segunda-feira, 23 de julho de 2012

Machado de Assis (Badaladas – 22 de setembro de 1872)

O Jornal do Comércio publicou há dias uma interessante notícia, que talvez escapasse à atenção do leitor.

Noticiou o Jornal que o Mikado (soberano espiritual do Japão) promulgara uma nova religião, formada do resumo e extrato de várias seitas do país.

Deve ser um singular povo, o japonês. Receber uma religião pelo Diário Oficial, como quem recebe uma nova tarifa da alfândega, é levar o culto da administração muito mais longe do que um povo do nosso conhecimento.

Deita-se um homem acreditando que a gula é um pecado mortal e que as boas obras são necessárias à salvação.

No dia seguinte, entre o café e o charuto, noticia-lhe o Boletim das Leis que a gula passa a ser um pecado meramente venial, em certos casos uma ação indiferente, em alguns — raríssimos — um feito virtuoso, e que, a respeito das boas obras, são elas tão necessárias à salvação como duas apólices a um defunto, tudo com a rubrica de Sua Majestade.

Bem vejo que a religião assim constituída é essencialmente progressiva, e não haveria razão para que não entrasse no programa dos partidos constitucionais se o Japão os houvesse no sentido em que os tem a civilização do ocidente.

Os liberais, por exemplo, prometeriam, ao lado da reforma do correio, a supressão de uma doutrina relativa às potências da alma.

Os conservadores, entretanto, não só proclamariam a excelência do correio (falo do Japão) como a necessidade de conservar e até desenvolver a doutrina das potências da alma.

Determinou esse homem no testamento que o seu corpo fosse pesado, e que o valor do seu peso em cera fosse dado a certa ordem a que ele pertencia.

É difícil perscrutar a razão de semelhante minuciosidade.

A intenção foi de certo boa, e se devemos respeitar a intenção dos vivos, muito mais devemos respeitar a intenção dos mortos.

Nem por isso é menos embaraçosa a situação em que ficamos.

Se acode ao peso na salvação o peso do corpo, o reino do céu fica fechado aos magros.

Quem for gordo tem certeza de não ir ao purgatório, pelo menos de não ir por muito tempo. Não acontece o mesmo ao magro; o magro mal poderá dar de si com que purgar dois ou três pecados.

E pecados tanto os comete o magro como o gordo. Quero crer até que o magro é mais pecador.

Há na gordura certa pachorra, certa preguiça, que até de pecar afasta a criatura. O gordo bufa, vegeta, joga o solo e faz muitas outras coisas inocentes, que o magro não faz ou faz raramente.

Portanto, leitor, se queres que te pesem o cadáver, engorda primeiro, faz-te arroba, faz te tonelada, e irás ao céu.

Ao céu irá provavelmente a nova câmara municipal se mandar corrigir a ortografia do nome da rua do Passeio, esquina da rua das Marrecas. Rua do Passeio e o que está, ali escrito. Não se usa.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 616)


Uma Trova de Ademar

Preso e longe do seu lar,
canta o pássaro inocente,
no intuito de amenizar
a dor que ele mesmo sente!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional

As dores e os desencantos,
lancem ao pó das estradas...
- Façam dos lares recantos
que lembrem contos de fadas!
–Olga Agulhon/PR–

Uma Trova Potiguar

Ao som dolente do sino,
lembro meus sonhos negados;
– são castigo do destino,
– são destinos castigados!
–Rodrigues Neto/RN–

Uma Trova Premiada

2010  -  Ribeirão Preto/SP
Tema  -  VIAGEM  -  M/E

A caminho do infinito,
prossigo a minha viagem...
levo o que é de mais bonito:
o nosso amor na bagagem!
–Roberto Tchepelentyky/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

O namorado-menino
que conquistou meu afeto,
por um capricho divino
é hoje avô do meu neto.
–Alcy Ribeiro S. Maior/RJ–

Uma  Poesia

Que fácil é em nossos dias
o Brasil unificar...
Basta que a gente decida
pôr alguns versos no ar,
sonhando ou filosofando
ao som do nosso cantar!
–A. A. de Assis/PR–

Soneto do Dia

PAI, FILHO, ESPÍRITO SANTO!
–Francisco Macedo/RN–

O Pai, Criador do Universo, é Verdade,
me fez criatura perfeita, me amou,
e deu-me o seu céu pela sua vontade,
e quando “caí” de si mesmo enviou

O Filho, Jesus que é a luz da bondade,
na cruz, por amor e com dor expirou,
por mim e por todos, por minha maldade,
seu sangue divino por mim derramou.

O Espírito veio compor trilogia,
mistério maior da real teologia,
na qual eu dou crédito e que amo também.

O Santo e divino mistério sagrado,
virá, eu espero, tirar meu pecado,
levar-me de vez para o céu... Deus, Amém!

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Parte 3: Moçambique e Guiné-Bissau)


3.    MOÇAMBIQUE

Em Moçambique, com um índice menor de europeus do que em Angola, com uma fixação de população branca mais instável, não deveriam ter sido criadas as condições culturais suficientes para o desenvolvimento de uma actividade literária cujo eco chegasse até aos nossos dias [30]. Nem se dá pela presença do notável poeta português Tomás António Gonzaga (1744 — 1810), degredado do Brasil para a ilha de Moçambique cerca de 1792, onde faleceria. Não obstante, a imprensa da época faz-se eco de críticas ao poder e à administração; e a literatura, através de poemas publicados de quando em quando, ensaia os primeiros passos da sua existência. Destacam-se os semanários O Africano (1877), O vigilante (1882?), Clamor Africano (1892?) que não usavam desencadear denúncias e ataques à corrupção e ao desumano tratamento dado às populações africanas, embora por vezes revelando uma perspectiva contraditória na análise global dos problemas («Contributo para a história da Imprensa em Moçambique».       Vide       Bibliografia).       Jornalistas prestigiados a partir da primeira década do século XX são os irmãos, mestiços, José e João Abasini que fundam O Africano (1908-1920) e vão continuar a sua acção política e pedagógica em O Brado Africano (1918). A estes dois nomes se junta o do seu compatriota Estácio Dias. Todavia, não há, até agora, conhecimento de haver sido publicado em Moçambique qualquer romance ou livro de poemas, antes do Uvro da dor, 1925 (contos) de João Albasini, o que não significa, de maneira nenhuma, a hipótese, ainda que remota, da existência de qualquer obra que não tenha sido ainda detectada.

Como quer que seja, para a formulação de uma correcta ideia dos valores que povoam a última parte do século XIX e a primeira do século XX, em relação a qualquer destes países, é necessário ter em conta a colaboração dada aos almanaques, com especial atenção ao Almanach de Lembranças (1851 — 1932), publicado em Iisboa, mas para onde convergiam muitos poetas africanos da língua portuguesa.

4.   GUINE-BISSAU

Conforme adiante procuraremos desenvolver, não foram criadas na Guiné-Bissau condições sócio-culturais propícias à revelação de valores literários. Basta termos presente que o primeiro jornal dessa ex-colónia, o Pró-Guiné, foi fundado em 1924. Há, no entanto, que destacar uma figura de relevo, a solicitar as atenções da investigação, o cónego Marcelino Marques de Barros (1843 — 1929) que no campo da etnografia (Literatura dos   Negros,    1900)    desenvolveu    grande    aplicação, sintonizando-se em qualidade com os especialistas portugueses coevos que, frize-se, eram de nível europeu. Para além da obra citada deixou colaboração dispersa, inclusivamente no Ahnanach LusoAjricano para 1899 (Cabo Verde), na Revista Lusitana, A Tribuna, Boletim da Sociedade de Geografia de Usboa, Anais das Missões Ultramarinas; Voz da Pátria, na qual publicou canções e contos, dois dos quais republicados por J. Leite de Vasconcelos em Contos populares e lendas, vol. 1, 1964. Finalmente parece ter deixado um manuscrito: «Contos e cantares africanos», por certo da Guiné-Bissau.
–––––-
Nota:
[30] Aqui nos cumpre esclarecer, se para tanto houver necessidade. Quando ao longo das nossas intervenções nos referimos a uma maior ou menor presença europeia ou a um maior ou menor índice de mestiçagem como fundamento de uma maior ou menor actividade cultural ou literária, é evidente que não pretendemos emprestar a estas afirmações um carácter racial, mas sim cultural e político. Os alicerces de uma literatura neo-africana do período colonial construíram-se a partir de uma burguesia europeia, europeizada ou africana. O povo, o homem africano, esse continuando analfabeto, longe das influências culturais de raiz europeia, manteve-se alheio ao processo literário. Os jornalistas, os poetas, os ficcionistas teriam forçosamente de ser recrutados nos estratos sociais de onde emergiam, normalmente, aqueles que teriam acesso à escola, à instrução, à cultura.

Continua… S. Tomé e Príncipe

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

domingo, 22 de julho de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 615)

Uma Trova de Ademar

Cada verso que componho,
nele, eu conto um sonho meu;
todos nós temos um sonho...
E cada um que conte o seu!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


À tardinha, junto ao cais
no meu porto da Ilusão,
como dói amar demais
a quem não tem coração !
–Ialmar Pio Schneider/RS–

Uma Trova Potiguar


A solidão me angustia
e à noite aumenta o meu drama,
vendo a cadeira vazia
que a tua ausência reclama!
–Prof. Garcia/RN–

Uma Trova Premiada


2002 - Campos de Goytacazes/RJ
Tema - LIVRO - 1º Lugar

Gerador de paz e calma,
que dispensa cerimônia,
o livro é o jantar da alma
nas noites claras de insônia.
–Flávio Roberto Stefani/RS–

...E Suas Trovas Ficaram


Buscando novas auroras,
no meu viver sem ninguém,
me embala a dança das horas
pelo amanhã que não vem.
–Lavínio Gomes de Almeida/RJ–

Uma Poesia


Vou cumprindo o meu destino
sem renegar o que fiz;
na composição dos versos
eu me julgo um aprendiz,
mas na ciranda dos anos,
somando perdas e danos,
eu sou um homem feliz !
–Ademar Macedo/RN–

Soneto do Dia

SONHOS MORTOS.
–Pe. Antônio Tomás/CE–


Tive sonhos azuis na mocidade
que vinham, como pássaros em festa
encher-me o peito - um canto de floresta –
de gratos sons, de viva alacridade.

Mas um dia a cruel realidade
pôs-lhes em cima a rude mão funesta
e exterminou-os... Nenhum mais me resta
na minha negra e triste soledade.

Hoje o meu peito inerte, mudo e frio,
se converteu num túmulo sombrio
por sobre o qual, gementes e tristonhos

alvejantes fantasmas se debruçam:
- são as meigas saudades que soluçam
sobre o jazigo eterno dos meus sonhos!

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Parte 2: Cabo Verde)

(foi mantida a grafia original)

2. CABO VERDE

De qualquer modo, será de admitir ter sido menos resistente e organizada a vida cultural em Moçambique do que em Angola e Cabo Verde [15]. É certo que de uma maneira geral os intelectuais cabo-verdianos de origem europeia terminaram por emigrar para Portugal, na maioria dos casos por motivos familiares, e foi em Lisboa que muitos se fizeram escritores, naturalmente desenraizados dos problemas da Terra-Mãe, alguns deles acabando por alcançar lugar de prestígio nos meios literários lisboetas, deixando obras de mérito, como Antónia Gertrudes Pusich (1805 — 1883) e Henrique de Vasconcelos (1875 — 1924), autor de uma vasta obra [16]. No entanto, criado e accionado pelo cónego António Manuel Teixeira, o Almanach Luso — Africano (2 vols., 1894 e 1899) regista colaboração de natureza literária.

Porventura período ainda mal estudado, afirmações definitivas podem induzir-nos em erro. No entanto, cada vez mais se nos enraiza esta convição: não houve em Cabo Verde uma verdadeira literatura colonial por muito insólita que possa parecer esta afirmação. O período colonial não implica forçosamente a existência de uma literatura colonial nos termos em que para trás a designámos. A colonização, a partir da segunda metade do século XIX, havia já adquirido no Arquipélago uma feição própria. Pelo visto, a posse da terra e postos da Administração, a pouco e pouco transitavam para as mãos de uma burguesia cabo-verdiana, mestiça, branca ou negra. Isto, que não condiciona a exploração, pode condicionar as relações da exploração e alterar assim a natureza da oposição: em vez de colonizado/colonizador, flectiria, em grande parte, para explorado/explorador, tal como sucede nas sociedades de tipo capitalista, salvaguardando, claro, e sempre, os aspectos de uma situação especificamente colonial, notadamente nas relações entre o poder político e as populações.

Um exemplo elucidativo do que acabamos de afirmar, entre outros, é a narrativa de José Evaristo de Almeida, por nós há alguns anos referenciado, O escravo, cuja acção decorre na primeira metade do século XIX e se situa na ilha de Santiago com incidências, através de jlashbacks, na ilha de Santo Antão, e referências a Iisboa e a Bissau [17].

Marcado, como é óbvio, pelas características da literatura do período romântico, nos segmentos da intriga ganham realce a exacerbação dos sentimentos de amor ou de fraternidade, o amor platónico, a trama dramática das relações familiares no jogo do imprevisto, chegando a esboçar-se o incesto e, de sequência em sequência, na acumulação dos acontecimentos, a tragédia desencadeia-se, alarga-se, intensifica-se. Uma das virtudes deste texto está em que a quase totalidade das personagens manipuladas são africanas (negros, mestiços, mulatos). E o espaço é o da escravidão, abrindo-se-nos à compreensão de um mundo longínquo no tempo, permitindo uma perspectiva diacrónica de largo alcance. Assim, e em termos de escrita, ficamos a saber, ao vivo, que senhores de escravos havia que eram africanos: pelo menos, mulatos.

Romance libertador, procurando redimir a humilhação escrava e compreender e valorizar o homem africano em geral; organização romanesca equilibrada, a linguagem d'0 escravo suporta o confronto com autores mais do que minimamente dotados, com ressalva para os diálogos, demasiadamente retóricos, desajustados à capacidade expressiva dos protagonistas — mas esse é também um senão que se pode endossar a muitos escritores de valimento da época romântica (e não apenas).

Ora este texto de José Evaristo d'Almeida, na verdade, vem ao encontro daquilo que nos andava, até há pouco, no domínio da suspeição: o não ter havido em Cabo Verde uma literatura colonial.

O escravo é um exemplo acabado ao qual podemos juntar, também por localização recente, outros textos, e estes agora de autores cabo-verdianos. António de Arteaga: «Amores de uma creoula», 1911 [18] e «Vinte anos depois», 1911 [19]; Guilherme A. da Cunha Dantas (século XIX — 1888): «Bosquejos d'um passeio ao interior da ilha de S. Thiago», 1912 [20], «Contos singelos — Nhô José Pedro ou Scenas da ilha Brava», 1913 [21], e «Memória de um rapaz pobre», romance, 1913 [22] Eugênio Tavares (1867 — 1936): «Vida creoula na América», 1912 - 1913 [23], «A virgem e o menino mortos de fome», 1913 [24], «Dramas da pesca da baleia», 1913 [25]. E com este registo, que ora se faz, ao que julgamos pela primeira vez, se começa a preencher a grande lacuna que vinha envolvendo o quadro histórico da literatura cabo-verdiana no século XIX e começos do século XX.

De um modo geral, estes autores procedem às suas abordagens colocando-se dentro do universo cabo-verdiano e o seu registo é dominado pelo concurso de algumas das contradições do sistema social, donde uma mensagem criticamente positiva e esclarecedora.

Cedo em Cabo Verde se teria criado e desenvolvido o ensino primário particular, e depois o secundário. Há notícia (assinalamo-lo em nota), da criação de bibliotecas, como a da Praia, de associações culturais, entre outras.

O padre António Vieira, numa das suas derrotas para o Brasil, de passagem pela que é hoje cidade da Praia, capital de Cabo Verde, dá-nos uma ajuda para visionarmos um tanto melhor esse grau de desenvolvimento e saber, havido já no recuado século XVII: «São todos pretos, mas somente neste accidente se distinguem dos europeus. Tem grande juizo e habilidade, e toda a politica que cabe em gente sem fé e sem muitas riquezas, que vem a ser o que ensina a natureza». Adiantava ainda que havia ali «clérigos e cónegos tão negros como azeviche; mas tão compostos, tão auctorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e bem morigerados, que podem fazer invejas aos que lá vemos nas nossas cathedraes» [26].

Por outro lado, ali se vai reestruturando uma cultura caldeada nos valores africanos e europeus, tendendo para uma univalência cultural e construindo uma harmonia racial que contrasta, por exemplo, com o caso antilhano — e isto para referirmos um fenómeno de aculturação também de natureza insular. O sentimento da cor da pele tão diluído é que a literatura cabo-verdiana não chega a denunciar a cor das personagens. E, se tal acontece, a distinção vem envolvida de uma carga afectiva [27].

Tudo quanto vem de dizer-se pressupõe não só a existência de condições propícias ao aparecimento de produtores de textos como também à formação de uma literatura de características especiais no seio do próprio século XIX. A maioria sem livro publicado, é certo. Aos nomes já referidos ajuntamos mais os de poetas como Luiz Theodoro de Freitas e Costa, (1908 — Séc. XX), José Maria de Sousa Monteiro Júnior (1846 — 1909) e Custódio José Duarte, (1841 — 1893), este último possivelmente sem livro publicado. E a estes há que agrupar figuras esquecidas por jornais, revistas e almanaques, como Manuel Alves de Figueiredo de Barros, (1895 — séc. XX), António Corsino Lopes da Silva (1893 — séc. XX), João Mariano, (1891 — séc. XX), já citado, Gertrudes Ferreira lima (séc. XIX — séc. XX), todos poetas. Como poetas são Joaquim Maria Augusto Barreto (1850 — séc. XK), Luis Medina Vasconcelos (séc. XIX — séc. XX), Rodrigo Aleixo ou, com obra publicada, João José Nunes, (1885 — c. 1965/6), Mário Duarte Pinto, (1887 — 1958) [28]. A partir da década de vinte o nome que se impõe à consideração pública é o de José Lopes (1872 — 1962), de par com o de Eugênio Tavares (1867 — 1930) (este, essencialmente de expressão dialectal) e o do poeta bilingue Pedro Cardoso (c. 1890 — 1942), também autor do estudo Folclore caboverdiano (1933; finalmente, Januário Leite (1865 — 1930).

Foi todo este percurso de quase um século que funcionou como fermento da original explosão trazida pela Claridade, como um «longo processus subterrâneo de consciencialização cultural» (Jaime de Figueiredo in Introdução à antologia Poetas modernos cabo-verdianos, 1961, p. XVI).

Mas, pergunta-se: José Lopes ou Pedro Cardoso (este enquanto poeta de língua portuguesa) ou Januário Leite trouxeram ou não uma contribuição válida para a moderna poesia? Considera-se a autêntica literatura cabo-verdiana aquela que exprime a cabo-verdianidade, ou seja o conjunto de textos cujo enunciado reflecte o real cabo-verdiano. Com frequência, e alguma veemência, a partir de década de trinta, a questão ficou devidamente clarificada e demarcada, embora nem sempre isenta de excessos, como quase sempre acontece em momentos de ruptura (e a parte de responsabilidade que nisso nos cabe não a queremos enjeitar) [29].

Mas importa averiguar por que razão estes escritores, com especial relevo para José Lopes, sofreram o ataque e depois a marginalização das gerações que lhes sucederam. Os intelectuais e escritores, a partir da Claridade, como adiante teremos ocasião de verificar, projectaram o seu esforço criador nos grandes segmentos que representavam ou simbolizavam a parte viva da sua pátria, ou seja, aquela que não adoptava os critérios e os padrões que serviam o colonialismo; e assim, aberta ou implicitamente, condenavam tudo quanto vivesse fora deste projecto nacional.

Simplesmente, acontece que o arquipélago de Cabo Verde é hoje uma República independente. A sua realidade política é, por essência, outra bem diferente. A sua realidade histórica, outra é. Com isto se conjuga também uma nova realidade cultural. A este período, logicamente corresponderá uma nova literatura ou uma nova fase da sua literatura. Subjacente ou emergente a tudo isto está uma consciência nacional. Está a formação de um profundo sentimento nacional que há-de alimentar-se nas raízes da longa história do processo social e político de Cabo Verde, não a partir da data em que a luta foi desencadeada pelo P. A. I. G. C, não a partir da data das teses de Amilcar Cabral (embora por via de tudo isto mesmo), mas a partir da remota origem cabo-verdiana.

E esta começa quando os portugueses fizeram desembarcar nas ilhas os primeiros colonos e os primeiros escravos. Este será o caminho para a busca de uma totalidade histórica, política, social, económica e cultural. Concomitantemente, o mesmo sucederá para a sua literatura. Com isto queremos dizer que estamos convencidos (só aos cabo-verdianos competirá fazer o que julgarem por bem) que os futuros historiadores da literatura, os futuros estudiosos do processo cultural cabo-verdiano terminarão por considerar a globalidade da actividade literária levada a cabo ao longo das décadas ou de séculos pelo homem cabo-verdiano. E, deste modo, todos aqueles que foram considerados antecessores, ou precursores, terão o seu lugar próprio na história da literatura cabo-verdiana. Se este critério vier a ser considerado correcto, naturalmente ele se há-de aplicar a Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. As futuras histórias da literatura e da cultura dos novos países africanos terminarão por recuperar aqueles autores naquilo que na sua obra houver de significação nacional. Não foi outra coisa o que aconteceu no Brasil e difícil se nos afigura que possa ser de outro modo nos casos vertentes. É evidente que, ao referirmos o Brasil, estamos a considerar sobretudo o período colonial encerrado com a independência do Brasil em 1822. Isto não invalida que, para além das eventuais ou possíveis subdivisões, não venha a considerar-se a literatura cabo-verdiana em duas grandes fases: antes e depois da Claridade.
––––––––
Notas:
15 Segundo Gabriel Mariano, de 1853 a 1892 fundaram-se na cidade da Praia (Cabo Verde) treze associações recreativas e culturais como, por exemplo, a Dramática Associação Igualdade, Sociedade Gabinete de Leitura, Associação Literária Grémio Cabo-Verdiano (Entrevista ao Diário Popular (suplemento literário), 23 de maio de 1963.

16 Henrique de Vasconcelos, cabo-verdiano de nascimento, cremos que desde cedo radicado em Portugal, enquanto vivo desfrutou de prestígio literário em Portugal. É autor, pelo menos, das seguintes obras: Flores cinzentas (p), Coimbra, 1893; Os esotéricos (p), Lisboa, 1894; A harpa do Vanadio (p), Coimbra,
1895; Amor perfeito (p), Lisboa, 1895; A mentira vital (c), Coimbra, 1897; Contos novos (c), Lisboa, 1903; Flirts (p), Lisboa, 1905; Circe (p), Coimbra, 1908; O sangue das rosas (p), Lisboa, 1912.
De temática europeia, qual das histórias da literatura o irá recuperar? A portuguesa ou a cabo-verdiana?

17 Não existe nenhum exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa do romance O escravo (1856) de José Evaristo d'Almeida. O único exemplar conhecido encontra-se na posse dos descendentes do autor, residentes em Cabo Verde. Foi por informação de um deles, Amiro Faria, que o registámos em A aventura crioula, 2. edição, 1973. Possuímos uma fotocópia. No entanto, foi republicado in A Voz de Cabo Verde desde o n.° 244, 22 de maio de 1916 ao n° 294, de maio de 1917,

18 António de Arteaga, «Amores de uma creoula» in A de Cabo Verde, Praia, Cabo Verde, ano I, n.° 1, março de 1951 até ao n.° 17,10 de maio de 1911.

19 Idem, «Vinte anos depois», idem n.° 19, 25 de dezembro de 1911.

20 Guilherme A. Cunha Dantas, «Bosquejos d'um passeio ao interior da ilha de S. Thiago», idem, n.° 22,15 de janeiro de 1912 ao n.° 63, 28 de setembro de 1912.

21 Idem, «Contos singelos. Nhô José Pedro ou scenas da ilha Brava», idem, n.° 78, 10 de Dezembro de 1913 ao n.° 96, 16 de junho de 1913.

22 Idem, «Memória de um rapaz pobre», idem, n.° 106, 25 de agosto de 1913.

23 Eugênio Tavares, «Vida creoula na América», idem, n.°68, 12 de dezembro de 1912, e n.° 70, 10 de dezembro de 1913. O autor, Eugênio Tavares, faleceu em 1888. Logo, a publicação desta novela é póstuma. E das duas uma: ou se aproveitou um inédito depositado nas mãos de familiares ou amigos ou então terá de se admitir a utilização de um exemplar de cuja existência não se sabe o paradeiro. O mesmo se aplica às suas novelas registadas.

24 Idem, «A virgem e o menino mortos de fome», idem, n.° 73, 6 de janeiro de 1913 ao n.° 77, 3 de fevereiro de 1913.

25 Idem, «Drama da pesca da baleia», idem, n.° 101, 21 de julho de 1913 ao n.° 104,11 de agosto de 1913.

26 «Carta do Padre António Vieira escripta de Cabo Verde ao padre confessor de sua alteza indo arribado aquelle Estado» [Datada de 25 de dezembro de 1652] in Cabo Verde. Praia, Cabo Verde, ano II, n.° 23, pp. 11-12.

27 Vide Baltasar Lopes — Cabo Verde visto por Gilberto Freyre. Sep. boletim Cabo Verde, n.° 84-86. Praia, Cabo Verde, 1956; Gabriel Mariano — «Do funco ao sobrado ou o mundo que o mulato criou» in Colóquios cabo-verdianos, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1959; Manuel Ferreira — A aventura crioula, 2. ed. Lisboa, Plátano Editora, 1973; António Carreira — Cabo Verde — formação e extinção de uma sociedade escravocrata — 1460-1878. Porto, 1972.

28 A este respeito José Lopes fornece elementos de interesse em «Os esquecidos» in Cabo Verde, ano III, n.° 35, Praia, Cabo Verde, agosto de 1952, pp. 29-32; «Ainda os nossos poetas», idem n.° 36, pp. 9-10; e sobretudo em «Vida
colonial» in Vida Contemporânea, ano II, n.° 15. Lisboa, Julho de 1935, pp. 196-204; idem, n.° 18, outubro de 1935, pp. 725-731, e n.° 20, dezembro de 1935, pp. 876-882. Vide também Nuno Catarino Cardoso: Poetisas portuguesas. Lisboa, 1917; Sonetistas portugueses e luso-brasileiros. Lisboa, 1918; Canáoneiro da saudade e da morte. Lisboa, 1920.

29 José Lopes, apesar de uma ou outra alusão aos seus «Irmãos hespertanos!» ou aos seus «bons irmãos de Dakar» (entenda-se cabo-verdianos lá residentes) ou ao seu «Lameirão», «a nossa antiga horta?...», de São Nicolau; ou de chorar a sua desolação quando, por lapso de um ano, se viu obrigado a emigrar para Angola: «Longe de Cabo Verde, em terra estranha/[...] chorarei minha mágoa confidente,/[...] No desolado exílio deste mato...», apesar de tudo isso, o momento em que o poeta partilha do destino do seu próprio povo é na poesia «A catástrofe da Praia», escrita em 1949, quando um grupo numeroso de esfomeados, que recebia assistência na capital, ficou soterrado num barracão que desabou por força de um temporal: «Não bastavam as fomes? A Miséria/Prolongada, de tantos anos,/tantos,/Sem uma luz na escuridão ciméria?/Tantas angústias tanta Dor e prantos?» Mas nem esta longa poesia de quarenta e quatro quadras enformadas de referências mitológicas e conceitos mítico–religiosos pode autorizar-nos a incluir o nome de José Lopes no capítulo da moderna poesia cabo-verdiana.

Por sua vez, a poesia de Januário Leite (1865-1930) é a viva conotação do drama individual de um desadaptado morbidamente incompreendido e infeliz: «As minhas horas sombrias,/São horas do meu prazer;/Quem nunca teve alegrias,/Afeiçoa-se ao sofrer...»

Pedro Cardoso (c. 1890-1942), autor de «Crioula» («Crioula divina/e moça e menina!/(...) É lírio, ébano e coral!»); de «Morna» («Flor de duas raças tristes/Vindas da Selva e do Mar,/Que a nós se acharam um dia/Na mesma praia ao luar»); de «Cabo Verde», («Cabo Verde, que ironia bruta e negra perdida/Toda aberta em ígneo algar/por sobre a verde campinha/Das ondas verdes do mar!»); e de outros poemas, tendo como ponto de partida o vulcão do Fogo, sua ilha natal: «Vesúvio cabo-verdiano!», «Padrão imenso sobre o mar erguido», «simbolizando» «o futuro talvez de um grande povo!», assim poesia de ambiência regional, com relevo para a «VI» do livro Hespérides, sobre as estiagens, citando inclusive a «fome crónica e dura»; apesar de toda esta preocupação humana, que lhe dá o natural direito de ter alcançado maior grau de autenticidade regional do que o próprio José Lopes — mesmo assim, por muito respeitável que tenha sido a actividade poética destes autores, eles ficarão como antecessores, e não como precursores. Eles serão o primeiro termo de uma relação. Eles antecedem, mas não anunciam, não predizem. Justificam, mas dificilmente deixam adivinhar ou perceber a natureza do termo consequente.


 Continua… Moçambique e Guiné-Bissau

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

Libia Carciofetti (Os Amigos São…)

Glicinia
Libia Beatriz Carciofetti é natural de Argentina.

(tradução por J. Feldman)

Os amigos são como o "cachecol" que me teceu minha mãe ... Tão quente e macio! para conservar o seu perfume, embora ela não esteja comigo.

São os caramelos de menta que tenho sempre em minha mesa de cabeceira, no caso de eu ter uma tosse à noite, estendo o meu braço e costumo sentir o "barulhinho" do papel celofane ao desenrolar-los, já me acaricia a garganta ..

Os amigos são os "sapatos" que conservo escondido por ali... e quando eu provei pela primeira vez dei-me conta que eu estava usando uma luva ...

São as "figurinhas" brilhantes que jogava no playground com cara ou coroa, e ganhava e as acomodava entre as páginas do meu livro bem passadas… e não queria perdê-las.

Os amigos são como os "kinder ovos" que papai me trazia porque sabia que toda a noite eu estive pensando “qual seria a surpresa que traria consigo? sem importar se eu comer a cobertura.

São como o "lenço" no bolso da roupa ou avental, pois se me resfrio ...dobrado em triângulo com pontinha tecida por minha avó.

Os amigos são como o "cartão postal" de aniversário que me enviou meu pai. Porque trabalhava muito longe e não podia estar quando eu fiz 5 anos.

São como as "meias" de lã com as quais “patinava” no assoalho da casa sem raspar.

Os amigos são como o "chocolate" quente nas tardes de inverno, que nos alegra o dia… pois com seu calor nos aquece até a alma.

São como o "cofrinho" que nunca se enche, porque sempre que precisamos de "ajuda financeira" sem ser visto abrimos e tiramos moedas.

Os amigos são como as "canetas" que às vezes não escrevem e devemos esfregar o cartucho, aquecê-los para continuar escrevendo.

São como a mascote que sempre nos recebe ao entrar em casa e faz palhaçadas para nós a percebamos.

Os amigos são o "oásis" no deserto da vida, sempre tem algo para nos dar, e quando são verdadeiros, nunca nos censuram, nem pedem nada em troca.

Eles são como as "flores" que adornam os jardins, deleitando os olhos e perfumando a todos que passam.

Meus amigos são como um bando de "glicinas", minha flor favorita ... cada flor ligada a um galho e todas formam um ramalhete... se ... se ... meus amigos são isso, um buquê de florzinhas perfumadas, que no muro de minha vida se vão misturando e me afogando em amor e ternura ... São de sexos diferentes, raças diferentes, idades diferentes, culturas diferentes ...

São como as velas de aniversário que se sopra para apaga-las, mas elas continuam brilhando.

E hoje o mundo comemora o dia do amigo, eu agradeço a Deus, porque graças a Ele, compreendi o verdadeiro significado da amizade ... e por me amar tanto, me deu até seu filho, o único que tinha ... e disse em sua palavra que eu sou sua amiga se eu fizer o que ele quer ... para servir e amá-lo ...

Não é uma bênção ser amigo de Deus?

Obrigado, amigos queridos, por perfumar minha vida com sua amizade!

Fonte:
Texto enviado pela autora no Dia do Amigo

Jogos Florais de Campos dos Goytacazes (Programação)

Fonte:
Diamantino Ferreira

Montagem do convite por J.Feldman

Ialmar Pio Schneider (Soneto ao Dia do Cantor Lírico)

Quando a tarde indolente se reclina
no horizonte de fogo enrubescido,
dos pássaros nos ares o alarido
recorda do cantor a pobre sina.

E é como uma lembrança que fascina
o espírito de quem desprevenido
procura a solidão sem um gemido
para sofrer e amar na paz divina.

Depois a noite chega e a lua andeja,
caminhando nos céus embevecida,
é a rainha que não sabe o que deseja...

E na imensa amplidão já se vislumbra
as estrelas chorando a dor da vida
e a Terra envolta em pálida penumbra…
Fonte:
O autor

Nilto Maciel (Contos Reunidos)

Artigo por Taize Odelli

É estranho começar a ler uma reunião de contos de determinado autor a partir de seu segundo volume, assim como se começasse a ler uma saga da metade da história em diante. Mas não tenho culpa alguma se os livros nunca me aparecem na ordem correta.Nilto Maciel me enviou seus Contos Reunidos: Volume II, e assim tive contato com mais um trabalho partindo da metade. Mas isso deve ser normal para muitos outros leitores. Publicado em 2010 pela editora Bestiário, o livro reúne textos de três outras publicações do autor cearense: As Insolentes Patas do Cão(1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999).

Em textos geralmente curtos e lineares, Nilto Maciel aborda histórias corriqueiras e também fantasias simples que fazem parte do imaginário popular das pequenas cidades. O autor vai dos desejos de homens feitos e suas frustrações sexuais à descoberta inocente da sexualidade de jovens adolescentes (às vezes não tão inocentes assim). Narra uma história inteira pelos olhos de um cão ou outro animal. Conta as investidas intelectuais de escritores e professores, cria personagens perdidas no mundo dos sonhos, encerramento de muitos de seus contos. Seus textos oscilam entre a malícia e a inocência, mas sempre com um toque melancólico.

Em alguns textos, Nilto Maciel confunde o leitor quanto ao tempo ou lugar de suas histórias. Um conto passado em São Paulo, cidade grande, nos tempos atuais pode parecer estar ambientado no interior do estado, em uma cidadezinha minúscula ou também em épocas passadas, onde as pessoas se falavam mais e se importavam mais com a vida das outras. As ruas secas e empoeiradas do interior nordestino também são evocadas pelo autor, lembrando personagens cômicas e caricatas que costumamos ver nas adaptações para a TV. Personagens que por vezes se repetem, pois suas histórias não cabem apenas em um conto só – é o caso da beata que, em um segundo conto, tem um filho e emplaca mais um mistério em sua cidade. E há espaço para aqueles que já existiam, protagonistas de momentos históricos ou outros romances – como Dalila, um inusitado encontro entre Ícaro e Santos Dumont, um pesadelo de Pôncio Pilatos e muitos outros casos de personagens conhecidas.

Vários gêneros se misturam nos três livros reunidos neste único volume: policial, ficção científica, fantasia, história, mas todos abordados de maneira a identificar o autor. Então o leitor percebe que a história da criança que se assusta com o cão, do homem que aprende a ser ventríloquo para passar cantadas, do faxineiro que dorme no confessionário, o que cria um tigre para matar a mulher e do professor que nunca terminou de escrever um livro são, apesar de personagens e temas totalmente distintos, frutos da cabeça da mesma pessoa. Ele criou uma gama tão abrangente de histórias que é impossível numerar todas aqui, ainda mais porque ele resolveu experimentar diversos caminhos para determinado tema, às vezes fantásticos, irreais ou estranhos, outras mais concretos, com o pé no chão.

Contos Reunidos traz um apanhado vasto de histórias para serem lidas, com ou sem ordem. O leitor escolhe a melhor maneira de ler os contos de Nilto Maciel, de uma vez só ou em pequenas doses, tanto faz. Essa coletânea apresenta em cada virada de página uma nova história, um novo universo, e apesar de reconhecer o autor em cada uma delas – algo que acontece depois de certas páginas lidas – pode ser complicado memorizar cada conto lido, lembrar de todos os detalhes. Mas justamente essa fragmentação de histórias faz dos textos de Maciel fáceis de retornar, reler e armazenar a informação.

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