quinta-feira, 14 de maio de 2020

Aparecido Raimundo de Souza (Por Todas Essas Criaturas de um Dia)


SENHORAS E SENHORES, O NOSSO tema de hoje é sobre uma coisinha simples e insignificante, mas que, infelizmente, falta na maioria das pessoas (notadamente no coração), apesar delas se mostrarem conscientes quanto a sua real e verdadeira aplicação na praticidade do dia a dia.

Aproveitando estes ásperos momentos, em que o mundo inteiro se debruça, estarrecido, sobre as garras fulminantes de um vírus letal, e, até agora incontrolável, o coronavírus, ou Covid-19, nada melhor  que aproveitarmos a ocasião tão propícia para discorrermos sobre a  ‘SOLIDARIEDADE’ e a ‘CARIDADE’.

A primeira foi, há tempos passados, contemplada pelo brilhante pensamento de Thomas Fuller, escritor inglês  que viveu de 1608 a 1661. Ele asseverava que “a solidariedade deveria começar em casa e deixou isso bastante sedimentado em seu livro ‘Monsieur Ambivalence: A Post Literate Fable’ - mas que não deveria terminar lá”’.

Falando na mesma linguagem de Fuller, o francês Jean Baptiste Massilon aumentou  a sua  extensão, acrescentando que  “a porta entre nós e o céu não poderia ser aberta enquanto estivesse fechada a que fica entre nós e o próximo”. Entendam, amados, que as pessoas confundem, talvez por burrice, ou falta de conhecimento (o que dá no mesmo), SOLIDARIEDADE com CARIDADE.

Devemos observar, que ambas caminham juntas, lado a lado, de mãos dadas. Todavia, existe uma distância abissal entre elas. Além de patentearem posições diferentes, embora interligadas entre si, vejam que loucura, não obstante estarem unidas como se fossem irmãs siamesas, diferem, dando a entender, uma outra conotação semântica completamente oposta.

Neste diapasão, solidariedade é quando entre nós e eles, não existe, ou seja, quando há apenas o nós. Vejamos, agora, por segundo, a Caridade. Esta, por seu turno, como bem lecionava o humorista  Jaume Perich, era e continua sendo, até hoje, “a única virtude que, para se fazer  genuína e inquestionável, precisará que prevaleça sempre, aconteça o que acontecer, a  injustiça”.

Uma pequena parcela da sociedade, leva, à efeito, a solidariedade (ou o que ela acha ser solidariedade). Contudo, não a enuncia de modo sério, como deveria. Neste rodar dos trezentos e sessenta graus do carrossel, onde os cavalos continuam sendo os mesmos, ofertar esmolas dentro dos coletivos, ou comprar qualquer bugiganga de um vendedor que entra pela porta do meio, não deixará de ser um ato de solidariedade.

Esta postura se tornará vaga e divorciada de qualquer respingo do bom e mavioso  sentimento da reciprocidade plena. Como assim? Vamos tentar explicar. As pessoas, às vezes, se prestam a propiciarem “agrados” por meros descargos de consciências, levadas, pelos escrúpulos de acharem que, podendo ajudar, não deixariam passar batidos pequenos gestos humanitários.

Solidariedade, sabemos de cor e salteado, vai um pouco adiante. Se faz  pujante na animação e na simpatia interior, deixando fluir, um sorriso franco no rosto. E também engendramos entender que não há prazer em possuir algo e não compartilharmos com quem necessita. Caridade é “um exercício espiritual diário”. 

No pensar de Chico Xavier, que completou a sua teoria observando, com seu eterno sorriso brando, e a voz quase apagada: “quem pratica o bem, coloca em movimento as forças da alma. Quando os espíritos nos recomendam, com insistência, o declínio da caridade,  eles estão nos orientando no sentido de nossa própria evolução; não se trata apenas de uma indicação ética, mas de profundo significado filosófico”.

Dias atrás, recebemos em nosso whatsApp, a mensagem de uma participante de um grupo de amizades de repórteres e jornalistas, do qual fazemos parte, dando conta de que uma senhora de sessenta e seis anos, acometida pelos sintomas do Covi-19, precisou ser internada às pressas. Do trabalho, a senhorinha  seguiu direto para o isolamento.

Mãe de várias filhas, todas casadas, nenhuma delas (depois do caso ter vindo à tona), apareceu na empresa que ela trabalhava, para saber para onde a matriarca se internara, e a quantas andavam o seu quadro clínico. Os patrões,  mesmo caminho, sequer deram um telefonema para tomarem conhecimento do estado de sua funcionária; se as filhas e maridos precisavam de alguma coisa; tipo algum dinheiro; uma ajuda básica para enfrentarem os percalços vindouros...

Pasmem, senhoras e senhores. Uma palavra de carinho e conforto, ao menos isso, não veio à tona. A esse quadro poderíamos dar o nome, por parte dos patrões, de profunda falta de solidariedade, e, pelos familiares, maridos, sogras e vizinhos, de completo estado de abandono, ou pior: da falta de caridade.

Afinal de contas, sessenta e seis anos... Estranha ao nosso convívio, procuramos saber de seu paradeiro, levando um pouco de conforto às filhas, as crianças (netos da senhora), e a própria doente, ainda agora em quarentena. Com esta pequena iniciativa, a solidariedade e a caridade se fizeram benéficas e agregadas, num objetivo ímpar e sem pretensões de benesses futuras.

Não nos fizemos ausentes, nem viramos nossos olhos para uma responsabilidade que poderia ter sido menor, não fosse o desrespeito, ou a falta de solidariedade, que as criaturas não cultuam, por seus co-irmãos, ainda que em suas veias não corra o mesmo insumo que nos mantém vivos.

Nós, senhoras e senhores, não devemos ter prazer em possuir algo que não possamos compartilhar com nossos semelhantes. Se faz mister termos em mente as sábias palavras do sacerdote Salvadorenho Óscar Romero (quarto arcebispo metropolitano de San Salvador, capital de El Salvador, já falecido). “Nós, que temos voz devemos falar pelos que não têm”.

Solidariedade, pois, acima de qualquer coisa. Caridade sempre. Fazermos o bem sem olharmos à quem. Essa é a pequena e minúscula partícula da solidariedade e, de roldão, igualmente, da caridade, interligadas no mesmo amplexo. Em outras palavras, este deve ser o nosso ponto de partida positivista, nosso lema: quanto mais compartilharmos a solidariedade, mais teremos, ao nosso alcance, a caridade. E vice-versa. Afinal de contas, nenhum de nós, por mais dinheiro e posição que tenhamos,  nunca seremos uma ilha.

Fonte:
texto enviado pelo autor

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Varal de Trovas n. 265


A Arte Poética de Carlos Zemek (Livro para Download)


Prefácio por José Feldman
 
Pintar é libertar-se, e isso é o essencial.
(Pablo Picasso)

Assim é a arte de Carlos Zemek, em suas pinturas ele se liberta, dá vazão à sua imaginação, a seus sentimentos, a seus desejos. Seu pincel cria formas, cria vidas, e em conjunto com suas cores faz com que nós, espectadores de sua arte mergulhemos num oceano de emoções, nos envolvendo, fazendo com que os sonhos sejam libertos. E, deste modo, faz com que se vivencie a alma poética de suas telas. Sim, porque em seus traços, em suas cores a poesia emerge diante de nossos olhos como um Deus nórdico atravessando o céu com seus corcéis puxando a sua carruagem.

Espelhando-se em suas telas, trinta e nove poetas aqui reunidos libertam sua imaginação para caracterizar a poesia delas em seus versos. Desta união da alma poética do pintor com diversos poetas de diversos lugares, se dá uma combinação que enfatiza as palavras de Clarice Lispector: “Escrever não é quase sempre pintar com palavras?”

Enfim, suas telas fazem soltar a imaginação, são poetas que versam sobre alegrias e tristezas, solidão, sonhos, desejos, viagens além da imaginação, etc. Nas palavras de Leonardo da Vinci: “ A pintura é poesia muda; a poesia é pintura cega”.

Desligue-se do mundo à sua volta e deixe-se envolver pelas obras de Carlos Zemek e deleitar-se com os versos dos poetas que as acompanham.
José Feldman
Cadeira n. 35 (AVIPAF)


Clique Aqui para Download do Livro em Formato PDF

ou baixe o livro em:
https://sites.google.com/site/livroscazemek/ebook%20-%20Arte%20Poetica%20de%20Carlos%20Zemek.pdf

Participam da Antologia "A Arte Poética de Carlos Zemek", os poetas: Adélia Maria Woellner, Alexandre Idalgo, Alexsander Pontes, Amaury Nogueira, André Luís Soares, António Manuel Rodrigues Martins, Arriete Rangel de Abreu, Claudia Alemán Concepción, Daniel Maurício, Decio Romano, Devora Dante, Eliane Gabardo, Erick Gonçalves Cavalcante, Fernanda Goucher, Isabel Furini, João Baptista Coelho, José Feldman, Laura Monte Serrat, Leny Mell, M. Mafra Souza, Marli Terezinha Andrucho Boldori, Marli Voigt, Maria Antonieta Gonzaga Teixeira, Maria Teresa Marins Freire, Moisés António, Neyd Montingelli, Nic Cardeal, Nilsa Alves de Melo, Noeli Tarachuka, Paulo Roberto de Jesus, Renato Ferraz, Rita Delamari, Roque Aloisio Weschenfelder, Rosana Banharoli, Solange Rosenmann, Sonia Cardoso, Sonia Andrea Mazza, Vanice Zimerman, Vera Lucia Cordeiro, Zenaide Alós Guimarães Abati.

Fonte:
Revista Carlos Zemek.  http://revistacazemek.blogspot.com/

Laé de Souza (Tá Chegando)


O jantar de confraternização já está marcado para a próxima quarta. Avisei que não iria e vieram falando de falta de coleguismo, o ano todo juntos, e me convenceram. Mas se for igual ao de sempre, e tenho certeza que será, vão se arrepender.

O Dilermando, depois de uns pileques, dará umas piscadinhas para a Clotilde, que corresponderá com um sorriso disfarçado e aceitará sua oferta de carona. Eu já estou com o celular do noivo dela, para avisar, assim que saiam, que espere a chegada dos dois e vou insinuar que não tenha pressa, pois do jeito que saíram melosos, vão demorar um bocado.

O patrão com certeza fará seu discurso e nos presenteará com aquele vinho. Assim que receber vou falar: "De novo esta porcaria. O ano passado me deu uma ressaca..." Quero ver a cara dele.

Edilei, vai ficar com aquela sua alegria costumeira e lá pelas tantas começará a dançar com todo mundo. Já avisei para minha mulher: "Conheço bem o tipo. Se você se atrever a dançar com ele, como no ano passado, vão levar uns sopapos os dois." De qualquer forma, seja com quem o pé-de-valsa estiver dançando, vou ficar falando: 'Aperta menos Edilei."

Vou ser o último a sair e, no dia seguinte, com todos sóbrios, vou contar tintim por tintim tudo o que aconteceu com cada qual.

Em casa, já começaram a chegar os cartões de natal, até do banco, me desejando felicidades. Que contra-senso. Será que esqueceram que são eles os culpados de fazer meu nome virar o século no SPC?

Minha sogra já avisou: 'A noite do Natal vai ser lá em casa." Nem precisava, sempre foi e sempre será. Meus sobrinhos e também meus filhos estarão naquela gritaria e aquele som nas alturas. Meu cunhado de pileque desde cedo e com umas conversas sem lógica. A mulher estará de cara emburrada e reclamando da vida. Minha sogra querendo que a gente coma mais e mais. Aquele namorado da minha sobrinha vai querer novamente fazer chuva de champanhe. E eu vou ficar bem do lado para lhe aplicar um tabefe. A Laurinha vai beber legal e ficará dando risadas escandalosas, enquanto a Gertrudes, sem deixar a coxa do peru, ficará chorando e lembrando de quem não tem o que comer. Fazendo fita, de novo. O marido da minha cunhada estará soltando rojões e insistindo para que todos saiam para ver. E, com certeza, estará novamente brigando com ela e afirmando que não tem perigo nenhum o filho de doze anos soltar um foguete. Ele garante.

Dessa vez, eu vou ficar bem lúcido e falar as verdades pra todo mundo: "Não quero ouvir suas bobagens"; "vou comer só isto e pronto"; "não acha que você está alegre demais não, caboclo?"; "Pare com essas risadas horríveis"; "Deixa de cena"; "Neste fogo, tu não cuida nem de ti, quanto mais..."; "Que feliz Natal, que nada, você sempre quis me ferrar". Pena que aquela, sobrinha esnobe vai estar em viagem com o noivo. Paciência.

Olha amigo, não me venha com conversas de que estou assim por estresse, excesso de trabalho, porque meu médico me falou isto a semana passada e o seu olho ainda continua roxo.

Fonte:
Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000.

Olga Agulhon (Poemas Escolhidos)


ASSIM SÃO NOSSAS SINAS
(aos meninos do Mamonas Assassinos)

Um meteoro passou
com cara de arco-íris.
Veio sem avisar,
como tudo que vem do céu
e se desmancha no ar.

Por onde passou,
magia deixou,
multidões encantou.

Se alegria
nessa terra era Utopia,
tudo mudou...

E o riso, mesmo constrangido,
por tanta ousadia,
fez-se presente amigo,
em horas de agonia.

Mas a negra sorte, ingrata,
também vem sem avisar
e leva o que é querido
para outro lugar;
lugar não sabido,
de trânsito impedido,
mas que no céu deve estar,
e só quem no céu se forma,
para lá pode voltar.

A alegria, se ia junto,
dos homens teve dó;
explodiu-se em fino pó,
que se espalhou generosamente
na memória de nossa gente.
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EM BUSCA DE UM CAMINHO

Um dia descobri
que era impossível
ter a mente nas estrelas,
os olhos no horizonte
e os pés na terra.
Travou-se, então, uma luta interna.
Queria manter meus olhos fechados
para que não me acusassem
de não querer ver.
Queria manter meu corpo doente e fraco
para que não me acusassem
pelo que deixo de fazer.
O tempo passou
e contentei-me em viver de esperanças.
A felicidade não chegou
e contentei-me em viver de saudades.
Um amanhecer depois de outro
e contentei-me em viver
com as cortinas fechadas.
Sorria para o além.

Beijava alguém,
não sei quem,
que não estava presente.
Vivi de luas e sonhos,
estrelas e ilusões
até recomeçar uma nova batalha
por um novo caminho,
ainda não percorrido.
Olho agora para o horizonte
e, embora ferido,
sigo em frente,
em direção ao desconhecido,
pois somos todos viajantes,
apressados pelo tempo
e procurando respostas
muito bem escondidas
nas estradas de nossas vidas.
Ainda não encontrei o que procuro,
ainda não desfiz o nó do futuro,
mas ainda andarei
enquanto houver tempo.
Só não sei se conseguirei
vislumbrar menos que o horizonte
e talvez nunca deixe pegadas,
criando uma nova era
de pessoas aladas.
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O CICLO DA ÁGUA E DA VIDA

A chuva vem.

Os pingos caem, saltam, correm.

Caem sobre as abertas feridas,
as profundas marcas,
as escuras e sujas manchas.

Saltam com gritos de dor
e correm cicatrizando as feridas,
maquiando as marcas,
limpando as manchas.

Levam, por um momento,
as dores e suas lembranças,
mas a chuva passa e
leva consigo um frasco da vida.

A chuva volta.

Os pingos caem, saltam, correm.

Ficam, por mais um momento,
as feridas sem dor,
as marcas sem lembranças,
as manchas sem medo.

Mas a chuva passa e
leva consigo um frasco da vida.

A chuva passa,
o tempo passa,
a vida continua.

Até que
a chuva passe,
o tempo passe
e a vida acabe.
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O POETA E A PROFESSORA

ATO I

A lua já brilha lá no céu,
enquanto a noite põe seu negro véu
e escurece as ruas;
as minhas e as suas,
as vestidas e as nuas.

ATO II

Enquanto a magia nasce sobre minha cabeça de poeta,
meus pés reclamam pelo merecido descanso
depois de mais um dia de trabalho, nada manso.
Na fila do ônibus, sempre atrasado,
uma mulher de rosto muito cansado
desperta-me a curiosidade.

A roupa está amassada, é simples e discreta;
humilde, melhor dizendo.
Contrastando com o visual de borralheira,
um grande e reluzente anel de formatura em seu dedo.
Uma pilha de livros nas mãos.

ATO III

Tanta poesia no céu;
só realidade no chão.

A imaginação invade a vida alheia.
É uma pessoa estudada,
como dizem aqueles que não o são.

Qual será sua profissão?
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O TEMPO É CURTO

Sinto agora a última saudade.

Sinto o coração falhar
e os olhos enchem-se de lágrimas,
querendo chorar.

Não tenho mais chance
para ir adiante,
enfrentar meu destino errante.

O tempo não tem caridade
e leva a vida embora
antes da felicidade.

Talvez não veja outra lua,
clareando a rua,
talvez não receba a última flor,
talvez não sinta mais seu calor,
talvez não escreva a última página,
mas, talvez, para sempre
leve no peito uma dor
e no rosto uma lágrima
de amor.

Ainda não vi a realização dos meus sonhos,
ainda não fiz grandes coisas,
ainda não vi na vida
uma grande amiga.

Da dor, não reclamo; eu aguento.
Mas nada pode me dar alento;
tudo está sendo levado pelo vento
e eu não tenho mais tempo.

O telefone tocou, talvez,
já pela última vez.
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TARDE TRANQUILA

Num dia chuvoso, penso.   
A chuva varreu, tardia,
todo o conflito que havia
dentro de mim, tão denso.
O meu pensamento, tenso,
começou a sossegar e navegar
na sintoma das ondas que venço,
como se já não pudesse parar.

Ia olhando para o fundo,
procurando encontrar e desvendar
o maior segredo do mundo.
Imaginando se um dia, então,
o segredo de Deus e de Adão
será revelado sobre este chão.

Fonte:
Olga Agulhon. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

Contos e Lendas do Brasil (A Cachorra da Palmeira)

“Quem é esse seu padrinho?
A moça lhe perguntou —
Disse ela: o padre Cícero
Que agora se cabaou
A moça fez: quá, quá, quá
Naquilo se transformou

Transformada ainda disse
Para a dita mulherzinha:
Não bote luto por ele
Sim por minha cachorrinha
Que morreu no mesmo dia
Sepultou-se à tardezinha”
(Moisés Matias de Moura)

 

 Era uma jovem, filha de um coronel. Linda e bem-educada, residia na cidade de Palmeira dos Índios. Tinha uma cachorrinha de estimação, que criava desde novinha. No dia da morte do padre Cícero Romão, a cachorra adoeceu e também morreu. Muito triste e chorosa, a moça preparou-lhe um velório com vela e sentinela.

Algum tempo depois, estava ela em uma loja, comprando vestidos e perfumes, quando entrou uma senhora procurando por tecido preto, para luto. Ao saber que se tratava de uma devota do padre Cícero Romão, a moça riu e sugeriu que era melhor que a devota pusesse luto para a sua cachorrinha. No mesmo instante, começou a se transformar em uma cachorra, latindo, uivando e correndo em disparada. Contam que os pais morreram de desgosto. Um irmão a pegou e trancou em uma jaula, onde vive sua maldição.
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A cachorra da Palmeira é mito de origem alagoana, mas que ocorre, com variantes, em vários estados do Nordeste. O castigo da transformação da moça malcriada em cadela é tema recorrente na literatura de cordel. Luís da Câmara Cascudo, em Geografia dos mitos brasileiros, afirma conhecer algumas dezenas de folhetos sobre o assunto. Segundo Téo Brandão, existia em Viçosa uma peça de reisado que fazia alusão à cachorra e terminava com os seguintes versos:

Meu Santileno
Pra ela num tem carinho
Discreiou de meu padrinho
Virou cachorra, anda correndo


Fonte:
Jangada Brasil. Revista Galeria de Mitos Brasileiros.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Varal de Trovas n. 264


Cornélio Pires (Água Virtuosa...)


Nhô Thomé está bem disposto. Hoje deu para bulir com os pretos, agradando os piazinhos que rodeiam o fogo em suas tripeças.

- Dito! – perguntou ele a um dos crioulinhos de seus doze anos – ocê sabe porque é que os home e as muié não tem a mesma cor?

- Nha - não.

- Puis eu vô contá; botem bem o sentido...

No escuro, deitado na rede, descanço, a ver as sombras bailando nas paredes, ao labaredear do fogo aos estalos, escutando a "história".

- Puis é. Nosso Sinhô, despois de criá tudas as coisa, garrô num pelote de barro e garrô damninhá, por não ter o que fazê. Damninhô, damninhô, e feis um home chamado Adão; deu um assopro e ele virô gente.

Despois Adão garrô a ficar esquisito: hora tava triste, ora tava assanhado, cantadô divirtido e contente. Deus pensô: "Tudas as coisa tem muié... Chamô Adão:

- Venha aqui!

Grudô e rancô u’a costela dele e feis Eva p’ra casá co’ele. Ante de Adão e Eva já tinha gente, mais não erum fios de Deus, porque eles não forum assoprado co Esprito Santo e quem soprô eles foi o Cuzarruim – e é purisso que hai gente rúim na terra; são os tar que não recebero o Esprito-Bão. – Mais isso ocês num intende.

Adão casô cum Eva e nascero os fio e crescero e acharo muié e casaro e o mundo umentô in quistan de pocos anno. Moravum tudo no mesmo sítio, um lugá como num hai de havê otro iguá; só no céo. O sítio chamava Paraízo. Naquele tempo tudos os home e muié erum preto...

Neste ponto Nhô Thomé descreveu a vida de então. Adão, depois do casamento, perdeu a alegria: tornou-se ajuizado, pois entendia que ser alegre e brincalhão como em solteiro não era próprio de homem casado... É um descrédito ser divertido e alegre.

A vida era fácil: frutas por toda a parte sazonavam o ano inteiro, ora esta, ora aquela, sem ser preciso plantar e tudo era "reiuno", não pertencendo a ninguém e a todos pertencendo.

- Ocês num vê que ninguém prantô fruitêra no mato? E otras fruita? Ponhema, guabiroba, pitanga, jaracatiá, arixicú, vapacary, amora, cambucy, joá, jovéva, cabeça-de-negro, castanha-de-ioçá, figo-manso, caju, banana, coquinho...

- Mandioca tamém é fruita ? – interroga um dos pequenos.

- É... – responde bonachão e sossegado o velho.

- I batata-doce? – perguntou outro.

- Tamêm...

- I batata-roxa?

- Tamem... tamêm... Mais iscuitem!...

Despois o Cuzarruim botô veneno nu’a proção de culidade de fruita, p’ra judiá de nóis; mas Deus, que é muito bão, deferençô u’a das ôtra e criô os passarinho p’ra insiná nóis a quar que não fais mar. O Cuzarruim intãoce inxeu a cabeça de uns home e de u’as muié, insinô p’re’eles os venenoso e eles viraro fiticêro, esses praga que custumum a botá as coisa-feita nos ôtro.

Eu, na rede, espero ansioso a explicação sobre as diversidades de cores nos homens, mas Nhô Thomé, como todos os contadores de histórias para crianças, parece "não ter fim".

- Mais, cumo ia dizeno, Nosso Sinhô garrô a repará: puis sa as fror, as arve, os alimar, os passarinho, a terra, o céo, tudo tinha cor deferente um dos ôtro, mórde o quê que os home e as muié só havéra de sê preto, tudo preto, sem graça, iguá, pareio, que inté injuava a vista?

Intãoce Deus mandô pubricá p’ro mundo intero, que era o Sítio, que quem fosse se lavá nu’a lagoa, ficava branco. Aquilo foi um corre-corre que Deus nos acuda!

Animou-se o pé-do-fogo! Curiosos os pretos arregalam os olhos e os mulatinhos ficam de "olhos compridos" no velho.

- Os mais ligêro, mais vivo, mais ladino, avuaro p’ra lá. Um bando de homes e muié, na correria, da desparada, p’ra chegá premêro, machucava e matava os que ascançava:

- Os premêro chegado ficaro arvo – são os alamão.

- Os seguinte acharo aua meio sujo – são os branco.

- Os ôtro acharo aua turva – são os moreno.

- Ôtros acharo aua escura, a lagoa tava secano – são os triguêro.

- Ôtros acharo um fiapico d’aua vermeia misturada cum táuá – são os cabocro.

- E os turco? – interrompeu o Dito.

- Isso mêmo... Isso... Eles garraro a brigá e gritá tudo no mermo tempo e é purisso que eles faum tudo trapaiado.

Não me seguro... Solto uma gargalhada gostosa!

- Uéi! Pensei que mecê tava drumino... Tô contano aqui u’as patacuada p’ros crioulinho...

- Continue, Nhô Thomé: estou gostando.

- Intãoce os turco sujaro demais o restico d’aua e levantô um tijuco mais escuro e a aua garrô minguá tanto, que os ôtro que chegaro naquele mingau, sahiro mulato, cumo ocês tão sahino.

- E os ôtro?

- Os ôtro, os priguiçoso, os bobo, os durminhoco que vivia cuchilano no pé-do-fogo e no sór e arguns que num tivero jeito de chegá mórde os da frente, esses quano chegaro acharo sú um tiquinho de umidade, que mar deu p’ra moiarem as sola dos pé e as parma da mão... Arreparem nas mão de Tia Pulicena e de suas mãe...

E os pequenos, de boca aberta, assustados, exclamam uns em seguida aos outros, olhando para as mãos de Tia Polycena que, bondosa e sorridente, as mostra.

- É meeeeemo!!!

- Os que ficaro preto num desanimaro e é purisso que preto num póde vê biquinha d’aua nem tornera, nem reberão, que não vá ligêro lavá as mão, a cara, o pescoço e os pé, que dão sempre na vista.

Depois, Nhô Thomé, chegando o "isqueiro" ao cigarro, tosse e termina, malicioso:

- Ocêis sabe mórde o que que ocês tão sahino tudo mulatinho? É que Chica, Zabé e Chistina custumum lavá rôpa lá no reberão craco do Manéco Portuguêis...

P’ra mim aquela aua é virtuosa...

- Aá... Maria credo! Sinhô tem cada lembrança! – bradou Tia Polycena, rindo, enquanto a Chica, a Zabé e a Christina correm para a cozinha. E, daqui da rede, depois de esplêndidas gargalhadas, ouço-as comentando:

- Sinhô tem cada uma! O moço tá lá na rede que num pode mais de tanto sirri...

Fonte:
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. SP: Imprensa Oficial do Estado IMESP, 1987.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Varal de Trovas n. 263


Aparecido Raimundo de Souza (Distância de Resgate)


EU TINHA LIGADO PARA todos os números das amigas que ela me passara para saber a respeito dos seus empregos anteriores e, claro, da sua vida pessoal e nada. Ninguém retornou as minhas ligações. Em razão disso, eu estava brabo, invocado, pê da vida, enfurecido, colérico, tudo porque além de não haver encontrado ninguém que me desse um feedback de suas ocupações, nunca a tinha visto pessoalmente. Como dispunha do endereço resolvi ir pessoalmente ter com a criatura em sua residência. Todavia, embora indagasse daqui, dali, percebi quase final do dia, andara às escuras, às apalpadelas, tentando achar a bendita rua de sua casa e o ponto indicado como referência. Qual o quê! Nenhuma coisa nem outra. Me estapeei por gastar sapato e tempo para cima e para baixo, marchando a esmo, como se tivesse preso dentro de uma combinação intrincada de passagens e corredores que desembocavam sempre em lugar nenhum. 

Cansado, chateado, dei meia volta, decidido a ir embora. Sumir de vez. Apagar da minha cabeça o nome da infeliz e tudo o mais que estivesse ligado àquela filha de uma égua. Esquecer, pois, que ela nunca existiu no meu agora. Foi quando estanquei os passos e resolvi jogar a última carta que me restava na manga. A derradeira. Se essa falhasse, se eu voltasse a bater com os burros n’água, ela que se danasse. O celular dela. Meu Deus, o celular da jovem! Eu não havia ligado para ele. Quem sabe... Com esse pensamento aflorado, se também esse recurso longínquo falhasse, então sim, definitivamente jogaria tudo fora, atiraria meu ódio na primeira lata de lixo que encontrasse pela frente e junto, seu currículo vitae com tudo de bom que eu havia lido nele. “Menina difícil -, pensei com meu umbigo -, Tinha que ser Brunela”. Para meu espanto, para meu estarrecimento, a garota atendeu na hora.

Finalmente! Ao ouvir a sua voz, num “alô” melodioso e insinuante, acalmei a alma, abrandei o coração. Pedi que viesse sem mais delongas ao meu encontro. “Passei o dia todo à sua cata – gritei, de repente. Estava quase desistindo”. Lembro que um pouco antes de me conscientizar que não havia ligado para o telefone celular dela, retornei à loja de uma das pessoas que a indicara a mim. A Míriam. Pelo adiantado das horas a tal Míriam havia saído mais cedo e encerrado o expediente. Nem sinal da sujeita. Só me restou à rua, ou melhor, a esquina e o nome de um barzinho que ela alternativou.  O dito estabelecimento ficava perto do seu logradouro, encostado ao seu bairro. Segui para o local. Fiquei em pé, feito um poste inanimado, como um menino bobo, à espera da chegada da donzela. Pelo fato de estar quieto e estático, certamente não demoraria um cachorro passaria e me batizaria os pés com seu xixi. Achei melhor deixar o xixi e o cachorro de lado e me ater a adivinhar de onde ela surgiria. “De que banda, de que lado, de que buraco? Meu Pai, como seria essa encantada?”.

Branca, preta, loira, morena, alta, baixa, feia, bonita, desdentada, simpática, antipática, chata, meiga, nojenta, dócil, pegajosa, faladeira, bem feita de rosto, a boca talhada na medida de um sorriso indescritível, dentes perfeitos, gorda, magra, as pernas tipo Camila Queirós, ou Giovanna Lancellotti, enfim, um tremendo docinho de coco ou um tribufu de dar medo até em defunto? Na aspereza do aguardamento, passei a desenhar a Brunela com pinceladas rápidas e objetivas, no alvoroçado de obter uma imagem do seu misterioso arquétipo. Nessa doideira, viajei em moldes pagãos, atropelando os pensamentos que iam e vinham numa velocidade voraz. Seria essa desconhecida mais uma, ou uma a mais, a pleitear o cargo de secretária, que chegaria aqui, bateria um papo informal e depois viraria as costas e iria cada um com seus martírios para nossos cantos de origem carregando os fardos das desilusões e desencantos?

Não! Dessa vez algo me dizia, aqui dentro do peito, que esse encontro não seria como os anteriores. Sob o signo da esperança, Brunela chegaria triunfal. Simplesmente não se esbarraria comigo como manequins desfilando etiquetas diante de uma vitrina repleta de luzes de néon. Enquanto isso, meu olhar buscava a sua silhueta em todos os cantos da quase noite que se avizinhava, em cada rosto, em cada ser que cruzava indo ou vindo, e alimentava uma sensação dentro de meu ser, como o de uma agonia pesada, anunciada, um incômodo estranho que machucava de forma traumática. Uma dor forte que se fechava e traçava rumos indomados na multidão que me ignorava. Em paralelo, meu subconsciente, como que tentando decifrar uma imagem real e palpável, aproveitava a deixa e criava expectativas, ou melhor, desenhava abrigos de cores vivas onde agasalhar a sua presença tão desejada. Esse particular se assemelhava a vislumbrar diante do inusitado, um quadro raro de Picasso.

Para deleite de meus olhos, para encanto de minha alma, Brunela chegou num carro branco. O motorista do Uber a deixou na esquina e ela veio de encontro a mim. Havíamos dado dicas de como estaríamos vestidos para não haverem mais contratempos. Ela olhou, meio que temerosa, e então abriu a porta do banco traseiro e se pôs a andar em minha direção. Veio vindo, veio vindo, meio amedrontada, meio “será que devo?”. Quando chegou perto, fiz a pergunta que sabia óbvia: “Brunela?!”. Um sim vibrou como o som de um teclado ensaiando uma melodia suave, impregnada de quimeras desconhecidas, famintas de muitas palavras. No instante seguinte, meu coração se ajoelhou diante da sua beleza. Estarrecido, eu homem vivido, de muitos anos nas costas, me desmoronei num labirinto sem volta para alcançar o tamanho do seu esplendor. A satisfação que corria ligeira, dentro de mim aflorou.

De roldão, saltou, pulou, e encheu de variadas matizes os meus olhos esbugalhados por conta da sua meiguice. Ali estava finalmente a Brunela, ou as muitas Brunelas por mim desenhadas: Brunela menina, Brunela flor, Brunela, rainha, Brunela esperança, Brunela encanto. Igualmente a deusa se transformou em tenro botão de rosa se abrindo cheio de efeitos especiais, como passarinho inventado, com penas vermelhas e amarelas, voando no azul do meu infinito e fazendo refletir no cristal do meu espelho, o fascínio de viajar por sendas nunca pisadas em busca de horizontes desconhecidos e jamais imaginados. E assim foi. Tudo aconteceu depois disso, num abrir e piscar de olhos. Ela passou a trabalhar para mim. Nos meses subsequentes, entre um almoço e outro, uma viagem aqui, outra acolá, fomos passar a noite num motel. Do quarto desse motel como minha secretária, para a minha cama, como minha mulher.

Ainda hoje, depois de tantos anos, ainda vislumbro Brunela como a enxerguei na primeira vez. Apesar do tempo corrido, eu a sinto como naquele dia, formosa dentro do carro branco, sentada e tímida, meio que assustada, antes de abrir a porta. Consigo, ainda nesse instante, trazer à tona, como num desses filmes de curta metragem, o encanto, o mesmo bálsamo da animação poética que nasceu quando a vi pela primeira vez. Na verdade, Brunela continua com o toque certo que me agitou a base, a nota musical que harmonizou a minha alma, o recheio perfeito que guardei a sete chaves, para que ninguém ousasse imaginá-la como eu a mentalizei assim que lhe coloquei os meus sentidos em alerta. Ela segue inimitável.  Diria, sem medo de errar, perfeitinha. O vácuo da nossa disparidade de idade é enorme, porém, a minha Brunela, enlaça o irradiar da juventude no êxtase dos trinta, em contraste com os meus sessenta e seis, lembrando, outrossim, que a diferença  entre nós, passa, e muito, dos degraus íngremes dos anos que não retroagem.

Entretanto, busquei essa lacuna enorme, a sua áurea de brilho intenso transpira num boom de pratos orquestrais ao tempo em que cria em derredor de nossas vidas um instante bucólico e único, um prazer pastoril, repleto de expectativas prontas para explodirem ao menor toque da sua voz. Brunela é como o sol que se espalha, diria sem medo de errar, se faz vivificante como o alimento divino que estanca a minha fome. É essa moça de olhar sereno o porvir repleto de sensações nunca sentidas, de emoções nunca vividas. É poesia de arrebol, uma raríssima espécie de elo plural ligando o hoje ao super amanhã. É ainda, um clipe de apetite sentido, meu horizonte bordado por asas aladas à essencialidade do meu agora dentro de um ontem imperecedouro e perfeito, juntos, colados, grudados, como o côncavo e o convexo da canção interpretada pelo Roberto. Brunela não é só Brunela. É mais que um nome ao acaso. É o licor das harpas, o gosto de tudo temperando vontades.

É a minha amada, sem dúvida alguma, os sons de enfeites melodiando noites e dias, dias e noites, sonhos de voos distantes e inesquecíveis. É um Domaine  de la Romanée quebrando o próprio mimo da garrafa ao ser aberto. É Fernando Pessoa declamando poesias corpóreas. É a Mariza cantando “Quem me dera” numa distância sempre pujante do meu resgate memorável, bem ainda, no pé do ouvido, no gostoso do nosso cantinho a vitalidade que me mantém a todo vapor. É Brunela a mulher, a criança grande, a estrela guia das minhas brincadeiras.  Brunela é ainda como os meus natais inesquecíveis. Os meus vinte e cinco de dezembro passados presentes e futuros... Todos eles recheados com flocos de neve, e mais que tudo: Brunela é o meu agora, o meu hoje, o meu amanhã. A minha estrada, a minha razão de querer continuar de mãos dadas, olhando na mesma direção a ser vivenciada. Sobretudo, Brunela é o eco do meu berro desesperado na garganta clamando indubitavelmente por seu amor.        

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Luís Vaz de Camões (Sonetos) 2


SONETO 038

Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;

nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruto debuxando;

que, pois me emprestas doce e idôneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,

se não te celebrar como mereces,
cantando te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória
****************************************

SONETO 091


Fermosos olhos que na idade nossa
mostrais do Céu certíssimos sinais,
se quereis conhecer quanto possais,
olhai me a mim, que sou feitura vossa.

Vereis que de viver me desapossa
aquele riso com que a vida dais;
vereis como de Amor não quero mais,
por mais que o tempo corra e o dano possa.

E se dentro nest'alma ver quiserdes,
como num claro espelho, ali vereis
também a vossa, angélica e serena.

Mas eu cuido que só por não me verdes,
ver vos em mim, Senhora, não quereis:
tanto gosto levais de minha pena!
****************************************

SONETO 096


Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
mas tu, porque com isso mais te apuras,
de manhoso mo negas, e mo juras
no teu dourado arco; e eu to creio.

A mão tenho metida no teu seio,
e não vejo meus danos às escuras;
e tu contudo tanto me asseguras,
que me digo que minto, e que me enleio.

Não somente consinto neste engano,
mas inda to agradeço, e a mim me nego
tudo o que vejo e sinto de meu dano.

Oh! poderoso mal a que me entrego!
Que, no meio do justo desengano,
me possa inda cegar um Moço cego!
****************************************

SONETO 103


Cantando estava um dia bem seguro quando,
passando, Sílvio me dizia
(Sílvio, pastor antigo, que sabia
pelo canto das aves o futuro):

—Méris, quando quiser o fado escuro,
oprimir-te virão em um só dia
dois lobos; logo a voz e a melodia
te fugirão, e o som suave e puro.

Bem foi assi: porque um me degolou
quanto gado vacum pastava e tinha,
de que grandes soldadas esperava;

E outro por meu dano me matou
a cordeira gentil que eu tanto amava,
perpétua saudade da alma minha!
****************************************

SONETO 116


Aqueles claros olhos que chorando
ficavam quando deles me partia,
agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estarão em mim cuidando?

Se terão na memória, como ou quando
deles me vim tão longe de alegria?
Ou s'estarão aquele alegre dia
que torne a vê-los, n'alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão co as aves e cos ventos?

Oh! bem-aventurados fingimentos,
que, nesta ausência, tão doces enganos
sabeis fazer aos tristes pensamentos!
****************************************

SONETO 120


Cá nesta Babilônia, donde mana
matéria a quanto mal o mundo cria;
cá onde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

cá, onde o mal se afina, e o bem se dana,
e pode mais que a honra a tirania;
cá, onde a errada e cega Monarquia
cuida que um nome vão a desengana;

cá, neste labirinto, onde a nobreza
com esforço e saber pedindo vão
às portas da cobiça e da vileza;

cá neste escuro caos de confusão,
cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Fonte:
Luís Vaz de Camões. Sonetos. Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro.

Monteiro Lobato (A “Cruz de Ouro”)



— Entre, quem é.

— O Feroz não está solto?

— Viva, compadre! Suba!...

Um barbaças* de óculos e cachenê* de lã ringiu o portão de ferro e galgou a passos trôpegos a escadinha que levava ao alpendre de ipomeias*. Lá o aguardava, de cara amável, um segundo barbaças, o coronel Liberato, vestido duma farda consentânea* com a sua belicosidade: chambre de palha de seda, chinelo cara de gato e gorro de veludo negro com cercadura de ponto russo.

O que subia também era coronel. Coronel Antônio Leão Carneiro Lobo de Souza Guerra, ou simplesmente Nhô Gué. Chegaram ambos àquele alto posto militar pela razão estratégica de colherem para mais de dez mil arrobas de café. Se em vez de dez colhessem apenas cinco mil, seriam majores ou capitães. Este inteligentíssimo critério econômico do nosso militarismo é garantia de paz muito mais segura do que a Liga das Nações.

— Que milagre foi esse? — disse o de cima, abraçando o velho amigo.

— Quem é vivo sempre aparece e eu ainda não morri, apesar desta sufocação que me escangalha o peito.

— Você é o peito, eu a enxaqueca. Não valemos mais nada, compadre. Mas como vão todos? A comadre?

— Boa, todos bons, isto é, a Chiquinha... Ui!

— A cutucada?

— Não, este ventinho encanado...

— Pois vamos entrar.

E os dois urumbevas penetraram na sala de fora. A sala de fora do coronel Liberato merece relatório para que a posteridade se deleite em conhecer como era uma sala de visitas de coronel brasileiro no século XX. Cadeiras austríacas, sofá e cadeiras de balanço, tudo enfeitado com os crochezinhos das filhas. Mesinha central de cipó com embrechados, obra de um “curioso” do lugar. Duas almofadas no sofá, uma tendo um gato estufado, de lã, com olhos de vidro; outra, um papagaio de miçanga verde — maravilhas feitas por certa afilhada prendadíssima. Dois aparadores com vasos para flores artificiais, figurinhas de louça — “bibelotes”, como lá dizia o dono, e várias curiosidades naturais — caramujos, conchas, um ninho de joão-de-barro, um mico seco e duas famílias de içás vestidos. Nas paredes, espelho oval, dois retratos grandes a carvão e fotografias em porta-cartões de talagarça*, bordados pelas meninas. Pendurado do lampião belga suspenso ao teto, grande abacaxi de papel de seda. Piano de armário. Tapete com grande onça. Que mais? Iam-me esquecendo as duas “escarradeiras de sobrado”, com caraças* de leões... Viva o naturalismo!

Entrados que foram, os dois coronéis refestelaram-se nas cadeiras de balanço, o do “ui!” com cautelas, gemidos e caretas ao dobrar as juntas. Liberato puxou o cigarro de palha e, enquanto afrouxava o fumo na palma da mão, reatou a conversa.

— Ahn! Com que então a dona Chiquinha...

— Compadre, entre nós não há segredos; a doença dela são amores. Quer casar, ora aí tem.

— Não vejo mal nisso. Está na idade. Só se...

— Mas adivinhe lá com quem a tolinha emberrinchou de casar?

— ?

— Com o José de Paula!

— O filho da Nhá Vé?

— Esse mesmo. Um moço sem vintém de seu, gente do Chicão de Paula... Sair do nicho de filha única, onde vive como uma Nossa Senhorinha, para ligar-se a um lorpa de marido, ser criada, escrava dele! Se pudéssemos, nós que temos experiência da vida, abrir os olhos dessas mariposinhas tontas... Mas é inútil. Encasqueta-se-lhes na cabeça que o amor, o amoor, o amooor é tudo na vida, e adeus. O que nos vale é que o rapaz é pobre mas direitinho — quanto ao moral.

Liberato interveio com cara purgativa.

— Homem, não sei. Não é por falar, mas não me cheira bem aquele sujeitinho. Você o acha moralizado. Será. Mas a família dele é droga e a prudência manda atentar não só nas qualidades do galho como também nas do tronco. Olhe o que sucedeu outro dia com o primo dele, o Chiquinho...

— Não soube de nada, compadre. Que foi?

— Você anda no mundo da lua, homem! Refiro-me ao escândalo da Recreativa.

À palavra “escândalo” Nhô Gué esqueceu o reumatismo e arrastou a cadeira para mais perto.

— Escândalo?

O coronel Liberato, gozoso de contar uma novidade, limpou o pigarro e disse:

— Foi no último domingo, na festa anual da Recreativa. Discursos, recitativos e uma peça — aquela endrômina* de sempre. A sociedade mandou convite a toda gente, aos jornais, aos grêmios e dentre estes à Camélia Branca, da qual é secretário o Chiquinho de Paula, primo lá do teu. Por sinal que para a Camélia foi um camarote, o 7, justamente aquele donde assistimos ao Poder do ouro, lembra-se?

— Se me lembro! Pois uma representação daquela é lá de esquecer? Montepin! e inda mais pelo Furtado Coelho! Noitão! Hoje é que não há mais disso. São umas comediazinhas indecentes, e cinemas, e drogas.

— A Lucinda Simões, hein? Mulherão!

Este “mulherão” foi dito com um arregalar de olho em que toda a concupiscência* retrospectiva se espojava arreitada.

— Nem fale! — disse o outro num tom de inexprimível saudade.

— Pois muito bem: o teatro encheu-se. Estava lá o coronel Totó Fernandes com a família; a família do doutor Izidoro; o major Gonçalves com a mulher — e por falar, como está acabada a dona Elisa!

— É verdade! Quem a viu e quem a vê! A Elisinha do Rincão, como lhe chamávamos, menina sapeca, da pá-virada, semostradeira até ali... Os anos, compadre, os anos...

— Só não vi lá a gente da oposição. Isso, nenhum, nem o Zé Penetra, aquele caradura.

Riram ambos, gostosamente, à lembrança da ausência dos adversários. (Esqueceu-me dizer que estes coronéis faziam parte do diretório situacionista, colunas fortíssimas que eram da força governamental no distrito.)

— Era ali entre nove e dez — continuou Liberato —, quando, de repente, adivinhe, se for capaz, compadre, quem surge pelo camarote número 7 adentro. Nhô Gué aparvalhou a cara com ar de quem não é capaz.

— A “Cruz de Ouro”! — concluiu o Liberato, de pé, chupando uma, duas, três baforadas do cigarro apagado, num triunfo.

Nhô Gué pasmou.

— Não me diga!...

— Pois é o que digo: a “Cruz de Ouro”.

Liberato riscou triunfalmente um fósforo e prosseguiu:

— O rebuliço foi grande. Toda gente se pôs a murmurar, olhando uns para os outros. A família do Totó quis retirar-se. A mulher do Gonçalves virou bicha, abanava-se com frenesi, indignada com a pouca-vergonha. O doutor Izidoro, presidente da Recreativa, que no palco já se preparava para deitar o verbo, espia pelo buraco do pano, percebe o negócio, fica possesso e berra lá dentro, de ouvir se cá na plateia, que processava, que partia a cara, que mais isto e mais aquilo — um fim do mundo! Houve pedidos de informação à bilheteria. Era preciso desagravar a moralidade pública ofendida com a execrável presença da “coisa à toa” em festa puramente familiar. Afinal a polícia interveio. O delegado foi com a descarada e com muito bons modos fê-la sair. Só então, onze horas, começou o espetáculo. No primeiro intervalo, porém, soube-se tudo: o Chiquinho de Paula, secretário da Camélia, recebera o convite para a festa, mas em vez de organizar uma comissão que dignamente representasse o grêmio, pega do camarote e o dá à “jereba”, de quem é...

Aqui o coronel Liberato, para remate da frase, fez uma cara de supremo nojo:

— ... o queridinho!

Voltando em seguida à cara anterior, disse, grave e pundonorosamente*, bamboleando a cabeça:

— Veja você que refinadíssimo tranca!

E concluiu com desalentada severidade:

— E é com o primo de semelhante crápula que dona Chiquinha quer casar-se!

Na noite desse dia, altas horas, Liberato deixou em casa a enxaqueca e foi sorrateiramente bater à porta da “Cruz de Ouro”. Apareceu a criada. Confabularam baixinho.

— Não pode ser — disse a Libéria —, está cá seu coronel Nhô Gué.

Liberato fez uma careta.

— E amanhã? — perguntou.

— Amanhã é a vez do doutor Izidoro.

— E depois de amanhã?

— Quarta-feira? Deixe ver — fez cálculos nos dedos e disse: — Quarta-feira é o dia de seu Gonçalves.

— E quinta?

— Pois não sabe que as quintas são de seu Totó?

Liberato não desanimou.

— E domingo?

A Libéria despejou uma gargalhada sonorosa.

— Os “home”! Pois então sinhazinha não há de ter um descansinho na “somana”?

E fechou-lhe a porta na cara.
______________________
* Vocabulário:

Barbaças – aqueles que têm barbas grandes.
Cachenê – Espécie de gravata comprida, de lã, seda ou fio sintético, que envolve o pescoço e parte inferior do rosto, para protegê-los do frio.
Caraças – carão, cara grande.
Concupiscência – cobiça.
Consentânea – adequada, apropriada.
Endrômina – ardil, artimanha.
Ipomeias – designação comum às ervas trepadeiras ou arbustos.
Pundonorosamente – altivamente.
Talagarça – Tecido de fios ralos, onde se borda.
Urumbevas – simplórios.

Fonte:
Monteiro Lobato. Cidades Mortas.

domingo, 10 de maio de 2020

Mãe em Trovas


Na varanda, um quadro lindo:
a jovem mãe e a criança:
– Era a ternura sorrindo,
amamentando a esperança!
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

- - - - - -
Minha Mãe, minha velhinha,
Deus te abençoe, e acompanhe,
porque uma Mãe neste mundo,
quanto mais velha, mais Mãe.
ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Pelo bem que me fizeste;
sem nunca exigires nada:
pela luz que tu me deste,
minha mãe – muito obrigado!
AGMAR MURGEL DUTRA
Leopoldina/MG

- - - - - -
Minha mãe, tu que me acalmas,
e que meus males espantas,
és a mais pura das almas,
és a mais santa das santas!
ALMEIDA FARIA
Montemor-O-Novo/Portugal

- - - - - -
Mãe, por mais que eu me concentre
na importância do que faço,
não esqueço que o teu ventre
foi o meu primeiro espaço.
ALMERINDA LIPORAGE
Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Oh, minha mãe, com denodo,
numa existência sem brilho,
trocaste o futuro todo
pelo futuro do filho!
ALOÍSIO ALVES DA COSTA
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE

- - - - - -
Minha mãe sempre ao meu lado,
é amiga na dor, no riso;
não reclama do seu fado,
finge sempre um paraíso…
AMARILLYS SCHLOENBACH
São Paulo/SP

- - - - - -
Mãe, retrato de ternura,
de pura abnegação,
é a mais doce criatura
a quem Deus deu coração.
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

- - - - - -
Amor de mãe é semente
que germina em qualquer chão,
é feito só de ternura,
é feito só de perdão.
ANFRÍSIO LIMA
Cabrobó/PE, 1887 – 1973, Manga/MG

- - - - - -
Mãe de José, de Maria,
de Antonio, Pedro, de João …
O nome próprio varia …
Só não muda o coração.
ANÍBAL VITRAL MONTEIRO
Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Mãe que traz uma criança
nas entranhas do seu ser,
carrega a própria esperança
no filho que vai nascer.
ANIS MURAD
Rio de Janeiro/RJ, 1904 - 1962

- - - - - -
Para você, mãe, a prece
deste filho agradecido
que na terra não se esquece
de tanto amor recebido.
ANTONIO M.A. SARDENBERG
São Fidélis/RJ

- - - - - -
Ó mãe que tudo perdoas,
corrige teus pequeninos!
– Às vezes, de intenções boas
nascem ladrões e assassinos…
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

- - - - - –
Se Deus escutasse um dia
minha prece ingênua e doce,
quem fosse mãe não morria,
por mais velhinha que fosse!
ARCHIMIMO LAPAGESSE
Florianópolis/SC, 1897 – 1966, Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Que grande amor verdadeiro
o da mãe pelo seu filho.
Amar é doar-se inteiro,
e vencer todo o empecilho.
ARLENE LIMA
Maringá/PR

- - - - - -
Mãe não precisa de rima.
Nome de tal esplendor,
diz tudo, para que exprima,
sozinho, um poema de amor!
BAPTISTA NUNES
Vassouras/RJ, 1883 - 1965, Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Mãe – presente do Senhor,
que a humanidade conduz
num barco cheio de amor,
singrando mares de luz!
BENEDITO CAMARGO MADEIRA
Pouso Alegre/MG

- - - - - -
Devo tudo quanto sou
e a vida me concedeu
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Ele me deu!
CARLOS GUIMARÃES
Rio de Janeiro/RJ, 1915 – 1997

- - - - - -
Mãe é ternura infinita
e ainda que a alma lhe doa,
ante um filho não hesita,
enxuga o pranto e…perdoa!
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

- - - - - -
A Mãe, por ser indulgente,
tudo em seu coração cabe.
A mãe é aquilo que a gente
quer definir mas não sabe.
CLARINDO B. ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN (1929 – 2010) Natal/RN

- - - - - -
Mãe não é só quem procria.
nos diz velho ditado.
Ser mãe é também quem cria
com amor um filho adotado.
CLAUDYRA DIAS DA ROCHA
Fortaleza/CE

- - - - - -
É minha mãe quem me inspira
as rimas do coração:
de seu Amor, sonora lira
eu tiro qualquer canção…
CLEVANE PESSOA
Belo Horizonte/MG

- - - - - -
Mãe viva, mãe que partiu…
Todas merecem louvores;
seu amor sempre floriu
na rima dos trovadores.
CONCEIÇÃO A. C. DE ASSIS
Pouso Alegre/MG

- - - - - -
Mãe! criatura querida,
santa heroina sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
DÉCIO VALENTE
São Paulo/SP

- - - - - -
Era uma santa em verdade,
mais santa que outra qualquer,
a mulher, hoje, saudade,
que foi mais mãe que mulher!
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS

- - - - - -
Pela escritura que trago,
Na história dos sonhos meus,
Mãe é uma estrela formada
De uma esperança de Deus.
DELFINA BENIGNA DA CUNHA
São José do Norte/RS, 1791 – 1857, Rio de Janeiro/RJ

- - - - - -
Amor de mãe é tão grande,
tão profundo na expressão,
tão sincero, tão sublime,
que não tem definição!
DELMAR BARRÃO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – ????

- - - - - -
Quando a mãe beija seu filho
– tesouro herdado de Deus –
quanto fulgor! Quanto brilho
espelha nos olhos seus!
DIAMANTINO FERREIRA
Campos dos Goytacazes/RJ

- - - - - -
Tricotando o sapatinho,
a mamãe pára um momento
e acaricia o pezinho,
no seu ventre, em movimento…
DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo/SP

- - - - - -
Se “Mãe” não tem com que rime,
não desistas, trovador…
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo “Amor”!
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC (1926 – 2017) Sorocaba/SP

- - - - - -
Ouve mãe: já não contenho
esta saudade insofrida …
Deste-me a vida que tenho
e eu não posso dar-te a vida.
DURVAL MENDONÇA
Rio de Janeiro, 1906 – 2001

- - - - - -
Ó mãe, que felicidade!
Eras só luz, coração!
Deixaste-nos a bondade
Que tinhas no coração…
EIRE
Serra/ES

- - - - - -
Lampadário de bonança,
luzente, formoso e terno,
nada supera a esperança
que existe no olhar materno!
ELEN DE NOVAES FELIX
Barra do Piraí/RJ,  1946 - 2015, Niterói/RJ

- - - - - -
Toda luz na diretriz
deste meu viver austero
é um bilhetinho que diz:
– ” Mamãe, querida, eu te quero”!!
ELISABETH SOUZA CRUZ
Nova Friburgo/RJ

- - - - - -
A mãe tem tal primazia,
tanto poder, tanta luz,
que pede à Virgem Maria
quem precisa de Jesus …
ELTON CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1994

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Minha mãe, foram teus braços,
refúgio dos meus segredos,
onde deitei meus cansaços
e adormeceram meus medos!
ERCY M. MARQUES FARIA
Bauru/SP

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O amor seria fecundo
como tal se espalharia,
se toda mãe que há no mundo
tivesse um nome: MARIA!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE

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Deus, em toda sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

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Minha mãe, que orava aqui,
é nos céus que reza agora;
foi no meu sonho que a vi
aos pés de Nossa Senhora!
HARLEY CLOVIS STOCCHERO
Almirante Tamandaré/PR, 1926 – 2005
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Ser mãe é trabalho insano
que tal carinho irradia
e te faz, por todo o ano,
ser a mãe de cada dia!…
HERMOCLYDES S.FRANCO
Niterói/RJ, 1929 – 2012, Rio de Janeiro/RJ

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O amor de mãe é o mais puro,
sincero e cheio de graça.
É luz que brilha no escuro.
É vinho em dourada taça.
HORÁCIO FERREIRA PORTELLA
Piraquara/PR

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Num rasgo de amor profundo,
Deus,- sublime Criador-
criando a Mãe, mostra ao mundo
toda grandeza do Amor!
IVONE PRADO
Belo Horizonte/MG

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Minha mãe partiu e agora
na saudade que me envolve,
eu sou criança que implora:
-Por favor, Senhor…devolve…
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

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Oh, minha mãe, em meus cantos,
num grato e eterno estribilho,
bendigo a Deus, que, entre tantos,
me escolheu para teu filho!
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Tarauacá/AC, 1914 – 1987, Rio de Janeiro/RJ

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Surpreendente maravilha
a que agora me acontece:
minha mãe é minha filha
à medida que envelhece!
JESY BARBOSA
Campos/RJ, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ

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Minha mãe verteu mais pranto
que a mãe de Nosso Senhor.
A Virgem chorou um Santo;
minha mãe – um pecador!
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ
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A mãe das outras crianças
com minha mãe se parece ;
oferta ao filho as bonanças
e oculta o mal que padece.
JOSÉ VALERIANO SOBRINHO
Rondonópolis/MT

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Minha Mãe. Minha alegria.
Meu amor. Minha santinha.
Deu-me tudo o que eu queria
mas levou tudo o que eu tinha.
JOSÉ GILBERTO GASPAR
São Paulo/SP

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Frases de eterna pureza
mamãe sempre me revela;
porém as de mais beleza
eu leio nos olhos dela.
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

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Amor de mãe quem tiver
Deve guardá-lo no peito:
não há amor de mulher
que seja amor tão perfeito.
JÚLIO BRANDÃO
Famalicão/Portugal, 1869 -1947, Porto/Portugal

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O amor, no mundo, se exprime
pelo da Mãe, forte e vivo:
mas penso que é mais sublime
quando por filho adotivo!
LACY JOSÉ RAYMUNDI
Sananduva/RS, 1938 - 2014,Garibaldi/RS

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Desejei fogo atear
ao mundo por onde trilho
vendo uma cega indagar
como era o rosto do filho.
LILINHA FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981

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Debruçada sobre o berço
do seu querido filhinho
busca a mãe, com o seu terço,
indicar-lhe um bom caminho.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH
Curitiba/PR

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Dizes que és pobre … E eu, coitado,
inveja tenho de ti …
– Tens tua mãe a teu lado,
e a minha – eu nem conheci!
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
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Tendo ao seio o meu menino,
tudo em volta é luz, é brilho.
Nem sei mesmo onde eu termino
e onde começa o meu filho!
MAGDALENA LÉA
Rio de Janeiro/RJ, 1913 - 2001

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As mães são divinas plantas
que deram flores, sementes…
Para Deus são todas santas,
com milagres diferentes …
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ

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Coração de mãe, canteiro
em perene floração,
onde um Santo Jardineiro
planta as rosas do perdão.
MARILITA POZZOLI
Campina Grande/PB, 1902 – 1988, São Paulo/SP

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Vou ser mãe…ela murmura…
e o seu ventre, com nobreza,
aos poucos, forma a figura
de um templo da natureza…
MARINA BRUNA
Franca/SP, 1935 – 2013, São Paulo/SP

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A mãe é esta criatura
que mil vezes dá perdão.
E tem paciência e ternura
sobrando no coração.
MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS (1945 – 2018) Cachoeirinha/RS

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Louvo as mães, o sol caindo,
vão à igreja, levam velas,
à Virgem sempre pedindo
pelos filhos…não por elas.
MOACYR FIGUEIREDO
Florianópolis/SC+

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No embalo suave e silente
de teu ventre já aquecido
recebi maior presente
só por ter de ti nascido.
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

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Apesar de mim distante,
lembro de ti, mãe querida;
porque foste a mais brilhante
estrela da minha vida!
NEMÉSIO SIMAS
Raul Soares/MG+

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Guarda no olhar a doçura
com que me embalou um dia.
Mãe lembra sempre a figura
e a ternura de Maria.
NILCI GUIMARÃES
Rio de Janeiro/RJ

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Das dores que o tempo aguça
a mais triste, eu desconfio,
ser a da mãe que soluça
junto de um berço vazio…
NILO APARECIDO PINTO
Caratinga/MG, 1915 – 1974, Rio de Janeiro/RJ

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Título algum de nobreza,
ou nome ilustre qualquer,
tem o valor, a grandeza
do de mãe, dado à mulher!
ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

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Mãe, com divina bondade,
inteligência e com brilho,
faz tudo que ao filho agrade,
sem nada exigir do filho.
ORLANDO WOCZIKOSKY
Curitiba/PR, 1927 – 2019

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Em paz o mundo estaria,
se governassem a Terra
apenas mães que algum dia
perderam filhos na guerra!
OSMAR GODINHO
Cataguases/MG, 1925 – 2013, Jacarezinho/PR


Como de um eixo central,
desde a manhã à noitinha,
a vida toda de um lar
gira em torno da mãezinha.
PEDRO COLTRO
Ribeirão Preto/SP

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Minha Mãe – frase sagrada
da mais sublime expressão,
para ser perpetuada
no fundo do coração.
PEDRO PAULO DE LEMOS
Rio de Janeiro/RJ

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Mãe! quisera eu me deitar
junto à parede, aos teus pés.
adormecer e sonhar,
sentindo os teus cafunés.
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

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Te amando, mãe, desde o berço,
eu nem te amei tanto assim,
pois não te dei nem um terço
do amor que tu deste a mim!
REGINA CÉLIA DE ANDRADE
Magé/RJ

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Fecunda o ventre rosado
do amor, a fértil semente
e, a mãe, abriga um legado
que é futuro em seu presente…
RELVA DO EGYPTO R. SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

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Minha mãe, do amor escrava,
com seu carinho e constância,
era a fonte que irrigava
o jardim de minha infância!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

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Mamãe foi feliz morrendo,
foi feliz porque morreu!
pois se me visse sofrendo,
sofria mais do que eu !
RENATO CALDAS
Assu/RN, 1902 – 1991

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Quando piso, descuidado
as trilhas do coração,
sinto, a cada passo dado,
minha mãe me dando a mão!
ROBERTO RESENDE VILELA
Pouso Alegre/MG

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À minha mãe que voou,
nas asas de um querubim,
pedindo hoje aqui estou
que do céu vele por mim.
SARA FURQUIM
Rio Branco do Sul/PR, 1918 – 2020

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Minha mãe partiu, tão linda!
Sorriu no último adeus…
E em minha tristeza infinda
eu tive inveja de Deus.
SARAH MARIANY KANTER
São Paulo/SP

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Carinhos de filhos, quero!
Fazem bem ao coração:
São frutos do amor sincero;
São frutos da gratidão!
SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP

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Quem quiser ver a Esperança
olhe uma noiva no altar,
fite os olhos de uma criança,
repare uma mãe rezar!
SEVERINO UCHOA
Camutanga/PE, 1909 – 1983, Aracajú/SE

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Mamãe, eras diferente
das outras Mães, para mim.
De ti sinto bem presente
esta saudade sem fim.
SINÉSIO LUSTOSA CABRAL SOBRINHO
Várzea Alegre/CE, 1915 – 2012, Fortaleza/CE

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Penso ouvir teu acalanto,
minha mãe, lá de onde estás,
querendo enxugar meu pranto
e ninar-me, em horas más.
THEREZA COSTA VAL
Viçosa/MG, 1933 – 2014, Belo Horizonte/MG

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É noite!… E, num desvario,
na dor que a sufoca e invade,
chorando – o berço vazio –
a mãe embala a saudade!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

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Se sendo mãe, a mulher
diviniza os seus anseios,
mais nobre ainda é quem quer
ser mãe de filhos alheios.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

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Minha mãe com maestria,
vibrou forte de emoção,
quando em tarde de magia
fez pulsar meu coração!
VÂNIA ENNES
Curitiba/PR

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Rosto negro, alma de neve,
ternura de risos francos,
o Brasil muito de deve,
mãe – preta dos filhos brancos.
VASCO DE CASTRO LIMA
Lavrinhas/SP, 1905 – 2004, Rio de Janeiro/RJ

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Mãe! A doçura querida,
serena amabilidade,
legou-nos a própria vida
a paz e a felicidade!
VIDAL IDONY STOCKLER
Castro/PR, 1924 – 2014, Curitiba/PR

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Ser mãe, é ser o que encerra
tudo que é nobre e bendito :
– é ter a alma na terra
e o coração no infinito …
VIRGÍLIO G. ASSUMPÇÃO
Rio de Janeiro/RJ, 1909 – 1980, Belo Horizonte/MG

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Almejo trilhas sem fim,
ornamentadas de rosas!…
Mãe, vais à frente de mim,
cultivando as mais formosas!
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

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Transcendo o sonho e refaço
minhas rotas do passado,
para ter de novo o abraço
do ventre em que fui gerado.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

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Mãe é puro sentimento
que se mistura à razão.
Mãe é tudo num momento,
e… muito mais: coração.
ZENI DE BARROS LANA
Belo Horizonte/MG

Poemas às Mães

Pintura de William-Adolphe Bouguereau
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

CONSELHOS DE MÃE


 Meu filho, a vida é dura e fere… e nos magoa…
 mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
 Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
 não permitas que o mal altere o que é verdade!

 Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho,
 sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
 Cada dia que passa é um dia mais risonho,
 quando o amanhã promete as glórias da conquista!

 “Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
 Os caminhos, verás, se abrirão à medida
 que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
 revelar o sentido e o Ideal da tua vida!

 Não temas opressões nem quedas. Persevera!
 Se achares que ao final o saldo não convence,
 reage, continua… a vida tens à espera!
 Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!
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IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

SONETO PARA A MÃE


Mãe!… Palavra sublime, amor inexprimível,
que a gente pronuncia em ritmo de oração…
É tão cálido o afeto e quase que impossível
externá-lo, pois vive em nosso coração !

Se alguma coisa existe, além do que é infalível,
e seja só no mundo e morra em solidão;
creia-me, não verá jamais tão acessível,
de quem nos deu a vida, aceitar a afeição !…

Ela é generosa e sem maldade alguma…
Seus filhos são a maior riqueza que possui,
seu aconchego tem toda a maciez da pluma…

Porém, nunca haverá poeta, cujo verso
descreva o amor de mãe, pois tudo se dilui
ao saber que ela é a dona do Universo!
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PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR

MÃE


MÃE é presente e eternidade
Que amarra a prole e a família
Por laços de verdade,
No mais nobre sentimento e magia.

MÃE é futuro da mulher…
Que DEUS faz no seu corpo crescer
A semente da mais bela flor,
Pelo filho que um dia há de nascer.

MÃE é passado de glória, agonia e ventura…
É esplendor e saudade pura
Num perene estado espiritual.

MÃE é um ser tão singular,
Da mais forte e fiel expressão
Dos verbos sofrer e amar!
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HUMBERTO RODRIGUES NETO
São Paulo/SP

MÃE!


Tu foste, mãe, na treva a claridade,
 na dor meu riso e na tormenta o norte,
 a doce companheira e a consorte
 das minhas horas de infelicidade!

 Que anjo não foste, toda vez que a sorte
 não me sorriu! E com que imensidade
 de amor, desvelo e angelical bondade
 tu me ensinaste a ser paciente e forte!

 E hoje a alegria anda a sorrir nos ares…
 é o “Dia das Mães” numa porção de lares
 e eu vou fingindo que inda o comemoro!

 Finjo, mãezinha, até que em doce jeito
 vens doer tão tristemente no meu peito,
 que eu cerro os olhos, pendo a fronte… E choro!
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MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ

MÃE MARINA


MAMÃE, quando retorno ao meu passado
tão rico de pobreza e de esperança,
imagino que estou ainda ao teu lado,
e volte a me sentir em segurança…

E projetando tudo na lembrança
vejo que, se houve sonho malogrado,
o amor que recebi desde criança
evitou que eu tivesse fracassado.

És milagrosa, Santa MÃE MARINA,
uma estrela radiosa, a luz divina
que enfeita meus caminhos, e me guia,

pois quando fico triste, em pensamento,
chego aonde estás e abrandas meu tormento,
minha Nossa Senhora da Alegria !
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PEDRO APARECIDO DE PAULO
Maringá/PR

MÃE, O MUNDO ENCANTADO


Sua doutrina Bendita
faz a vida mais bonita
mesmo na dificuldade.
Seu olhar tão meigo e puro
traz o seu filho seguro,
irradia felicidade.

Sua face tão serena,
de uma coisa tão pequena
faz transformação total.
A primeira frase do filho
faz-se seu nome estribilho
e o transforma em festival.

Suas mãos acariciam
seus afagos contagiam
trazendo tranquila paz.
Atrai a felicidade
amor e sinceridade
vejam, do que ela é capaz.

Seu coração envolvente
faz do seu filho inocente
um mar de sabedoria.
Ensina-o a cada passo
defendendo-o do fracasso
com prazer e alegria.

Pode ser uma rainha
ou uma mãe pobrezinha
não importa a diferença.
Se ela não tem riqueza
não sabe o que por na mesa
a Deus pede providência
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MARIA GRANZOTO
Arapongas/PR

MINHA MÃE

 
 Em teu colo
 Repouso a minha dor…
 Forte é o poema que cresce
 Por amor
 ao teu amor
 Neste solo tão agreste
 Da tua ternura…
 Daquele olhar tão cândido
 Os meus olhos a procurar
 Como em busca do alívio
 Para a dor luarizar…
 Foste para as alturas,
 Deixaste o nosso convívio para sempre!
 Eu, às penas duras,
 Confesso que o tempo não resolve,
 Pois ele também não cicatriza
 As chagas da tua ausência,
 Não enfraquece a saudade,
 Não suaviza a demência
 Que a tua falta me faz!
 Só provoca a imensa vontade
 Que eu sinto de te abraçar!
 Neste mundo, nada, ninguém,
 Há de apagar a imagem
 Do branco
 da tua tez
 E dos teus pequeninos olhos
 A olhar-me
 pela última vez…
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ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ

AMOR DE MÃE


Seu ventre é solo fecundo
Que gera e abriga a vida,
É paixão sem ter medida
De um sonho realizado,
É aconchego do ninho
Que acolhe com carinho
O amor tão esperado.

Com sua voz acalenta
Com um canto delicado…
No seu peito amamenta
E com amor alimenta
O filho tão desejado!

Com a mão acaricia
Em toque meigo e sublime…
Seu brilhante olhar exprime
Na mais ardente paixão
O amor que também pulsa
No pequeno coração.

A sua boca tem beijo
Mais doce do que o mel,
Em sua prece o desejo
De dar para seu rebento
Um pedacinho do céu.

Na alma toda esperança
De um futuro promissor
Para o filho que gerou
De quem tanto quer o bem:
Que em sua caminhada
Consiga vencer também.

Que os anjos digam amém
E em coro com os arcanjos,
No mais harmonioso arranjo,
Cantem com todo fervor
Um hino de puro amor
Para a santa e amada MÃE!
****************************************

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ

PARA SEMPRE


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
****************************************

EUGÉNIO DE ANDRADE
Fundão/Portugal, 1923 – 2005, Porto/Portugal

POEMA À MÃE


No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos…

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha – queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
“Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal…”

Mas – tu sabes! – a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu…

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas…

Boa noite. Eu vou com as aves!
****************************************

JACINTA  PASSOS
Cruz das Almas, BA, 1914 – 1973, Aracaju/SE

CANTIGA DAS MÃES
(Para minha mãe)


“Fruto quando amadurece
cai. das árvores no chão,
e filho depois que cresce
não é mais da gente, não.
Eu tive cinco filhinhos
e hoje sozinha estou.
Não foi a morte, não foi,
Oi!.
foi a vida que roubou.

Tão lindos, tão pequeninos,
como cresceram depressa,
antes ficassem meninos
os filhos do sangue meu,
que meu ventre concebeu,
que meu leite alimentou,
Não foi a morte, não foi,
Oi!.
Foi a vida que roubou.

Muitas vidas a mãe vive.
Os cinco filhos que tive
multiplicaram por cinco
minha dor, minha alegria.
Viver de novo eu queria
pois já hoje mãe não sou.
Não foi a morte, não foi,
Oi!
foi a vida que roubou.

 Foram viver seus destinos,
 sempre, sempre foi assim.
 Filhos juntinho de mim,
 berço, riso, coisas puras,
 briga, estudos, travessuras,
 tudo isso já passou.

Não foi a morte, não foi,
 oi!
 foi a vida que roubou.
****************************************
ISABEL PASSOS
Lisboa/Portugal

MÃE


A mulher foi por Deus escolhida
pra na maternidade gerar vida;
Com amor trazer filhos ao mundo;
O dom mais sublime e profundo.

Pode ter dor quando um filho parir
mas logo esquece, ficando a sorrir
assim que escuta o doce vagido,
e acaricía o recém-nascido.

Em suas entranhas vida semeou,
deu à luz o filho e tudo suportou.
Com altruísmo dá aquilo que tem…

Abnegação, apanágio de mãe,
é produto da Obra do Criador
que tudo planeou com muito Amor.
****************************************

JOSÉ ERNESTO FERRARESSO
Serra Negra/SP

ÉS TU MÃE!


Determinada, irreverente e persistente,
De iniciativas constantes.
Punhos fortes, nunca errante,
Mulher linda, estonteante.

Mãe, Rainha do lar,
Mostra sua resistência e sabe lutar.
Ensina coisas boas, sabe os filhos educar,
Por isso a denominamos “Dona do Lar”.

Cumpridora, fiel aos filhos e esposo,
Em todas as horas e instantes dolorosos,
É ela a grande guerreira .

Essa mãe verdadeira,
Em cada momento presente.
Divina simplesmente.
****************************************

AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

EXEMPLO DE MÃE


Não me admiro de sentir saudade
De meus longínquos tempos de criança,
Vividos na escassez, é bem verdade,
Mas com imenso amor e esperança.

A gente era pobre e a cidade
Nem possuía luz ou segurança
De algum Doutor. Mas nessa qualidade
Aquilo é um sonho em minha lembrança…

Pois o importante é que então vivendo
De modo simples, “remendando o pano”,
só de carinho a gente ia crescendo…

A grande fé em Deus nos consolava,
Mudava em alegria o desengano…
Tal o exemplo que mamãe nos dava!
****************************************

DIVANILDE VITORIA CAMPOS(DIVA)
Mirassol/SP

MAMÃE MAMÃEZINHA


Ciranda cirandinha,
mamãe hoje vamos cantar
embora já tão velhinha
jamais deixou de me amar!

Como toda jovem, sonhou,
lindos sonhos não realizados
mas nunca desanimou
de ter-me tanto amado!

Seus cabelos branquinhos
como um punhado de neve
a pele enrugadinha
mãos trêmulas, passos trôpegos
corpo franzino, encurvadinha!

Dizer que te amo não é preciso
sabes que sempre te amei
nos teus braços sempre feliz
enquanto me embalava
uma linda cantiga cantava!

Hoje é teu dia, Dia das Mães.
Nesta tua longa caminhada
me ensinou os bons caminhos
não me deixou me afastar do teu ninho
por isso sou muito abençoada!!!
****************************************

LENIR MOURA
Rio de Janeiro

TRIBUTO À MINHA MÃE


E um dia Deus a chamou.
e você foi indo,
sem pressa, bem devagar.
foi obedecendo àquele chamado calmamente.
Você sabia que a dor seria grande demais,
e então sem querer nos fazer sofrer,
fez assim:
preferiu nos acostumar com a idéia
de não mais ter você,
e aos poucos,
foi se afastando.
Foi nos ensinando a sentir
que não a tínhamos mais,
mesmo estando ao nosso lado.
E com isso,
a dor não doeu tanto,
e mais uma vez,
mesmo na hora final,
poupou-nos um sofrimento maior.
Dignidade na vida, altivez na morte!
atitude digna de você,
que sempre foi mãe,
em toda sua magnitude.
Descansa minha mãe
e ilumina com a sua luz,
o pedaço de céu que a você foi reservado.
Encanta com o seu amor
e embala com a sua canção de paz
a missão que, com certeza,
Deus lhe destinou:
a de ser no céu
mais uma estrela a brilhar.
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MARIA DA FONSECA
Lisboa/ Portugal

A MINHA MÃE


Ao observar-me no espelho
Vejo os teus traços, Mãezinha,
Ouço ainda o teu conselho,
Tua alma junto à minha.

Da minha face, o oval
Lembra-me teu rosto lindo,
Teu sorriso maternal
Os teus olhos colorindo.

Enquanto os meus são castanhos,
Os teus eram ‘sverdeados,
Mas meu cabelo que apanho
Teve cachos ondeados.

De ti herdei as feições
Que recordo tão saudosa.
Sei que viveste aflições
E mas poupaste, ansiosa.

Ao teu coração bondoso
Presto singela homenagem.
“Doou-me amor precioso
E deu-me sempre coragem”.
****************************************

DÁRIA FARION
Pinhais/PR

SER MÃE


É extasiar-se:
– Meu Deus! A mim confiaste,
a maravilha de Tua criação.

É abrigar-se:
– Debaixo da Graça Divina,
em seus eflúvios haurir
alento, coragem e fé.

É expor-se:
– Na sua Luz se energizar
e por caminhos iluminados
seus filhos conduzir.

Ser mãe é amar,
tanto, tanto. Vida própria não ter,
de tristeza e alegria sorrir,
de alegria e tristeza chorar.

Ser mãe,
é orar pedindo,
é orar agradecendo,
é orar abençoando.

Feliz é o filho que tem
uma mãe orando.
Benditos os filhos que ensinam a amar.
****************************************

HILDA PERSIANI
Curitiba/PR

MINHA MÃE


Não existe palavra mais doce
Desde que se aprende a falar,
Pronunciá-la é como se fosse
O mais saboroso manjar.

Mãe, sempre pronta a me aconselhar,
Seus exemplos que sempre admirei,
Foi o espelho onde me espelhei
E na vida me ajudaram a caminhar.

Tentei escrever uma poesia
Para homenageá-la no seu dia,
Mas não consegui terminar,

Ao relembrar seu olhar de santa,
Um nó me aperta a garganta
E eu só consigo chorar …
****************************************

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

MÃE… MULHER!


Ser mãe é negar a dor,
a dor maior que ela sente.
Ser filho é ter muito amor
para amá-la eternamente…
– Minha mãe foi meu tesouro,
meu escudo e meu troféu;
hoje, uma medalha de ouro
entre as mães que estão no céu!
Minha mãe, minha rainha,
só para o bem me conduz.
Pra ser mãe igual a minha,
só mesmo a mãe de Jesus!
Tal qual Mãe celestial,
mamãe também não tem preço!
Toda mãe é sempre igual…
muda apenas de endereço.
Toda mãe é protetora
e guarda em si, um mister;
no papel de genitora,
é simplesmente…Mulher!
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MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

MINHA MÃE


Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
Provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
Olho, analiso, linha a linha, a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,
Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
Pela sua clareza me desperta
Um grato enlevo que jamais senti:

Quer dizer Mãe este M tão perfeito,
E, com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.