sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Coelho Neto (Mano) Parte 2


SEDE

Na escala dos ásperos tormentos, entre tantos que sofreu Jesus, foi o da sede o mais acerbo e o único de que ele deu queixa.

Não se lhe ouviu palavra quando dos tratos e afrontas com que o aviltaram no Pretório. Nas três vezes que caiu no caminho do Calvário não soltou um gemido: calado suportou a cravação na cruz e calado nela esteve até a hora terça da tarde.

Secaram-se-lhe, porém, os lábios e ele entreabriu-os arquejantemente bradando aos seus algozes:

- Tenho sede!

De tais palavras à rendição do espírito divino mediou apenas o instante breve em que soou o “Consummatum est!”

Mais longa que a de Jesus foi a agonia de meu filho.

Durante dias, a todo o instante, queixava-se ele de sede e eram todos a atendê-lo, cada qual mais solícito,

Que intenso ardor o abrasaria para que se não saciasse, já reclamando água mal lhe retiravam o copo dos lábios ávidos?

Febre? nem tanto acusava o termômetro. Que incêndio lhe arderia nas entranhas para que, apenas sorvia, sôfrego, a água que lhe davam, no mesmo instante fosse ela absorvida, como se caísse em forno caldo?

Não, não era febre, se não a própria vida em luta, que reclamava o que se lhe esvaía a golfos.

Quando o retiramos do leito foi que se nos patenteou a causa da insaciável sede: o colchão, o estrado, ainda o soalho, sob o leito, tudo era púrpura.

E, pois, como havia ele de acalmar-se se a água, assim como lhe descia a goles árdegos, saía-lhe tinta de sangue, dessorando as artérias exauridas?

E, como um vaso partido, de que se extravasa a água que alimenta flor querida, assim pela artéria aberta escoou-se todo o sangue daquele corpo, e a vida, flor que era o nosso encanto, murchando pouco a pouco, feneceu à míngua do que a mantinha.

VOLTA AO NINHO

Pediu-me que o mudasse de leito, e quis o nosso.

Podia alguém imaginar que era o Destino que o fazia retroceder ao ponto onde principiara a sua genitura para encerrar o círculo fatal?

Quem o diria presa da morte vendo-o tio robusto, em pleno viço de saúde, mascarando com o sorriso o ricto do sofrimento?

Alarmando-me o grande aparato de socorros de que se cercava o médico e a solicitude ativa do enfermeiro, interroguei-os aflito.

Sorriram-me tranqüilizando-me. Ele próprio estranhou os meus cuidados impertinentes.

“Era lá possível, diziam, que tão exuberante mocidade perecesse, frágil como uma ruína? Só um desastre.”

Todavia eu procurava ler nos olhos de quantos o visitavam e, desconfiado, tornei-me espião dentro da minha casa, vigilo, atento a tudo e a todos, escutando às portas, caminhando mansinho no silêncio das noites desveladas para surgir, a súbitas, entre os que se lhe revezavam à cabeceira, surpreender cochichos, gestos, ver o que faziam, ouvi-lo, a ele, inquieto, de olhos despertos e ansiosos, gemendo, a pedir alívio ainda que à custa de martírios.

Mísero corpo! Quanto sofreste pungido, de instante a instante, para inoculações de vida efêmera.

Por que não haviam de dizer-me a verdade? Por que não ma disseram, se a sabiam? Ao menos eu não o teria deixado um só instante e, aproveitando-me, sem desperdício de um segundo, do tempo que lhe restava, tanto o havia de prender a mim que... sabe-se lá o que é a vida e como são as raízes que a sustentam e nutrem! - talvez não fosse tão fácil à Morte arrancar-mo do amor.

Mas confiava em todos, nele principalmente e, quando saí da ilusão em que me mantinha a esperança, onde o vira nascer, no leito que ele pedira, o nosso, vi-o, pouco a pouco, aquietar-se, cerrar os olhos, dormir nos braços daquela mesma que, em pequeno, o acalentava e que, então, o abraçava imóvel, sem lágrimas, como se a dor a houvesse petrificado, como faz o inverno intenso com as águas múrmuras e correntias.

Leito de nascimento, ninho; leito de morte, esquife: princípio e fim da mesma felicidade, tu no-lo deste, tu no-lo levaste.

Agora, quando me deito, antes do sono vir, sinto-o comigo, a meu lado, vivo na minha lembrança, em saudade, sombra que me ficou no coração, rastro de uma ventura que passou, sonho com que me consolo dentro da noite triste e eterna, no qual o vejo desde pequenino, quando ali nasceu para tão curta vida, até o doloroso instante em que se foi para o sempre. 

O VIÁTICO

Ao Rev. Sr. Padre Henrique de Magalhães, que o confessou e ungiu

Quando, dissimulando a agonia, entrei no quarto para abençoá-lo e o vi arfando, imóvel, alagaram-se-me os olhos. Quis falar: as palavras desfizeram-se-me em balbucios, como se dissolvem em espuma as vagas de encontro às penhas.

Estatelei-me, de mãos enclavinhadas, trêmulo. Acendeu-se-me, então, na Fé o último clarão de esperança e minh'alma elevou-se, em surto, a Deus.

Fugindo daquele transe, procurei a que não chorava: fria, apática diante da catástrofe, imagem da geleira eterna que não deflui, petrificada em friul.

Expus-lhe o que me inspirava a Crença: a conveniência de o prepararmos para a partida e ela, encarada em mim, hirta, impassível, abriu desmesuradamente os olhos espavoridos, parecendo medir a imensidão da nossa desventura.

Insisti. Tremeram-lhe, de leve, os lábios como vibra a haste do arbusto ante o adejo de um beija-flor.

Pedi a alguém que fosse à igreja próxima buscar um sacerdote.

O tempo que mediou entre a partida do emissário e a chegada do religioso foi tão breve ou tanto eu nele me perdi que, ao avisarem-me da chegada do padre fiquei surpreso como de milagre.

Sim, era ele com a maleta em que vinham os sacramentos.

Olhamo-nos sem palavras. Silêncio como jamais abafara a minha casa encheu-a toda. As próprias janelas, largamente abertas, não pareciam respirar.

Pé ante pé tornei ao quarto, certo de encontrar o enfermo na inércia em que o deixara. E que vi eu, arrepiado de horror e no auge da mais feliz surpresa? Meu filho a olhar pela janela aberta o céu azul, almofadado em nuvens, os ramos da árvore da rua, que devassam o mais íntimo do nosso lar (ramos onde, de madrugada, quase conosco, doméstico, saltita certo passarinho, e canta), tão calmo, tão sereno, que dir-se-ia haver acordado de noite bem dormida e estar ali gozando a preguiça da manhã.

Fora uma crise apenas e eu, por ela, imprudentemente, me precipitara.

Que fazer? Despedir o sacerdote? Anunciá-lo ao enfermo? Tal anúncio valeria por sentença e ainda havia esperança em nossos corações. E ele nem sequer pensava na gravidade do seu estado, tanto que, momentos antes, ao raiar da alva, quando a passarada começava com os gorjeios, dissera, lembrando-se de passados tempos e pensando em futuros dias:

“Esta é a hora melhor no mar. Os rapazes devem estar treinando. E eu, aqui! Enfim... ainda pode ser...”

O coração cresceu-me, harto; as veias túrgidas puseram-se a latejar, a ímpetos; lágrimas ardiam-me nos olhos.

Que fazer? Que dizer?!

Foi ele que me tirou da hesitação angustiosa, perguntando-me, a sorrir, surpreendido com a minha atitude:

- Que tens? Porque me olhas assim?

Que teria ele visto nos meus olhos, percebido no meu olhar que ia tão longe. tão longe que chegava à morte?

Animei-me a falar. Não sei que disse, não sei!

De repente vi-o cerrar a fronte, soerguer-se a custo, fitar-me a vista terebrante, pálido, de lábios trêmulos e exclamar, com espanto doloroso, como se eu o houvesse amaldiçoado: “Papai!”

É que eu rasgara violentamente o véu misterioso mostrando, no fundo da esperança, Deus é que eu lhe anunciara a hora suprema da Religião, hora última da terra, hora que não soa nem declina hora incomensurável, parada, fora do dia e da noite, rosto da Eternidade.

Houve, então, entre nós, um olhar, e, nesse olhar, como se cruzam no beijo os amores, cruzaram-se desesperos.

Tentei justificar o meu procedimento:

“Que a religião e a medicina que não falha, porque os seus remédios são aviados por Deus, e salvam”.

As lágrimas intrometeram-se-me pelas palavras e ele, comovido, tomou-me a mão, atraiu-me a si e, meigo, interrogou-me.

- Você quer?

Solucei, acenando afirmativamente.

- E mamãe?

Respondi com o olhar.

- Pois sim, concordou, suave: então também eu quero.

Todo o meu fôlego afluiu-me à garganta, sufocando-me.

Ele, sentindo a minha angústia, sorriu-me confirmando o que dissera com um gesto de brandura.

Caminhei para a porta. Antes, porém, de sair voltei-me. ele inclinara a cabeça e então vi as lágrimas da sua juventude, os seus sonhos desfolhando-se às gotas, todos os seus amores despedindo-se. Saí. O sacerdote entrou.

Quanto tempo durou a confissão daquela alma em flor? Foi para o meu coração tão longo que ainda nele persiste e durará enquanto eu viver, durará como um remorso dentro da minha saudade; durará como espinho na flor da minha ternura.

Quando o padre saiu, fui-me direito a ele. Chorava e sorria.

Chorava como homem, com pena daquela vida talada em pleno viço. Sorria como sacerdote, por haver achado em anos tão tenros coração tão virtuoso.

Então atrevi-me a tornar ao quarto e, ainda hoje, pensando nesse momento grandioso e horrível, hesito em decidir se fiz mal, se fiz bem: mal, levando àquela consciência, ainda clara, a certeza da morte; bem, preparando para Deus quem, já de partida, ainda nos iludia com a coragem e a robustez, ainda nos acariciava com a meiguice e, já desprendido da terra, de asas abertas para o vôo, ainda nos abraçava, animando aos que ficavam na vida, ele, que começava a morrer. 

E, ainda hoje, nos silêncios em que me encerro com minha alma, murmuro, em dúvida que me excrucia:

“Quem sabe se o não entreguei cedo demais a Deus! É possível que se eu lhe não houvesse quebrado as forças da alma, se não houvesse, imprudentemente, substituído a Esperança pela Fé, deslocando-o da terra para o céu, ele resistisse e ainda vivesse conosco, amado e amando-nos”.

Mas... E se, por descuido nosso, ele partisse sem a unção que salva?!

Precipitei-me, talvez, mas foi ainda por amor, para que tua alma, meu filho, fosse, como foi, na tristeza daquela tarde lúgubre, direita e triunfante para o esplendor eterno, que é o próprio olhar de Deus.

–––––––––continua

Fonte:
http://leituradiaria.com

Larissa de Oliveira Neves (A Linguagem dos Tipos Cômicos em O Cordão – Burleta de Artur Azevedo)


Unicamp/IEL. 

RESUMO:A peça O Cordão, de Artur Azevedo, evidencia um dos recursos mais usados pelo autor para identificar seus tipos cômicos: a diferenciação através do discurso. Inovador, Artur Azevedo colocava na boca de suas personagens a linguagem oral que ouvia pelas ruas do Rio de Janeiro. O Cordão foi representada pela primeira vez em 1908, durante o Carnaval. Sua singularidade consiste na separação das personagens em dois núcleos: o da sociedade educada e o dos incultos membros de um cordão carnavalesco. A oposição entre os dois núcleos verifica-se através da caracterização das personagens, realizada principalmente através do modo de falar. 

1. Artur Azevedo e O Cordão.

A burleta O Cordão (comédia entremeada de números musicais), de Artur Azevedo, foi encenada pela primeira vez no dia 22 de fevereiro de 1908 (durante o carnaval), pela companhia Silva Pinto, no teatro Carlos Gomes.

O enredo da peça, simples, não foge ao que normalmente apresentam as comédias de costumes. Existe uma intriga amorosa e, a pretexto desta, os costumes de um setor da sociedade são representados ao público. No caso de O Cordão, a cena passa-se durante o Carnaval. Representa-se no palco um hábito típico do século XIX, antes do estabelecimento definitivo dos desfiles de avenida e bailes carnavalescos de salão: os cordões. Trata-se de um período de transição, percebido por Artur Azevedo, que caracteriza o cordão como o verdadeiro carnaval de tradição, em oposição às novas maneiras de se divertir que surgiam. 

O enredo, em resumo, consiste no namoro de duas moças casadoiras (Florinda e Rosa) com dois rapazes comuns (Alfredo e Gastão). O pai das moças (Remígio), um praça reformado do Exército, é participante assíduo dos cordões em época de Carnaval. O cordão era um evento popular por excelência, seus participantes faziam parte da camada pobre da população: mulatos, malandros e capoeiras. A prática chegou a ser proibida pela polícia, o que aparece indicado na peça, por causa da desordem promovida durante os desfiles. Nestes ocorriam, muitas vezes, lutas entre grupos de capoeiras rivais. Os rapazes enamorados de O Cordão procuram tirar suas amadas desse ambiente que eles consideram maléfico à pureza das duas moças, e o fazem através do casamento.

Existe, assim, uma oposição, evidente na comédia, entre as personagens de sociedade educada e os participantes costumeiros do cordão. A diferenciação das personagens pertencentes aos dois núcleos distintos se faz pela caracterização física e pela linguagem (principalmente pela linguagem, já que a caracterização física está mais implícita na fala das personagens do que evidente por uma descrição nas rubricas). Assim, propõe-se neste estudo analisar as personagens de O Cordão a partir de suas falas, porque é através da recorrência de figuras presentes nelas que os tipos são diferenciados.

O teatro de Artur Azevedo nunca fugiu aos tipos, como ocorre em geral nas comédias de costumes. A crítica contemporânea ao autor costumava elogiar as comédias encenadas, em detrimento das revistas de ano e paródias também escritas por ele. Entre os elogios, um dos mais freqüentes referia-se aos tipos bem delineados. Em relação a O Cordão, por exemplo, encontramos o seguinte comentário em uma crônica: “E no meio daquela série de tipos dos namorados, namoradas, dos capoeiras, do pessoal do cordão, há dois esplêndidos: o do conselheiro e o do Remígio, ex-herói da pátria.”[3] 

Os mesmos caracteres bem feitos, que originaram os elogios dos colegas de imprensa de Artur Azevedo, serviram para uma depreciação de seu teatro por teatrólogos do século XX. Sábato Magaldi criticou o comediógrafo por este não conseguir conceber personagens complexas: “Que não tentasse, porém, análise psicológica mais profunda: somos levados a julgar ingênuos seus ensaios de introspecção...”[4] 

A crítica posterior exigiu de Azevedo algo diferente do que ele sempre desejou fazer: um teatro de qualidade, mas também de diversão. Teatro que acompanhava a tradicional linha das comédias de costumes vindas de Molière, modelo seguido pelo dramaturgo brasileiro, em que a tipificação das personagens é evidente e proposital.

O tipo é a personagem que possui uma personalidade básica, não modificada no decorrer da peça, portanto previsível. As peripécias inventadas pelo escritor regem o desenvolvimento da ação e as personagens seguem o modelo estereotipado que lhes foi designado. Décio da Almeida Prado explicou o surgimento dos tipos: “A necessidade de não perder tempo, somada a inércia do ator ao desejo de entrar em comunicação instantânea com o público, desenvolveram no teatro uma predileção particular pelas personagens padronizadas.”[5]

Os tipos podem, no entanto, ir além do padrão comum, encantando o público pela singularidade. Tal ocorre quando há a invenção de tipos novos. Artur Azevedo criava, a partir da observação das pessoas do Rio de Janeiro, tipos brasileiros que se tornavam únicos através da caracterização adequada realizada pelo autor. A importância do discurso surge na medida em que este auxilia a identificação do tipo pelo público e provoca o riso de diferentes maneiras. 

Ivo C. Bender enumerou essas maneiras ao desenvolver um rápido panorama sobre o cômico baseado na teoria aristotélica. Ele citou a homonímia, a sinonímia, a repetição da mesma palavra, a paródia literária, a transferência e o modo de falar como sendo as possibilidades do comediógrafo para instituir o cômico no discurso de suas personagens.[6] Especificamente sobre a obra de Artur Azevedo, existe o detalhado trabalho feito por Antonio Martins: Artur Azevedo: a palavra e o riso,[7] em que se realizou uma análise completa do discurso cômico do autor.

Antonio Martins dividiu o discurso teatral de Azevedo em duas variantes propiciadoras de humor: a recorrência (citações latinas, uso de arcaísmos, termos populares, anexins) e a discrepância (neologismos, gírias, falares religiosos, normas lingüísticas de diferentes classes sociais). A discrepância está presente em todo o vocabulário das personagens participantes do cordão carnavalesco. A nós interessa estudar como o uso desses recursos permitiu salientar a caracterização do tipo cômico na comédia O Cordão.

2. As personagens de O Cordão.

Jean-Pierre Ryngaert ressaltou a importância do nome das personagens para identificação das mesmas: “Os discursos das personagens são reunidos sob a mesma sigla, que constitui a primeira pista de sua identidade. Os nomes atribuídos às personagens são uma indicação importante...”[8] A didascália de O Cordão nos fornece, além dos nomes, uma pequena descrição que imediatamente remete aos tipos encontrados no decorrer da peça. 

A divisão entre os dois núcleos citados (que nomearei arbitrariamente de “núcleo do cordão” e “núcleo da sociedade”) se faz perceber, de imediato, através dos nomes das personagens atribuídos pelo autor. Temos, na ordem de citação do texto, que é a ordem de entrada em cena:

Alfredo, namorado de Florinda.

Gastão, namorado de Rosa.

(São os tipos de rapazes enamorados, que fazem o possível para se casarem com as moças de quem gostam).

Remígio, praça reformado do Exército.

(O pai das moças possui boa parte de seu discurso cômico voltada para as descrições de suas proezas – falsas – realizadas quando soldado).

Florinda, filha de Remígio.

Rosa, irmã de Florinda.

(São as “ingênuas”, moças bem educadas, a despeito do pai fanfarrão, que desejam a vida honesta ao lado dos rapazes que escolheram para maridos).

Salustiano, presidente do Cordão.

(Essa personagem é assim descrita por Artur Azevedo em uma das poucas rubricas em que há a caracterização de uma personagem: “Salustiano, pernóstico, pardavasco, grande carapinha, pretensa elegância, procurando os termos e sibilandos.” O linguajar de Salustiano é um dos mais peculiares da comédia, e identifica o tipo do mulato que deseja se fazer de erudito através de um palavreado esdrúxulo).

Emerenciana, esposa de Salustiano.

Zeca, filho de Salustiano e Emerenciana.

(Emerenciana e Zeca representam os crioulos da cidade após a libertação dos escravos, incultos, sem perspectiva de futuro, apresentam um discurso repleto de desvios da norma culta, principalmente evidenciados na concordância verbal e na ditongação).

Cazuza, malandro.

(Cazuza é o malandro típico, o capoeira da virada do século XIX – XX, sua enunciação consiste em uma combinação de gírias sobre gírias, sendo inclusive difícil ao leitor de hoje entender o que ele diz).

Zé, português, tocador de bumbo.

Joaquina, esposa de Zé.

(O sotaque português é caracterizado pela troca da letra v por b).

Gaudêncio, tocador de harmônica.

(Mais um malandro, bêbado, para compor o grupo dos “desordeiros” do cordão).

Por fim,

Conselheiro, chefe de repartição dos dois primeiros.

(O Conselheiro, única personagem sem nome próprio, representa exatamente o tipo do conselheiro, que acalma os ânimos e promove a paz, através de um discurso erudito).

Assim, logo no princípio da leitura do texto, observamos alguns tipos que serão delineados na peça: o malandro, o português, os namorados. Essa delineação ocorrerá principalmente através da fala, que permitirá ao espectador também realizar de imediato a identificação evidente ao leitor na primeira página do texto.

Ryngaert, ao tratar na enunciação, não acredita em uma regra de caracterização da personagem pelo discurso: “Além do mais, às vezes é difícil identificar uma fala própria a cada personagem, que a caracteriza. Essa identificação ocorre no teatro naturalista, em que uma personagem se define por sua linguagem, mas raramente ocorre no teatro clássico, no qual as réplicas e as tiradas de todos obedecem às mesmas regras retóricas e utilizam o mesmo léxico.” Realmente, o discurso diferenciado não é uma regra constante nas obras teatrais. O uso desse recurso depende exclusivamente do desejo do autor e/ou intérprete.

No caso de Artur Azevedo, o uso da linguagem para identificar suas personagens é prática comum. Em muitas peças, – sendo O Cordão a peça em que esse recurso está mais evidente, pelo grande número de tipos diferentes – os diálogos fornecem ao leitor-espectador indícios claros de distinção da personalidade teatral.

Artur Azevedo possuía o domínio pleno da língua brasileira falada em seu tempo. Por conviver com as diversas classes sociais e escrever para o povo, sabia utilizar o discurso para enriquecer seus textos, identificar as personagens e, principalmente, propiciar o humor. 

Escreveu Décio de Almeida Prado: “os verdadeiros dramaturgos (...) mostram-se sempre capazes de elaborar um estilo pessoal e artístico a partir das sugestões oferecidas pela palavra falada, aproveitando não somente a gíria, as incorreções saborosas da linguagem popular, mas, também, a sua vitalidade quase física, a sua vivacidade, a sua irreverência e a sua acidez, as suas metáforas cheias de invenção poética.”[9] Artur Azevedo encaixa-se perfeitamente na descrição acima, porque aproveitava o conhecimento da linguagem falada dos segmentos distintos da sociedade para propiciar ao texto teatral a vivacidade observada por todos os críticos, inclusive aqueles que lhe faziam ressalvas.

3. O “núcleo do cordão”. 

Ao iniciar o capítulo intitulado “A Discrepância” de seu livro sobre a linguagem cômica de Artur Azevedo, Antonio Martins sublinha a diferença entre os modos de falar dos ricos e dos pobres e exemplifica com uma passagem de O Cordão: “Em virtude da disparidade entre as liberalidades lingüísticas de um malandro do Catumbi e seus próprios meios de expressão, Gastão teme pelos destinos do idioma pátrio.”[10]

Mas qual seria o idioma pátrio? A linguagem “correta” trazida pelos portugueses e falada pela elite, ou as invenções originadas pela mistura das raças e faladas correntemente pelo povo brasileiro? O objetivo de Artur Azevedo nunca foi atribuir um julgamento, ou responder a essa difícil indagação; seu desejo fundamentava-se em ser realista e retratar comicamente a vida cotidiana do Rio de Janeiro de então. Na citação de Antonio Martins, Gastão, um membro da sociedade letrada, funcionário de repartição, assusta-se ao ouvir o palavreado tortuoso do mulato Salustiano. Diz Gastão: “Mas que linguagem tão esquisita! Dez homens assim são capazes de reformar a língua portuguesa.”[11]

Salustiano, o mulato pernóstico de grande carapinha, possui o discurso melindroso, recheado de palavras “difíceis” inseridas em contexto errôneo. Os exemplos são inúmeros:

Ao anunciar às moças que a polícia permitiu o ensaio do cordão: “As donzelas são melindrosas flores, que devem ser guardadas com o mais espontâneo recato. Tenham a bondade, senhoritas, de dizer ao vosso honrado progenitor, quando ele voltar do labor cotidiano e sintomático, que hoje há ensaio.”[12] Essa introdução excessiva de termos para transmitir um recado simples faz parte constante da enunciação de Salustiano. As falas da personagem auxiliam na constatação rápida do tipo retratado por Artur Azevedo: o malandro inculto, que deseja mostrar sapiência.

Quando se dirige a Gastão e Alfredo: “Vejo que falo com pessoal escovado. Mas eu não percebo o motivo desta intervenção jurídica e jubilosa para o meu eu.”[13] E ao se despedir deles: “Creiam, cidadães conspícuos, que têm neste seu criado um servo preponderante, pródigo e observante de todas as pragmáticas ultrasociais.”[14] Devido à vontade de mostrar-se importante aos dois rapazes, Salustiano seleciona palavras das quais não conhece o significado e insere-as aleatoriamente em seu discurso, incorrendo no uso semanticamente deslocado de termos, o que dificulta o entendimento imediato, mas propicia o riso.

Desse modo, a personagem não percebe que o efeito de seu discurso nos jovens é exatamente o oposto do pretendido. Após conhecê-lo, os dois rapazes reasseguram a necessidade de afastar suas namoradas de tipos como Salustiano. O palavreado da personagem faz o leitor/espectador rir da falta de consciência de ridículo e da surpresa por encontrar termos em lugares textuais em que não seriam utilizados corriqueiramente. Essa inconsciência de seu “defeito” faz parte do tipo cômico. A personagem não percebe a reação que está causando em seu interlocutor.

A linguagem de Salustiano representa um item fundamental para a determinação do tipo criado pelo autor. Sua personalidade está toda voltada para a maneira como fala. A relação entre ele e as outras personagens também se faz através do discurso. Enquanto os rapazes da sociedade educada sentem aversão ao tipo, após poucos minutos de diálogo, principalmente pelo seu discurso, como fica explícito pela fala de Gastão acima transcrita; as personagens de sua convivência habitual admiram o linguajar empolado, que não são capazes de entender (Joaquina: “Este seu Salustiano fala como um libro averto”[15]).

É o que se verifica por este comentário de Emerenciana, mulher de Salustiano: “Você é muito bom home, seu Salustiano, é um home inteligente que até fala dificel, mas tem um defeito...”[16] O defeito de Salustiano é a bebida. Henri Bergson, ao analisar o caráter cômico, institui o “defeito” inconsciente como uma propriedade comum às personalidades que provocam o riso. Esse defeito poderá ser leve ou até mesmo grave, desde que o autor saiba tratá-lo de maneira cômica: “peut-être n’est-ce pas parce qu’un défaut est léger qu’il nous fait rire, mais parce qu’il nous fait rire que nous le trouvons léger”.[17]

O alcoolismo, com certeza, não é um problema leve, mas, dentro do texto, da maneira como Artur Azevedo pinta o bêbado Salustiano, ele se torna repleto de comicidade. Isso porque o humor nasce da sociedade, de seus preconceitos, de seus pensamentos, existe sempre uma “maneira de pensar” por trás de uma piada, por isso que muitas são hilárias para uma determinada cultura, mas perdem a graça quando contadas em um país estrangeiro. 

Ainda segundo Bergson, a personagem cômica pode ser inserida na classificação de gêneros (genres), com sentido de generalidade – muitas pessoas podem ser como aquele tipo: existem muitos malandros bêbados no Rio de Janeiro –, enquanto a personagem trágica deve ser única (individus) – quantos Hamlets encontramos na vida real? A personagem cômica demonstra superficialmente seu tipo, porque ela nasce de uma observação exterior e ligeira das pessoas. Artur Azevedo, em seus andares pela cidade, na convivência com o povo que assistia a suas peças populares, cruzava com “tipos” como Salustiano, por isso conseguiu retratá-lo superficialmente (da maneira como via o malandro carioca) e caricaturá-lo a fim de propiciar o riso de sua platéia.

Grande observador, sem a preocupação elitista (tão comum na época) de escrever de acordo com as normas portuguesas, Artur Azevedo retirava o material de sua obra tão brasileira diretamente da vida ao seu redor. E para fornecer mais realidade aos tipos inspirados no povo, escrevia o texto da maneira como os ouvia falar. Por isso o discurso tornou-se elemento fundamental na caracterização de suas personagens.

Enquanto Salustiano representa na comédia o tipo do malandro que usa um vocabulário chamado por Antonio Martins de “requintado discurso bestialógico”[18], Cazuza, o capoeira, fala por gírias, gírias dos capoeiras do séc. XIX. Os capoeiras, assim chamados, obviamente, por jogarem capoeira na cidade, eram malandros severamente repreendidos pela polícia, por comandarem bagunças e tumultos.

Cazuza entra em cena, fugido da polícia, e sua primeira frase é: “Aqui estou seguro... que sangangu de maçadas! Que sangangu onça, seu Salustiano!”[19] Quem, hoje em dia, sabe o que significa “sangangu”? (O termo equivale à briga, confusão). Cazuza continua narrando sua aventura através da linguagem informal: “O Miudinho abriu o chambre pelo Nheco acima e eu abri esta menina (Abre uma navalha e faz passos de capoeiragem) – E brinquei cinco minutos assim. Depois meti a cabeça numa praça (Quer meter a cabeça em Alfredo, que foge).”[20] A cena, representada, deve ser engraçadíssima, principalmente pela reação dos rapazes “educados” Alfredo e Gastão, terrivelmente assustados com os modos dos participantes do cordão. 

Assim, percebe-se que a personagem Cazuza – além dos passos de capoeira e de uma caracterização física não delineada pelo autor – é determinada fundamentalmente pela linguagem. Como também o são outros dois participantes do ensaio carnavalesco: Zé da Carroça e Joaquina. Na rubrica, são assim descritos por Artur Azevedo: “Entram Zé da Carroça e Joaquina, tipos de portugueses de cortiço”[21]. Caberia aos atores criar o sotaque português? Não, porque Artur Azevedo fornece o sotaque ao escrever como se fala. Aos tipos de portugueses basta a linguagem para assim serem identificados pelo público.

Diz Zé: “Bamos indo, bamos indo, graças a Deus! Bim bere o ensaio do grúpio.” E a mulher, Joaquina: “Mas não debes abusare porque ano passado, depois do carnabal, lebaste uma s’mana inteira que nem podias muber o braço.”[22] Imagine-se, portanto, a cena, com essa mistura de linguajares diferentes: Salustiano e seus vocábulos sinuosos, Cazuza e a gíria dos capoeiras, Zé e Joaquina com o sotaque português! Some-se ainda o modo de falar de Emerenciana e Zeca, mulher e filho de Salustiano.

Emerenciana e Zeca demonstram na fala não apenas uma divergência no sotaque, ou no jeito de se pronunciar as palavras, como ocorre com os outros (ainda que também cometam “erros de português”), mas o que transparece essencialmente, em seu linguajar, é a falta de educação formal. O menino tem doze anos e nunca foi à escola, por não possuir roupa adequada. E à mãe provavelmente ocorreu o mesmo: “Torna a trazê pra dentro a mesinha e as cadeira, que tu levou pro quintá. (A Salustiano) Se você esperava dois amigo, pra quê foi bebê?”[23]

Quando chegam Remígio e as moças, o grupo está completo. Remígio representa uma ponte entre os dois núcleos da peça: o “núcleo da sociedade” e o “o núcleo do cordão”. Conta lorotas sobre a guerra, e seu discurso não se afasta do coloquial correto também utilizado por Gastão, Alfredo, Rosa e Florinda. Em meio à confusão do ensaio, os quatro namorados conseguem fugir. Gastão e Alfredo demonstram claramente a repugnância pelo ambiente em que estão – Alfredo: “Não há tempo a perder... as senhoras não podem ficar aqui nem mais um momento.” Quando as moças relutam em fugir do pai – “Nesse caso, adeus para sempre! Porque se continuam aqui, não serão dignas de nós.”[24]

4. O “núcleo da sociedade”

O “núcleo do cordão” adquire comicidade maior quando colocado em confronto direto com o “núcleo da sociedade”. A oposição entre os dois, - o espanto e o medo de Gastão e Alfredo frente à beberagem, aos modos de agir e ao discurso das personagens do cordão, - ressalta o efeito cômico que, sozinhos, os participantes regulares do cordão teriam em menor grau.     

Após fugirem, Gastão e Alfredo “depositam” suas amadas na casa do diretor da repartição na qual trabalham, o Conselheiro. Esta personagem, assim descrita por Artur Azevedo: “O Conselheiro é um velho de suíças brancas, vestido com trajes matinais e boné; aparece ao fundo com um Diário Oficial”[25], possui uma enunciação cuidada e formal. Utiliza termos não corriqueiros, porém sem um uso inadequado, como o faz Salustiano.

O Conselheiro representa o maior grau da alta sociedade. Gastão, Alfredo, Rosinha e Florinda possuem linguajar correto, porém comum, já o Conselheiro enuncia-se, a todo o momento, através de um discurso cerimonioso e culto. Por exemplo, ao dispensar os namorados para conversar a sós com Remígio: “Na ocasião oportuna chamar-vos-ei. Ide para debaixo daquele caramanchão, mas espero do vosso critério, procedais com toda circunspeção e dignidade”; e ao censurar Remígio pelo mau exemplo frente às moças: “Em vez de resguardar suas filhas e afastá-las do mal, vossemecê leva-as a um desses antros denominados cordões carnavalescos, em casa de um homem de má vida, onde se reúnem bêbedos e desordeiros.”[26]

Portanto, o Conselheiro é um típico... conselheiro. Aconselha os noivos, aconselha Remígio, e promove a paz entre todos. Seu linguajar auxilia o seu papel, porque transmite o exemplo de uma pessoa respeitável e culta, que sabe o que é melhor para todos. Ele está acima das outras personagens e o discurso demonstra isso claramente. Assim, convence imediatamente Remígio sobre a necessidade de permitir o casamento das moças. Sua autoridade é explicitada logo no início do diálogo, quando se apresenta: “Vossemecê está em presença do conselheiro Faria, velho funcionário, com quarenta anos de serviço... Conselheiro e Oficial da Roda pelo império, e tenente-coronel honorário do Exército pela República. (Remígio levanta-se, perfila-se e faz continência militar)”[27].

A peça termina com o “núcleo do cordão”, que sai para se apresentar no dia de Carnaval. E Remígio, falsamente reabilitado pelo Conselheiro e por seus genros, não resiste e cai na folia junto a seus antigos companheiros. Este epílogo é altamente popularesco. Apesar da crítica clara aos costumes do povo, realizada através das palavras do Conselheiro e das reações dos namorados quando presentes ao ensaio do cordão, o fim da comédia demonstra abertamente a simpatia de Artur Azevedo pelo que é originário da cultura popular.

Desse modo, a peça se sustenta constantemente nesse meio termo. Diz Alfredo, para ganhar a simpatia de Salustiano e conseguir embrenhar-se no ensaio do cordão e “salvar” sua amada: “O amigo e eu somos doidos pelo carnaval... mas o verdadeiramente popular, o carnaval bem entendido, o carnaval de cordão”[28].  Depois, quando já inseridos no núcleo do cordão, os dois rapazes da sociedade, apesar de dançar e participar da festa, freqüentemente proclamam a aversão que sentem.

Essa aversão dos namorados frente à folia dos participantes do cordão não chega a comprometer os últimos perante o público, porque todas as personagens são capazes de angariar simpatia. E a finalização, com os namorados encaminhados para o casamento, e Remígio de volta ao velho vício, demonstra que Artur Azevedo escreveu uma peça para agradar a todas as classes sociais do Rio de Janeiro da época.

A elite culta poderia perfeitamente entender o texto como uma crítica ao vício e à depravação do carnaval. Já o povo pobre veria nela a exaltação dos costumes populares. Essa oposição permanente no texto gera a comicidade constante presente do começo ao fim da comédia. O Cordão reforça a posição ambígua de Artur Azevedo na época, entre o meio intelectual do Rio de Janeiro, com o qual convivia diariamente nas rodas literárias e nos jornais, e o povo iletrado, público de suas peças musicadas. 

O autor recebia críticas severas dos literatos por se dedicar ao teatro popular. Estes exigiam que o autor dedicasse sua pena somente à chamada alta comédia. Algumas vezes, o comediógrafo conseguia contentar a todos (à população mais pobre e à elite econômica e intelectual), tal acontecia quando unia seu talento de autor do teatro ligeiro a um enredo de comédia mais elaborado. Essa situação pode ser exemplificada com O Cordão, em que visualizamos o evidente esforço de atingir com êxito as diferentes camadas da população do Rio de Janeiro.

5. Os tipos cômicos de Artur Azevedo

Em O Cordão os tipos cômico diferenciados pela linguagem são muitos. Cada um se sobressai quando colocado em oposição a outro. As gírias de Cazuza tornam-se mais engraçadas ao lado do “discurso bestialógico” de Salustiano, que se contrapõe ao sotaque português de Zé e Joaquina, junto com os erros de concordância de Emerenciana e Zeca. Todos esses, vistos (e ouvidos) pelos olhos arregalados de espanto dos namorados, resultam em um conjunto de alta comicidade, tanto no tempo em que a peça foi escrita, como hoje (ainda que as gírias de Cazuza sejam praticamente incompreensíveis a nós, leitores e espectadores do século XXI).

O conhecimento da língua falada, e dos desvios lingüísticos presentes entre a população (de maioria iletrada), forneceu a Artur Azevedo material para criação de tipos inesquecíveis, não só em O Cordão, como em praticamente todas as suas comédias. Talvez nesse fator se encontre o segredo de seu sucesso na época e da longevidade de seus textos, encenados com êxito ainda hoje.

As pessoas se identificavam com as personagens criadas pelo dramaturgo, não só na maneira de falar, como nos trejeitos e nos enredos das peças. Acima de tudo, as comédias eram entendidas facilmente pelo povo, o que não ocorria com os textos voltados unicamente para a elite (muitos representados em italiano ou francês, por companhias estrangeiras). Escreveu Antonio Martins: “Importa lembrar que, ao enriquecer sua galeria de tipos, alguns deles com nítida função humorística, Artur Azevedo vai de encontro a toda a tradição purista que esteve presente em nosso teatro, até posterior a ele.”[29]

A partir da década passada, os estudos sobre Artur Azevedo têm ido contra a tendência tradicional da crítica do decorrer do século XX, que denegria o dramaturgo por escrever peças ditas “superficiais”, sem “nada de próprio ou especial a dizer”[30]. Hoje, as qualidades, observadas principalmente nos tipos cômicos e na linguagem, moderna para o seu tempo, estão sendo ressaltadas e apreciadas pelos estudiosos. O Cordão é apenas uma das peças em que a diversidade das personagens e dos diferentes discursos demonstram a riqueza ainda por descobrir na obra de Artur Azevedo.

6. Referências bibliográficas

AZEVEDO, Artur. O Cordão. In: Teatro de Artur Azevedo. Vol.5. Antonio Martins de Araújo (org.). Rio de Janeiro: Funarte, 1995
BARRETO, Paulo. Quinta. Gazeta de Notícias, 01/03/1908.
BENDER, Ivo C. Comédia e riso: uma poética do teatro cômico. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS / EDPUCRS, 1996.
BÉRGSON, Henri. Le Rire: essai sur la signification du comique. Paris: Presses Universitaires de France, 1950.
MAGALDI, Sábato. Panorama do Teatro Brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Global, 1997.
MARTINS, Antonio. Artur Azevedo: a palavra e o riso. São Paulo; Perspectiva; Rio de Janeiro: UFRJ, 1988.
PRADO, Décio de Almeida. A personagem no teatro. In: Cândido, Antônio (org). A personagem de ficção. 9 ed. São Paulo: Ed. Perspectiva
______. A evolução da literatura dramática. In: A literatura no Brasil vol. 2 org. Afrânio Coutinho - Rio de Janeiro: Editorial Sul Americana SA, 1955.
[3] “Quinta”, Barreto, Paulo. In Gazeta de Notícia, 01/03/1908.
[4] Magaldi, Sábato. Panorama do Teatro Brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Global, 1997.
[5] Prado, Décio de Almeida. A personagem no teatro. In. Cândido, Antônio (org). A personagem de ficção. 9 ed. São Paulo: Ed. Perspectiva.
[6] Bender, Ivo C. Comédia e riso: uma poética do teatro cômico. Porto Alegre: Ed. Universidade / UFRGS / EDPUCRS, 1996.
[7] Martins, Antonio. Artur Azevedo: a palavra e o riso. São Paulo; Perspectiva; Rio de Janeiro: UFRJ, 1988.
[8] Ryngaert, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[9] Prado, Décio de Almeida. A personagem no teatro. In. opus cit. – grifo nosso.
[10] Martins, Antonio, opus cit.
[11] Azevedo, Artur. O Cordão. Teatro de Artur Azevedo. Vol.5. Antonio Martins de Araújo (org.). Rio de Janeiro: Funarte, 1995.
[12] Idem.
[13] Idem.
[14] Idem.
[15] Idem.
[16] Idem.
[17] Bergson, Henri. Le Rire: essai sur la signification du comique. Paris: Presses Universitaires de France, 1950. “Talvez não seja por ser leve que  um defeito provoque o riso, mas o consideramos leve porque ele provoca o riso.”
[18] Martins, Antônio. Opus cit.
[19] Azevedo, Artur. Opus cit.
[20] Idem.
[21] Idem.
[22] Idem.
[23] Idem.
[24] Idem.
[25] Idem.
[26] Idem.
[27] Idem.
[28] Idem.
[29] Martins, Antonio. Opus cit.
[30] Prado, Décio de Almeida, A evolução da literatura dramática, In. “A literatura no Brasil” vol. 2 org. Afrânio Coutinho - Rio de Janeiro: Editorial Sul Americana SA, 1955.

Fonte:
Literatura : caminhos e descaminhos em perspectiva / organizadores Enivalda Nunes Freitas e Souza, Eduardo José Tollendal, Luiz Carlos Travaglia. - Uberlândia, EDUFU, 2006. 
 CD-ROM : il.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 781)



Uma Trova de Ademar  

Lágrimas... Águas em fugas, 
que de maneira inclemente, 
deixam escritas nas rugas, 
os sofrimentos da gente... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz… 
–Izo Goldman/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Jamais eu me recusei
a confessar meu pecado,
a vida toda eu amei,
jamais me senti amado.
–Wellington Freitas/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Cantagalo/RJ 
Tema   -   ESPAÇO   -   6º Lugar 

A maquiagem pesada,
diante do espelho, desfaço
e em minha cara lavada
rugas brigam por espaço... 
–Élbea Priscila de Souza/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Há muito mais amizade,
mais esperança e doçura,
depois que veio a saudade
perturbar nossa ventura.
–Hélio Garcia de Matos/RJ– 

U m a P o e s i a  

Nesses clássicos contos eu me fiz,
ao invés de um poeta ou de um patrício,
fui num “conto de fadas fictício” 
um “mocinho” de um fim nem tão feliz...
nesses contos e histórias infantis 
seriamente eu deixei de acreditar!
feito um príncipe eu saí para encantar
mas faltou uma bela adormecida
“os meus becos são todos sem saída
e eu não sei como faço pra voltar”.
–Dudu Morais/PE– 

Soneto do Dia  

VOZ QUE SE CALA. 
–Floberla Espanca/ESP– 

Amo as pedras, os astros e o luar
que beija as ervas do atalho escuro,
amo as águas de anil e o doce olhar
dos animais, divinamente puro. 

Amo a hera, que entende a voz do muro
e dos sapos, o brando tilintar
de cristais que se afagam devagar,
e da minha charneca o rosto duro. 

Amo todos os sonhos que se calam
de corações que sentem e não falam,
tudo o que é Infinito e pequenino! 

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
do nosso grande e mísero Destino!...

Georgina Mart (Releitura de Esopo: No Tempo em que os Bichos Falavam)


Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que Esopo resolveu recolher e contar as histórias deles para todo mundo. 

Esopo era escravo de um rei da Grécia, e divertia-se inventando uma moral para as histórias que ouvia dos animais.

Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de entender a linguagem dos animais, mas Esopo era. Sobretudo dos pequeninos, que falavam muito baixinho, como por exemplo os ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio.

Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos que vinham de dentro do buraquinho. Os ratinhos estavam muito agitados e preocupados pois, o rei havia colocado um gato grande e forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de brincar em serviço, já tinha devorado vários ratos.

Esopo apurou os ouvidos e pôde ouvir tudo o que os ratinhos diziam:

Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma caixa de fósforos, discursava:

— Meus amigos, assim não é mais possível, não temos mais paz e tudo porque o rei resolveu trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai acabar com a nossa raça!

Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em solucionar o problema que os afligia: um gato, grande e forte, que o rei havia mandado colocar na cozinha.

Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o Provolone, o Roquefort, o Camembert e o pobre Tatá, o mais amado de todos.

Planejaram, planejaram e não conseguiram chegar a nenhuma conclusão que agradasse a todos. Precisavam de estratégias eficazes e seguras.

Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era impossível: "Como matar uma fera daquelas?"

Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer entre os dentes do gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da caixa de fósforos quando Frederico, um ratinho muito tímido que nunca falava, resolveu dar sua opinião:

— Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei rápido, mas antes vocês vão responder a uma pergunta: Por que esse gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e espertos?

E Horácio respondeu:

— Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho. Como é que vamos saber quando ele se aproxima?

— Exatamente como eu pensei. Me perdoem a modéstia, mas acho que a idéia que tive é a melhor de todas as que ouvi aqui .Vejam só, é simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até aquele que pegamos da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho e que faz um barulho enorme.

Os ratos não estavam entendendo nada, para que serviria um guizo?

Frederico tratou de explicar: 

— A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se aproximar, vamos ouvir o barulho e fugir. Não é simples? 

Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o gato se aproximar.

Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia quando, de repente, um ratinho que não parava de roer um apetitoso pedaço de queijo, resolveu perguntar:

— Mas quem é que vai colocar o guizo no pescoço do gato?

Todos saíram cabisbaixos. Como não haviam pensado naquilo antes?

Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era a seguinte: "Não adianta ter boas idéias se não temos quem as coloque em prática". Ou ainda: "Inventar é uma coisa, colocar em prática é outra".

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

Jornais e Revistas do Brasil (Jornal de Timon)


Período disponível: 1852 a 1858 
Local: MA 
  
O Jornal de Timon foi fundado em 25 de junho de 1852, em São Luiz, no Maranhão pelo jornalista e historiador João Francisco Lisboa. Inicialmente uma publicação mensal, impressa na “Typographia Const. de I. J. Ferreira”, no nº 23 da rua da Paz, tratou especialmente de história política, não só do Maranhão mas também da Europa, seja, no caso desta última, na Antiguidade, Idade Média ou Idades Moderna e Contemporânea. Tomando de empréstimo o nome do filósofo grego conhecido por sua misantropia (Timon), João Lisboa acabou assumindo a alcunha de “o Timon Maranhense”, tendo entrado para história intelectual brasileira como o patrono da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

No formato pequeno predominante na época, próximo ao de livros, o Jornal de Timon trazia na página de rosto a epígrafe “Periculum dicendi non recuso” [“Não recuso tratar do que é perigoso”], frase do filósofo romano Cícero. O prospecto da edição inicial, de 25 de junho, expunha as razões do estilo crítico que João Lisboa iria imprimir ao seu jornal:

"O obscuro canto do mundo que habitamos não podia escapar á sorte commum, e a epocha que nos coube atravessar, é uma daquellas em que o mal tem decidida preponderancia; (...) o mal vil e despresível, o lodo, a baixeza, a degradação, a corrupção, a immoralidade, toda a casta de vicios enfim, tormento inevitavel dos animos generosos que os cegos caprichos do acaso designaram para espectadores destas scenas de opprobio e de dor. Timon, antes amigo contristado e abatido, do que inimigo cheio de fel e desabrimento, emprehende pintar os costumes do seu tempo, encarando o mal sobretudo, e em primeiro logar, senão exclusivamente, sem que nisso todavia lhe dê primazia, ou mostre gosto e preferencia para a pintura do genero. Ao contrario, faz uma simples compensação, porque o mal, nas apreciações da epocha, ou é esquecido, ou desfigurado."

Essa edição trazia uma avaliação das experiências eleitorais ao longo da história. Na parte inicial, tratava das eleições na Antiguidade, especificamente em Atenas, Esparta e na Roma republicana e imperial. Na parte seguinte, tratava das eleições na Idade Média e na Idade Moderna, atendo-se à Roma católica, Inglaterra, Estados Unidos, França e Turquia. 

Nas três edições seguintes, publicadas em 1852 e 1853, o foco era dirigido para a história política da Província do Maranhão. Em estilo pungente e, em não poucas vezes, irônico, mas sempre fundado em ótica liberal, o jornal do “Timon Maranhense” teceu duras críticas aos costumes políticos de sua época, tendo por objeto os processos eleitorais e a atuação dos partidos políticos e da imprensa. Não lhe escaparam as cerimônias oficiais, as relações entre o governo e a Igreja, entre a imprensa e o governo, as instalações e logística oficiais, particularidades dos partidos políticos locais, atuação dos líderes locais, articulações e dissoluções partidárias, questões econômicas maranhenses, perseguições a quilombos, rivalidades e tumultos de ordem política, a opressão violenta do poder público com espancamentos e mortes, festejos populares, corrupção eleitoral, relações da província com o poder imperial, o desenvolvimento do indivíduo e do país por meio do trabalho e da produção de riqueza etc.

Na quinta edição, o Jornal de Timon iniciou uma longa série, que duraria até o último número, intitulada “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”. O número pareceu dividido em três livros. O primeiro abordou o Descobrimento da América e do Brasil, o início da colonização do Maranhão, particularidades de antigos exploradores e cronistas do Descobrimento, a divisão do Novo Mundo por Portugal e Espanha e, por fim, o sistema de capitanias hereditárias. O segundo tratou da invasão francesa no norte do Brasil (incluindo a ocupação francesa no Maranhão), expedições portuguesas visando à extirpação dos franceses, batalhas e tréguas e o fim da invasão francesa no Brasil. E o terceiro livro focalizava a invasão holandesa no norte brasileiro, com a tomada do Maranhão pela armada holandesa, saques e deportações de importantes habitantes de São Luís, a insurreição popular contra o domínio estrangeiro, o cerco português à capital maranhense, atrocidades e devastações durante os conflitos, batalhas e conflitos cruciais até o fim da presença holandesa no Brasil.

Após a quinta edição, a publicação de João Francisco Lisboa passou a reunir várias edições em um único volume. Ainda em 1853, um único volume, com 420 páginas, publicava os números 6, 7, 8, 9 e 10. Este volume 6-10 dava prosseguimento à publicação dos “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”. Assim, o quarto livro trazia um “Parallelo das invasões franceza e holandeza”. O quinto e o sexto estudavam questões e particularidades ligadas aos povos indígenas brasileiros, com suas culturas e costumes, organização social e meios de subsistência, crenças espirituais e línguas, escravidão e relações gerais com os invasores europeus, o definhamento frente ao processo de colonização, a antropofagia de prisioneiros em algumas tribos, as impressões e interpretações de Pero Vaz de Caminha e do padre Antônio Vieira, a legislação portuguesa e bulas papais sobre os indígenas, além de particularidades de tribos e comunidades em toda a América setentrional. O sétimo e o oitavo livros, por sua vez, tratavam exclusivamente da relação entre indígenas e os jesuítas, abordando princípios gerais e doutrinas da ordem jesuítica, a figura de Ignácio de Loyola, a missão de São Francisco Xavier no Oriente, a chegada da ordem ao Brasil, lutas entre jesuítas e colonos pela libertação indígena, missões no Maranhão, a vida e a atuação do padre Antônio Vieira, episódios marcantes na história da atuação dos missionários na colônia etc. 

A periodicidade do Jornal de Timon não foi regular. De acordo com o verbete sobre João Francisco Lisboa no site da Academia Brasileira de Letras, “Os cinco primeiros números [do Jornal de Timon] circularam mensalmente. Somente em 1854 saíram, em volume [único] de 416 páginas, os fascículos de 6 a 10”. A pausa na publicação após 1854 deu-se pela transferência de João Lisboa para o Rio de Janeiro em 1855. Depois de curto período na capital brasileira, o maranhense “partiu para Lisboa, incumbido pelo Governo Imperial de coligir, em Portugal, documentos e dados elucidativos da história brasileira”. 

Depois de alguns anos sem circular, por volta de março de 1858 foi lançado o nº 11/12 do Jornal de Timon, em Portugal. A impressão foi na Imprensa União-Typographica, no nº 113 da rua dos Calafates. A edição vinha com um texto explicativo aos assinantes: 

"A regularidade da publicação (...) foi embaraçada por diversas circumstancias. Quando sahimos da província [do Maranhão] em 1855 faltavam ainda dous numeros (cento e sessenta a dusentas paginas) para completar-se o programma. Prevendo o quanto as nossas viagens ao Rio e á Europa poderiam retardar o pagamento desta divida, offerecemos desde logo restituir o importe correspondente das assignaturas; mas nem um só subscriptor se quiz aproveitar deste direito, e todos preferiram esperar. Penhorado por esta lisongeira prova de confiança e benevolencia, o auctor tem hoje a satisfação de apresentar-lhes os n.os 11 e 12 do Jornal de Timon, duplicando o numero das paginas devidas, como uma especie de compensação á longa demora."

Mesmo com o hiato na periodicidade, o nº 11/12 prosseguiu com os “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”, tratando de assuntos gerais relativos ao Maranhão e ao Brasil coloniais. Em perspectiva analítica, a edição abordou o regime absolutista, as primeiras tentativas de colonização do Maranhão, o governo de Ruy Vaz de Sequeira e de alguns de seus sucessores, a destruição de tribos indígenas locais, a legislação colonial, as questões acerca da fundação do governo geral da Bahia, a magistratura e o clero, questões concernentes às ordens religiosas no Brasil, instituições e figuras públicas maranhenses, organização social das capitanias, legislação criminal e para imigrantes, expedições militares, escravidão e liberdade de indígenas e povos africanos, questões ligadas a atividades econômicas (comércio, indústria, agricultura, navegação, monopólios, privilégios, legislação etc.), a Revolta de Beckman em 1684, administração pública imperial (inclusive os episódios de corrupção e incompetência), estatísticas provinciais e documentos oficias, usos e costumes maranhenses, entre outras coisas. A edição 11/12 foi a última.

Doublé de jornalista e historiador, João Lisboa enfrentou certa resistência da Academia Brasileira de Letras, sobretudo por causa de seu jornal. Ainda de acordo com o verbete da ABL, o intelectual "Atacou, entre outros, [Francisco Adolfo de] Varnhagen, pelo método que empregou na História do Brasil. Apareceu, então, em Lisboa o panfleto Diatribe contra a timonice. Seu autor, disfarçado sob o pseudônimo de Erasmo, era o cunhado do próprio Varnhagen, Frederico Augusto Pereira de Moraes. Também Varnhagen replicou no opúsculo Os índios bravos e o senhor Lisboa."

Em 1995, a editora Companhia das Letras publicou o livro Jornal de Timon: partidos e eleições no Maranhão, organizado por José Murilo de Carvalho, que transcreve o segundo e o terceiro volumes do jornal Em 2004, o vol. 28 das Edições do Senado Federal republicou os números 1, 2, 3 e 4. Esse volume encontra-se disponível para consulta no site da Biblioteca Digital do Senado Federal: http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/1098

Bibliografia

 1. João Francisco Lisboa. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=891&s... Acesso em 3 jul. 2012.
 2. Jornal de Timon - Partidos e eleições no Maranhão. Companhia das Letras. Disponível em: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10528 Acesso em 3 jul. 2012.
 3. LISBOA, João Francisco. Jornal de Timon. Eleições na Antiguidade. Eleições na Idade Média. Eleições na Roma Católica, Inglaterra, Estados Unidos, França, Turquia. Partidos e eleições no Maranhão. Edições do Senado Federal – Vol. 28. Brasília: Senado Federal, 2004. Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/1098/4/714621.pdf Acesso em 3 jul. 2012.

Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/jornal-de-timon