segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Vinicius de Moraes (Anteato: Palavra por Palavra)


      A ideia ocorreu-me em março de 1967, quando ganhei pela... ésima vez, para grande prazer meu, um novo Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa, de meu velho amigo Aurélio Buarque de Holanda, que nada tem a ver com Sérgio e Chico, mas é, também, homem de muita cachola. Lembro-me de que era noite, e fiquei folheando-o à toa, e verificando uma vez mais a minha imensa ignorância do nosso léxico. De cada dez palavras, não sabia o significado de três ou quatro. É verdade que eram, o mais das vezes, palavras eruditas, de conteúdo científico e - bolas! - eu não sou cientista nem nada. Mas para um escritor, uma tal constatação é, de qualquer forma, humilhante. Passei a ler com mais frequência o dicionário como recomendava Gide - o que, aliás, constitui para mim uma ocupação melhor que a leitura desses escritores de best sellers que andam em voga. 

      Muitos amigos me têm pedido que escreva as minhas memórias, Fernando Sabino em particular. Fico pensando... Para quê? Parece-me um ato de vaidade, mais que de despudor. Mas, pondera ele - o Otto Lara Resende já me disse o mesmo - eu percorri um caminho de tal modo vário em experiências, aqui e no estrangeiro, que sonegá-las aos que acreditam no que escrevo, à mocidade em particular, é, de certo modo, uma forma de vaidade maior ainda. Considerando-se, ademais, que minha vida sempre foi, por assim dizer, vivida abertamente... 

      Não sei. Tenho horror à ideia de tornar-me literário, de começar a redigir no ato de escrever. O que me dificulta, hoje em dia, a leitura dos escritores em geral, com pouquíssimas exceções, é justamente esse detestável defeito. Mal sinto, em lugar de estilo, o menor maneirismo, a menor fita, largo o livro de mão. Acho-os, na maioria, uns chatos, só contam o que todo mundo já sabe ou logo adivinha. A vida é infinitamente mais rica que suas palavras - e estou certo de que mesmo os mais medíocres são portadores de experiências que nas mãos de um bom romancista ou um bom biógrafo dariam matéria de interesse universal. Pois tudo tem interesse, mesmo o coito de duas moscas, desde que provoque no ser que o observa um reflexo vital. 

      Vale dizer que pouca gente vive: esta é a grande verdade; vive no sentido de queimar-se sem reservas, sem preconceitos, sem atitudes, sem julgamentos canonizados por uma moral convencional imposta. Mas, por outro lado, eu não gostaria de escandalizar. Escandalizar pode ser também uma forma infame de vaidade, um processo autocomplacente de criar uma antimoral como justificação de taras ou fraquezas pessoais. Não: eu sou um homem que, até certo ponto, venceu as barreiras do medo de viver, e viver é, hoje em dia, para mim, um ato simples, perturbado apenas pelas neuroses consequentes do simples ato de viver. A vida, trata-se de cumpri-la bem, sem outro temor que ter de apertar-lhe as rédeas. Ai de mim, que ilusão! - dizer isto na quadra dos cinquenta, quando os frutos do amor crescem cada vez menos ao alcance das mãos, do meu desejo... 

      Mas o curioso em tudo isso é que, aquela noite de março de 1967, a leitura à toa do Pequeno dicionário fez-me voltar a 15 anos atrás, num hotel em Genebra, quando - lembro-me tão bem agora - veio-me pela primeira vez a vontade de escrever minhas memórias, e eu chamei um mensageiro e dentro em breve punha-me a rabiscar num grosso caderno suíço. O resultado de um dia de trabalho pareceu-me, na manhã seguinte, tão... não digo literário, mas auto-suficiente, que larguei aquela choldra com um profundo aborrecimento de mim mesmo. Eu nada fizera senão ir, conscientemente, tentar justificar-me, apresentar-me sob uma luz falso-modesta, ficar lambendo as próprias feridas. 

      Agora, não. Agora sinto que vou poder escrevê-las, usando as letras do alfabeto e as palavras da língua sob seus capítulos, como ímãs mnemônicos capazes de me mergulhar compulsivamente num abismo de lembranças: palavras concretas desagregando-se em memórias, um infinito de saudades, um sumidouro de associações caóticas, mas de onde possam vir à tona, tal um agente lisérgico, os fragmentos desse grande puzzle a reconstituir, que é a vida de um homem, de qualquer homem, de todos os homens. E fazê-lo dia a dia, numa hipnose consciente que possa resultar, quem sabe, numa auto-análise, tanto quanto possível próxima da verdade - que desta, realmente, não se sabe nunca. 

      Sim, a ideia me apaixona. Por que não tentar? Por que não pousar os olhos numa palavra e, através de conjeturas, sentir refluir o que ficou do tempo? Que mundo de livros, sobrasse-me vida, não poderia eu escrever com a palavra amor, a palavra amigo, a palavra mulher... Não criou a palavra ressentimento condições para que eu possa mergulhar na palavra sonho, e sonhar, e sonhar minha existência... - palavra por palavra?

Fonte:

Silmar Bohrer (Caderno de Versos) 2

Caçador/SC

O ÁS DO SONETO
Ao Dr. Miguel Russowski, amigo

Criatura sempre envolvente
nas planuras deste mundão,
desde cedo um competente,
fez-se hábil cirurgião.

Sendo um vivente facetado,
poliedro multilavra,
agita este mundo agitado,
também é operário da palavra.

Dos seus versos não vou falar,
pois doçuras eu não espalho,
verdadeiramente prometo.

Apenas algo eu quero evocar,
que se existe o ás do baralho,
ele é o nosso ás do soneto.

ESQUECIDOS?!

Aqueles versos perdidos
entre os meus alfarrábios
podem não ser versos sábios
nem são versos esquecidos.

Na gestação deles tantos
sempre há os demorados,
pensamentos depravados,
rimas más, sem encantos.

Para a catarse sem pressa
ficam um tempo guardadinhos
no (quase) baú, lá à beça . . .

Pois versos são como as gentes,
purificam bem devagarinho
remindo maus antecedentes.

OH ! MAGIA

Ninguém a desafinar,
a orquestra cedo cantando,
corruíras, tico-ticos, sabiá,
joão-de-barro, bem-te-vi vibrando.

Uma sabatina em festa
então cá(qui) amanheceu,
os passarinhos na sua gesta
dão ao mundo o que Zeus lhes deu.

Eis-me loguinho a perguntar
nesta insólita romaria
em que vamos nós a navegar,

Que outra mágica magia
haverá que se possa igualar
aos passarinhos em sinfonia.

SERRA ACIMA

Vinte e tantos foram os dias
na orla chamada marítima
onde me tornei então vítima
dos silêncios, doces companhias.

Bebi de ares purinhos
pisando areias finíssimas,
banhos em águas claríssimas,
com céus azuis marinhos.

Agora andando serra acima
vem a sensação de finitude
desta vidinha numa boa . . .

A reminiscência se aproxima
com vívida mansuetude
lembrando belos dias à toa.

TRANSCENDÊNCIAS

Ora (rireis), ouvir asneira,
o poeta Bilac não cantaria,
se as estrelas ele ouvia,
a verdade é verdadeira.

Tenho ouvido as estrelas
nestas minhas romarias,
o Cruzeiro, as Três-marias,
preciso ouvi-las e vê-las.

Num mundo de turbulências
busco mesmo transcendências
para uma vida de bonança.

Em momentos aflitivos
as estrelas são lenitivos
e bálsamos de esperança.

Fonte:
Recanto das Letras

Clarisse da Costa (Lançamento do Livro Solaris IV, de Samuel C. da Costa)


Posso dizer que cada escritor tem um caso de amor com a sua obra. Criam-se laços, dedicação e tempo. Muitos autores se envolvem e prestam um pouco de si para a sua obra. E esse envolvimento é como uma pertença de um mundo particular que passa a ser depois de muitos leitores. O autor se envolve e nos prende ali.

Eu como leitora posso dizer que inúmeras vezes eu fiquei envolvida com uma obra literária e quis ter escrito aquilo ou vivido aquele momento. Particularmente como escritora eu estou no atual momento tendo um caso de amor com um livro lançado no mês de outubro. Refiro-me ao livro do autor Samuel da Costa, Solaris IV.

Devo salientar que quem está escrevendo essa matéria não é a amiga Clarisse e sim a profissional Clarisse da Costa. Eu tenho a minha participação nessa construção literária, mas cabe aqui ressaltar o autor catarinense e o seu livro. 

Samuel da Costa no dia 17 de outubro, exatamente quinta-feira, lançou com expectativa e sorrisos de mais uma batalha vencida o livro Solaris IV. O lançamento foi no SESC de Itajaí, no local tivemos muita presença de escritores e escritoras do cenário cultural, artístico e literário catarinense. 

A obra traz muitas vertentes e vem com um simbolismo que exalta os deuses imortais. As suas belas musas são quase como seres perfeitos e intocáveis. O autor tem a capacidade de viajar para dentro de si e em nanossegundos se perder em um mundo particular onde estão todos os seus questionamentos, dores e perdas. Como eu havia dito no prefácio desta obra, ‘’um mundo totalmente seu em um sonhar acordado para uma realidade pós-modernista entre o tempo e o espaço’’. 

No lançamento do livro dava para se perceber a expectativa e a emoção nos olhos do autor. É compreensível tudo que ele sentia naquele momento, o Samuel levou dez anos para amadurecer e pôr a luz do dia o seu livro. 

Não pude me conter e dias após o lançamento eu perguntei ao autor o que vai ser daqui para frente, o que ele espera. Posso adiantar a vocês que vêm muitas coisas boas por aí. 
Samuel da Costa entra numa nova jornada da vida, decidido retomar a fase acadêmica fazendo pesquisas no campo da literatura e dentro de sua possibilidade, lançar um pequeno romance, uma novela dividida em duas partes. Que por sinal tem títulos um tanto misteriosos: ‘’Em dias de sol e calor, em noites de tempestades e frio’’. Por ora é se dedicar a divulgação do livro Solaris IV. 

Sobre o Solaris IV perguntei ao autor o que o livro tem de significado para ele. O escritor me disse que: - ‘’É um trabalho, um avanço. Um livro e um produto’’. 

Considerando-se que levou um longo tempo para ficar pronto, o livro Solaris IV é um trabalho que reflete poesias e uma sensualidade feminina em cada musa ali presente. 

Fonte:
E-mail enviado pela escritora.

Convite do CLMM (Solenidade de Premiação, em Formiga/MG, 25 de Outubro)


Clube Literário Marconi Montoli (CLMM) convida:

Solenidade de Premiação aos vencedores do Concurso Literário "8º Troféu Formiga de Letras do CLMM", edição 2019, onde haverá também uma palestra especial versando sobre “A Literatura Brasileira e os Desafios Atuais da Língua Pátria”, proferida pelo Presidente da Academia Itaunense de Letras Dr. Arnaldo de Sousa Ribeiro, com lançamento de seu livro: Tributo ao Professor Roque Camêllo. 

O evento acontecerá no dia 25/10/19 (sexta) às 19horas, no Auditório Prof. Eunézimo Lima do Centro Universitário de Formiga - UNIFOR-MG, Rua Dr. Arnaldo de Senna, 328, Bairro Palmeiras, Formiga/MG.

Maiores Informações:
(37) 99923.8122 ou pajo121@yahoo.com.br 

Fonte:
Paulo José de Oliveira 
Presidente do Clube Literário Marconi Montoli - CLMM

domingo, 20 de outubro de 2019

Olivaldo Júnior (Lamento de Narciso)


Ali, por sobre as águas refletido,
vejo a face do inimigo. 

Narciso - Michelangelo Merisi
Caravaggio (1571-1610)
Sei bem onde ele peca, 
por que peca, 
por quem peca 
e, além disso, 
por que acredita 
no pecado. 

Pedaço de Deus, costela divina, 
meu inimigo é do sexo 
masculino, adâmico, 
primordial. 

É tão bonita sua face ondulada, 
ondulante, no lago existencial 
em que se debatem 
os dilemas de cada um 
que a ele se inclina 
e se reflete também! 

Narciso, (im)preciso, 
seu sorriso é uma folha 
desprendida de si, 
sina afoita a vagar, 
perpassar todo o lago 
em que se miram 
Narcisos e Narcisas, 
tão seguros de si 
mesmos quanto a folha, 
que não sabe aonde 
vai...

Fonte:
Poema enviado pelo poeta

Carlos Drummond de Andrade (Caso de Chá)


A casa da velha senhora fica na encosta do morro, tão bem situada que dali se aprecia o bairro inteiro, e o mar é uma de suas riquezas visuais. Mas o terreno em volta da casa vive ao abandono. O jardineiro despediu-se há tempos; hortelão, não se encontra nem por milagre. A velha moradora resigna-se a ver crescer a tiririca na propriedade que antes era um brinco. Até cobra começou a passear entre a folhagem, com indolência; é uma cobrinha de nada, mas sempre assusta.

O verdureiro que faz ponto na rua lá embaixo ofereceu-se para matá-la. A boa senhora reluta, mas não pode viver com uma cobra tomando banho de sol junto ao portão, e a bicha é liquidada a pau. Bom rapaz, o verdureiro, cheio de atenções para com os fregueses. Na ocasião, um problema o preocupa: não tem onde guardar à noite a carrocinha de verduras.

— Ora, o senhor pode guardar aqui em casa. Lugar não falta.

— Muito agradecido, mas vai incomodar a madame.

— Incomoda não, meu filho.

A carrocinha passa a ser recolhida nos fundos do terreno. Todas as manhãs o dono vem retirá-la, trazendo legumes frescos para a gentil senhora. Cobra-lhe menos e até não cobra nada. Bons amigos.

— Madame gosta de chá?

— Não posso tomar, me dá dispepsia, me põe nervosa.

— Pois eu sou doido por chá. Mas está tão caro que nem tenho coragem de comprar. Posso fazer um pedido? Quem sabe se a madame, com esse terreno todo sem aproveitar, não me deixa plantar uns pés, pouquinha coisa, só para o meu consumo?

Claro que deixa. Em poucas horas o quintal é capinado, tudo ganha outro aspecto. Mão boa é a desse moço: o que ele planta é viço imediato. A pequenina cultura de chá torna alegre outra vez a terra abandonada. Não faz mal que a plantação se vá estendendo por toda a área. A velha senhora sente prazer em ajudar o bom lavrador. Alegando que precisa fazer exercício, caminhando com cautela pois enxerga mal, ela rega as plantinhas, que lhe agradecem a atenção prosperando rapidamente.

— Madame sabe: minha intenção era colher só uma pequena quantidade.

Mas o chá saiu tão bom que os parentes vivem me pedindo um pouco e eu não vou negar a eles. É pena madame não experimentar. Mas não aconselho: se faz mal, não deve mesmo tocar neste chá.

O filho da velha senhora chegou da Europa esta noite. Lá ficou anos estudando. Achou a mãe lépida, bem-disposta.

— E eu trabalho, sabe, meu querido? Todos os dias rego a plantação de chá que um moço me pediu licença para fazer no quintal. Amanhã de manhã você vai ver a beleza que está.

O verdureiro já havia saído com a carrocinha. A senhora estende o braço, mostra com orgulho a lavoura que, pelo esforço em comum, é também um pouco sua.

O filho quase cai duro:

— A senhora está maluca? Isso nunca foi chá, nem aqui nem na Índia. Isso é maconha, mamãe!

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) XI


A NOITE PASSA

O dia amanhece,
E o meu amor por ti ainda continua.
Lembrando quando alisava o teu corpo lindo,
E em especial tua espádua nua.

Eram momentos cheios de carícias.
E de volúpias nunca antes sentidas,
Era amor pulsante de duas almas!
E o mesmo pulsando duas vidas

Ah! Nunca pude e não quero esquecer.
Momentos esses, sublimes demais...
Quero levá-lo para a eternidade,
Pois são momentos que não voltam mais.

CRIANÇA

Criança é a nossa alegria,
Com seu sorriso puro e inocente.
Nós traz paz e tranquilidade...
O que nos alegra ao coração e a mente.

Mas também há preocupação.
Pois Deus a colocou em nosso caminho.
Sabemos todos que ela, hoje é flor,
Mas amanhã poderá ser espinho.

Depende muito do ensinamento,
E da educação que dermos a ela.
Temos que regá-la, 
Com o líquido chamado amor e ternura!
Pois isso é essencial para que...
Permaneça o que existe nela.

E FIQUEI EXTASIADO

Tal o amor que brotou em mim.
Meu coração e meus olhos,
Não conseguiam ver...
Outra pessoa tão bela,
Tal o encanto que existia nela!

Hoje ainda me pergunto,
O porquê isso aconteceu?
Eu era jovem e vivido,
Muito experiente era eu.

Será que estava pagando,
Pelo mal que cometi?
Enquanto outras chorando,
Declaravam-se para mim.

Eu por se um jovem atraente,
Sorria, zombava delas,
Todo feliz e contente.

E hoje com o passar dos anos.
Não sei se ela é triste ou feliz,
Só sei que entre tantas outras,
Que conheci...
Foi ela a mulher que não me quis.

PRIMAVERA IV

Quando chega a primavera!
Com seus jardins encantados,
Exalando seus perfumes...
Num ambiente sagrado.

Pela manhã nossos pássaros!
Demonstrando seu valor...
Formam uma sinfonia,
Cantando um hino ao amor.

Primavera é a estação!
Muito bela e colorida...
Estação que nos dá paz,
Estação que nos dá vida.

TRISTE E SOLITÁRIO

Ela passou tão triste! 
E solitária, 
Seu lindo rosto... 
Expressava o sofrimento. 
De sua alma e coração... 
Que nesta hora mostrava: 
O tormento. 

Por que tão bela e cativante alma... 
Sofria assim? 
Talvez se merecer... 
Seria alguém... 
Que ela amava tanto! 
Que a deixou... 
Fazendo-a sofrer. 

Pobre menina solitária... 
E triste! 
Sei que o amor, 
É faca de dois gumes... 
Muitas vezes nos traz alegria... 
Imensas! 
E em outras não poucos queixumes. 

Mas não desanimes. 
Pois o amor é assim! 
Hoje sofres por ele... 
E se me amasses como te amo. 
Serias incapaz de sofrer por mim!

VENTO ORGULHOSO

Quando ela passou,
Fiquei deslumbrado.
Tal a beleza e tal encantamento,
O vento passou...
Cruel e ciumento.
Acariciou feliz e foi embora,
E ela acariciada,
Continuou andando,
Pela estrada afora.

E eu presenciando essa cena,
O vento orgulhoso.
Eu o vi passar,
Juro que o invejei.
Pois nela nunca,
Poderei tocar.

E ele sempre garboso,
E poderoso.
Por esta facilidade que possui...
De quando quiser fazer mais.
E eu pobre mendigando,
O amor dela.
Nunca poderei fazer com ela,
O que ele faz.

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta

Leandro Bertoldo (Você Tem Toda Razão em Não Gostar de Ler! Ponto. Final? Nem Tanto… )


SAIBA COMO DEIXAR DE SER UM “LEITOR DE ESCOLA” E CONHEÇA 10 HÁBITOS PODEROSOS QUE FARÃO DE VOCÊ UM LEITOR VERDADEIRO

Você já passou por essa situação? O dia da prova está chegando e você ainda nem começou a ler o livro. Você finalmente vai à biblioteca e descobre que todos os livros já estão emprestados. Para piorar, a prova vale 10 pontos…

Pois é, vamos falar de leitura.

Mas calma! Não estou falando da leitura que você pensa ou, infelizmente, está acostumado, ou seja, essa leitura obrigatória, maçante da escola que o professor te obrigou para fazer uma prova. Fala a verdade: Ou você passa por isso ou já passou… E hoje, salvo um milagre, você tem horror a ler!

Aliás, deixe-me falar uma coisa: se este é o seu caso, você tem toda razão em não gostar de ler!

Estudos comprovam que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro.

Ou seja, embora o índice de leitura no Brasil, segundo a fonte de pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada no ESTADÃO, em sua 4º edição, tenha alcançado uma ligeira melhora de 2011 para cá (afinal, em 2011 os leitores representavam 50% da população e até 2016 atingimos 56%), o que dá, mais ou menos, uma média de 4 livros por ano, isso ainda é pouco.

O que isso significa?

Que, teoricamente, um pouco mais da metade dos leitores desse artigo já pararam de lê-lo… (rsrsrsr) Ponto. Final? Nem tanto… Calma lá! Há salvação!

“Teoricamente” porque uma boa notícia é que de 2011 para cá, aumentou o número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos de 53% para 67%. Isso é fantástico! Talvez os motivos sejam o boom da literatura para este público. Nunca se leu tanto como agora em plataformas e redes sociais específicas. Isso é realmente bom. Agora, quanto a qualidade dessas leituras, bem, isso fica para um outro artigo…

Por hora, continue lendo para saber mais sobre:

Por que nunca se deve dar “provas de livro” nas escolas? 

Por que ler NÃO é chato e que isso é uma coisa que, definitivamente, FOI feita para você? 

E um presente… Saiba como deixar de ser um “leitor de escola” e conheça 10 hábitos poderosos que farão de você um leitor verdadeiro. 

Se você se identificou, aproveite para enviar este artigo para um amigo ou amiga que, às vezes, como você, também passa pelos mesmos questionamentos. Ao final dele, você entenderá como pode ser mágico o mundo da leitura.

POR QUE NUNCA SE DEVE DAR “PROVAS DE LIVRO” NAS ESCOLAS?

Eu também sofri, e muito, com isso. Sofri tanto que quando me tornei professor, a primeira coisa que decidi foi: “NUNCA darei uma prova de livro na minha vida!” E sabe por quê? Porque essa é uma das razões que mais destroem leitores no mundo, fazendo com que eles tomem horror ao que poderia ser extremamente prazeroso.

Todo mundo nasce gostando de livros! Isso é, portanto, natural. Dê um livro a uma criança de colo e observe o prazer, a curiosidade, o encantamento que ela fica. “Ah, mas ela está encantada são com as gravuras, os desenhos…”

E quem disse que lemos só palavras?

Elas virão a seu tempo, acompanhadas do gosto das imagens, quando passamos a perceber que existe algo a mais que complementam e até ultrapassam aquelas cores e formas.

Infelizmente, sinto em dizer que o que lhe faltou foi um professor ou professora para lhe estender a mão e o conduzir a um mundo mágico e não a um mundo de terror – por mais que lhe apresentasse livros de bruxas e monstros – de provas e notas.

Literatura não é disciplina, pelo menos não deveria ser. Por quê? Lembra-se da pesquisa? Pois vamos a outros dados que todo professor deveria conhecer:

Entre as principais motivações para ler um livro, entre os que se consideram leitores, estão gosto (25%), atualização cultural (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar… (7%)!

Ou seja, a atual (e quase unânime) forma de “obrigar” uma pessoa a ler na escola para fazer prova, é um verdadeiro “tiro no pé”. É preciso entender, de uma vez por todas, que literatura não é disciplina escolar; literatura é ARTE e é como ARTE que deveríamos lê-la.

Há muitas maneiras de avaliar uma leitura que não a temida e “Inútil” prova. Sim, Inútil mesmo, com I Maiúsculo! Mas em outra oportunidade, menciono aqui algumas ações que testei e obtive muito sucesso com meus alunos e leitores, ações que ficaram na memória, principalmente deles, e o resultado foi “resgatar” alguns leitores perdidos que “achavam” que não gostavam de ler.

POR QUE LER NÃO É CHATO E POR QUE ISSO É UMA COISA QUE, DEFINITIVAMENTE, FOI FEITA PARA VOCÊ?

Em meio a todo esse cenário, só há uma forma de resolver a questão:

É preciso “discutir a relação”.

A boa notícia é que sim, é possível mudar a sua relação com os livros e com a leitura; a má notícia (pelo menos para a grande maioria das pessoas) é que você vai ter que querer… E isso demandará força de vontade, amor e compromisso.

Acontece, que muitas são as pessoas que querem colher novos frutos, mas não estão dispostas a abrir mão das velhas sementes, ou seja, querem mágica! Aí, meu amigo e minha amiga, é melhor desistir antes mesmo de começar… Não estou sendo duro, estou sendo realista. Colhemos o que plantamos!

MAS VOCÊ É UMA PESSOA QUE QUER COLHER NOVOS FRUTOS E SABE QUE EXISTE DENTRO DE VOCÊ UM LEITOR EM POTENCIAL!

Sabe e quer libertar este leitor, ou mesmo acariciá-lo ainda mais e descobrir novos hábitos, novas formas de ler, de se envolver com as páginas e com as letras. Um destes é o seu caso? Viva! É só começar…

Veja, abaixo, algumas dicas bem úteis que funcionam muito comigo, pode ser que funcione com você também, e se souber de outras que venham complementá-las, não excite em compartilhar, comentar, divulgar. Saiba que você pode estar resgatando outros leitores…

10 HÁBITOS PODEROSOS QUE FARÃO DE VOCÊ UM LEITOR VERDADEIRO

Dica # 1 – Identifique o que você gosta

Esse é o PRIMEIRO passo! Identificar o que você gosta, vai fazer você ler com mais interesse, com mais vontade. A lista de opções é imensa: romance, biografia, contos, espiritualidade, fantasia… E lembre-se: PERMITA-SE GOSTAR! Conheço muitas pessoas que falavam que não gostavam de ler, tinham preguiça, mas que quando se davam a oportunidade de forma realmente entregue, só paravam de ler ao término da última página… O segredo é só começar!

Dica # 2 – Visite uma biblioteca ou livraria

Se você já entrou em uma livraria sabe do que estou falando! Se não, experimente! O clima é altamente favorável, com muitos livros à disposição. Hoje, muitas investem no bem-estar e permitem que você folheie os livros e até leia-os, além de servir café, chá, sucos… Mas há também as bibliotecas municipais e de bairros que disponibilizam os livros e você nem precisa pagar por eles. O importante é estar entre eles!

Dica # 3 – Crie um espaço de leitura

O espaço é muito importante, afinal, você não vai querer ler em um ambiente barulhento, desorganizado… Encontre um local que seja limpo, iluminado, confortável. Pode ser que você gosta de ler na rede, ou mesmo debaixo de uma árvore no quintal ou no banco da praça, quem sabe à beira mar… Eu, quando criança, gostava de ler em cima da árvore… Só você saberá o que lhe agrada mais. No sofá da sala também é bom. Seja onde for, o importante é que você o prepare e se prepara para isso, sem televisão ou qualquer coisa que venha atrapalhar sua atenção.

Dica # 4 – Descubra o seu horário

Todos nós temos um horário mais propício à leitura, seja por questão de tempo e trabalho, seja por questão até mesmo fisiológica. Alguns preferem ler à noite, outros de manhã. Isso vai depender da sua disponibilidade. O importante é que, dentro do tempo disponível, não importa se muito ou pouco, você o obedeça e leia. Verá que, gradativamente, você vai querer ler mais e mais…

Dica # 5 – Converse sobre os seus livros

Conversar sobre o que você está lendo com amigos, professores e familiares fará você aprimorar o seu gosto pelos livros – eu garanto! Esse é um hábito saudável que aumenta e massageia a sua autoestima, além de estreitar laços de amizades e, por que não, criar novos amigos que, como você, também lê, aumentando o seu círculo de convívio, além de trocar sugestões de leituras. Para este tópico específico, conheça aqui neste blog a Vivência online Novos Leitores, uma vivência literária 100% gratuita. É só clicar AQUI.

Dica # 6 – Leia a contracapa e as orelhas do livro

Nestes locais está a essência do livro sem que ela seja inteiramente desvendada. É o primeiro contato que temos com o que vai ser lido e com o autor do mesmo. Se o assunto lhe agradar, vá em frente; se não, abra outros e se divirta nessa procura.

Dica # 7 – Pesquise sobre o autor ou autora e descubra sobre sua época e sua história

Essa é uma dica que eu sempre dou. Pesquisar sobre o autor e sua época, além de aumentar a sua cultura e conhecimento, irá fazer você entender melhor a obra, pois saberá o porquê de muitas passagens, estilo de escrita e relacioná-los ao contexto histórico, fazendo você absorver muito mais o conteúdo da história.

Dica # 8 – Comece devagar, sem pressa, curtindo o que está fazendo

A melhor coisa é estar sempre sentindo prazer na leitura. Para isso, se você ainda não tem este hábito e costume, comece devagar… Não inicie com autores muito complexos; eles chegarão ao seu tempo. Comece com pequenas histórias e vá aumentando, aos poucos, o seu repertório. Lembre-se: Tem que valer a pena! Ler é prazer.

Dica # 9 – Ande sempre com o seu livro e, na hora de dormir, deixe-o na cabeceira da cama perto de você.

Andar sempre com o livro irá fazer você se habituar a ele. Mesmo na era tecnológica de hoje, que você pode ter centenas de livros em um aplicativo de celular, experimente andar com um livro físico em sua bolsa, mochila, enfim. Quando estiver na fila de um banco, naquela horinha da sobremesa em um restaurante e em outros momentos, pegue seu livro, abra e leia. Verá que começará a ter outra relação de proximidade com ele, além de massagear também o seu ego, pois as pessoas o olharão como pessoa culta e polida. E não se esqueça de, na hora de dormir, colocá-lo perto de você, afinal, ele já vai ter se tornado seu grande amigo.

Dica # 10 – Faça anotações sobre a sua leitura e, no final, indique-a a um amigo.

Fazer anotações sobre o que você lê favorece a compreensão e a interpretação, além de fazer você ficar mais íntimo com o livro e o que ele está te contando… Indicar uma leitura, além de ser um ato altruísta, demonstra sua cultura e cidadania. O país necessita de mais leitores e uma ação puxa a outra. Essa é uma corrente que vale a pena!

E então, gostou das dicas? Espero que elas tenham sido úteis para melhorar a sua vida leitora e que tenha se conscientizado de que ler é um prazer altamente possível de alcançar.

Ah, e não se esqueça: agora é a melhor hora para você criar uma nova relação e comprometimento com a sua leitura.

Há um mundo inteiro a ser desvendado pelas páginas dos livros…

Permita-se!

Boas leituras…

Fonte:
Email enviado pelo autor, in Resumo Semanal para a Árvore das Letras.  7.10.2019

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Roberto Pinheiro Acruche (Liberdade)


Sinos da Liberdade 
Seu badalar invade-me a alma 
Faz-me respirar o ar da esperança 
Sonhar o sonho de criança 
Acreditar que a liberdade 
É mais que um direito. 

Liberdade... Liberdade... 
De caminhar, falar, viver... 
Direitos meus e seus 
Dádiva dos céus, dádiva de Deus. 

Ah! Liberdade... 
Que Sua Majestade 
Dure para sempre – Inteira 
Do jeito e maneira 
Como sopra a brisa 
E as águas que descem nas cachoeiras. 

Há! Liberdade... 
De sermos iguais ou desiguais 
Que diferença faz? 
Não importa a cor, o grau, 
A religião, a cultura, a ideologia... 
Somos todos mortais.

Fonte:
Poema enviado pelo poeta.

Charles Baudelaire (Os Dons das Fadas)


Realizava-se a grande reunião das fadas, a fim de procederem à partilha dos dons entre todos os recém-nascidos das últimas vinte e quatro horas.

Muito diferiam umas das outras, todas essas antigas e fantasistas Irmãs do Destino, todas essas Mães estranhas da alegria e da dor: umas tinham aparência sombria e rebarbativa, outras a tinham folgazã e maliciosa; umas eram jovens, e sempre o haviam sido, outras eram velhas, e também sempre o haviam sido.

Todos os pais que acreditam nas Fadas haviam comparecido, cada qual trazendo nos braços o seu recém-nascido.

Os Dons, as Faculdades, os Bons Acasos, as Circunstâncias Invencíveis, estavam amontoados ao lado do Tribunal, como os prêmios sobre o tablado, em dia de distribuição de prêmios. O que havia de particular no caso é que os Dons não eram a recompensa de um esforço, mas pelo contrário, uma graça concedida àquele que ainda não vivera, uma graça capaz de determinar seu destino e de se tornar tanto a origem de seu desdita, quanto de sua felicidade.

As pobres Fadas estavam sobrecarregadas de trabalho, porque era grande o número dos solicitantes, e o mundo intermediário colocado entre o homem e Deus está submetido, tanto quanto nós, à lei terrível do Tempo e de sua infinita posteridade, os Dias, as Horas, os Minutos, os Segundos.

Na realidade, elas estavam tão atordoadas quanto ministros em dia de audiência, ou empregados do Estabelecimento de Penhores, quando um dia de festa nacional autoriza as restituições sem pagamento. Acho mesmo que olhavam, de vez em quando, para o ponteiro do relógio, com impaciência igual à de juízes humanos que, por estarem em função desde cedo, não podem deixar de sonhar com o jantar, a família e os queridos chinelos. Se, na justiça sobrenatural, há um pouco de precipitação e de acaso, não nos admiremos que o mesmo aconteça às vezes na justiça humana. Nós mesmos seriamos, em tal caso, juízes injustos.

Contudo foram cometidas, nesse dia, algumas tolices – que poderíamos estranhar, se a prudência, e não a fantasia, fosse a característica peculiar, eterna, das Fadas.

Assim o poder de atrair magneticamente a fortuna foi concedido ao único herdeiro de uma família riquíssima que, não possuindo noção alguma de caridade, como também nenhuma cobiça dos bens visíveis da terra, devia encontrar-se, mais tarde, grandemente atrapalhado com seus milhões.

Assim foram concedidos o amor ao Belo e a Força Poética ao filho de um triste pobretão, um cavoqueiro absolutamente incapaz quer de favorecer os dotes, quer de prover às necessidades de sua lamentável progênese.

Esquecia-me de lhes dizer que a distribuição, em tais casos solenes, não comporta apelação, e que nenhum dom pode ser recusado…

Todas as Fadas já se estavam levantando, julgando concluída sua tarefa, porque não restava mais presente algum, munificência alguma para atirar a toda aquela nulidade humana, quando um bom homem, um pobre e modesto negociante, creio eu, ergueu-se e, agarrando por sua veste de vapores policrômicos a Fada que lhe ficava mais próxima, exclamou:

- Oh! Senhora! está-nos esquecendo! Ainda falta meu pequeno! Não quero ficar sem receber coisa alguma!

A Fada deveria ficar perplexa, porque não restava mais nada.

Todavia, lembrou-se ela a tempo de uma lei bastante conhecida, embora raramente aplicada, no mundo sobrenatural, habitado pelas deidades etéreas, amigas do homem, e muitas vezes forçadas a se adaptarem às suas paixões, tais como as Fadas, os Gnomos, as Salamandras, as Sílfides, os Silfos, os Nixos, os Ondinos e as Ondinas, – quero referir-me à lei que concede às Fadas, em semelhante caso, isto é, no caso de os presentes se acabarem, a faculdade de concederem mais um, suplementar e excepcional, sob condição, todavia, de ela possuir imaginação bastante para criá-lo imediatamente.

Por isso a boa Fada respondeu, com uma segurança digna de sua situação:

- Dou a teu filho… dou-lhe… o Dom de agradar!

- Mas agradar como? agradar? por que agradar? – perguntou teimosamente o pequeno comerciante, que sem dúvida era um desses raciocinadores tão comuns, incapazes de se elevarem até a lógica do absurdo.

- Porque sim! porque sim! – replicou a Fada, colérica, voltando-lhe as costas; e, reunindo-se ao cortejo de suas companheiras, dizia-lhes:

- Que acham desse francesinho vaidoso que tudo quer compreender e que, havendo obtido para o filho o melhor quinhão, ainda ousa interrogar e discutir o indiscutível?

Benjunior (Benevides Garcia) Poemas Escolhidos 1


ASAS DO TEMPO

Ah, essa vontade louca de ficar...
A vida inteira, se pudesse eu ficaria,
e a teu lado feliz eu viveria,
horas e horas, sem ver o tempo passar.

Ah, se pudesse, mas tudo me impede
e me arrasta, e me sufoca numa histeria,
que o espírito grita e o corpo cede,
prostrando-me nesta sofrida agonia:

Nas asas do tempo me faço refém,
pedaços de sonho de coisas esquecidas,
confundem-me a mente e a alma também.

Aceno um adeus e vou seguindo além;
como farrapos da vida enlouquecida,
parto e reparto e já não sou ninguém.

DEUSA

Um dia surgiste em minha vida
Trazendo ternura e luz em teu olhar
Tudo sorriu quando sorriste
E com teu riso foi-se o meu pesar.

E então vivemos  num terno amor
E tudo era alegria, e um doce sonhar
Até que um dia, para a minha dor
Partiste para nunca mais voltar.

Contigo levaste todo meu prazer
Toda minha alegria de viver
Levaste tudo o que trouxeste

Se devia mesmo tão cedo te perder
Deixando em minha vida tanto sofrer
Pergunto, ó céus, por que vieste?

FADA

Saudade eu tenho daquelas manhãs
Em que tênue névoa se desvanecia
E entre raios de  sepulcral luz
Sua figura querida aparecia.

E ficávamos, os dois, embevecidos
Nos olhares contritos, emudecidos
A  jogar no ar as nossas sortes
Estranha forma de vencer a morte.

Éramos felizes nas palavras sem fim
Feito cartas de amor eterno
Pirilampos de claras luzes.

Hoje não há mais você em mim
Tudo passou e só restou
Solidão em meio às cruzes.

INDIFERENÇA

Ah, esse cansaço de mim, que me aflige
Fazendo do meu querer, um não sei mais
Espezinha minha alma e me agride
Ceifando meu viver e minha paz.

Se eu soubesse um dia, o que sei agora
Poderia ser rio cristalino entre as serras
A correr alegre nos leitos de outrora
A viver feliz, fecundando a terra.

Mas, este tormento que me estremece
Envolto no silêncio que perdura
Aumenta mais e mais a minha dor:

É luz sem brilho, é dia que escurece
É noite solitária, vazia de ternura
É janela que se fecha para o amor…

MANHÃS

Eu quisera ser como as manhãs
Que surgem radiosas por entre serras
A embalar o doce sono do menino
Que sonha com um mundo sem guerras.

Quisera ser como a andorinha
Que busca horizontes a voar sem medo
E que depois, mais tarde se aninha
Num mundo de paz, de amor sem segredo.

Manhãs, sonhar, voar, amar, caminhar
tudo isso quisera ser, fazer, viver
Enquanto não saio de minha janela.

A manhã já se foi e também meu sonhar;
Fico a esperar o tempo correr
No silêncio, uma saudade dela…

NAS SENDAS DO ARCO-ÍRIS
                     (Valhala)

     Nunca precisei de alguém como agora
     que esta dor me aguilhoa e me tortura.
     Não sei o que será de mim nesta piora.
     Punge-me a alma a sofrer esta amargura.

     De repente, tudo ficou triste e confuso,
     em meio a letras, títulos e pendências.
     Não sei até quando ficarei recluso,
     à espera que resolvam esta carência.

     Enquanto isto a dor agride, me apunhala
     o corpo, tudo, o coração, a mente,
     tal qual ignota e venenosa serpente.

     Serei certamente levado por Odin ao Valhala...
     Nas sendas do arco-íris descansarei, e entre
     valquírias e deuses viverei eternamente…

PRIMAVERA

Distante de ti, passou por mim a primavera
Cheia de flores, num setembro festivo,
Quando tua presença, mais e mais quisera
Neste meu mundo, que de saudades vivo.

Cantos e odores, neste roseiral sem fim,
Doces lembranças de  feliz folgar
Fizeram-me esquecer um pouco de mim,
E sentir teu jeito gostoso de amar.

E absorto neste mundo de encantos
Esqueço da vida, nem sinto o tempo passar
Neste paraíso de adocicadas  primícias;

Mas, de mansinho, por entre folhas e flores,
Raios de sol despertam o meu sonhar
Findando assim, minha hora de delícias.
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Benjunior, pseudônimo de Benevides Garcia Barbosa Júnior, nasceu em Ipuã, antiga Sant’Anna dos Olhos D’Água, no Estado de São Paulo, em 20 de novembro de 1945. Foi professor, Diretor de Escola e Assistente Técnico Pedagógico. No final dos anos 60 começou a escrever poemas. Atualmente, aposentado residiu em Vinhedo/SP. Radicou-se em Maringá/PR.

Publicou “Instante Perdido” (1975), “A Cidade dos 400 Janeiros” (2010), “Do Outro Lado do Espelho” (2012), “No tempo das horas mágicas” (2014) e “Instante Perdido entre Poemas Esparsos” (2018).

Fontes: