segunda-feira, 25 de abril de 2011

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XVIII – A Cumbuca de Ouro


Eram dois vizinhos, um rico e outro pobre, que viviam turrando. O gosto do rico era pregar peças no pobre.

Certa vez a pobre foi à casa do rico propor um negócio. Queria que ele lhe arrendasse um pedaço de terra que servisse para a plantação duma roça de milho. O rico imediatamente pensou num pedaço de terra que não valia coisa nenhuma, tão ruim que nem formiga dava. Fez-se o negócio.

O pobre voltou para sua choupana e foi com sua mulher ver a tal terra. Lá chegados, descobriram uma cumbuca.

— Chi, mulher, esta cumbuca está cheia de moedas, venha ver!

— E de ouro! — disse a mulher. — Estamos arrumados!...

— Não — disse o marido, que era homem de muita honestidade. — A cumbuca não está em terra minha e portanto não me pertence. Meu dever é dar conta de tudo ao dono da propriedade.

E foi ter com o rico, ao qual contou tudo.

— Bem — disse este — nesse caso desmancho o negócio feito. Não posso arrendar terras que dão cumbucas de ouro.

O pobre voltou para sua choupana, e o rico foi correndo tomar posse da grande riqueza. Mas quando chegou lá só viu uma coisa: uma cumbuca cheia de vespas das mais terríveis.

— Ahn! — exclamou. — Aquele patife quis mangar comigo, mas vou pregar-lhe uma boa peça.

Botou a cumbuca de vespas num saco e encaminhou-se para a choupana do pobre.

— Ó compadre, feche a porta e deixe só meia janela aberta. Tenho um lindo presente para você.

O pobre fechou a porta, deixando só meia janela aberta. O rico, então, jogou lá dentro a cumbuca de vespas.

— Aí tem compadre, a cumbuca de moedas que você achou em minhas terras. Regale-se com o grande tesouro — e ficou a rir de não poder mais.

Mas assim que a cumbuca caiu no chão, as vespas se transformaram em moedas de ouro, que rolaram.

Lá de fora o rico ouviu o barulhinho e desconfiou. E disse:

— Compadre, abra a porta, quero ver uma,coisa.

Mas o pobre respondeu:

— Não caia nessa. Estou aqui que nem sei o que fazer com tantas vespas em cima. Não quero que elas ferrem o meu bom vizinho. Fuja, compadre!...

E foi assim que o pobre ficou rico e o rico ficou ridículo.
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— E esta, Emília, que acha? — perguntou Narizinho.

— Menos má — respondeu Emília. — Pelo menos não tem rei bobo, pai de três princesas encantadas.

Dona Benta disse:

— Esta história pertence ao grupo das em que o povo põe em contraste o pobre e o rico. Em todas as histórias desse gênero o rico é sempre homem mau e sem coração e o pobre bom. Vira, mexe, o pobre sai ganhando e o rico fica ridículo.

— Ridículo! — repetiu Narizinho. — Já notei que o povo tem um ditado assim: "Quanto mais rico, mais ridico."

— O povo — explicou dona Benta — emprega a palavra ridículo com a significação de miserável, avarento. Mas entre os sabedores da língua a palavra ridículo quer dizer o que desperta riso. "Uma situação ridícula", quei dizer uma situação que nos faz rir — como aquela do Elias da venda, quando foi pular a cerca de arame farpado e ficou preso pelos fundilhos da calça.

— Mas no povo — disse Pedrinho — ridículo quer dizer só uma coisa: pão-duro. Isso já notei. Da última vez que fui à vila estava a molecada atrás do Manei Agudo, gritando: "Pão-duro! Pão-duro!" E perguntando eu a um deles por que faziam aquilo ao coitado, o moleque respondeu: "Ah, então não sabe que esse portuga é o velho mais ridículo do mundo? Da casa dele não sai nem uma cuia d'água."

— E é ridico mesmo — ajuntou tia Nastácia. — Pobre que bate lá, pedindo esmola, só ouve uma coisa: "Deus o favoreça, irmão!" E ele tem uma barrica de dinheiro enterrada no quintal.

— Infelizmente — disse Narizinho — isso de cumbucas de vespas que viram moedas de ouro só mesmo nas histórias. O consolo do pobre é um só: falar mal dos ricos. Mas o dinheiro dos ricos não sai. Tem grude.

— Não generalize — observou dona Benta. — Há os ricos ridículos, mas há também os generosos. Rockefeller não distribuiu toda a sua fortuna em benefício do mundo?
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Continua… XIX – A Mulher Dengosa
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Rodrigo Petronio (Curso: Como Escrever uma Biografia)


Professor: Rodrigo Petronio

Duração: 6 encontros

Dias: terças-feiras das 15h00 às 17h00

Datas: 10, 17, 31 de maio 7, 14, 21 de junho

Local: Fundação Ema Klabin - Rua Portugal 43, Jardim Europa – SP
(11) 2307-0767/2339-0767 – Tel/fax (11) 3081-5845

Valor: R$ 210,00 na inscrição + uma parcela de R$ 210,00

O curso pretende fornecer recursos para a escrita de biografias e elementos técnicos sobre a prospecção de informação, organização dos dados e finalização estilística. Também pretende apontar para algumas definições teóricas dos limites e das trocas existentes entre biografia e literatura, bem como sugerir leituras e comentar algumas biografias e biógrafos, clássicos e atuais.

O curso contempla a elaboração de um projeto de biografia, e acompanhará os primeiros passos de seu desenvolvimento. Dessa forma, baseia-se em um misto de oficina de escrita criativa e de pesquisa teórica sobre esse gênero literário. Dentre as obras recomendas estão: Santo Agostinho (Peter Brown), Heidegger – Um Mestre na Alemanha entre o Bem e o Mal (Rüdiger Safranski), Buda e Maomé (Karen Armstrong), Jesus (David Flusser), Jesus e Javé (Harold Bloom), Cervantes (Jean Canavaggio), Sor Juana Inés de la Cruz: as Armadilhas da Fé (Octavio Paz), Maomé (Martin Lings), Dante (R. W. B. Lewis), Nietzsche (Daniel Halévy) e Nelson Rodrigues: o Anjo Pornográfico (Ruy Castro), entre outras.

Pretende-se também comentar algumas obras memorialísticas e autobiográficas de extraordinária relevância literária, tais como a trilogia autobiográfica de Elias Canetti, biografias que exploram de maneira mais enfática o aspecto literário da escrita, como o caso de Vidas Imaginárias (Marcel Schwob) e de Doze Tipos de G. K. Chesterton. A partir desse pressuposto, desenvolveremos a relação entre literatura, biografia e autobiografia, ou seja, em que medida algumas obras clássicas da ficção são autobiográficas e até que ponto o biógrafo tem liberdade criativa para fazer entrelaçar a obra e a vida do biografado, sem ferir nenhuma dessas duas faces.
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Rodrigo Petronio é editor, escritor e professor. Formado em Letras Clássicas e Vernáculas pela USP. Organizou os três volumes da nova edição das Obras Completas do filósofo brasileiro Vicente Ferreira da Silva (Editora É, 2010). Autor dos livros: História Natural (Gargântua, 2000), Transversal do Tempo (Imprensa Oficial de Pernambuco, 2002), Assinatura do Sol (Gêmeos R, Lisboa, 2005), Pedra de Luz (Girafa, 2005) eVenho de um País Selvagem (Topbooks, 2009), entre outros,

Fonte: Projeto Cultura

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 196)


Uma Trova Nacional

Quem espera sempre alcança...
Mas eu em lutas me ponho:
sou guerreira da esperança,
vivo em busca do meu sonho...
–ADÉLIA WOELLNER/PR–

Uma Trova Potiguar

Eu fiz a trova perfeita!
Vi Waldir Neves risonho,
tendo Luiz à direita...
mas, despertei... Era um sonho!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

1992 - Magé/RJ Tema: Sonho - 10º Lugar

Quem diz que o sonho acabou,
se engana... a ilusão não finda.
Quanta gente já acordou,
e teima em sonhar, ainda!
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Que me importa a despedida
dos meus dias mais risonhos.
Eu sinto a aurora da vida,
no que resta dos meus sonhos.
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

– MARA MELINNI/RN –
Você Vive em Mim


Um dia, um mero acaso...
Meu olhar te encontrou.
De longe, um momento raro...
Minh’alma se apaixonou.
Profundo, maior que eu...
O amor chegou em mim.
Passou tempo, só cresceu...
O destino disse sim.
Meu sonho? Que sejas meu.
O que sinto? Não vai ter fim.

Estrofe do Dia

Foi Deus Pai, que nos fez tanto sonhar,
descobrir no repente a paz divina,
mesmo que nos momentos desiguais
nós sejamos iguais na própria sina;
porque sonho, que é sonho de poeta,
só termina da forma mais completa,
mas a essência do verso não termina.
–PROF. GARCIA/RN–

Soneto do Dia

–TITO DE BARROS/AL–
Ilusão


Vivo de uma ilusão que me suplanta,
E o meu sentir ao mundo denuncia,
Pela sinceridade com que canta,
Buscando as portas de ouro da harmonia...

Há, no seu todo, um resplendor de santa,
Com que meus pensamentos alumia,
E mais alto, meu canto ao céu levanta,
Na doce claridade do meu dia...

Deus que me deste amor e sentimento,
E lira e canto, neste vau medonho,
Libertando-me ao negro sofrimento;

Deus, cuja bondade os olhos ponho,
Não me afastes da musa o pensamento,
Não me despertes nunca deste sonho…
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Sobre a Imagem no quadro acima: Cidade de Acari/RN
A pequena cidade de Acari, no Seridó Oriental do Rio Grande do Norte possui população de 10.911 habitantes (IBGE, 2007). A cidade possui ainda área de 596 quilômetros quadrados. A cidade de Acari está numa posição privilegiada, abrindo uma paisagem sertaneja, come um cartão postal para quem viaja de Natal em direção ao Sertão do Seridó Norteriograndense, é uma cidade que tem características naturais marcantes, apresentando uma geomorfologia rica em montanhas e rochedos, um patrimônio histórico-cultural expressivo e diferente do que se apresenta no major parte do estado.

Tem com a barragem do Açude Gargalheiras a formação de um magnífico espelho d’água, com capacidade para armazenamento de 40 milhões m³ que se constitui no major base para o desenvolvimento de turismo do Município.

O TERRITÓRIO do Município era habitado pelos índios cariris, que para ali se deslocaram em virtude das perseguições movidas pelos colonizadores da Paraíba, em fins do século XVII. Em 1737, o fundador do povoado onde está localizada a Cidade, Sargento-mor Manuel Esteves de Andrade, obteve permissão do Bispo de Olinda para erguer a capela, consagrada a Nossa Senhora da Guia.

O escritor José Augusto registra que o povoamento da região do Seridó começou no final do século XVIII, durante a "guerra dos Bárbaros", culminando com o afastamento dos índios habitantes das margens do rio Açu. Assim, chegaram à localidade seus primeiros desbravadores, vindos de Pernambuco e da Paraíba.


Segundo o historiador Câmara Cascudo, o topônimo do Município originou-se dos acaris, peixes de escamas ásperas e carne branca, cujo habitat era o "poço do Felipe". O poço era suprido pelo rio Acauã, que o mantinha abastecido de água suficiente para a sobrevivência dos peixes.


Gentílico: acariense


Fontes:
Colaboração de Ademar Macedo
Dados e imagem sobre Acari : http://www.hotelmais.com.br/acari.htm e http://www.ibge.gov.br

Casa do Poeta de Canoas (Palestra de Cicero Galeno Lopes)


A Casa do Poeta de Canoas
convida
para mais uma edição do projeto

Confraria da Leitura

Próxima palestra:

27 de Abril (quarta-feira) - 19 horas

Convidado:
CÍCERO GALENO LOPES

ASCCAN - Associação Cultural de Canoas
Av. Victor Barreto, 2301 - Centro
Canoas/RS

Contamos com o prestígio da presença de nossos associados,
colaboradores e simpatizantes.

Maria Santos Rigo Presidente da Casa do Poeta de Canoas

Saiba mais sobre este projeto visitando:
http://www.casadospoetas.com.br
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Sobre o Palestrante: http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/cicero-galeno-lopes.html
Poemas = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/ccero-galeno-lopes-poemas.html


Fonte:
Colaboração da Casa do Poeta de Canoas

domingo, 24 de abril de 2011

Paulo Leminski (Amor Bastante)


quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Trova 191 - A. A. de Assis (Maringa/PR)

Trova montada sobre Imagem obtida da Revista Nova Escola. Ilustração de Robles/Pingado

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 195)


Uma Trova Nacional

Na Páscoa, a firme certeza:
Cristo ressurge entre os seus...
e, no pão que põe à mesa,
nos põe mais perto de Deus!
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova Potiguar

O mártir da Galiléia
esta verdade traduz:
não morre nunca uma idéia,
mesmo pregada na cruz!
–LUIZ RABELO/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - CTS/Caicó/RN Tema: PONTE - 2º Lugar.

Tendo a palavra por fonte
e a certeza da verdade,
Jesus Cristo foi a ponte
entre Deus e a humanidade.
–DARI PEREIRA/PR–

...E Suas Trovas Ficaram
No seu viver temerário,
que a nenhum lugar conduz,
quem passa por um calvário
leva vestígios da cruz!...
–LAVÍNIO G. DE ALMEIDA/RJ–

Simplesmente Poesia

ALMIRA CRUZ SOARES/PB–
Infinito Amor!

Hoje é Domingo,
Dia todo SEU,
Hoje eu sei,
é PÁSCOA,
Ressuscitou nosso DEUS.

Não precisa levantar,
Nem me pedir a bênção,
Quero apenas que me escute,
Abra o seu coração:
Para o mistério de CRISTO,
E sua Ressurreição!

O Espírito de DEUS,
No Universo brilhou,
Jesus nasceu e morreu,
Surpreendeu, Ressuscitou,
Nos abrindo o caminho,
Para o "INFINITO AMOR!"

Estrofe do Dia

Meu coração de poeta trovador,
quer, nesta Páscoa, símbolo da vida,
fazer à cada irmão sua acolhida,
deixar transparecer o seu amor.
Páscoa é sempre páscoa, seja aonde for.
Pouco importa onde esteja nosso irmão.
Páscoa é “Passagem”, estender a mão,
Páscoa é sentir o Cristo ressurreto,
é acolher os que sofrem, com afeto.
Páscoa é liberdade, é celebração.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–ANTONIO ROBERTO FERNANDES/RJ–
O Maior Milagre

Meu jovem Jesus Cristo, um dia aqui viestes
para sentir na carne a angústia dos humanos,
porém voltastes cedo às vastidões celestes,
pregado numa cruz, aos trinta e poucos anos.

No ardor da juventude afugentastes pestes,
vencestes vendilhões, demônios, oceanos,
provocando, ao pregar pelas trilhas agrestes,
o assombro dos judeus e o ódio dos romanos.

Sofrestes muito, eu sei, mas não ficastes velho.
Morrestes moço e, assim, pôde o Vosso Evangelho
os séculos vencer e vir chegar a nós.

Mas o maior milagre não foi realizado.
Voltai... Envelhecei... E fraco e esclerosado
fazei, de novo, o mundo acreditar em Vós.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Edjane Linhares (A Cultura Assobradada, em Caicó/RN)

Imagem: Gilton Filho
O sobrado Padre Brito Guerra é um símbolo de resistência da cultura em Caicó (RN). Construído em 1811 e um marco da arquitetura na região, serviu de morada ao seu idealizador, o padre Brito Guerra, que fundou na sua casa a famosa Escola de Latim.

Em 1994, o sobrado foi adquirido pelo governo do Estado e em 2003, transformado na segunda Casa de Cultura do Estado.

Através da Associação Comunitária Cultural Amigos da Casa de Cultura, os artistas emprestam os seus talentos e realizam várias oficinas de arte. Entre elas, as oficinas de canto e coral (um deles é da 3ª idade), literatura de cordel, artes plásticas, pintura e tecido, desenho, teatro de rua, brincadeiras populares e contação de histórias (voltada para crianças). É um trabalho belíssimo, onde o brilho nos olhos e sorrisos é a principal verba.

A mostra de trabalhos da Casa da Cultura é realizada no final do ano. A interação de várias oficinas apresentadas ao mesmo tempo é uma das imagens mais fortes e belas que já presenciei. Crianças, jovens e adultos falando a mesma língua, em uma comunicação lúdica. Inesquecível.

A Casa serve de espaço para reuniões com membros de associações (trovadores e surdos-mudos), ensaios de teatro, galeria (uma permanente é a dos imortais caicoenses), biblioteca, acervo de brinquedos populares e um pequeno museu de apetrechos sertanejos. É também parceira de projetos do SESC Seridó.

Em julho, na festa de Sant’Ana, são realizados recitais, teatro e concertos musicais em um barzinho aberto exclusivo para estes eventos. Nesta época, também acontecem lançamentos de livros e exposições de arte.

A Casa da Cultura tem apenas dois funcionários pagos pela Fundação José Augusto. Para funcionar, conta com a ajuda da Associação Comunitária Cultural, patrocinadores que contribuem nos eventos e um pequeno investimento da Fundação.

Uma cidade que não tem cinema, livraria e teatro (este interditado por falta de manutenção), o sobrado Padre Brito Guerra é bem mais do que um patrimônio histórico que carece de preservação. É a experiência viva de que a cultura ainda pulsa, apesar de tudo.

Fonte:
Substantivo Plural.
Imagem = Caicó

José Faria Nunes (O Culpado)


Paulo acorda no meio da noite, os olhos como se lhes tivesse pingado colírio de pimenta. Havia dormido com o televisor ligado. Fora do ar a TV, a tela emite um brilho azulado, agride-lhe os olhos.

Por que quando se está acordado, ainda que por horas seguidas com os olhos fixos na programação eles não ardem? Sem nada entender do assunto Paulo imagina que, ao dormir, todos os sentidos se relaxam, inclusive a visão, tornando-se vulnerável, mais susceptível à agressão dos raios de luz, pelas ondas emitidas pela TV.

Pega o controle remoto, coloca o televisor em stand by, vira para o canto, procura dormir novamente.

Não dorme. Vem-lhe à memória o telefonema do dia anterior: Juvenal havia pulado no rio, de cima da ponte. Na Avenida Beira Rio turistas viram quando o corpo se projetou da ponte sobre o rio. A chegada dos bombeiros despertou a curiosidade de turistas e de moradores das proximidades. Quem viu? Quem era? Homem ou mulher? Por que será que fez isso?

Perguntas várias, respostas vagas, até controvertidas, não raras maldosas.

Aos poucos era montado o quebra-cabeça:

Um homem que parecia chorar caminhava como quem nada quisesse, sem pressa, distraído. Na ponte quase foi atropelado por um carro, de onde o motorista gritou algo ininteligível. Um xingamento? O homem parou, olhou para cima, para baixo, fez um gesto como se se benzesse, subiu no corrimão da ponte e saltou.

A princípio, Paulo não se importou com a notícia. Juvenal sabia nadar como ninguém. Muitas pessoas praticavam aquela aventura. Um esporte arriscado, mas do agrado de quem pulava e de quem assistia. Adrenalina pura. Paulo mesmo já havia feito isso muitas vezes, quando adolescente. Só que da outra ponte, a Afonso Pena, pênsil, metálica, mais baixa. A atual, de cimento armado, é alguns metros mais alta. Ainda assim muitos saltam de lá. Os desencorajados apenas admiram. Batem palmas. Os que consumam a aventura retornam vitoriosos, cheios de si, prontos para novos saltos. Saltavam em equipe. Uma canoa motorizada fazia guarda um pouco abaixo, para eventual emergência. Houve casos em que a polícia intervinha, por fim deixou de se importar com o que qualificou de insensata atitude. Brincadeira de louco. Um dia o rio ainda haveria de levar algum aventureiro.

Premonição ou argumento matemático?

De fato, muitas vidas já se foram no seio daquelas águas. Por negligência, descuido, imperícia, conseqüência de embriaguez, fatalidade. Ene causas.

O caso de Juvenal foi diferente. Ele saltou deliberadamente para a morte. Muitos do bairro de Juvenal já sabiam do caso. Paulo deveria ter sido o último a saber.

A família de Juvenal, em prantos, as filhas mais velhas descabelavam-se. A criança pequena não entendia o acontecido. A esposa, inconsolável, buscava motivos de sua parte para se culpar pela morte do marido. O que teria feito de tão ruim para ele tomar essa atitude tão radical? Procurava ser boa esposa, embora tivesse um segredo que ele não podia saber. Será que vazou? Por que não contou para ninguém o que se passava na cabeça dele? Tudo poderia se explicar, reconsiderar. Afinal, não há mal que sempre dure, assim como também não há bem que nunca acabe. Tudo é transitório, um dia se rema contra a maré, outro dia a favor, e assim é vivida a vida.

As pessoas mais íntimas sabiam que ele tinha surtos de depressão, mas... quantos não padecem desse mal e nem por isso se matam?

Paulo se lembra de que, enquanto os familiares de Juvenal padeciam na fúnebre angústia, a crônica da maldade desfilava motivos para o fato. Culpa foi da esposa que tinha um romance secreto? Culpa de alguma figuraça cujo nome não poderia ser dito. Teria sido alguma mulher de marido importante? Seria a verdade temerária? Haveria um iminente escândalo de proporções inusitadas? Problema no emprego? Intolerância de chefes? Exigências excessivas no trabalho?

Nada além de conjecturas.

Não faltaram os discursos da esquerda: o caso é que as empresas ainda não se conscientizaram de que os empregados também são gente, que o lucro não deve ser obsessão que justifique opressão do trabalhador. Serviço sempre mais, salário sempre menos, além da constante ameaça de corte nos quadros de pessoal. No ar sempre uma nuvem a anunciar: vai rolar cabeça. Uns e outros motivos desfilavam na boca dos plantonistas do diz que diz. Outra causa do suicídio? Dívidas impagáveis, patrimônio exaurido, nome na Serasa, cartões de crédito cancelados, crédito não extinto... inferno de vida. Melhor a morte.

Paulo não dorme, por mais que tente. Perdeu o sono.

Levanta-se, quer espantar aquelas lembranças que lhe atormentam a alma. Liga o televisor, troca de canais como se procurasse trocar de pensamentos, um fora do ar, outro também, em outro a imagem não presta. Prefere o canal local, repetidora de uma rede sensacionalista de programas tragicômicos, mas de boa imagem. Afinal não quer ver nada. Só quer um motivo a mais para não ficar pensando na tragédia do dia anterior. Mas pensa. Na tela da TV a imagem vai se apagando. Paulo vai criando uma imagem própria em sua mente. Atormenta-lhe a idéia de o corpo de Juvenal ainda não ter sido encontrado. Se o tivesse, pelo menos poderia estar ao lado do caixão. Numa hora dessas ninguém se incomodaria. Ele poderia fazer um último carinho no rosto de seu amado, que dentro de poucas horas haveria de partir para a cidade eterna.
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Conto publicado na Antologia de Contos de Autores Contemporâneos - vol.2
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Sobre o autor : http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/01/jose-faria-nunes-1948.html
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Fontes:
Colaboração de José Faria Nunes.
Imagem = Historinhas Beatitudes

Antonio Botto (O João Pateta)


Era uma vez uma pobre viúva que tinha um filho bastante pateta. Tudo quanto lhe mandava fazer fazia, mas fazia mal.

- Valha-me Deus, com este rapaz!, queixava-se a pobre mãe.

- Porque não o habitua mais à vida?, perguntava uma vizinha. Obriga-lo a trabalhar em qualquer coisa; tudo, menos esta mandriice...

- Tem razão. Vou ver se ele é capaz de pôr em prática uma ideia...

E aproximando-se do filho:

- Tu saberás vender uma peça de linho sem fazer algum disparate?

- Sei sim, minha mãe.

- Então, ouve com atenção: Vais por aí fora e não cortas, nem à direita nem à esquerda. Vais sempre a direito, ouviste?

- Ouvi, minha mãe.

- Pedes tanto pela peça de linho e não a vendas por menos seja a quem for. Evita fazer negócio com mulheres porque, em geral, falam muito e oferecem pouco. Sim: procura uma pessoa que esteja só. Farás negócio mais rendoso.

O rapaz ouviu, atentamente, prometeu obedecer-lhe e lá se pôs a caminho. Passou por várias encruzilhadas pelas quais chegaria mais depressa a um ou outro povo ali perto e onde poderia vender facilmente a formosa peça de linho, mas, como sua mãe lhe dissera que fosse sempre a direito, entendeu que não devia cortar - nem à direita nem à esquerda.

Ao cabo de uma grande caminhada encontrou a mulher do farmacêutico que conversava com duas raparigas à porta de sua casa. Reconhecendo-o, e vendo a peça de linho, perguntou-lhe num sorriso:

- Esse linho é para vender? E quanto custa, ó João?

- Não me entendo com mulheres, respondeu ele andando sempre. E por mais que ela tentasse demovê-lo daquele firme propósito oferecendo-lhe até uma quantia maior, nada pôde conseguir...

Pouco depois chegou a um pequeno largo onde havia uma pequena estátua de um benemérito da terra.

- Ora até que enfim que encontrei a pessoa com quem vou fazer negócio.

E dirigindo-se para a estátua, acrescentou, convencido:

- Queres comprar esta peça de linho?

Naturalissimamente, a estátua não respondeu.

- Não dizes nada? Está bem. O preço é tanto. E enquanto contas o dinheiro vou ali comprar uma melancia com uns tostões que aqui tenho.

Entretanto, alguém que passou, levou a peça de linho. Ao regressar com a melancia, disse com certo azedume:

– Agora dá cá o dinheiro.

A estátua não respondia.

- Vá, não me faças perder tempo nem penses que posso voltar para receber o que é meu: o meu rico dinheirinho.

A estátua continuava naturalmente impassível.

- Se não me dás o dinheiro agarro naquele pau e esfrangalho-te a cabeça.

Cumpriu a dura ameaça. A estátua era oca, mas tinha dentro da cabeça umas moedas de ouro.

- E não me querias pagar, gritava o pateta apanhando as moedas e guardando-as num bolso da calça.

- Venha ver, minha mãe, venha ver! Vendi a peça de linho por este dinheiro todo!

A mãe abriu os olhos surpreendida e concluiu que o filho encontrara certamente, por acaso, aquele dinheiro em ouro e que por completo ignorava o seu verdadeiro valor. Pensou em guardá-lo debaixo de um tijolo da lareira, mas, lembrando-se de que o filho podia dizer aos vizinhos complicando a sua vida de mulher simples e pobre, guardou-as dentro de um cântaro de barro e disse-lhe disfarçando o grande contentamento:

- Enganaram-te, pateta! Isto não presta para nada. Deram–te dinheiro falso. Contudo, para outra vez, espero que sejas mais esperto.

E saiu; foi para a missa. Daí a momentos passou um velho trapeiro.

- Olhá lá, diz-lhe o pateta, tu queres comprar estas moedas? São falsas, mas talvez te sirvam para alguma coisa...Ora vê, tem paciência.

E despejou o cântaro à entrada da porta. O trapeiro viu logo que eram moedas de ouro e verdadeiras.

- Pois sim; ofereço por todas elas doze moedas de cobre.

- Venham elas, disse o rapaz; está o negócio fechado.

E o trapeiro deu-lhe as doze moedas e foi-se apressadamente.

- Acabo de fazer negócio, mãe, disse o João, vendo-a entrar. Vendi aquela porcaria por doze moedas de cobre!

- Vendeste as moedas de ouro por doze moedas de cobre? Ai, filho, que grande asneira!

- Então a minha mãe não me disse que aquilo não prestava para nada porque era dinheiro falso?

Fonte:
Os Contos de Antonio Botto. Marginalia, s/d

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XVII – O Caçula


Havia um homem com três filhos: João, o mais velho; Manuel, o do meio: e José, o caçula. Um dia os dois mais velhos se revoltaram contra o pai e fugiram de casa. O caçula foi e disse: "Não se amofine, meu pai; sairei pelo mundo em busca de meus irmãos."

E saiu. Foi andando, andando, até que chegou à casa duma velha.

— Que anda fazendo aqui por estas alturas, menino? — perguntou a velha.

— Saí a correr mundo, em procura de dois irmãos fugidos de casa.

— Pois vou te ajudar, menino, disse a velha. Entras e dormes aqui. Amanhã conversaremos.

No outro dia a velha disse:

— O que tens de fazer é o seguinte. Irás ao reino das Três Pombas, porque é lá que se acham os teus irmãos. Encontrarás a cidade num grande rebuliço de festas, porque o rei vai escolher o desencantador das três pombas que estão no fundo do mar. Dou-te esta varinha de condão, toma-a. E também esta esponja. Mas muito cuidado para que ninguém te veja com estes objetos, porque vai acontecer o seguinte: teus próprios irmãos vão caluniar-te perante o rei, dizendo que te gabas de seres capaz de descer ao fundo do mar, quebrar uma pedra que há lá e desencantar as três pombas, que são três princesas.

Bem. O rei vai te chamar à sua presença e te perguntará se isso é verdade. Responderás que é mentira, mas que és capaz de fazer o desencantamento.

E então irás para a praia do mar e lançarás na água a esponja: a esponja irá flutuando e tu a acompanharás a nado até encontrares uma pedra. Baterás nessa pedra com a varinha de condão; a pedra se abrirá e aparecerá uma serpente. Baterás na serpente e a serpente adormecerá. Entrarás pela rachadura da pedra e encontrarás bem no fundo uma caixa, dentro da qual existe um ovo. É um ovo de três gemas. Quebrarás esse ovo e darás a clara à serpente. Feito isso, os teus trabalhos estarão terminados. As três gemas são as três princesas.

A velha abençoou-o e José se dirigiu para o reino das Três Pombas. Encontrou o reino das Três Pombas. Encontrou o palácio em grandes festas e também viu seus irmãos. Falou com eles, mas os malvados fingiram não conhecê-lo — e foram intrigá-lo com o rei, dizendo que havia aparecido um grande gabola com prosa de que era capaz de desencantar as princesas.

O rei chamou José à sua presença e interpelou-o.

— Saiba Vossa Majestade que é mentira, mas apesar disso estou pronto para desencantar as princesas.

O rei ficou admiradíssimo da segurança com que o rapazinho afirmava tal coisa, e mandou que lhe pusessem um navio à disposição. José respondeu que não era preciso — que iria a nado, e o rei riu-se, porque era o absurdo dos absurdos.

No dia seguinte foi José à praia do mar e lançou à água a esponja, que não afundava como fazem todas as esponjas. E a esponja foi indo em certa direção e ele atrás, nadando, até que chegou à pedra. Tirou a varinha da cintura e bateu. A pedra abriu-se e apareceu a serpente. José bateu na serpente e a serpente adormeceu. Entrou então pela rachadura da pedra e descobriu a caixa. Abriu-a e tirou o ovo. Partiu o ovo; deitou a clara na boca da serpente e recolheu as gemas no chapéu.

Feito isso, lançou-se de novo no mar e veio nadando até à praia. Quando chegou, bateu com a varinha nas gemas, que se transformaram nas três moças mais bonitas do mundo.

Foi um grande assombro no reino, mas os maus irmãos levantaram outro aleive contra José, dizendo que ele andava se gabando de ser capaz de trazer até a serpente. O rei perguntou-lhe se era verdade. "É mentira, mas sou capaz de trazer a serpente" — e lançando-se ao mar foi à pedra e trouxe a serpente.

Os maus irmãos tentaram levantar um terceiro aleive, mas desta vez José danou com a maldade deles e com a burrice do rei — e, dando-lhes umas varadas, adormeceu-os.

Quando o rei voltou a si, não quis mais saber de histórias. Casou José com a mais bonita das três princesas e mandou expulsar do reino os maus irmãos. E acabou-se o caso.
=============
— Bom — disse Emília — esta história é das tais de virar. Eu já tive comigo a varinha de condão que Cinderela esqueceu cá no sítio, no tempo daquela festa , e brinquei de virar uma coisa noutra até não poder mais. É facílimo e não há mérito nenhum nisso. Prefiro as histórias em que o freguês vence à custa de esperteza, isto é, de inteligência. Com varinha mágica tudo se torna extremamente simples.

— Também acho bastante boba esta história — disse Narizinho — além de que há muita repetição de coisas de outras. Os tais três irmãos, o tal do mais novo sair pelo mundo, a eterna velha, o tal reino das Três Pombas, os tais três aleives — tudo três, três, três. Isso até cansa. E os nomes? Não há história em que não apareça um João. Agora variou um pouco e veio um José...

— Eu, o que mais me admiro — disse Pedrinho — é a burrice desses reis, pais de três princesas. Nesta história, por exemplo, houve o primeiro aleive dos maus irmãos, mas José deu conta do recado muito bem, indo à pedra è desencantando a princesa. Que mais queria o rei? No entanto o palerma novamente deu ouvidos aos dois perversos que vieram com o segundo aleive. Isso nem é ser rei; é ser camelo.

— O negócio dos três — disse Emília — é coisa que só serve para maçar as crianças. O contador faz isso para espichar a história. Bem se vê que quem as inventa é gente do povo, de pouca imaginação e cultura.

— Bom — disse dona Benta. — O que estou observando é que as crianças de hoje são muito mais exigentes do que as antigas. Eu, quando era pequenina, ficava deslumbrada quando ouvia histórias como esta. Hoje está tudo diferente. Em vez de meus netos deslumbrarem--se, metem-se a criticar, como se fossem uns sabiozinhos da Grécia...

Emília ficou muito admirada de saber que dona Benta já havia sido criança.

— Mas então a senhora também já foi criança, das pequenininhas? — perguntou.

— Está claro, Emília. Que pergunta!

— E tia Nastácia também?... Que interessante! Está aí uma coisa que nunca me passou pela cabeça.

E ficou pensativa, imaginando como seriam as duas velhas quando criancinhas.
–––––––––––––
Continua… XVIII – A Cumbuca de Ouro
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 194)


Uma Trova Nacional

Por amor a humanidade,
tendo a cruz do mundo às costas.
Cristo, com sua humildade,
deu-nos todas as respostas!
–AMÁLIA MÁX/PR–

Uma Trova Potiguar


Quem conta muita vantagem,
pelo pouco que produz,
não pensa naquela imagem
de Cristo morto na cruz.
–MARCOS MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

1996 - Barra do Piraí/RJ
Tema: LÁGRIMA - M/H

O céu não chora... eu dizia,
olhando o Cristo na Cruz...
Pois se Deus chorou um dia,
verteu lágrimas de luz!...
–FÁBIO HENRIQUE CABRAL/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Pregado naquela cruz,
o Cristo morreu de pé.
Seu sangue jorrando em luz,
fez sementeira de fé!
–BRANDINA ROCHA LIMA/PE–

Simplesmente Poesia

A mãe, pelo filho amado,
sofre um milênio num dia...
a dor dos pregos da cruz
que o Nazareno sofria
doía menos que a dor
do coração de Maria.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia


Jesus Cristo um ser onipotente
Soberano da paz e da justiça,
Que abomina a guerra e a cobiça
Tem amor ao herege e ao descrente,
Só pregou a bondade pra essa gente,
Mesmo assim morreu crucificado;
Perecendo na cruz foi vergastado
Mas não deixa de amar a todos nós,
Se Jesus perdoou o seu algoz
Quem sou eu pra querer vê-lo malhado.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

–RAYMUNDO DE SALLES BRASIL/BA–
A Lágrima de Deus

Como se fosse a lágrima pingente,
que rolasse dos olhos marejados
de Deus, a estrela pálida cadente
que eu vi descer dos céus estrelejados,

fez-me pensar na dor de um Deus clemente,
que viu, na cruz, os membros lacerados
do filho amado, único e inocente,
para salvar os homens dos pecados.

E penso que, depois de dois mil anos
de tanta espera e tantos desenganos,
seu coração está cheio de mágoa,

vendo o homem pecando sem limite,
maculando o seu mundo, e Ele permite,
mas fica com os olhos rasos d’água.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paulo Leminski (Atraso Pontual)


Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

Trova 190 - Lisete Johnson (Porto Alegre/RS)

Montagem da trova sobre foto obtida em http://weheartit.com/

Fábio Rocha (O Canto da Noite)


Ouvia a brisa gelada fazer sons estranhos nos becos, entre as casas antigas. Costumava chamar aquele som etéreo, poético de "O Canto da Noite" quando era mais novo. Quanto tempo ele morou ali? Não lembrava ao certo... Uns cinco, dez anos? Deitou-se e pôs as mãos atrás da cabeça. Lembrou do quanto gostava de subir naquele telhado bem tarde da noite, observar o céu, o silêncio cortado apenas pelos sons do vento, sentir o sereno frio na pele... Quando deu por si, já estava subindo as escadas. Lá em cima de novo, tanto tempo depois... E... O que tinha de errado? Já não era a mesma coisa...

Lembrou do que ele sempre pensava quando subia ali: "Tudo pode mudar, mas sempre haverá estrelas no céu." Mas ele nunca imaginou tanta mudança em sua vida. Que voltaria ali adulto, e não mais ouviria o canto de sua mãe ecoar pelas paredes agora descascadas da velha casa. Uma lágrima escorreu pela face, mas ele não teve ânimo pra secá-la. Deixou-a correr até a boca e sentiu seu gosto salgado. Jamais pensou que teria que vender aquela casa, outrora tão cheia de vida, agora tão vazia. Que saudades da época mágica da infância... Das brincadeiras de esconder com seu avô no quintal, da paz na sua casa na árvore, do beija-flor que vinha beber a água com açúcar que ele pendurava na goiabeira... Foi a melhor época de sua vida. Duvidou que algum dia fosse tão feliz de novo.

Viu um meteoro e lembrou dos versos que fazia, já adolescente. Falava sempre do céu... Adorava os ares noturnos. Muitos versos ele fez para conquistar sua esposa. Ela não ligava muito pra poemas, mas gostava. E sempre agradecia com um beijo. Um singelo sorriso cortou a tristeza. Mas por pouco tempo... Lembrou que os anos de convivência deles juntos não deram certo. Não conseguiam ter os filhos que ela sempre quis, mas isso não foi o pior. Os dois erraram, e o amor foi se transformando num veneno. Raiva, ciúmes, vingança... Maldito seja o tempo... Seria ele o culpado? Estavam enjoando um do outro? Os dois sabiam que estavam a um passo do divórcio. Ele lembrou da sua teoria das estrelas e pensou que ela estava incompleta: "Tudo pode mudar pra pior, mas sempre haverá estrelas no céu."

Aquela era uma noite sem lua. Ele adorava noites sem lua. As estrelas pareciam brilhar mais. Sentou-se no telhado. Dali ele via quase toda a rua... Todas as casas antigas, os jardins maltratados, os terreno baldios. Não era assim antigamente. Pelo menos o lugar sagrado onde se passa a infância devia ser proibido de mudar. Já não passava ninguém àquela hora. As ruas cheias de crianças jogando bola e soltando pipa agora estavam sem viva alma. Nem os velhinhos varrendo as folhas das calçadas e fazendo fogueiras, enfumaçando as casas vizinhas, apareciam àquela hora. Só alguns cães de rua ainda estavam acordados, vagando soberanos no silêncio quase total... E um gato miava distante, como o choro de um bebê faminto.

Então sentiu as telhas sob ele estalarem... Viu que estavam molhadas com o orvalho, e ele já não era mais tão leve quanto nos velhos tempos de vigílias noturnas. Sentiu o jato de adrenalina invadir suas veias. Mais estalos... Qualquer movimento agora e ele afundaria no telhado. O que fazer? Só faltava essa... Um morcego passou bem perto. Mas ele nem se moveu. Achou que se deitasse de novo o peso se espalharia melhor e ele poderia ir rolando até a escada por onde subiu. As telhas cederam e os planos dele foram interrompidos pelo tombo.

Na laje empoeirada, sentiu uma dor imensa na perna. Não dava pra ver o que era, então procurou com as mãos. Sentiu o calor do seu sangue e que tinha algo cravado, atravessado na sua coxa direita. Estava quase desmaiando... Mas se isso acontecesse, ia sangrar até a morte. Que final idiota! Gritou por socorro e lembrou que ia ser muito difícil alguém ouvir. A única casa mais próxima que não estava abandonada era a da dona Amélia, que já era mais surda do que uma porta quando ele era um menino! Mas ele continuou gritando. Era a única coisa que podia fazer mesmo... E, por mais que se esteja reclamando da vida, nessas horas todos nós tiramos forças de não sei onde para continuar... Nessas horas, a vida se torna o bem mais precioso imaginável. Todas as preocupações e problemas parecem menores.

O pânico começava a dominá-lo. A sensação era a mesma que ele tinha quando criança, no escuro do quarto, acordava apavorado após um pesadelo e via faces medonhas nas paredes. Sentia aquele suor gelado pelo corpo, mas, mesmo assim, se cobria com o lençol para se proteger. O coração batia tão forte que parecia estar no seu pescoço. E ele, sem aguentar mais, gritava pela ajuda paterna. Queria gritar de novo, mas seu corpo não respondia. Olhava através das telhas quebradas para a casa vizinha com esperança. Sentiu que ia desmaiar. Seus sentidos quase se apagavam e voltavam. Viu uma luz se acender na casa da velha surda e alguém pequeno aparecer na janela. Alucinação? Foi seu último pensamento.

Só acordou, todo enfaixado, sendo levado pra uma ambulância. Procurou por seu salvador e viu, na porta da casa da dona Amélia, uma moça bonita, abraçada com uma garotinha, acenando. Vai ver a velhinha tinha morrido ou se mudado... Se mudado... Se não fossem as mudanças das quais ele sempre reclamava, ninguém ouviria seus gritos. Que alívio... Sentiu vontade de rir e de sentir o abraço de sua esposa de novo. Com certeza, ela o visitaria no hospital. Talvez ainda houvesse uma chance para eles.

Fonte:
A Magia da Poesia.

Fábio Rocha (1976)


FABIO José Alfredo Santos da ROCHA vive no Rio de Janeiro, onde nasceu, em 04 de junho de 1976. Cursou Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (mas não concluiu o curso)* e se formou em Administração de Empresas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Hoje, estuda Filosofia também na UERJ e é funcionário público. FABIO é FABIO mesmo - como MARIO, o Quintana, é MARIO - sem acento, o que ele explica em versos:

ESCOLHA
(Para Drummond)

O meu Fábio é Fabio.
Nem nasci, tropeçavam em mim.

Tive então duas escolhas:
Ser pedra ou poeta.
-

Fora isso, é muito pouco o que ele diz de si mesmo:

"Quanto a falar de mim, é a parte mais difícil (sorri, disfarçando). Acho que comecei a escrever por dois motivos: sempre gostei demais de ler e admirava os escritores (de prosa ou verso) que conseguem transmitir pros leitores algo que inspire, emocione ou faça pensar. O outro motivo é que falo pouco (sorri, certo de que está justificado). Então, alguns anos depois de começar a escrever poemas, comecei a fuçar na Internet e aprendi a fazer páginas. E como não tinha nada melhor para colocar na homepage, pus uns poemas. Eu não esperava, mas deu certo. Hoje já são mais de um milhão de visitantes no total, com uma média de quase cinco mil visitas diferentes por dia. Além disso, o site ganhou vários prêmios. Foi o que me estimulou a escrever mais e participar de concursos. Também tive várias surpresas boas e conheci pessoas maravilhosas e cheias de talento, graças a ele. Pessoas que, infelizmente, a mídia em geral não mostra, mas que estão a apenas um clique de distância".

Deu certo mesmo. Ao longo de um tempo historicamente curto - ele começou a escrever em 1994, aos 18 anos de idade - FABIO ROCHA publicou vários livros e juntou um monte de premiações em concursos. Seus poemas estão nos seus livros (de papel e eletrônicos), em vários sites de língua portuguesa, são notícia de jornal e até andam de ônibus. Como foi o caso do seu poema "A Magia da Poesia" que circulou no Busdoor colocado na traseira dos veículos de Blumenau, no período de outubro a dezembro de 2000. Foi este poema que deu nome ao seu primeiro livro, publicado em janeiro de 2001. Depois, vieram mais vários, eletrônicos, todos disponíveis gratuitamente para leitura no seu site pessoal [ www.fabiorocha.com.br ]. Em 2004, lançou seu mais novo livro em papel "Corte - 10 anos de poesia". Em 2010, foi um dos 46 poetas considerados como mais representativos da poesia nacional, na década de 2000 (a 2010), sendo selecionado para fazer parte do volume "Anos 2000" da coleção "Roteiro da Poesia Brasileira", da Global Editora. Também teve alguns poemas selecionados para livros escolares e outros traduzidos para o russo. Atualmente o autor publica pelo menos um poema inédito por dia no seu blog [ www.dabusca.blogspot.com ].

Fonte:
A Magia da Poesia

Fabio Rocha em Xeque


Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão em 2002. Revista Eletrônica Balacobaco (http://intermega.globo.com/seomario/index.htm)

1. Em Drummond você diz: "Ser Pedra/Ou ser poeta". Por que escolheu ser poeta?
(OBS: O nome do poema é "Escolha", dedicado a Drummond, e é "Ser pedra ou poeta" num só verso - o último)

Na verdade, não sinto que um belo dia decidi ser poeta... Foi algo que começou meio por acidente, depois eu insisti no erro e gradualmente cheguei a isso que sou hoje: nada, uma pedra no caminho. Sempre gostei de fazer as pessoas tropeçarem em suas certezas.

2.Qual influência tem de Quintana?

Acho que o que mais aprendi com Quintana é que podia escrever de modo simples, sem hermetismos, na linguagem e no conteúdo... E que um pouco de ironia e humor não vão mal na poesia. Para mim, a obra-prima dele é o "Poeminha do contra" (Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho!). É belo, conciso, simples e com uma mensagem forte.

3.Como foi ganhar o prêmio do site POEMAS AZUIS?

Sem dúvida foi o meu prêmio mais importante, porque além de eu ter conseguido o primeiro lugar, foi julgado por um poeta consagrado, a quem aprecio muito, o Affonso Romano de Sant'Anna. Foi uma satisfação dupla.

4.Quem é o poenauta brasileiro?

É o poeta vivo e atuante, que consegue ser lido sem gastar um dinheirão. E, geralmente, não se perde no hermetismo, que é quase a regra da poesia não virtual contemporânea.

5.Qual poema seu personifica melhor a sua obra? Fale sobre.

Realmente não sei responder a essa pergunta. Eu escrevo muito, quase um poema por dia, e mudo muito também, juntamente com o que escrevo... Hoje adoro um poema, amanhã acho horrível. Aí fica difícil ter um poema único que consiga personificar tudo o que escrevo.

6.Como é manter o site A MAGIA DA POESIA?

É um prazer tão grande que vicia... É muito bom ter alguém me lendo,mandando comentários e trocando idéias... Saber que é possível emocionar pessoas, mesmo as muito distantes, é algo precioso. A net é o melhor instrumento que conheço para isso. Um livro editado custa muito caro, com público reduzido e, pra completar, a distribuição em livrarias é uma droga. Por isso acho que a internet é a mídia mais eficiente para divulgar trabalhos escritos para autores novos. Pensando nisso é que lancei o concurso de poesias do site, onde o primeiro prêmio ganha uma página sob medida para divulgar seus trabalhos, feita por mim mesmo.

7.Qual é a magia da poesia?

Misturar palavras, rimas, imagens, lógica e emoção de modo diferente em cada um que lê. O poema se transformar de leitor para leitor é o que acho mais mágico na poesia.

8.Tem algum mote?

"Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive." Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa) - 14/2/1933

9.Qual o aspecto mais importante dentro de um poema? Fale-me de um aspecto teórico e um aspecto teórico ou não que faça ou seja característica da sua poesia?

Para mim ainda é o conteúdo o mais importante. Minha poesia não tem uma base teórica, vai saindo. Às vezes dou uma aparada aqui e ali, às vezes deixo como vem originalmente. Quem sabe, se eu tiver sorte, anos após a minha morte, não haverá teses de mestrado ou doutorado nas faculdades de Letras do país explicando detalhadamente os porquês do que escrevo hoje? :)

10.Qual o papel do escritor na sociedade?

Escrever de modo a fazer o leitor sentir algo novo ou velho de modo diferente. Emocioná-lo, chocá-lo, desafiá-lo, fazê-lo duvidar de si mesmo e do mundo, inspirá-lo.

Fonte:
A Magia da Poesia.

Ialmar Pio Schneider (Soneto para Hilda Hilst – In Memoriam)


(no dia do aniversário de nascimento da poeta: 21.4.1930)

Ao conhecer Vinícios de Moraes,
no tempo que era jovem sedutora,
quem sabe, lhe escreveu madrigais,
e teve uma paixão abrasadora...

Nada, porém, a vida lhe desdoura,
nos conciliábulos sentimentais,
porquanto a linda musa inspiradora,
fiel aos seus princípios ideais...

Ela vê dois Vinícius no poeta:
um sensível, mas outro já nem tanto,
nem se comove ao choro de um carneiro...*

Hilda Hilst, tão romântica e discreta,
procura discernir um doce encanto,
de um amor eternal e verdadeiro !

Porto Alegre – RS, 21 de abril de 2011-04-21, às 12h28min. olhando as águas do Rio Guaíba, em manhã ensolarada.

*cfe O livro O POETA DA PAIXÃO – Uma Biografia – de José Castello, 1994 – pgs. 298, 300

Fonte:

Colaboração de Ialmar Pio Schneider
Imagem
Centro Literario de Piracicaba.

Hilda Hilst (Poesias Avulsas II)


PRELÚDIOS-INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR

I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)

DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)

DA NOITE

III

Vem dos vales a voz. Do poço.
Dos penhascos. Vem funda e fria
Amolecida e terna, anêmonas que vi:
Corfu. No mar Egeu. Em Creta.
Vem revestida às vezes de aspereza
Vem com brilhos de dor e madrepérola
Mas ressoa cruel e abjeta
Se me proponho ouvir. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.

IV

Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.

V

Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.

VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.

O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.

Fontes:
HILST, Hilda. Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL.

HILST, Hilda. Do Desejo. RJ: Rocco.

Ruth Silviano Brandão (O Pássaro e a Flor)


Primeiro foi o pássaro, não o da janela, o que apareceu na manhã daquele dia embaçado, mas o da memória, como num retrato em sépia, resto de dias perdidos, cópia inexata, em sépia também. Uma lembrança já metáfora, pois foi num dia tão antigo que o vermelho do pássaro lhe incutiu o desejo claro de escrever. E passaram-se muitos anos em que a figura do pássaro, desde sempre virtual, já que não havia pássaro nenhum, volteava como figura viva. Uma lembrança do que não existia como história.

Anos mais tarde, uma frase passou-lhe nos olhos, pousou–lhe na tecla como música. Coisa assim: escrever o pássaro, tirá-lo do espaço, com pena. Tão impulsiva a frase como se tivesse vontade própria. E outras frases vieram como se fossem ditadas e o pássaro se impôs como uma síntese, como um senhor em suas páginas.

Os livros-poemas se multiplicaram com vida própria, mas era segredo que não revelava o fato de que as palavras vinham de outro espaço, impositivas, em horas imprevistas, como um comando. Sofria por ele, o pássaro, em algum lugar, estar preso numa gaiola estúpida que balançava com o vento da sala que não havia. Se havia, não lhe dizia respeito, eram lugares-comuns os pássaros e as gaiolas. Depois vieram outros animais
para atormentá-la com sua prisão e soube que o amor podia ser cruel. Talvez a pior coisa do mundo, já que impunha uma ordem louca que era a covardia do amado em relação à amante.

Sabia que as fábulas nem sempre eram verossímeis, imaginou que era possível o cordeiro ser feliz. E o lobo inocente. E os animais felizes por obterem comida ao preço pequeno de lamberem as mãos do dono. Odiou os cachorrinhos por sua fragilidade, como odiou a maldade das crianças que pintavam de amarelo os pintinhos que acabavam morrendo. O que era uma impressão, uma janela para ver o mundo, tornou-se um sentimento mais forte e mais incômodo com o qual não sabia o que fazer, já que estava tomando dimensões desproporcionais em sua vida.

Queria amar como as mulheres amam e conhecem o fascínio e todas as delícias da espera, o gozo de um corpo amado, os sustos da perda, a dor do ciúme e viu que era assim. E quis também amar, o que não demorou muito e aconteceu na figura do homem que a fez conhecer o amor e deliciou-se com tudo. Amou o amor, perdeu o rumo de suas idéias tão bem cimentadas.

Prendeu todos os pássaros nas gaiolas da memória, criou um viveiro com pássaros azuis, vermelhos de todos os tons. Chamou o viveiro de creatório e cuidou dos pássaros como de filhos que iria ter e teve. E fez com eles a mesma coisa e amou-os com amor total, tirânico como o das criancinhas por seus pintinhos amarelos e o das meninas que cuidavam de passarinhos na gaiola, dando-lhes alpiste, água e um mínimo espaço de onde podiam ver a imensidão do céu azul.

O homem que a fez conhecer o amor era também um poeta sem o saber e, um dia, lhe contou, que tinha ficado, enquanto regava suas plantas, sua grama, suas árvores, suas flores, diante de um pássaro, um beijaflor que beijava uma flor que não existia mais. A flor fora podada, a flor já não existia, era inexistente. E o pássaro insistia em seu vôo trêmulo diante do que não havia mais. O homem não se espantou, pois já tinha ficado, um dia, transido de dor, diante de uma flor que já não existia. Mas a dor persistia. A dor não tinha caído do chão de sua alma.
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Mestre e doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pós-doutora pela Universidade de Paris VIII, escritora, tradutora. É autora do texto de Aporias de Astérion (2004) e coautora, com Lucia Castello Branco, de A mulher escrita (2004), ambos da Lamparina.
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Fontes:
Colaboração da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. In Suplemgnto Literário. N. 1333. Novembro/dezembro 2010.

Imagem = http://connect.in.com/passaro-beija-flor/

Carlos Roberto Pellegrino (A Viúva)

Ilustração de Sebastião Miguel
Ivonaldo de Castro era da melhor cepa de Capinópolis. Sexagenário de respeito, família tradicional, gente rica. Descendia de família abastada, um senhor de muitos escravos, cuja lembrança o tinha como manso e humilde de coração, pai dos pobres, era como lhe convinha nos comentários dos amigos. Na linhagem comum gabava-se do avô médico, pai médico, filho médico e finalmente neto médico, residente na Santa Casa. Quanto a si, durante a vida fora artista da relojoaria pelo que cultivara o exercício da pontualidade até a morte inopinada na hora precisa em que Deus o chamou.

Durante a vida não houve Patek Philippe ou Omega-Ferradura que o desalentasse. Apesar de bons relógios, Ivonaldo lhes superava na qualidade das horas. Passados por suas mãos, os engenhos assumiam tal rigor que não derrapavam um segundo sequer, nem para mais ou para menos, a hora H. Corria a lenda que ao menor desgoverno dos ponteiros celestiais um mensageiro recomendava limpeza e ajuste acurado na máquina das horas. Assim os dias pareciam mais ligeiros e as noites longas na proporção dos minutos e segundos.

Numa tarde de calor intenso, antes que o anjo viesse recomendar novos encargos, Ivonaldo atendeu à irrecusável convocação para prestar– Lhe contas da vida. Não houve meio de escapatória, e lá se foi, sem que lhe tivesse sido concedido o benefício da recusa. Solícito e sem alternativa, acomodou-se definitivamente à troca do endereço ou, como costumava dizer com saudável ironia: desta para melhor. Morreu de síncope.

Na bagagem da herança, além dos amores jurados e prometidos incluía o afeto à Dorotéia, que o manteve o mesmo durante os longos anos de convivência. Amante ciumenta de marido fiel, a viúva assumiu, corajosa, a economia da casa. O cuidado com os filhos moços, todos bem arranjados, o que significava preocupação a menos. Na conta do zelo a atenção especial ao neto já rapaz, que mostrava formosura ao vestir o jaleco branco de futuro médico.

Das moças juradas no amor do pai, Isaurinha era a caçula. Guardava fiel o compromisso de casar-se com Manuel Espinho, filho de um fazendeiro de tantas cabeças quantas fossem os bois a perder de vista na invernada. Gláucia se mantinha na solteirice recatada, na diversão única de ensinar música no conservatório, ao que dedicara toda a vida. Virgininha, a mãe do médico residente, casara-se com um capitão da Força. Já Dorotéia mantinha-se incansável na faina de mãe extremosa e viúva piedosa.

Na manhã seguinte ao passamento, ajaezaram o finado com o melhor que havia; terno escuro folgado, gravata amarela de seda pura, e o depuseram sobre a mesa da sala ao lamento de rosários e ladainhas. Decoraram a morte com um lençol de flores brancas e a toalha de renda da Madeira, lembrança amarelecida do casamento, conforme recomendação da viúva desconsolada Tudo o mais houve para despertar a contrição dos amigos. As fitas bentas de amarração foram dispostas em cada canto da sala e deveriam ser reverenciadas somente com a menção de beijo para mantê-las limpas.

Desfiaram-se jaculatórias e ladainhas chorosas, velas e louvações ocasionais em torno do caixão. As beatas se engabelavam no gemido modorrento de um canto arrastado como portas rangedeiras. Ivonaldo merecia as homenagens do amigo dos amigos, pai exemplar e marido fiel.

O jornal noticiou o passamento do pai, marido, sogro e avô, estando convidados os amigos para o seu sepultamento a realizar-se às quinze horas, saindo o féretro da rua das Acácias número tal para a necrópole municipal. Antecipavam-se agradecimentos por quantas houvessem sido as manifestações de pesar, carinho e solidariedade recebidas. Descansasse em paz. O pequeno anúncio, com moldura de nojo, convinha à ocasião, nada mais se comentou.

Amparada pelas filhas, Dorotéia encontrava forças para prantear o finado. Respirou coragem para entrar na sala pela porta da frente. Ao dar com o semblante do marido conteve o soluço na borda do lencinho de cambraia como recomendado por Isaurinha. A viúva guardava as lágrimas em boa compostura.

Tudo correu conveniente até o instante de fecharem o caixão. Dorotéia então buscou um soluço mais forte. Um adeus pungente. Sem dar tempo a mais sofrimento, logo aplicaram as tarraxas em cada extremo do caixão. Ivonaldo assumia solitário o destino incerto e não sabido, de onde jamais retornaria.

No tom da toada houve o gemido de uma voz pequena que reverberou entre os circunstantes. Para Dorotéia foi mais um lamento pelo finado. Um amigo, quem sabe. O risco era de alguém indesejável, mesmo que privasse da intimidade do morto. Ou uma amiga. Uma amante! Passou-lhe pala cabeça atordoada.

Uma amante? – a grita veio retumbante.

Sim ou não, a questão estava lançada, conquanto. Ivonaldo sempre foi pessoa discreta, de hábitos morigerados. Estaria a salvo dos amores furtivos. Nas filhas, veio à imaginação da mulher alta, vistosa, peitos grandes e pontudos, pernas torneadas e o que mais lhe sobressaísse: a bunda. Roliça e insinuante mantinha-se reservada às investidas clandestinas, ainda que poucos ousassem.

Rei morto rei posto, alguém sentenciou. Não haveria de ser assim tão fácil beliscar a bunda da suposta amante de Ivonaldo. Antes era preciso desvendá-la, nudificar, como propôs Adamastor, fiel escudeiro e confidente do falecido. Mas, quem haveria de ser amante de Ivonaldo àquela altura?

Nos três lances de escada da varanda que levavam à sala onde haviam colocado os despojos do amantíssimo, um grupo de senhoras conversava. Nenhuma delas era amante, pelo menos nada que denunciasse qualquer delas. Respeitáveis e assíduas frequentadoras das rezas vespertinas. Definitivamente não tinham cara de amante.

A garantia dessa afirmativa assim peremptória relançou a dúvida: mas qual haveria de ser a cara de amante? Talvez um olho menor que o outro, orelha de abano, a verruga saliente numa das bochechas, lábios finos, sobrancelha circunflexa, e o que mais? Eram dúvidas que não se ousava comentar, receosos da cumplicidade confessa. Segundo Adamastor, cioso das virtudes do amigo, era preciso preservá–la. Haveria de ser igual a todas, em qualquer lugar. Sim, mas como, e onde? Antes de tudo tinha de ser bonita, atraente, vistosa. Gostosa, arrematou um mais irreverente, que, de pronto, mereceu discreto olhar de apoiamento. Amante tem que gostar; gostar de quê? Daquilo. Daquilo o quê? Indagavam com nervosismo crescente. Do amante, ora, tratou de afastar a malícia. Amante é amante e pronto, sentenciou o cunhado do morto com autoridade insuspeita de parente postiço. Temia-se que o assunto descambasse para detalhes inconvenientes, sobretudo naquela circunstância.

Entre os conhecidos, o assunto deu panos pra mangas. No espichamento do debate, acrescentaram comentários insolentes sobre o desempenho do Ivonaldo no reservado dos seus aposentos. Um atleta, exagerou o tipo que trazia um bigodinho recalcado a lápis. Coisas do arco-da-velha, meu amigo. Do velho, só ele mesmo, bradou o outro exigindo respeito ao amigo morto. Tudo dito e assim feito, Adamastor chamou à ordem. A partir de então, decidiu-se que o pranteado receberia os lauréis dos amantes.

Na sala respiravam incerteza entre os grupos. Fecha? Não fecha? Fecha o que? O caixão, ora! À boca pequena, expunha-se Ivonaldo à execração pública.

Dorotéia ignorou a sentenças. Reforçou as orações com o vozerio troante. Louvaram-se o quanto era santo. Atônitos, os amigos se entreolhavam, acusadores. Quando eu morrer, vou só, comentavam os mais mordazes. Olhos nos olhos, desconfiavam de todos. Entretidas, as senhoras beatas cofiavam as recomendações do catecismo com súplicas por um lugar nos céus.

No passo lento desfilaram pela última vez diante de Ivonaldo. Persignaram-se circunspetos, desenhando com a ponta dos dedos um sinal rápido e mal espalhado no peito, ao que todos resmungavam amém. Estava confirmada a presença.

Rapidamente ganhou fama a versão de que certa senhora ali presente, ao acariciar respeitosamente o rosto do finado, depositara furtivamente um bilhete num dos bolsos do terno de encomendação. Foi o bastante para reaquecer o fogo das maldades. O derradeiro recado, um adeus definitivo. A autenticidade do bilhete haveria de ser a chave que desvendaria a identidade da traidora. Dito e feito. Mas onde? Como? Quando? Era preciso buscar a evidência, e mais gritava a curiosidade alheia por conta da suposta ofensa ao marido. Afinal era a fama sobre a cabeça.

Na passagem da fila pelo morto fizeram questão de tocar-lhe o peito com a palma da mão, como prova de estreita amizade. Aproveitaram a oportunidade para enxerir nos bolsos do defunto buscando o bilhete. E tanto foi assim que muitos que já haviam passado, repassavam, agora com a curiosidade à flor da pele.

Agora não dava mais para esperar; fechariam o esquife. De pronto, alguns reagiram à idéia aos gritos de que ainda não era a hora. Deixa disso, erguiam os braços, contrariados e temerosos pela surpresa iminente. Na peleja a que se dispuseram, chegou Isaurinha e aos sete sóis de espanto entregou à mãe o recado que havia encontrado no sapato do pai ao aprontá-lo horas antes. Desabou um grande silêncio na sala. Não se ouviu nem mesmo o piar do coleirinha. Entreolharam-se mudos, as mulheres pela fama, os maridos na cumplicidade aturdida.

Dorotéia leu a mensagem e não se conteve. Escapou o grito lancinante contrariando as recomendações da filha para que se contivesse. Suportou a mãe. Tinha razão. Espera um pouco, recomendou Dorotéia. Ainda não.

Vagarosamente tornou a dobrar o bilhete, beijou-o e o depositou entre as mãos de Ivonaldo. Vai, meu querido.

Nada mais foi dito nem se soube do escrito e o seu nome.

Fonte:
Colaboração da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. In Suplemgnto Literário. N. 1333. Novembro/dezembro 2010.

Carlos Roberto Mota Pellegrino (1945)


(Belo Horizonte, 1945) é um autor, jornalista, jurista e chef brasileiro. Primo-irmão do escritor Hélio Pellegrino.

Formou-se em direito e letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Tem também estudos avançados em Direito Privado e Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Fez cursos de especialização em Direito Internacional pela Academia de Direito Internacional de Haia, obteve mestrado em Estudos Aprofundados em Direito Público e o grau de Docteur D'Etat pela Universidade de Nice sob a orientação do festejado internacionalista francês René-Jean Dupuy, tendo alcançado a menção suma cum laude e elogios da banca examinadora.

Foi professor visitante da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde lecionou 'Teoria Política' para o doutorado e 'Teoria do Estado' para o mestrado. Foi também conferencista nas universidades de Lisboa (Portugal), Madri (Espanha), Saarbrücken (Alemanha) e Roma (Itália).

Foi professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou 'Direito Internacional Público', 'Direito Administrativo' e 'História das Idéias Jurídicas' (para graduação), 'Prática Jurídica' e 'Sociologia Jurídica' (para pós-graduação), entre outras disciplinas. Foi diretor da faculdade e sub-chefe do Departamento de Administração da universidade.

Foi também professor do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores.

É filiado a diversas sociedades de Direito Internacional, como a American Society of International Law. Desenvolve intensa pesquisa sobre os aspectos jurídicos e institucionais das relações internacionais.

Como jornalista, trabalhou em Bauru e São Paulo, nos jornais Última Hora e O Globo.

Foi redator da Revista Minas Gerais e do Suplemento Literário de Minas Gerais, onde publicou contos, críticas, entrevistas e reportagens a partir de 1967. Colaborou com publicações literárias no Brasil e no exterior.

Foi funcionário internacional da ONU em Nova York em 1979. Retornou ao Brasil para lecionar na UnB. Desde então, foi advogado da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) e do Instituto de Planejamento Econômico e Social (IPEA). Foi assessor do Ministro Oscar Dias Corrêa no STF e ocupou o cargo de Consultor Jurídico chefe do Ministério da Justiça e da Secretaria de Planejamento e Coordenação da Presidência da República (SEPLAN/PR).

Atualmente trabalha como advogado junto aos tribunais superiores em Brasília.

Livros jurídicos
"Estrutura Normativa das Relações Internacionais" (2008) Editora Forense
"Estruturas Constituicionais do Município" (2000) Editora Del Rey
"Da Guerra Marítima e o Direito Internacional" (1989) Ministério da Marinha
"História da Ordem Internacional" (1988) Editora Brasiliense

Produção ficcional
"Porta:" (1966) Edições Palavra
"Corpo Inteiro" (1968) não-editado
"Do Lado De Lá" (1970) Editora Oficina das Letras

Outras atividades relevantes

Integrante do grupo de trabalho interministerial para estudar e propôr medidas visando ampliar os mecanismos existentes de apoio e assistência consular aos brasileiros no exterior (2002)
Integrante do conselho editorial da revista Arquivos do Ministério da Justiça (2002)
Integrante do grupo de trabalho para propor reforma do ordenamento jurídico brasileiro em visitas à ratificação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (2002)
Integrante da delegação brasileira para o comitê ad hoc para negociação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (2002)
Supervisor na Comissão da Organização dos Poderes e Sistemas de Governo da Assembléia Nacional Constituinte (1987)
Integrante do Conselho Direito do Fundo da Marinha Mercante do Ministério dos Transportes (1985)

Fonte: Saber

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 193)


Uma Trova Nacional

– Que lição de amor profundo
aos homens legou Jesus,
trocando os sonhos do mundo
por três cravos e uma cruz!
–ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA/PA–

Uma Trova Potiguar

Redimindo os pecadores,
conduzindo-os para a luz,
o maior dos sonhadores
morreu pregado na cruz!
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - Niterói/RJ
Tema :PARTILHA - M/E

Na terra viveu tão pouco
partilhando amor e luz;
e o mundo descrente e louco,
pôs o próprio Deus na cruz.
ADILSON MAIA/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Pureza eu vejo na cruz
onde um cordeiro morreu,
para dar ao mundo a luz
que o mundo não mereceu.
–LUIZ RABELO/RN–

Simplesmente Poesia

–HELOISA CRESPO/RJ–
Sexta-Feira Santa

Toda sexta-feira santa
de tantas outras iguais,
revive-se um sofrimento
de muitos anos atrás:
o Cristo crucificado
sofrendo por nós mortais.

Tão logo ao amanhecer
nos jornais saem em seqüência
as notícias do suplício,
denunciando a existência
da cruz do cotidiano,
da verdadeira vivência.

de sofrimento do povo,
humilhado, com urgência
de paz, de uma vida digna,
com emprego, sem violência,
não buscando mais no lixo
a sua sobrevivência.

Estrofe do Dia

O povo não entendia
Cristo ali crucificado.
Pilatos lavando as mãos
no seu ato acovardado,
encheu o mundo de luz,
crucificando Jesus
pra nos livrar do pecado.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–DINIZ VITORINO/PB–
A C r u z

Nunca quis carregar, de alguma forma,
a tantálica cruz da dor que aflige,
mas a lei de Deus pai não foge à norma;
a sentença é lavrada, o tempo exige.

Sofre o corpo, o espírito se conforma,
o amor para o calvário me dirige.
O tormento é brutal, mas não transforma
filho pródigo algum que Deus corrige.

Mas, se o próprio Messias foi no horto
coroado de espinhos, preso e morto,
tendo vindo dos céus pra nos amar,

se eu, tão frágil, morrer como Jesus
pregar cada pecado numa cruz,
dez mil cruzes não dão pra me matar!

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo