBET - Federação Brasileira de Entidades Trovistas, junto com o Escritor Paranaense Eno Theodoro Wanke e o Trovador Baiano, Rodolfo Coelho Cavalcante.

Detém diversas honrarias, entre elas a designação de Cavaleiro, concedida por sua Majestade Pascal I, III do Bósforo.

É membro da Real Ordem do Mérito de São Bartolomeu, concedida por Sua Majestade Theodore I. R. da Bithynia e Lydua, Duke de Umbros; Cavaleiro e Comendador Honorário da Ordem Ka-Huna do Poder Mental.

Já obteve inúmeras premiações em concursos de poesia.

Palestrador emérito sobre trovismo, já atuou em quase todo o território nacional.

Escreve contos infantis, que já foram publicados no jornal A Gazetinha.

Acadêmico imortal da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS e da Academia de Letras Humberto de Campos de Vila Velha, ES.

Academico Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras, de Cachoeiro de Itapemirim, ES e da Academia Petropolitana de Letras de Petrópolis, RJ.

Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas, ALCEAR

Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo), SCL.

Em 1987 foi eleito "Membre d´Honneur" do CLUB DES INTELLECTUELS FRANÇAIS, Paris, França.

Como jornalista, já trabalhou nos jornais A Tribuna e O Diário, de Vitória, ES.

Também atuou como professor nos Colégios: Agenor de Souza Lee, de Vila Velha; Comercial Brasil de Cobilândia; Instituto Educacional Rio Doce, de Santo Antônio; Colégio Clóvis Borges Miguel, da Serra e Instituto de Educação, da Praia de Santa Helena, em Vitória.

Foi Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo, durante cinco anos, de 04/01/1989 a 18/02/1993, onde foi eleito e atuou como Secretário e Vice-presidente do CEC-ES.

Após 18/02/1993 e até o ano 2000, passou a pertencer à Câmara de Literatura do referido Conselho, CEC-ES.

Editou o jornal alternativo Beija-flor e o Jornal dos Trovadores.

Organizou os "Seminários Nacionais da Trova", realizados anualmente em Julho, de 1981 ao ano 2000, no Espírito Santo.

Organizou os Congressos Brasileiros de Trovadores, em 2001 e 2002 em Domingos Martins;
Em 2003, no Distrito de Nova Almeida, Serra; Em 2005, novamente em Nova Almeida;

Em 2006 ajudou na organização do Congresso na Ilha de Paquetá, RJ e em 2007, organizou o Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, na Serra Sede.

Desde 12 de Junho de 1996 é Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, fundado em 12 de junho de 1916.

Fundou em 1986, com Zedânove Tavares e Emanuel Barcellos, o Jornal de Vila Velha.

Morador da Serra, ES, desde 1979 e Cidadão Serrano desde 1994.

Desde 2004 é Senador da Cultura, pela Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo).

OBRAS EM PROSA

HISTÓRIA DA SERRA - Duas Edições do Livro que conta a história da Colonização da Cidade da Serra, no Estado do Espírito Santo.

POETAS E ESCRITORES DA SERRA - Trabalho de Pesquisa reunindo cerca de 130 Poetas e Escritores nascidos ou residente no Município da Serra, no Estado do Espírito Santo.

ORIGEM CAPIXABA DA TROVA - Livro que conta a história do Movimento em torno da Trova no Espírito Santo desde 1889.Lançado no dia 03 de Outubro de 2007, na Casa do Congo Mestre Antônio Rosa, na Serra Sede, um dia antes da abertura solene do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, realizado na Serra Sede, de 04 a 07/10/2007.

LIVROS DE CLÉRIO JOSÉ BORGES

1 – “HISTÓRIA DA SERRA”. Livro que relata a colonização da Serra. A 1ª Edição (Capa azul) é de 1998. A 2ª Edição (Capa amarela) foi lançada em 2003, com 242 páginas.

2 - O TROVISMO CAPIXABA. Livro que relata a “História da Trova Capixaba”. Editora Codpoe, (RJ), em 1990, com 82 p. Capa do Artista Plástico Licurgo. Esgotado.

3 - ALVOR POÉTICO, Livro individual de Poesias e Trovas. João Scortecci Editora, (SP), em 1996, com 52 p.

4 - "TROVADORES 87", Antologia de Trovas organizada por Clério Borges e Antônio Soares. Edições Caravela, 1987 - 2º Volume. Com 124 p. Esgotado.

5 - "O MELHOR DOS MELHORES", Trovas de vários Trovadores. Lançado em 1987. Coleção Capixaba. Editora: Edições Caravela, RS. Esgotado.

6 - "TROVADORES BRASILEIROS DA ATUALIDADE", Obra lançada durante o V Seminário Nacional da Trova em 1985. Edições Caravela. Com 112 p. Esgotado.

7 - "TROVADORES DOS SEMINÁRIOS NACIONAIS DA TROVA", Antologia de Trovas, organizada por Clério e Santa Inéze da Rocha. Edições Caravela, 1985, com 64 p. Capa de Licurgo. Esgotado.

8 - "O VAMPIRO LOBISOMEM DE JACARAÍPE". Livro de Cordel com 8 páginas. Folclore Capixaba. Edição do CTC, de 2004 - 2005.

9 - "SERRA EM PROSA E VERSOS – POETAS E ESCRITORES DA SERRA". Livro lançado no dia 15/09/2006, na Câmara Municipal, com a presença de mais de 300 pessoas, durante a Sessão Solene do Dia do Historiador Serrano, proposta pelo Vereador João de Deus Corrêa, o Tio João.

10 – “HISTÓRIA DA TROVA - ORIGEM DA TROVA CAPIXABA”.

11 - "ORIGEM CAPIXABA DA TROVA" - Livro com 106 páginas, lançado na Casa do Congo "Mestre Antônio Rosa", no dia 03 de Outubro de 2007, um dia antes da solenidade de abertura do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores e da Sessão Solene comemorativa do Dia Municipal do Poeta Trovador, comemorado na Câmara Municipal da Serra.

Participou das antologias:
– Trovadores Brasileiros da Atualidade, 1985;
– Trovadores, 1986-87;
– Mil Trovas de Amor e Saudade, 1984;
– Trovas da Constituinte, 1987;
– Brasil Trovador, 1987;
– Trovas sobre o Mar, 1988;
– Anais do Primeiro Encontro Nacional de Trovadores de Petrópolis, 1989;
– Escritores e Escritoras do Século XXI, 1994.

Fonte:
http://www.clerioborges.com.br/biografia2008.html

Escola do Escritor em São Paulo


Chega a você a oportunidade de se tornar um escritor ou aperfeiçoar seus talentos literários. A Escola do Escritor, uma célula literária dos Parceiros do Livro, pode direcionar a realização desse sonho.

Se você é sócio da UBE, aproveite os descontos promocionais. Veja os cursos no site da Escola do Escritor.

CURSOS E PALESTRAS JÁ REALIZADOS PELA ESCOLA DO ESCRITOR

- Segredos para despertar a sua criatividade
Docente: Armando Alexandre dos Santos

- Oficina intensiva de poesia
Docente: Izacyl Guimarães Ferreira

- CINETEVÊ - A dramaturgia na tela do computador: oficina de criação e escrita para TV e cinema
Docente: Felipe Moreno

- A Relação Autor-Editora: caminhos para uma parceria de sucesso
Docente: Soraia Bini Cury

- O que é e como posso usar uma assessoria de imprensa? - noções de marketing editorial
Docente: Vanusa Santos

- A estrutura do conto e a criação do personagem
Docente: Betty Vidigal

- Escreva e Publique seu Livro
Docentes: João Scortecci e Maria Esther Mendes Perfetti

- Práticas Editoriais e o Livro Didático:
múltiplo interlocutores
Docente: Roberta Lombardi Martins

- O Direito Autoral na Cadeia de Produção Editorial
Docente: Sintia Mattar

ESCOLA DO ESCRITOR
R. Deputado Lacerda Franco, 165 - Pinheiros
CEP 05418-000 - São Paulo - SP
Tel/Fax: (11) 3034-2981
escola@escoladoescritor.com.br

Fonte:
União Brasileira dos Escritores

Notícias Em Tempo



União Brasileira dos Escritores (UBE)

Solenidade de Entrega do Troféu Juca Pato para Lygia Fagundes Telles

A União Brasileira de Escritores convida os associados para a solenidade de entrega do Troféu Juca Pato - Prêmio Intelectual à escritora Lygia Fagundes Telles, que acontecerá no dia 30 de novembro de 2009, às 18 horas, segunda-feira, no auditório da Faculdade de Direito da USP, Largo de São Francisco, 95, em São Paulo. Antonio Candido, eleito no ano anterior, fará a entrega do Troféu à laureada. O evento contará com o apoio da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP. Após a cerimônia será servido um coquetel aos convidados. Confirmar presença através do e-mail secretaria@ube.org.br

Izacyl Guimarães Ferreira lança sua Antologia Poética

No dia 07 de dezembro de 2009, segunda-feira, às 18 horas, na Livraria Asabeça, que fica na Rua Dep. Lacerda Franco 187, Pinheiros, CEP 05418-000, São Paulo, SP, telefone (11) 3031-3956, Izacyl Guimarães Ferreira estará lançando sua Antologia Poética, uma seleção feita por muitos amigos e críticos leitores, dos 16 livros que publicou entre 1953 e 2008. No dia 10 de dezembro de 2009, quinta-feira, às 17:30, o lançamento acontece na Academia Brasileira de Letras, na Av. Presidente Wilson 203, Castelo, CEP 20030-021, Rio de Janeiro, telefone (21) 3974-2500. A antologia tem selo Topbooks.

Jantar de Confraternização de Final de Ano

A União Brasileira de Escritores promoverá o seu tradicional jantar de confraternização de final de ano aos associados no dia 15 de dezembro de 2009, a partir das 19 horas, no Restaurante Bovinus, Av. Paulista, 735, no Club Homs, em São Paulo. O jantar é por adesão, no valor de R$ 29,80 por pessoa, que inclui pratos quentes, saladas e sobremesas. Bebidas serão cobradas separadamente. Os associados interessados, que também poderão levar amigos e familiares, deverão entrar em contato com a secretaria administrativa para fazer a reserva. E-mail: secretaria@ube.org.br . Tels.: (11) 3231-4447 e 3231-3669.

Diego Sabádo

Diego Sabádo, escritor paraense, lançará 6 escritos sobre o 'Eu' e uns poucos poemas, na VIII Feira Pan-Amazônica do Livro, Feira do Livro - Hangar, no Estande dos Escritores Paraenses, no dia 14 de novembro de 2009, sábado, às 10 horas, R$ 20,00. Diego é membro da União Brasileira de Escritores, filósofo e teatrólogo. A obra aborda de forma poética, a temática filosófica da subjetividade e da individualidade.

Antologia ENCONTRO PONTUAL

Estão abertas as inscrições para a Antologia de Poesias, Contos e Crônicas ENCONTRO PONTUAL especial para a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo – 2010. Serão 50 vagas ou até 250 páginas ou data limite de 31 de maio de 2010, o que completar ou atingir primeiro. Inscrições http://www.scortecci.com.br/formulario.php?id=189

Finalista na categoria Contos e Crônicas do Prêmio Jabuti 2009

Lucília Junqueira de Almeida Prado (autora da Scortecci) acaba de ter a obra de nome Cheiro de Terra - Contos Fazendeiros, selecionada entre os 10 (dez) Melhores do Ano de 2009, categoria Contos e Crônicas, do Prêmio Jabuti, mais badalado prêmio literário brasileiro, organizado anualmente pela Câmara Brasileira do Livro.

CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO (CBL)

Vencedores dos melhores livros do ano

“Gostaria de mencionar a CBL que consolidou este prêmio como Oscar literário”. Com estas palavras, Moacyr Scliar, autor do romance “Manual da Paixão Solitária” (Cia. das letras), agradeceu no palco da Sala São Paulo a conquista do Prêmio Jabuti de melhor livro do ano de ficção, anunciado no fim da cerimônia.

O Prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não-ficção ficou com a obra “Monteiro Lobato: Livro a Livro” (Unesp/Imprensa Oficial), de Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini. Após receber a premiação, Lajolo destacou a importância da láurea e o reconhecimento dado à pesquisa acadêmica – a obra trata do trabalho do grande autor brasileiro, realizando discussões sobre linguagem e práticas editorias. Este prêmio foi entregue pelo presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado, Juan Pablo De Vera.

Na cerimônia, foi feita ainda a entrega do 51ª Prêmio Jabuti aos três ganhadores (primeiro, segundo e terceiro lugares) em cada uma das 21 categorias do concurso — confira a lista completa no site http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/resultado/

Fontes:
Câmara Brasileira do Livro (CBL)
União Brasileira dos Escritores (UBE)

Gilmar Cardoso (A Verdadeira Origem do Carneiro no Buraco)


Esta história começou já se vai quase um século. Eu mesmo confesso que desconhecia a verdadeira origem do prato típico do Município de Campo Mourão-PR, até colidir meu carro em outro onde viajavam dois nobres anciãos: o Tenente Soares e seu fiel escudeiro Benevides, ambos na casa dos seus noventa anos, bem vividos, diga-se de passagem. Isto aconteceu no ano passado no litoral do Estado de Santa Catarina, durante as férias mais controvertidas que já tive.

Quebrei vários ossos, mas não corri risco de morte, ao contrário dos velhinhos. Ficamos os três em uma só enfermaria, e como não podia ser de outra forma, conversávamos, ou seja, entre os “ais” de dor, falávamos sobre os mais diversos assuntos, até mesmo sobre o Carneiro no Buraco e a história de que ambos presenciaram a primeira vez que essa iguaria foi consumida.

Abre aspas: Viajava nossa caravana em busca da Água da Fonte de São João Maria de Jesus, que segundo se sabia, ficava cerca de doze léguas a oeste do povoado de Campos do Mourão num lugarejo batizado por Pinhalão. – disse o oficial. Vínhamos da já frondosa Guarapuava, a qual era matrona de toda essa região, cujo percurso fazíamos em lombos de mulas. Se me lembro bem, o Zizinho e o Cacique vinham a pé. Um burro forte carregava a cozinha, que era composta dos víveres, uma chaleira de ferro para esquentar a água do chimarrão, talheres de pau, e um tacho de cobre com tampa. A água carregávamos nas cabaças.

Estávamos já há muitos dias andando por uma estrada conhecida como Caminho Pisado, uma antiga via que possuía cerca de oito palmos de largura, uma profundidade de 0,40cm e forrado por gramíneas que impediam o crescimento do mato. Esse histórico ramal era popularmente conhecido como caminho das tropas ou Peabiru; e naquele tempo ainda era bem delineado.

Nossas provisões estavam no fim, assim como a pólvora. Sem comida e sem jeito para caçar, a situação começou a ficar insustentável. Mas Deus nunca havia sido tão generoso para conosco como naquele dia.

Num final de tarde, Zizinho e o Cacique afastaram-se um pouco do acampamento para ver se encontravam alguns frutos que se pudesse amenizar a fome. Mas adivinha o que encontraram? Dois carneiros gordos!

Um deles eles conseguiram pegar. E como bons mateiros que eram, o trouxeram destripado ao acampamento. O animal pesou cerca de 30 quilos, depois de limpo e cortado em pedaços. — Não deixa o animal balir, meu pai dizia que dá azar e é sinal de que o próximo a morrer é você! — ouvia-se por ali como influência da cultura popular.

O japonês, nosso mestre-cuca, ativou o fogo, juntou tudo o que restava da dispensa: tomate, cebola, batata doce, batata salsa, chuchu, abobrinha, cenoura, vagem, pimentão, mandioca e maçã; e foi logo botando tudo para cozinhar no tacho de cobre com tampa.

Chegava o crepúsculo daquele dia distante. Estávamos todos ansiosos para saborear o cozido, que naquele instante começava a ferver. Mas a alegria do pobre dura pouco, e não demorou mais um minuto que ouvimos tiros, seguidos por berros: “ladrões de carneiro, vou cobri-los de chumbo!”

Mais do que depressa Zizinho, Cacique e o Japonês trataram de se livrar dos vestígios do animal roubado. A opção foi o buraco deixado pelo tronco de um pé de jaracatiá apodrecido. Nele colocaram o tacho, juntamente com o material incandescente: brasas vivas do nó de pinho; e depois o cobriram com a terra de um cupinzeiro abandonado que havia nas imediações. Além disso, cobriram também a terra removida com folhas para não gerar nenhuma suspeita de que ali havia um jantar sendo preparado.

De repente apareceu no acampamento um homem baixinho, tez clara e nariz afilado. Trazia às costas uma enorme espingarda, cuja boca do cano ainda saía um pouco de fumaça. Fedia mais que as mulas.

De véspera, olhou para uma botija que havia sobre os arreios, e foi logo perguntando se era vinho. Eu disse que era e ele poderia bebê-lo todo se pudesse.

Nem precisei insistir. Não demorou nem meia hora e o baixinho estava mais bêbado que gambá de alambique. Falando mole ele dizia que os carneiros não sobreviveriam mesmo naquelas condições. A bicharada iria comê-los mais dia, menos dia.

Não demos o braço a torcer nos entregando de que havíamos surrupiado o animal, talvez fosse uma estratégia do tal baixinho.

Escureceu profundamente. A fome aumentava e nosso convidado não ia embora.

Lá pela meia noite ele adormeceu. Podíamos até desenterrar o tacho se quiséssemos, pois naquelas condições o homem da espingarda não iria perceber, já que dormia sua total embriaguez.

Num verdadeiro ritual, aos poucos fomos retirando as folhas que estavam sobre o buraco em que havíamos colocado o tacho, até o descobrir totalmente. Enquanto isso os outros estavam a acender um novo fogo que de fato serviria para terminar de cozinhar o carneiro, nossa única opção do jantar daquele dia.

Mas tão grande fora a surpresa quando o japonês retirou a tampa do tacho, o carneiro estava totalmente cozido, tenro, macio e delicioso!

Não sabíamos, mas naquela noite nascia uma iguaria exótica. Nossa viagem terminou e por muitas outras vezes cozinhamos carneiros daquele modo, só que juntando a ele outros temperos, tais como: pimenta do reino, alho, ajinomoto, cebolinha, salsinha, vinagre de vinho, óleo e sal.

Certa ocasião, na década de 60, eu estava em São Paulo e como você já percebeu, gosto de contar histórias e contei essa passagem a um grupo de americanos. Alguns anos depois fiquei sabendo que eram eles cineastas e que até utilizaram minha receita num daqueles filmes de bang-bang.

Naquele instante percebi que Benevides estava muito quieto e o chamei por várias vezes. Ele não respondeu. Havia morrido enquanto seu companheiro me contava a história.

No dia seguinte o Tenente já não tinha mais forças, falava entre longas pausas já com voz sumida. Mas antes que desse o último suspiro, chamou-me para perto de si e disse: “você pode ter duvidado da história que lhe contei, mas se quiser saber certeza, pergunte ao falecido Nereu e o finado Deodato, eles também estavam lá”. Fecha aspas.

Essa foi a história que o valente tropeiro militar Tenente Soares me contou, antes de ter o corpo encomendado por um padre coadjutor de Guarapuava, da Congregação do Verbo Divino, que lhe aspergiu água benta sob o “olhar” vigilante da imagem de São José, que adornava o oratório daquele hospital. Ao longe soou um berrante...

Fonte:
Conto de abertura do livro "Enquanto conto, encanto o conto" - contos, lendas e rumores, Organizado pela Fundaçao Cultural de Campo Mourao.1ª. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004. v. 5000. 100 p.
Imagem = montagem de José Feldman

sábado, 14 de novembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte VII



CAPÍTULO II

D. JUAN

Possuir pelo espírito ou possuir pelo corpo são os dois desejos insaciáveis e eternos do homem. Fausto luta com os problemas do conhecimento. D. Juan procura enlaçar a beleza e se inebria no furor sensual. Mas esse “benfeitor inesgotável de todas as mulheres”, como é denominado por A. Saurès, persegue um ideal inacessível; luta com Deus e submete-se finalmente à sua lei comungando no Amor supremo.

D. Juan representa nossa tentação, nosso desejo repudiado; herói da força de sedução, essa criatura audaciosa, nobre e cavalheiresca, cínica é odiada mas secretamente admirada. É que sob os andrajos D. Juan permanece um grande Senhor; não é um espadachim e sua paixão, que poderia ter sido vil, o aureola.

Seu instinto de revolta faz com que entre em conflito com instituições existentes. D. Juan nasceu num clima quente e sensual, no estrondear das frutas maduras e odorantes, mas sob o controle da inquisição aos dogmas rigorosos que proscreviam a liberdade do amor:

L’oeuvre de la chair ne désireras
Qu’en mariage seulement.(2)

Apesar de Bernard Shaw ser de opinião que D. Juan continua “um crente fervoroso num inferno último e de que se arrisca à excomunhão, é que o inferno lhe parece tão distante que o arrependimento pode ser diferido até o momento em que se tiver saciado de prazeres” (Man and superman) o povo não pode admitir a excomunhão desse homem excepcional. D. Juan reconcilia-se com Deus; e depois da lenda de D. Juan Tenório — que morre excomungado — aparece D. Juan Mañara.

1. — Os dois D. Juan

Depois de haver sido o símbolo da força maligna anti-social; o individualista D. Juan Tenório transforma-se na figura idealista de D. Juan Mañara, vítima das realidades físicas de nossa sociedade. Escravo do nosso mundo, verá seus erros perdoados por saber arrepender-se; é o símbolo do sofrimento e da luta.

Prosper Mérimée mostrou em Les âmes du Purgatoire (As almas do Purgatório) que as duas lendas eram contadas da mesma forma; entretanto, Tenório foi levado pela estátua de pedra enquanto que o Mañara salvou-se. A Igreja manda um epílogo moralista e quanto mais perverso é o personagem, mais a conversão será retumbante. Bemard Shaw denomina-a “moral monástica”. Albert Camus admite que esse refúgio em Deus “é o confinamento de uma vida totalmente penetrada de absurdidade”; “o prazer termina aqui em ascese”,

No decorrer de sua longa existência D. Juan se purificou.

Romântico, persegue a imagem de uma beleza feminina, é um amante místico que vai do desencantamento ao desespero. É um Werther que, pelas suas preocupações intelectuais, liga-se a Fausto.

2. — D. Juan e Fausto

D. Juan e Fausto são dois revoltados que se insurgem contra os princípios da sociedade e da Igreja. Esses orgulhosos — serão excomungados — porque ultrapassam os limites impostos por Deus. A aproximação desses dois peregrinos, de um absoluto inacessível, foi materializada por Nicolas Vogt no seu poema Les ruines des-bords du Rhin (As ruínas das margens do Reno). O paralelo foi admiravelmente tratado por Micheline Sauvage em Le cas Don Juan (Le Seuil, 1953), onde “Fausto é a inteligência de Don Juan, Don Juan o erotismo de Fausto”; Albert Camus: Le mythe de Sisyphe (O mito de Sisifo) é de opinião que Fausto não sabia alegrar a sua alma enquanto que a vida cumulava D. Juan, que sabia organizar sua saciedade.

3. — Os personagens históricos

Essa criação imortal começa com D. Juan Tenório. Tirso de Molina, que foi o primeiro a divulgar o tipo em, aproximadamente, 1627, deve ter conhecido obras literárias anteriores. Uma crônica de Sevilha fixa Tenório matando o Comendador cuja filha havia raptado e a armadilha dos frades franciscanos; este teria sido mandado por uma estátua subitamente animada. Fez-se de Tenório o filho do almirante Alonso Jofre Tenório, contemporâneo de Pedro, o Cruel.

Conhecemos melhor D. Miguel Mañara. Nascido em Sevilha no dia 3 de março de 1627, casou-se no dia 31 de agosto de 1648, após uma juventude dissipada; ao falecer sua esposa, em 1662, ingressou na confraria “la Hermandad de la Caridad”; no cargo de irmão maior, faleceu em 1679 em odor de santidade; quiseram beatificá-lo.

Barres: Du sang, de la volupté et de la mort (Do sangue, da volúpia e da morte), Théophile Goutier (Voyage en Espagne, XIV), t’Serstevens (Le nouvel itinéraire espagnol, Segep, 1951), nos descrevem a última morada desse personagem lendário. A partir do quadro de Valdês Leal, Montherlant (revista N. R. F. de janeiro de 1953) vê na vida de D. Juan uma contínua blasfêmia; o que contrariaria os propósitos do Padre jesuíta Jean de Cardenas, amigo de D. Juan Mañara. Lorenzi de Bradi estabeleceu a origem corsa desse erradio do amor, cujo tio habitava ainda em Calvi, em 1643; foi dessa forma que pelos Cinarca, Napoleão foi parente dos D. Miguel.

4. — Origem literária

Se Georges Gendarme de Bévotte escreveu um livro notável, La Légende de Don Juan (Hachette, 1906 e 1910), Lorenzi de Bradi (Don Juan - 1930), pensa no sedutor com Zeus, “esse deus devasso, incestuoso, adúltero”, Plutão o raptor de almas e de corpos ou Prometeu.

A silhueta do personagem não é nova: aparece no Amadis de Gaula (1492), nas comédias de Calderón e principalmente nas de Lope de Vega, aproximadamente em 1598.

Tirso de Molina (1627), porém, extrai desse contemporâneo do Cid e de D. Quixote o máximo de força. Seu herói vindicativo tem respostas breves; sua atitude é digna e de uma calma intrépida diante da estátua animada; essa grandeza o reabilita. O aspecto singelo desse drama dá-lhe um sabor extraordinário. No Le truand béatifié (O truão beatificado), de Cervantes, Cristobal de Lugo morre em odor de santidade; com Mira de Amescua: L’esclave du démon (O escravo do demônio), D. Gil vende sua alma ao diabo a fim de possuir uma freira: enlaça apenas um esqueleto e seu pavor o reconduz a Deus.

5. — Os outros temas do assunto

Esse drama religioso, no qual a doutrina de Lutero e da predestinação suscita a dúvida, comporta também o tema do convite de um morto à mesa de um vivo. O assunto se encontra em peças escritas nos colégios de jesuítas alemães nos séculos XVII e XVIII: um libertino, o conde Leôncio, esbarrando com uma cabeça de morto, convida-a para jantar; o misterioso hóspede aceita o convite e leva o anfitrião para o inferno. Bévotte observa que a lenda teria nascido na Itália, o que é confirmado por Simone Brouwer. As estátuas animadas são freqüentemente usadas: Aristóteles nota o assassínio de Mitis pela estátua da vitória (Poética, XI, 6), Crisóstomo e Pausânias (Voyage en Grèce, 6, XI - Viagem à Grécia) observam que um invejoso é esmagado pela estátua erguida ao atleta Teógenes de Tasos; o escultor Pigmalião enamora-se de sua estátua que será animada por Vênus.

Eckhardt (Corpus historiarum, Leipzig, 1723) menciona o texto de um cronista do século X referido por Gauthier de Coinsi em sua Chronique rimée des miracles de la Vierge (Crônica animada dos milagres da Virgem): “Du Clerc qui mis l’anel au doi Nostre Dame”. Notemos ainda Cicognini com La statue de l’honneur (A estátua do homem). Shakespeare e o Conte d’hiver (Conto de inverno) e a Vênus d’Ille de Prosper Mérimée.

6. — De Tirso de Molina a Molière

Depois da obra humana de Tirso de Molina, a peça espanhola é traduzida conforme o gosto italiano, por Cicognini, Giliberto; cenas burlescas e até vulgares foram acrescentadas por Biancolelli. Dorimon interpreta Le festin de Pierre, em Lião (1658), Villiers no palácio de Borgonha, em 1659. Ao título Le convié de Pierre, preferiu-se algumas vezes Le festin de Pierre, sendo Pedro o prenome do Comendador que deu origem ao contra-senso atual. Molière imagina, no Palais Royal, em 15 de fevereiro de 1665, essa notável peça que só será impressa em 1682. Seu ateísmo revolta os bons costumes e a peça é condenada. Com dois novos personagens, Sganarelle — mordomo jovial e de bom senso — e dona Elvira — vítima inocente — D. Juan é um cético de idéias engenhosas. Calculista, perversa, hipócrita e facciosa, essa peça é na realidade uma pintura dos costumes da época.

7. — Superabundância literária

Cada autor retomaria esse tema, a fim de nele se introduzir, em folhetos impressos. Depois de Rosimond (1669), La Fontaine trata do personagem ao escrever Joconde ou l’infidélité des femmes (Joconda ou a infidelidade das mulheres). D. Juan passa para o teatro de fantoches, nas feiras de Saint-Laurent e Saint-Germain e o Almanach forain de 1777, organiza uma lista.

Cokain introduz D. Juan na Inglaterra e Shadwell transforma-o em um monstro: La libertine. (1676) (A libertina). Byron escreve um longo poema inacabado no qual o herói se deixa conduzir pelo destino. Em Clarisse Harlowe, de Richardson (1751), Lovelace é uma criatura complicada que tem o gênio do mal. Choderlos de Laclos aproveita essa mesma segurança diabólica no prazer da corrupção: Les liaisons dangereuses (Ligações perigosas - 1782), mas nessa luz cruel onde todos os recursos da astúcia são orquestrados, Valmont aparece mais perverso do que D. Juan.

O abade italiano Lorenzo da Ponte introduz episódios da sua vida em Don Giovanni; Mozart aproveita esse texto, enquanto que Balzac cria L’elixir de longue vie (O elixir da longa vida).

Do personagem humano de Puchkin (1830), Musset faz apenas um ente quimérico (Les marrons du feu, 1829, Namouna, 1832; Une matinée de Don Juan). Em 1833, Lélia, de George Sand, ataca D. Juan que é por ela reabilitado em 1839. Mérimée (Les âmes du Purgatoire, 1834 - As almas do Purgatório), Blaze (Le souper chez de commander - 1834), inspiram-se em Mañara, enquanto que La chute d’un ange (A queda de um anjo), de Alexandre Dumas, é um drama desconcertante. D. Juan continua demoníaco em Albertus, (1831), Comédie de la mort, (1838) de Th. Gautier.

Se a maioria dos dramas é pueril, Baudelaire compõe um poema surpreendente, Don Juan aux enfers (D. Juan nos infernos), que evoca talvez Delacroix (1846, Les fleurs du mal - As flores do mal). Depois dessa síntese vigorosa, D. Juan é novamente desiludido com Lenau (1851), Tolstói (1860). Flaubert lembrou-se dele numa peça inacabada (Une nuit de Don Juan), enquanto que Barbey d’Aurevilly, fê-lo contar “seu mais belo amor” nos Diaboliques (Diabólicos); Henri Bataille também evocou esse personagem na velhice (L’homme à la rose - O homem da rosa). Richepin obriga o sedutor entediado a amar apenas mulheres bonitas: Mille et quatre, inconnue (Mil e quatro, desconhecida). H. de Régnier, Ed. Rostand trazem poucas inovações. Bemard Shaw produz uma obra de fé sobre esse motivo: Man and superman (1901-1903) (Homem e super-homem); Miguel Mañara de O. V. de Milosz é humano e comovente; foi escrito depois de Les sept solitudes (As sete solitudes) Scenes pour Don Juan et l’amoureuse initiation (Cenas para D. Juan e a amorosa iniciação). L’homme de cendres (1949) (0 homem feito de cinza) de André Obey é também Le fruit de Don Juan (1934) (O fruto de D. Juan) e do Trompeur de Séville (1937) (O impostor de Sevilha); mas após esse homem da negação, eis o “assassínio do amor” por Delteil (Grasset, 1930); é um fraco vencido pela mulher. Depois deste estilo imperioso e colorido, Claude-André Puget propõe-se dois fins em Echec à Don Juan (1941 e 1953), (Malogro de D. Juan), obra brilhante e cavalheiresca. Para t’Serstevens, La légende de Don Juan (1924 e 1946) (A lenda de D. Juan), ele é o judeu errante do amor. Esta vibração da carne encerra-se com êxtase, enquanto que para Fernand Fleuret: Les derniers plaisirs, (1924) (Os últimos prazeres), Mañara morre como um libertino.

8. — Os representantes de D. Juan

Além dos personagens históricos de Tenório — e Mañara, muitos outros sedutores tornaram-se representantes desse herói. Ocorre-nos imediatamente a lembrança de Alexandre com o seu harém de trezentas e sessenta e cinco mulheres, renovado todos os anos ou a de Júlio César, o sedutor inescrupuloso. Mencionemos ainda Henrique II de Montmorency, Nero, Francisco I, Luís XIV, Henrique IV (Le Vert Galant). Temos ainda Lauzun, o duque de Richelieu e a vida galante da Regência. Depois de Lázaro vêm as vidas tumultuosas de Santo Inácio de Loiola, de Calderón ou do terrível espadachim Lope de Vega. Sade, por sua obscenidade doentia, sua perversão sexual dificilmente se assemelha a esse voluptuoso que não pagava as mulheres como o fazia Casanova; D. Juan não teria admitido as astúcias de Charpillon que se assemelham às da Conchita imaginadas por Louys: La femme et le pantin (A mulher e o títere). Nicolas Rétif La Bretonne também se assemelha mais a Casanova do que a D. Juan.

9. — Conclusão

D. Juan encarna a paixão humana, pertence a todos os países, a todas as épocas. Está na base de nossa literatura: é o René de Chateaubriand, o Steerforth de David Copperfield, L’egoiste (O egoísta) de Meredith, o Woodstock de W. Scott; aparece ainda na obra de Montherlant, Stendhal, Maupassant. Esse sedento de ideais integra-se na concepção de cada autor; é uma criação viva.

À satisfação física quer acrescentar a do espírito. Esse carrasco de corações, cortês e cavalheiresco, buscando a posse suprema, o amor absoluto, tende à santidade. Mas não deixou de ser essa criatura inconstante, cujos desejos insaciáveis e inesgotável curiosidade, permitiram-lhe mil e três aventuras, verdadeiras conquistas e não simples mercancias. Iluminado, peregrino do êxtase, judeu errante da volúpia, aventureiro que sonda corações e entranhas, traz no seu vício uma elegância nativa para transformar-se nesse frade arrependido.

Ao seu lado a estátua é altiva e marcial; o mordomo conselheiro, tímido, hesitante entre seus escrúpulos e seu interesse; Dona Enviar — ou Dona Ana — é pura.

O drama de D. Juan com seu espírito revoltado denuncia uma crise literária e religiosa. Mito de riqueza incomparável, é um universo com a condição do homem, sua dualidade, seu drama da carne e do espírito. Ainda por muito tempo nos encantará.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Trova LXIX (Neide Rocha Portugal - Bandeirantes/PR)

Fonte:
Montagem do quadro e da trova sobre as imagens obtidas nos blogs http://aventurasdavidacomum.blogspot.com/ e http://vidadebebado.blogspot.com/

Antonio Brás Constante (Como Nasce Uma Nova Crônica?)



Como nasce uma nova crônica? Muitas vezes, é necessária apenas uma conversa casual com um colega de serviço, durante uma breve subida de elevador. Claro que isso dependeria primeiramente do tipo de assunto discutido, pois teria que ser algo interessante. Outro fator determinante é o de que ao menos um dos presentes precisará ser algum tipo de aprendiz de escritor, ou coisa parecida (Guima: valeu pela idéia e pelo papo).

Essas conversas tendem a ser rápidas, e para virarem um texto têm que ter em seu conteúdo frases mais profundas do que os costumeiros: “bom dia”, “será que chove hoje?”, ou “o sexto-andar para mim, por favor”. Nestes encontros pode-se falar de qualquer assunto (geralmente corriqueiro), como por exemplo: os jogos de futebol, as musas que encantam nossos olhos, as mudanças de estação, quedas em geral (de cabelos, de aviões, de crianças, etc), ou diálogos feitos por ministros de grandes estatais de petróleo, quando estes resolvem tecer comentários “informais”, falando sobre possíveis descobertas de gigantescas jazidas do chamado “ouro negro” em território nacional, enaltecendo que tal fato tornaria seu país um dos primeiros produtores de petróleo do mundo.

Podemos imaginar que não faltarão aqueles que perceberiam comentários liberados desta forma, sobre descobertas de mega-jazidas, como não sendo informações inocentes e sem propósito, frutos de uma exacerbada empolgação pela possibilidade de ter sido encontrado algo que traria benefícios a toda nação, gerando divisas, movimentando a economia, etc. Mas quem poderá garantir que eles estão errados em suas suspeitas?

Se levarmos em conta a teoria da conspiração, inerente a todo ser humano que sobe em elevadores ou não, e que resolve não falar de futebol ou de belas musas, mas sim de comentários sobre descobertas mirabolantes, as idéias começam a voar mais longe do que padres atados a balões, atravessando as paredes dessas gaiolas de aço, presas por cabos cheios de graxa, passando a criar suposições fantásticas, onde tais atitudes poderiam ter um cunho mais financeiro do que patriota, já que o resultado imediato de pronunciamentos assim, seria a valorização de determinadas ações no mercado financeiro.

A imaginação é realmente algo incrível, pois consegue transformar lampejos que viajam por conexões neurais em cenários hipotéticos, onde homens engravatados e cheios de dinheiro reúnem-se para beber uísque importado, falar sobre futebol e musas inspiradoras, mas também aproveitam o encontro para planejar formas de manipular positivamente o preço de suas ações. Tudo feito com muita discrição, sorrisos e tapinhas nas costas.

Enfim, o que são meras suposições passageiras baseadas em vagas teorias, se não apenas fictícios universos paralelos, distantes deste nosso incrível e belo mundo perfeito, cujo máximo de realidade advindo destas elocubrações, não passa de um punhado de frases soltas em um pedaço de log ou de papel, moldadas pelas mãos de um pretenso escritor, que não bebe uísque, mas anda de elevador.

Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc
Imagem = http://formulados.com.br

Martins Pena (1815 – 1848)



Martins Pena (Luís Carlos M. P.), teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de novembro de 1815, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 7 de dezembro de 1848. É o patrono da Cadeira n. 29, DA Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Artur Azevedo.

Era filho de João Martins Pena e Francisca de Paula Julieta Pena. Órfão de pai com um ano de idade e de mãe aos dez, foi destinado pelos tutores à vida comercial. Completou o curso do comércio em 1835. Cedendo à vocação, passou a freqüentar a Academia de Belas Artes, onde estudou arquitetura, estatuária, desenho e música; simultaneamente estudava línguas, história, literatura e teatro. Em 1838, entrou para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde exerceu cargos, até chegar ao posto de adido à Legação do Brasil em Londres. Doente de tuberculose, e fugindo ao frio de Londres, veio a falecer em Lisboa, em trânsito para o Brasil.

De 1846 a 1847, fez crítica teatral como folhetinista do Jornal do Commercio. Seus textos foram reunidos em Folhetins. A semana lírica. Mas foi como teatrólogo a sua maior contribuição à literatura brasileira, em cuja história figura como o fundador da comédia de costumes. Desde O juiz de paz da roça, comédia em um ato, representada pela primeira vez, em 4 de outubro de 1838, no Teatro de São Pedro, até A barriga de meu tio, comédia burlesca em três atos, representada no mesmo teatro em 17 de dezembro de 1846, escreveu aproximadamente 30 peças, quase tantas obras quantos anos de idade, pois o autor tinha apenas 33 anos quando faleceu. O caráter geral de todas as suas peças é o da comédia de costumes. Dotado de singular veia cômica, escreveu comédias e farsas que encontraram, na metade do século XIX, um ambiente receptivo que favoreceu a sua popularidade. Envolvem sobretudo a gente da roça e do povo comum das cidades. Sua galeria de tipos, constituindo um retrato realista do Brasil na época, compreende: funcionários, meirinhos, juízes, malandros, matutos, estrangeiros, falsos cultos, profissionais da intriga social, em torno de casos de família, casamentos, heranças, dotes, dívidas, festas da roça e das cidades. Foi, assim, Martins Pena, quem imprimiu ao teatro brasileiro o cunho nacional, apontando os rumos e a tradição a serem explorados pelos teatrólogos que se seguiriam. A sua arte cênica ainda hoje é representada com êxito.

Algumas obras:
O juiz de paz da roça, comédia em 1 ato (representada em 1838);
A família e a festa na roça, comédia em 1 ato (representada em 1840);
O Judas em sábado de aleluia, comédia em 1 ato (representada em 1844);
O namorador ou A noite de São João, comédia em 1 ato (1845);
O noviço, comédia em 3 atos (1845);
O caixeiro da taverna, comédia em 1 ato (1845);
Quem casa quer casa, provérbio em 1 ato (1845); e diversas outras comédias e dramas.

SOBRE SUAS OBRAS

Embora tivesse escrito alguns dramas (todos de péssima qualidade), Martins Pena destacou-se por suas comédias, através das quais fundou o teatro nacional. A origem destas obras resulta de uma curiosa característica da época: normalmente após a apresentação de um drama, os espectadores assistiam a uma breve farsa, provinda da dramaturgia portuguesa, e cuja função era desopilar as emoções excessivas causadas pela peça principal. Favorecido pelo interesse de João Caetano, o mais famoso ator e encenador do período, Martins Pena percebeu que podia dar ao gênero um caráter brasileiro, introduzindo tipos, situações e costumes facilmente identificáveis pelo público do Rio de Janeiro.

Na verdade, a comédia de costumes (em geral, de um ato apenas) era a única espécie teatral que se adaptava às circunstâncias históricas do Brasil, na primeira metade do século XIX. A exemplo de Manuel Antônio de Almeida, uma espécie de seu discípulo no romance, Martins Pena intuiu que nem o drama, nem a tragédia se ajustariam ao universo que propunha retratar. Porque as elites imperiais, fossem as urbanas ou as do campo, careciam de maior complexidade social e humana, não permitindo a criação de textos psicológicos mais densos. Também as classes médias eram pobres em caracteres e dimensão histórica. Restavam apenas os escravos, estes sim participantes de um drama real e pungente. Só que quando apareciam representados nos palcos o eram unicamente como moleques de recados, amas de leite, etc. Ou seja, não havia outro caminho para o jovem teatrólogo senão a utilização do riso para registrar a sua época.

No conjunto, as comédias são superficiais e ingênuas, os tipos humanos são esboçados de forma primária e as tramas pecam, às vezes, pela falta de coerência e verossimilhança. Mesmo assim, estas peças apresentam tal vivacidade nas situações e no registro dos costumes e tamanha espontaneidade nos diálogos que ainda hoje ainda podem ser lidas ou assistidas com prazer.

TEMAS E SITUAÇÕES PRINCIPAIS

Algumas comédias são sátiras aos costumes rurais, revelando os hábitos curiosos, a fala simples e a extrema candura que delimitam os seres da roça. Estes são criaturas broncas e rústicas, ainda mais quando comparadas aos homens da capital, requintados e espertos. Porém os caipiras têm, com freqüência, melhor índole que os tipos da Corte. Até os pequenos corruptos, como o juiz de O juiz de paz na roça, não deixam de possuir uma certa inocência simpática.

Já as peças que focalizam a vida urbana efetivam, como observou Amália Costa, uma “leitura” irônica dos problemas da época: o casamento por interesse, a carestia, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes, a corrupção das autoridades públicas, o contrabando de escravos, a exploração do país por estrangeiros e o autoritarismo patriarcal, manifesto tanto na escolha de marido para as filhas quanto de profissão para os filhos.

Um tema dominante tanto nas comédias da roça quanto nas urbanas é o do amor contrariado. A maior parte das tramas cômicas gira em torno de jovens cujos desígnios amorosos ainda não se cumpriram. Como bem analisou Sábato Magaldi, tudo se origina do fato de os pais preferirem pretendentes velhos e ricos para seus filhos. Estes, ao contrário, crêem no amor sincero e desinteressado. Contudo, jamais um sopro trágico percorre tais paixões irrealizadas porque todas elas serão resolvidas positivamente, em clima da mais completa farsa, no final das peças. As situações são muitas parecidas (amor impossível pela má-fé de vilões – desmascaramento cômico dos empecilhos – final feliz). Pode-se afirmar que o casamento(ou pelo menos o namoro sério) constitui o epílogo mais comum destas comédias.

Martins Pena não teve seguidores diretos, exceção talvez a Artur Azevedo. Contudo, o teatro de costumes, um teatro semipopular, sem grandes pretensões estéticas, continuou existindo como única veia autêntica do palco nacional, no século passado.

O NOVIÇO

Uma das poucas peças de Martins Pena em três atos, O noviço gira em torno da pérfida ação de Ambrósio que se casa por interesse com Florência, rica viúva, mãe da jovem Emília, do menino Juca e tutora do sobrinho Carlos, este o personagem principal da peça O vilão Ambrósio já havia convencido a mulher a colocar Carlos (o noviço) em um seminário. Agora quer também internar Emília em um convento, pois ela se encontra em idade de casar e teria de receber um dote significativo da mãe. Igual destino aguarda o menino que deve se tornar frade. Assim, Ambrósio ficaria com toda a fortuna de Florência.

Carlos, no entanto, foge do convento e esconde-se na casa da tia, já que quer fazer carreira militar e, sobretudo, desposar a prima Emília, por quem está apaixonado. O acaso o ajuda na luta contra Ambrósio: vinda do Ceará, surge Rosa, a primeira mulher do vilão e da qual ele não se separara oficialmente. Rosa conta a Carlos que o seu marido desaparecera com todo o dinheiro que ela possuía.

O problema imediato de Carlos, porém, é livrar-se do Mestre dos Noviços que está atrás dele para reconduzi-lo ao convento. Em cena hilariante, aproveita-se da ingenuidade da mulher e troca de roupa com ela. Esta, em seguida, é encontrada pela autoridade religiosa com a batina do rapaz. Confundida com o noviço fugido, é remetida imediatamente ao seminário. Enquanto isso, Carlos, vestido de mulher, começa a ameaçar Ambrósio com a história de sua bigamia. Após inúmeras peripécias, o vilão é desmascarado diante da própria Florência, e os jovens Carlos e Emília ficam livres para o mútuo envolvimento amoroso.

OS DOIS OU O INGLÊS MAQUINISTA

Mariquinha e seu primo Felício se amam, mas como este é pobre não há possibilidade de casamento. A moça é cortejada por outros dois homens: Negreiro, um traficante de escravos, e Gainer, um inglês espertalhão. A crítica operada contra os dois personagens – ambos desejosos de obter a fortuna pessoal da jovem mediante o casamento – parece transcender à banalidade das tramas de Martins Pena. Funciona como metáfora da própria realidade nacional, dominada no plano econômico pelos traficantes e pelo capital inglês. À chegada do pai de Mariquinha, a quem todos julgavam morto, soma-se o conflito entre o inglês e o traficante (outra metáfora da história do Brasil da época?), permitindo a revelação dos caracteres degradados dos dois pretendentes. Assim, Mariquinha e o primo Felício podem efetivar a relação amorosa, como se o brasileiro simbolicamente tomasse posse da riqueza da nação.

Fontes:
http://www.biblio.com.br/
http://educaterra.terra.com.br/