segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Vinicius de Moraes (A letra A: Palavra por Palavra) Abajur


Abajur: Foi, talvez a primeira palavra francesa de que tive conhecimento, e ela me traz recordações tão lindas da Ilha do Governador que, ainda agora, a escrever estas memórias, tenho os olhos rasos d'água.

Nossa casa, com duas janelas de frente, ficava à beira-mar, em Cocotá, a meio quilômetro da grande amendoeira onde o bondinho da ilha rangia na curva, em demanda de Freguesia. Eu tinha por aí uns nove anos, e era a coisa mais pulante, grimpante e nadante que já existiu. Nunca menino algum aceitou menos as vias normais de acesso. Sempre em carreira, desviava compulsivamente minha velocidade para as sebes, que varava, os muros, que escalava, e os fossos, que transpunha. Vivia aos saltos, de baixo para cima, de cima para baixo. Bastava ver um acidente qualquer de terreno, uma cerca, uma catraia a seco, um valado, e eu, dando tudo, precipitava-me a mil e - zumpt! - saltava-os feito um doido dançarino. Era como um Nijinski infante a dar entrechats cada vez mais altos e elásticos, numa ânsia de alcançar não sei o quê, quem sabe o infinito, quem sabe Deus...

E caía exato

Como cai um gato.

…para recomeçar uma correria nova, fosse para a casa de Mário e Quincas, meus amiguinhos pobres, fosse para o pontão das barcas da Cantareira, de onde Augusto mergulhava.

Augusto era o meu deus. Irmão mais velho de Mário, Quincas e Marina, minha namoradinha secreta, Augusto representava para mim o herói total configurado no mergulhador. Eu admirava, da ponte de Cocotá, a agilidade com que ele, numa escalada de macaco, subia as estacas mais altas, de onde dava os saltos de anjo mais lindos, penetrando o mar como uma faca em ponta, sem qualquer espadana, e com um marulho apenas perceptível. E eu ficava sempre numa aflição, de não vê-lo nunca mais voltar à tona. Augusto demorava dois minutos folgados a vasculhar o fundo, do qual trazia sempre qualquer coisa de belo ou de útil: caranguejo, ferro-velho, estrela-do-mar, ou o que fosse, que me atirava de baixo, em saltos que lhe faziam soerguer meio corpo da superfície, como um golfinho brincalhão. Nós andávamos os quatro sempre de súcia, e a mim me espantava a naturalidade em que seus irmãos o tinham, sem nenhuma mostra de admiração. Foi ele que me ensinou a mergulhar e mover-me no fundo do mar, rente ao lodo; e mais tarde a pescar a dinamite: uma barbaridade que, na época, eu achava o máximo. Augusto colocava-se à proa do barco, nós nos agachávamos na popa como podíamos, ele acendia o pavio, esperava um momento, soprando-o forte, e, de repente, no segundo antes, lançava a banana de dinamite ao mar. A explosão, gorda e cava, levantava, ato contínuo, um cogumelo espumarento, e logo os peixes mortos começavam a subir. Mas os que nos interessavam eram os que ficavam atordoados, atrás dos quais mergulhávamos rápido. Levávamos, para essas ocasiões, pequenos sacos, e, uma vez cheios, metíamos o peixe dentro da camisa da roupa de banho - como se usava na época - e voltávamos semi-asfixiados à tona. Nunca mais pude esquecer o contato frio e viscoso dos peixes contra a minha pele.
                                                *

À tarde, na sala de visitas, como então se dizia, onde tudo o que havia de luxo era o belo jarrão chinês, trazido por meu bisavô de uma de suas andanças, minha mãe sentava-se ao piano e ficava tocando horas perdidas.

Nós ficávamos, minha irmã mais velha e eu, sentados no chão, geralmente a armar colagens ou a folhear o Tico-Tico, o Eu sei tudo e o Tesouro da juventude, nossa primeira leitura infantil. Os sons vinham, encantatórios, mergulhar ainda mais nossas vidas naquele clima doméstico, como se nós fôssemos a única família do mundo. E a verdade é que éramos a única família do mundo, unidos pelos mesmos horários e pelos mesmos desígnios de poupança, pois meu pai, por uns maus negócios que fizera, andava mal de vida.

Minha mãe, ainda tão moça, aflorava as teclas, o olhar perdido longe. Ela tinha sido aluna de francês de meu pai, na velha chácara da Gávea, e se casara aos 15 anos com esse homem bem mais velho, que se apaixonara perdidamente por ela, e que, bom poeta, vivia a lhe fazer sonetos, odes, rimancetes, baladas, elegias - tudo enfim que constitui e consolida a arte de fazer versos.

Eu a achava linda, toda rechonchuda, os longos cabelos soltos e os olhos de um azul tão vivo que, às vezes, parecia perturbar-lhe a visão, como se ela estivesse enxergando mais do que devia. Posso ouvir ainda os primeiros tangos que ela tocava, dos quais "La cumparsita" era o mais vibrante e "Caminito" o mais terno...

E de repente foi o fox-trot. Que alucinação! Meu pai chegava com novas partituras, que minha mãe tirava laboriosamente ao piano:

Hindustão
Paraíso das mulheres divinais
Ó Hindustão
Quem te ama não te esquece nunca mais...

Eram os primeiros doces tentáculos do polvo tateando à toa num mundo despreocupado e sem malícia. Nós não sabíamos de nada ainda. Sabíamos que éramos uma família que morava numa ilha pertencente à capital de um país que não sabíamos tampouco subdesenvolvido. Sabíamos vagamente que houvera uma guerra mundial e um terremoto no Japão. E súbito, aquele ritmo diferente e cheio de langor, a insinuar conivências pecaminosas na penumbra...

Abajur
Com tua branda luz de cor bleu
Tu, só tu
Tu me inspiras não sei por quê...

Minha irmã e eu dançávamos, dois passos para lá, e dois para cá, como mandava o figurino. E os sons me envolviam dessa tristeza que nunca mais me abandonou, que tem a ver com alguma coisa sempre buscada e nunca totalmente possuída: não sei se o amor, não sei se a vida, não sei se a paz. Saudade, certo, que me fez poeta e compositor, e que, apesar de todas as flores e amores que a vida me deu, só me fez crescer em melancolia e solidão.

Fonte:
Rio de Janeiro, Jornal do Brasil, 31/12/1969

Silmar Böhrer ( Divagações Poéticas) 5


Ninguém duvida,
o livro dá vida
à nossa vida.
* * * * * * * * * * * * * *

a vida é uma comédia
infestada de tragédias
* * * * * * * * * * * * * *

às vezes penso
no que sou
e vejo
que nem isso sou
* * * * * * * * * * * * * *

a felicidade existe
em doses homeopáticas
em gotículas
em borrifos
* * * * * * * * * * * * * *

ideias fechadas não produzem
vegetam
* * * * * * * * * * * * * *

Porque a vida,
tão grande,
é tão pequena
que se vai
num piscar de olhos.
* * * * * * * * * * * * * *

Labirintos da memória,
antigos paióis,
silos
de armazenagem
de conhecimentos.
* * * * * * * * * * * * * *

Entre uma rodada e outra
de redes que vão ao mar,
cá estou eu a divagar,
há vida melhor, mais douta ?
* * * * * * * * * * * * * *

Apregoo,
expertos na vida
sejamos.
Eu, aprendiz,
esperto.
* * * * * * * * * * * * * *

Vivo no tempo
a destempo
sem contratempo
* * * * * * * * * * * * * *

tudo na vida
tem seu preço
tem seu peso

Fonte:
O Autor.

Nilto Maciel (Jornal de Domingo)


Escondido atrás do jornal, o professor Luiz Vaz passava o domingo. E garimpava pedras preciosas, por puro deleite. Ou para exi­bi-las a seus alunos.

Fora-se o tempo de Virgílio, Camões, Bilac. Agora, só queria os novos poetas. Nada de vertitur interea coelum*.

Olhos enfiados no chão da folha, Vaz sonhava. Nunca o chamariam velho. Antes, o eterno jovem. O mestre da língua viva. Polêmico, moderno, brasileiríssimo.

Súbita emoção. Arregalou os olhos. Um poema de Noto de Sissa! Leu o título. Uma beleza! O primeiro verso. Um primor!

Com sofreguidão, percorreu todo o poema. Voltou ao título, ao primeiro verso. Releu tudo, cheio de entusiasmo.

***
Na sala de aula, Luiz Vaz freou sua emoção. E amarrou a rubra língua no céu da boca. Queria um comentário escrito de cada aluno ao poema que copiava no quadro-negro.

***

Riu na cara dos alunos. Não aprendiam nada. Pareciam idiotas. Especialmente a "crítica" feita por Oton.

– Uma barbaridade!

E se pôs a falar os versos de Noto de Sissa. Pequena obra-prima da poesia épica.

A maioria dos jovens abriu a boca e queda ficou. Um, porém, não concordou com a análise do mestre. E defendeu, com língua e dentes, sua opinião.

Irritado com a presunção de Oton, o professor tratou de humilhá-lo. Não passava de um aluno, um fedelho. Longe ainda se achava de atingir os primeiros degraus do saber. Enquanto ele, Luiz Vaz, já alcançara o ápice da cultura literária. Ora, exercia a crítica e a cátedra há trinta anos. Escrevia para revistas estrangeiras. Correspondia-se com pessoas do tamanho de Barthes, Foucault, Jakobson, em francês e russo.

Oton de Assis nada mais falou. Na verdade, não podia se ombrear àquele homem.

E deixou-se anônimo entre os colegas. Seu lirismo, porém, ainda germinaria páginas tão belas como as publicadas no jornal daquele domingo.
___________________
Nota do Autor:
*Entretanto o céu gira. Virgílio, Eneida, Livro II; 250.


Fonte:
Nilto Maciel. Itinerário: contos. Fortaleza, CE: Ed. do Autor, 1974.
Livro enviado pelo autor

domingo, 19 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 167


Isabel Furini (Meandros do Amor)

Fonte: Facebook

Humberto de Campos (Barba de Bode)


Foi recolhida, segunda-feira última, no Hospício Nacional, vítima de uma erva erroneamente receitada por um herbanário dos subúrbios, a encantadora senhorita Carmélia Passos, filha única e inteligentíssima da viúva Carlota Passos, proprietária nesta capital.

Eu desconhecia ainda este caso, e já aplaudia com todo o meu coração a atitude da Saúde Pública, perseguindo, punindo, combatendo com as armas da lei a praga dos curandeiros. E aplaudia-a com a lembrança, apenas, de um episódio doloroso, que me fora narrado, semanas antes, pelo meu prestimoso amigo o Sr. senador Elói de Souza.

O coronel Raimundo de Araújo, comerciante em Natal, capital do Rio Grande do Norte, havia entrado na casa dos sessenta anos quando, após quatorze de viuvez, entendeu de contrair novas núpcias com uma sólida moçoila de São Gonçalo. Pedida, porém, a rapariga, começaram as complicações, as dificuldades, os obstáculos e, com eles, o adiamento da cerimônia. Homem de idade avançada, sujeito, portanto, ao efeito das emoções violentas, o coronel, assim que ficou noivo, começou a declinar de forças, de coragem, de saúde, e de tal forma que, após um mês de noivado, parecia haver envelhecido dez anos. Aflito, impressionado, combalido, o abastado comerciante recorreu, e sempre inutilmente, a todos os médicos da cidade. E já estava quase desiludido da cura e da vida, quando um seu compadre, o capitão Ferreira, tabelião aposentado, a quem participara a sua infelicidade, lhe perguntou, interessado:

- O compadre já usou chá de barba de bode?

- Barba de bode? - indagou o outro, espantado.

- Sim. Pega-se todo o dia um punhado de barba de bode, faz-se um chá bem forte, e toma-se três vezes por dia.

E acentuou, sincero:

- É um santo remédio, compadre!

Animado com a nova esperança; o coronel Araújo mandou chamar à sua casa de negócio um caboclo de Currais Novos, o Antônio Severo, grande criador de caprinos naquela parte do sertão, e, sem lhe dizer para que era a encomenda, pediu que lhe mandasse na primeira oportunidade, e a qualquer preço, um saco com barbas de bode.

- Que quantidade, coronéo? - indagou o sertanejo.

- Uns dez quilos.

Duas semanas depois recebia o coronel Araújo a sua encomenda, entrando, de pronto, no uso da medicina receitada. À medida, porém, que tomava o chá, sentia efeitos exatamente opostos àquele que esperava: uma vontade doida de chorar, de berrar, de bodejar lamentosamente, e, sobretudo, um desejo irresistível de fugir às mulheres. No fim de um mês, a situação do enfermo era, mesmo, desesperadora: magro, nervoso, espumando pelo canto da boca, passava as noites na rua, encostando-se às paredes, às arvores, às pedras das estradas, nas proximidades do porto, do mercado e do quartel, e em estado tal de desmoralização que os amigos, penalizados com a sua infelicidade, tiveram de mandá-lo internar, com recomendações especiais do Dr. Ferreira Chaves, então governador do Estado, em uma casa de saúde de Pernambuco!

Esse desfecho de uma vida honrada e laboriosa impressionou, como era natural, o meio em que vivia o conhecido negociante. Quem, entretanto, mais pensava naquele infortúnio era o seu compadre Ferreira, autor da receita. Preocupado com o caso, e sem encontrar para ele uma explicação aceitável, ia o velho tabelião um dia pela praça do mercado quando sentiu, de repente, uma pancada no ombro. Era o Antônio Severo, de Currais Novos, que havia chegado naquele dia com uma partida de couros. A figura do sertanejo avivou-lhe, naquele momento, uma lembrança; e como esta fosse teimosa, forte, renitente, o velho Ferreira não se conteve, e indagou:

- Diga-me uma coisa, Severo: o coronel Araújo não lhe fez, quando você esteve aqui da última vez, uma encomenda de barba de bode?

- Fez, sim, senhor; e eu mandei, logo que cheguei lá.

- E você tem certeza de que era, mesmo, barba de bode?

Ante essa insistência, o matuto sorriu, cuspiu longe, por entre os dentes, e, com a sua vozinha de ingênuo e de esperto, confessou:

- Home, "seu" capitão, garantir eu não garanto. O coronéo me encomendou, é verdade, dez quilos de barba de bode. Mas porém, onde eu ia achar bode p'ra tanta barba? E como pensei que desse tudo na mesma coisa, mandei mesmo de cabra!

Lilia Souza (Poemas Avulsos)


CACOS DE VIDRO

Quando caminhas,
tua indiferença
de teus passos escorre,
como cacos de vidro
que se espalham no asfalto
por onde te seguem
meus passos cansados.
* * * * * * * * * * * * * *

DE REPENTE

No vão da noite
a luz se acende
estrela cadente
de repente
cai
cai e mente
que se esvai
a dor da saudade
e quem mais se espera
vai chegar, afinal,
de repente.
* * * * * * * * * * * * * *

FEITO FACA

No meio da noite do quarto
um raio de quarto de lua
força a vidraça
rompe a renda da cortina
feito faca
fere o silêncio
perfura o escuro.
* * * * * * * * * * * * * *

GRÃOS

Cômoda
no canto do sótão.

Gaveta aberta,
fotos, fitas.

Caixa de Pandora...
* * * * * * * * * * * * * *

MARCELA

Depois que ela descia à praia,
é que começava o dia,
e ao seu caminhar
cada flor pra ela se abria.

Matava sua sede
com algas e águas salgadas
e trocava de rendas
com as rendas brancas do mar.

O corpo, por todo o tempo,
cheirando a manjericão;
fazia amor com o Vento
em inusitada dimensão.

Dentro da concha fechada,
era uma Ostra desperta.
Ela, na ilha encerrada,
e toda a ilha era ela;
enquanto a noite gritava
pra sempre, ao Vento: Marcela!!
* * * * * * * * * * * * * *

PLASMA

Na veia cava a larva
e planta e lavra
o plasma das inquietações
e tinge de sangue
o sangue que corre
na veia e cava
um oceano onde desaguar
- sem jamais encontrar.
* * * * * * * * * * * * * *

SILÊNCIOS

Teus silêncios de água
calaram vozes tranquilas
de tempos, de almas.

Teus líquidos versos
despertaram silêncios
de saudades antigas.

Teus versos silentes
acordaram os ventos
de doridas cantigas.
* * * * * * * * * * * * * *

TANTAS ÁGUAS
Pudesse voltar no tempo
voltava por mesmas águas
até dissolver as mágoas
cravadas nas pedras do leito.

Voltava até os confins
das águas de outros tempos
banhando primevos leitos
de rios dentro de mim.

Voltava e matava a saudade
que corre transborda se espraia
no leito de muitas águas
do peito - longínqua cidade.

Fonte:
Lilia Souza (org.) Coletânea: Academia Paranaense da Poesia. Curitiba/PR: APP, 2012.

Manuel Antonio de Almeida (O Riso)


O homem é o único animal que se ri. - A observação não é nova,  nem lhe quero as honras do achado. Se estivesse hoje em veia de  filosofar havia entrar na indagação das causas desta singular exceção. Mas contento-me por ora, sem discutir, com a explicação de  um pessimista que me disse: o homem é o único animal que se ri,  porque é o único animal que é tolo.

O riso tem três variedades principais que eu chamarei de forma:  É sorriso, é riso, é gargalhada.  Entre o sorriso e o riso há a mesma diferença que entre o botão e a flor.

No sorriso há toda a incerteza, todo o encanto e toda a fugacidade da esperança.  O sorriso é uma palavra que os lábios dizem sem voz.  O sorriso é belo em todos os rostos; em alguns é um raio de luz  que os ilumina com o toque da suprema beleza.

É tímido como a modéstia, passageiro como tudo que é belo  na vida.

Se eu tivesse, como muitos de meus colegas de pena, o hábito  de namorar pela imprensa, tinha agora aqui a lira afinada para cantar um idílio sobre certos sorrisos que às vezes vejo enfeitar um rosto moreno, tão puros, tão suaves, tão cândidos, que morro de inveja ao lembrar-me que não é só para mim que eles desabrocham. Mas  não culpo por isso aos lábios em que eles se aninham, não; eles me  estão dizendo: - somos como o céu: na primavera não sabemos  senão sorrir. E eu creio que eles têm razão.

Voltemos porém ao assunto.  O riso já não tem todas estas qualidades, ou, pelo menos, não  as tem sempre. Há, por exemplo, rostos bonitos a que o riso dá ainda maior  encanto; há mesmo rostos feios que o riso, por assim dizer, enfeita.  Mas também há por outro lado caras que o riso transforma em caretas. Muita gente conheço eu que não pode fazer maior desfeita a  quem a encara, do que rir-se.

O sorriso pode ser às vezes, e quando muito, um ligeiro disfarce;  o riso em muitos casos serve de verdadeira máscara!

O sorriso compõe; o riso transtorna.  O sorriso não é todo do mundo externo; metade do que ele é  fica conosco, nossa alma guarda essa segunda parte de que os outros não tomam posse.

O riso não, esse, desde que o soltamos, escapa-se inteiro, e nada  fica em nós mesmos do que ele foi. O prazer acaba ordinariamente quando acaba o riso; ao contrário quando nós sorrimos é que o prazer começa.

O riso parece muito expansivo e não é; basta dizer que tem  quase uma só forma para todos os sentimentos; vemos um riso e  podemos ficar na dúvida se foi de assentimento ou de escárnio.

O sorriso, não; quando é só dos lábios, quando a alma não participa dele, mostra-o logo no que lhe falta de cândido e sincero.

É fácil fingir o riso; o verdadeiro sorriso não tem imitação.  Com o sorriso podemos exprimir o prazer e a dor; há sorrisos  pálidos, tristes, são quase o pranto; mas ninguém confundirá estas  duas sortes de sorrisos.

No ruído do mundo, no tumulto das sociedades, os homens e  as mulheres riem-se quando se encontram. No silêncio, no retiro,  quando dois entes que se amam estão sós com o seu amor, sorriem-se apenas um para outro.

Apesar de tudo o que fica dito, ainda o sorriso e o riso têm entre  si pontos de semelhança, que ninguém poderá negar.

Se compararmos porém estas duas variedades com a terceira  que a princípio notamos, isto é, com a gargalhada, bem se poderá  ver o que de diverso há às vezes entre coisas que se dizem da mesma origem.

A gargalhada está tão longe do riso e do sorriso, como a algazarra do canto.

Sem dúvida foi pensando na gargalhada que se fez o provérbio  risus abundat in ore stultorum. A gargalhada é uma desnaturação do riso. O riso deleita; a gargalhada aturde. Não é uma expansão, é um desconcerto. Na gargalhada a boca escancara-se, as faces engratam-se e enrugam-se; os  rostos mais formosos tornam-se caricatos; não assenta bem em  ninguém. O ridículo daquilo que nos arranca uma gargalhada,  reverte um pouco sobre nós mesmos. É por isso que muitas vezes  está um homem rindo-se às gargalhadas de qualquer coisa que só  ele viu, chegam outros, e, sem saber por quê, começam a rir-se  do mesmo modo.  E entretanto, meu Deus! parece que há homens fatalizados a  este respeito: as gargalhadas são os pontos e vírgulas das suas orações; dão gargalhadas pelo que eles mesmos dizem, pelo que ouvem dizer aos outros, pelo que veem nos outros e por aquilo que  os outros veem neles. Que entes lamentáveis! Que caricaturas de  carne e osso!

Querem realizar o prodígio do que se chama - gargalhada homérica - mas, não podendo consegui-lo pelo que toca ao volume, buscam suprir esta falta pela continuidade, e então fazem de toda  a sua vida uma gargalhada constante.  As mulheres conhecem mais do que os homens o ridículo de semelhante hábito; por excesso porém algumas tornam-se carrancudas e então pecam pelo extremo oposto.

Tudo nesta vida é assim: o segredo do justo meio é a sabedoria  eterna. No amor por exemplo não há nada pior do que o excesso.  E isso é muito natural; os excessos são raros; e um amor excessivo  dificilmente achará correspondência... Mas a que veio aqui falar-se  de amor? Talvez pensem que isto tem alguma aplicação; não tem: eu estava dizendo que a gargalhada era uma coisa tola; o amor veio  a propósito de coisas tolas.

E, para que não venham outras coisas do mesmo gênero interromper o curso destas muito sérias observações, façamos aqui ponto, alegando, em falta de outra razão, uma que anda agora muito  em moda, e que entretanto talvez bem poucas vezes seja tão verdadeira como nesta: a hora está muito adiantada.

Fonte:
Manuel Antonio de Almeida. Obra dispersa.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 166


Manuel Antonio de Almeida (O Nome)


Dizem os gramáticos, gente detestável nestes tempos de discordância, que o nome é uma voz com que se dão a conhecer as coisas.  Quando nos tempos de colégio de minha memória, rebelde às exigências do decurião, recusava guardar no seu arquivo esta triste  definição, é que o meu espírito, agora o conheço, pressentia-lhe  já todo o absurdo e falsidade. Nunca em verdade uma mentira tão  grande se escreveu em letra redonda. Aquilo por que as coisas menos se dão a conhecer neste mundo  é pelo seu nome.

O nome é hoje, e não sei se o deixou de ser em algum tempo, a  primeira mentira de todas as coisas: é como um cunho do pecado  original impresso sobre tudo o que existe.

A tradição da Torre de Babel parece-me errada até certo ponto; o  que ali se confundiu não foram as línguas, foram os nomes das coisas. Daí datou, segundo penso, em falta de origem mais remota,  essa confusão à custa da qual tanta gente vive.

Com efeito, se as coisas se chamassem pelo seu nome, muitas  leis não seriam leis, muitos legisladores não seriam legisladores,  muitos governos não seriam governos, muitos sentimentos não seriam sentimentos, e até muitos homens não seriam homens, nem  mulheres muitas mulheres.

Quando se fala em confusão não se pode deixar de falar em mulheres, que são os entes mais confusos da criação. É também nelas  que a mentira do nome é mais constante e mais manifesta. Tenho  visto algumas, feias como um pesadelo, a quem todos, desde o padre que com o batismo santificou a peta, até elas mesmas - e nisto  vai o maior escândalo - chamam pelo nome de Rosa, por exemplo.

Algumas há a quem a menor contrariedade encoleriza no mais  subido grau, que cospem blasfêmias contra a terra e o céu porque se lhes desarranjou a mais pequenina prega do vestido. Pois  se numa ocasião dessas alguém lhe perguntar o nome, responderá  com voz de tempestade: Angélica! Há outras que passam dia e noite prostradas ante o altar do espelho adorando a imagem de uma  divindade, que às vezes não têm segundo devoto, que nunca põem  a mão no peito para ver se o coração palpita, e que morrem no dia  em que se convencem da existência da primeira ruga no rosto e  do primeiro fio de prata na cabeça. Verdade é que muitas destas  ficariam eternas se a morte esperasse tal convicção.
Já perguntei o nome a uma criatura nestas circunstâncias, e  respondeu-me que se chamava Modesta!

Os homens a esse respeito não terão também muito de que gabar-se. Daqui se pode concluir que há muita gente neste mundo  que mente de cada vez que assina o seu nome. Há algumas coisas que se diz não terem nome; nisto há uma  economia de mentiras. Há porém uma infinidade de coisas que  tem uma infinidade de nomes. Entre estes contemos os príncipes,  o que por certo não lhes deve ser muito lisonjeiro.

Um homem, ou uma coisa com muitos nomes, devia representar uma ideia pelo menos por cada um deles; se isto se não dá, há  mentira em cada nome de mais. É por isso que ninguém se batiza com uma série de nomes; a  igreja não quer santificar senão uma mentira, e já não faz pouco.

Não sei qual foi o povo que primeiro pôs em uso ter um indivíduo muitos nomes; isso não deixa talvez de ser uma invenção espanhola. Os ingleses por certo não estabeleceram
semelhante uso. Entretanto - eis aqui uma prova das misérias humanas - um  nome é às vezes a história de uma vida; entretanto há épocas em que  os lábios não sabem pronunciar mais do que um nome, em que os  ouvidos não escutam em todas as vozes da natureza senão um nome,  em que não se tem escrito na memória senão um nome. Sabe Deus  quantas vezes entre estas palavras que se estão lendo o autor não  escreveu sem querer um nome!

Isto porém, como já disse, não prova senão a que misérias está  sujeita a pobre humanidade. Queria que me dissesse qual a razão por que quando um homem se eleva acima do comum, ninguém o conhece nem o chama pela enfiada de nomes com que o obrigam a carregar; por que  é que se diz: Lamartine, Chateaubriand, e todo o mundo sabe logo  de quem se trata?

Há gente que trabalha a vida inteira para conquistar um nome,  que deixa em breve à humanidade, às vezes nas mãos de um descendente, que nem lhe pode com o peso, e o atira de lado para  tomar outro mais leve e que mais lhe enquadre.

E morre-se por um nome!  E morre-se para manter ileso um nome de honra! Nome de  honra! Estas palavras invertidas dão: honra de nome, espécie muito  comum e vulgar, cuja conquista não vale o menor trabalho.

Havia em Roma, perto do Coliseu, que dele tirara o nome, um  colosso de mármore representando o filho de Agripina. A respeito  desta magnífica obra de arte dava-se um fato muito curioso: cada soberano que subia ao trono dos Césares queria que o colosso servisse  a perpetuar sua memória. Para isso o que fazia? Nada mais simples: mandava copiar em mármore sua cabeça, e fazendo tirar a que a estátua tinha primitivamente, colocava-se-lhe a nova sobre os ombros.  Alguns Césares houve menos pretensiosos que fizeram apenas substituir a cabeça do colosso por uma que representava o sol.

Aquele colosso e suas diversas cabeças representam com exatidão o que se passa no mundo em relação ao nome das coisas:  um capricho de César decide o batismo: o que era ontem verdade  chama-se hoje mentira, o que era ontem soberano chama-se hoje  vassalo, só porque isto aprouve a uma seita ou a um homem.

Mas tudo vai como deve ir, e nem se pode dar que fosse de outro  modo. O nome verdadeiro das coisas só Deus o há de dar quando  a sua obra imensa se achar consumada: o nome há de então caber  perfeitamente a tudo, porque há de compreender a essência e o  modo; será a última palavra da Divindade, o selo da grande obra.

Enquanto porém este tempo não chega - e eu pressinto que  ele está bem longe - vamos-nos servindo com o nome de empréstimo que temos; o que quero apenas é que não se lhe dê grande  importância, porque em resumo o nome é a origem de quase todas  as questões com que quebra a cabeça a pobre humanidade, e isso  explica ainda a razão por que tanta gente se mete a questionar.

Fonte:
Manuel Antonio de Almeida. Obra dispersa.

Domingos Freire Cardoso (Poemas Escolhidos) IV


AS PALAVRAS PERFUMADAS DA CONFIDÊNCIA
(Maria Goreti Andrade Carneiro Dias in “Textos de Amor", p. 40)

Palavras perfumadas de confidência
Dizias tu baixinho ao meu ouvido
E eu, delas tão sedento e atrevido
Ia perdendo, aos poucos, a inocência.

O amor ardia em nós com tal urgência
E como quase nada era proibido
Sem saber o caminho percorrido
Quase demos às portas da demência.

Dormem os nossos corpos saciados
Perdidos nos lençóis amarrotados
Envoltos numa paz que nos aquece.

Em redor tudo é calmo e é perfeito.
E eu sinto em mim que o mundo é o nosso leito
Como se nele nada mais houvesse.
* * * * * * * * * * * * * *

DE TUDO O QUE PARTIU SEM TER PARTIDO
(Maria Celeste Salgueiro Seabra in "Ânsia de infinito", p. 22)

De tudo o que partiu sem ter partido
Eu guardo nas gavetas da memória
Misturado nas lamas dessa escória
Um brilhante, de todos, o mais querido.

Tudo o que eu fiz morreu, sem alarido
Da vaidade a herança é ilusória
Farta, a riqueza é sempre transitória
E o futuro, de sonhos, é tecido.

Mas uma coisa eu guardo com desvelo:
Um louro caracol do meu cabelo
Que a minha mãe cortou em pequenino.

E mesmo sem ter caixa eu guardo ainda
De todas essas coisas a mais linda:
Os ecos dos meus risos de menino.
* * * * * * * * * * * * * *

NO DIA DA TUA MORTE CHOVEU
(Maria da Glória Oliveira Cardoso in "O Meu Vestido Cor de Rosa", p. 25)

No dia da tua morte choveu
Como se este céu fosse o confidente
Das coisas que não contavas à gente
E soubesse o que o teu peito sofreu.

Com o desgosto o céu se escureceu
E a chorar fez questão de estar presente
Nessa hora em que te fizeste ausente
E essa pura amizade se fendeu.

A chuva molhou todo esse caminho
Por onde te levaram, com carinho
À última morada que terás.

Limpam-se as longas lágrimas terrenas
Que ao fim de tantas lutas, tantas penas
Tu, finalmente, vais viver em paz.
* * * * * * * * * * * * * *

O VENTO ESTÁ DORMINDO NA CALÇADA
(Mário Quintana in "A rua dos Cataventos", p. 20)

O vento está dormindo na calçada
A tempestade o pôs fora de portas
Já ia alta a noite, a horas mortas
Quando ele entrou no lar de madrugada.

Andou a perseguir uma noitada
Que se agitava amena, em curvas tortas
Pelos campos lavrados, junto às hortas
E nela se enredou, noite fechada.

Não foi, de modo algum, um caso sério
Somente as aparências de adultério
Que agora paga, exposto ao pó da rua.

Em casa todos dormem sem cuidados
Só os raios do luar, sempre acordados
O cobrem com a luz que vem da lua.
* * * * * * * * * * * * * *

TENHO A ALMA VESTIDA DE SAUDADE
(Maria Paulina de Sousa in "Coração à Solta'', p. 45)

Tenho a alma vestida de saudade
Como a noite se cobre de negrume
A dor se desabafa num queixume
E a candura se enfeita de verdade.

Partindo, tu levaste a claridade
Desse dia sem paz e sem perfume
Na lareira apagou-se o brando lume
E de mim fizeste uma só metade.

Tenho o corpo dorido pela espera
Que tu voltes e faças Primavera
No chão que tanta chuva já bebeu.

Vem antes que eu me torne um malfeitor
A saudade me faça um pecador
E eu vá deixando, aos poucos, de ser eu.
* * * * * * * * * * * * * *

TUDO O QUE SOU É COMO SE NADA FOSSE
(Maria da Glória Oliveira Cardoso in "O Meu Vestido Cor de Rosa", p. 68)

Tudo o que sou é como se nada fosse
Neste eterno correr de tantos anos
E com ritos banais, de tão profanos
Cremos fazer da vida um limão doce.

Uma vontade louca é que nos trouxe
Fome de sermos mais do que uns humanos
Mas por serem mortais e tão mundanos
A glória desses sonhos acabou-se.

Mergulho na insondável vacuidade
Que me esvai como atroz enfermidade
E eu sofro-a, venenosa como cobra.

É tão pequeno e pobre o meu viver
Que no dia final, quando eu morrer
Tudo de mim se acaba e nada sobra.

Fonte:
Domingos Freire Cardoso. Por entre poetas. Ilhavo/Portugal, 2016.
Livro enviado pelo poeta.

Stanislaw Ponte Preta (O Inferninho e o Gervásio)


O cara que me contou esta história não conhece o Gervásio, nem se lembra quem lhe contou. Eu também não conheço o Gervásio nem quem teria contado a história ao cara que me contou, portanto, conto para vocês, mas vou logo explicando que não estou inventando nada.

Deu-se que o Gervásio tinha uma esposa dessas ditas "amélias", embora gorda e com bastante saúde. Porém, Mme. Gervásio não era de sair de casa, nem de muitas badalações.
Um cineminha de vez em quando e ela ficava satisfeita. Mas deu-se também que o Gervásio fez 25 anos de casado e baixou-lhe um remorso meio chato. Afinal, nunca passeava, a coitada, e, diante do remoer de consciência, resolveu dar uma de bonzinho e, ao chegar em casa, naquele fim de tarde, anunciou:

- Mulher, mete um vestido melhorzinho que a gente vai jantar fora!

A mulher nem acreditou, mas pegou a promessa pelo rabo e foi se empetecar. Vestiu aquele do casamento da sobrinha e se mandou com o Gervásio para Copacabana. O jantar - prometia o Gervásio - seria da maior bacanidade.

Em chegando ao bairro que o Conselheiro Acácio chamaria de "floresta de cimento armado", começou o problema da escolha. O táxi rodava pelo asfalto e o Gervásio ia lembrando: vamos ao Nino's? Ao Bife de Ouro? Ao Chateau? Ao Antonio's? Chalet Suisse? Le Bistrô?

A mulher - talvez por timidez - ia recusando um por um. Até que passaram em frente a um inferninho desses onde o diabo não entra para não ficar com complexo de inferioridade.

A mulher olhou o letreiro e disse:

- Vamos jantar aqui.

- Aqui??? - estranhou Gervásio. - Mas isto é um inferninho!

- Não importa - disse a mulher. - Eu sempre tive curiosidade de ver como é um negócio desses por dentro.

O Gervásio ainda escabriou um pouquinho, dizendo que aquilo não era digno dela, mas a mulher ponderou que ele a deixara escolher e, por isso, era ali mesmo que queria jantar. Vocês compreendem, né? Mulher-família tem a maior curiosidade para saber como é que as outras se viram.

Saíram do táxi e, já na entrada, o porteiro do inferninho saiu-se com um "Boa-noite, Dr. Gervásio" marotíssimo. Felizmente a mulher não ouviu. O pior foi lá dentro, o maitre d'hotel abriu-se no maior sorriso e perguntou:

- Dr. Gervásio, a mesa de sempre? - e foi logo se encaminhando para a mesa de pista.

Gervásio enfiou o macuco no embornal e aguentou as pontas, ainda crédulo na inocência da mulher. Deu uma olhada para ela, assim como quem não quer nada, e não percebeu maiores complicações. Mas a insistência dos serviçais de inferninho é comovedora. Já estava o garçom ali ao pé do casal, perguntando:

- A senhorita deseja o quê? - e, para Gervásio: - Para o senhor o uísque de sempre, não, Dr. Gervásio?

A mulher abriu a boca pela primeira vez, para dizer:

- O Gervásio hoje não vai beber. Só vai jantar.

- Perfeito - concordou o garçom. - Neste caso, o seu franguinho desossado, não é mesmo?
O Gervásio nem reagiu. Limitou-se a balançar a cabeça, num aceno afirmativo. E, depois, foi uma dureza engolir aquele frango que parecia feito de palha e matéria plástica. O ambiente foi ficando muito mais para urubu do que para colibri, principalmente depois que o pianista veio à mesa e perguntou se o Dr. Gervásio não queria dançar com sua dama "aquele samba reboladinho".

Daí para o fim, a única atitude daquele marido que fazia 25 anos de casado e comemorava o evento foi pagar a conta e sair de fininho. Na saída, o porteiro meteu outro "Boa-noite, Dr. Gervásio", e abriu a porta do primeiro táxi estacionado em frente.

Foi a dupla entrar na viatura e o motorista, numa solicitude de quem está acostumado a gorjetas gordas, querer saber:

- Para o hotel da Barra, doutor?

Aí ela engrossou de vez: - Seu moleque, seu vagabundo! Então é por isso que você se "esforça" tanto, fazendo extras, não é mesmo? Responde, palhaço!

O Gervásio quis tomar uma atitude digna, mas o motorista encostou o carro, que ainda não tinha andado cem metros, e lascou:

- Dr. Gervásio, não faça cerimônia: o senhor querendo eu dou umas bolachas nessa vagabunda, que ela se aquieta logo.

Fonte:
Stanislaw Ponte Preta. O melhor de Stanislaw.

2º Concurso Literário Internacional de Conto e Poesias Reinaldo J. S. Corona "In memoriam” (Prazo: 28 de fevereiro)

REGULAMENTO

Art. 1º – HUNING Editora por meio deste edital abre inscrições para o 2º Concurso Literário Internacional de Conto e Poesias Reinaldo J. S. Corona "In memoriam”

Parágrafo único – Tema: A fome no mundo

Das inscrições

Art. 2º – Podem participar do Concurso, público em geral, de quaisquer nacionalidade ou residentes no exterior.

§ 1º – Vetada a participação de membros da diretoria, comissão avaliadora e funcionários da Huning Editora.

§ 2º – Podem participar escritores maiores de 16 anos, com texto em língua portuguesa.

a) Estrangeiros devem mandar texto em sua língua nativa.

§ 3º – Cada participante pode inscrever-se com até 02 (dois) poemas e 02 (dois) contos de sua autoria. Os poemas e ou contos devem ser inéditos, ou seja, que ainda não foram publicados em livro.

§ 4º – Inscrições são gratuitas.

Art. 3º – As inscrições podem ser feitas pelo site,
www.huningeditora.com.br/concursomachadinho até 29 de fevereiro de 2020.

§ 1º – Ao preencher o cadastro o participante esta concordando com os termos deste edital.

§ 2º – As inscrições serão consideradas validas mediante o preenchimento dos seguintes dados: Nome completo, CPF, Data de Nascimento, Telefone, e-Mail, endereço residencial, e Foto.

O CONTEÚDO

Art 4º – A inscrição deve ser composta por dois arquivos, o arquivo contendo a autobiografia resumida do autor (até 10 linhas). O poema e ou conto em arquivo PDF.

a) Os poemas devem ser digitados em editor de texto eletrônico com formatação clara.

b) Fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12;

c) Cada poema e ou conto não deve exceder o limite de 02 (duas) laudas no tamanho A4;

d) O texto deverá conter um título e caso necessário um subtítulo.

Da premiação


Art. 5º Publicação em livro dos poemas e contos classificados.

§ 1º – Os participantes não poderão acumular as premiações, ou seja, só poderá ser classificado apenas uma categoria participante.

§ 2º – Serão publicados em livro os 10 (dez) poemas classificados e os 10 (dez) contos.

§ 3º – Publicação de livro com os 20 (vinte)classificados, com edição de 1.000 (mil) exemplares.

§ 4º – Certificados para os 15 primeiros classificados.

Da comissão julgadora

Art. 6º – A Comissão Julgadora, será escolhida pela Comissão de Organização do Concurso e será composta por 03 (três) membros com amplo conhecimento e experiência em Literatura da UCEFF Faculdades.

Parágrafo único – A Comissão Julgadora terá autonomia no julgamento, que será regido pelos princípios da originalidade e linguagem poética.

Do resultado

Art. 7º – O resultado do Concurso será divulgado no dia 25 de Março de 2020 pelo site: www.huningeditora.com.br

Do Pagamento da Remessa dos livros

Art. 8º - Cada autor classificado arcará com os custos de envio e receberá 03 exemplares gratuitos.

Das disposições finais

Art. 9º – A Huning Editora detém todos os direitos de Publicação e Distribuição da obra.

Art. 10º – Do julgamento apresentado pela Comissão Julgadora, quanto a qualidade dos contos e poemas selecionados, não caberá qualquer recurso, ficando esta medida adstrita às condições extrínsecas do concurso, dispostas nas cláusulas deste Regulamento, que será julgado pela Comissão de Organização do Concurso.

Art.11º- O lançamento do livro acontecerá no mês de Abril na cidade de Sarandi – RS

Art.12º - Casos omissos a este Regulamento serão analisados pela Comissão Julgadora, que é soberana em suas decisões.

Art. 13º Concurso literário contará com apoio de entidades artísticos culturais da cidade de Sarandi RS e região.

Atenciosamente
Huning Editora
www.huningeditora.com.br
contato@huningeditora.com.br

Fonte:
http://www.huningeditora.com.br/Edital012019Sarandi.pdf

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 165


Olivaldo Júnior (Três Microcontos sobre a Empatia)


DEPOIS DAS AULAS

Aninha e João eram duas crianças que sempre voltavam para casa juntos depois das aulas. Amigos desde o Jardim da Infância, estavam no 3º Ano do Ensino Fundamental.

Um dia, João ficou doente e não pôde mais voltar da escola com sua fiel escudeira, a Aninha. Chorosa, Aninha também ficou doente e deixou de ir às aulas, tal e qual João.

No hospital mais próximo, numa manhã ensolarada de outubro, entre um e outro médico, sob o olhar dos enfermeiros e doentes de plantão, Aninha e João se uniram novamente.
* * * * * * * * * * * * * *

A HORA DO ALMOÇO

Carlos e André dividiam a mesma função no escritório da firma. Auxiliares Administrativos, tratavam de partilhar a hora do almoço, para falarem sobre o serviço.

Cargos de confiança, um dia Carlos foi chamado à sala do chefe, que, lá de dentro, antes mesmo de Carlos entrar, já esbravejava como um louco. Pálido, André o ouvia de fora.

Depois de muito berrar, vendo que a hora do almoço se aproximava, o chefe deixou que Carlos saísse da sala. André, ao vê-lo, sem dizer nada, achegou-se dele com a marmita.
* * * * * * * * * * * * * *

O NOIVO DA NOITE

Juninho era um jovem comum, sem nada que o fizesse se destacar. Porém, quando a noite caía, com lua ou sem lua, saía para a rua e contemplava a réstia de estrelas a sós.

Poeta por opção (ou por aflição), via na noite a noiva perfeita para os ais de seu peito de poeta, o que procura o amor onde o amor nunca estará, nem mesmo por um só minuto.

A noite, ao vê-lo passar, capricha no céu estrelado, pois sabe que ele vai descrever o céu que ele oculta no fundo de si, onde a luz é mais lúcida que a da lua e de sua bela noiva.

Fonte:
Textos enviados pelo autor.

Lucília A. Trindade Decarli (Versos Diversos) 1


Em versos, semente espalho;
meu solo é o papel, que aceita…
Entrego a Deus o trabalho
e espero pela colheita!…


BENDIÇÃO

Bendigo, aqui, a grandiosa obra de Deus;
o sol, a lua, estrelas — maravilhas.
Todo o ar da Terra; a vida em jubileus;
montanhas, vales, rios, mares e ilhas!

Bendigo os homens — nobres a plebeus
e os outros animais em suas trilhas;
todas as plantas que em seus apogeus
se reproduzem entre vastas milhas!

Da Natureza, assim, bendigo a lida,
com força ativa, segue destemida
a perpetuara criação, perfeita.

Bendito o grão, que é dado a semear,
bendita a chuva, pois faz germinar...
Bendito o lavrador, pela colheita!
* * * * * * * * * * * * * *

Deixando em mim forte anseio
pelo seu jeito de amar,
você se foi como veio:
– numa noite de luar!


NOITES DE LUAR

A tarde finda expondo o escuro véu;
raios de sol se apagam no poente...
Impetuosa, a lua, lá do céu
vem clarear a noite intermitente.

Ante o cenário, pensamento ao léu,
lembro um afeto imenso, transcendente...
Do amor não sei dizer quem foi o réu,
o fato é que o fim veio... intransigente.

Cada palavra ou ato do passado,
afloram na alma e tudo está gravado
no coração de, ao menos, um dos dois.

Hoje, entretanto, eu penso que, talvez
os dois se lembrem que a primeira vez
teve luar... e, em noite de um depois!...
* * * * * * * * * * * * * *

Deploro o tempo, arbitrário,
que em frente vai, sem parar,
pois se ele andasse ao contrário
voltaria a te encontrar!…


AMOR INESQUECÍVEL

Como apagar o amor inesquecível
quando as lembranças teimam em voltar...
Ao mesmo tempo, ver como é terrível
aos anos idos não poder tornar!

Os dias ágeis de um mundo insensível,
seguem seu curso sem jamais parar;
porém constato ainda ser possível
pausar na noite para, então, sonhar.

Sonhar que tu retornas aos meus braços,
que independente de outros fortes laços,
o nosso amor ressurge vitorioso!

Enquanto sonho vem um novo dia,
desfaz depressa a minha fantasia
e o tempo corre em seu giro impiedoso!...
* * * * * * * * * * * * * *

Mantenho este sonho louco
sem deixa-lo esmorecer;
se decair, pouco a pouco,
será bem triste o viver!

SONHO LOUCO

Anos a fio me persegue um sonho,
um sonho louco, cheio de paixão,
que mantém vivo o antigo amor risonho,
indiferente ao tempo e à solidão...

Meu sonho louco não quer ser tristonho
e nem, tampouco, ver lançada ao chão
esta esperança, à qual eu não me oponho,
mas dela escondo o sonho... e a dimensão.

Mas sufocado, estando ele oprimido,
há muito tempo atento ao meu gemido,
o sonho sai, liberta-se de mim...

Meu sonho louco voa, ganha espaços
para pousar-me, um dia, nos teus braços,
viver contigo um grande amor, enfim!
* * * * * * * * * * * * * *

Sanar miséria contida
no coração do indigente,
não consiste em dar comida,
mas trata-lo como gente!


MISÉRIA HUMANA
Caminhava sozinho esse ser peregrino,
que em silêncio ingeria o bem pouco que davam;
parecia treinado em ser grato ao destino,
quando, pelo caminho, as migalhas sobravam...

Era a própria miséria a trazer desatino,
um declínio evidente, o qual muitos miravam,
avistando, somente, o boçal figurino:
veste suja, rasgada e que aos pés se arrastavam.

E ninguém percebia, atrás dessa "moldura":
a alma triste, ferida, a isenção de estrutura,
coração injuriado — ambos fracos, vencidos...

Sem lutar se curvara ante a longa jornada;
por jamais rebelar-se à má sorte traçada,
integrara, o indigente, o vil rol dos perdidos...
* * * * * * * * * * * * * *

O tempo, marcas deixou
entalhados em meu rosto,
mas o amor, que perdurou,
minimiza o meu desgosto!

MARCAS DO TEMPO

Do escuro túnel de um tempo passado,
ressurge, audaz, o amor adormecido!
Relembro alguém sorrindo, e do meu lado,
mas que perdi sem querer ter perdido.

Em transe está meu ego e, arrebatado,
canta o passado em ode, destemido,
indo aportar num tempo afortunado
que conheci, porém, sem ter vivido.

Ao desalento o meu amor resiste,
tento esquecer reminiscência triste,
marcas do tempo em minha pele impressas…

O meu viver, repleto de saudade,
exige agora: vem felicidade,
liberta o meu destino das avessas!…

Fonte:
Lucília Alzira Trindade Decarli. Inquietude: poesias. Bandeirantes/PR: Sthampa, 2008.
Livro entregue pela autora.

Machado de Assis (A Causa Secreta)


Garcia, em pé, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o teto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco minutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, - de Catumbi, onde morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. Como os três personagens aqui presentes estão agora mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem rebuço.

Tinham falado também de outra coisa, além daquelas três, coisa tão feia e grave, que não lhes deixou muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde. Toda a conversação a este respeito foi constrangida. Agora mesmo, os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo que há no rosto de Garcia uma expressão de severidade, que lhe não é habitual. Em verdade, o que se passou foi de tal natureza, que para fazê-lo entender é preciso remontar à origem da situação.

Garcia tinha-se formado em medicina, no ano anterior, 1861. No de 1860, estando ainda na Escola, encontrou-se com Fortunato, pela primeira vez, à porta da Santa Casa; entrava, quando o outro saía. Fez-lhe impressão a figura; mas, ainda assim, te-la-ia esquecido, se não fosse o segundo encontro, poucos dias depois. Morava na rua de D. Manoel. Uma de suas raras distrações era ir ao teatro de S. Januário, que ficava perto, entre essa rua e a praia; ia uma ou duas vezes por mês, e nunca achava acima de quarenta pessoas. Só os mais intrépidos ousavam estender os passos até aquele recanto da cidade. Uma noite, estando nas cadeiras, apareceu ali Fortunato, e sentou-se ao pé dele.

A peça era um dramalhão, cozido a facadas, ouriçado de imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a com singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo beco do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando. No largo da Carioca entrou num tílburi, e seguiu para os lados da praça da Constituição. Garcia voltou para casa sem saber mais nada.

Decorreram algumas semanas. Uma noite, eram nove horas, estava em casa, quando ouviu rumor de vozes na escada; desceu logo do sótão, onde morava, ao primeiro andar, onde vivia um empregado do arsenal de guerra. Era este que alguns homens conduziam, escada acima, ensanguentado. O preto que o servia acudiu a abrir a porta; o homem gemia, as vozes eram confusas, a luz pouca. Deposto o ferido na cama, Garcia disse que era preciso chamar um médico.

- Já aí vem um, acudiu alguém.

Garcia olhou: era o próprio homem da Santa Casa e do teatro. Imaginou que seria parente ou amigo do ferido; mas rejeitou a suposição, desde que lhe ouvira perguntar se este tinha família ou pessoa próxima. Disse-lhe o preto que não, e ele assumiu a direção do serviço, pediu às pessoas estranhas que se retirassem, pagou aos carregadores, e deu as primeiras ordens. Sabendo que o Garcia era vizinho e estudante de medicina pediu-lhe que ficasse para ajudar o médico. Em seguida contou o que se passara.

- Foi uma malta de capoeiras. Eu vinha do quartel de Moura, onde fui visitar um primo, quando ouvi um barulho muito grande, e logo depois um ajuntamento. Parece que eles feriram também a um sujeito que passava, e que entrou por um daqueles becos; mas eu só vi a este senhor, que atravessava a rua no momento em que um dos capoeiras, roçando por ele, meteu-lhe o punhal. Não caiu logo; disse onde morava e, como era a dois passos, achei melhor traze-lo.

- Conhecia-o antes? perguntou Garcia.

- Não, nunca o vi. Quem é?

- É um bom homem, empregado no arsenal de guerra. Chama-se Gouvêa.

- Não sei quem é.

Médico e subdelegado vieram daí a pouco; fez-se o curativo, e tomaram-se as informações. O desconhecido declarou chamar-se Fortunato Gomes da Silveira, ser capitalista, solteiro, morador em Catumbi. A ferida foi reconhecida grave. Durante o curativo ajudado pelo estudante, Fortunato serviu de criado, segurando a bacia, a vela, os panos, sem perturbar nada, olhando friamente para o ferido, que gemia muito. No fim, entendeu-se particularmente com o médico, acompanhou-o até o patamar da escada, e reiterou ao subdelegado a declaração de estar pronto a auxiliar as pesquisas da polícia. Os dois saíram, ele e o estudante ficaram no quarto.

Garcia estava atônito. Olhou para ele, viu-o sentar-se tranquilamente, estirar as pernas, meter as mãos nas algibeiras das calças, e fitar os olhos no ferido. Os olhos eram claros, cor de chumbo, moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria. Cara magra e pálida; uma tira estreita de barba, por baixo do queixo, e de uma têmpora a outra, curta, ruiva e rara. Teria quarenta anos. De quando em quando, voltava-se para o estudante, e perguntava alguma coisa acerca do ferido; mas tornava logo a olhar para ele, enquanto o rapaz lhe dava a resposta. A sensação que o estudante recebia era de repulsa ao mesmo tempo que de curiosidade; não podia negar que estava assistindo a um ato de rara dedicação, e se era desinteressado como parecia, não havia mais que aceitar o coração humano como um poço de mistérios.

Fortunato saiu pouco antes de uma hora; voltou nos dias seguintes, mas a cura fez-se depressa, e, antes de concluída, desapareceu sem dizer ao obsequiado onde morava. Foi o estudante que lhe deu as indicações do nome, rua e número.

- Vou agradecer-lhe a esmola que me fez, logo que possa sair, disse o convalescente.

Correu a Catumbi daí a seis dias. Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras de agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no joelho. Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os olhos de quando em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença para sair, e saiu.

- Cuidado com os capoeiras! disse-lhe o dono da casa, rindo-se.

O pobre-diabo saiu de lá mortificado, humilhado, mastigando a custo o desdém, forcejando por esquecê-lo, explicá-lo ou perdoá-lo, para que no coração só ficasse a memória do benefício; mas o esforço era vão. O ressentimento, hóspede novo e exclusivo, entrou e pôs fora o benefício, de tal modo que o desgraçado não teve mais que trepar à cabeça e refugiar-se ali como uma simples ideia. Foi assim que o próprio benfeitor insinuou a este homem o sentimento da ingratidão.

Tudo isso assombrou o Garcia. Este moço possuía, em gérmen, a faculdade de decifrar os homens, de decompor os caracteres, tinha o amor da análise, e sentia o regalo, que dizia ser supremo, de penetrar muitas camadas morais, até apalpar o segredo de um organismo. Picado de curiosidade, lembrou-se de ir ter com o homem de Catumbi, mas advertiu que nem recebera dele o oferecimento formal da casa. Quando menos, era-lhe preciso um pretexto, e não achou nenhum.

Tempos depois, estando já formado e morando na rua de Matacavalos, perto da do Conde, encontrou Fortunato em uma gôndola, encontrou-o ainda outras vezes, e a frequência trouxe a familiaridade. Um dia Fortunato convidou-o a ir visitá-lo ali perto, em Catumbi.

- Sabe que estou casado?

- Não sabia.

- Casei-me há quatro meses, podia dizer quatro dias. Vá jantar conosco domingo.

- Domingo?

- Não esteja forjando desculpas; não admito desculpas. Vá domingo.

Garcia foi lá domingo. Fortunato deu-lhe um bom jantar, bons charutos e boa palestra, em companhia da senhora, que era interessante. A figura dele não mudara; os olhos eram as mesmas chapas de estanho, duras e frias; as outras feições não eram mais atraentes que dantes. Os obséquios, porém, se não resgatavam a natureza, davam alguma compensação, e não era pouco. Maria Luísa é que possuía ambos os feitiços, pessoa e modos. Era esbelta, airosa, olhos meigos e submissos; tinha vinte e cinco anos e parecia não passar de dezenove. Garcia, à segunda vez que lá foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca ou nenhuma afinidade moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o respeito e confinavam na resignação e no temor. Um dia, estando os três juntos, perguntou Garcia a Maria Luísa se tivera notícia das circunstâncias em que ele conhecera o marido.

- Não, respondeu a moça.

- Vai ouvir uma ação bonita.

- Não vale a pena, interrompeu Fortunato.

- A senhora vai ver se vale a pena, insistiu o médico.

Contou o caso da rua de D. Manoel. A moça ouviu-o espantada. Insensivelmente estendeu a mão e apertou o pulso ao marido, risonha e agradecida, como se acabasse de descobrir-lhe o coração. Fortunato sacudia os ombros, mas não ouvia com indiferença. No fim contou ele próprio a visita que o ferido lhe fez, com todos os pormenores da figura, dos gestos, das palavras atadas, dos silêncios, em suma, um estúrdio. E ria muito ao contá-la. Não era o riso da dobrez. A dobrez é evasiva e oblíqua; o riso dele era jovial e franco.

" Singular homem!" pensou Garcia.

Maria Luísa ficou desconsolada com a zombaria do marido; mas o médico restituiu-lhe a satisfação anterior, voltando a referir a dedicação deste e as suas raras qualidades de enfermeiro; tão bom enfermeiro, concluiu ele, que, se algum dia fundar uma casa de saúde, irei convidá-lo.

- Valeu? perguntou Fortunato.

- Valeu o quê?

- Vamos fundar uma casa de saúde?

- Não valeu nada; estou brincando.

- Podia-se fazer alguma coisa; e para o senhor, que começa a clínica, acho que seria bem bom. Tenho justamente uma casa que vai vagar, e serve.

Garcia recusou nesse e no dia seguinte; mas a ideia tinha-se metido na cabeça ao outro, e não foi possível recuar mais. Na verdade, era uma boa estreia para ele, e podia vir a ser um bom negócio para ambos. Aceitou finalmente, daí a dias, e foi uma desilusão para Maria Luísa. Criatura nervosa e frágil, padecia só com a ideia de que o marido tivesse de viver em contato com enfermidades humanas, mas não ousou opor-se-lhe, e curvou a cabeça. O plano fez-se e cumpriu-se depressa. Verdade é que Fortunato não curou de mais nada, nem então, nem depois. Aberta a casa, foi ele o próprio administrador e chefe de enfermeiros, examinava tudo, ordenava tudo, compras e caldos, drogas e contas.

Garcia pôde então observar que a dedicação ao ferido da rua D. Manoel não era um caso fortuito, mas assentava na própria natureza deste homem. Via-o servir como nenhum dos fâmulos. Não recuava diante de nada, não conhecia moléstia aflitiva ou repelente, e estava sempre pronto para tudo, a qualquer hora do dia ou da noite. Toda a gente pasmava e aplaudia. Fortunato estudava, acompanhava as operações, e nenhum outro curava os cáusticos.

- Tenho muita fé nos cáusticos, dizia ele.

A comunhão dos interesses apertou os laços da intimidade. Garcia tornou-se familiar na casa; ali jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria Luísa, cuja solidão moral era evidente. E a solidão como que lhe duplicava o encanto. Garcia começou a sentir que alguma coisa o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao canto da janela, ou tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu por ele, quis expeli-lo para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que o da amizade; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as coisas, a afeição e o silêncio, mas não se deu por achada.

No começo de outubro deu-se um incidente que desvendou ainda mais aos olhos do médico a situação da moça. Fortunato metera-se a estudar anatomia e fisiologia, e ocupava-se nas horas vagas em rasgar e envenenar gatos e cães. Como os guinchos dos animais atordoavam os doentes, mudou o laboratório para casa, e a mulher, compleição nervosa, teve de os sofrer. Um dia, porém, não podendo mais, foi ter com o médico e pediu-lhe que, como coisa sua, alcançasse do marido a cessação de tais experiências.

- Mas a senhora mesma...

Maria Luísa acudiu, sorrindo:

- Ele naturalmente achará que sou criança. O que eu queria é que o senhor, como médico, lhe dissesse que isso me faz mal; e creia que faz...

Garcia alcançou prontamente que o outro acabasse com tais estudos. Se os foi fazer em outra parte, ninguém o soube, mas pode ser que sim. Maria Luísa agradeceu ao médico, tanto por ela como pelos animais, que não podia ver padecer. Tossia de quando em quando; Garcia perguntou-lhe se tinha alguma coisa, ela respondeu que nada.

- Deixe ver o pulso.

- Não tenho nada.

Não deu o pulso, e retirou-se. Garcia ficou apreensivo. Cuidava, ao contrário, que ela podia ter alguma coisa, que era preciso observá-la e avisar o marido em tempo.

Dois dias depois, - exatamente o dia em que os vemos agora, - Garcia foi lá jantar. Na sala disseram-lhe que Fortunato estava no gabinete, e ele caminhou para ali; ia chegando à porta, no momento em que Maria Luísa saía aflita.

- Que é? perguntou-lhe.

- O rato! O rato! exclamou a moça sufocada e afastando-se.

Garcia lembrou-se que na véspera ouvira ao Fortunato queixar-se de um rato, que lhe levara um papel importante; mas estava longe de esperar o que viu. Viu Fortunato sentado à mesa, que havia no centro do gabinete, e sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o índice da mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direita tinha uma tesoura. No momento em que o Garcia entrou, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até a chama, rápido, para não matá-lo, e dispôs-se a fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado.

- Mate-o logo! disse-lhe.

- Já vai.

E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensanguentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha  medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.

Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem raiva, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto posto, não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia morrendo, o rato podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou-o para cortar-lhe o focinho e pela última vez chegar a carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si toda essa mistura de chamusco e sangue.

Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.

"Castiga sem raiva", pensou o médico, "pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem".

Fortunato encareceu a importância do papel, a perda que lhe trazia, perda de tempo, é certo, mas o tempo agora era-lhe preciosíssimo. Garcia ouvia só, sem dizer nada, nem lhe dar crédito. Relembrava os atos dele, graves e leves, achava a mesma explicação para todos. Era a mesma troca das teclas da sensibilidade, um diletantismo sui generis, uma redução de Calígula.

Quando Maria Luísa voltou ao gabinete, daí a pouco, o marido foi ter com ela, rindo, pegou-lhe nas mãos e falou-lhe mansamente:

- Fracalhona!

E voltando-se para o médico:

- Há de crer que quase desmaiou?

Maria Luísa defendeu-se a medo, disse que era nervosa e mulher; depois foi sentar-se à janela com as suas lãs e agulhas, e os dedos ainda trêmulos, tal qual a vimos no começo desta história. Hão de lembrar-se que, depois de terem falado de outras coisas, ficaram calados os três, o marido sentado e olhando para o teto, o médico estalando as unhas. Pouco depois foram jantar; mas o jantar não foi alegre. Maria Luísa cismava e tossia; o médico indagava de si mesmo se ela não estaria exposta a algum excesso na companhia de tal homem. Era apenas possível; mas o amor trocou-lhe a possibilidade em certeza; tremeu por ela e cuidou de os vigiar.

Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo que a moléstia não tirasse a máscara. Era a tísica, velha dama insaciável, que chupa a vida toda, até deixar um bagaço de ossos. Fortunato recebeu a notícia como um golpe; amava deveras a mulher, a seu modo, estava acostumado com ela, custava-lhe perdê-la. Não poupou esforços, médicos, remédios, ares, todos os recursos e todos os paliativos. Mas foi tudo vão. A doença era mortal.

Nos últimos dias, em presença dos tormentos supremos da moça, a índole do marido subjugou qualquer outra afeição. Não a deixou mais; fitou o olho baço e frio naquela decomposição lenta e dolorosa da vida, bebeu uma a uma as aflições da bela criatura, agora magra e transparente, devorada de febre e minada de morte. Egoísmo aspérrimo, faminto de sensações, não lhe perdoou um só minuto de agonia, nem lhos pagou com uma só lágrima, pública ou íntima. Só quando ela expirou, é que ele ficou aturdido. Voltando a si, viu que estava outra vez só.

De noite, indo repousar uma parenta de Maria Luísa, que a ajudara a morrer, ficaram na sala Fortunato e Garcia, velando o cadáver, ambos pensativos; mas o próprio marido estava fatigado, o médico disse-lhe que repousasse um pouco.

- Vá descansar, passe pelo sono uma hora ou duas: eu irei depois.

Fortunato saiu, foi deitar-se no sofá da saleta contígua, e adormeceu logo. Vinte minutos depois acordou, quis dormir outra vez, cochilou alguns minutos, até que se levantou e voltou à sala. Caminhava nas pontas dos pés para não acordar a parenta, que dormia perto. Chegando à porta, estacou assombrado.

Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero. Não tinha ciúmes, note-se; a natureza compô-lo de maneira que lhe não deu ciúmes nem inveja, mas dera-lhe vaidade, que não é menos cativa ao ressentimento.

Olhou assombrado, mordendo os beiços.

Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.

Fonte:
Machado de Assis. Várias Histórias.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Varal de Trovas n. 164


Antonio Brás Constante (A História Real de um Anjo)


Um anjo não é um ser mitológico com asas, mas é um ser de carne e osso que nos auxilia, ama, ampara, fazendo de nossa existência um lugar melhor para se viver. Este texto pretende falar sobre um desses anjos, uma mulher que, entre tantos nomes, poderia se chamar de Ana, Maria, Tereza, Lecir, Edna, Regina, Solange, Érica, Madalena, Santina, Nelsi, mas que dispõe de um nome único, um nome que bem poderia ser realmente de um anjo.

Sua história começa no interior de um dos estados deste imenso País, mais precisamente na roça. Trabalho árduo que compartilhava com o resto de sua família. Ainda muito nova perdeu o pai. Família grande, de muitos irmãos e irmãs. O campo era seu pequeno mundo e o resto do universo uma incógnita.

Sua frágil figura de semblante sereno, ainda jovem, foi desposada, iludida, tirada do seio de seu lar para viver o sonho das mulheres de sua mocidade, de poder se casar, quem sabe até partir para uma vida melhor. Triste ilusão, a inocência encontra a desilusão. O calvário do anjo começa. Quantos anjos já padeceram igualmente dessa deprimente sina?

Na infelicidade do matrimônio, sofreu desprezos, angústias, dores e desenganos, parindo seus filhos em meio a cruel abandono. Pela miséria passou, sem estudo, sem dinheiro, sem apoio. Uma de suas primeiras casinhas era pouco mais que um caixote. Quando chovia, colocava seu filho ainda bebê embaixo da mesa em um berço improvisado, pois as goteiras eram tantas que parecia não ter telhado. A mulher segurava sua outra criança, uma menina também pequena no colo, sobre a proteção de uma sombrinha velha, e ali ficavam até a chuva passar.

O mundo, agora gigante aterrorizante, bem que tentou minar suas forças. Ela apanhou tantas e tantas vezes da vida, mas mesmo assim seguiu em frente. Sem ter asas para voar, marcou seu destino com os próprios pés firmados no chão, forçando seu caminho ao encontro do futuro.

Catou quinquilharias que para outros era lixo, plantou, fez faxina, trabalhou como copeira, servente, costureira. Divorciou-se em um tempo em que ter a coragem de viver sozinha era algo mal visto e mal falado. Muitos dos amigos que pensava que tinha viraram-lhe as costas por ela ter ousado esse ato de liberdade.

Com muita luta, esta mulher, meio anjo meio gente, conseguiu criar seus dois filhos, superando as dificuldades que eram lançadas diante de si. Hoje a menina que ela segurava nos braços em noites de temporal é gerente de banco, mãe e esposa dedicada, uma pessoa especial. E o bebê que era colocado embaixo da mesa para se proteger, também cresceu, virou pretenso escritor, e resolveu neste dia das mães contar um pouco da história dessa mulher, sua mãe, seu anjo protetor. Um anjo de amor que poderia ter vários nomes, mas que para seus dois filhos, se chama Valdira, ou simplesmente MÃE.

Fonte:
Antonio Brás Constante.  Hoje é o seu aniversário! “Prepare-se” : e outras histórias. Porto Alegre, RS : AGE, 2009.

Daniel Maurício (Devaneios Poéticos) 2


Abri meu coração
Escorreu poesia pra todos os lados.
* * * * * * * * * * * * * *

A chuva passou
Deixando no chão
Rastros de esperança.
* * * * * * * * * * * * * *

Ah, essa tua lonjura!
Sedento por ti
Navego em mim mesmo.
* * * * * * * * * * * * * *

Ainda com um gosto de dezembro na ponta da língua
Dou o primeiro ponto
Nas vestes que se ajustarão aos meus sonhos.
E as vestes de ontem?
Ah, estas agora agasalharão somente
As minhas lembranças.
* * * * * * * * * * * * * *

Descolore-me
Com teus beijos
Que em rendas
Me rendo a ti.
* * * * * * * * * * * * * *

Era tanta afinidade
Que ao tentar te remover
Camada por camada
Descobri que tu eras
Um pedacinho da minha alma.
* * * * * * * * * * * * * *

Miudezas...
Ah!
Era tanta coisinha
Que o amor
Até parecia encantado.
* * * * * * * * * * * * * *

Na sua simplicidade
Não quis ser muito
Mas aos milhares
Se repartiu.
* * * * * * * * * * * * * *

Pra não dizer adeus
Prolonguei meu ontem
Até que o sono me pegou no colo
Sonhando que era deus Apolo
Eternizei teu sorriso
Num belo amanhecer de luz.
* * * * * * * * * * * * * *

Quando eu penso em você
Uma úmida saudade
Me visita.
* * * * * * * * * * * * * *

Quando eu te vi
Meu coração mamulengou dengoso
Feito gato safado, cioso
Que preguiçosamente se esfrega nas cercas
Miando de amor.
* * * * * * * * * * * * * *

Ruidoso mar
Com as tuas batidas
Ensurdeces o fado
Que grita no meu peito.
* * * * * * * * * * * * * *

Se Deus quiser?
Talvez Ele queira.
Mas e o teu querer,
Ser a solução,
Ser de alguém a salvação?
Ah, mas como é cômodo
Esperar que o Outro seja.
* * * * * * * * * * * * * *

Varre-me
Com o teu torvelinho de desejos.
Desliza em meu corpo
Teu hálito sedutor.
Faça
Minh' alma desvairada e andarilha
Em êxtase rodopiar com o teu amor.
* * * * * * * * * * * * * *
 
Fonte:
Facebook da AVIPAF

XVIII Concurso “Fritz Teixeira de Salles de Poesia” (Prazo: 24 de Janeiro)

Categorias “Monte Sião” e “Geral”
Promoção “Fundação Cultural Pascoal Andreta”

REGULAMENTO

I. GERAL
1.    As inscrições estarão abertas de 02 de dezembro de 2019 até 24 de janeiro de 2020.

2.    Todas as poesias são inscritas na categoria GERAL. Somente após o julgamento e classificação dessa categoria são julgadas as poesias dos autores residentes em Monte Sião.

a.    Tendo sido classificado um texto na categoria GERAL, o mesmo não concorre na categoria MONTE SIÃO.

3.    Cada autor poderá concorrer com até 02 (dois) poemas, inéditos, e em língua portuguesa.

a.    A publicação em blogs pessoais não invalida o ineditismo, porém a publicação em livros, jornais e ou antologias quaisquer, bem como a inscrição simultânea em outro concurso similar, invalidam a inscrição.

b.    A participação no concurso é livre para autores de todas as idades, sem qualquer restrição.

c.    São aceitas inscrições de autores residentes e ou originários de quaisquer cidades ou países.

d.    A inscrição é gratuita.

e.    O tema das poesias é livre.

4.    Uma Comissão Julgadora, escolhida pela Fundação Cultural Pascoal Andreta, selecionará os melhores trabalhos.

5.    Os direitos autorais dos textos são de propriedade de seus autores.

a.    Ao enviar sua inscrição para este concurso, os autores concordam expressamente com a publicação das poesias inscritas no site da Fundação Cultural Pascoal Andreta (www.fundacaopascoalandreta.com.br), bem como no livro (edição comemorativa) a ser publicado, sem que qualquer ônus seja imputado à Fundação.

b.    Não é necessário que o autor faça o registro, para fins de direito autoral.

c.    A Fundação Cultural Pascoal Andreta declara que o livro a ser editado (edição comemorativa), não será comercializado em nenhuma hipótese, tratando-se ainda de tiragem limitada.

6.    O envio da(s) poesia(s) ao concurso significa inteira e completa concordância, por parte dos concorrentes, com este Regulamento. Casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora. As decisões são irrecorríveis.

7.    INSCRIÇÕES

1.    Para confirmar sua inscrição, o autor deverá preencher o formulário disponível no link Ficha de Inscrição.  https://form.jotformz.com/93343317266660

2.    A(s) poesia(s) deverão ser anexadas na mesma Ficha de Inscrição, em campos específicos.

3.    Ao final do preenchimento do formulário e tendo anexado sua(s) poesia(s), clicar no botão ENVIAR. Aguardar mensagem de confirmação de recebimento.

4.    Não serão aceitos textos e inscrições por email.

5.    As poesias deverão ser enviadas conforme abaixo:

a.    Digitação, preferencialmente, em fonte Times New Roman, tamanho12, ou fonte Arial, também tamanho 12, com espaço livre.

b.    Cada poesia deverá constituir um arquivo único, sem a indicação do nome do autor ou pseudônimo (os textos serão catalogados e indexados por numeração sequencial para encaminhamento à Comissão Julgadora).

A correlação entre as poesias e seus autores é determinada pelo arquivo anexado na Ficha de Inscrição e o índice numérico atribuído – portanto, vinculado unicamente a quem preencheu o formulário – sem que a Comissão Julgadora tenha acesso a qualquer informação antecipada dos poetas e seus textos.

Desta forma, a Comissão Julgadora conhece apenas as poesias e seu número, até que o julgamento seja concluído e o resultado publicado.

c.    Preferencialmente, salvar os arquivos em formato PDF. Arquivos no formato Microsoft Word (.doc ou .docx), OpenOffice, BROffice, LibreOffice ou Google Docs também serão aceitos.

d.    Não são aceitos arquivos no formato figura (JPG, PNG, etc)

e.    Não são aceitos links de compartilhamento em serviços como Dropbox, Google Drive, Skydrive ou similares.

6.    Em até 10 (dez) dias contados a partir do envio das poesias, os participantes receberão comunicado, por email, da confirmação de sua inscrição ou serão solicitados a corrigir eventuais irregularidades.

a.    Para os casos em que correções forem solicitadas, os participantes terão até 03 (três) dias para apresentá-las.

b.    Caso as correções não sejam recebidas, a inscrição será invalidada.

7.    Caso o autor identifique que houve erro em sua inscrição (arquivo incorreto, informações incompletas, etc), enviar email para concurso.fritz.2020@fundacaopascoalandreta.com.br, indicando no campo “Assunto”: Concurso Fritz 2020: Solicitação de Correção de Inscrição

a.    A solicitação será avaliada pela Comissão Organizadora e o autor será notificado da decisão

b.    Em nenhuma hipótese preencher uma nova Ficha de Inscrição.

8.    Eventuais solicitações de substituição da(s) poesia(s) inscritas devem ser encaminhadas para o endereço de email concurso.fritz.2020@fundacaopascoalandreta.com.br, indicando no campo “Assunto”: Concurso Fritz 2020: Solicitação de substituição de poesia
a.    A solicitação será avaliada pela Comissão Organizadora e o autor será notificado da decisão
b.    Não enviar as poesias até a decisão da Comissão Organizadora
c.    Em nenhuma hipótese preencher uma nova Ficha de Inscrição

9.    A relação completa de participantes,  cujas inscrições foram aceitas pela Comissão Organizadora, será publicada no site da Fundação Cultural Pascoal Andreta – www.fundacaopascoalandreta.com.br – no dia 02 de fevereiro de 2020.

10.    Solicitações de esclarecimentos poderão ser encaminhadas para o endereço eletrônico (concurso.fritz.2020@fundacaopascoalandreta.com.br), indicando no campo “Assunto”: Concurso Fritz 2020: Esclarecimentos.


III. PRÊMIOS

1.    Haverá premiação para os três melhores trabalhos, na categoria GERAL:
a.    1º lugar: R$ 2.000,00 (Dois mil reais)
b.    2º lugar: R$ 1.500,00 (Mil e quinhentos reais)
c.    3º lugar: R$ 1.000,00 (Mil reais)

2.    Para os três melhores trabalhos de autores da cidade de Monte Sião:
a.    1º lugar: R$ 1.000,00 (Mil reais)
b.    2º lugar: R$ 600,00 (Seiscentos reais)
c.    3º lugar: R$ 400,00 (Quatrocentos reais)

3.    Menção Honrosa para 07 (sete) trabalhos, na categoria GERAL.

4.    Menção Honrosa para 02 (dois) trabalhos, na categoria MONTE SIÃO.

5.    Menção Honrosa para o concorrente mais jovem.

6.    Todos os classificados, bem como aqueles contemplados com Menção Honrosa, receberão um livro contendo as poesias premiadas (edição comemorativa) e Diploma personalizado.

7.    Os resultados do concurso serão publicados no site da Fundação Cultural Pascoal Andreta – www.fundacaopascoalandreta.com.br – no dia 08 de março de 2020.

8.    A entrega dos prêmios acontecerá no dia 18 de abril de 2020, sábado, às 19:30h.

9.    Para os classificados do 1º ao 3º lugares, que não sejam de Monte Sião, haverá hospedagem com café da manhã.

10.    No caso do não comparecimento de qualquer dos autores classificados no evento de premiação, o respectivo prêmio poderá ser enviado por correios (diploma, jornal, edição comemorativa) e depósito em conta corrente bancária, desde que expressamente solicitado pelo autor em até 30 dias contados a partir de 18 de abril de 2020. Findo este prazo o valor será devolvido ao patrocinador e o ganhador perderá o direito ao prêmio.

11.    Os poetas classificados, inclusive Menção Honrosa, poderão declamar sua poesia ou, se desejarem, indicar outra pessoa para fazê-lo.

Fonte:
https://www.fundacaopascoalandreta.com.br/