sábado, 14 de agosto de 2010

Rogério Salgado


Rogério Salgado nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ). Passou sua infância e parte da adolescência vendo com frequência, sua mãe, a pianista Glória Salgado, tocar piano. Aos sete anos, seu pai veio a falecer, deixando-lhe de herança, uma grande biblioteca.

Em 1974 participou do Teatro Escola de Cultura Dramática, onde descobriu a arte.

Em 1975 escreveu seu primeiro poema.

Participou de muitos festivais de música em sua terra natal.

Em 1979 criou com os poetas Fernando Leite Fernandes, Guilherme Fernandes e Anthony Garotinho o Grupo Abertura de Artes e Estudos, escrevendo a peça teatral Retorno a 200 metros, em parceria com eles.

Em 1980, com a morte da mãe, mudou-se para Belo Horizonte/MG.

Em 1983 criou com Ecivaldo John e Virgínia Reis, a revista Arte Quintal, um dos mais importantes veículos culturais da época.

Em 1993 criou o projeto In/Sacando a Poesia, que consistia em colocar poemas dentro de saquinhos de embalar pães nas padarias, recebendo pelo projeto, o Prêmio Capital Nacional-Categoria Poesia, em Aracaju/SE, em 1998.

Em 1994 teve um conto de sua autoria, adaptado para o extinto programa Você Decide, da Rede Globo de Televisão.

Em 2000 foi editor e orientador de pesquisa do livro Uai Poético Pesquisando as Raízes e Veias Poéticas, de Virgilene Araújo, uma reunião de poetas atuantes na capital mineira. Neste mesmo ano, criou com Wal Souza e outros poetas, o Sarau da Lagoa do Nado, dando inicio a efervescência poética que iria crescer nos próximos anos na capital mineira.

É idealizador e realizador, juntamente com Virgilene Araújo, do Belô Poético-Encontro Nacional de Poesia de Belo Horizonte e Poesia na Praça Sete, este realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de BH, já em sua 3ª edição.

Figura em muitas antologias, entre elas: A Poesia Mineira no Século XX (Imago Editora-1999), organizado por Assis Brasil.
Tem publicado mais de 20 livros.

Em 2008 Virgilene Araújo Publicou o livro Trilhas, uma seleção de 70% de toda a obra poética de Rogério Salgado.

Fonte:
http://www.psiupoetico.com.br/blog/rogerio-salgado/

Cássio Pantaleoni (Ciclo de Palestras "QUATRO VEZES 8" em Porto Alegre)


"Biografia, Autobiografia e Criação Literária" (Robertson Frizero) _ 19 de agosto _ quinta-feira _19h

"As Falácias do Livro Digital" (Cássio Pantaleoni) _ 27 de agosto _ sexta-feira _19h

Sapere Aude! Livros – rua Lopo Gonçalves, nº 33, lojas 1 e 2 – Cidade Baixa – Porto Alegre

Inscrições: gratuitas pelo e-mail 8inverso@8inverso.com.br

Desde sexta-feira, 6, às 19h, a Sapere Aude! Livros – rua Lopo Gonçalves, nº 33 –, em Porto Alegre, ocorre o Ciclo de Palestras "QUATRO VEZES 8", sobre criação literária e o mundo dos livros, promovido pela Editora 8INVERSO em comemoração ao seu 1º aniversário.

"Filosofia e Criação Literária", tema da segunda palestra da programação gratuita que se estende até o dia 27 de agosto, será conduzido pelo mestre em Filosofia, escritor, e sócio-diretor da 8INVERSO, Cássio Pantaleoni. No encontro, voltado a novos autores e interessados em geral, os participantes terão um panorama sobre como os grandes temas da filosofia podem contribuir para o enriquecimento do processo de criação literária. Inscrições gratuitas e mais informações pelo e-mail 8inverso@8inverso.com.br ou pelo telefone 51-3221-0203.

As vagas são limitadas.

A 8INVERSO foi fundada pelo escritor e filósofo Cássio Pantaleoni, a Editora 8INVERSO busca recuperar aquilo que o mercado editorial parece aos poucos deixar de lado – o aspecto de elegância na forma e no conteúdo da obra escrita, como referência aos tempos em que o livro era um item colecionável. Voltada aos livros de literatura, ciências humanas, artes e ensaios em geral, a Editora 8INVERSO tem por missão oferecer um repertório de obras de valor inquestionável que justifique seu lema: Livros que você não vai querer emprestar.

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?nid=2722

Valter Martins de Toledo (A Ira de Deus)


Li recentemente o livro “A Ira de Deus”, de Edward Paice – Editora Record – janeiro de 2010, que disserta sobre o grande terremoto de Lisboa, em 1º de novembro de 1755 – Dia de Todos os Santos – deixando aquela capital em completa ruína, ceifando a vida de um quarto de sua população. Terremoto de 9 (nove) pontos na escala Richter, seguido de tsunami e, depois, de um pavoroso incêndio, “uma destruição sem paralelo na história anterior da Europa”, só igualado ao de Londres.

Tragédias, nestes últimos séculos, ocorreram e não passaram despercebidas; para não citar uma enorme lista, ficamos com a primeira e a segunda guerras mundiais, o genocídio comunista que dizimou mais que as duas grandes guerras, o terremoto do Haiti e as últimas inundações.

O que chama atenção naquele terrível episódio da natureza e listado em primeiro lugar, não desprezando a intensidade e malefício dos demais, não está tão somente na tragédia causada em si, mas a discussão das duas principais religiões da época – catolicismo e protestantismo, aquele, em Lisboa, em maioria, culpando estes, em minoria. Em Londres, ao inverso, prosperava e ainda como dantes, o protestantismo, na sua maioria, culpando o outro em minoria, pelo acontecido.

Passados 255 anos, com o avanço do humanismo, da tecnologia, da educação ao alcance de todos, era de supor que isso poderia ter mudado de rumo, pois houve considerável aumento do conhecimento, antes reservado para poucos. Ledo engano! Para espanto de quem observa a evolução do animal bípede – chamado “ser humano”, não houve evolução, não, como naquela época de D. José, Rei de Portugal, e do Ministro Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo – primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal – Lisboa, 13 de maio de 1699 – Pombal, 8 de maio de 1782 – Secretário de Estado, depois, Primeiro Ministro – iluminista), mas continua ele preso aos preconceitos e vivências de uma sociedade de consumo cheia de crueldade, entorpecida pela maciça propaganda diária dos veículos de comunicação de vários matizes. Uma coletividade doente pelo estresse nauseante de um trânsito caótico e uma competição ferrenha e desigual.

Ninguém tem compromisso a não ser consigo mesmo; o egoísmo (e outros “ismos”) tomou conta do cérebro e entorpeceu a consciência do ser humano, desta primeira quadra do século XXI.

E o que fazer para reverter esta situação calamitosa? Parece-me, depois de uma breve reflexão, agora no albor da terceira idade, que temos de concordar, urgentemente, com Confúcio que há mais de 500 anos a.C., pregava que, enquanto não retificarmos nosso coração, não poderemos retificar o dos outros – como diz a Bíblia – “Ver nos olhos dos outros e não ver a trave nos seus” (Provérbios).

Ora, o difícil de curar um mal que nos aflige é primeiramente conhecê-lo e, após isso, encontrar o medicamento adequado, tomando-o regularmente pelo prazo necessário para restabelecer a saúde.

Conclusão: Se conhecemos o mal que nos aflige e o medicamento que não tenha efeito colateral, não há mais por que esperar para solucionar nossos grandes males.

Então, vamos combater com vigor e com tenacidade, primeiramente o consumismo, não esquecendo de abraçar a ética como se ela fosse escapar e adotar a virtude como meta. Vamos passar a olhar o horizonte de forma tal a recuperar nossas forças e daí passarmos a direcioná-lo verticalmente para o completo restabelecimento da paz social, uma vez que não podemos esperar pelo retorno de D. Sebastião e nem exaltar o sebastianismo.
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Valter Martins de Toledo – magistrado aposentado e jornalista diplomado pela UFPR – fundador da Academia Paranaense de Letras Maçônicas, sendo seu presidente no período de 1996/2006. Membro do Centro de Letras do Paraná, da Academia de Cultura do Paraná, com sede em Londrina, portador das condecorações de Membro Honorário da Força Aérea Brasileira e Medalha do “Mérito Santos Dumont” igualmente da FAB. Atualmente Conciliador voluntário do Núcleo de Conciliação do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

Fonte:
O Autor

Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba continua recebendo inscrições para exposição de livros


Escritores interessados podem participar gratuitamente

O escritor que ainda não inscreveu sua obra para expor durante a 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba, tem até o dia 20 de agosto para preencher e enviar a ficha de inscrição e os exemplares dos livros à comissão organizadora do evento.

Para quem quer realizar sua inscrição pela internet, basta baixar a ficha de inscrição através do site www.semanadoescritor.com.br , depois enviar para o e-mail contato@semanadoescritor.com.br .

Os interessados em fazer a inscrição pessoalmente, devem comparecer com 10 exemplares do livro na FUNDEC, das 14h às 18h, de 16 a 20 de agosto.

A Semana do Escritor e do Livro será realizada de 24 a 28 de agosto, das 14h às 22h, na FUNDEC, com entrada gratuita.

A 6ª Semana do Escritor de Sorocaba conta com o apoio da Prefeitura Municipal.

Serviço:

6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba

Data: 24 a 28 de agosto de 2010

Horário: das 14h às 22h com entrada gratuita

Local: FUNDEC - Rua Brigadeiro Tobias, 73 Sorocaba/SP.

Laé de Souza (Palestra na Bienal do Livro: Experiências em Projetos de Leitura)



No dia 17 de agosto (terça-feira), às 18h, o escritor e produtor cultural Laé de Souza irá ministrar uma palestra no Auditório da PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura, voltado a educadores, escritores, bibliotecários e produtores culturais.

Na ocasião Laé de Souza abordará o tema “Experiências em Projetos de Leitura” transcorrendo sobre a sua experiência em doze anos de projetos de incentivo à leitura e diversos aspectos práticos e legais para execução de projetos culturais subsidiados por leis de incentivo à cultura e abrirá espaço para perguntas da plateia.

Laé de Souza é coordenador do Grupo Projetos de Leitura, que atua em todo território desde 1998, e autor de vários projetos de incentivo à leitura aprovados pelo Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, dirigidos a diversos públicos. Só o projeto “Ler é Bom, Experimente!”, contou neste ano com mais de cem mil alunos participantes, de varias regiões do país.

Além de projetos em escolas, outros são desenvolvidos em hospitais, grupos de terceira idade, parques, ônibus, metrô e praças públicas. O escritor é autor de obras infantis, juvenis e adultos, entre elas, Acontece..., Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Quinho e o seu cãozinho – um cãozinho especial, Nos Bastidores do Cotidiano. São de sua autoria os projetos "Lendo na Escola", "Leitura no Parque", Viajando na Leitura", "Caravana da Leitura", "Minha Escola Lê", Dose de Leitura", entre outros.

O Auditório do PNLL, está localizado na Rua “O”, do Pavilhão de Exposições do Anhembi, onde acontece a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

A palestra é gratuita, está aberta ao público e a inscrição será realizada no próprio local.

Mais informações no site e-mail: contato@projetosdeleitura.com.br , ou telefone (11) 2743-9491.
http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ialmar Pio Schneider (Soneto)


Será que ela virá? Onde estaria,
quando pensando nela, tristemente,
eu me deixo a ficar, no claro dia,
como se tudo fosse indiferente?!

Sem este pensamento o que seria
de minha vida agora inconsequente,
buscando procurar na fantasia
alguém que me conforte ternamente?

Por isto vivo e sonho com saudade
do amor que alimentei na mocidade
que então me suscitava outrora alguém!

Preciso me livrar desta quimera,
pois a que amava já não sei quem era
e parece que não amei ninguém!

Porto Alegre, RS, Tristeza,
27/06/2010

Fonte:
O Autor

Marcos Vinícius Almeida (Madalena)


O vidro da porta estremece. Silêncio. Ouve passos afobados no passeio, e batidas firmes na janela. É o agiota, tem certeza. Conhece esse jeito de chamar. Onde iria arranjar trezentos contos? A janela de aço bambeia. Sapatos picotando no cimento do alpendre. E ela bem quieta. A terceira vez nessa semana, e a semana só tem sete dias. Se o João descobrir ela se ferra. É caso daquelas brigas onde ela sabe que chora. E põe a culpa na filha, que é gastadeira, danada, desmiolada; faz contas nas lojas e depois ela tem que cobrir. Lavando roupa pra fora, faxineira e até uns salgados. Mas o dinheiro é miúdo. É luz, e mantimento e o telefone cortado. “Cê não põe freio nessa menina, tem que por freio nessa menina” – ele avisa quando vira a cara pro canto e suspira.

Barulho na porta. Antes isso que a loja, ela pensa. O homem da loja é encrenqueiro. E falador. Um fofoqueiro. Coisa mais feia do mundo é homem fofoqueiro. Seu Carlos? Não. De jeito nenhum. Agiota que dá com a língua nos dentes perde dinheiro. Seu Carlos é muito discreto. Sabe fazer negócio. Sempre que precisa pode contar com ele. Quantas vezes? Muitas, muitas vezes... Cada sufoco!... E ela sabe que vai precisar de novo. Cedo ou tarde. As contas sempre aumentam, ela sabe muito bem. O dinheiro do João só encurta. A menina depois de moça dá muito gasto.

— Madalena! — grita a voz lá fora.

Agora não tem dúvida. E fica quieta espiando a sombra de pernas esgueirando—se debaixo da porta. Vai ter que atender, não tem jeito.

Abre a porta.

— D. Madalena. Tudo bem?
— É o senhor, Seu Carlos, vamo chega, uai!
— Já tem dias que venho aqui, mas não encontro a senhora...
— Pois é, Seu Carlos... É essas faxinas que faço pra fora, né? Senta, Seu Carlos. Aceita um café?

Ele senta e aceita o café. E quando ela deixa a sala, com seu vestido branco de florzinha amarela, ele espia as batatas das pernas parrudas que ela depilou hoje pela manhã.

— O café, Seu Carlos – na xícara de porcelana que ganhou da avó no casamento.

Ela senta e cruza as pernas.

— Cafezinho da senhora é uma beleza, D. Madalena... A Joana não acerta na mão, sabe?
— Sei, Seu Carlos...
— Quase não tomo café. Não dá nem gosto... Mas esse café da senhora, é uma beleza!
— Ai, obrigada... Desde pequena que eu faço. Acabei pegando o jeito, né?... O senhor aceita um pão-de-queijo?
— Não, muito obrigado. Vou ficar só no cafezinho mesmo.

Ficam em silêncio. E ela imagina uma desculpa bem boa pra dar. Pensa em falar que não recebeu um dinheiro que tinha pra receber. Que a filha ficou doente e foi obrigada a gastar o dinheiro que tinha separado pra ele.

— A situação tá feia, né, D. Madalena? — ele diz repousando a xícara no colo.
— É essa crise Seu Carlos... Todo mundo anda apertado — e baixa os olhos.
— Nunca vi crise assim, D. Madalena. E se não fosse por isso, eu não viria aqui falar com a senhora.
— E se já não bastasse a crise, ainda acontece cada coisa com a gente, né?... Minha filha ficou doente esses dias, e remédio anda tão caro...
— Anda mesmo, mas doença não pode esperar. Em primeiro lugar a saúde, D. Madalena.
— Ah, sim... A saúde em primeiro lugar.
— Mas o quê que ela teve?

Ela hesita.

— Como que é mesmo... Um nome complicado... Tem hora que eu me esqueço...
— Mas é grave?
— Se tratar no começo, o doutor disse que não... Mas remédio anda tão caro, Seu Carlos... Tava com o dinheiro do senhor aqui separadinho, mas a menina adoeceu e eu tive que gastar. Tenho dinheiro pra receber por conta de faxina, mas o povo atrasa, sabe?
— Sei como é essas coisas, D. Madalena. Mas a menina tá melhor?
— Mais ou menos...
— Esses trem de saúde são muito complicado mesmo... A Joana, minha esposa, também tá doente. Teve internada, fez um monte de exame e eu não paguei o hospital até hoje, D. Madalena. Estão me mandando cobrança em cima de cobrança... E eu não sei o que eu faço. Porque do jeito que a Joana tá, periga deu ter que internar ela de novo, aí não sei como é que vou fazer...
— Complicado demais...
— Muito complicado.
— Acontece que eu não tenho mesmo... Não tenho de onde tirar.
— Seu marido não tem?
— Meu marido nem sabe do nosso negócio, Seu Carlos... Ele me vigia muito nos gastos, já expliquei isso pro senhor...
— Sim, eu lembro...
— Pra mim pedir dinheiro pra ele, tenho que falar pra quê que é... E ele não me passa o dinheiro, ele mesmo vai lá e paga... O João é muito sistemático... E se ele souber que eu devo o senhor. Nossa senhora...
— Eu compreendo... Mas acontece que eu preciso desse dinheiro, D. Madalena — diz meio sem graça.
— Eu entendo o senhor, mas se não fosse essa doença da minha filha... Aceita mais um café?

Ele aceita. E quando ela levanta, ele vê a calcinha branca aparecendo sem que ela perceba
.
— Cafezinho bom...
— Mas como eu tava falando... Se não fosse a doença da minha filha...
— E eu ainda tenho passado por outros problemas, D. Madalena...
— Que problemas, Seu Carlos?
— Ah, a Joana não anda muito bem comigo... Ainda mais com a doença agora...
— E que doença ela tem?
— Não anda bem da cabeça... Tem a conta do hospital.... E esses médicos de cabeça são muito caros, e tudo à vista, a senhora sabe... Tratamento demorado... Mas com isso a gente até que se vira, pula de um lado pro outro e acaba dando um jeito de pagar... Mas essas coisas de marido e mulher é muito difícil... Já tem bem tempo que a gente não faz nada, a senhora entende?
— Entendo...
— Eu fico muito sozinho...

Silêncio. E ele baixa a cabeça. Ela olha nos sapatos dele. Sapatos bem novos. E depois nas mãos sem calo.

— A gente tem umas fases meio difíceis mesmo, Seu Carlos... A vida é dura.
— É, a vida é dura...

Ele olha no pé dela, no chinelo havaiana balançando. No joelho redondo e lembra dela menina. E conta uns casos de antigamente, de fulano e ciclano, de quem casou com quem e separou de quem: isso dura uns vinte minutos.

— Quando a gente é novo tudo é mais simples, né?
— É sim, Seu Carlos... Ah, mas é porque era a gente que dava problema... Agora é a gente que resolve. Eu não tive problema de saúde não, mas era bem danada — e sorri.
— Não era não, D. Madalena... Era uma moça bem direita.
— Ah, mas minha mãe ficava no pé... Eu tinha era medo... Ela só queria meu bem, né?
— A gente até deu umas namoradas naquele tempo, a senhora se lembra?

Ela ri. E mexe o corpo no sofá.

— Foi mesmo, Seu Carlos. Eu bem que lembro... Eu era bem rapariga. Não sabia das coisas.
— Ah, a senhora sempre foi muito bonita, D. Madalena.

Ela se inclina um pouco pra trás. Mexe no cabelo preso. E olha pra ele.

— Ando tão descuidada...
— Mas continua bonita... Com todo respeito.

Ela olha nas roupas bem novas do homem. E no rosto dele bem conservado pra quarenta e poucos anos.

— O senhor acha?
— Sim, continua bonita como naquele tempo.
— Seu Carlos, Seu Carlos...
— O quê, D. Madalena?
— O senhor, falando essas coisas...
— Mas é a verdade, com todo respeito.
— Sei...
— Aliás, não me esqueço daquele dia...
— Eu era muito nova... E tinha medo das coisas...
— Ainda tem medo?
— Seu Carlos, Seu Carlos... O senhor não vai conseguir... — sorri.
— Conseguir o quê, D. Madalena?
— Isso que o senhor está pensando... Não sou dessas... Tenho marido, tenho filha...
— Eu também tenho esposa...

Ficam em silêncio. Meio sem graça.

— Se o João descobre... — ela sussurra.

Fonte:
Revista Bula.
http://www.revistabula.com/posts/contos/madalena
Imagem =
http://idasevindasdavida.blogspot.com

Marcus Vinicius Almeida (Livro “Inércia”)


Percorrer as páginas de Inércia, romance de estreia de Marcos Vinícius Almeida, é, antes de mais nada, movimentar-se. Movimentar-se pelas frases diretas e certeiras do autor, sem dúvida, mas movimentar-se também pelos caminhos enviesados do narrador Juan, por seus desejos, sonhos, pensamentos, bebedeiras, hesitações, ousadias. É deixar The Cure e Joy Division tocando na cabeça para mergulhar no mundo desse estudante de filosofia capaz tanto de discutir Schopenhauer numa manhã de ressaca quanto de atrair um “ombrinho branco” ou a atenção da garota mais disputada da cidade. É acompanhar o vai-e-vem de um namoro-casamento um tanto quanto falido, é acompanhar o moleque magricela e orelhudo por seus porres noite adentro. É acompanhar Juan até onde der. Com cerveja barata, conhaque, pinga com refrigerante, baseados, cigarros vagabundos, pelas ruas de São João Del Rey ou da pequena cidade de Luminárias, no pequeno mundo de Juan, nos seus amigos de infância e de faculdade, na inconstância das meninas, nas salas de aula ou no bar da família.

"Todo corpo permanece em seu estado de repouso ou de movimento retilíneo e uniforme, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças a ele impressas." Assim dizia Newton, e assim Marcos Vinícius Almeida pergunta ao leitor: meu personagem está parado ou em movimento? Mover-se por esse universo de Juan, é isso “estado de repouso”? é “movimento retilíneo e uniforme”? Para onde vai meu personagem? Caminha ao acaso? Ou, tal qual um Sísifo mineiro do século XXI, apenas arrasta suas pedras até o cume dos morros para vê-las cair e recomeçar o trabalho? Pois a vida de segunda e terça e sábado é isto: “Conversar com o pessoal. Beber. Falar de coisas inúteis. Ouvir Joy Division e esperar o dia amanhecer. É realmente a melhor opção.” É isso, até que uma força exterior a ele impressa o obrigue a mudar seu estado, a tomar outro rumo. Aí a vida de Juan quem sabe vai por uma nova direção, ou quem sabe o que lhe espera não é mais um desses infinitos estados inerciais.

Imóvel ou em movimento, Juan e sua história gritam a nós, leitores. “Porque você é só um pronome de tratamento; então eu grito bem alto, mas o som não se propaga no vácuo...” Se o som não se propaga no vácuo, é preciso estar próximo a Juan para ouvir sua voz. E por isso os capítulos de Inércia nos chamam, nos querem por perto, presos, acompanhando cada frase. Ao lado de Lúcia ou de Tati, na casa de Éder ou vendendo cervejas e uísque no bar do qual seu pai é proprietário, bebendo até cair ou perdendo a partida na sinuca, esta é a vida que Juan nos convida a viver. Porque ler a primeira frase do livro é aceitar a força por ele impressa, ou seja, é dar início a um movimento que não vai mais parar até a última frase. E se o romance se fecha com reticências, é porque sua leitura ainda vai deixar margem para reflexões posteriores. Afinal, até que se diga o contrário, o movimento continua.
texto de Victoria Saramago.

"Inércia retrata os dramas e sonhos de Juan, um jovem estudante de filosofia que precisa repensar suas escolhas, a adolescência passada em Luminárias e o casamento um pouco frustrado que vive em São João del Rei. Apesar das coincidências entre o personagem e o autor, o livro não é uma autobiografia."
(Jornal O Tempo - BH)

"Dotado de um aspecto embrionário, e cheio de surpresas, Inércia é o romance de estreia de Marcos Vinícius Almeida. Ele, mineiro de Luminárias, faz de seu ofício algo raro e essencial: seduzir o leitor desde a primeira linha com uma proximidade e identificação em relação aos personagens.

Lançado pela Multifoco há alguns meses, Inércia também denota caminhos, mostra possibilidades e gera expectativa. Não é fácil escrever um romance de relativo fôlego aos 20 e poucos anos (que seria lançado tempos depois). No livro, apresenta-se Juan, que assim como o autor se vê às voltas com situações corriqueiras e relacionamentos cotidianos. Há ai um Q de biográfico, responsável por envolver leitor a partir de pontos como identificação e proximidade
" ( Solmão Terra, OPPERAA - MONDO CULT)

O que sobressai no romance de Almeida é o senso de humor. É um livro divertido, narrado em primeira pessoa por Juan, estudante de filosofia, universitário que gosta de beber, fumar e que está em meio a uma crise de consciência, e por isso conta seus sabores e dissabores amorosos.(...) O autor se refere a si mesmo como 'jovem caipira' dono de uma 'inerente falta de talento.' É claro que a inteligência de cada um, na perspectiva do autoexame, outorga ao sujeito a possibilidade de se achar sem determinadas qualidades. Mas neste caso, parece mais modéstia em excesso, no que diz respeito à falta de talento." Leituras do Giba - Gilberto G. Pereira - Jornalista. (Tribuna do Planalto-GO) e Diário do Comércio (SP), revistas Superinteressante e Época).
––––––––––––––––––-
Marcus Vinicius Almeida nasceu em 1982 na grande SP; vivendo sempre em Luminárias-MG. Publicou alguns contos em antologias, sites e revistas como a Cult, Suplemento Literário de MG e Cronópios; um romance: Inércia (Ed. Multifoco: 2009). Editor do Selo Terceira Margem e colunista da Revista Bula.

Selecionado na Oficina de Criação Literária (2010) do escritor Assis Brasil, do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS.

Fontes:
O Autor
Comentários (http://www.quebracorpo.com.br/home/livro)
http://portalliteral.terra.com.br/perfis/marcos-vinicius-almeida

Concurso para Criação da Letra do Hino à Bandeira da União Brasileira dos Trovadores (UBT)


(Divulgado no Boletim Nacional nº 505)

Dados Importantes

- A UBT possui um emblema que tem por base uma rosa vermelha – símbolo do lirismo, e, quatro linhas douradas, que representam os quatro versos da trova.
O verde simboliza o Brasil.
O branco simboliza a paz.
A rosa vermelha é o símbolo do lirismo e da UBT.

A idéia da Bandeira foi de Luiz Otávio.

Quem desenhou a Bandeira da UBT, foi grande Trovadora Iraci Nascimento Silva.

Agora só está faltando um Hino à nossa Bandeira.

CONCURSO PARA CRIAÇÃO DA LETRA DO HINO À BADEIRA DA UBT.
REGULAMENTO:

ENDEREÇO PARA REMESSA:
Para o e-mail: mariastinglin@hotmail.com
OU:
A/C de Mª da Graça Stinglin de Araújo - Rua Petit Carneiro, nº734 aptº301 - Bairro Água Verde- CURITIBA - PR- CEP: 80.040-050.

OBS nº1 - A letra do Hino deverá ser composta em 06 Trovas, sendo que a última Trova deverá ser composta para servir de estribilho do Hino.

Máximo de uma composição por trovador.

OBS nº 02-Enviar a letra com a identificação e um pseudônimo. A Coordenadora do Concurso enviará a letra do Hino, apenas com o pseudônimo, para a Comissão Julgadora composta pelo Presidente Nacional e Conselho Nacional.

OBS nº 03-Verificada a letra vencedora e o seu respectivo autor, a Coordenadoria do presente Concurso tratará da composição musical do Hino.

A divulgação e a apresentação oficial do Hino acontecerão durante as festividades dos J. Florais de Balneário Camboriú- SC -que por motivos de ser ano eleitoral foram adiadas para 15, 16, e 17 de abril de 2011.

PRAZO: 15-09-2010

Agradecemos aos Irmãos Trovadores e esperamos suas participações.

Maria da Graça Stinglin
UBT Curitiba
Presidente

Fonte:
UBT/PR - Seção Curitiba

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pedro Ornellas (Refúgio)


Todo poeta tem, por ser poeta,
um mundo à parte, pleno de magia!
Só ele sabe a porta, que é secreta,
fronteira entre o real e a fantasia.

Ali depõe a mágoa que o alfineta,
se o mundo o fere, ali se refugia...
É ali que encontra a paz e se completa
quando conversa, a sós, com a poesia.

Nesse lugar que a mente humana cria
o Amor é a lei, o bem a ordem-do-dia,
o idioma é a Paz e quem governa é a Arte!

Não é um lugar nas dimensões terrenas,
mas um estágio ao qual se eleva apenas
quem da Poesia faz seu mundo à parte!

Fontes:
O Autor

Ruth Rocha (As Coisas que a Gente Fala)


As coisas que a gente fala
saem da boca da gente
e vão voando, voando,
correndo sempre pra frente.
Entrando pelos ouvidos
de quem estiver presente.
Quando a pessoa presente
É pessoa distraída
Não presta muita atenção.
Então as palavras entram
E saem pelo outro lado
Sem fazer complicação.

Mas ás vezes as palavras
Vão entrando nas cabeças,
Vão dando voltas e voltas,
Fazendo reviravoltas
E vão dando piruetas.
Quando saem pela boca
Saem todas enfeitadas.
Engraçadas, diferentes,
Com palavras penduradas.

Mas depende das pessoas
Que repetem as palavras.
Algumas enfeitam pouco.
Algumas enfeitam muito.
Algumas enfeitam tanto,
Que as palavras - que
Engraçado!
- nem parece as palavras
que entraram pelo outro
lado.

E depois que elas se espalham,
Por mais que a gente procure,
Por mais que a gente recolha,
Sempre fica uma palavra,
Voando como uma folha,
Caindo pelos quintais,
Pousando pelos telhados,
Entrando pelas janelas,
Pendurada nos beirais.

Por isso, quando falamos,
Temos de tomar cuidado.
Que as coisas que a gente fala
Vão voando, vão voando,
E ficam por todo lado.
E até mesmo modificam
O que era nosso recado.

Eu vou contar pra vocês
O que foi que aconteceu,
No dia em que a Gabriela
Quebrou o vaso da mãe dela
E acusou o Filisteu.

- Quem foi que quebrou meu vaso?
Meu vaso de ouro e laquê,
Que eu conquistei no concurso,
No concurso de crochê?
- Quem foi que quebrou seu vaso?
- a Gabriela respondeu
- quem quebrou seu vaso foi...
o vizinho, o Filisteu.

Pronto! Lá vão as palavras!
Vão voando, vão voando...
Entrando pelos ouvidos
De quem estiver passando.
Então entram pelo ouvido
De dona Felicidade:
- o Filisteu? Que bandido!
que irresponsabilidade!
As palavras continuam
A voar pela cidade.
Vão entrando nos ouvidos
De gente de toda idade.
E aquilo que era mentira
Até parece verdade...

Seu Golias, que é vizinho
De dona Felicidade,,
E que é o pai do Filisteu,
Ao ouvir que o filho seu
Cometeu barbaridade,
Fica danado da vida,
Invente logo um castigo,
Sem tamanho, sem medida!
Não tem mais festa!
Não tem mais coca-cola!
Não tem TV!
Não tem jogo de bola!
Trote no telefone?
Nem mais pensar!
Isqueite? Milquicheique??
Vão acabar!

Filisteu, que já sabia
Do que tinha acontecido,
Ficou muito chateado!
Ficou muito aborrecido!
E correu logo pro lado,
Pra casa de Gabriela:
- Que papelão você fez!
Me deixou em mal estado,
Com essa mentira louca
Correndo por todo lado.
Você tem que dar um jeito!
Recolher essa mentira
Que em deixa atrapalhado!

Gabriela era levada,

Mas sabia compreender
As coisas que a gente pode
E as que não pode fazer;
E a confusão que ela armou,
Saiu para resolver.

Gabriela foi andando.
E as mentiras que ela achava
Na sacola ia guardando.
Mas cada vez mais mentiras
O vento ia carregando...
Gabriela encheu sacola,
Bolsa de fecho de mola,
Mala, malinha, maleta.

E quanto mais ia enchendo,
Mais mentiras ia vendo,
Voando, entrando nas casas,
Como se tivessem asas,
Como se fossem - que coisa!
- um milhão de borboletas!

Gabriela então chegou
No começo de uma praça.
E quando olhou para cima
Não achou a menor graça!
Percebeu - calamidade!
- que a mentira que ela disse
cobria toda a cidade!

Gabriela era levada,
Era esperta, era ladina,
Mas, no fundo, Gabriela
Ainda era uma menina.
Quando viu a trapalhada
Que ela conseguiu fazer,
Foi ficando apavorada,
Sentou-se numa calçada,
Botou a boca no mundo,
Num desespero profundo...

Todo mundo em volta dela
Perguntava o que é que havia.
Por que chora Gabriela?
Por que toda esta agonia?
Gabriela olhou pro céu
E renovou a aflição.
E gritou com toda força
Que tinha no seu pulmão:
- Foi mentira!
- Foi mentira!

Com as palavras da menina
Uma nuvem se formou,
Lá no alto, muito escura,
Que logo se desmanchou.
Caiu em forma de chuva
E as mentiras lavou.

Mas mesmo depois do caso
Que eu acabei de contar,
Até hoje Gabriela
Vive sempre a procurar.
De vez em quando ela encontra
Um pedaço de mentira.
Então recolhe depressa,
Antes dela se espalhar.
Porque é como eu lhes dizia.
As coisas que a gente fala
Saem da boca da gente
E vão voando, voando,
Correndo sempre pra frente.

Sejam palavras bonitas
Ou sejam palavras feias;
Sejam mentira ou verdade
Ou sejam verdades meias;
São sempre muito importantes
As coisas que a gente fala.
Aliás, também têm força
As coisas que a gente cala.
Ás vezes, importam mais
Que as coisas que a gente fez...
"Mas isso é uma outra história
que fica pra uma outra vez..."

Fonte:
http://www2.uol.com.br/ruthrocha/

Aparecido Raimundo de Souza (Chuva e Saudade)


Cai a chuva... é triste o dia...
A manhã é cinzenta e baça...
E eu mudo vejo a chuva fria,
A correr de leve na vidraça...

E a chuva cai... cai e não passa...
Nem sequer a chuva estia...
Para que um pouco se desfaça,
A saudade de quem eu tanto queria!...

Qual essa vidraça, está meu rosto...
E meus olhos não querem desanuviar...
É por demais sofrido o meu desgosto...

Aumenta a chuva e com ela a minha dor...
Soluço qual criança perdida, sem cessar,
Na incerteza de ao menos rever-te amor!...

Fonte:
http://umcoracaoqueama.blogspot.com/

Roza de Oliveira (Poemas Avulsos)


PRIMAVERA

Todo ser tem seu tempo de expressão.
Baila a ave se a vida é movimento,
E canta quando a vida é uma canção,
Seja na alegria ou no tormento.

A primavera é um festival de vida.
Da planta sai poesia colorida:
Poesia-flor que transborda docemente
O prazer de ser fruto e ser semente.

Cada flor tem seu verso e sua rima
Nas florestas, nas praças e nas casas,
Do amor é poesia cristalina!

E na expressão que vitaliza esse planeta
Se, de repente as flores criam asas…
Não é verso-fantasma! – é borboleta!

VERSOS LIVRES

INSTANTÂNEO

Sempre que me inauguro
em teu sorriso
sinto tocar de leve
o Paraíso

METAMORFOSE

Dentre as setas
com que me feres
eu forjarei a Agulha
com que bordarei a tela
da minha noite escura.
Nela tecerei
a Estrela que nos guia
com mãos de ternura

RELÓGIO DE SOL

Relógio de sol
Eu sou.
Nuvens e trevas
Rejeitando vou…
Só registro as horas
Em que o sol brilhou

CASA ONÍRICA

Bem no pico dos meus sonhos
construí minha morada,
sem paredes, sem telhados,
sem limites nos seus lados.

Bem que o telhado varia.
Varia conforme o dia:
há telhado de gaivotas,
de estrelas, de andorinhas!

Minha cama é uma nuvem,
minha mesa - a lua cheia.
O vento - é o meu cavalo!
Sou turista do infinito!

RELÂMPAGOS DIVINOS

Relâmpagos luzindo em noite escura
em seus corcéis de luz aurifulgente,
anunciais de forma rica e pura
um mágico saber - clarividente!

Telegramas de luz cuja linguagem
computador nenhum pode gravar
e, presciente dessa luz-imagem,
só o poeta a sabe decifrar.

Bendito seja tal conhecimento
que em seus raios de luz, força e verdade
emerge dos arcanos de uma alma.

E, assim sendo, relâmpagos divinos
trazeis da criação a tempestade
que me compensará com paz e calma.

Elisa Meirelles (Literatura do 6º ao 9º ano: ensine a teoria sem deixar de lado as práticas de leitura)



Nos anos finais do Ensino Fundamental, ler sobre os livros é tão importante quanto ler os livros. A turma precisa começar a entender os diferentes estilos e recursos linguísticos usados pelos autores, sem deixar de lado as práticas de leitura

Chegou a hora de (além de ler para ampliar o repertório de obras e autores) começar a estudar a literatura. Nos anos finais do Ensino Fundamental, o ideal é que a turma analise os recursos linguísticos, os detalhes das histórias e as diferentes características dos textos literários sem se esquecer do hábito de ler (aquilo que os especialistas chamam de práticas sociais de leitura). É importante apresentar textos mais complexos aos alunos e lançar mão de conhecimentos teóricos para entendê-los melhor.

POR QUE LER E ENSINAR LITERATURA

Para ir além do simples hábito de ler. Quando lemos um livro de poesias, elas nos emocionam e nos fazem refletir, buscar interpretações possíveis e tirar conclusões. E se alguém contar que essa obra foi escrita durante uma guerra, por exemplo, quando todos os escritores eram perseguidos? Ou chamar a nossa atenção para a estrutura do poema e nos fizer pensar por que o autor usa cada palavra, cada figura de linguagem? Com certeza, nossa visão sobre a obra vai mudar e vamos entender melhor aquele conjunto de versos. É isso que acontece quando você alia o ensino da literatura às práticas de leitura. Os alunos aproveitam a teoria para ampliar o olhar sobre os livros.

QUEM LÊ

Nessa etapa da escolarização, o jovem precisa se acostumar à leitura autônoma. Mas algumas atividades coletivas podem ser mantidas (um bom exemplo é a leitura, pelo professor, de um texto de difícil compreensão, com o objetivo de ajudar na interpretação). Seu papel passa a ser o de orientador, que apresenta novidades e levanta questões para o desenvolvimento do senso crítico, sempre valorizando a opinião de todos. As atividades individuais de leitura são essenciais para criar uma relação pessoal com os livros, que se mantém pelo resto da vida.

COMO LER

"Um segredo para formar leitores é misturar os momentos de leitura íntima, silenciosa e pessoal com outros de troca sobre como cada aluno se relaciona com o que leu", escreveu recentemente num artigo a argentina Nora Solari, especialista em Didática da Língua e da Literatura. Levar os jovens a falar sobre textos literários com os colegas é uma boa maneira de manter e ampliar seus hábitos leitores. Ao fazer com que os estudantes se aproximem de um livro que querem ler, você os coloca diante de um desafio. A turma terá de discutir e confrontar ideias para construir significados em relação à obra, terá de procurar as respostas escondidas nas entrelinhas (e esse prazer de entender melhor os livros é um dos grandes baratos da literatura).
QUANDO LER

A leitura continua sendo uma atividade permanente do 6º ao 9º ano. Cabe a você organizar o planejamento para incluir tanto as obras obrigatórias, estudadas nas aulas de teoria literária, como os textos escolhidos livremente pelos alunos.

ONDE LER

A exemplo do que já foi dito em relação aos anos iniciais do Ensino Fundamental, não há espaços específicos para ler. O aluno que tem o hábito da leitura busca os próprios cantos.

O QUE LER

Na hora de ajudar a turma a escolher os livros, é importante conhecer o repertório e os interesses dos estudantes (coisas que cada um curte fazer nos fins de semana, assuntos que lhes interessam). Com base nisso, fica mais fácil sugerir leituras que farão sucesso. Segundo Rildo Cosson, autor de Letramento Literário: Teoria e Prática, indicar uma obra que dialogue com um jogo de videogame é um meio poderoso de atrair a garotada para a história. Além disso, a consolidação dos hábitos de leitura permite explorar textos mais difíceis e desafiadores, bem como conhecer novos autores e estilos (confira no quadro abaixo algumas indicações para os estudantes do 6º ao 9º ano).

OS ERROS MAIS COMUNS

- Analisar só os aspectos gramaticais. Deixar de lado as interpretações de um livro está muito longe de ser uma boa forma de desenvolver comportamentos leitores na turma.

- Separar forma e conteúdo. Colocar em discussão apenas os temas tratados no livro e deixar de lado a forma é um problema recorrente nas aulas de Língua Portuguesa. A interpretação completa de uma obra depende não só do que é dito, mas de como é dito. Até porque todo mundo sabe que um poema é diferente de uma crônica ou conto.

Fonte:
Revista Nova Escola. n. 384 - agosto 2010.

Apparicio Silva Rillo (Romance do João da Gaita)


Sempre a tocar o cavalo
João da Gaita se criou.

Nem sabia o que buscava
- se estrela, estrada, horizonte.
Andava como os arroios
que desprendidos da fonte
procuram seu próprio curso
pelos acasos do chão.

O claro clarim dos galos
cada nova madrugada
já o encontrava encilhando
para a invenção de outro rumo.
E as nazarenas cantavam
em contraponto aos cochichos
- elas também dois galitos
armados em couro e prata,
com esporões de treze pontas
sonorizando as manhãs.

Quando a noite era mais clara
e o caminho parecia
um longo rio preguiçoso
entordilhado da lua,
João da Gaita e seu cavalo
lembravam, pelo perfil,
um barco a vela fugindo
pelas pratas deste rio ...

Se alvorotavam as estâncias
quando o gaudério chegava
no seu jeitão despachado
de índio caminhador.
Na garupa a oito-baixos
que só faltava falar,
e na garganta as notícias
do mundo velho largado
por onde houvera cruzado
na sua sina de andar.

Eram novas de peleias,
de mercancias e cambichos,
de sucessos em bolichos,
conchas de tava e carreiras,
e tudo à sua maneira
de entender o assucedido,
filosofando comprido
como um rábula sabido
em tricas de tribunal.

À noite, rente do fogo,
o andarengo abria a gaita
como quem abre um missal.
Oficiante extraordinário
que das pautas do hinário
só repicava aleluias
para o concerto ritual.

Quando estirava os dois braços
abrindo os foles da gaita,
o celebrante do ofício
recordava Jesus Cristo
no lenho do sacrifício
no seu Dia da Paixão...

E o fogo bordava rendas
no bastidor estirado
do santa-fé do gaipão.
E a cuia fazia roda
na ciranda centenária
da volta do chimarrão.
E a gaita velha chorava
que nem china candongueira
que enfrenou para carreira
o flete do coração.

Cantava o primeiro galo.
Mais um mate, e o andarengo
sentava os recaus no pingo
para a jornada do dia.

Quando o sol aparecia,
João da Gaita, lá da estância,
lembrava, já mui longito,
no pala branco abanando
algum joão-grande voando
na direção do infinito ...

Um dia, no pampa largo,
clarins de guerra tronaram
chamando à revolução.
Pelas estâncias e vilas
caudilhos juntavam gente
pra o entrechoque iminente
jogando irmão contra irmão.

João da Gaita, o andarengo,
mesmo pouco percebendo
qual o sentido da luta
também foi na reculuta
como vaqueano da tropa.

Quando os caudilhos gritavam
pela coragem dos tebas,
nas cargas de espada e lança
os cascos da cavalhada
multiplicavam tambores
no couro tenso do chão.

Era a luta - transformando
cada local de combate
num campo-santo onde as cruzes
eram o "esse" das adagas
espetadas contra o céu.

Nos fogões de acampamento,
pelos alces dos combates,
a velha gaita se abria
num responso varonil.

E a indiada lembrando bailes,
surungos de trocar passo,
ia marcando o compasso
na coronha do fuzil.

E João da Gaita pensava
olhando as mãos nas hileiras
que aquelas manoplas largas
por tempos de paz e guerra
tinham distinta função.

Pelos combates e encontros
empunhando adaga e lança,
semeando a destruição,
e nos descansos da luta
puxando a gaita manheira
nas comunhões de alegria
das rodas de chimarrão.

La fresca, não entendia
por que sina Deus lhe dera
duas funções tão distintas
para o mesmo par de mãos.
Porque a lo largo entendia
que pelear estava errado
quando no campo da luta
justava irmão contra irmão.

- Ah, se pudesse algum dia
ver a querência irmanada
sem que faltasse nenhum
num grande baile comum
à sombra de uma ramada
E ele de gaita estirada
que nem cobra em ressolana,
compassando a meia-canha
das polcas de relação ...

Lá um dia percebeu,
para o seu entendimento
de índio meio bagual,
que o que chamavam "ideal"
era apenas, bem pensando,
ambição pura de mando
dos chefões da capital.

... daqueles que concitando
a gauchada ao combate
ficavam tomando mate
peleando só por jornal...

... desses que sonham, afinal,
por chegar de qualquer jeito,
seja forçando um direito,
seja quebrando um acordo,
ao saleiro de boi gordo
da governança estadual.

Numa noite muito escura
atou a gaita nos tentos
e, pingo pelo buçal,
largou-se do acampamento
três horas antes do dia
para mandar-se a la cria
direito à Banda Oriental.

Desertor? Talvez o fosse,
fazia pouca questão.
Mas desertor por consciência,
ficasse bem entendido
- soldado não é bandido
para abater um amigo
só porque manda o chefão...

Nunca mais se soube dele,
porque nunca mais voltou.
Quem sabe pra não ouvir
pelas charlas de galpão
a tristeza dos assuntos
lembrando os louras defuntos
sacrificados em vão.

Quem sabe pra não ouvir
sua história mal contada
por quem jamais a entendeu.
Por quem apenas colheu
de um gesto todo razão
a mentirosa aparência
de ter negado a querência
como covarde e fujão...

Morreu, decerto, sem ter
realizado o seu sonho,
que é a impossível miragem
dos puros de coração:

Ver a querência irmanada
sem que lhe falte nenhum
num grande baile comum
à sombra de uma ramada ...

Fontes:
http://www.paginadogaucho.com.br/poes/lista.htm
Imagem = http://sanguegaucho.blogspot.com/

Antonio Cândido (Literatura e Sociedade: A Literatura na Evolução de uma Comunidade) Parte 1


Se não existe literatura paulista, gaúcha ou pernambucana, há sem dúvida uma literatura brasileira manifestando-se de modo diferente nos diferentes Estados. Neste artigo, não interessa, por isso mesmo, delimitar produções e autores segundo o critério estrito do nascimento, mas segundo o critério mais compreensivo e certo da participação na vida social e espiritual da cidade de São Paulo. Esta apresenta algumas características, e é compreensível que a sua influência marque literariamente os que nela vivem, de modo mais forte que as do lugar onde nasceram.

Com efeito, entendemos por literatura, neste contexto, fatos eminentemente associativos; obras e atitudes que exprimem certas relações dos homens entre si, e que, tomadas em conjunto, representam uma socialização dos seus impulsos íntimos. Toda obra é pessoal, única e insubstituível, na medida em que brota de uma confidencia, um esforço de pensamento, um assomo de intuição, tornando-se uma "expressão". A literatura, porém, é coletiva, na medida em que requer uma certa comunhão de meios expressivos (a palavra, a imagem), e mobiliza afinidades profundas que congregam os homens de um lugar e de um momento, para chegar a uma "comunicação".

Assim, não há literatura enquanto não houver essa congregação espiritual e formal, manifestando-se por meio de homens pertencentes a um grupo (embora ideal), segundo um estilo (embora nem sempre tenham consciência dele); enquanto não houver um sistema de valores que enferme a sua produção e dê sentido à sua atividade; enquanto não houver outros homens (um público) aptos a criar ressonância a uma e outra; enquanto, finalmente, não se estabelecer a continuidade (uma transmissão e uma herança), que signifique a integridade do espírito criador na dimensão do tempo.

Segundo este critério, só há literatura em São Paulo depois da Independência, e notadamente depois da Faculdade de Direito. Mas antes, na segunda metade do século XVIII, já se esboçavam aquelas condições. Manifestações literárias, — que é coisa diferente, — isto houve desde os autos e poemas de José de Anchieta.

Nem podia ser de outra maneira. Que meio seria o paulistano, para permitir a atividade intelectual? No século XVIII, quando os costumes principiam a civilizar-se, sabemos que não havia por aqui homens de letras senão os clérigos, e um ou outro civil. Grandes paulistas como Alexandre de Gusmão, Teresa Margarida, Matias Aires, Lacerda e Almeida são na verdade portugueses pela inteligência, não chegando a contribuir diretamente para as luzes da pátria. O ambiente era culturalmente tão pobre, que em 1801 o governador Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça oficiava do seguinte modo ao agitado D. Rodrigo de Sousa Coutinho, dando conta dos resultados da sua política cultural:

Recebi o Avizo n° 19 de 6 de agosto de 1800, e com elle a relação de alguns Impressos com a importância de 165$780 rs. cujos Impressos já chegarão a esta Capitania; mais como nella há tanta falta de compradores, quanta é a negligência, e descuido q' tem havido em se cultivar as Artes e as sciencias não há que se anime a comprar hum só livro, de maneira que muitos dos que se tem espalhado, tem sido dados por mim etc.

As letras compareciam de maneira oficial, em sentido puramente comemorativo, como verso e prosa de circunstância, nas solenidades públicas. Artur Mota cita um manuscrito pertencente a Ian de Almeida Prado, onde se compendia a parte literária das solenidades em homenagem a Sant'Ana, por ordem do Morgado de Mateus no ano de 1770 — a cargo de clérigos e professores na maior parte. De que maneira o poder público incorporava a literatura, geralmente pífia, às suas comemorações, podemos ver, por exemplo, no ofício do governador Franca e Horta, datado de 10 de março de 1808, "Pa. os Professores de Philozofia, Retórica e Gramática", no ensejo da chegada da Família Real:

No detalhe das Festas, — q' se vão apromptar pa. festejarmos a feliz chegada de S.A.R., e de sua Augusta Família a Capital do Ro. de Janro. está determinado, q' nas três noites de Encamizadas, q' hão de fazer os Cavalleiros Milicianos e nas três noites de fogos dados pelo Corpo do Negocio, os Estudantes de todas as classes darão hum Carro de Parnazo com Oi-teiro em q' se repitão, e facão obras aluzivas a tão sublime assumpto: o q' participo a V. Mces. não só pa. q. assim o facão saber aos seus respectivos alunos, mas tão bem pa. os derigirem não só em o do. festejo mas tão bem nas mmas. Compuzições Poéticas afim de poderem ser todas aplaudidas pelo Povo. Não devo recommendar-lhes a Importância desta Matteria, pr. q' conto com as suas vontades, ainda mais amplas q' os meus desejos.

Outra via de manifestação literária seriam as verrinas contra o governo. Em Minas, — onde a vida urbana bastante intensa permitiu floração brusca e magnífica nas artes — elas eram de qualidade invulgar, haja vista as Cartas chilenas. Seriam bem menos polidas as de São Paulo, como as que escarneciam o Morgado de Mateus em 1767, "chamando-me de destruhidor do Povo (…) carreiro (…) fidalgo de aldeya, e de meya tigela, e outros impropérios indignos". E que proliferavam também nas vilas, como se vê pela repreensão de Franca e Horta ao Juiz Ordinário de Cananéia, em 1804, por não haver providenciado contra os que lá se afixaram.

Fora daí, as letras existiriam como atividade privada de um ou outro homem culto, — frade bento, vigário, mestre régio, magistrado, — não dando lugar a relações intelectuais capazes de caracterizar, uma literatura, de acordo com o critério acima proposto.
* * *

Este estudo pretende sugerir o papel das formas de sociabilidade intelectual, e da sua relação com a sociedade, na caracterização das diferentes etapas da literatura brasileira em São Paulo. Escolhendo um ângulo de visão — o sociológico — tentará reconhecer no seu processo evolutivo cinco momentos, socialmente condicionados, desde estes primórdios toscos até a atividade intensa dos nossos dias. Trata-se, para isto, de analisar rapidamente os tipos de associação entre escritores, os valores específicos que os norteiam e a sua posição em face dos valores gerais e da organização da sociedade. Não é uma interpretação estética, portanto, nem se deseja apresentá-la como única, pois é de alcance voluntariamente delimitado. Parece, todavia, que não há outra mais adequada para esclarecer a ligação orgânica entre produção literária e vida social.
--------------
continua...

______________
Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006
.

Concurso Literário O Pensador IV – Lindolf Bell - 2010 (Classificação Final)



A Academia Itapemense de Letras tem o prazer de divulgar a relação dos trabalhos premiados em seu Concurso Literário O PENSADOR IV – Lindolf Bell - 2010. Aberto a participantes de todo o Brasil, recebemos 201 (duzentos e um) textos, distribuídos entre contos, crônicas e poesias, em 3 faixas etárias: infanto-juvenil, juvenil e adulto.

Todos os textos tiveram 4 leituras, e foram avaliados dentro de critérios literários previamente estabelecidos.

Os premiados foram:

Infanto-juvenil

Conto:

1º lugar
A GRAVATA
Luiza Silva Brito, Brasília, DF

2º lugar
UM DIA NO PARQUE
Vitória Luiza Anacleto, Bombinhas, SC

3º lugar
MINHA DESCOBERTA
Ana Paula de Lima, Itapema, SC

Crônica:

1º lugar
ADOLESCÊNCIA
Kimberly Gustóvam Mendes, Itapema, SC

Poesia:

1º lugar
SINTAS...
Ellen Sibilla Reis Klix, Itapema, SC

2º lugar
FLUTUANDO NO MAR
Ana Luísa Borba Wilhelm, Itapema, SC

3º lugar
O COMPASSO
Rafaela Pinheiro dos Santos, Itapema, SC

Juvenil

Conto:

1º lugar
REVERSO
Thiago Emmanuel Luzzi Galvão, São Paulo, SP

2º lugar
DOIS AMIGOS UNIDOS PELA MORTE
Luan Almeida Ganzala, Itapema, SC

3º lugar
À PROCURA DE UM AMOR
Gabriela Sanguina da Silva, Itapema, SC

Poesia:

1º lugar
AMANHÃ EU ESPERO...
Jocielen Regina Fischer, Itapema, SC

2º lugar
PRIMEIRAS LETRAS
Theo Gonçalves Negreiro de Braga, Caçapava, SP

3º lugar
GÊNEROS
João Paulo Lopes de Meira Hergesel, Alumínio, SP

Adulto

Conto:

1º lugar

A MAÇÃ
Eni Allgayer, Sapucaia do Sul

2º lugar
UMA ROTINA DIFERENTE
José Henrique Gomes Gondim, Natal, RN

3º lugar
UM CERTO DOMINGO
Luna Villas-Bôas Lobão, Valinhos, SP

Crônica:

1º lugar

LER É SEMPRE UMA EMOÇÃO
Mauro Darcy Spinato, Ijuí, RS

2º lugar
LER PRIMEIRO A ÚLTIMA PÁGINA
Adilar Signori, Canoas, RS

3º lugar
NO MEU TEMPO
Alinne Patrícia de Andrade Carvalho e Silva, Natal, RN

Poesia:

1º lugar
QUARTO SEM SOMBRA
Isabel Florinda Furini, Curitiba, PR

2º lugar
GUARDADOS
Rosana Banharoli, Santo André, SP

3º lugar
CALEIDOSCÓPIO
Tatiana Alves Soares Caldas, Rio de Janeiro, RJ

Os autores premiados estão sendo comunicados via mensagens eletrônicas e telefonemas. A Sessão festiva de entrega dos prêmios será realizada em 18 de setembro do corrente ano, juntamente com as comemorações do 10º aniversário da Academia, às 19 horas, no plenário da Câmara Municipal de Itapema.

Agradecemos a todos pela participação e divulgação.

Pedro de Quadros Du Bois
Presidente

Fonte:
Pedro Du Bois

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ialmar Pio Schneider (Soneto para Helena)



(à esposa, pelos 42 anos de casamento em 10 de agosto de 2010)

Quarenta e dois anos de convivência
nós já passamos juntos sem cessar;
tivemos que adotar muita paciência
pra manter a harmonia em nosso lar !

E Deus nos vai levando a abençoar
nosso caminho por esta existência;
e no verão passeamos lá no mar,
tendo das águas a benevolência...

Tenhamos, afinal, a compreensão
para aceitar as coisas como são,
sem lamentar algum inconveniente...

O nosso amor, de longe traz raízes,
e sempre há de fazer nós dois felizes,
porquanto temos muita vida em frente !

Porto Alegre, RS, 10 de agosto de 2010

Fonte:
O Autor

domingo, 8 de agosto de 2010

Ialmar Pio Schneider (Soneto para Apparício Silva Rillo (In Memoriam))


Apparicio Silva Rillo, qüera
que cantou Cantigas do Tempo Velho ,
realmente xucro e natural espelho
deste Rio Grande em bem remota era.

Olhas o rancho e em ti vês a tapera
açoitada pelo sangrento relho
do destino. Eu estou também parelho
que nem tu nesta minha sorte austera.

E vou seguindo aflito pela estrada,
gaudério, sem ninguém no meu caminho,
curtido pela dor e desengano,

como a espuma pelas águas levadas,
picado pelo agudo e duro espinho
do mais rude destino, o mais insano.

Fonte:
Colaboração do Autor

Apparicio Silva Rillo (Mãe Velha)


Cabelo era preto.
Que liso era o rosto!
Teu corpo era flor.

Cabelo era preto.
mas hoje, Mãe Velha,
cabelo branquinho,
geada e agosto
que não levantou.

Que liso era o rosto!

Agora, Mãe Velha,
rosto enrugadinho
parece co'as frutas
que o tempo secou.

Teu corpo era flor.
Mas hoje, Mãe Velha,
da flor, que ficou?
Só haste pendida
que a vida deixou.

A cor do cabelo
passou pro vestido.

O arado do pranto
no liso do corpo
que fundou que arou!

A haste pendida
curavada pra terra,
e a terra reclama
o que falta da flor.

- Papai foi pra guerra!
dizia o piá.
Mãe Velha era moça
no tempo que foi.

Mas veio a notícia:
- Teu homem morreu,
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E os homens passavam
nos magros cavalos,
com barbas de mato,
com palas rasgados,
com pena da moça,
com raiva da guerra,
que mata um gaúcho
pra erguer um herói.

Mãe Velha - era moça -
chorou muito choro
no seu avental!
Abriu o oratório
da sala do rancho,
rezou padre-nosso
por alma do homem
que a guerra levara
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E a Virgem Maria,
seu Filho nos braços,
olhava mãe moça
Mãe Velha ficar.
E a vida espiava
Mãe Velha viver:

- madrugada na mangueira,
leite branco na caneca,
chaleira chia na chapa,
costume faz chimarrão.
Gamela, farinha branca,
forno aceso, sova pão,
charque magro na panela,
canjica, soca pilão,
manjericão na janela,
vassoura roda no chão...

E a vida cobrava
tostão por tostão.
Mãe Velha, mais velha,
pagava pro tempo
a usura do dia.
Um sol que sumia
era mais um dobrão.

Piá se fez homem.
Mãe Velha com medo da revolução
Um dia, por fim,
piá foi s'embora
seguindo um clarim.
Mesminho que o pai:
de lenço encarnado
e de lança na mão.

Guria cresceu.
Sobrou no vestido
da chita floreada
que a mãe lhe cozeu.
Depois... se perdeu.

Mãe Velha chorando
o que a vida lhe fez,
no velho oratório
já reza por três.

A noite tem fala
na boca da noite,
a vida é mudinha,
nem boca não tem.

Por isso que a vida
ninguém não entende,
Mãe Velha, ninguém.
A vida, Mãe Velha,
que é mãe e mulher.

Fonte:
http://www.paginadogaucho.com.br/poes/lista.htm

Apparício Silva Rillo (1931 - 1995)


Aparício Silva Rillo (Porto Alegre, 8 de agosto de 1931 - São Borja, junho de 1995).

Filho do engenheiro-agrônomo e zootecnista Marciano de Oliveíra Rillo e de Lélia Sílva Rillo - o pai natural de Uruguaiana e a mãe de Guaíba -, Apparicio Silva Rillo nasceu a 8 de agosto de 1931, num apartamento do Hospital São Francisco, em Porto Alegre.

Seus progenitores, na época, residiam na cidade de Guaíba, localidade onde nasceram, a posterior, mais cinco filhos do casal. Apparicio nasceu circunstancialmente em Porto Alegre, por entenderem seus pais que o primogênito viria à luz no então melhor hospital e maternidade do estado, resguardada a mãe e o nascituro por toda a gama de cuidados e recursos proporcionados por aquele estabelecimento hospitalar.

Com a indicação de haver nascido na capital do estado, seu registro civil de nascimento foi efetuado na cidade de Guaíba, em documento com o timbre do cartório da antiga Pedras Brancas - circunstância que, mais tarde, viria a trazer não pequenos incômodos ao poeta. Alguns de seus documentos pessoais apontavam Guaíba como seu local de nascimento, dado que o registro em si trazia o timbre, como já referido, do cartório daquela localidade. Até hoje, inclusive, não são poucos os que juram ter Apparicio nascido na cidade berço de José Gomes de Vasconcelos Jardim - um dos pró-homens da Revolução Farroupilha. O que, diz o poeta, muito o enobrece. "Minha raíz mais funda é guaibense", confirma.

O poeta guarda gratas recordações dos nove anos que viveu em Guaiba, período em que nasceram seus irmãos Alzira, Maria Eunice, José Marciano, João Carlos e Carmem, Seus pais residiram inicialmente numa casa assobradada, "com jeito de castelo", próxima ao rio que confere nome à cidade. Mais tarde - e esta é a lembrança forte dessa quadra - nurm casa da rua São José, dotada de um amplo quintal "com laranjeiras e galos e cachorros", sua "pátria de infância".

Embora "filho de doutor", seus pais nunca lhe negaram a convivência amistosa e diária com os guris pobres da rua que descia para o rio. Teve sua turma de "soldado e ladrão", caçou passarinhos nos matos da periferia da cidade, jogou futebol nos "campinhos" guarnecidos por goteiras de taquara. E, em Guaíba, de início com sua tia Anita Quadros o mais tarde no grupo escolar local, fez as primeiras letras. Da época do elementar ficou-lhe fundamente marcada a estampa da professora Cruzaltina do Valle, "que sabia dos livros e do mundo".

Logo após a grande enchente de 1941, que assolou o estado todo, que engoliu toda a parte baixa da cidade de Guaiba, seu pai - então funcionário da Secretaria da Agricultura - foi designado para diretor do Campo Experimental de Sernentes, sediado próximo à localidade de Capela de Sant'Anna, no município de Caí. Foi a primeira viagem de trem do poeta - um descobrimento! -, tanto quanto a primeira mudança da família, a que se seguiram várias outras, contingenciadas pela função pública do pai. Em Capela (assim, resumidamente), o menino Apparicio completou seu curso primário com pouco mais de dez anos. Ia à escola, três quilômetros longe de casa, montado no Lambari, cavalinho mostardeiro, porte de petiço.

"Quanta carreira embrulhada
na cancha-reta da estrada
tu me fizeste ganhar!
Quanta tropa de mentira
repontei estrada afora
te cutucando com a espora nervosa do calcanhar!"
(Petiço Velho, in
Cantigas do tempo velho, 1959)

Depois de ano e meio repartindo o tempo entre os folguedos da infância e os deveres do estudo, preparou-se para o exame de admissão ao ginásio. Prestou estas provas em Novo Hamburgo, no hoje desaparecido Ginásio São Jacob, dos Irmãos Maristas, obtendo aprovação plena. Nesse educandário fez os quatro anos do então curso ginasial, recebendo o diploma em dezembro de 1946, corn apenas completados quinze anos. Em março do ano seguinte ingressaria no curso científico, no Colégio Rosário, de Porto Alegre.

Em Capela de Sant'Anna o poeta cumpriu o que chama sua "iniciação" em costumes campeiros. O estabelecimento de experimentação agrícola dirigido por seu pai, locado em três quadras de campo, era uma espécie de média estância. Além dos trabalhos agrícolas de rotina, havia um posto de remonta com um diversificado plantel de reprodutores, um plantel de vacas mansas e dezenas de cavalos para o serviço.

Desse contato com os hábitos campeiros comuns aos homens que trabalhavam no Posto de Sementes, das conversas com os peões encarregados das tarefas diárias, nasceu-lhe o gosto, que já vinha de berço (o pai era filho de estancieiro), pelos costumes mais autênticos da vida rural gaúcha. De Capela e desse tempo ficou-lhe o embrião de que surdiria mais tarde - flor agreste - a poesia de cunho regionalista.

Os quatro anos de Ginásio, como aluno interno, marcaram fundamente a formação futura de Apparicio. Deve a esse estágio o descobrimento da leitura como fonte de lazer cultural e conhecimento. José de Alencar, lembra-se, foi o primeiro clássico brasileiro que leu. Daí para o Ateneu, de Raul de Pompéia, Os sertões, de Euclides da Cunha e até mesmo as Confissões, de Santo Agostinho, foi um passo. Embora dispersas, não ordenadas nem dirigidas, essas leituras abriram ao ginasiano Apparicio uma nova dimensão do mundo - este que passava a se lhe revelar para além das janelas da sala silenciosa da biblioteca.

"Foi descobrindo aos pouquitos
mistérios que o mundo velho
não ensinara ao tropeiro
que fora o finado pai.
Por exemplo: que a estrada,
mesmo sem sol e sereno,
deve ser sempre de sonho,
sonho sempre mais além
- estrada de toda a gente,
mundo de todos, também."
(Viramundo, in Caminhos de viramundo, 1979)

São desse tempo no Ginásio seus primeiros versos, quadrinhos com espírito lírico que escrevia no intervalo dos estudos, relembrando os pais, os folguedos, a namorada, a vilinha de Capela, onde passava as férias grandes e as de inverno. Sob o olhar severo dos irmãos maristas - mestres que relembra com carinho -, o menino começava a descobrir os mistérios da criação literária - essa que o levaria, pelo tempo, à condição de um dos grandes poetas do Rio Grande do Sul, um dos poucos, por certo, que soube se dividir com igual propriedade entre o verso regionalista e o de cunho universal, ademais que em incursões exitosas pelo conto, pela novela, pelo teatro, pelos trabalhos de fundo histórico e folclórico que tem editados.

Porto Alegre, para onde foi mandado a estudar, em 1947, com menos de dezesseis anos, significou ao poeta uma abertura mais ampla para a vida. Longe da fammília, na casa de uma tia idosa que o hospedava "para os estudos", aprendeu a estudar sozinho e sozinho bastar-se. Com três meses de estada na capital passou a descobrir Porto Alegre como paisagem urbana e como fonte reveladora de suas indagações existenciais de adolescente inquieto.

Os primeiros bares, os primeiros amigos espertos, os cinemas e teatros, a vegetação e as águas do Parque Farroupilha, que o faziam recordar os matos e arroios de Capela de Sant'Anna, o cais do porto e seus grandes navios de médio calado ("Ah, esses navios de silêncio/ como peixes de ferro olhando o cais.. ' ") - isso tudo era um mundo estranho e novo que se abria à percepção de vida do menino que se fazia homem. Ficou apenas esse ano em Porto Alegre, cidade para onde voltaria anos mais tarde, já mocinho.

E de repente a mudança para a cidade de Ijuí, o abandono do Cientifico por um curso de Técnico em Contabilidade na cidade onde passara a morar com a família. Em ljuí o seu primeiro emprego - como empacotador de louças num magazine. Dessa função foi promovido, um mês após, a caixeiro de balcão e, mais adiante, a escriturário. Apparicio passava a ganhar o seu próprio dinheiro. E a comprar livros, cuja leitura não deixou nunca. Um ano após conseguia uma vaga na prefeitura da cidade para onde se transferira.

Seu primeiro trabalho, nessa nova função, foi o de numerar todas as casas da cidade a tinta negra pintada sobre formas numéricas de metal. A tarefa custou-lhe os maiores ralhos que jamais levou em sua vida, a que se somavam dentadas de cachorros que lhe atiçavam as revoltadas donas-de-casa.

Expulso com mais três colegas do Colégio Koeller - de orientação espartana e severa -, acabou o poeta, recém completado o segundo ano de Contabilidade, indispondo-se com o pai e se transferindo, com alguns cruzeiros no bolso, para Porto Alegre. De volta à capital, com dezoito anos, sentou praça no 18 Regímento de Infantaria - um dos mais duros estabelecimentos militares do Estado. Em um ano foi de soldado raso a sargento, não quis continuar na vida militar e, dando baixa, conseguiu emprego de "correspondente comercial" numa empresa de vulto, ao mesmo tempo que vaga numa pensão-república da Rua da Praia, onde passou a residir. Nesse mesmo ano, 1952, foi aprovado em exames vestibulares e ingressou no curso de Ciências Econômicas e Contábeis da PUC-RS, numa continuação lógíca - mas não ao gosto do poeta - do curso de Contabilidade em que se formara no Colégio Rosário. Seus poemas, então, passavam a ser publicados em jomais e revistas, inclusive no centro do país.

Porto Alegre e sua vida agitada se tornara pesada ao poeta. Noivo de Suzy Maciel de Araújo - com quem viria a casar-se em maio de 1954 -, o tempo tomado pelo trabalho e os estudos à noite, na faculdade, pensava em deixar a capital para casar-se e tentar a vida no interior. Soube, então, de uma vaga como contabilista num distrito rural de São Borja, a seiscentos quilômetros de Porto Alegre. No caso, um grande empório comercial situado na vila Nhu-Porã (Campo Lindo, em guarani). Pediu demissão da empresa onde trabalhava e, a dez de outubro de 1953 (dia do padroeiro de São Borja, viria a saber mais tarde), Silva Rillo descia do trem na estaçãozinha de Nhu-Porã. Com armas, bagagens e esperanças. Mais estas que aquelas.

A Casa Irmãos Pozueco fazia jus à fama que tinha nas Missões e Fronteira. Era grande compradora de lã, couros, peles ovinas e selvagens, pelegos, trigo e linhaça. Dispunha de armazém e loja por atacado e varejo, suprindo quase que inteiramente os grandes fazendeiros da regalo. Ademais, era ponto de encontro para toda a gauchada de um arredor de cinco léguas.

Na época o tipo social do gaúcho mostrava-se ainda por inteiro em suas características mais autênticas. Nos fins de semana uma centena de homens, pelos menos, vinha para Nhu-Porã, a maioria para divertir-se nos inúmeros bolichos onde encontravam a cachaça boa, a carpa para o jogo do truco e as canchas para a bocha e o jogo do osso.

Nesse meio viveu Silva Rillo durante cinco anos, em contato permanente com os tipos mais singulares de nossa vida campeira: o fazendeiro e os peões de campo; o capataz e os esquiladores de safra; o tropeiro e os domadores; o carreteiro e os contrabandistas de médio e pequeno porte; o jogador profissional e os simples "orelhadores de sota" dos comércíos de carreira.

Vivenciou o dia-a-dia dessa gente, seus hábitos e costumes; aprendeu a selecionar lã, couros e peles; escutou centenas de histórias; divertiu-se com as patacoadas dos campeiros; tornou-se aficionado da carreira de retas e do jogo de truco, em que foi hábil atirador. Em suma, adaptou-se rapidamente ao modo de vida da Nhu-Porã daquele tempo, a ponto de considerar-se "como nascido ali".

Todas essas experiências de vida marcaram-lhe fundo a sensibilidade aberta. E resultaram, a contar de poucos meses após sua chegada a Nhu-Porã, nos poemas que viriam a integrar Cantigas do tempo velho, na sua totalidade, e em outros que foram aproveitados em Viola de canto largo e Caminhos de viramundo. O Movimento Tradicionalista, eclodido em 1947, estava em ponto de ebulição e Silva Rillo, que continuava publicando seus poemas - agora no gênero regionalista - na imprensa de Porto Alegre, se alteava, ao lado de Jaime Caetano Braun e Glaucus Saraiva, como uma das grandes vozes de exaltarão à tradição, que renascia como culto.

Com o advento das grandes cooperativas de produção no município de São Borja, a contar de 1957 a Casa Irmãos Pozueco foi perdendo sua importância. Os ganhos com a função que nela exercia já não eram suficientes ao poeta, e uma tentativa comercial sua veio por águas abaixo com a proibição de exportação de couro.

Não quis Silva Rillo, entretanto, voltar a Porto Alegre. O poeta havia feito ao contrário o êxodo rural. Havia bebido água do Uruguai, São Borja o enfeitiçara com seu jeito de bugra. Em setembro de 1958 mudou-se para a sede do município.

Chegava o poeta, após cinco anos no interior rural, à cidade onde reside até hoje, a que lhe concedeu, ern 1982, no tricentenárío de sua fundação histórica, o título de Cidadão São-Borjense. Já se consorciara, então, com Suzy, e do casamento nasceram Leliana e Clarissa - essas em Nhu-Porá -, e mais tarde, em São Borja, Cláudia e Synara.

Pouco após sua transferência para a cidade a Editora Globo, em meados de 1959, lançava sua primeira obra, Cantigas do tempo velho, saudada com inusitada efusão o pela crítica especializada, ademais que com ampla recepção pública, tanto que o livro, durante várias quinzenas, foi o mais vendido na Livraria do Globo, em Porto Alegre.

Era o começo de uma carreira literária que se impôs à medida do tempo, dividida entre textos para teatro, poesia e mais adiante, a contar do lançamento de Viagem ao tempo do pai, também no campo da prosa. Neste gênero os Rapa de tacho, de 1 a 3, causos gauchescos, foram dos mais expressivos sucessos de venda no campo editorial gaúcho, somando hoje setenta mil exemplares vendidos.

O merecimento literário de Silva Rillo valeu-lhe uma cadeira na Academia Rio-Grandense de Letras, em 1981, além de um sem-número de títulos, láureas e prêmios - dentre os quais se ressalta o Prêmio Ilha de de Laytano, em 1980, conferido, segundo seu regulamento, à maís importante obra sobre assuntos do Rio Grande do Sul lançada no biênio - no caso a Já se vieram! - tradição, folclore e a atualidade da cancha-reta no RGS. editada pelo Instituto de Tradições e Folclore do Estado do Rio Grande do Sul.

A contar de 1962 - ano em que fundou, com amigos, o até hoje atuante grupo de arte Os Angüeras, de São Borja-, Silva Rillo veio se destacando como um dos mais importantes compositores-letristas do meio musical gaúcho. Autor, hoje, de cerca de cinqüenta composições em disco, com parceiros musicistas da relevância de um José Bicca, Luiz Carlos Borges, Marinho Barbará, Pedro Ortaça, Cenair Maicá, Noel Guarany e outros deste naipe, o poeta será talvez o maior vencedor de festivais de música nativista no Río Grande do Sul.

Com os Angüeras, de 1971 a 1975, recebeu expressivas colocações na Califórnia da Canção Gaúcha, em Uruguaiana. Foi o grande vencedor deste evento em 1975, com Roda-canto, musicada por Marinho Barbará, havendo a dupla, na oportunidade, recebido nada menos que cinco premiações pela mesma composição. Ainda com Barbará, foi o vencedor da Linha Campeira em 1976 e 1977, e da Linha de Manifestação Rio-grandense em 1978, na mesma Califórnia da Canção. Venceu, com Luiz Carlos Borges como parceiro, a I Ronda da Canção, em Alegrete, em 1980; a III Vindima da Canção, em Flores da Cunha, em 1982 e, mais recentemente, a V Vigília do Canto Gaúcho, 1986, em Cachoeira do Sul. Neste festival, foi igualmente o terceiro colocado, com Ribamar Machado, com composição que levou o título de a mais popular. É autor, com música de José Bicca, dos hinos oficiais dos municípios de Sã Borja e Cerro Largo, e, com Luiz Carlos Borges - seu parceiro de várias vitórias -, da composição vencedora de Uma canção para Santa Rosa, na cidade do mesmo nome. No gênero popular tem parcerias com o grande compositor Túlio Piva e, com músicas suas e de outros parceiros, venceu por várias vezes o Festival de Músicas para o Carnaval, que São Borja realiza anualmente desde 1969.

Como jurado de festivais, Silva Rillo atuou por três vezes na Califórnia da Canção, em Uruguaiana; por duas vezes no Musicanto, de Santa Rosa e na Coxilha Nativista, de Cruz Alta e, por uma vez, na Tertúlia Nativista, de Santa Maria, e na Vígllia da Canção, em Cachoeira do Sul. Além destes, integrou a Comissão Julgadora de vários outros festivais, em Santo Ângelo, Porto Ajegre (Festival do Tchê!), Caíbaté, Tucunduva, Itaqui, São Luiz Gonzaga e em São Borja, sua terra adotiva.

Como conseqüência natural desta atuação de um quarto de século no campo da música regional(especialmente), Silva Rillo é considerado, sem qualquer favor, um dos mais importantes conhecedores do gênero no Estado, participando seguidamente, a convite, de painéis e debates sobre o assunto.

Esta, a notícia biográfica de nosso antologiado que, aos 55 anos, vê selecionados seus poemas para edição de uma obra que há de significar muito para as letras rio-grandenses, Evidente que esta "notícia..." nã o se encerra. Todos ainda esperamos muito deste singular poeta gaúcho que não precisou, para salientar-se na vida literária, buscar os centros maiores, como fazem tantos. De Nhu-Porã, de São Borja - sua terra adotiva - lançou-o à admiração o aplauso do Rio Grande do Sul, cujos homens, hábitos o costumes, transitam com tanta propriedade no sentimento mágico de seus versos.

Obras

Poesia
Cantigas do tempo velho (Edit. Globo, 1959)
Viola de canto largo (Ed. Kunde, 1968)
São Borja aqui te canto (Edit. Gráfica A Notícia, 1970)
Caminhos de viramundo (Martins Livreiro Editor, 1979)
Pago vago (Martins Livreiro Editor, 1981)
Itinerário de rosa (Martins Livreiro Editor, 1983)
Doze mil rapaduras & outros poemas (Edit. Tchê, 1984)
Alma pampa (Martins Livreiro Editor, 1984)

Ficção
Viagem ao tempo do pai (contos, Martins Livreiro Editor, 1981)
Rapa de tacho (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1982)
Rapa de tacho 2 (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1983)
Rapa de tacho 3 (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1984)
Dois mil dias depois (contos, Ed. Tchê, 1985)
O finado trançudo (novela, Ed. Tchê, 1985)

Folclore e História
Já se vieram! História, Tradição, Folclore e Atualidade da Cancha-Reta no RGS (Edição da Fundação Instituto Gaúcho de Tradições e Folclore, 1978)
São Borja em perguntas e respostas (Ed. Argraf, 1982)

Teatro
Domingo no bolicho (primeira montagem em 1957)
João-gaudério a João peão, vida e paixão (primeira montagem em 1970)

Fonte:
Apparicio Silva Rillo. 30 Anos de Poesia. RS: Editora Tchê, 1986.

Raul Pompéia (A Noite)


... le ciel Se ferme lentement comme une grande alcôve, Et l'homme impatient se change en bête fauve. *
C. BAUDELAIRE

Chamamos treva à noite. A noite vem do Oriente como a luz. Adiante, voam-lhe os gênios da sombra, distribuindo estrelas e pirilampos.

A noite, soberana, desce. Por estranha magia revelam-se os fantasmas de súbito. Saem as paixões más e obscenas; a hipocrisia descasca-se e aparece; levantam-se no escuro as vesgas traições, crispando os punhos ao cabo dos punhais; à sombra do bosque e nas ruas ermas, a alma perversa e a alma bestial encontram-se como amantes apalavrados; tresanda o miasma da orgia e da maldade — suja o ambiente; cada nova lâmpada que se acende, cada lâmpada que expira é um olhar torvo ou um olhar lúbrico; familiares e insolentes, dão-se as mãos o vício e o crime — dois bêbedos.

Longe daí a gemedora maternidade elabora a certeza das orgias vindouras.

E a escuridão, de pudor, cerra-se, mais intensa e mais negra. Chamamos treva à noite — a noite que nos revela a subnatureza dos homens e o espetáculo incomparável das estrelas.
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*... o céu se fecha lentamente como uma grande alcova, e o homem impaciente se transforma em fera. (Tradução por José Feldman)

Fontes:
Portal São Francisco
Imagem = Butterflyz