terça-feira, 19 de julho de 2011

Cesário Verde (1855 - 1886)



José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.

No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

A DICOTOMIA CIDADE/CAMPO

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos)/quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.

Ao ler-se o poema "De Tarde", pertencente a "Em Petiz", é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua "companheira". A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas "De Verão" e "Nós" (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.

A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas. É por isto que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu.

A mulher em Cesário Verde

Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.

Outra perspectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) no campo . A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.

"Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."

A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas, embora seja visível a proximidade com Baudelaire, por retratar realidades cotidianas, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX e o fez incompreendido em seu tempo.

Embora Cesário Verde não pudesse ser enquadrado em nenhuma das escolas poéticas dos países de língua portuguesa da época podemos dizer que ele não poderia não estar relacionado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se se tiver em conta o interesse pela captação do real, por exemplo, ao considerarmos o tipo de cena a serem retratadas pelas quais o poeta optou, seus quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Se considerarmos o fato do poeta figurar plasticamente uma cena, poderia aproximá-lo, inclusive, do Parnasianismo. Porém, sua obra ainda tem um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens retratadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.

Aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções, o que, definitivamente, o inscreve no quadro dos poetas fundadores da modernidade. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterônimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro.

Importância da representação do cotidiano na poesia de Cesário Verde

A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.

Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: "Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada(…)E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada" (em "Num bairro moderno"). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde "(…) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga" (em "Num bairro moderno"), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em "Cristalizações", onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos "calceteiros" ou na "actrizita".

É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema "O sentimento de um ocidental" aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: "Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!".
Linguagem e estilo

Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor-calceteiro-condutor de metro); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou versos alexandrinos.

Fonte:
Wikipedia

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 274)



Uma Trova Nacional

Somente a força divina
promove graças tamanhas:
– o sol remove a neblina...
– a fé remove montanhas...
–ERCY MARIA MARQUES/SP–

Uma Trova Potiguar

Mar adentro, mundo afora,
a distância aumenta mais...
e enquanto a saudade chora,
“um lenço acena no cais”.
–MARA MELINNI/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Ribeirão Preto/SP
Tema : INCLUSÃO - 5º Lugar

Meu Deus, que eu não seja omissa
na luta pela inclusão,
pois quem clama por justiça
é Teu filho...e é meu irmão.
–THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP–

Uma Trova de Ademar

Após causar desencantos
e nos fazer peregrinos,
a seca faz chover prantos
nos olhos dos nordestinos...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

A igreja, as flores e o eleito,
ela de branco e eu tristonho;
foi o cenário perfeito
para o enterro de meu sonho.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia

–JOMACI DANTAS/PB–
Meu Filho

Vem meu filho, meu amigo
para se banhar na fonte,
depois viajar comigo
nas linhas do horizonte;
vem meu filho ouvir meu verso
que fiz no lindo universo
com inspiração, porque...
Em cada estrofe que faço
sinto por dentro um pedaço
da grandeza de você!...

Vem meu filho, eu quero dar-te
e dizer com fé imensa,
Deus está em toda parte
eu sinto a sua presença,
o sol que revela o brilho
é com certeza, meu filho
o santo olho de Deus;
que em sua plenitude
vem clarear de virtude
os ensinamentos seus.

Estrofe do Dia

Não é para cantador
que se diz bom repentista,
fica para cordelista
que também tem seu valor;
o bom improvisador
não bota papel na mão,
pois da sua inspiração
nasce um verso sem defeito
o verso quando é bem feito
passa pelo coração.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

–DIVENEI BOSELI/SP–
Caminho Amargo

Há tons de dor no por do sol tristonho
(se é que a dor tem, por acaso, cor);
é hora de eu voltar pelo enfadonho
caminho sempre amargo, aonde eu for...

Todos os dias trilho-o com a dor,
e, ao regressar, à dor já não me oponho,
pois trago o pão de cada dia e o amor
por quem, no amanhecer, levo em meu sonho...

Réstias de sol me banham quando venho
ao romper da alva o pão buscar, garrida,
por bem dos “anjos” que em casa deixei.

Ao regressar, o olhar sempre detenho
no ocaso (que reflete a minha vida)
e... ái, que saudade atroz de quando amei...

Fontes:
Textos enviados pelo autor

segunda-feira, 18 de julho de 2011

18 de Julho (Dia Nacional do Trovador)


O dia 18 de julho é o dia consagrado aos trovadores do Brasil. A data foi fixada por leis estaduais e municipais, onde que haja um cultor da Trova, em homenagem ao Trovador LUIZ OTÁVIO, o responsável pelo insuperável movimento literário brasileiro, que é o movimento trovadoresco nacional.

No dia do Trovador, todas as Seções da União Brasileira de Trovadores – UBT e Delegacias espalhadas por centenas de municípios brasileiros comemoram a data com almoços festivos, reuniões, com as chamadas chuvas de trovas, (centenas de trovas impressas) jogadas das janelas dos trovadores, para que os transeuntes se deliciem com as trovas que vão caindo ao sabor do vento. São realizadas palestras, enfim, cada seção ou delegacia comemora da melhor forma que pode a passagem do dia legalmente dedicado ao trovador.

A data foi escolhida em homenagem a LUIZ OTÁVIO, o Dr. Gilson de Castro, um dos mais conceituados Cirurgiões – Dentistas da época, formado pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, em 1936. Sua clientela não ficava restrita apenas ao município Rio de Janeiro, se espalhava por São Paulo, Santos, Belo Horizonte e outras cidades mais próximas da sede do seu consultório, que, recordo como se fosse hoje, ficava na Rua do México, 119, no 9º Andar.

LUIZ OTÁVIO nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de julho de 1916. Filho de OCTÁVIO DE CASTRO e Dona ANTONIETA CERQUEIRA DA M. CASTRO.

LUIZ OTÁVIO foi o precursor do movimento trovadoresco brasileiro, tendo publicado em 1956, a primeira Coletânea de Trovas, intitulada “ Meus irmãos, os Trovadores”, contendo mais de duas mil Trovas, mais de seiscentos autores brasileiros, notas elucidativas e bibliográficas.

O “Castanheira – de – Pêra”, Jornal Português de 11 de agosto de 1958 publicou sobre Meus Irmãos, os Trovadores:

“Esta coletânea, a primeira do gênero, veio preencher uma lacuna que se fazia sentir. Apresenta mais de seiscentos autores brasileiros, duas mil trovas, inúmeras notas bibliográficas e elucidativas e minuciosa introdução com um estudo sobre a trova. É um valioso trabalho que se impõe. A Luiz Otávio, em quem há muito reconhecemos idoneidade literária e bom sentido poético, apresentamos os nossos parabéns e os desejos de que o seu trabalho tenha a divulgação que a todos os títulos merece”.

Referindo-se ao mesmo trabalho de LUIZ OTÁVIO, A ILHA, JORNAL DA África- São Miguel dos Açores, de 16 de fevereiro de 1957, registrou:

“ Esta grande coletânea de trovas honra LUIZ OTÁVIO pelo seu trabalho, seriedade, competência e cultura, contribuindo para uma melhor compreensão deste tão ‘ simples e difícil‘ gênero poético. “.

O Correio da Manhã do Rio de Janeiro, na edição de 27 de janeiro de 1957, em coluna assinada por Sílvia Patrícia, assinalou:

“Meus Irmãos, os Trovadores, o volume novo que LUIZ OTÁVIO - Papai Noel da Poesia- ofereceu-nos no Natal que passou, é quase um romance no qual cada pena desta nossa irmandade de sonho narra, em quatro linhas, uma alegria ou uma tristeza, cardos e flores encontrados pelo caminho.”

O Jornal O Positivo, de Santos Dumont, MG., em coluna assinada por Antônio J. Couri, no dia 1º de outubro de 1957, escreveu sobre Meus Irmãos, os Trovadores:

“Raríssimas são as vezes em que o Brasil tem a oportunidade de conhecer coletâneas de poesias, ou , simplesmente quadras. Agora temos uma apresentada por LUIZ OTÁVIO, porém de trovas. De uma organização primorosa , o autor de “Cantigas para Esquecer” soube escolher a matéria que compõe o livro, constituindo assim um verdadeiro monumento de arte da poesia nacional.”

Evidentemente, não seria necessário selecionarmos as opiniões acima para este modesto trabalho a respeito do Dia do Trovador e de LUIZ OTÁVIO, o responsável pelo reconhecido movimento trovadoresco da atualidade, que começo a se firmar a partir da publicação de “ Meus Irmãos, os Trovadores“,obra que reuniu trabalho de trovadores de todos os recantos do território nacional, numa época em que os meios de comunicação ainda eram bastante precários, o que, por certo, valorizou ainda mais o livro, pelo trabalho incessante do Autor, inveterado apaixonado pela trova, como escreveu.

"A trova tomou-me inteiro!
tão amada e repetida,
agora traça o roteiro
das horas de minha vida."

"Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ... “

Por estar na solidão,
tu de mim não tenhas dó.
Co trovas no coração,
eu nunca me sinto só.”


No ano de 1960, em Congresso de Trovadores realizados em São Paulo, foi eleita a Família Real da Trova, ficando assim constituída : Rainha da Trova : LILINHA FERNANDES (Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva); Rei da Trova : ADELMAR TAVARES e Príncipe dos Trovadores, LUIZ OTÁVIO (Gilson de Castro). Mesmo já sendo falecidos, continuam com o título, pois outros trovadores só poderão adquirir o título se houver uma Eleição Nacional ou um Congresso realizado com esta finalidade, em que participe um número muito grande de trovadores, com a participação de representantes de todo o país, uma vez que não pode ser reconhecido qualquer título literário supostamente alcançado com a votação de sócios de uma academia, associação, centro literário etc, com exceção de sua Diretoria.

Ainda no ano de 1960, LUIZ OTÁVIO, juntamente com J. G. de Araújo Jorge, criaram os Jogos Florais de Nova Friburgo, com o apoio do Prefeito Municipal da Cidade, Dr. Amâncio de Azevedo e do Trovador Rodolpho Abbud, até hoje o mais respeitado trovador da Cidade, Jogos Florais que se realizam, ininterruptamente, desde 1960 e seus festejos fazem parte do calendário oficial da Cidade e são realizados como parte dos festejos do aniversário de Nova Friburgo.

No dia 21 de agosto de 1966, LUIZ OTÁVIO fundou a União Brasileira de trovadores – UBT - no Rio de Janeiro e a UBT Nacional,com sede também no Rio de Janeiro, tendo a mesma se expandido em pouco tempo, contando hoje com uma infinidade de Seções e Delegacias em quase todo o território nacional, onde se realizam cerca de 80 concursos de Trovas por ano, na maioria com mais de um tema o que, no cômputo geral, chega a mais de 120 certames por ano.

LUIZ OTÁVIO foi o primeiro Presidente da UBT, tendo se tornado pouco tempo depois Presidente Nacional e posteriormente, Presidente Perpétuo, o mais alto título concedido pela agremiação.

Recebeu o título máximo da trova, Magnífico Trovador, nos Décimos Quintos Jogos Florais, por ser vencedor três anos consecutivos com as trovas:

XIII Jogos Florais - Tema Silêncio - 1º lugar :
“ Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !.. “

XIV Jogos Florais – tema Reticências - 2º lugar:
“Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...”

XV Jogos Florais – tema Fibra – 10º lugar:
“ Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ... “

LUIZ OTÁVIO publicou os livros:

Saudade... muita saudade! / Poesia / 1946
Um Coração em ternura / Poesia / 1947
Trovas / Trovas (três edições) / 1954 - 1960 - 1961
Meus Irmãos. / Os Trovadores Coletânea de Trovas / 1956
Meu Sonho Encantador / Poesias / 1959
Cantigas para Esquecer / Trovas / 1959 e 1961
Cantigas de Muito Longe / Trovas / 1961
Cantigas dos Sonhos Perdidos / Trovas / 1964
Trovas... Ao Chegar do Outono / Trovas / 1965

Registramos outras trovas de LUIZ OTÁVIO, que demonstram porque, após quinze anos de criar os Jogos Florais de Nova, como outros grandes trovadores, ele sagrou-se Magnífico Trovador.

“ Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.”

"Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ... “

"Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem. “

“Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição... “

“ Não paras quase ao meu lado ... !
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...”

“Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi ... e, no entanto,
tu corres nas minhas veias ...”

“Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...”

“ Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ... “

“ estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ... “

“ Ó mãe querida – perdoa ! ´
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou ! “

Além de grande Trovador, campeão de centenas de Concursos de Trovas e Jogos Florais, realizados em várias cidades do país, LUIZ OTÁVIO era um exímio compositor, sendo dele a autoria do Hino dos Trovadores, Hino dos Jogos Florais, das Musas dos Jogos Florais e de várias outras obras musicais.

Hino dos Trovadores:

“ Nós, os trovadores,
somos senhores
de sonhos mil !
Somos donos do Universo
através de nosso verso.
E as nossas trovas
são bem a prova
desse poder :
elas têm o dom fecundo
de agradar a todo mundo ! “

Hino dos Jogos Florais

“ Salve os Jogos Florais Brasileiros !
a Cidade se enfeita de flores !
Corações batem forte, fagueiros,
a saudar meus irmãos trovadores !
Unidos por laços fraternais,
nós somos irmãos nos ideais;
- não há vencidos, nem vencedores ;
pois todos nós cantamos , somos trovadores;

e as nossas trovas sentimentais
são sempre mensageiras de amor e paz !.

A Oração do Trovador é o Poema de são Francisco de Assis, Padroeiro dos Trovadores, cujo aniversário, dia 4 de outubro é muito festejados pelos cultores da Trova.

E para encerrar esta homenagem ao Dia do Trovador, focalizando a figura mais importante do mundo trovadoresco, LUIZ OTÁVIO, registramos dois sonetos, dos inúmeros que escreveu, contido em um dos seus livros de poesias, “Meu Sonho Encantador “.


O IDEAL

Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista !
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista !

Trabalha com fervor, de forma avara !
Que sejas no teu sonho um grande egoísta !
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista !

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado ! ...

ORGULHO

Venho de longe... venho amargurado
pelas noites sem fim, nesse cansaço
de receber tão só, triste e calado,
a incompreensão do mundo passo a passo...

Eu trago a alma sem fé do revoltado
e o gesto do vencido em cada braço...
E tu me surges - Anjo imaculado -
a oferecer repouso em teu regaço...

Porém tua alma feita de inocência
serenidade e Luz, não avalia
a penumbra invulgar dessa existência...

Deixa-me, pois, seguir o meu caminho,
renunciar, viver nessa agonia,
mas tenho o orgulho de sofre sozinho !...

Assim, mostramos um pouco da poética de LUIZ OTÁVIO, Príncipe dos Trovadores Brasileiros, Magnífico Trovador e Presidente Perpétuo da União Brasileira de Trovadores e responsável pelo sucesso alcançado pela Trova e pelos Trovadores.

Fonte:
www.movimentodasartes.com.br

Luiz Otávio, Príncipe dos Trovadores



artigo enviado por Carolina Ramos

O POETA

Gilson de Castro nasceu a 18 de julho de 1916, no Rio de Janeiro. Luiz Otávio foi o pseudônimo que ele adotou para assinar suas trovas, poesias e outras manifestações de seu talento literário. Era cirurgião-dentista, profissão que exerceu no Rio de Janeiro, onde se formou e mais tarde se transferindo para Santos no final de sua vida.

Começou a enviar seus versos para os jornais e revistas lá por 1938, ainda timidamente, oculto sob pseudônimo. Não pretendia misturar a vida literária com a profissional. As principais revistas e jornais da época começaram a divulgar poesias e principalmente trovas de Luiz Otávio, que podiam ser encontradas no "Correio da Manhã", "Vida Doméstica", "Fon-Fon", "O Malho", "Jornal das Moças", revistas que, como "O Cruzeiro", eram as mais lidas dos anos 1939, 40 e 41, etc. A revista "Alterosa" de Belo Horizonte, também o divulgou. Pouco a pouco, a Trova tomou conta do coração do poeta, assumindo Literalmente papel de Liderança na sua vida. E ele confessa:

A Trova tomou-me inteiro,
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!...

Para a ascensão da Trova na vida de Luiz Otávio, muito contribuiu sua amizade com Adelmar Tavares. Quem os aproximou foi o consagrado poeta A. J Pereira da Silva. Recuperava-se Luiz Otávio na Fazenda Manga Larga em Pati de Alferes, quando teve oportunidade de conhecer esse renomado poeta, da Academia Brasileira de Letras, com quem iniciou amizade edificante, solidificada pela Poesia; amizade que se estendeu até os derradeiros dias de A. J. Pereira da Silva que, naquele tempo, já passava dos sessenta, enquanto Luiz Otávio não galgara ainda o vigésimo segundo degrau de sua sofrida existência. Isto não perturbou as horas deliciosas de conversa amena e espiritualizada, em que a fina sensibilidade de ambos fazia desaparecer a diferença de idade, provando que um coração capaz de vibrar "de amor" e pulsar em ritmo de poesia, simplesmente não tem idade.

A viúva do acadêmico Antônio Joaquim Pereira da Silva, doaria posteriormente, a preciosa Biblioteca do poeta ao seu particular amigo, Luiz Otávio, que, por sua vez, ao transferir residência para Santos, em 1973, doou parte desse valioso acervo, juntamente com livros de sua própria estante - num total de mil exemplares devidamente catalogados - à Academia Santista de Letras, que só então teve formada sua Biblioteca. Na época, a A.S.L. era presidida pelo Dr. Raul Ribeiro Florido que se responsabilizou pelo transporte Rio-Santos. Com esta doação, Luiz Otávio não pretendia nada para si, como deixou bem claro em carta, (era de conhecimento geral sua quase aversão às Academias, em virtude do próprio temperamento). Mas pediu, por uma questão de justiça, que numa das estantes fosse colocada uma placa que levasse o nome de A. J Pereira da Silva. Luiz Otávio recebeu um carinhoso oficio de agradecimento do então Presidente da Academia. O atual Presidente, Dr. Nilo Entholzer. Ferreira, trovador de méritos, comprometeu-se a cumprir essa cláusula.

Como já dito, A. J. Pereira da Silva foi quem levou Luiz Otávio até Adelmar Tavares, também da Academia Brasileira de Letras, em visita à sua casa, em Copacabana. Corria o ano de 1939. Adelmar Tavares sentia a idade pesar-lhe nos ombros, e, mais uma vez, um jovem poeta e um velho e consagrado mestre da Poesia uniam-se por laços afetivos dos mais duradouros. A principal responsável por essa união foi a Trova, que Adelmar Tavares cultivava e da qual Dr. Gilson de Castro já era profundo apaixonado, trazendo-a para o público sob o Pseudônimo, agora definitivamente adotado.

Luiz Otávio. Luiz, por ser bonito, melodioso, e combinar com Octávio, o nome do Pai, a quem, homenageava. Para atualizar o nome, o c foi cortado em acordo às regras ortográficas vigentes. A Poesia de Luiz Otávio ganhava espaço. Jornais de outros estados o acolhiam em suas páginas, tinha ao seu dispor colunas literárias de crítica poética, onde comentava livros, publicava trovas, poesias e arrebanhava fãs e admiradores de todas as idades. Daí ai constituir-se Líder de um Movimento Trovadoresco, era questão de um passo, muito embora isto viesse acontecer sem procura. Idealista, lírico, por excelência, com um profundo senso de organização, Luiz Otávio acumulava ainda outras qualidades indispensáveis ao "verdadeiro Líder", seja lá do que for. Era simples, honesto, e sabia convencer sem forçar. Embora convicto e determinado, sabia humildemente ceder, se preciso fosse. Se persuadido da necessidade de uma renúncia, cedia, sim, porém, não facilmente, mesmo porque antes de propor algo, o fazia convicto de que aquilo era o certo, respondendo de antemão a todos os possíveis apartes - o que de certo modo desarmava, a priori, o opositor. Era bom, afável e acima de tudo, profundamente carismático. Um verdadeiro Príncipe!

O TROVADOR

Era, portanto, o campo fecundo onde a semente da Trova encontrou chão propício para deitar raízes, expandindo sua opulência por todo território nacional. O ritmo da Trova que embalava seus ouvidos desde os tempos de escoteiro, cresceu com ele, ganhando melodia ao som do violão de Glauco Vianna, mais tarde pertencente ao "Bando dos Tangarás", seu colega de faculdade e de noitadas de seresta.

Final

Luiz Otávio sempre gostou de cantar e compor embora não conhecesse música. Aloysio de Oliveira, outro companheiro, também possuidor de um bom timbre vocálico, iria pertencer, no futuro, ao Bando da Lua, que tanto sucesso fez na terra de Tio Sam ao lado de Carmen Miranda. A influência destes dois amigos foi grande na iniciação poética de Luiz Otávio. Glauco tocava, Aloysio cantava e Luiz Otávio não apenas cantava como também compunha letras e músicas de canções, sambas, fox-trotes, valsas, etc. e continuou cantando e compondo até o final dos seus dias. Nascia o "Trovador" - assim carinhosamente chamado, já naquele tempo, antes mesmo do seu ingresso definitivo no Mundo da Trova.

Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.

Ó trovas – simples quadrinhas
que tem sempre um que de novo...
- Como podem quatro linhas
trazer toda a alma de um povo?!

Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.

Luiz Otávio (Trovas)




A trova tomou-me inteiro,
Tão amada e repetida
Que agora traça o roteiro
Das horas da minha vida!...

Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!

Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...

Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.

Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Toda noite ao me deitar
(por certo você reprova),
eu me esqueço de rezar
e fico fazendo trova.

Tudo nos une: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor...
— Só nos separa a Distância...

Se é de amor tua ferida,
não busques remédio, — cala!
— O Tempo, aliado à Vida,
lentamente há de curá-la...

Duas vidas todos temos,
— muitas vezes, sem saber...
— A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver...

Do Passado faço culto!
Nas tenho cá o meu rito:
— Se triste, eu o sepulto!
Se feliz, o ressuscito...

É desigual esta vida
pois, nos engana... nos furta...
— Dá velhice tão comprida!
E mocidade tão curta!...

Que sina, que padecer
foi a Sorte aos cegos dar:
— Não ter olhos para ver
e tê-los para chorar...

“Meu Deus como o Tempo passa!...”
— Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos..

Muitas vezes ao partir,
(oh! tortura singular!)
— os que ficam, querem ir...
os que vão, querem ficar...

Às vezes o mar bravio,
nos dá lição engenhosa:
Afunda um grande navio,
deixa boiar uma rosa

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos....

Duas vidas todos temos,
muitas vezes sem saber:
-- a vida que nós vivemos,
e a que sonhamos viver...

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !…

Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...

Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ..

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição...

Não paras quase ao meu lado ...
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...

Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ...

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ...

Ó mãe querida – perdoa !
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou !
---------

Fontes:
OTÁVIO, Luiz. Trovas. Belo Horizonte: Editora Acaiaca,
VERDAN, Iraí. Vida e obra do Príncipe da Trova – Luiz Otávio.
Portal Movimento das Artes.

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Luiz Otávio)




– In Memoriam – Dia do Trovador –
Nascimento do trovador em 18 de julho de 1916 –

Luiz Otávio foi dos trovadores,
o Príncipe que divulgou a trova
e a revestiu de uma roupagem nova,
para que fosse a das mais belas flores...

Pois em cada ano sempre se renova
e vai angariando admiradores
que curtem os seus mágicos amores,
das ardentes paixões, vívida prova !

Em dezoito de julho é celebrado,
Dia do Trovador, sempre lembrado,
pois nasceu Luiz Otávio, nesse dia.

E todos aos que a trova têm paixão,
podem prestar-lhe em forma de oração,
a homenagem de sua nostalgia...
---

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Olivaldo Júnior (Poema ao Dia do trovador)




Dezoito de julho é dia de poesia...
Andam moças pela praça inteira,
inteiradas da moda, em fantasia,
que tudo é poesia: a vida é feira.
A feira do poeta é a sua alegoria.

Hoje é dia de quem vive na lua,
mas volta pra cá se tem samba,
puro acalanto em qualquer rua,
que a rua é a casa de quem anda
sobre as brasas de sol e chuva,
de chuva e sol, de quem ciranda.

Não tem mais cavalo, mas vai...
Não tem mais donzela, mas sai...
Não tem mais porquê, mas (ai!)
faz da vida um sábado e recai,
descansa em si mesmo, bye, bye.

Luiz Otávio, príncipe trovador,
troveja um pouco sobre mim,
me ensina a ser doutor em flor!
Plantando trovas num jardim,
me ensina a ser, também, amor...
---

Fonte:
O Autor

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ademar Macedo (Lançamento de O Trovadoresco n. 73 – Julho 2011)


Aquela duna imponente,
que na paisagem se alteia,
tem na origem, certamente,
minúsculos grãos de areia.
–Vanda Fagundes Queiroz/PR–

Quando a paixão é marcada
por possessão, se resume
numa rosa incinerada
na fornalha do ciúme...
–Renata Paccola/SP–

Se for teste, meu Senhor,
o viver nesta fornalha,
tu verás que a fé e o amor
de um nordestino não falha!
–J.B. Xavier/SP–

Na fornalha, em que me abraso,
– você finge que não vê –
seu desprezo não faz caso
do meu amor... por você!
–Therezinha Brisolla/SP–

A vida é um “fogo de palha”
e o tempo se mostra algoz,
mais parece uma fornalha
onde a palha... “somos nós”!...
–Roberto Tchepelentyky/SP–

Por minha culpa partiste;
e o sal do pranto, sem dó,
agora, torna mais triste
o triste viver de um só...
–José Tavares de Lima/MG–

E muito mais.

Baixe a Revista na íntegra para seu computador AQUI.

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 14 de julho de 2011

J B Xavier (Luiz Otávio, O Construtor de Sonhos)


Perdoem as toscas palavras deste viajante, que, tendo aportado há tão pouco na Trova, volta a esta página para lhes relatar sua visão sobre quem construiu a fonte da qual hoje bebo. Perdoem-me por começar onde terminei: a homenagem à Dama da Trova, Carolina Ramos, porque, da miríade de pontos onde sua biografia e a de Luiz Otávio se tocam, há um, que, certamente, lhes faz interseção: A decisão de não serem apenas meros observadores da História, mas um de seus protagonistas.

O silêncio seria a melhor forma de homenagear um sonhador, porque nele está o recolhimento necessário à serenidade que a vitória preconiza. Portanto, perdoem este pobre viandante, por não iniciar esta homenagem a Luiz Otávio a partir de suas realizações como trovador e criador da UBT, porque seria um erro indesculpável, pensar que a criatura é maior que seu criador. Ao nascer, Gilson de Castro já era Luiz Otávio. A forja da vida apenas lhe deu têmpera e, como num quebra-cabeça mágico, a poesia - mais precisamente, a Trova - se encaixou precisamente em seus vazios . Junte num só coração a têmpera, o amor à poesia e o sonho de construir catedrais, e teremos a argamassa com a qual Deus constrói os vitoriosos.

Se as coisas não parecessem impossíveis, não haveria graça em fazê-las. Luiz Otávio bem o demonstrou. O possível é para pessoas comuns; o difícil é para pessoas determinadas, mas o impossível é para pessoas obstinadas. Portanto, o possível, é para quem assenta tijolos, o difícil, é para quem ergue paredes, mas o impossível, é para quem constrói catedrais! As pessoas comuns sonham. As pessoas determinadas planejam, mas as pessoas obstinadas fazem! Elas colocam o planejar e o fazer a serviço do sonhar, e munidos desse tripé, dão forma ao sonho, constroem castelos de cristais onde havia desolação, espelham a lua e penduram esperanças nas estrelas, para, com elas, enfeitarem a noite dos que buscam luz!

Mostrem-me um vitorioso, e eu lhes mostrarei alguém que se recusou a chamar insucesso de fracasso! Mostrem-me alguém que realizou seu sonho, e eu lhes mostrarei alguém que chama os insucesso de “tentativas”. Mostrem-me um vencedor e eu lhes mostrarei Gilson de Castro, o cirurgião dentista que aceitou chorar só, na calada da noite, diante da incompreensão dos medíocres, para poder no dia seguinte, ressurgir como Luiz Otávio, e encarar os desafios que seu sonho exigia, com o olhar brilhante, lustrado pelas lágrimas, depurado pelo sofrimento e revigorado pela obstinação! Foi essa obstinação que ergueu a catedral UBT, o Templo Maior da Trova!

O vitorioso sorri quando outros choram, avança quando outros param, persiste quando outros retornam, cria onde outros copiam, transpira quando outros descansam. E se chora, será de alegria, se arrefece a caminhada será para admirar a paisagem que transformou, se retorna, será para auxiliar os que não lhe acompanham o passo, se copia, será para ratificar, com o devido crédito, o que de bom se fez antes dele; e, se descansa, será para preparar a retomada do caminho em direção ao sonho ainda não realizado. Mas, pobres são as palavras deste escriba para definir Luiz Otávio. Por essa razão recorro às palavras dele próprio, para que não haja dúvidas quanto ao estofo de que são feitos os vencedores:

O IDEAL

Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista!
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista!

Trabalha com fervor, de forma avara!
Que sejas no teu sonho um grande egoísta!
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista!

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado!

* * *

As trovas que tornaram Luiz Otávio Magnífico Trovador

XIII Jogos Florais - Tema Silêncio - 1º lugar
Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !.. “

XIV Jogos Florais – tema Reticências - 2º lugar:
“Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...”

XV Jogos Florais – tema Fibra – 10º lugar:
“ Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ... “

______________________________________

TROVAS DE LUIZ OTÁVIO

Quem vive pela saudade,
por longos anos ou meses,
possui a felicidade
de reviver várias vezes.

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição... “

Não paras quase ao meu lado ... !
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...

Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi ... e, no entanto,
tu corres nas minhas veias ...

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...

Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ...

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ...

Ó mãe querida – perdoa ! ´
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou !

Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!

Tudo nos une: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor...
— Só nos separa a Distância...

Se é de amor tua ferida,
não busques remédio, — cala!
— O Tempo, aliado à Vida,
lentamente há de curá-la...

Duas vidas todos temos,
— muitas vezes, sem saber...
— A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver...

Do Passado faço culto!
Mas tenho cá o meu rito:
— Se triste, eu o sepulto!
Se feliz, o ressuscito...

É desigual esta vida
pois, nos engana... nos furta...
— Dá velhice tão comprida!
E mocidade tão curta!...

Que sina, que padecer
foi a Sorte aos cegos dar:
— Não ter olhos para ver
e tê-los para chorar...

"Meu Deus como o Tempo passa!...”
— Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos..

Muitas vezes ao partir,
(oh! tortura singular!)
— os que ficam, querem ir...
os que vão, querem ficar...
_________________________________________
JB Xavier é Trovador e Editor do Informativo da seção São Paulo

Fonte:
UBTrova

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 273)


Uma Trova Nacional

Falta grave que dói fundo
e é por tantos repetida:
Trazer uma vida ao mundo
e não cuidar dessa vida!
–PEDRO ORNELLAS/SP–

Uma Trova Potiguar

São como barcos partindo
nosso tempo de rapaz,
aos poucos vão se sumindo...
sumindo e não voltam mais.
–JAYME PAULO FILGUEIRA/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: ENCANTO - M/E.

Tais encantos tem a vida,
tais e tantas graças tem,
que me dói pensar na ida
para o céu antes dos cem!...
–A. A. DE ASSIS/PR–

Uma Trova de Ademar

Na mão humana que doa
jamais nasce uma ferida...
E Deus do céu abençoa
todos seus bens nesta vida.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando um povo escravo acorda,
pondo fim ao jugo insano,
a mão de Deus põe a corda
no pescoço do tirano...
–JOUBERT DE ARAUJO/ES–

Simplesmente Poesia

–DELCY CANALLES/RS–
Mágoa

A mágoa que eu carrego
ela é tão minha,
que desborda
o meu mundo interior...
E eu sinto que
qualquer um adivinha,
este estado de angústia
e desamor.
E u quisera esquecer
meu sofrimento
e fingir para os outros
alegria,
eu quisera afastar este
tormento,
e viver plenamente
o dia a dia!

Estrofe do Dia

A inspiração com certeza
Mora em minha companhia,
Não vou à sua procura
É ela quem me assedia
Sem nenhum constrangimento,
Porque não tem meu talento
Pra conceber poesia.
–HELIODORO MORAIS/RN–

Soneto do Dia


–MARIA NASCIMENTO/RJ–
Rugas

Há nas rugas precoces do meu rosto
sensível nitidez do sofrimento
de não poder falar do meu desgosto,
e de ter que esconder meu sentimento.

Estas rugas são marcas de um sol posto
relegado a tristeza, a esquecimento...
São vincos de um passado em mim exposto
para externar as marcas de um tormento.

Sempre há uma história triste em cada ruga :
um desencontro... as mágoas de uma fuga
ou mesmo a dor de um - Não - que alguém nos disse...

Mas, seja por qualquer razão que for,
as rugas feitas pelo desamor
ferem mais do que as rugas da velhice...

Fonte:
Textos enviados pelo autor
Imagem = Photorkut

Trova 196 - Roberto Pinheiro Acruche (São Francisco de Itabapoana/RJ)

Fonte:
Imagem e trova = http://robertoacruche.blogspot.com

II Jogos Florais de São Francisco de Itabapoana-RJ (Resultado do Concurso de Trovas – Âmbito Nacional)


TEMA CRIANÇA

VENCEDORES

Da criança sem afeto
ao homem de sonhos vãos,
meu brinquedo predileto
sempre esteve em outras mãos!
ARLINDO TADEU HAGEN – MG

Crianças de rua, à espera
de que o porvir lhes sorria,
semeiam grãos de quimera
nos campos da fantasia...
DARLY O. BARROS-SP

No olhar puro da criança,
onde repousa a inocência,
o amor dorme em segurança
e os anjos têm residência!
HERON PATRÍCIO – SP

Cuidado, esposa e marido,
nessas brigas conjugais,
porque o casal sai ferido
e as crianças... muito mais!
JOSÉ OUVERNEY-SP

A criança pobre insiste...
olha a estátua e não sossega...
e ao ver seus olhos, diz, triste:
-Que pena...a justiça é cega!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA-SP

MENÇÃO HONROSA

No instante em que é concebida,
entra na história a criança.
Negar-lhe o direito à vida
é um crime contra a esperança!
A. A. DE ASSIS –PR

Refúgio manso de outrora
onde eu sonhava, em criança,
o teu colo, mãe, agora,
é somente uma lembrança!
ALMIRA GUARACY REBELO-MG

Sem dúvida, em toda parte,
Naturalmente, não cansa:
Brinca, grita, ri, faz arte...
-criança é sempre criança!
ROBERTO RESENDE VILELA-MG

Todas elas descuidadas,
crianças a cirandar,
são destinos de mãos dadas
que a vida vai separar.
SEBAS SUNDFELD-SP

Na inocência de criança,
muitos sonhos eu tecia,
com os fios da esperança
e as cores da fantasia.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ-MG

MENÇÃO ESPECIAL

O meu EU sofreu mudança,
uma mudança sem fim.
Só não mudou a criança
que eu fui e que vive em mim!
ADMAR MACEDO-RN

Afirmo com segurança:
as lições que marcam mais
a vida de uma criança,
são os exemplos dos pais!...
JOSÉ TAVARES DE LIMA-MG

Nos meus tempos de criança,
construí reinos sem fim...
Hoje é um reino de lembrança
que reina dentro de mim!
MARIA DE FÁTIMA SOARES DE OLIVEIRA-MG

Meu relicário encontrei...
e havia tanta lembrança
que, entre relíquias, achei
os meus sonhos de criança!!!
EDUARDO A. O. TOLEDO

Criança, pingo de gente,
que nos encanta e seduz;
É sempre uma chama ardente
enchendo a casa de luz...
AMAELA TAVARES DA SILVA-MG

Nas palavras de Roberto Pinheiro Acruche,
"Aproveito o ensejo para informar que diante das inúmeras festividades juninas, rancheiradas e festivais que estarão ocorrendo até o final de julho, resolvemos, para maior brilho da solenidade de premiação dos Jogos Florais, adiar esta para os dias 20 e 21 de agosto de 2011.

Pedimos aos classificados que confirmem com antecedência a presença na solenidade, para que possamos fazer as reservas de hospedagem.

Breve, estaremos divulgando a programação.

Abraços... Roberto Pinheiro Acruche."

Fonte:
R. P. Acruche

Sebas Sundfeld (A Ajuda)


Quinta das cinco cronicas vencedoras do V Concurso Literário “Cidade de Maringá”. Sebas Sundfeld é de Tambaú/SP.

Zéca, moço simples da roça, trabalhador e religioso, herdara umas terrinhas do avô. Para lá se tocou com a mulher, a tomar posse da propriedade e botar mãos à obra. Com seu trabalho já rendendo alguma coisa e bom cristão que era, convidou o vigário da Vila para benzer o fruto do seu esforço honesto e suado.

Após o almoço suculento servido na cozinha da casa de chão de terra-batida e teto de telha-vâ, saíram ao sol, o vigário de barrete e o Zéca com seu chapéu de banda. Com justo orgulho, o roceiro ia mostrando, rindo e gesticulando, o produto resultante do seu esforço rude.

- Seu padre, aqui era só mato. Carpi tudu no cabu da inxada, edubei e prantei. Óia agora o mio imbonecando... os cacho do arrois...e ali, óia, o feijão nos carreadô.

O vigário benzeu e ponderou: - É, meu filho, mas tudo foi com a ajuda de Deus.

Passaram por perto do pasto, onde um matungo tordilho descansava do arado, à sombra de um jatobazeiro nativo. Uma vaquinha leiteira e um bezerro completavam a cena bucólica.

- Aqui, seu padre - o Zéca continuava mostrando - fofei a terra e óia só que beleza de hortinha!

E o vigário contrito, alegou novamente: - Muito bom, meu filho, mas, veja bem, com a ajuda de Deus.

Assim foi, o Zeca mostrando o fruto do seu trabalho e o vigário lembrando a ajuda de Deus. Por último, o roceiro já meio encabulado mostrou o pequeno celeiro. Comentou: - Tá barrotado.

Outra vez o vigário repetiu: - Bonito, meu filho, mas com a ajuda de Deus, não esqueça.

Desenxabido, coçando o cocoruto, o Zéca desabafou:

- Tá certo, seu vigário, tá certo. Mai, porém, o sinhor percisava era vê cumu tava istu tudo aqui, quando Deus trabaiava sozinho...

Fonte:
AGULHON, Olga e PALMA, Eliana. V Concurso Literário "Cidade de Maringá". Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.

Ingrid A. Ditzel Felchak (Livro de Poemas)


FRIO

O frio é
Um balaio vazio
Feito de bambu
Lá na beira do caxim.

O frio é
Um monte de pedra
Polida ou não
Para a eterna solidão.

O frio é
Um punhado de areia
Da grossa, da fina.
Com cal ou cimento
Na grande construção.

O frio?
Pode ser a rua vazia
A lua vadia, o pirilampo
Tonto em agonia.

O frio é:
Roupa amontoada
Banho mal tomado
E cheiro de mofo.

É o frio…
Minina serena
Da rua pequena
Lá, lá trás
Do portão.

E o frio?
Não é o vento que sopra
Nem o termômetro que cai
Sou eu, é você, são todos os demais…

Poema publicado no livro”FASE” –Editora Litteres- lançado na XII Bienal Internacional do livro-Rio de Janeiro – maio de 2005. Páginas 12 e 13

VENTO, TEMPO

Ando só pelos campos
o vento sopra
desalinha meus cabelos
qual plumas encantadas
presas sem razão.

O corpo nu
na relva se estende
e o vento geme
qual doente na hora final.

Os primeiros raios de sol
dão colorido À pele.
E a grama
se torna bela.

Vento que descobre meus pensamentos.
Vento que desbrava meu corpo.

Flores se confundem
no azul profundo dos meus olhos
que tocados pelo vento se fecham
qual vítima do próprio tempo.

Vento quem és tu
que arrasta o meu ser
e me desgoverna ?

Vento que me traz loucos pensamentos
e quando o sol surge no seu total fulgor
traz sensação de loucas paixões.

Rolo em desalinho.
Prendo-me na grama úmida
e nas ervas daninhas.

Mais louco que tu,sou eu
que concordo com teus lamentos.
E,sem querer, me lanço nos teus desbravamentos.

Poema publicado no livro FASE páginas 30 e 31 -Editora Litteris - 2005 - XII Bienal Internacional do Livro - Rio de Janeiro -15

FOLHAS DE OUTONO

Secas,balançam ao vento e caem ao chão.
Rolam,rolam e voltam ao marrom.

Brotaram um dia, cresceram verdes e belas
mas voltaram ao chão.
Fortificaram o solo ? Talvez,mas não
caíram em vão.

Balançaram com o vento suave da noite
e resistiram á tempestade,mas não
quiseram o verão.

Caíram soltas, juntas estão.
Secas pairaram e agora adormecem
purificando o mundo da podridão.

Livro FASE ED. Litteris Rio de Janeiro 2005 página 14, Livro lançado na XII Bienal Internacional do Livro Rio de Janeiro.

VERÃO


Apita o trem na estação.
Suspiro e balas de amora.
Avôs na escada.

Férias, flerte na calçada.
A bola rola e pula.
Cuidado a rua!

Passa anel.
Gira ciranda.
Fim do dia!

Amanhã?
A brincadeira continua.
Esconde-esconde o sonho…
Férias de verão!

Publicado no livro: Poesia e prosa de verão- Antologia – 2009- Editora Taba Cultural – Rio de Janeiro -Rj – Página 15
---------------
Sobre a autora
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/02/ingrid-aparecida-ditzel-felchak.html

Fontes:
Textos enviados pela autora.
Recanto das Letras

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) X - Mais vistas da Terra


Horas depois a vista daquela enorme Terra pendurada no céu já estava completamente mudada, e Pedrinho retomou as suas lições de geografia a São Jorge.

— Lá está o continente europeu! — disse ele. — Aquelas ilhas naquele ponto (e apontava) são as ilhas Britânicas, ou Grã-Bretanha — a tal Bretanha sem nenhuma importância no tempo do seu amigo Diocleciano. Mais adiante temos a Noruega com os seus fiordes...

— E suas sardinhas também — acrescentou Emília. — As sardinhas da Noruega viajam pelo mundo inteiro nuns barquinhos, chamados “latas”.

São Jorge não entendeu, porque no seu tempo não havia latas. Pedrinho continuou:

— A tal Rússia, que o senhor queria saber onde ficava, lá está — aquele país grandão. É a terra dos russos barbudos, dos cossacos, do caviar, das danças lindas e dos sovietes. Foi onde Napoleão levou a breca.

— Quem é esse leão? — perguntou o santo.

— Um grande matador de gente — explicou Pedrinho. — Depois de matar milhões de criaturas na Europa, resolveu matar russos, e invadiu a Rússia com um exército de 600.000 homens. Chegou até Moscou, que era a capital. Mas sabe o que os russos fizeram? Assim que Napoleão foi se aproximando, tocaram fogo nas casas e retiraram-se — e o pobre Napoleão, em vez de conquistar uma cidade, conquistou uma fogueira.

— Bem feito! — exclamou Emília.

— Em vista disso -— continuou Pedrinho — o conquistador não teve outro remédio senão voltar para a França com o seu exército. Essa França era a Aquitânia do tempo de Diocleciano. Mas o inverno russo estava bravo; e os dois, o inverno russo e o exército russo, caíram em cima dos franceses, fazendo uma horrorosa matança. Só vinte e tantos mil homens, dos 600.000, conseguiram atravessar a fronteira, imagine! Vovó conta a história de Napoleão na Rússia dum modo que até arrepia os cabelos da gente.

São Jorge sacudia a cabeça, pensativo. Tudo lhe eram novidades.

— E lá aquela bota, Pedrinho? — perguntou Emília, apontando.

— Pois é a Itália dos italianos. Lá é que ficava a tal Roma do tal Diocleciano, amigo cá do nosso São Jorge. Repare que a bota italiana está dando um pontapé numa ilha — a Sicília.

— Bem feito! — exclamou a boneca.

— E aquelas duas ilhas perto do cano da bota? — perguntou Narizinho.

— A maior é a ilha da Sardenha ou Sardinha, e a menor é a ilha da Córsega, onde nasceu o tal Napoleão.

— Que desaforo, a ilha da Sardinha ser maior que a de Napoleão! — exclamou Emília. — Para que quer uma sardinha uma ilha tão grande assim? Eu, se fosse fazer o mundo...

— Já sei — interrompeu a menina — dava a ilha maior a Napoleão e a menor à sardinha, não é isso?

— Não! — gritou a boneca. — Dava as duas para Napoleão e à sardinha dava uma lata. As sardinhas precisam muito mais de latas do que de ilhas.

Todos riram-se, menos São Jorge, que não entendeu aquele negócio de latas.

— E aquela terra grandalhona embaixo da Europa? — perguntou Narizinho, apontando.

— Pois lá é a África, não vê? Dentro fica o deserto do Saara, com os seus oásis tão lindos, as caravanas de camelos, as palmeiras que dão tâmaras gostosas.

— E a terra dos bôeres que fizeram guerra aos ingleses? Onde fica?

— Essa é bem no fim da África, naquela pontinha. Lá existe a Cidade do Cabo, que é a capital.

Emília deu uma risada gostosa.

— Um cabo que tem cidade, ora vejam! — exclamou. — E depois dizem que a asneirenta sou eu... Onde se viu um cabo com cidade na ponta?

— É um modo de dizer — explicou Pedrinho. — Chama-se Cidade do Cabo porque fica perto do famoso cabo da Boa Esperança, que o navegador português Vasco da Gama dobrou pela primeira vez.

Emília abriu a torneirinha.

— Que danado! — exclamou arregalando os olhos. — Dobrar sem mais nem menos um cabo assim deve ser coisa difícil. Esse Vasco, ou tinha a força de dois elefantes ou o tal cabo era como o daquela caçarola de alumínio de Dona Benta, tão mole que até eu dobro quando quero.

Narizinho cochichou ao ouvido de São Jorge que Emília estava com a torneirinha aberta. “Que torneirinha?”, perguntou o santo. “A torneirinha de asneiras que ela tem no cérebro. Quando Emília abre essa torneirinha, ninguém pode com a sua vida.”

Depois que Emília parou de asneirar São Jorge pôs-se a dizer onde ficavam as terras conquistadas pelos romanos do seu tempo. Mostrou tudo, até o lugarzinho onde era a sua Capadócia e o ponto onde existiu Cartago, a república africana rival de Roma e por esta destruída depois de várias guerras. E contou tantas histórias do tempo de Diocleciano que as crianças, já cansadas, adormeceram.
–––––––––––-
Continua … XI – Continua a viagem
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 5, final


Banquinho feito de tora,
café moido na hora,
passado no coador,
pra aumentar seu sabor
água fresca na moringa
garrafa de boa pinga
prá espantar dissabor...
(MARILU MOREIRA)

Mulher grávida é 'buchuda'
no quintal tem pé de arruda
filho novo é 'bacorinho'
boca cheia de sapinho
varal de arame farpado
violeiro apaixonado
tangendo as cordas do pinho!
(PEDRO ORNELLAS)

Na roça tem uma venda,
tem de tudo que encomenda,
vende tudo “pendurado”
e não tem preço dobrado,
o vendeiro é gente boa
vende banha de leitoa
e toucinho defumado.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Noite escura, madrugada,
feiz baruio a cachorrada.
Deu medo de sombração
e eu qui num fui lá vê, não.
De manhã no galinheiro
nóis vimo que o perdigueiro
distroçô um gambazão.
(PAULO TARCIZIO)

O clima é de nostalgia
sempre reina a cantoria
lamparina com pavio
sanfona da cor de anil
o casal dentro da rede
eletrola na parede
velhos discos de vinil.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Picada de marimbondo
que deixa o rosto redondo
cipó e urtiga no mato
no pasto tem carrapato
tem muriçoca, tem peba,
tiriça, berne e pereba
bichano que pega rato!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem pulga e bicho de pé
e só tira quem “quisé”
vai ficando dolorido
o povo dá dor de ouvido
de escutar reclamação
por andar com pé no chão
e ficar tudo encardido.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem fala móle e cantada
tem queijim com goiabada;
tem milho verde brotando
e uma leitoa engordando.
um berrante pendurado...
chapéu de palha furado,
fogão a lenha queimando!!!
(ANDREIA ETTIOPI)

Na roça tem mutirão,
um boi chamado Moirão,
tem canga no seu pescoço
numa “junta” com Caroço,
essa dupla é cabeceira
carreia a semana inteira
sem descanso para almoço.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem vizinhança sadia
caboclo que dá "bom dia"
mesmo pra quem não conhece
tem quando o dia amanhece
orquestra de passarinhos,
na alegre festa dos ninhos
que o meu retorno apetece!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem velho que é muito xucro
(até perdi todo o lucro)
Por namorar mariquita.
Não achem coisa esquisita:
Ele veio com trabuco
todo doido, bem maluco
dizendo: - Se perulita!...
(CAIRO PEREIRA)

Tem toco de bater sola
do polvilho faz a cola,
alguns chinelos de embiras
trançados com belas tiras...
linda colcha de retalho
lá na mesa do baralho
para alegrar os caipiras.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tio Dito era o sanfoneiro,
o Waltinho no pandeiro
e eu tocava violão...
e o tal "limpa-banco" então?...
Meia-noite, uma rancheira,
ninguém fica na cadeira
- pega fogo no salão!
(PEDRO ORNELLAS)

Eu nunca vou me esquecer,
em minha mente vou ver
aquele suco de milho...
Lá no bar do Seu Castilho
e eu muito longe da roça:
(a lembrança dessa joça)
só me traz dor neste trilho.
(CAIRO PEREIRA)

Lembro bem de uma bacia
que ficava lá na pia
era feita de metal
toda em cobre, especial
a nossa bela banheira
de amparar, também, goteira
em dias de temporal.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

O calor que forte bate
faz lembrar: touro no abate,
faz lembrar do frio do Andes
mesmo que pra sombra ande
eu sempre fico a pensar
e comigo a perguntar
como é que é cidade grande?
(CAIRO PEREIRA)

Lá tem caboca triguera
tem caba bom di penera
na coieita de café...
Lá tem Maria, tem Zé,
tem batata na foguera
tem moleque na carrera
fugindo de buscapé!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem passarada que canta
assim que o Sol se levanta
para saudar mais um dia,
e, com a água na bacia,
lavo o meu rosto amassado,
tomo o meu café coado,
com bolo de Nhá Maria.
(SELINA KYLE)

Lá na roda da fogueira
a rapaziada inteira
pega o cachimbo e o bom fumo;
da semana faz resumo
falando das fofoqueiras
das meninas matriqueiras
que vive andando sem rumo.
(CAIRO PEREIRA)

Tem moenda, tem pilão,
se anda de pé no chão
tem cinto feito de embira
tem caruru, cambuquira...
tem caniço e samburá,
tem gamela e tem jacá
que um modão sempre me inspira!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(ANTÔNIO JURACI)

Eu acordava bem cedo,
já corria pro arvoredo...
depois voltava cantando
com a barriga roncando,
então pegava a caneca,
com açucar e café...
levava lá pra "boneca"
a vaquinha do tiu "Zé"!!!
(ANDREIA ETTIOPI)

Tinha o Leite bem branquinho
deixava até um bigodinho...
de tanta espunha que vinha,
numa caneca inteirinha,
ia brincar no terreiro,
me sujava no barreiro
da chuva que de noitinha
molhou a terra inteirinha.
(ANDREIA ETTIOPI)

Dia de feira de gado
tinha um boi muito enfezado
lá no alpendre ele embrenhava
o povo todo gritava
e com vara de ferrão
fiz cair sangue no chão
provando que sou mais brava!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Na roça a vida é assim
tem plantação, tem capim,
tem rasta-pé todo dia
lá na casa da Maria,
tem galinha no terreiro
tem porco lá no chiqueiro,
é lá onde a "PORCA" chia...
(JOSÉ MOREIRA MONTEIRO)

Na roça tem pinga boa
que quando pega atordoa...
tem foice, enxada e facão...
tem gente de pé no chão,
tem cedo gente de pé
tem torrador de café
depois que sai do pilão!
(PEDRO ORNELLAS)

Vacas de laranja-lima
pedra pra brincar de ímã
e carrinho de lobeira
pra rodar lá na ladeira.
O que era chique, de fato,
era Monteiro Lobato
narrado ao pé da porteira.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem uma égua no cio,
uma canoa no rio,
um cachorro no terreiro,
galo acantar do poleiro,
moça a sonhar na janela
e eu com saudade dela
vagando sem paradeiro...
(ANTÔNIO JURACI)

Fonte:
132 setilhas enviadas por Pedro Ornellas
Imagem = Flickr

Rodolpho Abbud (Livro de Trovas)


À noite, ao passar das horas,
esqueço os dias tristonhos,
pois tuas longas demoras
dão-me folga para os sonhos!

Ao hospício conduziu
a mulher para internar...
Feito o exame, ela saiu,
e ele teve que ficar!...

Ao se banhar num riacho,
distraída, minha prima
lembrou da peça de baixo
quando tirava a de cima ....

Cama nova, ele sem pressa
ante a noivinha assustada,
quer examinar a peça
julgando já ser usada!...

Chegaste a sorrir, brejeira,
depois da tarde sem fim...
E, nunca uma noite inteira
foi tão curta para mim!...

Contemplo o céu para vê-las
com um respeito profundo,
pois na raiz das estrelas
eu vejo o dono do mundo.

É força que vem comigo
e no tempo não se esvai:
– Sempre que eu falo de amigo
eu me lembro de meu pai!

Em problemas envolvida,
por um beco se meteu,
que não tinha nem saída,
e, mesmo assim, se perdeu! ...

Em seus comícios, nas praças,
o casal cria alvoroços:
- Vai ele inflamando as massas!
- Vai ela inflamando os moços...

Em tudo o que ja vivi
Nesta passagem terrena,
Se um pecado eu cometi,
Com ela, valeu a pena !...

Enquanto um velho comenta
sobre a vida: -"Ah! Se eu soubesse..."
um outro vem e acrescenta
já descrente: -"Ah! Se eu pudesse..."

Eu finjo que estou contente...
Ela finge que está triste...
-- No canto do amor, a gente
desafina... mas resiste!...

Foram tais os meus pesares
quando, em silêncio partiste,
que, afinal, se tu voltares,
talvez me tornes mais triste...

Hei de vencer esta sina
que num capricho qualquer,
me fez amar-te menina
depois negou-me a mulher!...

Minha mágoa e desencanto
foi ver, no adeus, indeciso,
eu, disfarçando meu pranto...
tu, disfarçando um sorriso!...

Na ansiedade das demoras,
quando chegas e me encantas,
mesmo sendo às tantas horas,
as horas já não são tantas...

Não sei como não soubeste
mas o amor veio, infeliz...
Eu te quis, tu me quiseste,
mas o Destino não quis...

Não sendo um homem moderno,
meu pecado e insensatez
foi jurar amor eterno
e amar somente uma vez!...

Naquele hotel de terceira,
que a policia já fechou,
a Maria arrumadeira
muitas vezes se arrumou!

Nas lojas sempre envolvido,
não tem crédito jamais...
- ou por ser desconhecido,
ou conhecido demais !...

Na vida, em toscos degraus,
entre tropeços e sustos,
mais que a revolta dos maus,
temo a revolta dos justos!...

Na vida, lutar, correr,
não me cansa tanto assim...
O que me cansa é saber
que estás cansada de mim!

Nessa paixão que me assalta,
misto de encanto e de dor,
quanto mais você me falta
mais aumenta o meu amor!...

Nosso encontro ...O beijo a medo...
A caricia fugidia...
Nosso amor era segredo,
mas todo mundo sabia...

Provando em definitivo
que o Brasil é de outros mundos,
há muito "fantasma" vivo
passando cheques sem fundos...

Seja doce a minha sina
e, num porvir de esplendor,
nunca transforme em rotina
os nossos beijos de amor...

Soube o marido da Aurora,
ela não sabe por quem,
que o vizinho dorme fora,
quando ele dorme também...

Toda noite sai "na marra",
Dizendo à mulher: -"Não Torra!"
Se na rua vai a farra,
em casa ela vai à forra!...

Um Deputado ao rogar
ao Senhor, em suas preces,
pede que o verbo "caçar"
não se escreva com dois esses!...

Um longo teste ela fez
de cantora, com requinte...
Cantou somente uma vez,
mas foi cantada umas vinte!...

Vem amor, vem por quem és!
Pois já tens, em sonhos vãos,
minhas noites a teus pés,
meus dias em tuas mãos!...

Vendo a viuva a chorar,
muito linda, em seu cantinho,
todos queriam levar
a "coroa" do vizinho...

Vejo em minhas fantasias,
em Friburgo, pelas ruas,
mil sois enfeitando os dias
e, à noite, a luz de mil luas.

Fontes:
http://www.ubtjf.hpg.ig.com.br
Boletim Nacional da UBT

Rodolpho Abbud (1926)

Rodolpho Abbud (foto por José Feldman,
nos Jogos Florais de Santos 2011)

Nasceu em Nova Friburgo/RJ, em 21 de outubro de 1926; filho de Dona Ana Jankowsky Abbud e de Ralim Abbud. Radialista, Locutor Esportivo, Poeta e Trovador, foi sempre muito bom em tudo aquilo que fez ou faz. Contam até que, certa vez, transmitindo um jogo do Friburguense, teve a sua visão do campo totalmente coberta pelos torcedores. Sem perder a calma, e com sua habitual presença de espirito, continuou a transmissão assim: – “Se o Friburguense mantém a sua formação habitual, a bola deve estar com o zagueiro central, no bico esquerdo da área grande…”

Tem um livro de Trovas intitulado: “Cantigas que vêm da Montanha”, e, recebeu, com inteira justiça e por voto unânime de todos os Trovadores que ostentam essa honra, o titulo de “Magnífico Trovador”.

São poucos os pioneiros da trova em plena atividade. Entre eles, com especial destaque figura Rodolpho Abbud, o grande e querido apóstolo da trova de Nova Friburgo. Ele entrou na alegre tribo dos trovadores em 1960, com aquele vozeirão inconfundível, como repórter de rádio, entrevistando os participantes dos I Jogos Florais na Rádio Sociedade de Friburgo. Gostou tanto, que virou trovador também.

Quase meio século depois, super-jovem em seus 82 anos, o mestre Rodolpho Abbud continua brilhando não só como criador de primorosos versos, mas também como um dos mais importantes líderes nacionais da União Brasileira de Trovadores (UBT). A importância de Rodolpho Abbud vai muito além das fronteiras da cidade.

Premiado em centenas de concursos, Rodolpho é autor de milhares de trovas memoráveis. Entre outros títulos, ostenta o de Magnífico Trovador Honoris Causa, que lhe foi atribuído por ocasião dos 40ºs Jogos Florais de Nova Friburgo. Ele faz parte da geração de trovadores surgidos com o lançamento dos I Jogos Florais. Trata-se do trovador mais antigo da cidade e a prova está em sua carteira de trovador, que ostenta o número 1.

Rodolpho explica aos que não são versados nesta arte que trovas são pequenos poemas de quatro versos, de sete sílabas poéticas, isto é, com o som de sete sílabas – o primeiro rimando com o terceiro e o segundo com o quarto. Ele aprendeu rapidamente os segredos do estilo poético característico da trova recriado por J. G. de Araújo Jorge e Luiz Otávio.

Quando teve início o movimento trovadoresco em Nova Friburgo, Rodolpho trabalhava como comentarista de futebol na Rádio Sociedade de Friburgo e ainda não tinha descoberto que sabia fazer trovas. Mas desde pequeno gostava de fazer quadrinhas. Na infância as crianças aprendiam na cartilha algumas rimas básicas, que davam origem a quadras como uma que Rodolpho jamais esqueceu: “Joãozinho é cabeçudo / mas tem belo coração / é dedicado ao estudo / e sabe sempre a lição”.

Por alguma razão Rodolpho sempre se identificou com o estilo e, mesmo sem saber, já fazia trovas, que costumava chamar de quadrinha, assim no diminutivo mesmo. Naquela época, porém, bastava rimar o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o quarto. Rodolpho acha até graça, porque já naquela época faturou cem mil réis num concurso da Rádio Nacional, com uma de suas primeiras trovas, em 1950. “Foi numa festa junina/ que eu vi a Rita sapeca/ A cabocla era bonita/ Parecia uma boneca”.

Levou um bom tempo para os trovadores, inclusive o próprio Rodolpho Abbud, incorporar a expressão trova – que vem do francês trouver, isto é, procurar, achar. Chamavam aqueles pequenos poemas de quatro sílabas de quadra, quadrinha ou trovinha, menos de trova. Um dia Luiz Otávio até chamou a atenção do J. G. de Araújo Jorge, quando este lhe contou que tinha feito uma trovinha: “Que trovinha o quê, José Guilherme, isso aí se chama trova, não é trovinha nem trovão, é trova”.
“Acho que eu sei fazer este negócio aí”

Rodolpho Abbud já criou mais de cinco mil trovas. Infelizmente, boa parte delas se perdeu e seu acervo conta apenas com as trovas premiadas nos concursos de que participa em todo o Brasil. A sorte é que o mais respeitado trovador da cidade e um dos maiores do país é um colecionador de prêmios, já perdeu a conta do número de troféus e diplomas que já conquistou.
Sua facilidade para criar trovas impressiona até seus colegas trovadores. Todas, diga-se de passagem, dignas de figurar em qualquer antologia. “Com qualquer assunto se faz uma trova”, explica, modesto, tentando explicar os segredos desta arte. Ele acredita em inspiração, tanto que carrega sempre papel e caneta no bolso para anotar as ideias que vão surgindo em sua cabeça.

Hoje em dia uma das atividades que mais gratificam o velho trovador é ensinar a fazer trovas. Ele e seus colegas trovadores já visitaram muitas escolas, transmitindo às crianças e jovens os conceitos básicos que permitem criar trovas capazes de fazer bonito em qualquer concurso. Já estiveram no Ienf, na Escola Canadá, no Ciep Glauber Rocha, na Universidade Candido Mendes. Até na Clínica Santa Lúcia eles já estiveram.

Junto com seus companheiros da UBT, Rodolpho mantém há 50 anos um programa radiofônico pela Rádio Friburgo AM focalizando o movimento trovadoresco de Nova Friburgo e de todo o Brasil. O programa, transmitido todo sábado, às 20h, é o mais antigo do Brasil e seu slogan diz assim: “É poesia sempre nova / cultivada com amor / Se você gosta de trova / Pode ser um trovador”.

Solidão? Rodolpho diz que não sabe o que é. Junto com seus amigos trovadores, viaja o Brasil inteiro, sendo sempre recebido com festa e toda a hospitalidade pelos companheiros das outras cidades. As viagens são uma verdadeira festa, com todo mundo brincando e fazendo trovas dentro do ônibus.

Depois de trabalhar 42 anos na Fábrica de Filó, todo mundo pensava que ele fosse ficar deprimido quando se aposentasse. Que nada! Voltou a narrar partidas de futebol, depois mergulhou na trova.

Rodolpho é pai de Luiz Carlos, Suely e Rosane, de seu primeiro casamento. Casado pela segunda vez há 50 anos com a doce Cyrléa Neves, eles são pais do conhecido percussionista Rocyr e da não menos conhecida Rivana, do Bar América.

Friburguense da gema, passou a infância na Rua Oliveira Botelho, até o 5º ano primário estudou com dona Helena Coutinho, que tinha uma escola na Rua São João. Fez o ginasial no Colégio Modelo e depois foi aluno do professor Luiz Gonzaga Malheiros.

Do que sente mais saudades da Nova Friburgo de antigamente? Rodolpho Abbud não pensa um segundo antes de responder. “Da Fonte do Suspiro”, responde de imediato e, subitamente, se emociona, chegando a ficar com lágrimas nos olhos. Mas, como os homens de sua geração não choram, trata logo de mudar de assunto. “Ah, sinto muita saudade também do footing da praça, com os rapazes parados como se estivessem num corredor e as moças passeando de um lado para o outro”, conta.

Maluco por futebol, Rodolpho pertence ao quadro de beneméritos do Friburgo Futebol Clube e, no Rio, é tricolor de coração. Fez até uma trova para seu time: “É paixão que longe vai / na força do coração: / – Tricolor era meu pai / filhos, netos também são”.

Fonte:
artigo por Dalva Ventura, do Jornal A Voz da Serra. Disponível em UBT/SP, site UBTrova, http://www.ubtrova.com.br

Sesc/PR (Autores e Idéias de Agosto)


Autores & Ideias de Agosto, para participar enviar e-mail para este endereço eletrônico
http://www.sescpr.com.br

Fonte:
Laíde Cecilia de Sousa
Assistente de Atividades

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 272)


Uma Trova Nacional

Quando parte quem amamos
fica um vazio entre nós:
– é quando então reparamos
como é triste estarmos sós!
–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–

Uma Trova Potiguar

Voltar ao tempo passado,
no tempo bem que eu queria,
e ver-te sempre ao meu lado
na cama agora vazia.
–ISRAEL SEGUNDO/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - Venc.

Nos braços da Madrugada,
eu deito anseios tristonhos...
e ela preenche, calada,
minha insônia... com mil sonhos!
–GILVAN CARNEIRO DA SILVA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Só Deus tem uma resposta
mas ninguém sabe qual é.
A nossa vida é uma aposta
que se joga com a Fé.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

A missão será cumprida
quer tu acertes ou falhes
Deus traça as linhas da vida
e o destino, os seus detalhes...
–ADALBERTO DUTRA RESENDE/PR–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Para mim o tudo é nada,
para Deus, o nada é tudo.

GLOSA:
Quando a vida foi criada,
tudo se fez no universo
e eu digo aqui, neste verso,
Para mim o tudo é nada,
de uma palavra sagrada,
que no Gênesis, estudo,
Deus fez todo o conteúdo,
essa teoria é perfeita...
Do caos a vida foi feita,
para Deus, o nada é tudo.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia

Não tem quem possa contar
cabelos que tem um gato,
os bichos que tem no mato
e os peixes que tem no mar,
as nuvens que tem no ar,
os gemidos de um pagão,
as folhas que tem no chão
e os fios que tem no véu,
estrelas que tem no céu
e os bois que tem no sertão!
–MANOEL XUDU/PB–

Soneto do Dia

–DIMAS BATISTA/PE–
Viola

“Velha viola de pinho, companheira
De minh’alma, constante e enternecida,
Foste tu a intérprete primeira
Da primeira ilusão de minha vida.

Eu, contigo, cantando a noite inteira,
Tu, comigo, tocando divertida,
Sorrias, se eu louvava a brincadeira,
Choravas, se eu cantava a despedida.

Nas festas de São João, nas farinhadas,
Casamentos, novenas, vaquejadas,
Divertimos das serras aos baixios.

Perlustrando contigo pelo Norte,
Foste firme, fiel, feroz e forte,
No rojão dos ferrenhos desafios.

Fonte:
Textos enviados pelo autor
Imagem = http://sonhoepoesias.blogspot.com