sábado, 20 de março de 2010

Caravana da Leitura nas praças públicas de Avaré e Região



O projeto é aberto a estudantes e ao público em geral e consiste na venda de livros por um preço simbólico.

O projeto “Caravana da Leitura” criado pelo escritor Laé de Souza, depois de percorrer mais de 60 cidades brasileiras chega a diversas cidades do interior de São Paulo. Aplicado desde 2004, em parceria com as Secretarias de Educação e de Cultura dos municípios e apoio do Ministério da Cultura, o trabalho acontecerá nos municípios de Itaporanga, Itaí, Piraju, Cerqueira César e Avaré, entre os dias 22 a 27 de março.

Até o final de 2010 o público terá a oportunidade de conferir a passagem da “Caravana” em diferentes praças públicas do país, oferecendo livros para o público infantil, juvenil e adulto, pelo valor simbólico de R$1,99. O projeto reúne uma grande variedade de obras literárias do escritor Laé de Souza, apresentando histórias do cotidiano, em uma linguagem bem-humorada e pontuada por reflexões.

Aos amantes da literatura, a atividade oferece uma ótima oportunidade para rechear a estante e saciar o desejo de boa cultura. De acordo com Laé de Souza, idealizador do projeto, a ação é inédita e tem como objetivo gerar oportunidades de leitura a pessoas de todas as idades e classes sociais. “Buscamos quebrar o estigma que o brasileiro não gosta de ler. O brasileiro gosta de ler sim, o que lhe falta é oportunidade e acessibilidade aos livros que infelizmente custam muito caro no Brasil. O Caravana da Leitura vai na contramão dessa fórmula errada”, esclarece Laé de Souza.

Este ano, o evento deverá passar por mais de 40 cidades dos estados de São Paulo e Bahia com previsão de distribuição de cerca de 120 mil livros. “O objetivo do trabalho é levar cultura e incentivar o hábito da leitura em todo o Brasil. Dessa forma acreditamos que a leitura pode ser democratizada”, destaca Laé de Souza.

Como funciona o projeto?

Para realização das atividades uma tenda é montada em praça pública, com a exposição de muitos livros. Como numa feira livre, além de estudantes convidados para o evento, as pessoas podem circular, pegar e obter orientações de uma equipe multidisplinar que auxilia aos leitores na escolha das obras. A idéia da tenda é aproximar as pessoas de forma livre e sem compromisso, permitindo que elas sintam-se parte integrante desse grande movimento em prol da leitura.

Interessados poderão conhecer outros projetos de incentivo à leitura, de Laé de Souza e o roteiro da Caravana da Leitura, em "Agenda", no site http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza.

II Conferencia Nacional de Cultura



PROPOSIÇÕES APROVADAS NA II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA

II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA ELEGE 32 PRIORIDADES PARA O SETOR

Após três dias de debates, os participantes da II Conferência Nacional de Cultura (CNC), realizada em Brasília, elegeram as 32 prioridades que nortearão as políticas públicas para o setor. As prioridades setoriais foram aprovadas por unanimidade no plenário pela manhã.

Presente ao Centro de Convenções e Eventos Brasil 21 durante os trabalhos na tarde deste domingo, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, reafirmou o grande mérito da Conferência: promover o acesso de todos à discussão e formulação das políticas públicas. “A democracia e a inclusão têm sido uma grande preocupação do governo e do ministério da Cultura”.

As prioridades eleitas serão tratadas uma a uma, de acordo com sua natureza. Algumas poderão servir para incrementar políticas públicas já existentes, outras devem se transformar em projetos de lei para envio ao Congresso Nacional ou, ainda, integrarem ações interministeriais de estímulo a áreas afins, como cultura e educação, por exemplo.

Ao todo, foram analisadas 347 propostas pelos participantes da conferência, dentre os quais artistas, produtores culturais, investidores, gestores e representantes da sociedade de todos os setores da cultura e de todos os estados do País. Dos 883 delegados credenciados, 851 votaram por meio de cédulas nas propostas prioritárias.

A aprovação do marco regulatório da Cultura, que já tramita no Congresso Nacional, foi a proposta mais votada (754 votos). O marco é composto principalmente pelo Sistema Nacional de Cultura (SNC), Plano Nacional de Cultura (PNC) e proposta de emenda constitucional (PEC) 150/2003, que vincula à Cultura 2% da receita federal, 1,5% das estaduais e 1% das municipais. A proposta também explicita o apoio à aprovação do Programa de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), que atualiza a Lei Rouanet.

A Conferência aponta a urgência de se construir um marco regulatório para a cultura brasileira. É uma demanda legítima da sociedade, que prioriza a agenda cultural em todas as esferas de governo. Demos um grande passo para fortalecer definitivamente a importância dessa políticas para o desenvolvimento sustentável do país”, explica a coordenadora executiva da Conferência, Silvana Meireles.

Os debates da Conferência seguiram cinco eixos temáticos: produção simbólica e diversidade cultural; cultura, cidade e cidadania; cultura e desenvolvimento sustentável; cultura e economia criativa; gestão e institucionalidade da cultura.

Entre os destaques estão a formalização do trabalho na cultura, o incentivo ao ensino de arte nas escolas, o reconhecimento de um “custo amazônico” como fator que onera as iniciativas culturais devido a questões geográficas e logísticas da região – a ser incluído em editais de novos projetos -, a ampliação do acesso à internet e a necessidade de reformulação da Lei de Direitos Autorais. O marco legal para os Pontos de Cultura e a Lei Griô Nacional também estiveram entre as propostas mais votadas.

Esse é um momento de afirmação da cultura. Esse tema não será mais subalterno. Claro que todas as outras pastas são importantes, mas nada se realiza sem cultura”, afirma Juca Ferreira, ressaltando que neste ano o ministério terá orçamento recorde, o equivalente a 1% do total de impostos arrecadados pela União.

Pré-conferências

Todos os estados realizaram suas conferências, elegendo 743 delegados ao todo. Mais de 200 mil pessoas estiveram diretamente envolvidas nas etapas estaduais e municipais. Novidade nesta edição, as conferências setoriais – 143 no total – tiveram 3.193 inscrições de candidatos a delegados. Além de deliberar, esses encontros têm o objetivo de estimular a criação e o fortalecimento de redes de agentes e instituições culturais do País.

I CNC

Em sua primeira edição, em 2005, 1.192 municípios realizaram conferências, o que representou 21,42% do total das cidades brasileiras. Nesta segunda Conferência, nas etapas municipais e estaduais, observou-se um significativo avanço no processo participativo, uma vez que, de agosto a outubro de 2009, aconteceram 3.071 reuniões, ou seja, mais da metade do total dos municípios do País estiveram envolvidos.

PROPOSTAS PRIORITÁRIAS

EIXO1: PRODUÇÃO SIMBÓLICA E DIVERSIDADE CULTURAL
SUB–EIXO: 1.1 - Produção de Arte e Bens Simbólicos
1 - Implementar políticas de intercâmbio em nível regional, nacional e internacional entre os segmentos artísticos e culturais englobando das manifestações populares tradicionais às contemporâneas que contemplem a realização de mostras, feiras, festivais, oficinas, fóruns, intervenções urbanas, dentre outras ações, estabelecendo um calendário anual que interligue todas as regiões brasileiras, com ampla divulgação, priorizando os grupos mais vulneráveis às dinâmicas excludentes da globalização, com o objetivo de valorizar a diversidade cultural.
6 - Registrar, valorizar, preservar, e promover as manifestações de comunidades e povos tradicionais (conforme o decreto federal 6.040 de 7 de fevereiro de 2007), itinerantes, nômades, das culturas populares, comunidades ayahuasqueiras, LGBT, de imigrantes, entre outros com a difusão de seus símbolos, pinturas, instrumentos, danças, músicas, e memórias dos antigos, por meio de apresentações ou produção de CDs, DVDs, livros, fotografias, exposições e audiovisuais, incentivando o mapeamento e inventário das referencias culturais desses grupos e comunidades.

SUB–EIXO: 1.2 - Convenção da Diversidade e Diálogos Interculturais
17 - Garantir políticas públicas de combate à discriminação, ao preconceito e à intolerância religiosa por meio de: a) campanhas educativas na mídia, em horário nobre, mostrando as diversas raças e etnias existentes em nosso país, ressaltando o caráter criminoso da discriminação racial; b) demarcação de terras das populações tradicionais (ribeirinhos, seringueiros, indígenas e quilombolas), estendendo serviços sociais e culturais a essa população, a fim de garantir sua permanência na terra; c) campanhas contra homofobia visando respeito a diversidade sexual e identidades de gênero.
18 - Implementar a Convenção da Diversidade Cultural por meio de ações sócio-educativas nas diversas linguagens culturais (literatura, dança, teatro, memória e outras), e as linguagens especificas próprias dos povos e culturas tradicionais, conforme o decreto federal 6.040 de 7 de fevereiro de 2007 dirigidas a públicos específicos: crianças, jovens, adultos, melhor idade.

SUB – EIXO: 1.3 - Cultura, Educação e Criatividade
22 - Articular a política cultural (MINC e outros) com a política educacional (MEC e outros) nas três esferas governamentais para elaborar e implementar conteúdos programáticos nas disciplinas curriculares e extracurriculares dedicados à cultura, à preservação do patrimônio, memória e à história afro-brasileira, indígena e de imigrantes ao desenvolvimento sustentável e ao ensino das diferentes linguagens artísticas, inclusive arte digital e línguas étnicas do território nacional, de matriz africana e indígena, e ao ensino de línguas, inserindo-os no Plano Nacional de Educação,sob a perspectiva da diversidade e pluralidade cultural, nas escolas, desde o ensino fundamental, universidades públicas e privadas com a devida capacitação dos profissionais da educação, por meio da troca de saberes com os mestres da cultura popular nos sistemas municipais, estaduais e federais, bem como (26) Garantir condições financeiras e pedagógicas para a efetiva aplicação da disciplina "Língua e Cultura Local".
36 - Instituir a lei Griô, que estabelece uma política nacional de transmissão dos saberes e fazeres de tradição oral, em diálogo com a educação formal, para promover o fortalecimento da identidade e ancestralidade do povo brasileiro, por meio do reconhecimento político, econômico e sociocultural dos Grios Mestres e Mestras da tradição oral, acompanhado por uma proposta de um programa nacional, a ser instituído, regulamentado e implantado no âmbito do MINC e do Sistema Nacional de Cultura.

SUB–EIXO: 1.4 - Cultura, Comunicação e Democracia
63 - Garantir que o acesso a internet seja realizado em regime de serviço publico e avançar com a formulação e implantação do plano nacional de banda larga contemplando as instituições culturais e suas demandas por aplicação e serviços específicos.
68. Regulamentar e implementar o capitulo da comunicação social na Constituição Federal, tendo em vista a integração das políticas de comunicação e cultura, em especial o artigo 223, que garante a complementaridade dos sistemas publico, privado e estatal. Fortalecer as emissoras de radio e TV do campo público (comunitárias, educativas, universitárias e legislativas) e incentivar a produção simbólica que promova a diversidade cultural e regional brasileira, produzida de forma independente. Implantar mecanismos que viabilizem o efetivo controle social sobre os veículos do campo público de comunicação e criar um sistema de financiamento que articule a participação da união, estados e municípios.

EIXO 2: CULTURA, CIDADE E CIDADANIA
SUB-EIXO 2.1: Cidade como fenômeno cultural
80 - Estabelecer uma política nacional integrada entre os governos federal, estaduais, municipais e no Distrito Federal, visando a criação de fontes de financiamento, vinculação e repasses de recursos que permitam a instalação, construção, manutenção e requalificação de espaços e complexos culturais com acessibilidade plena: teatros, bibliotecas, museus, memoriais, espaços de espetáculos, de audiovisual, de criação, produção e difusão de tecnologias e artes digitais, priorizando a ocupação dos patrimônios da união, dos estados, municípios e do Distrito Federal em desuso no país.
83 - Criar marco regulatório (Lei Cultura Viva) que garanta que os Pontos de Cultura se tornem política de Estado garantindo a ampliação no número de Pontos contemplando ao menos um em cada município brasileiro e Distrito Federal, priorizando populações em situação de vulnerabilidade social de modo a fortalecer a rede nacional dos Pontos de Cultura.
SUB–EIXO: 2.2 - Memória e Transformação Social
101 - Incluir na agenda política e econômica da União, estados, municípios e no Distrito Federal o fomento à leitura por meio da criação de bibliotecas públicas, urbanas e rurais em todos os Municípios, com fortalecimento e ampliação dos acervos bibliográficos e arquivísticos, infraestrutura, acesso a novas tecnologias de inclusão digital, capacitação de recursos humanos, bem como ações da sociedade civil e da iniciativa privada,com objetivo de democratizar o acesso à cultura oral, letrada e digital.
112 – Propiciar condições plenas de funcionamento ao Ibram de modo a garantir com sua atuação, que os museus brasileiros sejam consolidados como territórios de salvaguarda e difusão de valores democráticos e de cidadania, colocadas a serviço da sociedade com o objetivo de propiciar o fortalecimento e a manifestação das identidades, a percepção crítica e reflexiva da realidade, a produção de conhecimento, a promoção da dignidade humana e oportunidades de lazer.
SUB–EIXO: 2.3 - Acesso, Acessibilidade e Direitos Culturais
124 – Criar dispositivos de atualização da lei de direitos autorais em consonância com os novos modos de fruição e produção cultural que surgiram a partir das novas tecnologias garantindo o livre acesso a bens culturais compartilhados sem fins econômicos desde que não cause prejuízos ao(s) titular(es) da obra, facilitando o uso de licenças livres e a produção colaborativa, considerando a transnacionalidade de produtos e processos de forma que se atinja o equilíbrio entre o direito da sociedade de acesso a informação e a cultura e o direito do criador de ter sua obra protegida, assim como o equilíbrio entre os interesses do autor e do investidor.
131 – Assegurar a destinação dos recursos do Fundo Social do Pré-sal para a cultura, aos programas de sustentabilidade e desenvolvimento do Sistema Nacional de Cultura, ampliando os investimentos nos programas que envolvam conveniamentos entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal.

EIXO 3: CULTURA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
SUB–EIXO: 3.1 - Centralidade e Transversalidade da Cultura
140 – Implementar e fortalecer as políticas culturais dos estados, a fim de promover o desenvolvimento cultural sustentável, reconhecendo e valorizando as identidades e memórias culturais locais – incluindo regulamentação de profissões de mestres detentores e transmissores dos saberes e fazeres tradicionais, ampliando as ações intersetoriais e transversais por meio das interfaces com a educação, economia, comunicação, turismo, ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente, segurança pública e programas de inclusão digital, com estímulo a novas tecnologias sociais de base comunitária.
141 - Incentivar a criação e manutenção de ambientes lúdicos, para o desenvolvimento de atividades artísticas e culturais em escolas públicas e espaços educacionais sem fins lucrativos, museus, hospitais, casas de saúde, instituições de longa permanência, entidades de acolhimento e abrigos, CAPs, CAPs – AD (Centro de Atenção Psicossocial), centros de recuperação de dependentes químicos e de ressocialização de presos (Apacs) e presídios.
SUB–EIXO: 3.2 - Cultura, Território e Desenvolvimento Local
152 – Promover, em articulação com o MEC, organizações governamentais e não governamentais, a criação de cursos técnicos e programas de capacitação na área cultural para o desenvolvimento sustentável.
154 – Fomentar e ampliar observatórios e as políticas culturais participativas com o objetivo de produzir inventários, pesquisas e diagnósticos permanentes, também em parceria com universidades e instituições de pesquisa, subsidiando políticas públicas de cultura, articuladas intersetorialmente e territorialmente, com ações capazes de preservar os patrimônios cultural e natural, inserindo as histórias locais nos conteúdos das instituições educacionais, identificando e valorizando as tradições e diversidade culturais locais, aproximando os movimentos culturais das questões sociais e ambientais, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável local e a redução das desigualdades regionais.
SUB–EIXO: 3.3 - Patrimônio Cultural, Meio Ambiente e Turismo
165 - Promover e garantir o reconhecimento, a defesa, a preservação e a valorização do patrimônio cultural, natural e arquivístico a partir de inventários e estudos participativos, em especial nas comunidades tradicionais, estimulando o turismo comunitário sustentável, por meio da articulação interministerial com participação popular, que crie parâmetros para a atuação nessa vertente da economia da cultura e destine recursos, inclusive por meio de editais, para a implantação e o fortalecimento de roteiros turísticos que articulem patrimônio cultural, memórias, meio ambiente, tecnologias, saberes e fazeres, valorizando a mão-de-obra local/regional, com a realização de ações voltadas para a formação, gestão e processos de comercialização da produção artístico-cultural da região.
175 - Valorizar as tradições culturais dos 5 biomas,o, como forma de proteção e sustentabilidade, bem como garantir a melhoria e conservação das vias de acesso a todos os municípios, revelando e valorizando suas potencialidades turísticas e culturais, com sua difusão em museus, sites específicos e redes sociais, preservando o patrimônio material e imaterial, regulamentando em lei o cerrado e demais biomas como patrimônio cultural.

EIXO 4: CULTURA E ECONOMIA CRIATIVA
SUB–EIXO: 4.1 - Financiamento da Cultura
187 - Com base no art. 3º inciso III da Constituição brasileira que estabelece a redução das desigualdades sociais e regionais, que seja garantido o reconhecimento do “custo amazônico” pelos órgãos gestores da cultura em projetos culturais, editais e leis de incentivo, em especial pelo Fundo Nacional de Cultura, assegurando dotação específica e diferenciada para os estados da Amazônia Legal, considerando as dimensões continentais, as diferenças geográficas e humanas e as dificuldades de comunicação e circulação na região, incluindo o Custo Amazônico na Lei Rouanet no Fundo Amazônia.
192 - Garantir, com a aprovação da PEC 150/2003, ainda neste semestre, as políticas de fomento e financiamento, via editais, dos processos de criação, produção, consumo, formação, difusão e preservação dos bens simbólicos materiais, imateriais e tradicionais (indígenas, ribeirinhas, afrodescendentes, quilombolas e outros) e contemporâneas (de vanguarda e emergentes), facilitando a mostra de suas obras artísticas, garantindo direitos autorais e registrando os artistas e suas obras como patrimônio nacional.
SUB–EIXO: 4.2 - Sustentabilidade das Cadeias produtivas
230 - Ampliar os recursos públicos e privados, para a sustentabilidade das cadeias criativas e produtivas da cultura, valorizando as potencialidades regionais e envolvendo todos os setores da sociedade civil e do poder público no processo de criação, produção e circulação dos bens e produtos culturais, objetivando ampliar a circulação e a exportação dos produtos culturais brasileiros.
236 - Criar um programa nacional (por região) de capacitação de agentes e empreendedores culturais, com foco nas cadeias produtivas, contemplando a elaboração e gestão de projetos, captação de recursos e qualificação técnica e artística, ofertando oficinas, cursos técnicos e de graduação, em parceria com as Instituições de Ensino Superior (IES).
SUB–EIXO: 4.3 - Geração de Trabalho e Renda
250 - Regulamentar as profissões da área cultural, criando condições para o reconhecimento de direitos trabalhistas, previdenciários no campo da arte, da produção e da gestão cultural, incluindo os profissionais da cultura em atividades sazonais.
252 - Investir na profissionalização dos trabalhadores da cultura, através da ampliação dos cursos de nível superior, técnicos e profissionalizantes, realizar concursos públicos em todas as esferas governamentais para o setor, equiparando nestes concursos o piso salarial de nível superior à carreira especialista em gestão pública ou equivalente e incluindo o reconhecimento de novas áreas de formação relacionadas ao campo.

EIXO 5: GESTÃO E INSTITUCIONALIDADE DA CULTURA
SUB–EIXO: 5.1 - Sistemas Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais de Cultura
262 – Consolidar, institucionalizar e implementar o Sistema Nacional de Cultura (SNC), constituído de órgãos específicos de cultura, conselhos de política cultural (consultivos , deliberativos e fiscalizadores), tendo, no mínimo, 50% de representantes da sociedade civil eleitos democraticamente pelos respectivos segmentos, planos e fundos de cultura, comissões intergestores, sistemas setoriais e programas de formação na área da cultura, na União, Estados, Municípios e no Distrito Federal, garantindo ampla participação da sociedade civil e realizando periodicamente as conferências de cultura e, especialmente, a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC 416/2005 que institui o Sistema Nacional de Cultura, da PEC 150/2003 que designa recursos financeiros à cultura com vinculação orçamentária e da PEC 049/2007, que insere a cultura no rol dos direitos sociais da Constituição Federal, bem como dos projetos de lei que instituem o Plano Nacional de Cultura e o Programa de Fomento e Incentivo a Cultura-Procultura e do que regulamenta o funcionamento do Sistema Nacional de Cultura.
279 – Criar um sistema nacional de formação na área da cultura, integrado ao SNC, articulando parcerias públicas e privadas, a fim de promover a atualização, capacitação e aprimoramento de agentes e grupos culturais, gestores e servidores públicos, produtores, conselheiros, professores, pesquisadores, técnicos e artistas, para atender todo o processo de criação, fruição, qualificação dos bens, elaboração e acompanhamento de projeto, captação de recursos e prestação de contas, garantindo a formação cultural nos níveis básico, técnico, médio e superior, à distância e presencial, fazendo uso de ferramentas tecnológicas e métodos experimentais e produção cultural.
SUB–EIXO: 5.2 - Planos Nacional, Estaduais, Distrital, Regionais e Setoriais de Cultura
308 – Defender a aprovação do Programa Cultura Viva e o Programa Mais Cultura no âmbito da proposta de consolidação das leis sociais como políticas publicas de Estado, com dotação orçamentária prevista em lei e mecanismo publico de controle e gestão compartilhada com a sociedade civil.
310 - Garantir que as conferências nacional, distrital, estaduais e municipais de Cultura tenham caráter de política pública e que suas diretrizes e decisões sejam incorporadas nos respectivos Planos Plurianuais e nas Leis de Diretrizes Orçamentárias, assegurando sua efetiva execução nas Leis Orçamentárias Anuais.
SUB–EIXO: 5.3 - Sistema de Informações e Indicadores Culturais
324 – Realizar imediatamente mapeamento preliminar das manifestações culturais, dos distintos segmentos (conforme a II CNC), dos povos e comunidades tradicionais (em conformidade com o decreto 6040), das expressões contemporâneas, dos agentes culturais, instituições e organizações, dos grupos e coletivos, disponibilizando o banco de dados resultante em uma plataforma livre de fácil acesso e com descentralização da informação; em paralelo, a criação de um órgão federal de estudos e indicadores culturais integrado ao SNC; mapear as cadeias criativas e produtivas, empreendimentos solidários; investir em capacitação técnica de equipes locais; atualizar continuamente o mapeamento preliminar e gerar produtos tais como: roteiros e eventos de integração e intercambio; catálogos com as varias linguagens e manifestações, publicação de anuários e revistas.
336 - Implantar o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais e os respectivos sistemas estaduais e municipais, desenvolver mecanismos de articulação entre governo e sociedade civil, para facilitar e ampliar o acesso às informações e capacitar pessoal em todas as esferas, para a geração, tratamento e armazenamento de dados e informações culturais.

LIVRO, LEITURA, LITERATURA: DIREITO DE TODOS

A leitura e a escrita constituem elementos fundamentais para a construção de sociedades democráticas, baseadas na diversidade, na pluralidade e no exercício da cidadania; são direitos de todos, constituindo condição necessária para que possam exercer seus direitos fundamentais, viver uma vida digna e contribuir na construção de uma sociedade mais justa.” (Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL - dezembro de 2006)

A leitura e a escrita são direitos e necessidades relacionados com a prática cidadã, que ajudam as pessoas a construir sua individualidade e seu prazer estético, sendo transversais a todas as artes. O letramento – habilidade de ler criticamente e produzir textos - contribui de forma efetiva para o rompimento da fatalidade social e capacita o cidadão a criar seu espaço no mundo contemporâneo e a estabelecer as relações com os demais. Diretrizes que fundamentam uma Política de Estado, aliadas à gestão eficaz, são fundamentais para a concretização dos objetivos de toda política cultural para um país.

Por essas razões fundamentais ao desenvolvimento integral do ser humano é que se faz necessária a inclusão, no Plano Nacional de Cultura, de propostas que garantam a democratização do acesso à leitura e à escritura para todos os brasileiros.

O PNLL, avaliado e aprovado após três anos de sua implantação pela Pré-Conferência do Livro, Leitura e Literatura, sustenta que o melhor caminho para o acesso à leitura no Brasil é por intermédio da biblioteca de acesso público, seja ela escolar pública ou comunitária, na zona urbana ou rural, porque ela, quando bem estruturada, é:
• Centro de educação permanente, única forma de acesso ao livro e à informação na maioria dos municípios brasileiros;
• Centro de memória das cidades, que preserva e dá acesso à história e à cultura universal e local;
• Centro cultural, que pode agregar às suas atividades e serviços o diálogo com outras linguagens artísticas;
• Promotora do letramento, que é condição importante para o acesso a outras linguagens artísticas e às novas tecnologias.
Assim, pedimos sua atenção e apoio para as seguintes propostas, nos eixos 2 e 5, elaboradas e legitimadas pela Pré-Conferência do Livro, Leitura e Literatura:

Eixo 2 – Cultura, cidade e cidadania:

Garantir para toda a população urbana e rural, em sua diversidade, a criação, a manutenção e a sustentabilidade de bibliotecas públicas, comunitárias, itinerantes e escolares da rede pública e outros espaços de leitura, com quadro de profissionais qualificados que permitam o acesso à leitura literária, científica e informativa, em seus diversos suportes (livros, jornais, revistas, internet, livro acessível, em Braille, áudios-livro, equipamentos visuo-espaciais etc.), informatizadas, em rede, integradas e dinamizadas por mediadores de leitura.

Eixo 5 – Gestão e institucionalidade da cultura:

Consolidar o PNLL (Plano Nacional do Livro e da Leitura), por meio de mecanismos legais e da garantia dos recursos orçamentários; criar o Instituto Nacional do Livro, Leitura e Literatura, e incentivar a implantação de planos e fundos estaduais e municipais, mediados pelos Conselhos Estaduais e Municipais de Política Cultural, assegurando o controle e a participação social e criando um sistema de condicionamentos e contrapartidas previstas nos demais programas sociais do governo federal para as instâncias responsáveis pela institucionalização das políticas públicas; fortalecimento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas Municipais.

Em resumo: a aprovação de propostas que garantam e viabilizem o acesso ao livro, à leitura, à literatura, e promovam a conseqüente melhoria do índice de letramento dos brasileiros, aliadas à consolidação institucional do PNLL e à criação de novos órgãos de gestão eficiente nesta área da cultura, vai ao encontro e potencializa toda ação proposta pelos vários segmentos representados nessa Conferência.

Brasília, 13 de março de 2010.

Fonte:
Neida Rocha

Estante Virtual presente em 50 cidades de 22 a 26 de Março

Depois de revolucionar a Bienal do Livro no Rio de Janeiro com o serviço de troca de livros, vai novamente materializar a Estante Virtual! E dessa vez não será em apenas um lugar, mas em 50 cidades ao mesmo tempo!

De 22 a 26 de março, a Estante vai ter postos de busca em mais de 70 universidades de todo o país. De Pelotas/RS a Boa Vista/RR, os stands serão pilotados por sebos, livreiros virtuais e até mesmo leitores, que se engajaram nessa divulgação, como a Samia, de Rio Branco/AC, e o Tiago, de Santa Maria/RS.

Em cada posto de busca, os visitantes vão se deparar com um desafio: descobrir um livro que não esteja no portal! Isso mesmo, o desafio agora é achar algum título que não está na Estante.

Quem conseguir realizar a proeza, preencherá um cupom eletrônico para concorrer a R$100 em livros por posto de busca. E, claro, para tornar as coisas mais emocionantes, o tempo será limitado: 1 minuto, medido por uma ampulheta (de verdade, com areia!), que será também presenteada ao ganhador, como troféu. Já quem encontrar todos os livros que procurar (o caso mais comum!) também vai concorrer a 10 vales de R$ 100 em livros, estes sorteados entre todos os visitantes, de todos os 70 stands. Os nomes dos ganhadores serão divulgados no blog no dia 31/03/2010

O objetivo disso tudo é mostrar para todo o país que os sebos brasileiros, com acervos reunidos aqui na Estante, têm todos os tipos de livros. Ou seja, não servem apenas para se procurarem raridades, como muita gente boa ainda pensa, mas para qualquer demanda de livro. Seja ele lançado há 10 anos ou há poucos meses, seja ele um livro comum ou um best-seller, via de regra você pode comprá-lo nos sebos - e por um preço muito mais acessível do que nas livrarias!

Acompanhe na próxima semana, no blog da Estante , toda essa movimentação nacional! Vamos postar fotos e vídeos de toda a parte do Brasil. Veja também o regulamento da campanha e a lista das mais de 70 universidades com postos de busca.

André Garcia
Criador / Diretor
http://www.estantevirtual.com.br/

PS: As cidades em que se materializará:
Aracaju/SE,
Belém/PA,
Belo Horizonte/MG,
Boa Vista/RR,
Brasília/DF,
Camaçari/BA,
Campina Grande/PB,
Campinas/SP,
Campo Grande/MS,
Canoas/RS,
Criciúma/SC,
Cuiabá/MT,
Curitiba/PR,
Dourados/MS,
Florianópolis/SC,
Fortaleza/CE,
Goiânia/GO,
Ijuí/RS,
Iratí/PR,
João Pessoa/PB,
Juiz de Fora/MG,
Leme/SP,
Londrina/PR,
Macapá/AP,
Maceio/AL,
Manaus/AM,
Maua/SP,
Natal/RN,
Palmas/TO.
Pelotas/RS,
Petrópolis/RJ,
Piracicaba/SP,
Porto Alegre/RS,
Porto Velho/RO,
Recife/PE,
Ribeirão Preto/SP,
Rio Branco/AC,
Rio de Janeiro/RJ,
Salvador/BA,
Santa Maria/RS,
São Bernardo do Campo/SP,
São José dos Campos/SP,
São Leopoldo/RS,
São Luis/MA,
São Paulo/SP,
Sorocaba /SP
Teresina/PI,
Tubarão/SC,
Uberlândia/MG,
Vitória da Conquista/BA,
Vitória/ES,

Fonte:
Newsletter da Estante Virtual. edição 30.

Nilton Manoel (Trovas Avulsas)

Canta o galo, nasce o dia!
do chão da praça sem nome,
põe num canto a moradia,
para lutar contra a fome.

vida com seus mistérios
mostra-nos e muito bem
que no Poder, homens sérios,
são sérios se lhes convém.

Dia da árvore, na escola,
faz-se festa às derrubadas;
a folhagem, sempre amola
sujando pátio e calçadas.

O mundo vive pedante;
grita e clama por socorro!
Gasta-se alto a todo o instante,
Não com gente... com cachorro!

Casa velha, quanto encanto!
tem cobras, cupins, lagartos...
uma história em cada canto
e fantasmas pelos quartos.

Na feira da corrupção
dois produtos têm destaque:
-laranja na execução;
pepino na hora do baque!

Meu filho só dá trabalho...
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho...
por isto estou empregado!
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Fonte:
Colaboração do autor

Nilton Manoel



Poeta e prosador, normalista, pedagogo, especialista em Educação, contabilista, jornalista; dedica-se a artes visuais, a numismática e a filatelia.

Autor de Didática da Trova, Cem anos de jornalismo escolar, co-autor de Alfabetização e Letramento. No momento pesquisa a importância dos textos literários do programa Ler e Escrever e a didática poética dos textos do PNLD de 2010.

Pertence a Institutos Históricos e Geográficos, clubes de leitura e entidades de genealogia, Academia Virtual Brasileira de Letras, Academia Brasileira Poesia. Pertenceu a grupos de teatro e a Escola Municipal de Belas Artes.

Foi produtor e apresentador radiofônico de Cultura em Movimento, ex-Conselheiro Municipal de Cultura (3 gestões).

Em Educação: coordenou um dos núcleos do Mobral; ex-PCP da DRE/SP. Cursista dos projetos: Ipê, Profa, Letra e Vida, Teia do Saber, Escola Cidadã, Circuito de Gestão, Tecendo Saberes, TDAH, informática educacional básica e avançada, etc.

Tem comendas e prêmios recebidos.

Realiza, anualmente, os Jogos Florais Internacionais e Estudantis de Ribeirão Preto.

Livros reeditados: Cenas Urbanas, Trovas da Juventude; Caviar, Gororoba e Sal de Frutas, Sandálias de Peregrino, Poesia Mágica.

Fonte:
Colaboração do autor

sexta-feira, 19 de março de 2010

Trova 129 - Sinclair Pozza Casemiro (Campo Mourão/PR)

Antonio Abel Fernandes (Cascata Poética)

INSPIRAÇÃO

Novamente estou feliz hoje...
A alegria chegou no meio da madrugada
Como uma gaivota de asas prateadas
Planando leve como pluma ao vento...
Chegou como chega uma saudade,
Como chega uma verdade...

Como chega um esperado momento...
Chegou silenciosa...
Como pétala de rosa
Desprendida
E livre...

Chegou como uma folha de outono
Carregada pela brisa fresca e perfumada...

Chegou como um fiapo de algodão ao vento...
Como um leve e etéreo pensamento...
Como o sonho de uma criança feliz...
Como o som de palavras que um jovem enamorado diz
À sua amada...

Chegou como o eco de uma música distante...
Como o canto de um pássaro errante...
Como a primeira gota de chuva em terra quente...
Como o brilho fugaz e tremulante
De uma estrela cadente...

Chegou discreta,
Sem ruído...
Como chega o poeta
Em sua mesa predileta...
Num cantinho qualquer
De um bar
Por aí, perdido...

Chegou de mansinho
Como águia em seu ninho,
Como chega ao telhado o passarinho...
Mas chegou para ficar!
Pois aqui é o seu lugar!

RESPIRAÇÃO

De uns tempos para cá
Estou sentindo algo inusitado!...
Sinto-me feliz, em paz e relaxado!...

Já não me preocupo mais com o presente,
Nem com o futuro...
Esse tirano obscuro
Esse algoz inexorável
Que arrasta tanta gente
A um sofrimento inútil e interminável...

Nem me preocupa mais o meu passado...
O que fiz ontem de certo ou de errado
Tudo já caiu no esquecimento...
Creio até que já fui perdoado!

O amanhã, para mim,
Já não é mais assustador!...
Já não sinto mais aquele medo de doença ou “dor”...
Ouço apenas as batidas do meu coração...
E o ruído agradável e aveludado
Da minha respiração...

Há, sem dúvida alguma
Uma ligação
Entre o meu respirar
E o pulsar
Compassado
Do meu coração...

É no meu respirar que está o mistério,
O segredo
E o sagrado...
Durante o dia eu pratico uma respiração ritmada...
O ar entra e sai dos meus pulmões
Como o descer e o subir harmonioso
Dos degraus de uma perfeita escada!...

De uma forma tranqüila, sem pressa.
E sem agitações...
Sinto uma energia boa percorrendo a espinha...
E uma alegria
Diferente
Que é só minha!...

Creio que é nesta minha habitual atitude
Que está o segredo do meu bem-estar continuado...
E do meu prazer de viver
Pleno de saúde,
Sem tédio e sem enfado!...
--------------
Fonte:
Colaboração do poeta.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Trova 128 - Marcelo Zanconatto (São Paulo)

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Meu Velho Pião)


Peguei a fieira fina,
Enrolei no meu pião.
Dei um impulso com o pulso
Lancei o brinquedo ao chão.
Vi meu passado girando
E aos poucos fui lembrando
As voltas que vida dá
E que não podem voltar
Como o giro de um pião!

Gira, meu velho pião,
Não perca tempo com o tempo
Pois que a vida é momento,
O resto é só ilusão...

Não adianta remorso
E nem arrependimento...
O que girou, já girou,
O passado já passou,
Pode esquecer que é besteira,
É pião que foi lançado
E com o punho arremessado
Pela ponta da fieira...
_______________

Fonte:
Colaboração do Poeta

Orlando Silva (Pião)


Tempo alegre de menino
Cheio de sonho e ilusão
Acreditava na vida
Ria e jogava pião
Mas tu foste no meu destino
Um brinquedo multicor
A minha ilusão perdida
Um lindo sonho de amor

O pião corre assim na calçada
A rodar, a rodar, a rodar
Eu invejo a feliz garotada
A salvar, a cantar, a brincar
O destino puxou a fieira
Desse pobre romance de amor
Hoje eu fico tristonho a chorar
E tu segues na vida
A rodar, a rodar
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Fonte:

Beatriz Nassif (O Pião)



O filho ganhou um pião do pai que lembrou como ficou feliz quando ganhou seu primeiro pião de seu pai. O filho falou “Legal” e logo perguntou:

- Isso é uma escultura de pêra?
-Não! Isso é um pião!
-Ah! Uma escultura de pêra se chama peão! E eu achando que peão era uma peça de xadrez!
-Filho, peão é uma peça de xadrez.
-Ah!
- Entendeu agora?
-Sim. Peão tem mais de um significado!
- Pelo amor de Deus! Isso é um pião, mas se escreve com “i”.
- Ah! É um “pião”! E como é que se usa?
- Filho, para usar um pião, você enrola uma cordinha no pião, que vem no pacote, e solta, assim ele começa a girar.
- Ah! Que nem os que vêm nos salgadinhos, só que nesse tem cordinha.
- É, mas o dos salgadinhos é sem graça! Até que enfim você entendeu!
- Pai!

O pai pensou “Ai meu Deus” e disse:

- O que filho?
- Porque você não me deu as instruções? É bem mais fácil!
- Porque não tem.
- Mas por quê?
- Porque…- ele pensou que ia dar o maior trabalho para explicar e disse:
- Deixa pra lá.

Depois de um tempo, o pai encontrou o menino na frente da tevê, com o pião novo ao lado, mexendo nos controles do videogame. Algo chamado “Monster Top” (pião monstro). O pai pensou: “Na próxima vez vou dar um carrinho…” Ele olhou novamente para o menino e continuou pensando: “Pensando bem, um videogame com carrinho”.
__________
Baseada na crônica Bola, de Luís Fernando Veríssimo

Fonte:
http://beatriznassif.wordpress.com/2008/10/23/o-piao/

Célio Simões (Um desastrado jogo de pião)


Todo dia a exasperante rotina se repetia. Eu tinha que seguir pela rua Dr. Machado até a Farmácia Esculápio, esquina com a Bacuri, descer com o freio de mão puxado no rumo da beira, dobrar a direita no Chocron e entrar na “Casa Careca”, para comprar cinco pães e cem gramas de manteiga marca “Aviação”, acondicionadas em latas amarelas. Depois de pesada, era embrulhada numa praga de papel celofane, do qual escorria para o meu braço parece mingau de crueira, derretendo a olhos vistos sob o implacável calor da manhã. E eu ainda aturava o repetitivo chiste de rima pobre do italiano:

- Seu Caporal, quero cinco pães.

- Pães não hães!

Que lindo! A mesma graça, entra ano sai ano. Feita a compra, tinha início o percurso contrário. Subida da ladeira da Dr. Machado a partir do Chocron, cheiro de morcego exalando do solar do Barão do Solimões, uma parada para ver seu Galúcio soldando peças feitas no torno com perfeição de artista, olhos protegidos da chuva de centelhas incandescentes com óculos pretos de escafandro. Depois, nova parada para observar como estava o guarda-chuva do padre do velho Vidal. Lembram dele?

Segundo apregoava seu sócio Crispim, um sujeito branquelo, careca e bonachão, a quem faltava um generoso pedaço da orelha esquerda, esse sacerdote era sábio na previsão do tempo. Pregado na parece do interior da mercearia, a miniatura do religioso envergando batina preta e um inseparável guarda-chuva constituía atração à parte. Quando o sol estava a pino, o equipamento inclinava-se para trás, evidenciando ser dispensável; quando o toró se aproximava, o mesmo retornava a sua posição normal, protegendo o beato do aguaceiro que se avizinhava. Na verdade, tudo era controlado por um bastão de mercúrio, que oscilava ao sabor da temperatura ambiente. Para mim, moleque abestado, o tal padre era a quintessência da prestidigitação, espécie de segredo insondável que os donos da loja guardavam a sete chaves e morreram sem me revelar.

Depois dessas estratégicas paradas, a descida pela rua de terra até em casa, passando em frente ao Grupo Escolar José Veríssimo, até que era rápida. Nessas alturas, porém, o feixe de cinco pães enrolados numa tirinha miserável de papel já se soltara e não raro algum caía pelo chão, incômodo que era secundado pela melequeira geral da manteiga se espalhando por todos os lados, prenúncio de ralho ou coisa pior por parte de d. Lady. Mas o que realmente me invocava era a postura daquele sujeito, ar superior, sentado calmamente na calçada da casa do seu José Batista, vendo meu desespero, sem poupar-me do desafio:

- E aí Célio, a gente vai ou não jogar pião hoje?

O cara vivia me enchendo a paciência. Éramos vizinhos e parceiros de aventuras durante o verão, quando o vento arfante do Laguinho estufava nas alturas os coloridos papagaios empinados, porfiando entre si fiados na eficácia das linhas enceradas com vidro de magnésia moído no pilão, supostamente o melhor que existia. No jogo de peteca demonstrávamos quase a mesma habilidade, ora eu ganhando, ora ele, de modo que nunca nossos estoques de “bolivianas” ficaram desfalcados por uma que outra imprevisível derrota. Porém, o seu ostensivo desafio no jogo de pião tinha uma clara razão de ser. Ele era dono de um alentado pião do melhor jacarandá feito no torno, cujo certeiro e preciso arremesso com linha americana o tornou imbatível entre os moleques que freqüentavam o antigo matadouro. Por sua notória perspicácia, sabia ele que eu não dispunha de um igual ao seu, nem de dinheiro para comprar de quem quer que seja, fato que o estimulava às constantes provocações.

Naquele ano de 1958, quando o Brasil pela vez primeira ganhou a Copa do Mundo com um timaço de fazer inveja a esse simulacro de Seleção que hoje existe (Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Pelé, Vavá e Zagalo), o Amazonas foi de uma generosidade franciscana para com os obidenses. No trapiche em frente à usina da Companhia Paulista de Aniagem, onde se prensava toda a juta da região, fila de estivadores bamburravam na captura do jaraqui, com o sincronizado bailado de suas tarrafas antes de mergulharem no caudal barrento, para voltarem à superfície prenhes do peixe símbolo dos Pauxis. Menino pra todo lado gritando “pega o resto!” a cada lance mais ousado dos tarrafeadores; outros juntando as sobras para um cozido na mesa modesta dos moradores do Cariazal; outros mais, simplesmente se refrescando no banho gostoso do traiçoeiro remanso e o sujeito lá, olhando-nos de cima para baixo, escorado no poder do belo pião enfiado na ilharga do calção, pronto para o enfrentamento, mesmo ali sendo lugar de pescaria e não de uma disputa terrestre.

Paciência tem limite. Aquilo não podia continuar. Fui me aconselhar com o “Rato Branco”, serviçal da casa do Silvestre Reis, escrachado até no apelido, que tinha o diabo no couro mas sabia das coisas, tanto que era respeitado pelos demais porque era bom de porrada e (diziam) introduzira sob a pele do braço direito uma veia de poraquê, que o tornava imbatível nas competições de queda de braço na fila do mercado. Contei-lhe meu problema. Disse que aquele camarada, ao mesmo tempo meu amigo e meu vizinho, sonhava em duelar comigo num jogo de pião, mas eu não dispunha de nenhum, nem de dinheiro para comprar. Terminado o relato, ouvi compenetrado as orientações do ilustre roedor:

- Tem mesa ou cama de madeira na tua casa?
- Claro. Meus pais iam comer ou dormir aonde?
- Claro uma p... Não chateia. Tu quer ou não o conselho?
- Por que essa pergunta sobre a mesa e a cama?
- Tem serrote na tua casa?
- Tem. Mas espera aí. O que mesa, cama e serrote têm a ver com jogo de pião?
- Tu faz o seguinte. Pega o serrote, serra o pé da cama, acerta as bordas com um terçado e coloca um prego na ponta que vira um pião. Se não der, leva pro seu Inácio, bem no lado da Igreja, que ele fabrica caixão de defunto e faz pra ti. Quando ele te desafiar, pode disputar que tu vai acabar ganhando...

Com aquela idéia, larguei a pescaria de jaraqui e entrei furtivamente em casa, esgueirando-me no rumo do quarto dos meus pais. Lá estava a bela cama e para minha sorte, os quatro pés já eram torneados em formato de cone invertido, tornando desnecessária a tarefa de usar o terçado. Arranjei o prego, cortei a cabeça com um alicate, amolei na calçada e fiquei de tocaia esperando todo mundo sair para que o serrote, de ruído escandaloso, fosse utilizado. A chance apareceu quando meus velhos foram fazer compra na “A Pernambucana”, que recebera um enorme estoque de casimira “Aurora” e a Risete avisou que o preço estava uma pechincha. Apanhei a serra e decepei o pé da cama, que obviamente ficou capenga. O jeito foi quebrar um pedado do muro do quintal da dona Domingas, mãe da d. Maria Menezes (precursora das modernas cabeleireiras, ela frisava as madeixas das moças com água quente e não raro uma delas ia para a festa sem um pedaço do couro cabeludo...), nivelando-a na parte posterior, próximo à parede, para que ninguém notasse o estrago. Consegui com o Amadeu, vizinho e comandante do “Sialpe”, um pedaço de linha americana e me senti pronto para duelar com meu antagonista.
Sete e meia da manhã, um sol desmaiado surgiu atrás da Serra da Escama. Morto de preguiça fui tangido para meu dever cívico de comprar os pães e a abominável manteiga na padaria do Careca.

- Seu Caporal, quero cinco pães.
- Pães não hães!

Carcamano f.d.p. um dia tu me paga, pensei. Comprei os pães cacetes e a praga da manteiga “Aviação” que logo viraria mingau e voltei no mesmo passo. Vi seu Galúcio fabricando soldando suas peças na oficina e o padre do velho Vidal tentando cobrir a cabeça num sinal claro que iria chover. Passei pelo quintal do Dr. Emanoel Rodrigues e olhei a quantidade de motores de popa prontos para a próxima caçada de pato do mato, esporte favorito do famoso advogado. Confronte à esquina do José Veríssimo lá estava ele, posudo, com seu pião de jacarandá. Na oportunidade, novo repto me foi lançado:

- E aí Célio, é hoje?
- Como tu quiser. Agora já tenho meu pião...

Deixei na parte que me pareceu mais limpa da calçada os pães e a nojenta da manteiga, riscamos um círculo no chão para “tirar o ponto” e demos início à peleja. Infelizmente perdi (ele era mesmo um craque...) e meu pião feito da perna da cama dos meus pais foi para a roda. Em seguida, após enrolar caprichosamente a linha americana no seu garboso artefato, como que sorvendo prazerosamente cada segundo da minha angustiante expectativa, mirou, aprumou e soltou o golpe fatídico com tamanha violência, que a ponta de ferro do petardo penetrou na frágil peça de cedro improvisada, ficando encravada na mesma, inutilizando-a por completo. Adeus pé da cama, que nunca mais recuperou a performance, nem com o reparo que lhe fez o carpinteiro Vevé.

Julho de 2008. Eu acabara de jogar a preliminar de Mariano X Paraense no Estádio Ary Ferreira, em Óbidos, num calor dos infernos. Troquei de roupa e junto com o Sérgio, meu filho, posicionamo-nos na arquibancada para assistir o prélio entre as equipes titulares desses famosos times locais. Com a voz embargada por incontáveis doses da tinhosa, eis que aparece meu velho opositor, deu-me um abraço e sem meias palavras lançou dessa vez um outro desafio.

- Precisas escrever sobre o nosso jogo de pião, quando tu serraste o pé da cama do teu pai... mas não te esquece que fui eu que ganhei!
- Mas como eu vou contar um negócio que nem me lembro mais?
- Te vira, apela pra tua memória, mas não esquece. Meu pião inutilizou o teu!

No Baile dos Pauxis tornei a encontrá-lo, acompanhado de sua digna esposa. Lá mesmo comecei a reconstituir os fatos, tarefa interrompida com justiça pelo desfile de Monique, a bela Garota Óbidos 2008. Meu estimado amigo João Cândido de Amorim Pinto, não se trata de proselitismo de perdedor, porém, cinqüenta anos depois daquela peleja, está resgatado meu compromisso de narrar o episódio tal como ele aconteceu. Em contrapartida você, sempre brilhante em tudo que faz, ainda tem na consciência um pecado a ser remido. A responsabilidade, embora indireta, por uma cama de apenas três pernas, que me custou uma senhora surra com corda de manilha e até hoje não sei que fim levou.

Fonte:
http://www.obidos.com.br/

quarta-feira, 17 de março de 2010

1a. Bienal do Livro do Paraná



No dia 10 de março aconteceu, no Estação Convention Center, o coquetel de lançamento da 1ª Bienal do Livro do Paraná.

Bienal do Livro do Paraná acontece em Curitiba em outubro de 2010. Evento segue os moldes consagrados da Bienal do Livro do Rio de Janeiro: uma grande festa da Cultura, Literatura e Educação.

De 1º a 10 de outubro de 2010, Curitiba será a capital da literatura. A cidade vai receber a Bienal do Livro do Paraná, no Estação Embratel Convention Center.

A Bienal será uma realização da Fagga Eventos, em conjunto com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL).

O objetivo do evento é incentivar o hábito da leitura e democratizar o acesso aos livros e a literatura, fortalecendo a Educação e a Cultura no país. A Bienal do Livro do Paraná seguirá o modelo já consagrado da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, que em 2009 chega à sua 14ª edição, e das Bienais do Livro de Minas Gerais e da Bahia, sendo muito diferente do evento literário recentemente realizado em Curitiba.

Uma grande festa do livro. Assim será a Bienal do Livro do Paraná. Uma vasta programação cultural, direcionada para todos os públicos – de todas as idades – irá proporcionar o encontro dos leitores com seus autores, incluindo palestras, debates, sessões de autógrafos e visitação escolar. A expectativa é receber, durante os 10 dias de evento, público de aproximadamente 200 mil pessoas – sendo 40 mil alunos de escolas da rede pública e privada. O evento ocupará dois auditórios do Estação Embratel, um total de 246 metros quadrados de área. São esperados 60 expositores na edição de 2010. Uma das grandes atrações da Bienal será o Café Literário, palco de encontros informais e descontraídos entre autores e público. A programação diversificada possibilita que sejam apresentados temas como humor, processo criativo e preferências literárias, entre outros.

Com foco no público infanto-juvenil, a Bienal vai oferecer uma série de atividades especiais que irão estimular o prazer pela leitura. Uma área será transformada no Circo das Letras, com direito a picadeiro e luzes coloridas, onde serão realizadas oficinas de leitura e apresentação de contadores de histórias.

O evento contará com uma diversificada programação cultural, incluindo a atração Café Literário, que vai reunir autores e público em um bate-papo e debates sobre diferentes temas. A bienal acontecerá no Estação Embratel Convention Center. A curadoria do evento está nas mãos do jornalista Rogério Pereira, fundador do jornal literário Rascunho. A promoção é da Fagga Eventos, também responsável pela tradicional Bienal do Livro do Rio de Janeiro. A edição paranaense recebe o apoio do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e da Fundação Cultural de Curitiba.

Segundo Andréia Raspold, vice-presidente da Fagga Eventos, a Bienal do Livro Paraná já era um sonho antigo da empresa e que agora poderá ser concretizado. “O nosso foco é trabalhar o autor e o livro. A ideia é fazer um evento atrativo, que chame as pessoas e que elas se divirtam. Não queremos somente o público leitor, mas também formar leitor”, comenta.

A programação também tem foco no público entre 7 a 13 anos por causa deste objetivo. Haverá atividades infantis e também o Arena Jovem, um espaço voltado para a interação dos jovens com autores e personalidades. A atração Circo das Letras vai despertar o prazer pela leitura de uma forma lúdica. A Bienal do Livro Paraná ainda possui o projeto Visitação Escolar, para a participação de alunos do Ensino Fundamental das escolas municipais, estaduais e particulares da cidade. Especificamente para os estudantes da rede pública, o valor do ingresso será trocado por um voucher. Este poderá ser utilizado na compra de um livro nos estandes das editoras presentes. Para participar da iniciativa, as escolas devem enviar projetos pedagógicos, como a criação de um Clube do Livro na sala de aula. Uma maneira de formar isto é a aquisição de um livro diferente por cada estudante. Os professores terão acesso livre à bienal.

Serão 10 dias de evento, com expectativa de reunir 200 mil visitantes durante toda a bienal. A programação final, com as atrações especificadas, deve ser divulgado um mês antes da realização da Bienal do Livro Paraná. A Fagga Eventos também é responsável pelas bienais do livro de Minas Gerais e Bahia, além da do Rio de Janeiro, promovida há mais de duas décadas.

O diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba, Eduardo Pimentel Slaviero, afirma que a Bienal do Livro Paraná vai resultar em benefícios para a cidade. De acordo com ele, toda ação que incrementa as áreas literária e cultural da cidade vai contar com o apoio da Prefeitura de Curitiba, por meio da fundação. “Este é um evento muito importante para a cidade porque coloca Curitiba em evidência no cenário nacional. Esperamos que a bienal tenha sequência aqui em Curitiba, como acontece com a Bienal do Rio”, revela. A Fundação Cultural de Curitiba tem intensificado ações na área da literatura, com programas de incentivo à leitura e produção literária, mediante oficinas, cursos e palestras.

Serviço:

Bienal do Livro do Paraná

Data: 01 a 10 de outubro de 2010

Local: Estação Embratel Convention Center – Avenida Sete de Setembro 2.775 - Curitiba

Realização: Fagga Eventos, Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL, Câmara Brasileira do Livro – CBL. Mais informações: www.bienaldoparana.com.br

Fonte:
Simultaneidades.

Roberto de Souza Causo (Anjo de Dor)


artigo de Gian Danton para o Digestivo Cultural.

Até há pouco tempo existia um grande preconceito contra a literatura de terror brasileira. Acreditava-se que uma história passada em São Paulo, com personagens com o nome de Ricardo, não conseguiriam chegar aos pés dos livros escritos nos EUA, com personagens chamados, por exemplo, Richard. Era um preconceito que dominava a literatura do gênero, incluindo a ficção científica. Editoras colocavam banners em seus sites com os dizeres: "Não aceitamos originais de ficção científica" ou "Não aceitamos originais de terror".

Felizmente as coisas mudaram, e muito. O sucesso dos vampiros de André Vianco (Os sete) e da fantasia de Orlando Paes Filho (série Angus) abriu os olhos das editoras para os talentos nacionais. Graças a isso, podemos hoje ler obras como Anjo de dor (Devir, 2009, 212 págs.) de Roberto de Sousa Causo.

Roberto Causo é um dos mais importantes e respeitados nomes da literatura desse gênero, no Brasil. Começou a publicar profissionalmente no início da década de 1990, mesmo período em que organizou a I Convenção de Ficção Científica do Brasil, em Sumaré, São Paulo. O evento contou com a presença do badalado escritor Orson Scott Card. Roberto foi um dos classificados no Concurso de Contos Jerônymo Monteiro, promovido pela célebre Isaac Asimov Magazine, editada pela Record, que marcou época, influenciando toda uma geração de fãs e escritores. Colaborou com a revista publicando, além de contos, entrevistas e resenhas.

Desde então, tem publicado textos sobre o gênero de horror nos mais diversos veículos, de Playboy à Cult. Também é um conhecido organizador de coletâneas, como Dinossauria Tropicalia (GRD, 1994), Rumo à Fantasia (Devir, 2009) e Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Devir, 2008), além de ter publicado romances, como A corrida do rinoceronte (Devir, 2006).

Anjo de dor, sua mais recente publicação, mostra que o preconceito contra o horror nacional é apenas isso: preconceito. Causo começou a escrevê-lo em 1990, num barracão que foi o que restou da cozinha e do banheiro da casa de seus pais, derrubada pela prefeitura de Sumaré para ampliação de uma avenida. Antes dele, quem ocupava o lugar era um ex-pugilista chamado Ricardo. O texto era escrito de madrugada, em uma velha máquina Olivetti. O clima em que foi escrito certamente influenciou a obra. O ex-pugilista deu nome ao protagonista, um barman de uma casa noturna, e a história se passa toda em Sumaré.

Anjo de dor inicia com a chegada à cidade de uma cantora talentosa e bonita, mas repleta de mistérios, Sheila Fernandes. O responsável por pegá-la na rodoviária é justamente o barman Ricardo. Começa aí uma relação de paixão e desconfiança que desembocará no terror quando o passado da cantora a alcançar.

O romance tem óbvia influência de Stephen King (o filme Cemitério Maldito é inclusive citado em um trecho em que o protagonista vai ao cinema, e a primeira epígrafe do livro é justamente de King), inclusive no estilo, mais próximo do chamado dark fantasy (em que uma narrativa aparentemente realista vai se distorcendo até ser dominada por elementos fantásticos) do que do terror puro. No livro O cemitério maldito, de King, acompanhamos a vida normal de um médico, salpicada aqui e ali de elemento de terror, como um pesadelo, ou a história de um cemitério de animais de estimação, capaz de fazê-los renascer. O terror em si só começa muito lá na frente, quase no meio do livro, mas aí já estamos plenamente fisgados pela história, simpatizando com os personagens como se fossem vizinhos. King usa muito bem o realismo na primeira parte, para introduzir aquilo que os roteiristas de cinema chamam de suspensão de descrença: a partir de determinado ponto, o leitor acreditará em qualquer coisa.

Anjo de dor segue uma estrutura semelhante. A trama fantástica propriamente dita só começa na página 73. Até ali acompanhamos Ricardo em sua vida aparentemente contraditória de homem capaz de usar a violência a qualquer momento, mas, ao mesmo tempo, vegetariano.

Antes disso, há pequenos elementos de suspense, que deixam entrever o desenlace, como na página 50: "Fugindo. Sheila, aos gritos no salão superlotado, para os ouvidos de todos, dizia-lhe que estava fugindo. De quem, ou de quê?", que procuram manter o interesse. São poucos e o leitor mais apressado talvez largue o livro pela metade. Se persistir, encontrará uma trama envolvente, um thriller de perder o fôlego e um livro muito bem escrito.

O domínio da narrativa ajuda a manter o leitor. Frases como "O silêncio da cidade adormecida é o silêncio das histórias não contadas" lembram Alan Moore (que revolucionou o terror com Monstro do Pântano na década de 1980) e ajudam a manter o leitor enquanto a trama não engrena.

Uma curiosidade da história é a inclusão, na trama, de elementos de espiritismo. Esse talvez seja um diferencial do terror nacional. O Brasil é o único país em que o espiritismo fez sucesso como religião, talvez por conta das influências indígenas e negras. O brasileiro, mesmo o católico, acredita em comunicação com espíritos com uma naturalidade que não é encontrada em outros países, muito menos no racional EUA, lar da maioria dos escritores de terror de sucesso. O próprio King já disse que não acredita em espíritos e não tem nenhum interesse na comunicação com eles.

Roberto Causo parece não só acreditar em espíritos, como tem com eles uma relação de naturalidade kardecista. É como se o romance dissesse: o terror não está no mundo dos espíritos, mas no coração dos homens encarnados.

Anjo de dor é, portanto, um livro que não se prende a simplesmente copiar o terror norte-americano, embora, evidentemente, o autor tenha aprendido muito bem com ele. E, mais do que um bom livro de terror, é uma boa obra.

Fonte:
Digestivo Cultural. 22/02/2010

Retratos da Leitura revela que brasileiro está lendo mais



O brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Este é um dos principais indicadores a que chegou a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope Inteligência. O estudo constatou que somente a leitura de livros indicados pela escola, o que inclui os didáticos, mas não só, chega a 3,4 livros per capita. A leitura feita por pessoas que não estão mais na escola ficou em 1,3 livro por ano.

Em algumas regiões, esse número é ainda maior, como é o caso do Sul, onde foram apurados 5,5 livros lidos por habitante/ano. Em seguida, vem a região Sudeste (4,9), o Centro-Oeste (4,5), o Nordeste (4,2) o Norte (3,9). Os leitores lêem mais nas grandes cidades (5,2 livros por habitante/ano) do que nas pequenas localidades do interior (4,3 em municípios com menos de 10 mil habitantes). A pesquisa também confirma que as mulheres lêem mais que os homens – 5,3 contra 4,1 livros por ano. Os jovens leitores ganham destaque na pesquisa. O público entre 11 e 13 anos chega a ler 8,6 livros por ano. De 5 a 10 anos, lêem 6,9 e de 14 a 17 anos o volume é de 6,6 livros por ano.

Essa média sobe entre os que possuem maior escolaridade. Entre aqueles que possuem formação superior, ela é de 8,3 livros/ano. Esse número é de 4,5 livros para quem tem ensino médio completo, 5 para quem cursou entre 5ª e 8ª série do ensino fundamental e 3,7 para quem tem até a 4ª série.

A Retratos da Leitura no Brasil também constatou que, apesar dessa média de leitura, os brasileiros não compram muitos livros: 1,1 livro adquirido por ano (as compras no mercado, por sinal, aparecem empatadas com os empréstimos particulares no quesito principal canal de acesso aos livros). O Brasil possui 36 milhões de compradores de livros e, entre eles, a média é de 5,9 livros exemplares adquiridos por ano.

Por se tratar de uma nova metodologia desenvolvida pelo Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc/Unesco), que incluiu crianças e adolescentes com menos de 15 anos e pessoas com menos de três anos de escolaridade, os novos números não podem ser comparados com aqueles apurados na primeira edição, em 2000. Para efeito de estudo sobre o comportamento leitor da população, o Ibope separou uma amostra semelhante (população acima de 15 anos, com mais de três anos de escolaridade e que leu pelo menos um livro nos três meses anteriores). Nesse grupo – que não dá para ser extrapolado para o conjunto da população – o índice cresceu de 1,8 para 3,7 por habitante.

Fonte:
Jornal Guatá – Cultura em movimento. Foz de Iguaçu.

Helena Límia (No Limiar da Poesia)



O que deseja o poeta?

Viver de poesia ou viver a poesia?

A página da poesia está tão imensa que dá voltas e voltas no mundo e o que resta ao poeta de hoje?.

Qual a motivação do poeta além da expressão do seu ser com plenitude? o papel do poeta na sociedade sempre foi ambíguo assim como o papel da arte em si; porém "ser poeta" sempre foi um caso a ser discutido. A palavra é uma forma absoluta de expressão, um meio que justifica um fim fora da sua atuação poética por isso um ato além do ato de escrever versos.

Nesse sentido, cabe ao poeta dialogar com o mundo ou apenas consigo mesmo o que também é justo em todos os aspectos, mas é isso queremos realmente? Fechar-nos numa porta "de" dentro da poética? Trancafiar-nos num "conhecimento" específico que na prática sem prática é tão banal quanto qualquer outro por quê?

O poeta é um ser específico por natureza, alguém de alcance incalculável - todos os artistas o são alguém diria - mas eles abusam de algo que é de propriedade de ninguém mas onde a vida entregou ao poeta a bandeira. Mas do que uma razão íntima em sua essência o poeta tem a razão de trazer a poesia à luz mesmo que essa seja escura. O poeta é a poesia?

O poeta é o ato

A poesia é a razão desse ato.

Nessa declaração traiçoeiramente poética não basta afirmar que a poesia está em tudo e em todos
se nossa poesia não está em tudo nem para todos. Não basta escrever? diriam... Basta apenas sonhar?

A poesia só encontra a razão de ser depois que mostrada, lida, gostada ou odiada, ela não é um ato isolado num subsolo imaginário do poeta ela é nossa carta dizendo...

SOMOS TODOS POETAS!

Fonte:
Poetas de Marituba.

Pedro Du Bois (Ao Poeta)


AO POETA

Talvez ao poeta baste o ritmo das palavras
em desafios murmurantes e os gritos explosivos;
o desafio do andor carregado e a luz introduzida
sob o manto; ser o ocorrido e a versão descontrolada
do início: indícios não bastam ao poeta
que continua e termina e recomeça.

Talvez ao poeta baste a incompreensão
dos ares satisfeitos dos bonecos alçados
à condição de estetas; profetas
em voz alta ensaiam temas preferidos
aos tontos espíritos desnecessários.

Talvez baste ao poeta a sensação de antes
de a matéria ser solidificada e flutue em asas
descobertas aos ventos de solidário espaço.

Talvez ao poeta baste o atentar sereno
das noites antagônicas e os dizeres gravados
nos panfletos que são entregues anônimos.

Talvez baste ao poeta o fruir da fruta ao gosto
menos azedo das notícias participando mortes
antes do tempo (todo o tempo é antes) previsto
na antecipação frígida das esperas.

Talvez ao poeta baste levantar a mão e pedir
ao garçom a bebida de sempre, a comida
deixada sobre o prato, o distrato entre amigos
após a ceia: cada um em seus afazeres.

Talvez ao poeta baste saber-se nu diante da hora
acertada para a volta; ser da revolta o ânimo
e da crueldade explicitada em nomes o anônimo
revoar das aves; sobre as aves ao poeta cabe
recriminar a mão que oferece o pouco.

Talvez baste ao poeta ser poeta. Adivinhar no texto
a descoloração do átimo, o pátio de desertadas árvores
infrutíferas; o desfolhar do outono, o renascer
primaveril das flores em pétalas abertas.

Talvez ao poeta baste discorrer em mãos agitadas
ao vazio sobre a perdição, a contrição, a educação
adulterada em números e cientificamente expor
ao todo o menos; ao menos cabe o protesto.

Talvez ao poeta baste a consecução do plano
invertido em sonhos de descidas aos infernos
particularizados no extrato do infortúnio;
ser seu próprio oposto de reescritas notas
no esforço desconcentrado ao nada.

Talvez baste ao poeta o anúncio do amor distanciado
em dias, meses, anos e décadas: o reencontro
no aperto sentido – o grafite quebrando a ponta –
como lâmpada queimada: a tortura acompanhada
à porta pelo degredo do segredo sendo revelado.

Talvez ao poeta baste o reconhecimento da presença
e a indiferença rente ao caminho não percorrido;
o banco da praça ocupado pelo corpo despreparado
em ocorrências e a decorrente história mal contada.

Talvez ao poeta baste olhar o perto e retirar o longe
desconhecido em físicos acidentes: a geografia
estanque do planeta; o lento deslocar das placas.

Talvez baste ao poeta a necessidade da urgência
intercalada ao langor do isolamento. Saber ficar
estático e revolver as cinzas em busca do acidente.

Talvez ao poeta baste alisar o pelo do animal
sobre o colo deslocado, descobrir ensinamentos
simiescos ensimesmados aos ensinamentos.

Talvez ao poeta baste possuir a chave enferrujada
da porta secundária por onde entram minotauros
instalados nas peças lendárias dos amantes.

Talvez ao poeta baste realizar o sonho da criança
perdida em crescimento: recuar ao tempo anímico
das paredes sendo preenchidas em riscos
produzindo imagens do dia acondicionado.

Talvez baste ao poeta se desvencilhar da hora
categórica dos negócios, perder o prumo, o rumo,
desviar das pedras rolantes dos embustes; salvar
a pele do desconsolo e o tédio dos amantes.

Talvez ao poeta baste se dizer distante o tanto
permitido, perto o quanto possuir de forças
para se entranhar nas notícias repetidas.

Talvez ao poeta não baste o descobrimento
de novas terras, exija reconhecer a profundeza
espacial dos mares e o executar da sinfonia
dos cometas: em suas caudas, sabe o poeta,
trafegam poeiras estelares.
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Fonte:
Colaboração do Autor

Elizabeth Fonseca (Ser Poeta)


Quem quiser no pensamento
De um poeta viajar,
Conhecerá a serenidade da lua.
Conhecerá do mundo os verdores,
Terá sai alma hipnotizada de amores.

Ser poeta é ter um realejo na alma,
Marcando presença por onde passar.
É cantar o amor em poemas e versos.
É verter sentimentos latentes a um altar,
Onde Deus é amor, a paz do universo.

O amor que o poeta suplica e chora
É um lindo e rubro botão de rosa,
Que em lágrimas se abre purpúreo,
Embelezando a tristeza, a dor que aflora,
Carregando, no peito, a paixão vida afora.

Ser poeta é ver num embrião
O doce sabor que a vida tece.
É reverdecer o coração de esperança,
Quando as flores emurchecidas fenecem.
É acreditar na utopia, tendo o coração em prece.

Ser poeta é justificar a dor.
É ser dono da Terra e do Céu.
É bordar as letras em louvor,
Sentindo na alma um alento.
Ser poeta é somente ser dono do Amor!
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Fonte:

União Brasileira dos Escritores - Mato Grosso do Sul

terça-feira, 16 de março de 2010

III Concurso Literário Internacional Letras Premiadas



Autora homenageada:
Professora e Escritora Ilda Maria Costa Brasil

Prêmio de incentivo à leitura e produção textual
Poesia: 1º lugar – R$1.000,00
Crônica: 1º lugar - R$ 1.000,00
Conto: 1º lugar - R$ 1.000,00

Contribuição para cada texto:
( ) Máster: poesias, Contos e Crônicas - R$ 10,00
( ) Estudantes até 21 anos: Somente Poesia - R$ 5,00

Tema Livre – Textos inéditos

Participam deste Concurso textos em português, espanhol e italiano
enviados por autores residentes em diversos países.

1. Endereço: Envie uma cópia do texto(s), uma fotografia e teu currículo para:
gaya.rasia@hotmail.com ou alpasxxi@hotmail.com
Ou: ALPASXXI - Rua Benjamin Constant, 71 – Centro
Cruz Alta – RS – 98025-110

2. Prazo até : Até 30.04.09

3. Contribuição: Cheque nominal a Rozelia Scheifler Rasia ou depósito CC 35 0242960-0 Ag. 0190 – Banrisul ou Banco Itaú - Ag 0335 - Cc 30022- 4.

3.1 Os bancos estaduais fazem remessa para o Banrisul.

3.2 Remessa do exterior: MoneyGran ou Western Union.

4. Diplomas: Diploma de Destaque Literário para os dez primeiros textos classificados.

5. Resultados Os resultados serão divulgados no BLOG da ALPAS XXI em maio de 2009 e em vários jornais de grande circulação.

6. Premiação: 1º lugar em cada categoria: R$1.000,00

7. Evento de Premiação dos classificados com Certificado de Destaque Literário

8 Os textos classificados poderão participar da Coletânea Cooperativada ‘Olhos andarilhos’
Data: 23 de outubro de 2009 em Cruz Alta – RS.

9 Características: Tema Livre - Textos inéditos.

10 Limite de textos: 4 textos por categoria.

Obs: Estão isentos de contribuição os autores e alunos que não puderem pagar.

Instruções:
I – Sugerimos aos autores que registrem seus textos na Biblioteca Nacional.

II - Formatação do texto em A4; fonte 12, arial ou times.

III - Solicitamos criteriosa correção gramatical: ortografia, concordância e sintaxe.

IV - Os textos participantes do BLOG são expressamente excluídos dos Concursos.

V – Estudantes – Somente poesia: Indique a série, o grau, a escola ou universidade (nome e endereço).

Vamos imprimir uma cópia de cada texto concorrente para o Memorial da Cultura ALPAS XXI com os dados do autor e três cópias para os jurados sem identificação.

O Currículo e a fotografia irão para o Memorial da Cultura ALPAS XXI e Galeria de autores, posteriormente serão usados para a divulgação dos vencedores. O envio da fotografia não é obrigatório.

Fonte:
Movimento de Poetas e Trovadores

segunda-feira, 15 de março de 2010

Rodrigo Leste (Quero Estar em Suas Mãos)


Já faz uns cinco ou seis anos que não saio desta estante; às vezes perco a conta. Ou seriam seis ou sete anos?... Você que começa a ler esta minha pequena história talvez nunca tenha parado para pensar na dura realidade dos livros sem leitor. Não quero aborrecê-lo com queixas inócuas, mas é da natureza dos seres da minha espécie, os livros, a vontade, o incontido desejo de servir a vocês, os humanos. Esta é a nossa razão de ser, de existir. Ser esquecido em uma estante por anos a fio é a maior frustração que pode ocorrer na vida de um livro. E olhe que não devia estar me lamentando tanto: meu vizinho, “O Corcunda de Notre Dame”, comentou outro dia que já deve ter bem uns quinze anos que ninguém o retira da estante. Melhor sorte tem outro vizinho, o Senhor Brás Cubas: suas Memórias Póstumas foram solicitadas nas listas de leituras obrigatórias de alguns vestibulares e ele não para mais no lugar, sempre é retirado por jovens leitores.

— As traças me apavoram! É terrível, à noite, quando as luzes são apagadas e ouvimos, aterrorizados, o monótono e contínuo ruído do movimento de suas mandíbulas mastigando indefesas páginas. A monotonia de viver confinado às estantes produz melancolia, enfado. Não poucas vezes, quando consigo mergulhar em um sono mais profundo, sonho que fui tomado por empréstimo por algum leitor e saio outra vez para o mundo exterior, vendo-me livre dos muros desta masmorra em que se converte a biblioteca para os que são abandonados nas estantes. Que alegria ver de novo a luz do sol! Que prazer compartilhar a vida, o intenso e caloroso pulsar do mundo nas mãos de um leitor ou de uma leitora. Que delícia percorrer ruas, praças, parques, entrar na casa dele, ir aos lugares aonde vai e ser manuseado por ele ou por ela. Nada é melhor para um livro do que a sensação de ter na pele de suas páginas os olhos atentos de uma leitora. Nestes mágicos momentos, desfruto da grata satisfação de sentir que me torno um manancial de sonhos e desejos, indagações e dúvidas, divagações e certezas. Delicio-me quando cismo com ele à beira do abismo da existência e depois voamos juntos com as asas da imaginação das histórias que carrego no meu corpo.

Mas pior ainda do que as traças (posso afirmar que este medo aflige também aos meus semelhantes) é ser degradado à condição de um reles xerox ou ser aviltado pelos nefastos resumos que pululam na internet e se arvoram a traduzir em umas poucas e mal construídas linhas toda a complexidade de uma obra que algum escritor levou, às vezes, anos para elaborar. Estes dois sujeitos, xerox e resumo, são inimigos mortais nossos, os livros. É a danação da nossa espécie, é a traição maior que pode ser cometida contra os livros verdadeiros que devem ser lidos de forma integral em suas versões originais. Não quero me meter a herói, mas em nome de todos os livros, declaro guerra aos clones! E creio poder falar também em nome de todos os escritores, poetas, ilustradores e por que não, dos leitores conscientes que sabem que é preciso preservar os livros originais! Para encerrar, gostaria de pensar que em um futuro próximo não venha ser só um sonho voltar a ter leitores em profusão. Quero acreditar que voltaremos a fazer parte da vida de pessoas de todos os tipos e idades que vão encontrar neste “admirável mundo novo” dos dias de hoje, com toda a sua complicada modernagem, a paz, o sossego, na simples companhia de um bom livro.

— Humanos: somos seus cúmplices eternos, sempre solidários; nossa missão é estar prontos e dispostos para ser abertos e nos oferecer inteiramente aos que nos queiram. Nossa entrega é completa, sem restrições. Querida amiga, querido amigo, quero estar em suas mãos!
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RODRIGO LESTE foi co-editor de jornais alternativos que na década de 70 fizeram história em Minas como “Gol-a-Gol”, “Vapor” e “Circus” e é poeta, ator e produtor cultural, atuando no teatro desde 1974.

Fonte:
Suplemento Literário de Minas Gerais. Novembro de 2009. n. 1326.