quinta-feira, 17 de abril de 2014

Clevane Pessoa (Despedida de Gabriel Garcia Marquez)

Gabriel Garcia Marquez, faleceu hoje, 17 de abril de 2014, na Cidade do México, aos 87 anos, de câncer nos pulmões, gânglios e fígado.
Clique sobre a imagem para ampliar

Gabriel García Márquez (Olhos de cão azul)

Então olhou para mim. Pensava que olhava para mim pela primeira vez. Mas então, quando se virou por trás do abajur, e eu continuava sentindo sobre o ombro, nas minhas costas, seu escorregadio e oleoso olhar, compreendi que era eu quem a olhava pela primeira vez. Acendi um cigarro. Traguei a fumaça áspera e forte, antes de fazer girar a cadeira, equilibrando-a sobre uma das pernas posteriores. Depois disso a vi ali, como havia estado todas as noites, de pé junto ao abajur, me olhando. Durante breves minutos não fizemos nada mais que isto: olhar-nos. Eu, olhando-a da cadeira, equilibrando-me numa das pernas traseiras. Ela, em pé, me olhando, com uma das mãos, comprida e quieta, sobre o abajur. Via as pálpebras iluminadas como todas as noites. Foi então que lembrei o de sempre, quando lhe disse: "Olhos de cão azul". Ela me disse, sem tirar a mão do abajur: "Isso. Já não o esqueceremos nunca". Saiu da órbita suspirando: "Olhos de cão azul. Escrevi isso por todas as partes”.

Vi-a caminhar em direção à cômoda. Vi-a aparecer na lua circular do espelho, olhando-me agora no final duma ida e volta de luz matemática. Vi-a continuar me olhando com seus grandes olhos de cinza acesa: olhando-me enquanto abria uma caixinha revestida de nácar rosado. Vi-a passar pó-de-arroz no nariz. Quando acabou de fazer isso, fechou a caixinha e voltou a ficar em pé e andou novamente em direção ao abajur, dizendo: "Temo que alguém sonhe com este quarto e mexa nas minhas coisas"; e estendeu sobre a chama a mão comprida e trêmula, a mesma que estivera esquentando antes de sentar-se em frente ao espelho. E me disse: "Você não sente o frio". E eu lhe disse: "Às vezes". E ela me disse: "Você deve senti-lo agora". E então compreendi por que não tinha podido ficar sozinho na cadeira. Era o frio o que me dava certeza da minha solidão. "Agora o sinto", disse. "E é raro, porque a noite está quieta. Talvez o lençol tenha rodado". Ela não respondeu. Começou a se mexer em direção ao espelho e voltei a girar sobre a cadeira para ficar de costas para ela. Embora sem vê-Ia, sabia o que estava fazendo. Sabia que estava outra vez sentada diante do espelho, vendo minhas costas, que haviam tido tempo para chegar até o fundo do espelho, e serem encontradas pelo seu olhar, que também havia tido o tempo justo para chegar até o fundo e regressar antes que a mão tivesse tempo de iniciar a segunda virada — até os lábios que estavam agora pintados de carmim, da primeira virada da mão em frente ao espelho. Eu via, à minha frente, a parede lisa, que era como outro espelho cego, onde eu não a via sentada às minhas costas, mas imaginando onde estaria, se no lugar da parede tivesse sido colocado um espelho. "Estou vendo você", disse-lhe. E vi, na parede, como se ela tivesse levantado os olhos e me visto de costas na cadeira, ao fundo do espelho, com o rosto voltado para a parede. Depois vi-a abaixar as pálpebras, outra vez, e ficar com os olhos quietos no seu sutiã, sem falar. E voltei a lhe dizer: "Estou vendo você." E ela voltou a levantar os olhos do sutiã. "É impossível", disse. Eu perguntei por quê. E ela, com os olhos outra vez quietos no sutiã: "Porque você tem o rosto voltado para a parede". Então eu fiz girar a cadeira. Tinha o cigarro apertado na boca. Quando fiquei de frente para o espelho, ela estava outra vez junto do abajur. Agora tinha as mãos abertas sobre a chama, como duas asas abertas de galinha, sendo assada, e com o rosto sombreado pelos próprios dedos. "Acho que vou me resfriar", disse. "Esta deve ser uma cidade gelada”. Voltou o rosto de perfil e sua pele de cobre vermelho se tornou repentinamente triste. "Faça alguma coisa contra isso", disse. E ela começou a tirar a roupa, peça por peça, começando por cima; pelo sutiã. Disse-lhe: "Vou me virar para a parede". Ela disse: "Não. De todas as maneiras você vai me ver, como me viu quando estava de costas". Mal tinha acabado de dizer isso e já estava despida quase por completo, com a chama lambendo-lhe a comprida pele de cobre. "Sempre tinha querido ver você assim, com o couro da barriga cheio de buracos fundos, como se houvessem feito você a pauladas". E antes que eu me desse conta de que minhas palavras se tinham tornado torpes diante da sua nudez, ela ficou imóvel, esquentando-se na órbita do abajur, e disse: "Às vezes creio que sou metálica". Manteve o silêncio por um instante. A posição das mãos sobre a chama mudou levemente. Eu disse: "Às vezes, em outros sonhos, pensei que você é apenas uma estatueta de bronze num canto de algum museu. Talvez por isso sinta frio". E ela disse: "Às vezes, quando durmo sobre o coração, sinto que o corpo fica como um ovo, e a pele como uma lâmina. Então, quando o sangue me bate por dentro, é como se alguém me estivesse chamando com os nós dos dedos na barriga, e sinto meu próprio som de cobre na cama. É como se fosse assim como você diz: de metal laminado". Aproximou-se mais do abajur. "Teria gostado de ouvir você", disse. E ela disse: "Se alguma vez nos encontrarmos ponha o ouvido nas minhas costelas, quando eu dormir sobre o lado esquerdo, e me ouvirá ressonar. Sempre desejei que você alguma vez fizesse isso”. Ouvi-a respirar fundo enquanto falava. E disse que durante anos não tinha feito nada diferente disso. Sua vida estava dedicada a me encontrar na realidade, por meio dessa frase identificadora. "Olhos de cão azul." E na rua ia dizendo em voz alta, que era uma maneira de dizer à única pessoa que teria podido compreendê-la:

"Eu sou a que chega em seus sonhos todas as noites e lhe diz isto: olhos de cão azul". E ela disse que ia aos restaurantes e dizia para os garçons, antes de fazer o pedido: "Olhos de cão azul". Mas os garçons lhe faziam uma respeitosa reverência, sem que houvessem lembrado nunca ter dito isso nos seus sonhos. Depois escrevia nos guardanapos e riscava com a faca o verniz das mesas: "Olhos de cão azul". E nos cristais embaçados dos hotéis, das estações, de todos os edifícios públicos, escrevia com o indicador: "Olhos de cão azul". Disse que uma vez chegou a uma drogaria e percebeu o mesmo cheiro que tinha sentido no seu quarto uma noite, depois de ter sonhado comigo: "Deve estar perto", pensou, vendo a cerâmica limpa e nova da drogaria. Então se aproximou do vendedor e lhe disse: "Sempre sonho com um homem que me disse: "Olhos de cão azul". E disse que o vendedor a havia olhado nos olhos e dito: "Na verdade, moça, a senhora tem os olhos assim". E ela disse: "Preciso encontrar o homem que me diz isso nos sonhos". E o vendedor começou a rir e foi para o outro lado do balcão. Ela permaneceu olhando o ladrilho limpo do chão e sentindo o cheiro. E abriu a bolsa e se ajoelhou e escreveu com o batom sobre o ladrilho, com grandes letras vermelhas: "Olhos de cão azul". O vendedor regressou de onde se encontrava. Disse-lhe: "Moça, a senhora sujou o ladrilho". Deu-­lhe um pano úmido, dizendo: "Limpe-o". E ela disse, ainda junto ao abajur, que passou a tarde toda agachada, lavando o ladrilho e dizendo: "Olhos de cão azul", até que as pessoas se aglomeraram na porta e disseram que estava louca.

Agora, quando acabou de falar, eu continuava no canto, sentado, equilibrando-me na cadeira. "Tento me lembrar todos os dias da frase com que preciso encontrar você", disse. "Agora creio que amanhã não a esquecerei. Mas sempre esqueço ao acordar quais são as palavras com que posso encontrar você". E ela disse: "Você mesmo as inventou desde o primeiro dia". E eu lhe disse: "Inventei-as porque vi seus olhos cor de cinza. Mas nunca me lembro delas na manhã seguinte." E ela, com os punhos fechados junto ao abajur, respirou fundo: "Se pelo menos pudesse recordar agora em que cidade estive escrevendo isso".

Seus dentes apertados resplandeceram sobre a chama. "Eu gostaria de tocar em você agora", disse. Ela levantou o rosto que estivera olhando a luz: levantou o olhar ardente, assando-se também do mesmo jeito que ela, do mesmo jeito que suas mãos: e eu senti que me viu, no canto, onde continuava sentado, me balançando na cadeira. "Você nunca me tinha dito isso", disse. "Agora digo, e é verdade", disse. Do outro lado do abajur ela me pediu um cigarro. O toco tinha desaparecido dos meus dedos. Esquecera que estava fumando. Disse: "Não sei por quê, não posso lembrar onde o escrevi". E eu lhe disse: "Pela mesma razão pela qual eu não poderei lembrar as palavras amanhã". E ela disse, triste: "Não. É que às vezes creio que também sonhei isso". Fiquei em pé e andei até o abajur. Ela estava um pouco mais para lá, e eu continuava andando, com os cigarros e os fósforos na mão, e não passaria o abajur. Aproximei dela o cigarro. Ela o apertou entre os lábios e se inclinou para atingir a chama, antes que eu tivesse tempo de acender o fósforo. "Em alguma cidade do mundo, em todas as paredes, têm que estar escritas estas palavras: 'Olhos de cão azul", disse. "Se amanhã me lembrasse delas iria buscar você". Ela levantou outra vez a cabeça e já tinha a brasa acesa nos lábios. "Olhos de cão azul", suspirou, recordando, com o cigarro jogado sobre o queixo e um olho semifechado. Aspirou a fumaça, com o cigarro entre os dedos, e exclamou: "Já isto é outra coisa. Estou me sentindo mais quente". E disse-o com a voz um pouco morna e fugidia, como se não o tivesse dito realmente, mas como se houvesse aproximado o papel à chama enquanto eu lia: "Estou entrando — e ela tivesse continuado com o papelzinho entre o polegar e o indicador, virando-o, enquanto ia se consumindo e eu acabava de ler — ­... mais quente", antes que o papelzinho se consumisse por completo e caísse ao chão amassado, diminuído, convertido num leve pó de cinza. "Assim, é melhor", disse. "Às vezes me dá medo ver você assim. Tremendo junto ao abajur".

Há vários anos nos víamos. Às vezes, quando já estávamos juntos, alguém deixava cair lá fora uma colherinha e acordávamos. Pouco a pouco íamos compreendendo que nossa amizade estava subordinada às coisas, aos acontecimentos mais simples. Nossos encontros terminavam sempre assim, com o cair de uma colherzinha na madrugada.

Agora, junto ao abajur, estava me olhando. Eu lembrava que antes também me havia olhado assim, desde aquele remoto sonho em que fiz a cadeira girar sobre as pernas traseiras e fiquei diante de uma desconhecida de olhos cinzentos. Foi nesse sonho que perguntei a ela pela primeira vez:"Quem é a senhora?" E ela me disse: "Não lembro". Eu lhe disse: "Mas acredito que nos vimos antes". E ela disse, indiferente: "Creio que alguma vez sonhei com o senhor, com este mesmo quarto". E eu lhe disse: "É isso. Já começo a lembrar". E ela disse: "Que curioso. É verdade que temos nos encontrado em outros sonhos".

Deu duas chupadas no cigarro. Eu estava ainda em pé em frente ao abajur, quando fiquei olhando para ela de repente. Olhei-a de cima a baixo e ainda era de cobre; mas já não de metal duro e frio, senão de cobre amarelo, macio, maleável. "Gostaria de tocar em você", voltei a dizer. E ela disse: "Você jogaria tudo por água abaixo", voltou a dizer, antes que eu pudesse tocá-la. "Talvez, se você se virar por trás do abajur, acordaríamos sobressaltados quem sabe em que parte do mundo". Mas eu insisti: "Não importa". E ela disse: "Se virássemos o travesseiro, voltaríamos a nos encontrar. Mas você, quando acordar, terá esquecido tudo". Comecei a me mexer em direção ao canto. Ela ficou por trás, esquentando as mãos sobre a chama. E eu ainda não estava junto da cadeira quando a ouvi falar às minhas costas: "Quando acordo à meia-noite, fico revirando-me na cama, com os fios do travesseiro ardendo no joelho e repetindo até o amanhecer: 'Olhos de cão azul'".

Então fiquei com o rosto na parede. "Já está amanhecendo", disse sem olhar para ela. "Quando deram duas da manhã, estava acordado, já fazia bastante tempo." Dirigi-me até a porta. Quando tinha pegado a maçaneta, ouvi outra vez sua voz igual, invariável: "Não abra essa porta", disse. "O corredor está cheio de sonhos difíceis". E eu lhe disse: "Como você sabe disso?" E ela me disse: "Porque há pouco estive ali e tive que voltar quando descobri que estava dormindo sobre o coração". Eu mantinha a porta entreaberta. Movi um pouco o batente, e um ar frio e tênue me trouxe um cheiro fresco de terra vegetal, de campo úmido. Ela falou outra vez, virei-me, mexendo ainda o batente montado em gonzos silenciosos, e lhe disse: "Creio que não há nenhum corredor aqui fora. Sinto o cheiro do campo". E ela, já um pouco longe, me disse: "Conheço isso mais do que você. O que acontece é que lá fora há uma mulher sonhando com o campo". Cruzou os braços sobre a chama. Continuou falando: "É essa mulher que sempre desejou ter uma casa no campo e nunca pôde sair da cidade". Eu lembrava ter visto a mulher num outro sonho anterior, mas sabia, já com a porta entreaberta, que dentro de meia hora tinha que descer para o café da manhã. E lhe disse: "De todas maneiras, tenho que sair daqui para acordar".

Lá fora o vento bateu um instante, ficou quieto depois, e ouviu-se a respiração de alguém adormecido que acabava de virar-se na cama. O vento do campo suspendeu-se. Já não houve mais odores. "Amanhã vou reconhecer você por isso", disse. "Vou reconhecê-la quando vir na rua uma mulher que escreva nas paredes: 'Olhos de cão azul'". E ela, com um sorriso triste — que já era um sorriso de entrega ao impossível, ao inatingível —, disse: "Não obstante, você não lembrará nada durante o dia". E voltou a pôr as mãos sobre o abajur, com a expressão obscurecida por uma névoa amarga: "Você é o único homem que, ao acordar, não se lembra nada do que sonhou".

Fonte:
RAMAL, Alícia (organizadora). Contos Latino Americanos Eternos. RJ: Bom Texto, 2005.

Dorothy Jansson Moretti (Baú de Trovas) 5


Nilto Maciel (Literatura e Internet)

Recebi esta semana do Nilto o livro que lançou recentemente: Sôbolas manhãs.

Falo com certa vaidade ao declarar que possuo quase todos os livros deste escritor cearense (a maioria me foi enviada pelo escritor), de Fortaleza, que considero um dos maiores escritores e ativista da atualidade no território nacional.

Assim como Mário Quintana, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade ou Clarice Lispector, sem pertencerem aos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, seus nomes ficaram imortalizados no livro de nossa história, também Nilto está gravando seu nome nele também.

Sôbolas Manhãs se compõe de textos de sua autoria ao longo dos anos, e ocasionalmente estarei postando um ou outro. Alguns, entretanto, já se encontram no blog, que com o decorrer do tempo estarei indicando seus links.
(José Feldman)

==================
Os sites literários devem ser grandes depósitos de textos, bibliotecas universais? Devem abrir espaço para a discussão de problemas editoriais no Brasil? Os catálogos das editoras e as estantes das livrarias brasileiras revelam que os escritores brasileiros contemporâneos (poetas, contistas e romancistas) são minoria no imenso universo do livro. Estão espremidos (quando muito) entre livros didáticos (a maior fonte de lucro), clássicos da literatura universal e brasileira (domínio público), traduções, biografias, livros de auto-ajuda, etc. O ideal seria a elaboração de uma lei que criasse um fundo, cujos recursos proviessem dos lucros obtidos pelas editoras com a publicação dessas obras de domínio público. Esse fundo poderia patrocinar concursos públicos para publicação de obras inéditas ou mesmo editar (como o fazia o Instituto Nacional do Livro) livros selecionados em concurso ou em outra modalidade de seleção.

                    Os poetas, contistas e romancistas contemporâneos brasileiros estão fora do mercado. Entretanto, na opinião de livreiros, editores, dirigentes de câmaras do livro, a indústria editorial no Brasil vai muito bem, obrigado. Ora, só o governo compra 40% da produção de livros. Isto significa que está tudo muito bom (para eles). Todos nós (ou quase todos) publicamos nossos livros (quando publicamos) por editoras universitárias ou por conta própria. Ou seja, somos lidos apenas pelos amigos. A grande maioria escreve para as próprias gavetas. Um ou outro escritor consegue pôr a cabeça fora da água, a muito custo. Alguns conseguem organizar antologias e, assim, tirar do limbo, uns poucos escritores. É o caso de Nelson de Oliveira, Rinaldo de Fernandes e outros. Louve-se também o trabalho de Rogério Pereira, à frente do jornal Rascunho.

                    Realizei pesquisa no dia 13 de março de 2006, no “Google”. Fiz busca das seguintes palavras, em ordem alfabética: amor, arte, Bíblia, conto,  cultura, guerra, Jesus, literatura, livro, paz, poesia, revista, saúde, sexo e vida. Pela ordem de grandeza, são os seguintes os números de páginas, no Brasil, de cada uma das palavras acima: Saúde – 37.600.000; Vida – 24.300.000; Cultura – 19.200.000; Livro – 16.500.000; Revista – 15.100.000; Arte – 13.600.000; Amor – 13.200.000; Literatura – 9.440.000; Sexo – 9.440.000; Guerra – 6.520.000; Jesus – 6.130.000; Poesia – 6.000.000; Bíblia – 5.130.000; Paz – 2.370.000; Conto – 1.690.000.

O elevado número de páginas dedicadas ao livro é sintomático. Como falar em “morte do livro”, se na própria Internet ele está mais vivo do que nunca? Eduardo Diatahy B. de Menezes, no artigo “A morte do livro na era virtual?”, observa: (...) “em nossa época de avanço exponencial das tecnologias de comunicação e informação, resumidas na presença avassaladora da Internet, surgem novos profetas anunciando a morte do Livro! Felizmente, o que se tem presenciado é o processo contrário: nunca se produziu tanto livro e jamais houve um acesso tão amplo a informações de toda ordem, contidas nas maiores bibliotecas e museus do mundo; jamais existiu uma livraria com um acervo de 3 milhões de livros como a 'Amazon.com', e criações generosas como a Biblioteca Virtual do Estudante produzida pela USP ou o Jornal de Poesia realizado por Soares Feitosa, que põem enorme volume de livros à disposição na Internet. Nossos velhos hábitos mentais não nos fazem capazes de vislumbrar sequer as mudanças que ainda virão nesse rumo sem limites”.

E “crise da literatura”? Pode-se falar em crise, num sentido amplo. Certamente a crise não será de criação, mas de editoração, de mercado editorial. Pois os poetas, contistas e romancistas não param de escrever. Se não conseguem publicar (em forma de livro), a causa não está neles. Ou está? Os leitores estariam mais interessados em Paulo Coelho do que em Francisco Carvalho? Ou tem sido sempre assim? Dizem que os editores esperam por novos transgressores da linguagem. Novos Guimarães Rosa, James Joyce, Franz Kafka. Não, eles esperam por novos O Nome da Rosa, Harry Potter, O Código da Vinci, que vendem antecipadamente milhões de milhares. O que é perfeitamente lógico, do ponto de vista do mercado. Eles estão interessados em quem vende mais. Em razão disso, poetas como Anderson Braga Horta, romancistas como Carlos Emílio Corrêa Lima, contistas como Emanuel Medeiros Vieira, e outras centenas de bons e excelentes escritores continuarão com seus livros nas gavetas ou nas páginas da Internet.

Como afirmar que poesia não é lida? Há dezenas ou centenas os sites e blogs de pura poesia. Pelos comentários dos leitores, percebe-se que há uma avidez de leitura. Então por que são raros os livros de poesia nas prateleiras das livrarias?

Fonte:
Nilto Maciel. Sôbolas Manhãs. Porto Alegre: Bestiário, 2014.

Jangada de Versos do Ceará (Haroldo Lyra)

(Nasceu em Icó, radicou-se em Fortaleza)

SUBLIME AMOR

Numa clínica, um velho procurava
Rápido curativo à mão doente.
Dizia-se apressado, que era urgente,
Pois tinha um compromisso e se atrasava.

O médico, atendendo ao paciente,
Perguntou por que tanto se apressava!
É que, num certo Asilo, costumava
Tomar café co’a esposa, já demente.

O médico ressalta: “Por descaso,
Não reclamara ela desse atraso?”
E ele: “Nem mais me reconhece, até”.

“Então! É apenas um capricho seu?”
“Oh, não! Ela não sabe quem sou eu,
Mas eu sei muito bem quem ela é”.

COISIFICADAS

Hoje é comum mulher tirar a roupa
Pra revelar nas bancas de jornal,
Despudoradamente o colossal
Segredo da virtude, já tão pouca.

Desnuda-se, aos apelos do mural;
Na crapulosa folha a pose louca
Que a revista conduz de boca em boca
E faz dessa mulher coisa venal,

Que assim exposta nua à sordidez;
Dependurada à espreita do freguês,
Nem percebe aonde e como vai chegar.

Mas chega ao pai, os sonhos carcomidos,
Por ver da filha os garbos preteridos,
E oferecida a quem puder pagar.

AMIZADE

Depois de salpicada uma amizade,
Por leve farpa num fugaz momento,
Traz o fato, humana realidade,
Carência de afeto e entendimento.

Se à prosa que se faz se põe maldade,
Perde, a amizade, o doce encantamento.
Há de perder também sinceridade
E lesto se avizinha o rompimento.

Mas, valham as que têm, irrelevante,
O dardo que feriu por um instante
Involuntariamente a fidalguia.

Nisso, aquela que impõe severa norma,
Inexoravelmente se transforma
Em triste olá de falsa cortesia.

APANIGUADOS I

Tenho pena de quem não é capaz
De sustentar-se pelos próprios meios,
Nos donativos finca os seus esteios
E a propaganda de um viver falaz.

Tenho pena dos que romperam veios
Das batalhas que não enfrentam mais;
Mendigos de padrões oficiais
Classificados sem quaisquer receios.

Que pena!… quando o silo esvaziar-se
E o joio dessa safra esparramar-se
Sobre as mentes que o dolo enfeitiçou.

Será penoso então o amanhecer,
Pois apenas terão para comer:
As sengas do pão que o diabo amassou.

DUAS TAÇAS

O álcool sempre vem abrilhantar
Os banquetes em salas requintadas,
Servido nas baixelas prateadas
Que aos olhos serve mais que ao paladar.

O álcool é um prazer bem popular,
Nos bares, nas barracas empalhadas,
Servido n’umas taças mal lavadas,
Agrada à boca, à venta, a quem tomar.

Um drink, salgadinhos de salmão;
Uma cereja adorna a taça à mão
E o fino aristocrata se enaltece.

Um trago, um tira-gosto de buchada;
A banda de um limão, já machucada,
E o jeca deita e rola e a pinga desce.

TROVAS

A gaiola me resguarda
da fatal atiradeira:
do chumbo da espingarda,
da pedra da baladeira.

Bailar na vida é rotina
de quem sabe ser feliz,
e nunca fecha a cortina
do baile que não tem bis.

Considero a efervescência
dessa densa multidão,
estressante consequência
da tal globalização.

Cores de outono bizarro
que a paisagem modifica;
E a estrada tosca de barro
juncada de folhas fica.

No cais, sem vela, ancorado,
o barco sofre a lacuna,
de um capitão reformado
que abandonou velha escuna.

O luar no mar refrata
feixe de raios azuis,
realça a onda e retrata
a praia que nos seduz

Os sentimentos do mar
as ondas cantam na areia,
afagando o firme olhar
da solitária sereia.

Pode até conter amor,
mas a emoção será pouca:
beijos por computador!...
prefiro os de boca à boca.

Rio de curvas simétricas
emoldurando a paisagem,
cinzela as veias poéticas
da natureza selvagem

Tens a missão importante
num mar sereno ou escuro,
indicando ao navegante
aquele porto seguro.

Fonte:
O Autor

Nilto Maciel (O Invisível Isaías)

Nunca vimos Isaías e muito menos o seu coelho. Um vizinho nosso nos disse: Isaías mora num sítio, cercado de galinhas, perus, porcos, cabras, bodes. Tenho muita vontade de falar com ele, conversar. Se isto não for possível, quero vê-lo. Imagino-o de barba branca, chapéu velho, mas bem cuidado, roupas limpas, sandálias ou alpercatas, um cajado. E, se não for assim, não vou me decepcionar. Papai anda aborrecido ultimamente. Talvez  porque Isaías não aparece. Perguntei-lhe se Isaías ainda será menino. Ele olhou para mim com espanto e saiu resmungando. Fiquei mais triste ainda porque Natália riu na minha cara, como se eu fosse um bobo ou papai não gostasse mais de mim.

            Quantos anos terá Isaías? Talvez já seja muito velho. Ou terá morrido? Se morreu, vou sentir saudades dele. Nunca mais poderei vê-lo. Ora, nunca o vi mesmo. Natália, você também vai sentir falta de Isaías? Não sei ainda. Vou esperar até amanhã. Se não sonhar com ele será porque não sinto falta dele. E se no sonho ele for um velho cheio de manias? Não vou querer mais saber dele. E se ele lhe der o coelho? Nesse caso serei capaz até de lhe dar um beijo na testa. Não faça isso; ele poderá se zangar. E nunca mais aparecer. Sonhei com ele muitas vezes. Num dos sonhos corria atrás do coelhinho. Subiam e desciam montes. Subiam as árvores, riam, rolavam no chão. Não havia galinhas nem outros animais por perto. E você falava com ele? Não, ele não me via. Então me empresta este seu sonho. Se eu entrar nele, vou fazer de tudo para ser visto por Isaías.

            Num sábado Carlos acordou cedo. Parecia espantado, a olhar para debaixo da cama, os cantos das paredes, o armário. Jeová tomava café ao lado de Lia. Pretendia passar o dia numa oficina para conserto de carros. O menino lavou o rosto, fez xixi e correu para o colo da mãe. O homem fez cara de zangado e sorveu mais um gole de café: Era uma vez um menino inexistente que queria ser gente. Passava o dia querendo falar, correr, brincar. Mas nada disso conseguia fazer. Porque não existia ou porque não era gente? Jeová fez gestos com as mãos, os lábios, os olhos e não conseguiu pronta resposta. Pai, eu existo ou me inventei? Lia sorriu e deu um beijo no garoto. Natália correu para o colo do pai. Coitado do Carlos, preocupado com Isaías que nem existia de verdade! Quem disse uma tolice tão grande, minha irmã? Isaías é um homem da bíblia. Natália se irritou: Não havia só um Isaías no mundo. O garoto riu. Isaías morava num sítio muito bonito, cheio de plantas, árvores, riachos, cachoeiras, pássaros. Não sei se mora com mulher e filhos. Talvez viva só desde menino. Os pais dele morreram há muito. Não gosta das cidades porque detesta barulho, carros, multidão. Nós não o vemos por isso. Se formos ao sítio dele, nós o veremos. E o menino inexistente, pai? Vivia querendo brincar de esconde-esconde com a irmã. Ele também queria ver Isaías? Queria, mas não podia. Por que ele não existia ou porque Isaías era invisível? Natália correu para o meio da sala: Queria ir à praia ver as ondas. Sentia-se cansada de tanto ouvir falar daquele Isaías invisível. Carlos propôs passeio mais salutar: Irem ao sítio de Isaías. O homem não podia. Precisava passar o dia na oficina. A mulher se sentia cansada. Nada de praia, nada de sítio. Melhor procurarem Isaías dentro de casa. Talvez no porão, no fundo do quintal, atrás das bananeiras. Os meninos se espantaram: moravam em prédio de apartamentos. Onde ficava o porão? Pois é lá que Isaías se esconde. Ele e o coelho. Sabiam o nome do coelho? Jeremias.

            Passamos o resto do dia em busca de Jeremias. Vasculhamos todos os armários, todas as caixas, todas as gavetas. Papai saiu para a oficina. Mamãe jogou ao cesto a revista Cães&Gatos e se debruçou diante da televisão. Eu e minha irmã nos perdemos dentro de casa. Aparece, Isaías, vem conversar conosco. E não esquece de trazer o coelho. Vamos brincar muito, os quatro. Aparece, pois eu sei que você está aqui. Fale comigo. Eu existo ou me inventei, Isaías? Você mora mesmo num sítio muito bonito, cheio de plantas, árvores, riachos, cachoeiras, pássaros? Quantos anos terá Isaías? Talvez já seja muito velho. Ou terá morrido? Papai anda aborrecido ultimamente. Talvez porque Isaías não aparece. Pois nunca vimos Isaías e muito menos o seu coelho.

Fonte:
MACIEL, Nilto. A leste da morte. Editora Bestiário, 2006.

Pedro Du Bois (Navegando nos Versos) 4

ENVENENAR

O veneno atua. O agir envelhece.
Passos cadenciam músicas.
Ouvidos temem o silêncio.
O veneno conclama a vontade
a partir do medo. O agir condensa
a partida em doses: repete
o nome. Nomina. Denomina
no esgotar o espaço e sufocar
o corpo ao cansaço.

SOTURNO
 
Dia soturno de apagadas horas
em partidas indiferentes. Ocaso
de única espera. Aos amantes
cabem desejos passados.

Permaneço incapaz do gesto
de renúncia no aguardo
do que diria em quadros
estáticos de atávicos amigos.

Sou quem vai embora em literário
afago no desconsiderado beijo recebido.

A distância da luz no sabor
do insosso nas curvas
em que me afasto.

Iludido em sonhos de tórridas
realidades de não aconchego.
          Flâmula imóvel em ventos
               continuados de paixão.

A noite soturna de aprazadas horas
remete o riso ao invisível no tempo
restante por onde escapam os sonhos.

POR ISSO
 

Por isso nos fogem as palavras
escondidas em hinos oficiais
entre esgarçados espíritos
na densidade rarefeita
dos últimos tempos
não há lugar onde termos
sensibilizem espíritos
nos velhos que pensam
em versos feito do presente
em luzes de feéricas ruas
fotografamos eventos
e a platéia em cadeiras vazias
dispensa a banda esvaziada
em músicas sem palavras
imóveis e calados sentimos a chuva
molhar os ossos dos que se atrevem
combalidos na última estrutura
em que o estame em flor
em ínfimos pedaços
apodrece no solo infértil.

NÁUSEA
 

A náusea
percorre
o corpo
no cansaço

letras no branco papel
violado na pureza
registram haveres
                       e teres
em ordens cansativas

a náusea
representa
o corpo
cansado

olhos fechados evitam temas
sobrepostos e opostos se encontram
no acordar o cérebro no destempero
em que verdades irrompem.

DÍVIDAS
 

Despeça o cobrador em vida, a conta
não será apresentada, jamais encontre
a fatura com que se fartam as noites,
o ódio concentrado esmaece o corpo,
a morte transita entre carros,
vende flores e velas, lembranças
traduzem o quanto, óbice dos encontros
o sangue convalesce o doente, suspira
a hora da verdade, seres
perseguem o nascer do dia,
vida entrecruzada em dogmas,
raro o momento que prescinde
de quem cobra os créditos, incautos
devedores; a lida representa a garantia,
o navio se afasta em margens,
gaivotas seguem rastros e restos.

OLHAR

Nos olhos da criança
a mãe sobrevive
ao pai escondido
em intermináveis
horas de trabalho

descobre a sobrevivência
necessária ao crescimento
na orientação ausente
do que se apresenta
em seu crescimento

refugiado em mitos
que mentem a realidade
desconfortável dos momentos
em que precisa da ajuda
de quem está longe
e cansado.

FUGA
 
Na varanda onde escrevo
                         meras palavras
o barulho da rua invade o espaço

poucas flores folhagens
a procissão no quadro
                       estática

ilumino na cena a coragem
de estarem na rua

                       abaixo

corpos passam: pedaços
de vidas no declínio
da fome pelo descompasso
aberto em frêmitos
           e frestas devassadas

espero o escurecer da terra
 o ir embora de casa
 no sorriso angustioso
 de fora para dentro
 na oitava fuga do corpo
                       agora rígido.

Fonte:
O Autor

Machado de Assis (Conto Alexandrino)

Capítulo I

No mar — O quê, meu caro Stroibus! Não, impossível. Nunca jamais ninguém acreditará que o sangue de rato, dado a beber a um homem, possa fazer do homem um ratoneiro.

— Em primeiro lugar, Pítias, tu omites uma condição: — é que o rato deve expirar debaixo do escalpelo, para que o sangue traga o seu princípio. Essa condição é essencial.

Em segundo lugar, uma vez que me apontas o exemplo do rato, fica sabendo que já fiz com ele uma experiência, e cheguei a produzir um ladrão...

— Ladrão autêntico? — Levou-me o manto, ao cabo de trinta dias, mas deixou-me a maior alegria do mundo: — a realidade da minha doutrina. Que perdi eu? um pouco de tecido grosso; e que lucrou o universo? a verdade imortal. Sim, meu caro Pítias; esta é a eterna verdade. Os elementos constitutivos do ratoneiro estão no sangue do rato, os do paciente no boi, os do arrojado na águia...

— Os do sábio na coruja, interrompeu Pítias sorrindo.

— Não; a coruja é apenas um emblema; mas a aranha, se pudéssemos transferi-la a um homem, daria a esse homem os rudimentos da geometria e o sentimento musical. Com um bando de cegonhas, andorinhas ou grous, faço-te de um caseiro um viajeiro. O princípio da fidelidade conjugal está no sangue da rola, o da enfatuação no dos pavões... Em suma, os deuses puseram nos bichos da terra, da água e do ar a essência de todos os sentimentos e capacidades humanas. Os animais são as letras soltas do alfabeto; o homem é a sintaxe.

Esta é a minha filosofia recente; esta é a que vou divulgar na corte do grande Ptolomeu.

Pítias sacudiu a cabeça, e fixou os olhos no mar. O navio singrava, em direto a Alexandria, com essa carga preciosa de dois filósofos, que iam levar àquele regaço do saber os frutos da razão esclarecida. Eram amigos, viúvos e quinquagenários. Cultivavam especialmente a metafísica, mas conheciam a física, a química, a medicina e a música; um deles, Stroibus, chegara a ser excelente anatomista, tendo lido muitas vezes os tratados do mestre Herófilo. Chipre era a pátria de ambos; mas, tão certo é que ninguém é profeta em sua terra, Chipre não dava o merecido respeito aos dois filósofos. Ao contrário, desdenhava-os; os garotos tocavam ao extremo de rir deles. Não foi esse, entretanto, o motivo que os levou a deixar a pátria. Um dia, Pítias, voltando de uma viagem, propôs ao amigo irem para Alexandria, onde as artes e as ciências eram grandemente honradas.

Stroibus aderiu, e embarcaram. Só agora, depois de embarcados, é que o inventor da nova doutrina expô-la ao amigo, com todas as suas recentes cogitações e experiências.

— Está feito, disse Pítias, levantando a cabeça, não afirmo nem nego nada. Vou estudar a doutrina, e se a achar verdadeira, proponho-me a desenvolvê-la e divulgá-la.

— Viva Hélios! exclamou Stroibus. Posso contar que és meu discípulo.

Capítulo II


Experiência Os garotos alexandrinos não trataram os dois sábios com o escárnio dos garotos cipriotas. A terra era grave como a íbis pousada numa só pata, pensativa como a esfinge, circunspecta como as múmias, dura como as pirâmides; não tinha tempo nem maneira de rir. Cidade e corte, que desde muito tinham notícia dos nossos dois amigos, fizeram-lhes um recebimento régio, mostraram conhecer os seus escritos, discutiram as suas idéias, mandaram-lhes muitos presentes, papiros, crocodilos, zebras, púrpuras. Eles, porém, recusaram tudo, com simplicidade, dizendo que a filosofia bastava ao filósofo, e que o supérfluo era um dissolvente. Tão nobre resposta encheu de admiração tanto aos sábios como aos principais e à mesma plebe. E aliás, diziam os mais sagazes, que outra coisa se podia esperar de dois homens tão sublimes, que em seus magníficos tratados...

— Temos coisa melhor do que esses tratados, interrompia Stroibus. Trago uma doutrina, que, em pouco, vai dominar o universo; cuido nada menos que em reconstituir os homens e os Estados, distribuindo os talentos e as virtudes.

— Não é esse o ofício dos deuses? objetava um.

— Eu violei o segredo dos deuses, acudia Stroibus. O homem é a sintaxe da natureza, eu descobri as leis da gramática divina...

— Explica-te.

— Mais tarde; deixa-me experimentar primeiro. Quando minha doutrina estiver completa, divulgá-la-ei como a maior riqueza que os homens jamais poderão receber de um homem.

Imaginem a expectativa pública e a curiosidade dos outros filósofos, embora incrédulos de que a verdade recente viesse aposentar as que eles mesmos possuíam.

Entretanto, esperavam todos. Os dois hóspedes eram apontados na rua até pelas crianças.

Um filho meditava trocar a avareza do pai, um pai a prodigalidade do filho, uma dama a frieza de um varão, um varão os desvarios de uma dama, porque o Egito, desde os Faraós até aos Lágides, era a terra de Putifar, da mulher de Putifar, da capa de José, e do resto.

Stroibus tornou-se a esperança da cidade e do mundo.

Pítias, tendo estudado a doutrina, foi ter com Stroibus, e disse-lhe: — Metafisicamente, a tua doutrina é um despropósito; mas estou pronto a admitir uma experiência, contando que seja decisiva. Para isto, meu caro Stroibus, há só um meio.

Tu e eu, tanto pelo cultivo de razão como pela rigidez do caráter, somos o que há mais oposto ao vício do furto. Pois bem, se conseguires incutir-nos esse vício, não será preciso mais; se não conseguires nada (e pode crê-lo, porque é um absurdo) recuarás de semelhante doutrina, e tornarás às nossas velhas meditações.

Stroibus aceitou a proposta.

— O meu sacrifício é o mais penoso, disse ele, pois estou certo do resultado; mas que não merece a verdade? A verdade é imortal; o homem é um breve momento...

Os ratos egípcios, se pudessem saber de um tal acordo, teriam imitado os primitivos hebreus, aceitando a fuga para o deserto, antes do que a nova filosofia. E podemos crer que seria um desastre. A ciência, como a guerra, tem necessidades imperiosas; e desde que a ignorância dos ratos, a sua fraqueza, a superioridade mental e física dos dois filósofos eram outras tantas vantagens na experiência que ia começar, cumpria não perder tão boa ocasião de saber se efetivamente o princípio das paixões e das virtudes humanas estava distribuído pelas várias espécies de animais, e se era possível transmiti-lo.

Stroibus engaiolava os ratos; depois, um a um, ia-os sujeitando ao ferro. Primeiro, atava uma tira de pano no focinho do paciente; em seguida, os pés, finalmente, cingia com um cordel as pernas e o pescoço do animal à tábua da operação. Isto feito, dava o primeiro talho no peito, com vagar, e com vagar ia enterrando o ferro até tocar o coração, porque era opinião dele que a morte instantânea corrompia o sangue e retirava-lhe o princípio. Hábil anatomista, operava com uma firmeza digna do propósito científico. Outro, menos destro, interromperia muita vez a tarefa, porque as contorções de dor e de agonia tornavam difícil o meneio do escalpelo; mas essa era justamente a superioridade de Stroibus: tinha o pulso magistral e prático.

Ao lado dele, Pítias aparava o sangue e ajudava a obra, já contendo os movimentos convulsivos do paciente, já espiando-lhe nos olhos o progresso da agonia. As observações que ambos faziam eram notadas em folhas de papiro; e assim ganhava a ciência de duas maneiras. Às vezes, por divergência de apreciação, eram obrigados a escalpelar maior número de ratos do que o necessário; mas não perdiam com isso, porque o sangue dos excedentes era conservado e ingerido depois. Um só desses casos mostrará a consciência com que eles procediam. Pítias observara que a retina do rato agonizante mudava de cor até chegar ao azul claro, ao passo que a observação de Stroibus dava a cor de canela como o tom final da morte. Estavam na última operação do dia; mas o ponto valia a pena, e, não obstante o cansaço, fizeram sucessivamente dezenove experiências sem resultado definitivo; Pítias insistia pela cor azul, e Stroibus pela cor de canela. O vigésimo rato esteve prestes a pô-los de acordo, mas Stroibus advertiu, com muita sagacidade, que a sua posição era agora diferente, retificou-a e escalpelaram mais vinte e cinco. Destes, o primeiro ainda os deixou em dúvida; mas os outros vinte e quatro provaram-lhes que a cor final não era canela nem azul, mas um lírio roxo, tirando a claro.

A descrição exagerada das experimentações deu rebate à porção sentimental da cidade, e excitou a eloquência de alguns sofistas; mas o grave Stroibus (com brandura, para não agravar uma disposição própria da alma humana) respondeu que a verdade valia todos os ratos do universo, e não só os ratos, como os pavões, as cabras, os cães, os rouxinóis, etc.; que, em relação aos ratos, além de ganhar a ciência, ganhava a cidade, vendo diminuída a praga de um animal tão daninho; e, se a mesma consideração não se dava com outros animais, como, por exemplo, as rolas e os cães, que eles iam escalpelar daí a tempos, nem por isso os direitos da verdade eram menos imprescritíveis. A natureza não há de ser só a mesa de jantar, concluía em forma de aforismo, mas também a mesa da ciência.

E continuavam a extrair o sangue e a bebê-lo. Não o bebiam puro, mas diluído em um cozimento de cinamomo, suco de acácia e bálsamo, que lhe tirava todo o sabor primitivo. As doses eram diárias e diminutas; tinham, portanto, de aguardar um longo prazo antes de produzido o efeito. Pítias, impaciente e incrédulo, mofava do amigo.

— Então? nada? — Espera, dizia o outro, espera. Não se incute um vício como se cose um par de sandálias.

Capítulo III

Vitória Enfim, venceu Stroibus! A experiência provou a doutrina. E Pítias foi o primeiro que deu mostras da realidade do efeito, atribuindo-se umas três ideias ouvidas ao próprio Stroibus; este, em compensação, furtou-lhe quatro comparações e uma teoria dos ventos.

Nada mais científico do que essas estréias. As ideias alheias, por isso mesmo que não foram compradas na esquina, trazem um certo ar comum; e é muito natural começar por elas antes de passar aos livros emprestados, às galinhas, aos papéis falsos, às províncias, etc. A própria denominação de plágio é um indício de que os homens compreendem a dificuldade de confundir esse embrião da ladroeira com a ladroeira formal.

Duro é dizê-lo; mas a verdade é que eles deitaram ao Nilo a bagagem metafísica, e dentro de pouco estavam larápios acabados. Concertavam-se de véspera, e iam aos mantos, aos bronzes, às ânforas de vinho, às mercadorias do porto, às boas dracmas. Como furtassem sem estrépito, ninguém dava por eles; mas, ainda mesmo que os suspeitassem, como fazê-lo crer aos outros? Já então Ptolomeu coligira na biblioteca muitas riquezas e raridades; e, porque conviesse ordená-las, designou para isso cinco gramáticos e cinco filósofos, entre estes os nossos dois amigos. Estes últimos trabalharam com singular ardor, sendo os primeiros que entravam e os últimos que saíam, e ficando ali muitas noites, ao clarão da lâmpada, decifrando, coligindo, classificando. Ptolomeu, entusiasmado, meditava para eles os mais altos destinos.

Ao cabo de algum tempo, começaram a notar-se faltas graves: — um exemplar de Homero, três rolos de manuscritos persas, dois de samaritanos, uma soberba coleção de cartas originais de Alexandre, cópias de leis atenienses, o 2º e o 3º livros da República de Platão, etc., etc. A autoridade pôs-se à espreita; mas a esperteza do rato, transferida a um organismo superior, era naturalmente maior, e os dois ilustres gatunos zombavam de espias e guardas. Chegaram ao ponto de estabelecer este preceito filosófico de não sair dali com as mãos vazias; traziam sempre alguma coisa, uma fábula, quando menos. Enfim, estando a sair um navio para Chipre, pediram licença a Ptolomeu, com promessa de voltar, coseram os livros dentro de couros de hipopótamo, puseram-lhes rótulos falsos, e trataram de fugir.

Mas a inveja de outros filósofos não dormia; deu rebate às suspeitas dos magistrados, e descobriu-se o roubo. Stroibus e Pítias foram tidos por aventureiros, mascarados com os nomes daqueles dois varões ilustres; Ptolomeu entregou-os à justiça com ordem de os passar logo ao carrasco. Foi então que interveio Herófilo, inventor da anatomia.

Capítulo IV

Plus Ultra! — Senhor, disse ele a Ptolomeu, tenho-me limitado até agora escalpelar cadáveres.

Mas o cadáver dá-me a estrutura, não me dá a vida; dá-me os órgãos, não me dá as funções.

Eu preciso das funções e da vida.

— Que me dizes? redarguiu Ptolomeu. Queres estripar os ratos de Stroibus? — Não, senhor; não quero estripar os ratos.

— Os cães? os gansos? as lebres?...

— Nada; peço alguns homens vivos.

— Vivos? não é possível...

— Vou demonstrar que não só é possível, mas até legítimo e necessário. As prisões egípcias estão cheias de criminosos, e os criminosos ocupam, na escala humana, um grau muito inferior. Já não são cidadãos, nem mesmo se podem dizer homens, porque a razão e a virtude, que são os dois principais característicos humanos, eles os perderam, infringindo a lei e a moral. Além disso, uma vez que têm de expiar com a morte os seus crimes, não é justo que prestem algum serviço à verdade e à ciência? A verdade é imortal; ela vale não só todos os ratos, como todos os delinquentes do universo.

Ptolomeu achou o raciocínio exato, e ordenou que os criminosos fossem entregues a Herófilo e seus discípulos. O grande anatomista agradeceu tão insigne obséquio, e começou a escalpelar os réus. Grande foi o assombro do povo; mas, salvo alguns pedidos verbais, não houve nenhuma manifestação contra a medida. Herófilo repetia o que dissera a Ptolomeu, acrescentando que a sujeição dos réus à experiência anatômica era até um modo indireto de servir à moral, visto que o terror do escalpelo impediria a prática de muitos crimes.

Nenhum dos criminosos, ao deixar a prisão, suspeitava o destino científico que o esperava. Saíam um por um; às vezes dois a dois, ou três a três. Muitos deles, estendidos e atados à mesa da operação, não chegavam a desconfiar nada; imaginavam que era um novo gênero de execução sumária. Só quando os anatomistas definiam o objeto do estudo do dia, alçavam os ferros e davam os primeiros talhos, é que os desgraçados adquiriam a consciência da situação. Os que se lembravam de ter visto as experiências dos ratos, padeciam em dobro, porque a imaginação juntava à dor presente o espetáculo passado.

Para conciliar os interesses da ciência com os impulsos da piedade, os réus não eram escalpelados à vista uns dos outros, mas sucessivamente. Quando vinham aos dois ou aos três, não ficavam em lugar donde os que esperavam pudessem ouvir os gritos do paciente, embora os gritos fossem muitas vezes abafados por meio de aparelhos; mas se eram abafados, não eram suprimidos, e em certos casos, o próprio objeto da experiência exigia que a emissão da voz fosse franca. Às vezes as operações eram simultâneas; mas então faziam-se em lugares distanciados.

Tinham sido escalpelados cerca de cinquenta réus, quando chegou a vez de Stroibus e Pítias. Vieram buscá-los; eles supuseram que era para a morte judiciária, e encomendaram-se aos deuses. De caminho, furtaram uns figos, e explicaram o caso alegando que era um impulso da fome; adiante, porém, subtraíram uma flauta, e essa outra ação não a puderam explicar satisfatoriamente. Todavia, a astúcia do larápio é infinita, e Stroibus, para justificar a ação, tentou extrair algumas notas do instrumento, enchendo de compaixão as pessoas que os viam passar, e não ignoravam a sorte que iam ter. A notícia desses dois novos delitos foi narrada por Herófilo, e abalou a todos os seus discípulos.

— Realmente, disse o mestre, é um caso extraordinário, um caso lindíssimo. Antes do principal, examinemos aqui o outro ponto...

O ponto era saber se o nervo do latrocínio residia na palma da mão ou na extremidade dos dedos; problema esse sugerido por um dos discípulos. Stroibus foi o primeiro sujeito à operação. Compreendeu tudo, desde que entrou na sala; e, como a natureza humana tem uma parte ínfima, pediu-lhes humildemente que poupassem a vida a um filósofo. Mas Herófilo, com um grande poder de dialética, disse-lhe mais ou menos isto: — Ou és um aventureiro ou o verdadeiro Stroibus; no primeiro caso, tens aqui o único meio para resgatar o crime de iludir a um príncipe esclarecido, presta-te ao escalpelo; no segundo caso, não deves ignorar que a obrigação do filósofo é servir à filosofia, e que o corpo é nada em comparação com o entendimento.

Dito isto, começaram pela experiência das mãos, que produziu ótimos resultados, coligidos em livros, que se perderam com a queda dos Ptolomeus. Também as mãos de Pítias foram rasgadas e minuciosamente examinadas. Os infelizes berravam, choravam, suplicavam; mas Herófilo dizia-lhes pacificamente que a obrigação do filósofo era servir à filosofia, e que para os fins da ciência, eles valiam ainda mais que os ratos, pois era melhor concluir do homem para o homem, e não do rato para o homem. E continuou a rasgá-los fibra por fibra, durante oito dias. No terceiro dia arrancaram-lhes os olhos, para desmentir praticamente uma teoria sobre a conformação interior do órgão. Não falo da extração do estômago de ambos, por se tratar de problemas relativamente secundários, e em todo caso estudados e resolvidos em cinco ou seis indivíduos escalpelados antes deles.

Diziam os alexandrinos que os ratos celebraram esse caso aflitivo e doloroso com danças e festas, a que convidaram alguns cães, rolas, pavões e outros animais ameaçados de igual destino, e outrossim, que nenhum dos convidados aceitou o convite, por sugestão de um cachorro, que lhes disse melancolicamente: — "Século virá em que a mesma coisa nos aconteça". Ao que retorquiu um rato: "Mas até lá, riamos!"

Fonte:
www.dominiopublico.gov.br

A Natureza em Versos V

LÚCIA PÉRISSÉ

Chuva


Olhei na janela;
A chuva lá fora
Cai mansa, dengosa,
espalhando carinho na terra molhada...

E a grama a recebe de braços abertos;
e as plantas sorriem, cantando, dançando,
com a doce cantiga que a chuva ensinou...

Olhei para o alto
e os pingos caíram
molhando meu rosto...
São olhos do céu
chorando de amor...

Pra mim essa chuva é
como uma lágrima
que a nuvem derrama
só de saudade...;

Saudade do amor,
saudade da vida,
da vida que é linda
porque ela é amor...

E eu olho pra chuva,
que cai de mansinho.
molenga, dengosa...
espalhando carinho,
abraços, sorrisos
na terra molhada.

ADRIANA APARECIDA DE OLIVEIRA PAVANI

Bendita seja a água


Bendita seja a água!
Que cai do céu e molha a terra.
Fecunda a árvore e brota na nascente.
Que apazigua a guerra,
desperta o coração dormente,
e lava a alma de quem erra.

Bendita seja a água!
Que liga um ponto a outro na Terra.
Que conduz o barco e transporta o viajante,
Que o Sol aquece
E ao céu torna, ternamente.

Bendita seja a água!
Que dá sustento ao sobrevivente.
Que está dentro e fora da gente,
Que abriga humildemente,
dentro da mãe que vive na Terra,
a humana semente.

TEREZINHA TEIXEIRA SANTOS

O rio da minha infância


Do meu tempo de infância
Com saudades eu me lembro,
Do rio da Casa Velha
E das chuvas de dezembro.

O rio ganhava cheia
Num bravo desafio
As águas corriam e invadiam
As terras do baixio.

No meu tempo de criança
O rio corria noite e dia;
A chuva caia,
A natureza florescia,
E o homem colhia.

Hoje, procurei e não vi
O rio da Casa Velha;
Vi a natureza chorando,
As queimadas aflorando,
Os animais em extinção;
Vi matas se transformando
Em celeiros de carvão.

Procurei pelo rio da Casa Velha,
Ninguém sabe.
Ninguém viu!
O homem destruiu
A chuva não caiu
A água secou
O rio sumiu.

Fonte:
Troféu Literatura da Natureza, in http://www.reinodosconcursos.com.br

Antologia Jovem Escritor de Teófilo Ottoni/MG (Poemas do Ensino Superior)

GREICY KELY CARLA DOS SANTOS
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Campus Avançado Mucuri

Saudade...


Só, sem ti, senti...
Saudade,
múltiplas,
Dos sorrisos.

Só risos com lágrimas
De tantos momentos
Apagados no tempo
E que o coração resgata;
Dói sem explicação
Aquela recordação
Do que se foi e não volta.

Passou um minuto
E já me faz falta o segundo
Que eu perdi sem querer
Tentando esquecer
Quem também me falta;
Entre partidas e encontros,
Distâncias...
Que alongam os braços
E abraçam as lembranças;
Entre perdas e ganhos
Fico desejando a velha infância.
Lembro que esqueci
Que na verdade
Ninguém morre de sentir
Saudade da saudade.

ANDRÉ FERRARI
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Campus Avançado Mucuri

As dores dos Santos


Toda vez que na sua beira eu passo
Vejo os santos se lamentarem
O rio que não tem água doce
Tem agora desgosto, o esgoto e um odor doentio.

Antítese de um rio tão raso
É a tristeza tão profunda
O cheiro é insuportável
Sinônimo de coisa imunda.

Preto, roxo ou marrom.
Tem sempre um tom de descaso
Quando chove, o rio respira, mas em seguida chora.
Está fadado ao fracasso.

Ao seu lado o povo corre, caminha e passa;
Nem reparam que o rio grita socorro
Cada latinha que lá está jogada
Deixa a mãe natureza envergonhada.

Vejo ainda pequenas esperanças
Nas orações dos santos daquele rio
Pedem um olhar mais inteligente
O futuro nas mãos das crianças.

ABEL DE MATOS LOPES
Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC – Campus Teófilo Otoni

Natureza


És mãe de toda as belezas
Da flor, dos pássaros e do mar.
De tudo que toco e que vejo
Das águas, do sol e do ar.

Na fauna, riqueza de espécies,
Da doce preguiça à onça fera.
Na flora encantos e surpresas,
Em cada planta ou flor da primavera.

Mas cada um de nós é parte,
Desta imensa obra da criação.
Se tu foste criada por Deus,
O homem também é teu irmão.

Que o Senhor Criador do universo,
Conserve pra nós esta beleza;
Mas se cada um fizer sua parte,
Poderemos salvar–te oh! natureza!!!

Fonte:
3a. Antologia Jovem Escritor. Academia de Letras de Teófilo Ottoni.
Participação dos estudantes do ensino fundamental, médio e superior classificados no 3º Prêmio Jovem Escritor promovido, em 2013, pela Academia de Letras de Teófilo Otoni, União Estudantil de Teófilo Otoni e o Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri.