domingo, 4 de novembro de 2012

António Torrado (A Menina e o Burro)


Ilustração: Cristina Malaquias

Da Seleção Pavilhão de Contos Infantis

Era uma vez uma menina que conhecia o campo, mas de longe. Vira-o, uma vez, de passagem, da janela de um automóvel. Vira-o, mais vezes, de corrida, nos ecrãs da televisão. E vira-o, outras vezes, disfarçado de paisagem, nas folhas das revistas e nas tampas das caixas de chocolate. Esta menina, afinal, não conhecia o campo a sério.

Por isso, da primeira vez que foi ao campo, da primeira vez que pisou o chão rugoso do campo e respirou o ar vivo do campo e os cheiros todos do campo, a menina ficou, há que confessar, a menina ficou um tanto atordoada. 

Tropeçou numa pedra, comichou-lhe o nariz e picou-se nas urtigas. Mas, apesar destes contratempos, a menina, verdade se diga, não desgostou da experiência.

É que havia muita coisa para ver. Havia folhas que estalavam, quando ela as pisava. Havia carreiros de formigas, flores sem nome, canaviais bulindo, árvores ramalhando e, não muito além do caminho por onde a menina seguia, um burrito de orelhas espantadas. Tinha o pêlo cinzento e não era de peluche.

A menina, que já ouvira histórias de príncipes encantados por fadas más, pensou: "E se é um príncipe transformado em burro?"

Podia ser. Tinha os olhos pestanudos e olhava para a menina cheio de curiosidade.

"Eu dou-lhe um beijinho, desfaz-se o encanto e ele transforma-se em príncipe", pensou a menina. "Até pode ser que, mais tarde, queira casar-se comigo."

A menina, que já se via princesa, aproximou-se do burro, para concretizar o que tinha pensado. Mas o burro é que não estava pelos ajustes. Quando viu a menina mais perto, fugiu a galope.

A menina correu atrás dele:

- Não te faço mal. É só um beijinho - prometia ela.

Mas o burro não queria saber. Era um burro novo, sem nenhuma prática social, e aquela criaturinha enervava-o.

Naturalmente, não era um príncipe encantado. Devia ser só um burro.

Também nos parece que sim.

Clevane Pessoa (Haicais)


Os risos das crianças: 
 No cristal, bolas de gude 
 — luzes trepidantes ­ 
  
Pássaros canoros 
 Energia em expansão 
 Almas projetadas... 

Gestação do arco-íris 
 Leveza atestando o efêmero 
 — Bolha de sabão. 
  
Reflexo de prata: 
 Luar despeja-se no mar 
 — Espelho do céu 
  
Leve borboleta 
 Vitória sobre a crisálida: 
 Pétalas aladas…

Sons de flauta doce:
 Murmúrios edulcorantes
 - Vento no bambual...

 Órgãos musicais
 De sonata progressiva:
 Cigarra insistente

Armadilha bela:
 Luz atraindo mariposa
 - Destinação cruel

Força dos opostos
 Espirais de eternidade
 Yin e yang: você e eu

Pescoços de cisne
 Transformam em corações
 O espaço vazio…

Mini-borboletas
 Orquídeas papilonáceas
 - Só não podem voar

Violinista freme
 Libélula com o arco
 Vibrações no espaço...

Pássaros nos fios
 Como notas musicais:
 Celestiais canções...
  
A chuva pingando
 Devassa o botão da flor
 De / flora antes da hora...

Pele contra pele
 Proximidade de cheiros:
 Mistura de humores

Fonte:
Clevane Pessoa de Araujo Lopes. Mix de Haikais e Poetrix. Editora: AVBL,  www.avbl.com.br, 2005

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 12 de novembro: A Tomada do Rio Alma


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

Desta vez não há razão de queixa. O paquete de Southampton trouxe-nos uma boa coleção de notícias a respeito da guerra do Oriente. A curiosidade pública, suspensa há muito tempo, pôde finalmente saciar-se com alguns episódios interessantes, como o de uma batalha em campo raso, o da passagem de um rio, o da  morte de um general e da fugida de um príncipe à unha de cavalo.

Passada a primeira impressão. Cada um tratou de comentar as notícias a seu modo, de maneira que já ninguém se entende, e  não há remédio senão apelar para o vapor seguinte a fim de sabermos a verdadeira solução do negócio.

A tomada do rio Alma sobretudo abriu um campo vasto a essa guerra de ditos espirituosos e de epigramas, em que se acham seriamente empenhados os russos e turcos desta cidade.

Uns entendem que, à vista  das notícias, é fora de dúvida que Mesckintoff deixara tomarem-lhe Alma, embora a muito custo escapasse com o corpo salvo das mãos dos franceses e ingleses. Entretanto, as próprias notícias dadas pelos jornais, ninguém pode duvidar que quem perdeu a alma não foi o príncipe russo, mas sim o General Saint-Arnaud.

No dia da chegada do paquete, um espirituoso redator de uma das folhas diárias da corte dizia, ao ler a descrição da batalha, que o êxito da guerra estava conhecido, e que a Rússia nada podia fazer desde que Nicolau perdera Alma. Ao contrário – retrucou-lhe o seu colega – agora é que os ingleses e franceses estão em apuros, porque os russos, depois da batalha, ficaram desalmados e não há nada que lhes resista.

Muita gente, que sabe como os franceses são fortes nos trocadilhos e jogos de palavras, persuade-se que talvez todo este barulho da batalha de Alma não passe de algum calembur, que eles nos querem impingir. Não vou tão longe nas minhas suposições; porém, quando teio as duas participações de Lord Raglan e de Saint-Arnaud, não posso deixar de lembrar-me daquela antiga anedota dos dois compadres da aldeia, que descobriram o modo de se elogiar a si mesmos sem falar à modéstia.

Em toda essa batalha só há a sentir uma coisa; e é que os aliados fizessem poucos prisioneiros, e não pudessem ajuntar uma boa coleção de príncipes russos, que tivessem nomes de oito sílabas com a terminação em off, que é de rigor. Se isto acontecesse, seria uma felicidade para o gênero humano; porque os tais boiardos passariam à França, espalhar-se-iam pela Europa e talvez chegassem ao mercado do Brasil, onde imediatamente se havia de manifestar uma grande procura deles para noivos. Se viessem alguns da Hircânia, e uma meia dúzia de magias da Hungria, também não seria mau, para assim haver mais onde escolher conforme o gosto de cada um..

Enquanto, porém não lhe é possível mandar-nos esse gênero de que tanto necessitamos, a Europa vai nos enviando algumas cantoras exímias (é o termo do rigor), para nos distrair as noites de uma maneira agradável. Chegou ultimamente uma, que, se a reputação corresponder ao nome, terá de apagar de todo no espírito público as recordações que deixou a Stoltz, se não como cantora, ao menos como excelente trágica.

Criar-se á provavelmente um terceiro partido que se intitulará Raquelista, e então o teatro tornar-se-á interessantíssimo. Aplausos de um lado, pateada do outro, bravos, gritos, estalinhos, caixas de rapé a ranger, tudo isto formará uma orquestra magnífica, e realçará a voz das cantoras de uma maneira admirável. Isso pelo que toca ao ouvido; quanto à vista, tomando a diretoria o bom acordo de reduzir a iluminação brilhante do teatro, as nuvens de poeira, que se levantam da platéia, criarão o demi-jour necessário à ilusão ótica.

Que progresso! Possuiremos um Teatro Lírico, no qual não se ouvirá música e quase nada se enxergará! Só quem não tiver uso de freqüentar teatros é que poderá negar as grandes vantagens que resultam de tão engenhosa invenção.

Enquanto os empresários europeus se matam e se esforçam por contratar boas cantoras, ensaiar as melhores óperas, e adquirir pintores cenógrafos para satisfazer o público e dar-lhe espetáculos que agradem, nós descobriremos o meio de poupar todo  este trabalho inútil e dispendioso. 

Para isto bastam  duas ou três cantoras com os seus competentes partidos, e, se houver também uma dançarina como a Baderna, melhor será. Com estes elementos conseguir-se-á por noite umas quatro pateadas e algumas salvas de palmas; a noite tornar-se á animada, e o gosto pela música  italiana se irá popularizando cada vez mais.

Decerto, aquelas noites monótonas, em que levávamos a ouvir a Stoltz, comovidos e atentos aos seus menores movimentos, descobrindo um estudo da arte, uma inspiração do talento no seu gesto o mais simples, ou nas entonações graves de sua bela voz; essas noites frias e calmas, em que depois de longas horas de êxtases, a alma afinal transbordava de emoções e arrancava no fim da representação aplausos espontâneos; essas noites não valem os espetáculos animados, como temos agora, cheios de fervor e entusiasmo, e em que nos possuímos tanto do encanto da música, que todo o corpo se agita para dar a mais solene manifestação de amor à arte.

Um dilettante  é hoje no Rio de Janeiro o homem que se acha nas melhores condições higiênicas e que deve menos temer a invasão do cólera, porque ninguém o ganha em exercício. A cabeça bate o compasso mais regularmente do que a baqueta do Barbieri; as mãos dão-se reciprocamente uma sova de bolos, como não há exemplo que tenha dado o mais carrasco dos mestres de latim de todo o orbe católico. Dos pés não falemos; são capazes de macadamizar numa noite a rua mais larga da cidade.

Ajunte-se a isto os bravos, os foras, os espirros, os espreguiçamentos (novo gênero de pateada), e de vez em quando um  passeio lírico de uma légua fora da cidade, e ver-se-á que dora em diante, quando os médicos quiserem curar alguma moléstia que exija exercício, em vez de mandarem o doente para a serra ou para os arrabaldes, lhe aconselharão que se aliste nalgum dos partidos, chartonista ou casalonista, e vá ao teatro.

Um espírito observador, recorrendo a certos dados estatísticos, conseguiu também descobrir que o homem mais útil desta corte é o dilettante. Cumpre-me, porém, notar que, quando falamos em dilettante, não compreendemos o homem apaixonado de música, que prefere ouvir uma cantora, sem por isso  doestar a outra. Dilettante é um sujeito que não tem nenhuma destas condições, que vê a cantora, mas não ouve a música que ela canta; que grita bravo justamente quando a prima-dona desafina, e dá palmas quando todos estão atentos para ouvir uma bela nota.

São muito capazes de levantar alguma questão gramatical sobre a minha definição, tachando-a de paradoxo, ou demonstrando por meio da etimologia da palavra que estou em erro. Mas isto pouco abalo me dá; os gramáticos que discutam, fazem o seu ofício, contanto que não se arvorem em alfaiates ou comecem atalhar carapuças.

Voltando, porém, a nossas observações, é fato provado que o dilettante é o homem que mais concorre para a utilidade pública. Em primeiro lugar, o extraordinário consumo que ele faz de flores não pode deixar de dar grande desenvolvimento à horticultura, e de auxiliar a fundação de um estabelecimento deste gênero, como já se tentou infrutiferamente nesta corte antes do dilettantismo ter chegado ao seu apogeu.

Os sapateiros e luveiros ganham também com o teatro, porque não há calçado nem luvas que resistam ao entusiasmo das palmas e das pateadas. Na ocasião dos benefícios, as floristas e os joalheiros têm muito que fazer; e os jornais enchem-se de artigos que para os leitores têm o título de publicações a pedido, e para o guarda-livros da casa o de publicações a dinheiro.

Além de tudo isto, além dos estalinhos, dos versos avulsos, das fitas para os buquês, é preciso não esquecer a carceragem que de vez em quando algum vai deixar na cadeia, onde se resigna a passar a noite, fazendo um sacrifício louvável pelo seu extremo amor à arte.

Isso sem falar das outras vantagens que já apresentamos, como de fazer que não se ouça a música e não se veja  coisa alguma. De maneira que, assim, toda a ópera é boa e bem representada; e, estando o teatro escuro com a poeira, não há risco que as mocinhas troquem olhares malignos para as cadeiras. Só este último fato é de um alcance imenso; é uma garantia de moralidade pública!

Se a diretoria soubesse apreciar esses bons resultados, em vez de transferir constantemente o espetáculo por moléstias deste ou daquele, em vez de nos dar uma só representação por semana, regularizaria os espetáculos, e repetiria o Trovador cinqüenta vezes para que os moleques da rua aprendessem a assobiar de princípio  a fim toda esta sublime composição de Verdi, a qual daqui a alguns meses aparecerá correta e aumentada numa porção de valsas, contradanças e modinhas.

Outra coisa, a que a diretoria não tem dado muita atenção, é ao estado do edifício e à decência deste salão, onde se reúne a flor da sociedade desta corte. Agora que se trata com tanta eficácia  do asseio público, parece-nos que era ocasião que o asseio chegasse até o interior do teatro, e fizesse desaparecer essa pintura mesquinha, essas paredes sujas, e esse pó que cobre as cadeiras e que reduz as abas de nossas casacas à triste condição de espanador. A julgar pela poeira que se levanta quando aparece a Charton ou a Casaloni, creio que há no soalho do teatro terra para encher algumas carroças.

Se faltam à diretoria meios de remover essa terra, pode  requisitá-los da administração da limpeza pública, que por certo não se recusará, à vista da atividade que tem mostrado ultimamente nos trabalhos que lhe foram incumbidos.

Com efeito, embora em começo, o serviço já tem conseguido apresentar bons resultados; e basta percorrer as ruas desta cidade, para reconhecer os sinais de uma vigilância ativa, que vai pouco a pouco substituindo o desleixo e a incúria que ali reinava entre a lama e os charcos.

O Sr. Ministro do Império tomou, nesta questão da limpeza, o verdadeiro partido de um bom administrador e o expediente de um homem de ação. Enquanto a discussão se ateava, tratou de realizar a sua idéia, e criar com os fatos argumentos irresistíveis, argumentos que calam imediatamente no espírito público. Os escrúpulos cessaram, apenas as nossas ruas começaram a mostrar o zelo da autoridade; e creio que, removendo a lama e o cisco das ruas, se removerá igualmente qualquer oposição extemporânea  a uma medida de tanta utilidade.

Já podemos ter esperanças de ver nossa bela cidade reivindicar o seu nome poético de princesa do vale, e despertar de manhã com toda a louçania para aspirar as brisas do mar e sorrir ao sol que transmonta o cimo das serras. Talvez daqui a alguns meses seja possível gozar a desoras o prazer de passar à la belle étoile, durante uma dessas lindas noites de luar como só as há na nossa terra; ou percorrer sem os dissabores dagora a rua aristocrática, a rua do Ouvidor, admirando as novidades chegadas da Europa, e as mimosas galantarias francesas, que são o encanto dos olhos e o desencanto de certas algibeiras.

Esses passeios, que hoje já vão caindo um pouco em desuso, ainda se tornarão mais agradáveis com algumas novidades interessantes que se preparam naquela rua, e que lhe darão muito mais realce, excitando as senhoras elegantes e os gentlemen da moda a concorrer a esse rendez-vous da boa companhia.

O Desmarais está acabando de preparar a sua antiga casa com uma elegância e um apuro, que corresponde às antigas tradições que lhe ficaram dos tempos em que aí se reunia a boa roda dos moços desta corte, e os deputados que depois da sessão vinham decidir dos futuros destinos do país. Ali tinham  eles ocasião de estudar os grandes progressos da agricultura, fumando o seu charuto Regalia, e de apreciar os melhoramentos da indústria pelo efeito dos cosméticos, pela preparação das diversas águas de tirar rugas, e pela perfeição das cabeleiras e chinós.

Como o Desmarais, a Notre-Dame de Paris abrirá brevemente as portas do seu novo salão, ornado com luxo e um bom gosto admirável. As moirées, os veludos e as casimiras, todos os estofos finos e luxuosos, e destinados aos corpinhos sedutores das nossas lindezas, terão uma moldura digna deles, entre magníficas armações de pau-cetim; e o pezinho mignon que transpuser os umbrais desse templo da moda pousará sobre macios tapetes, que não lhe deixarão nem sequer sentir que pisam sobre o chão.

Assim, pois, quando os pais e os maridos passarem de longe, e virem este belo salão com toda a sua elegância, resplandecendo com o reflexo dos espelhos, com o brilho das luzes, apressarão o passo, e, se tiverem lido o Dante, lembrar-se-ão imediatamente da célebre inscrição:

Lasciate ogni esperanza, voi che entrate;

Ma guarda, e passa!

De todos esses progressos da Rua do Ouvidor o mais interessante, porém, pelo lado da novidade, é a Galeria Geolas, que deve nos dar uma idéia das célebres passagens envidraçadas de Paris. A Galeria Geolas vai da Rua do Ouvidor à Rua dos Ourives; tem uma extensão suficiente; apesar de um pouco estreita, está bem arranjada.

Os repartimentos formam um pequeno quadrado envidraçado, e já estão quase todos tomados. Na locação desses armazéns seria muito conveniente, não só aos seus interesses, como aos do público, que o proprietário procurasse a maior variedade possível de indústrias, a fim de que a passagem oferecesse aos compradores toda a comodidade.

Os moços de boa companhia que se reúnem ordinariamente num ponto qualquer da Rua do Ouvidor deviam tomar um daqueles repartimentos e formar como que um pequeno salão, que se tornaria o rendez-vous habitual do círculo dos flâneurs. Enquanto não pudéssemos ter um Clube, a passagem iria satisfazendo esta necessidade tão geralmente sentida.

Se ainda não estais satisfeito, meu amável leitor, com todas estas novidades, vou dar-vos uma, que suponho vos causará tanto prazer como me causa a mim; e é que estou fatigado de escrever, e por conseguinte termino aqui.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 717)



Uma Trova de Ademar  

Coloquei a foto errada. 
Viram logo os menestréis... 
Como eu vou subir escada 
Se me falta um dos meus pés? 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Ante a força intransigente,
para o caos a paz resvala...
- Deus, deste alma a tanta gente
que nem sabe como usá-la!!! 
–Carolina Ramos/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Saudade - no fim do dia, 
já sei por que me dói tanto: 
aumenta a melancolia, 
dobra as dores do meu pranto! 
–Prof. Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada  

2008   -   Maranguape/CE 
Tema   -   sonho   -   15º Lugar 

Um sonho é sonho, mais nada,
mas, às vezes, na emoção,
deixa marcas na calçada
das ruas do coração.
–Flávio Stefani/RS– 

...E Suas Trovas Ficaram  

No mundo há tanta maldade 
nos ferindo sempre e à toa, 
que a gente, não por bondade, 
mas por cansaço, perdoa... 
–Luiz Otávio/RJ– 

U m a P o e s i a  

Sem descanso, esse mago da poesia
faz "Mensagens Poéticas" pra nós...
Só Deus pode calar a sua voz
de poeta do amor e da alegria,
mas, se ouvisse esta prece, lhe daria
uns cem anos de vida e de prazer,
pra cantar a beleza de viver,
como tem dado exemplo até agora,
e diria pra morte: - vá embora,
que Ademar não tem tempo de morrer! 
–José Lucas de Barros/RN– 

Soneto do Dia  

O UIRAPURU
–Humberto de Campos/SP– 

Dizem que o uirapuru, quando desata
A voz - Orfeu do seringal tranquilo -
O passaredo, rápido, a segui-lo,
Em derredor agrupa-se na mata.

Quando o canto, veloz, muda em cascata,
Tudo se queda, comovido, a ouvi-lo:
O canoro sabiá susta a sonata,
O canário sutil cessa o pipilo.

Eu próprio sei quanto esse canto é suave;
0 que, porém, me faz cismar bem fundo
não é, por si, o alto poder dessa ave:

O que mais no fenômeno me espanta,
é ainda existir um pássaro no mundo
que se fique a escutar quando outro canta!

sábado, 3 de novembro de 2012

António Torrado (Os Entusiasmos do Evaristo)


Ilustração: Cristina Malaquias

(Da Seleção de Contos Infantis)

O meu amigo Evaristo é um entusiasta. No outro dia, íamos nós a passar por perto de uma feira dessas de altifalantes, tirinhos e carrosséis de cavalinhos – é mais uma corrida! é mais uma viagem! – quando ele me travou por um braço e perguntou, de olhos a brilhar de entusiasmo:

– Já te contei do meu projecto do carrossel gigante?

Desse não me lembrava. O Evaristo tem sempre tantos projectos no ar...

– Estou na fase dos cálculos e dos desenhos, mas não tarda que passe à prática. Vai ser um carrossel fantástico.

– Imagino – disse-lhe eu, só para dizer qualquer coisa.

– Tu conheces aqueles carrosséis maiores, que dão uma volta em oito? – perguntou-me o Evaristo.

Respondi-lhe que tinha uma ideia. Faz tantos anos que não ando de carrossel...

– Pois o meu carrossel vai ser qualquer do género. Oito vezes oito...

– Sessenta e quatro – respondi-lhe, como se estivesse na escola.

– Mais, muito mais! Oito vezes oito, vezes oito, vezes oito...

– Tantas contas de cabeça não consigo acompanhar – queixei-me eu.

– Quero eu dizer que vai ser um carrossel imenso, coisa nunca vista – disse o Evaristo. – Mas primeiro tenho de comprar um sobretudo.

Um sobretudo? Que relação teria o sobretudo com o carrossel gigante? O meu amigo Evaristo imagina a uma tal velocidade, que me deixa sempre pelo caminho.

– Um sobretudo forrado e um gorro de pele – acrescentou ele. – Para ir ao Pólo Norte. Ou ao Pólo Sul. Tanto faz.

Fiquei abismado. Aquele carrossel estava a dar-lhe a volta à cabeça.

– Percebeste onde quero chegar? Ao eixo da Terra. Fixo o meu carrossel ao eixo da Terra, à roda do qual gira o nosso planeta, e nem preciso de imprimir-lhe velocidade. A Terra roda, o carrossel mantém-se parado, mas esta é que é a parte mais importante da minha invenção: os passageiros do meu carrossel têm a ilusão de que são eles que estão a andar. Percebeste?

Eu estava a perceber. Lindamente.

– É, além do mais, uma ideia muito económica, porque se poupa na electricidade, que faz andar os restantes carrosséis. O meu carrossel, preso ao eixo da Terra, suspenso lá em cima, vê a Terra rodar por baixo. O que é que achas?

Eu achava bem. O projecto tinha lógica. E parecia simples...

– Ponho as pessoas a dar a volta ao mundo de carrossel. Vai ser maravilhoso.

Eu não duvidava. E do que valeria a pena duvidar de uma ideia do Evaristo?

Voltei a encontrá-lo, ontem. Claro que lhe perguntei logo pelo carrossel, se já estava mais avançado o projecto, se já tinha comprado o sobretudo...

– Troquei a ideia do carrossel por outra melhor – disse– -me o Evaristo, muito entusiasmado. – É uma roda gigante.

– Como aquela, com barquinhas penduradas, que há na Feira Popular? – quis eu saber.

– Essa é uma miniatura comparada com a minha roda, que estou a calcular, aqui entre nós... – e o Evaristo puxou– -me pelo braço e falou-me ao ouvido, com ar de história secreta.

Tomei muita atenção ao segredo dele:

– Estou a calcular que consiga tocar a Lua com a minha roda gigante. Estás a ver: embarca-se na Terra e, meia volta depois, está-se na Lua. Sem despesa de foguetões nem nada. Uma limpeza!

Outra ideia feliz. Mas, sem querer parecer desmancha–-prazeres, indaguei:

– E, desta vez, onde colocas tu o eixo da roda? Em que ponto do espaço, que fique a meio caminho entre a Terra e a Lua?

– Falta só resolver esse pormenor, para avançar – tranquilizou-me o Evaristo. – Mas, no resto, acho que já adiantei muito.

E lá seguiu, muito entusiasmado com o seu projecto.

António Torrado (O Gato e a Raposa)


Ilustração: Cristina Malaquias
(Da Seleção de Contos Infantis)

O gato e a raposa não privavam, em trato de amizade, mas de uma vez que o acaso os juntou deram em considerar que não eram tão desparecidos um com o outro, como se julgavam.

Ambos tinham cauda, embora a da raposa mais felpuda e mais calhada para gola de samarra, o que não era de bom tom lembrar à raposa... Ambos tinham o passo de bailarina em pontas. Ambos tinham olhos de farolim, para descortinar os recantos da noite. Ambos tinham artes de caça e vasto receituário de matreirices. Ambos sabiam, com vaidade, que valiam mais do que pesavam. Ambos tinham aos cães a mesma raiva.

Foi, aliás, a propósito de cães que a raposa e o gato, um dia, em que passeavam a par pelo campo, tiveram a seguinte conversa:

– Se uma matilha de cães nos perseguisse, o que é que tu farias? – perguntou a raposa ao gato.

– Nem me fales nesses monstros, que fico com o pêlo em pé – disse o gato. – Uma matilha? Bastava-me um cão só, para lhe fugir.

– Pois sim, mas como te escapavas? – insistiu a raposa.

– Escapava-me. Fugia. Safava-me. Debandava. Raspava-me. Sumia. Onde houvesse uma árvore para eu trepar era por ela acima que eu desaparecia da vista do cão – explicou o gato, todo arrepiado.

– Vejo que és um pouco simplório e covarde – comentou a raposa. – Pois eu tenho mil manhas e recursos para os afastar de mim. Um catálogo de estratégias, podes crer. A dificuldade está na escolha, quando chega a ocasião. 

Logo por azar, surgiu a ocasião. Dois cães de caça correram sobre o gato e a raposa. Sentindo-os perto, o gato saltou para uma árvore e pôs-se a salvo.

Mas já eles corriam sobre a raposa.

Então o gato viu a raposa, que há pouco se gabava de dispor de tantos e tão variados expedientes contra a fúria dos cães, fugir a bom fugir, como qualquer coelho assustadiço. E, lá mais adiante, ser filada pelo rabo...

Não tardaria muito que enfeitasse uma gola de samarra.

Do seu providencial poleiro, o gato matutava que mais vale saber do que apregoar que se sabe.

UBT– Curitiba (Convite para Almoço de Confraternização – 25 de Novembro)


A UBT-Curitiba, convida para seu tradicional almoço de final de ano. 

Quando: Dia 25 de novembro de 2012 

Horário: 12hs 

Onde: Restaurante Cacau - Rua Padre Anchieta, 2224 - Bigorrilho. 

Valor: R$ 40,00 por pessoa. (inclui 01 refrigerante ou água) 

Durante o evento teremos revoada de trovas, 

Premiação do concurso interno de outubro. 

Apresentações musicais. 

Sorteio de 01 quadro doado pela Artista Plástica - Ana Rocha 

Distribuição de brindes. 

Os convites serão vendidos antecipadamente. 

Confirme sua presença o quanto antes - Convites limitados!!
Mais informações pelos e-mails: ubtctba@gmail.com 

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 5 de novembro ; Lacrimae rerum...

(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

A religião, essa sublime epopéia do coração humano, tem um símbolo para cada sentimento, uma imagem para todos os acidentes da nossa existência.

É aos pés do altar que o homem vê abrir-se para ele a fonte de todas as supremas venturas deste mundo – a família; e, quando o sopro da desgraça vai desfolhando uma a uma as flores da vida, é ainda aos pés do altar que achamos o consolo para as grandes dores, a esperança nos maiores infortúnios.

É que nesta breve romaria que fazemos pelo mundo, a religião nos acompanha como  esses guias mudos do deserto, apontando-nos umas vezes o nada de onde partimos, outras a eternidade  para onde caminhamos, e mostrando-nos a espaços com um aceno a linha negra que prognostica o simoun, ou os rastos dos animais que anunciam o oásis no meio das vastas sáfaras de areia.

Quantas vezes no seio das alegrias e dos prazeres, quando nossos olhos vêem tudo cor-de-rosa, quando o ar que respiramos parece vir perfumado dos bafejos da ventura, não sentimos de chofre o coração apertar-se como tomado por um doloroso pressentimento, e a alma confranger-se numa angústia pungente?

O deslumbramento passa rápido como o pensamento que o produziu. Mas dir-se-ia que o coração, comprimindo-se, como que vertera na taça do prazer uma gota de fel, e que entre o rumor da festa e os sons alegres da música, viera ferir-nos os ouvidos um eco surdo das lamentações de Jô: Memento quia pulvis est!... 

Também às vezes a fortuna nos embala docemente, e a ambição nos empresta suas asas de ouro, ao passo que a glória envolve-nos com a sua auréola brilhante. Então o homem caminha com os olhos fitos na sua estrela, e com a cabeça alta  passa sem perceber as misérias do mundo. Sublimi feriam sidera vértice.

Mas lá vem um dia, uma hora, um instante em que o corpo verga com o peso de tanta grandeza, e a cabeça acurva-se para a terra. Os olhos que mediam o espaço vacilam; a vista que se dilatava pelos horizontes e ousava sondar os arcanos do futuro  quebra-se de encontro a uma lousa, a um fosso, onde a pá do coveiro traçou num estreito quadrado e com um pouco de terra revolvida o emblema daquela sentença do Eclesiástico: Vanitas vanitatum et omnia vanitas!

Se, porém a religião é severa  nos seus conselhos, se durante os dias de paz e de ventura fortifica o homem por meio da tristeza, na dor ao contrário é de uma bondade inefável.

Nem uma fibra palpita no corpo humano, nem uma pulsação abala o coração, nem um soluço arqueja num peito quebrado pelo sofrimento, que não ache nela um eco, uma voz que  lhe responda.

Nesse grande livro da fé e da esperança, neste sublime diálogo entre Deus e o homem, todas as lágrimas têm uma palavra, todos os gemidos têm uma frase, todas as dores uma prece, todos os infortúnios uma história.

A vida humana se resume na religião; nela se acha a essência de todos os grandes sentimentos do homem e de todas as grandes coisas do mundo.

Tem a severidade e o respeito que inspira a paternidade, e ao mesmo tempo todos os zelos da maternidade. Aconselha como um  pai, quando fala pelos lábios do sacerdote; é a mãe que se multiplica para seus filhos, quando abriga no seu seio todos os infelizes.

Mas, quando se folheia este livro da vida, e que se chega à última página – à morte – quando a alma, em face do nada  sente-se tomada desta grande e assombrosa ameaça do completo aniquilamento, é que se sente quanto há de consolador na religião.

Entre as sombras da dúvida, entre o vago do infinito, a eternidade surge para nossa alma como uma dessas estrelas furtivas que brilham entre o Cris negro da tempestade, e que guiam o nauta perdido na vasta amplidão dos mares.

Se queres ler a legenda desta crença sublime de todos os povos e de todos os tempos, ide no dia 2 de novembro, dia que a igreja destinou à comemoração dos finados, fazer uma visita aos nossos cemitérios.

Haveis de sentir calar-vos dentro d’alma um eflúvio consolador, quando virdes toda aquela piedosa romaria que percorre as aléias formadas pelos túmulos, relendo entre o pranto as letras de um epitáfio singelo, e espargindo sobre a lousa alguma s flores misturadas de lágrimas e de preces.

Este aspecto de uma multidão forte e cheia de vida prostrada ante as cinzas de alguns mortos não exprime alguma coisa de misterioso, alguma coisa de incompreensível, que decerto se prende a esse religioso culto dos túmulos sempre venerado por todos os povos?

Para que o homem venha assim cada ano avivar uma dor quase extinta, e ver refletir-se na lousa da campa os transes acerbos de uma triste provança já acalmada pelo correr dos tempos, é necessário a força irresistível da verdade revelada pelos impulsos do coração.

Sem isto, não é possível compreender-se o respeito que votamos aos mortos, nem essa melancólica poesia da saudade que inspira a religião dos túmulos.

Se nestas campas que há anos se abriram para receber um corpo houvesse apenas um pouco de terra e alguns vermes, o homem que se prostasse  em face delas não cometeria uma profanação? Ajoelhando à beira da lousa e sangrando um culto ao pó, não rebaixaríamos a dignidade de um ser moral, escravizando a razão à matéria, a vida ao nada? Se outra coisa mais forte do que a recordação não nos impelisse a estes espetáculos de luto e de tristeza, não daríamos uma mesquinha idéia da natureza humana?

É verdade; mas os restos dos mortos encerram de envolta com as recordações deste mundo as esperanças de outra vida. É por isso que no meio das preces, e das lágrimas e flores que vem depor ao pé da campa a mão amiga, a cruz singela se ergue como o símbolo da fé e da religião. Os nossos cemitérios, criados há bem pouco tempo, ainda não apresentam este aspecto grave e imponente que ressumbra ordinariamente no campo dos mortos

Ainda não há aí essas longas e sombrias alamedas de árvores, essas bancadas de relva onde se destaca uma lousa branca, nem esses ciprestes e chorões plantados à beira de uma sepultura simbolizando no seu aspecto triste e melancólico a oração que se  eleva ao céu, ou as lágrimas que se desfiam a tombar sobre a terra.

A nudez do campo quase despido de árvores, o desabrigo das lousas sobre cujas pedras brancas o sol bate constantemente, punge o coração, e como que torna acre e acerba aquela mágoa da saudade, que a religião repassa de tanta doçura e de tanto alívio. Naquelas quadras descampadas a morte não tem sombra, a dor não tem ecos e a religião não tem mistérios.

Entretanto este ano, cumpre dizer em honra do espírito religioso da nossa população, empregaram-se todos os esforços para fazer desaparecer aquele aspecto de nudez, e a romaria foi talvez mais numerosa do que nos anos anteriores.

O cemitério de São João Batista sobretudo estava preparado da melhor maneira possível; e, além do arranjo devido aos esforços do administrador, podia-se admirar alguns monumentos funerários de uma singeleza e de um gosto perfeito.

Sinto que não me seja possível copiar aqui algumas inscrições, cheias dessa simplicidade e dessa unção que respira uma dor verdadeiramente sentida; mas vós que lá fostes deveis tê-las lido, embora uma mão desconhecida não houvesse aí gravado aquele epitáfio antigo: Sta viator!

II

Não sei que poeta disse que a vida é um contraste. Pindaro chamou-a o sonho de uma sombra, e Byron comparou-a a uma estrela, que ora desliza docemente entre o azul do céu, ora vacila entre as nuvens escuras da borrasca.

Para mim, que não sou poeta, e que por conseguinte não aspiro à metafísica do sentimento e das imagens, se tivesse de comparar a vida a alguma coisa, seria a um  buquê, do qual cada flor simbolizaria um ano, um dia ou uma hora da nossa vida.

Assim umas flores morrem ceifadas pelo ferro ou pisadas ao chão, outras murcham lentamente ao tépido contato de um seio acetinado. Umas são desprezadas e secas por lágrimas de despeito, ou depositadas  numa campa como  pia oferenda, outras passam de uma mão à outra mão amiga, e vem embelezar-nos alguns momentos de cisma. 

De qualquer modo que se compare a vida, o que é certo é que a vida, o que é certo é que a semana que findou foi uma pequena miniatura do grande quadro da existência humana.

O dia 2 de novembro forma a sombra da tela; os claros foram lançados aqui e ali, uns mais brilhantes, outros mais desvanecidos pelo acaso, que é um grande pintor de quadros históricos.

A segunda-feira foi um dia de decepção, porque não só faltou-nos o benefício da Charton, como o espetáculo anunciado em substituição, que não teve lugar, segundo dizem, por moléstia do Gentili.

Em compensação tivemos na terça um baile do Cassino. Caso a comparação de Byron sobre a vida humana seja exata, creio que nesta noite, se para alguns as horas correram deliciosamente, para outros nem o  céu esteve azul, nem luziu a estrela (de Byron, está entendido). Provavelmente as nuvens encobriram-na.

Para outros que preferem a comparação do poeta grego, a vida foi durante essas horas não o sonho de uma  sombra, mas a sombra de um nome ou de uma letra.

Estão já os leitores curiosos por saber que nome e que letra era esta que me incomodava tão seriamente, a ponto de fazer-me sonhar com ela no meio de um baile. O nome não lhes direi, mas a letra é um – C.

Este – C – memorável, com que se escreve aceio, e que eu apesar do amor que lhe consagro tive a desgraçada lembrança de substituir por dois – SS – valeu-me um quinau em ortografia dado pelo colega do Velho Brasil, que não deixa passar camarão pela malha.

Esquecia-me, porém, dizer que podem saltar este artigo, que não vale a pena de ser lido. Como é um claro do quadro da semana, acho razoável que o passem em claro.

Asseguro-lhes que nada perderão com isto, porque neste artigo não se trata de coisa séria e grande. Prometi uma vez vestir o folhetim de casaca preta e gravata branca, e tiveram logo a impiedade de chamá-lo monstro! Portanto agora, quando me vier a idéia trajar mais curialmente o meu folhetim, há de ser de casaca parda com botões amarelos e calças de ganga, como costuma sair na semana e especialmente no domingo um colega contemporâneo.

III

Estamos quase no fim do quadro. – Faz uma bela noite, a lua passeia solitária pelo céu, refletindo-se nas água serenas de um lago, e reflete sua pálida claridade sobre as lousas de um cemitério. Algumas ruínas, o silêncio da noite, a sombra das árvores completam a vista.

Dois vultos, um amante infeliz e uma moça em desespero – um condenado e uma louca – ocupam o meio da cena. Cantam um dueto,  desenlace de uma história triste; se a música se pudesse perceber entre os aplausos ruidosos que enchem o salão, ouviríeis o belo dueto dos Puritanos, magnífico trecho de música de Bellini, cantado pela Charton, que nesta fazia o seu benefício.

Todos esperavam ansiosos esta festa musical dada pela cantora predileta do público, e às oito horas a creme dos dilettanti desta corte enchia o salão com as suas pessoas, e  com uma quantidade enorme de flores e versos, que oportunamente surgiram de dentro dos bolsos e dos lenços, e inundaram o teatro.

Ergueu-se o pano, e começou o coro da alvorada. De repente mudou-se a vista, e a platéia estremeceu com  uma salva tríplice de aplausos quase unânimes, que anunciaram a entrada da cantora.

Vinha trajada de azul, da mais bela cor que a natureza criou para cobrir as coisas lindas deste mundo, - as montanhas, o céu, o mar, e enfim as moças bonitinhas e alvas como o lírio, que não podem  deixar de compreender que o azul foi feito para moldurar o branco.

A Charton disse admiravelmente a ária do segundo ato, e, apesar de todos os contratempos que sobrevieram, teve o poder de fazer da noite de seu benefício um completo triunfo.

Algumas cenas desagradáveis tiveram lugar esta noite; porém a imprudência que as motivou foi suficiente,mente castigada, não só pela manifestação pública, como pela energia da polícia, que conseguiu reprimir muitos abusos.  À sua atividade devemos ter-se evitado um fato, que calamos por vergonhoso, e que talvez produzisse conseqüências bem tristes pela exacerbação a que tinham sido levados os ânimos.

Ao terminar o espetáculo, a orquestra do teatro, executando várias músicas, conduziu triunfalmente à sua casa a Charton, que seguiu a pé no meio de um concurso de mais de quatrocentos  dilettanti, entre os quais se contavam pessoas muito decentes, que o entusiasmo impelira a dar essa subida prova de diletantismo.

Eu, apesar de muito entusiasmado, retirei-me prosaicamente de carro, envergonhadíssimo  de que a música não tivesse o poder de obrigar-me a andar mais de uma légua a pé.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Ialmar Pio Schneider (‎58ª Feira do Livro de Porto Alegre/RS)

Imagem: Eduardo Uchôa - Arte/ZH
De 26 de outubro a 11 de novembro de 2012 na Praça da Alfândega, no centro da cidade. - Patrono Luiz Coronel - 

Como sói acontecer lá estaremos frequentando este evento maravilhoso que contribui tanto para o desenvolvimento e ao chamamento à leitura de todos: crianças, jovens, meia-idade, idosos... 

Nunca me esqueço de uma piada que ouvi faz algum tempo, dizem que real, quando o escritor Millôr Fernandes, falou a um seu amigo de alguma projeção na cultura pátria: 

- Você tem que ler um livro. 

Ao que o mesmo lhe respondeu: 

- Que livro, Millôr ? 

Responde-lhe o humorista: 

- Qualquer livro... Você tem que ler um livro. 

Seja piada ou não, o fato é que a leitura é pouco praticada em nosso país em comparação de outros. Mas sempre essas feiras de livro que se realizam por todos os municípios vêm trazer um incentivo que não pode ser considerado desprezível. 

Vamos aos livros para conhecermos mais e viajarmos pelo ...mundo no aconchego de nossos recantos preferidos !... 

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 716)



Uma Trova de Ademar


Uma Trova Nacional  

Analfabeto e orgulhoso 
foi pego em sua altivez 
lendo um livro volumoso 
todo escrito em japonês. 
–Antonio Claret /MG– 

Uma Trova Potiguar  

Casar, ainda que seja
a busca de ser feliz,
nasce nos braços da igreja
morre nos pés do juiz...
–Heliodoro Morais/RN– 

Uma Trova Premiada  

1973   -   Porto Alegre/RS 
Tema   -   BRONCA   -   2º Lugar 

Na briga que o meu cabelo 
e a careca estão travando, 
lamento ter que dizê-lo: 
a careca está ganhando... 
–Izo Goldman/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

O “play-boy” foi reprovado, 
pois sendo um cara pra frente. 
Respondeu: – Metro quadrado 
é metro de antigamente... 
–Elton Carvalho/RJ– 

U m a P o e s i a  

Um grande bajulador 
com o patrão no urologista 
dando uma de altruísta 
e para mostrar valor, 
disse feliz, ao doutor, 
com sua voz embargada: 
Por favor meu camarada 
P’ra o meu patrão não sofrer, 
se esse toque for doer 
faça em mim que não dói nada! 
–Francisco Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

MORRER DE RIR. 
–Miguel Russowisk/SC– 

Ter medo de morrer, porquê? - pergunto. 
A morte é natural e tu tens medo? 
A vida tem um fim e tarde ou cedo, 
todo porvir comporta o seu defunto. 

Embora tu não gostes deste assunto, 
terás de usá-lo sempre como enredo. 
A morte, eu sei, é o tema mais azedo, 
que traz recheios de mistérios junto. 

Eu penso assim, pois vejo em meu futuro, 
um cadáver, bem morto, alegre e duro 
num velório murchinho e sem cachaça. 

Sinta-se mal aquele que disser 
( mas hei de perdoar se for mulher):
-Morrer de rir?!... -Meu Deus!-...não acho graça.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 715)



Uma Trova de Ademar  

Numa gestação tão pura,
Deus, em forma de decreto,
determinou que a ternura
fosse irmã gêmea do afeto.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Só, no palco iluminado,
ante a cadeira vazia,
não via o salão lotado:
só sua ausência sentia!.
–Eliana Palma/PR–

Uma Trova Potiguar 

Aquele que se desculpa 
Por mera formalidade 
Quer eximir-se da culpa 
Dissimulando a verdade 
–Heliodoro Morais/RN–

Uma Trova Premiada 

1997   -   Nova Friburgo/RJ
Tema   -   TRISTEZA   -   1º Lugar.

Eu me recuso, tristeza,
a conviver com teu mundo:
vida que tem correnteza
não cria lodo no fundo!
–Héron Patrício/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 

Teimei no amor... e errei tanto
na teimosia de amar,
que eu mesmo não sei mais quanto
Errei tentando acertar!...
–Aloísio Alves da Costa/CE–

U m a P o e s i a 

Quando Deus me levar pra eternidade
ficará nesta terra a minha cruz,
juntamente com todos meus pecados
pois pecados pra lá não se conduz;
agradeço ao bom Deus por esta vida
e eu não quero que chorem na partida,
porque vou para o céu pra ver Jesus! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia 

REMORSO.
–Olavo Bilac/RJ–

Às vezes uma dor me desespera...
nestas ânsias e dúvidas em que ando,
cismo e padeço, neste outono, quando
calculo o que perdi na primavera

Versos e amores sufoquei calando,
sem os gozar numa explosão sincera...
ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
choro neste começo de velhice,
mártir da hipocrisia ou da virtude,

os beijos que não tive por tolice,
por timidez o que sofrer não pude,
e por pudor os versos que não disse!

Antonio Brás Constante (O Falso Esperto Falsificado)


O falso esperto é aquele individuo que tenta enganar todo mundo sem perceber que o principal enganado por ele é... Ele mesmo. Todo mundo pode ter esta síndrome do falso esperto dentro de si, e nem se dar conta disso.

Quando você vai a uma fruteira, por exemplo, e compra aqueles pacotes fechados de maçãs, e depois quando chega em casa encontra algumas maçãs podres bem no meio do pacote, escondidas entre as outras frutas, você pode achar inicialmente que foi mais uma vítima de um ser ardiloso, mas passados alguns meses perceberá que a tal fruteira fechou ou mudou de dono, porque simplesmente o tal esperto faliu. Mas porque faliu? Obviamente porque você e a grande maioria de outras vítimas deixaram de comprar lá. 

O falso esperto sempre parece esquecer que cada cliente conquistado pode trazer junto com ele um potencial novo cliente (mãe, vizinha, cunhado, amigo. etc) para conhecer o seu negócio. Por outro lado, para cada cliente enganado são pelo menos dez prováveis clientes perdidos, que sem nem terem pisado os pés no seu estabelecimento vão querer distância dele.

É a tal propaganda do boca em boca, que se espalha de forma sazonal e passa a rasteira em qualquer aspirante a falso esperto. A prática do boca em boca é tão boa que os governos em geral até já absorveram esta ideia e a transformaram em boca de urna, espalhando aos quatro ventos as preferências do eleitor, mesmo antes dele votar, atraindo ou afastando as chances deste ou daquele candidato. Mas lembrem-se, esta técnica não cria nada do nada (ou será que cria?), apenas intensifica uma tendência já existente.

O falso esperto se prolifera em todas as áreas da sociedade. E o que é pior, seus maus atos acabam servindo de exemplo e até justificativa para que novos aspirantes a falsos espertos entrem nesta mediocridade. Tem o caso daquelas pessoas que trabalham como se fossem o pior tipo de funcionário da máquina pública (simplesmente porque acham que podem fazer isso), onde seu produto é o mesmo que aquele encontrado na privada (literalmente falando). Porém, em um belo dia de sol com poucas nuvens, elas acabam perdendo o emprego e ainda se acham injustiçadas.

Temos vários tipos de falsos espertos se espraiando entre nós, como no caso do coitadinho de mim, que parece estar sempre na pior, agindo como se o mundo todo estivesse com raiva dele, evitando ele, conspirando contra ele, cuspindo na sua cabeça coisas impublicáveis, através das pombas que voam ao seu redor. Tudo que dá errado em sua vida é por culpa de forças maiores do que ele, se ele for jogador de futebol e não conseguir fazer gol de letra vai dizer que a vida cruel fez dele um analfabeto campal e por isso errou o gol. Cada choradeira parece sugar a energia positiva daqueles que estão em sua volta, pois sua eterna atitude de pobre coitado faz dele um vampiro em busca de solidariedade para se dar bem à custa dos outros, e com isso ele vai afastando as pessoas, que acabam se irritando com este tipo de atitude parasitária.

O Falso esperto bom de papo é um dos piores. Ele deixa qualquer um zonzo com seus nhem-nhem-nhem (você não sabe o que é nhem-nhem-nhem? É o mesmo que blá-blá-blá). Este tipo de falso esperto sabe tudo, conhece tudo, entende tudo. Seu discurso sempre é carregado de “eu”, “Eu”, “EU”. Ele diz coisas do tipo: “porque eu já tinha pensado nisso”, “Eu conquistei aquilo”, “EU sou o melhor naquilo outro”. O cara só não acha que é um Deus, porque o Deus bíblico fez em seis dias o que ele faria em apenas dois, e com uma das mãos nas costas. Ele vai pegando carona descaradamente no trabalho dos outros e apresentando como sendo seu, conseguindo às vezes se promover um pouco com isso, até chegar um ponto aonde ninguém mais vai lhe dar créditos, oportunidades ou mesmo querer trabalhar com ele.

Enfim, são tantos os tipos de falsos espertos que apenas um texto é pouco para descrevê-los (temos até o falso esperto “canguru perneta” de quem eu falo em outra hora). O falso esperto é uma faceta de nós mesmos que deveria estar sempre devidamente guardada e bem trancada em nosso âmago, mas que infelizmente pode aflorar em qualquer um, a qualquer momento, transformando uma essência humana de requintado vinho, em azedo vinagre. O falso esperto virou até lei, a lei de Gérson (“gosto de levar vantagem em tudo, certo?”). Mas volto a lembrar que o pior dano que um falso esperto pode causar é nele mesmo, pois é sempre um candidato a esperto falsificado que acaba sendo enganado no golpe do bilhete premiado.

Fonte:
O autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 714)



Uma Trova de Ademar  

Por seu próprio desatino, 
tem gente que se maldiz 
pondo a culpa no destino 
por não ter sido feliz! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Pelos caminhos sem fim, 
que a vida me fez trilhar, 
fiquei perdida de mim, 
sem conseguir me encontrar! 
–Delcy Canalles/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Tanto esperei... E, sem jeito, 
fiz daquela madrugada, 
a doce musa, em meu leito, 
nessa espera amargurada...! 
–Mara Melinni/RN– 

Uma Trova Premiada  

1996   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   MAGIA   -   M/E. 

Na caminhada sofrida
do viver, se me entristeço,
por magia, é a própria vida
que me indica um recomeço...
–Thereza Costa Val/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Em nossas quatro paredes 
conflitos não tem valia: 
nós compramos duas redes 
e uma está sempre vazia. 
–Marisol/RJ– 

U m a P o e s i a  

Eu queria a ponteira e o pião 
Uma lata de óleo como carro, 
A peteca, uma bola, um boi de barro 
E a gaiola que prendia um azulão 
Tudo isso trago na recordação 
Onde age a saudade persistente 
Só o peito percebe o quanto é quente 
A ferrada das letras da lembrança 
“Eu queria de novo ser criança 
Pra brincar de criança novamente”. 
–Wellington Vicente/PE– 

Soneto do Dia  

MINHA CASA. 
–Janske Niemann Schlenker/PR– 

Conheço-te tão bem: a sala, o quarto, 
a vista da janela escancarada! 
Na mesa da cozinha, o almoço farto, 
o som de cada porta ao ser fechada… 

Conheço-te demais! No entanto, parto… 
De tudo o que era meu, não fica nada: 
na sala, nada… e nada no meu quarto, 
só o vento na varanda ensolarada… 

E deixo a antiga casa na ladeira: 
Risadas, quantas! Quanta brincadeira! 
Mas parto… e minha casa deixo aqui. 

E dói-me ver-te assim: fria e despida… 
Nem fecho a porta; saio pela vida, 
avaliando o quanto empobreci!

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" - novembro de 2012)




Quantas sedas aí vão,    
quantos alvos colarinhos...
São pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos!
Antonio Aleixo

Mais do que a cobra, a meu ver,
você pode envenenar:
– a cobra tem que morder,
mas você só basta olhar!
Antonio Roberto

Dotada de amor profundo,
meiga e doce em seu mister, 
que graça teria o mundo,
sem a graça da mulher?
Aparício Fernandes

Todos os picos da serra,
nos Andes... nos Pirineus,
são dedos grandes da Terra
mostrando a casa de Deus.
Célio Grunewald

A juventude é divisa
que a vida nos dá de graça,
e a gente só valoriza
muito depois que ela passa.
Helena Kollody

Não lastime, anjo risonho,
nada ter para sonhar.
Pior  que não ter um sonho
é ver um sonho acabar.
Lilinha Fernandes


Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
– É gato? – Não... é mulher!
Carolina Ramos – SP

Bem no meio do apagão,
a velhinha grita: – Oba!
Quem sabe na escuridão
sou “vítima” da mão boba!
Élbea Priscila – SP

O mundo, para que mude,
não requer muito cuidado.
Basta fazer a virtude
gostosa como o pecado...
José Fabiano – MG

Meu sogro nem “manda brasa”,
mas, quando está de veneta,
deixa a “mala velha” em casa
e sai com qualquer “maleta”...
Maria Nascimento – RJ

Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
Nilton Manoel – SP

Da sapa ao sapo safado,
ao lhe negar um beijinho:
– Não posso, meu belo amado;
mamãe diz que dá sapinho...
Osvaldo Reis – PR

Certa mocinha atrevida,
com seus namoros no mato,
sempre aparece mordida
por “dentes” de carrapato...
Thereza Costa Val – MG


Quem dera, um dia, as fronteiras
fossem elos nos unindo,
e houvesse, em vez de barreiras,
somente a placa: – Bem-vindo!
A. A. de Assis – PR

Quem na mata acende a chama
suja o rio e a correnteza;
joga um punhado de lama
no rosto da natureza!...
Ademar Macedo – RN

Aos céus envio um recado,
Deus não vejo em meu apelo...
Porém se O tenho a meu lado,
para que preciso vê-Lo?
Almir Pinto de Azevedo – RJ

Te recuerdo cada día
con el amor más profundo,
pues eres la vida mía
y por ti lo grito al mundo.
Ángela Desirée – Venezuela

As promessas que fizeste
nem a lua abençoou.
Tudo não passou de um teste,
pois você nunca me amou.
Angela Stefanelli – RJ

Olhando as velhas estradas
por onde andei nos teus braços,
eu vejo em tuas pegadas
o raio-x dos meus passos!
Arlindo Tadeu Hagen – MG

Ao sair pelo jardim
na tarde de primavera,
senti saudade de mim...
do botão de flor que eu era.
Benedita Azevedo – RJ

Para ficar ao teu lado,
o que quiseres serei:
serei teu amo ou criado,
personal lover ou rei...
Bruno Pedina Torres – RJ

Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto eu sofro por você.
Conceição de Assis – MG

A noite rasga a cortina
que cobre a manhã dourada
e descobre uma menina,
pela vida enamorada!
Dáguima Verônica – MG

Tudo igual, mas diferente:
por mais que eu tente negar,
tua ausência, em meu presente,
faz diferente esse mar...
Darly O. Barros – SP

Em meus sonhos de criança,
desejei pescar a Lua
e pus anzóis de esperança
nas poças d’água da rua!
Delcy Canalles – RS

Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
Diamantino Ferreira – RJ

Vejo o mundo da janela
na minha crise de fé.
Ando cega e sem tutela
remando contra a maré...
Dinair Leite – PR

Sem razão, faço queixumes
dos beijos que não lhe dei.
Talvez sentindo ciúmes
de alguém que não conquistei.
Djalma da Mota – RN

A paixão com hora incerta
e urdida de angústias lentas
é feito um mar que desperta
em dolorosas tormentas!
Eduardo A. O. Toledo - MG

Triste destino bizarro
de um país na contramão:
alunos chegam de carro;
professor, de lotação.
Eliana Jimenez – SC

O sol, que incha a semente
e aquece a muda pequena,
torna também, inclemente,
a mão que planta... morena!
Eliana Palma – PR

Só se salva de verdade,
nesta enchente de amargor,
quem faz da fraternidade
o seu barco salvador!
Flávio Stefani – RS

Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
Francisco Garcia – RN

Sendo o fim de longa espera,
sabendo que sou seu dono,
voltou a ser primavera
em minha vida de outono...
Gilvan Carneiro – RJ

Areias que nos esperam,
mar azul, querido e quente;
amizades que fizeram
da gente muito mais gente!
Gislaine Canales – SC

A manhã recita um salmo,
passa o vento mais amigo,
e é nesse momento calmo
que Deus conversa comigo.
Humberto Del Maestro – ES

A escolha que fiz um dia
é prece que se renova,
quando faço da alegria
matéria-prima da trova.
Ieda Lima – RN

Diz-me esta ruga esculpida,
entalhe que o tempo fez,
que a primavera da vida
só nos floresce uma vez.
Jaime Pina da Silveira – SP

Dei-te o melhor dos abraços,
do mais profundo querer...
Mas a força dos meus braços
não conseguiu te prender!
Janske Schlenker – PR

Não haverá sociedade
que possa ser construída
sem a fé na humanidade
e o respeito pela vida!
JB Xavier – SP

Fiquei sozinha, esquecida,
e o fato se deu porque
também me esqueci, na lida,
de pensar tanto em você.
Jeanette De Cnop – PR

Na moldura da janela,
o busto que me fascina
toda manhã se revela
entre as dobras da cortina!
Joana D’Arc – RJ

Doce flor que desabrocha
perfumando seu cantinho,
envolvendo toda rocha
com doçura e com carinho.
José Feldman – PR

Enquanto a emoção se alteia
sobre as dunas, a rolar,
a vida brinca na areia
ouvindo a canção do mar.
José Lucas de Barros – RN 

"Mãe-Natureza"! – Eis o nome
de quem, em nome do amor,
gera o fruto e estanca a fome
do seu próprio predador!...
José Ouverney – SP

Chego a perder a esperança,
vendo ao relento, a dormir,
uma sofrida criança
sem lar, sem paz, sem porvir!
José Valdez – SP

A esperança da vitória
impulsiona o caminhar,
e um dia se chega à glória,
mas não sem antes lutar!
Lucília Decarli – PR

Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
Luiz Carlos Abritta - MG

Com volúpia e desvario,
neste amor vou mergulhar...
Eu me sinto como o rio,
que se atira para o mar!
Ma. Thereza Cavalheiro – SP

Nosso amor foi tão ranzinza
que explodiu como um vulcão,
deixando somente a cinza
no meu pobre coração.
Maurício Friedrich – PR

Há emoções que a gente sente,
e que encantam tanto, tanto,
mas, se expressas verbalmente,
perdem parte desse encanto.
Nei Garcez – PR

Estou aqui de passagem
neste mundo de ilusões;
com fé, amor e coragem
vou vencendo as tentações.
Neiva Fernandes – RJ

Se nada é assim tão lindo,
do jeito que foi sonhado,
que tudo seja bem-vindo...
e, vindo, que seja amado.
Olga Agulhon – PR

Ó meu doce canarinho,
abre as asas contra o vento
e leva, pelo caminho,
nas asas, meu pensamento...
Olga Maria Ferreira – RS

Arvoredo é sombra certa,
grande abrigo pela estrada,
flor e fruto e fronha aberta
para o filho sem pousada.
Olivaldo Júnior – SP

Ante tanta aberração
num mundo fora dos trilhos
pergunto ao meu coração:
– O que eu ensino aos meus filhos?
Olympio Coutinho – MG

Ao repensar minha história
encontrei, com emoção,
por trás de cada vitória
um mestre no coração!
Renato Alves - RJ

Minhas trovas  são abraços:
mil braços vou abraçar
nos mil infinitos laços
que a trova sabe engendrar.
Roza de Oliveira – PR

Minha esperança, em essência,
bem mais que estreitar os laços,
é fazer da tua ausência
uma presença... em meus braços.
Sérgio Ferreira da Silva – SP

A trova é tão pequenina,
mas quanta beleza encerra;
feliz de quem tem a sina
de espalhá-la pela Terra!
Sônia Ditzel Martelo – PR

Sei que viver é lutar,
mas luto em desigualdade.
Eu sou concha e a vida é o mar
em noite e tempestade.
Therezinha Brisolla – SP

Meu relógio, de hora em hora,
badala a mesma canção:
aquela trilha sonora
que embalou nossa afeição.
Vanda Alves da Silva – PR

Em frente à porta fechada,
bate a criança carente,
flor murcha, a custo vingada
na safra dos quase gente...
Vanda F. de Queiroz – PR

Meu jogo, audaz e exigente,
encara a carta que der,
mas com você, frente a frente...
jogo charme de mulher!
Vânia Ennes – PR

Ao raiar de um novo dia,
quantas razões de viver!
A esperança se irradia
nas brumas do amanhecer!
Wagner Lopes - MG

O teu silêncio me afronta;
nem breve mensagem veio,
mas meu amor faz de conta
que a culpa é só do correio.
Wanda Mourthé – MG

Nas noites de lua cheia,
meu espírito, a vagar,
por entre estrelas passeia
esperando te encontrar...
Yedda Maia Patrício – SP

O perdão é tão sublime
que, por mais que a ofensa doa,
põe uma paz que redime
no coração que perdoa.
Zenaide Marçal – CE

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