sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Luiz Poeta (Biografia)



Luiz Gilberto de Barros, registrado na Sociedade Brasileira de autores, compositores e escritores de música - SBACEM - como Luiz Poeta, é Professor de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Produção de Textos, lecionando atualmente no Município do Rio de Janeiro.

Paralelamente às atividades profissionais, destaca-se também no meio artístico como produtor fonográfico, violonista, guitarrista, compositor, poeta e artista plástico.

Membro atuante do Portal CEN, Acadêmico da AVLBL e um dos mais novos filiados da União Brasileira de Trovadores , mantendo contatos ou estando vinculado a diversos sites importantes (Melzinhas, Locura Poética, Escritores e Poetas, Alma de Poeta, Sala de Poetas, Távola Literária, Cirandas e Cirandeiros, Lunas & Amigos, PortikoLiterário, Fórum dos Mestres Aprendizes, Clube de Letras, Festa Baile, Por Siempre Românticos, Jardim Esperanza, Pluma y Palabra, Paralelo 30, Gr_NG, Flori Jane,Textos e Pretextos, Skorpiona, Ecos da Poesia, escola Tropo, Drica del Nero, SONZ etc.).

Luiz Poeta é também Cônsul dos Poetas del Mundo, Delegado do Portal CEN ( ponte lusófona entre Brasil e Portugal ), Diretor Musical da União Brasileira de Trovadores, Diretor Cultural da Associação Cultural Encontros Musicais e Acadêmico do Inbrasci ( Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais e da Academia Pan Americana de Letras e Artes, fazendo parte de diversos grupos literários.

Luiz Poeta costuma usar a expressão " irmão " no lugar da palavra amigo. Para ele todos nós somos uma família que, como tal, não pode permitir que uma amizade termine por um e-mail não enviado (ou não recebido) ou por uma eventual ausência de contato visual, digital ou telefônico...

Segundo Luiz Poeta, a internet possibilitou-lhe um dos tempos mais felizes da sua vida, onde pode conviver livremente com as pessoas que fazem do ato de compor, a maneira mais sublime de celebrar a vida.
No fundo, Luiz Poeta gostaria que todos fossem verdadeiramente uma só família e que cada gesto, por mais simples, significasse o quanto todos nós precisamos de compreensão, amor, admiração, respeito, reciprocidade.

O cd musical Bossa Light, de Luiz Poeta, possui uma trova de sua autoria que diz assim:

Quem quiser cantar meu canto,
Vai chegando de mansinho,
Tenho voz de acalanto
E canto de passarinho.


Fontes:
Portal CEN
http://images.marcobastos.multiply.multiplycontent.com/

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Anjo da Guarda)



Guarda-me anjo da guarda
como sempre me guardou...
guardando aquela lembrança
dos meus tempos de criança
que já se foi... mas ficou.

Guarda todos os sentimentos,
a candura de menino;
guarda todo o meu destino,
minha fé, ternura e paz,
guarda também a saudade
que por pirraça ou maldade
não vai me deixar jamais.

Guarda meus sonhos perdidos
que nunca foram alcançados;
guarda aqueles meus pecados
tão ingênuos de menino,
pecados tão pequeninos
por certo já perdoados.

Guarda, afinal, a certeza
de ter trilhado o caminho
do bem, razão e pureza;
guarda também a riqueza
do meu pobre coração,
guarda, meu Anjo da Guarda,
minha vida em tuas mãos.
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Fonte:
Colaboração do autor.

Alba Pires Ferreira e Ilda Maria Costa Brasil (Metáforas)

Imagem por Douglas Dickel
Nossa história começa em São José dos Ausentes, RS, na trilha que leva ao Cânion do Pico do Monte Negro (o ponto mais alto do estado – 1403 metros), onde seguiam duas mulheres, aparentando entre setenta a oitenta anos. Uma loira, outra morena; cor distinta na pele, uma vez que, a prata dos cabelos, era igual.

– Querida amiga, sabe que não existe nada mais agradável neste mundo, do que, açoitada pelo vento, subir ao Pico do Monte, em nublada tarde de agosto, curtindo o ar campestre, fatores climáticos que levam qualquer ser humano a um universo poético, arrastando isto aqui – falou a morena apontando para algo que trazia preso às costas. A velhinha loura sorriu e replicou:

– E você percebe que esse prazer aumenta quando, mesmo na falta de Maria Madalena para nos limpar o suor do rosto, encaramos a caminhada, numa boa, em “Papo Família”?

– Qual é, Bárbara, nesta altura do campeonato, família se reduz a filhos, ironizou a morena acrescentando – “Filhos, melhor não tê-los...”

– Mas, “se não tê-los como sabê-los?” perguntou a velhinha marfim, lembrando um número quatro perdido no tempo. Curvando-se um pouco mais, ao peso do fardo que trazia às costas, tropeçou, numa pedra, engoliu um grito de dor, e “fazendo uma careta, cantou:
– “No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho”.

E olhando de soslaio para a companheira:

– Canta comigo Jandira, assim a viagem fica mais alegre.

Morena Jandira, apertando os olhos, face à dor causada pela coroa de espinhos rodeando a cabeça: – prefiro declamar minha alegria gritando ao vento:
– “Poeta é um fingidor.
Finge tão perfeitamente...
Finge até a dor que deveras sente.”

E falando com seus botões, lembrou dia e hora de cada espinho... Viagens, suas roupas jogadas ao léu, as noites passadas em claro, inúteis discussões, que não levavam a nada, seu PC ...um safanão bastou para destruí-lo. Quanto dinheiro gasto, para arrumá-lo.

Diferente de pessoas, máquinas a gente sempre arruma, deixa novinha em folha. Entusiasmada , ergueu a cabeça e repetiu:

– “Finge até a dor que deveras sente...”

A custo, aproximando-se de Bárbara:

– Como vai se portando tua coroa?

Arquejante, a velhinha movendo a cabeça com dificuldade, forçou um sorriso, respondeu:

– Muito bem obrigada, cada espinho no seu devido lugar.

E como não havia de ser ...espinho desilusão, espinho solidão, espinho abandono, espinho sonho destruído. Bem feito. Afinal, velha metida, se fazendo, querendo sonhar... Tentou sacudir a cabeça. Impossível, curvou um pouco o pescoço, na face esboçou um esgar na máscara.

Trocar de casa, uma novinha, ensolarada, piso novo, móveis novos. Logo ela, uma velha, pra que isso? Gastar dinheiro em bobagem? Já não tinha a espera, outra no João XXIII? Cupins? Aprender a conviver com eles, ora bolas. O melhor, amorcegar àquela casa e fim de papo. Soltando uma sonora gargalhada:

– “Quanta gente que ri talvez existe
cuja única ventura consiste
em parecer aos outros venturosa” .

E assim, perdidas em seus pensamentos, ambas continuaram a subida íngreme, em direção ao topo. Caíram algumas vezes, ergueram-se, em determinado momento; uma troca de olhares marota selou algum acordo, pois, apoiando-se mutuamente, cantaram:

Mal Secreto
“Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!”


E assim, alcançaram o topo do Monte Negro, e assim, para sua surpresa, foram recepcionadas por Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Raimundo Correa. Depressa, jogaram ao chão, a cruz e a coroa de espinhos, que nossas heroínas portavam.

Comovidos e felizes, comentavam que, durante a árdua jornada, Bárbara e Jandira aludiram a seus poemas, o tempo todo. O mais entusiasta, dando um passo à frente, falou:

– Oh, sinto-me envaidecido, pois da tríade parnasiana – Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e eu, Raimundo Correia, foi um poema meu o escolhido para fechar este trabalho.

Caros leitores, curtam a sonoridade de minhas palavras e de meus versos. Seria decepcionante, para o meu ego, se o poema aqui transcrito, integralmente, fosse "Os Sapos", de Manuel Bandeira.

As duas velhinhas, uma loura outra morena, de São José dos Ausentes? Frio... Vento... muito vento, brincando com as cabeleiras cinza azuladas, subindo, subindo, jogando-as de um lado para o outro entre brancas nuvens cercadas da tão almejada Paz, finalmente alcançada.

Fontes:
Portal CEN
Imagem = http://douglasdickel.blogspot.com

Alba Pires Ferreira (1933)



Alba Pires Ferreira nasceu em Porto Alegre/RS, em 15 de novembro de 1933.

Graduada em História, Organização Social e Política do Brasil, pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, de Porto Alegre/RS.

Atuou no Magistério Público Estadual, por muitos anos, na sala de aula.

Em 1968, participou do Curso de Orçamento Programa – Para Chefias da Educação e Cultura e, em 1974, do Curso da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra - ADESG.

De l973 a 1982, presidiu o Centro Cívico “Presidente Kennedy” em Cachoeirinha/RS.

De 1982 a l985, exerceu a função de Delegada Adjunta da 28ª Delegacia de Educação e Cultura.

De 1985 a 1987, foi Oficial de Gabinete da Secretaria da Educação e Cultura.

De 1986 a l996, atuou como Coordenadora da Biblioteca, da Secretaria e da Merenda Escolar da Escola Estadual Odila Gay da Fonseca.

– É escritora e poetisa;
– Presidente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves - AACELCA, de Porto Alegre/RS, ocupando a Cadeira 05, de Roque Callage;
– Academia Literária Gaúcha - ALGA, de Porto Alegre/RS, Membro Correspondente da Academia de Letras Rio - Cidade Maravilhosa, do Rio de Janeiro/RJ;
– Sócia Fundadora e Vice-Presidente da Associação Artística e Literária A Palavra do Século XXI - ALPAS XXI, de Cruz Alta/RS;
– Integrante do Conselho Fiscal da Casa do Poeta Latino Americano – CAPOLAT e da Sociedade Partenon Literário, de Porto Alegre/RS.

Há muitos anos coordena a Equipe de Jurados da ALPAS XXI e foi Jurada dos Açorianos de Literatura, assim como de inúmeros Concursos literários promovidos pela CAPORI.

Participa de várias Antologias e Coletâneas Literárias Nacionais e Internacionais.

Em 1997, participou do livro “Contos Primeiros”, fruto da Oficina Literária de Criação, promovida pelo Centro de Letras da PUC/RS e ministrada pelo Professor e Escritor Dr. Luiz Antonio de Assis Brasil.

Em 2000, lançou o seu primeiro livro de poesia “Sonata”, pela Editora Alcance, de Porto Alegre/RS e,

Em 2002, “Alba Pires Ferreira e Amigos”, pela Editora Borck, de São Luiz de Gonzaga/RS (Primeira Edição Esgotada). Neste ano, foi a Escritora Homenageada, pela ALPAS XXI, na Coletânea Entrelinhas.

Alba, ao longo de sua trajetória literária, conquistou inúmeros prêmios e participou de mais de cinqüenta Antologias e Coletâneas Nacionais e Internacionais. Dentre eles,
– Medalha “STELLA BRASILIENSE”, pelos relevantes serviços prestados à Cultura do País, outorgada pela revista Brasília, do Rio de Janeiro/RJ;
– Troféu “Quarto Prêmio Missões Nacional”, com a Poesia Visual “ANOTA AS NOTAS”, em 1999, Roque Gonzales/RS.

Também se destacou como ativista cultural singular. Nas suas produções, usa palavras que possuem grande poder de sugestão, incitando o seu leitor a buscar, nas entrelinhas, a sua mensagem, tornando seus poemas, emocionais e ardentes, como se o próprio coração fosse diluído em seus versos; dando ênfase à valorização das sensações, das imagens, do indefinível e à evocação de sentimentos e emoções.

Já na prosa, às vezes, expressa uma atitude reflexiva e melancólica sobre temas de caráter social, revalorizando o dia-a-dia e o mundo interior do ser humano. Alba é a expressão da subjetividade, da harmonia e do amor universal. Tanto na prosa quanto na poesia demonstra interesse pelas coisas simples da vida e revela alteridade, amizade e solidariedade. Engajamento social, mistura de tendências estéticas e experimentalismo formal são alguns dos traços que marcam a sua produção.

Rozelia Scheifler Rasia, no prefácio da Coletânea “Entrelinhas” diz: “- Alba conhece o mundo e o mundo a conhece, pois abre-se para o novo, sem esquecer os valores já consagrados. Suas palavras refletem uma personalidade que ignora a neutralidade e assume a postura de quem defende as concepções em que acredita, de quem defende amigos, mesmo contra tudo e contra todos.”

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Entrega do Rodamundinho 2009 aos Autores na Expo-Literária de Sorocaba

No dia 24 de outubro de 2009, durante as comemorações da Expo-Literária, foram entregues exemplares da Coletânea Infanto-Juvenil 'Rodamundinho' para 34 dos 39 participantes. Os inscritos da cidade de Serafina Correa do Rio Grande do Sul receberão seus exemplares pelo Correio. O Rodamundinho é uma coletânea que reúne contos, crônicas e poesias feitas por crianças e adolescentes de até 15 anos de idade.

O sábado estava ensolarado, a alegria era contagiante e era notória a inquietante curiosidade de todos os participantes para ver o livro.

O coordenador do projeto, Matheus Dantas, abriu o evento, descrevendo com propriedade a importância do momento para os presentes, já que Matheus, em 2008, participou com seus textos da coletânea, e este ano, continua atuante, mas como importante auxiliar dos idealizadores do Rodamundinho.

Um a um dos participantes foram chamados ao palco para receber o seu exemplar da coletânea.

Um momento muito feliz foi a execução da música 'Aquarela', de Toquinho, por Matheus e Maria Rita (no violão Felipe Pantano) contagiando a platéia.

Mais uma vez devemos ressaltar a grande importância da Expo-Literária e do Jornal Cruzeiro do Sul para essa criançada. Nos rostinhos dos mesmos podiamos notar o orgulho, a felicidade e a glória daquele momento

Sem dúvida alguma foi um momento feliz para todos, crianças, pais, avós; proporcionados pelos idealizadores Alexandre Latuf e Douglas Lara, com a colaboração da Prefeitura Municipal de Sorocaba.
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Livro escrito por 39 jovens de até 15 anos, 96 páginas de prosa e verso para leitores de todas as idades.

Este ano os participantes do Rodamundinho são: Amanda Kalil Soares Leite, Ana Paula Rodrigues, Anna Laura Rodrigues Alba, Carla Marli Comin, Carolina Arakaki de Camargo, Elaine de Quadro, Ellen Cristina Garcia de Andrade, Evelyn Dias Jorge, Evelyn Jessica Marques Campanholi, Fabiana do Nascimento Gonçalves Trindade, Felipe Calegare Carranza, Fernanda Freire Reche, Gabriela Olsen Federige, Gabrieli Cristina Conceição Camargo, Gulherme Brancalhome de Andrade, José Estevão Pinto de Oliveira, Júlia Bonventi Nunes, Júlia Cepellos Moreno Romeiro, Júlia de Oliveira Marchetti, Julia Mira dos Santos, Larissa da Silva Vendrami, Larissa Miranda de Oliveira, Laura de Oliveira Marchetti, Maria Eduarda de Moura Paschoal, Maria Giulia Jacção Alves, Maria Luisa Alexandrino Dias, Maria Luiza Levy Lemes, Marília Birochi Saragoça, Matheus Balbino Ghiraldi, Natã Vicente da Silva, Paulo Cesar dos Santos Silva, Pedro de Almeida Pecora, Raul Cabral, Rejane Maieri Pedroso, Stefanie Gomes Gonçalves, Talhia Portella Maia , Vitória Amorim, Yasmin Ampese Maté, Whintina Talita dos Santos Almeida Rocha.

Fonte:
Douglas Lara
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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 10 (Boto)

Trova sobre imagem de http://medievallegends.blogspot.com/

Igarapé e Cunhã

Dia no Igarapé, pintura de Jeriel
Igarapé (igara, que significa embarcação escavada no tronco de uma só árvore, e pé, que significa caminho), em termos científicos significa cursos de água amazônicos de primeira ou segunda ordem, braços estreitos de rios ou canais existentes em grande número na bacia amazônica, caracterizados por pouca profundidade, e por correrem quase no interior da mata.

A palavra no Brasil foi adotada do nheengatu, língua originária do tupi-guarani. A maioria dos igarapés tem águas escuras semelhantes às do rio Negro, um dos principais afluentes do rio Amazonas, transportando poucos sedimentos.

São navegáveis por pequenas embarcações e canoas, e desempenham um importante papel como vias de transporte e comunicação.

Cunhã é sinônimo de índia, e é uma palavra tupi que significa literalmente “mulher”.

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Sobre o Boto
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-brasileiro-o-boto.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-em-trovas-7-boto.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/guerreiros-mura-seducao-do-boto-cor-de.html
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://profpedromello.spaces.live.com/blog/
Pintura = http://www.famap.edu.br

Nei Duclós (Poesias Avulsas)


EVOCAÇÃO DO CANTO

Descerra essa violação, afasta essa solidão
Venha me encontrar na última carruagem
Pegue o trem, pilote o avião, pouse em Marte
Retorne com as palavras perdidas no porão
Venha, rouxinol, cante que é tarde

VOLTA, RIO

Na origem, o Rio é uma paisagem-monumento
na essência, um urbanismo clássico
na História, uma soma nacional
na música, uma tarde de sol.

REVANCHE

Sou avô, mas jamais fui neto
Por destino desenhei uma linhagem
Da nação sem lei sou a estiagem
E reponho a bandeira no meu teto

FICO

Nenhuma palavra brota do silêncio
Voltado para o canto escuto o vento

Nenhuma conversa opera no silêncio
Dobrado no quarto enxergo o tempo

FLAGRANTE

Não peço desculpas pelo atraso
Nem pelo caldo, folia de Reis
na serra do Espinhaço, turismo
de sal na areia depois das seis

TRAPÉZIO

Tempo não ocupa espaço
Desanda quando acontece

Rastro de sombra, penhasco
Com os minutos em queda

PÁSSARO

É breve o pássaro
que ofusca a treva

Obscura flor
da ante-manhã

AVESSO

Agora que a face do sol sem
brilho acorda a face oculta
de deus virado pelo avesso

TRÉGUA

Quem fala em amor numa noite dessas
quando o tempo morre no horizonte

Quem fala em amor que te apedreje
porque a pedra afagou antes da mágoa

MARTE

Levantou
porque não havia mais espaço
Suspirou
porque a manhã não abre

VERANICO

maio se despede com o tempo em brasa
último aceno do verão, tardia praia

prenúncio do frio temido pela alma
(exílio juvenil de sombrias memórias)

É TEMPO DE PERDÃO

É tempo de perdão pelo tempo perdido

É a perda de tempo que nos mantém cativos

Não o tempo sem valor ou a chance fria

Mas o tempo do coração em queda livre
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Mais poesias do autor, cronicas, contos, artigos, resenha de seus livros, etc. Podem ser encontrados no site do autor, abaixo

Fonte:
http://consciencia.org/neiduclos

Nei Duclós (Comboio de Livros)


Livro tem pai e avô, como todo mundo. Nenhum autor importante, desses que deixam marca, escreve a partir do nada. Ninguém que vá morrer consegue inventar, sem base, algo que preste. O truque dos gênios é participar de uma linhagem, sem precisar dar sempre o crédito (isso fica a cargo dos estudiosos, os apaixonados dispersos no tempo). Artistas africanos anônimos e ancestrais foram apropriados por Pablo Picasso. MacBeth e Hamlet já tinham sido escritos, mas Shakespeare fez muito melhor. Os Irmãos Grimm, todos sabem: colheram as histórias do povo e colocaram em papel impresso. Cervantes usou os romances da cavalaria para talhar seu antídoto.

Picasso falava em roubar, mas era seu jeito debochado de abordar coisas sérias. Não acredito nessa definição. Existe o plágio, o clone, mas isso é outra coisa. Está cheio de ladrão por aí, mas os mestres são de outra estirpe. Trabalhar uma história e elaborá-la de tal forma que cruze os séculos é entender que literatura, como toda arte, é matriz, tem antepassados e gera seres vivos. Chamam de livros, mas podem ser páginas virtuais em telas luminosas, espalhadas em inúmeras fontes. Por um tempo foram manuscritos perdidos, obra de copistas, papiros, tábuas, argila. Não importa a forma, mas a elaboração que identifique a obra.

O papel impresso, por existir há muito tempo, parece ter se transformado na natureza do livro, mas esse é um erro de percepção. É imbatível como objeto a ser levado para a varanda, o quarto, o banco da praça, do ônibus. Mas acredito que hoje existe um exagero de livros não reconhecidos como tal espalhados pela rede, assim como temos livros perdidos, mofados, jamais reeditados e que fazem parte de um acervo de maravilhas ocultas, como os tesouros das lendas, essas que eram transmitidas pela voz por gerações e só depois pousaram, modificadas, em volumes que ocuparam estantes.

A essência do livro, da literatura, é habitar o espírito. Vejam bem que não usei missão, função, “papel” no sentido de incorporar um personagem. Porque é dentro de nós que uma história, uma teoria, uma lenda, uma parábola, um texto, um poema, uma obra habita. Não vamos procurar lá na sala encerada, na biblioteca opressiva, nas prateleiras convulsas, nos armários fechados a glória de existir da literatura. Também não vamos procurar apenas nas conversas eruditas, embora estas possam nos levar pela mão até onde nem imaginávamos com nossa precária leitura. Não se trata de fazer pouco do acúmulo ou das análises, pois tudo tem lugar nos livros.

O fato é que os antigos tinham mais sabedoria, pois não era preciso o livro para que a literatura habitasse as gentes. Bastava um narrador em praça pública, um poeta popular, um arauto, um aventureiro e suas memórias ditas em cima de um caixote, uma gávea. Não havia intermediários, a não ser o autor da saga, que assim se transmitia diretamente para o coração do povo. O livro no fim aprisionou o talento a sete chaves e ficou cada vez mais custoso abri-lo para ler, à medida que as atrações da vida se multiplicaram e se tornaram mais acessíveis.

Quantos livros deixei pela metade? Quantos dormiram na minha estante, às vezes por vinte anos, para enfim eu poder ser capturado por eles? Ler tudo é impossível, devemos ler só o necessário e cada um sabe sua cota. Ao mesmo tempo me pergunto: e se eu não os tivesse à mão, o que seria de mim? Brutalizado pelo exílio, eu amargaria a pena de viver tentando imaginar o impossível. Seria uma bruma de possibilidades e talvez eu quisesse, a certa altura, escrever algo para poder ter o que ler. Esse é o segredo dos diários: todos os dias colocamos a vida nele para um dia podermos ler o que passou por nós como um comboio. É nossa obra favorita.

Chegará esse tempo em que verei a paisagem do que escrevi. Mas isso vai se desenrolar lá fora do trem. Dentro, sobre uma poltrona amigável, eu continuarei a abrir os grandes autores, os que jamais devem se distanciar de nós. Porque se algo fica na terra, é a literatura, semente de obras ao infinito.

Fonte:
http://consciencia.org/neiduclos/
Fotomontagem = José Feldman

Nei Duclós (1948)



Nei Carvalho Duclós (Uruguaiana, 29 de outubro de 1948) é jornalista, poeta e escritor brasileiro.
Aos 17 anos se mudou para Porto Alegre e se matriculou no curso de engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual abandonaria logo depois em favor da faculdade de Jornalismo. Envolveu-se no movimento estudantil brasileiro após o golpe militar de 1964. Trabalhou no jornal gaúcho Folha da Manhã e publicou seu primeiro livro, Outubro, em 1975.

Mudou-se para São Paulo, onde desenvolveu longa carreira como jornalista, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil.

Publicou Outubro e No Meio da Rua, ambos pela editora LP&M, em 1980, e No Mar, Veremos, pela editora Globo, em 2001, todos de poesia. Em 2004 publicou seu primeiro romance, Universo Baldio, pela W11 Editores.

É bacharel em História pela Universidade de São Paulo

Atualmente reside em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, onde trabalha na revista Empreendedor e publica coluna no Diário Catarinense.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://consciencia.org/neiduclos/

Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (A Natureza em Versos)


Clique sobre a figura para acessar o índice dos sonetos sobre a natureza, da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (AVSPE).
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A poesia é a esperança que arquivamos em nós, para poder recuperar no Homem, o que de mais verdadeiro ele possui: os sentimentos.Mesmo diante deste mundo moderno, em meio a tanta impaciência, que por vezes se apossa de todos, este Evento 1000 Sonetos, surge para mostrar que o ser humano consegue ainda deter-se e refletir, dando sentido ao significado da vida dentro da poesia.

Este poder de transformação, inerente ao dom de criar, conscientiza o Poeta de sua arte maior. Não nego que foram 45 dias de muito trabalho, pois nossa AVSPE é um Site feito artesanalmente, página por página, usando métodos ainda antigos, requerendo muito esforço e concentração. Quem conhece, sabe bem o que estou tentando explicar.

Contudo, reconhecendo a força da palavra poética, coloca-se acima de qualquer valor menor, porque mais que do que ninguém, sente-se a grandiosidade e a importância. A emoção, de poder estar aqui com todos vocês, é o traço essencial e inegável destes Eventos editados, conduzindo o Poeta à percepção do mundo que o cerca.

Um mundo que nada mais é senão a exterioridade, mas que, mesmo à distancia tenta interagir com o seu Eu Poético!Minha gratidão para com todos que de uma forma e outra colaboraram para o sucesso pois unidos somos um exercito!

Minha gratidão a todos pela participação nestes eventos de nossa Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores

Efigênia Coutinho
Presidente Funddora
www.avspe.eti.br/

Academia Sorocabana de Letras (Convocação para Reunião de Outubro)

Nossa reunião de outubro será realizada neste sábado, dia 31, às 10 horas, na Praça Carlos Drummond de Andrade, coincidindo com a solenidade em que a Prefeitura de Sorocaba ali inaugura o marco que assim a denomina.

A presença da Academia traduz o agradecimento da entidade à iniciativa de nosso Sócio Honorário, Vereador Paulo Francisco Mendes que, por solicitação desta entidade, apresentou à Câmara o Projeto de Lei 195/2009, e ao Prefeito Vitor Lippi promulgou a Lei nº 8.808, de 13 de julho do corrente ano, dando àquele logradouro o nome de um dos maiores poetas da Língua Portuguesa.

Será uma honra contar com sua presença e, com antecipados agradecimentos, valho-me do ensejo para apresentar-lhe cordiais

Saudações Acadêmicas!

LEI Nº 8.808, DE 13 DE JULHO DE 2009.

Dispõe sobre denominação de “CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE“ a uma praça pública de nossa cidade e dá outras providências.

Projeto de Lei nº 195/2009 – autoria do Vereador PAULO FRANCISCO MENDES.

A Câmara Municipal de Sorocaba decreta e eu promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º Fica denominada “Carlos Drummond de Andrade“ a praça localizada na rotatória existente na Avenida São Paulo, na altura do cruzamento dessa via pública com o córrego do Jardim Piratininga, nesta cidade.

Art. 2º A placa indicativa conterá, além do nome, a expressão: “Emérito Poeta Brasileiro 1902-1987“.

Art. 3º As despesas com a execução da presente Lei correrão por conta das verbas próprias consignadas no orçamento.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Tropeiros, em 13 de julho de 2009, 354º da Fundação de Sorocaba.

VITOR LIPPI
Prefeito Municipal

LAURO CESAR DE MADUREIRA MESTRE
Secretário de Negócios Jurídicos

MAURÍCIO BIAZOTTO CORTE
Secretário do Governo e Planejamento

RICARDO BARBARÁ DA COSTA LIMA
Secretário da Habitação e Urbanismo

Publicada na Divisão de Controle de Documentos e Atos Oficiais, na data supra.

SOLANGE APARECIDA GEREVINI LLAMAS
Chefe da Divisão de Controle de Documentos e Atos Oficiais
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Fonte:
Colaboração de Douglas Lara

domingo, 25 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 9 (Mula sem-cabeça)

Folclore Brasileiro (Mula-sem-cabeça)



A Mula-sem-cabeça é uma antiga lenda dos povos da Península Ibérica, que foi trazida para a América pelos espanhóis e portugueses. Esta história também faz parte do folclore mexicano (conhecida como "Malora") e argentino (com o nome de Mula Anima). Pressupõem-se que este mito tenha nascido no século doze, época em que as mulas serviam de transporte para os padres.

No Brasil, a lenda disseminou-se por toda a região canavieira do Nordeste e em todo o interior do Sudeste. A Mula-sem-cabeça, representa uma espécie de lobisomem feminino, que assombra povoados onde existam casas rodeando uma igreja.

Segundo esta lenda, toda a mulher que mantivesse estreitas ligações amorosas com um padre, em castigo ao seu pecado (aos costumes e princípios da Igreja Católica), tornar-se-ia uma Mula-sem-cabeça. Esta história tem cunho moral religioso, ou seja, é uma repreensão sutil ao envolvimento amoroso com sacerdotes e também com compadres. Os compadres, eram tidos como pessoas da família, e qualquer tipo de relação mantida entre eles, era considerada incestuosa.

A metamorfose ocorreria na noite de quinta para sexta-feira, quando a mulher, em corpo de mula-sem-cabeça, corre veloz e desenfreadamente até o terceiro cantar do galo, quando, encontrando-se exaurida e, algumas vezes ferida, retorna a sua normalidade. Homens ou animais que ficarem em seu trajeto seriam despedaçados pelas violentas patas. Ao visualizar a Mula-sem-cabeça, deve-se deitar de bruços no chão e esconde-se "unhas e dentes" para não ser atacado.

Uma versão é que, se um padre engravidasse uma mulher e a criança fosse do sexo feminino viraria mula-sem cabeça e se fosse menino seria um lobisomem.

Para que ela não se manifeste, o padre deve amaldiçoá-la antes de celebrar cada missa. Segundo Pereira da Costa, isso deve ser feito antes de tocar a hóstia, no momento da consagração. Em alguns lugares, basta causar-lhe um ferimento, tirando-lhe sangue. Ao encontrar uma mula, é preciso esconder as unhas a fim de não atrair a sua ira.

A Mula-sem-cabeça sai pelos campos soltando fogo pelas ventas e relinchando, apesar de não ter cabeça. Ela é descrita como um animal negro, com pelos brancos na cabeça, olhos cor de fogo, pata na forma de lâminas afiadas, com um relincho apavorante (Que seria um misto de relincho com gemido humano) e solta fogo pelas ventas. Seu encanto, segundo a lenda, somente será quebrado se alguém conseguir tirar o freio de ferro que carrega. Em seu lugar, aparecerá uma mulher arrependida.

Diz a lenda que, se escutares na madrugada o cavalgar da mula-sem-cabeça, confirmado pelo som aterrorizante emitido por ela, jamais deve olha-la, nem ao menos espia-la, pois, aquele que a espiar, será surpreendido com a mesma vindo em sua direção.

Também há uma versão mais antiga ainda, que conta que em um certo reino, a rainha tinha a mania de ir certas noites ao cemitério, sem permitir que ninguém a acompanhasse. O rei, então, decidiu seguir sua mulher, secretamente, durante uma dessas saídas, e encontrou-a debruçada sobre uma cova, que abrira com as próprias mãos cheias de anéis, devorando o cadáver de uma criança, enterrada na véspera. O rei, então, soltou um berro horrível, e quando sua mulher viu que fora pega em flagrante, soltou um berro mais terrível ainda, se transformando assim na Mula-Sem-Cabeça.

Dizem também, que se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia-noite, ela aparece.

A mula-sem-cabeça também é conhecida como a burrinha-do-padre, ou simplesmente burrinha.

A Mula-sem-cabeça, possuiria as seguintes características:

1. Apresenta a cor marrom ou preta.
2. Desprovida de cabeça e em seu lugar apenas fogo.
3. Seus cascos ou ferraduras podem ser de aço ou prata.
4. Seu relincho é muito alto que pode ser ouvido por muitos metros, e é comum a ouvir soluçar como um ser humano.
5. Ela costuma aparecer na madrugada de quinta/sexta, principalmente se for noite de Lua Cheia.
6. Segundo relatos, felizmente existem maneiras de acabar com o encantamento que fez a mulher virar Mula-Sem-Cabeça, uma delas consiste em uma pessoa arrancar o cabresto que ela possui, outra forma é furá-la, com algum objeto pontiagudo tirando sangue (como um alfinete virgem). Outra maneira de evitar o encantamento é de que o amante (padre) a amaldiçoe sete vezes antes de celebrar a missa.

Para se descobrir se a mulher é amante do padre, lança-se ao fogo um ovo enrolado em linha com o nome dela e reza-se por três vezes a seguinte oração:

"A mulher do padre
Não ouve missa
Nem atrás dela.
Há quem fique ...
Como isso é verdade,
assa o ovo
e a linha fica..."

SIMBOLISMO

A Mula-sem-cabeça é oriunda do lado sombrio do inconsciente coletivo, seria talvez, o próprio arquetípico das criaturas que povoam as florestas, representando as camadas profundas do inconsciente e do instinto. Assim como o lobo, a mula-sem-cabeça aqui, nos induz ao desencadeamento dos instintos selvagens. Sob a influência do moralismo judaico-cristão, esta tendência se ampliou e levou ao horror da caça às bruxas e da Inquisição. Os relatórios dos "processos" de feitiçaria contêm obras-primas de animalidade mais crassa.

O animal representado nesta lenda, nos faz alusão então, uma valorização negativa, o conjunto de forças profundas que animam o ser humano e, em primeiro lugar, o libido (tomado em sua significação sexual), que desde a Idade Média se identifica principalmente com o cavalo, ou em nosso caso, com a mula.

O animal já aparece não portando a cabeça, tal fenômeno, pode ser entendido em sentido metafórico como ausência de razão e da própria consciência, predomínio, portanto, das paixões, dos impulsos sexuais de imediato atendidos, do domínio do inconsciente pessoal e coletivo.

A Mula-sem-cabeça é uma mulher amaldiçoada, pecaminosa, que teve o atrevimento de desejar o santo padre, representante de Deus e Cristo na terra. Este relato nos faz repensar no quanto os homens da Igreja, daquela época (Idade Média) tinham medo do poder feminino de sedução. Tais medos, os levaram a atitudes de desespero, que os fizeram a abster-se de qualquer contato com o sexo oposto, além de fantasiarem e criarem assombrações para incutir maior receio.

O que fica de lição desta lenda é que todos nós devemos nos integrar com nossos instintos. "O animal, que no homem é sua psique instintual, pode tornar-se perigoso quando não é conhecido e integrado à vida do indivíduo. A aceitação da alma animal é a condição para a unificação do indivíduo e para a plenitude de seu desabrochar."

Cada animal, simbolicamente faz eco à natureza profunda do ser humano.

Fontes:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/
http://pt.wikipedia.org/

Clério José Borges (A Trova Folclórica Capixaba)



Um dos mais importantes pesquisadores do Folclore do Estado do Espírito Santo foi o Professor Guilherme Santos Neves. Nascido a 14 de Setembro de 1906 e já falecido, o Professor Guilherme nasceu no Espírito Santo e foi membro da Academia Espirito-Santense de Letras. Publicou os livros “Cantigas de Roda”, em 1948 e “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares”, em 1949, entre outros livros.

GUILHERME SANTOS NEVES nasceu no dia 14 de setembro de 1906, na cidade de Baixo Guandu, ES. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu as funções de Juiz do Trabalho e Professor da Universidade Federal do Espírito Santo. Dedicou-se, de corpo e alma, ao estudo do Folclore, havendo publicado mais de cem livros e folhetos, entre os quais Cancioneiro capixaba de trovas populares (1949), Alto está e alto mora (1954), História popular do convento da Penha (1958), Folclore brasileiro: Espírito Santo (1959), Romanceiro capixaba (1980), Cantigas de Roda I e II (s/d), além de artigos e ensaios publicados em jornais e revistas especializadas. Foi membro do Conselho Nacional de Folclore. Faleceu em Vitória, ES, no dia 21 de novembro de 1989.

Antes de falecer, já bastante idoso, o professor Guilherme Santos Neves, no período de 1980 a 1989, participou de algumas promoções do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, chegando a prefaciar o livro “O Trovismo Capixaba”, de Clério José Borges, publicado em 1990.

Na Revista “Folclore”, órgão da Comissão Espirito-Santense de Folclore, número 92, publicada em agosto de 1979, o Professor Guilherme conta a história de Dalmácia Ferreira Nunes, uma mulher nascida em Caçaroca, pequena vila do interior de Cariacica, Espírito Santo que fôra trabalhar como empregada doméstica em sua casa.

Conta ele que Dalmacinha ou Macinha foi trabalhar em sua casa em março de 1946, ou seja três anos antes do professor Guilherme publicar o seu livro “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares.”

Dalmácia Ferreira Nunes era dotada de excelente memória. Humilde e de pouca instrução, tinha o privilégio, isto é, a qualidade de gravar com facilidade as cantigas e os versos que ouvia. Ouvira as cantigas e as Trovas de sua mãe e de suas tias, quando de noite se reuniam para conversar. Como naquele tempo as pessoas do interior não possuíam rádio e a televisão ainda não existia, pois só chegou no Brasil em 1950, o maior divertimento eram as reuniões que se faziam com as famílias durante a noite, no quintal das casas do interior do Brasil.

Assim as histórias, as cantigas e as Trovas eram contadas e cantadas pelos mais velhos e Dalmacinha, em Caçaroca, ainda criança, ia gravando-as na memória.

Literatura Oral era a forma praticada pelos antigos que contavam histórias e recitavam Trovas para os mais novos, numa época em que os livros eram raros, ou seja, quase não existiam. Assim Dalmacinha e muitas outras mulheres idosas e os conhecidos “pretos velhos” deste país, portadores de excelente memória, são os que dão excepcional contribuição para os pesquisadores, formando a Literatura Oral Brasileira.

Dalmácia faleceu a 13 de Agosto de 1968, sendo enterrada, junto aos seus parentes, no cemitério de Barra do Jucu, então um povoado, hoje bairro importante e turístico de Vila Velha, Município da Grande Vitória.

Na Revista já citada “Folclore”, de 1979, o artigo do professor Guilherme Santos Neves ocupa oito páginas. Ali estão 76 Trovas. Três estórias. Vinte e nove superstições e crendices, onde constam mais três Trovas e cinco Advinhas. O título é “Folclore de Caçaroca” e traz uma foto de uma senhora com um lenço na cabeça e a legenda: “Informante Dalmácia Ferreira Nunes.”

A primeira Trova refere-se ao fato de que, segundo o Professor Guilherme, Dalmácia: “Para comentar um fato, registrar um instante, para fixar um sentimento, dizia sempre uma Trova. Alguém falava em viajar, e logo, lá vinha a Trova adequada:

Adeus, minha sempre-viva,
até quando nos veremos.
As pedras do mar se encontram,
assim nós também seremos...”

Eis algumas Trovas Populares, resgatada do passado graças a oportuna pesquisa do Professor Guilherme Santos Neves e a memória de Dalmacinha e que constam do artigo publicado na Revista “Folclore”:

De correr venho cansada,
de cansada me assentei,
achei o que procurava,
agora descansarei...

Abacate é fruta boa
enquanto não apodrece.
O amor é muito bom
enquanto não aborrece...

Atirei um limão doce
na menina da janela.
Ela me chamou de doido,
doidinho estava eu por ela.

Eu não quero Santo alheio
dentro do meu oratório.
Eu só quero meu santinho
prá fazer meu peditório...

Eu perguntei à Fortuna
de que é que eu viveria.
Ela foi me respondeu
que o tempo me ensinaria.

Eu plantei um pé de cravo
na janela do meu bem.
Todo mundo passa e cheira,
eu não sei que cheiro tem...

Menino se tu soubesses
o bem com que eu te adoro,
fazia dos braços remo,
remavas prá onde eu moro...

Já fui amada e querida
até das flores do campo.
Hoje me vejo desprezada
de quem eu queria tanto.

Quando eu entrei nesta casa,
logo vi cheia de rosa,
meu coração logo disse
que aqui tem moça formosa...

Uma velha muito velha,
de tão velha se curvou.
Ouviu falar em casamento
a velha se endireitou...

Tanto verso que eu sabia,
veio o vento, carregou.
Só ficou-me na memória
o que meu bem me ensinou...

Vamos dar a despedida
como deu cachorro magro,
que encheu sua barriga
e foi sacudindo o rabo.

Fontes:
– Clério José Borges. Origem Capixaba da Trova. Serra, ES: 2007.
http://www.clerioborges.com.br/

Pedro Du Bois (Nada)


Nada somos
sem as tragédias
diárias: ínfimas
apequenadas
quase nada diante do despropósito.

Diariamente nos destruímos
em sobrevivências
e afagamos animais
estimados. Choramos
nossas crianças. Cultivamos
crenças destinadas
ao ocaso.
--------
Fontes:
Colaboração do autor.
Imagem - http://semprenalua.blogspot.com

Primeira Edição do Prêmio Talentos de Poesia (Resultado Final)

A primeira edição do Prêmio TALENTOS de Poesia foi realizada entre o final de abril e o início de agosto de 2009. Reuniu 664 poetas de todo o País, que postaram 1.252 poesias ao longo de todo o período.

Uma coincidência entre os três vencedores: nenhum deles havia participado de um concurso de poesias antes.

TALENTOS contabilizou grandes números ao longo da disputa. O site chegou a manter média superior a 50 mil acessos únicos por mês e teve picos de quase 70 mil acessos em 30 dias corridos. A média de páginas visitadas a cada acesso (13,48) e o tempo médio dedicado por cada visitante no site (6,41 minutos), ficaram muito acima das médias registradas na internet. Ao longo dos quatro meses de concurso, o site recebeu visitantes de 74 países e a inscrição de brasileiros que moram em Portugal e na Suíça. A interatividade proporcionada pela introdução do Júri Popular e dos comentários nas poesias garantiu a alta freqüência. Durante o período de realização, foram postados, nas poesias publicadas, exatos 9.051 comentários.

OS VENCEDORES
------------------
1.
As Últimas Horas do Galo José, primeira colocada em TALENTOS, é obra de um jovem sul-mato-grossense de 22 anos: Ivan Marinho de Souza, que usou o nickname Eriol. Escritor, redator e roteirista profissional, Ivan escreveu sua primeira poesia aos dez anos, por uma causa nobre: queria dar um presente aos pais e, como não tinha dinheiro, sentou e escreveu seus primeiros versos. Ivan se inspirou num fato do seu cotidiano para compor As Últimas Horas do Galo José. “Minha vizinha tinha um galo que costumava cantar sempre à 1 hora da madrugada, um horário meio incomum”, contou ele, em entrevista por e-mail para TALENTOS. “Certo dia, ele não cantou mais, e então resolvi eternizá-lo em uma poesia que mostra que devemos valorizar cada hora da nossa vida como se fosse a última”. Ivan mora em Campo Grande e, se fosse um dos jurados, escolheria como vencedora Ipê Verde, de autoria de Estrela, codinome da jornalista Albina Morais Cordella, de Santos (SP).

As Últimas Horas do Galo José

Às cinco horas da matina
O Galo José afinou o gogó
Para entoar um sol sustenido

Às onze horas do almoço
Alongou as afiadas esporas
Para disputar a pipoca de cada dia

Às quatro horas da tarde
Desfilou pelo terreno da Carijó
Para mostrar quem era o "bom de bico"

Às sete horas do jantar
Tomou um rápido banho de lua
Para ir ciscar nos braços de Morfeu

À meia-noite dos lobisomens
Buscou um galho mais seguro
Para não virar despacho de encruzilhada

Às cinco horas da matina
O Galo José não afinou o gogó
Mas as últimas horas valeram à pena

2.
Remorsos, segunda colocada em TALENTOS, foi escrita por Odir Milanez da Cunha (foto), um paraibano de 53 anos que participou pela primeira vez de um concurso de poesias usando o nickname de OKLIMA. Auditor fiscal aposentado, Odir descobriu-se um poeta tardiamente, aos 36 anos, quando compôs Minha Rua, inspirada por uma bela mulher que morava nas vizinhanças. Remorsos foi escrita, segundo contou Odir em entrevista por e-mail a TALENTOS, “em um instante de reflexão sobre o que fiz da minha vida até agora, o que eu sonhava ser quando criança e os meus sonhos atuais sobre o que poderia ter sido e não fui”. Neste sentido, Remorsos, está inserida dentro da própria definição que ele dá a poesia: “É um sussurro da alma que a mente fértil do poeta percebe, congrega letras, concebe palavras e as transmuda em sentimentos por ele inspirados”. Odir mora em João Pessoa, e foi lá que articulou a edição de seu primeiro livro, lançado em julho de 2009, A Odisséia de Xexéu, Xana e Xibina – Uma Saga do Cotidiano, em parceria com o sul-matogrossense Rubenio Macedo e com o paraibano Fernando Cunha Lima. Ele aponta um de seus concorrentes no turno final, DVILLON – codinome do redator publicitário Daniel Retamoso Palma, de Santa Maria (RS) – como o autor da poesia que mais lhe agradou no concurso: Colheita no Silêncio.

REMORSOS

Que fiz da vida que nasceu comigo?
Por que o remorso pesa em meu passado?
Por que não me arrisquei ante o perigo,
para criar o que não foi criado?

Poderia ter sido mais amigo,
amar demais e ser bem mais amado,
poderia ter dito o que não digo
ou, em vez de dizer, ficar calado...

Dos dias me esqueci do entardecer.
Agora só me resta conhecer
que o futuro presente me reclui.

Se nas horas dos dias de crescer
eu sonhava com o que queria ser,
hoje sonho em ter sido o que não fui.

3.
Vampiro, terceira colocada em TALENTOS, é de autoria do psicanalista paulista Paschoal Di Ciero Filho (foto), de 66 anos, que assinou com o pseudônimo SATURNO. Nascido em Itu, no interior de São Paulo, Ciero mora na Capital desde os 18 anos. Em São Paulo escreveu, aos 20 anos, sua primeira poesia. “Foi no dia do meu aniversário. Pela primeira vez eu estava sozinho para comemorar a data, o que me deixou muito triste”, contou ele em entrevista por e -mail para TALENTOS. Segundo ele, “a poesia foi o modo que encontrei para expressar essa tristeza, mesmo sabendo que corria o risco de não ter um leitor”. Em 2003, Ciero, publicou o livro Primavera Fenecida. Vampiro, a poesia que deu a ele a terceira colocação do concurso, foi inspirada pela ideia de “descontruir um fato, uma coisa e reconstruir à sua maneira pessoal”. Ciero, que também escreve contos, teve uma de suas obras agraciadas com menção honrosa em concurso literário da Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro.

VAMPIRO

Escuras ondas
Labaredas.

Serpentes silvam,
Silenciosas.

Lascas, estacas,
Exangues faces.

Bater de asas
Que se afastam.
===========================
Outras poesias do Concurso mencionadas acima

Albina Moraes Cordella
IPÊ VERDE

Ipê amarelo, roxo, rosa, branco!
Esse era um especial Ipê.
Cobria-se de flores verdes,
onde já se viu???
Na porta da minha casa!

Um dia...
O vento, naqueles dias de mau humor,
num sopro zangado, derrubou a arvorezinha.
E ela ficou deitada, ali na calçada, quietinha!
Esperando, com olhinhos de anjinho de igreja,
que alguém fizesse alguma coisa.

As raízes expostas sangraram todo o verde
usado para tingir as flores.

Veio a chuva, veio o Sol, veio a noite.
Vieram os pássaros, aflitos.
Vieram os insetos, velozes.
Vieram as crianças, ingênuas, curiosas.
E os homens não vieram, insanos, cruéis.

Esperou por dias a fio. Agonizante...
Em vão!

Sua alma verde foi para o céu.
Enfeitar a entrada do paraíso.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer na Terra.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer pela Terra.
==============================

Daniel Retamoso Palma
COLHEITA NO SILÊNCIO

colher
verbenas dos campos
do silêncio
colher
verbenas dos campos
minados pelo silêncio
ofertar seu pólen
aos fantasmas do vento
que erguem poemas
do que não tem verbo
colher
verbenas dos campos
de concentração do silêncio
e ofertá-las ao tempo
que cala no verbo
a flor do poema
colher
verbenas
dos campos de batalha
entre flores de silêncio
e sangue
e aos desertores do ab-surdo
ofertá-las
em vez das medalhas
colher
verbenas
dos campos-santos
consagrados ao silêncio
exumar a voz dos corpos
que é nosso também o grito
estrangulado em nossos mortos
colher
verbenas
dos campos de fantasmas
exilados no silêncio
e ofertá-las ao balé
do vento sem pátria
colher
verbenas
dos campos do silêncio
e ofertá-las, sem esperança
ofertá-las, apenas

Fontes:
Colaboração de Douglas Lara.
http://www.talentos.wiki.br/PremioTalentos/

Oscar Bertholdo e sua Poesia



Oscar Bertholdo é poeta de húmus fértil, denso. Sua poesia é constituída por flamejante associação lexical, de rara beleza. As metáforas saltam em seus textos com grande força expressiva, com genial inventividade. Nesse aspecto, ressoa nessa poesia um certo toque de surrealismo, bem ao estilo de um Jorge de Lima. Aliás, são muitos os parentescos, apesar das singularidades de cada um, entre Bertholdo e o grande autor de A túnica inconsútil. Ambos têm um senso do sagrado apuradíssimo: a poesia lhes serve como uma força mística capaz de transfigurar o real comezinho, abrindo-nos a constante e sempre renovável possibilidade do mistério, fincado, cravado, no chão banal do cotidiano. Também como Jorge de Lima, Bertholdo incendeia a palavra com uma espécie de sonambulismo eletrizante, de iluminado delírio. É o que podemos verificar nesse notável poema, o canto 7 de Ave, Árvore:

As folhas caídas ao chão pouco a pouco
as mais antigas cantigas desnudam,
as nuvens espantam os barcos de caronte
e tão penosamente chegarás a outra margem
sem as anônimas palavras de tua casa

As árvores aqui persistem acostumadas
ao êxodo cheio de obstácula morte sem fôlego,
serpente de pólen das distâncias, orla
das nossas faces, abóbada quase pingente
As árvores existem aqui tão evanescentes...

Por isso escreves: antes do teu rosto
exposto está o chão de pedra das palavras,
desabrigado é o código que tu lembras
ainda aquém dos portões mecânicos.
Foi feito de mudanças o teu rosto.

Apenas a palavra é o lugarejo lembrado
de perguntas e o ar à beira dos acenos
sem susto sobrevive contigo,
tu que trazes o ciclo inquisidor
e o fragmentado anjo da trombeta.

Os campos, com suas vinhas, seu gado manso, seus vales repletos de sereno e frias madrugadas, são talhados, plasticamente, como em aquarela, na obra desse poeta que, ao lado de Mário Quintana, Carlos Nejar e Heitor Saldanha, constitui-se uma das grandes vozes da poesia gaúcha (e brasileira, antes de tudo) da modernidade. Nesse sentido, a geografia campesina incendeia e irriga essa palavra, revelando-nos poemas de acentuado esplendor cósmico. A natureza, com sua profusão de cores e cheiros, desponta, nessa lírica, com o seu encanto edênico, inaugural, primevo:

SOUVENIR

A aldeia alonga a alameda
sem cansaço e simetria.
Em verdade, que saudades eu tenho
da minha aldeia querida à sombra
das ave-marias. Tenho flores
para as abelhas, tenho gotas de sereno
e umas borboletas azuis, eu te juro.
Eram tão ingênuas as campinas
e as folhas secas do outono
cirandando noite e dia
os cantares que não voltam mais.
Oh! aldeia de minha infância,
Oh! céu que cai de bruços –
não tenho rimas plangentes
encobrindo os braços nus.
Quero pedir aos bois tão mansos
em que tapetes de musgo
os sonhos vão e não vêm?
Mas depois quando souber provar
o sabor de outros frutos
além de minha aldeia querida,
o cansaço não passa, em verdade
o cansaço não passa.

A alameda, as flores, as abelhas, o musgo, são expressões do real, mas de um real sempre recortado, transfigurado em poesia. Às vezes, em alguns poemas, a natureza é desfeita em caos. Não podemos nos esquecer que, em Bertholdo, o existente é modulado pela “rainha das faculdades”, ou seja, por aquela importante fantasia baudelairiana, força capaz de inventar uma terceira dimensão, a pátria do devaneio poético, raiz arquetípica de uma infância que não se finda nunca, pois o poeta acorda sempre o lume vivo da palavra, como a criança que faz do mundo um jogo:

Paciente salgueiro, tua umidade é um poço.
Ao íntimo do teu oco desces para ver
o desconsolo havido depois da infância.
E, rente às fontes, ninguém mais te espera
e lembras a fundura de todas as coisas.

A duração de tanta mágoa inesperada
move-se em ti, em teu sangue todo,
tão nodoso és ao redor do corpo
que anjo nenhum é espantalho da seiva
arável em cada árvore em pleno outono.

Entretanto o exílio existe ao mesmo tempo
em que a palavra faz-se forma
da hora. Desde ontem o silêncio principiou
colhendo a lume e amalgamando
em confidências as tuas lúdicas perguntas.

Junto aos rios das cicatrizes
vêm beber os leões da minha alma.
Quando eu morrer estarei perdoado
de demora. Um poço é tão pouco
mas tua água em mim é sempre gênese.

A força trituradora de toda essa metaforização desvela a importante e singular forma como Bertholdo se expressa . O poeta segue os ritmos instintivos da palavra, fecundando-a através do ritmo dos signos. Ao elaborar o poema, o autor deixa-se, na verdade, escrever pela poesia. As forças genesíacas da palavra explodem na alma do escritor que, como um arauto, um vidente, segue o fluxo rítmico dos vocábulos, deflorando a linguagem numa espécie de cópula, pela qual a subjetividade de poeta é transposta pela concretude da expressão verbal. Nessa entrega irrestrita à poesia, o autor, inclusive, não teme criar metáforas de mau gosto, como, no exemplo acima, “os leões da alma”. A palavra de Bertholdo, portanto, é sonambúlica e intuitiva, reacendendo as forças míticas da escritura poética. Nesse aspecto, é bom lembrar o crítico Antonio Hohlfeldt: “Com uma forte criação metafórica, Bertholdo utiliza as sugestões mais imediatas do mundo que o rodeia – isto é, a paisagem de montanhas e vales – e sobre este tema tece as suas considerações, elevando-as à categoria simbólica da vida e das vicissitudes humanas”. A paisagem, portanto, é desfigurada pela força lírica. Eis um belo exemplo:

As raízes de mim estão tão próximas
que eu passei toda uma vida para esperar
o gosto das maçãs de minha terra.
Rápido o sol conduz ao outono
a placidez de um animal dormindo.

As macieiras te pressentem como este sonho
conclui a noite igual ao rosto,
assim a liberdade aguarda o vestígio
de quem não tem outra hora
senão o início da sombra à beira do caminho.

Os cinamomos ao redor da casa ainda
angulam nossos rostos ao hálito
de parar as serventias de tácitos
desejos. Vemos deixar em paz
os pesadelos anteriores aos objetos caseiros.

Faltam muitos pássaros que podem
voltar contigo. Em cada êxodo arde
uma resina vestal. Verdadeiramente são
vastos os numes procelosos que apascentam
o dia de nossa morte, descanso infindo.

A natureza, portanto, seve como mediadora simbólica entre o poeta e as suas indagações existenciais. Poeta da verve mística, de profundo questionamento perante a condição humana, a palavra de Bertholdo reluz, ainda que esquecida, em nossa literatura, como um achado repleto de grandes belezas. Para encerrar esse breve comentário, deixo ao leitor esse belo poema, jóia preciosa a reluzir todo o fulgor da escrita de Bertholdo:

TEMPO DE VINDIMA

Perdoa-me continuar impossuído como antes,
trago para os vãos da aldeia a nitidez dos frutos.

Estávamos tão próximos que outono tatuou
o fiel silêncio bordando as vinhas do orvalho.

Havia solicitude para a seiva desfeita
sem disfarces na íntima alucinação da colheita.

A vindima trouxe do outono as horas retidas
na quase imperfeita esperança decisiva.

Para enfrentar as lembranças que a vida deixou
a solidão lenta das coisas incompreendidas.

Agora posso inventar em aceno o doce hálito
enquanto as calmas uvas batem palmas pelos vales.


Fontes:
Oscar Bertholdo. Ave, Árvore. Caxias do Sul: Educs, 1981.
Oscar Bertholdo. Molho de chaves. Caxias do Sul: Educs, 2001.
Antonio Hohlfeldt. Antologia da literatura rio-grandense contemporânea. Porto Alegre: L&PM, 1979. Volume 2.

Oscar Bertholdo (1935 – 1991)



Uma poesia voltada para a colonização italiana, para as dificuldades encontradas por quem vive da terra e para a produção do vinho, além da utilização do vinho como metáfora. Assim é a obra de Oscar Bertholdo, padre, cronista e poeta.

Oscar Bertholdo nasceu no ano de 1935, em Nova Milano, e foi assassinado durante um assalto a sua residência, em fevereiro de 1991.

Vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro (IEL) de 1973 por Poemimprovisos e do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás, em 1974, por Lugar, Bertholdo obteve ainda dois segundos lugares em importantes concursos literários: no “II Concurso Nacional de Poesia Sobre o Vinho” e “Prêmio Master de Literatura/1986”.

Considerado a voz mais expressiva da poesia da Serra Gaúcha e um dos maiores poetas contemporâneos do Rio Grande do Sul, Bertholdo surgiu no cenário literário em 1967, participando da antologia Matrícula. Foi o primeiro livro de poesias editado no interior a ganhar espaço nas páginas dos jornais da Capital. O poeta foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha. A Prefeitura de Farroupilha promove, inclusive, um concurso literário com seu nome, de contos e poesias.

Depois publicou: “As Cordas” (168), “O Guardião das Vinhas” (1970), “A Colheita Comum” (1971), “Poemimprovisos” (vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro/1973), “Lugar” (vencedor do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás/1974), “Vinte e Quatro Poemas” (1977), “Árvore & Tempo de Assoalho” (1980), “Informes de Ofício e Outras Novidades” (1982), “Canto de Amor a Farroupilha” (1985), “C’Antigas” (1986) e “Momentos de Intimidade”. Participou de inúmeras antologias, entre elas: “Histórias de Vinho”, “Vinho dá Poesia”, “Arte & Poesia” e “Poetas Contemporâneos Brasileiros – Volume 1”, esta a primeira antologia publicada pelo Congresso Brasileiro de Poesia.

Após sua morte foram publicados: “Amadas Raízes”, “Poemas Avulsos”, “Boca Chiusa” e “Molho de Chaves”, além de poemas nas seguintes antologias: “Poeta Mostra a Tua Cara – Volume 4”, “Medida Provisória 161”, “Poesía de Brasil – Volumen 1”, “Poesía Brasileña para el Nuevo Milenio”, “Poésie Du Brésil – volume 1” e “Poesia do Brasil – volume 1”, livro que inaugurou a série de antologias oficiais do Congresso Brasileiro de Poesia.

Foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha, exercendo forte influência em todos os movimentos literários surgidos entre os anos 1960 e 1990. Teve decisiva participação na criação do Congresso Brasileiro de Poesia, do qual foi uma das grandes atrações em sua primeira edição, vindo a ser assassinado poucos meses antes da realização do segundo evento.

Fontes:
Ademir A. Bacca. In http://poetasdobrasil.blogspot.com/
Antonio Hohlfeldt. Antologia da literatura rio-grandense contemporânea. Porto Alegre: L&PM, 1979. Volume 2.

Goulart Gomes (Minimal)


VÔO

Ícaro arde
em meio às chmas
só a Phoenix renasce

POETRIX PARA AQUELES QUE LEVANTAM ÀS 11 DA MANHÃ (OU MAIS)

o sol arde;
antes tarde
que nunca

CULTO AO CORPO

teúdos e manteúdos:
quem só busca a forma
não tem conteúdo

BAILARINA

na ponta dos pés
rodopiam
o mundo e nós, juntos

DITADO IMPOPULAR 21

quem ama o feio
de bonito
não carece

QUATRO ELEMENTOS

tu, no ar; eu, na água
ambos, na terra
em brasa

ANTES QUE O SOL NASÇA

imagine um dia assim
luzes rasgando a aurora
a manhã, embriagada, perdendo a hora

IRONMAN

nova tecnologia:
por falta de peças
morreu de anemia.

AUTOFILIA

toda poesia é minha
minha mania de louco
tudo é muito, muito pouco

BULA

contra a indicação
você é meu remédio
lástima...injeção

CLÃ

somos iguais
menos normais
a cada manhã

CAPÍTULO

onde termina onde
começa onde começa
parágrafo: é a pressa

===================

Sobre poetrix, neste blog:

O Que é Poetrix?
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/01/o-que-poetrix.html
Poetrix: uma linguagem para o novo milênio

José Feldman (Viagem ao Mundo Fantástico da Babilônia)


Onde? Filme? No Brasil? Onde fica? O que tem de fantástico?

Mas, que você, caro leitor, ficou curioso, com certeza ficou e, apesar de livros como o Guia dos Curiosos ou o Mundo Curioso da Natureza, sempre vem à mente aquilo que nossos pais, os pais deles, os pais dos pais, e assim por diante, diziam: “Meu filho! A curiosidade matou o gato!”.

Fique tranquilo! Após esta leitura, ninguém morrerá, nem de raiva – pelo menos, eu acho.

Nossa história de passa em uma cidade do interior de São Paulo.

Não! Ela não se chama Babilônia! O nome dela é Piracicaba.

Todo mundo lembra da música “O Rio Piracicaba...” e assim por diante. Se não lembra, não fique chateado, eu também não lembro.

Mas, vamos diminuir a nossa esfera localizacional (“êta” palavra chique, que deixa qualquer um mais perdido do que cego em tiroteio), e vamos para a Rua Boa Morte.
Gente! Os piracicabanos que me perdoem, mas um nome deste é assustador. Eu é que não vou passar nesta rua, sozinho, à meia-noite. Dá o que pensar um nome assim.

Quando você entra na rua deveria haver uma Agencia de Plano Assistencial Boa Morte, com direito a escolha de terreno e advogado para efetuar o testamento. Percorrendo a rua, no meio dela, uma casa funerária e ao final, um cemitério.
- Ô, cumpadi. Pronde ocê vai?
- Prá Boa Morte.
- Pêsames, finado.

Vamos lá! Pensa um pouco! Um nome destes! Cruz Credo!!!!!

Será que o Bairro se chama Pé na Cova?

Bom! Deixemos estas elocubrações de lado e que sendo boa a morte, resolvi aproveitar a boa vida e fui a um restaurante me fartar no pecado da gula (esta é uma Boa Morte: Comendo bem).

O restaurante chamado Babilônia. Não sei não. Talvez Sodoma e Gomorra casasse mais com o nome da rua. Mas, Babilônia dá um ar de paraíso na Boa Morte.

Entremos neste Éden de delícias, que é comandado pelo César italiano de nome Andrea.
Mas, para não pensarem que eu estou fazendo propaganda do dono que é o Andrea, nascido na Itália (uma duvida fica de repente: Babilônia é colônia italiana?), não vou chama-lo de Andrea, usarei um nome fictício que faz jus aos nomes italianos de seus antepassados. Portanto, Andrea, passa a ser chamado de Toshio Nakama. Portanto, Babilônia é comandada pelo valoroso carcamano Toshio Nakama, que veio da Itália, não recordo bem, mas acho que nas costas de uma tartaruga.

Imagino que seja, pois demorou tantos anos para chegar aqui no Brasil.

Ecco! Tutto bona gente!

Enfim, após a saudação habitual pro-forme: “Ave, Toshio. Os que vão morrer te saúdam”, o banquete estava servido. Uma mesa enorme com iguarias finas dos mais profundos rincões das Itália: feijão, linguiça, palmito, tutu, lazanha. Resumindo, uma salada russa.

Como o leitor pode perceber, nosso amigo Toshio Corleone não discrimina nações.

Mas, o que torna este restaurante fantástico, o que faz viajarmos na Babilônia de nossos sonhos é o molho que é servido por um indivíduo que é uma mistura de Corcunda de Notre Dame com o ator Jean Reno, isto é, é de dar pena, parece uma trombada de dois trem-bala. Este molho, se chama Righetti.

E o bacana de tudo é que quando as pessoas vão lá, vão para comer o Righetti.
- Porque você vai tanto no Babilônia?
- Adoro comer o Righetti.

Vão lá! O Righetti é fantástico!

Concomitantemente (êta palavra linda, e enooooooooooooooorme. Não sei bem o que significa, mas que é bacanona é!), depois que todos comem o Righetti, Toshio Nakama percorre as mesas observando a todos e animando com o seu bom-humor. Afinal por lá tudo é bom. Bom apetite, bom humor, boa morte...ahhhh! A Boa Morte outra vez!
Todos que saem de lá se sentem transportados aos Jardins da Babilônia, um paraíso perdido, ainda mais porque comeram o famoso Righetti.

Finalmente, para não encerrar sem uma boa mensagem a quem suportou esta pretensa crônica até agora, do minicontista Eno Teodoro Wanke:
“O discípulo veio ao mestre Zen, lamentando-se, em plena fossa:
- É curta a vida! É curta a vida!
O mestre Zen, porém aproveitando as mesmas palavras, com variante na pontuação, solucionou:
- É curta a vida, é? Curta a vida!”
------------------------

Observação: O Restaurante Babilônia onde Toshio Nakama me aguarda todos os dias com um machado na mão (não sei porquê), fica na Rua Boa Morte, 1262, em Piracicaba. Não esqueçam de dizer que querem comer o Righetti.

Dedicado ao meu amigo piracicabano Andrea Righetti, dono do Restaurante Babilônia.
(José Feldman. Paraná, 23 outubro 2009)

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte V)

Pintura de Marcus Nati = Mimoso do Sul.
Cidade situada no Estado do Espírito Santo,
possui 14 mil habitantes e é também aonde ocorre
o Festival da sanfona e da viola no distrito de
São Pedro do Itabapoana.
O “Fim” do CTC

Um fato bastante desagradável para o Trovismo ocorreu durante as festividades do primeiro aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, entre os dias 1º e 3 de julho de 1981.

O CTC preparou festividades bastante sérias, com prestação de contas de sua diretoria, no dia 1º; palestras de Rodolfo Coelho Cavalcante e Eno Teodoro Wanke, no dia 3.

Lamentáveis foram os fatos ocorridos após a palestra de Eno Teodoro Wanke. Ali o autor afirmou, após aludir à dificuldade da missão que lhe foi imposta ao ser convidado para pronunciar uma das conferências:

Sobre o que escrever então? Sobre a História e as realizações do CTC? Isso cabe ao Clério, que, melhor do que ninguém, saberá recolher os dados e os expor num relatório que deixará muita gente perplexa com o quanto se pode fazer em tão pouco tempo. "

Pois Clério, com todo o dinamismo que é capaz, conseguiu neste curto ano, colocar a trova em seu verdadeiro caminho, o caminho da rosa. Suas realizações não se limitam ao CTC, mas também à UBT, com o renascimento da seção de Vitória, de Serra e diversas delegacias. Além disso, conquistou para a trova novos espaços, tanto nos jornais, como na televisão, nas escolas, como em boletins especializados, bem escritos e recheados de inovações e notícias sobre o mundo trovista. Realizou e provocou não sei quantos concursos. Foi um ano “de abertura” para a trova, não só em terras capixabas, mas em todo o Brasil. O CTC está ressuscitando aquele impulso que levava a trova milenar, na década de 1960, a ser considerada o centro do um movimento literário de grandes proporções, com o apoio de todos os grandes jornais do Rio de Janeiro, e repercussões no público de lá e outros centros.

Realmente, se pode parecer aos capixabas que o movimento do CTC é apenas regional, local, na verdade não é assim. Na correspondência que recebo, de todas as partes do Brasil, se fala, com escandalosa freqüência, e sempre em termos de admiração e louvor, no “Beija-Flor”, desde os mais recatados jornais provincianos, até os mais descabelados boletins vanguardistas. Acho que isto é o que vale, para a trova. É preciso não cair no nefelibatismo em que se encontra hoje a UBT, que deveria dar o exemplo de abertura e união, como abertamente escrevi em meu livro “O Trovismo”, da página 407 a 418, sem “meias palavras”. A UBT, lamentava eu, em resumo, tomara o caminho (também válido, porém parcial) de só promover festas e jogos florais, quando qualquer movimento artístico ou literário tem que, necessariamente, envolver o púbIico, agitá-lo, principalmente através dos meios de comunicação, divulgando as produções geradas, interessando e abrindo o caminho para os novos, pois de sangue novo é que se faz a renovação, e renovação é que dá continuidade ao movimento”.

Mais adiante, após historiar a forma com que se encontrou com Clério José Borges, escreve:
"Clério (...) com seu jeito objetivo de resolver as coisas, pediu-me orientação de como "ressuscitar" o trovismo em terras capixabas. Matutei. Que dizer a ele? Seria cômodo mandá-lo "engatar-se” na UBT, tornando-se mais uma sucursal do “turismo” ubetista. Não confundir tal "turismo” com o turismo de massa, aquele que é uma indústria, que traz dinheiro à terra onde é exercido. O turismo da UBT é elitista, exercido por uma certa quantidade do trovadores, dentro do círculo fechado onde estão as informações sobre os concursos. É tão fechado esse círculo, que mesmo os trovadores interessados, como eu, na trova, não conseguem facilmente o acesso a tais informações. Cheguei mesmo a assinar, certa vez, um desses boletins de UBT, enviando um cheque em favor do presidente local, conforme as instruções de assinatura do próprio Informativo, e babau! Não recebi nem o dinheiro de volta, nem uma explicação (...).

Por isso, que me perdoem os amigos que, felizmente, possuo em grande quantidade dentro da UBT, mas eu não poderia, naquele momento, honestamente, colocar este jovem e dinâmico líder sob a tutela do um órgão fechado. Ora, existia na ocasião, o Clube dos Trovadores do Vale do Paraíba, do meu amigo Francisco Fortes, que, independente da UBT, e por ela criticado por isso mesmo, estava fazendo algum movimento. Lembrei-me, baseado nesse exemplo salutar, de propor ao Clério, não a filiação à UBT, mas a criação de um Clube independente, local, que com o tempo, poderia se estender por todo o Brasil, (como aliás, sucedeu à UBT, entidade baseada no GBT, criado por Rodolfo Cavalcante em Salvador, em 1958)".

Essas colocações de Eno Teodoro Wanke, quanto à UBT, revoltaram o trovador Joubert de Araújo Silva, capixaba, que já foi alto dirigente da UBT Nacional.

Eis o que conta José Borges Ribeiro Filho, em artigo publicado no jornal A GAZETA, de 29 de julho de 1981: "Agora, em A Gazeta de 18 do Julho de 1981, leio o artigo intitulado “Desparabéns" de autoria do Sr. Eno Teodoro Wanke, autor dos livros: "A Trova Popular", “A Trova”, “A Trova Literária” e "Trovismo”, em que é denunciada a ingerência de um determinado trovador ligado à UBT Nacional, e que já se encontrava em Vitória há vários anos e nada fez pela trova nesse período, para extinguir o CTC. Estive no último dia do Seminário Nacional da Trova realizado em Vila Velha, no dia 3 de julho e lá observei a movimentação de determinado trovador, defendendo interesses da UBT Nacional, em tentar acabar com o CTC. Lembro-me bem que, quando procurava argumentar suas idéias o citado trovador foi interrompido bruscamente pelo poeta Andrade Sucupira que de alto e bom som afirmou “enquanto eu viver, o CTC não morrerá. Ninguém vai acabar com o CTC”.

José Borges Ribeiro Filho comete um engano ao afirmar que Joubert de Araújo Silva encontrava-­se em Vitória há vários anos. O trovador de Cachoeiro de Itapemirim reside no Rio de Janeiro e se encontrava em vitória desde inícios de 1980.

Após esses incidentes, CIério José Borges afastou-se definitivamente da União Brasileira de Trovadores, através de uma "CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA UBT NACIONAL NO RIO DE JANEIRO", publicada no CORREIO POPULAR, de Cariacica, número referente à semana de 11 a 23 de julho de 1981.

Inicialmente, historia as atividades do CTC, sua nomeação para delegado da UBT em Vitória (mesmo com a presença de Joubert no Espírito Santo) e a organização da UBT em solo capixaba. Depois afirma:

O CTC continuou com suas promoções, realizando concursos internos, expedindo o informativo BEIJA-FLOR e promovendo a realização do concurso REI, PRÍNCIPE e MADRINHA dos trovadores capixabas, no qual os sócios do CTC tiveram oportunidade de votar em diversos nomes. O concurso foi lançado por esta coluna, no dia 16 de janeiro de 1981 (Nota: Clério José Borges refere-se à coluna “Trovas e Trovadores”), no CORREIO POPULAR e no dia 21 de janeiro de 1981, no JornaI TRIBUNA DO POVO, da cidade de Guarapari. No dia 30 de janeiro, nova divulgação foi feita no jornal CORREIO POPULAR, onde, inclusive, sugeríamos que Elmo Elton era um candidato nato, assim como Zedânove Tavares, Paulo Freitas e Evandro Moreira. O jornal CORREIO POPULAR, que é enviado a todos os sócios do CTC, pareceu-me o jornal ideal para o lançamento do tal concurso, posteriormente divulgado no Beija-Flor, onde colocamos, inclusive, uma cédula de votação.

O concurso foi realizado com a eleição de Elmo Elton, a minha e a de Andrade Sucupira. À exceção da minha escolha, realizada como uma homenagem ao meu modesto trabalho, considerei a eleição feita, democraticamente, bastante justa. Elmo Elton é membro da Academia Espírito-Santense de Letras e tem vários livros publicados. Paulo Freitas e Evandro Moreira, que também concorreram ao título de rei, são integrantes da Academia Espírito-Santense de Letras e possuem vários livros publicados. Como a promoção foi do CTC, entidade cultural independente, achamos tudo altamente válido.

Agora, surge um elemento estranho ao CTC a criticar o concurso, como se desejasse ter sido escolhido rei, só por ter o título do Magnífico Trovador dos Jogos Florais do Nova Friburgo. Não é bastante conhecido como trovador no Estado e nem pertence à Academia Espírito-Santense de Letras.

Está pregando a discórdia entre os trovadores capixabas e, o que é pior, o aniquilamento e a extinção do CTC. Chegou a propor-me que acabasse com o CTC, que ele incentivaria a criação de novas seções da UBT no Estado e posteriormente seria formado um conselho estadual da UBT, no qual meu nome seria indicado para presidente. Esta atitude revoltou-me e, aqui, dirijo-me a V. Sa., renunciando a quaisquer vínculos que ainda me unam à UBT
”.

A seguir, reafirmando suas ligações com Eno Teodoro Wanke, ex-alto dirigente da UBT Nacional, hoje condenado pela entidade, acrescenta:

O CTC realmente foi criado com base numa idéia de Eno Teodoro Wanke. Todavia não obedece e nem está servilmente colocado a serviço do senhor Eno Wanke. Apenas o admiramos corno escritor e, por isto, promovemos sua vinda a Vitória, onde brindou-nos com uma magnífica palestra, tendo, na oportunidade recebido, juntamente com Rodolfo Coelho Cavalcante, o título de MAGNÍFICO TROVADOR, dado pelo CTC e o título de sócio de honra da UBT de Vila Velha, conferido pela trovadora Valsema Rodrigues da Costa, numa demonstração de que nós, os capixabas, estamos acima de fofocas e intrigas (...)".

Temos, aí, historiado a partir de documentos, o que aconteceu com a proposta de extinção do CTC, feita por Joubert de Araújo Silva.

Cremos que se está passando com o Trovismo um fenômeno que ocorre com as correntes religiosas provenientes da mesma origem ou com os partidos marxistas. Para os integrantes de quaisquer uma das primeiras, apenas os membros da sua confraria irão para o céu (ou sei lá para onde acreditem que irão), pois estão com a verdade; para os integrantes dos partidos marxistas apenas os militantes da sua organização têm capacidade de modificar o mundo, pois estão certos e os outros errados...

Esse fenômeno, na análise das idéias sociais tem um nome: Sectarismo; na análise da Literatura, chama-se Aulicismo.

No caso do movimento dos trovadores contemporâneos apenas os de determinada entidade (seja qual for) estão agindo corretamente e são os melhores.
Parece que os trovadores esqueceram-se de que seu padroeiro (São Francisco de Assis) sempre se guiou pela humildade.

Quanto aos títulos de "sócio de honra”, outorgados pela UBT de Vila Velha parece-nos que eles fogem ao que dispõe item 7, do artigo 55, do “REGIMENTO INTERNO GERAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES”, publicado no jornal "TROVAS E TROVADORES", nºs 20-21, set-out de 1967, que foi "Órgão Central da União Brasileira de Trovadores”, onde assegura que “São atribuições dos Presidentes Estaduais: (...) 7 - Propor e assinar títulos de Sócio Benemérito e Honorário, previamente aprovados pelo Conselho Estadual”.

Evidentemente, a trovadora Valsema não tem culpa se a edição daquele Regimento estiver esgotada.

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br