terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Alberto de Oliveira (Caderno de Poesias)


O ÍDOLO

Sobre um trono de mármore sombrio,
Em templo escuro, há muito abandonado,
Em seu grande silêncio, austero e frio
Um ídolo de gesso está sentado.

E como à estranha mão, a paz silente
Quebrando em torno às funerárias urnas,
Ressoa um órgão compassadamente
Pelas amplas abóbadas soturnas.

Cai fora a noite - mar que se retrata
Em outro mar - dois pélagos azuis;
Num as ondas - alcíones de prata,
No outro os astros - alcíones de luz.

E de seu negro mármore no trono
O ídolo de gesso está sentado.
Assim um coração repousa em sono...
Assim meu coração vive fechado.

(Canções românticas, 1878.)

VASO GREGO

Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

(Sonetos e poemas, 1886.)

VASO CHINÊS

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

(Sonetos e poemas, 1886.)

A JANELA E O SOL

"Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.

Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende...
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende."

E, fechando mais, zelosa e firme,
Respondia a janela: "Tem-te, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me!

E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado,
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!"

(Sonetos e poemas, 1886.)

ASPIRAÇÃO

Ser palmeira! existir num píncaro azulado,
Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;
Dar ao sopro do mar o seio perfumado,
Ora os leques abrindo, ora os leques fechando;

Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores
Do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,
E no azul dialogar com o espírito das flores,
Que invisível ascende e vai falar ao sol;

Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa,
Dilatar-se e cantar a alma sonora e quente
Das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa,
Dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;

E juntando a essa voz o glorioso murmúrio
De minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus,
Ir com ela através do horizonte purpúreo
E penetrar nos céus;

Ser palmeira, depois de homem ter sido! est’alma
Que vibra em mim, sentir que novamente vibra,
E eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;

E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques treme,
e estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó,
Tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme,
E, como um pavilhão, velo lá em cima eu só

Que bom dizer então bem alto ao firmamento
O que outrora jamais - homem - dizer não pude,
Da menor sensação ao máximo tormento
Quanto passa através minha existência rude!

E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem,
Quando aos arrancos vem bufando o temporal,
- Poeta - bramir então à noturna bafagem
Meu canto triunfal!

E isto que aqui não digo então dizer: - que te amo,
Mãe natureza! mas de modo tal que o entendas,
Como entendes a voz do pássaro no ramo
E o eco que têm no oceano as borrascas tremedas;

E pedir que, ou no sol, a cuja luz referves,
Ou no verme do chão ou na flor que sorri,
Mais tarde, em qualquer tempo, a minh’alma conserves,
Para que eternamente eu me lembre de ti!

(Versos e rimas, 1895.)

SOLIDÃO ESTRELADA

Eu sou da plaga infinita
A solidão estrelada.
Homem, cuja alma se agita
Sempre inquieta e atribulada,

Que tens? que dores consomem
O teu coração que, assim,
Estacas os olhos, homem,
Prendendo-os, atento, em mim?

Invejas-me acaso? ouviste
Que posso, alma desditosa,
Tornar-me feliz, eu, triste!
Eu, solidão misteriosa!

Vem até mim! vem comigo
Estupidamente olhar
Este quadro gasto e antigo
De nuvens, de estrelas, de ar...

Vem compartir o cansaço
Que ab aeterno, sem remédio
Me faz no enfadonho espaço
Bocejar todo o meu tédio.

Como enfara o comprimento
Desta extensão que produz
Os astros no firmamento,
Nos astros a mesma luz!

E hei de até quando estender-me,
Triste, monótona e vasta,
Sem que em mim se agite o verme
Do tempo, que tudo gasta?

Solidão, silêncio enorme,
Eis tudo o que sou. Porém,
Se amas a dor que não dorme,
A dor sem limites, - vem!

(Poesias, 2a série, 1906.)

O PIOR DOS MALES

Baixando à Terra, o cofre em que guardados
Vinham os Males, indiscreta abria
Pandora. E eis deles desencadeados
À luz, o negro bando aparecia.

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia,
Todos os Vícios, todos os Pecados
Dali voaram. E desde aquele dia
Os homens se fizeram desgraçados.

Mas a Esperança, do maldito cofre
Deixara-se ficar presa no fundo,
Que é última a ficar na angústia humana...

Por que não voou também? Para quem sofre
Ela é o pior dos males que há no mundo,
Pois dentre os males é o que mais engana.

(Poesias, 2a série, 1906.)

CHEIRO DE ESPÁDUA

"Quando a valsa acabou, veio à janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Eram os ombros, era a espádua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixão, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essência dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite àquela espádua linda!"

(Poesias, 3a série, 1913.)

SONETO

Agora é tarde para novo rumo
Dar ao sequioso espírito; outra via
Não terei de mostrar-lhe e à fantasia
Além desta em que peno e me consumo.

Aí, de sol nascente a sol a prumo,
Deste ao declínio e ao desmaiar do dia,
Tenho ido empós do ideal que me alumia,
A lidar com o que é vão, é sonho, é fumo.

Aí me hei de ficar até cansado
Cair, inda abençoando o doce e amigo
Instrumento em que canto e a alma me encerra;

Abençoando-o por sempre andar comigo
E bem ou mal, aos versos me haver dado
Um raio do esplendor de minha terra.

(Poesias, 4a série, 1928.)

VESTÍGIOS DIVINOS

(Na Serra de Marumbi)

Houve deuses aqui, se não me engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.

Nos arredores, na montanha ou plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.

Por toda esta extensíssima campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.

Os convivas pagãos ainda hoje os topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.

(Poesias, 4a série, 1928.)

DENTRO DO SONHO

Tanto de sonho lhe hão chamado a vida
Que por sonho eu a tenho e me convenço
Que tudo nela é sonho, breve ou extenso,
Pouco importa, querida.
Foi sonho aquela vez primeira que nos vimos,
A última sonho foi; sonho o primeiro abraço
Em que os dois nos unimos;
Sonho o dia em que tu entraste por meu braço
Num templo, e logo após na casa que foi nossa;
Sonho o ver-me então moço e o ver-te também moça...
Vinte anos todos de felicidade!
E de improviso tudo acaba, tudo...
Mas esta dor sem fim, esta saudade,
Aquele golpe rudo,
Tredo e medonho,
- Devo-me conformar - não passou tudo
De um sonho que sonhei dentro do grande Sonho.

(Poesias, 4a série, 1928.)

A CASA DA RUA ABÍLIO

A casa que foi minha, hoje é casa de Deus.
Traz no topo uma cruz. Ali vivi com os meus,
Ali nasceu meu filho; ali, só, na orfandade
Fiquei de um grande amor. Às vezes a cidade

Deixo e vou vê-la em meio aos altos muros seus.
Sai de lá uma prece, elevando-se aos céus;
São as freiras rezando. Entre os ferros da grade,
Espreitando o interior, olha a minha saudade.

Um sussurro também, como esse, em sons dispersos,
Ouvia não há muito a casa. Eram meus versos.
De alguns talvez ainda os ecos falaram,

E em seu surto, a buscar o eternamente belo,
Misturados à voz das monjas do Carmelo,
Subirão até Deus nas asas da oração.

(Poesias, 4a série, 1928.)

A ALMA DOS VINTE ANOS

A alma dos meus vinte anos noutro dia
Senti volver-me ao peito, e pondo fora
A outra, a enferma, que lá dentro mora,
Ria em meus lábios, em meus olhos ria.

Achava-me ao teu lado então, Luzia,
E da idade que tens na mesma aurora;
A tudo o que já fui, tornava agora,
Tudo o que ora não sou, me renascia.

Ressenti da paixão primeira e ardente
A febre, ressurgiu-me o amor antigo
Com os seus desvarios e com os seus enganos...

Mas ah! quando te foste, novamente
A alma de hoje tornou a ser comigo,
E foi contigo a alma dos meus vinte anos.

(Poesias, 4a série, 1928.)
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Alberto de Oliveira (1857-1937)


Antônio Mariano de Oliveira (Palmital de Saquarema, RJ 28 de abril de 1857 — Niterói, 19 de Janeiro de 1937), brasileiro da região fluminense, foi um poeta, professor, farmacêutico, secretário estadual de educação, membro honorário da Academia de Ciências de Lisboa e imortal fundador da Academia Brasileira de Letras. Adotou o nome literário Alberto de Oliveira no livro de estréia, após várias modificações dispersas nos jornais.

Seu pai, mestre-de-obras, transferiu residência para o município de Itaboraí, onde construiu o teatro. De origem humilde, Antônio foi, seguindo o irmão mais velho, à Capital da Província, trabalhar como modesto vendedor. Ambos moravam num barracão aos fundos da casa comercial do Sr. Pinto Moreira, em Niterói, vizinhos do pintor Antônio Parreiras, ainda anônimo, com 17 anos, que lembra, ancião, o contato com o "moço" "de andar firme e compassado".

Diplomou-se em Magistério e Farmácia, cursando Medicina (vindo a conhecer Olavo Bilac), até o terceiro ano, mediante grande esforço pessoal, o que lhe rendeu emprego na Drogaria do "Velho Granado". Também abriu um colégio em Niterói.

Após a glória literária, destacou-se na política como Oficial de Gabinete do primeiro Presidente de Estado/RJ eleito José Thomaz da Porciúncula (1892-1894), do Partido Republicano Fluminense, marcadamente prudentista e antiflorianista [1], com a pasta de Diretor Geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro, equivalente ao atual Secretário de Estado de Educação. Durante a transferência da Capital do Estado de Niterói para Petrópolis (1894), devido às insurreições e revoltas pró e contra a Proclamação da República, permaneceu na Cidade Imperial Serrana, já que a excelência de seu trabalho o manteve no cargo durante o mandato de Joaquim Maurício de Abreu (1894-1897). Foi Professor de Português e Literatura no Colégio Pio-Americano (1905) e na Escola Dramática e Escola Normal (1914), dirigida por Coelho Neto.

Participou da famosa "Batalha do Parnaso", ocorrida no Diário do Rio de Janeiro entre 1878 e 1881 contra o Ultra-romantismo piegas e já desgastado, junto com Teófilo Dias, Artur Azevedo e Valentim Magalhães, resgatando as origens do Romantismo dialogadas com aqueles novos tempos. Reunidos em torno de Artur de Oliveira, num café da Rua do Ouvidor, eram integrantes da vanguarda Idéia Nova, ao lado de Fontoura Xavier, Carvalho Jr. e Affonso Celso Jr., que lhe prefaciou o Livro de Ema (deslocado da 1a. para a 2a. série das Poesias). Inspirados na Arte Moderna da França — feita por Théophile Gautier, Théodore de Banville, Charles Baudelaire e Leconte de Lisle, os "Tetrarcas" do Parnasianismo —, e, secundariamente, em Sully Prudhome e José-Maria de Heredia, fizeram todos a maior revolução na poesia brasileira até então, importantíssima para a consolidação da Modernidade do Brasil, no tocante à literatura, a partir da eleição do Novo como valor e da Ruptura como sistema, tradição.

Envolveu-se com os fundadores da inovadora Gazeta de Notícias, Manuel Carneiro e Ferreira de Araújo, publicando poemas posteriormente reunidos no livro Canções Românticas (prefácio de Teófilo Dias) (1878) e conhecendo neste jornal o amigo Machado de Assis, que o citou no famoso artigo "A Nova Geração" (Revista Brasileira, 1879) bem como lhe prefaciou Meridionais (1884), ainda financiadas pelo jornal, livro-chave para a Idéia Nova da Nova Geração, só mais tarde referida conceitualmente, "rotulada" ou esquematizada como "estilo parnasiano".

Decorrido apenas um ano, publica, sob encomenda dos leitores, Sonetos e poemas (1885), consagrando-se junto ao público, o que lhe rende um prefácio de T. A. Araripe Jr. ao livro seguinte, Versos e rimas (1895), títulos talvez alusivos a Sonetos e rimas (1880), de Luís Guimarães Jr., também Jovem Poeta, como eram conhecidos esses revolucionários em prol da poesia autêntica sem os clichês românticos. Depois de quatro livros publicados, foi convidado por Machado de Assis para a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, ocasião em que se vê a longevidade do convívio entre o romancista e o poeta.

Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, formou a tríade mais representativa da Idéia Nova da Nova Geração, hoje chamado Parnasianismo, reunida em sua casa no bairro Barreto, Niterói/RJ, à época capital de província, e depois no seu famoso Solar da Engenhoca, sito à mesma cidade, ou no bairro Neves, São Gonçalo/RJ, residência anterior. Impecável na métrica e correto na forma, sofre uma vaia que parece ainda ecoar desde a Semana de Arte Moderna de 1922, na voz de críticos literários fiéis à idéia modernista. Mário de Andrade, rancoroso pela rejeição dos parnasianos ao seu livro parnasiano Há uma gota de sangue em cada poema (1917), se empenha em retaliar o velho estilo, cuja principal vítima era o poeta de Saquarema, como se vê nos ensaios "Mestres do Passado", publicados no Jornal do Commercio em 1921 e na "Carta Aberta a Alberto de Oliveira", publicada na Revista Estética no. 3, em 1925.

Nos últimos anos de sua vida, proferiu conferência "O Culto da Forma na Poesia Brasileira", (1913, Biblioteca Nacional; 1915, São Paulo) e ainda foi homenageado pelo Jornal do Commercio, em 1917. No mesmo ano, recebeu Goulart de Andrade na Academia Brasileira de Letras. Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, pelo concurso da revista Fon-Fon (1924), título desocupado desde a morte de seu discípulo e amigo Olavo Bilac, falecido em 1918. Em 1935, prestigia o Cenáculo Fluminense de História e Letras, com sua gloriosa presença. Sem dúvida, o Poeta-Professor é "Andarilho Fluminense", semeando Lirismo e Educação em todos os lugares por que passou: Saquarema, Rio Bonito, Itaboraí, Niterói, São Gonçalo, Petrópolis, Campos e Rio de Janeiro (no seu Estado natal), além de Araxá, São Paulo, Curitiba.

Seus incontáveis versos falam da pujança da natureza fluminense e dos encantos da mulher brasileira, ambas freqüentemente evocadas pela memória. Os temas da Grécia Antiga, que caracterizam o Parnasianismo de moldes franceses, formam uma pequena minoria da obra, em torno de 10%.

Obras
Canções Românticas. Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1878.
Meridionais. Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1884.
Sonetos e Poemas. Rio de Janeiro: Moreira Maximino, 1885.
Relatório do Diretor da Instrução do Estado do Rio de Janeiro: Assembléia Legislativa, 1893.
Versos e Rimas. Rio de Janeiro: Etoile du Sud, 1895.
Relatório do Diretor Geral da Instrução Pública: Secretaria dos Negócios do Interior, 1895.
Poesias (edição definitiva). Rio de Janeiro: Garnier, 1900.
Poesias, 2ª série. Rio de Janeiro: Garnier, 1905.
Páginas de Ouro da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Garnier, 1911.
Poesias, 1ª série (edição melhorada). Rio de Janeiro: Garnier, 1912.
Poesias, 2ª série (segunda edição). Rio de Janeiro: Garnier, 1912.
Poesias, 3ª série Rio de Janeiro: F. Alves, 1913.
Céu, Terra e Mar. Rio de Janeiro: F. Alves, 1914.
O Culto da Forma na Poesia Brasileira. São Paulo: Levi, 1916.
Ramo de Árvore. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1922.
Poesias, 4ª série. Rio de Janeiro: F. Alves, 1927.
Os Cem Melhores Sonetos Brasileiros. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1932.
Poesias Escolhidas. Rio de Janeiro: Civ. Bras. 1933.
Póstuma. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1944.

Fontes:
Wikipedia
Releituras

Luís Garcia (Estranha Beleza )

“Por entre os passos que se julgam, não há mais sentido de justiça que o próprio caminho que se decidiu descobrir”

A manhã surgira como num primeiro pequeno ritual. Aquele que atinge o auge da sua beleza quando o próprio sol dá ao dia a imagem que descobre no simples facto de não existir mais uma desculpa que possa inventar, para não oferecer o seu empurrão pessoal ao dia que está quase para nascer. Naquelas paredes cheira a vingança! A porta viaja de ponta a ponta numa melodia acesa no belo que pode existir em ouvir dobradiças oxidadas. Cada pedaço de som mostra o atrevido quanto baste, para ofertar aqueles momentos em que de forma inexplicável sentimos o vigor de um arrepio, como se fossemos resgatados à letargia de um momento e lançados de novo no caos da realidade.

Uma densa nuvem emerge de meia dúzia de euros mal gastos em tabaco de qualidade duvidosa. Esconde também aproximadamente meia dúzia de recordações calculadas e mal perdidas; num hall que se espera, seja só já mais de saída. Por momentos, arrancado à existência mergulhada numa passividade inebriante, Patrício Euclides, reconduz a frequência de um nunca mais. Descobre cada palavra imposta não se sabe muito bem quando e encontra cada sentido como uma decisão contundente, fingida e extremamente correcta.

De novo o hall, que é entrada também. Antecede o que se pode chamar de sala. Uma mesa, a cadeira que ampara quase pateticamente o traseiro pesado do Patrício e uma dezena mal contada de papéis riscados, a fingir um chão. Estranha beleza esta, a que pode existir num local, que já tratou a porcaria por outro nome mais ordinário.

Patrício Euclides teima em descobrir a sala. Revela as velocidades que os seus olhos verde melão perdem em contemplação. Como se uma qualquer taça velha e mal cheirosa, uma imitação barata de cristal francês, pudesse arrancar da penumbra uma garrafa meia vazia e o espaço restante que se consegue inventar para sonhar acompanhasse a viagem daquela solução oxigenada.

Os lábios que já beijaram o amor do Patrício, soltam pequenas palavras inodoras. A embriaguez lava o sentido que qualquer outra, interpretação, procurasse encontrar por entre o hálito impregnado de uma aguardente que melhor ele usara para sarar a ferida que teima em enfeitar-lhe de escarlate aquele joelho demasiadas vezes flectido.

O Patrício sabe o significado daquela sensação. É assim como se pudesse repetir uma palavra, no segundo que se segue à hora de ir embora e saber de cor a resposta que ouviu mais vezes. Porque foi ele mesmo que a inventou, e a coragem para fazer aquela pergunta sabe ao mesmo amargo que fere agora o seco que arrasta nos seus lábios.

Segura com medo. Treme bastante ao ouvir os sons que não consegue compreender e descobre nos apêndices dos seus braços, o refúgio que procura no vazio. Talvez mesmo o abraço que se foi adiando. Nada do que tem hoje lhe parece melhor do que aquilo que pode sonhar para possuir, quando amanhã for aquele momento para saber tudo o que poderia ter conquistado. Das mãos que então tremerem, os olhos verdes dificilmente poderão julgar qualquer movimento que não compreenderem, para além de uma necessidade absurda de sentir o sabor de um abraço.

No verde dos seus olhos, haverá quem jure vê-los grandes, como se pudessem rivalizar duas nozes, perdidos e inflamados, como um grito quando desvenda o mistério da tristeza que se encontra há demasiado tempo numa ressaca que se foi evitando.

Os olhos verdes despertam paixão. Também sabem dizer quando é tempo de ficar sozinho e as mãos ainda a tremer e a cabeça que não para de pender, faz toda a vontade às pernas que seguem um caminho inventado de passos improvisados. Lá fora apenas uma brisa que imite os seus pés pode correr na escuridão encontrada e roubada às luzes da cidade e da sua solidão. Não existe uma única rua que se possa confundir com a sua e ao primeiro vómito, as luzes que se confundem nos olhos que não se querem agarrar à estrada que se decidiu arrastam-se para uma queda que se torna inevitável.

Aperta o que há de seu entre os braços que conhece bem demais, pelas marcas que foi juntando. Uma a uma, como se cada beijo no asfalto fosse premiado com uma recordação para exibir com vaidade. Recebe o ar fresco da madrugada como se fosse uma medalha e contempla as luzes que por fim se vão tornando recordações. Como se procurasse uma metade de amor-próprio que pudesse exibir orgulhoso no caminho que fingisse saber para casa.

Invade-se de uma vontade de sentir um toque em todo o seu corpo. Assim como se houvesse uma capacidade de amar que estivesse escondida, a uma distância abaixo da sua epiderme. Necessita desesperadamente de um banho. Inventa um mar tão conveniente, rebola pela areia da praia com as dunas do esquecimento por cenário e adormece os olhos já salgados demasiadas vezes. E quase sonha. Desperta. Como se houvesse no seu sonho sensações que o queimassem, o que resta da garrafa que chamou de sua ao sair daquele bar oferece-lhe a companhia de que precisa para o único encontro que terá até ao fim daquela noite. A música. Quase pode ouvir ao partilhar o ultimo momento de prazer que se pode descobrir no fundo de uma garrafa, no vício que há nas suas mãos, um segundo de uma alegria imensa que não se pode compreender.

O vento volta a soprar, o carrasco das longas estradas empoeiradas, finge-se de um impulso como se estivéssemos a falar de novidades e uma nova história nascesse deste momento quase hipócrita. Quem ouve o vento sabe que não o pode compreender com a facilidade daqueles que conhecem o seu toque. Quem conhece o vento no auge da madrugada tem apenas que descobrir que não se pode esconder. Aqueles que sabem a verdade escondem a dor nas garrafas que vão amando. Os outros ajeitam o corpo entre o quente e a segurança que se pode encontrar no abraço que se rouba ao segurar a mão de quem está junto e partilha o leito. Como se a verificar da possibilidade do assalto da solidão. Quem ouve assim o vento simplesmente volta as costas e volta a dormir.

O Patrício sabe quem é. Sabe de que lado do seu sonho escuta ele aquele vento. O som seco de uma porta que se fecha acorda o que ainda se pode traduzir por alerta, num ínfimo espaço do seu ser. O som do motor, a velocidade que se inicia, a janela que se abre e o criar do seu próprio vento. Aquele que não poderá pertencer a mais ninguém. Talvez fosse possível naquele mesmo segundo, lado a lado poder retirar daquele momento os dias que já se foram, aquilo que quis esquecer. Tudo somado ao possível do hoje com a certeza das horas passadas e descobrir que o erro existe, na conta que se desconhece, só porque nunca se segurou a vontade necessária para um dia mais tarde tornar melancolia aquela noite. Tão estranha por ser tão repetida.

Fonte:
Revista de Literatura e Arte. Maringá/PR.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Trova 108 - Renato Alves (Rio de Janeiro/RJ)

Camilo Leal (Gananzama Chuá)



Na cozinha da Fazenda Troncão a escrava Mãe Bárbara conversa com sua sobrinha, a escrava mucama Lane Congo:

- Escute o que eu to dizeno pra ocê. O Leopoldo, meu marido, morreu acidentado na Fazenda do Vale. Foi um grande choque. Ele era tão bão pra mim. Agora nóis aqui longe, aprisionada, sem liberdade... Quando ele tava do nosso lado era tão bão. E agora morreu meu fio com um meis de idade. Tenho bastante leite que inté ta doloreno meus peito. Inda mais agora. O Sinhô me alugo pra sua cunhada que tem um fio e ela não tem leite pra amamenta. É! Eu vô tê qui fica quagi dois anos dano mamá pr’ele. Peço pr’ocê, mucana Lane, pra Elpídia e pr’ocê Maud Lumba, minhas treis subrinha que estimo iguá a minima dos meus óio, tenha juízo, molecas. Faça tudo o que fô mandado, pra não sê castigada na minha ausência.

- Tenha cuidado, minha tia! Vá e não se preocupe. Vamos faze o possive pra não sê castigada.

- Então, eu vô. Cuide dos moleques. Inté lá. E nada de choro, minhas moleca.

O feitor Raimundo Caiolá dá ordens aos escravos.

- O tempo ta carrancudo; pelo jeito vai caí chuva e temo muito fejão no carriadô. Não importa si bamo coiê quagi dois mir saco. O que importa é que bamo coiê tudo e que não bamo perde nada. Todo escravo passe logo na pia de saco, sem recramá, ponha na cabeça um ou dois saco e leve inté a tuia. Precisamo guarda tudo e os carro num vai dá cont. Bamo ajuda os carro, por mode que os boi tão cansado. Depois que entrega o saco de feijão pro feitô, na tuia daí pode í pra senzala. Quem não quisé leva, fica essa noite sem comida. Bamo, negada, se encarreia que nem furmiga. E vancê, Magoado, por que não qué carrega seu saco de feijão?

- Meu Sinhô, me perdoe. Não güento com um saco de feijão dois arquere e meio. Carreguei muito tempo que era moço. Hoje não dá mais. Já tenho guagi cem amo; to cansado.

- Você é vagabundo! Como é que o Boieiro bate no cocho e vancê não pode...? É o primeiro que aparece. Se não leva o saco de fejão, vancê vai fica sem comê essa noite.

- Meu Sinhô, não levo; meu corpo não güenta…

- Logo com isso, negada! E vancê ta me respondendo, negro safado! Sabe o que vô fazê, negro... ah? Vô lhe amarra nesse laço e vô leva cincha do meu cavalo e entrega pro feito do viramundo. E se não corre, meu cavalo arrasta.

- Pelo amo de São Jorge que ta dentro da luma, lá inriba da nossa cabeça no céu, veno o que ta aconteceno aqui na terra, me sorte desse laço.

- Não sorto, não negro! Ah-rã! Vancê vai pro viramundo pra aprende, negro…

O escravo Magoado, lançado, é entregue ao feitor do viramundo nestes termos:

- Castigue o Magoado, Feitor. Não tenha presa pra pará, não. Quero que ele aprenda a não desobedecê a disciplina da Fazenda.

- Deixe por minha conta, feitor Raimundo Caiolá. Ele bem sabe que nosso viramundo tem mó. E ele vai te que moê um saco de mio inté amanhã cedo e faze fubá... deixe comigo.

O feitor Raimundo Caiolá voltou para cuidar dos escravos que carregavam feijão, enquanto o velho negro Magoado gritava à sorte:

- Gente, me sorte desse viramundo. Oh! Meu São Jorge! Tiraram minha tanga e o tango, ataram-me as mãos como um ladrão, crueldade sem amor. Eu sô véio cativo que muito trabaiei pro coroné. Por que tanto me judia? Sinhá Moça na janela, venha e mande pará de me judiá.

- Negro, seu nome é Magoado e muito mais magoado você vai ficá se não moê esse saco de mio inté amanhã cedo e fazê fubá. Não pare de girá o viramundo pra não sê mais castigado.

E o velho mal conseguia fazer mover o viramundo.

A escrava Mãe Maria, que ia buscar fubá, ao ver tal acontecimento, corre escondida e chama Sinhazinha Marlene, a quem os escravos colocaram o nome de Gananzama Chuá, como agradecimento à proteção que ela dá a eles. A Sinhazinha, perplexa com tal barbaridade, vai até o viramundo e repreende com veemência o feitor.

- Liberdade imediatamente ao Véio Magoado. Ele não merece esse castigo. De hoje em diante o Véio Magoado não vai ter mais que trabalhar no pesado. Eu quero que ele apenas fique para contar estórias para os moleques. Acho que o Véio tem muito o que contar. Sirva farofa pra ele, Mãe Maria. Ele deve de estar com fome.

Ela saiu rumo a casa carregando Gustavo, que apareceu ali correndo, o seu gato de estimação.

A escrava Mãe Maria ao cuidar do velho escravo lembra a ele os ensinamentos de Mãe Bárbara e comenta saudosa da escrava amiga, alugada há poucos dias:

- Enquanto existi descendente de escravo da Fazenda Troncão nessa terra, vai te roda pra louva Gananzama Chuá, fia do Coroné Bento de Prado, por sê bondosa, faze caridade, livrá os escravo quando são castigados injustamente. É! Mãe Bárbara tem razão... Nóis tudo daqui da Fazenda Troncão do Itu Rio Paranapanema sempre bamo cantá Gananzama Chuá.
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Camilo Francisco Leal (1922- 2004) artista plástico, escultor, compositor, contista e poeta, nasceu em Bica da Pedra, SP. Foi um dos pioneiros do Norte do Paraná, que em 1952 trabalhou na fundação e administração da Fazenda Rio da Prata em São João do Caiuá. Em 1963 mudou-se para Maringá, onde viveu até seu falecimento.

Camilo deixou uma obra vasta - 04 livros de contos e poesia, 137 músicas, 10 esculturas em papel e centenas de pinturas, entre óleo, acrílico e desenhos a lápis e esferográfica. A obra completa de Camilo, tematizada em torno da história da vida do negro liberto, mas sem perspectivas, e da vida rural, está sendo catalogada e organizada para publicação.

Patrono da Cadeira n.2 da Academia de Letras do Brasil/ Mariana/MG.

Fontes:
Jornal Aldrava
Pintura

Paulo Monti (Poesias Escolhidas)


ACASO

Prenúncio de chuva:
as nuvens pesam sobre a cidade - elas ou a outra? -
Um telefone brinda um recém-nascido.
Mas, e do tempo, o que dizer?
Um automóvel lança seu rugido:
que é feito de nossos rugidos?
Nossos pés buscam raízes
mas o melhor do tempo está no momento este, o da criação sabadinal:
o sábado com sabor de chuva!
E o resto, só o sonar de neurônio (perdido) refaz
a ânsia de nossos dias.

DRAMA

Meio sem jeito
o poeta se ajoelha ao momento da criação:
já são versos sem sentimentos,
ilhados pelo cimento
e abençoados pelo azul.
Mas, eis que uma chuva precipita o banho universal.
E o pobre poeta sente como é difícil a penosa faina
da disposição livre,
mais difícil, talvez, a arquitetura interna do homem.
O cheiro de terra molhada penetra nos passos comedidos
entre tantos vazios,
e, no peito, algumas poucas plenitudes.
O verso é outro, as luzes estão apagadas.

INTERVALO

Os fantasmas passeiam na casa adormecida.
Enchem cálices vazios
em noites repletas de sonhos novos e antigos.
A lua, navega solitária, satélite:
vive a solidão do espaço!
E as casas abandonadas
encontram razão quase perdida de vida à-toa
os fantasmas são tão vagabundos.
Mas, o mistério é noturno,
e a noite, despertada, anda, anda...

(do livro Poema no ar)

O GRANDE AMOR.

A dor pungente
Do grande amor:
As lágrimas,
Grossas,
Embaçam meu coração - que sangra -
Rasga-se o peito,
A paixão revivida!
Os momentos!
Intensos!
Espontâneos!
Um banho de rio,
Um par de alianças,
Um olho-no-olho,
Um saber mudo
E uma certeza
Da grandeza e força do grande amor.
Suspenso,
Adiado,
Afogado,
No tempo,
Na distância,
Guardado num canto do coração!

PEDAÇOS

Frio: 9ºC
Na rua
E no peito.
Em rios distantes passo
Tão perto
Feito vento
Vago veloz.
Vejo vidraças vazadas:
Último refúgio do sol!
Pedaços de mim
Fora de lugar
Mosaico
Retrato
Fragmentos da vida
Deixada
Sugada
Exaurida.

AURORA

Um sono profundo
Marcado no velho sapato corrompido pelo tempo
Aprisiona o ruflar das asas
Sonolentas da manhã.
O passeio noturno
Liberta antigas canções,
E, em coloridos poços sonoros
Vivem suaves, mas tristes
Criaturas: antigos humanóides.
Num grito isolado e quase sufocado
Algumas tímidas borboletas
Ameaçam o primeiro vôo:
O primeiro vôo...
E, nas contrações azuis da minha sombra,
Transformo-me em anjo sonoro
E musifico.
Faço-o até a última pena,
Até que a primeira estrela da manhã
Bruscamente poligonize-se em minha janela.

BEIRA MARIA

Da praia distante
Quero sal
Gaivotas
Maresias.
Vento salgado
Beira de mar:
Quero de volta
Um verão janeirado de sal e vento
Sal de verão
Ventos de janeiro!
Depois, saudade
Violão macio
Cachaça de rolha
E uma lua(que não precisa nem ser cheia...)!

COTIDIANO

As horas desfilam
Entre promessas que se avolumam
E os sorrisos espontâneos
Dos amigos momentâneos
Sentem as conversas ligeiras
Dos olhares mudos
Dos toques delicados
E as sensações
Ficam no ar suspensas!
Cascatas descambam
Vozes sussurradas
Quase sopradas
Veladas seduções que se instalam:
E a vida se rende ao encanto
Das ninfas gregas que fogem em verdes prados
E tudo se deixa como vento e sol!
E os amantes
Não se amam:
São desamantes
são fruto vazio e cheio de ânsia
São fusão de encontros e separação
são o fim
São amantes nas manhãs
São solitários fins de tarde!
------------------

Paulo Monti



Paulo Monti é natural de Itaqui-RS e reside em Porto Alegre, RS.

Participou, há alguns anos atrás, de concursos nacionais, como o Prêmio de Literatura, de jornadas de poesia no Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB) e tantos outros.

Desde 2004, é Mensageiro da Paz, através do programa “Manifesto 2000”, criado pela Unesco (www.unesco.org) que nomeou a década de 2001-2010 como a década internacional por uma cultura de paz e não violência contra as crianças no mundo inteiro.

Também faz parte do movimento mundial “Poetas Del Mundo”.

Recentemente, obteve Menção Honrosa no “Concurso Internacional de Poesia Livre "Sol Vermelho" - Prêmio Celito Medeiros 2004”, vindo a participar da antologia impressa promovida pelo concurso.

Menção honrosa no Concurso Poético do Jornal Expresso das Letras, em dezembro 2005.

Obteve 3º lugar no Concurso Poético do Jornal Expresso das Letras, em dezembro 2006.

Atualmente, participa, como colaborador, com poesias em português e espanhol, do programa "Poesía y algo más", através da rádio Arinfo (http://www.arinfo.com.ar), o qual é produzido e apresentado por Maria Elena Sancho que se difunde somente pela internet desde a Província de Buenos Aires, aos sábados, 20:00h às 21:00h.

-Site próprio com poesias inéditas, intitulado "Poesias by P@ulo Monti" em:
http://geocities.yahoo.com.br/poeta_2002br/index.htm

-Editor e Diretor da Revista Literária Paralelo 30 (revista virtual), em:
http://geocities.yahoo.com.br/paralelo_30/index.htm

-Miembro del Comite Poyecto .C.del Sur - La Habana - Cuba:
www.proyectoculturalsur.org

-Membro Correspondente da Academia Itaperunense de Letras

-Corresponsal Literário de la Delegación AVELLANEDA de la SADE Seccional SUR BONAERENSE - Argentina.

-Membro da Casa do Poeta Rio-Grandense, em Porto Alegre-RS.

Reconhecimentos Internacionais:

- Unesco Journals World Poetry - "Poesias by P@ulo Monti" - Literatura, Poesia.
- Unesco Journals World Poetry - "Revista Literária Paralelo 30 (revista virtual)" - Literatura, Poesia em Português e Espanhol e Artes em geral.

Também participa da "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 12", da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, primeira edição, novembro de 2004.

Editor e Diretor da Revista Literária Paralelo 30, em:
http://paralelo30.webcindario.com/index.htm

Blog: http://paulomonti.blogspot.com/

Fonte:
Poetas Del Mundo.
http://www.notivaga.com.br/

Ignácio de Loyola Brandão (Hora de Almoço na Cidade Grande)


Na tarde sombria de segunda-feira, sentado no Viena da Alameda Santos, eu hesitava entre o à la carte e o bufê. Entre pedir a carta, escolher, esperar, decidi pela preguiça, fui ao bufê que é variado, amplo, de acordo com um tempo que exige rapidez e preços acessíveis. Levantei-me, ainda pensando que, nas dicas mineiras da semana passada, me esqueci de recomendar a Casa Cambuquira, de Três Corações, com seus queijos brancos, verdadeiras musses, e os doces de leite Nata Suíça, que batem de longe o famoso e cobiçado La Pataya uruguaio, que a gente, aqui, só consegue quase no contrabando. Lembro-me do Viena desde os tempos em que era uma lanchonete situada em frente do corredor de entrada pela Avenida Paulista. As coxinhas de creme, imensas, o sanduíche com pão italiano e queijo derretido, que valia por almoço e jantar, e as tortas de morango que, no início, eram feitas pela própria dona, provocaram ao longo dos anos um problema: encontrar lugar no balcão, na hora do rush do almoço.

Alguém já parou para observar as pessoas diante de um bufê com suas cores atraentes? Vale por uma sessão de cinema, um programa de televisão. A democracia é total: lado a lado estão executivos com ternos Armani, comerciários, secretárias, estudantes, interioranos (ainda é possível reconhecê-los), bancários, jornalistas, modelos, funcionários das livrarias, consulados, mulheres bonitas. Não, elas não foram fazer compras na Rua Augusta! Há muito a rua deixou de ser point, está se transformando em um amontoado de estacionamentos. A fila diante das comidas se forma, compacta, desorganizada, alguns entram de um lado, outros vêm na contramão, há quem reclame, há quem ceda a vez. Os primeiros devem estar com fome, os outros já passaram pelo primeiro prato e estão voltando.

A diversidade de gostos está nos pratos. Há anos freqüento restaurantes como o Viena, além de circular pelos quilos, e jamais vi dois pratos iguais.

Queria estudar as personalidades por meio do que colocam nos pratos ou na forma como arranjam a comida, separando tudo bem separadinho. Alguns amontoam tudo, outros têm o cuidado de organizar. Tenho uma amiga, diretora de arte que odeia mandioquinha, que faz um desenho, combinando as cores, o verde da alface e da rúcula, o vermelho do tomate, o roxo da beterraba, o amarelo da mandioquinha, o branco do palmito, o alaranjado da cenoura.

Gostava de comer ao lado dela, para admirar o design do prato que devia ser fotografado. A diferença entre o quilo e os bufês é que no quilo não se volta à mesa, porque se paga a cada rodada, as pessoas montam um PF, célebre prato-feito, buscam comidas mais leves.

No bufê há uma certa contenção, vergonha do "pratão", porque as mesas ficam muito juntas e sempre existe a curiosidade de olhar o prato do outro.

Quantas vezes não ouvi a pergunta: "Essa torta, onde o senhor achou? Não estava lá quando passei!" É que, em certos momentos, a comida termina e enquanto o funcionário busca a reposição, fica um espaço vazio por minutos.

Mas comilões apressados na hora do almoço são impacientes. Os bufês democratizaram o salmão, o carpaccio e o estrogonofe, entre outras. Foram comidas "caras", hoje estão ao alcance de qualquer um. O caro que ainda não se vê em bufê e em "quilo" é o camarão à grega, imbatível no preço alto. Os vegetarianos ficam na seção de folhas, os carnívoros recomendam ao chapeiro o ponto que gostam. Ali no Viena, na segunda-feira chuvosa, vi um sujeito colocar oito bifes no prato. Tive vontade de segui-lo, daria para a família inteira. Décadas atrás, quando as pizzas rodízio começaram em São Paulo, entrei em uma do Grupo Sérgio, na Augusta. Foi das primeiras. Estava com toda a redação da Editora Três e fomos conferir a novidade. Uma sensação, poucos imaginam o impacto que causou na gastronomia paulistana a chegada da pizza rodízio. Um dia, ficamos boquiabertos, um homem na mesa ao lado comeu 28 pedaços de diferentes sabores. A garçonete chegava, ele aceitava. Vinte e oito fatias correspondem a quatro pizzas grandes e uma média. Devíamos ter fotografado, registrado e enviado ao Guinness.

Agora, no Viena, fiz meu prato, sentei-me e percebi que o sujeito ao lado desenhava com lápis de cera. Ele estava concentrado, tentando retratar uma loira alta e bonita, que comia sozinha, um ar altivo, cheia de si. Sabia que atraía olhares e fingia que não. Desenhava mal o artista de bufê. Por mais que olhasse e se esforçasse, não conseguia um só traço semelhante. Ou ele estava apenas tentando chamar a atenção da jovem? Aí, percebi que na minha mesa tinha um copinho com dois lápis de cera, um preto e outro amarelo.

Levantei-me, dei uma volta, havia muita gente rabiscando as toalhas de mesa, que são de papel. Desenhar enquanto se come. Por que não ler? Acho que sou dos raros que levam um livro para o restaurante. Dia desses, uma senhora me abordou: "O senhor não sabe que faz mal ler e comer?" Não sabia, como e leio há 50 anos. "Que mal?", indaguei. E ela ficou numa saia-justa, não sabia, sempre ouviu as pessoas dizerem isso. Vou continuar a ler, é uma hora sossegada, me abstraio dos barulhos do restaurante.

Agora, o jovem tentava retratar a loira que continuava indiferente, mas provavelmente com a auto-estima em alta. Será que ele desejava presenteá-la, usar o desenho como apoio para uma abordagem? E me veio à cabeça uma das imagens mais pungentes do cinema, em Os Amantes de Montparnasse (Montparnasse 19), de Jacques Becker, 1957. Modigliani (vivido por Gerard Philipe) precisando comer e vendendo por um preço de banana seus desenhos, de mesa em mesa, nos cafés de Paris, com as pessoas zombando dele. Agora, era o inverso. O jovem bem vestido, comia e queria desenhar. No entanto, estava longe, muito longe, tão distante de Modigliani quanto Marte da Terra.

Fontes:
Jornal O Estado de São Paulo. Caderno 2. Sexta-feira, 4 de junho de 2004.
Imagem descolorida de http://www.papatrilhos.com

Vicência Jaguaribe (O Sonho Encenado )


Na calçada, o inexpressivo violão acompanhando a voz rouquenha e desafinada. Na cabeça, dez anos de sonho. A encenação do sonho, que, de tanto ser sonhado, soava-lhe realidade.

No começo, viajava à capital, onde – dizia – encontrava-se com seu ídolo, um cantor de sucesso do momento. Levava-lhe fitas cassetes, com músicas que compunha. E deixava-as com ele, que as incluía no disco seguinte. Mas, na ficha técnica, apareciam como se fossem composições do próprio cantor. Ele dizia-se revoltado e continuava a tocar o inexpressivo violão, que acompanhava a voz rouquenha e desafinada.

A cidade inteira falava da desonestidade do cantor. Os mais entendidos aconselhavam-no a procurar um advogado. Mas ele persistia nas idas à capital, para apresentar-lhe suas composições. E o cantor continuava a gravar as músicas dele como suas.

Nas últimas visitas não mais o recebia. Estava sempre viajando. Depois, ameaçou-o – dizia ele. O moço desistiu de tentar contato. Mas continuou a tocar seu inexpressivo violão, acompanhando a voz rouquenha e desafinada, que cantava composições de sua lavra. Aquelas composições, suas, que o cantor gravara como se fossem dele. E as músicas faziam sucesso, estouravam nas paradas, recebiam elogios da crítica. Mas não eram as suas composições que faziam sucesso, estouravam nas paradas, recebiam elogios da crítica. Eram composições do cantor. A ficha técnica revelava isso.

E o cantor – seu ídolo – ganhava dinheiro às suas custas. Era voz geral.

E por que não ia conversar com o cantor? Adiantaria alguma coisa uma conversa com ele? Ele sustentaria que o outro era um doente mental, um alucinado, não sabia o que estava dizendo.

O moço resolveu, então, ganhar dinheiro com sua voz rouquenha e desafinada, acompanhada pelo inexpressivo violão.

Naquela tarde de domingo, recebia amigos e conhecidos, que convidara para ouvi-lo cantar suas últimas composições. O palco? A própria calçada.

Todos se entreolharam assustados, quando o moço anunciou o início do show. Quem estava ali não era ele, mas seu ídolo – o mesmo tipo de roupa, o mesmo corte de cabelo, o mesmo repertório. Anunciou-se a si mesmo pelo nome do outro e pegou o inexpressivo violão que acompanharia a voz rouquenha e desafinada.

Naquele momento, a encenação era a própria realidade. Sua integridade mental, ameaçada desde a infância, acabara de esfacelar-se. Ele não reconhecia a si em si mesmo. Em si mesmo, reconhecia o outro. Para todos os efeitos, ele era o outro. Sua mente não podia reconhecer a figura real, porque há muito ele era o outro.

Anunciou o repertório – todo de composições suas, disse. Os amigos, sentados na calçada, e os passantes que paravam para ver o espetáculo – o inexpressivo violão acompanhando a voz rouquenha e desafinada. E todos viram quando ele largou o violão e desnudou-se.

Naquela noite mesmo, levaram-no à capital, onde o internaram em um hospital psiquiátrico. Ao lado da cama, o inexpressivo violão, que não mais acompanharia a voz rouquenha e desafinada, ouvida, todas as tardes, no proscênio criado pela imaginação.

Fontes:
Revista de Literatura e Arte. Maringá/PR. http://www.conexaomaringa.com/

Ivan Jaf (1957)



Escritor: autor, roteirista e editor. Nascido no Rio de Janeiro (1957).

Fez faculdade de filosofia e comunicação pela UFRJ, mas não chegou a terminá-las.

Roteirista de histórias em quadrinhos (terror e ficção científica), revistas nacionais e Skorpio, Itália, 1980/98.

Roteirista de cinema. Filme MALEITA, roteiro premiado pelo Sundance Institute, 1998

Teatro: Adaptação de O OUTONO DO PATRIARCA, de Gabriel Garcia Marques - leitura dramatizada, teatro do Palácio do Catete, direção Expedito Barreira, 1997.

Adaptação de “Lembrar é Resistir”, de Analy Alvarez e Isaías Almada – Presídio da Rua da Relação, direção de Nelson Xavier, 2001.

Livros publicados
BASTIANA VAI À LUTA (infantil, ed. Memórias Futuras, Rio, 87, 7 edições)
O VALE DA ETERNIDADE (infantil, ed. Memórias Futuras, Rio, 90, prêmio aquisição FNLIJ 93)
TRÊS CONTRA T (juvenil, ed. Scipione, São Paulo, 93)
A PONTE PARA O PASSADO (juvenil, ed. Atual, São Paulo, 93, 8 edições)
A FLORESTA DOS HOMENS DOIDOS (juvenil, Scipione, São Paulo, 94)
A MONTANHA DOS OSSOS DE DRAGÃO (juvenil, ed. Atual, São Paulo, 94, 7 edições)
BEIJO NA BOCA (juvenil, ed. Moderna, São Paulo, 94, 6 edições, Prêmio Altamente Recomendável para o Jovem / 94 - Fundação Nacional do Livro)
O CERTO É O CONTRÁRIO (infantil, ed. José Olympio, Rio, 94, 6 edições)
ATRÁS DO PARAÍSO (juvenil, ed. José Olympio, Rio, 95, 4 edições)
A SEMENTE DA PRAÇA (infantil, ed. Jos0é Olympio, Rio, 95)
O PODER FLUTUANTE (juvenil, ed. Scipione, São Paulo, 96)
O PIRATA MAU QUE PEGOU CUPIM NA PERNA DE PAU (infantil, ed. José Olympio, Rio, 96)
O SUPER TÊNIS (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 96, 4 edições)
A PRIMEIRA VEZ (juvenil, ed. Moderna, São Paulo, 96, 4 edições)
O SUPER SILVA (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 97, 2 edições)
MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA FAMILIAR (juvenil, ed. Atual, São Paulo, 97, 6 edições)
BOCA A BOCA (juvenil, ed. Moderna, São Paulo, 98,)
O ROBÔ QUE VIROU GENTE (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 99, 2 edições)
O VAMPIRO QUE DESCOBRIU O BRASIL (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 99, 5 edições)
NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA (juvenil, ed. Ediouro, São Paulo, 00, 2 edições)
A CHAVE DE CASA (juvenil, ed. Atual, São Paulo, 00, Destaque de Humor/ Prêmio Adolfo Gizen/ União Brasileira dos Escritores, 01)
AGÜENTA FIRME (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 00)
AS OUTRAS PESSOAS (novela, Editora do Brasil, São Paulo, 01)
A CORTE PORTUGUESA NO RIO DE JANEIRO (juvenil, ed. Ática, São Paulo, 2001)

Fonte:
Wikipedia

Ivan Jaf (O Escritor em Xeque)


Entrevista exclusiva para o Prof. Wagner Lemos.

Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou, dentre outras coisas.

Nasci e estudei aqui na cidade do Rio de Janeiro. Fiz duas faculdades (jornalismo e filosofia) mas não completei nenhuma delas. Aos 19 anos fui para a Europa e vivi por lá uns 3 anos, até voltar e começar a escrever, e não parar mais.

Como você se tornou escritor?

Me apaixonando por uma máquina de escrever usada que vi numa feira de antiguidades, em Londres.

Qual o seu primeiro livro e do que falava?

Eu precisava fazer alguma coisa com a máquina, e comecei a escrever poemas. Meu primeiro livro foi uma seleção desses poemas, que vendi nos bares e calçadas. Eram poemas filosóficos, existenciais.

Sua obra abrange também quadrinhos, fale um pouco desse lado da sua carreira.

Como eu precisava ganhar dinheiro, comecei a escrever roteiros para histórias em quadrinhos, de terror. Descobri que tinha muita facilidade em visualizar e descrever cenas. Escrevi muitas histórias, por vários anos. Além do terror, ficção científica, em revista do Brasil e da Itália.

Como surgiu a história de “O Vampiro que Descobriu o Brasil”? Em que você se inspirou?

O Vampiro surgiu da necessidade de contar os 500 anos do Brasil visto por um único personagem. Ele precisava ser imortal. Acho que me inspirei em tudo que já li e assisti sobre os vampiros.

Atualmente está a se rever o papel de Tiradentes na Inconfidência Mineira, pois segundo dizem, ele não foi líder mas um bode expiatório para livrar outros. Por que você optou, neste caso, acompanhar uma versão mais tradicional da história?

Tenho para mim que Tiradentes acreditava no que estava fazendo, e era um ativo e carismático agitador. O que não o impediu de se tornar um bode expiatório no final, quando seus companheiros da elite optaram por fazer "acordos". Como um lado precisava fazer uma vítima, como exemplo, e o outro queria um mártir...

Você teve receios ao citar por nominalmente ou nas entrelinhas personagens da história recente do Brasil, tais como Tancredo Neves, José Sarney e Marco Maciel? Pensou em possíveis represálias da família (no caso de Tancredo) ou dos próprios políticos?

Por um lado tive receio, sim, pois citar nomes daria condições aos envolvidos de moverem processos. Mas também pesou o fato de que, como acredito que a Arte dura mais do que a Política, não queria dar aos citados a chance de serem lembrados no futuro através de um livro meu.

Deixe uma mensagem para os estudantes sergipanos que estudarão “O Vampiro que Descobriu o Brasil” no vestibular.

Eu quis passar em revista a história do Brasil nesses últimos 500 anos, de uma maneira crítica e, espero, divertida, como um incentivo a que os leitores se aprofundem mais no assunto. Eu acredito que saber sobre a História do homem branco nestas terras faz a pessoa querer mudar as coisas, tentar impedir que elas não se repitam. Enfim, forma revoltados. E é com revolta que se progride.

Fonte:
Professor Wagner Lemos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Trova 107 - Roza de Oliveira (Curitiba/PR)

Aluísio de Azevedo (A Mortalha de Alzira)


A mortalha de Alzira é o oitavo romance de Aluísio Azevedo, já conhecido do público leitor por obras como O mulato, de 1881. Publica A mortalha de Alzira sob o pseudônimo de Vítor Leal, em forma de folhetim, no jornal Gazeta de Notícias, de 13 de fevereiro a 23 de março de 1891. Em 1892 A mortalha de Alzira publicado em volume, alcançando muito sucesso: foram vendidos 10.000 exemplares em três anos, o que, na época, foi considerado um recorde. A mortalha de Alzira é o único livro do autor que se passa na sua íntegra fora do país, na França, no período do reino de Luís XV, século XVIII, nos arredores de Paris.

Sua história é a eterna luta entre a fé e o erótico: o padre Angelo busca desesperadamente reprimir sua paixão pela cortesã Alzira. Mostra também Aluísio Azevedo a corrupção da Igreja, sua ligação com a aristocracia em processo de decadência. Aluísio Azevedo viveu num período em que a luta da fé contra o livre pensamento estava na ordem do dia: no Brasil, o comportamento do clero, devasso e corrupto, levava os escritores a uma posição anticlerical, e A mortalha de Alzira pode ser considerado um documento nesse sentido. Os romances-folhetins eram em geral romances românticos, mas, quando do início da escola naturalista, faziam muito sucesso os elementos naturalistas que, convivendo com a intriga romântica, passaram a aparecer nos folhetins. Neste momento, na França, havia uma forte onda anticlerical, com a campanha pela criação das escolas leigas.

Da França (Zola) e Portugal (Eça de Queirós) vieram as principais influências da escola naturalista, inaugurada por Aluísio Azevedo com O mulato. Em A mortalha de Alzira encontramos elementos românticos (sonhos, devaneios) e naturalistas. A corrente naturalista no Brasil seguiu o período de mudanças profundas por que passava a sociedade brasileira: decadência da estrutura agrária; fim da guerra do Paraguai; movimentos abolicionistas; luta da Igreja Católica contra a Maçonaria; a vida urbana e seus trabalhadores livres; revolução nas ciências. Em todo o mundo, houve avanços nas pesquisas científicas e na avaliação da importância do conhecimento científico. Falava-se do mundo racional, em oposição ao mundo fantasioso e cristão, de verdades absolutas, do período medieval. A literatura da era "materialista" no Brasil desdenhará o sentimento, e com ele o sentimentalismo romântico, indo buscar a "verdade" dos fatos precisamente observados e recolhidos documentalmente.

É neste contexto que as questões individuais de anomalias de comportamento (como o sacerdote, de A mortalha de Alzira) tiveram um preponderante papel: ao investigar através da ciência que se desenvolvia à época o comportamento humano, os autores naturalistas queriam afirmar os condicionamentos do meio sobre o indivíduo; com isso, denunciavam a injustiça de certas instituições e mostravam alguns comportamentos perturbados ou doentios daí decorrentes. Em A mortalha de Alzira o crítico Moisés Massaud considera inovador o fato que o histérico seja um homem, no caso um padre; pois, até então, eram as mulheres as histéricas, e vários romances à época trataram do tema da histeria feminina. Também considera importante o fato de que Aluísio Azevedo denuncia a educação recebida pelo sacerdote como a razão de seu infortúnio, por não lhe ter permitido escolher um outro destino. A figura do médico, muito comum nos romances naturalistas, também está presente em A mortalha de Alzira (o dr. Cobalt), confundindo-se com o próprio romancista, pois é quem investiga o comportamento da personagem/paciente.

Fonte:
http://www.resumosdelivros.com.br/

Antonio Celso de Oliveira (Entre os muros da escola: uma aproximação entre literatura e cinema)


Resumo: Uma leitura do filme e livro "Entre os Muros da Escola". A partir desta obra localiza um processo de reflexão sobre as relações entre literatura e cinema.

Consideramos que literatura e cinema sempre estiveram muito próximos quanto à estrutura de comunicação artística ou de manifestação cultural da sociedade moderna. A literatura como estrutura de narrativa escrita, e o cinema como narrativa das imagens. Assim, os dois, em suas dadas especificidades, constroem um universo de representações simbólicas que paira entre o criador e o espectador.

Entre estes, funda-se um mundo novo, sustentado pela obra que os une. Neste espaço, a mensagem, sequência de idéias que compõe um texto escrito ou um filme em suas imagens, dois tipos de narrativas diferentes, pela ação do espectador, ganha um novo sentido. A literatura tem suas especificidades, propriedades do escritor que vive em um mundo de experiências sócio-históricas. O que cria desprende-se como resultado de interações.

E não é fácil escrever, seja o que for - ficção ou realidade. Criar um universo de personagens literários cremos que seja mais difícil ainda. Ainda assim, para que a literatura, como criação, realize seus intentos , depende do leitor. Um desdobramento para além do escritor e de seu universo criador. Recordo-me de um debate sobre literatura, de ensaístas e críticos com o escritor Mario Prata, que quando interrogado sobre o porquê escrevia simplesmente respondeu: “Escrevemos na esperança de que alguém leia. E quando leem reconstroem meu texto”. Além disso, não podemos esquecer que, teoricamente, durante longo tempo, a escrita e leitura foram confundidas como mesmo espaço de apreensão cognitiva. Hoje, sabemos que ocupam espaços diferentes, recriam-se. Ações diferenciadas, integradas, definem novos espaços como universos iniciais que, assim distintos, conformam outros. Este diferencial de criar e recriar em espaços de sensações tão distintos é um dos fundamentos que leva a literatura a interagir com o cinema.

Em relação ao filme, podemos afirmar que, desde seu princípio, tem ponto de partida muito diferente da literatura. O filme já em seu inicio é resultado coletivo. O cinema como arte, mesmo quando definido como de autor, só pode acontecer pelo trabalho de um conjunto de pessoas. Nos dias atuais, realizar um filme demanda um enorme grupo de profissionais que disponibilizam suas especialidades, sistematizadas no interior da obra. O diretor é a peça chave, mas há as marcas de cada indivíduo no transcorrer da realização e que se pode perceber no resultado final. E mais ainda, o cinema é sempre apresentado para grupos de pessoas. Normalmente, afirma-se que uma dada produção cinematográfica não tem sentido sem o “espaço cinema” de projeção, ali onde está o público. Podemos afirmar efetivamente que o cinema é a arte criada de maneira coletiva e só é plenamente realizada com o reconhecimento do público.

Se bem que na verdade, para todas as formas artísticas, o tornar público, a publicação e sua apreciação, aceitação e intervenção exercida pelo espectador é que dará sentido a sua existência como produção cultural de uma época. É com o público que se funda uma obra de arte. É com o público que uma produção cultural ganha o status de obra. Assim, ocorre a necessária passagem ou trajetória que conduz do particular para o universal.

Seu sentido de totalidade deve tender às expectativas dos interlocutores, principalmente em suas projeções, sonhos, e nesta nova dimensão ou mistura, é que pode tomar outro sentido que aquele premeditado pelo seu autor. A obra depois da interação, criador /espectador, ganha novo sentido ou a sua própria condição de bem cultural. A leitura muda, transforma, o escrito ou o sentido pensado pelo autor da mesma forma que no cinema, diante do público é que o filme ganha dimensão e sentido diferente do que o inicialmente proposto pelos realizadores.

Ganhar sentido é ter a apreciação do público. Com certeza, esta ocorrência deve ser, necessariamente, fato em qualquer tipo de produção cultural. O destaque que fazemos em relação à literatura e ao cinema é pela condição de que os dois apresentam dependência do entrelaçamento entre auto r e espectador, as duas pontas da realização, para que possam ser reconhecidos como tal. Obra cultural de uma época refletida no artista e observador, produtor e consumidor, ai está a propriedade da obra.

Entrelaçamento fundamental para definir a perenidade ou não de sua existência. Tratando-se de literatura e cinema, queremos destacar a possibilidade especial de esta relação manter espaços especiais de uma influenciar a outra em seu princípio criador. Claro que sabemos de várias obras artísticas ou culturais que influenciaram ou foram o princípio inspirador para a existência de outra. E elas não necessariamente estavam no universo da literatura e do cinema. Sabemos ainda que a inspiração artística ou a capacidade de tradução do mundo real e concreto pelo artista misturam-se nas várias linguagens antes de definir sua forma final. Em grande parte, existem obras que guardam semelhanças em suas performances ou mensagem, daí então movimentos ou escolas que expressam determinado conjunto de leitura, significação e interpretação do mundo.

Neste aspecto é que queremos destacar a interação entre literatura e cinema como uma constante parceria entre dois tipos de narrativa e que na maioria das vezes a literatura serve de inspiração ou base de construção da obra cinematográfica. Dizemos maioria porque o roteiro de “2001 uma odisséia no espaço”, escrito a quatro mãos por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, é que serviu de base para o livro do mesmo título, de Arthur C. Clarke, lançado posteriormente ao filme.

Vários filmes foram produzidos a partir de obras literárias. Alguns serviram como base inspiradora do roteiro, outros foram diretamente adaptados. Seria difícil citar todos desde o princípio do cinema. No entanto, para não passar em branco vamos lembrar alguns que já são referências neste tipo de discussão.

O filme sobre a guerra do Vietnam , Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, é um deles. O roteiro do filme foi escrito por Coppola com John Milius inspirado no romance “O Coração das Trevas (Heart of Darkness 1902 )”, do escritor polonês Joseph Conrad. A idéia central do livro é que conduz ao tema d o filme. Uma profunda reflexão sobre as trevas interiores dos homens e suas ações exteriores, no caso do filme, no conflito gerado pela guerra. Abril Despedaçado, livro do albanês Ismail Kadaré que aborda o tema “vendetas entre as famílias das montanhas albanesas” também serviu de fonte inspiradora para o filme homônimo dirigido por Walter Salles, com roteiro escrito junto com Sérgio Machado e Karim Aïnouz. O filme de Salles destaca o tema “vendetas de famílias” a partir das disputas de terras e rixas de famílias no sertão do nordeste brasileiro na década de 1920.

Uma das mais famosas parcerias entre literatura e cinema foi E o Vento Levou (Gone With The Wind ), com direção de Victor Fleming e roteiro Sidney Howard, baseado em livro de Margaret Mitchell sobre a guerra civil americana. Antes de virar filme, o livro havia sido grande sucesso de público em todo EUA, o que se repetiu com o filme. Ao ser praticamente vertido para o cinema, com toda a grande pompa do romance, a história e os personagens só tiveram sua popularidade ampliada. Mais recentemente, tivemos a produção “Balzac e a costureirinha chinesa”, que foi dirigido por Dai Sijie com roteiro dele e Nadine Perront, baseado em livro homônimo escrito pelo próprio Dai Sijie. Um belo filme que aborda o período da “Revolução Cultural Chinesa”, o que foi a reeducação dos intelectuais urbanos p elos valores camponeses no processo da pós– revolução maoísta. E, a partir de Balzac, destaca a importância da literatura na formação da consciência individual.

Atualmente, temos um filme francês em destaque, resultado desta interação entre literatura e cinema, que vem causando certo movimento entre os apreciadores destas duas formas de produção cultural. Na verdade, filme e romance, pois o livro com o mesmo título foi lançado recentemente no Brasil pela livraria e editora Martins Fontes. O texto tem estrutura muito interessante para quem gosta d e literatura. O livro pode ser destacado como literatura sem igual, tem um texto ágil e instigante que faz sua leitura muito interessante. Podemos dizer que parece muito uma crônica escolar. O cotidiano transborda e quase suprime o tema. Assistir ao filme antes da leitura não significa leitura monótona. Os dois têm solidez no andamento das narrativas e guardam as diferenças de suas dimensões e especificidades, o que faz a leitura fluir bem, mesmo que se tenha o domínio da história a partir do filme.

O filme é “Entre os Muros da Escola”, dirigido por Laurent Cantet, roteiro de Laurent Cantet, François Bégaudeau e Robin Campillo, baseado em livro homônimo de François Bégaudeau. A sua condição de interação entre literatura e cinema nos traz boas novidades. Em certa medida, coloca-o muito próximo da produção francesa “Balzac e a costureirinha chinesa”. O diferencial é que “Entre os Muros da Escola” vai mais além, pois as peculiaridades desta integração são maiores e expandem um pouco mais o relacionamento entre as duas artes. François Bégaudeau escreveu o romance a partir de sua experiência profissional como professor do ensino fundamental nas escolas públicas francesas. Trabalhou na adaptação do roteiro e interpreta o personagem principal. Realmente uma situação inusitada.

“Entre os Muros da Escola” foi premiado como melhor filme no festival de Cannes 2009. Observando seu conteúdo, inicialmente podemos verificar algumas questões que nos chamam a atenção. Num primeiro momento, quando paramos no título, pode parecer ser mais um dos filmes de escola em que o professor, instituição e alunos se digladiam por interesses divergentes. Não que não seja isto. A situação de conflito está em praticamente todas as cenas. Podemos até afirmar que os conflitos gerais viram subtema. Isto porque seu tema vai muito mais além que estes conflitos intraescolares. O tema gira em torno da redefinição da ação escolar ou do sentido da instituição escolar no universo cultural que sustenta as relações entre as diferentes gerações na sociedade globalizada. Difícil dizer que são simplesmente diferenças culturais. Ao mesmo tempo que observamos interesses que convergem, expectativas que aproximam, lazer comum, parece que os mundos estão distantes. A dificuldade de apropriação cultural entre os membros de uma mesma comunidade escolar que têm dificuldade com a compreensão cultural da língua e vivem no mesmo espaço geográfico. A complexidade de comunicação entre diferentes culturas e gerações dentro de um mesmo universo linguístico que intermitentemente se aproximam e se afastam no interior da instituição escolar. Ali deparamos com as questões culturais que assolam as relações de migrações na Europa atual. E isto num momento em que a mídia burguesa divulga o processo de globalização com a integração entre todas as partes do mundo. Oriundos de regiões colonizadas pelos franceses, os alunos falam a língua francesa, mas sem entender a profundidade da cultura francesa, ou mais propriamente o que seria esta “França Civilizada”. No final, vemos dois mundos hostis num mesmo universo. O conflito professor-aluno-instituição ganha dimensão diferenciada. Diversa da até então provada em nossas escolas.

A escola, os professores e todo o sistema é muito parecido com o que temos aqui no Brasil. A forma de tratamento até que transparece uma certa condição de respeitabilidade dos alunos para com a escola e os professores. A dinâmica das aulas desenrola-se com as tensões com que estamos acostumados a conviver. Somente aos poucos vamos percebendo que o conflito não está nas relações que estamos acostumados a vivenciar. A questão é mais complexa, pois a apropriação d a língua não se revela como a própria apropriação cultural. Percebe-se um distanciamento entre o universo cultural linguístico do professor diante do aluno. O domínio da língua deve ir além, passa pela participação no conjunto da produção cultural. E isto está distante dos alunos oriundos da região das ex-colônias ou dos países que atualmente migram para a Europa em busca de trabalho e melhores condições de vida.

Momentos do filme em que transborda a tensão acontecem quando a direção ou o professor tem que falar com os pais que nada entendem do francês. Dependem da tradução dos alunos para serem entendidos. As questões institucionais disciplinares ficam no ar, sem chão. Um vácuo cultural de valores que suplantam conceitos científicos que ordenam as instituições escolares modernas. E isto acontecendo na França que foi o berço da declaração dos direitos humanos, que norteou toda uma suposta sociedade humanística pautada na igualdade, liberdade e fraternidade. E a escola que deveria ser resultado deste momento da nova sociedade humanista acaba como expressão da exclusão econômica e cultural da maior parte dos jovens ou das futuras gerações.

A partir desta leitura é que podemos apontar o filme como um manifesto antropológico do século XXI. Referencia-se um dos problemas culturais mais complexos do processo de globalização do neoliberalismo desta sociedade apontada como a mais avançada. A reordenação econômica é o novo tipo de desenvolvimento social em um mundo cada vez mais distante de atender as necessidades humanas. Esta realidade diariamente produz milhões de desvalidos. A escola como espaço de percepção e convivências e aprofundamento destas distorções. Os jovens de diversos lugares do mundo que no espaço escolar vão resignificar o espaço da comunicação oral e escrita da sociedade global no século XXI. Negros, árabes, judeus e asiáticos, que se veem franceses que aportam da colônia e não dominam a comunicação ou a língua no sentido mais básico para garantir sua participação cultural. Neste processo, a exclusão toma uma nova dimensão e redimensiona os conflitos entre centro e periferia econômica e conflitos diferenciados ente gerações. O conflito como retorno da cultura da periferia ao centro dentro de nova dinâmica. A cultura européia em sua mais elevada realização é solapada pela sua própria estrutura que a conduziu a um espaço de relações ainda não experimentado. Não é somente a visão do jovem que deve ser orientada pela instituição escola e sim a escola que rodopia na borda de um vulcão alimentado pelo processo de globalização econômica de exclusão e expropriação dos bens naturais.

Enfim, o livro merece ser lido e o filme projetado e discutido pelas pessoas que se interessam pelos rumos do mundo atual. Os profissionais da educação, com certeza, perceberão um fértil espaço de debate e reflexão, que é pertinente às obras de arte e às produções culturais significativas para uma época.

Referências
BÉGAUDEAU, François. Entre os Muros da Escola. Tradução Marina Ribeiro Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

Fonte:
Revista Espaço Acadêmico. n. 100. Maringá: UEM. Setembro de 2009.

Rubem Braga (Viúva na praia)


Ivo viu a uva; eu vi a viúva. Ia passando na praia, vi a viúva, a viúva na praia me fascinou. Deitei-me na areia, fiquei a contemplar a viúva.

0 enterro passara sob a minha janela; o morto eu o conhecera vagamente; no café da esquina. a gente se cumprimentava às vezes, murmurando "bom dia"; era um homem forte, de cara vermelha; as poucas vezes que o encontrei com a mulher ele não me cumprimentou, fazia que não me via; e eu também. Lembro-me de que uma vez perguntei os horas ao garçom, e foi aquele homem que respondeu; agradeci; este foi nosso maior diálogo. Só ia à praia aos domingos, mas ia de carro, um "Citroen", com a mulher, o filho e a barraca, para outra praia mais longe. A mulher ia às vezes à praia com o menino, em frente à minha esquina, mas só no verão. Eu passava de longe; sabia quem era, que era casada, que talvez me conhecesse de vista; eu não a olhava de frente.

A morte do homem foi comentada no café; eu soube, assim, que ele passara muitos meses doente, sofrera muito, morrera muito magro e sem cor. Eu não dera por sua falta, nem soubera de sua doença.

E agora estou deitado na areia, vendo a sua viúva. Deve uma viúva vir à praia? Nossa praia não é nenhuma festa; tem pouca gente; além disso, vamos supor que ela precise trazer o menino, pois nunca a vi sozinha na praia. E seu maiô é preto. Não que o tenha comprado por luto; já era preto. E ela tem, como sempre, um ar decente; não olha para ninguém, a não ser para o menino, que deve ter uns dois anos.

Se eu fosse casado, e morresse, gostaria de saber que alguns dias depois minha viúva iria à praia com meu filho — foi isso o que pensei, vendo a viúva. É bem bonita, a viúva. Não é dessas que chamam a atenção; é discreta, de curvas discretas, mas certas. Imagino que deve ter 27 anos; talvez menos, talvez mais, até 30. Os cabelos são bem negros; os olhos são um pouco amendoados, o nariz direito, a boca um pouco dentucinha, só um pouco; a linha do queixo muito nítida.

Ergueu-se, porque, contra suas ordens, o garoto voltou a entrar n'água. Se eu fosse casado, e morresse, talvez ficasse um pouco ressentido ao pensar que, alguns dias depois, um homem — um estranho, que mal conheço de vista, do café — estaria olhando o corpo de minha mulher na praia. Mesmo que olhasse sem impertinência, antes de maneira discreta, como que distraído.

Mas eu não morri; e eu sou o outro homem. E a idéia de que o defunto ficaria ressentido se acaso imaginasse que eu estaria aqui a reparar no corpo de sua viúva, essa idéia me faz achá-lo um tolo, embora, a rigor, eu não possa lhe imputar essa idéia, que é minha. Eu estou vivo, e isso me dá uma grande superioridade sobre ele.

Vivo! Vivo como esse menino que ri, jogando água no corpo da mãe que vai buscá-lo. Vivo como essa mulher que pisa a espuma e agora traz ao colo o garoto já bem crescido. 0 esforço faz-lhe tensos os músculos dos braços e das coxas; é bela assim, marchando com a sua carga querida.

Agora o garoto fica brincando junto à barraca e é ela que vai dar um mergulho rápido, para se limpar da areia. Volta. Não, a viúva não está de luto, a viúva está brilhando de sol, está vestida de água e de luz. Respira fundo o vento do mar, tão diferente daquele ar triste do quarto fechado do doente, em que viveu meses. Vendo seu homem se finar; vendo-o decair de sua glória de homem fortão de cara vermelha e de seu império de homem da mulher e pai do filho, vendo-o fraco e lamentável, impertinente e lamurioso como um menino, às vezes até ridículo, às vezes até nojento...

Ah, não quero pensar nisso. Respiro também profundamente o ar limpo e livre. Ondas espoucam ao sol. O sol brilha nos cabelos e na curva de ombro da viúva. Ela está sentada, quieta, séria, uma perna estendida, outra em ângulo. 0 sol brilha também em seu joelho. O sol ama a viúva. Eu vejo a viúva.

Rio, setembro, 1958

Fontes:
- BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. RJ: Ed. Do Autor, 1960.
- Imagem = http://tadeupaulemversos.blogspot.com/

Celito Medeiros (Poesias Avulsas)


Fonte:
Colaboração do Autor

Carina Paccola (O Vento)



O vento soprou tanto, tão forte e tão ruidoso, que me perguntei o que ele queria tanto afastar do céu. Tenho medo de chuvas e ventos fortes. Mesmo protegida, não consigo dormir tranqüila. Acordo a todo instante, vou conferir pela janela se está tudo em ordem do lado de fora. Vejo as árvores balançando. Nenhuma alma viva pela rua.

Quando o dia clareia, parece que tive pesadelos a noite toda. Confiro novamente a janela. Vejo que o cavalinho vermelho do play-ground foi parar na quadra de esportes. Fico com dó do cavalinho. Separou-se dos irmãos e está ali, jogado, sozinho.

Na área de serviço, recolho as toalhas de banho esticadas no varal. Todas sequinhas. Apanharam do vento a noite toda. Recolho uma por uma e penso o que foi que o vento tanto gritou durante a noite. Imagino que as palavras do vento estão escondidas na trama das toalhas e nunca entenderei seu significado.

Fico pensando o que a natureza pode querer me dizer: que eu varra com a força dos ventos o que me faz mal? Seja lá o que for, a única mensagem compreensível é que está muito frio lá fora e é melhor eu me agasalhar.
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Carina Paccola é jornalista em Londrina, PR.
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Fontes:
Jornal Guata. Foz do Iguaçu.
Imagem = http://www.jurassicos.com.br

Júlio Cortazar (Casa Tomada)



Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.

Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada idéia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais.

Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. Não precisávamos ganhar a vida, todos os meses chegava dinheiro dos campos que ia sempre aumentando. Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.

Como não me lembrar da distribuição da casa! A sala de jantar, lima sala com gobelins, a biblioteca e três quartos grandes ficavam na parte mais afastada, a que dá para a rua Rodríguez Pena. Somente um corredor com sua maciça porta de mogno isolava essa parte da ala dianteira onde havia um banheiro, a cozinha, nossos quartos e o salão central, com o qual se comunicavam os quartos e o corredor. Entrava-se na casa por um corredor de azulejos de Maiorca, e a porta cancela ficava na entrada do salão. De forma que as pessoas entravam pelo corredor, abriam a cancela e passavam para o salão; havia aos lados as portas dos nossos quartos, e na frente o corredor que levava para a parte mais afastada; avançando pelo corredor atravessava-se a porta de mogno e um pouco mais além começava o outro lado da casa, também se podia girar à esquerda justamente antes da porta e seguir pelo corredor mais estreito que levava para a cozinha e para o banheiro. Quando a porta estava aberta, as pessoas percebiam que a casa era muito grande; porque, do contrário, dava a impressão de ser um apartamento dos que agora estão construindo, mal dá para mexer-se; Irene e eu vivíamos sempre nessa parte da casa, quase nunca chegávamos além da porta de mogno, a não ser para fazer a limpeza, pois é incrível como se junta pó nos móveis. Buenos Aires pode ser uma cidade limpa; mas isso é graças aos seus habitantes e não a outra coisa. Há poeira demais no ar, mal sopra uma brisa e já se apalpa o pó nos mármores dos consoles e entre os losangos das toalhas de macramê; dá trabalho tirá-lo bem com o espanador, ele voa e fica suspenso no ar um momento e depois se deposita novamente nos móveis e nos pianos.

Lembrarei sempre com toda a clareza porque foi muito simples e sem circunstâncias inúteis. Irene estava tricotando no seu quarto, por volta das oito da noite, e de repente tive a idéia de colocar no fogo a chaleira para o chimarrão. Andei pelo corredor até ficar de frente à porta de mogno entreaberta, e fazia a curva que levava para a cozinha quando ouvi alguma coisa na sala de jantar ou na biblioteca. O som chegava impreciso e surdo, como uma cadeira caindo no tapete ou um abafado sussurro de conversa. Também o ouvi, ao mesmo tempo ou um segundo depois, no fundo do corredor que levava daqueles quartos até a porta. Joguei-me contra a parede antes que fosse tarde demais, fechei-a de um golpe, apoiando meu corpo; felizmente a chave estava colocada do nosso lado e também passei o grande fecho para mais segurança.

Entrei na cozinha, esquentei a chaleira e, quando voltei com a bandeja do chimarrão, falei para Irene:

— Tive que fechar a porta do corredor. Tomaram a parte dos fundos.

Ela deixou cair o tricô e olhou para mim com seus graves e cansados olhos.

— Tem certeza?

Assenti.

— Então — falou pegando as agulhas — teremos que viver deste lado.

Eu preparava o chimarrão com muito cuidado, mas ela demorou um instante para retornar à sua tarefa. Lembro-me de que ela estava tricotando um colete cinza; eu gostava desse colete.

Os primeiros dias pareceram-nos penosos, porque ambos havíamos deixado na parte tomada muitas coisas de que gostávamos. Meus livros de literatura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene pensou numa garrafa de Hesperidina de muitos anos. Freqüentemente (mas isso aconteceu somente nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.

— Não está aqui.

E era mais uma coisa que tínhamos perdido do outro lado da casa.

Porém também tivemos algumas vantagens. A limpeza simplificou-se tanto que, embora levantássemos bem mais tarde, às nove e meia por exemplo, antes das onze horas já estávamos de braços cruzados. Irene foi se acostumando a ir junto comigo à cozinha para me ajudar a preparar o almoço. Depois de pensar muito, decidimos isto: enquanto eu preparava o almoço, Irene cozinharia os pratos para comermos frios à noite. Ficamos felizes, pois era sempre incômodo ter que abandonar os quartos à tardinha para cozinhar. Agora bastava pôr a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.

Irene estava contente porque sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco perdido por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, resolvi rever a coleção de selos do papai, e isso me serviu para matar o tempo. Divertia-nos muito, cada um com suas coisas, quase sempre juntos no quarto de Irene que era o mais confortável. Às vezes Irene falava:

— Olha esse ponto que acabei de inventar. Parece um desenho de um trevo?

Um instante depois era eu que colocava na frente dos seus olhos um quadradinho de papel para que olhasse o mérito de algum selo de Eupen e Malmédy. Estávamos muito bem, e pouco a pouco começamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.

(Quando Irene sonhava em voz alta eu perdia o sono. Nunca pude me acostumar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene falava que meus sonhos consistiam em grandes sacudidas que às vezes faziam cair o cobertor ao chão. Nossos quartos tinham o salão no meio, mas à noite ouvia-se qualquer coisa na casa. Ouvíamos nossa respiração, a tosse, pressentíamos os gestos que aproximavam a mão do interruptor da lâmpada, as mútuas e freqüentes insônias.

Fora isso tudo estava calado na casa. Durante o dia eram os rumores domésticos, o roçar metálico das agulhas de tricô, um rangido ao passar as folhas do álbum filatélico. A porta de mogno, creio já tê-lo dito, era maciça. Na cozinha e no banheiro, que ficavam encostados na parte tomada, falávamos em voz mais alta ou Irene cantava canções de ninar. Numa cozinha há bastante barulho da louça e vidros para que outros sons irrompam nela. Muito poucas vezes permitia-se o silêncio, mas, quando voltávamos para os quartos e para o salão, a casa ficava calada e com pouca luz, até pisávamos devagar para não incomodar-nos. Creio que era por isso que, à noite, quando Irene começava a sonhar em voz alta, eu ficava logo sem sono.)

É quase repetir a mesma coisa menos as conseqüências. Pela noite sinto sede, e antes de ir para a cama eu disse a Irene que ia até a cozinha pegar um copo d'água. Da porta do quarto (ela tricotava) ouvi barulho na cozinha ou talvez no banheiro, porque a curva do corredor abafava o som. Chamou a atenção de Irene minha maneira brusca de deter-me, e veio ao meu lado sem falar nada. Ficamos ouvindo os ruídos, sentindo claramente que eram deste lado da porta de mogno, na cozinha e no banheiro, ou no corredor mesmo onde começava a curva, quase ao nosso lado.

Sequer nos olhamos. Apertei o braço de Irene e a fiz correr comigo até a porta cancela, sem olhar para trás. Os ruídos se ouviam cada vez mais fortes, porém surdos, nas nossas costas. Fechei de um golpe a cancela e ficamos no corredor. Agora não se ouvia nada.

— Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar para ele.
— Você teve tempo para pegar alguma coisa? — perguntei-lhe inutilmente.
— Não, nada.

Estávamos com a roupa do corpo. Lembrei-me dos quinze mil pesos no armário do quarto. Agora já era tarde.

Como ainda ficara com o relógio de pulso, vi que eram onze da noite. Enlacei com meu braço a cintura de Irene (acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de partir senti pena, fechei bem a porta da entrada e joguei a chave no ralo da calçada. Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada.

Fonte:
Contos Latino-Americanos Eternos. RJ: Bom Texto Editora, 2005.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Wemerson Augusto (O Pé de Goiaba)



Com um gosto na boca de bolacha, água, sal e tubaína eu ainda cochilava enquanto o ônibus seguia seu itinerário. Novos passageiros apareciam há quase todo instante. Às vezes a genealogia das pessoas que minutos antes me deixava curioso, com pouco tempo me parecia muito normal. As casas de barro, as crianças, as terras, as senhoras e os senhores na pista, o céu estrelado e o vento noturno eu já conhecia. Sinceramente não sei de onde vem nossa amizade.

Não consigo precisar datas, horas e lugares deste encontro, no entanto, tudo era muito real e próximo. A chegada que eu vislumbrava ainda num retrato mental foi idêntica a minha recepção a simpática cidade de Abacates, ao Sul das Colinas. Uma senhora de óculos e um pouco desconfiada me dá bom dia falando para dentro. Junto com o cumprimento a atendente da pensão me olha de cima a baixo, concentrando um pouco seu olhar em meus cabelos.

Vou preenchendo a ficha. Antes de terminar a senhora corre para atender uma voz do fundo da casa que diz: “a água ta ferveeeendo”. E eu continuava no cadastro. Maria Odília chega com uma chave daquelas de banheiro com apenas um pininho de relevo na horizontal. Folheia o caderno de hospedes e corre o olho nas vagas. De longe avistei os seguintes dizeres: “deve 15” e “deve 10” e mais alguns rabiscos.

Odília resmunga e parece não acreditar na precisão do livro ata da casa. Agora com um molho de chave em mãos me convida a conhecer o estabelecimento. Abre o primeiro quarto, o de número 11. Roupas em cima da cama, camisetas na janela e uma mala entre aberta no chão informam que ali ainda tem hospede. Odília coça a cabeça e tem a certeza da imprecisão do controle dos moradores da pensão.

O quarto 13 é o próximo. A senhora vira a chave na fechadura, mas a porta não abre. A parte inferior da porta está muito próxima do chão, impedindo o movimento. Acostumada a senhora da um chute de leve. A porta abre como uma grande janela. Para fúria de Odília o quarto também estava ocupado. Desta vez um casal com trajes íntimos ainda curtiam as primeiras horas da manha.

A bolsa nas minhas costas a cada instante ficava ainda mais pesada e pegajosa. Numa terceira tentativa encontro um quarto aparentemente vago. “Pode ser este senhor”. Digo que sim. A senhora se despede. Abro a janela e dou de cara com um pé de goiaba com algumas goiabas no alto. Fecho parte da janela e fico me perguntando. Por que estou tanto longe deste lugar, desta casa, que parece ser tão próximo?

Qual era a minha relação com este mundo? Qual era a relação das goiabas do alto? Do retrato mental da pousada esverdeada? Dos dias difíceis que só me foi anunciado neste espaço?

- Estou aqui rascunhando estas idéias para entender melhor um dia como tudo isso começou. Quando voltar pra casa pense melhor. Tenho a impressão que já passei por esta rua, escrevi algo parecido, vi essa pessoa ou já escutei essa história. Repito: não consigo precisar datas, horas e lugares deste encontro. Do mesmo modo, estou aqui tentando ler a fachada da pousada para refrescar a memória, mas parece ser em vão. A grande quantia de tinta, letras e riscos atrapalha a leitura.
(Abacates, Sul das Colinas, domingo, 15 de fevereiro de 2009).
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Wemerson Augusto é jornalista em Foz do Iguaçu, Pr.
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Fontes:
- Colaboração do Jornal Guata. Foz do Iguaçu.

- Imagem =
http://angola.linda.googlepages.com/frutasdeangola