sábado, 28 de julho de 2012

Cândida Vilares Gancho (Como Analisar Narrativas) Parte 5 – Narrador

Narrador

Não existe narrativa sem narrador, pois ele é o elemento estruturador da história. Dois são os termos mais usados pelos manuais de análise literária, para designar a função do narrador na história: foco narrativo e ponto de vista (do narrador ou da narração). Tanto um quanto outro referem-se à posição ou perspectiva do narrador frente aos fatos narra dos. Assim, teríamos dois tipos de narrador, identificados à primeira vista pelo pronome pessoal usado na narração: primeira ou terceira pessoa (do singular).

Tipos de narrador

1. Terceira pessoa: é o narrador que está fora dos fatos narrados, portanto seu ponto de vista tende a ser mais imparcial. O narrador em terceira pessoa é conhecido também pelo nome de narrador observador e suas características principais são:

a) onisciência: o narrador sabe tudo sobre a história;

b) onipresença: o narrador está presente em todos os lugares da história.

       Veja um exemplo de narrador observador no trecho extraído da obra de Érico Veríssimo, O tempo e o vento, num dos episódios em que se fala de Ana Terra e Pedro Missioneiro:

(...) Pedro sentou-se, cruzou as pernas, tirou algumas notas da flauta, como para experimentá-la e depois, franzindo a testa, entrecerrando os olhos, alçando muito as sobrancelhas, começou a tocar. Era uma melodia lenta e meio fúnebre. O agu do som do instrumento penetrou Ana Terra como uma agulha, e ela se sentiu ferida, trespassada. (...)
Tirou as mãos de dentro da água da gamela, enxugou-as num pano e aproximou-se da mesa. Foi então que deu com os olhos de Pedro e daí por diante, por mais esforços que fizesse, não conseguiu desviar-se deles. Parecia-lhe que a música saia dos olhos do índio e não da flauta — morna, tremida e triste como a voz duma pessoa infeliz. (...)
(O continente. ln:..O tempo e o vento. Rio de Janeiro, Globo, 1963. t. 1, p. 88.)

Neste caso, temos bem clara a onisciência do narrador observador, pois ele não apenas narra o que se passa com os personagens, mas também o que sentem; em outras palavras, ele sabe mais que os personagens.

      Variantes de narrador em terceira pessoa

a) Narrador “intruso”: é o narrador que fala com o leitor ou que julga diretamente o comportamento dos personagens. Um exemplo deste tipo de participação do narrador é o romance de Camilo Castelo Branco, Amor de perdição:

(...) Não desprazia, portanto, o amor de Mariana ao amante apaixonado de Teresa. Isto será culpa no severo tribunal das minhas leitoras; mas, se me deixarem ter opinião, a culpa de Simão Botelho está na fraca natureza, que é todas as galas no céu, no mar e na terra, e toda incoerência, absurdezas e ví cios no homem, que se aclamou a si próprio rei da criação, e nesta boa-fé dinástica vai vivendo e morrendo.
(São Paulo, Ática, 1983. p. 60.)


b) Narrador “parcial”: é o narrador que se identifica com determinado personagem da história e, mesmo não o defendendo explicitamente, permite que ele tenha mais espaço, isto é, maior destaque na história. É o que ocorre no romance Capitães da areia, de Jorge Amado, no qual o narrador se identifica com os heróis da história, em especial Pedro Bala, contrariando a ideologia dominante que os vê como bandidos.

2. Primeira pessoa ou narrador personagem: é aquele que participa diretamente do enredo como qualquer personagem, portanto tem seu campo de visão limitada isto e, não é onipresente, nem onisciente. No entanto, dependendo do personagem que narra a história, de quando o faz e de que relação estabelece com o leitor, podemos ter algumas variantes de narrador personagem.
    
  Variantes do narrador personagem

a) Narrador testemunha: geralmente não é o personagem principal, mas narra acontecimentos dos quais participou, ainda que sem grande destaque. Um exemplo deste tipo de participação do narrador personagem é o romance Amor de salvação, de Camilo Castelo Branco, no qual o narrador é amigo de Afonso de Teive, personagem principal; do reencontro dos dois depois de alguns anos decorridos da amizade na época da universidade nasce a história tentando aproximar o jovem boêmio idealista Afonso do pai careca e barrigudo, que o narrador vê diante de si.

b) Narrador protagonista: é o narrador que é também o personagem central. Podem-se citar inúmeros exemplos deste tipo de narrador e apresentaremos alguns bastante célebres: Paulo Honório, narrador do romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, homem duro, que tenta entender a si e a sua vida após a morte da esposa Madalena; Bento, de Dom casmurro, de Machado de Assis, célebre por dar sua versão sobre a possível traição de Capitu, seu grande amor. Nos dois casos temos um narrador que está distante dos fatos narrados e que, portanto, pode ser mais crítico de si mesmo.

Narrador não é autor

       As variantes de narrador em primeira pessoa ou em terceira pessoa podem ser inúmeras, uma vez que cada autor cria um narrador diferente para cada obra. Por isso é bom que se esclareça que o narrador não é o autor, mas uma entidade de ficção, isto é, uma criação lingüística do autor, e por tanto só existe no texto. Numa análise de narrativas evite referir-se à vida pessoal do autor para justificar posturas do narrador; não se esqueça de que está lidando com um texto de ficção (imaginação), no qual fica difícil definir os limites da realidade e da invenção. Este pressuposto é válido também para as autobiografias, nas quais não temos a verdade dos fatos, mas uma interpretação deles, feita pelo autor.

Continua…Tema – assunto – mensagem


Fonte:
Cândida Vilares Gancho . Como Analisar Narrativas. 7. Ed. Editora Ática. http://groups.google.com.br/group/digitalsource/

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Nemésio Prata Crisóstomo (Sextilhas sobre o Sexteto em Setilhas) 2

Nossa espera foi bem pouca
pelos grandes menestréis
que agora formam Sexteto
de Sextilhas, bem fiéis,
e num risco de fagulha
cada qual mandou mais dez!

Ao lê-los fico babando
e pensando se serei
um dia, não sei nem quando,
se ainda vivo nessa grei,
um sexto de trovador
desse Sexteto de Lei!

Sexteto em Sextilhas (Parte 3)

61 – Assis
Pouca rima há no cadastro
para "astro", ó grande Lucas,
mas para "Lucas" também.
No entanto, tanto cutucas,
que acabas dando um jeitinho
de achar algumas... e trucas!

62 – Ademar
Em rimas não me embatucas,
pois sou um “cabra da peste”;
na poesia nordestina
já passei em todo teste;
e para minha mulher...
Sou o melhor do nordeste!

63 – Delcy
Como tu mesmo disseste,
que és o melhor, eu suponho,
não ser o juízo da esposa,
mas como te vês em sonho;
para não te entristecer,
minhas dúvidas, transponho!

64 – Prof. Garcia
No debate eu me transponho
de Norte a Sul, todo dia;
levando de manhã cedo
um fardo de poesia,
e à tarde, a canção dolente
na voz de uma Ave-Maria!
 
65 – Gislaine
Há  momentos de alegria,
de paz, de amor e emoção,
que  vêm de dentro de nós,
como uma doce oração,
de onde surge, é bem verdade,
toda a nossa inspiração!

66 – Zé Lucas
Lendo, um dia, minha mão,
disse-me velha cigana:
-Teu destino é de poeta,
se o espírito não me engana,
e injetarás na sextilha
o doce do mel de cana.

67 – Assis
Também quero uma cigana
entendida em cana e mel,
que me ensine a, com doçura,
bem cumprir o meu papel
de sonhador, seresteiro,
aprendiz de menestrel.

68 – Ademar
Qual uma abelha no mel,
no verso, és um professor.
Seja sextilha ou soneto,
haicai ou seja o que for;
ninguém faz versos no mundo
igualmente aos do senhor!

69 – Delcy
Gosto de ver  o  calor
que pões nos versos que usas.
Assis, de  fato, é um colosso,
abençoado  das  musas...
mas há outros,  excelentes,
com os quais, teus versos, cruzas!

70 – Prof. Garcia
Quem tem a bênção das musas,
vê no mundo outros valores;
pois o sonho do poeta
é ao preto e branco dar cores,
transformar o pranto em riso
e encher o mundo de amores!

71 – Gislaine
Com seus versos sedutores
o poeta sempre encanta
e a semente da poesia,
com carinho, em Terra, planta,
afastando a dor do mundo,
que só a poesia espanta!

72 – Zé Lucas
Nossa missão pura e santa
é manter acesa a vela
da inspiração que ilumina
os versos que Deus pincela
e dar retoques na vida
para torná-la mais bela.

73 – Assis
Se manter acesa a vela
às vezes é perigoso,
bem mais é tentar a velha
reacender no velho esposo
o velho vulcão bravio
há tanto tempo ocioso...

74 – Ademar
Zé Lucas é talentoso
em tudo aquilo que cria,
e buscando a inspiração,
seja de noite ou de dia;
mantém sempre a vela acesa
pra iluminar a poesia!

75 – Delcy 
Para nós é uma alegria
ter Zé Lucas por parceiro,
pois, como diz  Ademar,
é,  de todos,  o  primeiro
e, além de ser nordestino,
é   notável   brasileiro!
 
76 – Prof. Garcia
Sou apenas um barqueiro
nessa longa travessia;
enfrentando vendavais
e noites de calmaria,
em busca da brisa mansa
do sopro da poesia!

77 – Gislaine
Sendo o meu barco, meu guia,
sinto o mar todinho meu,
e enfrento tudo, sem medo,
conheço o segredo seu,
minhas horas são de paz
e alcanço o meu apogeu!

78 – Zé Lucas
De mim, o mar escondeu
as cantigas de sereia,
a poesia derramada
nas noites de lua cheia
e as mil histórias de amores
que o vento embalou na areia. 

79 – Assis
Aqui, ouvindo a sereia,
nesta praia maravilha,
estou cercado de mar,
não sou no entanto uma ilha,
por isso, via Gislaine,
lhes mando a minha sextilha.

80 – Ademar
Internet é maravilha
em tudo ela colabora,
o seu cérebro eletrônico
não ama e também não chora;
sei também que não faz versos
mas manda os nossos pra “fora”...

81 – Delcy
Com a Internet  melhora
nossa comunicação;
em instantes, contatamos
com o mundo e cada irmão,
e fazemos amizades ,
e  ganhamos afeição!

82 – Prof. Garcia
Tenho a estranha sensação,
que o mundo se contradiz.
Se estamos todos tão perto
de norte a sul do país,
então, por que tanta gente
vive no mundo infeliz!

83 – Gislaine
Eu me sinto mais feliz
tendo a internet em ação,
com ela não há limites
aos sonhos do coração,
pois viajo ao mundo inteiro,
faço amigos de montão!

84 – Zé Lucas
Com o mouse em minha mão,
eu vejo o que nunca vi,
desafio a lei da inércia,
percorrendo, de per si,
os quatro cantos do mundo,
sem tirar os pés daqui.
 
85 – Assis
Vocês trabalhando aí
e eu aqui papo pro ar:
de dia aguinha de coco
no quiosque à beira-mar,
de noite ouvindo seresta
ou biritando no bar.

86 – Ademar
Ah, se eu pudesse gozar
o que está gozando Assis,
mas isso é para quem pode
e em nada me contradiz.
Eu vendo um amigo bem,
também me sinto feliz!

87 – Delcy
Como Zé Lucas e Assis,
numa praia  descansar,
eis gostosa  terapia
pra quem vive a trabalhar,
e ambos  labutam demais,
num  constante  poetar!
 
88 – Prof. Garcia
Eu vivo sempre a cantar
neste mundo em desatino,
faço verso todo dia,
desde o tempo de menino,
como quem segue a poeira
das pegadas do destino!

89 – Gislaine
Fazer versos é divino,
e o que posso então dizer,
se eu moro no Paraíso,
nesta cidade a crescer?
Tendo o mar como paisagem,
eu me sinto renascer!

90 – Zé Lucas
Pode o poeta reviver
no mistério de um repente,
quando, dedilhando a lira,
ao brilho do Sol nascente,
desabrochar um poema
no campo fértil da mente.

Luís de Camões (Livro de Sonetos)

Soneto 136

A fermosura fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

Soneto 114

Ah! Fortuna cruel! Ah! duros Fados!
Quão asinha em meu dano vos mudastes!
Passou o tempo que me descansastes,
agora descansais com meus cuidados.

Deixastes-me sentir os bens passados,
para mor dor da dor que me ordenastes;
então numa hora juntos mos levastes,
deixando em seu lugar males dobrados.

Ah! quanto melhor fora não vos ver,
gostos, que assim passais tão de corrida,
que fico duvidoso se vos vi:

sem vós já me não fica que perder,
se não se for esta cansada vida,
que por mor perda minha não perdi.

Soneto 101

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?

Soneto 013

Alegres campos, verdes arvoredos,
claras e frescas águas de cristal,
que em vós os debuxais ao natural,
discorrendo da altura dos rochedos;

Silvestres montes, ásperos penedos,
compostos em concerto desigual,
sabei que, sem licença de meu mal,
já não podeis fazer meus olhos ledos.

E, pois me já não vedes como vistes,
não me alegrem verduras deleitosas,
nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes,
regando-vos com lágrimas saudosas,
e nascerão saudades de meu bem.

Soneto 080

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer te
alguma causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver te,
quão cedo de meus olhos te levou.

Soneto 083

Amor, co’a esperança já perdida,
teu soberano templo visitei;
por sinal do naufrágio que passei,
em lugar dos vestidos, pus a vida.

Que queres mais de mim, que destruída
me tens a glória toda que alcancei?
Não cuides de forçar me, que não sei
tornar a entrar onde não há saída.

Vês aqui alma, vida e esperança,
despojos doces de meu bem passado,
enquanto quis aquela que eu adoro:

nelas podes tomar de mim vingança;
e se inda não estás de mim vingado,
contenta te com as lágrimas que choro.

Soneto 005

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Soneto 042

Amor, que o gesto humano n'alma escreve,
vivas faíscas me mostrou um dia,
donde um puro cristal se derretia
por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
por se certificar do que ali via,
foi convertida em fonte, que fazia
a dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
causa o primeiro efeito; o pensamento
endoidece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera num momento,
de lágrimas de honesta piedade
lágrimas de imortal contentamento.

Soneto 058

A Morte, que da vida o nó desata,
os nós, que dá o Amor, cortar quisera
na Ausência, que é contra ele espada fera,
e co Tempo, que tudo desbarata.

Duas contrárias, que uma a outra mata,
a Morte contra o Amor ajunta e altera:
Uma é Razão contra a Fortuna austera,
outra, contra a Razão, Fortuna ingrata.

Mas mostre a sua imperial potência
a Morte em apartar dum corpo a alma,
duas num corpo o Amor ajunte e una;

porque assim leve triunfante a palma,
Amor da Morte, apesar da Ausência,
do Tempo, da Razão e da Fortuna.

Soneto 068

Apartava se Nise de Montano,
em cuja alma partindo se ficava;
que o pastor na memória a debuxava,
por poder sustentar se deste engano.

Pelas praias do Índico Oceano
sobre o curvo cajado s'encostava,
e os olhos pelas águas alongava,
que pouco se doíam de seu dano.

Pois com tamanha mágoa e saudade
(dizia) quis deixar me a que eu adoro,
por testemunhas tomo Céu e estrelas.

Mas se em vós, ondas, mora piedade,
levai também as lágrimas que choro,
pois assim me levais a causa delas!

Soneto 051

Apolo e as nove Musas, discantando
com a dourada lira, me influíam
na suave harmonia que faziam,
quando tomei a pena, começando:

— Ditoso seja o dia e hora, quando
tão delicados olhos me feriam!
Ditosos os sentidos que sentiam
estar se em seu desejo traspassando!

Assim cantava, quando Amor virou
a roda à esperança, que corria
tão ligeira que quase era invisível.

Converteu se me em noite o claro dia;
e, se alguma esperança me ficou,
será de maior mal, se for possível.

Soneto 041

Aquela fera humana que enriquece
sua presuntuosa tirania
destas minhas entranhas, onde cria
Amor um mal que falta quando cresce;

Se nela o Céu mostrou (como parece)
quanto mostrar ao mundo pretendia,
porque de minha vida se injuria?
Porque de minha morte s'enobrece?

Ora, enfim, sublimai vossa vitória,
Senhora, com vencer me e cativar me:
fazei disto no mundo larga história.

Que, por mais que vos veja maltratar me,
já me fico logrando desta glória
de ver que tendes tanta de matar me.

Soneto 098

Aquela que, de pura castidade,
de si mesma tomou cruel vingança
por uma breve e súbita mudança,
contrária a sua honra e qualidade

(venceu à formosura a honestidade,
venceu no fim da vida a esperança
porque ficasse viva tal lembrança,
tal amor, tanta fé, tanta verdade!),

de si, da gente e do mundo esquecida,
feriu com duro ferro o brando peito,
banhando em sangue a força do tirano.

[Oh!] estranha ousadia ! estranho feito !
Que, dando breve morte ao corpo humano,
tenha sua memória larga vida!

Soneto 091

Formosos olhos que na idade nossa
mostrais do Céu certissimos sinais,
se quereis conhecer quanto possais,
olhai me a mim, que sou feitura vossa.

Vereis que de viver me desapossa
aquele riso com que a vida dais;
vereis como de Amor não quero mais,
por mais que o tempo corra e o dano possa.

E se dentro nest'alma ver quiserdes,
como num claro espelho, ali vereis
também a vossa, angélica e serena.

Mas eu cuido que só por não me verdes,
ver vos em mim, Senhora, não quereis:
tanto gosto levais de minha pena!
-
Fonte:
Luís de Camões. Sonetos.
Texto proveniente de A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro . A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo. Permitido o uso apenas para fins educacionais. Texto-base digitalizado por FCCN - Fundação para a Computação Científica Nacional (http://www.fccn.pt) IBL - Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro (http://www.ibl.pt) Disponível em: http://web.rccn.net/camoes/camoes/index.html

Cândida Vilares Gancho (Como Analisar Narrativas) Parte 4 – Tempo

      Neste livro abordaremos o tempo fictício, isto é, interno ao texto, entranhado no enredo.

       Os fatos de um enredo estão ligados ao tempo em vários níveis:

       Época em se passa a história

       Constitui o pano de fundo para o enredo. A época da história nem sempre coincide com o tempo real em que foi publicada ou escrita. Um exemplo disso é o romance de Umberto Eco, O nome da Rosa, que retrata a Idade Média, embora tenha sido escrito e publicado recentemente.

       Duração da história

       Muitas histórias se passam em curto período de tempo, já outras têm um enredo que se estende ao longo de muitos anos. Os contos de um modo geral apresentam uma duração curta em relação aos romances, nos quais o transcurso do tempo é mais dilatado. Como exemplo de duração curta, o conto de Rubem Fonseca, “Feliz Ano Novo” (o livro tem o mesmo nome), cujo enredo se passa em algumas horas na véspera do Ano-Novo. No outro extremo, apresentaríamos os romances Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, ou então O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, nos quais se narra a vida de muitas gerações de uma família,

Obs.: Para identificar o tempo-época ou a duração, procure fazer um levantamento dos índices de tempo, pois tais referências representam marcações de tempo; por exemplo: “Era no tempo do Rei”, que inicia o romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, indica a época em que se passa a história.
  
       Tempo cronológico

       É o nome que se dá ao tempo que transcorre na ordem natural dos fatos no enredo isto e do começo para o final. Está, portanto, ligado ao enredo linear (que não altera a ordem que os fatos ocorreram); chama-se cronológico porque é mensurável em horas, dias, meses, anos, séculos. Para você compreender melhor esta categoria de tempo, pense nu ma história que começa narrando a infância do personagem e depois os demais fatos de sua vida na ordem em que eles ocorreram: você terá o tempo cronológico. Isto é o que ocorre na novela de Moacyr Scliar, Max e os felinos.

Tempo psicológico

       É o nome que se dá ao tempo que transcorre numa ordem determinada pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou dos personagens, isto é,  altera a ordem natural dos acontecimentos. Está, portanto, ligado ao enredo não linear (no qual os acontecimentos estão fora da ordem natural). Um exemplo de tempo psicológico é o romance de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas, no qual o narrador, já defunto, conta seu enterro, depois sua morte, só então conta sua infância, sua juventude, aos caprichos do “defunto autor”. Confira o tempo psicológico neste trecho do livro no qual o personagem narrador relata seu delírio, pré-morte. Ele conversava com a Natureza, Pandora, que lhe permite ver o que é a vida do homem:

       (...) Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. (..) Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, — flagelos e delícias, — (...) Meu olhar, enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás dele os futuros. (...) Re dobrei de atenção; fitei a vista; ia enfim ver o último — o último! mas então já a rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a c é ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...
(São Paulo, Ática, 1982. p. 22-3.)


Obs.: Uma das técnicas mais conhecidas, utilizadas nas narrativas a serviço do tempo psicológico, é o flashback, que consiste em voltar no tempo. Neste romance de Machado de Assis, por exemplo, o presente para o narrador é sua condição de morto, a partir da qual ele volta ao passado próximo (como morreu) e ao passado mais remoto, sua infância e juventude, usando por tanto o flashback.

Espaço

       Espaço é, por definição, o lugar onde se passa a ação numa narrativa. Se a ação for concentrada, isto é, se houver poucos fatos na história, ou se o enredo for psicológico, ha verá menos variedade de espaços; pelo contrário, se a narrativa for cheia de peripécias (acontecimentos), haverá maior afluência de espaços.

       O espaço tem como funções principais situar as ações dos personagens e estabelecer com eles uma interação, quer influenciando suas atitudes, pensamentos ou emoções, quer sofrendo eventuais transformações provocadas pelos personagens.

       Assim como os personagens, o espaço pode ser caracterizado mais detalhadamente em trechos descritivos, ou as referências espaciais podem estar diluídas na narração. De qual quer maneira é possível identificar-lhe as características, por exemplo, espaço fechado ou aberto, espaço urbano ou rural e assim por diante.

       O termo espaço, de um modo geral, só dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos da história; para designar um “lugar” psicológico, social, econômico etc., empregamos o termo ambiente.

Ambiente

       É o espaço carregado de características socioeconômicas, morais psicológicas, em que vivem os personagens. Neste sentido, ambiente é um conceito que aproxima tempo e espaço, pois é a confluência destes dois referenciais, acrescido de um clima.

       Clima é o conjunto de determinantes que cercam os personagens, que poderiam ser resumidas às seguintes condições:
• socioeconômicas;
• morais;
• religiosas;
• psicológicas.

       Funções do ambiente
1. Situar os personagens no tempo, no espaço, no grupo social, enfim nas condições em que vivem.
2. Ser a projeção dos conflitos vividos pelos personagens. Por exemplo, nas narrativas de Noites na taverna (contos de Álvares de Azevedo), o ambiente macabro reflete a mente mórbida e alucinada dos personagens.

(...) Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro:
as estrelas passavam pelos raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abrio-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta!..e aqueles traços todos me lembravam uma idéia perdida... Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como um chumbo. (...)
Súbito abriu os olhos empanados. — Luz sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa —, apertou-me em seus braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados... Não era já a morte — era um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível, O leito de lájea on de eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela... Neste instante ela acordou...
(In:____.Macário, noites na taverna e poemas malditos. Rio de Janeiro, Francisco Alves. 1983. p. 171-2.)


Estar em conflito com os personagens. Em algumas narrativas o ambiente se opõe aos personagens estabelecendo com eles um conflito. Um exemplo disso é o que ocorre no romance Capitães da areia, de Jorge Amado, no qual o ambiente burguês e preconceituoso se choca constante mente com os heróis da história.

(...) Os guardas vêm em seus calcanhares. Sem-Pernas sabe que eles gostarão de o pegar, que a captura de um dos Capitães da Areia é uma bela façanha para um guarda. Essa será a sua vingança. Não deixará que o peguem, não tocarão a mão no seu corpo. Sem-Pernas os odeia como odeia a todo mundo, porque nunca pôde ter um carinho. E no dia que o teve foi obrigado a abandoná-lo, porque a vida já o tinha marcado demais. Nunca tivera uma alegria de criança. Se fizera homem antes dos dez anos para lutar pela mais miserável das vidas: a vida de criança abandonada. Nunca conseguira amar a ninguém, a não ser a esse cachorro que o segue. Quando os corações das demais crianças ainda estão puros de sentimentos, o de Sem-Pernas já estava cheio de ódio. Odiava a cidade, a vida, os homens. Amava unicamente seu ódio, sentimento que o fazia forte e corajoso apesar do defeito físico. (...) Apanhara na polícia, um homem ria quando o surravam. Para ele é esse homem que corre em sua perseguição na figura dos guardas. Se o levarem o homem rirá de novo. Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não pára. Sobe para o pequeno muro, volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força de seu ódio, cospe na cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço, como se fosse um trapezista de circo. (...)
(Rio de Janeiro, Record, 1985. p. 214-5.)

4. Fornecer índices para o andamento do enredo. É muito comum, nos romances policiais ou nas narrativas de suspense ou terror, certos aspectos do ambiente constituírem pistas para o desfecho que o leitor pode identificar numa leitura mais atenta. No conto “Venha ver o pôr-do-sol”, de Lygia Fagundes Telles, nas descrições do ambiente percebemos índices de um desfecho macabro, por exemplo, no trecho em que se insinua um jogo entre a vida e a morte, que é o que de fato ocorre com os personagens Raquel e Ricardo.

(...) O mato rasteiro dominava tudo. E não satisfeito de ter-se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrara-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira as alamedas de pedregulhos enegrecidos, como se quisesse com sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte.
(In: - Mistérios. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1978. p. 205-6.)


Caracterização do ambiente

       Para se caracterizar o ambiente, levam-se em consideração os seguintes aspectos:

• época (em que se passa a história);
• características físicas (do espaço);
• aspectos socioeconômicos;
• aspectos psicológicos, morais, religiosos.

Continua… Narrador

Fonte:
Cândida Vilares Gancho . Como Analisar Narrativas. 7. Ed. Editora Ática. http://groups.google.com.br/group/digitalsource/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 620)

Uma Trova de Ademar 
De todos os sonhos meus,
realizei o mais fecundo:
ser um Poeta de Deus
e mandar versos pra o mundo!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Se você não existisse,
já o teria inventado,
antes que a aurora surgisse,
seria meu namorado.
–Mifori/SP–

Uma Trova Potiguar 


O Poeta do Amanhecer,
é, também, do meio-dia,
da tarde e do anoitecer
na trova e na Poesia.
–Tarcísio Fernandes Lopes/RN–

Uma Trova Premiada 


2011  -  Concurso do CTC/ES
Tema  -  F É  -  6º Lugar


A Fé que você procura
às vezes sem solução,
encontrará na ternura
que existe no coração.
–Neiva Fernandes/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram 


O meu vício é controverso,
tem dependência e vicia.
sou dependente do verso,
rima, métrica e poesia!
–Francisco Macedo/RN–

Uma  Poesia 


Nestes versos vou dizer
levado pela emoção,
para agradar a mim mesmo,
deixar feliz meu irmão;
e a vocês dizer num “Oi”
que o mano “Macedo” foi...
“Corda do meu coração!”
Ademar Macedo/RN–

Soneto do Dia 

CARTAS PARA O CÉU.
–Clarisse Barata Sanches/PRT–


As cartas que te escrevo, minha mãe,
São tristes, muito tristes e saudosas.
Que Deus queira, mal cheguem ao Além,
Perfumá-las quais fossem lindas rosas!

Desejo que no Céu te encontres bem,
Rodeada p'las almas mais bondosas;
E que esperes por mim, porque também
Anseio pela Paz de que já gozas.

Nas cartas vão abraços e carinhos;
E dá, por mim, lembranças e beijinhos
Ao Augusto e à Graça, que aí estão.

E em cada, num Amor sem ter medida,
Te envio, sem saudades desta vida,
Um pouco do meu triste Coração!

Machado de Assis (Badaladas – 20 de outubro de 1872, continuação)

Dois proprietários:

– Não há como as salas pequenas com seus tetos baixos e naturalmente pequenos. Eu não posso olhar para um teto grande e alto.

— Eu sou justamente o contrário; para mim, um teto deve ser um arquiteto.

No Jornal do Comércio de quarta-feira dá G. F. a Ti o seguinte aviso: “Ontem te passei uma carta dentro da grade: desejo saber se a recebeste.” Esperei ansioso o Jornal de quinta-feira para ver a resposta de Ti e ficar tranqüilo a respeito da sorte de G. F. Céus! Nem uma linha. Em compensação, se não achei a resposta que esperava, achei estas poucas linhas merecedoras de atenção: é uma despedida.
N.

Não te posso mais escrever, apanhei agora este meio para te dizer que decididamente temos que nos separar para sempre, esquece o meu juramento, não desejo dar desgosto a minha mãe, quando eu tenha idade e tu saúde e emprego honesto, então veremos.
M.

Peço desculpa à menina M.

S. Excia. parece-me extremamente fácil em despedir o namorado. Em primeiro lugar participa aos leitores do Jornal que ele é doente e tem um emprego desonesto. Que emprego será?! Isto é o menos: O mais é isto: A menina M jurou ao seu N amá-lo eternamente como essas coisas se juram. Devo crer que falava com toda a sinceridade do coração. Mas sua mãe opõe-se ao casamento; o caso é grave; ela é sua mãe; viu naturalmente que o emprego do namorado é desonesto e que este de mais a mais não tem saúde.

Que faz a menina M?

Diz ao namorado: “esqueça o meu juramento.” E dadas tais circunstâncias, “Então veremos!” Pedir-lhe que esqueça o juramento é já muito; mas o “então veremos” permita-me S.

Excia. que lhe diga, e que lhe diga a francesa: c'est raide. Equivale a dizer: “Se daqui até lá eu não tiver outro namorado, e se você já estiver curado e honestamente empregado, então pode ser que a plausibilidade de uma esperança vaga e toda conjectural nos reúna outra vez.”

Queira perdoar se me engano. Acabava de escrever estas linhas quando me caiu à mão o Jornal do Comércio de ontem.

N aceita a despedida; declara, porém, que não se esquecerá dela nem do juramento. Com razão; vê-se que ama. Poderia acrescentar que a primeira a não esquecer o juramento devia ser ela.

Em todo o caso desejo que sejam felizes, que volte a saúde ao namorado, que nela não se apague a lembrança dele, e que, vencida a repugnância da mãe, ambos se casem e vivam muitos anos.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Public
ado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Parte 5: Cabo Verde – 1. Lírica)

Interessa, desde já, reter bem este facto: a partir do início da década de trinta, e mercê de circunstâncias de natureza política, social, histórica e literária, algo ocorreu nas ilhas cabo-verdianas, a que não é alheia a influência da literatura brasileira. «Ora aconteceu que por aquelas alturas, nos caíram nas mãos, fraternalmente juntas, em sistema de empréstimo, alguns livros que consideramos essenciais pro domo nostra». É Baltasar Lopes quem isto afirma, citando autores como José Lins do Rego, Jorge Amado, Amando Fontes, Marques Rebelo. E diz que «em poesia foi um 'alumbramento' a Evocação do Recife, de Manuel Bandeira». Revelação foi ainda «um magnífico livro — a Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, ao lado dos volumes, densos de investigação e interpretação, do malogrado Artur Ramos» (in Cabo Verde visto por Gilberto Freyre, 1956). Ou pode até admitir-se, também, a influência da Presença no que nela se propunha de libertação da linguagem. Uma tomada de consciência   regional   muito   nítida   se   instala   nos escritores de Cabo Verde, que decidem romper com os arquétipos europeus e orientar a sua actividade criadora para as motivações de raiz cabo-verdiana. Não é ainda uma posição anti-colonial. Não é ainda, nem nada que se pareça, algo que tenha a ver com a ideia de independência política ou nacional. Porventura o problema não se poria também nestes termos, assim precisos, logo de início, ao menos generalizadamente, aos escritores do movimento parisiense da negritude.

Mas era, em Cabo Verde, em dados de literatura, uma viragem de cento e oitenta graus: as costas voltadas aos modelos temáticos europeus e os olhos, pela primeira vez, vigilantes e deslumbrados no chão crioulo. De tal facto podem ser pontuações inequívocas não só a citada revista Claridade, como a que se lhe seguiu, em 1944, Certeza, esta sob a directa influência no neo-realismo português, o Suplemento Cultural (1958) [37] e ainda o suplemento «Sèló»; ou inclusive, o boletim Cabo Verde (1949 — 1965), órgão oficial, mas no que ele possui de mais autêntico e digno, e no campo da literatura bastante é, dado que nele colaboraram quase todos os escritores cabo-verdianos.

Aliás, em 1935, um ano antes da publicação de Claridade, Jorge Barbosa, um dos responsáveis por aquela revista, abre a estrada larga do realismo cabo-verdiano:

—    Ai o drama da chuva,
ai o desalento,
o tormento da estiagem!
—    Ai a voragem
da fome
levando vidas!
(... a tristeza das sementeiras perdidas...)
Ai o drama da chuva! [38]

Os sinais da mudança são vários. O abandono dos temas obrigatoriamente europeus, como vinha acontecendo até aí, a renúncia das estruturas poéticas tradicionais (rima, métrica e outras) e a penetração definitiva no contexto humano do Arquipélago: «o drama», «desalento», «tormento», «fome», «tristeza». Nos seus dois primeiros livros: Arquipélago (1935) e Ambiente (1941) e ainda em Caderno de um ilhéu (1956), Jorge Barbosa procede a uma radiografia do drama social do homem cabo-verdiano: a seca, a fome, a emigração, o isolamento, a insularidade, e o mar como estrada mítica da «aventura da pesca da baleia/nessas viagens para a América/de onde às vezes os navios não voltam mais». [39] Assim:

O teu destino... O teu destino Sei lá!
Viver sempre vergado sobre a terra, a nossa terra pobre ingrata querida!
Ou outro fim qualquer humilde
anónimo...
Ó cabo-verdiano
anónimo
— meu irmão! [40]

Via de regra, cada verso uma palavra, ou cada verso um sintagma, uma cadência ritmada, sincopadamente, para que a dor e o sofrimento se grave e avive dentro de nós. E mais: o processo, porventura invulgar para a época, da imanência de um «tu» logo associado a um «nós» no envolvimento da comunhão intensa de um discurso dramático. De resto, Jorge Barbosa é a voz plural que amiúde recorre a expressões como esta: «voz da nossa gente», a transformar o seu discurso na voz colectiva. A enumeração repetitiva, no caso presente adjectivada, mas noutros substantivada, aliada à evocação ou ao apelo afectivo, num recurso continuado à função expressiva, confere à poesia de Jorge Barbosa características dramáticas novas, trazidas pela intimidade, a denúncia, a epopeia do homem ilhado vivendo no drama de «querer partir e ter que ficar!». Enfim, no dizer de Jorge de Sena, um «poeta que, nos seus grandes momentos, é uma das melhores vozes da poesia contemporânea» [41]. E se ele foi o primeiro a romper a tradição de uma poesia que vinha marcando o espaço cabo-verdiano, foi também ainda o primeiro poeta das áreas africanas da língua portuguesa a lançar os fundamentos de uma nova poesia tecida numa situação colonial. A poesia de Jorge Barbosa vai dominar o panorama poético cabo-verdiano por várias décadas, de uma ou de outra maneira e com tal intensidade que só recentemente alguns poetas modernos libertaram de vez a poesia cabo-verdiana do peso estrutural barbosiano, como adiante se verá.

Jorge Barbosa teve uma ajuda, pelo menos. Nada nasce do nada. Essa ajuda, tudo leva a crer, veio dos poetas brasileiros, como assinalámos. Mas o desencadeamento catártico deu-se com a presença de António Pedro (1909-1965), um cabo-verdiano de nascimento que, em 1928, aos vinte anos de idade, visitou Cabo-Verde e ali publicou o livro de poemas Diário (1929). Era então um jovem poeta virado para o modernismo português. Sensibilizado para um certo vanguardismo, a sua poesia «cabo-verdiana» é um abanão nas estruturas tradicionais poéticas do Arquipélago. Por exemplo, sobre a Morna:

Reminiscência dum fado
que, dançado
num maxixe,
tem a tristeza postiça,
dum cansaço.

Um semicivilizado
lasso
balanço
embalado
sobre o ventre dum fetiche [42].

Era a primeira vez que alguém glosava, em nova linguagem, o tema da morna (e outros). Manuel Bandeira, Jorge de lima, Ribeiro Couto, de um lado; António Pedro, de outro, os dados estavam lançados. Nítida a semelhança da estrutura externa das estrofes de Jorge Barbosa e António Pedro. Coteje-se o excerto de António Pedro com este de Jorge Barbosa sobre o poema «A Morna»:

Canto que evoca coisas distantes que só existem
além
do pensamento, e deixam vagos instantes
de nostalgia, num impreciso tormento
dentro das nossa almas...
Morna desassossego,
voz
da nossa gente reflexo subconsciente
[43]

Mas se os pontos de contacto no espaço externo dos poemas de António Pedro e Jorge Barbosa são evidentes, já o mesmo não se dá na estrutura profunda da poesia de um e de outro. Em António Pedro é um pretexto, a voz distanciada («tristeza postiça, dum cansaço»); em Jorge Barbosa, um percurso interiorizado, para uma enunciação colectiva: «dentro/das nossas almas...» o «desassossego», a «voz/da nossa gente». Os demais poetas da primeira fase da Claridade (1935-1937) são Manuel Lopes, Osvaldo Alcântara [i. e Baltasar Lopes] e Pedro Corsino Azevedo. Destes, será Manuel Lopes o vizinho mais próximo de Jorge. Não que se fale de influências. O sinal de Manuel Lopes vem simultaneamente com o de Jorge Barbosa. Mas um dos pontos em que a poesia de Manuel Lopes se afasta da de J.   Barbosa  será  no   tom  filosofante,  no  por vezes solilóquio interrogativo:

Que importa o caminho da garrafa que atirei ao mar? Que importa o gesto que a colheu? Que importa a mão que a tocou
— se foi a criança
ou o ladrão
ou filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?

O verso é mais longo, a linguagem mais discursiva, a interpretação do mundo real cabo-verdiano mais individualizado. O «tu» em Manuel Lopes tende a ser personalizado: «Mochinho,/teu destino é seres espantalho de corvos,/tocar lata e mandar funda/de desamparinho a desamparinho/na mèrada de milho a arder» 45; e o diálogo, mais do que admirativo é interrogativo ainda quando a sua proposta poética se situa ao nível da indagação colectiva:

Que disse a Esfinge
aos homens mestiços de cara chupada?
Esta encruzilhada
de caminhos e de raças
onde vai ter?
Por que virgens paragens se prolonga?
Que significa para eles o amanhecer? **

Em Pedro Corsino Azevedo, sem livro publicado, e de escassa produção poética, pelo menos a conhecida até agora (refere-se um original perdido: «Era de ouro») é legítimo falarmos em dois mundos. Um, diríamos existencial, equacionando os sonhos e os desenganos, superando o sentido trágico da vida («Sou o atleta vencido/Renascido») [47]. Outro, o da radicação de motivações populares, como no poema muito difundido «Terra-Longe»: «Terra-longe! terra-longe!... — Oh mãe que me embalaste!/Oh meu querer bipartido!» – ou em «Galinha branca»:

Galinha branca O espectro da morte A sorte De todos.
Olha p'ra mim! Assim:
Canivetinho
Canivetão


França
A única esperança...[49]

Com este poema ele ganha o direito a ser considerado o primeiro poeta da modernidade cabo-verdiana, uma vez que nos parece ter sido escrito por volta de 1930 [50].

Osvaldo Alcântara (i. e Baltasar Lopes) é de todos os poetas de Claridade aquele que vem produzindo uma poesia mais intelectualizada. Mas nem por isso Osvaldo Alcântara deixa de ser um poeta par e passo preocupado e identificado com o seu mundo colectivo, como em «Recordai do desterro no dia de S. Silvestre de 1957»:

«O inefável invade docemente a minha tristeza./Sei que a tua espada há-de fulgurar nas batalhas necessárias/e Nicolau nunca mais voltará a ser moeda/das riquezas de Caim» [51]. E nos seus recursos imagéticos, no seu discurso não raro metafórico ou metonímico, Osvaldo Alcântara marca a sua linguagem de uma exigência estética nem sempre alcançada por outros. Poesia habitada por uma consciência dialéctica, num permanente apelo às forças da reprodução mutativa. Recobre um espaço entretecido do cósmico, do social, da tradição popular, das forças criadoras da vida e da acção, de tal modo interiorizado e fundido no impulso poético, mas redimido pela racionalização: «Quem me dera ser estereoscópio para disciplinar as minhas sensações». Um dos seus últimos poemas, publicado em 1973, sagra-se pelo registo da esperança ao ritmo de uma pulsação radiosa, e nele, e com ele, Osvaldo Alcântara firma-se no chão real do espaço e do tempo cabo-verdianos:

Onde há o Tântalo de todas as recusas
e tudo gerou nada
e o tempo desembocou no presente
e no chão podre de húmus malditos
o presente só tem para ti uma colheita clandestina
esperança esperança esperança [52].

A Claridade sucede a geração de a Certeza (1944). Nem sempre o conceito de geração corresponde a uma demarcação estética ou ideológica. Mas neste caso corresponde. O grupo de Certeza todo ele perfilha o ponto de vista neo-realista. São, portanto, marxistas. Quando os componentes do grupo tomaram conhecimento de Claridade, e logo a seguir da proposta dos neo-realistas portugueses, abandonaram os possíveis liames com um passado e assumem, na ilha, o drama colectivo que feria grande parte da humanidade: a Segunda Grande Guerra Mundial. E é já no entendimento do que ela significa que Guilherme Rocheteau diz:
«Ao longe/na distância da manhã por vir,/a indecisão das camuflagens/e do rumor da guerra,/há agonias esbatidas no negro-fumo/da pólvora/dos homens que se batem./Aquem, é a luta na rectaguarda!» [53].

Mas esta visão dialéctica exprime-a também Tomaz Martins, aliás autor de uns escassos três poemas, tal como aquele seu companheiro de jornada:
«Eu quero verte/compreendendo o fogo do camarada irmão/nesta luta incerta que é a sua certeza» [54].

Nuno Miranda (Cais dever partir, 1960; Cancioneiro da ilha, 1964) foi nessa altura uma esperança. Então ele, na ufania de si próprio, revelava-se com o pseudónimo de Manuel Alvarez:
«Numa noite qualquer [...] tombaram um por um, os falsos deuses!...» [55] — para, entretanto, vinte anos depois, se carpir no mundo confuso em que se deixou mergulhar, e com a consciência da crise que o destruía: «a nave» «tomba de leve no arquejo/das cousas caladas da noute»[56].

Arnaldo França, um dos mais dotados poetas da Certeza, teima em continuar ignorado escrevendo pouco (julgamos) e publicando nada, depois do seu breve e útil ensaio Notas sobre poesia e ficção cabo-verdianas (Sep. Cabo Verde (nova fase), n.° 157. Praia, Cabo Verde 1962). Mas o rastro por ele deixado é o de um lírico com a consciência do peso real das palavras, e ciente dos caminhos difíceis da aprendizagem poética. Há «muros altamente inacessíveis» no trânsito para «a conquista da poesia»:

Era um castelo erguido na montanha
da paisagem deserta submarina
tinha muros altamente inacessíveis
ao salto imaginário do meu pensamentos [57]

Poeta lírico mas que preenche a sua mensagem de conotações ideológicas precisas, evidentes até em títulos de poemas como «Paz» (é preciso lembrar o contexto: 1960) e exigir a paz era (é) combater a opressão, era efectuar o registo do «testamento para o dia claro». O seu discurso semeado de «sonhos», «encantamentos», «vigília», «silêncio», «distância», «pétalas dispersas», ou a «alma que se desprende em luz» ganha um relevo a um tempo tranquilo («Meus sonhos quem os fez nascer tranquilos/serenos?») e inquieto, que lhe sobe da «voz desperta». Há nele uma sabedoria que pré-anuncia um futuro na «esperança nova» porque a felicidade «só na comum seara se renova».

Mas no horizonte lívido do dia Recuam quando passa a nuvem fria Os pássaros metálicos da noite.
E na amplidão da luz que resplandece É de ti que surgiu a mão que tece A esperança nova à humana sortes [58].

Colocaríamos agora o nome de António Nunes (Devaneios, 1938; Poemas de longe, 1945) que, em 1944, mandava de Iisboa, para o n.° 2 de Certeza o «Poema de amanhã». Poema de intencionalidade unívoca, com ele António Nunes se impunha como o primeiro poeta neo-realista  cabo-verdiano   a  estabelecer  a   oposição colonizado/colonizador. Com efeito, nesse poema o «tu» é «Mamãe», a terra cabo-verdiana, mas subjacente está um «ele», o outro que dispõe dos homens, o colonizador:

— Mamãe! sonho que, um dia, estas leiras de terra que se estendem, quer seja Mato Engenho, Dàcabalaio ou Santana, filhas do nosso esforço, frutos do nosso suor, serão nossas.
E, então, O barulho das máquinas cortando, águas correndo por levadas enormes, plantas a apontar, trapiches pilando, cheiro de melaço estonteando, quente, revigorando os sonhos e remoçando as ânsias novas seivas brotaram da terra dura e seca!... [59]

Aqui, António Nunes aparta-se de Jorge Barbosa, e de várias maneiras: na estrutura externa e no ponto de vista. Mais tarde, em «Ritmo de pilão», dava-nos a complementaridade desta proposta e mais se distanciava de Jorge Barbosa que, em vincado acento dorido, falava do «nosso drama» e até «da nossa revolta». Mas que revolta? — «da nossa silenciosa revolta melancólica». E António Nunes? Este, em 1958, abria a sua área temática, em «Ritmo de pilão»: «Bate, pilão, bate/que o teu som é o mesmo/desde o tempo antigo/dos navios negreiros...» 60. Ao sonho de que as terras «serão nossas» se junta agora o incitamento a uma luta continuada. O sentido da sua mensagem encerra a visão dialéctica da mudança e a necessidade de acção.
–––––
Notas:
47    Pedro Corsino Azevedo, «Renascença» in Claridade, n.° 5, 1947, p. 16; também in M. Ferreira, No reino de Caliban, 1.° vol., 1975, p. 121.

48    Idem, «Terra-Longe» in Claridade, n.° 4,1947, p. 12.

49    Idem, «Galinha branca» in M. Ferreira, No reino de Caliban, 1.° vol., Lisboa, 1975, pp. 124-125.

50    Deve-se a Pedro da Silveira a publicação deste poema, acompanhado de uma nota, em Mensagem, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império, ano XVI, n.° 1, julho de 1964, pp. 10-11-12.
Fala-se  de  um  original perdido  de  Pedro  Corsino  de Azevedo, «Era de Ouro».

51    Baltasar Lopes, «Recordai do desterrado no dia de S. Silvestre de 1957» in Claridade, n.° 8,1958, p. 39.

52    Idem, «Menino de outro gongon» COLÓQUIO/Letras, n.°14,1973, p. 58.

53    Guilherme Rocheteau, «Panorama» in Certeza, n.° 1,1944.

54    Tomaz Martins, «Poema para tu decorares» in Claridade, n.°4,1947, p. 37.

55    Nuno Miranda, «Revelação» in Certeza, n.° 1, 1944.

56    Idem, Cancioneiro da ilha, 1964, p. 42.

57    Arnaldo França, «A conquista da poesia» in Claridade, n.° 5,1947, p. 33.

58    Idem, «Paz-3» in Claridade, n.° 8, 1958, pp. 27-28.

59    António Nunes, Poemas de longe, 1945, p. 32.

 
Continua…Cabo Verde 1 – Lírica

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

Programa Viagem Literária - São Paulo (Cadastramento de Autores e Contadores de Histórias)

Programa cadastra autores e contadores de histórias para eventos que acontecerão nos meses de outubro, novembro e dezembro

A Secretaria de Estado da Cultura está cadastrando autores de livros de ficção e contadores de histórias (individuais ou grupos) interessados em participar do programa Viagem Literária 2012, que acontecerá nos meses de outubro, novembro e dezembro.

Viagem Literária é um programa de incentivo à leitura realizado pela Secretaria com o apoio das bibliotecas públicas de 70 municípios paulistas. São realizados encontros do público local com autores e contadores de histórias.

Esses eventos buscam aproximar pessoas que se relacionam no universo da leitura e da literatura, e estimular o vínculo entre leitores e sua biblioteca pública local.

Lançado em 2008, o programa integra um conjunto de ações afirmativas do Governo do Estado que incluem o apoio à atualização de acervos, o suporte à melhoria das práticas de gestão e da qualidade de atendimento das bibliotecas públicas municipais e ações de informação e capacitação de recursos humanos como política efetiva de formação de novos leitores e incentivo à leitura.

Transformar as bibliotecas em ambientes propícios à leitura e reflexão cultural também exige investimentos para o fomento de novas ideias para que sejam alcançados os principais objetivos do programa: difundir o gosto pela leitura e dar suporte à transformação das bibliotecas em centros de vivência sociocultural e de exercício pleno da cidadania.

Os interessados deverão inscrever-se até 7 de agosto de 2012, enviando carta ou e-mail contendo currículo e comprovantes de sua atuação como autor ou contador de histórias para a SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – UNIDADE DE BIBLIOTECAS E LEITURA, nos endereços abaixo:

Por carta
Unidade de Bibliotecas e Leitura
Secretaria de Estado da Cultura
Rua Mauá, 51 - 2º andar
São Paulo-SP / CEP: 01028-900

Por e-mail
bibliotecaseleitura@sp.gov.br

Os profissionais/grupos cadastrados integrarão de um banco de dados e serão avaliados pela equipe de produção do Viagem Literária, podendo ser posteriormente contratados para integrar a programação oficial. O processo é semelhante ao adotado na seleção de trabalhos para o Circuito Cultural e Virada Cultural Paulista.

Fonte:
Assessoria de imprensa - SEC
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nemésio Prata Crisóstomo / CE (Sextilhas Aguardando a Continuação do Sexteto em Sextilhas)

Delcy, Gislaine, Zé Lucas,
Assis, Ademar, Garcia,
cada qual mais cada qual
nas artes da poesia,
brilham agora em Sexteto
para nos dar alegria!

Ao ver o seu versejar
com primoroso rimado,
e na métrica perfeita
nos passar o seu recado,
somente posso dizer:
Eita Sexteto arretado!

Na mente de cada um
nunca falta inspiração
que descrita no papel,
em perfeita redação,
esse Sexteto pai d'égua
nos alegra o coração!

Trinta sextilhas postadas
é só para começar,
muitas outras já no prelo
estão; vamos aguardar
a sua divulgação:
não custa nada esperar!

Fonte:
O Autor (Fortaleza/CE)

Sexteto em Sextilhas (Parte 2)

31 - Assis
Gostei muito, de verdade,
dos verbos que, com primor,
Zé Lucas usou acima,
provando que é professsor
na arte em que ele se expressa
com máximo esmero e amor.

32 - Ademar
É Poeta e Trovador
e um professor eficaz,
um competente advogado
que defende Leis e Paz;
e os versos que ele já fez
confesso... que ninguém faz!

33 – Delcy
Linda verdade nos dás,
grande poeta Ademar,
pois és o que mais trabalha
pra poesia divulgar
e, inda dizes que o Zé Lucas,
é quem mais sabe trovar!

34 - Prof. Garcia
É um eterno labutar
essa luta sempre a sós;
um no Sul, outro no Norte,
e o verso frio, sem voz,
quebrando o silêncio mudo
desta distância, entre nós.

35 – Gislaine
O nosso verso veloz
tem do arco-íris a cor
e a luz de muitas estrelas...
Tem a pureza do amor,
e a grandeza da amizade
para, em nosso mundo pôr!

36 - Zé Lucas
Aonde meu verso for
leva um fluido de esperança,
a juventude dos sonhos
e um sopro de brisa mansa,
pra mostrar que, neste mundo,
todo poeta é criança.

37 - Assis
E todo  poeta alcança,
via sonho, o esplendor
da esperança e da alegria
enquanto semeia o amor
neste mundo tão carente
de paz e humano calor.

38 - Ademar
Tal qual grande Trovador,
meus versos vivem jorrando.
Quando eu apronto um na mente,
já vem um outro brotando
e antes mesmo de escrevê-lo
já tem outro se formando...

39 – Delcy
Fico, às vezes, divagando
sobre  poemas  diversos,
que primam pela beleza
das suas rimas e versos
e  sonho ser "pajador"
pra cantar os universos!

40 - Prof. Garcia
A inspiração de meus versos
vem do infinito, do além;
dos arpejos dos suspiros
que as cordas da lira tem,
e do sorriso da noite,
de todo canto ela vem!

41 – Gislaine
Sonhamos como ninguém,
pois vivemos a emoção
que nos versos descrevemos...
E nos bate o coração,
embalado na alegria,
que nos desperta a afeição!

42 - Zé Lucas
Se acaso meu coração
bater errado algum dia,
não vou procurar remédio
para cardiopatia,
porque meu mal é saudade,
meu remédio é poesia. 

43 - Assis
Da saudade eu lhes diria
o que a seguir vou dizer:
- Saudade é dor diferente,
que, doendo, dá prazer;
é dor que só dói se a gente
tem do que saudade ter.

44 - Ademar
Eu também vou lhe dizer
o que eu sei sobre a saudade:
é um grande espinho que fere
e fura só por maldade,
se hospeda dentro da gente
e dói sem ter piedade...

45 – Delcy
Penso, amigo, que a saudade
não é um mal; é  um bem,
que se mostra diferente
e entra na vida de alguém,
pra lembrar, que no passado,
houve  ventura  também!

46 - Prof. Garcia
A saudade é um grande bem
na vida de um sonhador;
pois se não fosse a saudade
que provoca pranto e dor,
não havia entre os amantes
os lindos sonhos de amor!

47 – Gislaine
Sentimento encantador,
que fez lembrar juventude
e os dias bem coloridos
vividos em plenitude,
com imensas alegrias
que desfrutar, feliz, pude!

48 - Zé Lucas
O recordar é virtude
que cresce ao correr da idade,
trazendo de volta os sonhos
longínquos da mocidade,
e as lembranças mais felizes
viram filmes de saudade.
 
49 - Assis
Verdade, amigos, verdade,
procedem seus argumentos:
a saudade sintetiza
sonhos, glórias, sentimentos,
como um filme que eterniza
nossos melhores momentos.

50 - Ademar
A saudade traz tormentos
que nem um outro arremeda,
finge às vezes ir embora,
volta e nos dá outra queda...
E o sofrimento é maior
se no coração se hospeda!

51 – Delcy
Nosso coração não veda
sentimentos que aparecem,
como as lembranças que temos
de coisas que não se esquecem:
são as saudades, que chegam,
e, em nós, se hospedam e crescem!

52 – Prof. Garcia
Nossos versos não merecem
tratamentos desiguais;
são os fiéis guardiãs
que amamos  cada vez mais,
e a mais feliz harmonia
das liras celestiais!

 53 – Gislaine
Nossos versos são sinais
de que o que é bom, inda existe,
falamos com emoção
até de uma coisa triste
e conseguimos provar
que o que é bom, em nós, persiste!

54 - Zé Lucas
Mesmo quando o verso é triste,
transmite alguma alegria,
como a flor que desabrocha
sob a luz de um novo dia:
pode até gotejar pranto,
porém não perde a magia.

55 - Assis
Isso é próprio da poesia
e é assim que eu penso também:
se o verso às vezes é triste,
e certo azedume tem,
todavia nada existe
que nos faça tanto bem.

56 - Ademar
Quando a poesia vem
munida de inspiração,
ela não goteja prantos,
e sim, com muita emoção,
goteja gotas de amor
na bica do coração.

57 – Delcy
Sou tomada de emoção,
quando versos de amizade
chegam, às vezes, a mim,
em poemas de saudade,
e eu agradeço ao destino,
que me sorri com bondade!

58 - Prof. Garcia
Se o destino na verdade
aponta o nosso caminho,
que me dê a inspiração
de um poeta passarinho,
que canta versos ao vento
e faz serestas no ninho!

59 – Gislaine
Digo com todo o carinho,
é uma bênção ser poeta,
poder divagar em sonhos,
para atingir nossa meta
e, então, sentir-se feliz,
por ser, em verdade, esteta.

60 - Zé Lucas
Quando falece um poeta,
a terra guarda seu rastro,
a bandeira da poesia
tremula triste no mastro,
cala-se uma voz no mundo,
no céu brilha mais um astro.